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Tereza bicuda patrimõnio imaterial-parceiros

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Page 1: Tereza bicuda   patrimõnio imaterial-parceiros

Organização e revisão ortográfica:

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Profº João Luiz das Graças Soares Escritor e Presidente do Conselho Municipal de Cultura

Revisão das pesquisas históricas:

Fabiano Luiz de Castro Pesquisador e Presidente do Conselho Municipal de Cultura

Digitação:

Camila Rodrigues Soares

Kamyla Martins Araújo

Heloísa Barros S. Lobo

Magna de Paula Coelho

Programação Visual:

Rafael Francisco Neves Stédile

Impressão e acabamento:

(Kelps/Editora Contato)

Produção da capa:

José Fernando Soares Pereira

Acervo Fotográfico:

Acervos particulares famílias tradicionais

Mary Youk e outros ..................................... (da gráfica)

Dados de catalogação na fonte

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Tereza Bicuda

No meio religioso e de extrema moralidade da antiga Vila de Jaraguá, Tereza Bicuda, que morava ali, no Larguinho Santana, com a mãe, era uma aberração social.

Era uma mulher de corpo bem feito – aparentemente bonita – que se oferecia a vida como ninguém, cuja protuberância esquisita de seus lábios mal feitos e o sobrenome “Bicudo”, valeu-lhe o apelido de Tereza Bicuda. Bêbada, diariamente obrigava sua mãe a pedir as coisas na rua e daí surgia às brigas, pois a velha era uma mulher muito virtuosa – em quem Tereza batia toda vez que surgia um novo conflito. E certo dia ela bateu demais, andou a Rua das Flores todinha montada na mãe, pôs freio de cavalo, esporas e ia para cima, depois para baixo, sobre as costas da mãe que gemia de dores.

Assim aconteceu muitas vezes, porém, nesta última, Tereza foi praguejada pela mãe.

Descrente, nunca visitava a igreja. Quando era forçada a passar diante de alguma, virava o rosto e

resmungava baixinho. Trabalhava aos domingos, para que o povo visse que não respeitava as tradições eclesiásticas.

“Era a ofensa à consciência das velhas beatas, que diariamente freqüentavam as igrejas e capelas de Jaraguá. O terror da meninada vadia. Os homens, não a temendo, a adoravam.”

Passado muito tempo, Tereza Bicuda ficou louca, andava gritando pela rua.

Um dia, Tereza Bicuda morreu. “Nem uma lágrima surgiu de algum olho cristão. Não merecia lágrimas, nem piedade quem não soubera viver e não chamara o padre no seu último momento”. Ninguém foi ao seu velório e como prostituta que era só apareceram para carregar o seu caixão três homens – dizem que uma mulher muito sensata da Vila obrigou seu marido a ajudar no transporte do corpo, dizendo que quando era pra mexer com ela na rua ele estava sempre pronto – uma vez que são necessários quatro homens para se carregar um caixão.

“Era costume colonial enterrar os defuntos no corpo das igrejas. Não havia ainda cemitérios em Jaraguá. A capelinha do Rosário, situada ao sopé de suave colina, sempre fora a depositária dos corpos pobres, que não podiam ter o luxo de serem enterrados dentro da matriz. Na capelinha do Rosário foi então enterrada Tereza Bicuda, sem cerimônia preliminar”.

“Por três noites consecutivas, ao soar da meia-noite, quando dava uma ventania medonha, a população ouvia medrosa os gritos que soltava

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Tereza Bicuda pedindo que retirassem o seu corpo de dentro da capelinha. Ali não era o seu lugar na morte, como não fora em vida. Ao final do terceiro dia, à meia-noite em ponto, Tereza Bicuda saiu do seu túmulo e percorreu as ruas quietas da vila, gritando desesperadamente”.

“O terror gelava os que a ouviam. Daquela noite em diante, as pessoas que andavam na noite, viam sempre surgir lá no fim da rua um imenso vulto branco a correr, deixando cair das suas vestes sujas, línguas de fogo, que enchiam o ar do cheiro desagradável de enxofre. Por onde passava, iam ficando os vestígios de seus pecados”.

“A grama queimada, secava. Os animais traziam pêlos sapecados”. ”O povo quis pôr um término ao martírio que vinham sofrendo. E os

homens mais corajosos da Vila exumaram Tereza Bicuda e levaram seu corpo, já em vermes, para a serra de Jaraguá”.

Ali, num lugar pedregoso a enterraram ao pé de uma cruz chamada “Cruz das Almas”, onde um forte cheiro de enxofre enchia o ar. Nesse local nunca mais surgiu uma planta, e os marimbondos tomaram conta da cruz, espantando a todos que dela se aproximassem e também nunca mais Tereza Bicuda aterrorizou com seus gritos a pacata população jaraguense.

Referência: