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Apresentação
Este documento reúne informações sobre os territórios, entidades e experiências
que serão visitadas pelos agentes da Cáritas Brasileira durante o intercâmbio realizado
de 2 a 5 de maio no estado da Bahia. O objetivo é oferecer aos agentes uma visão
prévia do chão que irão percorrer durante quatro dias.
Com uma linguagem simples e direta, essa publicação tem como subsídio as
informações coletadas pelas entidades locais que integram o intercâmbio.
A primeira parte do texto traz dados sobre o estado da Bahia no que diz respeito
à sua realidade social e econômica, sobretudo do semiárido, região onde se
concentrará a visita. O documento mapeia os territórios de identidade onde as
experiências estão inseridas, revelando um pouco de sua história, área de abrangência,
produção.
Sob o guarda-chuva dos eixos terra, água, formação e produção, o texto
apresenta a riqueza das experiências que serão visitadas, seus aspectos históricos,
organização, luta, resistência, e conquistas. As entidades ligadas às iniciativas também
aparecem neste documento com um breve resumo de suas ações.
Com este texto queremos dar início à troca de saberes, diálogos e socializações
que se seguirão na primeira semana de maio deste ano, no semiárido baiano.
Até lá e boa leitura!
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1. A Bahia
A Bahia é o 6º estado mais rico do Brasil, mas está entre os últimos em indicadores
de desenvolvimento social. Apresenta índices inferiores à média nacional: taxa de
analfabetismo de 17% e analfabetismo funcional de 37%; mortalidade infantil de 35,6
por mil; índice de pobreza acima de 30%. No campo econômico, a Bahia é marcada por
fortes contrastes. Riqueza espacialmente concentrada na região metropolitana de
Salvador e Recôncavo, com 52,8% do PIB estadual, e condições menos favoráveis no
interior em relação à infra-estrutura, educação, pobreza e desníveis de renda,
especialmente na região do semiárido1.
O meio urbano do semiárido baiano é caracterizado por cidades de pequeno porte
onde se concentram alguns serviços públicos e um comércio em expansão voltado
exclusivamente para o atendimento da demanda local. A atividade comercial é
sustentada pelos gastos dos funcionários públicos e pelas transferências de renda,
basicamente de aposentados. O êxodo rural tem levado ao inchaço destas cidades que,
dada a incapacidade do poder público local em atender a crescente demanda por
serviços públicos, começam a se defrontar com as dificuldades das cidades grandes,
como: aumento da violência, prostituição, marginalidade etc.
O estado da Bahia concentra o maior contingente de pobres do país, sendo, a
imensa maioria, oriunda do semiárido. A pobreza entendida como insuficiência de renda
revela um traço marcante desta região que é a alta intensidade da pobreza, sendo a
renda média dos pobres do semiárido mais distante dos valores de referência adotados
como linha de pobreza, seja para o Nordeste em geral ou para o Brasil. Como
conseqüência direta da pobreza, o semiárido baiano ostenta uma série de indicadores
sociais extremamente desfavoráveis, como: desnutrição, analfabetismo, elevada taxa
de mortalidade infantil, péssimas condições de saúde, moradias precárias, baixa
expectativa de vida, entre outras. O semiárido baiano ocupa a maior parte do território
nordestino e quase 2/3 do território baiano.
O intercâmbio da Cáritas Brasileira vai percorrer essa região dentro de três
territórios de identidade.
1 Os dados referem-se ao ano de 2005, disponibilizados pela Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia – SEI.
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2. Territórios de Identidade
O estado da Bahia possui atualmente 26 territórios de identidade, segundo a divisão
feita pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) e Instituto
Nacional de Colonização Rural e Reforma Agrária (INCRA). Os agentes da Cáritas
Brasileira visitarão experiências inseridas nos territórios do Sisal, Piemonte da
Diamantina e Piemonte Norte do Itapicuru. Cada um deles reúne um conjunto de
elementos que configuram a sua fisionomia e que resultam do processo sócio-histórico
de ocupação da região, das suas tecnologias produtivas, formas de sociabilidade,
convívio e produção material e imaterial. Integram-se a esse vasto mosaico da ação
humana nesses ambientes os patrimônios histórico, artístico, cultural e ambiental de
forma dinâmica e viva, com um rico processo de trocas e assimilações.
Um olhar mais atento para os territórios baiano do Sisal, Piemonte da Diamantina e
Piemonte Norte do Itapicuru permite a rápida identificação de grupos sociais que, dia-a-
dia, participam de um complexo processo de construção e reconstrução do seu espaço
através da ação produtiva direta, da busca pela dignidade, das lutas sociais pelo
acesso a terra, água, formação, produção e comercialização. Lutas que se relacionam
entre si e revelam a construção histórica do fortalecimento dos movimentos sociais na
Bahia.
Os três territórios reúnem 38 municípios. Os agentes da Cáritas Brasileira
percorrerão alguns deles para conhecer e dialogar com as experiências desenvolvidas.
5
3. Conhecendo os territórios Sisal
O Território do Sisal, mais conhecido como região sisaleira da Bahia, está localizado
no semiárido nordeste do Estado e historicamente concentra alguns dos piores índices
de desenvolvimento social e econômico do país. A renda média per capta é de meio
salário mínimo mensal2.
A denominação do Território do Sisal se deve à planta que se caracteriza como
principal fonte de atividade econômica da região. O sisal, ou agave sisalana perrine, é
originário do México e foi introduzido na Bahia em 1903. Por ser uma planta suculenta,
de cor verde, folhas lisas e com grande capacidade de retenção de água da chuva e
orvalho, representou uma possibilidade de mudança para a vida da população da
região, tendo contribuído para a permanência do homem no campo e continua sendo
uma das principais bases de sustentação da economia regional.
Além das atividades de exploração do sisal, que enfrentou um período de
decadência após os anos 70, e das pedreiras, a base econômica é a pecuária extensiva
e a agricultura familiar de subsistência, sujeita a longos períodos de seca que
ciclicamente atingem a região.
Recentemente, a região tem sido apontada como um local diferenciado de
participação social, atribuída a uma ampla organização e mobilização dos movimentos
sociais.
2 Fonte: Índices de Desenvolvimento Econômico e Social dos Municípios Baianos, Seplantec, 2002.
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Sisal em Números
Quantidade de municípios do território: 20
Municípios:
Araci, Barrocas, Biritinga, Candeal, Cansanção,
Conceição do Coité, Ichu, Itiúba, Lamarão, Monte
Santo, Nordestina, Queimadas, Quijingue,
Retirolândia, Santa Luz, São Domingos, Serrinha,
Teofilândia,
Tucano,Valente.
Superfície do território
[i]:
20.454,32 Km²
População total
[ii]:
579.165 habitantes
População rural [ii]: 333.149 habitantes
População rural [iii]: 57,52%
Área agrícola [iv]: 536.020 hectares
Área cultivada com lavouras [iv]: 348.320 hectares
Área cultivada com pastagem [vi]: 187.700 hectares
Extrativismo [vi]:
Lenha e madeira em tora [vi]: 167.578 m³
Umbu, licuri, castanha-de-caju, carvão, mangaba e
angico [vi]: 1.828 toneladas
Produção de leite [vi]: 20.681 mil litros
Bovinos [v]: 318.899 cabeças
Caprinos [vi]: 236.501 cabeças
Ovinos [vi]: 445.128 cabeças
Aves [vi]: 839.105 cabeças Fontes: [i] IBGE. [ii] CENSO 2010, Primeiros Resultados - IBGE. [iii] Proporção da população rural em relação à
população total, CENSO 2010, Primeiros Resultados - IBGE. [iv] Pesquisa Agrícola Municipal 2008, IBGE. [v] ADAB,
2010. [vi] IBGE, 2009.
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Piemonte da Diamantina
É um dos territórios mais pobres e com menor grau de urbanização da Bahia.
Sobressaem atividades de mineração e pecuária com a criação de bovinos, ovinos e
caprinos.
O povoamento do Piemonte da Diamantina, como do sertão em geral, derivou, em
parte, da ação da Igreja Católica no seu trabalho de catequese dos índios, e da
necessidade de expansão da pecuária para o interior, uma vez que as terras litorâneas
destinavam-se à lavoura canavieira.
No início do século XVII, a descoberta de veios auríferos indicou um crescimento
tanto na estruturação do povoamento como na vida econômica. Contudo, a falta de
acesso da população aos serviços básicos como saúde, educação também está
presente neste território. A riqueza gerada pela mineração não reflete em
desenvolvimento para as comunidades locais.
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Piemonte em Números
Quantidade de municípios do território: 09
Municípios:
Caém, Capim Grosso, Jacobina, Mirangaba,
Ourolândia, Saúde, Serrolândia, Umburanas,
Várzea Nova.
Superfície do território
[i]:
10.247,03 Km²
População total
[ii]:
197.811 habitantes
População rural [ii]: 78.144 habitantes
População rural [iii]: 39,50 %
Área agrícola [iv]: 169.577 hectares
Área cultivada com lavouras [iv]: 100.541 hectares
Área cultivada com pastagem [vi]: 69.036 hectares
Extrativismo [vi]:
Lenha [vi]: 738.294 m³
Umbu, licuri, carvão vegetal e babaçu [vi]: 3.450
toneladas
Produção de leite [vi]: 9.721 mil litros
Bovinos [v]: 194.406 cabeças
Caprinos [vi]: 135.162 cabeças
Ovinos [vi]: 80.922 cabeças
Aves [vi]: 381.148 cabeças
Fontes: [i] IBGE. [ii] CENSO 2010, Primeiros Resultados – IBGE. [iii] Proporção da população rural em relação à
população total, CENSO 2010, Primeiros Resultados – IBGE. [iv] Pesquisa Agrícola Municipal 2008, IBGE. [v] ADAB,
2010. [vi] IBGE, 2009.
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Piemonte Norte do Itapicuru
Território com riquíssima reserva mineral de cobre, ouro, esmeralda e quartzo rosa e
com uma população empobrecida. Notadamente agrícola, tem como principais culturas
o feijão, mandioca e milho para a subsistência da população. A pecuária tem parte
relevante na economia, mas grande parte da produção destina-se a mercados externos.
Sua composição cultural é muito rica e diversificada, tendo incorporado em suas
tradições e expressões a marca identitária indígena, africana e européia. Seus agentes
culturais produzem uma ebulição artística diariamente em todos os seus municípios, o
que assegura a preservação da identidade desse território cortado pelo imponente rio
Itapicuru.
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Piemonte Norte do Itapicuru em Números
Quantidade de municípios do território: 09
Municípios:
Campo Formoso, Jaguarari, Andorinha, Ponto
Novo, Caldeirão Grande, Pindobaçu, Filadélfia,
Antônio Gonçalves, Senhor do Bonfim.
Superfície do território
[i]:
13.766,68 Km²
População total
[ii]:
260.744 habitantes
População rural [ii]: 117.646 habitantes
População rural [iii]: 45,12 %
Área agrícola [iv]: 207.366 hectares
Área cultivada com lavouras [iv]: 131.745 hectares
Área cultivada com pastagem [vi]: 75.621 hectares
Extrativismo [vi]:
Lenha [vi]: 62.486 m³
Umbu, licuri, carvão vegetal e babaçu [vi]: 1.148
toneladas
Produção de leite [vi]: 6.515 mil litros
Bovinos [v]: 167.198 cabeças
Caprinos [vi]: 187.178 cabeças
Ovinos [vi]: 124.809 cabeças
Aves [vi]: 504.425 cabeças Fontes: [i] IBGE. [ii] CENSO 2010, Primeiros Resultados – IBGE. [iii] Proporção da população rural em relação à
população total, CENSO 2010, Primeiros Resultados – IBGE. [iv] Pesquisa Agrícola Municipal 2008, IBGE. [v] ADAB,
2010. [vi] IBGE, 2009.
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4. Lutas e organizações populares
A historia das populações desses três territórios é marcada pela intensa luta pela
apropriação da terra. A terra não apenas como suporte para a propriedade, mas como
passaporte para o trabalho não-assalariado, moradia, inserção na esfera da produção e
para a gestação de uma identidade do homem e da mulher rural com o campo.
Com a convicção de que a mudança social passa pelas mãos dos trabalhadores,
mas com um apelo diferente das lutas sociais passadas, hoje outros elementos são
incorporados na dinâmica da busca pela terra. Água, produção e formação integram
também a centralidade dessa luta.
A busca pelo acesso à água ilustra bem como a luta é integrada. A exigência da
água contribui para a implementação de outras ações para a região, fortalecendo
inserções de natureza política, técnica e organizacional. E aos poucos as imagens da
seca vão sendo substituídas pela conquista da água boa para beber e cozinhar, pelos
canteiros produtivos, produção agroecologica. Enfim, a luta pela água conseguiu
superar a mentalidade de que o sertão é inviável e debater, junto à sociedade, a
convivência com o clima da região.
As experiências adquiridas pelas comunidades desses territórios ao longo dos anos
contribuíram para a afirmação de um projeto de desenvolvimento da região que
perpassa necessariamente pela quebra do monopólio e o acesso à terra e a água pelos
camponeses e camponesas, garantido assim uma terra para viver e trabalhar. Isso
contribuiu também para a formulação de políticas públicas estruturadas para a região,
bem como o monitoramento e a execução das mesmas por meio da participação
popular.
Nesse contexto, a luta por alternativas de sobrevivência nestes territórios é, por
excelência, um lugar de intensa atuação de organizações sociais - sindicatos,
associações, cooperativas, organizações de mulheres, dentre outras. As principais
linhas de ação giram em torno de iniciativas nas áreas da agricultura familiar, economia
solidária, educação, formação, saúde, infra-estrutura, cultura e comunicação.
Através do intercâmbio, os agentes da Cáritas conhecerão algumas dessas
iniciativas.
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5. Experiências Eixo Terra
Assentamento Alagoinhas
Município: Jacobina - BA
Nº de Famílias: 47
Entidade: Movimento dos trabalhadores Assentados Acampados (CETA)
O Assentamento Alagoinhas, como tantos outros assentamentos, traz na sua
história as dificuldades da luta pela terra. Ocupação, prisão, resistência e conquista
pontuam uma caminhada que começou no início de 1993 com a organização de um
grupo de lavradores e lavradoras que depois de várias reuniões e reflexões, envolvendo
mística e política das lutas, resolveu acampar nas áreas das fazendas Crateús,
Alagoinhas e Barreiros de posse de Ioner, Marilidio e D. Marcos Jacobina,
respectivamente. Pessoas influentes da sociedade jacobinense.
O primeiro acampamento foi fixado no meio do mato da fazenda Crateús. Local
de difícil acesso para garantir uma maior segurança para as famílias. Mas a prevenção
não funcionou. O acampamento foi incendiado e as ferramentas de trabalho destruídas.
Todos (homens, mulheres, crianças, gatos e cachorros) foram presos na cadeia de
Jacobina, sofrendo humilhações e todo o tipo de constrangimento.
O grupo não desanimou e seguiu com a resistência. Logo que saiu da cadeia se
dividiu em dois. Um foi para a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (NCRA), em Salvador. O outro fez um acampamento no centro de Jacobina,
tendo como apoio para as barracas, as paredes externas da igreja Matriz.
Depois partiu para um novo acampamento às margens da BR 324, próximo ao
povoado de Lajes do Batata, contando com o apoio e acompanhamento da Comissão
Pastoral da Terra (CPT), dos padres, irmãs religiosas e companheiros de luta.
Foram momentos de muita dificuldade. Além da hostilidade das pessoas que não
compreendiam a luta, a fome e os problemas de saúde, ainda tinham que conviver com
as constantes ameaças dos “poderosos” e dos pistoleiros.
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Após doze anos na cerca, em 2005 conquistam a emissão do título de posse
dando novo ânimo às famílias. Quando o assentamento começou a produzir, o grupo
passou a ter dignidade.
Hoje, 47 famílias permanecem no assentamento e cultivam mandioca, feijão,
com irrigação em pequenas áreas através da água de poços artesianos. As moradias
melhoraram, bem como a saúde, a coleta de lixo. Contam com o Projeto de
Assentamento (PA), telefone e outras necessidades.
Através da luta, o grupo possui a terra e tem a perspectiva de melhoria do
acesso à água e fortalecimento do associativismo local, sem perder de vista o sonho de
vida cada vez mais digna.
Fundo de Pasto Serra da Várzea Comprida
Município: Antônio Gonçalves
Entidade:Fundo de Pasto
O Fundo de Pasto Serra da Várzea Comprida tem sua história atrelada à luta
pela posse da terra e a organização da comunidade em um sistema de fundos de pasto.
A caminhada do povo dessa localidade ganha destaque a partir de 1964, quando foi
descoberto o garimpo da Serra da Carnaiba. A partir de então, as pessoas começaram
a retirada de madeira para fazer esbirro e usar nos cortes do garimpo. A mineração
atraiu empresas, grupos e pessoas que passaram a fazer pesquisas em toda área de
fundo e fecho de pasto.
Também os grandes criadores de gado e produtores de café foram atraídos.
Apareceram os negociadores de terra e começaram a vender áreas em cima da serra.
Em 1981 Pedro Rocha, então oficial de justiça da Comarca de Campo Formoso,
comprou uma área de terra e deu início a ameaça de expulsão dos agricultores e
pequenos criadores de gado.
A negociação de Pedro Rocha e as ameaças aos agricultores repercutiram entre
os moradores dos povoados de Brejão da Grota, Borda da Mata, Brejo Grande, Lagoa
Grande, Lagoa do Mato, Limoeiro e Santo Antonio, que se manifestaram a favor dos
agricultores e em defesa da área para o povo. Cerca de 300 pessoas, entre homens e
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mulheres se reuniram com oficial de justiça na tentativa de celebrar um acordo, pois
ninguém queria sair da terra e deixar para os fazendeiros e grandes criadores de gado.
Daí em diante uma sucessão de pessoas passaram a adquirir ou atestar a posse
de terras, a exemplo de Manoelzinho, (genro de Juca Marques, grande líder político de
Campo Formoso, representante legal do grupo denominado “Boca Preta”), em 1982,
que apresentou um Alvará de Pesquisa concedido pelo Departamento Nacional de
Pesquisa Mineral (DNPM). Em 1986 ele expulsou garimpeiros da Serra da Várzea
Comprida, deu fim às suas ferramentas de trabalho e prendeu os motores que eram
usados para retirar a água dos cortes.
O polonês Valdomiro Mazucatto também se apresentou como dono das terras,
com recibo de compra e venda de cem tarefas adquiridas de alguns moradores da
região. Ele cercou a área e encheu de gado. O povo não aceitou e conseguiu fechar um
acordo sobre o limite da propriedade. O polonês não cumpriu o acordo, comprou mais
terras. O povo se revoltou e pressionou o mesmo para retirar as cercas e desocupar a
área.
Com o apoio da CPT, da Empresa de Assistência Técnica Extensão Rural Bahia
(EMATERBA) e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campo Formoso (STR)
foram criadas as associações comunitárias e de pequenos produtores rurais dos
povoados de Brejão da Grota, Borda da Mata, Lagoa Grande e Mocambo com o
objetivo de solicitar do governo do Estado a titulação das terras.
Em 1989 o Instituo de Terras da Bahia (INTERBA) fez os requerimentos das
áreas individuais e coletivas dos agricultores das quatro associações. Para inibir a
entrada dos garimpeiros e grileiros fundam a Associação de Lutanda, em Pindobaçu.
A luta resultou na titulação das terras individuais, organização das comunidades,
casas de farinha, linhas de créditos, sistemas de abastecimento de água (poços
artesianos, barragens, encanação etc), construção de pontes, reforma de estradas,
fábricas de doce, forrageira, eletrificação (Luz Para Todos), capacitação em diversas
áreas e Centro Digital.
A organização do povo, pastagem nativa, fauna e flora, bacia hidrográfica e
ervas medicinais são algumas das potencialidades dessas comunidades que embora
tenham conquistas, não perdem de vista a continuidade da luta, atualmente marcada
pelo enfretamento aos garimpos, escavação do solo (risco para os animais), poluição
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das águas com o uso do mercúrio na extração do ouro, desmatamento desordenado,
queimadas, redução da pastagem nativa, erosão, diminuição e desaparecimento de
mananciais, grandes criadores de gado, mineradoras.
Acampamento Terra Nossa
Município: Ponto Novo
Nº de Famílias: 30
Entidade: Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
O Terra Nossa é um acampamento de resistência dos camponeses para
permanecerem na terra e nela produzirem. Além da horticultura, cultivam feijão, milho,
mandioca, melancia, abóbora, batata doce buscando alternativas de convivência e
sustentabilidade com a caatinga que ainda resta na região.
A história de luta e resistência desse acampamento começou em junho de 2008
e é o desdobramento de uma desapropriação de uma área feita pelo governo do Estado
em 1998 para a construção da barragem de Ponto Novo. Na ocasião, centenas de
camponeses foram expulsos. Pressionados, a maioria dos posseiros tiveram que sair
com indenizações insignificantes. Outros conseguiram um lote dentro do perímetro. O
reassentamento absorveu apenas 126 das famílias atingidas, deixando mais de 300
sem alternativa.
Em julho de 2000, foi instalado o maior lote do perímetro, com cerca de 100
hectares, para construção do projeto do governo denominado “cabra forte”. Em 2004
entrou oficialmente em operação a primeira fase de um projeto de irrigação de Ponto
Novo, implantado pelo então governador Paulo Souto. O perímetro composto por 121
lotes irrigáveis, sendo 59 de pequenos agricultores e 62 para empreendedores, além de
um destinado ao Cabra Forte. Ao todo são 210 lotes, equivalentes a 2.600 hectares.
Centenas de famílias ameaçadas reagiram contra a implantação da terceira etapa do
projeto e conseguiram barrar a expansão.
Em 11 de junho de 2008, as famílias que se sentiram enganadas pelo projeto ou
que foram excluídos pelo mesmo, junto a outros sem-terra da região, se organizaram e
ocuparam o lote 65, até então abandonado. No dia 25 de julho teve a primeira liminar
de despejo. Em 31 de julho, as famílias acampadas iniciaram a construção do Plano
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Local de Desenvolvimento, concluído em 17 de maio de 2009, que prevê uma
destinação social para todos os lotes empresariais desocupados.
Aos poucos, os acampados construíram casas de adobe cobertas de telhas,
cisterna, cozinha coletiva, filtro coletivo de água, entre outros, dando ao acampamento
um aspecto de povoado. Em 3 de junho de 2009 houve uma nova ordem de despejo.
Os acampados conseguiram reverter parcialmente a decisão.
Para surpresa dos acampados, em 8 de setembro 2009, com o aval do governo
do Estado, o Banco do Nordeste (BNB) destinou um montante de R$ 9 milhões ao Sítio
Barreiras para plantar 160 hectares de banana.
Em 22 de fevereiro de 2011, foram cumpridas duas ordens de reintegração de
posse nos lotes 54 e 65, com o uso de força policial, em favor da empresa LINS
Empreendimentos, que havia abandonado a área. A ordem judicial destruiu as
plantações e as cercas, com máquina operada pela empresa sob a proteção policial,
configurando a histórica aliança entre o poder econômico e o Estado.
No lote 65 ficava a agrovila do acampamento, com casas de adobe, alvenaria ou
palha. Também existia na área roçados de mamão, mandioca, melancia, abóbora,
verduras, mamona, feijão, dentre outros alimentos que garantiam o sustento das
famílias camponesas.
O Conflito envolve hoje cerca de 30 famílias sem-terra de Ponto Novo e da
região, ocupando os lotes, 65, 54, 27 e 62. Atualmente, a Sítio Barreiras detém grande
parte dos lotes empresariais do perímetro irrigado, que aos poucos se transforma em
uma grande área de monocultivo de banana.
A exploração dessas áreas pelas empresas tem se dado com o uso intensivo de
agrotóxicos, mediante pulverização aérea que tem contaminado trabalhadores rurais,
famílias camponesas, o que é produzido no perímetro e também atingido o Rio Itapicuru,
que abastece várias cidades da região. A isso se soma o desmatamento de toda a
caatinga nativa onde se encontram arvores seculares, tais como umbuzeiro, baraúna,
aroeira, tamburi, umburana e outras ervas medicinais que compõem o bioma da região.
O conflito no perímetro irrigado de Ponto Novo também envolve tensões entre os
agricultores familiares reassentados e os empresários do agronegócio. Há uma série de
irregularidades que foram levantadas pelo conselho do perímetro e uma tentativa
constante de controle dos empresários sobre este.
17
Acampamento Bela Conquista
Município: Itiúba
Nº de Famílias: 45
Entidade: CETA
O projeto de Assentamento Bela Conquista que faz parte do Movimento CETA e
reúne hoje 45 famílias que vivem numa área com aproximadamente 700 ha. O local era
a Fazenda Experimental do Estado que em 1989 seria leiloada. Porém, os
trabalhadores rurais do município se organizaram e, com o apoio da CPT e do STR
local, ocuparam a propriedade que, posteriormente, foi regularizada junto ao Estado.
Na área, foi instituído o sistema de produção-ocupação. Em uma parte do terreno
(cerca de 60 ha), de forma coletiva, são desenvolvidas a horticultura, uma atividade
basicamente feminina dentro da estrutura desse Projeto de Assentamento (PA), e a
fruticultura. Na outra parte (cerca de 18 ha), são criados bovinos e ovinos de forma
semi-extensiva. Além disso, ainda há uma mine indústria de beneficiamento de frutas e
derivados do leite e uma mercearia e padaria, que são administradas pela associação.
Toda a produção é comercializada pelos próprios produtores no mercado local e
através dos programas governamentais de comercialização, como o Plano Nacional de
Alimentação escolar (PNAE) e Companhia Nacional de abastecimento (CONAB). È um
grupo com bastante autonomia política, sócia e econômica
Eixo Água
Comunidade do Amarante
Município: Serrolândia
Entidade: Cooperativa de Assistência a Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte
(Cofaspi)
A iniciativa de uma agricultora de plantar laranja enxertada num pedaço de terra
de uma grande fazenda dita improdutiva iniciou a caminhada da Comunidade de
Amarante. Essa funcionária da fazenda percebeu que o plantio deu bons resultados e
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então diversificou a produção, plantando outras frutíferas e hortaliças, o que também
teve sucesso. A experiência estimulou os outros agricultores da comunidade que
começaram a apostar no potencial produtivo da região e viver do que se cultivava
nessa terra, além da criação de animais de pequeno porte, como abelha e galinha
caipira.
Mesmo com essa alternativa, o êxodo rural foi grande nos longos períodos de
estiagem. Porém, com o apoio de lideranças da Igreja, a persistência dos produtores, a
articulação da associação comunitária, iniciou-se o desenvolvimento de outros projetos.
Um deles foi a construção da igreja, feita de forma coletiva, através de mutirões.
Com esse mesmo espírito, a comunidade conquistou a água encanada, que mantém a
produção contínua, e ainda uma unidade de beneficiamento de frutas. Toda a
produção é comercializada através de programas como PNAE e no mercado local.
A Comunidade do Amarante é dinâmica e produtiva, buscando sempre
alternativas sustentáveis para se manter no campo com dignidade.
Comunidade de Bezerros
Município: Serrolândia
Entidade: Cofaspi
Essa experiência retrata a persistência e a determinação de Van, um jovem
nordestino da comunidade rural de Bezerros, no município de Serrolândia. Um
sonhador que foi a São Paulo tentar a vida, mas logo retornou com algum dinheiro no
bolso e a certeza de que ali não era o seu lugar.
Num pequeno pedaço de terra do seu pai, ele investiu na criação de frango de
corte. Mas, a falta de conhecimento técnico da atividade o fez perder 50% das aves e
Van ficou no prejuízo. Mas, persistiu e então iniciou a produção de hortaliças. O sistema
de produção era baseado na utilização de estercos, biofertilizantes e de produtos
naturais para o manejo e controle das pragas e doenças.
Tudo que é produzido é comercializado de casa em casa na comunidade e no
mercado local. A renda já garantiu a realização de outras atividades, como a criação de
ovinos e o plantio de andu.
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Mas, van já pensa em ampliar a produção. Recentemente, participou do Projeto
Aguada, desenvolvido pela COFASPI, e recebeu um tanque barreiro que armazenará
água para as criações animais e as pequenas irrigações. Um bom exemplo e boa
convivência com o semiárido.
Comunidade de Larginha
Município: Várzea do Poço
Entidade: Cofaspi
A utilização da cisterna de enxurrada foi a alternativa para a família do S. Arnô
ampliar a produção, complementar a alimentação e a renda, e viver com mais dignidade
na comunidade de Larginha, no município de Várzea do Poço.
Beneficiado pelo Programa Uma Terra Duas águas, P1+2, desenvolvido pela
Cáritas de Ruy Barbosa e com o apoio da Articulação do Semiárido Brasiieiro (ASA) e
da Cofaspi, o Sr. Arnô conseguiu construir a cisterna e, logo ao lado, iniciou o cultivo de
hortaliças e frutas orgânicas, como alface, coentro, manga, goiaba, com canteiros
econômicos, o que requer pouco espaço, menor consumo de água e é baseado na mão
de obra familiar. A produção abastece a família e o excedente é comercializado na
comunidade.
Assentamento Caiçara
Município: Serrolândia
Entidade: Cofaspi
Nasceu da necessidade de organização das famílias que queriam adquirir o direito a
terra e desejavam aprender técnicas de cultivo para melhorar a produção, aumentar a
renda familiar e diversificar a alimentação. Depois dos agricultores assentados
conhecerem diversas técnicas agrícolas, uma em especial, canteiro econômico,
chamou a atenção de um dos integrantes do grupo, Sr. Negão, que fez os
investimentos necessários para o desenvolvido da atividade.
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Depois de enfrentar diversas dificuldades, inclusive a falta de apoio dos vizinhos que
não acreditavam no seu trabalho, Negão trabalhava com olericultura e passou a cultivar
frutas, reutilizando a água residual das lavagens das louças e roupas.
Hoje, no quintal produtivo, como ficou conhecido, são produzidas diversas frutas que
complementam a alimentação e a renda familiar. Toda a produção excedente é vendida
para os vizinhos que, em sua maioria, já passaram a adotar a prática dos canteiros
econômicos para ampliar a produção.
Associação Regional Pró-Água (ARPA)
Município: Monte Santo
Entidade: ARPA
Em 1996, o padre Nelson Nicolau, da paróquia de Cansanção, preocupado com
as famílias camponesas que sofriam com a seca, começou a buscar alternativas para
uma melhor convivência com o semiárido. Foi assim que surgiu a idéia de reunir as
Paróquias dos municípios de Itiúba, Cansanção, Nordestina, Queimadas e Monte Santo
e, juntas, elaborarem um projeto para aquisição de equipamentos que permitisse a
perfuração de poços artesianos.
A iniciativa, que teve a assessoria da CPT para elaboração do projeto, e o apoio
da Cáritas Regional Nordeste III, que conseguiu alocar os recursos para a compra de
equipamentos, foi o embrião da ARPA, entidade sem fins lucrativos que tem
personalidade jurídica constituída desde 1997.
Com o trabalho da ARPA já foram perfurados e instalados mais de 500 poços
artesianos com equipamentos modernos e condizentes com o tipo de solo. Mas, a luta
pela água também contempla a construção de cisternas domiciliares, de produção,
além de reservatórios subterrâneos.
Com a missão de ampliar o acesso á água a todas as famílias do campo, a
ARPA vem multiplicando a experiência através do encontro de intercâmbios e
favorecendo o desenvolvimento de atividades produtivas com pequenas irrigações em
hortas familiares.
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Comunidade Micaela
Município: Caém
Nº de Famílias: 190
Entidade: MPA
As longas estiagens do semiárido levaram o povo a se organizar e lutar pela
água, mudando a realidade da seca tão presente no imaginário social por uma imagem
de vida e convivência com o clima da região. Aos poucos, o cenário da “indústria da
seca” marcado pelo fornecimento de água de má qualidade pelo carro pipa foi dando
lugar às ações de construção de cisternas, poços, cacimbas, barragens.
A comunidade Micaela, no município de Caém, ilustra bem como a união e
organização ajudaram a mudar a vida das famílias locais. Essa história começou em
2002, quando o governo do Estado da Bahia iniciou o processo de implantação da
adutora de água para beneficiar o povoado de Piabas, no município de Caém, saindo
da barragem de Pedras Altas que represava as águas do rio Itapicuru Mirim. Na
ocasião, padre Luis perguntou às famílias que viviam em volta do morro da Micaela
sobre o percurso que faria a adutora. Ficou evidenciado que o trajeto passaria pelas
roças e, em alguns casos, nos terreiro das casas.
Embora a adutora passasse muito próxima às casas, os moradores da região
não seriam beneficiados pela obra. Iniciou-se então um trabalho de conscientização
sobre o direito de todo cidadão à água. Algumas pessoas tiveram medo de entra na luta,
mas aos poucos o grupo foi se firmando.
Quando o traçado da adutora chegou na roça do Sr. César, em junho de 2005, o
trator foi impedido de avançar. Os trabalhadores pararam e os moradores organizados
pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) levantaram o acampamento exigindo
que as famílias da região tivessem acesso à água. Foram quatro meses de espera
embaixo da lona. Por duas vezes ocuparam a sede da Companhia de Engenharia
Ambiental da Bahia de Senhor do Bonfim (CERB) encarregada da obra.
O acampamento foi ganhando força com a adesão de outras comunidades. Os
trabalhadores ampliaram o número de famílias a serem contempladas, todas do
município de Caém. Diante da determinação e resistência das comunidades o governo
se sentiu obrigado a fazer um acordo, incluindo todas as famílias assinaladas no mapa
22
confeccionado pelos próprios moradores. Dois anos depois, em 2007 foi inaugurada a
adutora levando água a 190 famílias das comunidades de Micaela, Baraúnas, Várzea
do Rancho, Várzea Grande, Várzea Queimada.
A consciência de que a água é um bem necessário e direito de todos e um dever
do Estado, conduziu o povo às conquistas significativas para melhoria da qualidade de
vida na região. As constantes mobilizações feitas pelos camponeses têm forçado o
Estado a assumir financeiramente seus projetos tornado-os políticas públicas e de
domínio das organizações populares.
Graças a este movimento de luta e o trabalho das organizações, sobretudo à
participação popular, já não se ouviu mais falar em fome, frentes de emergência, cestas
básicas, intensas migrações, animais morrendo e outras tantas tragédias que faziam
parte do cotidiano dos sertanejos.
As primeiras ações de construção de cisternas, poços, cacimbas, barragens,
para ajudar o povo a conviver com o clima da região tiveram apoio financeiro,
principalmente, de cooperações internacionais, além da participação das famílias e
comunidades que realizam os trabalhos em mutirão.
Todo este movimento de luta pela água, contribuiu para a implementação de
ações integradas para a região, fortalecendo inserções de natureza política, técnica e
organizacional, demandadas pelas entidades que atuam na área, ajudando na difusão
de métodos, técnicas e procedimentos que possibilitam a convivência sustentável com
o semiárido.
Eixo Formação
Escola umbuzeiros
Município: Jacobina
Nº de beneficiados: 39 educandos
Entidade: Instituto de Permacultura da Bahia (IPB)
Coordenada pelo Instituto de Permacultura da Bahia - IPB, a Escola Umbuzeiros é
um pouco diferente das escolas tradicionais. É uma escola itinerante que contribui para
a formação de agricultores familiares em educação popular agroecológica. Todas as
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atividades desenvolvidas na escola remetem a educação popular, sistemas
sustentáveis no semiárido e articulação institucional, os três eixos de atuação do
Projeto. Além disso, são organizadas pelos próprios agricultores e baseadas nos
conhecimentos dos educandos e das comunidades que estão inseridos.
Em 2009, formou-se a primeira turma da Escola Umbuzeiros. Eram 44 agricultores
familiares de sete municípios do semiárido baiano, jovens e adultos (de 16 a 65 anos)
que realizavam trabalhos na comunidade, com autonomia em alguma propriedade rural,
e que pretendiam permanecer no semiárido. Esses são alguns dos critérios para ser
beneficiado pelo Projeto.
A Escola Umbuzeiros nasceu da demanda de uma formação mais aprofundada de
um grupo de agricultores-monitores que faziam parte do Projeto de Policultura no
Semiárido, outra iniciativa do IPB com objetivo de capacitar pequenos agricultores para
desenvolverem sua própria agricultura da forma mais próxima ao sustentável. A partir
daí, o projeto da Escola Umbuzeiros começou a ser elaborado de forma participativa.
Hoje, a Umbuzeiros, que é patrocinada pela Petrobrás, já está com a sua terceira turma
e conta com 39 educando participando da formação.
Escola Família Agrícola do Sertão (Efase)
Município: Monte Santo
Nº de beneficiados: 260 alunos
Entidade: Efase
A idéia de uma Escola Família Agrícola chegou a Monte Santo em 1996. Neste
ano, agricultores, associações, sindicato e Igreja Católica iniciaram o processo de
discussão e conscientização da importância de uma proposta educativa que respeite
e valorize as características da realidade que os educandos estão inseridos,
preparando-os, também, para enfrentar as dificuldades do homem do sertão. O
trabalho de conscientização fez nascer a Efase dois anos depois, com a oferta do
Ensino Fundamental de 5º a 8º série.
Como é característico das Escolas Família Agrícola, a Pedagogia de Alternância
era o grande instrumento de formação, organização e mobilização da nova geração
de agricultores da região. O método científico baseado no tripé ação-reflexão-ação
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propõe o aprendizado no espaço familiar ou na comunidade de origem. Em seguida
o aluno compartilha esses saberes no ambiente escolar e reflete sobre eles em base
científica e, por fim, retorna para família/comunidade, multiplicando esse
conhecimento.
Com o passar do tempo, a necessidade da implantação do Ensino Médio para
atender aos jovens da própria escola e, assim, dar continuidade ao trabalho de
formação integral se tornou latente. Com a união dos esforços de entidades
parcerias, equipe da Efase e comunidades envolvidas, a escola passou a oferecer o
primeiro curso de Educação Profissional Técnica de Nível Médio em Agropecuária
Integrada com o Ensino Médio, realizando o sonho de muitos agricultores.
Atualmente, a Efase trabalha com 260 alunos de mais de 80 comunidades em 17
municípios de diferentes territórios. É um grupo de adolescentes e jovens que
despertam para uma realidade diferente na busca por uma educação que forme o
ser humano na sua totalidade.
Escola Família Agrícola de Jaboticaba (EFA)
Município: Quixabeira
Nº de beneficiados: 213 jovens
Entidade: EFA
A Escola Família Agrícola de Jaboticaba (EFA) foi criada em 1993, com a
intervenção da Missão Jesuíta do Sertão e com o objetivo de atender aos filhos dos
pequenos produtores da agricultura familiar, proporcionando-lhes o desenvolvimento
sócio, educativo e humano, preservando a identidade de filhos de agricultores, através
da Pedagogia de Alternância.
Atualmente, 213 jovens dos territórios Piemonte da Diamantina, Piemonte do
Paraguçu, Piemonte Norte do Itapicuru, Sisal e bacia do Jacuípe realizam os cursos do
Ensino Fundamental e da Educação Profissional Técnica em Agropecuária, além da
participação em alguns projetos de extensão na própria escola e no território ao qual
pertencem, como o Projeto de Apicultura, que já produz cerca de 40 toneladas de mel
por ano; Projeto de Caprinocultura, que está em fase de implantação; Projeto Procampo,
que garante Formação Continuada para os professores da rede pública que atuam em
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unidades da zona rural; Projeto Complexo Sócio Ambiental de Capim Grosso (COSA),
que produz adubo orgânico com cascas de frutas, restos de alimentos, podas de
árvores, coletados no lixo da cidade.
Escola de Formação para Lideranças (Liderar)
Município: Senhor do Bonfim
Nº de beneficiados: 40 lideranças por turma
Entidade: CPT
A Liderar é um dos projetos da CPT de Senhor do Bonfim que atua na formação de
lideranças de trabalhadores rurais para que esses possam fortalecer os movimentos
populares, comunidades tradicionais ou pastorais sociais. A primeira turma do curso de
formação data de 2003 quando foi constituída uma equipe pedagógica formada por
agentes da CPT e um representante de cada movimento. Juntos discutiram e definiram
as metodologias do curso e os temas a serem trabalhados.
É um curso intensivo que beneficia 40 lideranças por turma a qual se encontra a
cada dois meses para a realização de um das nove etapas do curso. Em cada etapa é
refletido um tema condizente com a realidade sócio, político, econômico e cultural dos
alunos envolvidos. São discutidos e estudados assuntos referentes à teoria da
organização, história da Sociedade e do Brasil a partir dos movimentos sociais.
Questões ambientais, a origem do latifúndio no Brasil e a Reforma Agrária, o papel do
movimento popular e da instituição governamental, formação humana, agroecologia e
sistematização de experiências populares também integram os temas de reflexão.
Associação dos Animadores Leigos das Comunidades Eclesiais de Base
Município: Campo Formoso
Nº de beneficiados: 120 comunidades
Criada em 1996, a Associação tem como objetivo representar e defender os
direitos dos animadores leigos das mais variadas comunidades do município de Campo
Formoso. A entidade é um dos suportes dos animadores na organização de suas
comunidades, socialmente e religiosamente. Ainda neste ano, com a ajuda de parceiros
26
alemães e a mobilização das comunidades envolvidas, foi construída a Casa das
Comunidades, sede da associação e espaço de encontro, reflexão e formação.
Atualmente, a Associação, que reúne 120 comunidades, tem uma grande
representatividade nos movimentos sociais do município, participando ativamente de
conferências, fóruns de discussão, encontros sociais e ainda integra diferentes
conselhos municipais como o de Saúde, o dos direitos da criança e do adolescente e o
de alimentação escolar.
Dinâmica e participativa, a associação desenvolve uma série de projetos voltados
para a terceira idade, formação político-cultural de jovens, além da Escola a Caminho
da CEB´s, um dos mais ativos trabalhos da associação. Criada em 94, com a parceria
de entidades estrangeiras, a Escola foi o local de qualificação dos professores leigos do
município que, em sua maioria, só tinha cursado até a 4ª série do Ensino Fundamental.
A partir de 97, o poder público assumiu a sua obrigação e a Escola então passou a
desenvolver um projeto de educação básica para lideranças comunitárias, dirigentes de
grupos de jovens, de associações, de pastorais e outros. Um trabalho que tem como
principais eixos norteadores a formação contextualizada, o associativismo, as relações
sociais e de gênero, raça e etnia e a agroecologia.
Eixo Produção, comercialização e finanças solidárias
Feira Orgânica saberes e Sabores
Município: Jacobina
Já é tradição. Todas as quartas-feiras, moradores do município de Jacobina podem
comprar produtos orgânicos na Feira Orgânica de Saberes e Sabores da Agricultura
Familiar de Jacobina, montada no centro da cidade. Dezessete famílias de agricultores
comercializam flores e produtos alimentícios desde 2003. A Feira é resultado de um
processo de articulação e de sensibilização das famílias que já cultivavam sem o uso
de fertilizantes químicos e agrotóxicos, mas ainda desconheciam as práticas orgânicas
de produção.
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Atualmente, a Feira é organizada pela associação fundada pelo próprio grupo que
também possui um fundo rotativo o qual recebe, semanalmente, 5% da venda por
família da feira.
A Feira, além de ser uma alternativa de renda, tem proporcionado e contribuído para
o fortalecimento das relações entre as famílias agrícolas, a troca de experiências entre
eles e com outros produtores que a visitam, a recuperação da autoestima e ainda
aponta para inserção das mulheres na dinâmica de comercialização, gerenciamento
das propriedades e dos recursos financeiros, tarefas que geralmente são destinadas
aos homens no ambiente rural.
Associação Comunitária de Lagoa do Saco (ACLS)
Município: Monte Santo
Entidade: ACLS
União é a palavra chave da Associação Comunitária de Lagoa do Saco (ACSL), que
desenvolve várias ações em sistema de mutirão visando valorizar a coletividade e a
sustentabilidade da comunidade, como o trabalho na olaria comunitária, a área de
policultivo, a criação de galinhas, entre outros. E tudo começou em meados dos anos
1980 no povoado de Lagoa do Saco, município de Monte Santo, com um trabalho de
organização para a conquista dos direitos dos trabalhadores locais, que se reuniam em
baixo dos pés de umbuzeiros e na casa de vizinhos.
Pensavam em ajudar uns aos outros, realizando mutirões nas propriedades na
medida em que cada um precisava. Dessa união criaram o caixa comunitário
constituído pelas doações de sementes e dinheiro deles mesmos. Os recursos do caixa
eram destinados ao deslocamento para as reuniões e para ajudar os que tinham mais
dificuldades.
Com o passar do tempo o grupo sentiu a necessidade de se associar ao STR, que
naquele momento se encontrava na mão do poder local. Decidiram se unir a outros
grupos já existentes no município traçando uma verdadeira guerra. Durante seis anos
essa luta se fortaleceu e em 1987 o STR foi conquistado com a ajuda da Igreja, de
políticos e de advogados comprometidos com os trabalhadores.
Com a conquista sindical, o grupo começou a discutir a possibilidade de formar a
associação local, contando com o incentivo da Empresa Assistência Técnica Extensão
28
Rural Bahia (EMATEBA) e Banco do Brasil. E em 7 de janeiro de 1988 nasceu a
Associação Comunitária de Lagoa do Saco (ACSL). O caixa comunitário transformou-se
em mensalidades e os primeiros membros tornaram-se os fundadores da Associação.
Na ocasião, o Banco do Brasil fez um levantamento em todo o município de Monte
Santo com o objetivo de encontrar a comunidade mais organizada para desenvolver o
projeto Fundo de Desenvolvimento Comunitário Integrado (FDCI).
A ACLS foi selecionada e conseguiu conquistar, através do FDCI, um caminhão,
uma olaria, uma aguada, três motores de sisal, um armazém, centro comunitário, três
cisternas com capacidade para 100 mil litros, tudo construído em forma de mutirões. No
período de 1991-1992 o armazém foi alugado pela CONAB, com 438 toneladas de sisal
pagas pelo Banco do Brasil.
Em 1997 foi conquistado o projeto da primeira casa de farinha mecanizada do
município de Monte Santo. O objetivo desse empreendimento era melhorar a qualidade
e o aumento de produção. Logo em seguida, em 1998, foi fundada a Escola Família
Agrícola do Sertão (Efase), funcionando por um ano na sede da Associação com o
apoio de toda a comunidade local. Nesse período realizaram mutirões para a
construção da atual sede da escola, com a participação de alunos e familiares.
A associação foi crescendo. Em 2002 recebeu um carro doado pela Secretária de
Desenvolvimento. Um grande passo foi dado em 2005, com a execução do primeiro
projeto da CONAB com a compra da produção dos agricultores com valor de preço
mínimo e a ajuda na alimentação dos alunos da EFA.
Em 2007, iniciou-se a formação do grupo de produção de polpas, com o objetivo de
aproveitar o umbu, fruta nativa em abundância na região, valorizando um produto
orgânico e dando valor comercial ao mesmo.
Grupo de Apicultores da Comunidade de Lagoa do Saco
Município: Monte Santo
Desde o início da comunidade Lago do Saco os moradores já consumiam o mel das
abelhas. A extração era realizada de forma predatória sem qualquer forma de manejo
destruindo as abelhas e visando apenas a escassa quantidade de mel encontrada. A
partir da década de 90 esse quadro começou a se reverter, através da participação do
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primeiro seminário da apicultura realizada em Cocorobó - BA pela moradora Maria de
Lurdes. Nesse seminário conheceu-se pela primeira vez o conceito de “apicultura”
como atividade rentável através da manipulação sistematizada das abelhas para fins
produtivos. Ela aprendeu técnicas básicas de manejo e visitou a primeira Casa do Mel,
conhecendo os equipamentos de manipulação das abelhas e extração do mel.
A entrada definitiva da atividade na comunidade ocorreu por meio da curiosidade de
Jose Andrade de Brito, esposo de Maria de Lurdes. Movido pela vontade de se produzir
mel em escala significativa confeccionou suas próprias caixas de forma
despadronizadas o que dificultou o manejo, além das grandes perdas provocadas pelo
pouco conhecimento e falta de experiência. Ele, porém, nunca desistiu.
Nesse período, iniciava-se na região os trabalhos de base para a implantação da
Efase norteada pela pessoa de Nelson de Jesus Lopes, agrônomo e com idéias
inovadoras para o local. Vendo o sofrimento e a dedicação do agricultor, o convidou
para participar de um curso de apicultura a ser realizado no município de Andorinha -
BA, em1995.
Esse encontro possibilitou a primeira capacitação para a comunidade e a aquisição
de alguns equipamentos básicos por mediação da Associação de Fundo de Pasto, além
do compromisso de organizar mais criadores interessados na atividade. Assim
começou o primeiro grupo de apicultores, ainda sem muita idéia de instituição.
Em 2009, com o surgimento da Associação Regional da Economia Solidária
(ARESOL) a ACLS, em parceria com a Pastoral da Criança, conseguiu um projeto para
a aquisição de caixas e utensílios para a produção de própolis, dando inicio ao Grupo
de Apicultores propriamente dito, que se reúne para discutir os problemas e buscar
saídas para as dificuldades. A comercialização do produto é uma delas.
Casa de Farinha Mecanizada da comunidade de Lagoa do Saco e Região.
Município: Monte Santo
Entidade: ACLS
A Casa de Farinha Mecanizada é outra experiência da Associação da ACLS. Ela
começou a funcionar em 1997, com a aquisição de maquinário pelo Programa Produzir,
gerenciado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação regional (CAR). No início
30
alguns agricultores criaram resistência, mas logo se adaptam ao sistema e as normas
de funcionamento estabelecido pela Associação.
A unidade tem dado bons resultados para a comunidade. O beneficiamento da
mandioca gera mais renda para os agricultores. Uma pequena porcentagem da
produção fica para a manutenção da ACLS e ainda garante o armazenamento do
produto. E já pensam em ampliação, uma vez que a unidade ainda não produz o
suficiente para atender a demanda da região. Esse é mais um desafio que promete
testar força da organização.
A criação da Casa de Farinha Mecanizada foi motivada pela necessidade de
aperfeiçoar o beneficiamento da mandioca, principal cultura da região devido às
condições favoráveis do clima e solo. O manejo convencional manual inviabilizava a
produção e desvalorizava o produto no mercado. Esse fato gerou a diminuição da
produção de farinha na comunidade e diminuiu o cultivo da raiz, pois não estava mais
dando retorno ao produtor. Essas dificuldades levaram os agricultores a buscar saídas,
que depois de muitas discussões e reflexões decidiram pela Casa de Farinha
Mecanizada. Daí em diante, a produção de raiz começou novamente a crescer
chegando a produzir em média 45 tonelada de farinha por ano. Aumentou também a
produção de tapioca e o aproveitamento da casca para alimentação animal.
Grupo de Produção de Polpa de Lagoa do Saco
Município: Monte Santo
Cinco jovens que acreditavam em alternativas coletivas para superar a falta de
trabalho e renda iniciaram o trabalho de beneficiamento de frutas, em 2006, depois de
várias reflexões. Inicialmente contaram com o apoio da Efase, que disponibilizou
recursos para a compra dos primeiros equipamentos, e da ACLS, que forneceu o local
para o trabalho. O projeto visa não só a geração renda, mas, sobretudo, chama a atenção da
juventude para alternativas viáveis de trabalho e permanência em sua terra. Tem o
objetivo também de sensibilizar a comunidade para com os cuidados com o meio
ambiente, incentivando a conservação e restauração da fauna e flora local.
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Os recursos gerados pela venda dos produtos beneficiados pelo grupo são
investidos em mais equipamentos e adaptação do local.
Apesar das dificuldades o entusiasmo do grupo é grande e garante a certeza de que
é um trabalho bonito que vai superar as barreiras. Hoje o grupo se articula com outras iniciativas de beneficiamento de frutas no
município e com o apoio da ARESOL conseguiu montar um ponto de venda de
produtos solidários intitulado Monte Sabores. Com a CAR, através da ARESOL,
adquiriu os equipamentos para o Entreposto Coletivo de Beneficiamento de Frutas
Nativas. Através do Fundo Ecumênico de Solidariedade (FES) e o Fundo Rotativo
Solidário da ARESOL obtiveram recursos para a compra do material de construção e
regime de mutirão está construindo a estrutura física da sede. Alem do Monte Sabores, o grupo comercializa seus produtos no Programa de
Aquisição de Alimentos, via CONAB. E aos pouco, começa a vender para o PNAE das
escolas estaduais.
Agroecologia / Policultivo
Município: Monte Santo
O sistema agroecológico de produção Policultivo é uma alternativa de produzir grande
variedade de culturas numa mesma área, de modo que essas plantas influenciem
positivamente umas às outras, melhorando a produção e recuperando o solo que está
degradado. Constitui-se me uma das mais importantes experiências de produção
ecologicamente e socialmente viável da região. Em Monte Santo ele é desenvolvido na
Comunidade de Lagoa do Saco em uma área doada pela Associação da Comunidade
Lagoa do Saco.
Paraíso das Polpas
Município:
Essa experiência é um bom exemplo de que a união dos esforços da sociedade
civil, organizações não governamentais e poder público, garantem resultados positivos
e prósperos. Em 1997, criou-se a Associação dos Pequenos Produtores Rurais do
32
Jacaré com apenas 19 associados com o objetivo de promover atividades culturais,
sociais e educacionais.
A primeira iniciativa foi o trabalho de recuperação da cultura artesanal de
remédios caseiros, a qual permanece até hoje, que foi desenvolvida com o apoio e
financiamento das Irmãs do Sagrado Coração de Maria. Em seguida, foram construídas
três barragens subterrâneas e cinco cisternas para captação de água da chuva para os
associados e assim se inicia a produção de frutas nativas. As Irmãs do Coração de
Maria ajudam a ampliar a atividade com a doação de maquinário para a produção de
polpas.
A atividade vai se desenvolvendo e a necessidade de organização da produção
também. Com nova doação das Irmãs, compra-se um terreno para a construção de um
espaço para a produção das polpas, construído com recursos da Populorum Progrssio
e foi batizado de Paraíso das Polpas.
O grupo que, desde o início da atividade participava de cursos de formação e
intercâmbios, garantiu o crescimento da pequena fábrica que, dois anos depois, foi
ampliada com recursos do governo do Estado, através da Secretaria de Combate a
Pobreza. Atualmente, só para se ter uma idéia, a fábrica possui uma câmera fria com
capacidade para estocar 16 toneladas de polpas. Esse e outros equipamentos
adquiridos nos últimos anos foram comprados com recursos próprios.
A Associação então começou a fazer parte do Projeto de Compra Antecipada
com Doação Simultânea, em parceria com a Conab, que hoje beneficia 45 famílias da
agricultura familiar com a comercialização das frutas cultivadas na roça. Paralelo a isso,
parte das polpas produzidas é doada a escolas, creches e hospitais municipais da
região. Essa parceria elevou a qualidade de vida dos agricultores que já passaram a
cultivar frutas que não eram encontradas na região, como goiaba, graviola e abacaxi.
Um pouco da experiência do Paraíso das Polpas foi levada para a Casa de
Farinha que foi construída em 2008, com o financiamento do MISEAN – CARA,
envolvendo produtores da própria Associação do Jacaré e de outras associações da
região. Uma parceria com o SEBRAE qualificou os lavradores que passaram a
trabalhar com o cultivo, beneficiamento e industrialização da mandioca.
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Cooperativa de produção da Região do Piemonte da Diamantina (Coopes)
Município: Capim Grosso
É uma cooperativa diversificada que reúne agricultores, apicultores, artesãos,
produtores rurais que pretendem defender seus interesses sociais e econômicos dos
cooperados, se libertando do comércio intermediarista. Com a missão de ser referência
de comercialização justa e solidária no semiáriodo baiano, a Coopes foi fundada em
2005, com a meta de melhorar a qualidade dos produtos, divulgá-los e inseri-los no
mercado.
Mesmo com a variedade dos produtos ofertados, a Coopes se destacou com a
produção de alimentos a base de licuri, nome popular de uma palmeira nativa do Brasil,
cujo fruto comestível se assemelha a um mini coco seco.
Produtoras rurais desenvolveram diferentes receitas com o pequeno coco, típico da
caatinga, as quais se tornaram conhecidas no mercado internacional, mais
precisamente o da Itália onde são comercializadas, periodicamente, em feiras. O uso
dessa matéria-prima fez tanto sucesso que hoje a Coopes possui uma pesquisa
completa sobre o valor nutricional do licuri e suas características.
Atualmente, a Coopes comercializa os seus produtos, desde polpas de frutas até
peças de artesanato de palha e sisal, para as prefeituras e o comércio da região, além
de enviar para outros municípios baianos e estados brasileiros.
6. Entidades
Associação Regional dos Grupos de Geração de Renda (Aresol)
Produção Agrícola para Economia Popular Solidária
Nº de associados: 58 grupos
Foi em 28 de agosto de 2007 que a Aresol se constituiu como entidade social,
com administração colegiada, democrática e participativa. Uma entidade que pretendia
apoiar associações e grupos de pequenos agricultores que gostariam de desenvolver
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ou já desenvolviam uma produção auto sustentável e de convivência com o semiárido,
baseada nos princípios da Economia Popular Solidária.
Foi com esse objetivo, que em 2003 a Associação começou a se configurar.
Nesse período, a Pastoral da Criança/ Programa de Geração de Renda realizava
encontros e seminários regionais com grupos familiares que vivenciavam a experiência
dos Fundos Rotativos Solidários. Eram 32 grupos que se reuniram e começaram, de
forma solidária, a atender famílias carentes e excluídas do atual modelo econômico.
Atualmente, a ARESOL está presente em 12 municípios da macro região do Senhor
do Bonfim, compreendendo os territórios do Sisal, Norte do Itapicuru e do Jacuípe. São
58 grupos associados, envolvendo aproximadamente, 800 famílias que recebem apoio
técnico organizativo social, ambiental e produtivo. Os grupos associados desenvolvem
atividades produtivas diversificadas, destacando-se a caprinovinocultura, apicultura,
suinocultura, criação de galinha caipira, hortifruticultura e beneficiamento de mandioca
e frutas nativas.
Movimento dos trabalhadores Assentados Acampados (CETA)
Nº de beneficiados: 13.370 famílias
O Movimento nasceu pela constante luta pela terra e por uma justa reforma
agrária que garanta a sustentabilidade de trabalhadores rurais de famílias acampadas
ou assentadas. O respeito à vida, democracia, ao meio ambiente e às relações
equitativas de gênero, geração e etnia sempre nortearam e norteiam as ações do CETA,
uma entidade que atua em 8 regiões da Bahia - Lapa, Médio São Francisco, Baixo
Médio São Francisco, Norte, Chapada, Sul, Recôncavo e Sudoeste – e reúne nesses
locais 13.370 famílias acampadas e assentadas.
A regional do Movimento no município de Senhor do Bonfim, um dos parceiros
do Intercâmbio, nasceu em meados da década de 80 quando iniciaram as lutas pelas
conquistas de terra, através das ocupações de latifúndios improdutivos. Esse
movimento, que tinha o total apoio da CPT no acompanhamento direto e na assessoria
jurídica para garantir os direitos das famílias, o acesso à terra e a organização político-
social, foi a semente da Central das Associações Comunitárias de Ocupantes e
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Assentados do Semiàrido Baiano COASB, constituída juridicamente em 98 e que hoje é
o CETA Regional Bonfim.
Atualmente, O CETA Bonfim atua em 18 áreas de assentamento e nove de
ocupação, distribuídas em 10 municípios baianos dos territórios do Sisal, Piemonte
Norte do Itapicuru e Piemonte da Diamantina. São 971 famílias assentadas e em áreas
de ocupação que são atendidas pelo Regional, cumprindo a missão de garantir uma
reforma agrária baseada na solidariedade, na sustentabilidade e no respeito ao meio
ambiente, possibilitando uma vida digna e de qualidade para o homem e a mulher do
campo.
Instituto de Permacultura da Bahia (IPB)
O IPB nasceu em 1992 quando alunos e professores de um curso de introdução a
permacultura ministrado por Marsha Hanzi e Didier Bloch decidem fundar a instituição.
Com a missão de semear conhecimentos que promovam a cooperação entre os seres
para a construção de um mundo abundante, belo e ético. O Instituto desenvolve
projetos sócio-ambientais, que promovem principalmente a agricultura familiar, foco do
trabalho da instituição nos últimos anos. Realiza ainda cursos, oficinas, vivências e
consultorias nas áreas de agroecologia e permacultura. Atualmente, a instituição está
focada no desenvolvimento de dois projetos: escola Umbuzeiros e Policultura no
semiárido.
Cooperativa de assistência a agricultura familiar sustentável do piemonte
(Cofaspi)
A Cofaspi garante aos agricultores e agriculturas familiares o assessoramento
técnico nas atividades agropecuárias com a finalidade de promover uma agricultura
economicamente viável, ecologicamente equilibrada, socialmente justa e culturalmente
adaptada, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável.
Constituída em 2003, a entidade foi resultado da preocupação de membros da
Cooperativa de Crédito Rural do Piemonti que pretendia ampliar o Cooperativismo de
Crédito com o fornecimento de serviços financeiros para a população de baixa renda.
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Eles perceberam que o distanciamento do serviço de assistência técnica fornecido pelo
Estado e o modelo de agricultura desenvolvido na região poderiam ser entraves do
desenvolvimento de uma atividade sustentável.
Atualmente, a instituição é gestora de três projetos ligados a convivência com o
semiárido que criam alternativas de acesso a água e viabilizam a produção. A
instituição desenvolve ainda projetos de agroecologia.
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
Surgiu no sul do Brasil em 1996 durante uma seca prolongada onde os agricultores
perderão toda a sua produção de comida. Período também em que se vivia uma crise
no movimento sindical e de abandono da pequena agricultura por parte do Estado
brasileiro. Nasceu com objetivo de lutar pelos interesses dos camponeses e das
camponesas.
É uma organização camponesa de caráter nacional e popular, de massa, autônomo,
reivindicatório, cujas bases são os grupos de famílias organizados. Propõe-se a
produzir comida saudável, abundante e barata para o auto-sustento e alimentação dos
próprios camponeses e dos trabalhadores e trabalhadoras urbanos, resgatando a
identidade e a cultura camponesa, com suas diversidades regionais.
Está organizado em 18 estados brasileiros. Na Bahia está presente em 32
municípios, tendo hoje nos grupos de base milhares de famílias. Tem como missão
contribuir na formação da consciência e na transformação da sociedade capitalista para
uma sociedade onde todos e todas tenham garantido os mesmos direitos e deveres,
possibilitando a dignidade da pessoa humana como gente capaz de construir sua
historia.
Se articula com os movimentos e organizações que compõe a via campesina Brasil,
Pastorais sociais, Recid, ASA Brasil, ONGS, universidades, Articulação Popular pela
Revitalização do Rio São Francisco, Assembléia Popular e Consulta Popular.
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Central das Associações Agropastoris Comunitárias de Fundo e Fecho de
Pasto da região de Senhor do Bonfim – CAFFP
Os Fundos de Pasto constituem um sistema de ocupação coletiva de terras por
comunidades e representa o modo de vida, a cultura, o trabalho em mutirão, a
solidariedade dos sertanejos, do “catingueiro”. Segundos levantamentos da Articulação
Estadual das Associações dos Fundos e Fechos de Pastos Baianos mais de 18 mil
famílias estão envolvidos diretamente com a exploração destas áreas, mais
precisamente nas regiões norte-nordeste e baixo médio São Francisco, existindo cerca
de 300 associações comunitárias agropastoris reconhecidas.
A ocupação dá-se na forma de Sistema Agrossilvipastoril - modelo que consegue ao
mesmo tempo conservar os recursos naturais, fixar o homem no campo e aumentar
com sustentabilidade a produtividade agrícola e pecuária.
As propriedades coletivas têm como atividade econômica principal o pastoreio
extensivo e/ou semi-extensivo de animais de pequeno porte (caprinos e ovinos) e de
bovinos sem raça definida (SRD) com direito de uso comum da pastagem nativa, a
caatinga. Secundariamente é praticada nessas áreas uma agricultura de subsistência
em roças de sequeiro individuais, com a constante incerteza de boa colheita, haja vista
as estiagens cíclicas. Planta-se milho, feijão, mandioca, feijão de corda, melancia e
outras culturas.
A organização das comunidades rurais da micro-região de Senhor do Bonfim teve
importante contribuição das Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s) e Sindicatos de
Trabalhadores Rurais (STR), na década de 70, sobretudo para defender a
continuidades de posse das terras de grileiros. Tratava-se a principio apenas de um
trabalho catequético, que depois trouxe motivação e esperança que juntos poderiam ser
mais fortes. Assim foi marcante no inicio a realização de cursos de formação em
associativismo e direitos.
A grilagem de terra serviu como incentivo para que as comunidades se
organizassem. Sem a terra não teriam como produzir o sustento para as suas famílias.
Assim recuperaram os STR do comando dos médicos, advogados e comerciantes para
defender-se enquanto classe trabalhadora. Isto foi feito na maioria dos municípios da
região e do estado, no inicio da década de 80.
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Superada as dificuldades para a organização sindical, outras dificuldades foram
sendo criadas. Os posseiros só podiam regularizar as terras de fundo de pasto se
criassem associações comunitárias com personalidade jurídica reconhecida, que
passariam a ser legalmente as donas das terras. Comunidades, igreja e sindicatos se
uniram para a criação e fortalecimento de Associações Agropastoris Comunitárias
autênticas. Após cerca de três anos de trabalho já tinham sido formadas cerca de 30
associações. Para terem mais força, em 21 de julho de 1994 fundaram a Central das
Associações Agropastoris Comunitárias de Fundo e Fecho de Pasto da Região de
Senhor do Bonfim (CAFFP). Legalizados, passaram a negociar com o governo do
Estado para regularizarem as áreas de Fundo de Pasto, com grande dificuldade, pois é
grande o interesse por estas áreas.
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Quadro resumo Eixo Experiência Entidade Município
Assentamento Alagoinhas CETA Jacobina
Assentamento Bela Conquista CETA Itiúba
Fundo de Pasto Serra da Várzea
Comprida
Fundo de Pasto Antônio
Gonçalves
Terra
Acampamento Terra Nossa MPA Ponto Novo
Comunidade Amarante
Comunidade Bezerros
Comunidade Caiçara
Cofaspi Serrolândia
Comunidade de Larginha Cofaspi Várzea do Poço
ARPA ARPA Monte Santo
Água
Comunidade Micaela MPA Caém
Escola Umbuzeiros IPB Jacobina
EFASE EFASE Monte Santo
Liderar CPT Senhor do
Bonfim
Associação dos Animadores Leigos
das Comunidades Eclesiais de
Base (CEBs)
CEBs Campo
Formoso
Formação
EFA Jaboticaba
EFA Quixabeira
Feira Agroecológica Feira
Agroecológica
Jacobina
Associação das Comunidades de
Lagoa do Saco (ACLS)
ACLS Monte Santo
Grupo de Apicultores da Grupo de Monte Santo
40
Comunidade de Lagoa do Saco Apicultores da
Comunidade de
Lagoa do Saco
Casa de Farinha Mecanizada da
Comunidade de Lagoa do Saco
Casa de Farinha
Mecanizada da
Comunidade de
Lagoa do Saco
Monte Santo
Grupo de Polpa Lagoa do Saco Grupo de Polpa
Lagoa do Saco
Monte Santo
Paraíso das Polpas Associação dos
pequenos
Produtores Rurais
de Jacaré
Senhor do
Bonfim, Ponto
Novo,
Pindobaçu
Agroecologia / Policultivo
Agroecologia /
Policultivo
Monte Santo
Produção
Cooperativa de produção da Região
do Piemonte da Diamantina
(Coopes)
Coopes
Capim Grosso