Texto Sobre Comércio Exterior.2015

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    Commodities já representam 71% das exportações do paísDo Valor Econômico – 21 de junho de 2011As commodities representaram 71% do valor total exportado pelo Brasil no acumulado de janeiro a maio desteano (2011). No mesmo período do ano passado a participação das commodities foi de 67%. As vendas aoexterior desse tipo de produto avançaram em ritmo mais acelerado do que as de manufaturados. Nos primeiroscinco meses do ano, a exportação de commodities cresceu 39,1% em relação a igual período de 2010, enquanto

    os embarques de manufaturados subiram 15,1%.

    O cálculo é da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e não considera somente as commoditiesclassificadas pelo Ministério do Desenvolvimento (Mdic) entre os básicos. Ela leva em consideração também ascommodities classificadas como semimanufaturados e também as que, em razão de incorporarem algumaindustrialização, estão enquadrados nas estatísticas oficiais como manufaturados. Entre as commoditiesindustrializadas estão açúcar refinado, combustíveis, café solúvel, alumínio em barras, entre outros.

    "Isso significa que temos 71% de nossas exportações baseadas em commodities. Ou seja, em produtos cujospreços não controlamos", diz José Augusto de Castro, presidente em exercício da Associação de ComércioExterior do Brasil (AEB). Ele lembra que o avanço dos produtos primários na pauta de exportação brasileira seintensificou desde 2009. Naquele ano, a fatia das commodities nas vendas ao exterior era de 65,6%. No anopassado todo, foi de 69%. O aumento de participação do total das commodities foi influenciado, principalmentepelo avanço dos produtos mais básicos, cujas exportações subiram 45,6% de janeiro a maio de 2011, nacomparação com o mesmo período do ano passado. As commodities beneficiadas e as industrializadas,classificadas pelo Mdic entre os semimanufaturados e manufaturados tiveram, respectivamente, crescimento de30,9% e 20,5% - ainda um ritmo mais acelerado que o dos produtos manufaturados de maior valor agregado,que tiveram aumento de 15,1%.

    Enquanto os produtos primários avançam nos embarques brasileiros, diz Rogério César de Souza, economistado Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), a balança comercial de manufaturados noBrasil vem acumulando déficits cada vez maiores.

    De acordo com levantamento do Iedi, no primeiro trimestre do ano passado a indústria brasileira demanufaturados teve déficit de US$ 7,5 bilhões. O saldo negativo saltou para US$ 10 bilhões nos primeiros trêsmeses de 2011. No acumulado do ano passado, o déficit chegou a US$ 35 bilhões. "Para este ano estimamos queesse valor ultrapasse os US$ 50 bilhões."

    O que explica o avanço das commodities foi basicamente preço, diz Castro. No acumulado de janeiro a maio, ovalor exportado em minério de ferro cresceu 107,3% em relação aos primeiros cinco meses do ano passado. Noperíodo, o volume exportado cresceu 4,49% enquanto o preço subiu 98,4%. A soja exportada aumentou 22,7%em valores. De novo, foi o preço quem comandou o crescimento, com alta de 30,7%, enquanto o volumeembarcado caiu 6,2%.

    Os preços dos produtos primários, lembra Souza, não seguem apenas o movimento de oferta e demanda. "Essespreços são pressionados também pelo mercado secundário, que pode buscar outros ativos mais rentáveis aqualquer momento", diz ele. Para castro, "há ainda uma grande liquidez no mundo, embora os preços dascommodities nos últimos meses tenham mostrado que há uma certa saturação nesses mercados".

    Em termos de demanda, lembra Castro, a exportação brasileira de commodities está fortemente baseada nocrescimento econômico da China. Se houver desaceleração do crescimento chinês o impacto na demanda seráglobal e isso contribuirá para reduzir mais rapidamente o valor das exportações brasileiras do que o dasimportações, diz Souza. A volatilidade de preços das commodities é muito alta e tem efeitos imediatos, explica oeconomista do Iedi.

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    Já os preços dos manufaturados, que representam 80% da importação brasileira, diz Castro, vão demorar asentir o recuo. "Os manufaturados têm contratos fechados por prazos mais longos e há maior fidelidade aofornecedor."

    Castro lembra ainda que alguns mercados importantes de manufaturados brasileiros, como os países daAmérica do Sul, têm economia atualmente impulsionada por um motor semelhante ao brasileiro: a exportaçãode commodities. "Caindo a capacidade de exportação desses países, haverá também menor demanda paraimportação, o que afeta as vendas brasileiras de manufaturados ao exterior."

    O resultado para o Brasil pode ser uma redução de superávit ou geração de déficit, com os efeitos resultantes

    nas contas fiscais e eventualmente na inflação.

    Castro acredita, porém, que o atual cenário deve ser mantido pelo menos até o fim de 2011. Importantesprodutos na pauta brasileira de commodities, como a soja, por exemplo, diz, já foram vendidas. "Os contratosforam fechados, com preços já definidos. O grão só não foi entregue", diz. O minério de ferro, outro itemprimário importante, já está com o preço para o terceiro trimestre definido. "O quarto trimestre ainda está emaberto, mas deve manter patamar de preço semelhante ao atual, a menos que haja alguma mudança repentinano mercado externo."

    Fonte: Valor onlinehttp://www.acil.com.br/noticias-detalhe/30/06/2011/commodities-ja-representam-71-das-exportacoes-do-pais 

    Edição 83Setembro de 2011 

    "Devemos exportar marcas, e não commodities"Por: Juliana RibeiroO agronegócio representa 25% do PIB do País. Mas o Brasil não tem uma marca forte nessemercado. Como isso é possível?, pergunta o consultor Marco Antonio Rezende, da CauduroAssociados

    Durante 30 anos, a Aracruz, investiu no eucalipto, como uma madeira de lei, mas não conseguia crescer no mercado.Até que apostou num trabalho focado na qualidade da madeira, que ganhou uma marca, a Lyptus. A Vale conseguevender seu minério a um valor 40% acima do cobrado pelos concorrentes. O que o agronegócio brasileiro tem aaprender com esses dois casos? "Tão importante quanto produzir com qualidade é ter uma marca forte", diz o consultoMarco Antônio Rezende, da Cauduro Associados. Rezende, que atuou nos dois casos de sucesso, fala da importânciada produção de valor para o setor.

    DINHEIRO RURAL - Quando surgiu o conceito de branding no agronegócio?

    MARCO REZENDE - Na verdade, o branding surgiu com o agronegócio. A palavra "brand", em inglês, designa asmarcas feitas no gado com ferro em brasa, sobre o couro. Durante séculos, ela tem sido sinal de identidade de um

     produto, símbolo da propriedade rural. Mas, o agronegócio passou da produção de commodities para a economia demercado. E nessa economia, o negócio não se resume apenas à produção da mercadoria, já que o lucro vem de produzivalor e nesse quesito a marca é fundamental.

    RURAL - Quais são os atributos que compõem uma marca?

    REZENDE - A marca é composta, primeiro, pela dimensão física, que é a parte falada, sonora, visual. Depois, vem olado da representação mental, o que você imagina quando olha para determinado produto. Quando você vê umaembalagem e a marca nela, o conjunto remete a uma série de conceitos. E, geralmente, a marca ressoa em você com

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    atributos positivos. A prova de que isso funciona é que um mesmo produto tem variações de preços, a depender damarca. E tem eficácia aquela que cria confiança. Quando uma marca ganha um consumidor, geralmente, ele nemcompara preço, vai direto nela.

    RURAL - O preço ao consumidor nem sempre é fator decisivo?

    REZENDE - A questão do custo é algo muito maroto. Quando a marca é eficaz, cria essa coisa da certeza do que se paga. Antigamente, as pessoas iam até o armazém, compravam um quilo de feijão, um queijo, consumiam porqueconfiavam no proprietário. Hoje, quando o consumidor entra no supermercado e encontra dez marcas diferentes domesmo produto, a tendência é que ele vá direto na marca que já conhece, mesmo que ela custe mais.

    foto: Humberto Franco 

    "Exportamos suco delaranja, café e álcool, damaneira mais chula possível"

    RURAL - Isso também serve para o agronegócio?

    REZENDE - Sim, e vou dar um exemplo. A Aracruz, durante 30 anos, investiu paratransformar o eucalipto, que é conhecido como uma madeira para fazer celulose eembalagens, numa madeira de lei. Em um determinado momento, eles já haviamchegado nesse eucalipto como madeira de lei - porque o segredo não é genético esim a forma de cortar a madeira -, com investimentos pesadíssimos, de cerca de US$50 milhões por serraria. Mesmo assim, não ganhavam mercado. E não eram somenteeles. Tanto o Chile quanto a Nova Zelândia também já haviam chegado nesseeucalipto, como madeira de lei, porém, o resultado em termos de mercado tinha sidoum fracasso. Isso porque, no momento em que ofereciam o produto, eles escutavam:

    "eucalipto? Isso não entra aqui." Os grandes compradores de madeira na Europa, nosEstados Unidos e no Japão, quando recebiam alguém que queria vender eucalipto,dispensavam na hora. A Aracruz percebeu que esse era o problema, o da primeiraimpressão. Então, realizamos um trabalho para que essa barreira da percepção inicialfosse abolida. 

    RURAL - Como foi possível mudar a visão dos clientes?

    REZENDE - O trabalho veio desde a definição de um nome que estivesse ligado aoeucalipto e criasse a impressão de ser uma nova espécie, como se tivesse sidodescoberta uma nova madeira. O nome científico do eucalipto é Eucalyptus grandis,então criamos um nome que remetesse a ele. Assim, nasceu a marca Lyptus.

    Fizemos o trabalho de comunicação visual, focando na qualidade da madeira,mostramos quais características essa marca tem e o resultado foi um grande sucesso.

     Na época, toda a produção de madeira da Aracruz com a marca Lyptus foi comprada pela Warehouse, uma giganteamericana do setor de acessórios para casa. Foi a primeira vez que essa empresa colocou nas lojas produtos quelevavam a sua marca, fabricados com eucalipto.

    RURAL - Quais foram as transformações que exigiram do agronegócio o investimento em marcas?

    REZENDE - O agronegócio sempre investiu em marcas, ainda que pouco. Mas, devagar, o setor começou a aprendercom outros segmentos da economia que as marcas são um eficaz instrumento para a guerra do mercado. Muitasempresas, que antes investiam na venda de commodities, como a Usina Nova América, dona da marca de açúcarUnião, começaram a se beneficiar das marcas. Há outro fator de extrema importância que é a globalização. Osempresários do campo estão percebendo que as commodities trazem pouca margem de lucro.

    RURAL - Como as empresas e os produtores do setor vêm encarando essa necessidade?

    REZENDE - Pela importância do agronegócio na economia brasileira, podemos dizer que elas não estão encarandoessa necessidade como deveriam, salvo algumas exceções. A prova disso é que não há nenhuma grande marca doagronegócio entre as 25 marcas mais valiosas do Brasil, no ranking divulgado pela Interbrand. A contradição é: como agronegócio, que representa 25% da economia do País, não tem uma marca importante? Essas empresas estãodeixando de ganhar, o País está deixando de ganhar, porque estamos exportando suco de laranja, café, álcool, damaneira mais chula possível. Não estamos vendendo Cutrale, estamos vendendo suco de laranja e isso não agregavalor.

    RURAL - O que se perde com isso?

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    REZENDE - Competitividade, que se traduz em lucratividade também. Podemos dizer que as grandes marcas doagronegócio poderiam ganhar cerca da R$ 25 bilhões a mais, se investissem R$ 30 milhões, em um período de dois atrês anos.

    RURAL - Foi o que a Vale fez?

    REZENDE - Sim. A Vale consegue vender o seu minério a um valor até 40% acima dos concorrentes. E olha que ominério da Vale demora mais tempo para chegar na China, em comparação ao de outros países fornecedores. E comoela consegue, ainda assim, vender tanto? A resposta é que, além do produto, ela tem uma percepção de sua qualidade euma marca que transmite credibilidade.

    "A Colômbia criou um personagem, o Juan Valdez, para promover o seu café"

    RURAL - O País tem condições de se beneficiar da fama de celeiro do mundo para construir uma marca Brasil?

    REZENDE - Não acredito nisso. Não existe nenhum País que tenha conseguido . Hoje, se fala muito da marca Brasil,mas em que setor? Pode-se dizer que o vinho francês é uma marca, mas isso porque, historicamente, diversas marcasde vinhos franceses se destacaram pela qualidade e na cabeça dos consumidores esse país virou referência na produçãode vinhos. No caso do café da Colômbia, os produtores criaram um personagem, o Juan Valdez, que se transformou emuma marca, em embalagens com uma linguagem que funciona em qualquer parte do mundo.

    RURAL - Qual é a importância da confiança na marca?

    REZENDE - A função da marca é criar, sustentar ou reestabelecer confiança em determinado produto. Noagronegócio, a marca é tão importante, quanto no mercado de bens de consumo. A relação de confiança é fundamentalImagine que um produtor rural compra muitas toneladas de ureia, de fertilizantes, porque o agrônomo dele diz que é

     preciso comprar ou não há produção. Seis meses depois, quando for a hora da colheita, ou o produtor vai colher Xtoneladas ou o dobro disso. Ou seja, independentemente do resultado, ele comprou os insumos, confiando que aquiloera o certo porque se estabeleceu um laço entre ele a e marca.

    RURAL - A mentalidade do empresário rural é algo que se possa mudar?

    REZENDE - Essa talvez seja a grande barreira contra a criação de marcas brasileiras fortes no agronegócio. Os produtores não pensam que precisam criar marcas, eles acham que simplesmente exportando carne congelada ouaçúcar a granel, está tudo bem. Eles recebem, vamos supor, US$ 100 pela tonelada exportada, enquanto o australianoconsegue US$120 e o argentino também. É preciso se preocupar com isso, principalmente nesse contexto de mercado,de crescente demanda pelos alimentos. É o momento ideal para o agronegócio brasileiro investir em marcas e deixar d

     produzir apenas commodities. Precisamos sair da acomodação das commodities e investir para agregar valor aoagronegócio.

    http://revistadinheirorural.terra.com.br/secao/entrevista/quotdevemos-exportar-marcas-e-nao-commoditiesquot 

    Indústria aumenta importação de produtos do setor de alta tecnologiaData de Publicação: 17/07/2013Por Rodrigo Pedroso | De São Paulo 

    O aumento da importação da indústria de transformação neste ano está concentrado em setores de média-alta ealta tecnologia, e não naqueles de baixa e média-baixa tecnologia, como ocorreu no primeiro semestre de 2012.Essa mudança provocou expansão de 13% no déficit no conjunto de produtos de maior valor agregado, que ficouem US$ 46 bilhões no acumulado de janeiro a junho.

    Busca por competitividade pelas empresas, necessidade de atualização tecnológica e consumo de maior valoragregado menos afetado pela inflação e desaceleração da atividade são fatores que influenciaram o resultado na visão de analistas.

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    "São setores que esbarram na falta de oferta interna. O lado positivo dessa importação de alta tecnologia pode seo impacto na modernização na produção. O desafio do Brasil é sempre foi a inovação. Esses déficits sãoestruturais", afirma Lia.

    © 2000 – 2013. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em http://www.valor.com.br/termos-de-uso.Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico.

    http://www.valor.com.br/brasil/3199202/industria-aumenta-importacao-de-produtos-do-setor-de-alta-tecnologia#ixzz2ZKE5e62z 

    A Índia está chegandoDiante da desaceleração chinesa, a Índia desponta como o maior motor do crescimento global e encabeça a listade destinos potenciais para empresas brasileiras06/04/2015 18:00

     Por: Paula Bezerra 

    Nove anos após iniciar as exportações para a Índia, por estímulo do governo brasileiro, a calçadista gaúchaPiccadilly sucumbiu às altas taxas de importação locais e decidiu interromper, no ano passado, os envios aoparceiro asiático. Bastaram menos de 12 meses, porém, para que o rompimento fosse revisto. Não que a Índiatenha experimentado uma grande mudança no período, mas a fabricante brasileira decidiu olhar mais para ofuturo do que para o presente. “Como a Índia tem um potencial de consumo muito grande, com oportunidadesde amadurecer, decidimos retomar as exportações”, afirma Micheline Grings, diretora de exportação da marca.

    A convicção de Micheline encontra respaldo na mais recente avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI)Em visita ao país, no mês passado, a diretora do FMI, Christine Lagarde, ressaltou que a economia indiana será ogrande motor do crescimento global nos próximos anos, na direção oposta dos principais emergentes. “Nestehorizonte nublado, a Índia é um ponto brilhante”, disse a diretora. A ascensão indiana já começou. O ritmo deavanço deve subir de 7,2% no biênio 2013-2014 para 7,5% nos dois anos seguintes, superando a China naliderança do ranking global de crescimento econômico.

    Com um PIB de cerca de US$ 2 trilhões, a economia indiana ainda é menor que a brasileira (US$ 2,2 trilhões) e achinesa (US$ 10 trilhões). Em quatro anos, no entanto, deve dobrar de tamanho em relação ao nível de 2009,para quase US$ 3 trilhões, tornando o seu mercado interno ainda mais atraente para as empresas. Para o Brasil,que enfrenta um período de baixo crescimento, é uma oportunidade que pode ser aproveitada diante de umnovo patamar do dólar, acima de R$ 3,00. Já há sinais, inclusive, de que essa parceria pode florescer. No anopassado, a Índia passou a ser o 8º maior comprador dos produtos nacionais, dez posições acima do ranking de2013, com U$ 4,7 bilhões.

    Projeções da equipe de análise do HSBC indicam um crescimento de 20% nas vendas para o mercado indianoaté 2016, acima do previsto para qualquer comprador do Brasil. Além da pauta tradicional de exportação, que

    inclui petróleo e açúcar, os setores químicos e têxteis podem ser beneficiados. “A Índia nunca foi priorizada

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    Cidalia em sua casa: mobília comprada com créditomais fácil e filha na faculdade

    Em 2005, a família de Cidalia Azevedo Lima migrou deLajedinho, interior da Bahia, para São Paulo. Vieram comela, o marido e os dois filhos, Rodolfo e Érica. Cidachegou com emprego já tratado de doméstica e omarido, pedreiro, foi trabalhar na construção civil. Aospoucos, e com crediário, a casa ganhou tudo que Cidaqueria. A máquina de lavar, paga em dez vezes no cartãode crédito, chegou em 2008. No ano passado, mais umsonho: a filha Érica entrou na faculdade de nutrição,

    atendida pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).Hoje com 47 anos e carteira assinada, Cida está separadae o filho casou, mas o salário de R$ 1,8 mil comocuidadora e o emprego de Érica como assistenteadministrativa, dão conta das despesas da casa. “Desde

    que eu cheguei minha vida melhorou”, reconhece. “Mas agora tá tudo mais caro no mercado”, pondera. 

    Assim como no caso de Cida, a renda familiar dos brasileiros cresceu tanto pela oportunidade de trocar de empregocomo pela correção do salário mínimo, que subiu 110% acima da inflação nos últimos 15 anos, período em que a taxade desocupação recuou de 10% para 4,5% na média anual. Se até o ano passado quase tudo era positivo no mercadode trabalho, a situação piorou em 2015. A inflação de mais de 8% projetada para o ano é a maior desde 2003 e

    apenas nos primeiros três meses, 50 mil postos de trabalho com carteira assinada foram fechados, pior resultadopara o período desde 2000.

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    A Ciser e a família de Cida são retratos de dois Brasis que pareceram andar em trajetória diferentes em parte dosúltimos 15 anos. Desde 2000, enquanto o consumo das famílias subiu 64% e puxou o crescimento do Produto InternoBruto (PIB), a indústria cresceu só 29% e o setor de serviços (que emprega a família de Cida), 58%. A recessão que

    está desenhada para 2015 “une” os dois Brasis, traz à tona velhos dilemas, põe em risco parte das conquistas sociaisdos últimos anos e confirma que o Brasil ainda não chegou ao crescimento sustentado. Sem mudança de rumo,dizem empresários e economistas, a crise não será passageira.

    Para Regis Bonelli, coordenador do boletim de conjuntura do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV), a ênfase naagenda social e a redução da desigualdade (um processo que começou nos anos 90 quando o Plano Real controlou ainflação e ganhou força a partir dos governo de Luiz Inácio Lula da Silva ) são áreas em que o Brasil melhorou muito. Ea melhora na distribuição de renda, avalia, veio principalmente do mercado de trabalho, avalia ele.

    Para Bonelli, o rumo foi perdido especialmente a partir de 2011, quando o governo não entendeu que era necessárioreverter as políticas anticíclicas adotadas no pós-crise. “Elas foram bem sucedidas no começo, mas segurar o nível deatividade com recursos públicos é um erro”, avalia. “O Estado não pode tudo”, pondera, criticando o “relaxamento

    macroeconômico” implícito na chamada nova matriz econômica, adotada no primeiro mandato da presidente DilmaRousseff.

    Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de SãoPaulo da Fundação Getulio Vargas (EESP-FGV), tem umavisão um pouco diferente. Mais pessimista, ele acha queos problemas estão mais arraigados e por isso são demais difícil solução. “Os problemas básicos da nossaeconomia persistem. O trio mortal de câmbiodesajustado, juro alto e carga tributária elevada continuaaí e hoje o quadro é pior do que há 15 anos”, compara. Odiretor da EESP ressalva a melhora recente do câmbio.

    “Mas não podemos olhar só para o nível, é preciso queele seja estável”, pondera.Nakano considera que o espaço para o Brasil encontrar ocaminho para o desenvolvimento encolheu porque háum esgotamento da antes ilimitada oferta de mão deobra e porque enquanto esse estoque encolhia, a

    Nakano: "O trio mortal de câmbio desajustado, juroalto e carga tributária elevada continua aí e hoje oquadro é pior do que há 15 anos”

    indústria perdia espaço no PIB e ficava mais anacrônica, apesar do mundo que crescia mais. “Não aproveitamos oespaço que havia para ampliar a exportação de manufaturados, pelo contrário. O Brasil se desindustrializou. E agorareindustrializar o país ficou mais difícil”, diz ele. Sem abertura comercial, sem acordos internacionais e semintegração às cadeias globais de produção, o Brasil não terá instrumentos fundamentais para andar para frente,avalia Nakano, para quem o Brasil ainda não pode prescindir da indústria.

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    A Prensas Schuler é um exemplo de empresa afetada pelo “trio mortal” descrito por Nakano. Em 2000, o maiorcliente da subsidiária brasileira dessa multinacional que nasceu alemã e hoje tem capital austríaco, foi a Chrysler dosEstados Unidos. Naquele ano, como noticiou o Valor na época, dos US$ 100 milhões faturados pela operaçãobrasileira da Schuler, US$ 85 milhões vieram da exportação.

    Nos anos seguintes, a exportação seguiria como motor da companhia, até bater o recorde de 92% de participação nofaturamento da empresa em 2004. Na década atual, essa presença oscilou entre 30% e 40%, ao mesmo tempo emque o índice de nacionalização caiu de 90% para 70% e a receita com serviços triplicou, passando a representar entre18% e 20% do faturamento, conta o diretor da empresa Paulo Tonicelli.

    A realidade da Schuler repete a história da balança comercial do país. A empresa continuou exportando, e em valore

    exporta mais, mas a importação cresceu proporcionalmente mais. Em 15 anos, enquanto as exportações demanufaturados do Brasil aumentaram 200%, as importações desses bens cresceram 300%, provocando um rombo nabalança comercial da indústria de transformação de US$ 59 bilhões — em 2006, o país tinha superávit de US$ 32bilhões nessa conta. É o competitivo agronegócio que ajuda as contas externas do país. Entre 2000 e 2014, asexportações do setor subiram 370%, muito acima das importações, elevando seu saldo comercial de US$ 14,8 bilhõepara US$ 80,1 bilhões.

    Saldo comercial da indústria de transformação (em U$$ bilhões)

    Tonicelli aponta o câmbio valorizado como ogrande fator de perda de competitividade dacompanhia no Brasil, mas ressalva que elenão é o único. “Para uma empresa do setorde máquinas, com uma longa cadeia deprodução, a estrutura tributária, de impostoem várias fases, tira muita competitividade”diz ele.Além da dupla impostos-câmbio, o diretor daSchuler lista mão de obra, energia elétrica eoutros custos como fatores de perda de 

    competitividade. “A alta da energia nesseano, superior a 40%, vai anular boa parte da desvalorização do câmbio”, dizele. Assim, vai ficar difícil o Brasil retomar o posto de fábrica de menor custo, que a unidade brasileira, localizada emDiadema, detinha até 2006. “Além disso, a desvalorização em relação ao euro e ao iene, é bem menor que comrelação ao dólar”, lembra Tonicelli.

    Diante do mesmo dilema da Prensas Schuler, a Ciser decidiu brigar por seus clientes no Brasil com uma estratégiadiferente. Antes de ser substituída por outro produto “made in China”, a própria empresa usou o concorrenteasiático para completar seu mix de produção. “Criamos empresas novas na China e os ensinamos a fazer o nossoproduto. Entramos com a tecnologia, mas não aportamos capital”, explica Schneider. O controle da qualidade e odesign das peças é brasileiro, mas parte dos empregos ficou na China. “Passou a ser muito caro produzir no Brasil”,resume o presidente da Ciser.

    Pedro Passos: “Não tivemos reformas, não tivemosobsessão pelo que é necessário"

    A opção de revender bens fabricados fora da sua linha deprodução foi generalizada entre a indústria. De acordocom a Pesquisa Industrial Anual (PIA), do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 2007 e2012, a participação da revenda de mercadorias na

    composição do faturamento do setor de transformaçãoaumentou 70%.O presidente do Instituto de Estudos para oDesenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Passos, faz aponte entre os dilemas da indústria e o país. “A perda dedinamismo da indústria tirou performance do PIB”,avalia. Para Passos, desde o começo dos anos 2000,muito pouco foi feito para aumentar a produtividade daeconomia brasileira como um todo, com exceção do

    agronegócio. “Não tivemos reformas, não tivemos obsessão pelo que é necessário, não tivemos obsessão poreducação, por infraestrutura, por medidas de facilitação do ambiente de negócios, por redução de carga tributária”,

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    aeroportos, estradas e ferrovias o país não aumentará suas exportações”, diz ele. Schneider e Passos acrescentam aimportância da simplificação e da redução da carga tributária, além de um ambiente mais amigável e menosburocrático para os negócios, como elementos para elevar a eficiência de toda economia.

    Para a indústria, um câmbio menos apreciado e mais estável é fundamental, mas insuficiente, argumenta Nakano.Além de uma reorientação de política econômica que permita desmontar o “trio mortal”, Nakano defende aberturacomercial, com redução de tarifas negociada dentro de acordos de comércio com Estados Unidos e União Europeia. Areindustrialização, diz, passa por uma indústria integrada às cadeias globais. Passos, do Iedi, concorda. Durante muitotempo, reconhece, os empresários preferiram a proteção. Esse pensamento mudou, segundo o presidente do Iedi.“O modelo de economia fechada não atende a mais ninguém, nem à maior parte da indústria, nem ao país.”

    No Brasil dos próximos 15 anos, diz Passos, alguns setores não vão se adaptar. Mas existem oportunidades e o jogonão está definido, apesar da derrota por 7 X1. E Cidalia também olha para além da crise. Ela planeja fazer um cursode radiologia ou de técnica de enfermagem. “Ficar só no ensino médio não é nada. Precisa ter conhecimento de maisalguma coisa”.

    http://www.valor.com.br/valor15anos/economia