Tese Rosane Freire Lacerda_Vol 1

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    Universidade de Braslia UnBFACULDADE DE DIREITO

    Programa de Ps-gradua!o em Direi"o

    Dou"orado

    Volver, y Ser Millones:Contribuies Descoloniais dos Movimentos

    Indgenas Latino Americanos para a Superao do

    Mito do !stado"#ao

    Rosane Freire Lacerda

    Volume 1. Tomo I

    Braslia DF, Maio de 2014

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    RO#A$E FREIRE LACERDA

    Volver, y Ser Millones:Contribuies Descoloniais dos Movimentos

    Indgenas Latino Americanos para a Superao do

    Mito do !stado"#ao

    Tese apresentada ao Programa de Ps-graduao em Direito da Fa!uldade deDireito da "ni#ersidade de Braslia $"nB%,!omo re&uisito par!ial ' o(teno do Ttulode Doutor em Direito, so( a orientao doPro)essor Doutor *os+ eraldo de ousa*.nior/

    Braslia DF, Maio de 2014

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    3D, osane Freire

    5Volver, y Ser Millones67 ontri(ui8es Des!oloniais dos Mo#imentos 9ndgenasatino meri!anos para a uperao do Mito do 3stado-:ao/ ; osane Freire a!erda/Braslia DF, 2014< 2 #ols/, 4=1pp/7il/

    Bi(liogra)ia7 >ol 2, pp/ 42? - 4@@/

    #/1, tomo 9 $Parte 9%/ Do 3stado :ao aos 3stados Plurina!ionais/#/2, tomo 99 $Parte 99%/ 3Aperin!ias !onstitu!ionais de 3stado Plurina!ional

    on&uistas, ontradi8es e Desa)ios/

    Crientador7 Pro)/ Dr/ *os+ eraldo de ousa *.nior/

    Tese $Doutorado% "ni#ersidade de Braslia "nB/ Fa!uldade de Direito/ rea deon!entrao7 Direito, 3stado e onstituio/

    1/ 3stados Plurina!ionais na m+ri!a atina< 2/ 3studos oloniais< E/ olonialidade doPoder, do a(er e do er< 4/ Des!olonialidade, Deso(edin!ia 3pistmi!a e 9nter!ulturalidaderti!a< ?/ :o#o onstitu!ionalismo atinoameri!ano< @/ m+ri!a do ul7 Po#os 9ndgenas

    3stados Plurina!ionais/ 9/ C" *:9C/ *os+ eraldo de/ 99/ "ni#ersidade de Braslia/Fa!uldade de Direito/ entro de in!ias o!iais pli!adas/ 999/ Ttulo/

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    C:3 F393 3D

    5Volver, y Ser Millones67

    ontri(ui8es des!oloniais dos mo#imentos indgenas atinomeri!anos para a superao do

    Mito do 3stado-:ao

    Tese apresentada ao Programa de Ps-graduao em Direito da Fa!uldade deDireito da "ni#ersidade de Braslia $"nB%,!omo re&uisito par!ial ' o(teno do Ttulode Doutor em Direito, so( a orientao doPro)essor Doutor *os+ eraldo de ousa*.nior/

    Braslia DF, 1E de Maio de 2014/

    Pro)/ Dr/ *os+ eraldo de ousa *r/ $Crientador%Universidade de Braslia UnB

    Pro)/G Dra/ a&uel H/ IrigoJen FaKardoInstituto Internacional de Derecho y Sociedad IIDS (Per)

    Pro)/ Dr/ ntLnio arlos olNmer

    Universidade ederal do Paran! UP"

    Pro)/ Dr/ Fernando ntLnio de ar#alOo DantasUniversidade ederal de #oi!s U#

    Pro)/ Dr/ Meneli!N de ar#alOo :ettoUniversidade de Braslia UnB

    Pro)/G Dr/G ita aura egato $uplente%Universidade de Braslia UnB

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    iii

    Para Maninha Xukuru-Kariri

    (In Me$orian)

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    i#

    Agradecimentos

    3m nossas #idas os tra(alOos realmente importantes e signi)i!ati#os, por mais &ue

    tenOam sido realiados de modo isolado e em re!olOimento, resultam sempre de

    !ontri(ui8es di#ersas e nem sempre !ons!ientes de sua importQn!ia/ ela(orao da

    presente tese, &ue en#ol#eu doe meses de uma situao de isolamento &uase monRsti!a, s

    )oi poss#el graas ao apoio de di#ersas pessoas e institui8es &ue, ao seu modo e dentro de

    suas possi(ilidades, deram distintas !ontri(ui8es para a sua realiao/ estas registro os

    meus agrade!imentos, esperando &ue o tra(alOo a&ui apresentado esteKa de )ato ' altura de

    suas eApe!tati#as/

    3m primeiro lugar deiAo a&ui os meus pro)undos agrade!imentos aoPro%essor Dr&

    Jos Geraldo de Sousa Jr/, !uKo apoio, estmulo e !on)iana no desen#ol#imento deste

    tra(alOo )oram )undamentais para a sua realiao, !omo eApresso de um proKeto &ue, al+m

    de !umprir !om sua )uno a!admi!a, pro!ura !ontri(uir !om o proKeto polti!o de uma

    m+ri!a atina realmente li#re e auto!ons!iente de suas m.ltiplas identidades e

    poten!ialidades/

    3m termos institu!ionais diriKo os meus agrade!imentos ao Programa de Ps-

    Graduao em irei!oda "a#uldade de irei!o da $niversidade de %ras&lia, espe!ialmente

    nas pessoas de sua eA-!oordenadora,Pro%essora Dra& 'laudia (osane (oeslere de seu atual

    !oordenador, Pro%essor Dr& )rgemiro 'ardoso Mar!ins, por todo o apoio e !on)iana

    depositados em mais esta etapa dos estudos de Ps/ 9gualmente agradeo aoPro%essor Dr&

    Meneli#k de 'arvalho *e!!o, !uKas rele#antes !rti!as e sugest8es )oram tam(+m

    )undamentais para o desen#ol#imento desta tare)a/ Tam(+m no poderia deiAar de agrade!er

    ' e!retaria do Programa, nas pessoas das ser#idoras +ione!e )l#n!ara, Maria elena

    Mene.ese/u.ilene Moraes, pelo seu diligente e inestimR#el apoio/

    gradeo tam(+m ' $niversidade "ederal de Goi0s $"F%, por Oa#er

    propor!ionado o perodo de dois semestres de a)astamento, sem o &ual no teria sido poss#el

    a realiao da pes&uisa e a redao desta tese/ Por eAtenso, sou grata tam(+m ao 'onselho

    ire!or do 'am1us Ja!a& da $"G, (em !omo ao 'olegiado do 'urso de irei!oda mesma

    "nidade &ue, por entenderem a importQn!ia deste tra(alOo, !on!ordaram !om o perodo de

    li(erao/

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    #

    Fi!a a&ui tam(+m o meu muito o(rigada 's e aos !olegas, do!entes do urso de

    Direito do 'a$us *ata da "F, em espe!ial as pro)essoras elga de Paula, 'ris!ina

    'ardoso Pereirae 'arla %eni!e., pelo apoio e estmulo ' realiao deste tra(alOo, (em

    !omo aos alunos e alunas do re)erido !urso, em espe!ial +arissa de 'arvalhoeMariane

    Jun2ueira, &ue !om entusiasmo depositaram a sua !on)iana na realiao de mais esta

    etapa de !res!imento a!admi!o e pessoal/ Tam(+m #ai a&ui o meu muito o(rigada aos

    !olegas da Ps, em espe!ial aPaulo %laire Guilherme S#o!h, por todo o apoio e estmulo

    intele!tual no !umprimento desta tare)a, (em !omo a+&via Gimenes, 'leu!on (i1ol,3ri#a

    Moreira e Pris#ila %i#alho, pelo apoio e !ompartilOamento de ang.stias &ue, mais &ue

    a!admi!as, eApressam !ompromisso !om o )uturo das lutas indgenas, !amponesas e so!iais

    em geral/

    DeiAo a&ui, tam(+m, o meu mais pro)undo agrade!imento ' Pro)/G(i!a Sega!o, da

    "nB, pelo eAemplo e por todo o !arinOo, apoio e estmulo intele!tual e polti!o &ue nos

    )orne!eu e pela !on)iana &ue depositou na realiao deste tra(alOo/ Do mesmo modo,

    agradeo a&ui aXavier )l4, de ip!a, Bol#ia, por sua entre#ista gentilmente !on!edida, e

    ao Pro)/ 5olney Garra6a, do PP- em Bio+ti!a da "nB, pela oportunidade &ue nos !on)eriu

    de parti!ipao em dis!iplinas da&uele programa/

    Suero tam(+m deiAar a&ui os meus agrade!imentos ao Secretariado acional do

    'onselho 7ndigenis!a Mission0rio $imi%, em espe!ial ao amigo (onay, pelo apoio

    logsti!o diligente e !ompetentemente prestado na realiao de !pias e en!aderna8es, e

    entrega das mesmas Kunto aos mem(ros das (an!as em Braslia, Distrito Federal/

    gradeo tam(+m ao meu a)ilOado V&!or Guimarese ao meu !ompadrer8 Paulo

    Ma#hado Guimares, pelo entusiasmado apoio tra#+s do &ual ti#e a!esso a importante

    a!er#o (i(liogrR)i!o para esta pes&uisa, assim !omo agradeo tam(+m aos meus sogro e

    sogra, 9dilon "erreiraeSelma "ei!osae a toda a )amlia Ferreira Feitosa pelo inestimR#elapoio e !ompreenso propor!ionados durante estes meses de es)oro !on!entrado/ Tam(+m

    no poderia es&ue!er o importante apoio e in!enti#o de +u#ina e aniel +a#erda, &ue

    sempre a!reditaram no (om termo deste tra(alOo/

    Por )im, )i!am a&ui os meus mais pro)undos agrade!imentos ao meu esposo e

    !ompanOeiro,Saulo "ei!osa, ' nossa &uerida e amada )ilOa 'oralina, e ' minOa &uerida

    me, (u!h "reire +a#erda, pelo in!enti#o, apoio intele!tual, in)inita pa!in!ia e enorme

    !apa!idade de !ompreenso, nos momentos di)!eis pelo !on##io rou(ado/ todas e a todos, o meu muito o(rigada

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    #i

    Resumo

    tese trata da emergn!ia do modelo plurina!ional de 3stado na m+ri!a atina a partirdas demandas Oistri!as dos po#os indgenas/ o demandas pelo seu re!onOe!imentoen&uanto suKeitos polti!os e Kurdi!os autodeterminados, no mar!o do 3stado territorialmoderno/ C )o!o !entral estR na importQn!ia e !ontri(uio dos mo#imentos indgenaslatino-ameri!anos, em espe!ial os da Bol#ia, 3&uador e Brasil, para a !onstruo de ummodelo de 3stado &ue desa)ie e supere as rela8es !oloniais e euro!ntri!as de poder e de!onOe!imento presentes no modelo de 3stado-nao/ C tra(alOo (us!a responder a duasindaga8es7 $a% o !Oamado modelo 5plurina!ional6 de 3stado !onsiste no simplesre!onOe!imento da di#ersidade +tni!a e !ultural da so!iedade e na !on!esso, a estasidentidades di#ersas, de direitos espe!)i!osU e $(% o 3stado Brasileiro, tendo em #ista osre!onOe!imentos do art/ 2E1 da onstituio Federal de 1=VV, possui os elementos ou podeser !onsiderado um 3stado 5plurina!ional6U Oiptese + a de &ue o 3stado plurina!ional,

    longe do simples re!onOe!imento da Oeterogeneidade e da !on!esso de direitos espe!)i!os,!onstitui um modelo !uKas (ases aAiolgi!as e institu!ionais so !onstrudas a partir dapluralidade de !on!ep8es +ti!as, Kurdi!as e polti!as prprias das di#ersas identidades5na!ionais6/ :o !aso do Brasil, a Oiptese + a de &ue apesar do re!onOe!imento dadi#ersidade +tni!a e !ultural eApressa no art/ 2E1 da F;VV, o modelo institu!ional de 3stado!ontinua uni-na!ional e mar!ado pelas rela8es !oloniais de poder/ C o(Keti#o geral dotra(alOo + identi)i!ar e analisar, a partir das rei#indi!a8es e !ontri(ui8es polti!as dosmo#imentos indgenas e de seus re)leAos no mo#imento do !Oamado :o#oonstitu!ionalismo atino-ameri!ano, o signi)i!ado e a importQn!ia !onstitu!ionais domodelo 5plurina!ional6 de 3stado, em espe!ial as possi(ilidades &ue este o)ere!e para aruptura !om Oistri!as rela8es de dominao no interior de 3stados mar!ados pela

    di#ersidade +tni!a e !ultural/ anRlise teri!a tem por (ase os estudos so(re a5colonialidade*$SuiKano%, em espe!ial as modalidades 5!olonialidade dooder*$SuiKano%,5do sa+er* ou 5eist$ica* $Mignolo e ousa antos%, e 5do ser* $Maldonado-Torres%/onsiderando a ideia de Oomogeneidade +tni!a e !ultural !omo su(Ka!ente ' !on!epo daidentidade ne!essRria entre 3stado e nao, e !omo uma produo ideolgi!a (aseada no nore!onOe!imento da di#ersidade, a)irma-se a in!apa!idade do 3stado-nao na m+ri!aatina para dar !onta de sua pretenso de promo#er uma integrao so!ial demo!rRti!a, KustaJ solidaria/ Pro!ura-se demonstrar, na traKetria Oistri!a do !onstitu!ionalismo latino-ameri!ano ps-independn!ia, &ue os 3stados uni-na!ionais na regio desen#ol#eram-se e!onstituem-se en&uanto espaos de manuteno das rela8es !oloniais de poder, de ser e desa(er, &ue in#isi(iliam a di#ersidade +tni!o-!ultural e !olo!am os indgenas em !ondi8es

    de su(alternidade polti!a e epistmi!a/ partir da so analisadas as Oistri!as lutas deresistn!ia indgena a este &uadro, (em !omo as mo(ilia8es em torno da re!ente!onstruo dos modelos plurina!ionais de 3stado na Boli#ia $200=% e 3&uador $200V%, !omoeApress8es de uma atitude 5descolonial*$SuiKano%, )undada na 5deso+edincia eist$ica*$Mignolo% e na 5interculturalidade crtica* $alsO%/ on!lui-se &ue no :o#oonstitu!ionalismo atino-meri!ano as demandas indgenas trouAeram a

    plurina!ionalidade !omo uma tentati#a de !onstruo um no#o modelo de 3stado, em (asesdes!oloniais/

    W$alavras"c%ave7 3stado na!ional 3stados plurina!ionais po#os indgenas latino-ameri!anos na8es indgenas na!ionalidades indgenas di#ersidade +tni!o-!ultural !olonialidade do poder

    !olonialidade epistmi!a !olonialidade do ser des!olonialidade deso(edin!ia epistmi!a inter!ulturalidade !rti!a Teoria do 3stado :o#o onstitu!ionalismo atinoameri!ano Xistriado Direito o!iologia *urdi!a ntropologia *urdi!aY

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    #ii

    Resumen

    -sta tesis a+orda el sur.i$iento del $odelo de -stado lurinacional en /$rica 0atina a

    artir de las de$andas hist1ricas de los ue+los ind.enas or el reconoci$iento co$osu2etos olticos y 2urdicos auto deter$inados en el $arco del -stado territorial $oderno&-l te$a central es la i$ortancia y la contri+uci1n de los $ovi$ientos ind.enas en /$rica0atina, esecial$ente en Bolivia, -cuador y Brasil, ara la construcci1n de un $odelo de-stado 3ue desa%a y vence las relaciones eurocntricas y coloniales del oder yconoci$iento en el $odelo -stado4naci1n& Se trata de resonder a dos re.untas5 (a) 6el$odelo lla$ado -stado 7lurinacional* no es $!s 3ue el reconoci$iento de la diversidadtnica y cultural de la sociedad y otor.ar estas diversas identidades, derechos esec%icos8

    y (+) 6el -stado de Brasil, en vista del reconoci$iento del artculo 9:; de la 'onstituci1nde ;iol1.icas se construyen a artir de la luralidad de untos de vista ticos,identidades 2urdicas y olticas roias de la diversidad 7nacional*& -n el caso de Brasil,la hi1tesis es 3ue a esar del reconoci$iento de la diversidad tnica y cultural e>resadaen el artculo 9:; de '?==, el $odelo institucional del -stado si.ue uni4nacional y $arcado

    or las relaciones coloniales de oder& -l o+2etivo .eneral del estudio es identi%icar yanali@ar, a artir de las de$andas y contri+uciones olticas del $ovi$iento ind.ena y susre%le2os en el nuevo constitucionalis$o 0atinoa$ericano, el si.ni%icado y la i$ortanciaconstitucional del $odelo de -stado 7lurinacional*, en articular, las osi+ilidades 3ueo%rece ara ro$er con las relaciones hist1ricas de do$inaci1n dentro de los estados$arcados or la diversidad tnica y cultural& -l an!lisis se +asa te1rica$ente en los estudios

    de la colonialidad (Aui2ano), so+re todo en cuanto a la colonialidad del oder (Aui2ano), odel conoci$iento (Mi.nolo y Sousa Santos), y el ser (Maldonado4orres)& eniendo encuenta la idea de la ho$o.eneidad tnica y cultural 3ue su+yace en el diseCo de la identidadnecesaria entre el -stado y la naci1n, co$o una roducci1n ideol1.ica +asada en el noreconoci$iento de la diversidad, nosotros a%ir$a$os la incaacidad del -stado4naci1n en

    /$rica 0atina ara dar cuenta de su retensi1n de ro$over un inte.raci1n socialde$ocr!tica, 2usta y solidaria& Se de$uestra, en la trayectoria hist1rica delconstitucionalis$o latinoa$ericano desus de la indeendencia, 3ue los -stados uni4nacionales en la re.i1n se han desarrollado y se constituyen co$o esacios ara el$anteni$iento de las relaciones coloniales del oder, del ser y del sa+er 3ue han +orradola diversidad etno4cultural y han uesto a los indios en una osici1n oltica y eist$icade su+ordinaci1n& / artir de ah, se anali@an las luchas hist1ricas de la resistencia ind.enaa este $arco, as co$o las $ovili@aciones alrededor de la reciente construcci1n de los$odelos de -stado Plurinacional de Bolivia (9resi1n deuna actitud descolonial (Aui2ano), +asado en la deso+ediencia eist$ica (Mi.nolo) y lainterculturalidad crtica (Ealsh)& 0le.a$os a la conclusi1n de 3ue en el nuevoconstitucionalis$o latinoa$ericano, las de$andas ind.enas tra2eron la lurinacionalidadco$o un intento de construir estructuras estatales en +ases descoloniales/

    WPala4ras #lave5 -stado nacional -stados lurinacionales 0os ue+los ind.enas de /$rica0atina naciones ind.enas nacionalidades ind.enas la diversidad tnico4cultural colonialidad del oder colonialidad eist$ica colonialidad del ser descolonialidad

    deso+ediencia eist$ica interculturalidad crtica eoria del -stado uevo'onstitucionalis$o 0atinoa$ericanoY

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    #iii

    Resume

    'ette recherche orte sur lF $er.ence de la notion dFGtat $ulti4national en /$ri3ue 0atineH artir des revendications histori3ues des eules autochtones our la reconnaissance en

    tant 3ue su2ets oliti3ues et 2uridi3ues auto.r dans le cadre de lF-tat territorial $oderne&0e oint central est lFi$ortance et la contri+ution des $ouve$ents indi.nes en /$ri3uelatine, nota$$ent en Bolivie, en -3uateur et au Brsil, our la construction dFun $odledFGtat 3ui d%ie et vainc les relations eurocentri3ue et colonial de ouvoir et deconnaissances dans le $odle tat4nation& 0e docu$ent vise H rondre H deu> 3uestions5(a) le $odle ael lF-tat 7lurinational* nFest 3ue la reconnaissance de la diversitethni3ue et culturelle de la socit et accorder H ces diverses identits, des droits

    sci%i3ues8 et (+) lFGtat +rsilien, en vue de la reconnaissance de lFart& 9:; de la'onstitution de ;iolo.i3ue sont construits H artir de la luralit des oinionsthi3ues, rores identits 2uridi3ues et oliti3ues des di%%rents J national*& Dans le cas du

    Brsil, lFhyothse est 3ue, $al.r la reconnaissance de la diversit ethni3ue et culturellesFe>ri$e dans lFart& 9:; de '?==, le $odle institutionnel de lF-tat continue uni4nationalet $ar3ue ar les relations coloniales du ouvoir& 0Fo+2ecti% .nral de lFtude est dFidenti%ier et dFanalyser, H artir des revendications et des contri+utions oliti3ues du$ouve$ent indi.ne et de ses e%%ets dans le nouveau constitutionnalis$e latino4a$ricain,la si.ni%ication et lFi$ortance du $odle -tat 7lurinational* constitutionnel, en

    articulier les ossi+ilits 3uFil o%%re en sens de la ruture des relations histori3ues dedo$ination au sein de United $ar3ue ar la diversit ethni3ue et culturelle& 0Fanalyse est

    thori3ue$ent +as sur des tudes de la colonialit (Aui2ano), nota$$ent en ter$escolonialit du ouvoir (Aui2ano), ou la connaissance ist$i3ue (Mi.nolo et SousaSantos), et tre (Maldonado4orres)& 'onsidrant lFide de lFho$o.nit ethni3ue etculturelle 3ui sous4tend la concetion de lFidentit ncessaire entre lF-tat et la nation, entant 3ue roduction idolo.i3ue +ase sur la non4 reconnaissance de la diversit, nousa%%ir$ons lFincaacit de lF -tat4nation en /$ri3ue latine our tenir co$te de sa

    rtention H ro$ouvoir une int.rer social4d$ocrate, 2uste y solidarit& ous d$ontrons,dans la tra2ectoire histori3ue du constitutionnalis$e en /$ri3ue latine arslFindendance, les -tats uni4 national dans la r.ion ont dvelo et se constituer desesaces our le $aintien de relations coloniales de ouvoir, dFtre et de savoir 3ue ladiversit e%%acer ethno4culturelle et de $ettre les Indiens dans un conte>te oliti3ue et

    ist$i3ue osition su+alterne& De lH, nous analysons les luttes histori3ues de rsistanceindi.ne H ce cadre, ainsi 3ue les $o+ilisations autour de la construction rcente de lF$odles Gtat lurinational de Bolivie (9ression dFunedcolonial dFattitude (Aui2ano), +ase sur la dso+issance ist$i3ue (Mi.nolo) et lacriti3ue interculturelle (Ealsh)& ous concluons 3ue le nouveau constitutionnalis$e en

    /$ri3ue 0atine, les revendications autochtones a luri4nationalit co$$e une tentative deconstruire des structures de lF-tat dans des +ases dcoloniales&

    KMo!s-#ls:tat national Gtats lurinationau> des eules autochtones dL/$ri3ue 0atine lesnations autochtones nationalits indi.nes la diversit ethno4culturelle colonialit du ouvoir

    colonialit ist$i3ue colonialit de lFtre decoloniality dso+issance ist$i3ue interculturalis$e criti3ue

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    iA

    Abstract

    TOe tOesis deals ZitO tOe emergen!e o) multinational model o) state in atin meri!a )rom

    tOe Oistori!al demands o) indigenous peoples/ re demands )or re!ognition as su(Ke!tspoliti!al and legal sel)-determined ZitOin tOe )rameZorN o) tOe modern territorial tate/ TOe!entral )o!us is on tOe importan!e and !ontri(ution o) atin meri!an indigenousmo#ements, espe!iallJ in Boli#ia, 3!uador and Brail, )or tOe !onstru!tion o) a state modeltOat !Oallenges and o#er!omes tOe 3uro!entri! and !olonial relations o) poZer andNnoZledge in tOe model nation-state/ TOe studJ seeNs to ansZer tZo &uestions7 $a% tOe model!alled 5plurinational6 tate is merelJ tOe re!ognition o) etOni! and !ultural di#ersitJ o)so!ietJ and grant tOese di#erse identities o) spe!i)i! rigOtsU nd $(% tOe Brailian tate, in#ieZ o) tOe re!ognition o) art/ 2E1 o) tOe Federal onstitution o) 1=VV, Oas tOe elements or!an (e !onsidered a state 5plurinational6U TOe OJpotOesis is tOat tOe multinational state , )ar)rom tOe simple re!ognition o) tOe OeterogeneitJ and tOe granting o) spe!i)i! rigOts is a model

    ZOose aAiologi!al and institutional )oundations are (uilt )rom tOe pluralitJ o) etOi!al, legaland politi!al !on!eptions oZn di#erse identities o) 5national6/ 9n tOe !ase o) Brail, tOeOJpotOesis is tOat despite tOe re!ognition o) etOni! and !ultural di#ersitJ eApressed in art/2E1 o) F;VV, tOe institutional model o) tate !ontinues uni - national and marNed (J !olonialrelations o) poZer/ TOe o#erall o(Ke!ti#e is to identi)J and analJe, )rom tOe !laims and

    politi!al !ontri(utions o) indigenous mo#ements and tOeir e))e!ts on mo#ement !alled :eZatin meri!an onstitutionalism, tOe meaning and importan!e o) tOe !onstitutional model5plurinational6 state, in parti!ular tOe opportunities it o))ers )or tOe (reaN ZitO Oistori!alrelations o) domination ZitOin states marNed (J etOni! and !ultural di#ersitJ/ TOe tOeoreti!alanalJsis is (ased on studies o) tOe 5!olonialitJ6 $SuiKano%, in parti!ular tOe modalities5!olonialitJ o) poZer6 $SuiKano%, 5NnoZledge6 or 5epistemi!6 $Mignolo and ousa antos%,

    and 5(e6 $Maldonado-Torres%/ Oereas tOe idea o) etOni! and !ultural OomogeneitJ asunderlJing tOe design o) tOe ne!essarJ identitJ (etZeen state and nation, and as anideologi!al produ!tion (ased on non-re!ognition o) di#ersitJ, it is said tOe ina(ilitJ o) tOenation-state in atin meri!a to realie Ois !laim to promote a demo!rati! so!ial integration,

    Kusti!e and solidaritJ/ ougOt to demonstrate, in tOe Oistori!al traKe!torJ o) atin meri!an!onstitutionalism a)ter independen!e, tOe uni-national states in tOe region Oa#e de#elopedand !onstitute tOemsel#es as spa!es )or tOe maintenan!e o) !olonial poZer relations, o) (eingand NnoZing tOat erasing etOno-!ultural di#ersitJ and indigenous pla!e in !onditions o)

    politi!al and epistemi! su(ordination/ From tOen analJes tOe Oistori!al struggles o)indigenous resistan!e to tOis )rameZorN, as Zell as tOe mo(iliations around tOe re!ent!onstru!tion o) multi-!ountrJ models o) state in Boli#ia $200=% and 3!uador $200V%, aseApressions o) a 5de-!olonial6 attitude $SuiKano%, )ounded in tOe 5epistemi! diso(edien!e6$Mignolo% and 5!riti!al inter!ulturalism6 $alsO%/ e !on!lude tOat tOe :eZ atinmeri!an onstitutionalism indigenous demands (rougOt plurinationalitJ as an attempt to

    (uild a neZ state model in de!olonial (ases/

    KKey;ords:ational State lurinational States 0atin /$erican indi.enous eoles indi.enousnations indi.enous nationalities ethnic4cultural diversity coloniality o% oNer eiste$iccoloniality coloniality o% +ein. decoloniality eiste$ic diso+edience critical interculturalis$

    State heory eN 0atin /$erican 'onstitucionalis$ 0e.al Oistory 0e.al Sociolo.y 0e.al/nthroolo.y

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    A

    Lista de Tabelas&abela ' utas indgenas na Boli#ia e 3&uador inOa do Tempo //////////////////// 4@[

    &abela ( onstitui8es e Po#os 9ndgenas na m+ri!a atina $+!/ \9\%/////////// 4[4

    &abela ) onstitui8es e Po#os 9ndgenas na m+ri!a atina $+!/ \\%//////////// 4V0

    &abela * onstitui8es e Po#os 9ndgenas na m+ri!a atina $+!/ \\9%/////////// ?0?

    &abela + Pro!esso de onstituio das 9Cs no 3stado Plurina!ionalBoli#iano//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ?2V

    &abela , - Direitos, Fa!uldades e ompetn!ias das utonomias 9C no 3stadoPlurina!ional Boli#iano///////////////////////////////////////////////////////////////////////// ?E1

    &abela . - Muni!pios em pro!esso de !on#erso ' 9C///////////////////////////////////// ?E2

    &abela / - Territrios em pro!esso de !onstituio de 9C///////////////////////////////// ?EE

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    Ai

    Lista de Figuras

    0igura ' - uamRn Poma/5Mapa M#ndi del eino de las 9ndias///6////////////////////// ?E4

    0igura ( - uamRn Poma/ 5on!eKo eal Destos einos apa! 9nga Ta#antin#io ama!Oi!o! po!ona6////////////////////////////////////////////////////////////////// ?E?

    0igura ) - Mel!Oor Maria Mer!ado/ 53l Maris!al de Ja!u!Oo Oa!iendo na!erlas artes J !ien!ias de la !a(ea de Boli#ia6////////////////////////////////////////// ?E[

    0igura * 3stado Plurina!ional da Boli#ia Crganograma////////////////////////////////////// ?2@

    0igura + o!aliao dos 1V muni!pios soli!itantes da !on#erso em 9C

    $set;0=%/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ?EV

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    Aii

    Lista de Documentos

    Doc ' !tas e!retas del o(erano ongreso de las Pro#in!ias "nidas enudam+ri!a////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ?40

    Doc ( De!reto 1E2 del 4 de Kulio de 1V2?///////////////////////////////////////////////////////////// ?4@

    Doc ) Mani)iesto del 5Blo&ue C(rero-ampesino6 ///////////////////////////////////////////// ?4[

    Doc * Primer Mani)iesto de TiZanaNu////////////////////////////////////////////////////////////////// ?4=

    Doc + tas da ssem(leia onstituinte 3&uatoriana de 200[-200V///////////////////// ??E

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    Aiii

    Lista de Siglas e Abreviaturas

    AC sam(lea onstituJente $Boli#ia%

    A12 d#o!a!ia-eral da "nio $Brasil%AI nistia 9nterna!ional

    AIA !in de 9n!onstitu!ionalidad (strata $Boli#ia%

    AI3C utonomia 9ndgena CriginRria ampesina $Boli#ia%

    AL$ sam(lea egislati#a Plurina!ional $Boli#ia%

    A$ liana Pas $3&uador%

    A$I4 rti!ulao dos Po#os 9ndgenas do Brasil

    Anarescap5s so!ia!in :a!ional de egantes J istemas omunitarios de gua Pota(le$Boli#ia%

    A#C ssem(leia :a!ional onstituinte $Brasil%A$1 sam(lea del Pue(lo uarani $Boli#ia%

    A$3I#M! rti!ulao dos Po#os 9ndgenas do :ordeste, Minas erais e 3sprito anto$Brasil%

    A6C l)aro >i#e araKo $3&uador%

    CA3I oordinadora ndina de Crgania!iones 9ndgenas

    Cedib entro de Do!umenta!in e 9n)orma!in de Boli#ia

    Cedoc on)edera!in 3!uatoriana C(reros atli!os

    CID7 omisso 9nterameri!ana de Direitos Xumanos $C3%

    Cidob on)edera!in 9ndgena del Criente Boli#iano

    Cidob on)edera!in de Pue(los 9ndgenas de Boli#iaCimionselOo 9ndigenista MissionRrio $Brasil%

    Cipcaentro de 9n#estiga!in J Promo!in del ampesinado$Boli#ia%

    Cirabo entral 9ndgena de la egin mani!a de Boli#ia

    CISI omisso 9ntersetorial de a.de 9ndgena $Brasil%

    C# on!erta!in :a!ional $Boli#ia%

    C#44on)ern!ia :a!ional dos Bispos do Brasil

    C#! onselOo :a!ional de 3du!ao $Brasil%

    C#$I omisso :a!ional de Polti!a 9ndigenista $Brasil%

    C#C4 on)edera!in :a!ional de oloniadores de Boli#iaC#MCI3 4S on)edera!in :a!ional de MuKeres ampesinas 9ndgena Criginarias

    5Bartolina isa6 $Boli#ia%

    C#&C4 on)edera!in :a!ional de Tra(aKadores ampesinos de Boli#ia

    C#&C4"&8 on)edera!in :a!ional de Tra(aKadores ampesinos de Boli#ia TupaN]atari

    C34 entral C(rera de Boli#ia

    Codenpe onseKo de Desarrollo de las :a!ionalidades J Pue(los del 3!uador

    Coica oordinadora de las Crgania!iones 9ndgenas de la uen!a mani!a

    C3IA4 oordenao das Crgania8es 9ndgenas da maLnia BrasileiraComibol orpora!in Minera de Boli#ia

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    Ai#

    Conacnie onseKo :a!ional de las :a!ionalidades 9ndgenas de 3!uador

    Conageoordenao :a!ional de elogos $Brasil%

    Conaice on)edera!in de :a!ionalidades J Pue(los 9ndgenas de la osta 3!uatoriana

    Conaie on)edera!in de :a!ionalidades 9ndgenas del 3!uador

    Conaioc oordinadora :a!ional de las utonomas 9ndgena Criginaria ampesina $Boli#ia%Conalde on!eKo :a!ional Demo!rRti!o $Boli#ia%

    Conama9 onseKo :a!ional de/yllusJMarasdel Aollasuyu$Boli#ia%

    Coneagro on)edera!in grope!uaria :a!ional $Boli#ia%

    Coneniae on)edera!in de las :a!ionalidades 9ndgenas de la maonia 3!uatoriana

    Conisur onseKo 9ndigena del ur $Boli#ia%

    Cootad odigo CrgRni!o de Crgania!in Territorial, utonoma J Des!entralia!in$3&uador%

    Corte ID7 orte 9nterameti!ana de Direitos Xumanos $C3%

    C$! onstitu!in Polti!a del 3stado $Boli#ia%

    C$!M4! entral de Pue(los ^tni!os MoAe_os del Beni $Boli#ia%C$!$4 onstitu!in Polti!a del 3stado Plurina!ional de Boli#ia

    C$!SC on)edera!in de Pue(los ^tni!os de anta ru $Boli#ia%

    C$MI omisso Parlamentar Mista de 9n&u+rito $Brasil%

    C;! onstitu!in de la ep.(li!a del 3!uador

    C;04 - onstituio da ep.(li!a Federati#a do Brasil

    C;S2CI; - entral egional indi!al ni!a de ampesinos 9ndgenas de a&aJpampa$Boli#ia%

    CSC4 on)edera!in indi!al de oloniadores de Boli#ia

    CSCI4 on)edera!in indi!al de omunidades 9nter!ulturales de Boli#iaCS2&C4 on)edera!in indi!al ni!a de Tra(aKadores ampesinos de Boli#ia

    CS&4 on)edera!in indi!al de Tra(aKadores de Boli#ia

    C&Is ir!uns!rip!iones Territoriales 9ndgenas $3&uador%

    Depto/ Departamento

    Dineib Dire!!in :a!ional de 3du!a!in 9nter!ultural Bilingue $3&uador%

    DS!I Distrito anitRrio 3spe!ial 9ndgena $Brasil%

    !C 3menda onstitu!ional $Brasil%

    !corae 9nstituto para el 3!odesarrollo egional mani!o $3&uador%

    !cuarunari-cuador "unacunaac "icchari$ui on)edera!in de Pue(los de la:a!ionalidad ]i!OZa del 3!uador

    !1&8 3A+r!ito uerrilOeiro TupaK ]atari $Boli#ia%

    !I3C 3statuto 9ndgena Criginario ampesino $Boli#ia%

    0D&!2C Federa!in Departamental de Tra(aKadores en 3du!a!in de o!Oa(am(a $Bol/%

    0ecomade Foro o!Oa(am(ino del Medio m(iente J Desarrollo $Bol#ia%

    0ei Federa!in 3!uatoriana de 9ndios $3&uador%

    0eine Federa!in 3!uatoriana de 9ndgenas 3#ang+li!os

    0ee!inales de o!Oa(am(a $Bol#ia%

    0enocFedera!in :a!ional de Crgania!iones ampesinas $3&uador%

    0enocn Federa!ion :a!ional de Crgania!iones ampesinas, 9ndgenas J :egras $3&uador%

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    A#

    0#MC4 4S Federa!in :a!ional de MuKeres ampesinas de Boli#ia 5Bartolina isa6

    0#MCI34 4S Federa!in :a!ional de MuKeres ampesinas 9ndgenas Criginarias deBoli#ia 5Bartolina isa6

    0oin Federa!in de Crgania!iones 9ndgenas del :apo $3&uador%

    0oise Federa!in de :a!ionalidades 9ndgenas de u!um(os $3&uador%

    0& Funda!in Tierra $Boli#ia%

    0ulca Frente ni!o de u!Oa ampesina $3&uador%

    0unaiFundao :a!ional do `ndio $Brasil%

    0=L# Frente Hapatista de i(era!in :a!ional $MeAi!o%

    1onoae o(ierno de las :a!iones Criginarias de la maonia 3!uatoriana

    1&$I rupo de Tra(alOo so(re Popula8es 9ndgenas $C9T%

    I41!9nstituto Brasileiro de eogra)ia e 3statsti!a $Brasil%

    ID 9&uierda Demo!rRti!a $3!uador%

    I!! 9nstituto de 3studios 3!uatorianos

    I!;AC 9nstituto 3!uatoriano de e)orma graria J olonia!inIIDS 9nstituto 9nterna!ional de Dere!Oo J o!iedad

    I#;A 9nstituto :a!ional de e)orma grRria $Boli#ia%

    I3C 9ndgena CriginRrio ampesino $Boli#ia%

    I;SA - 9ni!iati#a de 9ntegrao da 9n)raestrutura Fsi!a egional ul-meri!ana

    ISA 9nstituto o!ioam(iental $Brasil%

    >I3C *urisdi!!in 9ndgena Criginaria ampesina $Boli#ia%

    Lecac eJ 3spe!ial de on#o!atria de la sam(lea onstituJente $Boli#ia%

    LD> eJ de Deslinde *urisdi!!ional $Boli#ia%

    LMAD eJ Mar!o de utonomas J Des!entralia!in $Boli#ia%L;! eJ del +gimen 3le!toral $Boli#ia%

    MAS"I$S$ Mo#imiento al o!ialismo 9nstrumento Polti!o por la o(erana de losPue(los $Boli#ia%

    MCI0? Mo#imiento iudadano 9ndependiente Futuro Ia $3&uador%

    M!C Minist+rio da 3du!ao $Brasil%

    MI Minga 9nter!ultural $3!uador%

    Mip Mo#imiento 9ndgenaPachauti$Boli#ia%

    Mir Mo#imiento de 9&uierda e#olu!ionaria $3&uador%

    Mit@a Mo#imiento 9ndio Tupa! ]atari $Boli#ia%M#;Mo#imento :a!ional e#olu!ionRrio $Boli#ia%

    M$AIS Mo#imiento liana Pas $3&uador%

    M$D - Mo#imiento Popular Demo!rRti!o $3!uador%

    M$0 Minist+rio P.(li!o Federal $Brasil%

    M;&8 Mo#imiento e#olu!ionRrio TupaN ]atari $Boli#ia%

    M2$$"#$Mo#imiento de "nidad Plurina!ionalPachauti :ue#o Pas $3&uador%

    #5$I3C :a!iones J Pue(los 9ndgena Criginario ampesinos $Boli#ia%

    3A4 Crdem dos d#ogados do Brasil

    3CMAL C(ser#atorio de on)li!tos Mineros en meri!a atina3D$I4 C(ser#atorio de Dere!Oos de los Pue(los 9ndgenas de Boli#ia

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    A#i

    3!$ rgano 3le!toral Plurina!ional $Boli#ia%

    3I!DC C(ser#atorio de 9ndustrias 3Atra!ti#as J Dere!Oos ole!ti#os

    3I&Crganiao 9nterna!ional do Tra(alOo

    3#1 Crganiao :o-o#ernamental

    3#2 Crganiao das :a8es "nidas3pip Crgania!in de Pue(los 9ndgenas de Pastaa $3&uador%

    $C! Partido omunista 3!uatoriano

    $D&1 Programa Demo!ra!ia J Trans)orma!in lo(al $Peru%

    $!C Proposta de 3menda onstitu!ional $Brasil%

    $0LPartido da Frente i(eral $Brasil%

    $I Partido `ndio $Boli#ia%

    $I; Partido de la 9&uierda e#olu!ionaria $Boli#ia%

    $#D Plan :a!ional de Des!entralia!in $3&uador%

    $MC Pa!to Militar-ampesino $Boli#ia%

    $MD4 Partido do Mo#imento Demo!rRti!o Brasileiro

    $nud Programa das :a8es "nidas para o Desen#ol#imento

    $odemos Poder Demo!rRti!o o!ial $Boli#ia%

    $rian Partido eno#ador 9nstitu!ional de !!in :a!ional $3&uador%

    $rodepine ProJe!to de Desarrollo de los Pue(los 9ndgenas J :egros $3&uador%

    $SC Partido o!ial ristiano $3&uador%

    $S! Partido o!ialista 3!uatoriano

    $S"0A Partido o!ialista Frente mplio $3&uador%

    $S$ Partido o!iedad Patrioti!a 21 de 3nero $3&uador%

    ;ed ed ^ti!a J Demo!ra!ia $3&uador%Senplades e!retara :a!ional de Plani)i!a!in J Desarrollo $3&uador%

    Sernap er#i!io :a!ional de reas Protegidas $Boli#ia%

    SI0D! -er#i!io 9nter!ultural de Fortale!imiento Demo!rRti!o $Boli#ia%

    S$I er#io de Proteo ao `ndio $Brasil%

    S#I er#io :a!ional de 9ntelign!ia $Brasil%

    S&0 upremo Tri(unal Federal $Brasil%

    &C3Bs Tierras omunarias de Crgen $Boli#ia%

    &C$ Tri(unal onstitu!ional Plurina!ional $Boli#ia%

    &ed Tri(unal 3le!toral Departamental $Boli#ia%&iaBs Territorios 9ndgenas J )roe!uatorianos

    &iocBs Territrios 9ndgenas CriginRrio ampesinos $Boli#ia%

    &ipnis Territorio 9ndgena J Par&ue :a!ional 9si(oro +!ure $Boli#ia%

    &LC Tratado de i#re om+r!io

    2MSA "ni#ersidad MaJor de an ndr+s $Boli#ia%

    2nam "ni#ersidad :a!ional utnoma de M+Ai!o

    2ni "nio das :a8es 9ndgenas $Brasil%

    2said "nited tates gen!J )or 9nternational De#elopment

    4 orld BanN $Ban!o Mundial%?$04 Ia!imientos Petroli)eros Fis!ales Boli#ianos

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    A#ii

    Sumario

    Volume 1. Tomo I

    Introduo/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 1$A;&! I

    D3 !S&AD3"#AE3 A3S !S&AD3S $L2;I#ACI3#AIS (p.26)

    Introduo//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 2V

    Captulo ' - 3 !stado moderno na perspectiva do !stado"#ao: a %omogeneidadecomo invisibilidade e dominao (p.29)

    1/1/ o(re :a8es e :a!ionalismos7 entre 5modernistas6 e 5etni!istas6, o euro!entrismo/ 2=

    1/2/ )uso identitRria entre 3stado e :ao7 a produo ideolgi!a daOomogeneidade //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 4@

    1/E/ onstitui8es e 3stados na!ionais na m+ri!a atina, da 9ndependn!ia ao 2/b Ps-guerra7 o mito e a !olonialidade do poder /////////////////////////////////////////////////////////////////// ?V

    1/4/ C 53stado-nao6 na m+ri!a atina7 um !on!eito em !rise ou a !olonialidadetornada #is#elU //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// [V

    Captulo ( - $lurinacionalidade e movimentos indgenas na AmFrica Latina: o 9ue9uerem os ndios com o !stado e com a #aoG (p.88)

    2/1/ Di#ersidade, eA!luso e resistn!ia/ emergn!ia dos mo#imentos indgenas !omoprotagonistas das lutas por trans)orma8es nos 3stados 5na!ionais6 ////////////////////////// VV

    2/2/ 53strangeiros em nosso prprio pas6/ :a di)erena radi!al, as sementes do

    sentimento Plurina!ional na Boli#ia e 3&uador /////////////////////////////////////////////////////////// 10[2/2/1 Boli#ia7 ampesinao, ur(aniao e )alsa igualdade ////////////////////////////////////// 10[

    2/2/2 3!uador7 Xuasipungo, Partidos e 9nti aimJ ////////////////////////////////////////////////////// 121

    2/E/ C !on!eito de 3stado 5plurina!ional67 origens e apropriao pelo mo#imentoindgena7 3&uador e Boli#ia //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 12V

    2/4/ C mo#imento indgena no Brasil e a &uesto do 3stado Plurina!ional /////////////////////// 14V

    Captulo ) - A emergHncia da plurinacionalidade no #ovo Constitucionalismo Latino"americano (p.164)

    E/1 C :o#o !onstitu!ionalismo atino-ameri!ano e suas rela8es !om a di#ersidade+tni!a7 o lugar dos po#os indgenas ///////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 1@4

    E/2 proposta da plurina!ionalidade na onstituinte Brasileira de 1=V[;1=VV/ Passos edes!ompassos//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 1[V

    E/E Cs !aminOos da Plurina!ionalidade na onstituinte Boli#iana de 200@;200= //////////// 1=4

    E/E/1 5Pacto de Unidad6 ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 1=?

    E/E/2 ssem(leia onstituinte ///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 20?

    E/E/E :o#o teAto onstitu!ional ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 21?

    E/4 Cs !aminOos da Plurina!ionalidade na onstituinte 3&uatoriana de 200[;200V ///////// 21=

    Concluso $arte IJ ///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 241

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    20/265

    A#iii

    Volume 2. Tomo II

    $A;&! II!K$!;I#CIAS C3#S&I&2CI3#AIS #A C3#S&;2E3 D3 !S&AD3

    $L2;I#ACI3#AL - C3#2IS&ASN C3#&;ADIO!S ! D!SA0I3S (p.245)

    Introduo/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 24[Captulo * - !stado $lurinacional e Autonomia $oltica dos povos indgenas na

    4olvia e !9uadorP !nimN a descoloniao do poderG (p.249)

    4/1 Plurina!ionalidade e $e%Territorialiao autonLmi!a////////////////////////////////////////////// 2?0

    4/1/1 Boli#ia7 3stado Plurina!ional e reterritorialiao atra#+s das 59Cs6 ///////// 2?1

    4/1/2 3&uador7 3stado Plurina!ional e reterritorialiao autonLmi!a atra#+s das5T9s6 /////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 2@[

    4/2 Plurina!ionalidade, Demo!ra!ia e Direito de onsulta Pr+#ia/ penas a tensoentre maioria e minoria ou a manuteno do modelo !olonialU //////////////////////////////// 2[?

    4/2/1 Boli#ia7 ps a 5uerra da Rgua6, a uerra pela onsulta Pr+#ia /////////////////// 2[[

    4/2/1/1 eJ del +gimen 3le!toral //////////////////////////////////////////////////////////////////// 2[=

    4/2/1/2 T9P:9 ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 2V0

    4/2/1/E MallNu Sota /////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 2V@

    4/2/1/4 nteproKeto de ei Mar!o de onsulta Pr+#ia //////////////////////////////////////// 2V=

    4/2/2 3!uador7 !onsulta pr+#ia vs/ pri#atiao da Rgua e eAtrati#ismo mineral /////// 2=?

    4/2/2/1 eJ de Minera e entena da orte onstitu!ional ////////////////////////////// 2=V

    4/2/2/2 eJ de guas //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// E024/2/2/E ProKetos de lei de !onsulta pr+#ia //////////////////////////////////////////////////////////// E0?

    4/2/2/4 entena da orte 9DX no !aso araJaNu, e o !aso Iasun 9TT ////// E10

    4/E esistn!ia, Di#iso e riminaliao/ inda o 5Cutro6, !omo inimigo ////////////////// E14

    4/E/1 Des&uali)i!ao, !ooptao, di#iso e eA!luso //////////////////////////////////////////////// E1@

    4/E/2 epresso e riminaliao /////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// E2[

    Captulo + - !stado $lurinacional e Autonomia >urdica dos povos indgenas na4olivia e !9uadorP >ustia indgena F linc%amentoG (p.349)

    ?/1 Bol#ia7 os di)!eis passos na luta pela e)eti#ao da *9C /////////////////////////////////////// E?1?/2 3&uador7 6/ ellos 3uin los ordena Ma.istrados8//////////////////////////////////////////////////// E?=

    Captulo , - 3 4rasil e a Diversidade Qtnico"cultural na Constituio multiculturalde 'R//: 2m !stado $lurinacionalG (p.371)

    @/1 Direitos onstitu!ionais e utonomia Polti!a indgena no Brasil Ps-VV /////////////// E[2

    @/2 Direitos onstitu!ionais e utonomia *urdi!a indgena no Brasil Ps-VV /////////////// 40@

    Concluso $arte IIJ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 41@

    C3#CL2SE3 1!;AL //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 420

    ;!0!;#CIAS //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 42?

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    AiA

    A$#DIC!S ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 4@[ApHndice A utas indgenas na Boli#ia e 3&uador $linOa do tempo% /////////////////// 4@[ApHndice 4 onstitui8es e Po#os 9ndgenas na m+ri!a atina +!/ \9\////// 4[4ApHndice C onstitui8es e Po#os 9ndgenas na m+ri!a atina +!/ \\/////// 4V0ApHndice D onstitui8es e Po#os 9ndgenas na m+ri!a atina +!/ \\9////// ?0?ApHndice ! 3stado Plurina!ional da Boli#ia Crganograma/////////////////////////////// ?2@ApHndice 0 Pro!esso de onstituio das 9C na Boli#ia //////////////////////////////// ?2VApHndice 1 ompetn!ias das 9C na Boli#ia ///////////////////////////////////////////////// ?E1ApHndice 7 Muni!pios em pro!esso de !on#erso ' 9C///////////////////////////////// ?E2ApHndice I Territrios em pro!esso de !onstituio de 9C////////////////////////////// ?EE

    A#!K3S//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ?E4Aneo A - Ilustraes ///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ?E4

    0igura ' 5Mapa M#ndi del eino de as 9ndias6//////////////////////////////////////// ?E40igura (on!eKo eal Destos einos apa! 9nga Ta#antin #io

    ama!Oi!o! po!ona/ ////////////////////////////////////////////////////////////////////// ?E?0igura )53l Maris!al de Ja!u!Oo Oa!iendo na!er las artes J !ien!ias de

    la !a(ea de Boli#ia6///////////////////////////////////////////////////////////////////////// ?E[

    0igura + o!aliao dos 1V muni!pios soli!itantes de !on#erso em9C $set;0=% /////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ?EV

    Aneo 4 - Documentos/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// ?E=

    DocP ' - !tas e!retas del o(erano ongreso de las Pro#in!ias "nidas enudam+ri!a $Tu!umRn, 1=1@%/////////////////////////////////////////////////////////// ?40

    DocP ( - De!reto 1E2 del 4 de Kulio de 1V2?/////////////////////////////////////////////////// ?4@DocP ) -Mani)iesto del 5Blo&ue C(rero-ampesino6//////////////////////////////////// ?4[

    DocP * - Primer Mani)iesto de TiZanaNu//////////////////////////////////////////////////////// ?4=DocP + - tas da ssem(leia onstituinte do 3&uador $eA!ertos% ///////////////// ??E

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    1

    INTRODUO

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    2

    C presente tra(alOo !onstitui a Tese de Doutoramento &ue desen#ol#i no Qm(ito do

    Programa de Ps-raduao em Direito da "ni#ersidade de Braslia $"nB%, na Rrea de

    !on!entrao 5Direito, 3stado e onstituio6/

    o( o ttulo 5Do $ito do -stado4aQRo aos -stados Plurinacionais na /$rica 0atina5'ontri+uiQes dos $ovi$entos ind.enas ara a construQRo de u$ novo $odelo de -stado

    elas vias da Descolonialidade, da Deso+edincia -ist$ica e da Interculturalidade 'rtica6,

    esta tese situa-se no Qm(ito da linOa de pes&uisa 5Pluralismo *urdi!o e Direito !Oado na

    ua6, so( orientao do Pro)/ Dr/ *os+ eraldo de ousa *.nior/

    #in!ulao ' re)erida linOa de pes&uisa de!orre, entre outras, da estreita relao entre

    o pro!esso de re!onOe!imento !onstitu!ional da plurina!ionalidade dos estados da Boli#ia e

    3&uador e a intensa mo(iliao dos segmentos populares de am(os os pases, representadospelos mo#imentos indgenas, na esteira de uma luta por re!onOe!imento identitRrio, autonomia

    e pluralismo tra#ada ao menos desde o in!io da d+!ada de 1=[0, no mar!o de sua emergn!ia

    !omosu2eitos coletivos de direito/

    Trata-se do resultado de uma pes&uisa desen#ol#ida em torno do temada emergn!ia

    do modelo 5plurina!ional6 de 3stado, tal !omo #em se !onstituindo !ontemporaneamente a

    partir das demandas Oistri!as dos mo#imentos indgenas na m+ri!a atina em sua (us!a pelo

    re!onOe!imento dos po#os indgenas en&uanto suKeitos polti!os e Kurdi!os autLnomos, pondoem &uesto assim a !lRssi!a !on!epo do 53stado-nao6, &ue eApressa a #iso de uma

    so!iedade +tni!a e !ulturalmente Oomognea/

    C ob

  • 7/25/2019 Tese Rosane Freire Lacerda_Vol 1

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    E

    es!olOa da temRti!a do modelo 5plurina!ional6 de 3stado &ue emerge a partir das

    lutas dos mo#imentos indgenas na m+ri!a atina dR se&un!ia a este )o!o de ateno,

    !on)erindo !onse&uentemente uma outra dimenso ' ideia da !apa!idade indgena/ Trata-se, na

    #erdade, de um tema &ue ti#e a oportunidade de a!ompanOar ' +po!a da ssem(leia :a!ional

    onstituinte de 1=V[;1=VV, &uando testemunOei as dis!uss8es e os em(ates em torno da

    proposta de re!onOe!imento do !arRter 5plurina!ional6 do 3stado Brasileiro(/ Bem mais &ue a

    derrota ali so)rida pela proposta, o modo !omo a &uesto )oi tratada por alguns dos setores

    polti!os en#ol#idos na sua dis!usso, (em !omo o seu !onse&uente es&ue!imento e a(andono

    pelo indigenismo (rasileiro no perodo Ps-!onstituinte, me deiAaram a in!Lmoda sensao de

    uma &uesto mal resol#ida e a(ruptamente en!errada/

    Mais re!entemente, em meio aos a#anos !onstitu!ionais o(tidos em outros pases

    latino-ameri!anos no to!ante aos direitos indgenas, espe!ialmente na Boli#ia e 3&uador, !uKos

    teAtos !onstitu!ionais )aem eApresso re!onOe!imento de am(os os 3stados !omo

    plurina!ionais, esta sensao de des!on)orto )i!ou ainda mais a!entuada/

    l+m disso, )oram tam(+m des!on!ertantes as in)orma8es e re)leA8es so(re temas

    relati#os ' 5autonomia6 indgena e 5sel%4.overn$ent6, &ue ti#e a o!asio de a!ompanOar

    durante #isita realiamos a di#ersas reser#as e organia8es indgenas $entre as &uais a

    5Maavi6, do po#o 9nuit, e a 5/sse$+ly o% irst ations6% no Sue(e!, durante o ano de 2004/

    ontudo, o elemento !Oa#e, a 5pro#o!ao6 )inal &ue nos )alta#a para a es!olOa do tema

    #eio na oportuna pro#o!ao )eita pelo pro)/ Boa#entura de ousa antos, em palestra na

    mesma "nB no ano de 200=, &uando a)irmou ser in!ompreens#el o )ato de no Brasil, mar!ado

    por to desta!ada di#ersidade +tni!o-!ultural, no eAistirem estudos e de(ates so(re a &uesto

    da naturea 5plurina!ional6 do 3stado/

    emergn!ia das onstitui8es plurina!ionais da Boli#ia e do 3&uador #eio, en)im, a

    esta(ele!er o !onteAto mais &ue oportuno para &ue pudesse me de)inir pela temRti!a, de!iso&ue !ontou !om o importante estmulo do Pro)/ *os+ eraldo de oua *.nior/ inda mesmo

    durante nossos estudos na )ase de Mestrado, o Pro)essor oua *.nior, tam(+m instigado por

    ousa antos, KR nos Oa#ia eApressado a sua !onsiderao so(re a importQn!ia dos estudos

    so(re a &uesto da plurina!ionalidade, tendo em #ista o largo poten!ial &ue o)ere!e para a

    dis!usso de pro(lemas !ontemporQneos no Qm(ito da so!iologia Kurdi!a, a eAemplo de

    (3Aperin!ia &ue narramos em 53s $ovos Indgenas e a Constituinte - 'R/."'R//6/ Braslia7 imi, 200V/

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    4

    &uest8es !omo o pluralismo Kurdi!o, a )ormao de suKeitos !oleti#os de direito, e a produo

    do Direito a partir dos mo#imentos so!iais, et!/

    es!olOa do tema a&ui desen#ol#ido te#e !omo uma de suas999

    ongresso da ede atino-ameri!ana de ntropologia *urdi!a realiado em u!re no ano de

    2012, na&uele pas, apesar de a no#a onstituio re!onOe!er o 3stado !omo 5plurina!ional6,

    os !ursos Kurdi!os !ontinuam a reproduir entre os seus estudantes a !on!epo da identidade

    uni-na!ional do 3stado, a ideia da 5nao6 !omo unidade Oomognea, e a ideia do 3stado !omo

    detentor do monoplio da produo da Kuridi!idade/ Cu seKa, mesmo tendo em #ista os a#anos

    !onstitu!ionais, a !ultura Kurdi!a (oli#iana seguiria des!onOe!endo as identidades !oleti#as da

    maioria da populao do pas, (em !omo o as !oleti#idades ou, melOor diendo, 5na8es6

    indgenas, !omo produtoras de sua prpria Kuridi!idade/

    )BC:3, Miguel/ 5ConstitucionalismoN minoras 5 derec%os6/ 9sonoma n/ 12, a(ril de 2000< p/=[/

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    ?

    :o o(stante, o )ato + &ue a emergn!ia da dis!usso do tema a partir das rei#indi!a8es

    de di#ersas organia8es e mo#imentos indgenas em pases da m+ri!a atina, e &ue

    resultaram nas primeiras eAperin!ias em !urso de re!onOe!imento de 3stados

    5plurina!ionais6, )e !om &ue ingressasse na ordem do dia, o!upando a ateno de di#ersas

    pes&uisas no Qm(ito das !in!ias so!iais, so(retudo na o!iologia, ntropologia *urdi!a e

    in!ia Polti!a, estendendo-se aos pou!os para outras Rreas/

    :o Brasil s (em re!entemente, !om o ad#ento das artas onstitu!ionais

    Plurina!ionais da Bol#ia e do 3&uador, no !onteAto do !Oamado 5no#o !onstitu!ionalismo

    atino meri!ano6, + &ue tem Oa#ido um despertar para a dis!usso em torno da temRti!a na

    Rrea do Direito/ 3ntre os tra(alOos mais desta!ados neste sentido OR &ue men!ionar os de

    ntLnio arlos olNmer e u!as Ma!Oado Fagundes*, de *os+ i(as >ieira e et!ia ar!ia

    i(eiro DJnieZi!+, de Xenri&ue eil )onso e *os+ ui Suadros de MagalOes,, #alendo

    men!ionar ainda os primeiros tra(alOos de Ps-graduao stricto sensu na Rrea, !omo a

    dissertao de Mestrado de Pedro Brando, re!entemente de)endida na "FP3./

    omo se pode o(ser#ar no ttulo do presente tra(alOo, seu o(Keto de anRlise $a

    irrealidade da uni#ersalidade do paradigma do 53stado na!ional6 em 3stados mar!ados pela

    di#ersidade +tni!a e !ultural% + dis!utido a partir de um aspe!to espe!)i!o da realidade so!ial

    latino-ameri!ana a di#ersidade +tni!o-!ultural indgena , a partir de importantes

    !ontri(ui8es teri!as &ue ali tm emergido nas .ltimas d+!adas, &uais seKam, as !on!ep8es

    da 5inter!ulturalidade !rti!a6 e da 5!olonialidade do poder6, de &ue )alarei mais adiante/

    *C]M3, ntLnio arlos e F":D3, u!as Ma!Oado/ 5$ara um novo paradigma de !stado$lurinacional na AmFrica Latina6/ e#ista :3* - 3letrLni!a, #ol/ 1V - n/ 2 - p/ E2=-E42 ; mai-ago 201E/Dispon#el em7 c Ottp7;;ZZZ@/uni#ali/(r;seer;indeA/pOp;neK;arti!le;#ieZFile; 4@VE;2?=?< 5&endHncias

    contemporUneas do constitucionalismo latino"americano: !stado plurinacional e pluralismo

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    @

    opo por )o!ar em !ontri(ui8es so!iais e teri!as latino-ameri!anas toma em

    !onsiderao no apenas o &ue representa em termos de realidade +tni!o-!ultural di#ersa, mas

    tam(+m, e prin!ipalmente, o )ato de !onstituir-se em pal!o de importantes pro!essos !ontra

    OegemLni!os, onde as popula8es indgenas tm desempenOado papeis desta!ados, e onde

    desponta uma ri!a produo intele!tual de !on)ronto !om as amarras do modelo euro!ntri!o

    de produo do !onOe!imento/ es!olOa pela m+ri!a atina toma em !onsiderao, en)im,

    os importantes passos &ue #m sendo dados na superao do lugar de in#isi(ilidade e

    su(alternidade &ue Oistori!amente lOe tem sido reser#ado/ omo a)irmara Dar!J 9B39C, 5a

    m+ri!a atina eAiste6, e eAiste !omo produtora de no#as eAperin!ias e re)eren!iais teri!os,

    apesar do 5no lugar6 Xegeliano &ue lOe )ora atri(udo/

    o mesmo tempo, em minOa eAperin!ia a!umulada no !ampo indigenista pude

    per!e(er &ue as eAperin!ias de resistn!ia e autonomia dos po#os indgenas )rente aos 3stados

    ditos 5na!ionais6 tm sido to ri!as e desa)iadoras &uanto postas em situao de in#isi(ilidade,

    seKa para os setores &ue detm o !ontrole polti!o do 3stado, seKa para o uni#erso a!admi!o

    de modo geral, so(retudo os !ursos Kurdi!os/

    3ntendo &ue a temRti!a dos 3stados plurina!ionais, !uKa emergn!ia e #isi(ilidade, ao

    menos no Brasil, se deu a partir das re!entes eAperin!ias !onstitu!ionais le#adas a !a(o na

    Boli#ia e no 3&uador, re#ela um !ampo de pes&uisa de grande importQn!ia tanto teri!a &uanto

    prRti!a// dis!usso em torno dos modelos !onstitu!ionalmente eleitos por a&ueles dois pases

    latino-ameri!anos nos p8e diante de no#as perspe!ti#as teri!as &ue desde as .ltimas d+!adas

    tm desa)iado !res!entemente as !on!ep8es !lRssi!as so(re o atual modelo de 3stado, o

    53stado-:ao6 ou 53stado na!ional6/ Xerdado das re#olu8es (urguesas do s+!ulo \>999 $e

    de modo muito parti!ular das re#olu8es )ran!esa e norte-ameri!ana% o modelo de 53stado-

    nao6, !om toda a !arga de modernidade, uni#ersalidade e Oomogeneidade +tni!a e !ultural

    &ue e#o!a, paira supremo e in&uestionado no Qm(ito da Teoria do 3stado/ Figura ento !omo

    o(Keto de perene reproduo no uni#erso Kurdi!o, desde os manuais utiliados nas !arteiras

    es!olares das no#as gera8es de estudantes de graduao em Direito, at+ as prRti!as e dis!ursos

    dos di#ersos atores Kurdi!os, aps passar $in!lume% pelas pes&uisas realiadas no prprio

    uni#erso a!admi!o/

    3sta reproduo naturaliada e a!rti!a do modelo de 53stado-:ao6 !onstitui um dos

    eAemplos do distan!iamento ainda eAistente, em(ora menos pro)undo do &ue OR trinta anos

    /FC:3, Maria uadalupe Piragi(e da/ Iniciao Y $es9uisa no Direito/ o Paulo7 3d/ ampus, 200=3:X3:, odol)o/ 5Sie!e !esis e2uivo#adas so4re )meri#a +a!ina6/ o!iologa J u(desarrollo,M+Ai!o, :uestro Tiempo, 1=V1, pp/1?-V4/

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    =

    o re!onOe!imento )ormal da plurina!ionalidade !omo !ara!tersti!a de am(os os 3stados/

    !on!epo 5plurina!ional6 de 3stado passou ento a !ontar !om duas eAperin!ias !on!retas

    &ue &uestionam o !lRssi!o modelo de 53stado-:ao6/ partir da, #Rrios tra(alOos

    a!admi!os no Qm(ito da ntropologia e da in!ia Polti!a pou!os deles no Brasil , tm

    en)o!ado a &uesto da emergn!ia dos 3stados 5plurina!ionais6 na m+ri!a atina/

    Mas em &ue !onsistiria, de )ato, esta 5plurina!ionalidade6U eria realmente uma

    proposta Kurdi!o-polti!a no#a, ou no passaria da !onstatao ou re!onOe!imento

    !onstitu!ional de uma realidade so!ial !on!retaU

    3m(ora a !on!epo uni-na!ional de 3stado seKa a predominante, e os modelos

    !onstitu!ionalmente traidos pela Boli#ia e 3&uador seKam apontados !omo no#idade, no raro

    en!ontramos o(ras &ue a)irmam a dimenso 5plurina!ional6 ou 5multina!ional6 dos 3stados!ontemporQneos/ Trata-se de uma !ompreenso &ue parte da !res!ente di#ersidade +tni!o-

    !ultural en!ontrada na maioria dos pases, so(retudo em de!orrn!ia do pro!esso de

    glo(aliao, !uKas !ara!tersti!as e!onLmi!as e te!nolgi!as tem propor!ionado o sens#el

    in!remento do )enLmeno das migra8es interna!ionais e inter!ontinentais/ ssim,

    !onsiderando a )ormao !ada #e mais Oeterognea das popula8es !om sua di#ersidade

    +tni!a, lingusti!a, ra!ial, !ultural e religiosa , a 5plurina!ionalidade6 ou 5multina!ionalidade6

    !onsistiria OoKe uma realidade so!ial !on!reta para a maior parte dos 3stados/ eria, portanto,

    um )enLmeno mar!adamente so!ial, a gerar press8es !ada #e maiores so(re as estruturas do

    !lRssi!o modelo de 53stado-nao6/

    Diante disso, poderamos indagar se o s )ato da Oeterogeneidade da populao dos

    3stados !ontemporQneos KR seria o (astante para estes serem !onsiderados 5plurina!ionais6 ou

    5multina!ionais6/ Cu seKa, poderamos !onsiderar 5plurina!ionais6 os 3stados pelo simples

    )ato de re!onOe!erem !onstitu!ionalmente a eAistn!ia da di#ersidade de identidades +tni!o-

    !ulturais em suas )ronteirasU Diendo melOor, essa di#ersidade s!io-!ultural da populao,uma #e re!onOe!ida Kuridi!amente, ou melOor, !onstitu!ionalmente, pelo prprio 3stado, seria

    su)i!iente para trans)ormR-lo, deer si, em 5plurina!ional6U

    C!orre &ue nas o(ras em &ue o termo 5plurina!ional6 apare!e, ele no se en!ontra

    #in!ulado uni!amente ' !onstatao da eAistn!ia da di#ersidade +tni!o-!ultural no interior das

    )ronteiras estatais/ pare!e #in!ulado tam(+m a concesses )eitas pelo 3stado a estas

    identidades na!ionais di#ersas, em nome da manuteno da sua prpria integridade/ ssim,

    nesta perspe!ti#a, 5plurina!ionais6 seriam os 3stados &ue a(ririam mo de alguma de suasprerrogati#as em )a#or de alguma ou algumas das identidades na!ionais eAistentes no interior

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    10

    de seus territrios, !om o o(Keti#o de e#itar ou de neutraliar poss#eis rei#indi!a8es

    se!essionistas &ue poderiam pLr )im ' sua integridade/

    3sta perspe!ti#a em torno da plurina!ionalidade, &ue nos apresenta um !erto !onKunto

    de Oistoriadores e !ientistas polti!os europeus, nos p8e diante de algumas indaga8es/ primeira + se uma !on!epo assim to $ou meramente% pragmRti!a de 3stado 5plurina!ional6

    seria, de )ato, representati#a de um modelo alternati#o ao 3stado uni-na!ional, ou dele distinto/

    C &ue Oa#eria, de )ato, de 5plurina!ional6 num 3stado !uKa a(ertura para a a&uisio de direitos

    e poderes por parte da di#ersidade +tni!o-na!ional se eApressa #erti!almente, por meio de

    !on!essoU preo!upao &ue estaria posta seria apenas !om a no )ragmentao polti!o-

    territorial do 3stado, ou estariam em Kogo outros #aloresU

    segunda indagao + se esta perspe!ti#a de 3stado 5plurina!ional6 seria su)i!ientepara dar !onta da realidade eAistente na m+ri!a atina, ou seKa, de 3stados !onstitudos a

    partir de pro!essos de !on&uista e !oloniao, !om )orte presena de popula8es aut!tones

    ou originRrias, Oistori!amente eA!ludas de &uais&uer par!elas de poder e !idadania/ :estes

    !asos o 3stado 5plurina!ional6, !orrespondente ' superao da situao de dominao !olonial,

    seria )ruto de !on!esso ou o resultado de uma !onstruo !oleti#a &ue en#ol#a todas as

    identidades +tni!o-na!ionaisU

    ontudo, a tais indaga8es seria importante a!res!entar uma ter!eira, &ue #eKo !omouma &uesto de )undo no diRlogo interdis!iplinar do Direito !om a ntropologia/ C 3stado

    5plurina!ional6 +, ainda, 3stado, e !omo tal um !ompleAo institu!ional Kurdi!o-polti!o &ue

    en!erra uma dimenso Oierar&uiada e #erti!aliada de poder, &ue se eAer!e so(re

    territorialidades, institui8es, indi#duos e !oleti#idades/ Diante disso, !onstituiria ele, mesmo

    neste )ormato plurina!ional a&ui dis!utido, uma alternati#a realmente !apa de propor!ionar

    aos po#os indgenas as !ondi8es para uma #ida realmente des!oloniadaU Diendo de outra

    )orma, e !onsiderando os &uestionamentos !lastreanos

    ''

    , at+ &ue ponto seria poss#el a!ompati(iliao entre as so!iedades indgenas e o 3stadoU

    Diante desse &uadro, tra(alOei !om as setuintes perguntas mobiliadoras7

    a) o cha$ado -stado 7lurinacional*, tal co$o te$ sido conceituado no T$+ito do

    constitucionalis$o recente e$ ases da /$rica 0atina, notada$ente -3uador e Bolivia,

    resu$e4se ao reconheci$ento de orde$ %or$al, nor$ativa, da diversidade tnica e cultural ali

    ''T3, Pierre/ A Sociedade Contra o !stado: $es9uisas de Antropologia $oltica/ WTraduo7 TO+oantiago/Y/ o Paulo7 osa! h :ai)J, 200E/

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    32/265

    11

    encontrada, $ediante a concessRo de certos .raus de autono$ia a tais .ruos identit!rios,

    co$o arte de u$ es%orQo visando aenas a $anutenQRo de sua inte.ridade territorial

    so+erana, ou consistiria e$ u$a tentativa inovadora de construQRo de u$ $odelo cu2a

    estrutura 2urdico4oltica e ad$inistrativa seria %or2ada elas contri+uiQes das diversas

    identidades tnico4nacionais ali e>istentes, na ersectiva da descolonialidade do -stado8

    +) ode o -stado Brasileiro, u$a ve@ 3ue a 'onstituiQRo ederal de ;ressa$ente a diversidade tnica e cultural de sua sociedade e os direitos da derivados, ser

    considerado u$ -stado 7lurinacional*8

    %ipTtese geral!om a &ual tra(alOei + a de &ue as eAperin!ias atualmente em !urso

    na m+ri!a atina estariam !ontri(uindo para !om uma no#a perspe!ti#a em torno do !Oamado

    3stado 5plurina!ional6, de tal modo &ue este !onsistiria no no simples re!onOe!imento!onstitu!ional de uma situao de di#ersidade +tni!a e !ultural en!ontrada nas )ronteiras

    territoriais de um dado 3stado situao &ue o !on)iguraria simplesmente !omo +tni!a e

    !ulturalmente hetero.neo , nem tampou!o na concessRo, pelos representantes do grupo

    +tni!o maKoritRrio ou politi!amente dominante e atuando em nome do 3stado, de graus de

    autonomia aos grupos +tni!os 5minoritRrios6 ali eAistentes o &ue no eliminaria o !arRter

    sim(oli!amente uni-na!ional do 3stado/ Oiptese + a de &ue os modelos em !urso na Bol#ia

    e no 3&uador !onsistiriam, pelo !ontrRrio, na tentati#a de !onstruo de um no#o modelo de

    3stado, no &ual a sua estrutura Kurdi!o-polti!a e administrati#a, (em !omo a (ase aAiolgi!a

    so(re a &ual se assenta, espelOaria a di#ersidade de !on!ep8es e modos de #ida representados

    pelas identidades na!ionais ali eAistentes, num !ompleAo e permanente pro!esso de !onstruo

    Kurdi!a e polti!a, &ue teria !omo re&uisito o diRlogo inter!ultural, e !omo perspe!ti#a a

    superao da !olonialidade do poder eAistente no interior dos 3stados 5na!ionais6/ Para esta

    !onstruo estaria sendo )undamental o protagonismo polti!o dos mo#imentos indgenas em

    sua luta por re!onOe!imento de direitos, no somente por !ausa da dimenso num+ri!a &ue

    possui em pases andinos, mas pela )ora da dimenso epistmi!a &ue #eio a ela(orar e

    sustentar, na perspe!ti#a da des!oloniao das rela8es de poder no interior do 3stado/ :o

    !aso do Brasil, a sua identidade 5plurina!ional6 teria se tornado poss#el pelo re!onOe!imento

    da di#ersidade +tni!a eApresso pela onstituio Federal de 1=VV, mas estaria ainda a depender

    de um amplo pro!esso de arti!ulao dialgi!a das )oras polti!as representati#as dos

    segmentos +tni!a e !ulturalmente di)eren!iados da so!iedade (rasileira/

    partir desta Oiptese geral, tomei !omo sub"%ipTteses as de &ue7 a% :a m+ri!a

    atina o !lRssi!o modelo de 3stado-:ao re#ela a !ontinuidade de rela8es de poder e

  • 7/25/2019 Tese Rosane Freire Lacerda_Vol 1

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    12

    dominao, eAistentes desde o perodo !olonial so(re os segmentos indgenas ou no-

    o!identais da populao< (% ao !on!e(er e rei#indi!ar politi!amente o re!onOe!imento da

    5plurina!ionalidade6 do 3stado, o mo#imento indgena na m+ri!a atina tomou emprestado

    e re-signi)i!ou os !on!eitos euro!ntri!os e ideolgi!os de 5nao6 e 5na!ionalidade6,

    trans)ormando-os em importantes re)eren!iais para as lutas na perspe!ti#a da des!olonialidade

    do poder no !ontinente ameri!ano< !% o modelo 5plurina!ional6, ao in#+s de pLr em ris!o a

    integridade institu!ional do 3stado, representa, de modo !ontrRrio, a tentati#a de !onstruo de

    um desenOo polti!o-institu!ional !apa de manter e dar sentido ao 3stado, por representar

    legitimamente todo o !onKunto da so!iedade e, de modo in!lusi#o, os grupos Oistori!amente

    dominados e eA!ludos de parti!ipao polti!a< d% no 3stado 5plurina!ional6, para a arti!ulao

    dos #Rrios segmentos +tni!o-!ulturais + )undamental a prRti!a permanente da inter!ulturalidade

    !rti!a ou diRlogo inter!ultural< e% o !on!eito 5plurina!ional6 de 3stado, por sua perspe!ti#a

    pluralista, impli!a no re!onOe!imento tanto do pluralismo Kurdi!o &uanto do pluralismo

    polti!o no interior do 3stado< e, )% um dos maiores o(stR!ulos ao Aito da !onstruo do 3stado

    5plurina!ional6 en!ontra-se no modelo e!onLmi!o neoli(eral, pela presso &ue representa no

    sentido da manuteno das rela8es !oloniais de poder/

    arregado de apelos su(Keti#os e ideolgi!os, o tema da naturea 5na!ional6 do 3stado

    ou 3stado-:ao tem sido um dos mais !ontro#ersos e de di)!il tratamento ra!ional seKa na

    Rrea da in!ia Polti!a, seKa na do Direito/ FiAado nos mar!os do li(eralismo e do

    romanti!ismo polti!o do s+!ulo \9\ !omo algo &uase &ue sagrado, de)initi#o e in&uestionR#el,

    o 3stado !omo eApresso de uma unidade na!ional ideal$ente Oomognea apesar das

    !res!entes !rti!as &ue re!e(e no !onteAto atual do multi!ulturalismo e da glo(aliao

    e!onLmi!o-)inan!eira + uma ideia um tanto entranOada em algumas dis!iplinas Kurdi!as, a

    eAemplo da Teoria do 3stado e do Direito 9nterna!ional P.(li!o/ lgo &ue se pode o(ser#ar

    sem di)i!uldades seKa atra#+s do uso !orrente do termo 5:ao6 !omo sinLnimo de 53stado6,

    seKa na pre#aln!ia do !Oamado 5prin!pio das na!ionalidades6'(, segundo o &ual a !ada nao

    !orresponde o direito de !onstituir-se num 3stado independente, de tal modo &ue !ada 3stado

    seKa a eApresso Kurdi!o-polti!a de uma 5nao6/

    C tratamento &ue dou ao signi)i!ado, importQn!ia e impli!a8es da emergn!ia do

    !on!eito 5plurina!ional6 de 3stado, tal !omo #em sendo !onstrudo a partir das lutas dos

    mo#imentos indgenas na m+ri!a atina, &uestionando a !on!epo !lRssi!a da identidade

    uni-na!ional e !ulturalmente Oomognea do 3stado, + a&ui delimitado pela !Oamada tese da

    '(B":TX9, */ ]/ &%Forie 1FnFrale de lBQtat/ 3d/ l!an, Paris, 1=10/

  • 7/25/2019 Tese Rosane Freire Lacerda_Vol 1

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    1E

    5!olonialidade6/ :esse Qm(ito, pro!edo 's anRlises espe!ialmente atra#+s de trs de suas

    !ategorias $as !olonialidades do oder, do sa+ere do ser%, utiliando ainda a !on!epo da

    5des!olonialidade6, e de dois de seus desdo(ramentos, as !ategorias 5deso(edin!ia

    epistmi!a6 e 5inter!ulturalidade !rti!a6/

    tese da 5'olonialidade6, apresentada pelo so!ilogo peruano n(al SuiKano em )ins

    dos anos 1=V0, guarda suas origens na Teoria da Dependn!ia, desen#ol#ida por !ientistas

    so!iais e e!onomistas latino-ameri!anos na segunda metade dos anos 1=@0, (em !omo nos

    5estudos da su(alternidade6 e nos 5estudos ps-!oloniais6, e apresenta-se !omo uma superao

    ao !on!eito de 5'olonialis$o Interno6'), &ue lOe pre!edeu e de onde eAtraiu parte importante

    de suas preo!upa8es/ ontudo, di)erente deste, o !on!eito de 5'olonialidade6 remete o

    )enLmeno da su(ordinao !olonial para muito al+m das )ormas de imposio e de dominao

    polti!a e e!onLmi!a, eAer!idas pelos 3stados independentes so(re as popula8es +tni!a e

    !ulturalmente minoritRrias/ Para SuiKano a eApresso 5olonialidade6 en!erra o prprio

    paradigma das rela8es de dominao !onstituti#as da modernidade a partir da eApanso

    europeia no s+!ulo \>9, e at+ OoKe em #igor/ 3ntende o autor &ue se o 5!olonialismo6, en&uanto

    instituio polti!o-e!onLmi!a Oistori!amente dada !Oegou ao seu termo !om os pro!essos

    tardios de des!oloniao no egundo ps-guerra, a 5!olonialidade6 ainda permane!e, !omo

    padro &ue determina e gere as rela8es entre o uni#erso !ultural europeu $e sua eAtenso norte-

    ameri!ana%, e toda a gama de po#os no-o!identais, so(retudo a&ueles diretamente #itimados

    pelo !olonialismo'*/

    ')"tiliada pela primeira #e por / rigOt Mills $1=@E%, a !ategoria 5'olonialis$o interno6 )oi tra(alOada nam+ri!a atina so(retudo por Pa(lo onales asano#a e odol)o te#enOagen/ Tendo !omo pressuposto a!ompreenso de &ue a dominao !olonialista no se resume a um )enLmeno &ue atua na eAternalidade da#ida das so!iedades e dos indi#duos, diendo respeito apenas 's rela8es entre 3stados, sendo, portanto, dedimenso 5interna!ional6 $ou melOor, 5interestatal6%/ C !olonialismo interno seria uma prRti!a polti!a

    !ontemporQnea, #eri)i!R#el ainda OoKe no interior de 3stados )ormalmente independentes e etni!amenteOeterogneos, !uKas identidades +tni!as 5minoritRrias6 en!ontram-se su(ordinadas a rela8es de dominaopolti!a e e!onLmi!a por parte do 3stado/ Para asano#a, 50a de%inici1n del colonialis$o interno est!ori.inal$ente li.ada a %en1$enos de con3uista, en 3ue las o+laciones de nativos no son e>ter$inadas y

    %or$an arte, ri$ero, del -stado coloni@ador y, desus, del -stado 3ue ad3uiere una indeendencia%or$al, o 3ue inicia un roceso de li+eraci1n, de transici1n al socialis$o o de recoloni@aci1n y re.reso alcaitalis$o neoli+eral& 0os ue+los, minor&as o na#iones #oloni.ados 1or el /s!ado-na#in su6ren#ondi#iones seme, Pa(lo onRles/ 5Colonialismo Interno: una redeiniciTn/9n7 tlio BC:, et al$Crgs%/+a =eor&a Mar>is!a oy: Pro4lemas y Pers1e#!ivas/ Buenos ires7C< 200@< p/410/Y/ ssim, as minorias +tni!as situadas no interior dos territrios dos 3stadosindependentes !ontinuariam sendo #timas de uma situao de !olonialismo, agora prati!ada pelo prprios3stados independentes aos &uais perten!em um 5!olonialismo interno6/

    '*

    :a eApresso de alter Mignolo, 5se o colonialis$oL ode ser to$ado co$o u$a rel3uia do assado, acolonialidade est! +e$ viva6 W)/ M9:CC, alter/ 53s esplendores e as misFrias da ZciHnciaB:colonialidadeN geopoltica do con%ecimento e pluri"versalidade epistHmica6/ 9n7 Boa#entura de C"

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    14

    3ntende SuiKano &ue o paradigma da 5!olonialidade6, (em mais do &ue signi)i!ar a

    eAplorao polti!a e e!onLmi!a das minorias, opera no !ampo do seu imaginRrio/ ^ uma

    5coloni@aci1n del i$a.inario de los do$inados6, o(tida atra#+s da represso aos mais di#ersos

    !ampos da #ida imaterial7 5reresi1n no s1lo de esec%icas creencias, ideas, i$!.enes,

    s$+olos o conoci$ientos 3ue no sirvieran ara la do$inaci1n colonial .lo+al6, mas, tam(+m,

    5so+re los $odos de conocer, de roducir conoci$iento, de roducir ersectivas, i$!.enes y

    siste$as de i$!.enes, s$+olos, $odos de si.ni%icaci1n6/ Mas no s dessas repress8es so(re

    o imaginRrio dos dominados se alimenta o paradigma da !olonialidade/ 3le su(siste tam(+m,

    da imposio de 5una i$a.en $isti%icada de sus roios atrones de roducci1n de

    conoci$ientos y si.ni%icaciones6'+, ou seKa, da !on!epo de sua superioridade epistmi!a/

    ideia da 5!olonialidade6 + assim (em mais a(rangente, en#ol#endo a !oloniao das mentes,

    dos !ora8es e das prprias #idas dos indi#duos e das !oleti#idades/

    "tilio tese da 5!olonialidade6 desen#ol#ida por SuiKano para analisar as rela8es de

    poder impostas pelo !lRssi!o modelo 53stado-:ao6, &ue ainda OoKe ignora e torna in#is#eis

    os sa(eres e prRti!as Kurdi!as e polti!as dos po#os #itimados pelo Oistri!o pro!esso de

    dominao !olonial ini!iado no s+!ulo \>9/ Fundado no 5:orte6 epistmi!o, e !om sua

    proposta de unidade polti!a (aseada na identidade pretensamente Oomognea do seu

    5elemento Oumano6, o 3stado-:ao !onsistiria eAatamente numa das mani)esta8es tanto do

    5!olonialismo interno6 &uanto de um sistema mais amplo de 5!olonialidade do poder6

    eAer!idos !ontemporaneamente so(re os po#os indgenas, seKa atra#+s da Oierar&uiao das

    rela8es +tni!o-ra!iais de poder, seKa atra#+s do sistema de !ontrole dos re!ursos naturais !omo

    presso direta ou indireta do !apitalismo glo(al so(re o mesmo 53stado-:ao6/

    Tendo em #ista a noo de 5!olonialidade6, minOa anRlise segue a sistematiao

    proposta pela linguista norte-ameri!ana atOerine alsO, para &uem ela se reprodu ao menos

    em &uatro dimens8es inter-rela!ionadas7 !omo 5!olonialidade do oder6, ou seKa, a&uela &ue a

    partir da eApanso !olonial europeia se eApressa na ra!ialiao e Oierar&uiao euro!ntri!a

    das rela8es so!iais e intersu(Keti#as< !omo 5!olonialidade do ser6, &ue estende essa

    Oierar&uiao ao plano ontolgi!o, onde o 5ser6 e o 5no ser6 !onstituem !ategorias

    designadas pelo $euro%!entro do sistema, impli!ando uma !ategoriao (inRria &ue op8e, por

    :TC $ed/%/ 'onhe#imen!o 1ruden!e 1ara uma vida de#en!e: um dis#urso so4re as ?#i@n#iasA revisi!ado/o Paulo7 orte 3ditora, 2004, p/@@V/Y/

    '+

    S"9*:C, n(al/ 5Colonialidad 5 modernidad"racionalidad6/ 9n7 Xera!lio BC:9 $omp/%/+os'on2uis!ados: BCDE y la 1o4la#in ind&gena de las )mri#as/ 3!uador7 i(ri Mundi, Ter!er Mundo 3ds/,1==2, p/4EV-4E=/

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    1?

    eAemplo, o Oumano ao no-Oumano, o o!idental ao oriental< !omo 5!olonialidade do sa+er6,

    &ue situa os sa(eres euro!ntri!os !omo padro de #alidade no !ampo do !onOe!imento< e

    !omo 5!olonialidade cos$ol1.ica6 &ue rela!iona este padro de #alidade ao !ampo da 5)ora

    #ital-mRgi!o-espiritual6 das !omunidades su(Kugadas pela dominao !olonial',/

    naliso o tema da !onstruo do modelo 5plurina!ional6 de 3stado na m+ri!a atina

    a partir das trs primeiras !ategorias $oder,seresa+er%, !om maior desta&ue, !ontudo, para a

    !olonialidade do oder, so(retudo por !onta de sua importQn!ia !onstituti#a nas rela8es de

    poder desen#ol#idas nas estruturas Kurdi!o-polti!as e administrati#as do 3stado/

    5!olonialidade do poder6 tem sido tra(alOada so(retudo por SuiKano, &ue a !on!e(e

    !omo a&uele padro de poder, surgido no s+!ulo \>9 !om a eApanso !olonial europeia,

    atra#+s do &ual as desigualdades e as rela8es de poder $esta(ele!idas a partir da relao entre!on&uistadores e !on&uistados% passaram a ser )undadas na ideia de 5raa6, arti!uladamente ao

    !ontrole so(re o tra(alOo, sua produo e !omer!ialiao, ou seKa, a produo da ri&uea em

    (ases !apitalistas'./ 5!olonialidade do poder6 seria, !on)orme o autor, a 5imposio de uma

    !lassi)i!ao ra!ial;+tni!a da populao do mundo !omo pedra angular do re)erido padro de

    poder6, &ue operaria 5em !ada um dos planos, meios e dimens8es, materiais e su(Keti#os, da

    eAistn!ia so!ial &uotidiana e da es!ala so!ietal6, e &ue 5origina-se e mundialia-se a partir da

    m+ri!a6, ou seKa, dos pro!essos de !on&uista e !oloniao do !ontinente ameri!ano'//

    ssim, passado o perodo das rela8es 5!olonialistas6 de poder, o seu padro 5!olonial6

    !ontinuaria ainda presente/ por isso &ue, a despeito dos pro!essos de independn!ia o!orridos

    no s+!ulo \9\ em relao 's metrpoles i(+ri!as, o padro !olonial !ontinuaria mantido na

    realidade !ontemporQnea dos 3stados atino-ameri!anos, tanto em sua dimenso interna na

    reproduo de rela8es Oierar&uiadas e ra!ialiadas de poder entre os setores politi!amente

    dominantes e os grupos indgenas e a)rodes!endentes, materialmente eA!ludos da !idadania e

    !olo!ados em situao de su(alternidade, in)erioridade e in#isi(ilidade polti!a , &uanto emsua dimenso eAterna na suKeio dos prprios 3stados latino-ameri!anos a no#as dimens8es

    de su(alternidade, agora so( o prisma da glo(aliao neoli(eral e do !apital transna!ional/

    opo pela utiliao desta !ategoria, na anRlise dos pro!essos de !onstruo dos

    3stados plurina!ionais na m+ri!a atina a partir das demandas dos mo#imentos indgenas,

    ',X, atOerine/ 5Interculturalidad Crtica 5 !ducaciTn Intercultural6/ 9n7 *orge >9 et al/'ons!ruyendo 7n!er#ul!uralidad 'r&!i#a/ a Pa7 on#enio ndr+s Bello, 2010, p/=0/

    '.

    )/ S"9*:C, n(al/ 5'oloniali!y o6 Po;er6/ o& 'it/'/S"9*:C, n(al/ 5Colonialidade do $oder e Classiicao Social*/ 9n7 Boa#entura de ousa :TC eMaria Paula M3:33 $Crgs/%//1is!emologias do Sul/ oim(ra7 lmedina, 200=< p/[E/

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    1@

    o!orreu portanto !omo uma es!olOa natural, KR &ue !onstitui a !ategoria &ue melOor nos

    aproAima da !ompreenso das !rti!as da&ueles segmentos ao modelo "ni-na!ional de 3stado/

    Suanto ' 5!olonialidade do sa(er6 + o(Keto !res!ente da ateno de di#ersos

    pes&uisadores em !in!ias so!iais, !uKos tra(alOos #em sendo reunidos em importantes!oletQneas'R/ Trata-se de uma !ategoria &ue se re)ere mais espe!i)i!amente ' Oierar&uiao,

    em es!ala mundial e a partir da perspe!ti#a epistmi!a euro!ntri!a $&ue passou a se pro!essar

    !om o ad#ento do padro !olonial de poder instalado a partir do s+!ulo \>9%, dos sa(eres e

    )aeres, en)im, da produo do !onOe!imento/ :esta es!ala OierRr&ui!a euro!entrada, o grau

    de 5#alidade6 do !onOe!imento de!ai ' medida em &ue o seu n.!leo produtor se a)asta do ponto

    gra#ita!ional esta(ele!ido pelo padro !olonial de sa(er/

    3s!olOi esta !ategoria tendo em #ista o )ato de &ue a multipli!idade de identidadesna!ionais num dado territrio, assim !omo a ideia de um 3stado plurina!ional, tm !omo

    pressuposto a di#ersidade de sa(eres, de )ormas de per!epo de mundo, e distintas )ormas de

    produo do !onOe!imento )ora do grande !entro gra#ita!ional da ra!ionalidade moderna,

    representado pelo mundo o!idental, euro!entrado/ ela!ionamos o nosso o(Keto ' dis!usso de

    ordem epistemolgi!a &ue a)irma a #alidade do !onOe!imento indgena, ao mesmo tempo em

    &ue &uestiona a #iso euro!ntri!a do !onOe!imento/ :este sentido, inserimos a perspe!ti#a da

    !onstruo dos modelos plurina!ionais de 3stado desen#ol#idas na Boli#ia e 3&uador, no

    Qm(ito da&uilo &ue o so!ilogo portugus Boa#entura de ousa antos denomina de

    5eiste$olo.ias do Sul6/

    C ponto de partida de ousa antos para a sua !on!epo de 5epistemologias do sul6, +

    o da eAistn!ia, no plano epistemolgi!o, de uma )orma de pensamento &ue denomina de

    ensa$ento a+issalN a esta(ele!er linOas di#isrias entre o pensamento 5rele#ante ou

    !ompreens#el6 e o pensamento supostamente 5irrele#ante ou in!ompreens#el6/ episteme

    moderna o!idental seria uma )orma paradigmRti!a de pensamento a(issal, a esta(ele!er &ue 5ooutro lado da linOa6, ou seKa, o !ampo dos 5!onOe!imentos populares, leigos, ple(eus,

    !amponeses ou indgenas6, seria !ara!teriado pela ausn!ia de !onOe!imento real, e pela

    presena de simples 5!renas, opini8es, magia, idolatria, entendimentos intuiti#os ou

    su(Keti#os6, en&uanto &ue 5deste lado da linOa6 di#isria a(issal, ou seKa, no mundo o!idental,

    'R3ntre as prin!ipais !oletQneas podemos men!ionar :D3, 3dgardo $Crg/%/ A Colonialidade do saber:!urocentrismo e Ciencias SociaisP $erspectivas Latino"americanas/ ole!!in ur ur/ Buenos ires7

    C, 200?< C" :TC, Boa#entura de, e M3:33, Maria Paula $Crgs/%/1is!emologias doSul/ oim(ra7 lmedina, 200=/ C" :TC, Boa#entura de $ed/%/ 'onhe#imen!o 1ruden!e 1ara umavida de#en!e: um dis#urso so4re as ?#i@n#iasA revisi!ado/ o Paulo7 orte 3ditora, 2004/

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    1[

    se en!ontraria o .ni!o !onOe!imento #Rlido e rele#ante, o moderno !onOe!imento !ient)i!o(W/

    C autor in!lui o Direito moderno !omo uma das mani)esta8es paradigmRti!as do pensamento

    a(issal, por determinar !omo !rit+rio de #alidade a dis!usso entre a legalidade e a ilegalidade

    em )a!e do 3stado ou do Direito 9nterna!ional/ Cu seKa, as !on!ep8es de legal e ilegal, sendo

    5as duas .ni!as )ormas rele#antes de eAistn!ia6 para o direito moderno, )i!ariam restritas a

    5este lado da linOa6 $as metrpoles%, por&uanto &ue do 5outro lado da linOa6 $as onas

    !oloniais%, tais !on!ep8es, sendo ineAistentes, importariam na prpria ineAistn!ia do direito

    en&uanto )orma rele#ante e #Rlida de sa(er e de eAperin!ia('/

    "tilio a&ui o !on!eito de ensa$ento a+issal a )im de eApli!itar a produo de

    ineAistn!ia das prRti!as e !onOe!imentos Kurdi!o-polti!os dos po#os indgenas, #istos

    Oistori!amente !omo irrele#antes e in!apaes de !ontri(uir para !om a !onstruo dos 3stados

    ps-!oloniais/ s !Oamadas-iste$olo.ias do Sul!onstituiriam o 5!onKunto de inter#en8es

    epistemolgi!as &ue denun!iam6 a supresso das 5)ormas de sa(er prprias dos po#os e;ou

    na8es !oloniados6, 5#aloriam os sa(eres &ue resistiram !om Aito e in#estigam as !ondi8es

    de um diRlogo Ooriontal entre !onOe!imentos6/ ideia de 5ul6 presente neste !on!eito no

    remete ne!essariamente a um locusgeogrR)i!o, mas a uma dimenso meta)ri!a, en&uanto

    5!ampo de desa)ios epistmi!os, &ue pro!uram reparar os danos e impa!tos Oistori!amente

    !ausados pelo !apitalismo na sua relao !olonial !om o mundo6((/

    inda na )ase ini!ial de estudos se !omparada 's duas dimens8es anteriormente

    men!ionadas, a ter!eira dimenso da !olonialidade a 5!olonialidade do ser6 , &ue #eio ' tona

    ini!ialmente nos estudos de Mignolo(), re!e(endo depois um tratamento mais ela(orado

    tam(+m por Maldonado-Torres(*, segue a traKetria antes per!orrida por +#inas, ao rela!ionar

    ontolo.ia e oder, e por Dussel, na relao &ue )a entre o 5er6 e a empresa !olonial/ Para

    (W

    C" :TC, Boa#entura de/ 5$ara alFm do $ensamento Abissal: das Lin%as 1lobais a uma!cologia de Saberes6/ 9n7 Boa#entura de ousa :TC e Maria Paula M3:33 $Crgs/%/1is!emologiasdo Sul/ oim(ra7 lmedina, 200=< pp/ 2E e 2?/

    ('C" :TC, Boa#entura de/ 5$ara alFm do $ensamento Abissal ///6, W& 'it/, p/2?-2@/((C" :TC, Boa#entura de h M3:33, Maria Paula $Crgs/%/ 5Introduo6/ 9n7/1is!emologias do

    Sul/ oim(ra7 lmedina, 200=< pp/12-1E/()3ntre as produ8es de M9:CC a respeito, vide53s esplendores e as misFrias da ZciHnciaB///6 W& 'it/, e

    5Decires uera de lugar: suiones 1ara una diversidad e1is!mi#a m0s all0 del#a1i!alismo glo4al/ BogotR7 iglo del Xom(re 3ditores< "ni#ersidad entral, 9nstituto de 3studios o!iales

    ontemporRneos J Ponti)i!ia "ni#ersidad *a#eriana, 9nstituto Pensar, 200[, pp/12[-1@[< 5A topologia do sere a geopoltica do con%ecimentoP ModernidadeN ImpFrio e Colonialidade6/ 9n7 Boa#entura de C":TC e Maria Paula M3:33 $Crgs/%//1is!emologias do Sul/ oim(ra7 lmedina, 200=< p/EE[-EV2/

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    1V

    Mignolo, na medida em &ue a 5!olonialidade do poder6 resulta na 5!olonialidade do sa(er6,

    am(as le#am ine#ita#elmente ' !oloniao na es)era do prprio 5er6, #isto a partir das

    representa8es )ormuladas no !ampo da linguagem/ Partindo da !on!epo Xeideggeriana de

    &ue a linguagem + !onstituti#a do 5er6, Mignolo !on!lui &ue a 5!olonialidade do poder6,

    le#ando ' 5!olonialidade do sa(er6, resulta, en)im, na !olonialidade do prprio 5er67

    /// as lnguas no so meros )enmenos 5!ulturais6 em &ue os po#os en!ontrama sua 5identidade6< so tam(+m o lugar em &ue o !onOe!imento estR ins!rito/3, uma #e &ue as lnguas no so algo &ue os seres Oumanos tm, mas algo&ue os seres Oumanos so, a !olonialidade do poder e do sa(er #eio a gerar a!olonialidade do ser(+/

    onsiderando o o(Keto a&ui analisado, este 5er6, &ue a&ui o(ser#o ' lu da !on!epo

    da 5!olonialidade6, + o ser de dimenso !oleti#a/ Mignolo a)irma &ue 5a(undam os eAemplosde !olonialidade do ser6, seKa na identidade ra!ial, seAual, de gnero, et!/ Bus!o a&ui rela!ionar

    a &uesto da identidade indgena !oleti#amente !onsiderada, a partir da dis!usso a respeito de

    sua auto !ompreenso em relao ao 3stado e em relao 's outras !oleti#idades, en&uanto

    5nao6, 5na!ionalidade6, 5po#o6, et!/, na perspe!ti#a desta dimenso da !olonialidade/

    ideia + a de &ue a !oloniao da linguagem de um po#o +, !onse&uentemente, a !oloniao

    de seu 5ser6, a !oloniao de sua identidade, de sua su(Keti#idade, o &ue remete ' &uesto de

    sua identidade na!ional/ 3ssa insero da auto !ompreenso das !oleti#idades indgenas na

    es)era das identidades na!ionais, !omo uma das Rreas a)etadas pela !olonialidade, nos remete

    ' &uesto da emergn!ia da ideia de su+2etividades coletivas, dos 5suKeitos !oleti#os6

    re)eren!iados por 3der ader(,!omo no#os suKeitos das lutas no !ampo so!ial, e da &ual ad#+m

    o !on!eito de 5suKeito !oleti#o de direito6, proposto por ousa *.nior(./

    Tendo em #ista o re!onOe!imento a!admi!o dessa su(Keti#idade !oleti#a, analisamos,

    portanto, a &uesto das identidades +tni!o-na!ionais dos po#os indgenas ' lu da

    5!olonialidade do ser6/

    :o entanto, ao mesmo tempo, a ideia de 5!olonialidade6 tam(+m impli!a no mo#imento

    !ontrRrio, ou seKa, no sentido da 5descolonialidade6(// omo o(ser#a Mignolo, a !olonialidade

    (+M9:CC, alter/ 53s esplendores e as misFrias da ZciHnciaB///6/ W& 'it/, p/@@=/(,D3, 3der/ uando novos personagens entram em cena: !periHncias e lutas dos trabal%adores da

    grande So $auloN 'R.W"'R/W/ io de *aneiro7 Pa e Terra, 1=VV/(.C" *:9C, *os+ eraldo de/ Direito como liberdade: o Direito ac%ado na rua: eperiHncias

    populares emancipatTrias de criao do Direito/ 200V/ EEV )/ Tese $Doutorado em Direito%-"ni#ersidade deBraslia, Braslia, 200V/

    (/

    Tam(+m asano#a, na sua anRlise so(re as rea8es !ontrRrias ao 5!olonialismo interno6, desta!a aimportQn!ia das re!entes eAperin!ias dos mo#imentos de etnias, po#os e na!ionalidades &ue no ssuperaram a lgi!a da luta tri(al, !omo rei#indi!aram um proKeto simultQneo de lutas por autonomia,

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    1=

    !onstitui, paradoAalmente, 5a energia &ue gera a des!olonialidade6(R/ Tal !ategoria possui,

    segundo ros)oguel e Mignolo, o signi)i!ado uma opo polti!a, assim de)inida7

    &&& cuando deci$os decolonialidadL (&&&) esta$os si.ni%icando un tio deactividad (ensa$iento, .iro, oci1n), de en%renta$iento a la ret1rica de la

    $odernidad y la l1.ica de la colonialidad& -se en%renta$iento no es s1loresistencia sino re4e>istencia, (&&&)& Pensar des#olonialmen!e, ha4i!ar el girodes#olonial, !ra4alica /n+al Aui2ano) y de

    1ensar ha#iendo-#ono#imien!os3ue ilu$inen las @onas oscuras y l