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1 Curso de extensão Termodinâmica Carlos Alberto Fonzar Pintão Momotaro Imaizumi Carlos Alberto Soufen Americo Sheitiro Tabata Geraldo Luiz Palma Renato Carlos Tonin Ghiotto 1. Introdução De todos os empreendimentos tecnológicos do homem o mais importante é a capacidade de controlar grandes quantidades de energia. Uma das finalidades desta apostila é tentar explicar um método de análise, baseado na ciência da termodinâmica, para processos que envolvem produção, controle e o uso de energia. Assim a termodinâmica é uma ciência que abrange uma gama muito extensa de fenômenos naturais e que compreende o estudo da energia e das suas transformações, com isso possibilitando ao homem a capacidade de controlá-la. Desta forma podemos definir a termodinâmica como a ciência das transformações de energia relacionadas com as propriedades físicas das substâncias. Assim estudaremos principalmente as transformações como: a) Do calor em trabalho, tal como ocorre nas máquinas térmicas; b) De trabalho em calor, tal como ocorre nos refrigeradores, com objetivo de transferir-se calor de um meio de baixa temperatura, para outro, de temperatura maior do que o primeiro; c) De energia de fluidos em trabalho, tal como nas turbinas. A termodinâmica está estruturada em dois postulados básicos, também denominados de Primeiro e Segundo Princípios ou Primeira e Segunda Leis, que não tem demonstração matemática e são verificados experimentalmente, tornando-os desta forma verdadeiros. Todas as tentativas que se fizeram no sentido de anulá-los foram em vão. 2. As Leis da Termodinâmica 2.1. Sistemas, Meio e Fronteira As definições a seguir farão parte de nosso vocabulário no transcorrer de nosso estudo, logo serão expostos de forma bem resumida.

Termodinamica -

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Termodinamica

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Curso de extensão

Termodinâmica

Carlos Alberto Fonzar Pintão

Momotaro Imaizumi

Carlos Alberto Soufen

Americo Sheitiro Tabata

Geraldo Luiz Palma

Renato Carlos Tonin Ghiotto

1. Introdução

De todos os empreendimentos tecnológicos do homem o mais importante é a

capacidade de controlar grandes quantidades de energia. Uma das finalidades desta

apostila é tentar explicar um método de análise, baseado na ciência da termodinâmica,

para processos que envolvem produção, controle e o uso de energia. Assim a

termodinâmica é uma ciência que abrange uma gama muito extensa de fenômenos

naturais e que compreende o estudo da energia e das suas transformações, com isso

possibilitando ao homem a capacidade de controlá-la. Desta forma podemos definir a

termodinâmica como a ciência das transformações de energia relacionadas com as

propriedades físicas das substâncias.

Assim estudaremos principalmente as transformações como:

a) Do calor em trabalho, tal como ocorre nas máquinas térmicas;

b) De trabalho em calor, tal como ocorre nos refrigeradores, com objetivo de

transferir-se calor de um meio de baixa temperatura, para outro, de temperatura

maior do que o primeiro;

c) De energia de fluidos em trabalho, tal como nas turbinas.

A termodinâmica está estruturada em dois postulados básicos, também denominados

de Primeiro e Segundo Princípios ou Primeira e Segunda Leis, que não tem

demonstração matemática e são verificados experimentalmente, tornando-os desta

forma verdadeiros. Todas as tentativas que se fizeram no sentido de anulá-los foram em

vão.

2. As Leis da Termodinâmica

2.1. Sistemas, Meio e Fronteira

As definições a seguir farão parte de nosso vocabulário no transcorrer de nosso

estudo, logo serão expostos de forma bem resumida.

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Sistemas Termodinâmicos: Compreende certa quantidade de matéria ou

especificada região, não necessariamente de volume constante, onde concentramos

nossa atenção para as transferências de energia e/ou de massa.

Fronteira: O invólucro ou superfície real ou imaginária que envolve o sistema é a

fronteira do sistema.

Meio: Região que está situada fora do sistema. Portanto, a fronteira é o limite que

separa o sistema do meio.

Sistema Fechado: Uma região de massa constante em que só é permitida a

passagem de energia através de sua fronteira. Pode haver movimento da fronteira em

relação ao observador. Um sistema fechado é isolado se não é permitida a troca de

energia com o meio. Nesta situação ele é forçado a manter fixos dentro de sua fronteira

massa e energia.

Sistema Aberto: Uma região que troca massa com o exterior (meio) além de poder

trocar energia. Às vezes é denominado de volume de controle. Neste caso a fronteira é

denominada de “superfície de controle”.

Exemplos de Sistemas:

Figura 1- Sistema fechado

O sistema da Fig.1 permite a troca de

energia com o meio, mas não permite a

troca de massa, ou seja, sua massa é

constante. Trata-se de um sistema

fechado. Se cobri-lo com um isolante

térmico, não deixando que ele troque

energia com o meio dizemos que ele é

um sistema fechado e isolado. Mudando

a posição do embolo altero sua

fronteira.

O compressor de ar da Fig. 2 é um

exemplo de sistema aberto, pois o fluido

que se escoa no seu interior penetra no

sistema pela seção de admissão, e dele

sai pela seção de descarga, seções que

fazem parte de sua fronteira. Logo é um

sistema que troca massa com o meio. Se

o mesmo não for isolado termicamente,

então pode trocar calor com o meio.

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Figura 2- Sistema aberto

2.2 Estados, Propriedades, Equilíbrio, Equação Característica

ESTADO: Estado de um sistema é a condição ou posição que se encontra o sistema e

é identificado por meio de suas propriedades.

PROPRIEDADES: Todo sistema têm certas características observáveis pelas quais

sua condição física pode ser descrita, elas são denominadas de propriedades. A massa,

volume, temperatura, pressão, densidade e etc. são exemplos de propriedades. Existem

as propriedades extensivas e as intensivas. A extensiva é a soma da propriedade

(grandeza física) em cada uma das partes que compõem o sistema. Como exemplo: o

volume total é a soma de cada volume das partes que compõem o sistema, assim como a

energia. Para a intensiva não vale o mesmo raciocínio. Como exemplo: A temperatura,

pressão e densidade. A relação entre uma propriedade extensiva qualquer de um sistema

e a massa total do sistema tem o nome de valor específico da propriedade.

EQUILÍBRIO TERMODINÂMICO: Um sistema como o da Fig. 1 está em

equilíbrio Termodinâmico se houver três tipos de equilíbrio. Equilíbrio térmico:

Temperatura do sistema permanece constante por longo tempo. Equilíbrio Mecânico: A

pressão interna se iguala a externa por um longo período de tempo. Equilíbrio Químico:

Não ocorrem reações químicas no sistema.

A ciência da Termodinâmica Clássica trata principalmente de sistemas em equilíbrio

termodinâmico, ou sistemas em que o desvio em relação ao equilíbrio é desprezível.

Dois estados de um sistema são chamados idênticos se cada uma das propriedades do

sistema for de mesmo valor em ambos estados.

Quando o estado de um sistema se altera, a mudança de estado ou transformação é

definida pelos estados extremos. O caminho de uma mudança de estado é a série de

estados pelo qual o sistema passa. O processo é o modo pelo qual se define a mudança

de estado e é definido segundo o caminho que se percorre para chegar ao estado final.

Uma descrição adequada do processo deve incluir pelo menos o calor e /ou o trabalho

que está envolvido quando ocorre a transformação de estado.

Diz-se que o sistema realizou um ciclo, quando os extremos do processo são idênticos.

Exemplo: Gás Freon numa geladeira doméstica sofre um ciclo.

Se voltarmos ao exemplo da Fig. 1, no momento em que o peso for removido, o

equilíbrio mecânico não mais existe e como resultado o pistão sobe até que se

estabeleça, novamente, o equilíbrio mecânico. Assim, como as propriedades definem o

estado de um sistema, somente quando existe equilíbrio termodinâmico, como descrever

os estados de um sistema durante um processo, se o processo real só ocorre quando não

há equilíbrio? Contorna-se esta questão definindo um processo ideal, o processo

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quasestático. Assim, o processo quasestático é aquele no qual o desvio do equilíbrio

termodinâmico é infinitesimal e todos os estados percorridos pelo sistema durante o

processo quasestático podem ser considerados como estados de equilíbrio. Muitos

processos reais se aproximam bastante dos quasestáticos de modo que podem dessa

maneira ser tratados sem incorrer em erros grosseiros. Na fig. 1, se os pequenos pesos

forem retirados (imaginando pesos infinitesimais) um por vez, o processo será

quasestático. No entanto, se todos os pesos forem retirados simultaneamente, o êmbolo

subirá, rapidamente. Este seria um processo sem equilíbrio termodinâmico, e o sistema

não estaria em equilíbrio em nenhum instante durante a sua realização. Nos processos

afastados do equilíbrio (ou reais, só se pode descrever ou definir o estado do sistema

antes do processo e depois dele ser completado e logo que o equilíbrio é restaurado.

Muitos processos ou transformações são descritos pelo fato de uma propriedade

permanecer constante.

Exemplos:

Processo Isobárico: pressão do sistema se mantém constante; Processo Isométrico ou

Isocórico: O volume do sistema é constante; Processo Isotérmico: temperatura do

sistema se mantém constante; Processo Isentálpico: entalpia do sistema se mantém

constante; Processo Isentrópico: entropia do sistema se mantém constante.

Equação Característica ou de Estado: A relação existente entre as

propriedades pressão, volume, temperatura absoluta e massa de um sistema pode ser

expressa de uma forma geral por uma equação do tipo: F(p,V,T,m)=0 ou

F(p,v=V/m,T)=0. Esta equação é denominada de equação característica ou de estado.

É evidente que, quando a forma exata da equação é conhecida, pode-se calcular o valor

numérico de uma das propriedades, desde que sejam atribuídos valores numéricos às

outras três. A forma pela qual essa equação é escrita depende da natureza da substância

de que é constituído o sistema, como da fase em que se encontra.

Desta forma, sendo o sistema constituído por um gás perfeito, a equação de estado é

escrita na forma simples por PV=mRT.

Para sistemas constituídos de fluidos chamados gases permanentes e suas misturas

(oxigênio, nitrogênio, ar seco) ou ainda de vapores sob pressões muito baixas, e que

estejam suficientemente afastados de seus pontos de liquefação, utilizaremos a equação

de estado dos gases perfeitos. O erro cometido é cerca de 1% no caso de se considerar o

ar como uma substância do sistema para pressão de 20kgf/cm2 e em temperaturas

normais da atmosfera.

Para os sistemas constituídos de substâncias de grande emprego industrial, tais como

água, amoníaco, freon-12, utilizam-se valores numéricos para as propriedades dessa

substância encontradas em tabelas, uma vez que o cálculo por meio das equações de

estado nesses casos demandaria muito trabalho pelo fato de serem muito complexas.

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2.3 Propriedades Termodinâmicas das substâncias puras

Substância Pura: Trata-se de uma substância que apresenta composição homogênea

e invariável e pode apresentar uma ou várias fases. Exemplos: Oxigênio, água líquida,

mistura de água líquida e água vapor, mistura de água sólida (gelo) e água líquida,

refrigerante R-12 (Freon-12), ar seco (gasoso), refrigerante R-22 (Freon-22), CO2, etc.

Observações: Ar seco (líquido), em contato com o seu vapor, ele não é considerado

como uma substância pura, pois os pontos de ebulição (ou de condensação) do O2 e N2

na fase líquida e de vapor são diferentes. Uma substância pura pode existir em qualquer

fase (sólida, líquida, ou vapor) ou ainda em uma mistura de fases, sendo muito comum

existir em duas fases e mais raro em três fases em equilíbrio.

Equilíbrio Líquido-Vapor: Considere a substância pura a água e imagine que

inicialmente ela esteja a 250C e pressão de 1 atm. Ela está encerrada num cilindro

munido de um pistão como mostra a Fig. 2.1. Se aquecermos o sistema por qualquer

processo, observamos que a temperatura da água aumenta e que a mesma dilata,

aumentando pouco o volume e, como conseqüência o volume específico. A pressão se

mantém constante durante o processo. As seqüências de figuras mostram a mudança da

fase líquido para vapor, da água. A Figura 2.5 mostra que nesta situação é atingida a

temperatura de ebulição da água, na pressão da experiência, isto é 1 atm, e notamos o

aparecimento da primeira bolha de vapor. A partir deste instante inicia a vaporização. O

calor transferido não altera a temperatura e a quantidade de vapor aumenta com a

diminuição do líquido. Na Fig. 2.9, se continuarmos o aquecimento, teremos a

existência só de vapor. Nessa nova situação, se continuarmos aquecendo o vapor,

ocorrerá grandes variações no volume específico do vapor. A Fig. 2.9, se pensarmos o

processo inverso, quando aparece a primeira gota de água, dizemos que iniciou-se o

processo de condensação.

Figura 2.1 e 2.2- condições iniciais.

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Figura 2.3 a 2.11 - Mudança de fase da água: líquido - vapor.

Figura 2.12- Diagrama t-V

Curva de Pressão de Vapor: A seqüência anterior Figura 2.1 a 2.11 pode

acontecer para outras pressões e o ponto de bolha (início da vaporização) ocorrerá em

temperaturas relacionadas a cada pressão escolhida. Notamos que para uma substância

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pura existe uma relação biunívoca entre a pressão e a temperatura de mudança de fase.

Ver Tabela 1 e Figura 2.13.

Tabela: P x T

Figura 2.13: Alguns valores de pressão e

temperatura extraídos de uma tabela de

vapor de água. * ata=kgf/cm2.

Temperatura de Saturação: Trata-se da temperatura na qual se realiza a

vaporização de um líquido a uma dada pressão, chamada pressão de saturação. São

comuns os termos temperatura de vaporização ou de ebulição.

Pressão de Saturação: Trata-se da pressão na qual ocorre a vaporização de um

líquido ou a condensação do vapor a uma determinada temperatura.

Líquido Saturado: Quando a substância pura está na fase líquida e se encontra na

temperatura e pressão de saturação, também é denominado de líquido saturado.

Líquido frio ou Comprimido: Se a temperatura do líquido é menor do que a

temperatura de saturação, na pressão de saturação, ele é dito líquido frio ou

subresfriado, ou comprimido.

Vapor Saturado: Quando o sistema se encontra na fase vapor, na pressão e

temperatura de saturação. É comum a denominação de vapor saturado seco.

Vapor Úmido ou Mistura líquido vapor: Trata-se de um sistema constituído

de líquido e vapor em equilíbrio termodinâmico na pressão e temperatura de saturação.

Titulo de um vapor: è definiodo como sendo o quociente entre a massa de vapor e

a massa total da mistura. X=massa de vapor/massa total=mV/mT.

X=0,8 significa que 80% é vapor e 20% líquido; X=1,0 significa vapor saturado e X=0

significa líquido saturado.

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Vapor Superaquecido: Quando a temperatura do vapor é superior a temperatura de

saturação na pressão de saturação. A diferença entre a sua temperatura e a temperatura

de saturação, numa dada pressão é conhecida como grau de superaquecimento do vapor.

Figura 2.14- Esquema simples do superaquecimento de vapor. Pressão 2,0ata com uma

temperatura de saturação de 119,60C. Vapor a 2,0ata e superaquecido a 140

0C. Grau de

superaquecimento é 140-119,6=20,40C.

Figura 2.15- Representação em diagrama t-v da mudança de fase da água, líquido -

vapor. L*= líquido saturado; V*=vapor saturado; L=líquido; V=vapor; L+V=mistura de

líquido e vapor. C= ponto crítico; L*= Início da vaporização e fim da condensação;

V*=Fim da vaporização e início da condensação.

Ponto Crítico: Quando não há mais patamar de mudança de fase líquido-vapor esse

ponto é chamado crítico.

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Equilíbrio sólido líquido e vapor: Consideremos uma quantidade qualquer de

gelo à pressão de 1 atm e temperatura de -100C. Fornecendo calor ao sistema e

mantendo constante a pressão, a temperatura do sistema aumentará e consequentemente

o volume. Isto ocorre até 00C, quando tem início a fusão do gelo, passando a líquido.

Nesta condição o gelo é chamado de sólido saturado. Prosseguindo o aquecimento, todo

o sólido passa a líquido a 00C e 1 atm. Transferindo mais calor ao líquido remanescente,

este será aquecido até 1000C, onde tem início a vaporização( já estudada anteriormente).

Repetindo a experiência anterior à uma pressão menor de 0,0063 atm, observamos

passagem direta do sólido para a fase de vapor. Esta mudança é conhecida como

sublimação. Porém, se a experiência for realizada à pressão constante e igual a 0,0063

atm, atingida a temperatura de 0,010C, parte do sólido funde e parte vaporiza, ficando

em equilíbrio as três fases, isto é: sólido, líquido e vapor. Este ponto é chamado de

ponto triplo.

Figura 2.17- Diagrama PXt para a água. PC=ponto crítico; PT=ponto triplo; 1-2:

Mudança S-L(fusão); 3-4: Mudança L-V(vaporização); 5-6: Mudança S-L-V (Fusão

+Vaporização); 7-8: Mudança S-L (Sublimação).

Observações: O estudo feito para água vale para qualquer substância pura. Para sólidos

que apresentam transição de estrutura, apenas um ponto é o ponto triplo a rigor, como

exemplo o Feα, Feβ e Fe.

Tabelas e Gráficos usados na Termodinâmica:

Para a maioria das substâncias torna-se complicado o uso das equações de estado,

principalmente nas aplicações técnicas. O uso das relações entre P, V, T e outras

propriedades termodinâmicas, foram tabeladas para um número razoável de substâncias.

Essas tabelas apresentam valores de várias propriedades de estado como: v, h, s, etc;

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quando são conhecidas duas outras propriedades independentes. Para determinar o

estado termodinâmico de um sistema, devemos conhecer:

a) Na região de uma fase (sólido, líquido ou vapor) duas propriedades ou variáveis

que definem o estado termodinâmico. Exemplo: Volume e temperatura, pressão

e temperatura, entalpia e pressão, etc.

b) Na região de duas fases. Pressão e temperatura são dependentes. Portanto é

necessário conhecer uma delas e o título ou outra propriedade extensiva.

Gráficos ou cartas são muito usadas na solução de problemas de termodinâmica, pois,

tornam possível a visualização perfeita do processo e, às vezes, evitam soluções por

tentativa e interpolação. Entre inúmeros gráficos que relacionam as propriedades

termodinâmicas, destacam-se:

Pxh : Pressão em função da entalpia; Txs: temperatura em função da entropia; hxs:

Entalpia x entropia, chamado de diagrama de Mollier. As unidades desses gráficos são

normalmente expressas em unidades métricas ou inglesas. O diagrama Pxh tem grande

aplicação no estudode instalações frigoríficvas pela facilidade de visualizar o ciclo

frigorífico. Para ciclos que trabalham com vapor de água são muito usados os diagramas

de MOLLIER. A seguir apresentamos alguns esboços dos gráficos citados.

Figura 2.19- Pressão versus Entalpia(Pxh)

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Figura 2.20 – Temperatura versus Entropia (Txs)

Figura 2.21 – Entalpia versus Entropia (MOLLIER) (hxs).

2.4 Calor e Trabalho

CALOR: Trata-se de um dos tipos de energia em transito. A transferência de calor

ocorre através da fronteira do sistema, em virtude de uma diferença de temperatura ou

da existência do gradiente térmico entre o sistema e o meio.

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Exemplo: Vamos supor um bloco quente de cobre que é jogado num recipiente que

contém uma quantidade de água ma à temperatura ambiente e supor que o recipiente

esteja isolado termicamente. Portanto, o calor que é uma energia em transito causada

pela diferença de temperatura, tc-ta é transferido para aquecer a água, até que haja o

equilíbrio de temperaturas, isto é: tc=ta=te. O calor cedido pelo cobre é recebido pela

água.

Figura 3.1- A energia na forma de calor do cobre é transferida para a água.

O calor específico c de um substância é

As unidades de calor são:

kcal e BTU (British termal unit)

Kcal: Quantidade de calor trocada e que varia de 1ºC (15,5º a 16,5ºC) a temperatura de

uma unidade de massa (1kg) de água. 1BTU=0,252kcal.

Logo a unidade do calor específico é cal/kgºC ou J/kgºC.

Q é a energia transferida para a massa m de uma substância, fazendo com que a sua

temperatura varie de ΔT, expressa, no caso em que não há mudança de fase da

substância por:

Em algumas situações a transferência de energia para uma substância resulta em

mudança de fase, e durante a mudança de fase a temperatura permanece constante. As

mudanças de fase comuns são de sólido para líquido (fusão), líquido para gás

(evaporação).

A transferência de energia necessária para a mudança de fase de uma dada substância de

massa m de uma substância pura é

L - calor latente da substância que depende da natureza da mudança de fase e da

substância.

Tm

Qc

TmcQ

mLQ

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O calor latente de fusão é a energia necessária para romper todas as ligações

intermoleculares num quilograma de uma substância de maneira a converter a fase

sólida em fase líquida.

fusão ou congelamento →Calor de fusão: Lf.

O calor latente de vaporização é a energia que deve ser adicionada a um quilograma da

fase líquida de uma substância para romper todas as ligações de maneira a formar um

gás.

evaporação ou condensação →Calor de evaporação: Lv.

A Tabela mostra os calores latentes de diferentes substâncias.

O calor latente de evaporação para uma dada substância é geralmente muito maior do

que o calor latente de fusão.

Convenção de sinais:

Figura 3.2- Calor recebido pelo sistema é positivo e calor cedido pelo sistema é

negativo.

Mecanismos de Transferência de Calor em Processos

Termodinâmicos:

Condução

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Em escala atómica há uma troca de energia cinética entre moléculas, na qual as

moléculas menos energéticas ganham energia colidindo com moléculas mais

energéticas. Antes de se inserir a barra na chama, os átomos estão vibrando em torno de

suas posições de equilíbrio. À medida que a chama fornece energia à barra, os átomos

próximos à chama começam a vibrar com amplitudes cada vez maiores. Colidem com

seus vizinhos e transferem um pouco de sua energia nas colisões. O aumento da

vibração das moléculas representa uma elevação de temperatura do metal. A taxa de

condução depende das propriedades da substância.

Considere um bloco cujo material tem espessura Δx e uma secção de área A, cujas faces

opostas têm temperaturas T1 e T2, onde T2> T1

Taxa de transferência de energia pelo

calor

H é a potência

(Watts)

Para um bloco de espessura infinitesimal dx e diferença de temperatura dT, podemos

escrever a lei da condução como:

, k é chamada de condutividade térmica do material e

é o gradiente de temperatura (variação da temperatura com a posição).

Suponha que uma substância esteja na forma de uma barra longa e uniforme e de

comprimento L.

x

TA

t

QH

T2

T1

tQH /

dx

dTkAH dxdT /

Page 15: Termodinamica -

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Está isolada de modo que a energia não

possa escapar pelo calor a partir da sua

superfície exceto nas extremidades, que

estão em contacto térmico com

reservatórios que têm temperaturas T1 e T2

No estado estacionário a temperatura em cada ponto ao longo da barra é constante no

tempo.

A taxa de transferência de energia pelo calor será:

, k é a condutividade térmica .

A Tabela mostra a condutividade térmica de diferentes substâncias

Convecção

L

TT

dx

dT 12

L

TTkAH 12

Page 16: Termodinamica -

16

A energia é transferida pelo movimento de um fluido.

À medida que a água é aquecida numa panela, as

camadas inferiores são aquecidas primeiras.

Essas regiões se expandem e sobem porque tem uma

densidade menor que a da água fria. Ao mesmo tempo,

a água mais fria e mais densa vai para o fundo da

panela e aí pode ser aquecida.

O mesmo processo ocorre

numa sala aquecida por um

aquecedor.

Radiação

A energia é transferida pela radiação electromagnética. A origem da radiação

electromagnética é a aceleração de cargas eléctricas. Qualquer corpo emite radiação

electromagnética devido ao movimento térmico de suas moléculas.

A potência irradiada pelo corpo em Watts :

Constante de Stefan-Boltzmann: W/m2

K4

4AeTH

8106696.5

Page 17: Termodinamica -

17

A é a área da superfície

do corpo em metros

quadrados.

e é uma constante

chamada emissividade.

T é a temperatura da

superfície do corpo em

kelvins

TRABALHO: Usualmente é definido como o produto de uma força F aplicada no

corpo, ver Fig. 3.3, multiplicada pelo deslocamento que o corpo terá na mesma direção

da força.

Figura 3.3- Trabalho de uma força.

Do ponto de vista da termodinâmica dizemos que: “o trabalho é realizado pelo sistema

sobre o meio que o cerca se o único efeito sobre ele é produzir o levantamento de um

peso”.

Exemplo: O sistema abaixo realiza trabalho sobre o meio, pois se substituirmos a hélice

(ventilador) por uma polia e um peso, haverá o levantamento dele.

Page 18: Termodinamica -

18

Figura 3.5 e 3.6- Identificando se o sistema realiza trabalho sobre o meio.

O trabalho é uma energia em transito através da fronteira do sistema e, assim como o

calor, existe uma convenção a ser seguida. Trabalho realizado pelo sistema no meio é

positivo e trabalho recebido do meio pelo sistema é negativo.

Convenção:

Unidades de trabalho:

Sistema C.G.S. : Erg= 1 dina x 1cm; Sistema Internacional S.I: Joule=1 N x 1 m;

Sistema técnico MKS: kgfm= 1kgf x 1m ; Sistema Inglês: 1lb*ft= 1 lbf x1ft; 1eV=

trabalho para mover um elétron em uma diferença de potencial de 1volt= 1 elétron X 1

volt.

POTÊNCIA (P)

Representa o quociente entre o trabalho e o tempo gasto na sua realização. Pode ainda

ser expresso como o produto da força pela velocidade do corpo ou sistema.

P=W/t ou P= F v.

Unidades mais freqüentes: 1 HP=33000 lb*ft/min.; 1CV=75kg*m/s.

Alguns exemplos de realização de trabalho:

Ex 1- Expansão de um gás qualquer contido num balão. A expansão pode ser convertida

integralmente no levantamento do peso, trata-se de trabalho realizado pelo sistema. Ver

Fig. 3.7.

Page 19: Termodinamica -

19

Fig. 3.7- Exemplo de trabalho realizado pelo sistema.

Ex 2- Um gás se expande no interior de um cilindro levantando o pistão e o peso. Ver

Fig. 3.8.

Fig. 3.8- Exemplo de trabalho realizado pelo sistema.

Ex 3- Um sistema envolvendo a bateria, o motor elétrico e o ventilador. Neste caso, não

há trabalho realizado pelo sistema, pois não existe transferência de energia do sistema

para o meio em levantar um peso. Ver Fig. 3.9.

Fig. 3.9- Exemplo de trabalho realizado pelo sistema.

EX 4- Transferência de calor a um sistema compreendido por um gás encerrado em um

cilindro. O pistão se encontra ligado a um cabo flexível e na sua extremidade encontra-

se um peso como mostra a Fig. 3.10. Quando o gás se expande o peso desce e

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20

finalmente ele pode ter a função de levantar um outro peso como mostra a figura ao lado

da Fig. 3.10.

Fig. 3.10- Exemplo de trabalho realizado pelo sistema.

Até aproximadamente 1850, os campos da termodinâmica e da mecânica eram

considerados dois ramos distintos da Ciência. Experimentos realizados em meados do

século XIX pelo físico inglês James Joule e outros cientistas, demonstraram que a

energia pode entrar num sistema (ou abandoná-lo), através do calor e do trabalho. Antes

dos cientistas reconhecerem que havia uma ligação entre a termodinâmica e a mecânica,

o calor era definido em termos das variações de temperatura que ele produzia num

corpo, e utilizava-se uma unidade separada de energia, a caloria, para o calor. O

trabalho e o calor são dois tipos de energia que se transformam mutualmente. Portanto,

podemos medir o trabalho em unidades de calor e vice versa.

1kcal=426,9kgfm e 1BTU=778,2lb*ft.

Equivalente mecânico de calor:

Dispositivo de Joule para determinar a relação da caloria e joule. O trabalho realizado

sobre a água pelos pesos em queda (em joules), rodam as pás produzindo um aumento

de temperatura, equivalente à absorção, pela água, de uma determinada quantidade de

calor (em calorias).

J4.186cal 1

Page 21: Termodinamica -

21

Trabalho e Calor em Processos Termodinâmicos:

As variáveis de estado ou propriedades de um sistema como: pressão, volume,

temperatura e energia interna só podem ser específicadas se o sistema estiver em

equilíbrio termodinâmico. As variáveis de transferência – trabalho e calor, só têm valor

diferente de zero se ocorrer um processo no qual a energia é transferida através da

fronteira do sistema.

Trabalho realizado por um sistema deformável – o gás

O gás ocupa um volume V e exerce

uma pressão P nas paredes do

cilindro e no pistão.

O gás é expandido quasi-

estaticamente, isto é, devagar o

suficiente para permitir que o sistema

se mantenha em equilíbrio

termodinâmico (térmico, mecânico e

químico) em todos os instantes.

Porque e

PAdyFdyjdyjFrdFdW

A

FP PdVdW

Page 22: Termodinamica -

22

Expansão do gás:

O trabalho realizado pelo gás é positivo

O trabalho total realizado pelo gás à

medida que o seu volume se altera de Vi

para Vf é dado por

O estado do gás a cada passo pode ser

traçado numa representação gráfica que é

muito importante na termodinâmica – um

diagrama PV.

Compressão do gás:

O trabalho realizado pelo gás é negativo

W é a área sob a curva.

O trabalho realizado pelo gás depende da trajectória seguida entre os estados inicial e

final, portanto ele não é uma função de ponto e o seu valor é uma função da trajetória.

Matematicamente, dizemos que não se trata de diferencial exata e sim parcial. O calor

também não é uma função de ponto, mas, sim, da trajetória (caminho do processo).

Logo os simbolos a serem usados são: pdVW e TdsQ .

Para determinar o trabalho W3 é preciso conhecer a função P(V)

fV

iV

PdVW

iff VVPW1 ifi VVPW2

fV

iV

PdVW3

Page 23: Termodinamica -

23

Cálculo do trabalho para alguns processos:

Supondo n moles de gás perfeito para os seguintes processos:

a) Isobárico (p=constante)

pdVW , então integrando de V1 até V2, teremos: VpdVpWV

V

2

1

.

Figura 3.18 – Trabalho para um processo isobárico.

b) Isotérmico (t=constante)

ou

.

Figura 3.19- Trabalho para um processo isotérmico

c) Isométrico (V=constante)

231 WWW

ifV

V

V

V

V

V

V

V

VVnRTVnRTdVV

nRTdVV

nRTPdVW f

i

f

i

f

i

f

i

lnlnln1

nRTPVV

nRTP

2

1lnlnP

PnRT

V

VnRTW

i

f

Page 24: Termodinamica -

24

02

1

VpdVpWV

V

, pois V=constante e ΔV=0.

Figura 3.20- Trabalho para um processo isométrico

2.5 1ª Lei da Termodinâmica ou Primeiro princípio da

Termodinâmica- Lei da Conservação da Energia.

As primeiras teorias sobre o “calor” tinham como hipótese que este era um fluido que

poderia ser armazenado nas substâncias e delas ser transferido para outras substâncias.

Assim alguns fenômenos eram explicados segundo esta hipótese, uma quantidade de

calor que fosse transferida para um sistema constituído de uma massa de água, a pressão

constante, elevaria a sua temperatura de “t1” para “t2”. Se a mesma quantidade de calor

fosse agora retirada do sistema este teria a sua temperatura restabelecida em “t1”. Este

fato conduziu à teoria de que o calor fornecido no sistema era armazenado sob

temperatura “t2”, e quando o sistema retornasse à temperatura “t1”, a mesma quantidade

de calor era devolvida. Entretanto, quando esta hipótese foi submetida a testes

experimentais, observou-se que todo o calor fornecido a um sistema durante uma

mudança de estado, não reaparece necessariamente, quando o sistema retorna ao seu

estado inicial. Da mesma forma acontece com o trabalho executado sobre um sistema

durante uma mudança de estado. Verificou-se, experimentalmente, que este trabalho

não necessita, necessariamente, reaparecer quando o sistema regressa ao seu estado

inicial; de fato, quase sempre acontece que nenhum trabalho efetuado numa mudança de

estado reaparece quando o sistema regressa ao seu estado inicial. Em todos os casos,

entretanto, verificou-se que quando um sistema é levado a realizar um ciclo, a

impossibilidade de recuperação de todo o calor fornecido é acompanhada pelo

aparecimento de trabalho proveniente do sistema em quantidade maior do que lhe fora

fornecido durante o ciclo; e isto também ocorre quanto à recuperação de todo o

trabalho, isto é, a impossibilidade de recuperação de todo o trabalho fornecido ao

sistema quando este realiza um ciclo, está acompanhada pelo aparecimento de calor

Page 25: Termodinamica -

25

proveniente do sistema em quantidade maior do que lhe fora fornecido durante o ciclo.

Isto indica que nem o calor, nem o trabalho se conservam como tais, mas algum meio

existe pelo qual um sistema realizando um ciclo pode receber uma dessas entidades e

fornecer a outra e vice versa. O calor e o trabalho são diferentes formas de uma única

entidade que é conservada. O nome energia é aplicado a esta entidade. Para facilitar

nosso trabalho, inicialmente, será estudado o primeiro princípio para sistemas fechados

e posteriormente para sistemas abertos.

Supondo um sistema fechado que troque com o meio apenas calor e trabalho, se ele

receber energia do meio sob forma de calor e após transformar-se, seu estado final for

idêntico ao seu estado inicial, este sistema realizou trabalho equivalente ao calor

recebido. Analogamente, se um sistema fechado ao realizar um ciclo, recebeu do meio

energia sob a forma de trabalho, com base no primeiro princípio, pode-se afirmar que o

sistema fornecerá ao meio uma quantidade de calor equivalente à quantidade de trabalho

por ele recebido. Concluímos que por causa dessa equivalência existente, o primeiro

princípio também é chamado de “Princípio da equivalência”.

Enunciado: “Um sistema fechado ao realizar um ciclo, a integral cíclica do

trabalho é igual à integral cíclica do calor”

Analiticamente, ele será expresso por: WQJ . J é um fator proporcionalidade,

que não teria razão de existir se as quantidades de trabalho e de calor fossem expressas

na mesma unidade, e é chamado equivalente mecânico da unidade de quantidade de

calor ou simplesmente equivalente mecânico do calor. O inverso de J, simbolicamente

“A”, chama-se equivalente calorífico da unidade de quantidade de trabalho, ou

simplesmente de equivalente térmico de trabalho, assim a equação anterior pode ser

escrita como: QWA .

Alguns valores de J e A:

J=427kgfm/kcal ou 778ft lbf/BTU; A=1/426,8 kcal/kgfm ou A=1/778,2 BTU/lbf ft.

Como resultado dessa discussão, o calor e o trabalho poderão ser expressos nas mesmas

unidades. Portanto podemos expressar que WQ ou 0WQ .

Como freqüentemente, somos obrigados a tratar de transformações ou processos em vez

de ciclos, vamos aplicar o primeiro princípio a um sistema fechado que realiza qualquer

processo. Suponha que um sistema realize um ciclo evoluindo entre os estados de

equilíbrio 1 e 2 da Fig. 3a, isto é consideremos primeiramente que ele evolua do estado

1 até o 2 pelo caminho “A” e retornando em seguida ao estado 1 pelo caminho “B”.

Page 26: Termodinamica -

26

Figura 3a- Processos termodinâmicos com caminhos distintos.

Vamos aplicar o primeiro princípio para esta situação:

1

2

2

1

1

2

2

1BABA WWQQ (1)

Vamos agora aplicar o primeiro princípio para o caminho 1A2C1:

1

2

2

1

1

2

2

1CACA WWQQ (2)

Subtraindo (1) de (2), temos:

1

2

1

2

1

2

1

2CBCB WWQQ (3)

1

2

1

2

1

2

1

2CCBB WQWQ (4)

CB WQWQ ][][1

2

1

2

(5)

Desde que os caminhos “B” e “C” representam processos arbitrários entre os estados

“1” e “2”, concluímos que a quantidade ][ WQ é a mesma para todos eles. Portanto

a quantidade ][ WQ depende somente do estado inicial e final (estados extremos)

do processo e não do caminho percorrido pelo sistema. Logo, estamos tratando com

uma função de ponto, e portanto com uma diferencial exata de uma propriedade do

sistema. A esta propriedade damos o símbolo “E”.

Assim temos: dEWQ . Se integrar esta equação do estado 1 até o 2 teremos:

2

1

2

1

2

1

WdEQ , que será expressa como: WEEWEQ 2112

21

21

21

Page 27: Termodinamica -

27

Q21 = Calor transferido para o sistema durante o processo efetuado entre os estados 1 e

2.

12 EE = Valores de energia “E” do sistema nos estados inicial e final do processo.

W21

= Trabalho realizado pelo sistema durante o processo.

Analisando a equação dEWQ podemos concluir que quando a propriedade “E”

do sistema, após ter sofrido uma série de transformações, seu valor no estado final, for

igual ao seu valor no estado inicial, a integração de sua diferencial será nula e, portanto

essa equação expressará o primeiro princípio da mesma forma inicial, isto é:

0WQ . Desta forma, sob o ponto de vista de uma generalização, a equação

dEWQ , exprime melhor o Primeiro princípio da Termodinâmica.

Significado Físico de “E”:

“E” é uma propriedade do sistema e representa toda energia do sistema num dado

estado. Esta energia poderia estar presente sob uma variedade de formas: energia

cinética e potencial do sistema como um todo, energia química como no caso de uma

bateria, energia associada ao movimento e posição das moléculas, energia armazenada

em um condensador e outras.

Entretanto, como as energias cinéticas e de posição poderão ser avaliadas por meio de

parâmetros macroscópicos, torna-se conveniente à Termodinâmica separar estas formas

de energia e as demais serão consideradas como única energia, que será chamada de

energia interna “U”. Assim tem-se que : E=U+EC+EP, todas grandezas são propriedades

termodinâmicas e o primeiro princípio pode ser escrito sob a forma:

WdEdEdUQ PC .

Quando se supõe um sistema isento de influência de movimentos, gravidade,

capilaridade, eletricidade e magnetismo, a energia “E” reduz-se à energia interna “U” e

a equação do primeiro princípio toma a forma:

WdUQ

Se o sistema realizar um “ciclo”, o estado inicial coincidirá com o estado final para os

valores das propriedades do sistema, então “U2” será igual a “U1” e teremos a equação

geral do primeiro princípio WQ .

Energia cinética (EC): C

Cg

mvE

2

2

1 ou dvv

g

mdE

CC .

Page 28: Termodinamica -

28

Energia potencial gravitacional (EP): zg

mgE

CP ou dz

g

mgdE

CP .

Energia interna (U): Porção de energia que é armazenada na estrutura molecular e

atômica do sistema. Para um sistema especifico, ela poderá ser calculada pelo trabalho e

calor transferidos ao sistema em um processo, sem entrar em detalhes microscópicos.

Como U é uma propriedade extensiva define-se a energia interna específica da

substância usando o símbolo u. A energia interna pode ser tabelada da mesma forma

que as outras propriedades. Assim temos: uf=energia interna específica do líquido

saturado e ug=energia interna específica do vapor saturado seco.

Quando estivermos lidando com um vapor úmido de titulo x, teremos:

A energia interna específica relacionada ao vapor de titulo x como ux=(1-x) uf+xug.

Calor específico a volume constante (cv):

Já havíamos definido anteriormente neste texto, porém agora o faremos de uma forma

mais geral, pois vvT

uc )( . Desta expressão resulta para qualquer transformação a

volume constante que: 2

1

)(T

Tvv dTCu ou vvv dqdTcdu )()( .

Entalpia e calor específico a pressão constante:

Usando o 1º princípio temos: WdUQ ou pdVdUQ . Como o processo é a

pressão constante podemos escrever que: )(pvdpdv , logo o 1º princípio será

expresso por: )()( pvdduq p ou )()( pvudq p . Desta forma se define uma

nova propriedade que será chamada Entalpia, quando for por unidade de massa o

símbolo será h, isto é entalpia específica. Vale as mesmas considerações feitas para a

energia interna. A entalpia específica relacionada ao vapor de titulo x como hx=(1-x)

hf+xhg, onde hf = entalpia específica do líquido saturado e hg=entalpia específica do

vapor seco. Unidades freqüentes para u: kcal/kg; BTU/lb e para PV: kgfm/kg ou lbf

ft/lb. Como h=u+pv, se diferenciarmos resulta em: dh=du+pdv+vdp. Sabemos que

pdvduq . Então o 1º princípio para sistema fechado e processo quasestático pode

ser expresso como: vdpqh ou vdphq .

O calor específico a pressão constante de uma substância é definido como:

ppT

hc )( . Conclui-se que para um processo isobárico que

2

1

)(T

Tpp dTCh .

Page 29: Termodinamica -

29

Observe que definimos os calores específicos em termos de propriedades do sistema e

não de quantidade de calor, a razão deste procedimento é que fica claro que os calores

específicos são propriedades também.

Analise do Primeiro princípio aplicado ao sistema aberto:

Há muitos processos reais que dependem do tempo. Se as propriedades mudam a uma

pequena taxa em relação ao tempo, a hipótese de processo quase-estático é válida.

Então, teremos dt

dEWQ , Q =taxa de transferência de calor; W =potência e

dt

dE=variação da energia total.

Entendimento da equação dt

dEWQ .

Um sistema aberto, a variação de energia armazenada nele pode ser tanto pelas trocas de

calor e trabalho, como também pela entrada e saída de massa de fluido, cruzando a

fronteira. Este último tipo de energia, denominada de energia de fluxo e expressa por

unidade de massa é: ef=pv. Vamos considerar um intervalo de tempo dτ, uma massa δm1

que entra no sistema e uma quantidade δm2 que sai do sistema, respectivamente pelas

seções 1 e 2, ver Figura IV.10a. Imagine também uma troca de calor e de trabalho do

sistema com o meio, Q e W , respectivamente, e que sua energia E varie de dE.

Podemos observar que u+pv=h= entalpia. A soma da energia interna com a energia de

fluxo nada mais é do que a entalpia. Propriedade que já tínhamos definido

anteriormente.

Figura IV.10.a- Sistema aberto e 1º Princípio da Termodinâmica.

A expressão do 1º Princípio para sistema aberto fica:

Page 30: Termodinamica -

30

dEzg

g

g

vhmz

g

g

g

vhmWQ

CCCC

)2

)(()

2

)(( 2

22

221

21

11 , mas

)2

)((

2

zg

g

g

vUddE

CC

, que representa o acréscimo de energia armazenada dentro

dos limites do sistema, acréscimo decorrente da transferência de calor, trabalho e de

massa. Assim teremos:

)]2

)(([)

2

)(()

2

)((

2

2

22

221

21

11 zg

g

g

vumdz

g

g

g

vhmz

g

g

g

vhmWQ

CCCCCC

Observe que tudo ocorreu durante o intervalo de tempo dτ, tão pequeno quanto se

queira, de forma que se pode considerar as grandezas variáveis como constantes, a

menos de erros de 2ª ordem, sendo que esta expressão é válida tanto para o regime

permanente como para o variável. Se fizermos nesta última expressão 021 mm ,

obteremos o 1º princípio para o sistema fechado, o que nos permite concluir ser um caso

particular do sistema aberto. Dividindo a equação geral, válida para sistema aberto,

chegamos:

dt

dEz

g

g

g

vum

dt

dz

g

g

g

vhmz

g

g

g

vhmWQ

CCCCCC

)]2

)(([)

2

)(()

2

)((

2

2

22

221

21

11

Trata-se da expressão do 1º Princípio usando as intensidades em relação ao tempo.

2ª Lei da Termodinâmica ou Segundo Princípio da Termodinâmica-

Entropia.

Pelo primeiro princípio da Termodinâmica em um ciclo termodinâmico, há

proporcionalidade entre calor e trabalho, isto é, calor e trabalho são proporcionais

quando trocados por um sistema que realiza um ciclo. Não se preocupe, portanto, com

as restrições de sentido do transito do calor e do trabalho trocados. Portanto:

WQ .

Sabemos da experiência que há restrições de sentido entre as energias em transito do

sistema, o que deu origem à 2ª Lei da Termodinâmica. Portanto esta Lei estabelece o

sentido no qual o processo pode ocorrer.

Exemplos de restrições de sentido:

a) Um corpo (ou substância, ou sistema) quente cede calor a um corpo frio. Logo, o

corpo quente esfria e o frio aquece. Caso bastante familiar é o esfriamento de

café por exposição ao ar (sistema frio). Porém, o café jamais será aquecido pela

simples exposição ao ar. Portanto a transferência de calor espontânea, de um

corpo frio para um quente é impossível pela 2ª Lei da Termodinâmica.

Page 31: Termodinamica -

31

Figura 5.1- Exemplo de transferência de calor, sentidos espontâneo e impossível pela 2ª

Lei.

b) Um lingote de aço desliza sobre uma chapa metálicqa produzindo energia por

atrito, que é transferida como calor . Noentanto, se aquecermos a chapa e

transferir este calor ao lingote, não é possível ele retornar espontaneamente a

posição inicial, segundo a 2ª Lei.

Figura 5.2- Exemplo de transferência de calor, sentidos espontâneo e impossível pela 2ª

Lei.

c) Consideremos o exemplo abaixo, constituído de um gás dentro de um cilindro.

Por meio da queda do peso P, realizamos trabalhosobre o sistema. O cilo é

completado quando é transferido calor do cilindro para o meio. Transferindo

calor do gás para o meio, chegamos a t2=t1=ti. O ciclo mostrado não pode ser

invertido, isto é, se aquecer o recipiente não conseguiremos elevar o peso ou

movimentarmos o ventilador.

Figura 5.3- Exemplo de transferência de calor, sentidos espontâneo e impossível pela 2ª

Lei.

Estes exemplos e outros existentes mostram a necessidade da 2ª Lei da Termodinâmica,

que não invalida a 1ª Lei, mas nos orienta em relação ao sentido de troca de calor e

Page 32: Termodinamica -

32

trabalho. A impossibilidade de completar o ciclo termodinâmico teve como

conseqüência o advento do motor térmico ou máquina térmica e a bomba de calor ou

refrigerador. São dispositivos que permitem completar os ciclos anteriores.

Consideremos a 2ª Lei inicialmente para sistemas que efetuam ciclos termodinâmicos e

em seguida como conceito de entropia estenderemos a mesma para sistemas que

experimentam processos ou transformações de estado.

Conceito de reservatório térmico e de fluido operante:

Reservatório Térmico: Trata-se de um corpo (ou substância ou sistema) ao qual e do

qual calor pode ser transferido, sem mudança de sua temperatura. Ás vezes é chamado

de fonte de calor, que significa uma quantidade de matéria cuja temperatura não varia

durante as trocas de calor com a substância que se considerar. Exemplo: Ar atmosférico,

oceano, rio, lago, vapor condensado, água vaporizando, gases de uma fornalha

(temperatura constante durante a combustão).

Fluido operante: Trata-se do fluido ou substância que troca trabalho e/ou calor com o

sistema. Tratando-se de ciclo percorrido pelo sistema é o fluido que percorre o ciclo.

Exemplos: Água, gases, fluidos refrigerantes, etc.

Motor térmico ou Máquina Térmica e Bomba de Calor ou

Refrigerados:

São dispositivos que permitem completar os ciclos analisados nos exemplos com

restrição de sentido da transferência de energia.

a) Motor Térmico: Dispositivo que opera ciclicamente e realiza trabalho útil

trocando calor com dois reservatórios térmicos.

Exemplo do motor térmico elementar: Levantamento do peso P pela expansão do gás

contido no cilindro a custa da transmissão de calor.

Figura 5.4- Motor térmico elementar.

QQ=calor trocado com a fonte quente (F.Q) e QF=calor trocado com a fonte fria (F.F).

Page 33: Termodinamica -

33

Pela 1ª Lei: WQ ou Qútil=Wútil.

Wútil=P.Δz, onde P=peso e Δz=altura do levantamento.

Qútil=QQ-QF.

Exemplo de uma instalação motora a vapor (central térmica de energia elétrica, por

exemplo)

Figura 5.5- Central térmica de energia elétrica.

Vamos calcular o trabalho útil, usando a 1ª Lei para o sistema indicado, isto é

WQ ou Q=W.

Qútil=QQ-QF=WT-WB=Wútil; lembrando que: QQ>0 (sistema recebe calor do meio); QF<0

(sistema rejeita calor para o meio); WT>0 (sistema realiza trabalho no meio, turbina) e

WB<0 (sistema recebe trabalho do meio, bomba).

Portanto, Wútil=QQ-QF.

Rendimento térmico do ciclo (η):

Trata-se da relação entre o trabalho realizado no ciclo e o calor trocado com a fonte

quente.

Q

F

Q

FQ

Q

útil

Q

Q

Q

QQ

Q

W

recebidaEnergia

útilTrabalho1 ,

como 0<Q

F

Q

Q<1, logo: 0<η<1.

Page 34: Termodinamica -

34

Para 0Q

F

Q

Q, temos η=1 ou 100% e QF=0.

Sabemos da experiência que não existe motor com 100% de rendimento e veremos

adiante, no enunciado de KELVIN PLANCK em relação a 2ª Lei, que é impossível o

ciclo motor que trabalha com uma única fonte de calor.

Para 1Q

F

Q

Q, o trabalho útil é zero, Wútil=0 (máquina parada ou WT=WB), pois QQ=QF

e o rendimento vale zero.

b) Bomba de calor ou Refrigerador:

Trata-se de dispositivo que opera segundo um ciclo termodinâmico e exige trabalho

para transferir calor de uma fonte fria para uma fonte quente.

Figura 5.6- Refrigerador ou bomba de calor.

O balanço de energia no sistema indicado, pela 1ª Lei é WQ , logo

CFQ WQQ ou CFQ WQQ . Lembrando os significados de que: QQ<0

(sistema cede calor ao meio); QF>0 (sistema recebe calor do meio); WC<0 (sistema

recebe trabalho do meio, no caso do compressor) e que: QF=calor transferido da fonte

Page 35: Termodinamica -

35

fria, câmara frigorífica (se refrigerador), QQ=calor cedido à fonte quente (ar ambiente) e

WC=trabalho do compressor.

Coeficiente de Desempenho da bomba de calor:

Trata-se da relação entre calor transferido desejado e o trabalho gasto no ciclo. Ao

falarmos calor transferido desejado queremos dizer que dois objetivos podem ser

alcançados, isto é:

A transferência de calor da fonte fria (QF) ou o fornecimento de calor para a fonte

quente (QQ).

Coeficiente de eficácia com a finalidade de esfriar o meio (β):

1

1

F

QFQ

F

C

F

Q

QQQ

Q

W

Q

ciclonogastoTrabalho

friafontedaotransferidcalor.

Logo, β é usado no caso de refrigerador, como 1<F

Q

Q

Q< temos que 0<β< . Portanto β

é uma medida do desempenho do compressor no ciclo, quando ele aumenta, então há

um melhor desempenho do mesmo. Se β=5, necessitamos um trabalho de 0,2 QF e se

β=0,1, necessitamos um trabalho do compressor de 10 QF, o que significa um baixo

desempenho do sistema.

Coeficiente de eficácia com a finalidade de aquecer o meio (β’):

Q

FFQ

Q

C

Q

Q

QQQ

Q

W

Q

ciclonogastoTrabalho

quentefontedaotransferidcalor

1

1' .

Logo, β’ é usado no caso de uma bomba de calor, isto é aquecer o meio, como

1<F

Q

Q

Q< ou 0<

Q

F

Q

Q<1, temos que 1<β

’< .

ENUNCIADO DA 2ª LEI DA TERMODINÂMICA:

KELVIN – PLANCK: “É impossível construir um dispositivo que, operando

ciclicamente, troca calor com uma única fonte de calor”.

Page 36: Termodinamica -

36

Fazendo o balanço de enrgia teremos que:

Q-W=0, então Q=W e

1Q

Q

Q

útil

Q

Q

Q

W

recebidaEnergia

útilTrabalho

ou 100% (impossível).

Logo, este enunciado estabelece a impossibilidade de construir um motor térmico (ou

máquina térmica) com 100% de rendimento quando troca calor com uma única fonte.

Estabelece a necessidade de duas fontes de calor de temperaturas diferentes.

CLAUSIUS: “É impossível construir um dispositivo que, operando ciclicamente,

transfere calor de uma fonte fria para uma fonte quente, sem consumir trabalho”.

Se W=0, implica que β= , pois

C

F

W

Q

ciclonogastoTrabalho

friafontedaotransferidcalor.

Isto é impossível pelo fato de β ser sempre

menor que .

Observação:

Moto perpetuo de 1ª espécie é chamado o dispositivo que contradiz a 1ª Lei da

termodinâmica, isto é, realização de trabalho sem consumo de energia.

Moto perpétuo de 2ª espécie trata-se da contradição da 2ª Lei da termodinâmica, isto é,

realização de trabalho a custas de uma única fonte de calor.

REVERSIBILIDADE E IRREVERSIBILIDADE:

Um ciclo reversível é constituído de processos reversíveis, pois, um processo é dito

reversível se faz parte de um ciclo reversível. Para entender o conceito de

reversibilidade, vamos supor um cilindro contendo um gás submetido à pressão maior

que a atmosférica, constituindo um sistema termodinâmico. Quando retiramos o pino,

Fig. 5.11, ocorre um processo espontâneo como indica a figura intermediária. No

entanto para completar o ciclo, devemos realizar sobre o gás um trabalho W maior que

aquele ganho da ida e retirar do sistema o calor Q para que o gás volte ao seu estado

inicial. Portanto o meio foi afetado ao receber calor e fornecer trabalho.

Page 37: Termodinamica -

37

Figura 5.11- Exemplo de processo irreversível.

Podemos realizar o mesmo processo anterior de forma reversível, para isso usamos

pesos infinitesimais sobre o pistão, controlando a subida do pistão e da descida do

mesmo. Nesse caso realizamos um processo quasestático. Este processo será cada vez

mais reversível, quanto maior for o número de pesos infinitesimais. É interessante notar

que as irreversibilidades dos processos produzem queda de rendimento de processos e

motores. Portanto, diminuir as irreversibilidades associadas aos sistemas, significa

aumento de rendimento dos mesmos. Extrapolando, concluímos que um processo ou

motor reversível (sem irreversibilidade) proporciona o máximo rendimento. Embora o

processo ou ciclo reversível apresente o máximo rendimento entre as fontes de calor

fixadas, se existisse, seria inconveniente. Por exemplo: Um motor reversível

(automóvel), as viagens seriam demasiadamente demoradas. Nenhum processo

industrial que envolvesse ciclos reversíveis seria viável economicamente, pois a

produção seria muito lenta. Então, o conceito de reversibilidade servirá como um

modelo padrão e ideal para verificar e aperfeiçoar motores reais que são irreversíveis.

Figura 5.12- Exemplo de processo reversível.

CICLO DE CARNOT:

Trata-se de um exemplo de motor reversível e consta de quatro processos reversíveis

(sem atrito, etc). Os processos são:

1) Expansão isotérmica reversível;

Page 38: Termodinamica -

38

2) Expansão adiabática reversível;

3) Compressão isotérmica reversível e

4) Compressão adiabática reversível.

Para individualizar o ciclo termodinâmico, vamos supor uma máquina hipotética que

utiliza como fluido operante, um mol de gás ideal.

Figura 5.16- Ciclo de Carnot representado no diagrama p-V.

Processo 1→2: Expansão isotérmica reversível

O cilindro contendo o gás é colocado em contato com a fonte quente à temperatura TQ.

O volume inicial é V1 e a pressão P1. Durante o processo a pressão externa é regulada,

em cada instante, infinitesimalmente menor do que a pressão interna do gás. Isto garante

transformação reversível e isotérmica, pois, o calor fornecido pela fonte quente, durante

o processo, somente servirá para manter a temperatura do gás constante.

O trabalho fornecido pelo gás é calculado por:

Como V2> V1 e R e TQ são constantes e positivas implica que o trabalho será positivo,

ou seja, o gás realiza trabalho no meio. Usando a 1ª Lei temos que: Q-W=ΔU, mas ΔU é

uma função da temperatura e o processo considerado é isotérmico então ΔU=0.

Como o gás dentro do cilindro é o sistema termodinâmico e não há troca de massa com

o meio, estamos diante de um sistema fechado, logo para o processo isotérmico temos

que: QI =QQ= WI.

122

1

2

1

2

1

2

1

lnlnln1

VVRTVRTdVV

RTdVV

RTPdVW Q

V

VQ

V

VQ

V

V

QV

VI

Page 39: Termodinamica -

39

Processo 2→3: Expansão adiabática reversível

Retiramos o cilindro da fonte quente e o isolamos termicamente. Continuamos a manter

a pressão externa, em cada instante, um infinitésimo menor do que a interna do gás. O

volume final será V3 e a pressão P3. O trabalho deste processo será calculado pela 1ª Lei

da termodinâmica.

Q-W=ΔU, onde Q=0 (processo adiabático, sem troca de calor), Logo WII=-ΔU, mas

FT

QTv dTcnU . Considerando n=1 mol , temos que )( FQv

FT

QTvII TTcdTcW , o

que mostra que WII>0, pois TQ > TF e cv>0.

Processo 3→4: Compressão isotérmica reversível

Retiramos a capa de isolante e colocamos o cilindro em contato com uma fonte fria à

temperatura TF. A pressão externa é feita, agora, em cada instante, infinitesimalmente

maior do que a do gás interno. Isto garante um processo de compressão reversível e

isotérmico, pois a fonte fria retira o calor necessário para manter constante a

temperatura TF.

O calor e o trabalho trocados com o sistema (gás) são calculados por:

Como V4<V3 (compressão) teremos WIII<0. Pela 1ª Lei: Q-W=ΔU=0, logo

QIII=QF=WIII.

Processo 4→1: Compressão adiabática reversível

Retiramos o cilindro da fonte fria e colocamos uma capa isolante. Comprimimos o gás

de forma reversível até que o volume que o volume final ocupado pelo mesmo seja

igual ao inicial V1. A pressão final será P1>P4. Completamos, com este processo, o ciclo

termodinâmico. O trabalho de compressão será dado por:

Q-W=ΔU, onde Q=0 (processo adiabático, sem troca de calor), Logo WIV=-ΔU, mas

FT

QTv dTcnU . Considerando n=1 mol , temos que )( QFv

QT

FTvIV TTcdTcW ,

o que mostra que WIV<0, pois TQ > TF e cv>0.

Cálculo do trabalho do ciclo:

344

3

4

3

4

3

4

3

lnlnln1

VVRTVRTdVV

RTdVV

RTPdVW F

V

VF

V

VF

V

V

FV

VIII

Page 40: Termodinamica -

40

IVIIIIII

i

iiCICLO WWWWWW

4

1

. Portanto, temos:

)(ln)(ln3

4

1

2FQvFFQvQCICLO TTc

V

VRTTTc

V

VRTW , ou

3

4

1

2 lnlnV

VRT

V

VRTW FQCICLO .

Cálculo do rendimento do ciclo:

Q

FQ

Q

CICLOCICLO

Q

QQ

Q

W, com

]lnln[4

3

1

2

V

VT

V

VTRW FQCICLO e

1

2lnV

VRTQ QQ .

1

2

4

3

1

2

ln

]lnln[

V

VRT

V

VT

V

VTR

Q

W

Q

FQ

Q

CICLOCICLO .

Relação entre temperatura e volume numa transformação adiabática.

Usando a 1ª Lei, temos: dUWQ , onde 0Q para sistema fechado, portanto

dUW (a)

Quando há movimento de fronteira o trabalho é expresso por:

PdVW (b)

Igualando (a) com (b), vem:

dUPdV , mas dTncdU v .

Para um gás ideal temos: nRTPV e V

nRTPV , logo escrevemos que:

dVV

nRTdTcn v , onde n=número de moles=

larPesoMolecu

m

Separando as variáveis, vem: V

dVR

T

dTcv .

Page 41: Termodinamica -

41

vp ccR e kc

c

v

p.

Logo, V

dVR

T

dTcv , ficará:

V

dVk

V

dV

c

R

T

dT

v

)1( .

Integrando esta última expressão entre os estados 1 e 2, vem:

2

1

2

1])[ln1(][lnV

V

T

TVkT , que pode ser expressa como: 1

1

2

2

1 )ln(ln k

V

V

T

T.

Assim também chegamos a1

1

2

2

1 )( k

V

V

T

T. Em nosso caso, para expansão adiabática

2→3, vem: 1

2

3 )( k

F

Q

V

V

T

T(c)

E agora para compressão adiabática 4→1, vem:

1

4

1 )( k

Q

F

V

V

T

Tou 1

1

4 )( k

F

Q

V

V

T

T(d).

Igualando (c) com (d), temos:

1

1

41

2

3 )()( kk

V

V

V

V ou

1

2

4

3

V

V

V

V (e)

Utilizando o conceito de entropia que falaremos a seguir, para processos isoentrópicos

(entropia constante), isto é, adiabáticas reversíveis (sem atrito, turbulência, etc) temos:

teconsPV k tan , onde v

p

c

ck .

Logo, kkVPVP 2211 ou

1

2

2

1 )(P

P

V

V k . (f)

Para gases perfeitos: 1

11

2

22

T

VP

T

VPe )()(

1

2

2

1

1

2

T

T

V

V

P

P ou 1

2

1

1

2 )( k

V

V

T

T.

Page 42: Termodinamica -

42

Substituindo em

1

2

1

2

1

2

1

2

4

3

1

2

ln

]lnln[

ln

]lnln[

V

VRT

V

VT

V

VTR

V

VRT

V

VT

V

VTR

Q

W

Q

FQ

Q

FQ

Q

CICLOCICLO , chegamos

finalmente que: Q

FQCICLO

T

TT.

Desta forma, conclui-se que para o ciclo de Carnot, o seu rendimento independe da

substância sendo apenas função das temperaturas das fontes quente e fria.

O ciclo de Carnot pode ser executado por qualquer fluido, por exemplo: a água.

Processo 1→2: Expansão isotérmica reversível.Vaporização da água na caldeira, onde

TQ é a temperatura de saturação.

Processo 2→3: Expansão adiabática reversível. Expansão do vapor na Turbina (com

isolamento térmico)

Processo 3→4: Compressão isotérmica reversível. Condensação do vapor proveniente

da Turbina no condensador do ciclo, onde TF é a temperatura de condensação.

Processo 4→1: Compressão adiabática reversível. Bombeamento da água efluente do

condensador até a pressão da caldeira.

Temperatura Termodinâmica

O teorema de Carnot e os teoremas sobre rendimento estabelecem que, o rendimento de

motor reversível depende apenas das temperaturas das duas fontes de calor. Portanto, o

motor de Carnot pode ser usado como um termômetro e suas indicações de temperatura

independem do mecanismo do motor e do fluido operante. Se uma das temperaturas for

mantida constante, o rendimento do motor é função apenas da outra temperatura.

Vamos considerar três fontes de calor e três motores de Carnot operando entre essas

fontes como a Fig. 5.17.

Figura 5.17- Motor C é equivalente ao conjunto A+B.

Page 43: Termodinamica -

43

Os rendimentos dos três motores são expressos por:

),(),(1 21211

2

1

21

1

TTfQQfQ

Q

Q

QQ

Q

WAA

),(),(1 23232

3

2

32

2

TTfQQfQ

Q

Q

QQ

Q

WBB

),(),(1 13131

3

1

31

1

TTfQQfQ

Q

Q

QQ

Q

WCC

Portanto:

),( 121

2 TTfQ

Q (A)

),( 232

3 TTfQ

Q(B)

),( 131

3 TTfQ

Q (C)

Vamos multiplicar (A) por (B):

),(),( 23122

3

1

2 TTfTTfQ

Q

Q

Q, mas ),( 13

1

3 TTfQ

Q.

Portanto, ),(),(),( 231213 TTfTTfTTf .

A função f deve ser de forma que permita o cancelamento de f(T2) no produto

f(T2,T1)xf(T3,T2).

)(

)(),(

1

313

Tf

TfTTf ,

)(

)(),(

1

212

Tf

TfTTf e

)(

)(),(

2

323

Tf

TfTTf .

Portanto, 1

313

2

3

1

2

1

3 ),()(

)(

)(

)(

)(

)(

Q

QTTf

Tf

Tf

Tf

Tf

Tf

Tf

Existem inúmeras relações de função que satisfazem a equação anterior, a mais simples

e proposta por KELVIN é f(T)=T.

Portanto temos: 1

3

1

3

T

T

Q

Q ou

Q

F

Q

F

T

T

Q

Q.

O rendimento pode ser escrito assim:

Page 44: Termodinamica -

44

Q

F

Q

F

T

T

Q

Q11 .

Trata-se do rendimento de um motor reversível. É interessante notar que o rendimento

do motor calculado com as temperaturas (facilmente determinadas com um termômetro

em cada fonte de calor) é o máximo entre as duas fontes pelo fato do motor ser por

hipótese reversível. Qualquer motor real (irreversível) operando entre as mesmas fontes

deve ter rendimento menor.

ENTROPIA:

A 1ª Lei nos levou à definição do termo Energia total (E), termo bastante conhecido e

cujo significado foi discutido.

A 2ª Lei da Termodinâmica, por sua vez nos leva a definição de uma nova propriedade

do sistema, à qual será denominada de entropia, propriedade que não tem significado

físico, sendo definida em termos puramente matemáticos. No entanto, pode-se atribuir

certo significado a entropia quando se estudam as suas utilizações. Verificaremos que a

entropia está relacionada à reversibilidade de sistemas, ou seja, a capacidade de um

sistema de retornar a seu estado inicial após experimentar um processo. Vamos verificar

que, quanto mais irreversível for um processo, maior será o aumento da entropia que

ocorre durante o processo. Assim, entropia vai significar a tendência que tudo no

universo apresenta a desorganizar-se sempre que sob a ação de processos.

A propriedade Entropia: Uma maneira de provar que uma variável é uma propriedade

é mostrando que a sua integral cíclica é sempre zero, em outras palavras, se o sistema

executa um ciclo a variável em questão sempre retorna ao seu estado inicial.

Provemos então que 0T

Q e que, portanto

T

Q é uma propriedade. Essa será a

quantidade chamada entropia (ou variação de entropia)

T

QS

Segue a prova:

Provemos inicialmente que qualquer processo reversível pode ser aproximado por uma

série de processos adiabáticos reversíveis e isotérmicos reversíveis.

Page 45: Termodinamica -

45

1→2: Processo reversível qualquer.

Podemos pensar nesse processo como dois

processos adiabáticos reversíveis, isto é,

1→b e c→2 e, mais um processo

isotérmico reversível de b→c.

Figura 6.1- Processo reversível qualquer substituído pela aproximação de dois

processos adiabáticos e um isotérmico.

Como a área sob a curva 1→2 é aproximadamente igual à área sob a curva 1→b, b→c e

c→2, teremos:

2112 bcWW ,

121212 WEEQ (1ª Lei para o processo reversível de 1→2)

211221 bcbc WEEQ (1ª Lei para o processo 1bc2 reversível)

Logo teremos que: 2112 bcQQ .

Da mesma forma podemos aproximar um ciclo reversível com uma série de ciclos

formados por processos adiabáticos reversíveis e isotérmicos reversíveis, ou seja, ciclos

de Carnot.

Para os ciclos de Carnot abcd e efgh 1

1

1

1

L

L

H

H

T

Q

T

Q e

2

2

2

2

L

L

H

H

T

Q

T

Q. Considerando LQ

negativo com relação ao sistema (calor perdido pelo sistema).

Figura 6.2- Processo reversível qualquer substituído pela aproximação de 2N processos

adiabáticos e N isotérmicos, com N tendendo a um número inteiro muito grande.

Page 46: Termodinamica -

46

Se somarmos as igualdades: 01

1

1

1

L

L

H

H

T

Q

T

Qe 0

2

2

2

2

L

L

H

H

T

Q

T

Q teremos como resultado

dos 2N processos adiabáticos e N isotérmicos que:

0...)()(2

2

2

2

1

1

1

1

L

L

H

H

L

L

H

H

T

Q

T

Q

T

Q

T

Q ou em geral 0

T

Q.

Nota-se aqui que chegamos a conclusão de que a somatória dos quocientes de todos os

calores trocados durante os ciclos de Carnot pelas temperaturas das fontes com as quais

ocorrem essas trocas de calor é sempre igual a zero. Se o nímero de ciclos torna-se

grande, a somatória tenderá ao integral cíclico. Assim 0T

Q, como queríamos

provar.

Entropia como uma coordenada:

A definição de entropia ΔS é expressa como:

T

QS ou

T

QdS , logo pode ser escrita como: TdsQreversível .

Verificamos então que em um diagrama T-s, a área que estiver debaixo da curva para

um processo reversível representará o calor trocado durante esse processo. Temos,

então, mais uma maneira de calcular o calor trocado durante o processo termodinâmico.

Normalmente usaremos a igualdade acima quando o processo for isotérmico reversível.

Nesse caso )( 12 ssTQisotérmico . Para outros processos teríamos que ter a entropia

do sistema como uma função

dada de sua temperatura.

Figura 6.3- Diagrama T-s.

Relações entre entropia e outras propriedades:

TdSQ , para um sistema fechado, pela 1ª Lei pdVdUQ ou pdVdUTdS ,

então T

pdVdUdS .

Para um sistema aberto, pVUH ,

Page 47: Termodinamica -

47

VdppdVdUdH ,

TdSpdVdUVdpdH ,

VdpdHTdS e

T

VdpdHdS

O princípio do aumento da Entropia:

A propriedade entropia nos fornece uma maneira de identificação de um processo

quanto a sua reversibilidade. Essa aplicação de entropia baseia-se no princípio do

aumento de entropia que afirma:

“A entropia de um sistema isolado aumenta sempre, ou no caso limite de um

processo reversível permanece constante em relação ao tempo”

Matematicamente se expressa como 0S , onde o sinal >0 vale para os processos

irreversíveis e o sinal =0 para os processos reversíveis.

Prova:

Um sistema pode sempre ser conduzido de um estado a outro por uma série de

processos adiabáticos reversíveis e isotérmicos reversíveis, como já foi mencionado

anteriormente.

Digamos que um sistema executa um processo adiabático (não reversível) de um estado

1 a um estado 2, e que retorna ao estado 1 através de um processo adiabático reversível

2a e um processo isotérmico reversível a1.

Figura 6.4- DiagramaY-X, duas propriedades independentes.

Sistema executa um ciclo e pode ocorrer troca de calor somente no processo isotérmico

reversível. Logo, conclui-se que não pode haver produção de trabalho, ou seja:

0W . Pela 1ª Lei temos: WQ e 0Q ou 0T

Q. O calor ou foi

retirado no processo a1 ou não houve troca de calor em todo o ciclo.

Page 48: Termodinamica -

48

Logo, 0)( 1aS ou 01 ass .

Para o processo 2a 02ssa .

Para o ciclo: 0)()()( 1212 aa ssssssS

Comparando as três últimas igualdades

0)( 12 ss , onde a igualdade somente existe se o processo for reversível. Sendo 12,

um processo adiabático, de um sistema fechado, temos que S do sistema fechado

adiabático 0 , e como o sistema isolado é pelo menos um sistema adiabático:

0isoladoSistemaS . Um sistema isolado pode sempre ser formado de um sistema

qualquer e de seu meio. Ao conjunto chamamos universo. Portanto: 0universoS ou

meioSistemauniverso SSS )()( .

Referências Bibliográficas:

1.Apostila de Termodinâmica e anotações de aulas do curso de Engenharia Industrial

(FEI), autores: Fernando Juares Tavora Pitanga; Mauro Sérgio da Fonseca; Gilberto

Oswaldo Leno; Dalton Rubens Maiuri e Ricardo Orlando.

2.H.M. Nussenzveig, Curso de Física Básica, Editora Edgard Blücher, volume 2,

capítulo 10 3ª edição (1996).

3.R.M. Eisberg e L.S. Lerner, Física: Fundamentos e Aplicações, Editora McGraw-Hill,

volume 2, capítulo 19 (1983).

4.Alaor Chaves, Física, Reichmann e Affonso Editores, volume 4, capítulo 38 (2001).

5.ZEMANSKY, M. W. Calor e Termodinâmica. Rio de janeiro: Editora Guanabara,

1981.

6.RAMALHO JÚNIOR, F.; FERRARO, N. G.; SOARES, P. A.T. Os Fundamentos da

Física Vol.2 – Termologia, Óptica Geométrica e Ondas. São Paulo: Editora Moderna,

2007.

7.KATINSKY, J. R. O vapor e seus usos: a invenção das máquinas a vapor. São

Paulo: Editora FTD, 1997.

8.GREF. Física 2: Física térmica e Óptica. São Paulo: Edusp, 1996.

9.QUADROS, S. A termodinâmica e a invenção das máquinas térmicas . São Paulo:

Scipione, 1996.