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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO TERRORISMO NO PÓS 11 DE SETEMBRO: ASPECTOS JURÍDICOS SOBRE SEGURANÇA E COMÉRCIO INTERNACIONAL EMMANUELLE DE SOUZA TEIXEIRA Itajaí, junho de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS

CURSO DE DIREITO

TERRORISMO NO PÓS 11 DE SETEMBRO: ASPECTOS JURÍDICOS

SOBRE SEGURANÇA E COMÉRCIO INTERNACIONAL

EMMANUELLE DE SOUZA TEIXEIRA

Itajaí, junho de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS

CURSO DE DIREITO

TERRORISMO NO PÓS 11 DE SETEMBRO: ASPECTOS JURÍDICOS SOBRE SEGURANÇA E COMÉRCIO INTERNACIONAL

EMMANUELLE DE SOUZA TEIXEIRA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientadora: Professora Drª Joana Stelzer

Itajaí, junho de 2008.

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AGRADECIMENTO

A conclusão do presente trabalho só foi

possível porque contei com algumas pessoas,

durante todo o período acadêmico, às quais não

posso deixar de render homenagem.

Em primeiro lugar, agradeço à minha avó,

pelo zelo nos anos de minha criação e formação,

cujo amor incondicional permitiu fazer deste

momento uma realidade. Sou grata também à

minha mãe, por todo carinho e apoio nas horas

certas.

Ao meu único irmão, Pacelli, agradeço

pelo seu espírito solidário e por proporcionar

instantes de descontração quando o trabalho

exauria minhas forças. Aos meus tios: Pedro

Damásio, Evaldir, Eliane e Emília, pessoas

singulares, nas quais sempre encontrei toda

dedicação possível e inabalável fonte de afeto.

Pelo suporte, incentivo e amabilidade

constantes, agradeço à família Medeiros Gomes.

Aos meus amigos: Jório Roberto, Walter Santin

Junior, Isabelle Bandeira e Daniela Machado,

sem os quais a jornada ora finda teria se tornado

demasiadamente árdua.

A Profª. Drª Joana Stelzer, pela

disposição, incentivo e paciência.

E agradeço, principalmente, ao meu

estimado marido Bridenor Neto, porque sem a

sua compreensão, o devido amparo e a

constante cumplicidade eu não teria chegado até

aqui. Foi através de seu exemplo profissional,

testemunhado diuturnamente, que encontrei

força e coragem para enfrentar os bancos do

curso de Direito, buscando fazer sempre o

melhor.

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DEDICATÓRIA

Embalada por um forte sentimento de

conquista, tenho a honra de dedicar este

trabalho a Evalda Damásio, as minhas filhas

Larissa e Bruna e ao Neto, pelo incentivo,

estímulo e ajuda.

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Jesus ilumina o caminho.

Mas quem tem que percorrê-los somos nós.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a

Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajái , junho de 2008.

Emmanuelle de Souza Teixeira Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Emmanuelle de Souza Teixeira,

sob o título Terrorismo no pós 11 de setembro: aspectos jurídicos sobre

segurança e comércio internacional, foi submetida em 13 de junho de 2008 à

banca examinadora composta pela professora: Queila ([Função]), e aprovada

com a nota 10,00 (dez).

Itajaí, junho de 2008.

Professora Drª Joana Stelzer Orientadora e Presidente da Banca

Professor Msc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABI/ASC Automated Broker Interface of the Automated Commercial System

AMS Automated Manifest System

ANTAQ Agência Nacional de Transportes Aquaviários

BIRD Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento

CBP Customs and Border Protection

CIA Agência Central de Inteligência

CSI Container Security Iniciative

CSO Company Security Officer

ETA Euskadi Ta Askatasuna

EUA Estados Unidos da América

FDA Food and Drug Administration

FMC Federal Maritime Commission

FMI Fundo Monetário Internacional

GATT Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio

IRA Exército Republicano Irlandês

ISPS International Ship and Port Facility Security

NVOCC Non-Vessel Operating Common Carrier

OIC Organização Internacional de Comércio

OIGS Organizações Internacionais Governamentais.

ONU Organização das Nações Unidas

PFLP Frente Popular da Liberdade da Palestina

PN Prior Notice System Interface

SCAC CODE Standard Carrier Alpha Code

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SSA Ship Security Assessment

SSP Ship Security Plan

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à compreensão do

seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Barreiras Técnicas

Barreiras técnicas, considerando o estipulado pela OMC, são barreiras

comerciais derivadas da utilização de normas ou regulamentos técnicos não-

transparentes ou não-embasados em normas internacionalmente aceitas ou,

ainda, decorrentes da adoção de procedimentos de avaliação da conformidade

não-transparentes e/ou demasiadamente dispendiosos, bem como de inspeções

excessivamente rigorosas1.

Comércio Exterior

Luna2 conceitua comércio exterior como a atividade de compra e venda

internacional de produtos ou serviços. Importação e exportação de um país ou de

uma empresa.

Exportação

Para Maluf3 exportação é à saída de mercadoria nacional ou nacionalizada

do território aduaneiro brasileiro. Esta saída está baseada em especialização do

país na produção de bens para os quais tenha maior disponibilidade de fatores

produtivos, garantindo excedentes exportáveis. A exportação implica na entrada

de divisas.

1 Disponível em: http://www.inmetro.gov.br/barreirastecnicas/barreirasTecnicas.asp. Acesso em:

29. mai.2008. 2 LUNA, E. P. Essencial de comércio exterior de "A a Z". São Paulo: Aduaneiras, 2000. p. 27.

3 MALUF, Sônia Nagib. Administrando o comércio exterior brasileiro. São Paulo: Aduaneiras,

2003.

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Terrorismo

Para Larousse4 é o conjunto de atos de violência cometidos por grupos

políticos ou criminosos para combater o poder estabelecido ou praticar atos

ilegais e também, Regime de violência instituído por um governo.

4 LAROUSSE. Dicionário Larousse escolar da língua Portuguesa. São Paulo: Larousse, 2006.

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RESUMO

O objeto deste estudo é o terrorismo vinculado ao comércio exterior. Trata-se de uma monografia, primordialmente bibliográfica, posto que foram analisados exemplos da violência institucionalizada pelo Terrorismo, a partir de reconhecidas obras doutrinárias. Navega-se ao longo da história, analisando o quadro abrangente do terror e do terrorismo bem como do comércio internacional suas origens, suas diferentes formas de ação, seus objetivos. Após o 11 de setembro de 2001, esse tema trouxe conseqüências para o comércio exterior, principalmente para o comércio marítimo. As novas regras de segurança implantadas pelos Estados Unidos da América modificaram e dificultaram o tráfego marítimo e as trocas mundiais. Quanto à metodologia, o Método utilizado na fase de Tratamento dos Dados foi o cartesiano, e, no Relatório da Pesquisa foi empregada a base indutiva. Foram acionadas as técnicas do referente, da categoria, dos conceitos operacionais, da pesquisa bibliográfica e do fichamento.

Palavras-Chave: Barreiras Técnicas; Comércio Exterior; Exportação; Terrorismo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13

CAPÍTULO 1

1. SEGURANÇA INTERNACIONAL E TERRORISMO ........................................ 15

1.1 A SEGURANÇA E O TERRORISMO: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS ........ 15

1.2 O TERRORISMO: CARACTERÍSTICAS ELEMENTARES ............................. 22

1.3 O DIREITO E O TERRORISMO ..................................................................... 26

1.4 OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (EUA) E O FENÔMENO DO

TERRORISMO ...................................................................................................... 31

1.5 O FENÔMENO DO TERRORISMO E O 11 DE SETEMBRO ........................ 35

CAPÍTULO 2

2. COMÉRCIO, NORMATIZAÇÃO E ESTABILIDADE INTERNACIONAL .......... 43

2.1 A IMPORTÂNCIA DA ESTABILIDADE PARA O SISTEMA

COMERCIAL INTERNACIONAL ........................................................................... 43

2.2 A NORMATIZAÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL ............................... 47

2.3 COMÉRCIO INTERNACIONAL EM PERSPECTIVA ..................................... 52

2.4 A GLOBALIZAÇÃO E OS FATORES DE INSTABILIDADE PARA

O COMÉRCIO INTERNACIONAL. ........................................................................ 56

2.5 IMPACTO DO 11 DE SETEMBRO PARA O COMÉRCIO INTERNACIONAL 62

CAPÍTULO 3

3. TERRORISMO E COMÉRCIO INTERNACIONAL ........................................... 65

3.1 ISPS CODE: APONTAMENTOS E SOLUÇÕES ............................................ 65

3.1.1 Container Security Iniciative (CSI) ............................................................... 66

3.1.2 "24 Hour Advance Notice Of Cargo Manifest" ............................................. 67

3.2 INTERNATIONAL SHIP AND PORT FACILITY SECURITY CODE

(ISPS CODE) ........................................................................................................ 69

3.2.1 A Implementação do ISPS Code .................................................................. 71

3.2.2 Bioterrorism Act ............................................................................................ 74

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 79

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 81

ANEXOS

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo dos aspectos jurídicos

sobre segurança e comércio internacional após o 11 de setembro.

O seu objetivo é verificar as alterações implementadas, regras anti-

terrorismo imposta pelos Estados Unidos no transporte marítimo internacional.

Foi levantada a seguinte hipótese:

A ofensiva terrorista de 11 de setembro de 2001 alterou a postura

americana, tornando-a ainda mais defensiva quanto à política exterior.

Medidas protecionistas foram tomadas pelo governo americano, visando

evitar a continuidade da onda de terror.

Para a análise e discussão das hipóteses, o trabalho foi dividido em três

capítulos.

O primeiro capítulo tratou da segurança internacional e do terrorismo.

Estudou-se o histórico do terrorismo, seu conceito, suas características, a

coadunação do direito com o terrorismo, os Estados Unidos da América (EUA) e o

fenômeno do terrorismo bem como o fenômeno do terrorismo e o 11 de setembro.

No segundo capítulo, estudou-se o comércio, normatização e estabilidade

internacional. Neste capítulo foi demonstrado a importância da necessidade da

estabilidade para o sistema comercial internacional, bem como sua normatização,

sua história e o impacto do 11 de setembro de 2001 para o comércio

internacional.

No terceiro capítulo tratou-se do terrorismo e comércio internacional. Fez-

se uma pesquisa sobre as normas implantadas aos portos internacionais após o

11 de setembro.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações

Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da

estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre os efeitos do

Terrorismo no pós 11 de setembro: Aspectos Jurídicos sobre Segurança e

Comércio Internacional.

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O Método5 a ser utilizado na fase de Investigação será o Indutivo; na fase

de Tratamento dos Dados será o Cartesiano, e, dependendo do resultado das

análises, no Relatório da Pesquisa será empregada a base lógica indutiva.

Serão acionadas as técnicas do referente6, da categoria7, dos conceitos

operacionais8, da pesquisa bibliográfica9 e do fichamento10.

5 “Método é a forma lógico - comportamental na qual se baseia o Pesquisador para investigar,

tratar os dados colhidos e relatar os resultados”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito. 7. ed. rev. atual. amp. Florianópolis: OAB/SC, 2002, p.104. 6 “explicação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitado o alcance temático e de

abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. p. 241. 7 “palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia”. PASOLD, Cesar

Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. p. 229. 8 “definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal

definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. p. 229. 9 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais”. PASOLD,

Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. p. 240. 10

“Técnica que tem como principal utilidade otimizar a leitura na Pesquisa Científica, mediante a reunião de elementos selecionados pelo Pesquisador que registra e/ou assume e/ou reflete e/ou analisa de maneira sucinta, uma Obra, um Ensaio, uma Tese ou Dissertação, um Artigo ou uma aula, segundo Referente previamente estabelecido”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. p. 233.

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CAPÍTULO 1

1. SEGURANÇA INTERNACIONAL E TERRORISMO

Apenas depois do atentado de 11 de setembro, é que o tema terrorismo

tornou-se pauta principal na agenda da segurança internacional, através da

imposição de regras relativas, entre outras, à segurança comercial dos países,

especialmente dos Estados Unidos da América (EUA).

1.1 A SEGURANÇA E O TERRORISMO: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS

Após o 11 de Setembro de 2001, o terrorismo passou a ocupar o centro das

atenções da política de segurança nacional da nação hegemônica da atualidade.

Terrorismo e globalização partilham pelo menos uma coisa em comum, ambos

são fenômenos complexos abertos a interpretações subjetivas.

O século XXI começa com mudanças no quadro geopolítico global, no qual as

posições unilaterais dos EUA passam a ditar a nova ordem mundial. O terrorismo

ganhou uma dimensão inédita no século XXI, antes restrito a regiões ou países

com cismas sociais, econômicos, culturais, éticos ou religiosos. Agora, o tema é

colocado como pauta obrigatória na agenda das relações internacionais.

Porém, o ato terrorista, muitas vezes, tem sido confundido, de modo incauto

ou premeditado, com ações de luta armada, movidas por ideais legítimos e como

reação ou resistência à repressão do agressor. As definições sobre terrorismo

encontradas nas enciclopédias se mostram imprecisas e incompletas 11.

Para Larousse trata-se do seguinte:

11 Recorrendo a um rápido exame etimológico, o Novo Aurélio diz: "Modo de coagir, ameaçar ou

influenciar outras pessoas ou impor-lhes a vontade pelo uso sistemático do terror" e, em uma segunda definição, "Forma de ação política que combate o poder estabelecido mediante o emprego da violência".

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O conjunto de atos de violência cometidos por grupos políticos ou criminosos para combater o poder estabelecido ou praticar atos ilegais e também, Regime de violência instituído por um governo.

A Delta Universal entende:

Terrorismo é o uso ou a ameaça de violência, com o objetivo de aterrorizar um povo e enfraquecer sua resistência e também exemplifica a ação terrorista: Entre os atos mais comuns do terrorismo estão o assassinato, o bombardeio e o seqüestro.

Todavia, o terrorismo é caracterizado, como ver-se-á no subtítulo

subsequente, primeiro e antes de tudo pelo uso da violência. Fazendo um breve

retrospecto histórico, verifíca-se que os atos de terror, estão presentes desde o

início da civilização. O fato mais surpreendente é que o agente mais letal nas ações de

terror foi o próprio poder estabelecido, ora contra nações inimigas, ora contra seu

próprio povo como forma de repressão. O terrorismo pode ser visto como resultado de

uma sequência de fatos que remetem à República Romana.

Segundo Carr12, o império Romano utilizou táticas de terrorismo contra os

povos dominados, com a finalidade de baixar o moral e enfraquecer a resistência

das tropas inimigas.

Dessa feita, o autor aduz que a expressão utilizada na época era guerra

punitiva que, mais tarde, foi substituida por guerra destrutiva. Entre os atos

violentos praticados pelas legiões romanas estavam os estupros e saques, como

forma de recompensa aos soldados, já que eram extremamente mal

remunerados. Naturalmente, complementa o autor, os romanos também sabiam

gerenciar a pax romana, pois não conseguiam manter um império apenas com

atos de violência.

Assim sendo, o dito Terrorismo de Estado tem bases históricas e se faz

presente até os dias atuais, todavia nenhum poder estabelecido reconheçe

oficialmente a utilização desses métodos como um recurso estratégico. Trata-se

de um tema polêmico, sendo mais fácil atribuir ou reconhecer o ato terrorista em

um indivíduo ou numa organização clandestina.

Apelando novamente à história, o final das Guerras Púnicas, com a

inexorável destruição de Cartago pelos romanos, a qual não respeitou mulheres,

12

CARR, C. A assustadora história do terrorismo. Tradução de Mauro Silva. São Paulo: Ediouro, 2002.

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velhos e crianças, foi uma maneira de utilizar da tática do terror com o objetivo de

apagar qualquer fragmento do inimigo que, por tanto tempo, ousou desafiar o

poder de Roma. Repara-se que tal feito foi muito usual na Idade Antiga, sendo

observado na Grécia, no Império Egípicio e nas Civilizações da Mesopotâmia.

A queda do Império Romano do Ocidente em 476d.c. foi fruto, em grande

parte, da própria deterioração das instituições políticas e sociais e da outrora

eficiente máquina administrativa do império. De outro norte, também foi

desencadeado pelas táticas de terror dos povos bárbaros, apreendidas através

dos contatos desses com os romanos. As consequëntes invasões e saques em

Roma tiveram início em 410d.c. com Alarico, rei dos Visigodos, cujas tropas eram

formadas, em boa parte, por bárbaros que serviram no exército romano.

O conceito de guerra justa ganha respaldo ideológico nessa época, durante

o dessaranjamento do Império Romano do Ocidente.

Segundo Carr13:

As obras de Santo Agostinho, principalmente “A Cidade de Deus”, enfatiza que a guerra, para ser justa, deve sempre visar e trazer a paz. O filósofo cristão ressaltava que quando a vitória pendia para o lado cuja causa era mais justa, era motivo de regozijo, pois sempre seria sucedida pela paz.

Todavia, o autor salienta que a Pax Dominus, preconizada por Agostinho,

foi adulterada pela paz do vencedor, nem sempre ungida por Deus e pelos ideais

cristãos.

A ampliação do Islã no Oriente Médio, África do Norte e Europa, a partir do

século VII, também chamou os princípios da guerra santa ou jihad para converter

os infiéis para a nova fé. Partindo do Califado de Medina, quando o poder

temporal e espiritual estavam associados sob uma só autoridade, vários povos

das regiões conquistadas foram submetidos a um regime de força.

O Império Bizantino Cristão cedeu aos ataques do Islã representados pela

facção otomana, depois de mais de quatrocentos anos de luta.

A Paz de Deus ou Pax Dei e posteriormente Treuga Dei foi estabelecida

pela Igreja Católica, mais precisamente por lideres da igreja francesa, a partir do

século X, quando propuseram aos nobres que cobrassem taxas de soldados que

13

CARR, C. A assustadora história do terrorismo. p.26.

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agredissem camponeses ou inocentes, na qual instituía dias fixos para batalhas,

no caso, de segunda a quarta-feira. Ou seja, era formada por uma série de

proibições contra as ações beligerantes, principalmente contra os não-

combatentes e seus bens, destacando-se entre eles os clérigos, os camponeses,

os comerciantes, as mulheres, as crianças e os idosos.

Voltando-se um pouco para as relações internacionais do período em

questão, segundo Stelzer, percebe-se que:

As primeiras manifestações econômicas da civilização humana sempre estiveram marcadas com a satisfação do bem-estar momentâneo, sem perquirir que conseqüência poderia advir. A época medieval, de igual forma, apenas desenvolveu algumas teorias acerca do comércio, enquanto a Igreja se preocupava com a usura e a concorrência (evidentemente, não questionava acerca de si mesma, já que sempre estaria escorada em leis divinas a justificar seu procedimento)

14.

O mundo islâmico no século IX tornou-se um grande preservador da

vitalidade intelectual. Os sábios muçulmanos trabalhavam com afinco na tradução

de obras eruditas, até dos povos considerados infiéis. Nessa época, Bagdá

tornava-se pela mão do califa al-Ma'mun capital intelectual e científica do mundo.

O desenvolvimento de suas cidades superava as cidades do Império Roma.

Nesse período, surge uma corrente fundamentalista contra o cosmopolítanismo

de Bagdá. Esse grupo foi inspiração para a seita Wahhabi na Arábia, a mesma

seguida por Osama bin Laden e seus homens, na atualidade.

Assim sendo a idade média foi generosa em atos de terror, desencadeados

principalmente pelo fundamentalismo religioso, cristão e muçulmano que, por

vezes, encerrava interesses econômicos de ambas as partes. A intransigência

religiosa sempre foi um enorme encorajamento para ações terroristas do poder

estabelecido, seja de um Estado Teocrático e Pseudo-Teucrático ou da própria

instituição religiosa. A elevação de grupos religiosos ultra-radicais ao poder pode

ser vista atualmente, principalmente no Oriente Médio.

As cruzadas15, ocorridas nos séculos XII e XIII, formaram campanhas

14

STELZER, Joana. Mercado Europeu: direito e análise jurisprudencial. Curitiba: Juruá, 2005, p.35. 15

Em 1905, foram convocados os guerreiros que antes aterrorizavam camponeses a uma luta contra ameaça mulçumana. A mesma medida foi tomada pelos mulçumanos que, em defesa, deveriam lutar contra os cristãos. Essas seqüências de batalhas ficaram conhecidas como cruzadas, na qual apenas aumentou o desejo de violência e vingança que existe até os dias atuais. MOMM, Maria Salete Garcia. Organização mundial do comércio (OMC): um estudo

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militares desenvolvidas pelos cristãos da Europa Ocidental, com o fim de soltar os

cristãos do oriente e os lugares santos do domínio falso mulçumano. Porém, logo

deixaram de lado os ideais religiosos da Pax Dominus, dedicando-se mais nos

fins políticos e econômicos16.

Um episódio de terror medieval que não pode deixar de ser lembrado é a

Santa Inquisição, cujos julgamentos condenaram inúmeros inocentes à morte

acusados de feitiçaria17. O poder unilateral da igreja impunha seus dogmas e

princípios de forma contundente.

A conquista da América, ampliada pelos países ibéricos a partir do século

XVI18, ficou grifada pelo genocídio dos povos indígenas do novo mundo. Logo em

seguida, o modelo agro-exportador escravista implantou uma política de terror

sobre os povos cativos, nunca antes registrada com tamanha intensidade.

De acordo com os ensinamentos de Stelzer:

Por volta do século XVI, registraram-se mudanças positivas no âmbito da circulação de bens, ocasião na qual os mercadores obtiveram o reconhecimento da comunidade. Os ideais dos descobrimentos marítimos foram realizados, e a Igreja cedeu quanto às restrições impostas aos negócios

19.

Dessa feita aduz ainda Stelzer, com o surgimento dos primeiros Estados

modernos, desenvolveram-se os sentimentos nacionais, pois apenas uma nação

poderosa poderia promover exportações e acumular riquezas, conquistando

colônias, ganhando guerras e dominando rotas marítimas. O comércio de toda a

sorte de produtos ganhava acelerada projeção internacional.

sobre os acordos de comércio de mercadorias. Dissertação de mestrado, UFSC, Florianópolis. 2000. 16

Nesse momento da história, a Igreja Católica foi a grande perdedora, pois em ambos os lados, a religião institucionalizada não oferecia esperança e salvação contra a guerra. Após o fim das cruzadas os cidadãos passaram a confiar na proteção dos soberanos. Essa busca por amparo se tornou tão difundida que houve uma disputa dinástica e territorial que ficou conhecida como a Guerra dos Cem Anos. Surge o nacionalismo, que diferente dos outros períodos históricos, vê os cidadãos não-combatentes como parte da nação e estes deveriam lutar por elas. MAZETTO, Francisco de Assis Penteado. Artigo intitulado, História do Terrorismo. Disponível em: www.ufif.ed.br/defesa. Acesso em: 05. mar. 2008. 17

Dentre os vitimados mais famosos estão Joana d‟arc e Giordano Bruno. MAZETTO, Francisco de Assis Penteado. História do Terrorismo. p.05. 18

A Europa passava pelas guerras da reforma, na qual a utilização de idéias medievais aliadas às novas armas mostrou-se uma mistura letal. Esta também foi uma época marcada pelos saques promovidos por corsários em alto mar. O século XVII foi marcado pela Guerra dos Trinta Anos, o poder mudou de mãos e o protestanismo se fortaleceu na Europa. Em 1648, o Tratado de Westfália pôs fim à guerra. 19

STELZER, Joana. Mercado Europeu. p.35.

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A procrastinação das riquezas da América para a Europa estimulou o

nascimento da pirataria no Atlântico, formada por mercenários de vários países

europeus. Em grande parte, os métodos dos piratas se aconchegavam muito dos

terroristas modernos. A finalidade maior era pilhar os galeões espanhóis que

estavam carregados de ouro e prata extraído das colônias. Para isso, arrasavam

as vilas e cidades das colônias portuguesas e espanholas, locais de embarque da

preciosa carga 20.

O terrorismo contemporâneo sofre uma interpretação equivocada quando é

aproximado à guerrilha ou guerra de guerrilhas. Tal tipo de tática militar deve ou

deveria seguir convenções idênticas aos enormes conflitos armados. As

convenções de Genebra, iniciadas em 1864, forçaram os países signatários a

seguir suas normas quanto ao tratamento dos feridos e prisioneiros de guerra e,

notadamente, à proteção da população civil. Durante as guerras napoleônicas,

pelo menos nos moldes modernos, foi que surgiu a tática da guerrilha, antes

citada, como um movimento de resistência ao domínio francês.

No século XIX é que começa a surgir à violência que mais se aproxima do

terrorismo moderno. È a época dos anarquistas21, na qual também foi decisiva

para os colonizadores europeus, conforme será estudado mais detalhadamente

quando falar-se em Direito e Terrorismo, assim como para os Estados Unidos,

que já era uma potência colonizadora 22.

Segundo Caubet:

20

O lendário corsário inglês, Sir Francis Drake, personificou o que poderíamos chamar hoje de terrorismo de Estado. Comandou os saques à frota espanhola na América, apoiado por Elizabet I, e à própria costa da Espanha, dividindo o boletim entre a Coroa e seus mercenários. Desempenhou um papel importante na história, pois, com sua ação, quebrou o poder marítimo da Espanha, tornando a Inglaterra a nova senhora dos mares. MAZETTO, Francisco de Assis Penteado. História do Terrorismo. p.06. 21

Grupos que não apresentavam um ideal claro, os quais tinham a intenção de criar um ambiente de medo e instabilidade, que enfraquecesse a confiança do povo em seu governo. Tal definição do anarquismo é um início da formação da conceituação do terrorismo moderno. O grande diferencial entre o anarquismo e o terrorismo moderno como se conhece hoje, está nas armas que eram utilizadas naquele século. Eram armas rudimentares como facas, pistolas e bombas caseiras. Não que muitas dessas armas ainda não sejam utilizadas, mas o terrorismo moderno conta com novas tecnologias e em diversos momentos com o apoio do Estado, fato que não acontecia com os anarquistas. Disponível em: www.wikipédia.com. Acesso em 05.mar.2008. 22

Os britânicos se envolveram em três guerras na defesa de sua colônia na Índia. A Inglaterra acreditava que a Rússia tentaria invadir a sua colônia através do Afeganistão. No último combate, em 1879, a guerra foi motivada por um motim dos exércitos que eram tidos como aliados dos britânicos, que sofreram diversas vezes a força da guerra maltratar a seus civis. Disponível em: www.wikipédia.com. Acesso em 05. mar.2008.

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21

O termo terrorismo só passou a ser usado no mundo moderno após o advento da Revolução Francesa. A academia Francesa denominou de “período de terror” o regime político que vigorou na França entre setembro de 1793 a julho de 1794, responsável pela morte de dezessete mil pessoas.

Nesse mesmo século, conforme Herz foram estabelecidas às bases para

as práticas das organizações internacionais intergovernamentais e quando

surgiram as primeiras organizações não-governamentais internacionais23.

Chegando ao século XX, diversos foram os exemplos de guerras e

atrocidades contra civis. Esse foi o século dominado por conflitos internacionais

sem limites, terrorismo de Estado, os casos inomináveis foram colocados em

prática pelo regime nazista e stalinista. O ato final da II Guerra Mundial, o

bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki, não deixou de ser uma ação típica

do terror, procurando abreviar o conflito e poupar as tropas de ocupação de uma

batalha imprevisível. Diante de tais atos terroristas é que no pós-II Guerra

Mundial, no discurso político e nos estudos acadêmicos da escola norte-

americana das Relações Internacionais, surge o conceito de segurança 24.

Conforme Fernandes:

Trata-se de um conceito já por si de natureza polissêmica. É utilizado por diferentes autores, escolas e paradigmas, com conteúdos não inteiramente coincidentes e sua conceitualização tem implicações políticas e ideológicas

25.

23

HERZ, Mônica; HOFFMANN, Andréa Ribeiro. Organizações Internacionais: história e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, p.31. 24

Segundo Bilgin, Booth e Jones, a primeira referência ao conceito de segurança em documentos políticos oficiais dos EUA, aparece em 1947 no National Security Act. BILGIN,Pinar; BOOTH, Ken; JONES, Richard Wyn. Artigo intitulado, Teorias e Práticas de Segurança no século XX: Seqüência Histórica e Mudança Radical. 2001, p.133. 25 Na raiz de um conceito de segurança está à afirmação do Estado soberano westfaliano nos

séculos XVII e XVIII. Inicialmente, no pensamento liberal do século XVIII (Montesquieu, Adam Smith), a segurança é entendida como um bem individual, que, só podia ser alcançado por uma ação coletiva. Mas foi com a revolução francesa e a afirmação da soberania popular, que a segurança passou a centrar-se definitivamente no Estado e a ser encarada como um bem essencialmente coletivo (um bem da Nação) – concepção transpersonalisada de segurança. Esta afirmação da segurança estava em sintonia com as idéias dos contratualistas do século XVIII, como Rousseau, que entendiam que uma vez que o poder político competia ao Estado (por delegação dos seus cidadãos) não havia obrigação dos cidadãos providenciarem essa segurança. BRANDÃO, Ana Paula Lima Pinto de Oliveira Almeida. A Reconcetualização da Segurança e a Migração Internacional: A Abordagem Comunitária versus a Abordagem Nacional. Dissertação de Doutoramento em Ciência Política e Relações Internacionais. Universidade do Minho. 1999, p.58-61.

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22

Assim sendo, sem segurança adequada às células terroristas não podem

ser detectadas, monitoradas, penetradas e ou neutralizadas. Traduções de

manuais do AL Qaeda26 capturados, por exemplo, deixam claro que líderes

seniores da organização dão um alto valor à segurança, incluindo técnicas de

vigilância e contra vigilância. Para que essa segurança seja implantada, torna-se

necessário visualizar as características fundamentais do terrorismo.

1.2 O TERRORISMO: CARACTERÍSTICAS ELEMENTARES

Em razão da dificuldade de encontrar uma definição coerente para

terrorismo, muitos autores identificam os atos terroristas em seus elementos mais

característicos.

Para Fragoso:

Não existe definição específica para o delito de terrorismo, antes características que são comuns a todo ato terrorista. A primeira é o fato de causar dano considerável a pessoas e a coisas; a segunda, é a criação real ou potencial de terror ou intimidação generalizada; e por fim, a presença de uma finalidade político-social no ato.

O terrorismo apresenta algumas características substanciais. Primeiro, a

organização. O terrorismo, que não pode consistir em um ou mais atos isolados, é

a estratégia escolhida por um grupo ideologicamente homogêneo, que

desenvolve sua luta clandestinamente entre o povo para convencê-lo a recorrer a

ações demonstrativas que têm, em primeiro lugar, o papel de vingar as vítimas do

terror anterior e, em segundo lugar, de aterrorizar, mostrando como a capacidade

de atingir o centro do poder é o resultado de uma organização sólida e de uma

mais ampla possibilidade de ação, através de um número cada vez maior de

atentados.

Com a primeira característica apresentada, já se restringe o terrorismo aos

grupos clandestinos que lançam mão da violência como estratégia de luta. Com a

26

Al Quaeda é um grupo terrorista, fundado por Bin Laden, um provedor financeiro sub-estatal, num foco ideológico para grupos de um mesmo objetivo. De fato, alguns analistas retratam a organização como “nexus” do terrorismo global com conexão com quase todos os outros grupos terroristas. KIRAS, James D. Terrorism an Globalization. Disponível em: http://www.oup.com/uk/orc/. Acesso em: 05. abri. 2008.

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23

segunda característica, reconhece-se que a autoridade exerce o terror e que os

grupos clandestinos lançam mão do terrorismo para vingar e aterrorizar o terror

oficial. E, na última, apenas afirma a utilização de um número cada vez maior de

atentados como característica.

Infere-se, por intermédio das características apresentadas, que o Estado

utiliza o terror, e os grupos clandestinos o terrorismo. O primeiro é permitido e o

segundo deve ser reprimido.

O professor Mello27 entende que o terrorismo é imprevisível e arbitrário; a

vítima não tem meios de evitá-lo; é amoral no sentido de que não leva em

consideração argumentos humanitários.

O elemento comum, como antes citado, é a violência. Entretanto, a

variedade de características do terrorismo é grande, assim como as tentativas de

definição do termo. A tortura, por exemplo, pode perfeitamente ser enquadrada

em todas essas características. Ela é imprevisível e arbitrária, considerando que a

vítima não tem meios de evitar. Por fim, a tortura não leva em consideração os

argumentos humanitários 28.

Em resumo, violência física e psicológica, medo, dano material,

imprevisibilidade da realização do ato e violação dos direitos humanos são

características do terrorismo, desde que a motivação seja política.

Esses elementos são encontrados nas seguintes ações: uma bomba que

explode em um avião em pleno vôo, um assassinato de um chefe de Estado,

intoxicação do sistema de abastecimento de água de uma cidade populosa, etc.

Por outro lado, os mesmo elementos são encontrados: na tortura de um preso, na

pena de morte, na pena restritiva de liberdade, no desaparecimento forçado de

uma pessoa e numa guerra, por exemplo. A única diferença é que o Estado

pratica seus atos de violência com base na lei.

No entanto, a finalidade para o qual o uso da violência acima descrita é

usada e os motivos atrás disso é onde a maioria das discordâncias relativas ao

terrorismo, começam. Tradicionalmente, como se verá adiante, terrorismo tem

sido afastado dos atos criminais com base na sua legitimidade política.

27

MELLO, Celso D. Albuquerque. Direitos Humanos e Conflitos Armados. Rio de Janeiro: Renovar, 1997. 28

MAZETTO, Francisco de Assis Penteado. O terrorismo na história. p.08.

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24

Conforme alguns simpatizantes das causas terroristas, a violência

empreendida é o único caminho de chamar atenção para as situações e injustiças

de um específico grupo, em oposição a um individual. Com poucos recursos de

mudanças a não ser pela violência, alguns observam o terrorismo como métodos

aceitáveis de corrigir uma injustiça enquanto outros como atos egrégios.

Historicamente, como visto, tais causas são de ordem ideológica, étnica,

exclusão, religiosa ou perseguição 29.

Ocorre que tais critérios, os quais apelam para toda aplicação da força, tem

se expandido para a inclusão de justa causa, proporcional ao uso da violência e o

uso de força com último recurso.

Realistas opinam que a política de violência empregada pelos grupos

terroristas é ilegítima, fundamentados em que estados separados tem o

monopólio de uso legítimo da força física. Porém, tem como olhar o uso da

violência pelos Estados que é o desacordo sobre o que compõe a aplicação

legítima das forças armadas. Por exemplo, a Líbia patrocina grupos terroristas

como método de resposta aos Estados Unidos, França e Inglaterra. Aqueles

Estados em resposta coordenam o apoio da Líbia contra as normas

internacionais, e eles contestam com sanções cortês internacionais e ocasionais

uso de forças.

Tudo isso porque com a expansão das viagens aéreas, a vasta viabilidade

da cobertura televisiva, ampla política e interesses ideológicos em comum,

fizeram com que houvesse um crescimento do terrorismo local e em

conseqüência um fenômeno regional para uma ameaça internacional.

Tais viagens aéreas permitiram aos terroristas uma modalidade sem

precedentes. Anterior à implementação do controle de passaportes, terroristas

podiam viajar livremente entre países e regiões30. As viagens aéreas também

seduziam os terroristas por outra razão. As medidas de segurança nos aeroportos

eram quase inexistentes, quando iniciaram os ataques aéreos terroristas. Tais

29

PONTAROLLI, André Luis. Artigo intitulado, Violência e Terrorismo. Disponível em:

http://www.direitonet.com.br/textos. Acesso em 04. abri. 2008. 30

Por exemplo, terroristas da Armada Vermelha Japonesa podiam treinar num país e conduzir operações metade do mundo afora, como eles fizeram em Lod Airport num ataque suicida em Israel em 1972. BARBOSA, Rubens Antonio. Artigo intitulado, Os EUA pós 11 de Setembro de 2001: Implicações para a Ordem Mundial e para o Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional. 2002. vol.45.

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25

assaltantes como são tradicionalmente denominados, serviam bem aos

propósitos dos terroristas. Assaltar aeronaves proporcionava um grau de proteção

e segurança para os terroristas envolvidos, e os Estados a princípio cediam às

demandas dos terroristas, as quais encorajavam posteriores incidentes.

Como conseqüência, tais incidentes tiveram um aumento célere. Ideologias

políticas divididas estimularam cooperação e transferências limitadas entre grupos

diversos, além da permuta técnica e experiência técnica, os grupos exigiam a

liberdade de prisioneiros jovens revolucionários em diferentes países, dando a

impressão de uma malhar coordenada de terroristas.

A cobertura televisiva tem um papel de aumentar a audiência que provoca

o terrorismo em seus próprios países31. Todavia, grupos terroristas descobriram

que repórteres e audiências perderam o interesse em repetir performances do

mesmo incidente, por isso alguns grupos tentaram adquirir ou usar armas de

destruição em massa, incluindo nuclear, química e armas biológicas para conduzir

o maior ataque revoltante imaginável, conforme se verá no item 11 de setembro.

Diante dos inúmeros insucessos do combate ao ódio, principalmente ao

terror da fome, ao terror da corrupção, ao terror das desigualdades, a análise do

generalizado aumento dos conflitos nas relações internacionais precisa ir além

das conveniências dos paradigmas aplicados pelas diplomacias das grandes

potências e das que giram em sua órbita.

Conforme Argemiro Procópio32:

A imprensa internacional, tanto a falada quanto a escrita, geralmente capta o que julga valer aos seus interesses. Raramente sugere políticas públicas em favor da pacífica solução das controvérsias. Controvérsias igualmente sopradoras do terror. Justiça é a única saída capaz de atenuar a patologia sustentáculo do terror.

Dessarte houve uma necessidade de coadunar-se o

terrorismo com o direito.

31

Seres que nunca tinham ouvido falar na condição dos Palestinos vieram a ser conscientes da questão após incidentes como o triplo ataques e explosão das aerolinhas pela Frente Popular da Liberdade da Palestina (PFLP) em setembro de 1970, ou ao vivo a cobertura dos reféns, conduzido pelo setembro negro durante 1972 nas Olimpíadas em Munique. BARBOSA, Rubens Antonio. Os EUA pós 11 de Setembro de 2001. 32

PROCOPIO, Argemiro. Artigo intitulado, Terrorismo e Relações Internacionais. Revista Brasileira Política Internacional. 2001, p.61-82.

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26

1.3 O DIREITO E O TERRORISMO

Desde que o homem inventou as primeiras ferramentas, já percebeu que

este utensílio poderia ser transmitido em um objeto capaz de causar ferimentos a

outrem. Dessa forma, essa noção passou a ser empregada como um forte

mecanismo de poder no choque de interesses inter-pessoais.

De acordo com Ferreira33:

Essa constante instabilidade inerente às relações sociais, também causou reflexos no plano internacional. Os Estados-Nações, ao serem criados depararam-se com um quase estado natureza, que passou a ser sustentado por um frágil equilíbrio de forças. A história da humanidade é marcada, indubitavelmente, pela constância dos conflitos internacionais. Não existi uma paz duradoura que é subjugada por um novo conflito, e sim uma sucessão de conflitos que são intercalados por períodos de paz.

O enquadramento jurídico da sociedade internacional torna-se necessidade

e implica a compreensão do Direito Internacional, que existe antes do advento do

Estado moderno. O conhecimento de sociedade internacional surge em 1815 no

Congresso de Viena, todavia a existência de um direito que disciplinava as

relações entre Estados, remonta da Antigüidade.

Na Antigüidade, o direito natural (jus naturae)34 baseava o direito

internacional no que tange às relações entre os Estados. Também foi na

Antigüidade que brotaram os primeiros textos solenes ou acordos entre

governantes.

O Estado Romano exerceu forte influência sobre a formação do Direito

internacional. Roma foi o primeiro Estado a desenvolver regras precisas, de

ordem interna, para regular suas relações com outros países. Havia um corpo de

regras que normatizava as relações entre os cidadãos romanos e estrangeiros –

era o jus gentium. Nessa época havia fortes traços do direito natural tanto no

corpus juris civile romano, quanto no jus genitum, que era o direito costumeiro

33

FERREIRA, Luciano Vaz. Da Juridicidade da Legitima Defesa na Globalização do Terror. Dissertação de Mestrado. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo. 2007. Disponível em: http://bdtd.unisinos.br/arquivos. Acesso em: 05.abri.2008. 34

MARCO, Carla Fernanda de. Os novos desafios do Direito internacional face o Terrorismo. Disponível em: http://www.mundojuridico.adv.br/. Acesso em: 05.abri.2008.

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aplicável nas relações entre romanos com estrangeiros. Com o tempo, nascem os

princípios gerais do Direito internacional, como a autodeterminação dos povos e a

cooperação internacional.

Na Idade Média, impera o Direito Canônico, há alguns tratados

internacionais carentes de obrigatoriedade; a arbitragem procura regular as

diferenças entre as nações.

Dessa forma, na Europa, o terrorismo passou a ser disciplinado pelo direito

a partir dos movimentos anarquistas, o qual nos reporta ao falar-se do surgimento

da violência, do final do século XIX e início do século XX. Na Inglaterra, em 1883,

foi editado o Explosive Substance Act35, que punia o indivíduo ou grupo de

pessoas que causassem explosão, colocando em perigo a vida ou a propriedade.

Na Alemanha, em 1884, criou-se a lei contra o uso criminoso e provocador de

perigo comum de substâncias explosivas. As penas eram severas e a provocação

ou apologia das práticas tipificadas eram também punidas.

Influenciados pela Inglaterra e pela Alemanha, quase todos os grandes

Estados europeus criaram leis contra o terrorismo. Áustria (1885); Dinamarca

(1886); Bélgica (1886, 1887, 1891); França (1892, 1893); Espanha (1894); Suíça

(1894) , Itália (1894).

O século XIX foi marcado pela acentuação das desigualdades econômicas

entre a classe operária e a burguesia. As revoluções burguesas ocorridas em toda

a Europa não garantiram as liberdades pretendidas pela maioria do povo. Por

outro lado, a revolução industrial, embora tivesse proporcionado imenso

crescimento econômico aos grandes Estados europeus, teve como principal

conseqüência o surgimento de uma nova sociedade, em que o contraste entre o

pequeno número de proprietários e a imensa maioria de trabalhadores

assalariados era cada vez mais evidente e insuportável36.

35

È uma lei aprovada pelo Reino Unido Parlamento. Ela torna ilegal a utilização- ou conspirar- ou a intenção de usar-qualquer substância explosiva de provocar uma explosão susceptível de por em perigo à vida ou causar um grave prejuízo a propriedade, quer sejam ou não vier a ocorrer explosão. Uma pessoa culpada de infração nos termos dessa lei é passível de prisão a vida. Segundo esta lei, é também um delito, sujeito a penas de prisão por dois anos, a possuir explosivos sob circunstâncias suspeitas, que é onde você não pode explicar porque é que você tem os mesmo. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Explosive_Substances_Act_1883. Acesso em 11. mai.2008. 36

HERZ, Mônica; HOFFMANN, Andréa Ribeiro. Organizações Internacionais. p.34.

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Para os anarquistas, essas desigualdades tinham como causa principal a

estrutura política de poder por meio da qual se organizava a sociedade européia.

O Estado servia exclusivamente para assegurar o poder à burguesia. Para o

anarquismo, que rejeitava toda forma de autoridade, o Estado, órgão repressivo

por excelência, deveria ser destruído. Este não está apenas na raiz de todo o mal

social, é também o criador da ordem econômica existente e do capitalismo

moderno.

Parte da teoria anarquista defendia a violência e a revolução como formas

de atingir o seu objetivo. Todavia, a violência seria apenas o instrumento

necessário de transformação da sociedade37. Os anarquistas entendiam que

vários meios poderiam ser utilizados para alterar o sistema de poder. Um deles

seria a educação libertária, a construção de um sistema de educação

desvinculado da ideologia da sociedade repressiva. Um sistema educacional

capaz de contribuir para a criação do homem livre, sem constrangimento espiritual

e, principalmente, sem os condicionamentos da sociedade capitalista, entendida

como perversa. O Estado não poderia conviver com os movimentos anarquistas.

O seu grau de insubordinação e uso da violência significava uma grande ameaça

ao sistema político vigente. Assim, leis foram criadas com objetivo específico de

reprimir ao máximo toda e qualquer atividade com propósitos anarquistas.

Assim sendo, aduz Guillaume38:

Nos dias atuais o enfoque jurídico do terrorismo é, talvez, mais controverso que os enfoques político e sociológico, bastando dizer que não existe um único texto ou resolução que o tipifique de forma abrangente, mas apenas tentativas pouco consistentes nos planos global e hemisférico.

Nesse sentido, foram as 12 convenções internacionais e 8 regionais

referentes a atos pontuais como a Convenção para a Repressão a Atentados

Terroristas com o Emprego de Explosivos, a Convenção das Nações Unidas para

a Repressão do Financiamento do Terrorismo de 1999, a Convenção

Interamericana contra o Terrorismo, entre outras. Na esfera do Direito

37 Proudhon, um dos primeiros teóricos do anarquismo, por exemplo, afirmava que a propriedade é um roubo e preconizava a criação de uma sociedade de camponeses e artesãos independentes, submetidos a um sistema de crédito mútuo, financiado por bancos populares. 38

GUILLAUME, Gilbert. Terrorismo e Justiça Internacional. In: BRANT, Leonardo Nemer Caldeira. (coordenador). O Brasil e os novos desafios do direito internacional. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 28-29.

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Internacional, tem-se a desajeitada situação em que é anunciado o combate a

uma série de atos terroristas pontuais e a consagração da reprovabilidade e

delituosidade do terrorismo, sem que se defina ou mesmo o tipifique.

Em conseqüência cita Pellet39:

Depois de atentados de grandes proporções e comoção internacional, costuma-se discutir a adoção de uma convenção abrangente sobre o tema. Tem-se como exemplo o assassinato em Marselha do Rei Alexandre I da Iugoslávia e do Ministro Francês Louis Barthou em 1934, primeiro acontecimento noticiado em todo o mundo como terrorismo internacional.

Depois desse episódio, a Sociedade das Nações chegou a enviar uma

Convenção para a Prevenção e Repressão ao Terrorismo, a qual se restringiu a

definir o terrorismo como atos dirigidos contra o Estado e não chegou a propor

medidas efetivas de repressão internacional.

Sobre a Convenção supracitada leciona Brant40:

Esta Convenção, que nunca entrou em vigor, enumerava os crimes e limitava a tipificação terrorista unicamente aos fatos cometidos contra Estados. O terrorismo foi então definido como fatos criminosos dirigidos contra um Estado e cujos fins ou natureza consiste em provocar o terror em pessoas determinadas, grupos de pessoas ou no público de forma geral.

A Carta das Nações Unidas, suas convenções e declarações precursoras

como a Declaração Universal dos Direitos do Homem, sequer mencionam o termo

terrorismo. Também em acordos multilaterais estabelecidos fora da organização

depois da Segunda Guerra Mundial, pouco se debateu sobre o tema, uma vez

que as atenções da sociedade internacional se voltavam para o conflito leste-

oeste. O art. 33 da IV Convenção de Genebra de 1949 chega a condenar

medidas de terrorismo nos conflitos armados internacionais, o qual abrange a

guerra interestatal (art. 1.3 do I Protocolo Adicional às Convenções de Genebra

de 1949) e os movimentos de resistência à discriminação racial e o emprego da

39

PELLET, Sarah. A ambigüidade da noção de terrorismo. In: BRANT, Leonardo Nemer Caldeira (coordenador) Terrorismo e direito: os impactos do terrorismo na comunidade internacional e no Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 11. 40

BRANT, Leonardo Nemer C; LASMAR, Jorge Mascarenhas. O Direito Internacional e o terrorismo internacional: novos desafios à construção da paz. In: BRIGAGÃO, Clóvis; DOMÍCIO, Proença Jr. (org.). Paz & Terrorismo. São Paulo: Hucitec., 2004, p. 184.

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força por parte de um povo no exercício da sua autodeterminação (art. 1.4 do I

Protocolo Adicional). Em 1977 o art. 4.2.d do II Protocolo Adicional às

Convenções de Genebra de 1949 estenderia esta vedação aos conflitos não-

internacionais. Em nenhum dos dispositivos aqui mencionados, porém, faz-se

uma definição do que seja medida de terrorismo.

Fato é que o grande número de convenções que procuram definir o

terrorismo e criar instrumentos para o seu combate, e a grande adesão dos

Estados, eliminam quaisquer dúvidas sobre uma opinio juris em relação ao dever

de se envidar esforços para preveni-lo.

Nesse raciocínio coaduna o autor supracitado, que o terrorismo

caracteriza-se, pois, como um delito hostis humanis generis, situando-se entre os

mais repudiáveis crimes internacionais41.

Apesar de não estar previsto no Estatuto do Tribunal Penal Internacional,

pode-se considerar o terrorismo como espécie do gênero crimes contra a

humanidade, inserindo-se na previsão genérica da alínea k do art. 7.1 do Estatuto

de Roma – outros atos desumanos de caráter (...) que causem intencionalmente

grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou

mental.

Aduz Dias em sua tese de doutorado42:

41 Entre as principais convenções internacionais para a repressão e prevenção de atos terroristas

pode-se citar as seguintes: Convention on the High Seas, Apr. 29, 1958; United Nations Convention on Law of the Sea, Dec. 10, 1982, 21 I.L.M. l261; Convention for the Suppression of Unlawful Acts Against the Safety of Maritime Navigation, Mar. 10, 1988; Protocol for the Suppression of Unlawful Acts Against the Safety of Fixed Platforms Located on the Continental Shelf, l0 Mar. l988; Convention on Offences and Certain Other Acts Committed on Board Aircraft, Sept. 14, 1963; Convention for the Suppression of Unlawful Seizure of Aircrafts (Hijacking Convention), Dec. 16, 1970; Convention on the Prohibition of the Development, Production, Stockpiling and Use of Chemical Weapons and on their Destruction (CWC Convention), Jan. 13, 1993, 32; Convention for the Suppression of the Financing of Terrorism (Terrorism Financing Convention); U.N. Doc. 9 Dec. l999; Convention for the Suppression of Unlawful Acts Against the Safety of Civil Aviation, Jan. 26, 1973; Protocol for the Suppression of Unlawful Acts of Violence at Airports Serving Civil Aviation (Montreal Protocol), Jan. 12, 1988, 27; Convention on the Prevention and Punishment of Crimes Against Internationally Protected Persons, Including Diplomatic Agents (Diplomats Convention), Dec. 14, 1973;Convention Against the Taking of Hostages (Hostage-Taking Convention), Dec. 17, 1979; Convention on the Safety of United Nations and Associated Personnel (U.N. Personnel Convention);Convention on the Marking of Plastic Explosives for the Purpose of Detection, Mar. 1, 1991; Convention for the Suppression of Terrorist Bombings (Terrorist Bombing Convention), U.N. Doc. 9 Jan. 1998). CERQUEIRA, Daniel Lopes. Tratamento do Terrorismo pelo Aparato Normativo Internacional. Disponível em: www.jusnavigandi.com.br Acesso em: 11. mai. 2008.

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Dessas circunstâncias, a decisiva é a medida de segurança que as instituições sociais conseguem promover ao indivíduo: numa sociedade cujas instituições – a polícia, por exemplo – sejam razoavelmente capazes de impedir a prática de violência.

Por fim, ainda que contestável e lacunosa a sua análise em face do Direito

Internacional, pode-se dizer que, qualquer que seja sua motivação, trata-se de

uma conduta ilícita 43 e sua repressão é uma obrigação internacional de natureza

erga omnes, pois não há dúvidas de que todos os Estados têm um interesse

jurídico nesse sentido44.

1.4 OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (EUA) E O FENÔMENO DO

TERRORISMO

Os Estados Unidos tiveram a sua colonização iniciada em 1857, após a

chegada da primeira expedição inglesa autorizada pela Rainha Elizabeth I. Os

colonizadores ingleses notaram em sua chegada, que o território já era

habitado. Como é visto na história das três Américas, a área era ocupada pelos

indígenas nativos, considerados selvagens pelos europeus.

A colonização inglesa na América do Norte deixou a população indígena à

margem do desenvolvimento local. Além dessa exclusão, os índios sofreram forte

violência. Marcados por massacres com requintes de crueldade, também foram

expostos às doenças provenientes da Europa. Como desconheciam as mazelas

que assolavam sua população, não podiam utilizar os métodos de cura que

conheciam. Esses fatos contribuíram para a morte dos primeiros habitantes

americanos. Durante séculos de colonização, os Estados Unidos da América

passaram por diversos conflitos, com indígenas a favor da independência da

Inglaterra. Outras tantas guerras atingiram sobremaneira a população civil. O

clima beligerante que predominava na época, contribuiu para o fortalecimento da

então colônia britânica. Mas os sucessivos enfrentamentos e conseqüentes

42

DIAS, Caio Gracco Pinheiro. Contra a Doutrina Bush, Preempção, Prevenção e Direito Internacional. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. Faculdade de Direito, Janeiro. 2007. 43

Na doutrina penal mais moderna, considera-se crime a conduta ilícita, típica e culpável. Sendo o terrorismo uma conduta ilícita, faltaria para ser considerado um crime internacional, sua tipificação por algum Tratado, sendo a culpabilidade aferida no caso concreto. 44

BRANT, Leonardo Nemer C; LASMAR, Jorge Mascarenhas. Paz & Terrorismo. p. 190.

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vitórias, cominaram com a transmutação dos Estados Unidos da América de

colônia para uma potência colonizadora.

Conforme Fichou45:

O expansionismo americano pode ser explicado pelo darwinismo social, que esclarece o comportamento estadunidense perante as outras nações. Essa teoria também contempla a visão de que os EUA teriam maior aptidão para conduzir a luta na selva universal.

A Revolução Americana representou uma revolta não apenas contra um

poder colonial específico, o britânico, mas também uma rejeição aos princípios

organizacionais e políticos deste poder.

Esse pensamento pode ter dado início à postura política que os EUA

adotaram em relação aos outros países.

Dessa forma, em um primeiro momento, o Estado americano do século XIX

pode ser caracterizado como um Estado qualquer: sustentou uma ordem legal em

todo o terrítorio do país, fez guerras, dominou novos territórios, manteve relações

diplomáticas com outros países, incorporou novos estados à União e incentivou o

desenvolvimento econômico. Todavia, sob diversos aspectos, organizou-se de

forma bastante peculiar.

No que pertine às relações internacionais deste século, ressalva Herz, que:

Durante o século XIX, surgiu um número grande de organizações funcionais, ou uniões públicas internacionais, como eram chamadas então.As transformações econômicas, a assunção de maiores responsabilidades econômicas e sociais pelos Estados e o desenvolvimento tecnológico foram os fatores mais relevantes que contribuíram para esse fenômeno. Criava-se um novo campo de atuação dos Estados na esfera internacional

46.

Isso porque, organizações não-governamentais internacionais proliferaram

a partir da percepção da existência de questões universais, como a paz e os

problemas sociais, devido às guerras existentes. São associações privadas

45

FICHOU, J. P. A civilização americana. Tradução de Maria Carolina F. de Castilho Pires. Campinas. São Paulo: Papirus, 1990, p.106. 46

Herz, Mônica. Organizações Internacionais. p.35.

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internacionais com objetivos humanitários, religiosos, econômicos, educacionais,

científicos e políticos. Surge então a Liga das Nações47.

O século XX foi palco para muitas demonstrações de intervenção e

dominação pela força estadunidense, nos mais diversos países em todos os

continentes. Sua participação ocorreu de forma diversificada em guerras e

atividades militares, com vistas ao poder político. Mas, os EUA também sofreu

ataques.

Segundo Carr:

Winston Churchill foi o mentor intelectual do ataque alemão aos navios mercantis dos EUA. O lorde britânico tramou para que os submarinos atacassem os navios americanos, sendo que o naufrágio do navio de passageiros Lusitânia motivou a participação dos EUA na guerra, até então neutro. O contra-ataque promovido pelos americanos deixou clara a força do seu poderio militar

48.

Não somente pela demonstração de força, a Primeira Guerra Mundial é

um marco que se refere ao terrorismo. Foi o ponto de partida para o surgimento

do primeiro Estado patrocinador do terror; uma “escola” para os que desejavam

aprender essas táticas. A Rússia, após ter o seu sistema czarista arruinado,

abriu as portas para a nova opressão violenta e patrocinada peio governo: o

bolchevismo49.

47

A criação da Liga das Nações, ao final da primeira Guerra, foi um evento de fundamental importância, muito embora a organização tenha entrado para história como um ícone de insucesso, tendo sua vida útil terminada com a violência que se espalhou pela Europa nos anos 30. Tratava-se da primeira organização internacional universal voltada para a ordenação das relações internacionais a partir de um conjunto de princípios, procedimentos e regras, claramente definidos. Herz, Mônica. Organizações Internacionais. p. 36-37. 48

Carr afirma que nunca houvera uma demonstração mais evidente de que a linha entre a guerra convencional e a tática de ataque deliberado e maus-tratos contra civis, com objetrvos políticos – terrorismo – começara a se tornar indistinta na única parte do mundo que um dia havia se esforçado para manter esse binômio separado. CARR, C. A assustadora história do terrorismo. p.32. 49

A Revolução Russa de 1917 foi um dos acontecimentos mais importantes da história do século

XX. Ela foi o produto de um amplo processo histórico. A Revolução de 1905 foi a primeira grande mobilização operária e que faria nascer os conselhos operários que reapareceriam em 1917. A Rússia era um país de população camponesa, cerca de 70% da população total, e que ainda possuía no seu interior relações de produção pré-capitalistas, mas com um processo acelerado de industrialização, concentrada em alguns grandes centros industriais. A Revolução Bolchevique foi o processo derivado da ascensão das lutas operárias e camponesas no que realizaram a chamada "Revolução de Fevereiro", reinstituindo os conselhos operários. Após a Revolução de Fevereiro, se instalou uma dualidade de poderes,no qual havia, por um lado, o Estado Czarista, representando a classe dominante, e, por outro, os conselhos operários e de soldados, representando a população trabalhadora. Este processo durou até outubro, que é quando ocorre a chamada "Revolução Bolchevique", na qual o Partido Bolchevique assume o poder estatal. Este processo de tomada do poder do Estado pelo Partido Bolchevique é interpretado pelas mais

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O Estado russo, com Vladimir Lênin à frente do poder, posteriormente

aclamado de o Grão-Sacerdote do Terror, viu a prática do terror como uma forma

de repressão. Essa mesma prática foi sua glória, mas, também sua ruína. O

crescimento da violência repressiva promoveu a queda de sua própria dinastia.

Antes dessa derrocada, a Rússia já era um local que os anti-capitalistas e anti-

ocidentais poderiam ser treinados fisicamente e mentalmente, e obteriam

armamento para as campanhas terroristas e de guerrilha. Mesmo após a Era

Lênin, os paradigmas de terrorismo continuaram sendo motivo de tormento

para o povo russo.

Na Segunda Guerra Mundial, mais uma vez os EUA mostraram seu poder

militar, acima descrito. Eles foram os responsáveis por um dos atentados mais

forte contra civis da história, quando utilizaram a bomba atômica no Japão, em

1945, nas cidades de Nagasaki e Hiroshima, matando milhões de pessoas e

deixando tantas outras com seqüelas para a vida toda50. A detonação da Little

Boy (Garotinho), em Hiroshima, em 6 de agosto de 1945; e, da Fat Man (Homem

Gordo), em Nagasaki, em 9 de agosto desse mesmo ano, podem ser

considerados um dos atos mais fortes cometidos contra civis do século XX.

Frize-se que o início do século XX é um momento histórico em que a crença

na conciliação, mediação ou arbitragem51, como formas pacíficas de resolução dos

conflitos internacionais, adquire raízes e se institucionaliza.

Os EUA saíram mais uma vez vitoriosos da guerra e tentaram tomar para

si o ofício de líder mundial, pois estavam no ápice de seu poder. Mas, o fim da

Segunda Guerra fez com que emergisse mais uma superpotência mundial. O

variadas formas. Para alguns, como o marxista dissidente Jan Waclaw Makhaisky, atuante naquela época, tratou-se de um golpe de Estado e não uma revolução dos trabalhadores. Esta teoria seria defendida por várias tendências políticas de esquerda não-bolchevista e alguns historiadores. Para outros, os adeptos e seguidores do bolchevismo, a tomada do poder, significou a implantação do socialismo na Rússia. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/RevolBolchevique. Acesso em 12. mai. 2008. 50

Segundo Scowen, os EUA alegaram que era um ato adequado de justiça contra o inimigo cruel

que varrera centenas de soldados estadunidenses no ataque traiçoeiro do Pearl Harbor. Os EUA tinham ciência de que as bombas matariam principalmente civis e era isso que queriam. PETER, Scowen. O livro Negro dos EUA. Tradução de Maria Beatriz de Medina. Record: Rio de Janeiro, 2003, p.45. 51

Conciliação é quando se forma uma comissão de conciliação para ajudar as partes a solucionar a disputa ou a controvérsia. Mediação é quando uma terceira parte propõe soluções para uma disputa ou controvérsia, que as partes podem escolher aceitar. Arbitragem é quando uma terceira parte fornece uma solução para o conflito que as partes devem aceitar através de um mecanismo ad hoc. Herz, Mônica. Organizações Internacionais. p.36.

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mundo passou a ser divido em capitalista, representado pelos EUA, e socialista,

representado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Essas

duas potências passaram a disputar o aumento de suas áreas de influência, em

busca da hegemonia mundial52.

No caso de o EUA, esses procuram evitar a propagação das idéias

socialistas na Europa Ocidental e no Japão, em especial na América do Sul. Para

tanto, apoiaram ditaduras militares de direita que usaram o terror de Estado para

impedir o avanço anti-capitalista soviético. Esse período ficou conhecido como

Guerra Fria, que terminou apenas em 1989, com o desaparecimento do Pacto

de Varsóvia e causaria, em 1991, o abalo da URSS e os equilíbrios estratégicos

mundiais.

Durante a Guerra Fria é possível perceber a influência estadunidense em

diversas partes do mundo. Pode-se citar o Irã em 1953, que teve o apoio dos EUA

para derrubar o governo de Mohammend Mossadeq, que nacionalizou o petróleo.

O governo iraniano passou primeiro por pressões econômicas, posteriormente

financiando movimentos anti-governo com equipamentos dos EUA, fazendo com

que o governante fosse expulso53. Outro inimigo histórico dos EUA é Cuba, que

desde o início da Guerra Fria sofreu os mais diversos golpes, visando

desestabilizar o governo socialista do país. O regime mantém-se até hoje, sendo

que Cuba sobre um fortíssimo embargo patrocinado pelo EUA.

Conforme Herz:

O final da Guerra Fria trouxe consigo o crescimento do número de países que compões as OIGs e um otimismo inicial sobre o papel dessas, deflagrado com a intervenção no Iraque em 1991, sob a bandeira da ONU, e a Conferência sobre o Meio Ambiente no Rio de Janeiro em 1992.

52

Conforme Sutti e Ricardo a URSS apoiava e financiava o movimento de esquerda de países, países pobres e partidos comunistas, como no caso da China que se tornou comunista em 1949. Posteriormente, a China romperia com a URSS e formularia seu próprio comunismo. SUTTI, P; RICARDO, S. As Diversas Faces do Terrorismo. Sâo Paulo: Harbra., 2003, p. 42. 53

Segundo lanni. a ação contra o governo da Guatemala constitui um dos primeiros triunfos da CIA na derrubada de governos. O golpe ocorreu em 1954. O Presidente Arbenz tentou um programa de reforma agrária, causando a oposição de diversas classes que, apoiados pelos EUA, providenciaram o golpe de Estado. IANNI, Octavio. Sociologia do Terrorismo. IN: DOWBOR, L; IANNI, O.; ANTAS JR., R. M. (org). Estados Unidos: a Supremacia Contestada. São Paulo: Cortez., 2003.

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Assim sendo, o novo ativismo da ONU54 e de suas agências foi uma

característica marcante do pós-guerra fria. O processo decisório no Conselho de

Segurança foi descongelado, e a organização foi chamada a exercer um papel

central na administração da segurança internacional.

Durante todo o século XX, o mundo deparou-se com diversos momentos

de guerras e conflitos. O ataque a civis passou a ser o principal objetivo de

diversos grupos de guerrilha separatista em todo o mundo. Dentre esses grupos

pode-se citar os exemplos do ETA55 na Espanha, o IRA56 na Irlanda, e

principalmente, os diversos grupos rebeldes no Oriente Médio, como o

Resbolah.

Todavia, torna-se necessário frizar que o grupo mais importante, é a Al

Qaeda.57

54 Em 10 de dezembro de 1945, foi fundada a Organização das Nações Unidas, que possui a

invejável finalidade de promover a paz e a segurança mundiais e instituir entre as nações uma cooperação econômica, social e cultural. Contudo, sua fundação por si só e os trabalhos incessantes de seus membros, não foram suficientes para resolver o problema dos conflitos armados entre os Estados. SILVA, Cleuton Barrachi. O Conselho De Segurança Da ONU:

Definição, Finalidade, Membros e Estrutura. Disponível em: http://www.advogado.adv.br/artigos/. Acesso em: 26. mai. 2008. 55 O grupo terrorista ETA (Euskadi Ta Askatasuna ou Pátria Basca e Liberdade) nasceu como um

pequeno movimento de luta pela independência basca, esse movimento teve seu inicio dentro dos movimentos católicos e eclesiásticos, dentro dos seminários, igrejas e os conventos do País Basco. Já o chamado “braço armado” do ETA surge como um instrumento circunstancial de pressão contra a repressão sofrida pelos habitantes do País Basco durante o franquismo. Porém o braço armado da organização se tornou poderoso e independente da representação política do movimento. SOBRAL, Tiago. Terrorismo e mídia: discursos e enquadramentos presentes na cobertura da Folha de São Paulo. Disponível em: http://reposcom.portcom.intercom.org.br. Acesso em: 26. mai. 2008. 56

IRA (Exército Republicano Irlandês) - organização terrorista católica da Irlanda do Norte, que começou a atuar nos anos 60. A Irlanda do Norte tem maioria de protestantes. Os unionistas protestantes (60% da população) querem que a região continue ligada ao Reino Unido, mas os nacionalistas católicos querem a reunificação com a república da Irlanda, um país de maioria católica. Disponível em: www.wikipédia.com. Acesso em 05.mar.2008. 57

A Comissão Nacional sobre Ataques Terroristas nos Estados Unidos (Comissão 9/11) diz que a

Al-Qaeda é responsável por um grande número de ataques violentos e de alto nível contra civis, alvos militares e instituições comerciais pelo mundo. O relatório da comissão atribuiu os ataques de 11 de Setembro de 2001 ao World Trade Center em Nova Iorque, ao Pentágono em Arlington e ao vôo 93 na Pensilvânia à Al-Qaeda. As origens do grupo podem ser traçadas a partir da invasão soviética ao Afeganistão, na qual vários não-afegãos, lutadores árabes se uniram ao movimento anti-russo formado pelos Estados Unidos e Paquistão. Osama Bin Laden, membro de uma abastada e proeminente família árabe-saudita, liderou um grupo informal que se tornou uma grande agência de levantamento de fundos e recrutamento para a causa afegã. Esse grupo canalizou combatentes islâmicos para o conflito, distribuiu dinheiro e forneceu logística e recursos, para as forças de guerra e para os refugiados afegãos. Depois da retirada soviética do Afeganistão em 1989, vários veteranos da guerra desejaram lutar novamente pelas causas islâmicas. A invasão e ocupação do Kuwait pelo Iraque em 1990 levou o governo estado-unidense à decidir enviar suas tropas em coligação para a Arábia Saudita, com o suposto intuito de expulsar as forças iraquianas daquele país. A Al-Qaeda era fortemente contra o regime de Saddam

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Os constantes conflitos na Terra Santa, devem-se ao fato da presença

judaica nesse território. Durante a Segunda Guerra Mundial, o assassinato de seis

milhões de judeus fez com que surgisse apoio internacional para a criação de

um Estado judeu. Esse Estado foi criado a partir da divisão da Palestina em dois

territórios, transformando-o em dois Estados distintos, um judeu e outro

palestino, fato votado e aprovado pela ONU em 29 de novembro de 1947.

Nessa partilha, não houve a consulta dos árabes-palestinos.

Em 14 de maio de 1948, Bem Gurion anunciou a fundação do Estado de

Israel, tornando-se o primeiro-ministro. No dia seguinte, cinco Estados árabes

liderados por governos arcaicos e demagógicos declaram guerra à Israel que,

contudo, os venceu e aumentou as suas fronteiras. Em 1949, após a vitória, o

governo israelense aprovou a lei que garantia o retorno de judeus de todo o

mundo e o direito à cidadania israelense. Em 1956, Ganak Abdel Nassar,

ditador egípcio, contando com o apoio da URSS, declarou que o Canal de Suez

seria utilizado em seu propósito. Esse canal era de fundamental importância para

os ocidentais. Israel, apoiada pela Grã-Bretanha e França, iniciou uma guerra

atacando o Egito e a Faixa de Gaza. Diversas forças internacionais se

mobilizaram, incluindo os EUA.

Desde a década de 60, os EUA já apoiavam Israel financeiramente e

militarmente. Também contava como poderoso apoio da comunidade judaica

instalada nos EUA, que era formada por refugiados dos horrores da Segunda

Guerra Mundial. Essa aliança era estratégica, visto que a localização geográfica

de Israel era na maior área produtora de petróleo no mundo.

Em contra partida, a URSS apoiava o Egito, Síria e Jordânia. Em 1967,

mais uma vez os egípcios avançaram contra Israel e foram vencidos. Em apenas

seis dias, os israelenses anexaram a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as colinas

Hussein, Saddam era acusado pelos fundamentalistas muçulmanos de ter tornado o Iraque um Estado laico. Bin Laden ofereceu os serviços dos seus combatentes ao trono saudita, mas a presença de forças "infiéis" em território islâmico sagrado - era uma luta entre islâmicos - foi visto por Bin Laden como um ato de traição. Então, decidiu opôr-se aos Estados Unidos e aos seus aliados. A Al-Qaeda considerou os Estados Unidos como opressivos contra os muçulmanos, citando o apoio estado-unidense à Israel nos conflitos entre palestinianos e israelitas, a presença militar estado-unidense em vários países islâmicos (particularmente Arábia Saudita) e posteriormente a invasão e ocupação do Iraque em 2003. Disponível em: www.wikipedia.com.br. Acesso em: 26. mai. 2008.

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sírias de Gola e de Jerusalém Oriental. Mesmo com o apoio estadunidense,

essa anexação foi condenada pelo Conselho de Segurança da ONU e foi

determinada a devolução dos territórios ocupados por Israel. Também foi nesse

período que ocorreu a primeira tentativa de uma solução para os refugiados

palestinos que, ainda nos dias de hoje, não tem condições dignas de vida.

Em 1973, uma nova guerra foi iniciada pelos países árabes, durante o

feriado judaico nacional, o Youm Kippur. Nesse novo embate, o resultado foi a

reconquista de alguns territórios pelos árabes que também perderam outra

parte de seus Estados. Mesmo derrotados, os países árabes descobriram que

através do petróleo teriam como pressionar o Ocidente pró-Israel58.

Na Palestina surgiram diversos grupos radicais divididos em facções

palestinas islâmicas como a Harakat, Al-Jihad, Al-lslami, Al-Filastini, iniciadas em

1979. Esses grupos foram influenciados pela revolução islâmica iraniana. O

objetivo desses grupos consistia na retomada de seus territórios hoje ocupados

pelos israelenses. As táticas utilizadas são, na maioria das vezes, operações

suicidas. Em 1987, após um ataque de Israel a quatro palestinos, começa a

Intifada, que se prolongou até 1993. A autoridade palestina Yasser Arafat e o Rei

Hussein da Jordânia propuseram a Israel o fim dos ataques terroristas se o

território ocupado pelos israelenses fosse devolvido a Palestina.

Em 1990, após o fim da Guerra Fria59, esses conflitos passaram a serem

discutidos diplomaticamente. Em 1993, após a pressão política do então

Presidente do EUA, Bill Clinton, foi assinado o acordo de paz entre Israel e a

Palestina. Os Acordos de Oslo foram ratificados em 1998, pelos primeiros-

ministros Yitizhak Rabin, de Israel e Yasser Arafat, da Palestina.

Porém, esses acordos desagradaram os dois lados, principalmente na

questão dos assentamentos judaicos em áreas palestinas. Em 1995, o Primeiro-

58

Durante esse período, entre 1967 a 1973, houve uma intensificada atividade terrorista que visava à libertação da Palestina. Nos anos seguintes surgiram diversos grupos liderados por religiosos islâmicos que "derrubaram a ditadura pró-ocidental e instalaram a República Islâmica, um regime teocrático em que o Estado e religião se confundem." SUTTI e RICARDO. As Diversas Faces do Terrorismo. p.90. 59

O fim da guerra fria resultou em mudanças radicais na conformação do poder mundial e no estabelecimento de uma hierarquia internacional marcada por polaridades indefinidas e jogos de geometria variável, em que os recursos de poder de natureza militar e estratégica teriam cedido espaço aos fatores econômicos como determinantes da inserção internacional de um país. CASTRO, Jr. Osvaldo de Agripino de. Temas Atuais de Direito do Comércio Internacional. Florianópolis: OAB/SC, 2004.v.1. p.45.

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Ministro de Israel Yitzhak Rabin é morto por um israelense de extrema direita. A

oposição ortodoxa religiosa israelense e de direita foi abalada e posicionou-se

contra os acordos. Na eleição seguinte, o Likud, partido de direita, une-se à

extrema direita ortodoxa e vence as eleições. Porém, o primeiro-ministro

Benjamin Nethanyahu, suspendeu todos os acordos de paz. Mais uma vez,

novas eleições foram convocadas e vencidas pelo partido trabalhista que

retornou as negociações de paz.

Em 2000, o líder do Likud, Ariel Sharon, após a sua visita a Esplanada das

Mesquitas em Jerusalém, território sagrado mulçumano, provoca a segunda

Intifada. Essa nova onda de conflitos derruba o primeiro-ministro. Nas novas

eleições, Ariel Sharon torna-se o primeiro-ministro de Israel. Em 2002, os

conflitos se intensificam nos territórios israelenses. Mesmo contando com

o apoio do presidente estadunidense George W. Bush, que disponibilizou o

seu arsenal militar para caçar os terroristas, os atentados continuam. Desde o

início do Estado de Israel, os Estados Unidos são os seus maiores e declarados

aliados. Todo este apoio pode ser considerado uma das principais motivações

aos atentados de 11 de setembro de 2001.

1.5 O FENÔMENO DO TERRORISMO E O 11 DE SETEMBRO

Os atentados provocados pela Al Qaeda são apresentados como exemplos

típicos de terror em escala global e atingiram o ápice durante o ataque aos

Estados Unidos da América, no ano de 2001, fato conhecido como 11 de setembro,

data de sua execução. O maior símbolo americano, o World Trade Center

(representante do poder econômico) conhecido como as Torre Gêmeas, em Nova

Iorque, foi atacado. Uma das mais importantes paisagens da cidade acabou

desabando e deixando milhares de mortes. O maior atentado terrorista da história

também atingiu o Pentágono, maior representante do poder militar; e tentou atingir a

Casa Branca, que representa o poder político. No bojo desses alvos específicos,

pereceram milhares de vítimas inocentes, fato que aproxima essa ação àquelas que

atentam contra alvos indiscriminados, procurando aumentar o impacto e repercussão de

suas ações.

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Dessa feita, quando desabam as torres gêmeas do Word Trade Center, em

Nova York, e um dos ângulos do Pentágono, em Washington, a opinião pública

mundial defronta-se com um acontecimento excepcional, altamente revelador,

propriamente heurístico. Com isto, abrem-se possibilidades insuspeitadas

anteriormente para a interpretação de relações, processos e estruturas de

denominação política e apropriação econômica, em escala nacional e mundial.

Vários nexos sociais, políticos, econômicos e culturais, de permeio com jogos de

forças sociais e operações geopolíticas, logo se tornam mais evidentes, visíveis,

transparentes, em escala nacional, regional e mundial.

Conforme Ianni60:

Em um instante, no centro da maior potência mundial, dois de seus mais notáveis símbolos são agredidos e desmoronam, arruinados. Em um instante, o poder econômico e o poder militar, compreendendo o monopólio da exploração e o monopólio da violência, são postos em causa, deixando de ser intocáveis.

Em meio ao caos, começam os questionamentos sobre quem seriam os

autores de tamanha violência contra os EUA. Todos os indícios apontavam para

terroristas fundamentalistas islâmicos que, ao longo de décadas, já vinham

cometendo diversos tipos de atentados pelo mundo. Logo, o governo

estadunidense, através de seus porta-vozes anunciaria que o responsável pelo

ataque era o grupo Al Qaeda comandado pelo saudita Osama bin Ladem61.

O fundamentalismo islâmico do final do século XX toma rumos políticos e

passa ser a forma de governo utilizada por diversos países do Oriente Médio,

Em 1979, com a derrubada do Xá do Irã Reza Pahlevi, organizada pelo

Aiatolá Khomeini, instituiu-se o governo teocrático e regido pela sharia – o

rigoroso código mulçumano – e o Corão.

Essas alterações políticas fizeram que a idéia fundamentalista se

estendesse aos demais Estados e que surgissem grupos armados para apoiar

essas iniciativas. Durante a Guerra Fria, a busca pela hegemonia mundial fez

com que as grandes potências se envolvessem em diversos conflitos. No caso

60

IANNI, Octavio. A era do globalismo. 4. ed. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 61

Para Sutti e Ricardo, o ataque em Nova Iorque foi motivado pelo fato de que os "Estados Unidos tornaram-se ícones do ódio dos fundamentalistas contra a civilização ocidental, para eles responsáveis por todo o mal e desvirtuamento ético e de comportamento". O apoio' a Israel e a sua política imperialista também se incluem nesta motivação. SUTTI, P; RICARDO, S. As Diversas Faces do Terrorismo. p.106.

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de Irã e Iraque, o primeiro foi apoiado pela URSS, e o segundo pelos EUA. A

guerra entre ambos durou oito anos.

Com o fim da guerra, o Iraque mudou a sua posição quanto à colaboração

estadunidense. Após o fim dessa aliança, o Iraque invadiu o Kuwait, visando se

apoderar das reservas petrolíferas do país e não pagar a dívida que havia

contraído durante o período de guerra contra o Irã. Em represália ao Iraque, os

outros países árabes se uniram aos EUA e, em noventa dias, acabam com a

invasão iraquiana. Esse conflito ficou conhecido como a Guerra do Golfo. A união

entre os países árabes contra Saddan Hussein, presidente do Iraque, aliando-se

aos EUA, não foi aceita pelos grupos radicais islâmicos. Dentre os grupos, inclui-

se o milionário saudita Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, que considera os

EUA seu maior inimigo.

Nessa situação as armas se voltaram contra os EUA. A

conseqüência dos ataques faz perceber a globalização do terrorismo, revelando-

se um ato político de maior importância. A violência desse ato fez surgir a

coalização entre os países contra o terror, sendo que o resultado foi a

mobilização da maior máquina de guerra do mundo, com o pretexto de combater

o terrorismo, utilizando-se do terrorismo de Estado, situação em que o Estado é

o agente do terror.

Segundo o Presidente George W. Bush, ele estaria começando uma guerra

do bem contra o mal. A ofensiva dos EUA iniciou-se com a caçada Osama bin

Laden, no Afeganistão. Como os EUA não tinham relações com o governo

afegão, foi solicitado ao Paquistão que interviesse junto aos mulas afegãos a

entrega de Bin Laden.

A resposta dos afegãos foi de que somente entregariam o terrorista, caso

os EUA comprovassem a culpa do saudita pelos atentados de 11 de setembro.

Essa resposta fez com que grupos de oposição local ao regime do Talibã se

unissem aos EUA, em uma coalizão internacional, incluindo a Inglaterra. A

Guerra do Afeganistão derrubou o regime do país, mas não houve a captura do

Osama bin Laden. Ainda hoje continua a incerteza e insegurança quanto a novos

atentados, pois o maior símbolo do terrorismo atual, permanece com sua

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localização desconhecida62.

Em contrapartida, o mundo mesmo inseguro, entrou na era da

globalização, isto é, tanto os métodos de produção quanto os consumidores

tornaram-se globalizados, acabando com a distinção entre estratégias de

comércio e estratégias de investimento.

Conforme Ianni63.

De um momento para outro, torna-se difícil manter as nações de Primeiro, Segundo e Terceiro mundos. Simultaneamente, reduzem-se as distancias e as diferenças entre o Oriente e o Ocidente, tanto no nível do imaginário como das relações, processos e estruturas que neles predominam.

Espera-se que as novas regras para o comércio internacional enfoquem o

impacto das políticas econômicas sobre o funcionamento dos mercados globais,

que exigem eficiência econômica e tratamento justo, não discriminatório, entre os

diversos países.

Hoje existe a preocupação internacional sobre o impacto que uma nova

regra comercial possa causar, tanto na produção de bens quanto na prestação de

serviços, em uma empresa globalizada. Isto significa que na criação de novas

regras deverão ser levadas em conta não apenas a redução das barreiras

tarifárias e não-tarifárias, mas também medidas políticas que possam interferir na

prática comercial internacional64.

62

Segundo Chomsky, as horripilantes atrocidades cometidas em 11 de setembro são algo inteiramente novo na política mundial, não em sua dimensão ou caráter, mas em relação ao alvo atingido. Para os EUA, é a primeira vez, desde a Guerra de 1812, que o território nacional sofre um ataque, ou mesmo é ameaçado. CHOMSKY, N. 11 de setembro. Tradução de Luiz Antônio Aguiar. 6.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. 63

IANNI, Octavio. A era da globalização. p.189. 64

OPORTO, Silvia Fazinga. Sistema multilateral de comércio. Disponível em: www.aduaneiras.com.br. Acesso em: 12. mai. 2008.

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CAPÍTULO 2

2. COMÉRCIO, NORMATIZAÇÃO E ESTABILIDADE INTERNACIONAL

Após o 11 de setembro houve uma necessidade de se estabilizar o sistema

internacional de comércio, uma vez que a institucionalização de sociedades

internacionais, em nosso século, sofreram grande aceleração após a Segunda

Grande Guerra, quando a preocupação com o futuro da humanidade ficou latente

e preocupante.

2.1 A IMPORTÂNCIA DA ESTABILIDADE PARA O SISTEMA COMERCIAL

INTERNACIONAL

Desse modo, reporta-se ao passado quando a formação da economia

mundial se deu num vagaroso processo histórico que pode nos submeter à

formação dos primeiros impérios da antiguidade. Todavia, apenas com a

expansão marítima européia no século XVI podemos articular o nascimento de

uma verdadeira economia mundial, que passou a vincular os vários universos

econômicos regionais que irá se consolidar no século XIX, sob a hegemonia da

Inglaterra industrial-capitalista.

De acordo com os ensinamentos de Stelzer65:

Na Inglaterra, emergiu a Revolução Industrial, merecendo a terminologia “revolução” pelas conseqüências que desencadeou, representando o apoio para o surgimento do capitalismo industrial e o desejo de fazer circular bens manufaturados.

Aduz Castro Jr.66, que o capitalismo se define como um sistema

econômico67baseado na propriedade privada dos meios de produção,

65

STELZER, Joana. Introdução às relações do comércio internacional. Itajaí: Universidade do Vale do Itajaí, 2007, p.22. 66

CASTRO, Jr., Osvaldo Agripino de. Temas atuais de direito do comércio internacional. p.42.

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propiciadora de acúmulo de poupança com finalidade de investimentos de

grandes massas monetárias, dentro de uma organização de livre mercado,

através de uma organização permanente e racional.

Nos Estados Unidos, essa produção gerou consumo em massa e muitas

injustiças, o Estado procurou, desde então, voltar-se especialmente ao

desequilíbrio da relação produtor-consumidor, intervindo na economia, a fim de

equilibrar tal relação, com a criação de instituições reguladoras, leis e

regulamentos.

Desse molde, o último quarto do século XIX, foi grifado pelas descobertas

de novas técnicas, como por exemplo, o aço, que veio em substituição ao ferro, a

energia elétrica e o petróleo, ficando no lugar do vapor, pelo aprimoramento dos

conjuntos de procedimentos trabalhistas e pela divisão do tempo aplicado nas

atividades dos funcionários, além de incentivar os setores dos transportes e das

comunicações68.

Até a Segunda Guerra Mundial, contudo, os processos de produção têm

uma base essencialmente local ou nacional, utilizando eventualmente a

importação de matérias-primas do exterior. De Estado liberal transitou-se ao

chamado Estado social. Nessa oportunidade, a disciplina jurídica da atividade

econômica começou a receber toda sua magnificência, pois ao direito coube

ordenar, o que as leis naturais da economia não tinham organizado.

67

O sistema econômico se define como um “conjunto coerente de estruturas econômicas, institucionais, jurídicas, sociais e mentais organizadas com a finalidade de assegurar a realização de um determinado número de objetivos econômicos (equilíbrio, crescimento, repartição...)”. Há várias classificações de sistemas econômicos, dentre as quais o capitalismo e o socialismo, e quando um ordenamento jurídico adota um determinado sistema econômico, denomina-se regime econômico. SILEM, Ahmed; ALBERTINI, Jean-Marie. Lexique d’Èconomie. Paris: Dalloz., 1992. 68

Tratava-se, antes de mais nada, de um salto qualitativo na história da produção econômica, alavancado pela evolução das atividades comerciais e agrícolas que demandavam crescente aplicação dos excedentes na capacidade produtiva. As atividades manufatureiras foram uma a uma migrando para o sistema fabril, primeiro têxtil, depois a moagem de trigo, a fabricação de cerveja, a indústria do papel, entre outros. Em momento ulterior evidenciava-se uma segunda revolução industrial, quando as máquinas se tornaram mais freqüentes, a exemplo da máquina de fiar fios múltiplos. Em síntese, tudo isso significava produtos mais variados, preços mais baixos, lucros maiores para os capitalistas (e, consequentemente, acentuada exploração da mão-de-obra). O processo de industrialização iniciado na Grã-Bretanha repetiu-se por toda a Europa Ocidental, nos Estados Unidos e, no Japão). De meados do século XIX em diante, a Grã-Bretanha já era uma nação industrializada, segundo a concepção hodierna. STELZER, Joana. Introdução às relações do comércio internacional. p.37.

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Nesse prisma, vislumbram-se problemas, perante novas instabilidades

políticas de alta taxa de desemprego, da estagnação do comércio de bens no

cenário exterior e da insatisfação em massa de alguns países.

Verifica-se então, que tal insatisfação fez com que houvesse um

desentendimento entre as nações industriais para controlar as fontes de produtos

primários, até mesmo por representarem excelentes mercados para os seus

produtos manufaturados e excedentes econômicos, tendo sido este um dos

principais motivos para desencadear a Segunda Guerra Mundial.

Seguindo esta linha de raciocínio incrementa Stelzer:

Na Europa Ocidental, a guerra não tinha arruinado somente as indústrias, mas desarticulado por absoluto toda a estrutura econômica. A circulação de mercadorias, nessa fase, praticamente inexistia a não ser de cunho humanitário, para alimentar a multidão de flagelados que sobrevivera ao caos. O quadro geral era de escassez, fome, desemprego, racionamento, baixa produtividade, inflação, miséria e dor.

Diante dessa óptica o governo norte-americano decidiu ajudar a

recuperação européia através do Plano Marshall, uma vez que diante de seu

reconhecimento, não poderia sobreviver sozinho em um mundo em que o

socialismo expandia-se com tamanha celeridade, foi conveniente dividir a riqueza

nacional com a Europa69, para garantir a própria sobrevivência70.

Os Estados passaram a se preocupar com a necessidade de se agrupar,

superando divergências, objetivando a defesa de seus interesses nacionais, a

solidificação da paz e o desenvolvimento econômico-social. Visualiza-se como foi

possível ao chamado Estado-Nação acompanhar a rapidez dos acontecimentos,

69

Em troca, o velho continente assumia o compromisso de seguir determinadas políticas econômicas, principalmente atinentes ao comércio internacional. Em 1948, os europeus criaram a Organização para a Cooperação Econômica Européia para administrar os recursos captados, além de constituir o primeiro instrumento de uma série destinada a unificar economicamente o continente. STELZER, Joana. Introdução às relações do comércio internacional. p.39. 70

No período entre-guerras, o Estado revelou-se, em definitivo, como o grande provedor para solucionar os problemas gerados pelo abastecimento, inclusive criando órgãos especialmente para este fim. Externamente, o Estado se mostrava presente para ordenar bloqueios e coordenar retaliações. O capitalismo liberal era inibido, mas as crises prosperaram como conseqüência ainda do conflito tornavam-se cada vez mais desafiadoras. Na confusão, percebeu-se que o exercício da propriedade fora o objeto de uma transformação qualitativa, “que o poder sobre as coisas engendra um poder pessoal e a propriedade, de mero título para dispor de objetos materiais, se converte em título de domínio sobre pessoas. Daí a necessidade, imperiosa, de o Estado passar a exercer controle sobre o exercício desse poder.” GRAU, E. R. Elementos de direito econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais. 1981, p.17.

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de modo a mover-se em conjunto com outros Estados, igualmente instados para

responderem aos dilemas econômicos trazidos pelo pós-guerra. Nesse norte,

após o fim da Segunda Guerra Mundial, houve uma reorganização do espaço

mundial, fazendo surgir mudanças de ordem estrutural em diversas áreas.

Adiciona Stelzer o seguinte:

O período pós-guerra pode ser tido como o marco inicial da globalização econômica. Trata-se, em parte, da história mesmo do capitalismo, tornando-se difícil descolar um do outro

71. Dessa forma, quando

determinados eventos econômicos entraram em acelerado desenvolvimento, uma série de acontecimentos disparou como mola desarticuladora do sistema internacional.

A partir de 1945, a humanidade assistirá a um forte processo de integração

dos sistemas produtivos mundiais. No Ocidente, as empresas transnacionais

articulam um sistema complexo de produção a partir de diferentes pontos do

globo, realizam um gigantesco movimento de capital a nível internacional,

expandem drasticamente os serviços e o mercado de capitais e financeiro. Na

Europa, o Mercado Comum Europeu começa a se articular comercialmente e,

depois, agrícola e industrialmente, caminhando para uma integração de serviços,

monetária e financeira, sob a égide do eurodólar, que só começa a ser

questionado na década de 80 pela ascensão do marco e das demais moedas

européias e pela emergência de uma unidade monetária continental.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o Japão articula uma parte da

economia asiática em torno da exportação para os Estados Unidos e, na medida

em que manipula enormes excedentes monetários em dólar, começa a converter-

se também num poder financeiro em expansão, particularmente na década de 80.

A Europa do Leste, separada durante anos pela guerra-fria, termina se

reintegrando progressivamente na economia ocidental, particularmente a

européia. Isto acontece após um importante processo de integração, em geral

obrigado por uma situação geopolítica hoje superada, das economias socialistas

da região sob a bandeira do Comecon.

Percebe-se que todas as regiões do mundo contemporâneo passam por

processos de integração, em maior ou menor escala, entre seus componentes e

71

Alguns doutrinadores relatam que o início do fenômeno chamado “globalização” é controverso. Há quem sustente ter iniciado na Era dos Grandes Descobrimentos. STELZER, Joana. Introdução às relações do comércio internacional. p.40.

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com outras regiões do mundo. Todos esses processos padecem, contudo uma

forte limitação na década de 1980. Independente deste fato, depois de anos de

crise, coadunaram-se novas tecnologias que estiveram se desenvolvendo com a

finalidade de reestruturar a economia mundial em novas bases. A luta pela

competitividade internacional admitiu assim uma forma dramática. Eleva-se o

volume de operações financeiras a nível mundial juntando, em segundos os mais

diversos mercados locais72.

Tudo isso se alicerça, numa nova tecnologia de comunicação que permite

uma instantaneidade quase absoluta em todos os países do mundo. A aquisição

do espaço pela humanidade tornou a terra um planeta integrado e

intercomunicado imediatamente.

Dessa forma, aquele conjunto de mudanças que vinha se operando no

pós-guerra, a partir da revolução científico-técnica, deu um salto de qualidade na

década de 80 sob o impacto de uma tentativa de crescimento intenso, à base de

inovações revolucionárias e da difusão das novas tecnologias.

Em meio a essas atribuições sentiu-se a necessidade de normatizar o

comércio para que existisse uma estabilidade nesse ambiente.

2.2 A NORMATIZAÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Após a Primeira Guerra Mundial, com o surgimento das Organizações

Internacionais, ao Direito Internacional são propostos novos desafios. As

Organizações Internacionais apresentam-se como sujeitos de Direito

internacional, capazes de elaborar regras, assumir compromissos, bem como

responder pelos seus atos perante a comunidade internacional.

Assim discorre Rabhi Ali Nasser73:

Juridicamente, os meios pelos quais se deu a implementação dessa convergência de interesses foi a celebração de acordos internacionais e a criação de organizações internacionais, com personalidade jurídica competências próprias (das quais a Organização das Nações Unidas –

72

SANTOS, Theotonio dos. Economia Mundial, Integração Regional e Desenvolvimento Sustentável: As novas tendências da economia mundial e a integração latino-americana. 4.ed.Rio de Janeiro:Vozes, 1999, p.34-37. 73 RABIH Ali Nasser. A Liberalização do comércio internacional nas normas do GATT – OMC, São Paulo: LTr, 1999, p.22.

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ONU foi o exemplo mais representativo). Em outras palavras, criaram-se instituições de alcance internacional.

Surge o multilateralismo, em uma época na qual os Estados estavam

preocupados com o restabelecimento harmônico do sistema econômico mundial,

sob a luz da globalização. Existia uma perspectiva de três instituições, as quais

serão detalhadas no item seguinte, que amoldariam os interesses nacionais e

cuidariam de assuntos estratégicos para o comércio, porém, só o Banco

Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e o Fundo Monetário

Internacional (FMI) lograram êxito nesse sentido, uma vez que a terceira

instituição a Organização Internacional de Comércio (OIC), não obteve a mesma

aptidão.

Antes de finalizar a Segunda Guerra, os países já estavam preocupados

com o restabelecimento do sistema mundial de permutas, de modo a evitar

problemas já vividos.

Conforme Stelzer, Joana:

Entre 1943 e 1944, ocorreram várias reuniões entre funcionários britânicos e norte-americanos. Em fevereiro de 1945, em uma mensagem ao Congresso dos Estados-Unidos, o Presidente Roosevelt acenou expressamente a necessidade de complementar o sistema institucional criado em Bretton Woods, mediante a criação de uma organização cuja finalidade seria a redução dos obstáculos aos intercâmbios internacionais de mercadorias

74.

Dessa feita, em Genebra no ano de 1947, após serem realizadas algumas

conferências, decidiu-se pela Carta de Havana, na qual findaria no surgimento da

Organização Internacional de Comércio (OIC), a qual como antes citada, restou

inexitosa. Diante de tal fracasso os países envolvidos negociaram um Acordo

Provisório, que utilizava só uma parte da Carta de Havana, esse acordo chamava-

se General Agreement on Tariffs and Trade (GATT), ou Acordo Geral sobre

Tarifas e Comércio,

[...] traduzindo-se em um acordo internacional com estrutura institucional mínima, que previa somente a celebração de conferências entre as

74

MIER, M.À.D.Del GATT a la Organización de Comércio. Madrid: Síntesis, 1996, p.21.

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chamadas partes-contratantes75

. Inicialmente assinado por vinte e três países, era um Tratado de trinta e oito artigos, incluindo os princípios diretores da liberalização das trocas que objetivava promover

76.

Como cediço:

[...] o GATT transformou-se, na prática, embora não legalmente, em um órgão internacional, com sede em Genebra, passando a fornecer a base institucional para diversas Rodadas de negociações sobre comércio, e a funcionar como coordenador e supervisor das regras do comércio até o final da Rodada Uruguai e a criação da OMC

77.

O GATT funcionou como um enorme centro de negociações multilaterais

do comércio até a emergência da Organização Mundial do Comércio (OMC) e

durante sua vigência as negociações prosseguiram visando aumentar cada vez

mais o comércio internacional. É óbvio que a institucionalização do GATT, e

posteriormente da OMC, foi o mecanismo usado para garantir que a liberalização

do comércio internacional ocorresse de forma ordenada.

A vida do acordo foi assinalada por inúmeros ciclos de negociações, ditas

Rodadas ou Rounds (em inglês) que escreveram a história das trocas mundiais.

Dessa forma os grandes avanços na liberação econômica mundial ocorreram

através de rodadas de negociações multilaterais. Ocorre que, tais rodadas, de

certa forma, foram vagarosas, proporcionando um enfoque muito extenso,

consentindo que os participantes trouxessem e assegurassem vantagens sobre

ampla gama de tópicos, sendo muito mais factível a negociação de setores

sensíveis em termos globais.

De acordo com a doutrina, leciona Stelzer:

A técnica utilizada consistia em negociar produto a produto num quadro bilateral, levando ao estabelecimento de um novo direito aduaneiro, mas que era aplicável a todas as outras partes-contratantes, graças à cláusula da nação mais favorecida

78. Este método contudo, rapidamente

75

Os países que assinam um tratado internacional são chamados de partes-contratantes, contrariamente àqueles que integram um organismo internacional, denominados Estados-membros, países-membros ou, simplesmente, membros. 76

STELZER, Joana. Introdução às relações do comércio internacional. p.30. 77

THORSTENSEN, Vera. Organização Mundial do Comércio: as regras do comércio internacional e a rodada do milênio. São Paulo: Aduaneiras, 1999, p.30. 78 A regra mais importante, dentre todas do Sistema Multilateral do Comércio, é a do Tratamento

Geral de Nações Mais Favorecidas, também chamada de Regra de Não Discriminação entre as Nações, pois é esta regra que dá caráter multilateral ao acordo eliminando o caráter bilateral. Proíbe, ainda, qualquer discriminação entre as partes contratantes e estabelece que qualquer vantagem, favor, privilégio ou imunidade com relação a direitos aduaneiros ou outras taxas, com

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atingiu seu limite, em virtude do número de produtos em causa, tornando as Rodadas longas e morosas.

Todavia, os países menos influentes têm possibilidades muito maiores de

prevalecer seus posicionamentos em negociações multilaterais do que se

negociassem bilateralmente com países desenvolvidos, que, nessas situações,

exercem total controle sobre as negociações.

Apesar dos progressos alcançados, persistiam alguns problemas como

picos tarifários de alguns países e dos blocos de países que tratavam todas as

importações da mesma forma. Os problemas políticos e jurídicos que se

apresentavam eram múltiplos principalmente entre os norte-americanos que

mostravam atritos sobre a distribuição de competência entre o Congresso e seu

Presidente. Por fim, nas últimas rodadas, conseguiu-se integrar novos temas

como barreiras técnicas, subsídios, antidumping, valoração aduaneira, licenças de

importação e compras governamentais, além de se estabelecerem acertos

alusivos ao tratamento diferencial dos países em desenvolvimento, ás medidas

comerciais tomadas com vista ao balanço de pagamentos, às ações de

salvaguarda para fins de desenvolvimento e aos processos de notificação,

consulta e resolução dos conflitos.

Como observa Lafer79,

As relações econômicas internacionais refletiam não apenas conflitos de interesses, mas, sobretudo conflitos de concepção acerca das formas de organização econômica, social e política interna e da arena internacional.

O resultado desta situação de visões antagônicas foi o baixo adensamento

de juridicidade no trato das relações econômicas internacionais. Com o fim da

Guerra Fria o comércio internacional volta a ter destaque no âmbito mundial no

uma das partes devem ser estendidas de forma incondicional a produtos similares comercializados com qualquer outra parte contratante. A adoção desta cláusula tornou possível a adoção de outros instrumentos jurídicos, como a criação dos órgãos responsáveis pela aplicação e fiscalização das normas, pois como se aplica a toda espécie de direitos e taxações que incidem sobre as importações e exportações, entre todos os Estados-Membros da OMC, se faz necessário um controle por parte da Organização. Apesar desta regra denotar caráter de pressuposto apriorístico, que deva ser implementado automaticamente e incondicionalmente, não podemos nos esquecer da existência de uma série de exceções, mas que não nos interessa no momento. 79 LAFER, Celso. Comércio, desarmamento, direitos humanos: reflexões sobre uma

experiência diplomática. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p.29.

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lugar das questões ideológicas. Em face de todo esse avanço das relações de

comércio internacional, os signatários do GATT concluíram que ele estava

defasado e não mais era capacitado para reger as relações comerciais da época.

Coaduna Castro Jr:

Somados à conjuntura de relativo consenso, no plano de valores, em favor do liberalismo político e econômico, tais fatos incentivaram o desbloqueio e a conclusão exitosa da Rodada do Uruguai do GATT, bem como o consenso em favor da constituição da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O atual marco normativo de Direito Internacional Econômico para as

relações comerciais internacionais foi moldado, como se vê, através dos acordos

efetuados no final da Rodada do Uruguai do GATT, assim como as alterações

introduzidas nos termos dos instrumentos legais que entraram em vigor até a data

do funcionamento da OMC (1º de janeiro de 1995), como concessões tarifárias,

protocolos de acesso de novos membros, concessão de suspensão temporária de

obrigações (waivers), protocolos interpretativos e decisões relativas à solução de

controvérsias80.

Dessa forma, a OMC, constituída para ser uma instituição especializada e

autônoma das Nações Unidas, surgiu das demandas oriundas dos países

independentes e soberanos, capitalista ou socialista, para devolver normas de

comportamentos e de organização sobre comércio internacional a esta mesma

demanda, com base sistêmica, alimentada pelos subsistemas existentes em todo

seu campo de ação nos países membros da OMC. Essa organização reúne

normas de comportamento e normas de organização81.

Com a finalidade de padronizar, por consenso, o tratamento dispensado ao

comércio internacional, esse organismo normatiza as relações comerciais entre

países ricos e pobres, bem como, entre eles mesmos, de forma que ninguém

fosse penalizado por deixar de ser mais ou menos desenvolvido, ao contrário, em

alguns casos previam-se medidas compensatórias que admitisse o acesso ao

80

No Brasil, o Decreto 1.355, de 30/12/94, publicado no Diário Oficial da União de 31/12/94, promulgou a Ata Final que incorpora os Resultados da Rodada do Uruguai de Negociações Comerciais Multilaterais do GATT. 81

LAFER, Celso. Comércio, desarmamento, direitos humanos. 1998, p.24, refere-se a estas normas como um “bem público internacional”, cujos princípios são: credibilidade, transparência, acompanhados do ingrediente básico, o consenso.

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mercado internacional de mercadorias, até então, distribuídas apenas no mercado

doméstico, assim, ficou estabelecida a OMC.

Nos próximos decênios, essa forma normatizadora econômica terá que

ceder, pelo menos em parte, o seu lugar a uma nova visão global da gestão

planetária baseada na coexistência de regimes econômicos, sociais, políticos e,

sobretudo culturais diversos. Será cada vez mais difícil omitirem-se os poderes

mundiais de enfrentar planejada e articuladamente os fenômenos do

desarmamento mundial, da defesa do meio ambiente, da miséria e

subdesenvolvimento que inviabilizam uma ordem mundial razoavelmente

equilibrada e permanente.

2.3 COMÉRCIO INTERNACIONAL EM PERSPECTIVA

È preciso uma perspectiva histórica do comércio internacional, inclusive

para compreendê-lo contemporaneamente.

A história das relações econômicas internacionais tem seu início na

economia medieval, via mediterrâneo, no início da Idade Média, e fixa-se através

do comércio nos terminais europeus no final do século XVI. Dessa forma, o

comércio internacional é um importante elemento na vida dos povos.

O comércio medieval composto pela rota do Oriente, tendo como ponto de

fixação das últimas Cruzadas (Gênova, Veneza e Pisa – Itália), era estimulado

pelo tráfego de produtos considerados de luxo, como: sedas, especiarias, prata,

ouro e porcelanas82.

Houve uma grande concentração de tráfego de produtos de consumo mais

amplo, como lã, tecido e tintas, em meados do século XIII, em Flandes. Têm-se

registrado uma importante ligação comercial, em Burges (hoje Bélgica), através

das feiras comerciais de Castilha – Espanha, ao sul da Europa, além da

Alemanha e da Escandinava, ao norte.

O comércio medieval euro-asiático via mediterrâneo quando se viu

pressionado pelos turcos do Oriente e as guerras européias do século XV, teve

82

MOMM, Maria Salete Garcia. Organização mundial do comércio (OMC).

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53

seu ápice no fim do século XIV83.

Nesse mesmo século, o comércio intra-europeu incitado pelo progresso

dos povos ibéricos na rota das Índias, fortificou-se facilitando a formação dos

impérios coloniais europeus.

Em meados do século XVI, o comércio europeu avança até as costas do

Pacífico, havendo conquistas de terras, formação de colônias, fartura de

variedade e quantidade de produtos; fortificando os impérios coloniais e

viabilizando o surgimento de um mercado mundial.

O Poder dos impérios alternava-se, e a hegemonia Britânica, nos mares do

mundo, durante o período medieval até o início do comércio de manufaturas,

atribuiu à Inglaterra o título de império colonial e comercial mais importante da

história. Razão pela qual a Inglaterra tinha uma posição confortável junto à

economia mundial.

Até o final do século XVII, o comércio internacional vivia a era do

mercantilismo84 na qual se gravou a prática de barreiras comerciais e o

surgimento de um capitalismo comercial principiante. Dessa feita, com o

aparecimento do capitalismo de manufaturas, deu-se início a novas indústrias e,

com elas, nova fase de relacionamento econômico entre os países. Surge o livre

cambismo85,o qual teve seu auge entre 1860 a 1880.

Nesse período, foram assinados acordos e tratados entre potências

econômicas européias. Tais documentos eram cheios de princípios claros de

normas do comércio internacional, de cujas aplicações surgiram os primeiros

ensaios de uma integração econômica internacional.

Uma nova economia mundial surge após a primeira grande guerra.

Existiam dois pólos de domínio mundial: Um centralizado no governo central, o

então chamado socialista; e, outro, de economia de mercado, conhecido por

economia capitalista.

83

TAMAMES,Ramón, HUERTA Begonã G. Estructura econômica iternacinoal, 19. ed. Madrid: Alianza, 1999, p.26-28. 84

Mercantilismo – caracterizado pelo comércio em que subordinava tudo ao interesse: doutrina do enriquecimento das nações pela acumulação dos metais precioso. AULETE, Caldas. Dicionário língua portuguesa. 3. ed. Rio de janeiro: Delta, v.3,m. 1980. 85

Livre Cambismo – aquela situação das relações econômicas que era possível o comércio internacional sem travas comerciais nem barreiras alfandegárias verdadeiramente importantes, nem tão pouco existiam obstáculos sérios para os movimentos dos fatores de produção (capitais e trabalhadores). TAMAMES, Ramón, HUERTA Begonã G. Estructura econômica iternacinoal.p.32.

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Essa transformação, na qual a economia mundial passou, consentiu o

surgimento de grandes desequilíbrios entre as nações, e o livre cambismo foi

cedendo lugar ao bilateralismo86como forma predominante das relações

econômicas internacionais. Esse último foi marcado por restrições quantitativas

ao comércio de bens, o controle de câmbio e acordo de clearing87.

Dessa forma, a economia mundial era formada por um modelo misto de

bilateralismo e multilateralismo88, de acordo com os interesses de cada país.

Desfez-se o pólo socialista, registrando-se um novo processo de integração

comercial, que teve como marco a queda do muro de Berlin, em 1989.

O pós-guerra, como mencionado no item anterior, é caracterizado por um

processo de organização econômica ímpar na história. Surgem as organizações

econômicas normatizadora do comércio internacional, como a Declaração de

Princípios das Nações Unidas, no qual o Brasil aderiu em 1943. A Conferência de

Bretton Woods realizada em agosto de 1944, criando o Fundo Monetário

Internacional (FMI) e o Banco Mundial.

Os mercados mundiais passam a coadunar-se intensamente, as distâncias

deixam de ser obstáculos para a negociação entre países e continentes, fronteiras

são rompidas, tudo isso com a grande evolução dos meios de comunicação e da

informática. Esse universo acabou estimulando novas relações econômicas e

comerciais entre países, tornando-os mais interdependentes no que se refere a

comércio, serviços, tecnologia, e investimentos.

De acordo com Toledo89,

Nos últimos anos, a globalização de produtos e mercados tem ocupado permanentemente a discussão acadêmica e a ação dos executivos. Trata-se de uma tendência irreversível que tem ditado o comportamento estratégico das empresas. A sobrevivência e o crescimento não estão

86

Bilateralismo – prática comercial entre dois países de interesses econômico comum, através de acordos onde ambos têm direitos e obrigações. 87

Acordos de Clearing significa que um saldo comercial no final de um exercício de um país não poderá ser utilizado para aquisição de produtos fora deste país. (Compensação de créditos e débitos). 88

Multilateralismo – Prática comercial entre mais de dois países de interesse econômico comum, através de acordos onde todos têm direitos e obrigações. HERZ, Organizações Internacionais. p.21. 89

TOLEDO,Geraldo L.; SILVA, Fernando S. Markenting e competitividade. In XVI ENANPAD – Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração. Canela-RS, 1992. Anais. Editado pela presidência da ANAPAD, Salvador – BA, 1992,v.5 – Marketing, p.185.

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vinculados apenas a bons produtos. O acesso á tecnologia de ponta e aquisição de know-how, por exemplo, são outros ingredientes indispensáveis ao sucesso competitivo.

Drucker (1994) 90 enfatiza ainda, que:

[...] vivemos numa economia cujos recursos mais importantes não são instalações e máquinas, mas conhecimento, e onde os trabalhadores do conhecimento compõem a maior parte da força de trabalho... O conhecimento é um bem móvel, transferível e altamente vendável.

Nesse artigo, Ducker realça a celeridade e a grande demanda de

informações que são viabilizados aos cidadãos com o advento da internet, sendo

que de um lado é um fator altamente positivo para a atualização das empresas e

seus executivos, de outro permite acelerar a concorrência e disputar

competitividade com muitos, num mercado, que, cada dia que passa, torna-se

mais único.

Leciona Stelzer:

Dessa forma, quando determinados eventos econômicos entraram em acelerado desenvolvimento, uma série de acontecimentos disparou como mola desarticuladora do sistema internacional.

A terra carece de um processo de gestão planetária. Na fase em que se

vive a regulação dos mercados começa a escapar da mão das grandes empresas

multinacionais para exigir formas de controle supranacionais, baseadas em

amplos acordos, estratégias e planos de ação de conjuntos de Estados, de

empresas, de instituições de pesquisa e prospectivas.

Contudo, dialeticamente, são essas barreiras e limites que geram e

organizam a vida social e econômica contemporânea. De alguma forma, pois,

elas terão que se auto-reformar para abrir caminho às novas fases de

desenvolvimento.

90

DRUCKER, Peter. E-EDUCAÇÃO. Revista Exame. n. 12, 14. jun. 2000. 716 ed, p.64.

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56

2.4 A GLOBALIZAÇÃO E OS FATORES DE INSTABILIDADE PARA O

COMÉRCIO INTERNACIONAL.

De meados da década de 80 até os dias atuais, poucos temas atraíram

tanta atenção quanto os da globalização e da integração regional, gerando

controvérsias e perturbações entre os responsáveis pela formulação de políticas.

Quando se reporta a palavra globalização tem-se sempre a sensação que

se fala de algo novo, um processo coevo que provoca uma nova ordem mundial.

Em parte, essa afirmativa é verdadeira, caso se fale no processo de globalização,

mas, no que toca a seu caráter integracionista, a globalização parece fazer parte

da história, como afirmavam Marx e Engels.

Percebe-se a existência de uma globalização da economia sobre os

sistemas de câmbio, em um processo evolutivo desde o padrão ouro até o atual

sistema de papel-moeda que contava com a participação de países de quase todo

o mundo.

É adequado que para iniciar-se o assunto da globalização e suas

repercussões no cenário internacional, mormente no que tange aos aspectos

comerciais e econômicos, mister se faz necessário a sua conceituação para

melhor compreensão do tema antes de problematizá-lo91.

Do ponto de vista comercial e econômico, conceito simples, porém

abrangente, nos é apresentado por More92:

O termo globalização, embora comporte diversas conceituações no âmbito da política econômica, caracteriza-se pelo crescimento da atividade econômica para além das fronteiras políticas, regionais e nacionais de um Estado, em proporções mundiais, possibilitando aos diversos atores, em movimentos migratórios, buscar nas trocas e nos investimentos o lucro pela livre concorrência.

Nessa linha de pensamento, descreve Amaral93 que a regionalização das

91

GABRIEL, Sergio. A Economia Internacional em face da globalização: Uma abordagem sob aspectos comerciais, econômicos e jurídicos. Disponível em: www.jusvi.com. Acesso em: 12. mai. 2008. 92

MORE, Rodrigo Fernandes. Integração Econômica Internacional. Disponível em: www.jusnavigandi.com.br. p.4. Acesso em; 12. mai. 2008.

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economias pela formação de blocos comerciais e à chamada globalização.

De outro norte, tem-se conhecimento que os efeitos da globalização, muito

debatido sob o ponto de vista custo X benefício, ou seja, saber se traz mais

efeitos positivos do que negativos, merecem enfoque mais qualitativo do que

quantitativo como vem ocorrendo.

Todavia, no que concerne aos efeitos da globalização, pode-se ressaltar

dentre outros alguns efeitos primários, que sem sombra de dúvidas são positivos,

como: ampliação de mercados com a obtenção de nacionalização de divisas

internacionais; aumento de harmonia política entre nações, amadurecimento das

políticas comerciais pela experiência necessária no comércio internacional;

amadurecimento das políticas econômicas pela experiência necessária no cenário

internacional político e comercial, etc.

Quanto à harmonia entre nações, pode-se relatar que ela realmente existe

e acontece em razão das relações de comércio, todavia tal harmonia ocorre

inclusive, para a administração do poder que acabou por gerar uma

responsabilidade solidária entre as nações relativo a tudo aquilo que acontece no

globo, uma vez que na atualidade, o poder econômico internacional está dividido

entre um grande número de países. Isso implica uma responsabilidade

correspondente 94.

Em relação aos efeitos geográficos da globalização, de maneira a dar a

verdadeira impressão de redução do espaço físico, mormente que parece que o

mundo esta próximo de nós, é juntar-se algumas informações como a morte do

Presidente Americano Abraham Lincoln que demorou 13 (treze) dias para chegar

a Europa, e a queda do World Trade Center não demorou mais do que 13 (treze)

segundos para ser noticiada ao mundo.

Leciona Stelzer:

Desde que a globalização econômica imprimiu seu passo ao contexto internacional, “conceitos lapidares caíram por terra, a geografia reorganizou-se e „muros‟ se desfizeram. Nesse diapasão, a compreensão das relações internacionais – âmbito por excelências que

93

AMARAL, Antonio Carlos Rodrigues do. Direito do Comércio Internacional, Aspectos Fundamentais. Aduaneiras. 2. ed. 2006. 94

GABRIEL, Sergio. A Economia Internacional em face da globalização.

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busca compreender os acontecimentos que transbordam as fronteiras nacionais – foi, como nunca, exposta à perplexidade”

95.

De forma a sistematizar a presente monografia, direcioná-lo-á para

identificar os efeitos econômicos e jurídicos da globalização no comércio e na

economia internacional. O comércio internacional com a chegada da globalização

é que sofreu o primeiro impacto, haja vista que tal acontecimento provocou, de

forma rápida, a queda de barreiras permitindo a migração dos mercados

nacionais para os internacionais.

Com relação a esse tópico, discorre Amaral:

A globalização oferece oportunidades ímpares e é fato que os países que se afastaram dos fluxos econômicos internacionais são os que apresentam os mais desanimadores índices de crescimento e baixos indicadores sociais. A internacionalização das economias permite acesso a capital, novas tecnologias, técnicas empresariais e gerenciais... [...] Ademais, a globalização impõe a derrubada das barreiras ao comércio externo, sob a pressão dos países mais ricos, ao mesmo tempo em que estes mantêm estruturas de proteção a muitos de seus setores não competitivos. Isso tudo resulta em uma concorrência desigual entre ferozes contedores em escala planetária.

Dessa forma, o movimento comercial sempre esteve coadunado ao

sistema econômico de um país, sendo que no regime comunista, a tendência era

pela nacionalização do comércio, buscando-se no comércio internacional apenas

aqueles insumos, produtos e serviços não supridos pelo mercado interno. No

sistema capitalista, a intenção sempre foi a de livre concorrência com a mínima

intervenção estatal, permitindo-se a entrada e saída de produtos, empurrando a

economia sempre para um processo de internacionalização na busca de novos

mercados.

Nesse enfoque, de acordo com Stelzer apesar de o avanço capitalista

representar a substância endógena primaz, responsável pelas mudanças

estruturais no sistema mundial, o efeito global não se esgotou nessas

considerações, ocorrendo, também, no contexto social, jurídico, político, entre

outros.

95

STELZER, J. Relações internacionais e corporações internacionais: um estudo de interdependência à luz da globalização. In: OLIVEIRA, M. O de (Coord.). 2.ed. Ijuí: Unijuí, 1999, p.95.

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De outro norte, vislumbra-se que a globalização como agente facilitador da

atividade empresarial, fez desaparecer os mercados cativos; diminuiu a

participação estatal nos meios de produção, já que o Estado por ser basicamente

burocrático não possui competitividade na velocidade que o novo sistema exige;

consentiu a criação e o aprimoramento de instituições internacionais; e por fim,

permitiu a redução de barreiras alfandegárias.

No entanto, existem três fatores que contribuíram para a aceleração do

comércio internacional: evolução tecnológica; atividade de serviços; aumento das

empresas transnacionais.

É de amplo conhecimento que o comércio internacional foi a mola

impulsionadora da globalização, e esse fenômeno, aconteceu rapidamente em

razão do aperfeiçoamento tecnológico dos meios de comunicação, principalmente

com a introdução do uso da Internet96.

Corrêa97 afirma que essa aceleração instigada pela tecnologia da

informação, gerou mais do que ampliação do comércio, criou uma nova

economia:

A tecnologia da informação tem sido responsável pela crescente expansão de uma nova „fórmula econômica‟, que vem excedendo em números a tradicional indústria de manufatura de bens em diversos países. Junto com o setor de serviços, a indústria virtual cresce na medida em que outros setores retraem ou estagnam.

Outra forma de contribuição na ampliação do mercado internacional que

merece destaque é o crescimento das empresas transnacionais. Esse tipo de

empresa cresceu de forma enérgica no mercado internacional, justamente por

tratar-se de empresas vindas de países ricos que dispunham de capital para

investir em outros mercados, nem sempre com a intenção única de atender

àquele novo mercado, mas sim de servir de base para atingir uma determinação

região geográfica mais ampla antes não atingida. O aumento dessas empresas

antecipou o comércio internacional, gerando um fenômeno no mínimo curioso,

pois hoje, em grande parte do mundo, as pessoas consomem os mesmos

produtos, inclusive aqueles até então comercializados somente em países ricos.

96

Rede Mundial de Computadores que permite a comunicação, e por via de conseqüência, de comércio sem fronteiras. 97

CORRÊA, Gustavo Testa. Aspectos Jurídicos da Internet. São Paulo: Saraiva. p. 38.

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Um dos principais pontos negativos no método de aceleração do comércio

internacional é o de reformulação de políticas de competitividade, tanto estatais

ou empresariais. A abertura do mercado trouxe como conseqüência imediata a

pluralidade de fornecedores ao público consumidor, de forma que a

competitividade passou do mero âmbito nacional para o âmbito internacional, ou

seja, não tem mais limites, excetos os de natureza jurídica.

Dessa forma, essa livre concorrência, causa no mundo globalizado uma

modificação de comportamento de caráter muito mais econômico do que

comercial, uma vez que o resgate da competitividade internacional deixou de ser

uma preocupação meramente empresarial para se tornar uma meta estatal. A

ocasião é de busca de aumento de eficácia econômica de permutas98.

O fato é que muitos países ainda não constituíram uma política de

competitividade internacional, papel esse que deve ser desenvolvido pelo Estado

em favor da atividade empresarial interna que vai colaborar para o processo de

desenvolvimento econômico, principalmente nas economias capitalistas que têm

o eixo produção como o norteador do sistema econômico.

Indiferentemente dos problemas da atualidade aqui mencionados, verifica-

se que com a globalização impulsionada principalmente pelo desenvolvimento

das novas tecnologias de informação, não há mais como se furtar ao

reconhecimento de que temos uma nova ordem econômica, provocando por

conseqüência uma nova sociedade, como se verifica nas palavras de Arnoldo

Wald99.

A grande ruptura do terceiro milênio consiste na criação, no reconhecimento e na generalização, no mundo inteiro, da nova economia, baseada no desenvolvimento tecnológico e na competição, mas também na globalização e na desmaterialização parcial da riqueza. E esta nova concepção da economia tem reflexos em todos os aspectos da sociedade e inclusive no direito.

Assim sendo, claro está que os operadores do direito tem que aprimorar o

sistema jurídico nacional de forma a viabilizar esse processo inevitável de

integração econômica internacional, adaptando nosso conjunto de regras,

98

GABRIEL, Sergio. A Economia Internacional em face da globalização. 99 WALD, Arnoldo. Direito e Internet. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2001.

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especialmente no que tange às relações internacionais, de forma a viabilizar o

fluxo normal desse processo 100.

Na visão do comércio internacional, a globalização instituiu aquilo que já se

está denominando de terceiro mercado. Ou seja, até então se tinha os mercados

nacionais e o mercado internacional, todos agindo por meio da troca de produtos

e serviços, todavia, a introdução do comércio eletrônico, chamado por alguns de

terceiro mercado, está se consolidando como um mercado autônomo, e sem

controle estatal, já que a Internet não pertence a ninguém e ao mesmo tempo

pertence a todos os seus usuários.

No prisma econômico é que se depara com os grandes problemas da

globalização. Se tais aspectos se mostram como o grande empecilho, a própria

globalização parece abastecer ajuda para tentar amenizar o problema, ou seja, de

um lado tem admitido a aproximação entre nações viabilizando a discussão dos

problemas, e porque não dizer, internacionalizando ou pelo menos regionalizando

o problema. De outro norte, a fluência de informações tem consentido que um

modelo que apresente resultados positivos seja conhecido por outro país para

estudo de viabilidade de implantação como forma de solução de problemas

internos.

Um problema grave influenciado pela globalização, que não tem basilares

na econômica, é o da emergente crescente do terrorismo, do tráfico internacional

de drogas e outros crimes internacionais. A solução de tais problemas encara

solução mais complexa, haja vista que a caça de uma solução conjunta

internacional, dependendo inclusive, de órgãos internacionais que tutelem o bem

jurídico maior internacional que é a paz mundial.

2.5 IMPACTO DO 11 DE SETEMBRO PARA O COMÉRCIO INTERNACIONAL

O dia 11 de setembro de 2001 ficou grifado na história como um divisor de

águas no Direito Internacional. A partir do momento em que as torres gêmeas do

Word Trade Center em Nova Iorque foram abaixo, a comunidade internacional se

mobilizou e começou a procurar meios para combater a primeira grande ameaça

a paz do século XXI: o terrorismo.

100

GABRIEL, Sergio. A Economia Internacional em face da globalização. p.06.

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Após os atentados de 11 de setembro de 2001, ocorreu uma mudança de

postura; passa-se de uma cultura de reação para uma cultura de prevenção.

Dessa feita, os atentados de 11 de setembro em Nova York e Washington,

o coração do poder político e financeiro dos Estados Unidos, representou,

conforme muitos analistas de relações internacionais, um marco histórico, um

daqueles momentos únicos na qual a história universal se divide entre o antes e o

depois.

Conforme mencionam Stelzer e Gonçalves101:

Apenas depois do atentado de 11 de setembro, é que o tema terrorismo tornou-se pauta principal na agenda da segurança internacional, através da imposição de regras relativas, entre outras, à segurança comercial dos países, especialmente dos Estados Unidos da América (EUA).

O ordenamento econômico internacional encara mais um desafio quanto à

afirmação dos valores do livre comércio, finanças e investimentos. Nesse sentido,

as conseqüências econômicas do 11 de setembro não podem se restringir apenas

aos efeitos imediatos da recessão americana ou mundial, mas devem incluir

medidas que respondam ao aumento vertiginoso da desigualdade econômica

mundial.

Os Estados Unidos da América saíram da Guerra-fria como única

superpotência no Sistema Internacional. O colapso da URSS e do bloco de Leste

deixaram caminho livre para um novel sistema internacional assinalado pela

unipolaridade.

Esta coisa por si só seria satisfatória para ser discutida, como a política

externa do Estado mais poderoso do planeta. No entanto, o contexto que hoje se

depara a nível internacional acrescenta motivos ainda mais exatos. O dia 11 de

Setembro de 2001 colocou em jogo novas variáveis, novos objetivos, novos

medos, novas perguntas, novas respostas, para muitos um abrir de porta para um

novo sistema internacional, com muitas alterações mas onde o jogador mais forte

continua a ser o mesmo, agora com novas armas, novos objetivos e

provavelmente com uma posição reforçada.

101

STELZER, Joana; GONÇALVES, Everton. Artigo intitulado em: comércio e atividade portuária sob a ótica da segurança internacional contemporânea. Disponível em: http://conpedi.org/manaus/arquivos/anais/campos/joana_stelzer.pdf. Acesso em: 12. mai. 2008.

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Vislumbra-se que o grande afastamento com o pós-guerra não teria sido a

queda do Muro de Berlim, mas indubitavelmente os atentados nos EUA. O inimigo

público número um surgiu das redes terroristas globais e de alguns estados à

margem da lei com capacidade de gerar turbulência regional 102.

Diante desse panorama as relações entre os EUA e as principais potências

mundiais, foram em alguns casos afetados, nomeadamente com a França,

Alemanha e Rússia, uma vez que inviabilizaram a apresentação no Conselho de

Segurança da ONU, de uma resolução patrocinada pelos EUA, Reino Unido e

Espanha que permitiria o uso da força.

Isso foi esquecido e o Presidente George W. Bush resolveu prosseguir

sozinho com algumas coligações de países voluntários, a China adaptou uma

posição mais discreta, mas defendeu sempre uma solução pacífica para o conflito

com o Iraque, o braço de ferro levou a uma crise nas relações entre EUA-Europa,

ainda que os EUA tenham tido diferentes posturas com cada um deles.

Por último percebe-se que o 11 de Setembro serviu aos intentos dos EUA

para uma nova ordem internacional, assente num Sistema Internacional Unipolar.

É nessa fileira de pensamento que a administração norte-americana reage

aos ataques, desencadeando contactos diplomáticos no sentido de criar em torno

de si uma coligação internacional que dê apoio as suas políticas.

A forma como a comunidade internacional reagiu aos atentados variou de

intensidade, com sinais de apoio dos quatro cantos do mundo e das mais

variadas nações, estados e líderes.

Em decorrência do 11 de Setembro, o governo Bush voltou a sua atenção

para a guerra contra o terrorismo. Primeiramente, na frente doméstica, o governo

tentou e recebeu resolução conjunta do Congresso, a autorização do uso do

poderio militar no exercício da autodefesa legítima.

A insegurança provocada no território dos EUA provocou sérias

mudanças quanto à legislação do país. As alterações implementadas visavam

impedir novos atentados em muitas áreas, dentre as quais, a do comércio

internacional.

102

DIAS, Caio Gracco Pinheiro. Contra a doutrina Bush, preempção, prevenção e direito internacional.

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CAPÍTULO 3

3. TERRORISMO E COMÉRCIO INTERNACIONAL

Os ataques terroristas do dia 11 de setembro e as séries subseqüentes de

ataques com anthrax trouxeram uma nova era de terrorismo nos Estados Unidos.

Considerando que os EUA são uma sociedade vasta e aberta, por sua própria

natureza, resta vulnerável ao terrorismo. As fronteiras dos Estados Unidos são

relativamente abertas, tanto para mercadorias, como para pessoas, o transporte

interestadual é livre e nunca houve uma boa razão para se implementar

mudanças.

3.1 ISPS CODE: APONTAMENTOS E SOLUÇÕES

Embora tenha havido anteriormente ataques terroristas de média

proporção nos Estados Unidos, a coordenação, planejamento e escala dos

ataques de 11 de setembro demonstraram que o terrorismo de destruição em

massa havia chegado à pátria norte-americana. A insegurança provocada no

território dos EUA provocou sérias mudanças quanto à legislação do país. As

alterações implementadas visavam impedir novos atentados. As principais

exigências comerciais implementadas foram o Container Security iniciative

(CSI); a 24 hour Advance Notice of Cargo Manifest; o Bioterrorísm Act e o

International Ship and Port Facility Security Code (ISPS Code).

Essas exigências também chegaram aos portos brasileiros, com novas

normas de segurança para instalações portuárias e navios de tráfego

internacional, em particular àqueles que destinam cargas aos Estados Unidos,

fato que gerou novos custos às administrações dos portos e aos arrendatários de

áreas portuárias.

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3.1.1 Conteiner Security Iniciative (CSI)

O Departamento de Aduana dos EUA criou o Container Security

Iniciative (CSI), que visa detectar cargas de alto risco que possam causar

qualquer tipo de ameaça à segurança do país. Essa nova regulamentação foi

firmada através de acordos bilaterais entre o US Customs Service e diversos

países que possuem comércio com os EUA. A intenção do Customs and Border

Protection (CBP) é eliminar o risco do terrorismo, sendo que os contêineres

destinados aos EUA, devem ser vistoriados nos portos de embarque antes que

este seja efetivado.

O CSI consiste em identificar os contêineres que contenham cargas de

conteúdo considerado de "alto risco"; visualizar os contêineres e suas cargas

antes de seu respectivo embarque; utilizar tecnologia de ponta a fim de

localizar contêineres que contenham cargas de alto risco; utilizar lacres de

alta segurança que assegurem a integridade dos contêineres e as cargas

nele depositadas.

No início, o CSI teve a sua implementação em vinte portos no mundo,

os quais representam dois terços dos contêineres embarcados, destinados aos

EUA. Para que o sistema opere de maneira adequada, acordos foram firmados

entre os países que possuem comércio com os EUA. O acordo prevê que os

países, nesse caso exportadores, recebam oficiais da alfândega norte-americana

em seus portos e cumpram uma série de exigências para o aumento da

segurança e dos procedimentos de embarque103.

Os contêineres sairão dos países de origem certificados por um oficial do

US Customs que possibilitará a entrada das mercadorias através do canal

verde, no território dos EUA. Para que esse procedimento seja efetivado, o

governo estadunidense solicita a instalação de um scanner, que, através da

utilização do raio-X, irá verificar o conteúdo dos contêineres. Com essa

verificação poderá ser identificado e impedido o embarque de bombas ou outros

tipos de equipamentos de uso considerado terrorista. No Brasil, em agosto de

103

U.S CUSTOMS & BORDER PROTECTION. CSI in brief. Disponível em: www.customs.ustreas.gov/xp/cgov/enforcement/international/csi/ports. Acesso em: 12. ago. 2005.

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2003, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), apresentou

uma proposta de centralização das exportações brasileiras para os EUA. Na

América do Sul, o porto escolhido foi o porto de Santos e, após o seu

credenciamento, a outra opção na região é Buenos Aires, na Argentina. O CSI

entrou em vigor em janeiro de 2002, e representa uma grande oportunidade

de promover a segurança marítima, aumentando o nível e qualidade do

transporte marítimo104.

3.1.2 "24 Hour Advance Notice Of Cargo Manifest"

A notificação prévia de embarque é uma lei que decorre do Container

Security Iniciative. Essa medida determina que os manifestos de carga sejam

transmitidos vinte e quatro horas antes do efetivo embarque de cargas, no porto

de origem que sejam destinadas aos EUA. O recebimento antecipado das

informações dos manifestos de cargas é feito por todas as empresas de

navegação. Essas informações são necessárias para garantir que o US

Customs, consiga identificar possíveis embarques de armas de destruição em

massa. A medida também visa facilitar a liberação de mercadorias que chegam

no seu território.

Todos os navios que têm destino aos portos dos EUA devem ter seus

manifestos de cargas enviadas pelo armador através do sistema Automated

Manifest System (AMS), eletronicamente. Essa lei é aplicável a todas as cargas

destinadas ou em trânsito no território estadunidense, ou seja, navios que se

destinam a outros países, mas tem escalas em portos dos EUA, e também em

Porto Rico, Hawaii e Alasca consideram as mesmas leis aplicáveis pelo US

Customs no território americano. A lei que regulamenta essas medidas é a 19

104

O CSI já está operacional nos seguintes portos do mundo: a) na América do Norte: Montreal, Vancouvere Halifax, Canadá;b) naEuropa: Rotterdam,Holanda; Bremerhaven e Hamburgo, Alemanha; Antuérpia, Bélgica; Le Havre, França;Gothemburgo, Suécia;La Spezia e Génova, Itália;Felíxstowe, Grã-Bretanha;Piraeus, Grécia;Algecíras, Espanha.c) na Ásia e no Leste: Singapura;Yokohama, Tóquio, Nagoya e Kobe, Japão; Hong Kong; Port Kelang, Malásia;Laem Chabang, Tailândia; Tanjung Palepas, Malásia, d) na África :Durban, África do Sul. A implementação do CSI deve seguir para os seguintes portos: a) na Europa: Livomo, Nápoles e Gioia Tauro, Itália;Zeebrugge, Bélgica;Liverpoll, Thamesport/Tilbury e Southampton, Inglaterra.b) na Ásia e no Leste: Shanghai e Shenzhen, China; Colombo, SriLanka. O custo de um scanner, usado para ler o interior de um contêiner, é estimado em R$ 4 milhões. Disponível em: <http://www.portoitajai.com.br/noticias/det_noticia.php?vfNot_cod=923>. Acesso em 5 set. 2005.

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CFR Part 4, 113 and 178, e entrou em vigor em 2 de dezembro de 2002, em

caráter de adaptação a todos os países. As penalidades começaram a ser

rigorosamente cumpridas em 2 de fevereiro de 2003.

O sistema AMS não permite que alterações sejam feitas pelas partes,

como adicionar ou deletar informações nos manifestos de carga já transmitidos.

As empresas de transportes marítimos devem informar as mudanças e

providenciar a correta informação de embarque às partes responsáveis. Os

dados de manifesto de carga devem ser enviados completos, ou seja, o

armador deverá indicar na mesma transmissão todas as cargas que estão

disponíveis para embarque para determinado navio. O US Customs não

aceita o que se chama de transmissão suplementar. As cargas de break bulk,

ou soltas, também deverão respeitar as mesmas regras aplicadas às cargas

conteinerizadas. São consideradas cargas break bulk as cargas que não estão

alocadas em contêineres, mas que sejam paletizadas ou estejam envoltas em

algum tipo de embalagem.

Essa regulamentação também prevê regras especificas às cargas

embarcadas por NVOCCs. Em 8 de agosto de 2002, foi autorizado que os

NVOCCs licenciados pela Federal Maritime Commission (FMC) poderiam

transmitir eletronicamente as informações de manifesto de carga diretamente ao

US Customs, desde que sejam respeitados os envios de manifestos 24 horas

antes ao embarque. No caso de NVOCCs que não estejam cadastrados no FMC,

esses deverão informar ao transportador o seu número de identificação de

manifesto de carga (SCAC Code), para que este inclua as informações em seu

manifesto.

A nova legislação exige que as informações sejam as mais completas e

verdadeiras no momento da transmissão dos dados. As alterações de

qualquer campo de um manifesto de carga devem ser checadas quanto à

possibilidade de alteração. Mudanças de lacre, como, por exemplo, uma carga

que tenha tido a vistoria pela Receita Federal brasileira, deve ser devidamente

informada ao US Customs, pois poderá gerar problemas de interpretação.

Nesse caso, se as alterações forem consideradas impróprias, a mercadoria

poderá ter seu embarque cancelado.

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Em caso de não cumprimento das exigências do 24 hour advance notice of

cargo manifest, o armador poderá sofrer penalidades que podem variar

entre multas, o impedimento de atracação de navios em portos dos EUA, como

também a impossibilidade de operar o seu SCAC Code105.

3.2 INTERNATIONAL SHIP AND PORT FACILITY SECURITY CODE (ISPS

CODE)

A principal modalidade que atingiu o comércio internacional inclusive do

Brasil, foi o ISPS CODE.

Esse código é uma resolução da qual fazem parte 162 países, incluindo o

Brasil, sendo um novo e abrangente regime de segurança para a navegação

internacional, que visa melhorar as estrutura marítima e portuária, objetivando a

prevenção de atos de terrorismo nessas áreas. O ISPS Code tem por objetivo:

estabelecer uma estrutura internacional envolvendo a cooperação entre

Governos Contratantes, órgão Governamentais, administrações locais e as

indústrias portuárias e de navegação a fim de detectar ameaças e tomar

medidas preventivas contra incidentes de proteção que afetam navios e

instalações portuárias utilizadas no transporte internacional; estabelecer os

papéis e responsabilidades dos Governos Contratantes, órgãos

Governamentais, administrações locais e indústrias portuárias e de navegação

em âmbito nacional e internacional a fim de garantir a proteção marítima;

garantir a coleta e troca eficaz de informações relativas à proteção; prover uma

metodologia para avaliações de proteção de modo a traçar planos e

procedimentos para responder a alterações nos níveis de proteção; e

garantir que medidas adequadas e proporcionais de proteção sejam

implementadas106.

105

A transmissão antecipada de manifestos de cargas solicita que tarifa os armadores quanto os agentes de carga NVOCCs, informem, entre outros, em seus manifestos de cargas os seguintes itens: o último porto estrangeiro antes de o navio seguir para os EUA; o código SCAC Code (Standard Carrier Alpha Code), que designado especificamente para cada transportador e agente de cargas; o número da viagem da companhia marítima;a data que o navio está programado para chegar no primeiro porto dos EUA com o território alfandegário. (19 CFR Part 178 Sec 4.7a (4), 2002) 106

SINDMAR. Código ISPS. 2004.

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Para que esses objetivos sejam cumpridos, cada governo conveniado

deverá conduzir a própria avaliação de segurança nas suas instalações.

Nessa avaliação, devem ser considerados, identificados e avaliados os

ativos e infra-estruturas mais importantes e apontados como críticas ao

desempenho da instalação portuária; os pontos que representam ameaças à

segurança e que possam causar a perda de vidas, da economia ou do meio

ambiente; e, finalmente avaliar a vulnerabilidade das instalações portuária,

identificando seus pontos fracos, visando, assim, priorizar o reforço de segurança

nessas áreas.

Após essa análise, os governos poderão classificar os níveis de

segurança apropriados de cada estabelecimento. Estes níveis estão classificados

em três classes: Nível 1 de proteção, significa o nível para o qual as medidas

mínimas de segurança adequadas de proteção deverão ser mantidas durante

todo o tempo; Nível 2 de proteção, significa o nível para o qual medidas

adicionais adequadas de proteção deverão ser mantidas por um período de

tempo como resultado de um risco mais elevado de um incidente de proteção; e,

Nível 3 de proteção, significa o nível para o qual medidas adicionais

específicas de proteção deverão ser mantidas por um período limitado de tempo

quando um incidente de proteção for provável ou iminente, embora possa não

ser possível identificar o alvo específico107.

No caso de navios108, esses estão sujeitos a sistemas de inspeção,

verificação e controle que deverão assegurar que as medidas de segurança foram

devidamente implementadas.

No conceito de gerenciamento de riscos incorporados no código, existe um

número mínimo de requisitos de segurança funcional. No caso de navios, as

empresas deverão apresentar planos de segurança para os navios, oficiais de

segurança nos navios, oficiais de segurança da própria companhia de navegação

e determinados equipamentos de segurança. No caso de instalações

portuárias, aplicam-se as mesmas regras de planos de segurança para as

instalações, oficiais de segurança e determinados equipamentos. Além dos

107

SIDMAR, 2004. 108

MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES. Clipping. [S.I.: s.n.], 2004. Disponível em:

<http://www.transportes.gov.br/index1asp> . Acesso em: 20 ago.2005.

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requisitos funcionais que visam alcançar os objetivos do ISPS Code, busca-se a

prevenção e acesso não autorizado a navios, instalações portuárias e suas

áreas restritas. Nesse sentido, também se inclui a entrada de armas não

autorizadas, dispositivos incendiários ou explosivos nas áreas que devem ter a

segurança aumentada.

O código tem aplicação aos seguintes tipos de navios envolvidos em

viagens internacionais: de passageiros, incluindo embarcações de passageiros

de alta velocidade, navios de carga, a partir de 500 toneladas de arqueação

bruta, unidades móveis de perfuração ao longo da costa e instalações portuárias

que servem a navio envolvidos em viagens internacionais.

No caso de instalações portuárias dentro de seu território, a extensão

de código terá a sua aplicação decidida pelo Governo Contratante no caso de

navios que não façam viagens internacionais. O ISPS Code não se aplicará a

navio de guerra, auxiliares navais ou outros navios de propriedade dos governos

que fazem parte do acordo ou por ele operados e utilizados a serviço

Governamental de natureza não comercial.

Com esse código, cada parte tem uma responsabilidade específica. No

caso dos Governos Contratantes, esses estabelecerão o nível de proteção

aplicável em suas instalações portuárias, aprovarão os planos de segurança de

navios, serão responsáveis pela verificação se as normas estão sendo

devidamente cumpridas pelas empresas marítimas, transmitem informações a

Organização Marítima Internacional e as indústrias portuárias e de navegação

entre outras atribuições109.

3.2.1 A IMPLEMENTAÇÃO DO ISPS CODE

O ISPS110 estabelece que a companhia deve providenciar um plano de

proteção, o qual enfatiza a responsabilidade do comandante. Esse terá

109 PORTO DE ITAJAÍ. Casemiro destaca importância do programa de segurança portuária.

[S.I.: s.n.]. Disponível em: http://www.portoitajai.com.br/noticias/det_noticia.php?vfNot_cod=902>. Acesso em 5 jun. 2006. 110 MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Conteineres

brasileiros com destino aos EUA serão vistoriados. [S.I.: s.n.], 2005. Disponível em: <http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio> Acesso em: 20 ago.2005.

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autoridade absoluta e é responsável por tomar decisões relativas à segurança e

proteção do navio e à solicitação de assistência da Companhia ou de qualquer

Governo Contratante, caso necessário.

Cada companhia deve estabelecer o plano de proteção de navios

baseados nos níveis de segurança estabelecidos pelos Governos Contratantes

do acordo. Os portos de Itajaí e São Francisco do Sul em Santa Catarina estão

certificados com o nível 1 de proteção. Esse é o nível que normalmente os navios

e instalações portuárias operam. Para o nível 1 a empresa deve garantir que as

medidas preventivas contra acidentes sejam corretamente cumpridas. Essas

medidas têm como objetivo a identificar e tomar a ações preventivas contra

incidentes de proteção cabíveis, da seguinte forma: assegurar a execução de

todas as tarefas relacionadas com a proteção do navio; controlar o acesso ao

navio; controlar o embarque de pessoas e seus pertences; monitorar áreas de

acesso restrito a fim de assegurar que somente pessoas autorizadas tenham

acesso às mesmas; monitorar áreas de convés e em torno do navio;

supervisionar o manuseio de cargas de provisões do navio; e assegurar que

informações relativas à proteção estejam prontamente disponíveis111.

Mesmo operando em portos de nível 1, todas as embarcações devem

ter planos de proteção para os três níveis de segurança. Os níveis 2 e 3, são

compostos de medidas adicionais ao nível 1, que são específicas a cada nível.

Com base na avaliação de ameaça para os portos que a frota irá operar, o

CSO (Company Security Officer) providenciará uma Avaliação de Proteção do

Navio (SSA), considerando os seguintes itens a bordo do navio: proteção física;

integridade estrutural; sistemas de proteção do pessoal; política de

procedimentos; sistemas de rádio e telecomunicações, incluindo sistemas e

rede de informática; outras áreas que, caso danificadas ou utilizadas para a

observação ilegal representem um risco para pessoa, propriedades, ou

operações a bordo do navio ou dentro das instalações portuárias112. O plano de

proteção deve considerar todos os pontos de acesso à embarcação,

considerando também as pessoas, atividade, serviços e operações que serão

realizadas na embarcação.

111

SINDMAR. 2004. 112

SINDMAR. 2004.

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A preparação de um plano de proteção eficaz deve se basear na avaliação

completa de todas as questões relacionadas à proteção do navio, incluindo, uma

apreciação plena das características físicas e operacionais e os tipos de viagem,

de um determinado navio. O plano também deve conter planos de proteção a

todos os acessos do navio, identificando-os de forma apropriada, indicando as

restrições ou proibições de acesso para os três níveis de proteção. O SSP irá

definir o tipo de proteção para cada nível. Através desses planos podem ser

elaborados sistemas apropriados de identificação, concedendo identificações

temporárias ou permanentes, para o pessoal de bordo e visitantes. Qualquer

que seja o plano elaborado, esse deve ser coordenado com o sistema aplicado às

instalações do porto.

Todas as pessoas que queiram subir a bordo de navios estarão sujeitas

à revista. A freqüência dessas revistas pode ser aleatória e devem ser estipuladas

pelo SSP e ser especificamente aprovada pela Administração do porto em que a

embarcação esteja operando.

As áreas restritas do navio devem estar devidamente estabelecidas, sob

o firme propósito de impedir o acesso não autorizado, proteger os passageiros, o

pessoal de bordo, o pessoal da instalação portuária ou outras agências

autorizadas a subir a bordo. Também devem restringir o acesso às áreas de

proteção sensíveis dentro do navio e proteção à carga e às provisões do

navio de qualquer tipo de violação.

Considerando o nível 1 de proteção, as medidas de restrição

aplicadas incluem a trava ou fechamento dos pontos de acesso, equipamentos

de vigilância para monitorar as áreas, a utilização de vigias e patrulhas. O plano

de segurança do navio também poderá contar com a utilização de dispositivos

automático de detecção de intrusão para alertar o pessoal de bordo sobre o

acesso não autorizado113.

O ISPS Code também considera a proteção ao manuseio das cargas.

Essas medidas podem ser aplicadas em conjunto com a instalação portuária.

Para o Nível 1 de segurança, é feita a verificação rotineira da carga, das unidades

de transporte e espaço de cargas antes e durante a operação e uma verificação

113

TRAINMAR. Código ISPS. Disponível em; www.trainmar.com.br/paginas/isps. Acesso em 12. ago. 2005.

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para garantir que o carregamento feito coincide com a documentação. Também

serão verificados os lacres e qualquer outro método para a prevenção de

violação. As inspeções podem ser visuais ou físicas, e contar com a utilização de

equipamentos de detecção ou escaneamento, além de dispositivos mecânicos.

Para um Plano de Proteção do Navio seja eficaz, o pessoal de bordo deve

ser capaz de detectar atividades fora do navio, tanto em terra quanto na água. A

cobertura de segurança deve incluir a área interna e externa do navio, tendo a

capacidade de identificação de pessoal nos pontos de acesso facilitado. O Plano

de segurança do navio deve conter procedimentos e medidas de proteção

específicos, caso opere em portos de um Estado não Contratante do ISPS Code.

No Porto de Itajaí, as medidas estão sendo devidamente aplicadas e os

documentos de procedência estão sendo exigidos. Em cada escala do navio, ó

feito um relatório indicando as pessoas que entraram a bordo, serviços realizados

e informando também como foi realizada a operação de cargas. Após a operação

do navio, outro relatório é elaborado para ser entregue no próximo porto de

escala.

Dessa forma, os níveis de segurança de acordo com o ISPS Code

implicam necessariamente em estabelecer melhorias da infra-estrutura

administrativa e física, seja em equipamentos, tecnologia e na formação e

capacitação de recursos humanos de tal forma que possam ser absorvidos por

todos os atores da comunidade portuária como meio de assegurar a aplicação

homogênea da nova norma de proteção portuária.

3.2.2 BIOTERRORISM ACT

O Bioterrorism Act ou Lei do Bioterrorismo, como é conhecido, consiste

em um cadastro antecipado feito por todos os componentes da cadeia logística de

exportação, partindo desde o exportador, o operador, o agente encarregado,

transportadores, entre outros. Esse cadastro é feito sem nenhum custo. A Lei

baliza as inspeções nos portos, protege o suprimento de alimentos, rastreia

materiais biológicos e melhora a capacidade de resposta do sistema de saúde.

Essa medida entrou em vigor em 12 de dezembro de 2003, com o objetivo de

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reforçar a segurança do suprimento alimentar americano, possibilitando uma

melhora no monitoramento e inspeção a produtos alimentícios importados.

O aviso prévio é composto por duas medidas que possibilitam uma nova

forma de proteção delegada ao Food and Drug Administration (FDA). A primeira

medida, em vigor desde 12 de dezembro de 2003, determina que o aviso

prévio seja feito pelos importadores através de uma notificação avançada

sobre os produtos alimentares (humano ou animal). Essa notificação

possibilitará que FDA tenha o conhecimento antecipado sobre a mercadoria

embarcada e quando chegará aos EUA. Na segunda medida, é solicitado

que estabelecimentos nos EUA, os quais produzam, processam, embalam e

transportam alimentos para consumo animal ou humano, também se cadastrem.

O trabalho de verificação e fiscalização é desenvolvido em conjunto entre

o FDA e o Customs and Border Protection (CBP), sendo que a previsão de

cadastros é de 25.000 notificações por dia de chegada e 420.000

cadastros de estabelecimentos na segunda medida. O cadastro é feito através

de um sistema automatizado sofisticado, o Automated Broker Interface of the

Automated Commercial System (ABI/ACS), vale dizer, Interface Automatizada

de Corretores do Sistema Aduaneiro Comercial, ou pelo FDA Prior Notice System

Interface (PN), Sistema de Aviso Prévio. As informações serão recebidas

eletronicamente, possibilitando que o CBP e o FDA trabalhem e tomem decisões

em conjunto no que se refere às mercadorias importadas, caso essas

representem uma ameaça à segurança do país.

Após o recebimento da notificação, o FDA também confirmará o

recebimento eletronicamente, não menos que cinco dias antes da chegada e não

menos que duas horas antes da chegada por terra via estrada; quatro horas antes

da chegada por ar, terra via ferrovia; e, oito horas antes da chegada via água. No

caso de correspondência internacional, a notificação deve ser feita antes do

envio, sendo que a confirmação do FDA deve seguir junto com a postagem. A

notificação prévia exigida pelo FDA consiste na identificação dos alimentos para

consumo humano ou animal que são importados para os EUA114.

114

São considerados alimentos: suplementos alimentares/dietéticos e ingredientes alimentares/ dietéticos; fórmulas infantis; bebidas (incluindo bebidas alcoólicas e água engarrafada); frutas e vegetais; produtos lácteos e ovos in natura; alimentos ou como componentes de alimentos; alimentos enlatados e congelados; produtos de panificação, salgadinho e doces (snacks),

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Além da correta identificação do produto que é importado, para o efetivo

registro são necessários informar os seguintes dados: nome, endereço e telefone

da empresa e da controladora ou matriz; nome, endereço e telefone do

proprietário, operador ou agente encarregado; todos os nomes e marcas

comerciais utilizados pelo estabelecimento; categorias de produtos alimentícios

exportados; declaração que ateste a veracidade da informações apresentadas e

nome, endereço e telefone do agente nomeado no exterior.

Na ofensiva contra o bioterrorismo, existe ainda o Couterterrorism, uma

iniciativa que está focada para uma rápida resposta ao terrorismo e aumentar a

segurança alimentar.115 Após cem anos de existência, garantindo a segurança

pública, os eventos de 11 de setembro de 2001 e os ataques de anthrax e a

descoberta de atividades terroristas com forte possibilidade de contaminação,

o FDA alterou o foco de proteção ao país. Essa alteração levou o organismo a

desenvolver cinco objetivos contra o terrorismo116.

O desenvolvimento dessas regras visa à defesa do país contra possíveis

ataques, mas como em todos os outros casos pode criar barreiras que dificultam

o comércio internacional. Os reflexos de todas das principais medidas de

seguranças vigentes nos EUA estão sendo sentidas na prática. A guarda

Costeira de New Jersey recebeu uma denúncia através de um e-mail, em agosto

de 2004, avisando sobre o perigo de uma substância perigosa. A denúncia que

chegou à Guarda Costeira foi recebida pelo Departamento de Agricultura,

informava que cinco contêineres, carregados de limões continham uma

inclusive balas e goma de mascar; animais vivos destinados à fabricação de alimentos e rações animais e alimentos para animais de estimação. 115

Essa medida prevê um plano estratégico do FDA contra o terror, o qual visa ao fortalecimento da habilidade de identificar, preparar e responder as ameaças e incidentes terroristas. 116

Facilitar o desenvolvimento e disponibilidade de ações médicas contra um ataque terrorista a alvos civis ou militares: os medicamentos (humanos e animais) disponíveis para prevenir, diagnosticar com tratamentos adequados em caso de ataques terroristas; melhorar a qualidade e preparação em caso de emergência das agências para respostas rápidas a ataques terroristas: conduzir ações com outras organizações, desenvolver planos de administração de crises, expansão da capacidade de testes dos agentes do FDA. Também colaborar com as áreas de ciências, direito e comunicação internacional; garantir a segurança dos profissionais do FDA: desenvolver um nível seguro de trabalho, aumentar a segurança dos estabelecimentos do FDA, treinar adequadamente os profissionais; o FDA será responsável pela segurança de mais de 80% do suprimento alimentício do país e objetivo principal é reduzir os riscos de ataques ao máximo; proteger medicamentos, equipamentos médicos (humanos e animais): implementar o Public Health Securiíy and Bioterrorism Preparedness andn Response Act of 2002; complementar as áreas identificadas como vulneráveis, aumentando a segurança, desenvolver e implementar estratégias de prevenção nestas áreas.

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substância biológica nociva. O e-mail confirmava o nome do navio e a

numeração das unidades.

Em uma nota à empresa, a Guarda Costeira informou que não encontrou

nenhum perigo biológico ou diferente associado ao produto argentino, que

estava destinado ao Canadá. Mas, o resultado do teste não excluiu o plano de

destruição da carga. Depois de dias, o navio CSAV Rio Puelo, de propriedade da

empresa chilena CSAV, foi vistoriado pela Guarda Costeira que realizou testes

na tripulação para detectar possíveis doenças. Nada foi constatado. A área em

que se encontravam os contêineres foi isolada e sofisticados testes foram

realizados, sendo que nada foi detectado. Como medida de segurança a carga

foi incinerada.

Este tipo de situação é de extrema gravidade e deve ser avaliada com

cuidado. O respeito às leis vigentes devem ser seguidos corretamente, mas

tendo informações consistentes. O envio apenas de mensagens anônimas,

pode comprometer toda a logística internacional.117 Efetivamente, o impacto dos

atentados ocorridos no EUA foi responsável por significativas mudanças na

operacionalização do comércio internacional entre os Estados Unidos e o

restante do mundo.

No que tange à área marítima, as empresas de navegação como

tantos outros setores, providenciaram as alterações respeitando as novas

exigências e providenciaram a sua adequação e a de seus clientes de acordo,

seja na questão documental ou na implementação do ISPS Code. Essas novas

exigências significaram a alteração em diversos procedimentos que até então

eram seguidos de uma maneira única para embarques destinados a qualquer

porto do mundo.

117

A implementação do ISPS Code em Santa Catarina também deve ser destacada. O primeiro terminal portuário do sul do país a obter a certificação, foi o Porto de Itajaí. A certificação ocorreu em 24 de junho de 2004 e foi emitida pela Comissão Estadual de Segurança Pública nos Portos (CESPORTOS). Para garantir que Itajaí permaneça no circuito mundial de tocas de cargas, houve um investimento em equipamentos e instalações em torno de R$ 2,4 milhões. Entre as melhorias de sua estrutura podem-se destacar: instalação de 46 câmeras de vigilância, sendo dez giratórias; recuperação das sinalizações vertical e horizontal, instaladas no porto e no canal de acesso; ampliação dos muros; modernização dos acessos do terminal, contando com a instalação de detectores de metais e sensores de identificação digital; adoção do sistema de crachás para cada classe trabalhadora; treinamento da guarda portuária; e, construção de dois geradores de energia.

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A partir de 2 de dezembro de 2002, todos os armadores passaram a

enviar seus manifestos de cargas com 24 horas de antecedência ao US

Customs. Porém, para que esse procedimento fosse executado com sucesso,

foi necessário que os clientes estivessem a par das alterações, pois o manifesto

de carga é feito com base nas informações fornecidas pelos embarcadores. As

empresa divulgaram a implementação dessas alterações junto aos seus

clientes através de telefone e mensagens eletrônicas, explicando como

passariam a ser os procedimentos de embarque de cargas destinadas aos EUA.

Essas alterações significaram mudanças dentro do departamento de

documentação, pois esse é o responsável pela emissão e envio das informações

diretamente aos EUA. Esses representantes jurídicos são responsáveis muitas

vezes por todo o processo de embarque, desde a estufagem da carga até a

liberação na Receita Federal brasileira. As empresas passaram a fornecer

informações e esclarecer dúvidas quanto à correta forma de envio de dados,

evitando problemas tanto para o armador quanto para o cliente. Todas as

medidas estão em vigor hoje e são respeitadas rigorosamente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na história da humanidade, em diversos momentos, pode-se verificar que a

utilização de violência contra civis foi uma importante arma de guerra. O século

XX foi um dos períodos históricos mais turbulentos, no qual todos os tipos de

ações foram utilizados. Os atentados de 11 de setembro nos EUA

demonstraram ao mundo uma nova forma de guerra. A grande diferença

consiste nas ações sem possibilidade de previsão, ao contrário, das guerras

tradicionais. Mas, acima de tudo, a diferença mais marcante está nos alvos de

cada ataque: pessoas civis. A violência contra civis tornou-se uma ferramenta

utilizada por diversos grupos extremistas, como forma de pressão a diferentes

governos em virtude de diversas causas, sejam ideologias políticas ou

religiosas.

A proposta dessa monografia baseava-se na verificação das regras

impostas pelos EUA após os atentados de 2001 para o transporte marítimo

internacional. Essas mudanças tiveram reflexo mundial, visto que a principal

exigência estadunidense visa ao controle de suas fronteiras evitando a

possibilidade de novos ataques. O transporte marítimo sofreu diversas

mudanças operacionais, as quais tiveram que ser implementadas de maneira

ágil. A necessidade de adequação correta às exigências foi fundamental para a

continuidade dos serviços oferecidos para o tráfego de cargas com destino aos

EUA.

Não somente as empresas necessitaram de adaptação, mas os seus

clientes também precisaram se atualizar e buscar a adequação de sua

documentação conforme instruções do US Customs (Aduana americana).

Durante a execução desse estudo, pôde-se perceber a falta de informações

completas quanto às mudanças que afetaram diretamente aos terminais e

armazéns de carga. O Container Securíty Iniciative (CSI), o International Ship

and Port Facility Security Code (ISPS Code) exigiram novos procedimentos

não somente dos armadores, mas, principalmente, das estruturas envolvidas

com o transporte internacional, as quais tem influência direta na concretização

do comércio exterior.

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Assim como as diferentes iniciativas, o bioterrorismo também teve

influência no comércio com os EUA que possui uma legislação voltada aos

cuidados de não contaminação da população com diversos tipos de vírus ou

doenças. Possibilitou-se, enfim, o amplo entendimento de como a adoção de uma

regulamentação visando à segurança pode alterar a dinâmica do comércio

internacional.

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ANEXOS