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Avaliação do governo Dilma
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADEDE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CINCIA POLTICA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA POLTICA
THIAGO DA SILVA SAMPAIO
POPULARIDADE PRESIDENCIAL: ANLISE DOS
MICROFUNDAMENTOS DO SUPORTE PBLICO DA
PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF
Belo Horizonte - MG
- 2014 -
Thiago da Silva Sampaio
POPULARIDADE PRESIDENCIAL: ANLISE DOS
MICROFUNDAMENTOS DO SUPORTE PBLICO DA
PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica, da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial obteno do ttulo de Doutor em Cincia Poltica.
Orientadora: Prof. Dr. Helcimara de Souza Telles
Co-orientador: Prof. Dr. Jos Antnio Guimares Lavareda Filho
Belo Horizonte
- 2014-
Thiago da Silva Sampaio Popularidade presidencial: anlise dos microfundamentos da
avaliao da presidente Dilma Rousseff
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia Poltica, da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial obteno do ttulo de Doutor em Cincia Poltica.
Belo Horizonte, 16 de dezembro de 2014
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________ Prof. Dr. Helcimara de Souza Telles (Orientadora/ UFMG) ____________________________________________________________ Prof. Dr. Jos Antnio Guimares Lavareda Filho (UFPE) ____________________________________________________________ Prof. Dr. Fernando de Barros Filgueiras (UFMG) ____________________________________________________________ Prof. Dr. Malco Braga Camargos (PUC) ____________________________________________________________ Prof. Dr. Marcus Ablio Gomes Pereira (UFMG) ____________________________________________________________ Prof. Dr. Pedro Santos Mundim (UFG)
Agradecimentos
Essa tese no seria possvel sem a valiosa contribuio de inmeros professores e amigos. Em
primeiro lugar, sou grato aos meus orientadores Mara Telles e Antnio Lavareda pelo tempo
dedicado e sugestes preciosas. Agradeo Mathieu Turgeon e Pedro Neiva pelos comentrios
feitos na fase inicial desse trabalho que permitiram o amadurecimento de vrias questes e o
desenho metodolgico. Quero agradecer ainda aos professores Bruno Pinheiro Wanderley
Reis, Fernando Filgueiras, Marco Aurlio Prado e Cornelis Van Stralen pelas sugestes dadas
durante a banca de qualificao e que de pronto foram incorporadas a tese.
As anlises aqui realizadas s se tornaram possveis com o apoio do Centro de Estudos de
Opinio Pblica Cesop/ Unicamp. O Cesop foi essencial por ter me repassado as bases de
dados do Ibope e Datafolha. Sem essa colaborao no teria acesso aos dados que
responderam diversas questes dessa tese. Alm disso, para que outra parte da anlise fosse
realizada foi essencial que a Secretaria de Comunicao da Presidncia tornasse disponvel o
acesso as informaes de surveys referentes ao governo.
J aos colegas do Departamento de Cincia Poltica da UFMG e Universidade Federal do
Pampa, o meu agradecimento por proporcionar um ambiente que tornou possvel a construo
desse trabalho. Gostaria de lembrar que os meus amigos Dnis Chaves, Fabiano Ishiy,
Fernando Jorge Pereira, Iris Gomes, Robert Bonifcio, Roberto Guerra foram fundamentais
para que essa trajetria fosse cumprida. Para finalizar, agradeo especialmente minha
famlia e, sobretudo, minha noiva Maiara Lazarin pela compreenso e apoio sempre
existente durante essa empreitada.
The voice of the people is but an echo (V. O. Key, 1966).
Resumo
A presente tese investiga os microfundamentos da avaliao presidencial, como eles se estruturam e se alteram ao longo do tempo. Nesse sentido, se distancia da ideia de que os eleitores so sujeitos cujas escolhas so regidas por critrios fixos e bem estabelecidos para defender que os cidados avaliam o presidente a partir de limitaes sendo, em seus julgamentos, embalados por aspectos subjetivos direcionados pela cognio. Em resumo, a tese centraliza-se na relao existente entre a percepo e a predisposio do eleitorado com a popularidade do presidente. A hiptese central de que os eleitores julgam os presidentes a partir da percepo que possuem sobre as medidas governamentais. Os indivduos tm preferncias e predisposies que direcionam a compreenso sobre como o governo est agindo. A partir disso, investigamos as dinmicas do suporte pblico e, sobretudo, sua ligao com fatores como a expectativa sobre o mandatrio, identificao partidria, faixa etria, escolaridade, confiana no presidente e ideologia. Entre as questes investigadas est a divergncia entre os eleitores quanto ao foco e ao tempo da avaliao. O foco diz respeito a forma como as medidas do governante sero analisadas. Elas podem ser julgadas a partir do impacto sobre o bem-estar individual ou sobre como afetam o cotidiano de toda a populao. Alm disso, outro ponto que ser discutido se a anlise sobre o mandatrio se direciona por eventos do passado ou apenas por prognsticos. Como a avaliao resposta a percepo dos sujeitos sobre as aes do governo, o incumbente cria estratgias para fortalecer o apoio pblico. Com isso, a mdia um meio til para disseminar a campanha permanente do governo e da oposio. Assim, investigamos qual o impacto da mdia na definio de quais questes so relevantes e na redefinio dos critrios utilizados pelos cidados no julgamento do desempenho do presidente. As questes foram respondidas a partir de dados provenientes de suveys nacionais como: Avaliao da presidente Dilma Rousseff aps dois anos de governo Datafolha 2012; Avaliao dos protestos de junho/2013 Ibope e; Pesquisa brasileira de mdia Secom/Ibope 2013.
Palavras-chave: cognio; suporte pblico; campanha permanente
Abstract
This thesis investigates the micro presidential evaluation, as it is structured and changes over time. In this sense, this work moves away from the idea that voters are subjects whose choices are governed by fixed and well established criteria to defend that citizens evaluate the president from being limited in their judgments, moved by subjective aspects targeted by cognition. In short, the thesis centers on the relationship between the perception and the electorate's predisposition with the president's popularity. The central hypothesis is that voters judge presidents from their perception on government measures. Individuals have preferences and predispositions that direct understanding of how the government is acting. The research aimed to investigate the dynamics of public support, and especially its connection with factors such as expectations about the governor, party identification, age, education, confidence in the president and ideology. Among the investigated issues is the divergence among voters about the focus and the evaluation time. The focus relates to how the governors measures will be considered. They can be judged from the impact on individual well-being or how to affect the daily lives of the entire population. Also, another issue to be discussed is whether the analysis of the agent is directed by past events or just for prognosis. As evaluation is the answer to the perception of the subjects on the government's actions, the incumbent creates strategies to strengthen public support. To do so, the media is a worthwhile means to broadcast the permanent campaign of the government and the opposition. Thus, this research investigated what is the impact of media in defining what issues are relevant and in redefining the criteria used by citizens in their judgment of the president's performance. The questions were answered from data taken from national surveys, as President Dilma Rousseffs evaluation after two years of government - Datafolha 2012; Analysis from IBOPE of protests occurred on June 2013 and Brazilian media research institutes - Secom / IBOPE 2013.
Keywords: cognition; public support; permanent campaign
Sumrio
Introduo ................................................................................................................................. 13
Captulo 1 A popularidade presidencial como mecanismo poltico ......................................... 18
1.1. Hiptese recompensa-punio ....................................................................................... 22
1.2. Ciclo econmico-eleitoral .............................................................................................. 25
1.3. Tese da questo prioritria ............................................................................................. 30
Captulo 2 A parte P e a Parte E: quais as questes que importam? ........................................ 35
2.1. Funo Voto-Popularidade ............................................................................................ 37
2.2. O efeito limitado da economia sobre a avaliao .......................................................... 40
Captulo 3 Opinio Pblica: como os eleitores formam a opinio sobre o desempenho do governo ..................................................................................................................................... 49
3.1. Modelo sociolgico ........................................................................................................ 49
3.2. Modelo psicossocial: escola de Michigan ..................................................................... 55
3.3. Teoria da escolha racional ............................................................................................. 58
3.4. Racionalidade limitada: a dimenso afeto-cognitiva do processo de escolha ............... 61
3.4.1. Prospect theory: o papel do risco na avaliao do governo .................................... 76
1.4.1.1. Sistema 1 e Sistema 2: a estrutura do julgamento poltico ............................... 77
1.4.1.2. Avaliao pautada pela averso ao risco .......................................................... 79
3.4.2. Processamento on-line e hot-cognition na avaliao do desempenho do governo . 81
1.4.2.1 - Avaliao contnua: o modelo impression-driven ........................................... 82
1.4.2.2 - A avaliao memory based ............................................................................. 85
3.4.3. O papel da emoo na avaliao do governo .......................................................... 89
1.4.3.1. Emoo e Cognio: Appraisal Theories ......................................................... 96
Captulo 4 Os diferentes tipos de anlises do desempenho presidencial ................................ 103
4.1. Avaliao egotrpica (pocketbook): a centralidade no auto-interesse ........................ 105
4.2. Avaliao sociotrpica: a relevncia das relaes sociais ........................................... 108
4.3. Avaliao prospectiva: o eleitor como banqueiro ........................................................ 113
4.4. Avaliao retrospectiva: a predominncia do passado ................................................ 117
Captulo 5 Os ciclos da avaliao: honeymoon e hangover effect ........................................ 133
5.1. Lua-de-mel: o efeito da expectativa ............................................................................. 134
5.1.1. O efeito dos eventos na prolongao ou reduo da lua-de-mel ....................... 138
5.1.2. Protestos de junho e a popularidade presidencial: o encontro da coalizo de minorias ........................................................................................................................... 144
5.2. Efeito ressaca: o efeito do custo de decidir .................................................................. 148
5.2.1. Cost of ruling e a percepo do eleitor .................................................................. 151
5.2.2. A popularidade e o perodo eleitoral ..................................................................... 155
Captulo 6 A mdia e a campanha permanente ....................................................................... 159
6.1. O processo de atribuio de responsabilidade ............................................................. 163
6.2. Panorama da mdia no Brasil ....................................................................................... 171
6.3. A mdia e a avaliao do presidente: agenda setting, framing e priming .................... 175
Consideraes Finais .............................................................................................................. 208
Bibliografia ............................................................................................................................. 215
Anexo 1 Lista de variveis ................................................................................................. 231
Anexo 2 Teste de amostras independentes ......................................................................... 235
Anexo 3 Importncia do governo ....................................................................................... 236
Anexo 4 Escolaridade e exposio mdia ......................................................................... 238
Anexo 5 Teste de amostra independente aprovao e exposio mdia ........................... 239
Anexo 6 Teste de amostra independente sade como principal problema e exposio mdia ................................................................................................................................................ 240
Anexo 7 Teste de amostra independente custo de vida como principal problema e exposio mdia .................................................................................................................................... 241
Anexo 8 Lista de viagens presidenciais ao exterior ............................................................ 242
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Principais reas onde o governo deve investir ................................................................ 45
Tabela 2 Anlise fatorial questes que impactam a avaliao ..................................................... 110
Tabela 3 Coeficientes e erros-padro estimados por modelos de mnimos quadrados ordinrios para condicionantes que afetam o comportamento sociotrpico e egotrpico ........................................ 111
Tabela 4 - Modelo multinomial dos condicionantes que afetam o tempo da avaliao .................... 125
Tabela 5 Correlao ideologia e simpatia partidria .................................................................. 129
Tabela 6 - Modelo multinomial dos condicionantes que afetam a avaliao presidencial ................ 130
Tabela 7 - Principal motivo das manifestaes ............................................................................ 145
Tabela 8 - Apoio aos protestos e nota mdia da classe poltica ...................................................... 146
Tabela 9 - Correlao popularidade e inteno de voto (2002-2014) ............................................. 155
Tabela 10 - Desvio-padro da popularidade presidencial .............................................................. 157
Tabela 11 - Desvio-padro da popularidade da presidente Dilma Rousseff .................................... 157
Tabela 12 Principal meio de comunicao utilizado para se informar sobre o que acontece no Brasil ................................................................................................................................................ 173
Tabela 13 - Coeficiente de correlao de Pearson entre confiana nos veculos de comunicao ..... 183
Tabela 14 - Estatsticas descritivas confiana nos veculos de comunicao por avaliao do governo ................................................................................................................................................ 184
Tabela 15 - Estatsticas de grupo exposio mdia por avaliao do governo ............................... 186
Tabela 16 - Estatsticas de grupo exposio por percepo sobre o principal problema do pas (sade) ................................................................................................................................................ 188
Tabela 17 Assuntos ou notcias mais lembradas sobre o Governo Federal (12/2013) ................... 190
Tabela 18 - Estatsticas de grupo exposio por percepo sobre o principal problema do pas (custo de vida/ preos/ controle da inflao) .............................................................................................. 191
Tabela 19 Condicionantes que afetam o interesse pelo Governo Federal ..................................... 195
Tabela 20 - Estatsticas descritivas exposio mdia por escolaridade (anos de estudo) ................ 196
Lista de Figuras Figura 1 - Sistema econmico-poltico .......................................................................................... 43
Figura 2 - Efeitos recursivos entre cognio e emoo (Scherer, pg. 567). ..................................... 98
Figura 3 - Limites da oscilao da popularidade .......................................................................... 136
Figura 4 - As mltiplas plataformas da presidente. Twitter, Facebook e Blog integrados ................ 198
Figura 5 - Caixa: Minha Casa, Minha Vida (2014)....................................................................... 205
Lista de Grficos Grfico 1 Evoluo das receitas e gastos pblicos (1997-2012) .................................................... 28
Grfico 2 Popularidade da presidente Dilma mar/11 a mar/14 (Ibope) ........................................ 141
Grfico 3 - Expectativa acerca do desemprego mar/11 a jul/13 (Ibope) ......................................... 142
Grfico 4 Taxa Mdia de desemprego no 1 Semestre, em% (IBGE) .......................................... 143
Grfico 5 Principais problemas do pas por avaliao do governo .............................................. 187
Grfico 6 Gastos do governo federal com publicidade (2000-2012) ........................................... 204
13
Introduo
Como os eleitores avaliam o governo? H quase meio sculo a resposta dessa pergunta
praticamente unssona, isto , eleitores julgam os presidentes a partir da performance
econmica. Nesse cenrio, governantes so recompensados ou punidos, principalmente, pela
capacidade de reduzir o desemprego ou controlar a inflao. Em outras palavras, se a
economia vai bem o governo aprovado, se ela vai mal ele ser reprovado. Assim, o
presidente aquele que deve garantir a paz e a prosperidade (Kernell, 1978)1.
Na busca por compreender a avaliao presidencial, os resultados alcanados pelo governo na
rea econmica so apontados como sendo os de maior influncia na construo tanto da
imagem positiva quanto negativa que os eleitores elaboram sobre quem governa. Com isso,
indicadores econmicos seriam preditores da popularidade presidencial (Lewis-Beck e
Stegmaier, 2000). Nesse aspecto, o governo apenas o meio pelo qual eleitores conseguem
realizar suas vontades e seus desejos traados no perodo eleitoral.
Identificar como os eleitores diferem bons governos de maus governos crucial para entender
o desenlace do processo poltico. Cada eleitor em sua poca, em seu espao segue normas e
valores especficos que estruturam o modelo daquilo que eles esperam ser o governo. Assim,
em uma democracia, quem governa, geralmente, ou se encaixa aos padres definidos pelo
eleitor ou abre espao para que outro o faa.
Partidrios de presidentes bem avaliados tm mais chances de serem reeleitos (Fiorina, 1978;
1981). A baixa aprovao empecilho no momento de tentar a reeleio ou quando se busca
fazer o sucessor. Com isso, os governantes que esperam continuar no poder observam na
avaliao que os eleitores fazem ao longo do mandato uma prvia da disputa eleitoral. A meta
do incumbente passa a ser ampliar a popularidade.
Nessa tarefa, como veremos no captulo 1, o governo, muitas vezes, direciona a poltica macroeconmica para tornar suas aes consoantes com o desejo da opinio pblica. O
suporte pblico objeto de desejo por facilitar a atuao do mandatrio. Presidentes populares
obtm maior capacidade de agir. Eles esvaziam o discurso da oposio e ampliam o controle
sobre o legislativo e a mdia.
1 Vale destacar que os estudos sobre a popularidade presidencial se concentram basicamente entre Europa e Estados Unidos. Com isso, tem limitaes para responder questes especficas de pases como o Brasil.
14
Em busca de ampliar o suporte pblico, os mandatrios impulsionam a criao de ciclos
econmicos atrelados a ciclos eleitorais. Nos ciclos econmicos-eleitorais, alm do controle
mais rgido sobre o desemprego e a inflao, as aes do governo se centralizam nas medidas
que possam significar em melhoria do bem-estar dos indivduos como, por exemplo, a
ampliao da renda da populao ou do seu poder de compra.
Porm, as aes do governo para ampliar o apoio popular nem sempre surtem efeitos, pois a
avaliao no dirigida pela simples leitura racional de resultados polticos e econmicos
(Captulo 2). Como dito, aqui a principal hiptese de que a percepo individual sobre as aes desenvolvidas pelo mandatrio preponderante para decidir a forma como os governos
sero avaliados. Dessa forma, a popularidade do governo no est atrelada a qualidade das
suas aes e sim a forma como os cidados interpretam tais aes.
Assim, essa pesquisa vai alm da ideia de que fatores econmicos so os nicos
condicionantes que impactam a avaliao sobre as aes do mandatrio. De fato o bom-
governo est vinculado capacidade de realizar as vontades dos eleitores. Porm, isso no
indica que a vontade dos eleitores se traduza apenas em ganhos econmicos. Assim, o
objetivo aqui compreender como se forma a percepo dos indivduos sobre a performance
do governo e como eles estruturam os critrios utilizados na avaliao do incumbente. Em
resumo, essa tese analisa os processos que permeiam o julgamento dos eleitores sobre o
desempenho do presidente considerando os aspectos cognitivos e afetivos que formam a
percepo dos indivduos sobre as questes polticas.
Desse modo, contrrio aos modelos econmicos da avaliao presidencial, defendemos aqui
que o julgamento elaborado pelos eleitores sobre o presidente depende da percepo acerca
dos problemas polticos e da compreenso sobre quais so as atribuies do mandatrio. A
percepo individual indica qual a real dimenso da responsabilidade do governo sobre os
resultados polticos e econmicos e como tais resultados afetam o bem-estar da populao2.
Com base nisso, entendemos que h dissociao entre como os acontecimentos polticos so
de fato e como eles so percebidos pelos cidados. A principal varivel que permite
identificar esse distanciamento a expectativa do eleitor sobre o seu bem-estar e o futuro do
pas. As expectativas afetam diretamente a popularidade presidencial e obedecem um ciclo
2 Como as funes do governo so determinadas pelas instituies possvel dizer que, em parte, a percepo sobre quais so as atribuies do presidente varia conforme a configurao das instituies polticas (Powell e Whithen, 1993).
Regina Helena Alves da Silva
Regina Helena Alves da Silva
Regina Helena Alves da Silva
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15
temporal. Desse modo, o suporte pblico, geralmente, depende da capacidade do governante
conseguir superar ou manter as expectativas dos cidados. Por sua vez, as expectativas
surgem a partir das experincias subjetivas individuais. Elas constroem na mente de cada
eleitor a representao do que seria para eles o bom-governo, um governo tolervel e o
pssimo governo. Desse modo, ser bem avaliado passa a ser uma questo de se encaixar ou
modificar esse padro pr-estabelecido.
Como ser descrito no captulo 3, os julgamentos sobre o desempenho do governo fazem parte de um processo complexo que envolve motivao, aprendizagem, memria e percepo.
Isto , cognio e afeto em compasso, sem que haja relao de dominncia de uma sobre a
outra (Mackuen et al., 2007).
Na avaliao do governo, os eleitores no so estritamente racionais como supunham Key
(1966) e Downs (1999). Eles julgam o presidente a partir de certa racionalidade limitada que
faz com que as questes polticas sejam constantemente reinterpretadas. Devido a essa
racionalidade limitada, a forma como o governo avaliado no esttica e tampouco
uniforme. Isto , no existe um modelo nico de bom governo e os indivduos no mantm
seus esquemas avaliativos por todo o tempo.
A leitura das questes polticas depende das predisposies dos eleitores. Por esse motivo,
governantes no so avaliados apenas por padres objetivos de anlise de resultados
indicadores de inflao, taxas de desemprego, entre outros , mas, sobretudo, por fatores
subjetivos que remetem a valores, atitudes, emoes e experincias vividas especficas a cada
um dos eleitores que constroem predisposies para identificar quais questes so relevantes
no julgamento do desempenho do presidente e como elas devem ser analisadas. Assim,
citizens generally do assign credit and blame to incumbent governments, but the attribution
of responsibility for good and bad economic times varies by political party, type of
incumbent, and the logic of the political context (Anderson, 1995, pg. 184).
Com isso, o principal argumento apresentado aqui que fatores como o afeto e a cognio so
cruciais para a interpretao dos eleitores sobre as aes do presidente. Em outras palavras,
no so os resultados que importam e sim a interpretao que os eleitores elaboram desses
resultados.
Com base nisso, no captulo 4, veremos como se estrutura a compreenso dos eleitores sobre qual o papel do governo e, tambm, analisaremos como eles identificam quais questes so
Regina Helena Alves da Silva
Regina Helena Alves da Silva
16
relevantes para avaliar o presidente. Como a percepo entre os eleitores divergente, as
anlises sobre o governo se diferenciam quanto ao foco e ao tempo.
O foco diz respeito a anlise dos efeitos das aes governamentais que podem ser observadas
pelas mudanas no bem-estar individual (anlise egotrpica) ou coletivo (anlise
sociotrpica). J o tempo da avaliao leva os eleitores a estruturar seu julgamento com base
em suas experincias pessoais e resultados de aes concretizadas (anlise retrospectiva) ou
que podero ser efetivadas (anlises prospectivas).
Dessa forma, no captulo 4, analisamos em qual intensidade as questes do passado e do presente afetam a percepo que os eleitores tm do governo e quanto do julgamento sobre o
desempenho do mandatrio embalado por expectativas acerca da sua atuao. Assim, esse
captulo apresenta os fatores que influenciam positivamente e negativamente a avaliao da
presidente Dilma Rousseff.
No captulo 4, identificamos que a percepo de parte dos eleitores sobre o governo se altera ao longo do tempo. Os efeitos so perceptveis, sobretudo, na oscilao da expectativa. Isto
faz com que a popularidade presidencial varie conforme o tempo do mandato possuindo picos
de alta no incio do governo com acentuado declnio aps o desgaste originado pelo cost of ruling.
Dessa forma, no incio do mandato, embalado pela alta expectativa dos eleitores o governo
apresenta grande suporte pblico e, consequentemente, mais facilidade para agir esse
perodo conhecido como lua-de-mel. Porm, como governar requer tomar decises que
nem sempre agradam a todos, a lua-de-mel do mandatrio com o eleitor substituda por
profundas ressacas. A ressaca se instala com a queda gradativa na expectativa sobre
mudanas.
A expectativa sobre o desempenho do presidente fruto da percepo sobre quais so as
atribuies do governo e sobre as questes que afetam a avaliao. Por sua vez, como a
percepo dos eleitores acerca das questes pblicas no rgida, o presidente se manter em
campanha permanente com o objetivo de interferir na forma como est sendo avaliado.
A campanha permanente efetivada por meio de estratgias de comunicao lanadas para
direcionar a ateno do pblico sobre aspectos positivos do governo. Por outro lado, a
oposio tambm buscar indicar aos cidados quais critrios eles devem utilizar para julgar o
17
presidente. Esse embate travado, sobretudo, atravs da mdia. Por esse motivo, a formao
da opinio pblica um processo politizado (Brody, 1991).
Diante disso, no captulo 5, analisaremos como a mdia busca alterar a percepo dos eleitores sobre quais problemas so relevantes e como o presidente cria medidas para
interferir no modo como os cidados iro analisar o seu desempenho. Porm, para que as
sugestes da mdia tenham efeito dois fatores so fundamentais; o primeiro, diz respeito a
necessidade de que as pessoas estejam predispostas a ouvir. Enquanto o segundo, refora a
imprescindibilidade dos indivduos confiarem que a sugesto verdadeira e que no h
nenhum interesse contrrio ao seu motivando-a.
Em resumo, aqui sero abordadas as seguintes questes: o que faz os eleitores aprovarem ou
reprovarem o presidente? Quais critrios so utilizados no julgamento sobre o desempenho do
mandatrio? A avaliao direcionada por interesses individuais ou coletivos? Ela se orienta
pelo passado ou por prognsticos? Como esses critrios so construdos e como eles se
alteram ao longo do tempo? Quais questes que importam para a avaliao do presidente?
Como o presidente e a mdia interferem na redefinio dos critrios apresentados pelos
cidados?3
3 Essas perguntas foram respondidas com a utilizao de dados provenientes das seguintes pesquisas: Avaliao da presidente Dilma Rousseff aps dois anos de governo Datafolha 2012; Avaliao dos protestos de junho/2013 Ibope e; Pesquisa brasileira de mdia Secom/Ibope 2013.
18
Captulo 1 A popularidade presidencial como mecanismo poltico
Durante o mandato os presidentes so constantemente avaliados pelos eleitores. O resultado
da avaliao indica a popularidade do presidente e essa, por sua vez, um dos principais
recursos polticos que um governante necessita ter. Em uma democracia, nada mais
influente do que um presidente com prestgio. Contando com o apoio de polticos, burocratas
e, principalmente, sendo aprovado pelos eleitores, as barreiras para a imposio da agenda
poltica so enfraquecidas. A popularidade o elemento central do prestgio por indicar o
suporte pblico as decises governamentais. Com baixo suporte o presidente perde
capacidade de ao4, pois passa a ser necessrio esforo maior para implementar polticas
construindo alianas e justificando a imprescindibilidade delas. Alm disso, a fiscalizao se
amplia e a oposio fica mais forte.
A popularidade do presidente dinmica e varia conforme fatores sociais, polticos e
econmicos (Erikson, MacKuen, e Stimson 2002). O dinamismo do suporte pblico,
observado por meio das pesquisas de opinio, indica ao presidente a necessidade de criar
estratgias para reforar a aprovao do seu governo. Em consequncia disso, o mandatrio
passa a criar medidas com o objetivo de influenciar a forma como ser avaliado pelos
cidados (Simon e Ostrom, 1989).
A aprovao passa a ser o termmetro do governo, pois ela demonstra os reais eleitores do
presidente em determinado perodo (Stimson, 1976) e deve ser compreendia como poderoso
mecanismo que possui a capacidade de alterar o comportamento dos atores polticos e dos
cidados. Alm disso, tem impacto direto no formato da cobertura da mdia. O prprio
presidente define parte dos seus compromissos com base na aprovao que possui (Brace e
Barbara, 1992).
Para o presidente, caso queira assegurar o sucesso de sua administrao, importante saber
como a opinio pblica se comporta e se manter em uma eleio perptua, entretanto, isto no
4 Devido essa importncia vrios estudos, realizados a partir dos anos 1970, buscam demonstrar como se estrutura a popularidade do governo (Consultar Goodhart e Bhansali,1970; Mueller, 1970 e Kramer, 1971).
19
significa que ele ser escravo dos apelos populares (Brody, 1991). Detectar as mudanas na
opinio pblica importante, mas o presidente exercendo o seu papel de lder pode facilmente
instruir os eleitores sobre a realidade poltica. Assim, suas medidas se ajustam a essa tarefa
professoral que surge como estratgia para ampliar o suporte pblico.
As aes do presidente so embaladas pelo compromisso de manter e ampliar o apoio da
populao ao governo porque esse apoio pea poltica fundamental, sobretudo, para facilitar
a relao com o congresso. Quanto maior o suporte pblico menores sero os obstculos
limitando a atuao do mandatrio como, tambm, ser mais fcil para o grupo que ele
representa continuar no poder seja pela reeleio ou eleio dos seus partidrios.
Assim, compreender como o governo est sendo julgado importa, pois a alta aprovao
facilita a atuao do governante possibilitando a execuo de polticas adequadas as
demandas da populao que, por sua vez, favorece a ampliao da popularidade (Neustadt,
1980). Por sua vez, Kinder entende que:
Widespread support in the public augments a president's ability to bargain and to persuade. Confronted with a popular president, Congress, the private sector, the bureaucracy, the executive branch itself, all become more accommodating to presidential initiative (Kinder, pg. 13, 1981).
As aes se tornam mais fceis devido ao fato de que quando o governo bem visto pelo
povo os opositores se enfraquecem. Por sua vez, a baixa popularidade fortalece a oposio e
por isso a avaliao tambm importante para os opositores se situarem perante a opinio
pblica. Como base no apoio popular ao presidente, os opositores se articulam e definem sua
agenda.
A popularidade indica que aes desenvolvidas so legtimas e descredita retaliaes dos
opositores. Dessa forma, facilita a tramitao de propostas e a convergncia de atores
polticos para a base de sustentao do governo. O suporte pblico do presidente facilita sua
influncia sobre lideranas (Neustadt, 1980). No comportamento estratgico fazer oposio
a governos populares, entretanto, quando o presidente no bem avaliado pululam lideranas
para explicar os motivos da reprovao do pblico e defender as bandeiras apresentadas pela
opinio pblica. Com a popularidade em baixa, at os partidrios passam a pressionar o
presidente.
Regina Helena Alves da Silva
tem alguma coisa que nao ta batendo o governo Lula era bem avaliado mas precisou de fazeralianas estranhasa oposio era tosca. pensar.
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Para os opositores, a tarefa de ir contra presidentes populares inglria por dois motivos:
primeiro, os eleitores que apoiam o governo tendem a descartar opinies contrrias que
buscam mostrar que nem tudo perfeio e, segundo, quanto maior a popularidade maior ser
a capacidade do Presidente perseguir os opositores (Neustadt, 1960). Por sua vez, a oposio
enfraquecida perde a capacidade de orientar a populao e, com isso se estabelece entre o
pblico a ideia da ausncia de opositores.
Os sinais do prestgio presidencial so sentidos, principalmente, no congresso. Quando a
populao respalda as decises do presidente, ela pune aqueles que se apresentam como
obstculos a execuo dessas decises. Por esse motivo, o prestgio pblico do presidente
fundamental para manter o controle sobre os parlamentares (Neustadt, 1955; 1980; Rivers e
Rose, 1985)5.
O prestgio pblico facilita o controle do presidente sobre a agenda governamental e amplia
sua capacidade de negociar e tomar decises (Edwards, 1980). Isso visto, sobretudo, no
tocante ao comportamento dos congressistas sobre questes consideradas como chave pelo
mandatrio (Rivers e Rose, 1985).
J quando a popularidade est em baixa necessrio um maior nmero de negociaes.
Presidentes com baixa popularidade apresentam mais chances de assistirem as suas medidas
sendo barradas pelo Congresso. Por isso, possvel dizer que a estratgia de ao do
presidente com o Congresso varia conforme o grau de popularidade (Pereira, Power e Renn,
2005) sendo a disciplina partidria no Congresso Nacional influenciada pela avaliao do
presidente (Santos, 1997).
O apoio dedicado, por parte dos parlamentares, presidentes populares maior devido ao
medo da retaliao da opinio pblica e o temor do fortalecimento de outras lideranas. Os
congressistas que contam com o apoio do presidente tm mais possibilidade de permanecer no
poder (Erikson, 1971). Eles podem utilizar o governo federal para favorecer seus apoiadores,
ampliar sua visibilidade na mdia ocupando postos chave, beneficiar os financiadores da
campanha e criar blindagem contra denncias. Vale lembrar que entre as metas do presidente
est o enfraquecimento dos seus adversrios.
5 Vale ressaltar que Neustadt (1980) diferencia prestgio pblico de popularidade. Para ele, prestgio pblico envolve a capacidade de dar suporte as decises do presidente mesmo sem aprovar a sua administrao. Assim, o prestgio pblico do presidente no perfeitamente captado pelas pesquisas de opinio.
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Por isso, quanto maior a popularidade maior a capacidade de controlar opositores e de
barganhar com o congresso. Com a popularidade em alta cai a resistncia do Congresso a
projetos do governo (Rivers e Rose, 1985). Isto possibilita que o governo amplie o seu
controle sobre a agenda pblica tornando possvel a execuo de medidas sensveis como, por
exemplo, a reduo de gastos pblicos. No perodo eleitoral, congressistas da base do governo
so ajudados pela popularidade do presidente (Tufte, 1975).
Vale destacar que o prestgio do presidente, tambm, afeta o resulta das polticas pblicas. Na
maioria das vezes, presidentes populares transferem parte do apoio que possuem para outros
membros do governo como, por exemplo, ministros e assessores. A partir da, as barreiras
para as aes diminuem e eles passam a agir com mais facilidade sem que seja necessrio
justificar cada medida.
Por sua vez, quando o suporte pblico baixo, isto , a avaliao negativa o nmero de
opositores com capacidade de articular vetos se torna bem mais expressivo. Nesse cenrio, as
pesquisas de opinio cumprem o papel de permitir as lideranas identificarem como a
populao est reagindo as aes do presidente e qual o momento certo de fazer oposio
(Brody, 1991).
As flutuaes da opinio pblica incitam um rearranjo das foras polticas sendo o apoio do
Congresso ao Presidente claramente condicionado pelo suporte pblico (Rivers e Rose, 1985),
sendo perceptvel por meio do comportamento das lideranas ou atravs da resposta sobre
vetos (Rohde e Simon, 1983). J o Presidente com alta popularidade obtm a capacidade de
lanar a populao contra o Congresso quando bem entender. Em resumo, a oposio ser
frgil quando o governo for popular e se fortalecer quando ele perder parte do suporte
pblico.
Com influncia sobre as lideranas, Presidentes populares tm maior capacidade de tomar
medidas impopulares. No entanto, dificilmente o fazem, pois mudanas bruscas ameaam a
prpria popularidade do governo. Dessa forma, o crescimento da popularidade impulsiona a
adoo de polticas incrementais ou at mesmo conservadoras. Quanto mais popular maior a
possibilidade do governo se tornar conservador, isto , no realizar grandes reformas. Por
outro lado, quando a popularidade est se deteriorando o governo lana vrios pacotes com
medidas visando reverter a derrocada.
Regina Helena Alves da Silva
vc entende assim o governo Lula e o da Dilma?
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O apoio popular importante para garantir a estabilidade do governo e facilitar a tomada de
decises. A populao insatisfeita promove atos de represlia ao governo que deterioram
ainda mais o suporte pblico e dificultam o controle sobre a agenda pblica. Tais atos podem
ser de simples manifestaes, greves chegando, em alguns casos extremos, a rebelies.
Popularidade e estabilidade poltica caminha pari passu, quanto mais baixo o apoio pblico, mais contundentes sero as repostas populares. Isto se torna pernicioso quando grupos
utilizam a insatisfao popular para inflamar movimentos com objetivos no democrticos.
Por ltimo, o suporte pblico impacta diretamente a campanha presidencial. Os atores,
coalizes e as questes em jogo tero como base a percepo dos eleitores acerca do
desempenho do governo. Com a popularidade do governo em baixa, muitos legisladores so
pressionados a criticar a atuao do Presidente para manter o prestgio. Isto dificulta futuras
alianas com representantes do governo. O peso da avaliao torna a campanha muito mais
ponto de chegada do que partida de questes polticas. Isso porque a alta popularidade
transmite a ideia de que tudo est indo bem, sendo assim no h motivo para votar contra o
governo (Abramson et al. 1987 e Fiorina, 1981). Nesse cenrio, durante as eleies, governo e aliados so beneficiados pelas avaliaes prvias sobre o desempenho do presidente (Brody e
Sigelman, 1983).
A insatisfao com o governo representada pela taxa de aprovao. O governo para se
manter no poder tem que driblar a insatisfao. A satisfao entendida como a capacidade
do governo atender as preferncias da populao. Tais preferncias seriam frutos da
racionalidade individual. Mas ser que os eleitores conseguem definir exatamente quais so as
metas que desejam que o governo persiga? Essas preferncias no se alteram ao longo do
mandato do governante?
1.1. Hiptese recompensa-punio
Os efeitos da economia sobre o voto e a popularidade so analisados a partir da ideia de que
governos so responsabilizados por resultados econmicos (hiptese responsabilidade).
Assim, quando a economia vai bem o governo aprovado, por outro lado, quando os
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resultados no so os desejados o governante passa a ser punido. A hiptese responsabilidade
deriva do modelo downsiano que presume a competncia dos eleitores em associar causas e
consequncias das aes dos governos.
Mais tarde, Key (1966) identificou que governos so responsabilizados por resultados
econmicos e que a partir disso so recompensados ou punidos (hiptese recompensa-
punio). Key (1966) entendia que os eleitores poderiam ser divididos em trs categorias: (1)
standpatters formado por aqueles com forte identificao partidria, eles seriam eleitores cativos de um candidato ou partido; (2) switchers eleitores que variam o posicionamento de eleio para eleio mantendo comportamento mais adepto mudanas; e, por ltimo, os (3)
new voters nefitos com baixo conhecimento para nutrir avaliaes com base no passado e sem experincia sobre as estratgias eleitorais6.
Esses trs tipos apresentam comportamento distinto no momento da deciso do voto. Os
standpatters, geralmente, independente do que ocorra continuaro fiis a determinado grupo poltico. Os new voters, se dividem em eleitores cujo voto definido a partir da campanha poltica e eleitores com baixo interesse pela disputa eleitoral. Por outro lado, os switchers elaboram julgamentos sobre o desempenho do governo para orientar suas decises eleitorais.
Assim, possvel dizer (...) that some voters are governed by blind party loyalty and that
some others respond automatically to the winds of the environment of the moment (Key,
1966, pg. 59).
Os eleitores que reagem a intempries econmicas costumam no se orientar por promessas
de campanha. Na compreenso de Key, switchers voters, em sua maioria, so sujeitos que utilizam o voto para premiar ou punir o governante. Por meio dessa ao, eles fazem com que
os custos polticos de resultados econmicos negativos recaiam diretamente sobre o
mandatrio e seus partidrios. Por sua vez, os governantes se antecipam criando medidas
artificiais para impedir esses efeitos indesejados.
No entanto, para a recompensa-punio ser efetivada preciso identificar o mandatrio como
responsvel pelos resultados macroeconmicos e atores que possam receber os votos de
6 Vale lembrar que os new voters no so formados apenas por jovens. Eles also include at all age levels many in-and-out voters, whose psychological characteristics may make them of special interest, if not invariably of special importance, in the behavior of the electorate. Some of the in-and-out voters were prevented from voting four years earlier by causes beyond their control. They had no legal residence; they were out of the country; they were ill; or for some other reason they could not make their way to the polls (Key, pg. 22, 1966).
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oposio ao governo (Powell e Whitten, 1992; Anderson, 1995). Esses dois aspectos so o
ponto nevrlgico da hiptese recompensa-punio. Isto porque ela peca na compreenso sobre
como a percepo dos fatos econmicos construda apresentando o processo de atribuio
de responsabilidade como automtico e uniforme.
A suposta automaticidade do processo de recompensa-punio foi vista com ressalvas por
Fiorina (1981). Para ele, o julgamento do eleitor no se trata apenas de imputar
responsabilidade ao mandatrio, antes disso h uma estimativa sobre como estaria o cenrio
caso a administrao estivesse no poder. Por esse motivo, no momento da eleio, as
experincias pessoais do suporte projees.
Alm disso, para que todos resultados econmicos negativos resultassem em sanes ao
governante seria necessrio cidados com a mesma motivao e a ausncia de eleitores
motivados exclusivamente por interesses polticos. Assim, para Fiorina (1978; 1981), o eleitor
no deve ser visto como rbitro implacvel. Principalmente, porque para se manter informado
h um custo elevado, cujo qual boa parte dos eleitores no deseja arcar (Downs, 1999).
Vale lembrar, que a prpria anlise retrospectiva desenvolvida pelos eleitores para diminuir
o custo de se manter informado. Ao utilizar esse tipo de anlise os cidados possibilitam que
o passado direcione sua percepo sobre o presente. Com isso, os que nutrem desconfiana ao
governo tendem a relativizar os aspectos positivos da administrao.
Nesse caso, observando apenas os opositores notrio que independente do que acontea eles
sempre sero mais crticos ao mandatrio e isso persistir, at mesmo, quando a administrao
os beneficie. Dessa forma, there is a tendency for the pro government voters to view the
economy in a more rosy light than opposition voters (Nannestad e Paldam, pg. 232, 1994).
Para reduzir o custo informacional, os eleitores alm do passado utilizam atalhos
informacionais e suas experincias individuais articuladas com sua rede de relaes pessoais 7.
Nisso as questes econmicas ganham relevncia especfica para cada grupo de eleitor. Isto ,
s dar importncia ao desemprego aqueles que por algum motivo o teme. Portanto, h
assimetria quanto ao impacto percebido de cada variao na economia.
7 Conforme o captulo 3, para a avaliao do desempenho do governante o comportamento do eleitor diverge entre avaliaes do tipo memory-based e impression-driven.
25
Vale destacar ainda que, em alguns casos, os resultados econmicos no resultaro em
punio ou recompensa. Eles no tero qualquer efeito poltico direto. Isso porque, por
exemplo, os indivduos no necessariamente iro responsabilizar o governante pelos seus
infortnios financeiros (Feldman, 1982). Problemas pessoais nem sempre sero vistos como
da alada do presidente. Caso o governante no seja percebido como responsvel pelo mau
desempenho da economia, ele no ser punido.
Alm disso, a assimetria persiste, tambm, quanto a forma da punio e recompensa. Em
outras palavras, governos so severamente punidos por crises econmicas, porm, no so
bem recompensados em perodos de prosperidade (Bloom e Price, 1975). No entanto, para o
governante perceptvel a ameaa constante de ser punido pelos eleitores at mesmo por
questes distantes da sua obrigao.
Dessa forma, como o objetivo do governante permanecer no poder, a performance
macroeconmica passa a ser vista como prioritria pelo mandatrio. Assim, o governante age
de forma premeditada com o intuito de satisfazer a opinio pblica. Nas prximas sees,
iremos ver como a poltica macroeconmica , em alguns casos, direcionada para ampliar o
suporte pblico do presidente.
1.2. Ciclo econmico-eleitoral
Os estudos do voto econmico assumem que as variveis macroeconmicas apresentam
efeitos diretos sobre a popularidade do presidente. No geral, eles indicam que o suporte
pblico varia conforme a performance econmica do governo que, por sua vez, medida
sobretudo pelo comportamento da inflao e do desemprego. A insatisfao dos eleitores com
relao economia diminuiria o prestgio do presidente dificultando a permanncia no poder
do grupo que ele representa.
Nesse cenrio, passa a ser estratgico para o governo ter o controle das variveis econmicas
que incidem diretamente na percepo dos eleitores sobre a sua administrao. A ideia que
if economic variables can influence political popularity, so also can government actions have a
26
major impact upon the future development of the economy (Goodhart e Bhansali, pg. 46, 1970).
Tais aes tm como objetivo criar artificialmente a imagem de competncia administrativa.
Com essa meta, prximo as eleies o governo passa a emitir estmulos para reduzir o
desemprego, controlar a inflao e aumentar a renda da populao (Nordhaus, 1975, Grier,
1989; Rogoff, 1990)8.
Para efetivar essas aes, os governantes buscam a todo custo ampliar sua capacidade de
direcionar a economia. Por sua vez, ao passo que aumenta o controle do governo sobre a
economia se eleva a interao entre a economia e o sistema poltico (Frey e Schneider,
1978a). Em outras palavras, as polticas macroeconmicas passam a representar interesses
exclusivamente eleitorais.
Diante disso, possvel dizer que, muitas vezes, a poltica econmica manipulada com o
objetivo claro de produzir recompensas eleitorais sendo ajustada conforme as oscilaes na
popularidade do presidente. Assim, se h temor de declnio do suporte pblico medidas
populares so rapidamente lanadas9. Por outro lado, quando a opinio pblica dedica grande
apoio ao presidente, medidas austeras como corte dos gastos pblicos se tornam mais
frequentes. Presidentes populares tomam medidas impopulares com mais facilidade, eles
podem elevar os juros, reduzir investimentos, congelar salrios de servidores sem temer
grandes represlias.
Com base nisso, possvel identificar clara relao entre a popularidade do governo e a
poltica econmica que ele desenvolve. Apesar da popularidade do presidente ser
consequncia da performance econmica, ela tem a capacidade de induzir a forma como a
poltica econmica ser conduzida pelo governo. Assim, ocorre uma via de mo dupla onde a
economia afeta e afetada pela poltica.
Em outras palavras, a poltica econmica no inerte aos indicadores de popularidade. Ela
alinhada para proporcionar a ampliao do suporte pblico e, consequentemente, votos para o
governo e seus aliados. Com a ausncia de mecanismos para controlar a ao do governo,
passa a ser mais constante a presena de interesses polticos de curto prazo direcionando a
poltica macroeconmica. Esses interesses se tornam mais frequentes e ganham mais impulso 8 Ciclos econmicos atrelados poltica foram apresentados originalmente por Schumpeter (1939) e Kalecki (1943). 9 No Brasil, o presidente pode utilizar os investimentos de empresas estatais para construir alianas polticas regionais e para ampliar a sua popularidade.
27
com a proximidade de perodos eleitorais (Williams, 1990). Isso faz com que ciclos polticos
acabem tendo a capacidade de proporcionar ciclos econmicos (Kramer, 1971; Nordhaus,
1975; Alesina, 1989).
O surgimento de ciclos econmicos-eleitorais se caracteriza pela adoo irrestrita de medidas
populares, geralmente, implantadas na vspera das eleies e que passam a ser menos
frequentes logo aps o resultado eleitoral. A agenda governamental, basicamente, se limita a
responder os anseios da opinio pblica, principalmente, em questes que afetem diretamente
o bem-estar. Por bem-estar se entende manter o poder de compra controlando a inflao e o
desemprego. Dessa forma, o aumento da renda passa a ser o objetivo central do governo. Com
isso, the key economic element in the electoral-economic cycle is real disposable income
(Tufte, 1978, pg. 29).
Dessa forma, a proximidade do perodo eleitoral faz com que o governo, por exemplo, amplie
os gastos pblicos, sobretudo, para acelerar o andamento de obras inconclusas, corte ou evite
aumentar taxas e tarifas, estabelea medidas de incentivo ao consumo, quando o objetivo for
reduzir a taxa de desemprego, desestimule compradores com a reduo de crdito visando
conter a inflao ou aumente salrios e benefcios para ampliar a renda da populao. Assim,
no perodo eleitoral, perceptvel, sobretudo, nos pases em desenvolvimento a ampliao dos
dficits oramentrios e sensvel diminuio na arrecadao por meio de tributos (Nakaguma
e Bender, 2010).
Nesse sentido, geralmente, quando h o estabelecimento de ciclos econmicos-eleitorais eles
acabam sendo detectados pela oscilao da taxa de desemprego e pelo controle da flutuao
do preo dos produtos, sobretudo, aqueles que compem a cesta bsica (Alt e Chrystal, 1983;
Alt, 1985).
No Brasil, especificamente, essas aes podem ser percebidas pelo sensvel aumento das
despesas pblicas em anos eleitorais substitudo por declnio momentneo no ano seguinte
(Bittencourt e Hillbrecht, 2003; Nakaguma e Bender, 2006; Sakurai 2009). O Grfico 1
apresenta o comportamento das despesas e dos gastos pblicos relativos ao PIB nominal.
possvel perceber que nos perodos marcados por disputas eleitorais (1998, 2002, 2006 e
2010) as despesas passam a corresponder a uma parcela maior do PIB.
28
Grfico 1 Evoluo das receitas e gastos pblicos (1997-2012)
Fonte: Banco Central do Brasil
O aumento das despesas visa, sobretudo, solucionar demandas apresentadas pelo eleitor
mediano10. Os efeitos polticos dessa estratgia so controversos, pois parte do eleitorado
pode ser avessa governos perdulrios (Peltzman, 1992). Entretanto, h quem diga que apesar
disso os cidados podem premiar o mandatrio caso o aumento dos gastos gere bens pblicos
que supram as carncias desses eleitores (Drazen e Eslava, 2004).
Vale lembrar que apesar do aumento das despesas nem todas as demandas apresentadas pela
populao sero atendidas. Assim, alguns grupos especficos sero mais beneficiados do que
outros. Com isso, em um ranking de prioridades so selecionadas pelo governante aquelas
cuja soluo tenha grande impacto eleitoral e exequibilidade em curto prazo.
A conexo das eleies com a economia altera o comportamento dos parlamentares e do
governo que se ajusta a necessidade de suprir as demandas econmicas da populao. A
agenda partidria perde espao para os interesses eleitorais. Assim, distante de objetivos de
10 No caso das eleies municipais brasileiras, Mendes (2004), Sakurai (2005) e Sakurai e Menezes-Filho (2008) no encontraram forte relao da ampliao dos gastos com a reeleio dos prefeitos.
29
logo prazo a dinmica da economia passa a obedecer os ciclos eleitorais. Os artifcios so
efetivados h uma sensvel melhora no bem-estar da populao, mas, no ano seguinte
eleio, a economia desacelera e progressivamente ter o seu ritmo elevado at o prximo
perodo pr-eleitoral (Grier, 1987).
Os mandatrios que, no perodo eleitoral, alteram o seu estilo de agir acreditam que o perodo
pr-eleitoral seria o mais propcio para implementar o pacote de bondades devido a curta
memria dos eleitores. Assim, as aes executadas no incio do governo no seriam
lembradas se no final do mandato o governante passasse a satisfazer a vontade do eleitor
mediano. A intensidade da utilizao dessas estratgias varia conforme o interesse do governo
pela reeleio (Williams, 1990).
Nesse cenrio, polticas de austeridade sero postergadas quando da proximidade do ciclo
eleitoral. A possibilidade do governo executar medidas negativas como, por exemplo, cortar
investimentos ou aumentar os juros maior nos primeiros meses do mandato do que nos
meses que antecedem a eleio. No entanto, isto no quer dizer que o incumbente ficar inerte
at a vspera das eleies, j que o governo ajustar a poltica macroeconmica a partir dos
indicadores de popularidade (Frey e Schneider, 1978a). Governos no populares e
preocupados com a permanncia no poder so, na vspera das eleies, mais efusivos na
busca pela reduo do desemprego e controle da inflao. Com isso, ciclos econmicos-
eleitorais so mais frequentes no final do mandato de governos impopulares. Eles aparecem
como uma cartada final para evitar possvel derrota nas urnas. Por outro lado, quando a vitria
certa o governo pode agir com base apenas em sua ideologia (Frey e Schneider, 1978b).
Dessa forma, para obter o apoio dos eleitores, as medidas de longo prazo so colocadas de
lado em detrimento de medidas paliativas que possibilitam a falsa sensao de que tudo est
indo bem. Com a inflao sobre controle e o desemprego em queda, o otimismo dos eleitores
sobre o futuro da economia se eleva.
Porm, vale lembrar que o controle do presidente sobre a economia varia conforme o tempo e
o pas. Isso porque, em alguns pases, parte das decises so compartilhadas com outros
poderes ou tomadas por agncias independentes, como, por exemplo, os bancos centrais. Nos
locais onde a autonomia no respeitada, os presidentes utilizam o seu prestgio e influncia
poltica para forar os bancos centrais a seguirem metas condicionadas pela opinio pblica
(Grier, 1987). Por esse motivo, o controle da inflao e o processo eleitoral so geralmente
30
opostos, j que os eleitores temem a inflao, mas discordam sobre a necessidade dos
remdios aplicados, pelos diretores do BC, para cont-la (Alesina e Grilli, 1991)11.
Como j dito, para orientar a economia a partir de interesses eleitorais preciso que medidas
de longo prazo cedam espao para solues de curto prazo, cujo impacto opinio pblica
seja mais visvel. Toda essa movimentao difcil de identificar, pois elas acontecem por
antecipao. Isto , antevendo que determinado evento tem potencial para lhe prejudicar o
governante se antecipa aplicando o remdio cabvel. Apesar da prtica no ser to facilmente
percebida a frequente utilizao de ciclos econmicos acaba deixando os eleitores ressabiados
com essa estratgia o que diminui seus efeitos polticos.
Assim, a eficincia da manipulao econmica est ligada, sobretudo, a dois pontos bsicos:
assimetria de informaes existente entre o governo e a populao que limita a compreenso
sobre o vis poltico das aes depreendidas (Rogoff, 1990); e a necessidade de que, no
julgamento sobre a atuao do presidente, os indivduos considerem apenas os ltimos
acontecimentos. Por outro lado, vale destacar que, geralmente, os governantes acabam
projetando suas crenas para os eleitores. Isso faz com que eles tomem medidas impopulares
acreditando que elas so desejadas pela populao. Alm disso, h ainda diferenas claras
entre os partidos polticos na forma de conduzir a poltica econmica o que gera expectativas
diferentes entre os eleitores. Esse tema ser abordado na prxima seo.
1.3. Tese da questo prioritria
Enquanto o ciclo econmico-eleitoral a manipulao meramente oportunista da economia, a
questo prioritria apregoa que a agenda econmica do governo ser direcionada pelos
princpios do partido poltico que ele pertence. Alm disso, indica que cada governante ser
julgado de forma dspar pelos eleitores. Essa diferena se deve as expectativas criadas pelo
partido que o mandatrio representa.
11 A populao discorda, principalmente, quando para combater a inflao so lanadas medidas que gerem desemprego.
31
Com base na tese da questo prioritria, as aes desenvolvidas pelos governos seriam
meramente reflexos do programa partidrio. Cada partido apresentaria ideias centrais que
conduziriam a formatao da agenda governamental. Assim, questes prioritrias para uns
partidos no teriam a mesma relevncia para outros. No caso das polticas macroeconmicas,
isso acabaria produzindo ciclos no mais presos a questes eleitorais e sim a ideologia
partidria ciclos macroeconmicos partidrios (Hibbs, 1977; 1987).
Em um cenrio hipottico, onde os partidos so concorrentes e motivados apenas por
princpios ideolgicos cada mudana de governo provocaria a criao de um novo ciclo
econmico. Isso porque a diferena de incentivos e objetivos entre os partidos provoca vises
divergentes sobre a macroeconomia (Alesina, 1987).
Com isso, em cada perodo eleitoral, as disputas entre os partidos criariam incertezas sobre o
futuro da poltica macroeconmica (Alesina e Rosenthal, 1995). Isso afeta o comportamento
de investidores externos, dos empresrios nacionais e da populao. Em alguns cenrios, a
incerteza cria prejuzos econmicos seguidos por instabilidade poltica.
O Risco Lula um dos episdios mais marcantes da poltica brasileira sobre os efeitos que
a disputa eleitoral pode gerar sobre a economia. Em 2002, os investidores, ao vislumbrarem as
reais chances de vitria do ento candidato Lula, passaram a fugir da insegurana que,
naquele momento, esse cenrio representava. Como resultado, nas vsperas da eleio o risco
pas12 atingiu o maior nvel j registrado (2.446 pontos em setembro de 2002). A insegurana
do mercado com relao poltica econmica fez com que, no dia 10 de outubro de 2002, o
dlar chegasse a cotao recorde de R$ 4,00.
O ocorrido, nas eleies presidenciais de 2002, deixa claro que as expectativas so de grande
relevncia para a definio do cenrio econmico. Isso ocorre devido a crena entre os
indivduos de que grupos polticos opostos divergem radicalmente no entendimento de como
a economia deve ser conduzida.
Com base nisso, aps o resultado eleitoral, os eleitores criam expectativas racionais sobre
como ser a administrao do prximo governo. Essas expectativas se alimentam das
informaes que so repassadas pela mdia e seus especialistas que conjecturam sobre o
12 O Risco Pas um conjunto de indicadores utilizados para classificar o grau de instabilidade econmica de um pas indicando qual a segurana dos investimentos ali realizados.
32
futuro da economia do pas ou variam conforme os atalhos informacionais utilizados pelo
pblico13.
Entre esses atalhos informacionais, o partido poltico do presidente est entre os mais
relevantes por facilitar a associao de governos anteriores com o atual. Assim, a experincia
que os indivduos adquirem com governos passados serve como base para compreender o
atual governo.
Dessa forma, a partir do conhecimento sobre o partido vencedor da disputa eleitoral, os
eleitores traam prognstico sobre o pas, qual o rumo o presidente dar a economia e as
questes sociais. Por sua vez, essas expectativas sero responsveis por definir o parmetro de
julgamento do desempenho presidencial. Com isso, elas podem facilitar ou tornar mais difcil
o trabalho do governante, pois se a expectativa sobre determinado tpico for elevada e o
presidente no satisfaz-la, ele ser punido.
Devido a isso, as expectativas dos eleitores criadas em torno do partido do presidente fazem
com que os governos sejam cobrados de forma dspar. Por exemplo, governos vinculados aos
partidos defensores de bandeiras da esquerda so mais exigidos sob os aspectos das questes
sociais, enquanto, partidos mais direita tem avaliao mais rgida no tocante economia.
Os partidos atravs dos seus representantes tm ainda a funo de informar diretamente para
os cidados sobre o desempenho do presidente. Por esse motivo, eleitores ligados a partidos
de oposio ao presidente alm da desconfiana natural so mais expostos a informaes que
reforam a viso negativa sobre o governo. Assim, possvel dizer que, inicialmente, cada
eleitor julga o governo a partir de expectativas que so corroboradas pelo seu partido de
preferncia.
Por sua vez, os partidos tendem a prestar contas de suas aes a sua base de sustentao,
consequentemente, a agenda partidria ser em parte construda a partir da viso dos
apoiadores. Hibbs (1977) identifica que a poltica macroeconmica desenhada a partir das
demandas dos membros dos partidos. Dessa forma, se a preocupao dos membros do partido
com o desemprego, as aes do governo tenderiam a priorizar medidas para garantir a
manuteno dos postos de trabalho, pois o governante compreende que tal critrio ter grande
peso na sua avaliao. Assim, as metas do governo seriam condicionadas ou respostas aos
13 No Captulo 6, voltaremos a discutir sobre o papel da mdia na construo das expectativas e sua influncia sobre a popularidade presidencial.
33
apelos dos seus constituencies (Hibbs, 1977, 1987). No seria razovel punir um governo com base em um evento quando a trajetria da base partidria demonstra no dar muita ateno ao
respectivo evento.
Assim, o partido passa a exercer papel central no julgamento que os eleitores fazem sobre o
desempenho do presidente. No entanto, na maioria das vezes, o formato das polticas no
depende apenas do partido que est governando. Isto porque as medidas vistas como
prioritrias pelo governo variam conforme a aliana estruturada dentro do Legislativo. Quanto
mais necessria for a aliana com outros partidos mais dispersa ser a agenda governamental,
isto , estar longe de representar os anseios de um nico partido. Assim, tanto o ciclo
econmico-eleitoral quanto a questo prioritria iro depender do governo possuir ou no
maioria dentro do Legislativo (Alt, 1985).
No caso brasileiro, os governos geralmente so formados por uma coalizo de partidos e
esses, por sua vez, agiriam conforme em interesses especficos. Nesse formato, as polticas
defendidas pelo governo passam a representar o conjunto de acordos para manter a
estabilidade da coalizo. Como a coalizo propicia a governabilidade, mant-la estvel uma
necessidade. Com base partidria fraca o governo se envolve em longas negociaes com
opositores ou grupos de interesse. Isto resulta em baixa capacidade de promover polticas para
fomentar a popularidade, j que a oposio poder vetar qualquer ao de cunho eleitoral.
Nesse sentido, a ao do governo visando ampliar o suporte pblico se torna mais fcil com
coalizes estveis e base partidria disciplinada. A disciplina no o forte do Legislativo
brasileiro. De acordo com o CEBRAP, em 2013, a base da presidente Dilma obteve a menor
taxa de fidelidade desde 1989. Naquele perodo, apenas 69,3 dos membros de partidos que
controlavam ministrios foram favorveis orientao do governo. Os partidos com
ministrio representavam mais de 70 das cadeiras da Cmara dos Deputados14. No entanto, o
nmero de parlamentares que corriqueiramente votou favorvel ao governo passou de 306
deputados, em 2011, para apenas 101 deputados em 201315.
14 Em 2013, a distribuio era a seguinte: PT (88 deputados); PMDB (81 deputados); PSD (45 deputados); PP (39 deputados); PR (37 deputados); PDT (26 deputados); PSB (25 deputados); PC do B (13 deputados) e PRB (10 deputados). 15 Fonte: http://estadaodados.com/basometro/
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Alm disso, ingnuo supor que o governo tem suas aes condicionadas pelos apelos dos
constituencies, j que a maioria das escolhas acontece a partir de informaes assimtricas e as elites tm capacidade de manipular os interesses das bases, como, tambm h dbil
vinculao partidria por parte dos eleitores.
Porm, os efeitos da questo prioritria ocorrem indiretamente embalado pelas expectativas
dos eleitores. A fraca vinculao partidria no impede que os eleitores criem uma imagem ou
esteretipos dos partidos polticos. Com base nisso, determinados partidos so vistos como
mais comprometidos com causas ou atores. A interpretao sobre esse grau de
comprometimento direciona a expectativa sobre as decises polticas.
O principal efeito das expectativas racionais criadas pelos eleitores visto, principalmente,
sobre a economia (Alesina e Rosenthal, 1995). As expectativas estabelecidas no incio do
governo interferem no contexto poltico e econmico por provocarem mudanas no
comportamento dos cidados. Na substituio de governo os prognsticos econmicos giram,
sobretudo, em torno do desemprego e da inflao. As aes que os indivduos passam a tomar
a partir dessas expectativas apresentam efeitos diretos na conjuntura poltica e econmica. Se
os indivduos passam a acreditar que os prximos anos sero turbulentos, eles iro adotar
medidas para se precaverem como, por exemplo, reduzir o consumo. Por sua vez, tal reduo
no consumo desaquece o mercado interno. Essa discusso sobre a implicao das expectativas
no ambiente poltico ser retomada no captulo 4.
Regina Helena Alves da Silva
Regina Helena Alves da Silva
essa questo parece que ficou oscilando nas ultimas eleies entre a questo do emprego e desempregoprimeiro parecia que os eleitores da oposio no estava nem ai pra isso, depois a candidatura da oposiopassa a falar que o emprego diminuiu e coisas assim
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Captulo 2 A parte P e a Parte E: quais as questes que importam?
Os modelos de avaliao econmica da popularidade consideram que o suporte pblico ao
presidente varia conforme a performance econmica do governo. Nesse sentido, a aprovao
resulta, quase sempre, da soma de efeitos polticos e econmicos, mas mantendo clara a
predominncia da economia e, sobretudo, das variveis conhecidas como big two: inflao e desemprego16. Em resumo, o modelo macroeconmico prega que os eleitores classificam as
polticas em ordem de relevncia, julgam o desempenho do governo a partir de um padro
pr-estabelecido e o punem ou premiam considerando tal padro como meta a ser atingida. A
avaliao , portanto a simples diferena entre as expectativas dos eleitores e os resultados
econmicos obtidos pelo governo.
Nesse sentido, o modelo se sustenta na ideia de que os governantes so premiados ou punidos
a partir da capacidade em produzir resultados econmicos satisfatrios (Key, 1966; Fiorina,
1981; Lewis-Beck, 1991). Por sua vez, os eleitores teriam a capacidade de identificar
perfeitamente a exata responsabilidade do governo sobre as condicionantes econmicas.
Assim, as aes dos cidados, como, por exemplo, o apoio ao mandatrio e o voto seriam
apenas meros reflexos de estmulos econmicos. A ideia de que economics moves political
behavior (Mackuen et al., pg. 597, 1992).
Em outras palavras, se a economia vai bem, o governo tende a ser avaliado positivamente e
mantido, com o voto dos eleitores; se a economia vai mal, o eleitor avalia o governo
negativamente e vota contra ele (Carreiro, 1999, pg. 214). Nesse sentido, esforos em
outras reas no seriam recompensados, pois o julgamento sobre governos e o resultado das
eleies dependeriam quase que exclusivamente dos fatores econmicos (Alesina, 1989;
Berry e Howell, 2007).
Kramer (1971) foi pioneiro na identificao emprica da relao da conjuntura econmica
com o voto. Ele observou que havia certa influncia da economia sobre o resultado da eleio
16 A justificativa para o predomnio dessas variveis se deve ao fato delas serem presentes no cotidiano dos eleitores e exigirem baixo conhecimento para serem interpretadas.
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para o congresso americano. Enquanto o crescimento econmico beneficiaria os partidrios
do governo, o declnio da economia fortaleceria os congressistas da oposio.
Dessa forma, se a economia vai bem, principalmente, se a inflao est sob controle e o
desemprego em baixa, o governo ser bem avaliado. Caso contrrio, quando a economia vai
mal o governo sofre punio, o seu suporte pblico se esvai. Assim, a economia tem o
potencial de predizer e condicionar a popularidade presidencial (Lewis-Beck e Stegmaier,
2000). Com base nisso, governantes emanam esforos para estruturar a poltica econmica
visando agradar a opinio pblica.
No entanto, a leitura da opinio pblica sobre como o governo afeta a economia no
uniforme. Enquanto parte dos eleitores orientam seu julgamento pelo passado (avaliao
retrospectiva) outros do maior peso ao porvir (avaliao prospectiva). Com isso, os
resultados econmicos do presente podem ser ruins, mas sem efeitos diretos a avaliao
presidencial.
Alm disso, os modelos econmicos buscam demonstrar se a leitura dos eleitores sobre a
atuao presidencial est atrelada aos resultados econmicos nacionais (avaliao do tipo
sociotrpica) ou se ela condicionada pelos efeitos da economia na vida dos indivduos, isto
, avaliao com base no bolso (pocketbook). Dessa forma, a popularidade tanto pode ser afetada por mudanas no bem-estar pessoal como, por exemplo, o desemprego (Kinder e
Kiewiet, 1979) quanto pode ser resultante de questes meramente nacionais sem relao
direta com o indivduo (Kiewiet, 1983).
Porm, o efeito da economia est sujeita imagem ideolgica do governo, sua base eleitoral e
a clareza acerca de suas responsabilidades polticas (Powell e Whitten, 1993). a
identificao, por parte dos eleitores, das responsabilidades do governo que ir motivar a
avaliao sobre o desempenho do mandatrio que, por sua vez, depender da percepo
individual atrelada s experincias subjetivas. Com base nisso que so construdos os
critrios de recompensa ou punio.
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2.1. Funo Voto-Popularidade
A funo voto-popularidade (VP) se apoia na hiptese recompensa-punio e, com isso,
sustenta que resultados econmicos aliados a eventos polticos interferem diretamente na
popularidade presidencial. A teoria da funo VP (Voto popularidade) se estrutura a partir
da noo de que mudanas na economia alteram o suporte pblico sobre o governo (Paldam,
1991). Nesse modelo, a popularidade considerada como varivel dependente j os fatores
econmicos (E) e polticos (P) formariam o conjunto de variveis independentes. A partir
disso, um conjunto de variveis macroeconmicas aliadas a eventos polticos utilizada para
explicar a aprovao do presidente.
Nessa perspectiva, Mueller (1970) e Goodhart e Bhansali (1970) apresentaram aquilo que
seria a primeira funo popularidade. O objetivo era identificar os elementos que criam
instabilidade na aprovao do presidente fazendo ela oscilar para baixo ou para cima,
culminando na tentativa de compreender o voto. Para tanto, identificavam que a popularidade
seria resposta aos resultados econmicos e, por sua vez, influenciaria as decises econmicas
do governo. Nesse exerccio, as variveis consideradas foram, principalmente, o desemprego,
inflao e o tempo de mandato (Goodhart e Bhansali, 1970).
Na mesma linha, considerando que o voto resultado da deciso de eleitores racionais, o
trabalho de Kramer (1971) foi pioneiro na construo de modelo para identificar a relao do
comportamento eleitoral com a economia. Para ele, as variaes na economia influenciariam
o resultado das eleies. O efeito poltico da economia ocorreria, principalmente, a partir de
alteraes na renda da populao tendo baixa relao com a taxa de desemprego e inflao
(Kramer, 1971).
Assim, nem sempre as funes voto-popularidade identificam a interferncia das big two: desemprego e inflao sobre a popularidade presidencial. Alm disso, h ausncia de
consenso sobre como essas variveis devem ser medidas17. Dessa forma, por exemplo, h
quem defenda que o desemprego (Hibbs, 1973) e a inflao no afetam a popularidade
(Newman, 2002 e Geys; Vermeir, 2008), enquanto outros assegurem que o desemprego
(Mueller, 1970; Norpoth, 1987), a inflao (Frey, 1979) e gastos militares so fundamentais
variao do suporte pblico (Monroe, 1978) e, indo alm, o impacto da inflao seria maior
17 No caso da inflao, por exemplo, h quem prefira utilizar a expectativa dos consumidores em vez de indicadores (Smyth et al. 1994).
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do que o percebido por meio do desemprego (Shienbaum e Shienbaum, 1982). Enquanto,
Conover et al. (1986) identificam que a reao variao na taxa de desemprego mais rpida do que a reao quando a mudana acontece na inflao.
Por outro lado, h ainda quem prefira utilizar o crescimento econmico como varivel
independente (Nannestad e Paldam, 1994) ou a distribuio da renda para explicar o apoio ao
governo (Kramer, 1971). Assim, em alguns casos, o crescimento econmico substitui o
desemprego como varivel explicativa da popularidade presidencial. Por outro lado, preciso
lembrar da relao inversa existente entre o desemprego e as variaes no crescimento
econmico (PIB) preconizada pela Lei de Okun. Alm disso, Eichenberg e Stoll (2004)
analisando a performance econmica do governo Bush, entre 2001 e 2004, no identificaram
qualquer impacto significativo entre crescimento da distribuio de renda sobre a avaliao do
governo e, por sua vez, Lewis-Beck e Mitchell (1990) no encontram forte relao do
crescimento econmico com o voto. Nesse grande leque de variveis existem at mesmo
aqueles que diagnosticam a popularidade atrelada ao mercado de aes (Wisniewski et al., 2009 e Fauvelle-Aymar; Stegmeier, 2013).
Assim, existiria consenso de que a economia afeta o suporte pblico, mas ele acompanhado
da impossibilidade de apresentar a real dimenso das variveis econmicas, ou seja, o peso
que cada uma possui na explicao da popularidade (Lewis-Beck e Paldam, 2000). Por sua
vez, as variveis polticas so qualitativas observadas em algum perodo do mandato, como,
por exemplo, crises externas (guerras, impasses diplomtico e ameaas) (Norpoth, 1987),
ciclos eleitorais (eleio municipal), grandes eventos (Copa do Mundo e Olimpadas),
paralisia do governo e escndalos. Em parte, esses itens so avaliados a partir da relevncia
dada pela mdia. Assim, com todo esse conjunto de questes econmicas e polticas, a funo
VP pode ser descrita da seguinte forma:
VP = f (E, P)
Os dados que compem as funes voto-popularidade so organizados em sries histricas
com intervalos mensais (Lewis-Beck, 1980), trimestrais (Hibbs e Vasilatos, 1981) ou anuais
(Lecailon, 1980). Em alguns casos, a anlise sobre apenas um governo especfico enquanto
Regina Helena Alves da Silva
Regina Helena Alves da Silva
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outros apresentam maior cobertura incluindo diferentes pases e perodos (Lewis-Beck, 1990).
Os dados, tambm, podem ser desagregados para possibilitar compreender as especificidades
existente dentro do pas.
Porm, apesar do rigor metodolgico, a primeira srie de funes VP falhava ao no permitir
generalizaes, isto , as funes estavam estritamente presas no tempo e espao que haviam
sido formuladas. Uma das dificuldades da generalizao dos resultados provm da diferena
cultural existente entre os pases (hiptese cultural). Isso faz com que, por exemplo, haja
sobrevalizao do peso dos eleitores egotrpicos nas anlises americanas tornando-as, muitas
vezes, sem validade para explicar o cenrio de outras naes.
Por sua vez, Hibbs (1979) identificou que um dos fatores que proporcionava as restries era
a diferena no impacto das variveis econmicas entre os indivduos. Ele percebeu que quanto
maior a averso ao desemprego e inflao mais significativos seriam os efeitos polticos
dessas variveis. Conforme Hibbs: voters' reactions to economic conditions and to other
salient social and political issues are likely to vary significantly, however, because of
differences in the objective, concrete interests at stake, and perhaps also because partisan
attachments influence voters' perceptions and interpretations of politically relevant
information (Hibbs, pg. 144, 1989). Como a possibilidade de desemprego varia entre as
classes sociais, a relevncia dessa questo acaba no sendo a mesma entre a populao
(Hibbs, 1977). Trabalhadores mais pobres se tornam mais atentos a sinais que possam sugerir
a possibilidade da reduo de postos de trabalho.
Compreender a falta de homogeneidade do impacto das variveis econmicas sobre os
eleitores importante porque, em alguns casos, o governo ter que optar pela reduo do
desemprego ou pelo controle da inflao. Isto porque como indica a curva de Philipps, h
uma relao inversamente proporcional entre desemprego e inflao que faz com que a
reduo da primeira impacte negativamente sobre a segunda. Assim, muitas vezes, para
controlar a inflao o governo deixa de patrocinar medidas que poderiam ampliar os postos de
trabalho, como, por exemplo, a ampliao do crdito.
Com todas essas arestas ingnuo supor que as funes voto-popularidade sejam robustas se
no se aterem aos micro-fundamentos que impactam diretamente na popularidade
presidencial. preciso ento que se compreenda as diferenas existentes entre as classes
sociais e regies de um mesmo pas, como, tambm os processos envolvidos na construo da
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percepo sobre o governo como, por exemplo, a aquisio de informaes. Por sua vez, ser
a diferena existente entre os grupos que ir fortalecer a criao de ciclos partidrios e ciclos
eleitorais (Hibbs, 1987; Nordhaus, 1975).
2.2. O efeito limitado da economia sobre a avaliao
Como vimos, h pouco mais de meio sculo pesquisadores tentam identificar os vnculos
existentes entre a economia e a avaliao do presidente. No entanto, apesar dos avanos nas
tcnicas e no aprimoramento dos indicadores macroeconmicos a avaliao econmica ainda
no confere um modelo que possa representar fidedignamente a popularidade em pocas e
sistemas polticos distintos (Lewis-Beck e Paldam, 2000). Por exemplo, apenas os indicadores
econmicos no do base para uma explicao clara dos motivos da popularidade presidencial
variar entre as regies de um mesmo pas. O que se tem percebido que a compreenso sobre
a importncia de determinados indicadores relativa, pois em alguns casos eles apresentam
significncia, enquanto, em outros no demonstram qualquer efeito sobre a popularidade.
A anlise sobre pases distintos demonstra que os efeitos da economia no comportamento
eleitoral frgil (Powell e Whitten, 1993) variando conforme o contexto local (Lewis-Beck,
1988) sendo afetada pelas instituies, conhecimento poltico e por aspectos como afeto e
cognio. Assim, Lewis-Beck (1988) aponta diferenas existentes entre os pases quanto ao
grau de interferncia da economia sobre o suporte ao governo. Por exemplo, os efeitos seriam
fortes na Gr-Bretanha e fracos na Itlia. Paldam (1991) verificou atravs da anlise de 197
eleies em 17 pases pobre interferncia da economia na forma como os eleitores julgavam
os candidatos.
A anlise econmica, em alguns casos, falha quanto sensibilidade, validade e realidade. A
sensibilidade diz respeito capacidade dos indicadores utilizados detectarem com perfeio as mudanas no exato momento que elas ocorrem. Seria necessrio responder com exatido
qual o impacto da variao de variveis como inflao ou taxa de desemprego sobre a
popularidade. Por exemplo, a taxa de desemprego passando de 5% para 8% ter qual impacto
sobre o suporte pblico?
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J a realidade a possibilidade da varivel utilizada produzir os mesmos resultados quando utilizada repetidamente para medir a popularidade. Porm, o impacto no tem sido o mesmo
dependendo do governo. Isso tudo deixa dvidas sobre a validade, ou seja, se os indicadores conseguem de fato ter consistncia e constncia sobre o apoio dedicado pela populao ao
presidente. Por isso, estudos aplicados em determinado local apresentam graves restries
quando so replicados em outros pases.
Dessa forma, vrios fatores interferem diretamente na capacidade da economia ampliar ou
reduzir o suporte pblico do mandatrio. Esses fatores se dividem em institucionais (sistema
poltico) e comportamentais (cognio e afeto). Os componentes comportamentais so aqui
definidos como microfundamentos da popularidade presidencial e sero discutidos com mais
profundidade nos captulos seguintes.
Por agora, o importante compreender que a aprovao do mandatrio estritamente
vinculada a percepo dos eleitores sobre as questes polticas e econmicas. Essa percepo,
muitas vezes, est alheia a qualquer estmulo seja do governo, oposio ou da mdia. O seu
principal ponto recai na definio sobre a responsabilidade governamental. a partir do
entendimento sobre quais so as atribuies do presidente que se erigem parmetros para o
julgamento do seu desempenho.
Por sua vez, as instituies operam para estruturar o c