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Tese Final

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  • UNIVERSIDADE CATLICA PORTUGUESA

    CENTRO REGIONAL DE BRAGA

    FACULDADE DE CINCIAS SOCIAIS

    REDE NACIONAL PARA OS CUIDADOS

    CONTINUADOS INTEGRADOS

    O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    II Ciclo de Estudos em Gerontologia Social Aplicada

    Carla Alexandra Macedo dos Santos

    Orientador

    Professor Doutor Eduardo Jorge Duque

    Braga, 2011

  • UNIVERSIDADE CATLICA PORTUGUESA

    CENTRO REGIONAL DE BRAGA

    FACULDADE DE CINCIAS SOCIAIS

    REDE NACIONAL PARA OS CUIDADOS

    CONTINUADOS INTEGRADOS

    O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    II Ciclo de Estudos em Gerontologia Social Aplicada

    Carla Alexandra Macedo dos Santos

    Orientador

    Professor Doutor Eduardo Jorge Duque

    Braga, 2011

  • RESUMO

    A presente investigao tem o intuito de conhecer o grau de dependncia funcional

    de indivduos com 65 e mais anos que estiveram internados na unidade de

    convalescena dos cuidados continuados integrados. Deste modo, nosso propsito

    avaliar o grau de dependncia funcional em 3 momentos distintos: aquando do

    internamento na unidade de convalescena, na alta e aps 1 ms da referida alta.

    Para o efeito, realizou-se um estudo no internamento da Unidade de

    Convalescena, integrada na Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados

    da Santa Casa da Misericrdia de Pvoa de Lanhoso, procedendo-se aplicao de 20

    inquritos a idosos, com idades compreendidas entre os 65 e os 91 anos de idade

    (M=76,6). Trata-se de um estudo no experimental quantitativo, do tipo longitudinal de

    painel. Empregou-se utilmente uma ficha de caracterizao scio-demogrfica e uma

    escala: a Escala de Barthel. Os resultados evidenciam diferenas significativas nas

    pontuaes mdias entre cada uma das avaliaes. As pontuaes mdias da escala de

    Barthel aumentaram significativamente da 1 para a 2 avaliao e da 2 para a 3, ou

    seja, a reabilitao dos doentes idosos inquiridos na amostra gradual e efectiva.

    Palavras-chave: Idosos, Dependncia Funcional, Rede Nacional para os Cuidados

    Continuados Integrados.

    iii

  • ABSTRACT

    The present investigation aims to determine the degree of functional dependence

    of individuals aged 65 and older who were admitted to the recovery of continued care.

    Thus, our purpose is to assess the degree of functional dependence in three distinct

    stages: during the stay in the convalescent unit, at discharge and after one month of that

    high.

    To this end, we carried out a study of hospitalization in the Convalescent Unit,

    part of the National Network for the Continuous Care, Santa Casa da Misericordia in

    Povoa de Lanhoso, proceeding to the application of 20 surveys of seniors, aged between

    65 and 91 years of age (M = 76.6). It is a non-experimental quantitative study, the

    longitudinal panel. Usefully employed to form a socio-demographic and a scale:

    "Barthel Index". The results show significant differences in mean scores between each

    of the assessments. The mean scores of the Barthel scale increased significantly from

    the 1st to the 2nd assessment and the 2nd to the 3rd assessment, in other words, the

    rehabilitation of the elderly respondents in the sample is gradual and effective.

    Keywords: Elderly, Functional Dependency, National Network for Continuous Care.

    iv

  • AGRADECIMENTOS

    Deixo aqui expresso o mais profundo agradecimento a todos aqueles que contriburam

    para a realizao desta dissertao, e que sempre se disponibilizaram a prestar to

    imprescindvel apoio..

    s pessoas mais importantes da minha vida, os meus

    Pais. Pela palavra e pelo exemplo, no relacionamento mtuo e nas opes quotidianas, a

    eles um eterno agradecimento pelo amor, dedicao, carinho, confiana, pacincia e

    fora incondicional durante todos estes anos. Sem eles os meus objectivos no se teriam

    concretizado.

    Aos meus avs, exemplos de vida a seguir.

    Ao meu orientador, Professor Doutor Eduardo Duque, pelos ensinamentos de

    investigao e pelo entusiasmo para a realizao desta investigao.

    excelente equipa da Unidade de Convalescena do Hospital da Santa Casa da

    Misericrdia da Pvoa de Lanhoso pela total disponibilidade e amabilidade

    demonstrada durante todo o processo de recolha de dados, para alm de todos os

    esclarecimentos fornecidos.

    Aos idosos que participaram no estudo, o meu sincero agradecimento.

    Ao Fernando, amigo que funcionou sempre como fora motivadora para prossecuo do

    trabalho, para alm, da inesgotvel disponibilidade na optimizao do mesmo.

    Aos meus colegas e amigos, muito em especial Patrcia e ao Andr pelo apoio efectivo

    na elaborao da tese.

    A todos, um muito obrigado!

    v

  • NDICE

    INTRODUO ............................................................................................................... 11

    PARTE I - FASE CONCEPTUAL ........................................................................................ 15

    1.1. Formulao do Problema de Investigao ..................................................... 15

    PARTE II ENQUADRAMENTO TERICO ........................................................................ 19

    2.1. O Envelhecimento Demogrfico ................................................................... 20

    2.2. Implicaes Sociais....................................................................................... 22

    2.3. Processo de Envelhecimento ......................................................................... 26

    2.4. Envelhecimento e Doena ............................................................................. 27

    2.5. Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados ............................. 31

    2.5.1. Objectivos da RNCCI ............................................................................. 32

    2.5.2. Dependncia Funcional .......................................................................... 33

    2.5.3. Coordenao da RNCCI ......................................................................... 35

    2.5.4. Tipos de Respostas ................................................................................. 36

    2.5.4.1. Unidade de Convalescena ................................................................. 39

    2.5.4.2. Unidade de Internamento de Mdia Durao e Reabilitao ............... 41

    2.5.4.3. Unidade de Internamento de Longa Durao e Manuteno................ 42

    2.5.4.4. Unidade de Cuidados Paliativos ......................................................... 43

    2.5.4.5. Cuidados Continuados Domicilirios.................................................. 43

    2.5.4.6. Unidade de Dia e Promoo de Autonomia ......................................... 44

    PARTE III FASE METODOLGICA ................................................................................ 45

    3.1. Desenho da Investigao ............................................................................... 45

    3.2. Amostra ........................................................................................................ 47

    3.3. Mtodo de Recolha de Dados ........................................................................ 48

    vvii

  • 3.4. Mtodo de Anlise dos Dados ....................................................................... 55

    3.5. Consideraes ticas .................................................................................... 55

    3.6. Caracterizao da Amostra ............................................................................ 56

    PARTE IV FASE EMPRICA .......................................................................................... 58

    4.1. Apresentao dos Resultados ........................................................................ 58

    4.1.1. Resultados relativos ao nvel de dependncia, na realizao das AVD`s ........59

    4.1.2. Resultados relativos ao grau de dependncia, segundo a Escala de Barthel ...65

    4.2. Interpretao e Discusso dos Resultados...................................................... 67

    CONSIDERAES FINAIS............................................................................................... 70

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................................... 72

    ANEXOS ...................................................................................................................... 81

    ANEXO 1-INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS (INQURITO) ..................................... 82

    ANEXO 2 - DECLARAO DE AUTORIZAO DA SANTA CASA DA MISERICRDIA DE PVOA DE

    LANHOSO PARA RECOLHA DE DADOS ............................................................................ 85

    vii

  • NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 Tipologias de Internamento e Fases de Implementao .............................. 45

    Tabela 2 - Caracterizao da Amostra ......................................................................... 56

    Tabela 3 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria Higiene Pessoal ........... 59

    Tabela 4 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Tomar banho ................ 59

    Tabela 5 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Alimentao ................. 60

    Tabela 6 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria Toilette ........................ 61

    Tabela 7 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Locomoo em Escadas 61

    Tabela 8 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Vestir ........................... 62

    Tabela 9 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Defecao .................... 63

    Tabela 10 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Urinar ........................ 63

    Tabela 11 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Transferncia

    Cadeira/Cama ............................................................................................................. 64

    Tabela 12 - Resultados relativos Actividade de Vida Diria - Deambulao ............. 65

    Tabela 13 - Resultados relativos ao grau de dependncia (Escala de Barthel) .............. 65

    Tabela 14 Comparao dos valores mdios obtidos nas trs avaliaes .................... 66

    viii

  • SIGLAS/ABREVIATURAS

    AVDs Actividades de Vida Diria

    CAD Centros de Apoio a Deficientes/Centros de Recursos

    CF Capacidade Funcional

    CS Centros de Sade

    CSP Cuidados de Sade Primrios

    DC Doena Crnica

    DF Dependncia Funcional

    ECCI Equipas de Cuidados Continuados Integrados

    ECL Equipas Coordenadoras Locais

    ECR Equipas Coordenadoras Regionais

    ECSCP Equipas Comunitrias de Suporte de Cuidados Paliativos

    Ed. Editor

    EUA Estados Unidos da Amrica

    Fem. Feminino

    FORHUM Formao de Recursos Humanos

    ICIDH Classificao Internacional de Comprometimento, Incapacidades e

    Desvantagens

    INE Instituto Nacional de Estatstica

    IPSS Instituies Particulares de Solidariedade Social

    M Mdia

    Masc. Masculino

    OMS Organizao Mundial de Sade

    ix

  • p Grau de significncia

    RNCCI Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados ou Rede

    SAD Servios de Apoio Domicilirio

    Signif. Significncia

    SPSS Statistical Package of Social Science

    STA Servios Telealarme

    UMCCI Unidade de Misso para os Cuidados Continuados Integrados

    WHO World Health Organization

    x

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    11

    INTRODUO

    A Gerontologia estuda os processos associados idade, ao envelhecimento e

    velhice, sendo uma rea de convergncia entre a biologia, sociologia e a psicologia do

    envelhecimento. O envelhecimento, nesse sentido, representa a dinmica de passagem

    do tempo e a velhice, por sua vez, o resultado de um processo global de modificaes

    progressivas e incessantes no funcionamento do organismo, fazendo com que o

    indivduo tenha dificuldades em se adaptar ao meio ambiente, tornando-o

    consequentemente mais vulnervel.

    A biologia do envelhecimento estuda o impacto da passagem do tempo nos

    processos fisiolgicos ao longo do curso de vida e na velhice. A psicologia do

    envelhecimento, por sua vez, concentra-se nos aspectos cognitivos, afectivos e

    emocionais relacionados com a idade, e ao envelhecimento com nfase no processo de

    desenvolvimento humano. A sociologia baseia-se em etapas especficas do ciclo de vida

    e concentra-se nas circunstncias socioculturais que afectam o envelhecimento e as

    pessoas idosas (Alkema e Alley, 2006). Podemos da, constatar que o envelhecimento

    varia de acordo com o indivduo.

    O fenmeno do envelhecimento um processo relativamente actual. Tal facto

    est associado, por um lado, acentuada diminuio da taxa de natalidade e, por outro

    lado, ao aumento significativo da esperana de vida. Este envelhecimento traz

    consequncias graves para a economia e para a sociedade e representa um desafio a

    diversos nveis. A criao de novas infra-estruturas e equipamentos, medidas laborais

    que incentivem a aprendizagem dos mais velhos, a validao de experincia e medidas

    de combate ao isolamento e inactividade so algumas das medidas a ter em conta.

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    12

    O envelhecimento da populao potencia mudanas e desafios para a sociedade

    em todos os aspectos, sejam sociais, polticos, econmicos, culturais ou referentes

    sade. Este ltimo talvez consista no mais enfatizado e preocupante entre idosos, j que

    a maioria deles apresenta pelo menos uma doena e limitaes de sade (Comisso

    Europeia, 2010).

    O envelhecimento, visto como um processo de declnio funcional, apresenta

    grandes afinidades conceptuais com a sade.

    A maior parte das pessoas idosas desfrutam de uma sade que lhes permite viver

    de uma forma independente, ou seja, conseguem alcanar um nvel aceitvel de

    satisfao das necessidades, atravs de aces adequadas que o indivduo realiza por si

    mesmo, sem ajuda de outra pessoa, nomeadamente as actividades de vida diria

    (AVDs), onde se incluem: alimentar, vestir, fazer a higiene pessoal, locomover, subir e

    descer escadas, controlar os esfncteres, entre outros. (Santos, 2000).

    O comprometimento na realizao, com maior ou menor dificuldade das

    actividades de vida diria, definida pela World Health Organization como capacidade

    funcional (CF), vai condicionar o desempenho satisfatrio das AVDs, potenciando

    deste modo a dependncia funcional (DF) dos idosos na vida quotidiana. A dependncia

    funcional definida como a incapacidade de realizar uma ou mais AVDs, sem auxlio.

    A DF definida em graus, esta pode classificada como leve, moderada ou avanada. A

    CF e a DF so dois conceitos que fazem parte de um sistema de Classificao

    Internacional de Comprometimento, Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da WHO.

    Num estudo realizado por Capelo (2001) verificou-se que as doenas crnicas e

    incapacitantes que mais acometem a populao idosa so a diabetes, as cardiopatias, os

    problemas osteoarticulares, estas duas com igual frequncia, seguidas da hipertenso

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    13

    arterial, da amputao de membros, da cegueira, da paraplegia, do cancro e, por ltimo,

    de doena renal.

    A pessoa idosa tem evidentemente necessidades desiguais no que concerne aos

    cuidados de sade. Conforme a populao envelhece, os sistemas de sade tm de se

    adaptar com o objectivo principal de prestar os cuidados adequados e, simultaneamente,

    manter a sua estabilidade financeira.

    Com vista a potenciar a prestao de cuidados continuados integrados a pessoas

    que, independentemente da idade, se encontrem em situao de dependncia, foi criada

    a Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados (RNCCI ou Rede).

    Orientada para a prestao de cuidados numa ptica global de satisfao das

    necessidades das pessoas que apresentam dependncia, com necessidade de cuidados de

    sade e de apoio social, esta Rede veio preencher uma lacuna em Portugal no mbito da

    Sade e do Apoio Social, colocando desta forma o pas ao mesmo nvel dos parceiros

    europeus, no que diz respeito a polticas de bem-estar promovidas pelo Estado (Guia da

    Rede para os Cuidados Continuados Integrados, 2009).

    Para analisarmos a problemtica apresentada, estruturamos o nosso estudo em

    quatro captulos. O primeiro captulo corresponde fase conceptual, onde se pretende

    formular o problema de investigao, identificando o objecto de estudo, tal como os

    objectivos e a finalidade do mesmo. No segundo captulo apresenta-se o enquadramento

    terico do tema em investigao atravs da identificao das temticas mais relevantes

    para o seu equacionamento. Deste modo, neste captulo, falar-se- de envelhecimento na

    sua dimenso global; do envelhecimento demogrfico e suas implicaes sociais; de

    seguida abordar-se- o processo de envelhecimento e a sua relao com a doena, mais

    propriamente com a dependncia funcional e, o ltimo ponto a incidir relacionar-se-

    com o mecanismo de aco da RNCCI, nomeadamente, objectivos, coordenao e tipos

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    14

    de resposta da mesma.

    O terceiro captulo do estudo diz respeito fase metodolgica, onde se identifica

    o desenho da investigao, tal como a amostra, e o mtodo de recolha de dados mais

    conveniente, para alm da referncia ao mtodo de anlise dos dados e s consideraes

    ticas. O quarto, e ltimo captulo, compreende a fase de apresentao dos resultados e

    a interpretao e discusso dos mesmos.

    Nas consideraes finais pretende-se apresentar os resultados derivados deste

    estudo, bem como elaborar algumas sugestes para futuros procedimentos na rea em

    anlise.

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    15

    PARTE I - FASE CONCEPTUAL

    A fase conceptual comea quando o investigador trabalha uma ideia para

    orientar a sua investigao (Fortin, 1999).

    1.1. Formulao do Problema de Investigao

    As alteraes demogrficas do ltimo sculo, que se traduziram na modificao

    e, por vezes, na inverso das pirmides etrias, reflectindo o envelhecimento da

    populao, vieram colocar aos governos, s famlias e sociedade em geral desafios

    para os quais no estavam preparados (Direco Geral de Sade, 2004).

    Segundo Fernandes (2007), o novo panorama de necessidades resulta

    essencialmente de trs factores: o primeiro o envelhecimento progressivo da

    populao portuguesa, consequncia do aumento da esperana mdia de vida

    nascena; o segundo factor relaciona-se com as mudanas verificadas no perfil das

    patologias, com peso crescente das doenas crnicas e degenerativas; e por ltimo, as

    alteraes sociolgicas ocorridas, em particular nas estruturas familiares e nas redes

    informais de apoio comunitrio.

    Segundo o mesmo autor, se o crescimento da esperana mdia de vida o

    resultado positivo do progresso humano, tambm o motivo do desencadear de

    inquietaes particularmente no que respeita ao aumento dos custos em cuidados de

    sade primrios, hospitalares e continuados, aos encargos humanos e financeiros que

    decorrem do aumento de situaes de incapacidade e dependncia. Viver mais tempo

    significa que se atinge uma idade mais elevada onde maior a probabilidade de

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    16

    ocorrncia de situaes patolgicas complexas susceptveis de virem a desencadear

    incapacidade e dependncia. a usura do tempo que coloca os organismos em situao

    de maior vulnerabilidade fisiolgica.

    Embora a doena possa afectar o indivduo em qualquer fase do ciclo vital, a

    ocorrncia de problemas associados ao sistema msculo-esqueltico, ainda que a todos

    os grupos etrios, mais frequente no idoso. Normalmente, no ameaam a vida, no

    entanto, exercem um impacto significativo sobre as suas actividades dirias.

    Para a pessoa idosa a independncia funcional normalmente o factor mais

    importante na manuteno da qualidade de vida, por estar relacionada com a capacidade

    do indivduo se manter na comunidade, desfrutando a sua independncia at s idades

    mais avanadas (Devons, 2002).

    Com o avanar da idade, as alteraes ao nvel do sistema locomotor surgem

    mais rapidamente, alterando no s a aparncia e a estrutura fsica, mas tambm o

    funcionamento do organismo (Alves et al., 2005).

    As prestaes hoje existentes no respondem com efectividade s necessidades

    das pessoas que se encontram em situao de perda de funcionalidade ou de

    dependncia devido sua insuficincia, indiferenciao e frgil articulao. A

    inadequao ou mesmo a provvel inexistncia de cuidados aps alta hospitalar, vai

    originar novos problemas de sade e o regresso ao hospital. Neste panorama, destacam-

    se os mais idosos, que representam 50% do total das readmisses (Direco Geral de

    Sade, 2006).

    H necessidade eminente que a recuperao seja efectiva, da a importncia de a

    perceber e de criar equipas de cuidados domicilirios com servios de sade, juntamente

    com o apoio das equipas de segurana social.

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    17

    Outra realidade relaciona-se com a vulnerabilidade dos cuidadores informais,

    mais especificamente a famlia.

    A famlia um lugar primordial para trocas intergeracionais. a que as

    geraes se encontram e interagem de forma intensa. o lugar de troca, de entreajuda

    incondicional do cuidar. A solidariedade familiar uma fonte inesgotvel, apesar de

    se encontrar muitas vezes exposta s perturbaes sociodemogrficas das sociedades

    modernas (Fernandes, 2007).

    Esta consciencializao social levou a que os encargos com idosos, que

    anteriormente eram da responsabilidade da famlia ou de particulares, fossem

    transferidos para instncias despersonalizadas e burocratizadas, em que as relaes entre

    os agentes se operam de forma annima ignorando mutuamente as suas existncias

    (Lenoir, 2007).

    A constatao da existncia de escassos trabalhos de investigao no mbito da

    recuperao e manuteno da independncia funcional nos idosos, aps um perodo de

    convalescena, contribuiu para uma crescente motivao na realizao deste estudo.

    Para alm desta manifesta relevncia a nvel acadmico e nvel social, tambm a nvel

    profissional e pessoal houve um interesse pela investigar desta temtica.

    O objectivo de um estudo permite orientar a investigao, indicando o porqu da

    investigao, sendo [] um enunciado declarativo que precisa as variveis-chave, a

    populao alvo e a orientao para a investigao (Fortin, 1999: 100) .

    Neste sentido, definiu-se como objectivo deste estudo:

    -- Conhecer qual o grau de dependncia funcional dos indivduos com 65 e mais

    anos que estiveram internados na unidade de convalescena dos cuidados continuados

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    18

    integrados, em 3 momentos distintos: aquando do internamento na unidade de

    convalescena, na alta e aps 1 ms da referida alta.

    A finalidade deste estudo o de contribuir para um melhor conhecimento do

    contributo das unidades de convalescena, integradas na Rede para os Cuidados

    Integrados, na reabilitao e promoo da qualidade de vida dos idosos. Uma vez que o

    processo de envelhecimento individual, a recuperao de um estado dependente

    assume caractersticas particulares em cada indivduo, nomeadamente, ao que s AVDs

    dizem respeito, para tal fulcral o planeamento das intervenes multidimensionais a

    pr em prtica, afim de manter a independncia dos idosos pelo maior tempo possvel.

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    19

    PARTE II ENQUADRAMENTO TERICO

    A aproximao a esta temtica remete para a delimitao de alguns conceitos

    que esto intimamente ligados mesma, e que so de fulcral importncia para a sua

    compreenso. Assim, neste captulo ser feita uma abordagem dos diferentes conceitos

    presentes neste estudo.

    O envelhecimento populacional um dos maiores desafios da sade pblica na

    actualidade (OMS, 2000).

    A evoluo demogrfica da populao portuguesa, traduzida, entre outros, pelo

    aumento progressivo da esperana de vida e dos ndices de envelhecimento, leva a

    prever um aumento acentuado do nmero de pessoas em situao de fragilidade e de

    risco de perda de funcionalidade (Direco Geral de Sade, 2004).

    A Organizao Mundial de Sade afirma que o conjunto de doenas,

    denominado por doenas crnicas no transmissveis, responsvel por 60% das mortes

    e incapacidades em todo o mundo, numa escala progressiva, podendo chegar a 73% de

    todas as mortes em 2020 (Mathers, 2002).

    O facto de que para a populao com 65 e mais anos, a presena de uma

    limitao fsica, seja ela causada por uma doena ou resultante de acidente, representa

    um risco para a sua autonomia, principalmente quando esta limitao sugere a

    dependncia na realizao AVDs e, consequentemente, um dfice do seu bem-estar

    psicolgico. Quando questionados relativamente sua percepo de qualidade de vida,

    o idoso refere, frequentemente, a falta de sade e a dependncia como uma das suas

    principais preocupaes (OMS,2000).

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    20

    Com o desenvolvimento da geriatria e da gerontologia, em conjunto outras reas

    afins, tem-se demonstrado que os idosos tm potencial para enfrentar diferentes

    situaes na vida, tais como, a doena e a limitao fsica (Ramos, 2002; Veras, 2002).

    2.1. O Envelhecimento Demogrfico

    Tm-se sido significativas as profundas mudanas no perfil demogrfico das

    populaes que explicam o fenmeno do envelhecimento. Segundo Guillemard (2003),

    o envelhecimento no s um fenmeno demogrfico, dado que, sendo portador de

    transformaes sociais, econmicas e culturais, constitui-se como fenmeno

    estruturante das nossas sociedades. concomitante com os fenmenos migratrios,

    designadamente com o xodo rural, com a reduo do tempo de trabalho, com a

    implementao da segurana social, com a feminizao do emprego so indissocivel

    dos progressos em termos de saneamento bsico, alimentao, escolarizao, formao

    profissional e acesso a cuidados de sade. No que se refere melhoria das condies de

    sade pblica, fazem parte o controlo efectivo sobre doenas infecto-contagiosas e um

    melhor domnio sobre algumas patologias, devido aos avanos da cincia e da

    tecnologia, e proteco social da velhice, o que correspondeu para a maioria dos

    pases europeus implementao do Estado de Providncia.

    Estas drsticas modificaes na estrutura da populao nos pases desenvolvidos

    resultam, por um lado, no aumento da esperana de vida1 e, por outro, na diminuio da

    taxa de natalidade2.

    11 Esperana de vida o nmero de anos que, em mdia, se pode esperar viver a partir de um certo

    momento de existncia, em geral o nascimento (mas tambm pode ser o incio da velhice, etc.).

    2 Taxa de natalidade o nmero de nados-vivos, por mil habitantes, num determinado perodo de tempo

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    21

    No que concerne esperana de vida nascena em Portugal, em 1960 era de

    60,7 anos para os homens e de 66,4 anos para as mulheres. Em 2001, estes valores eram

    de 73,7 anos (o que equivale a um acrscimo de 13 anos) e de 80,6 anos (aumento de

    14,2 anos), respectivamente (INE, 2002).

    Quanto taxa de natalidade, a mdia era de 23,7% em 1960, sendo que, em 2001

    o valor diminuiu para 10,8%, o que indica uma diminuio do nmero de nascimentos

    (Ibidem).

    Estes dados evidenciam um duplo envelhecimento da populao, ou seja, se por

    um lado, h um aumento do nmero de idosos, por outro, observamos uma diminuio

    do nmero de jovens.

    Projeces recentes do INE apontam para o agravamento do envelhecimento

    demogrfico no futuro. O abrandamento do ritmo de crescimento da populao

    residente em Portugal encontra-se associado ao decrscimo das taxas de crescimento

    migratrio (0,09% em 2008, face a 0,61% em 2003), a par de uma reduo das taxas de

    crescimento natural (0,00% em 2008, face a 0,04% em 2003). Paralelamente ao

    reduzido aumento da populao, manteve-se a tendncia de envelhecimento

    demogrfico. Entre 2003 e 2008, e relativamente ao total da populao, a proporo de

    jovens (com menos de 15 anos de idade), aumentou de 16,8% para 17,6%. A

    conjugao de ambas as tendncias consubstancia-se num continuado envelhecimento

    da populao, tendo o ndice de envelhecimento aumentado de 107 idosos por cada 100

    jovens, valor registado em 2003, para 115 em 2008.

    Para o perodo 2007/2009, a esperana mdia de vida nascena foi estimada

    em 78,9 anos, sendo de 81,8 para as mulheres e 75,8 para os homens. Em relao

    estrutura da populao por idades, observa-se que em 2009, segundo as estimativas da

    populao residente, a percentagem de indivduos entre os 0 e os 14 anos era de 15,2%,

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    22

    o grupo dos 20 aos 24 anos registava 11,1%, dos 25 aos 64 anos a percentagem

    estimada foi de 55,8% e o grupo dos 65 e mais anos atingia 17,9% da populao. Em

    2008, a distribuio pelos mesmos grupos etrios era a seguinte: 15,3%, 11,4%, 55,7% e

    17,6%, respectivamente. A evoluo de 2008 para 2009 vem confirmar, mais uma vez, o

    envelhecimento da populao portuguesa, envelhecimento visvel tanto pela diminuio

    da proporo da populao jovem, como pelo aumento da proporo da populao

    idosa. Em 2000, as mesmas propores eram de 16,0%, 14,3%, 53,4% e 16,4%,

    respectivamente (INE, 2010).

    De acordo com o cenrio mais esperado, continuar a declinar a percentagem de

    jovens da populao, atingindo, segundo perspectivas do INE, os 13% em 2050,

    representando os idosos nesse mesmo ano 32% da populao, ou seja, o dobro do valor

    percentual registado, em 20013.

    2.2. Implicaes Sociais

    Actualmente, o envelhecimento constitui um problema social que ocupa um

    lugar de crescente relevncia, com importantes implicaes na qualidade de vida das

    pessoas, nas perspectivas de realizao dos seus projectos de vida e na sustentabilidade

    dos sistemas de proteco social.

    Face estimada diminuio do nmero de activos, o acrscimo da percentagem

    de inactivos poder exigir quotizaes mais elevadas da populao activa de forma a

    manter o nvel de retribuies. Contraditoriamente, a longevidade com melhores

    condies de vida poder chocar com a antecipao do tempo mdio de vida activa. O

    33 De acordo com o cenrio mais plausvel, a esperana de vida nascena passar, neste perodo (2000-

    2050), para 79 anos no caso dos homens, e para 84,7 anos no caso das mulheres.

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    23

    reconhecimento das dificuldades de assegurar financeiramente o sistema de segurana

    social no quadro actual um dos maiores problemas com que se deparam as sociedades,

    cujos regimes se baseiam no princpio de repartio, tal como Portugal, em virtude de

    dependerem de obrigaes recprocas entre geraes, pelo facto de financiamento da

    reforma de uma determinada gerao ser sustentada pela sua gerao sucessora. A

    possibilidade de assegurar o mesmo direito a geraes futuras aparenta colidir quer com

    o processo de envelhecimento demogrfico, quer com determinadas formas de

    organizao econmica (Filipa Alvarenga, 2001).

    No entender de Jos Lus Casanova (2001), vive-se hoje com crescente

    perplexidade e incmodo social um dos paradoxos mais notveis do desenvolvimento e

    da modernizao nos pases industrializados: aumenta sistematicamente a esperana de

    vida, mas esvazia-se de autonomia, de status social, de oportunidades e de qualidade de

    vida a condio social da maior parte da populao idosa.

    Nas sociedades modernas industriais, mais estruturadas pelo trabalho, mais

    voltadas para o seu exterior e mais prospectivas, o desenvolvimento econmico,

    cientfico e tecnolgico, associado a uma mais intensa valorizao social da longevidade

    e da sade, criaram condies para o aumento da esperana de vida. Por sua vez, os

    movimentos sociais e a consagrao de sistemas de proteco social estatais

    determinaram a institucionalizao da reforma como direito social (Fernandes, 2004), e

    a organizao capitalista da produo (com a tnica no crescimento econmico e na

    produtividade) associada ao investimento social no progresso, no futuro e na adaptao

    a mudanas rpidas, contriburam decisivamente para fomentar o culto da inovao e da

    juventude.

    A crescente visibilidade da velhice, enquanto problema social, articula-se com a

    necessidade de novas orientaes polticas sociais dirigidas terceira idade e ao

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    24

    reconhecimento da urgncia de modernizao da proteco social neste domnio que,

    inevitavelmente, questiona os prprios sistemas pblicos de penses actualmente em

    vigor (Filipa Alvarenga, 2001).

    A identificao das pessoas idosas em situao de fragilidade econmica e que

    apresentam nveis elevados de dependncia enquanto grupos de risco, face aos quais

    urge proporcionar o direito a envelhecer com segurana e dignidade, torna pertinente

    uma abordagem ao nvel do combate das desigualdades perante a velhice, atravs de

    medidas de discriminao positiva indispensveis melhoria do seu acesso aos direitos

    consagrados para todos os cidados (Ibidem).

    Posto isto, os governantes vem-se, assim, obrigados ao desenvolvimento de

    uma rede de apoio social integrado atravs tanto da optimizao dos recursos

    disponveis - numa ptica de melhoria da qualidade e eficcia dos servios e

    equipamentos sociais existentes e das prprias metodologias de interveno -, como da

    criao de novas infra-estruturas de apoio aos idosos que permitam uma maior cobertura

    do pas (Ibidem).

    Neste sentido, desenvolveram-se algumas medidas e respostas sociais que vo ao

    encontro dos princpios mencionados, nomeadamente dos Programas seguintes:

    Programa de Apoio Integrado a Idosos (PAII) tem como objectivo

    evidenciar os direitos das pessoas idosas a uma vida condigna, qualquer que

    seja o seu estado de sade ou situao familiar e social, prevenindo e

    erradicando situaes de excluso. Entre os objectivos deste programa

    desenham-se contributos para a solidariedade entre geraes, a implementao

    de respostas inovadoras, a promoo de parcerias e a criao de postos de

    trabalho. Privilegia-se, assim, a execuo de projectos de implementao local,

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    25

    atravs do desenvolvimento de um trabalho em rede que rena vrios sectores,

    entidades e instituies, bem como parceiros naturais (famlia, vizinhos,

    comunidade). Os principais projectos de promoo local visados so:

    Servios de Apoio Domicilirio (SAD), projectos de alargamento

    da cobertura existente, extenso do apoio totalidade das 24

    horas, a melhoria dos servios prestados e a adequao do

    ambiente domicilirio s necessidades das pessoas idosas;

    Centros de Apoio a Deficientes/Centros de Recursos (CAD),

    servios pluridisciplinares de cuidados integrados de carcter

    temporrio, continuando o apoio a diferentes grupos etrios para

    a preveno, reabilitao e reinsero de pessoas com

    dependncia;

    Formao de Recursos Humanos (FORHUM), visa-se o

    incentivo habilitao para a prestao de cuidados formais e

    informais junto de profissionais, familiares, vizinhos e

    voluntrios.

    No que concerne ao domnio dos projectos de promoo central, prev-se a

    continuidade dos projectos Sade e Termalismo, Passes para a Terceira Idade, Turismo

    Snior e servios de telealarme (STA)4.

    44 O Servio de Telealarme uma resposta social complementar que, atravs de um sistema inovador de

    telecomunicaes nacional, permite a partir do accionamento de um boto de alarme o contacto com a

    rede social de apoio de cada pessoa; os passes para a terceira idade vieram eliminar as restries horrias

    nos transportes pblicos nas coroas dos passes sociais de Lisboa e Porto; no que respeita sade e

    termalismo snior, trata-se de comparticipaes, em funo dos rendimentos das pessoas idosas, na

    estadia em termas, mediante prescrio de tratamentos termais pelo mdico de famlia. O PAII, resulta do

    Despacho Conjunto, de 1 de Julho de 1994, dos Ministros da Sade e do Emprego e Segurana Social

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    26

    Programa de Apoio Iniciativa Privada Social (PAIPS)5 destina-se

    a apoiar a criao, desenvolvimento e melhoria, qualitativa e quantitativa, de

    equipamentos e servios locais dirigidos populao idosa;

    Programa Idosos em Lar (PILAR)6 procura desenvolver e

    intensificar a oferta de lares e outras respostas sociais para idosos, atravs do

    realojamento de pessoas oriundas de instituies com fins lucrativos sem

    condies de funcionamento, da cobertura de necessidades de colocao

    institucional em zonas deficitrias de servios e equipamentos sociais e de

    apoio criao e remodelao de lugares dirigidos a utentes de Instituies

    Particulares de Solidariedade Social (IPSS) sem condies de financiamento.

    Trata-se no s de dar respostas s carncias sentidas pelas pessoas idosas em

    Portugal, apoiando o incentivo cooperao e articulao das intervenes tanto

    governamentais como no-governamentais, como consagrar o direito a optarem pelo

    modo como preferem viver a sua velhice.

    2.3. Processo de Envelhecimento

    Torna-se pertinente aferir a idade para se considerar que se idoso, no entanto a

    imposio de um limite cronolgico meramente arbitrrio. A entrada na velhice

    depende de vrios factores que ultrapassam os limiares da mera cronologia. Cada

    indivduo reage de forma diferente ao avano da idade. A velhice construda

    paulatinamente, para a qual concorrem variveis biolgicas e sociais (Farinnatti, 2002:

    129).

    55 Resoluo do Conselho de ministros n 91/99, 12 de Agosto

    6 Resulta do Despacho do secretrio de Estado da Insero Social, de 20 de Fevereiro de 1997

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    27

    Por uma questo estrutural, funcional e regulamentar, tem sido considerada a

    proposta da Organizao Mundial de Sade (OMS) e da Organizao das Naes

    Unidas (ONU), que conceptualizam o idoso pela idade e grau de desenvolvimento do

    seu pas, propondo para os pases desenvolvidos um limite inferior de 65 anos e 60 anos

    para os pases em desenvolvimento (Paschoal, 2000).

    Paralelamente s alteraes normativas do envelhecimento, estudos

    epidemiolgicos descrevem uma maior morbilidade e mortalidade associados a esta

    faixa etria. Sanchez (2000) refere que as transformaes fsicas e a fragilidade das

    condies de sade dos idosos podem comprometer a sua capacidade funcional,

    originando com frequncia a perda da autonomia.

    Segundo Berger (2003), na maioria dos pases industrializados, a actual taxa de

    dependncia cerca de dois adultos independentes, para cada pessoa dependente. A

    idade no um prognstico exacto de dependncia das pessoas, no entanto, dados do

    Instituto Nacional de Estatstica (INE), revelam que entre a populao com dependncia

    o ndice de envelhecimento de cerca de 5,5 vezes superior ao da populao total.

    2.4. Envelhecimento e Doena

    Como temos vindo a fazer referncia, relativamente ao processo de

    envelhecimento, torna-se difcil estabelecer um nico conceito, devido variedade de

    definies existentes, e cada uma com enfoques em diferentes aspectos. No sentido

    biolgico, envelhecer entendido como um processo natural (irreversvel) e progressivo

    envelhecimento primrio ou natural, e que faz parte do ciclo de vida do ser humano

    pois inicia-se com a concepo e termina com a morte, passando pelas fases de

    desenvolvimento intra-uterino, nascimento, infncia, maturidade e velhice (Magalhes,

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    28

    2004), esta ltima etapa traz consigo a diminuio fsica, mental e social, consequente

    das alteraes estruturais e funcionais que experimenta no corpo e na mente todos

    quantos envelhecem. E que no podendo ser evitadas podem ser minimizadas e adiadas.

    Por outro lado, temos ainda o processo de envelhecimento como um fenmeno

    complexo, designado por envelhecimento secundrio ou patolgico, que submete o

    organismo a inmeras alteraes anatmicas e fisiolgicas, afectando a sua integridade,

    permitindo o surgimento das doenas crnicas e, ou degenerativas e predispondo a uma

    maior mortalidade.

    Em 1946, a Organizao Mundial de Sade definiu sade como um completo

    estado de bem-estar fsico, mental e social, e no s a ausncia de doena ou

    enfermidade. Esta definio deixou bem assente que a doena e a enfermidade, quando

    isoladas da experincia subjectiva, so inadequadas para qualificar sade.

    A sade deve definir-se de forma positiva e descentralizada do indivduo,

    percebendo-o como um ser integrado no meio.

    Alargar a sade s dimenses psicolgicas e sociais foi um avano significativo,

    mas, embora conceptualmente importante, revela-se desprovido de valor operacional.

    Envelhecer com sade, autonomia e independncia, constitui, assim, hoje, um desafio

    responsabilidade individual e colectiva, com traduo significativa no desenvolvimento

    econmico dos pases (Rodrigues, 2006).

    So vrias as tentativas de definir sade, apresenta-se de imediato algumas

    dessas definies, assim sendo:

    Plena adaptao fsica, mental e social ao ambiente em que vive

    (Polgar, 1963);

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    29

    Estado dinmico de bem-estar, caracterizado por um potencial fsico e

    mental, que satisfaz as necessidades da vida consoante a idade, a cultura, e a

    responsabilidade pessoal (Bircher, 2005);

    Capacidade de funcionamento eficaz, dentro do possvel e atendendo ao

    meio, e de utilizao plena das suas capacidades (Dubos, 1968).

    Segundo o Alto Comissariado da Sade, a definio que melhor descreve o

    termo sade, e que est a ser adoptada, a de Bircher, uma vez que a formulao que

    mais se enquadra no pensamento actual.

    O aparecimento da doena nem sempre est associado etapa de velhice, no

    entanto, sabemos que o envelhecimento aumenta a probabilidade de surgimento de

    doena e, prolonga o tempo de recuperao.

    A importncia da varivel sade/doena no envelhecimento de tal modo

    importante que est na origem da distino clssica entre envelhecimento normal ou

    primrio (um processo natural), em que est subjacente a ausncia de doena e

    envelhecimento patolgico ou secundrio, induzido ou agravado pela ocorrncia de

    doena, e em que esta se torna causa prxima da morte (Birren & Cunningham, 1985).

    De acordo com a OMS, a doena crnica (DC) uma doena de longa durao

    e de progresso geralmente lenta, sendo definida pelo Centers for Disease Prevention

    and Control como condio que no cura, uma vez adquirida [] e que se pode

    prolongar 3 meses ou mais (Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, 2009).

    Segundo a mesma fonte, as doenas crnicas so a principal causa de morte e

    incapacidade.

    A OMS indica que as doenas crnicas de declarao no obrigatria, como as

    doenas cardiovasculares, a diabetes, a obesidade, o cancro e as doenas respiratrias,

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    30

    representam cerca de 59% do total de 57 milhes de mortes por ano e 46% do total de

    doenas no mundo. Afectam pases desenvolvidos e pases em vias de desenvolvimento,

    Portugal no excepo.

    Estudos laboratoriais e clnicos baseados na populao sugerem que um nmero

    restrito de factores de risco modificveis responsvel pela maioria das doenas

    crnicas: dietas no saudveis com alta ingesto energtica, falta de actividade fsica e

    uso do tabaco. Estes factores de risco so os mesmos para homens e mulheres em toda a

    regio europeia (Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, 2009), disseminando-se

    por todo o mundo como consequncia do fenmeno da globalizao dos estilos de vida.

    As doenas crnicas representam hoje um dos desafios mais importantes que enfrentam

    os sistemas de sade do sculo XXI (Institute of Medicine, 2001).

    Muitas pessoas com doenas crnicas sobrevivem durante perodos

    considerveis de tempo, em consequncia das intervenes mais eficazes

    disponibilizadas pelos sistemas de sade, tornando-se deste modo, necessria uma

    continuidade de cuidados. Os factores de risco tais como a obesidade, o sedentarismo e

    o tabagismo tm uma elevada prevalncia, pelo que, sem polticas de interveno

    efectivas e duradouras visando a sua reduo, as taxas de doenas crnicas continuaro

    a subir, significativamente.

    Ao contrrio de alguns mitos instalados, as doenas crnicas no respeitam

    estratos sociais e econmicos, atingem tanto mulheres como homens, embora seja nas

    idades avanadas que se verifica uma maior compresso da morbilidade. Em termos

    mundiais, as DC afectam hoje mais pessoas do que as doenas infecciosas e so

    responsveis pelo maior peso da doena na Europa (OMS, 2008).

    Apesar das DC serem as que mais se evidenciam durante o processo de

    envelhecimento, importante que no limitemos a a anlise: por um lado, nem todas as

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    31

    doenas crnicas so igualmente incapacitantes; por outro lado, a incapacidade

    funcional tambm pode decorrer de acidente ou de doena aguda, definida como

    patologia, que tm um desenvolvimento acelerado, terminando com convalescena ou

    at mesmo morte. So exemplo destas doenas, as infeces por vrus, bactrias, trauma

    fsico, enfartes, hemorragias e outras condies cardiovasculares.

    Outras das causas de restrio da actividade nos idosos so as que comprometem

    o aparelho steo-articular (por exemplo, fractura do colo do fmur e artroses), as

    doenas do aparelho crebro-vascular (como o caso do acidente vascular cerebral) e as

    perturbaes da viso e da audio.

    O sistema de sade dispe, numa perspectiva individual, de uma rede de

    prestao de cuidados de sade (com servios integrados, centrados em equipas

    multidisciplinares e com recursos humanos devidamente formados) com uma

    componente de recuperao global e de acompanhamento das pessoas idosas,

    designadamente atravs da rede de cuidados continuados integrados, que integram

    cuidados a diversos nveis (DGS, 2006).

    2.5. Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados

    Em Portugal, tal como noutros pases desenvolvidos, o aumento crescente da

    esperana de vida e o consequente aumento do envelhecimento da populao, para alm

    da prevalncia continuada de situaes de cronicidade mltipla, de incapacidade, de

    pessoas com doena incurvel em estado avanado e em fase final de vida, e as

    alteraes na organizao e dinmicas familiares com o isolamento dos idosos a

    ampliar-se quotidianamente, fizeram emergir novas necessidades sociais e de sade,

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    32

    associadas a novas atitudes e expectativas da sociedade (Entidade Reguladora da Sade,

    2011).

    Em 2005, no mbito da actividade da coordenao Nacional para as Pessoas

    Idosas e Cidados em Situao de Dependncia, iniciou-se o projecto de desenho e

    implementao de um novo modelo de cuidados continuados integrados para Portugal

    continental. O objectivo era facilitar o estabelecimento de estratgias e intervenes

    adequadas para a constituio de um novo espao de cuidados que contribusse para dar

    uma resposta coerente a quem necessitasse, no s de cuidados de sade como tambm

    de apoio social. Em 2006, foi criada pelo Decreto-lei n101/2006 de 6 de Junho, a Rede

    Nacional para os Cuidados Continuados e Integrados (RNCCI), no mbito dos

    Ministrios da Sade e do Trabalho e da Solidariedade Social (RNCCI, 2006).

    2.5.1. Objectivos da RNCCI

    O principal objectivo da criao da Rede a prestao de cuidados continuados

    integrados a pessoas que, independentemente da idade, se encontrem em situao de

    dependncia. Como tal, existem objectivos que devem ser observados:

    Prestao individualizada e humanizada de cuidados;

    Continuidades dos cuidados entre os diferentes servios, sectores e nveis de

    diferenciao, mediante a articulao e coordenao em rede;

    Equidade no acesso e mobilidade entre os diferentes tipos de unidades e

    equipas da Rede;

    Proximidade da prestao dos cuidados, atravs da potenciao de servios

    comunitrios de proximidade;

    Multidisciplinaridade e interdisciplinaridade na prestao de cuidados;

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    33

    Avaliao integral das necessidades da pessoa em situao de dependncia e

    definio peridica de objectivos de funcionalidade e autonomia;

    Promoo, recuperao contnua ou manuteno da funcionalidade e da

    autonomia;

    Participao das pessoas em situao de dependncia, e dos seus familiares

    ou representante legal, na elaborao do plano individual de interveno e no

    encaminhamento para as unidades e equipas da Rede;

    Participao e co-responsabilizao da famlia e dos cuidadores principais na

    prestao dos cuidados;

    Eficincia e qualidade na prestao dos cuidados.

    Neste contexto, pretende-se dinamizar a implementao de unidades e equipas

    de cuidados, dirigidas s pessoas em situao de dependncia (Ibidem).

    2.5.2. Dependncia Funcional

    O conceito de dependncia, definido pelo grupo multidisciplinar do Conselho da

    Europa, consiste na evidncia de que a pessoa que por razes ligadas perda de

    autonomia fsica, psquica ou intelectual tem necessidade de uma ajuda importante a fim

    de realizar necessidades especficas resultantes da execuo das actividades da vida

    diria (AVD`s) , como por exemplo, subir e descer escadas, cuidar da sua higiene

    pessoal, vestir-se, alimentar-se, locomover-se, ter controlo dos esfncteres, deslocar-se

    dentro de casa, entre outro.

    Segundo Botelho (2000), o conceito de capacidade funcional est relacionado

    com a autonomia na execuo de tarefas de prtica frequente e necessria a todos os

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    34

    indivduos, representando a sua perturbao uma consequncia de determinadas

    situaes patolgicas. A avaliao funcional pode ser definida como uma tentativa

    sistematizada de medir, de forma objectiva, os nveis nos quais uma pessoa capaz de

    desempenhar determinadas actividades ou funes em diferentes reas, utilizando-se de

    habilidades diversas, para o desempenho das tarefas de vida quotidiana, para a

    realizao de interaces sociais, nas suas actividades de lazer e noutros

    comportamentos do seu quotidiano (Devons, 2002; Duarte et al., 2007). Representa uma

    maneira de avaliar se uma pessoa ou no capaz de independentemente desempenhar as

    actividades necessrias para cuidar de si mesma e, caso no seja, verificar se essa

    necessidade de ajuda total ou parcial (Ibidem).

    Em termos prticos, por exemplo, uma pessoa idosa com dificuldades de

    locomoo e at mesmo portadora de algum tipo de invalidez no determina

    necessariamente descontinuidade do funcionamento intelectual e afectivo. Como se tem

    vindo a fazer referncia, as pessoas de quaisquer idades, nomeadamente os idosos so

    capazes de activar mecanismos de compensao e optimizao para enfrentar perdas de

    funcionalidade (Neri, 2005).

    Como referem Saura Hernndez e Sangesa Gimnez (2000), tambm a OMS

    diz como se avalia melhor a sade atravs da funo, admitindo que a capacidade

    funcional melhor indicador de sade que o estudo de prevalncia de doenas. Assim

    sendo, a promoo da autonomia e a minimizao do nvel de dependncia funcional

    por isso, o principal pressuposto da dignidade humana e de melhoria da qualidade de

    vida destas pessoas.

    Relativamente s escalas para avaliao funcional do idoso, a OMS classificou o

    grau de autonomia ou capacidade funcional dos pacientes idosos em 3 classes:

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    35

    Funcionalmente Independente: so indivduos saudveis, que podem

    apresentar uma ou duas doenas crnicas no graves e controladas por

    medicao e/ou com algum declnio sensorial associado idade, mas que

    vivem sem necessitar de ajuda;

    Parcialmente Independente: so indivduos lcidos, porm com

    problemas fsicos incapacitantes crnicos, de carcter mdico ou emocional,

    com perda do seu sistema de suporte social, o que faz com que estejam

    incapazes de manter independncia total sem uma assistncia continuada. A

    maioria dessas pessoas vive com a famlia ou em instituies com servios de

    suporte;

    Totalmente Dependente: so aqueles cujas capacidades esto afectadas

    por problemas fsicos incapacitantes crnicos, mdicos e/ou emocionais, que os

    impossibilitam de manter autonomia. Essas pessoas esto impossibilitadas de

    viver com independncia e geralmente esto institucionalizadas, recebendo

    ajuda permanentemente.

    2.5.3. Coordenao da RNCCI

    A coordenao da RNCCI processa-se a trs nveis: nacional, regional e local. A

    nvel nacional, a coordenao e implementao da Rede so asseguradas pela Unidade

    de Misso para os Cuidados Continuados Integrados (UMCCI), responsvel pela

    articulao entre os diversos intervenientes e parceiros, adicionalmente elaborao e

    apresentao de propostas de planos e normas para desenvolvimento e melhoria da

    Rede. A nvel regional, a coordenao e implementao so asseguradas por cinco

    equipas constitudas por elementos da Sade e da Segurana Social. A Equipa

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    36

    Coordenadora Regional (ECR) integra um grupo multidisciplinar, assim como

    profissionais com conhecimentos e experincia nas reas de planeamento, gesto e

    avaliao. A nvel local, a coordenao assegurada por equipas sediadas nos Centros

    de Sade (CS). As Equipas Coordenadoras Locais (ECL) so tambm constitudas de

    modo multidisciplinar por elementos da Sade e da Segurana Social, devendo integrar,

    no mnimo, um mdico, um enfermeiro, um assistente social e, sempre que possvel, um

    representante da autarquia local. As equipas Coordenadoras Regionais (ECR) articulam

    com a coordenao, aos nveis nacional e local, e asseguram o planeamento, a gesto, o

    controlo e a avaliao da Rede. As Equipas Coordenadoras Locais (ECL), por sua vez,

    articulam com a coordenao a nvel regional, asseguram o acompanhamento e a

    avaliao da Rede, bem como a articulao e coordenao dos recursos e actividades.

    No se poderia falar em rede sem se falar em parceria, enquanto princpio

    estratgico de combate aos mecanismos de excluso das sociedades actuais. Isto

    envolve a aco de diferentes instituies/sectores governamental, autrquico,

    sociedade civil, sector da sade, sector social que, actuando em conjunto, conseguem

    ter um melhor conhecimento da realidade, desenvolvendo polticas de comunicao,

    informao e sensibilizao mais eficazes junto das comunidades (RNCCI, 2006).

    2.5.4. Tipos de Respostas

    Garantir a continuidade e a adequao das intervenes ao nvel da sade e do

    apoio social so algumas das questes prioritrias face aos novos desafios no actual

    contexto sociodemogrfico europeu. Neste sentido, define como objectivo a instaurao

    de polticas de sade, integradas no Plano Nacional de Sade, e de polticas de

    segurana social que permitam: desenvolver aces mais prximas das pessoas em

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    37

    situao de dependncia; investir no desenvolvimento de cuidados de sade e de longa

    durao que garantam a qualidade, a equidade e a sustentabilidade dos sistemas, e

    ajustar ou criar respostas adequadas diversidade que caracteriza o envelhecimento

    individual e s alteraes de funcionalidade.

    Tal finalidade dever ser alcanada atravs da implementao da RNCCI que

    tem como objectivo estratgico garantir a prestao de cuidados integrados de sade e

    de apoio social a pessoas que, independentemente da idade, se encontram em situao

    de dependncia e necessitam deste tipo de cuidados, contribuindo para a sua

    recuperao, reabilitao e reintegrao.

    Considerando que os utentes da Rede se caracterizam por terem, usualmente,

    doenas crnicas, e que devem continuar a sua recuperao fora do hospital, procura-se

    criar uma lgica de servios que passe pela adequao dos cuidados s necessidades de

    reabilitao e/ou de manuteno de funes bsicas, aps a ocorrncia de um episdio

    de doena agudo ou de agudizao de uma doena crnica que conduz ou agrava

    situaes de dependncia. O desenvolvimento da Rede visa garantir que as necessidades

    de cuidados continuados integrados so satisfeitos pela oferta criada neste mbito

    atravs de parcerias pblicas, sociais e privadas, quer ao nvel das tipologias, quer ao

    nvel geogrfico, contribuindo, assim, para a reduo do tempo mdio de internamento

    hospitalar e para uma mais completa reabilitao destes utentes.

    A prestao dos cuidados de sade e de apoio social assegurada pela RNCCI

    atravs de unidades de internamento e de ambulatrio, bem como de equipas

    hospitalares e domicilirias. Neste contexto, importante distinguirem-se as seguintes

    tipologias de Cuidados Continuados:

    Unidades de Internamento

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    38

    o Unidade de Convalescena

    o Unidade de Mdia Durao e Reabilitao

    o Unidade de Longa Durao e Manuteno

    o Unidade de Cuidados Paliativos

    Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos

    o Cuidados Continuados Domicilirios

    Equipa Comunitria de Cuidados Continuados Integrados

    Equipa Comunitria de Suporte em Cuidados Paliativos

    o Ambulatrio

    Unidades de Dia

    Como se tem vindo a referir, os Cuidados Continuados Integrados visam a

    reduo do nmero de altas hospitalares tardias, a reduo do reinternamento hospitalar

    e a identificao e planeamento das necessidades de cuidados do cidado. Segundo

    dados da UMCCI, mais de metade dos utentes que entraram nas unidades de

    internamento da RNCCI provm do hospital (72%) e aproximadamente um tero do

    domiclio (28%). As tipologias com maior percentagem de utentes provenientes do

    hospital so as de Convalescena e Cuidados Paliativos (cerca de 80%).

    A mesma fonte estima que ocorram mais de 95 mil readmisses hospitalares por

    ano. Ou seja, mais de noventa e cinco mil casos de cidados voltam ao hospital, num

    prazo inferior a setenta e duas horas, em grande medida por consequncia dos efeitos de

    algum grau de dependncia motora e outras. Deste total, cerca de metade so pessoas

    com mais de 65 anos de idade. Este fenmeno uma das problemticas fundamentais

    que sustenta a necessidade de promover a adequao dos servios de sade e apoio

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    39

    social s necessidades decorrentes do aumento da incidncia de dependncia e que

    justifica a criao e dinamizao da RNCCI. O controlo dos doentes constitui um

    instrumento de reduo de reinternamentos (RNCCI, 2006).

    Seguidamente sero definidas as tipologias de cuidados continuados referentes

    s diferentes unidades de internamento, sendo dado mais nfase Unidade de

    Convalescena.

    2.5.4.1. Unidade de Convalescena

    A Unidade de Convalescena uma unidade de internamento, com espao fsico

    prprio para prestar tratamento e superviso clnica, continuada e intensiva, e para

    dispensar cuidados clnicos de reabilitao, na sequncia de internamento hospitalar

    originado por situao aguda, recorrncia ou descompensao de processo crnico. A

    Unidade de Convalescena tem por finalidade a estabilizao clnica e funcional, a

    avaliao e reabilitao integral da pessoa com perda transitria de autonomia

    potencialmente recupervel e que no necessita de cuidados hospitalares de agudos

    (Ibidem).

    Pretende-se, com este tipo de unidades, responder a necessidades transitrias,

    visando maximizar os ganhos em sade, isto , promover a reabilitao e a

    independncia dos utentes, contribuir para a gesto das altas dos hospitais de agudos,

    evitar a permanncia desnecessria nos servios dos hospitais de agudos e optimizar a

    utilizao de unidades de internamento de mdia e longa durao. Destina-se a

    internamentos de curta durao com previso at 30 dias consecutivos por cada

    admisso7. Os utentes das Unidades de Convalescena so maioritariamente doentes

    77Artigo 13, Decreto-lei n 101/2006, de 6 de Junho, publicado em D.R. n. 109, 1.srie, de 6 de Junho

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    40

    dependentes e a necessitar de componente de reabilitao intensiva. So sobretudo

    doentes oriundos de servios de Medicina Interna, Cirurgia, Ortopedia/ Traumatologia e

    de Neurologia. A prestao de cuidados garantida por uma equipa multidisciplinar que

    compreende profissionais das reas da sade, nomeadamente enfermeiros, mdicos,

    dietistas, fisioterapeutas, auxiliares de aco mdica. No que rea da aco social diz

    respeito incluem se os tcnicos de servio social e os assistentes administrativos.

    Os cuidados de convalescena recebem diferentes denominaes, dependendo

    do pas onde esto inseridos.

    Assim, nos EUA e nos pases anglo-saxnicos designam-se por Unidades de

    Avaliao Geritrica ou Unidades de Reabilitao Geritrica (Applegate, 1983). Em

    Frana, denominam-se por Internamento Mdio, por sua vez na Catalunha recebem o

    nome de Unidades de Convalescena e no resto da Espanha designam-se por Unidades

    de Mdia Estncia (Carbonell, 1986).

    Com o enquadramento de conceitos internacionais mais recentes podemos

    considerar as Unidades de Convalescena como: unidades destinadas a pessoas com

    uma doena crnica, ou que se encontrem em fase de recuperao de um processo

    agudo com perda de autonomia potencialmente recupervel.

    As unidades a que nos referimos esto orientadas para o restabelecimento das

    funes, actividades ou capacidades alteradas em consequncia dos processos

    patolgicos prvios. Constituem um dos recursos intermdios entre a alta hospitalar e o

    domiclio. So utilizveis para a recuperao de situaes agudas e nos casos de

    exacerbao de processos crnicos.

    A coordenao e a articulao so feitas preferencialmente com hospitais de

    agudos e centros de sade (CS), tal como os outros nveis de cuidados continuados, de

    modo a assegurar a continuidade dos cuidados aos utentes atendidos.

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    41

    Actualmente so consideradas como um recurso de sade absolutamente

    necessrio na garantia da continuidade do processo de prestao de cuidados. O

    objectivo principal das unidades de convalescena a recuperao da independncia

    funcional (DGS, 2006).

    O presente estudo incidir a sua ateno exclusivamente nas unidades de

    convalescena. Segundo alguns especialistas, nesta unidade que os idosos apresentam

    um menor grau de dependncia, logo, maior predisposio para uma recuperao mais

    efectiva.

    de extrema importncia perceber o que esta rede nacional para os cuidados

    continuados integrados significa ao nvel da unidade de convalescena para o doente, e,

    neste sentido, monitorizar a qualidade dos servios que so postos disposio, alm de

    reconhecer quais os ganhos mais evidentes em autonomia sada da rede e qual o

    destino dos idosos aps a alta.

    2.5.4.2. Unidade de Internamento de Mdia Durao e Reabilitao

    A unidade de mdia durao e reabilitao uma unidade de internamento, com

    espao fsico prprio para a prestao de cuidados clnicos, de reabilitao e apoio

    psicossocial (Ordem dos Mdicos Seco Regional do Norte, 2008). Existe para

    responder a situaes clnicas decorrentes da recuperao de um processo agudo ou

    descompensao de processo patolgico crnico a pessoas com perda transitria de

    autonomia potencialmente recupervel (RNCCI, 2006). A unidade de mdia durao e

    reabilitao tem por finalidade a estabilizao clnica, a avaliao e a reabilitao

    integral da pessoa que se encontra nesta unidade (Ibidem). Os utilizadores das unidades

    de mdia durao e reabilitao so doentes oriundos do hospital e de outras unidades

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    42

    da rede, de instituies de sade ou de solidariedade e segurana social, ou ainda, do

    domiclio, que caream de cuidados integrados em regime de internamento que vise a

    sua reabilitao (RNCCI, 2009). Est definido para este tipo de resposta um

    internamento superior a 30 dias e inferior a 90 dias consecutivos por cada admisso8.

    Podem, ainda, existir unidades de mdia durao e reabilitao, com caractersticas

    prprias, destinadas a grupos especficos de doentes.

    2.5.4.3. Unidade de Internamento de Longa Durao e Manuteno

    A unidade de longa durao e manuteno uma unidade de internamento de

    carcter temporrio ou permanente, com espao fsico prprio, para prestar apoio social

    e cuidados de sade de manuteno a pessoas com doenas ou processos crnicos, com

    diferentes nveis de dependncia e que no renam condies para serem cuidadas no

    domiclio. Tem por finalidade proporcionar cuidados que previnam e retardam o

    agravamento da situao de dependncia, favorecendo o conforto e a qualidade de vida,

    por um perodo de internamento superior a 90 dias consecutivos9.

    Os destinatrios das unidades de internamento de longa durao e manuteno

    so pessoas, que pela sua situao de dependncia, por razes de doena ou patologias

    associadas idade, necessitam de cuidados continuados integrados. So oriundos de

    outras respostas da rede, de instituies de sade ou de solidariedade e segurana social

    ou, ainda, do domiclio (RNCCI, 2009).

    88Artigo 15, Decreto-lei n 101/2006, de 6 de Junho, publicado em D.R. n. 109, 1.srie, de 6 de Junho

    99Artigo 17, Decreto-lei n 101/2006, de 6 de Junho, publicado em D.R. n. 109,1.srie, de 6 de Junho

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    43

    2.5.4.4. Unidade de Cuidados Paliativos

    A unidade qual se faz referncia uma unidade de internamento, com espao

    fsico prprio para acompanhamento, tratamento e superviso clnica a doentes em

    situao clnica complexa e de sofrimento decorrentes de doena severa e/ou avanada,

    incurvel e progressiva, nos termos do consignado no Programa Nacional de Cuidados

    Paliativos do Plano Nacional de Sade. Presta acompanhamento, tratamento e

    superviso clnica de doentes em situao clnica complexa e de sofrimento decorrente

    de doena severa e/ou avanada, incurvel ou progressiva10

    .

    2.5.4.5. Cuidados Continuados Domicilirios

    A Rede Nacional para os Cuidados Continuados Integrados define como

    tipologia de resposta, no mbito do Apoio Domicilirio, as Equipas de Cuidados

    Continuados Integrados (ECCI), que se constituem como ncleo base de prestao dos

    cuidados continuados integrados no contexto domicilirio. Estas so equipas

    multidisciplinares, integradas nos Cuidados de Sade Primrios (CSP) ou sob a

    dependncia de entidades de apoio social, para a prestao de servios domicilirios

    decorrentes da avaliao integral de cuidados mdicos, de enfermagem, de reabilitao

    e de apoio social, ou outros a pessoa em situao de dependncia funcional ou doena

    terminal, bem como a todos os que esto em processo de convalescena e cuja situao,

    apesar de no requerer internamento, no possibilita que se desloquem de forma

    autnoma (Conselho de Enfermagem, 2009).

    1100Artigo 19, Decreto-lei n 101/2006, de 6 de Junho, publicado em D.R. n. 109,1.srie, de 6 de Junho

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    44

    2.5.4.6. Unidade de Dia e Promoo de Autonomia

    O regime de unidade de dia destina-se a pessoas em situao de dependncia,

    cujas condies clnicas e sociofamiliares no so as mais adequadas. Tm como

    objectivo a reabilitao, recuperao e insero do doente, trata-se de uma unidade de

    prestao de cuidados integrais de suporte, de promoo de autonomia e apoio social a

    pessoas com diferentes nveis de dependncia que no renam condies para serem

    cuidadas no domiclio11

    .

    Aps a etapa da distino das tipologias de Cuidados Continuados existentes,

    parece oportuno enunciar as trs fases em desenvolvimento da RNCCI, sendo elas:

    Fase 1 (de 2006 a 2008), a qual tem como objectivo a criao e consolidao de

    experincia no mbito da prestao de cuidados continuados integrados, bem

    como no mbito do planeamento, gesto e avaliao;

    Fase 2 (de 2009 a 2012), na qual se prev a evoluo a nvel dos sistemas de

    informao e instrumentos, possibilitando a obteno de resultados;

    Fase 3 (de 2013 a 2016), na qual se prev a consolidao e estabilizao do

    modelo.

    A Tabela 1 traduz para cada uma das fases de implementao previstas, o

    nmero de camas e a tipologia de internamento em causa.

    1111Artigo 21, Decreto-lei n 101/2006, de 6 de Junho, publicado em D.R. n. 109,1.srie, de 6 de Junho

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    45

    Tabela 1 Tipologias de Internamento e Fases de Implementao

    Tipologia de Cuidados FASE 1

    (2006 2008)

    FASE 2

    (2009 2012)

    FASE 3

    (2013 2016)

    Unidade de

    Convalescena N camas 977 1.954 2.931

    Unidade de Mdia

    Durao e Reabilitao N camas 1.139 2.117 3.257

    Unidade de Longa

    Durao e Manuteno N camas 2.720 5.374 8.143

    Unidade de Cuidados

    Paliativos N camas 326 651 977

    Unidade de Dia e

    Promoo da Autonomia

    N de

    lugares 814 1.629 2.443

    Fonte: Relatrio de Monitorizao da Implementao das Experincias Piloto da Rede Nacional para os

    Cuidados Continuados Integrados, 27 de Julho de 2007.

    Depois de identificadas e definidas as temticas de fulcral importncia para

    avaliar o tema em estudo, ser feita a abordagem metodolgica do trabalho de

    investigao.

    PARTE III FASE METODOLGICA

    A metodologia uma fase decisiva num trabalho de investigao, uma vez que

    s atravs da utilizao de mtodos adequados possvel percorrer o caminho para

    alcanar os objectivos traados, conferindo validade cientfica ao estudo.

    3.1. Desenho da Investigao

    O desenho e o mtodo de investigao constituem uma das partes nobres do

    nosso estudo. So estes que permitem recolher a informao necessria (quantitativa,

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    46

    qualitativa ou mista) de modo apropriado, com os procedimentos apropriados, que

    permitem identificar e exaltar os aspectos mais importantes da investigao (Ribeiro,

    2007).

    A investigao quantitativa caracteriza-se por trabalhar em dados empricos (ou

    seja, por entidades abstractas que representam uma contagem, uma medio, um

    clculo). Tendo em conta os objectivos que se pretende alcanar, a escolha da

    investigao quantitativa parece a mais adequada, uma vez que a este estudo esto

    subjacentes aspectos quantificveis, caractersticos do mtodo quantitativo, sendo este

    () um processo sistemtico de colheita de dados observveis e quantificveis

    (Fortin, 1999: 22).

    O tipo de estudo especifica as actividades que permitem a obteno de respostas

    fiveis s questes de investigao. Descreve ainda que () a estrutura utilizada

    segundo a questo de investigao visa descrever variveis ou grupos de sujeitos,

    explorar ou examinar relaes entre variveis (Fortin, 1999: 133).

    Neste mesmo estudo optaremos pela investigao no experimental quantitativa,

    uma vez que a mesma se realiza sem recorrer manipulao deliberada das variveis,

    como a idade, o sexo, a escolaridade, com quem reside e a profisso. Analisar-se-o os

    fenmenos tal como ocorrem no seu contexto natural, para posteriormente serem

    analisados (Kerlinger & Lee, 2002).

    Trata-se de um desenho do tipo longitudinal, de painel, uma vez que, a

    focalizao ser feita em mais do que um momento distinto, com o mesmo grupo de

    indivduos, seleccionados no incio da investigao. (DAncona, 2001).

    O estudo em causa desenvolver-se- em trs fases. Numa 1 etapa, atravs de

    uma grelha de avaliao, utilizando a Escala de Likert, ser realizada uma avaliao

    funcional dos indivduos com 65 ou mais anos que foram admitidos na RNCCI, no

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    47

    perodo de 24 de Fevereiro a 25 de Abril de 2011, mais propriamente no internamento

    da unidade de convalescena. Posteriormente, numa 2 etapa, ser aplicada a mesma

    escala aos indivduos seleccionados na 1 etapa, que cumpriram os 30 dias de

    internamento e lhes foi atribuda alta mdica. A 3 e ltima etapa compreender o

    perodo correspondente aos 30 dias aps a alta mdica. Em termos prticos a recolha de

    dados desenvolveu-se entre os dias 24 de Fevereiro e 25 de Maio de 2011.

    3.2. Amostra

    A amostragem o procedimento pelo qual um grupo de pessoas ou um

    subconjunto de uma populao escolhido com vista a obter informaes relacionadas

    com um fenmeno, e de tal forma que a populao em estudo esteja representada

    (Fortin, 1999).

    No estudo iremos recorrer a uma amostragem no probabilstica por critrio,

    uma vez que temos como objectivo trabalhar exclusivamente com indivduos de 65 e

    mais anos, que permaneceram nos cuidados continuados na unidade de convalescena

    da Santa Casa da Misericrdia da Pvoa de Lanhoso, num determinado perodo, j

    referido anteriormente.

    Justifica-se este processo de amostragem uma vez que pretendemos estudar

    indivduos com 65 e mais anos que estiveram internados na referida unidade de

    cuidados. A escolha desse critrio determinante no que se refere ao aporte de

    informao relevante para a investigao pretendida (DAncona, 2004).

    A amostra ser constituda por 20 indivduos. O nmero em causa justifica-se,

    tendo em conta que a investigao se desenvolver em 3 fases distintas, prevendo-se um

    perodo de recolha de dados superior a 3 meses. Uma amostra superior tornaria a

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    48

    investigao no vivel, tanto em termos econmicos como em termos de recursos de

    tempo propriamente dito.

    3.3. Mtodo de Recolha de Dados

    O mtodo de recolha de dados de uma investigao caracterizado por tcnicas

    rigorosas que permitam assegurar a validade e fidelidade dos dados recolhidos.

    De acordo com o mtodo de investigao a que iremos recorrer neste estudo, o

    instrumento de recolha de dados a utilizar ser o inqurito, uma vez que este permite

    recolher informaes baseando-se, geralmente, na inquisio de um grupo

    representativo da populao em estudo. Para tal, colocar-se- uma srie de questes que

    abarquem o tema em causa, no havendo interaco directa entre estes e os inquiridos

    (Ribeiro, 2007).

    A seleco da Santa Casa da Misericrdia da Pvoa de Lanhoso, para a

    realizao do estudo, est estreitamente relacionada com a proximidade geogrfica da

    zona de residncia da investigadora. Uma vez que a investigao foi concretizada nesta

    instituio, foi antecipadamente solicitada autorizao atravs de carta dirigida

    direco do mesmo, a qual foi concebida com muito agrado.

    Aquando da recolha de dados, os participantes foram abordados pessoalmente

    pela investigadora, foram informados acerca dos objectivos da pesquisa, a possibilidade

    ou no de participar, o tempo de aplicao do questionrio e o sigilo da identidade. Aps

    resposta afirmativa, o preenchimento dos questionrios foi realizado. A aplicao dos

    mesmos, nas trs avaliaes, teve a durao mdia de 20 minutos.

    A escala que foi aplicada foi a Escala ou Indice de Barthel (em anexo) trata-se

    de um ndice que avalia as actividades de vida diria, sobretudo na avaliao funcional,

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    49

    cujos aspectos mais focados so a autonomia/dependncia. Pretende-se avaliar se o

    doente capaz de executar certas actividades independentemente, ou qual o grau de

    ajuda necessrio. A pontuao compreendida entre 0 e 100 valores. Valores entre 80-

    100 os idosos so considerados independentes; entre 60 e 79 necessitam de uma ajuda

    mnima nas AVDs; com 48-59 valores so parcialmente dependentes; de 20-39 so

    muito dependentes e com menos de 20 so totalmente dependentes.

    A Escala ou Indice de Barthel (1989) constituda por dez questes que

    visam avaliar o grau de dependncia dos inquiridos.

    questo 1, relativa AVD de Higiene Pessoal, deu-se a seguinte pontuao:

    0: O paciente incapaz de fazer a higiene pessoal, e dependente em todos os

    aspectos;

    1. Assistncia requerida em todos os passos da higiene pessoal;

    3 . Alguma assistncia requerida em um ou mais passos da higiene pessoal;

    4 . O paciente capaz de efectuar a sua prpria higiene pessoal, mas requer a

    mnima assistncia antes e/ou aps a operao;

    5 . O paciente pode lavar suas mos e face, cabelo, lavar os dentes e barbear. Um

    paciente do sexo masculino pode usar qualquer tipo de gilete, mas deve inserir a

    lmina, ou retir-la da gilete sem ajuda, assim como retir-la da gaveta ou

    armrio. Um paciente do sexo feminino deve aplicar a sua prpria maquilhagem,

    se utilizar, mas no necessita de auxilio a pentear ou entrelaar o seu cabelo.

    questo 2 relativa AVD tomar banho, atribuiu-se a seguinte pontuao:

    0. Total dependncia enquanto toma banho;

  • RNCCI O Idoso, a Alta e a Capacidade Funcional

    50

    1. Assistncia requerida em todos os aspectos do banho;

    3. Assistncia requerida quer na transferncia para o duche/banheira, quer

    com o lavar ou secar, incluindo incapacidade de completar a tarefa devido sua

    condio ou doena, entre outros;

    4. Superviso requerida para a segurana, no ajustar da temperatura da gua

    ou na transferncia;

    5. O paciente pode usar uma banheira, um duche ou tomar um banho completo

    de esponja. O paciente deve ser capaz de fazer todos os passos seja qual for o

    mtodo empregue sem que outra pessoa esteja presente.

    questo 3 relativa AVD relacionada com a Alimentao, deu-se a seguinte

    pontuao:

    0. Dependente em todos os aspectos e necessidade para alimentar-se;

    2. Pode manipular um dispositivo de alimentao, usualmente uma colher, mas

    algum deve providenciar assistncia activa durante a refeio;

    5. Capaz de se alimentar sem superviso. Assistncia requerida em tarefas

    associadas, como colocar leite/acar no ch, sal, pimenta, espalhar manteiga, voltar

    um prato ou qualquer outra actividade.

    8. Independncia na alimentao com treino anterior, excepto no cortar da

    carne, abrir pacotes de leite, tapar jarro, entre outros. A presena de outra pessoa no

    requerida.

    10. O paciente pode alimentar-se de uma mesa ou tabuleiro quando algum

    coloca a comida ao seu alcance. O paciente deve pr um dispositivo de assistncia se

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    51

    necessrio, cortar a comida e se desejado, usar sal ou pimenta, espalhar manteiga,

    entre outros.

    questo 4 relativa s AVDs referente toilette atribuiu-se a seguinte

    pontuao :

    0. Total dependncia na casa de banho/toilette;

    2. Assistncia requerida em todos os aspectos da toilette;

    5. Assistncia pode ser requerida no manuseio da roupa, transferncias ou lavar

    as mos;

    8. Superviso pode ser requerida para segurana na toilette normal. Uma pia

    pode ser utilizada noite mas assistncia requerida para esvaziar ou limpar;

    10. O paciente capaz de sair ou entrar da casa de banho, apertar e desapertar

    as roupas, prevenir o sujar das roupas e usar papel higinico sem auxlio. Se necessrio

    o paciente pode utilizar uma pia, uma tina ou urinol noite, mas deve ser capaz de

    esvazi-lo e limp-lo.

    questo 5 relativa AVD subir e descer escadas conferiu-se a seguinte

    pontuao:

    0. O paciente incapaz de utilizar as escadas;

    2. Assistncia requerida em todos os aspectos, durante a utilizao das

    escadas, incluindo assistncia com meios auxiliares;

    5. O paciente capaz de subir/descer mas incapaz de transportar auxiliares de

    marcha, e necessita de superviso e assistncia;

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    52

    8. Geralmente nenhuma assistncia requerida. Em certos momentos

    superviso requerida para a segurana aliada rigidez matinal, dificuldade na

    respirao, entre outros;

    10. O paciente capaz de subir/descer um lano de escadas em segurana sem

    auxlio ou superviso. O paciente capaz de utilizar o corrimo, apoios, ou canadianas

    quando necessrio e capaz de transportar esses auxiliares medida que ele/ela desce

    ou sobe.

    questo 6 relativa AVD vestir deu-se a seguinte pontuao:

    0. O paciente dependente em todos os aspectos do vestir e incapaz de

    participar nesta actividade;

    2. O paciente capaz de participar em alguns aspectos, mas dependente em

    todos os aspectos do vestir;

    5. Assistncia necessria em colocar e/ou remover alguma roupa;

    8. Apenas a mnima assistncia requerida com a roupa de apertar, como os

    botes, feixes, cintos, sapatos, entre outros;

    10. O paciente capaz de pr, remover e apertar roupa, dar laos nos

    atacadores dos sapatos, coloc-los, apert-los, remover cintas/coletes, suspensrios,

    como pedido.

    questo 7 relativa AVD defecar, atribui-se a seguinte pontuao:

    0. O paciente incontinente;

    2. O paciente necessita de auxlio para assumir a posio apropriada, e com

    tcnicas de facilitao dos movimentos intestinais;

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    53

    5. O paciente pode assumir a posio apropriada, mas no consegue utilizar

    tcnicas de facilitao, ou limpar-se sem auxlio e tem acidentes frequentes.

    Assistncia requerida com os auxiliares de incontinncia com fraldas, etc.

    8. O paciente pode requerer superviso com o uso de supositrios, ou clister e

    tem acidentes ocasionais;

    10. O paciente pode controlar os intestinos e no tem acidentes, pode usar

    supositrios, ou utilizar clister quando necessrio.

    questo 8 relativa AVD urinar deu-se a seguinte pontuao:

    0. O paciente dependente enquanto urina, incontinente, ou tem um cateter;

    2. O paciente incontinente, mas capaz de assistir com a aplicao de um

    dispositivo interno ou externo;

    5. O paciente est geralmente seco durante o dia, mas noite necessita de

    alguma assistncia com os dispositivos;

    8. O paciente est geralmente seco durante o dia ou noite, mas pode ter

    acidentes ocasionais ou necessita de mnima assistncia com dispositivos internos ou

    externos;

    10. O paciente capaz de controlar a bexiga durante o dia ou noite e/ou

    independente com dispositivos internos ou externos;

    questo 9 relativa AVD referente s transferncias cadeira / cama, conferiu-

    se a seguinte pontuao:

    0. Incapaz de participar na transferncia. Dois indivduos auxiliares so

    requeridos para transferir o paciente com ou sem dispositivo mecnico;

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    3. Capaz de participar mas com a mxima assistncia de outra pessoa,

    requerida em todos os aspectos da transferncia;

    8. A transferncia requer a assistncia de outra pessoa. Assistncia pode ser

    requerida em alguns aspectos da transferncia;

    12. A presena de outra pessoa requerida como uma medida preventiva, ou

    para providenciar superviso como segurana;

    15. O paciente pode seguramente aproximar-se da cama numa cadeira de rodas,

    tirar os braos da cadeira de rodas, levantar os apoios dos ps, transferir-se com

    segurana para a cama, deitar-se, voltar posio de sentado num dos lados da cama,

    alterar a posio da cadeira de rodas, voltar a transferir-se para a cadeira de rodas com

    segurana. O paciente deve ser independente em todas as fases da sua actividade;

    questo 10 relativa AVD deambular, atribuiu-se a seguinte pontuao:

    0. Dependente na deambulao;

    3. Presena constante de um ou mais assistentes requerida durante a

    deambulao

    8. Assistncia requerida com meios auxiliares e/ou a sua manipulao. Um

    indivduo requerido para oferecer assistncia;

    12. O paciente independente na deambulao mas incapaz de andar 50 metros

    sem auxlio, superviso requerida para a proteco ou segurana em situaes

    difceis;

    15. O paciente deve ser capaz de utilizar canadianas se necessrio,