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TEORIA GERAL DO PROCESSO PREVIDENCIÁRIO RENATO BARTH PIRES Juiz Federal Mestre em Direito pela PUC/SP Professor da Faculdade de Direito da PUC/SP Contato: [email protected]

TEORIA GERAL DO PROCESSO PREVIDENCIÁRIO · Princípios fundamentais do processo e do procedimento. ... será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz

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TEORIA GERAL DO PROCESSOPREVIDENCIÁRIO

RENATO BARTH PIRES

Juiz Federal

Mestre em Direito pela PUC/SP

Professor da Faculdade de Direito da PUC/SP

Contato: [email protected]

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Questões iniciais

Por que uma “Teoria Geral do Processo Previdenciário”?

Conceitos fundamentais sedimentados e implicações práticas.

– O que é “sentença”?

– Teoria Geral do Processo e o novo CPC

Depois da Teoria Geral do Processo Previdenciário, a Prática processual Previdenciária.

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Proposta de trabalho

Propedêutica processual

Visão científica do Direito Processual

Trilogia estrutural do Direito Processual

Hermenêutica processual

Jurisdição

Competência

Ação

Sujeitos processuais

Princípios fundamentais do processo e do procedimento.

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Conceitos preliminares

Necessidade: relação de dependência do ser

humano em relação a determinado elemento

(bem).

Bem: é o elemento da vida capaz de satisfazer

uma necessidade.

Utilidade: aptidão de um bem para satisfazer

uma necessidade.

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Conceitos preliminares

Interesse:– relação entre o homem que experimenta a necessidade

e o bem apto a satisfazê-la.

– Posição favorável à satisfação de uma necessidade.

Conflito de interesses: posição favorável à satisfação de uma necessidade exclui outra posição favorável à satisfação de outra necessidade.

– É um choque entre interesses contrapostos.

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Conceitos preliminares

Pretensão: é a exigência de subordinar um

interesse alheio a um interesse próprio.

Resistência: oposição à pretensão.

Lide: é um conflito de interesses, qualificado

pela pretensão resistida ou insatisfeita.

– Prévio requerimento administrativo em matéria

previdenciária/assistencial?

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Prévio requerimento administrativo

STF: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. PRÉVIO REQUERIMENTO

ADMINISTRATIVO E INTERESSE EM AGIR. 1. A instituição de condições para o regular exercício do

direito de ação é compatível com o art. 5º, XXXV, da Constituição. Para se caracterizar a presença de

interesse em agir, é preciso haver necessidade de ir a juízo. 2. A concessão de benefícios previdenciários

depende de requerimento do interessado, não se caracterizando ameaça ou lesão a direito antes de sua

apreciação e indeferimento pelo INSS, ou se excedido o prazo legal para sua análise. É bem de ver, no

entanto, que a exigência de prévio requerimento não se confunde com o exaurimento das vias

administrativas. 3. A exigência de prévio requerimento administrativo não deve prevalecer quando o

entendimento da Administração for notória e reiteradamente contrário à postulação do segurado. 4. Na

hipótese de pretensão de revisão, restabelecimento ou manutenção de benefício anteriormente

concedido, considerando que o INSS tem o dever legal de conceder a prestação mais vantajosa possível,

o pedido poderá ser formulado diretamente em juízo – salvo se depender da análise de matéria de fato

ainda não levada ao conhecimento da Administração –, uma vez que, nesses casos, a conduta do INSS

já configura o não acolhimento ao menos tácito da pretensão [...] (RE 631240, Relator(a): Min.

ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/09/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO

REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-220 DIVULG 07-11-2014 PUBLIC 10-11-2014)

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Prévio requerimento administrativo

Interesse “de agir” (terminologia do CPC de 1939).

CPC para interpretar a Constituição Federal?

Em resumo:

– Para concessão, precisa requerimento prévio (não exaurimento).

– Ameaça surgirá se exceder prazo legal para análise.

– Não se exige:

Quanto o entendimento do INSS por notória e reiteradamente

contrário ao pedido do segurado (ex. LOAS com renda > ¼

sm/capita).

Nos casos de revisão, restabelecimento e manutenção do benefício

antes concedido (INSS tem o dever de conceder o mais vantajoso)

– Exceto se depender da análise de matéria de fato ainda não submetida ao

exame do INSS (por exemplo, novo vínculo de emprego, tempo especial

etc.) – pode ter implicações na decadência, por exemplo.

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Formas de resolução de conflitos

Autodefesa: defesa que alguém faz de si mesmo

(ou de terceiro).

Autocomposição:

– Renúncia/desistência (implicações práticas?)

Ao direito, à (da) ação ou ao (do) processo?

– Submissão/reconhecimento.

– Transação.

Processo: instrumento de que se vale o Estado

para a solução de conflitos de interesse.

– Um terceiro (imparcial e equidistante) soluciona a lide.

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Trilogia estrutural do Direito Processual

1. Jurisdição

2. Ação

3. Processo

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Jurisdição

É uma das funções do Estado, mediante a

qual este se substitui aos titulares dos

interesses em conflito para, imparcialmente,

buscar a pacificação do conflito que os

envolve, com justiça.

A pacificação é feita pela atuação da

vontade do direito objetivo ao caso concreto.

A função jurisdicional é monopólio do

Estado.

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Jurisdição

A função jurisdicional é sempre exercida através do

processo, seja quando expressa imperativamente o

preceito (pela sentença de mérito), seja quando

realiza concretamente, no mundo das coisas, o

preceito (através da execução forçada).

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Características da jurisdição

1) Caráter substitutivo: Ao exercer a jurisdição, o Estado substitui, com uma

atividade sua, a atividade daqueles que estão em

conflito

Dever de imparcialidade (arts. 144 a 148 do CPC)

2) Escopo jurídico de atuação do direito: A jurisdição tem como finalidade ou escopo jurídico a

atuação (cumprimento, realização) das normas de

direito substancial (positivo) aos casos concretos;

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Características da jurisdição

3) Escopo social: Garantia de cumprimento do direito positivo material, de

preservação da autoridade do ordenamento jurídico, da

paz e ordem na sociedade, através da imposição da

vontade do Estado.

O exercício da jurisdição satisfaz, antes de tudo, o

interesse da sociedade (do Estado-comunidade).

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Características da jurisdição

4) Lide: O conflito de interesses qualificado por uma pretensão

resistida.

5) Inércia: Os órgãos jurisdicionais são, por natureza, inertes, só podendo

exercer suas atividades quando provocados pelos interessados (nemo

judex sine actore, ne procedat judex ex officio).

Art. 2º do CPC: “O processo começa por iniciativa da parte e se

desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”.

Execução invertida em matéria previdenciária?

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Características da jurisdição

6) Definitividade: Só os atos jurisdicionais são suscetíveis de se

tornarem imutáveis, não podendo ser revistos ou modificados:

Constituição Federal, Art. 5º, XXXVI “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

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Princípios inerentes à jurisdição

1) Investidura: só pode exercer a jurisdição quem

tenha sido regularmente investido na autoridade de

juiz.

2) Aderência ao território: dois aspectos: a) Os órgãos do Poder Judiciário (e dos demais poderes) só

podem exercer suas funções nos limites da soberania do

Estado (do território do país);

b) Os vários órgãos do Judiciário têm uma parcela de território

nacional dentro do qual podem exercer suas funções, sendo-

lhes vedado invadir território alheio.

– Carta precatória?

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Princípios inerentes à jurisdição

3) Indelegabilidade: A proibição de delegação de “poderes” (das funções

estatais) é um princípio inerente à separação de

poderes encampada pela Constituição;

A CF, ao fixar as competências do Poder Judiciário,

implicitamente vedou que um poder constituído (juiz, lei,

etc.) possa transferi-las para outro Poder.

4) Inevitabilidade: Relação de sujeição das partes em face do Estado-juiz.

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Princípios inerentes à jurisdição

5) Inafastabilidade:– Constituição Federal: Art. 5º, XXXV – “a lei não excluirá da apreciação do

Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça a direito”.

6) Juiz natural:– CF, art. 5º, XXXVII: “não haverá juízo ou tribunal de exceção; art. 5º, LIII:

“ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”.

Consequências:

a) só é juiz o órgão investido de jurisdição (o legislador não pode julgar, através de leis);

b) só são órgãos jurisdicionais os instituídos pela Constituição;

c) é proibida a criação de tribunais ad hoc e de exceção;

d) ninguém poderá ser julgado por órgão constituído após o fato;

e) entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que exclui qualquer alternativa sujeita à discricionariedade de qualquer um.

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Princípios inerentes à jurisdição

7) Inércia:

– A jurisdição só atua mediante provocação do

interessado.

– Depois de provocada, a jurisdição atua por

impulso oficial

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Competência

É a delimitação do âmbito da jurisdição de

cada um dos órgãos do Poder Judiciário.

É a medida da jurisdição.

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Determinação da competência

Critérios jurídicos para determinação da competência:– a) Constituição Federal;

– b) leis processuais;

– c) normas de organização judiciária;

– d) regimentos internos e outros atos normativos dos tribunais.

Dentre os critérios legais, pode haver:

a) normas que levam em conta o interesse público:

normas cogentes (de ordem pública ou de imperatividade absoluta);

as partes não podem abrir mão;

ex.: devido processo legal.

b) normas que objetivam proteger o interesse de uma ou ambas as partes:

normas dispositivas (de imperatividade relativa);

como são destinadas a proteger as partes, podem elas abrir mão;

ex.: CPC, art. 53, V: “É competente o foro: V – do domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves”.

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Competência para concessão de liminar e/ou tutela provisória

A concessão de medidas liminares é, obviamente,

do Juízo competente para aquele processo.

Mas a doutrina entende que o “poder geral de

cautela” é inerente à função jurisdicional.

Assim, mesmo o Juiz incompetente pode deferir

medida de urgência destinada a evitar o

perecimento de direito.

Essa medida de urgência pode ser revista, se for o

caso, pelo Juízo competente.

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CPC

Art. 64, § 4º: “Salvo decisão judicial em

sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos

de decisão proferida pelo juízo incompetente

até que outra seja proferida, se for o caso,

pelo juízo competente”.

Ressalva importante.

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Incompetência

É a propositura da ação perante Juízo

diverso do previsto em lei.

Pode ser absoluta ou relativa

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Incompetência absoluta

A incompetência é absoluta quando a norma de competência violada é cogente.

– Ex.: incompetência quanto à matéria, quanto à pessoa ou quanto à função (art. 62 do CPC).

– No JEF: quanto ao valor da causa (maior que 60 SM).

Art. 64, § 1º, do CPC: pode ser declarada de ofício e pode ser alegada em qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição.

A declaração de incompetência anula apenas os atos decisórios.

A sentença proferida por juiz absolutamente incompetente pode ser desconstituída por ação rescisória (artigo 966, II, CPC).

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Incompetência relativa

A incompetência é relativa quando a norma de

competência violada é dispositiva.

– Ex.: incompetência territorial (de foro).

Arguida também em preliminar da contestação (não

é mais por exceção de incompetência)

Se não apresentada a alegação, ocorre a

perpetuação (ou prorrogação) da incompetência

relativa (art. 65 do CPC).

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Competência em matéria previdenciária

Justiça Federal:

CF, art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:– I - as causas em que a União, entidade autárquica ou

empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

INSS é autarquia federal;

Logo, a maioria das ações previdenciárias será proposta perante a Justiça Federal.

Competência firmada pela qualidade da parte (autarquia federal) – é absoluta – pode ser declarada de ofício, a qualquer tempo, e arguida em preliminar de contestação.

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Competência em matéria previdenciária

Justiça Estadual:– CF, art. 109.

– § 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual.

– § 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.

– “Competência delegada”: recurso para o TRF.

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Competência em matéria previdenciária

Justiça Estadual é opção do segurado/assistido.

Observações:

– 1) Opção não pode ser exercida se o autor é domiciliado em cidade que é sede da

Justiça Federal ou de JEF.

– 2) Não pode haver uma “quarta via”: por exemplo, Justiça Federal em outra Subseção

(que não a da Capital).

– Exemplo: segurado domiciliado em Campos do Jordão, que não

tem Justiça Federal, mas integra a jurisdição das Varas Federais

de Taubaté;

– Segurado pode escolher propor a ação na Justiça Estadual em

Campos do Jordão, na Justiça Federal em Taubaté ou na Justiça

Federal em São Paulo – mas não pode propor na Justiça Federal

em São José dos Campos (Súmula 689 do STF)

– TRF3 – pode ser declarada de ofício (alguns julgados).

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Competência em matéria previdenciária

Acidente do trabalho:

Artigo 109, I, da Constituição: “exceto as de acidente do trabalho” – Justiça Estadual.

Competência absoluta – Juiz declara de ofício.

Recurso para o TJ.

Como saber? Em benefícios por incapacidade (aposentadoria por invalidez, auxílio doença e auxílio-acidente), é necessário identificar a origem da doença e do acidente?

se doença profissional ou acidente do trabalho, Justiça Estadual;

indício: Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT); algumas vezes: só depois da perícia.

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Competência em matéria previdenciária

Conceito legal de acidente do trabalho e doença profissional: artigos 20 e 21 da Lei nº 8.213/91:

Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas:

I - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;

II - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.

§ 1º Não são consideradas como doença do trabalho:

a) a doença degenerativa;

b) a inerente a grupo etário;

c) a que não produza incapacidade laborativa;

d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho.

§ 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho.

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Competência em matéria previdenciária

Art. 21. Equiparam-se também ao acidente do trabalho, para efeitos desta Lei:

I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;

II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conseqüência de:

a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho;

b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho;

c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho;

d) ato de pessoa privada do uso da razão;

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior;

III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade;

IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;

b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito;

c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;

d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

§ 1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho.

§ 2º Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às conseqüências do anterior.

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Competência em matéria previdenciária

Cuidado: mandado de segurança.

– A competência para julgar o mandado de

segurança firma-se de acordo com a categoria da

autoridade impetrada e de sua sede funcional;

– Matéria previdenciária: autoridade do INSS (chefe

da APS, gerente executivo, etc.) – sempre Justiça

Federal.

– Mesmo se for em acidente do trabalho: STJ:

prevalece a natureza da autoridade sobre a

natureza do direito material controvertido.

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Competência em matéria previdenciária

PEC 287/2016 (reforma da previdência social):

“Art. 109. [...] I - as causas em que a União, entidade

autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na

condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as

de falência e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do

Trabalho;

§ 3º As causas de competência da justiça federal poderão

ser processadas e julgadas na justiça estadual, quando a

comarca não for sede de vara do juízo federal, nos termos

da lei.

Transfere acidente do trabalho para a JF – amplia a

competência delegada.

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E o JEF?

Lei nº 10.259/2001: “Art. 3º Compete ao Juizado

Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar

causas de competência da Justiça Federal até o

valor de sessenta salários mínimos, bem como

executar as suas sentenças”.

Em resumo: todas as causas do art. 109 da CF,

desde que não se encaixem em alguma das

exceções da Lei nº 10.259/2001 ou se tratar de

pessoa que não pode ser parte perante o JEF.

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“Até 60 salários mínimos”

Qual salário mínimo? o fixado em lei federal válido para a data da propositura da ação (Enunciado nº 15 do FONAJEF).

Hoje: R$ 56.220,00

Como medir o valor da causa no JEF?

Se obrigações vincendas (futuro): a soma de 12 parcelas não pode ser superior a 60 salários mínimos.

Se obrigações vencidas (passado) e vincendas (futuro): a soma do total, com juros e correção monetária, não pode passar de 60 SM (todas as vencidas e mais 12 vincendas).

Se pedido incluir indenização por dano moral: obrigações vencidas, 12 vincendas e mais indenização.

TRF 3ª Região (alguns julgados): para fixar competência do JEF, considera-se o dano moral em valor até o do dano material:

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Valor da causa e dano moral no JEF

“(...) . 2. Tendo o valor da causa reflexos na competência do Juízo para a demanda (art. 3º, § 3º, Lei nº

10.259/2001), bem como na verba de sucumbência e nas custas processuais, não pode o autor fixá-lo ao

seu livre arbítrio. O valor da causa deve corresponder ao proveito econômico perseguido pela parte,

podendo o magistrado, de ofício, com base nos elementos fáticos do processo, determinar a sua

adequação. 3. É certo que, havendo cumulação dos pedidos de concessão de benefício previdenciário e de

indenização por danos morais, os respectivos valores devem ser somados para efeito de apuração do valor

da causa (inteligência do art. 259, II, do CPC). Contudo, a pretensão secundária não poderia ser

desproporcional em relação à principal, de modo que, para definição do valor correspondente aos danos

morais, deveria ter sido utilizado como parâmetro o quantum referente ao total das parcelas vencidas e

vincendas do benefício previdenciário pretendido. 4. Sendo excessivo o valor atribuído à indenização por

danos morais, vale dizer, ultrapassando o valor pretendido o limite equivalente ao total das parcelas

vencidas mais doze vincendas do benefício (inteligência do art. 260 do CPC), é perfeitamente possível que

o Juízo reduza, de ofício, o valor da causa, ao menos provisoriamente, com vistas à fixação da

competência para o julgamento do feito (...) (TRF 3ª Região, SÉTIMA TURMA, AI 0034397-46.2012.4.03.0000,

Rel. Desembargador Federal FAUSTO DE SANCTIS, julgado em 20/05/2013, e-DJF3 Judicial 1 DATA:29/05/2013)

Mesmo sentido: AI 00154691320134030000, Rel. RAQUEL PERRINI, TRF3 - OITAVA TURMA, e-DJF3

18.10.2013; AI 00338726420124030000, Rel. SOUZA RIBEIRO, TRF3 - NONA TURMA, e-DJF3 28.02.2013; AI

00142108020134030000, Rel. SERGIO NASCIMENTO, TRF3 - DÉCIMA TURMA, e-DJF3 04.9.2013.

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“Valor da causa” e “valor da condenação”

É possível que, em razão do tempo

decorrente do processamento da ação, o

valor da condenação supere os 60 salários

mínimos.

Qual é a conduta do Juiz? Extinguir? Intimar

o autor para renunciar ao excedente?

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“Valor da causa” e “valor da condenação”

Lei nº 10.259/2001:

Art. 17. Tratando-se de obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em

julgado da decisão, o pagamento será efetuado no prazo de sessenta dias,

contados da entrega da requisição, por ordem do Juiz, à autoridade citada para

a causa, na agência mais próxima da Caixa Econômica Federal ou do Banco

do Brasil, independentemente de precatório.

§ 1o Para os efeitos do § 3o do art. 100 da Constituição Federal, as obrigações

ali definidas como de pequeno valor, a serem pagas independentemente de

precatório, terão como limite o mesmo valor estabelecido nesta Lei para a

competência do Juizado Especial Federal Cível (art. 3º, caput). (...).

§ 4o Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido no § 1º, o

pagamento far-se-á, sempre, por meio do precatório, sendo facultado à

parte exequente a renúncia ao crédito do valor excedente, para que possa

optar pelo pagamento do saldo sem o precatório, da forma lá prevista.

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“Valor da causa” e “valor da condenação”

5ª Turma Recursal de São Paulo:

“(...) II - VOTO Inicialmente, não há que se falar em incompetência do Juizado Especial Federal, em

razão do valor da causa, pois não há nos autos comprovação de que o montante pretendido pela parte

autora supera o limite de alçada estabelecido no artigo 3°, § 2°, da Lei federal n° 10.259/2001. Note-se

que os conceitos de valor da causa e valor da condenação são inconfundíveis. A Lei nº 10.259/2001

permite expressamente a expedição de precatório no âmbito dos Juizados Especiais Federais (artigo

17, § 4º), razão pela qual nada impede que a execução seja realizada em valor superior a sessenta

salários mínimos, conquanto a competência seja limitada a esse valor na data do ajuizamento da

demanda. Tal é, inclusive, o entendimento já pacificado pelas Turmas Recursais: SÚMULA Nº 16 - É

possível a expedição de precatório no Juizado Especial Federal, nos termos do artigo 17, §4º, da Lei nº

10.259/2001, quando o valor da condenação exceder 60 (sessenta) salários mínimos." (Origem

Enunciado 20 do JEFSP)” (Processo 00294956220124036301, Rel. Juiz OMAR CHAMON, e-DJF3

24.5.2013).

No mesmo sentido:

Processo 00184566820124036301, Rel. Juíza FLAVIA PELLEGRINO SOARES, TR3 - 3ª Turma

Recursal - SP, e-DJF3 09.5.2013;

Processo 00095013120064036310, Rel. CRISTIANE FARIAS RODRIGUES DOS SANTOS, TR4 – 4ª

Turma Recursal, e-DJF3 23.5.2013.

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A competência do JEF é absoluta:

Lei nº 10.259/2201: “Art. 3º § 3º No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta”.

Consequências:

– Incompetência deve ser alegada em preliminar de contestação;

– Juiz pode declarar a incompetência de ofício (mesmo sem provocação do réu), a qualquer tempo (não preclui).

– Jurisdicionado não pode escolher onde propor (JEF ou Vara), se houver JEF e Vara instalados na cidade de seu domicílio.

Conduta do Juiz: extinção do processo:

– Enunciado nº 24 do FONAJEF: Reconhecida a incompetência do Juizado Especial Federal, é cabível a extinção do processo, sem julgamento de mérito, nos termos do art. 1º da Lei n. 10.259/2001 e do art. 51, III, da Lei n. 9.099/95, não havendo nisso afronta ao art. 12, § 2º, da Lei 11.419/06.

– Lei nº 11.419/2006 (informatização do processo judicial). Art. 12. A conservação dos autos do processo poderá ser efetuada total ou parcialmente por meio eletrônico. § 1º Os autos dos processos eletrônicos deverão ser protegidos por meio de sistemas de segurança de acesso e armazenados em meio que garanta a preservação e integridade dos dados, sendo dispensada a formação de autos suplementares. § 2º Os autos de processos eletrônicos que tiverem de ser remetidos a outro juízo ou instância superior que não disponham de sistema compatível deverão ser impressos em papel, autuados na forma dos arts. 166 a 168 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil, ainda que de natureza criminal ou trabalhista, ou pertinentes a juizado especial.

Conflito de competência entre JEF e Vara dentro da mesma Região:

– Súmula 428 do STJ: Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competênciaentre juizado especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária.

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Ação

A ação é o direito ao exercício da atividade jurisdicional (ou o poder de exigir o exercício da atividade jurisdicional);

O Estado reservou para si o exercício da atividade jurisdicional como forma de solucionar os conflitos e controvérsias surgidos na sociedade (visto que limitadas a autodefesa, a autocomposição e a arbitragem), aplicando as normas reguladoras do convívio social;

Como a jurisdição é inerte, cabe ao titular da pretensão resistida provocar o exercício da atividade jurisdicional, e o faz através do direito de ação.

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Natureza jurídica da ação

Longa evolução doutrinária:

a) teoria imanentista (clássica, civilista):

– Celso, Savigny, João Monteiro;

– Para esta teoria, ação é o direito de pedir em juízo aquilo que nos é devido (ius quod sibi debeatur in iudicio persequendi);

– Ação e processo são simples capítulos do direito substancial (não se distingue ação do direito subjetivo material);

– Ação é uma qualidade de todo direito, ou o próprio direito reagindo a uma violação;

– Consequências:

não há direito sem ação;

a ação segue a natureza do direito.

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b) a polêmica Windscheid-Muther:

– Muther: distinguiu direito lesado e ação;

– Da ação nascem dois direitos de natureza pública:

– 1. O direito do ofendido à tutela jurídica do Estado (dirigido

contra o Estado);

– 2. O direito do Estado à eliminação da lesão.

– Windscheid: apesar de refutar inicialmente as idéias de

Muther, acabou aceitando a existência de um direito de

agir, exercitável contra o Estado e contra o devedor.

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c) ação como direito autônomo: Após tais idéias, surgiu a concepção de um direito de

ação autônomo, distinto do direito subjetivo material a

ser tutelado;

reconhecendo o caráter público desse direito, surgiram

duas correntes:

1) A teoria do direito concreto à tutela jurídica;

2) A teoria do direito abstrato de agir.

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d) ação como direito autônomo e concreto: – Wach (Alemanha):

– ação é

– 1. um direito autônomo, isto é, não pressupõe necessariamente um direito subjetivo material violado ou ameaçado (como demonstram as ações meramente declaratórias de existência ou inexistência de relação jurídica);

– 2. dirigido contra o Estado (é um direito de exigir proteção jurídica) e também contra o adversário (de quem se exige a sujeição);

– 3. um direito concreto (só existe quando a sentença for favorável, pois a existência da tutela jurisdicional só pode ser satisfeita através da proteção concreta);

– ou seja, é um direito público e concreto (um direito existente nos casos concretos em que haja direito subjetivo).

– Bulow:

– admite uma variante, de que a exigência da tutela jurisdicional é satisfeita pela sentença justa.

– Chiovenda:

– a ação é um direito potestativo (ou direito de poder), ou seja:

– 1. autônomo (diverso do direito material que se pretende fazer valer em juízo);

– 2. não é direito subjetivo (não corresponde a uma obrigação do Estado);

– 3. não é de natureza pública (pois dirige-se contra o adversário - não contra o Estado - correspondendo-lhe a sujeição);

– ou seja:é o poder jurídico de dar vida à condição para a atuação da vontade da lei;

– exaure-se com o seu exercício, tendente à produção de um efeito jurídico em favor de um sujeito e com ônus para o outro (que nada deve nem pode fazer para evitar tal efeito).

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e) ação como direito autônomo e abstrato:– Degenkolb, Plósz e Alfredo Rocco;

– o direito de ação independe da existência do direito material;

– não deixa de haver ação quando uma sentença justa nega a pretensão o autor, ou como uma sentença injusta a acolhe sem que exista na realidade o direito subjetivo material;

– Rocco: quando se solicita a intervenção do Estado para a tutela de interesses violados ou ameaçados, surge outro interesse, o interesse à tutela daqueles pelo Estado;

– interesse principal: da parte;

– interesse secundário: do Estado;

– para existir direito de ação basta que o indivíduo se refira a um interesse primário, juridicamente protegido;

– o direito de ação é dirigido contra o Estado.

– Carnelutti: dirigido contra o juiz e não contra o Estado;

– Couture: o direito de ação integra a categoria constitucional do direito de petição.

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f) ação como direito autônomo em outras teorias:– são as teorias chamadas “ecléticas”, como a de Pekelis, que acentua o direito

subjetivo contido na ação (direito de fazer agir o Estado, e não direito de agir) e considera os outros direitos como mero reflexo deste;

– outros:ação é exercício de função pública;

– não é direito ou poder, mas dever (obrigação de dirigir-se ao órgão jurisdicional para a solução do conflito).

g) a doutrina de Liebman:– para este processualista, a ação é um direito subjetivo instrumental;

– mas, mais do que um direito, um poder ao qual não corresponde a obrigação do Estado, também interessado na distribuição da justiça;

– o referido poder é correlato com a sujeição e instrumentalmente conexo a uma pretensão material;

– o direito de ação previsto na Constituição (o direito de demanda, de acesso ao Judiciário), extremamente abstrato e geral, não tem relevância para o processo, sendo o simples pressuposto sobre o qual se baseia a ação em sentido processual;

– só há função jurisdicional quando o juiz se pronuncia sobre o mérito (sobre a pretensão material deduzida em juízo).

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Conclusão sobre a ação

A ação é um direito (ou poder) dirigido contra o Estado (embora quando apreciada pelo juiz produza efeitos na esfera jurídica de outra pessoa);

é um direito público subjetivo (cívico), pois tem por objeto uma prestação positiva pelo Estado;

não é dirigido contra outra pessoa, nem contra esta e o Estado, mas somente contra o Estado;

Tem inegável natureza constitucional: é uma garantia constitucional que tem por objeto direito ao processo, assegurando às partes não só a resposta do Estado, mas o direito de sustentar suas razões, o direito ao contraditório, de influir sobre o convencimento do juiz, tudo aquilo que se denomina devido processo legal;

é direito ao provimento jurisdicional, seja favorável ou desfavorável: por isso é de natureza abstrata;

é direito autônomo (independe da existência do direito subjetivo material);

é direito instrumental (pois sua finalidade é dar solução a uma pretensão de direito material);

é conexo a uma situação jurídica concreta.

é um direito autônomo, abstrato, instrumental e conexo a uma situação jurídica concreta.

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Elementos da ação

É possível identificar direitos materiais

distintos (ex.: o crédito de “A” contra “B” é

distinto do crédito de “B” contra “C”).

É possível também identificar ações

diferentes, por meio de seus elementos:

– a) Partes

– b) Pedido

– c) Causa de pedir.

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Elementos da ação

Importância da identificação dos elementos

da ação:

– Verificação de litispendência ou coisa julgada

(supõem ações “idênticas”).

– Verificação de conexão (identidade de pedido ou

causa de pedir).

– Delimitação da jurisdição (vinculação da

sentença ao pedido).

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Partes

São as pessoas que participam do contraditório perante o Estado-juiz;

É aquele que, por si próprio ou através de representante, vem deduzir uma pretensão em juízo (autor), bem como aquele que se vê envolvido pelo pedido (réu), cuja situação jurídica será objeto de apreciação judiciária;

A qualidade de parte implica sujeitar-se à autoridade do juiz e a titularizar todas as situações jurídicas que caracterizam a relação jurídica processual;

Art. 506 do CPC: sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros.

Lembre-se que parte não se confunde com parte legítima; a parte pode ser legítima ou ilegítima, que continua a ser parte;

Adota-se um conceito puramente processual de parte, que pode não coincidir com o conceito material de parte, isto é, dos titulares da relação jurídica material controvertida (res in judicium deducta).

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Causa de pedir

São os fatos constitutivos do direito do autor, por ele narrados;

São os fatos dos quais o autor deduz seu direito;

O que constitui a causa de pedir é a exposição dos fatos, não a qualificação jurídica dada a eles pelo autor;

Mesmo que a qualificação jurídica esteja errada, se o fato narrado tiver relação com o pedido formulado, não pode o juiz negar o provimento jurisdicional (iura novit curia);

Em razão disso, afirma-se que o CPC adotou, em relação à causa de pedir, ao teoria da substanciação (que considera os fatos narrados para a configuração da causa de pedir), em oposição à teoria da individuação (que leva em conta a espécie jurídica invocada pelo autor, e não as circunstâncias de fato).

Parte da doutrina fala em causa próxima (os fundamentos jurídicos, a natureza do direito controvertido) e causa remota (o fato gerador do direito);

Assim, na ação que visa o pagamento de uma dívida, a causa remota é a exposição, pelo autor, de que é credor por força de ato ou contrato; a causa próxima é o inadimplemento (venceu e não foi paga a dívida).

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Pedido (objeto)

É o provimento jurisdicional requerido;

O provimento pode ter natureza:– cognitiva, quando caracterizar o julgamento da própria pretensão que o autor deduz

em juízo, a sentença de mérito (que pode ser meramente declaratória, constitutiva, condenatória ou mandamental);

– executiva, quando visar realizar concretamente os comandos do direito;

– cautelar, que visa resguardar eventual perecimento de direito ou prejuízo em razão da demora na prestação jurisdicional;

Todo provimento tem um objeto (bem da vida pretendido pelo autor, utilidade que se pretende alcançar pela providência jurisdicional): é a importância em dinheiro, na ação de cobrança; o imóvel, na ação de despejo;

A doutrina tradicional denomina o provimento de pedido imediato, e o objeto de pedido mediato;

Tanto o provimento quanto o objeto são essenciais para a identificação das ações: variando um deles, a ação já não é mais a mesma.

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Condições da ação

São as condições estabelecidas pelo legislador ordinário para que se possa exigir, no caso específico, o provimento jurisdicional;

São os requisitos que esta deve preencher para que se profira uma decisão de mérito

Ainda que a resposta do juiz limite-se a pronunciar a carência da ação (porque ausentes uma ou mais condições da ação), terá havido o exercício da função jurisdicional;

Para uma corrente, as condições da ação são da própria existência da ação; para outra, condições para seu exercício;

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Condições da ação e pressupostos processuais

O processo é o instrumento do qual se vale o juiz para o exercício da jurisdição, e se traduz em uma relação jurídica (processual);

O processo também se subordina a certos requisitos, sem os quais não é possível a regularidade e existência de uma relação jurídica processual válida;

Antes de decidir sobre o mérito da pretensão, de mesmo de examinar se estão presentes as condições da ação, o juiz deve verificar a coexistência dos pressupostos processuais (se o processo é válido);

Se o processo é válido (se presentes os pressupostos processuais), o juiz irá examinar a presença das condições da ação (se existe o direito de ação); se presentes, irá proferir a decisão sobre o mérito (irá decidir a pretensão);

As condições da ação deverão ser apreciadas e decididas como preliminares da sentença de mérito quanto à pretensão.

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Condições da ação

Possibilidade jurídica do pedido:– Desapareceu com o CPC/2015.

– Para o exercício do direito de ação, a pretensão formulada pelo autor deverá ser de natureza a poder ser reconhecida em juízo;

– Por vezes, o ordenamento jurídico exclui expressamente a possibilidade de deduzir em juízo determinado pedido, independentemente de considerações acerca do caso concreto;

– A exclusão é a priori, não havendo a menor condição de que o pedido seja examinado pelo juiz;

– Possibilidade jurídica do pedido é relacionada à pretensão;

– Há possibilidade jurídica do pedido quando a pretensão, em abstrato, se insere dentre aquelas que são reguladas pelo direito material (objetivo).

– Ex.: usucapião de imóveis públicos (vedada pela CF, arts. 182, § 3º, e 191, parágrafo único).

– Com o CPC 2015, estas sentenças seriam de improcedência do pedido (mérito).

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Condições da ação

Interesse processual (“de agir”):– Embora o Estado tenha o interesse no exercício

da jurisdição (pois é função indispensável à manutenção da paz e da ordem), não é conveniente acionar o aparato judiciário sem que dessa atividade se possa extrair algum resultado útil;

– É preciso, pois, que em cada caso concreto, a providência jurisdicional reclamada seja necessária e adequada;

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Interesse processual

Necessidade: é a impossibilidade de obter a satisfação do direito sem a intercessão do Estado-juiz, seja porque a parte contrária se nega a fazê-lo (a pretensão é “resistida”), seja porque a ordem jurídica impõe que a satisfação de determinados direitos só pode ser realizada por meio judicial.

Adequação: é a relação existente entre a situação lamentada pelo autor e o provimento jurisdicional concretamente solicitado;

– O provimento requerido deve ser apto a corrigir o mal de que o autor se queixa.

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Condições da ação

Legitimidade das partes (“legitimatio ad causam”).

– Em princípio, é titular da ação é apenas a própria pessoa

que se diz titular do direito subjetivo material cuja tutela

pede (legitimidade ativa), podendo ser demandado apenas

aquele que seja titular da obrigação correspondente

(legitimidade passiva).

– Art. 18 CPC: ninguém poderá pleitear direito alheio em

nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento

jurídico.

“Legitimação” ou “substituição processual”: um terceiro vai a Juízo,

em nome próprio, para defender um direito alheio.

Ex.: Associação de aposentados que propõe ação em defesa de seus

associados.

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Carência da ação

Quanto faltar qualquer das condições da

ação, o Juiz irá proferir uma sentença de

extinção do processo, sem resolução de

mérito, reconhecendo que o autor é

carecedor da ação (art. 485, VI, do CPC).

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Processo e procedimento

Processo, do latim procedere, etimologicamente, significa “marcha avante”, “caminhada”;

Daí o processo ter sido confundido, durante muito tempo, com a mera sucessão de atos processuais;

Modernamente, entende-se que, além dessa sucessão de atos (o procedimento), o processo compreende uma força que motiva e justifica a prática dos atos do procedimento, interligando os sujeitos processuais (a relação jurídica processual);

Assim, o processo é resultado da soma do procedimento (os atos processuais, o aspecto formal do processo) com a relação jurídica processual (instaurada entre as partes e o juiz, é o aspecto substancial do processo);

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Pressupostos processuais

Podem ser positivos ou negativos.

Os pressupostos processuais positivos são aqueles

cuja presença é indispensável à constituição válida

e regular da relação jurídica processual.

Os pressupostos processuais negativos são aqueles

cuja ausência é indispensável à constituição válida

e regular da relação jurídica processual.

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Os pressupostos processuais positivos podem ser:

1) De existência do processo: a) Demanda – petição inicial (ainda que inepta):

iniciativa da parte;

b) Jurisdição – órgão judicante (ainda que

incompetente);

c) Citação – mesmo que não tenha sido promovida

validamente (é requisito para que a relação processual

se forme integralmente).

2) De validade do processo.

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Pressupostos processuais de validadedo processo:

a) Pressupostos processuais positivos (devem estar presentes para a validade da relação jurídica processual:

– capacidade postulatória (representação por Advogado) – JEF?

– petição inicial regular (apta);

– competência do juízo;

– imparcialidade do juiz;

– capacidade processual (“legitimidade processual”); é a capacidade de exercício de direitos (capacidade civil) – integração da capacidade por representação ou assistência).

– citação válida (ou comparecimento espontâneo do réu).

b) Pressupostos processuais negativos (devem estar ausentes para a validade do processo):

– litispendência;

– coisa julgada;

– convenção de arbitragem

– perempção (extinção do processo quando houver três extinções anteriores por abandono – art. 486, § 3º, CPC).

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Pressupostos processuais negativos

litispendência;

coisa julgada;

convenção de arbitragem;

perempção

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Sujeitos do processo

Pelo menos três:

– Juiz (sujeito imparcial): tem interesse secundário

no processo (na “justa composição da lide”);

– Autor e réu (sujeitos parciais): têm interesse

primário na procedência (autor) ou improcedência

do pedido (réu).

– Outros sujeitos (auxiliares do Juiz): escrivão,

escreventes, oficial de justiça, perito, etc.

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Juiz

Dever de imparcialidade (“neutralidade”?): Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo:

I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou

depoimento como testemunha;

II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão;

III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou

companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;

IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou

colateral, até o terceiro grau, inclusive;

V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo;

VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes;

VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de

prestação de serviços;

VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou

afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório;

IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.

§ 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado ou o membro do Ministério

Público já integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz.

§ 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz.

§ 3o O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato conferido a membro de escritório de

advocacia que tenha em seus quadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não

intervenha diretamente no processo.

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Juiz

Art. 145. Há suspeição do juiz:

I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;

II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou

depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do

objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio;

III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge

ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau,

inclusive;

IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes.

§ 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem

necessidade de declarar suas razões.

§ 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando:

I - houver sido provocada por quem a alega;

II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação

do arguido.

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Autor e réu

Autor: é aquele que pede em seu próprio nome a atuação concreta

da lei.

Réu: é aquele em face de quem a atuação concreta da lei é pedida.

Capacidade de ser parte: personalidade jurídica – arts. 1º a 8º do

Código Civil.

Capacidade para estar em Juízo: capacidade processual

(representação ou assistência, quando for o caso).

Substituição processual: CPC, art. 18: “Ninguém poderá pleitear

direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo

ordenamento jurídico”.– A substituição processual é uma das hipóteses em que a Lei autoriza que um terceiro

vá a Juízo, em seu nome próprio, para tutelar direitos de outrem:

– Ex.: Ação Civil Pública (proposta por associações) – art. 5º da Lei nº 7.347/85 (LACP)

– Consumidor: arts. 81 e 82 do CDC (Lei nº 8.078/90).

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Substituição processual

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SINDICATO. LEGITIMIDADE

ATIVA. RESTABELECIMENTO DE AUXÍLIO-ACIDENTE E PECÚLIO. SEGURADOS APOSENTADOS.

INCONSTITUCIONALIDADE LEIS Nº 8.870/94, 9.032/95 E 9.528/97. DIREITO ADQUIRIDO.

REQUISITOS LEGAIS IMPLEMENTADOS ANTERIORMENTE A EDIÇÃO DOS CITADOS DIPLOMAS

LEGAIS. AUSÊNCIA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PARCIAL PROVIMENTO AO REEXAME

NECESSÁRIO E RECURSOS. 1. Legitimidade ativa do Sindicato para a propositura de ação civil

pública visando à defesa de direitos de seus associados. Art. 8º, inciso III da Constituição Federal.

2. Restabelecimento do pagamento de benefício de auxílio-acidente e pecúlio para segurados

aposentados. 3. Arguição de inconstitucionalidade dos diplomas normativos consubstanciados nas leis

nºs : 8.870/94, 9.528/97 e 9.032/95. Ausência de inconstitucionalidade. Normas de mesma hierarquia

legislativa que introduziram modificações na Lei nº 8.213/91 suprimindo direitos. Precedentes. 4.

Inexistência de direito adquirido a regime jurídico, contudo, assegurado aos beneficiários que

preencheram os requisitos legais até a edição das referidas leis, a manutenção do direito à percepção do

auxílio-acidente até 10/12/1997 e do pecúlio do art. 81, II da Lei nº 8.213/91, até 31/03/1994. 5.

Observado que o preenchimento dos requisitos legais seja em data anterior à supressão legislativa e, em

relação ao auxílio-acidente, que tanto o acidente quanto a eclosão da moléstia respectiva, sejam

anteriores à edição da lei que impediu a manutenção desse benefício para segurados que até então

tenham obtido o direito à sua aposentadoria. 5. Parcial provimento do reexame necessário e às apelações

interpostas pelo INSS e pelo Sindicato.

(APELREEX 00070324119984036100, Rel. SOUZA RIBEIRO, TRF3 - NONA TURMA, e-DJF3 Judicial 1

13.11.2013).

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Litisconsórcio

Pluralidade de partes

Pode ser ativo (mais de um autor), passivo (mais de um réu)

ou misto/recíproco (mais de um autor e mais de um réu).

Pode ser inicial (formado na propositura da ação) ou ulterior

(formado no curso do processo – “assistência litisconsorcial”).

Pode ser facultativo (não obrigatório) ou necessário

(obrigatório, sob pena de nulidade).

Litisconsórcio necessário:– O autor deve promover a citação, sob pena de extinção (art. 115, parágrafo único, do

CPC); Súmula 631 do STF (MS).

– Litisconsórcio passivo unitário – sentença é nula

– Litisconsórcio passivo simples – sentença é ineficaz (artigo 115, I e II).

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Litisconsórcio em matéria previdenciária ou assistencial - hipóteses mais frequentes

1) Pensão por morte em que já existe alguém habilitado ao

benefício

– O benefício será partilhado (art. 77 da Lei nº 8.213/91) ou excluído (se

dependentes de classes diferentes – artigo 16, § 1º)

– Atual pensionista sofrerá efeitos de eventual procedência do pedido.

– É litisconsórcio passivo necessário (pensionista e INSS).

– E o “pensionista em potencial”?

– Lei nº 8.213, art. 76: “A concessão da pensão por morte não será

protelada pela falta de habilitação de outro possível dependente, e

qualquer inscrição ou habilitação posterior que importe em exclusão ou

inclusão de dependente só produzirá efeito a contar da data da inscrição

ou habilitação”.

– E o incapaz? – RMI na data do óbito, por interpretação extensiva do art.

103, parágrafo único da Lei nº 8.213/91, combinado com o art. 198, I, do

CC.

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Jurisprudência

PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO DE CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE -INCAPAZ -

LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO - INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO -DECISÃO ANULADA - RETORNO DOS

AUTOS À ORIGEM. 1 - O filho menor incluído na certidão de óbito é dependente do segurado da previdência na mesma

condição da mãe-autora. 2 - A imprescindibilidade da integração dos filhos menores do de cujus para compor o pólo ativo da

lide, em face da previsão contida no inciso I do art. 16 da Lei 8.213/91, e a consequente obrigatoriedade de intervenção do

Ministério Público nas ações em que figurem incapazes, consistem em obstáculos intransponíveis ao prosseguimento da

presente demanda. 3 - Decisão anulada, com a determinação de retorno dos autos à origem, para que seja intimado o

dependente do de cujus, por sua representante legal, para composição da lide, e, efetivada a necessária intimação do

Ministério Público. 4 - Sentença anulada. 5 - Apelação prejudicada.

(AC , JUIZ FEDERAL HENRIQUE GOUVEIA DA CUNHA (CONV.), TRF1 - SEGUNDA TURMA, e-DJF1 DATA:05/06/2014

PAGINA:591.)

PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO LEGAL. ART. 557, § 1º, DO CPC. PENSÃO POR MORTE. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO.

NÃO NECESSIDADE. 1. Para o julgamento monocrático nos termos do art. 557, § 1º, do CPC, não há necessidade de a

jurisprudência dos Tribunais ser unânime ou de existir súmula dos Tribunais Superiores a respeito. 2. Em relação a esposa do

falecido e a seus filhos, cuja mãe não seja a parte autora, não há necessidade do litisconsórcio necessário, pois a existência de

mais de um dependente não torna obrigatória a formação de litisconsórcio necessário para fins de concessão de pensão por

morte, tendo em vista a hipótese de habilitação posterior, prevista no artigo 76, caput, da Lei n.º 8.213/1991. 3. Recurso de

Agravo legal a que se nega provimento.

(APELREEX 00016762220094039999, DESEMBARGADOR FEDERAL FAUSTO DE SANCTIS, TRF3 - SÉTIMA TURMA, e-

DJF3 Judicial 1 DATA:01/03/2013)

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Litisconsórcio em matéria previdenciária ou assistencial - hipóteses mais frequentes

2) Pensão por morte em que não há dependentes habilitados:

– Vários pensionistas em potencial.

– Existe “litisconsórcio ativo necessário”?

3) Pedidos subsidiários:

– Integração de salários de contribuição ao cálculo da RMI ou,

subsidiariamente, restituição de contribuições pagas além do devido.

– As contribuições para o custeio da Seguridade Social (artigos 195 e 239

da CF/88) são criadas por lei federal e arrecadadas pela União.

– Administrativamente, a atuação da União se dá por intermédio da

Secretaria da Receita Federal do Brasil (artigo 33 da Lei nº 8.212/91);

em Juízo, pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (artigo 131, §

3º, da Constituição Federal; artigo 12 da Lei Complementar nº 73/93).

– Logo, há litisconsórcio passivo necessário entre União e INSS

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Princípios do processo e do procedimento

Recordar diferença entre processo e

procedimento.

Dificuldade teórica/metodológica: princípios

jurídicos (de Direito Positivo) e princípios

construídos pela Ciência do Direito (doutrina). -

parcial coincidência.

Justificação científica ou imposição da regra

jurídica?

Exemplo: o que é Seguridade Social?

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Princípios constitucionais do processo

Direito de ação (inafastabilidade do controle jurisdicional – art. 5º,

XXXV)

Devido Processo Legal (processual e substancial) – art. 5º, LIV

Contraditório e Ampla Defesa – art. 5º, LV

Isonomia – art. 5º, “caput” e I

Juiz Natural e Promotor Natural – art. 5º, XXXVII e LIII

Proibição das provas obtidas por meios ilícitos – art. 5º, LVI

Publicidade dos atos do processo – arts. 5º, LX e 93, IX

Motivação (fundamentação) das decisões judiciais e administrativas –

art. 93, IX

Duração razoável do processo – art. 5º, LXXVII

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Outros princípios do processo

1. Princípios “ideológicos”:

– Lógico (o Legislador deve usar formas que

melhor permitam a apuração da verdade)

– Jurídico (deve-se propiciar às partes iguais

oportunidades)

– Político (o processo deve resultar no menor

sacrifício possível da liberdade individual)

– Econômico (o processo deve ser “barato”).

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Outros princípios do processo (“sistemáticos”)

2. Iniciativa da parte (“demanda”) –

relacionada com a inércia da jurisdição

3. Impulso oficial – art. 2º do CPC

4. Princípio dispositivo – 141 e 492 do CPC. Com exceções: por exemplo, fungibilidade dos

benefícios por incapacidade

5. Lealdade processual (boa-fé)

6. Preclusão (alterado significativamente

pelo CPC 2015).

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Alguns princípios do procedimento

1. Imediação (contato direto do Juiz com as

partes e provas)

2. Identidade física do Juiz – art. 132 do

CPC/73 (conclusão da audiência) –

suprimido pelo CPC 2015

3.Concentração dos atos processuais

4. (Relativa) irrecorribilidade das decisões

interlocutórias (art. 1.015 do CPC).

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Outros temas de Teoria Geral do Processo

Teoria geral das provas, dos recursos, da

coisa julgada e da execução (examinados

nas próximas aulas).