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Escola Secundária de Leal da Câmara Curso ciêntifico   humanistico Línguas e Humanidades Português   12º Ano Docente: Regina Leitão Aluna: Nair Araujo, Nº17, H1 Ano lectivo: 2012/2013 1 Texto d’Os Lusiadas à Mensagem  Camões situa-se no ínicio do fim do império e Pessoa no fim da dissolulção do mesmo (império), sendo que é por essa razão que existem diferenças entre as duas obras destes autores.  Ambos (os autores) são enaltece dores da pátria e poetas de ausência. Camões foi poeta do que foi, enaltecedor do herói épico, colectivo e representativo dos Portugueses ( Os Lusiadas ), predominando o elemento viríl- a viagem; a aventura; o risco, anunciado na Preposição concretizando-se no plano da Viagem, na figura de Vasco da Gama e no plano da História de Portugal, bem como nos reis e heróis construtores do reino e do império, em que tradicionalemnte, a mulher é a que fica esperando imóvel, na felecidade e no sonho do regresso. Já Pessoa, enaltece os heróis míticos, embora representados, maioritáriamente, por figuras históricas, funcionam como símbolos, como mítos que configuram a essência de Portugal. Sendo que o herói mítico na Mensagem  é movido pelo sonho, pela loucura, pela “febre do  Além”, procura ideal do impossível, do infinito, do Longe, da Distância e do  Absoluto. Na obra pessoana, Portugal é um instrumento de Deus, a História pátria obedece a um plano oculto, os heróis cumprem um destino que os ultrapassa. Enquanto nesta obra, a acção converte-se em sonho, em contemplação, na procura de “uma Índia que não há” da “ Distância/ do mar ou outra, mas que seja nossa” são nos poemas “O Monstrengo” e “Mar Português” (da segunda parte da obra) que estão representados os obstáculos às realizações do passado- os perigos, “as lágrimas de Portugal” , mas na fantasia proposta no presente, o grande obstáculo é a ausência do sonho, que tem de ser vencida, para que do “Nevoeiro” presente surga o “dia claro” o fututo. A acção central de Os Lusiadas - a viagem de Vasco da Gama- é o ponto de partida e de chegada à construção do Império, é uma acção de coragem; heroísmo e grandeza, típica da epopeia, em que a viagem empreendida é a do caminho marítimo para a Índia. Mas representa muito mais do que uma viagem geográfica, é a viagem do conforto com os limites de desvendamento dos segredos escondidos, a viagem do conhecimento, e o Velho do Restelo anuncia os perigos e as mortes que os Portugueses enfrentarão e que o Adamastor simbolizará. Como qualquer epopeia, o herói tem de vencer o medo e pagar com a dor a preseguição do seu objetivo. Na obra de Camões, o Império Português é históricamente referenciável, pois foi edificado a partir dos Descobrimentos, é terreno, territorial, material. Bem como, D.Sebastião é o Rei real a quem o poeta se dirige na Dedicatória, em que este dedica o poema ao rei D.Sebastião afirmando desde logo a esperança de que ele prossiga a obra dos antepassados, e no final do Canto X, em que é a D.Sebastião que o poeta apela para prosseguir os efeitos dos heróis do passado. Já na Mensagem , o poeta propõe a construção de um império futuro  o Quinto Império  que é espiritual, cuja edificação cabe a Portugal (o rosto da Europa), e D.Sebastião é o mito, o Desejado, o Encoberto. Sendo o sebastianismo, uma das linhas de sentido mais importantes nesta obra, que

Texto de Portugues Sobre Os Lusiadas e a Mensagem

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Escola Secundária de Leal da Câmara

Curso ciêntifico  – humanistico

Línguas e Humanidades

Português  – 12º Ano

Docente: Regina Leitão Aluna: Nair Araujo, Nº17, H1 

Ano lectivo: 2012/2013 

Texto d’Os Lusiadas à Mensagem  

Camões situa-se no ínicio do fim do império e Pessoa no fim da dissolulção do

mesmo (império), sendo que é por essa razão que existem diferenças entre asduas obras destes autores.

 Ambos (os autores) são enaltecedores da pátria e poetas de ausência. Camõesfoi poeta do que foi, enaltecedor do herói épico, colectivo e representativo dosPortugueses (Os Lusiadas ), predominando o elemento viríl- a viagem; aaventura; o risco, anunciado na Preposição concretizando-se no plano daViagem, na figura de Vasco da Gama e no plano da História de Portugal, bemcomo nos reis e heróis construtores do reino e do império, em quetradicionalemnte, a mulher é a que fica esperando imóvel, na felecidade e nosonho do regresso. Já Pessoa, enaltece os heróis míticos, embora

representados, maioritáriamente, por figuras históricas, funcionam comosímbolos, como mítos que configuram a essência de Portugal. Sendo que oherói mítico na Mensagem  é movido pelo sonho, pela loucura, pela “febre do Além”, procura ideal do impossível, do infinito, do Longe, da Distância e do Absoluto. Na obra pessoana, Portugal é um instrumento de Deus, a Históriapátria obedece a um plano oculto, os heróis cumprem um destino que osultrapassa.

Enquanto nesta obra, a acção converte-se em sonho, em contemplação, naprocura de “uma Índia que não há” da “Distância/ do mar ou outra, mas queseja nossa” são nos poemas “O Monstrengo” e “Mar Português” (da segunda

parte da obra) que estão representados os obstáculos às realizações dopassado- os perigos, “as lágrimas de Portugal”, mas na fantasia proposta nopresente, o grande obstáculo é a ausência do sonho, que tem de ser vencida,para que do “Nevoeiro” presente surga o “dia claro” o fututo. A acção central deOs Lusiadas - a viagem de Vasco da Gama- é o ponto de partida e de chegadaà construção do Império, é uma acção de coragem; heroísmo e grandeza,típica da epopeia, em que a viagem empreendida é a do caminho marítimopara a Índia. Mas representa muito mais do que uma viagem geográfica, é aviagem do conforto com os limites de desvendamento dos segredosescondidos, a viagem do conhecimento, e o Velho do Restelo anuncia osperigos e as mortes que os Portugueses enfrentarão e que o Adamastor 

simbolizará. Como qualquer epopeia, o herói tem de vencer o medo e pagar com a dor a preseguição do seu objetivo.

Na obra de Camões, o Império Português é históricamente referenciável, poisfoi edificado a partir dos Descobrimentos, é terreno, territorial, material. Bemcomo, D.Sebastião é o Rei real a quem o poeta se dirige na Dedicatória, emque este dedica o poema ao rei D.Sebastião afirmando desde logo a esperançade que ele prossiga a obra dos antepassados, e no final do Canto X, em que éa D.Sebastião que o poeta apela para prosseguir os efeitos dos heróis dopassado. Já na Mensagem , o poeta propõe a construção de um império futuro – o Quinto Império  – que é espiritual, cuja edificação cabe a Portugal (o rosto

da Europa), e D.Sebastião é o mito, o Desejado, o Encoberto. Sendo osebastianismo, uma das linhas de sentido mais importantes nesta obra, que

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Português  – 12º Ano

Docente: Regina Leitão Aluna: Nair Araujo, Nº17, H1 

Ano lectivo: 2012/2013 

apresenta um carácter profético, visionário, messiânico*, em que D.Sebastião éo mais importante mito e simbolo da obra pessoana.

Todavia, estes dois autores não se limitam apenas a divergir, também

partilham algumas ideias comuns. Em que Fernado Pessoa tinha Os Lusiadas  nas suas referências culturais como nele desagua os rios subterrâneos dumaideologia e duma mitologia colectiva vinda de Camões e do humanismoquinhentista. Sendo que o desencanto do presente e o apelo ao futuro erampartilhados por estes dois poetas, no final dos cantos d’Os Lusiadas , o poetafaz ouvir a sua voz de crítica aos seus contemporâneos que estão mergulhadosna ambição e na cobiça, sendo eles responsaveis pela “apagada e vil tristeza”em que Portugal se encontra. Por isso, no final do Canto X, desanimado, apelaao rei e dele espera o ressurgimento da luta e da glória. Enquanto Pessoa,investido da sua missão visionária, exprime ao longo da sua obra, uma reflexãopessoal, interiorizada, lírica, sobre a pátria que no presente está mergulhada nanoite, a pátria que é “nevoeiro” e cuja identidade perdida só pode ser recuperada através do sonho ideal do Quinto Império e do exemplo da loucurado Encoberto.

*relativo a Messias.

Ilustração 1- Fernando Pessoa (Mensagem) e Camões (Os Lusiadas)