10
TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPL AU' AN ALISE E EVOL UÇÃO Svana Sidney Costa Santos 1 5 Maria Miriam Lima da Nóbrega 16 RESUMO: Este é um estudo descritivo analítico onde procura-se anali sar a Teoria das Relações Interpes soai s em Enfermagem, de Hildegard E. Peplau. seguindo o mo delo conceitual de anál ise e evolução propo sto por Thibodeau. Descreve os conceitos de pessoa, am biente, saude e enfermagem, a origem e a metodolog ia ut ilizada para a formação des sa teoria, além da sua g eneralização, uti lidade, aceitação e sign ificado dentro da enfermag em. Destaca a importância para a sua a plicação na prática dos enf erm eiros em vista de ser o proces so interpessoal uma etapa primordial na assistência de enfermagem. UNITERMOS: Teoria de enfermagem - Relação interpessoa l - Enfermagem. INTRODUÇÃO Na década de 60, com a evolução da abordagem científica na enfermagem, os enfermeiros começaram a questionar os propósitos da profissão e o valor da prática de enfermagem tra dicional e de natureza intuitiva. Segundo Fawcett (1987), estes questionamentos levaram os enfermeiros a discutirem e a escreverem sobre suas bases filosóficas para a prática, ou seja , ao rem desenvolvimento das teorias de enfermagem e conseqüentemente a ident ificação de elementos comuns que inclu i a natureza da enfermagem, o ind ivíduo como recipiente do cuidado, a sociedade e ambiente e a saúde. Contudo, merece ser ressaltado que , apesar do consenso entre estes elementos, as teo rias de enfermagem diferem em seus caminhos e especif icidade na qual define seus conceit os. Para a utilização das te orias de enfermagem, como norteadora da prática de enfermagem, é impresci ndível que o enfermeiro conheça o seu desenvolvimento e introjete os conceitos de acordo com as especificidades de cada teor ia. 1 5 Profes sora Adjunto do Departamento d e Enf ermagem d e Saúde Pública e Psiqu iatr ia da Universidade Federal da Paraíba. Doeente do Mestrado de Enf ermagem em Saúde Pública - UFPB. 1 6 Professora Adjunto do Depanamento de Ellfermagem de Saúde Públi ea e Psiquiatr ia da Universidade Federal da P araíba. Doeent e do Mestrado de Enf ermagem em Saúd e Públi ea - UFPB. SS R. Bras. l�"nm. Brasí lia. v . ') . n. I p. S S-ú4. jan./mar . 1 9%

TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU ... · TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO Silvana Sidney Costa Santos 15

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU ... · TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO Silvana Sidney Costa Santos 15

TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO

Silvana Sidney Costa Santos 15

Maria Miriam Lima da Nóbrega 16

R E S U MO : Este é um estudo descrit ivo a n a l ít ico o n d e procura-se a n a l isar a Teoria das R e l ações I n terpessoais e m E nferm a g e m , d e H i l d e g ard E . Pep l a u . s e g u i n d o o m o d e l o c o n c eitu a l d e a n á l ise e e v o l u ç ã o proposto por T h i b o d e a u . Descreve os c o nc eitos d e pessoa, a m biente, s a u d e e enferm a g e m , a ori g e m e a metodo l o g i a ut i l iza d a para a form a ç ã o d essa teori a , a l é m d a sua g e nera l iza ç ã o , ut i l idade, aceitação e s ign if ica d o

d e n tro d a e nferm a g e m . Destac a a im portâ n c i a para a sua a p l i c a ç ã o n a prát ica dos e nferm eiros e m vista d e s e r o processo interpess o a l u m a

eta pa pri m ord i a l n a assistência d e enferm a g e m .

U N ITERMOS: Teoria d e enferm a g e m - R e l a ç ã o interpess o a l - Enferm a g e m .

I NTRODUÇÃO

Na década de 60 , com a evo lução da abordagem científica na enfermagem , os enfermei ros começaram a q uestionar os p ropós itos da profissão e o va lor da prática de enfermagem trad ic iona l e de natureza intuitiva . Segundo Fawcett ( 1 987) , estes questionamentos levaram os enferme i ros a d iscuti rem e a escreverem sobre suas bases fi losóficas para a p rática , ou seja , ao rem desenvolv imento das teorias de enfermagem e conseqüentemente a identif icação de e lementos comuns que inc lu i a natureza da enfermagem, o ind iv íduo como recip iente do cu idado , a sociedade e amb iente e a saúde . Contudo , merece ser ressa ltado que , apesar do consenso entre estes e lementos , as teor ias de enfermagem d iferem em seus cam inhos e especific idade na qua l define seus conceitos . Para a uti l ização das teorias de enfermagem , como norteadora da p rática de enfermagem, é imprescind ível que o enferme i ro con heça o seu desenvolv imento e i ntrojete os conceitos de acordo com as especificidades de cada teoria .

1 5 Professora Adjunto d o Depa rtamento d e Enfermagem d e Saúde Públ ica e Psiquiat ria da

Un iversidade Federal da Paraíba . Doeente do Mest rado de Enfermagem em Saúde Públ ica -U FPB .

1 6 Professora Adjunto do Depanamento de Ellfermagem de Saúde Públ iea e Psiquiatr ia da

Universidade Federal da Paraíba . Doeente do Mestrado de Enfermagem em Saúde Públiea -UFPB.

S S R. Bras. l�"n/erm. Bras í l ia . v . .t') . n . I p. S S -ú4. jan . /mar. 1 9%

Page 2: TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU ... · TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO Silvana Sidney Costa Santos 15

Para faci l i tar esta tarefa , vár ios enfermeiros têm desenvolv ido estudos para aná l i se , ava l iação e crítica das teorias , objetivando a compreensão dos conce itos e ao mesmo tempo poss ib i l i tando a sua uti l ização na prática . no ens i no e na pesqu isa . Entre as vár ias propostas de modelos de ana l i se das teorias destacam-se os traba lhos de Stevens , Mele is , C h i n n , Th ibodeau , e Walker e Avant ( Ciancíarullo, 1 987) .

Dentre as teorias de enfermagem existentes , a Teoria das Re lações I nterpessoa i s em Enfermagem fo i pub l icada em 1 952 no l i v ro I nterpersona l Relations i n N u rs i ng , da Dr .a H i ldegard E l izabeth Peplau . o qua l . segundo Tavlor ( 1 990) . revo lucionou , de mu itas formas , o ens ino e a p rat ica da enfermagem ps iqu iátrica nos Estados U n idos . A part i r de uma le i tura pre l im inar podemos constatar que nesta teoria Pep lau enfoca o potencia l terapêutico do re lac ionamento de pessoa-para-pessoa e mostra que, embora o enferme i ro possa admin istrar medicamentos e aux i l iar em outros tratamentos ps iqu iátricos , o princ ipa l modo como ele i nfl uencia d i retamente no atend imento ao paciente é através do uso que faz de s i mesmo enquanto l i da com um cl iente em i nterações ind iv idua is . Para l idar em i nterações ind iv idua is , a referida autora apresentou as fases da re lação i nterpessoa l , os papé is nas s ituações de enfermagem e os métodos para o estudo da enfermagem como um processo i nterpessoal com foco no desenvolv imento das re lações entre o paciente e o enfermeiro , os qua is têm como base o i nteracion ismo , a fenomenolog ia , o existencia l i smo fi losófico e o human ismo .

A part i r desta constatação , associado ao fato de sermos enferme i ras ps iqu iátricas , decid imos desenvolver este estudo objetivando ana l i sar a Teoria das Re lações I nterpessoais em Enfermagem de H i ldegard E. Pep lau , a part ir do modelo conceitua l de aná l ise e evo lução de Th ibodea u , v isando a uti l ização desta aná l i se como suporte/conceituação teórica no traba lho de d issertação da autora pri ncipa l do estudo . A escolha por este modelo de ava l iação se deu em v i rtude do mesmo perm it i r a ava l iação por mais de uma pessoa , com diferentes perspectivas e com diferentes fins .

M ETODOLOGIA

Trata-se de um estudo descrit ivo ana l ít ico , rea l izado a part i r do levantamento na Rede de computadores da B ib l ioteca da U FP B , na B ib l ioteca da FE NSG/U PE , na Sala de Leitu ra do Mestrado de l i v ros e periód icos que contemp lassem a Teoria das Re lações I nterpessoa is de Peplau . A part i r desta tentativa . fo i fe ito uma le itura se letiva do materia l coletado de acordo com os objet ivos propostos , f ichamento em resumo · crít ico-ana l ít ico dos textos selecionados para posterior le i tura i nterpretativa dos conteúdos dos d i ferentes autores pesqu isados e cons iderações dos pesqu isadores sobre o fenômeno ev idenc iado e por fim a aná l i se obedecendo as segu intes etapas do modelo de aná l ise e evolução de Thibodeau ( 1 988) :

I - Aná l i se dos conceitos : pessoa , ambiente saúde e enfermagem, enfatizando os objet ivos da enfermagem e o processo de enfermagem e a re lação entre os quatro conceitos p ri ncipa i s .

R. Hras. Fnferl1l . B rasí l i a . v . 4 '> , n . I p. 5 5 -64, jan . /mar . 1 '>% 56

Page 3: TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU ... · TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO Silvana Sidney Costa Santos 15

1 1 - I dentif icar a origem do prob lema. 1 1 1 - I dentificar a metodolog ia para desenvolver o modelo atentando

para a cons istência i nterna e a va l idação emp í rica . IV - Verif icar a genera l ização da teoria . V - Descrever a uti l idade , a aceitação e o s ign ificado do modelo

teórico para a enfermagem .

TEORIA DE PEPLAU E OS QUATRO CONCEITOS FUNDAM ENTAIS

1 . PESSOA

Peplau define a pessoa em termos de homem e este homem como u m organ ismo que "luta a seu modo para reduzir a tensão gerada pelas necessidades" . A autora uti l iza a inda a defin ição de paciente como sendo o ind iv íduo que necess ita de cuidados de saúde , cons iderando o ser humano um organ ismo vivo em estado de equ i l íbrio instável que l uta para ating i r u m estado de equ i l íb rio perfeito , o que só ating i rá pela morte (George, 1 993) .

2. AMBIENTE

Para Tomev ( 1 989) , o ambiente está imp l icitamente defin ido quando Pep lau afi rma que "há forças fora do organismo e no contexto da cultura que influem no paciente ", mas a teorista não se refere , d i retamente , a sociedade/ambiente ; e la na verdade estimu la o profiss iona l de enfermagem a levar em conta a cultura e os costumes do paciente . Acred itamos que a escassa percepção de Pep lau acerca da sociedade/ambiente constitu i uma das princ ipa is l im itações da sua teoria .

3. SAÚDE

c-# .wm./�, é d�/lida como

l/nl'là�a /'louim�nlo udiank,

. . tuR .�/lo �K!uótáa� '1L«�

r/a IH��V//lalir./ar..k� E! outW.t

1,IU'K�{HO.t AtuRarlo.t r?/R· r�w. /la dl:U'{!iLo r/�, ama uida

r,�iati.pa, rV//l.fúuti.pa, pYKfu.úêlu.. pr{t.wuÍ e rV//RaniIáUa. " (George, 1 993).

4. ENFERMAGEM

Peplau ( 1 988) cons idera a enfermagem uma arte terapêut ica e um processo i nterpessoal , onde cada ind iv íduo é visto como um se r b io-ps ico­sócio-esp i ritua l , dotado de crenças , costumes , usos e modos de v ida voltados para determinada cultura e ambiente d iversif icado . Para a autora , a enfermagem é uma relação humana entre um ind iv íduo que está doente ou

5 7 R. Bras. Enferm. Brasí l ia . v . 49. n . I p . 55-64. jan./mar. 1 996

Page 4: TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU ... · TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO Silvana Sidney Costa Santos 15

necessitado de serviços de saúde e um enfermeiro preparado para reconhecer e para responder às necessidades de ajuda do paciente .

Segundo Stefanelli ( 1 987) , Peplau considera como e lementos bás icos ou variáveis , nas s ituações de enfermagem, as necessidades humanas básicas , a frustração , o confl ito e a ans iedade, que devem ser tratados , no relacionamento enfermei ra-paciente de modo a favorecer o crescimento , ou seja , o desenvolv imento saudável da personal idade. Pep lau encara a Enfermagem como uma "força de amadurecimento e um instrumento

educativo " (G EORGE, 1 993) , uma vez que à medida que o enferme i ro ass iste o paciente uti l izando a re lação i nterpessoal como princ ipa l ferramenta , cresce, conhecendo-se melhor, e ajuda o paciente a crescer também.

5 - COM PARAÇÃO ENTRE OS QUATRO CONCEITOS

Comparando a relação entre os quatro conceitos apresentados , verifica-se que todos se adequam à visão do fina l da década de 40 e do i n ício da década de 50, quando o l ivro de Peplau foi publ icado , ou seja , não havia a inda uma ampla influência ambiental sobre o ind iv íduo , po is se foca l izava mais as tarefas ps icológ icas ind iv idua is do ser necessitado de ajuda , cuja ajuda era encontrada n u m hospita l . Observa-se, então , que os quatro conceitos da Teoria das Relações I nterpessoais de Peplau baseiam-se nas teorias desenvolv imenta is , dos conceitos de adaptação à v ida e das reações aos confl itos das relações interpessoais .

6 - OUTROS CONCEITOS DA TEORIA

Os outros conceitos da teoria de Peplau incluem crescimento , desenvolv imento , comun icação e papel . Para Boniean ( 1 987) , a comun icação é um processo de solução de problema usado pelo enfermei ro na re lação com o cl iente . Este processo é cOlaborativo, no qua l o enfermeiro pode assumir mu itos papeis para ajudar o cl iente no atend imento de suas necess idades e desta forma colaborando com o seu crescimento e desenvolv imento .

Para atender a ass istência de enfermagem, Peplau desenvolveu uma série de passos que seguem determ inado padrão terapêutico e em cujo centro está a relação do enfermei ro com o paciente , a qua l é flexível , está baseada nos pri ncip ios científicos e aqu is ição de papéis . Estes passos são : ( 1 ) orientação , (2 ) identif icação , (3 ) exploração e (4) solução, os qua is superpõem-se e i nterre lacionam-se à medida que o processo evo lu i na d i reção de uma so lução (George, 1 993) .

A fase de orientação é o in ício da re lação i nterpessoal , e ocorre q uando o paciente/famí l ia percebe a necessidade de ajuda . Tanto o enfermei ro quanto o paciente trazem suas bagagens anteriores (cu ltura , va lores , idé ias pré­concebidas , etc. ) , que devem ser levadas em cons ideração; ambos têm papel igua lmente importante na interação i nterpessoa l . Existe nesta fase todo o aspecto educativo da relação.

R . Bras. Enferm . Brasília. v . 4 9 . n. 1 p . 55-64. jan ./mar. 1 996 58

Page 5: TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU ... · TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO Silvana Sidney Costa Santos 15

Na fase de identificação o paciente reage selet ivamente no enfermei ro ; ambos precisam esclarecer as percepções e expectativas mútuas . N o fina l desta fase o paciente começa a l idar com o prob lema, o que d iminu i a sensação de i mpotência e desesperança do enferme i ro , criando uma atitude de otim ismo .

Na fase de exploração o paciente começa a sent ir-se parte i ntegrante do ambiente provedor de cuidados e pode necessitar "demais" do enferme i ro como uma forma de "conseguir atenção" . É importante para o enferme i ro saber usar os princíp ios para técn icas de entrev ista . O p�ciente poderá apresentar um confl ito entre dependência- independência . O enfermei ro precisa oferecer uma atmosfera sem ameaças e uti l izar adequadamente a comun icação : esclarecendo, escutando , aceitando e i nterpretando corretamente ; ass im o enfermei ro ajuda o paciente na exploração de todos os caminhos da saúde .

A fase de solução é a última do processo i nterpessoal . Presume-se que as necessidades do paciente já foram satisfe itas através dos esforços cooperativos do enfermeiro e do paciente . Ocorre a d isso lução do e lo da relação terapêutica .

N a execução destas fases são assumidos d iferentes papéis p rofiss iona is , os qua is podem ser descritos da segu inte mane i ra : Professor - aque le que parti lha conhecimentos a respeito de uma necess idade ou interesse; Recurso - aquele que oferece i nformações específicas , necessárias , que auxi l iam na compreensão de um problema ou s ituação , de determ inadas hab i l idades e atitudes , auxi l ia outra pessoa no reconhecimento , enfrentamento , aceitação e solução de problemas que interferem em sua capacidade de viver fel iz e eficientemente; Líder - aquele que executa o processo de i n ício e manutenção das metas do g rupo , através da interação ; Especia l ista Técnico - aque le que providencia cu idados fís icos , exib indo hab i l idades cl ín icas e que apresenta a capacidade de uti l izar equ ipamentos nessa tarefa ; e Substituto - aque le que assume o lugar do outro (George, 1 993) .

Peplau descreve a inda q uatro experiências ps icobio lóg icas : necess idades , frustração , confl ito e ans iedade. Estas experiências proporcionam energ ia que é transformada em a lguma forma de ação . Pep lau não ut i l iza conceitos teóricos de enfermagem para identif icar e expl icar estas experiências que compelem respostas destrutivas ou construt ivas proven ientes do enferme i ro e do paciente . Este entend imento providencia uma base para formação de objetivo e i ntervenções de enfermagem ( Tomey, 1 989) .

59 R . Bras. Enferm . Brasí lia. v . 49. n . I p . 55-64. jan ./mar. 1 996

Page 6: TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU ... · TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO Silvana Sidney Costa Santos 15

Comparação do Processo de Enfermagem e as Fases da Teoria de Pep lau

Fonte : G EORGE , 1 993

Observamos que há uma s ign ificativa re lação entre as fases do trabalho teórico de Peplau e o que precon iza o processo de enfermagem , po is há um continuum em ambos que enfatizam as seqüências lóg icas da i nteração terapêutica , onde são i nclu ídas como ferramentas básicas à observação , comun icação e reg istros ut i l izados pe lo enfermeiro no desenvolver de suas ações (George, 1 993) .

ORIGEM DA TEORIA I NTERPESSOAL DE PEPLAU

R. Bras. E/�rerm. Brasília. v . 49. n. I p. 55-64. jan./mar. 1 996 60

Page 7: TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU ... · TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO Silvana Sidney Costa Santos 15

Peplau usou conhecimento emprestado da ciência com portamenta l i sta e do que possa ser chamado de modelo ps ico lóg ico ( Tomev, 1 989) . A composição conceitua l dos re lac ionamentos i nterpessoais procura desenvolver as hab i l idades do enfermei ro usando a orientação através dos eventos de s ign ificância ps ico lóg ica , sentimentos e comportamentos do paciente. A teoria interpessoal de Harry Stack Su l l i vam ; a teoria da ps icod inâmica de S igmund Freud ; a teoria de Abraham Maslow da motivação humana ; o traba lho de Nea l E lgar M i l le r voltado para a teoria da persona l idade , mecan ismos de ajuste , ps icoterap ia e pr incíp ios do aprend izado socia l são a lguns dos m u itos recursos que Pep lau usou no desenvolv imento da sua com posição conceitua l (TOMEY, 1 989) .

Pep lau estava comprometida em incorporar conhecimentos Ja estabelecidos dentro da composição conceitua l de la , para ass im desenvolver uma teor ia baseada no modelo de enfermagem, o que consegu iu com sua Teoria das Re lações I nterpessoa is .

Cumpre destacar a importância do referencia l das teorias i nterpessoais para a enfermagem ao se co locar como uma tentativa de mudança de um olhar cl ín ico , meramente , para um o lhar compreensivo , da enferme i ra d i rig ido ao paciente (AG U IA R , 1 995) .

M ETODOLOGIA DA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

(9 pYx!<{�.V� U:WHÍO po� ,�-pIUD paUL ('On flULi� a ko�i-a á anz.

//U�kHÍo L/uttdiurÁ c:Jh-'/u?-ULtàw.L('/âe.� e.//I/.7é'&ef!a.� .fÜO ("?-.,IaÓ<!/e��idai

L/U/iu�IaDUWÚ�. � L/u/t.Lí!ão t?- I.LHI- tipo d("� y�tupionu//len·1o no

u("V/nú�oef,uwIoJ (vnl.7é'&à��.� /.7aUL

.tefnitau�.� " (Torney, 7 989) .!/l� un�Y/o IV/m ,Y}y.Haa.

(? gt�/u�UL/iz,áPe.';� ("fi? O.t 6UV//lk�liD«"/IIo.�

/.7UJp(�Ylionu/n LUn (!u/n/H� dt� obv�u{��.� ("Ío.� rt.aai� upena�

(V/n(��ilo.' ("/("� e'!/i�Yn�?m· �?/n j(!'& d("-!'&Ülud("/.� e. IV.W/ÍO.t /.7�. o upe!flufV/uDII!n1o do huócúno prifi-,ue'oncú " (Torney, 7 989). (9, ('O/u�J�:k�t .V��leOnu/./o.t quP . l}'}YXUD IV.ta .tào orgU/I;�Lo.t ("Ú ... ,,!w ("ú' LUn ("V//n/.70/l(�"ú?- maio�, /óynundo re/6Ulef7/lome/"lIoJ

qlLe .tilO lo/e(Y�.t ("' (��/n/xe.loJ. &., re/u.ceo/lU//U"/IIo.t ("Íe.v�W-PE?m ('Om/.70�Ia/n(?/lIo.t qL«? t'X'O�?m /Ia iflk�UL{!ÜO (v!/"àYnl?e:UL­

/.7U�let:vlú{'

Percebe-se a inda que , a lém do método indutivo , Pep lau uti l izou também conhecimentos ma is amplos , de outras c iências , da í poder-se afi rmar que o

6 1 R. Bras. Enferm . Brasí lia. v . 49. n. I p . 55-64. jan./mar. 1 996

Page 8: TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU ... · TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO Silvana Sidney Costa Santos 15

método que melhor responde pe la Teoria das Re lações I nterpessoais é o método h ipotético-dedut ivo.

UTILIDADE, ACEITAÇÃO E SIGNIF ICADO DA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

Peplau trouxe uma nova perspectiva , um novo método , · uma fundamentação teoricamente baseada para a prática de enfermagem no traba lho terapêutico com pacientes ( Tomey, 1 989) . O traba lho de Peplau é responsável por uma segunda mudança de ordem na cu ltura da enfermagem , po is "possibilitou a compreensão de que o cuidado envolve contato, relação e interação" (Aguiar,

1 995) .

As críticas ao modelo ind icam a fa lta de desenvolv imento dos s istemas socia is que poderiam ampl iar o conhecimento base para se entender o prob lema do paciente . Apesar de Peplau ter usado as teorias i nterpessoal e i ntrapessoal de Su l l ivan e Freud como base teórica para o seu modelo . não levou em cons ideração os interre lac ionamentos entre homem e sociedade ( Tomey, 1 989) .

A teoria de Peplau é mu ito aceita em enfermagem ps iqu iátrica , saúde menta l e enfermagem c l ín ica , tanto ao n ivel de ens ino, da pesquisa e com menor intens idade na prática . A teoria de Peplau pode ser cons iderada precisa , porém há necessidade de ser mais uti l izada a f im de que este g rau de precisão aumente .

Quanto ao s ign if icado, Pep lau é uma das prime i ras teoristas desde N ightinga le a apresentar uma teoria para enfermagem . Por isso o traba lho dela pode ser cons iderado como p ione i ro dando á enfermagem um método s ign ificativo da prática do autod i recionamento numa época em que a medic ina domina o campo do cuidado á saúde.

CONSIDERAÇÕES F INAIS

Embora o l ivro de Peplau tenha s ido pub l icado na década de 50 , quatro décadas atrás , constatamos que os conceitos da teoria continuam dando d i reção para a prática da enfermagem , para a educação e a pesqu isa . Este fato se expl ica por ter s ido esta teoria desenvolv ida co base na rea l idade , o que tem favorecido a re lação existente entre a teoria e os dados empí ricos , os qua is perm item a va l idação e verif icação da teoria por outros cient istas .

A Teoria de Pep lau l ida com relacionamentos do processo i nterpessoal enferme i ro - paciente e experiências ps icobio lóg icas . Cada um desses re lacionamentos é então desenvolv ido dentro da teori a , de uma forma compreensíve l . Daí a teoria ser descrita como uma junção de a lto grau de s imp l icidade . A teoria de Peplau é adaptável apenas na enfermagem · em loca is onde possa haver a comun icação entre o paciente e o enferme i ro . O seu uso é l im itado no traba lho com pacientes inconscientes , recém-nascidos e a lguns pacientes idosos . Portanto , nesta teoria a qual idade da genera l idade não é encontrada . Desta forma podemos conclu i r que o traba lho de Peplau

R . Bras. Enferm . Brasíl ia . v . 49, n . I p . 55-64. jan./mar. 1 996 62

Page 9: TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU ... · TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO Silvana Sidney Costa Santos 15

tem fornecido uma contribu ição s ign ificante para a base de conhecimentos da enfermagem .

A BST RACT: Th is is a b ib l iogra p h ic study w here the a u t hors tried to a n a lyse

the interperson a l re lationships of n u rs ing from H i l d e gard E . P e p l a u

fo l lowi n g the c o n c e p t u a l pattern o f a n a lysis a n d evolution proposed by

Th ibodea u . It describes the c o n c epts of pers o n . enviro ment . h e a l t h a n d n u rs i n g ; t h e sourc e a n d procedures u s e d to t h i s theory formation; a n d its g e n era l izati o n . use. acceptance a n d s ignifi c a n c e for n u rs ing . It s h ows the

im porta n c e of its a p p l ication in n u rs ing pra c tice beca use the interpers o n a l process is a pri m a ry stag e i n n ursi n g assistan c e .

K EYWO R D : Theory ; I n terpersonal Re lationsh ip - N ursi n g .

REFERÊNCIAS B IBLIOGRÁFICAS

1 . AG U IAR , N . G. G. Re visando a litera tura como forma de repensar a

prá tica da enfermeira no campo da psiquiatria. apresentado ao 47° Congresso Bras i le i ro de Enfermagem , Goiãn ia , 1 995 , 1 8p . (M imeo) .

2 . BON I EA N , L . Personal ity theories and menta l health . I n : COOK, J . S. , FONTAI N E , K. L . Essen tials of mental health nursing. Cal ifórn ia : Addison-Wesley Company, 1 987 . P . 94

3 . C IANC IA R U LLO, T. W. Teoria das N ecess idades H u manas Bás icas - um marco indelével na enfermagem bras i le i ra . Rev. Esc. Enf USP. São Pau lo , v . 2 1 , n . Especia l , p . 1 00- 1 07 , 1 987 .

4 . FAWCETT, J . A nalysis a n d e valuation o f concep tual models o f nursing. Ph i lade lph ia : F .A . Dav is , 1 987 . p . 34-54

5 . GEORGE , J. B. Teorias de enfermagem, a base para a prática da

profissão. Porto Alegre : Artes Médicas , 49-62 , 1 993 .

63 R . Bras. Enferm. Brasíl ia. v. 49. n. 1 p. 55-64. jan . /mar. 1 996

Page 10: TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU ... · TEORIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS EM ENFERMAGEM DE PEPLAU' ANALISE E EVOLUÇÃO Silvana Sidney Costa Santos 15

6 . P E P LA U , H . E . In terpersonal relations in Nursing: a conceptua l frame of references for psychodynamic nurs ing . Kingdon : MacMi l lan Educacion , 1 988 , p . 3- 1 6 .

7 . STE FAN ELL I , M . C . Ens ino d e técn icas d e comun icação terapêutica enferme i ra-paciente : referencia l teórico (Parte 1 1 ). Rev. Esc.

Enfermagem da USP, v. 2 1 , n. 2 , p . 1 07- 1 1 5 , ago , 1 987 .

8 . TAYLOR , C . M . In terações enfermeira-clien te. I n : Fundamentos de enfermagem ps iqu iátrica . 1 3 . ed . Porto Alegre : Artes Médicas . p . 7 1 , 1 990 .

9 . T H I BODEAU , J . A. Nursing Models: analysis and evolution . Connecticut: U n ivers ity of Connecticut, 1 988 .

1 0 . TOM EY, A M . Nursing Theorists a n d their Work. 2 . ed . Toronto : The C .V . Mosby Company. p .203-2 1 1 . 1 989 .

R . Bras. EI?ferm. Brasília. v . 49 . n. 1 p. 55-64, jan./mar. 1 996 64