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análise do discurso
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UNIVERSIDADE CATLICA DE PELOTAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS/LINGUSTICA
APLICADA
PROCESSOS DE PERCEPO SIMBLICA DE TEXTOS VERBO-
VISUAIS EM ANNCIOS IMPRESSOS: ESTUDO DE CASO
RODRIGO NUNES FEIJ
PELOTAS
2012
RODRIGO NUNES FEIJ
PROCESSOS DE PERCEPO SIMBLICA DE TEXTOS VERBO-
VISUAIS EM ANNCIOS IMPRESSOS: ESTUDO DE CASO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Letras, da Universidade Catlica de Pelotas, como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Letras.
.
Orientador: Prof. Dr. Adail Ubirajara Sobral
PELOTAS
2012
RODRIGO NUNES FEIJ
PROCESSOS DE PERCEPO SIMBLICA DE TEXTOS VERBO-
VISUAIS EM ANNCIOS IMPRESSOS: ESTUDO DE CASO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Letras da Universidade
Catlica de Pelotas UCPel para a obteno do grau de Mestre em Letras, com rea de concentrao na Lingustica Aplicada.
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Prof. Dr. Adail Ubirajara Sobral (orientador UCPel)
_____________________________________________
Prof. Dr. Fabiane Villela Marroni (UCPel)
_____________________________________________
Prof. Dr. Oscar Luiz Brisolara (FURG)
Pelotas, 24 de fevereiro de 2012.
Dedicatria:
Esse trabalho dedicado s mulheres da minha
vida. minha amada me Laura, minha amada
irm Rosaura e memria da minha amada irm e
madrinha Elvira, pois tenho a certeza de que hoje
ela seria uma das pessoas mais radiantes e felizes
com a minha vitria. Obrigado a Deus por teres
colocado elas em minha vida
AGRADECIMENTOS
Agradeo aos professores do Curso de Letras da Universidade Federal do Rio Grande, Dulce,
Marilei e Maria Cristina, que gentilmente cederam suas aulas para que esta pesquisa pudesse
ser desenvolvida.
Agradeo tambm aos professores do curso de Ps-Graduao em Letras da Universidade
Catlica de Pelotas, especialmente coordenadora do programa, Prof. Dr. Carmem
Matzenauer, pelo incentivo e carinho dedicados aos alunos do programa.
minha querida me Laura, s minhas amadas irms Rosaura e Elvira (in memoriam) que
sempre me apoiaram em todos os passos da minha vida, que sempre estiveram ao meu lado,
mesmo nos momentos ruins, que sempre estenderam suas mos para me erguer dos tombos
que a vida nos reserva. Amo-as muito e devo tudo que tenho a elas.
Agradeo, de maneira geral a todos os meus familiares, mas em especial ao meu cunhado
Alberto e s minhas filhas de corao Patrcia e Natlia, que assim como minha irm Rosaura,
sempre estiveram ao meu lado.
minha amada esposa e amiga Samira que, durante todo esse percurso, sempre esteve ao
meu lado incentivando-me nas horas mais difceis e desesperadoras. Agradecemos, e quando
coloco este verbo em primeira pessoa do plural, fao das minhas as palavras da Samira, aos
nossos avs, Maria e Antonio (in memoriam) que sempre nos ajudaram e apoiaram.
Ao meu querido amigo e orientador, Adail Sobral, por dispor de seu tempo e conhecimento
para orientar esta pesquisa.
Aos meus verdadeiros amigos, mas em especial ao Gilberto, pela compreenso e apoio dado,
que, embora dado atravs de poucas palavras, mas palavras certas nas horas certas.
minha querida amiga Sabrine e ao meu amigo Rafael por todo o apoio, carinho,
compreenso, pelas conversas de incentivo e pela fora dada.
minha querida amiga Michelle por todas as nossas conversas, choros e cafs.
Aos meus colegas e amigos de mestrado Francine, Anelise e Carlos Alberto, pelo apoio e
compreenso durante o curso.
Agradeo a Deus por me dar foras para concluir essa etapa. Agradeo tambm a todas as
pessoas que colocaram impedimentos e dificuldades em minha vida, pois sem vocs eu no
teria fora suficiente para desafi-los e vencer todos os obstculos, supostamente postos.
RESUMO
Considerando que as linguagens no verbais j patentearam seu espao, participando, de
modo decisivo, junto com o verbal, do universo cultural do homem, esta pesquisa tem como
principal objetivo verificar, criticamente, se alunos dos quatro anos do Curso de Letras /
Portugus de uma universidade federal do sul do pas, expostos o tempo todo ao mundo
icnico, realizam leituras de textos sincrticos de forma proficiente. Para isso, a fim de
coletarmos as informaes de que precisvamos, organizamos um questionrio cuja primeira
parte constituiu-se de uma sondagem de dados pessoais dos sujeitos a serem investigados e do
qual a segunda parte apresentou perguntas direcionadas obteno de leituras de dois
anncios publicitrios de cigarros, sendo um da dcada de 80 e outro da dcada de 90 do
sculo XX. Tais perguntas foram formuladas de modo a contemplar o modelo terico de
anlise da mensagem publicitria proposto por Umberto Eco. Seu mtodo toma o anncio no
duplo registro, o verbal e o icnico (visual), e observa a imagem publicitria como um
conglomerado de camadas que analisa separadamente, em cinco nveis, sendo que os trs
primeiros icnico, iconogrfico e tropolgico tratam especificamente da imagem e, os outros dois tpico e entimemtico da argumentao. A leitura realizada previamente pelo pesquisador serviu de parmetro para a anlise dos resultados da experincia emprica.
Esperava-se que os alunos percebessem a mensagem pretendida medida que entendessem a
articulao do verbal com o visual. Constatou-se a necessidade de uma mediao pedaggica
calcada em um aporte terico que contribua para uma melhor compreenso dos textos
sincrticos e se arrolaram dados que mostram que a proposta de Umberto Eco pode ser vlida
como referncia para esse fim.
Palavras-chave: leitura, textos verbo-visuais, publicidade
ABSTRACT
Considering that non-verbal languages have already conquered their space, participating, in a
decisive way, together with the verbal forms, in mans cultural universe, this research has as
its main goal to critically verify whether students from the four years of a Letters
undergraduate course Portuguese major from a public university in Brazil southern region exposed to the iconic world read syncretic texts proficiently. In order to collect the needed
information, we organized a questionnaire whose first part is constituted by the personal data
from the research subjects and the second part presents questions aimed at obtaining the
interpretation from two cigarette advertising pieces, one from the 80s and the other from the
90s. The set of questions were created to test the theoretical model from Umberto Eco. His
method understands as dual utterances using a verbal and an iconic (visual) language, and
observes ads images as many layers that could be analyzed separately in five levels. The first
three iconic, iconographic and topologic - deal with image and the other two topic and entimematic with argumentation. A previous interpretation by the researcher was used as a parameter to analyze research results. It was expected that students perceived the message as soon as they related the verbal with the visual component. It was concluded there is a need
for a more adequate theoretical support for preparing students to better interpret syncretic
texts. Data collected also allow us to say that Ecos proposal may be a s valid as a reference to reach this goal.
Keywords: reading, verbal-visual, advertising
LISTA DE IMAGENS
1. IMAGEM 1: Anncio Publicitrio Cigarro Carlton 1980......................................31, 39
2. IMAGEM 2: Anncio Publicitrio Cigarro Carlton 1990.......................................31,40
LISTA DE GRFICOS
1. GRFICO 1: Sujeito 1 1 ano Dcada de 80...............................................43
2. GRFICO 2: Sujeito 1 1 ano Dcada de 90...............................................46
3. GRFICO 3: Sujeito 2 1 ano Dcada de 80...............................................48
4. GRFICO 4: Sujeito 2 1 ano Dcada de 90...............................................50
5. GRFICO 5: Sujeito 3 2 ano Dcada de 80...............................................51
6. GRFICO 6: Sujeito 3 2 ano Dcada de 90...............................................52
7. GRFICO 7: Sujeito 4 2 ano Dcada de 80...............................................53
8. GRFICO 8: Sujeito 4 2 ano Dcada de 90...............................................56
9. GRFICO 9: Sujeito 5 3 ano Dcada de 80...............................................57
10. GRFICO 10: Sujeito 5 3 ano Dcada de 90.............................................60
11. GRFICO 11: Sujeito 6 3 ano Dcada de 80.............................................62
12. GRFICO 12: Sujeito 6 3 ano Dcada de 90.............................................65
13. GRFICO 13: Sujeito 7 4 ano Dcada de 80.............................................66
14. GRFICO 14: Sujeito 7 4 ano Dcada de 90.............................................68
15. GRFICO 15: Sujeito 8 4 ano Dcada de 80.............................................71
16. GRFICO 16: Sujeito 8 4 ano Dcada de 90.............................................71
SUMRIO
1 INTRODUO....................................................................................................................12
1.1 Objetivos.............................................................................................................................14
1.2 Questes norteadoras..........................................................................................................15
1.3 Estrutura da dissertao......................................................................................................15
CAPTULO 2
2 FUNDAMENTAO TERICA......................................................................................16
2.1 Semitica.....................................................................................................16
2.2 Semitica da cultura....................................................................................20
2.3 Semitica e comunicao............................................................................24
2.4 Alfabetizao semitica...............................................................................25
CAPTULO 3
3 METODOLOGIA................................................................................................................28
3.1 Contexto de pesquisa...................................................................................28
3.2 Descrio dos procedimentos......................................................................30
3.3 Caracterizao dos sujeitos..........................................................................34
3.4 Critrios de anlise......................................................................................37
CAPTULO 4
4 RESULTADOS E DISCUSSO.........................................................................................43
4.1 Dados obtidos..............................................................................................43
4.1.1Sujeito 1.....................................................................................................43
4.1.2 Sujeito 2....................................................................................................48
4.1.3 Sujeito 3....................................................................................................51
4.1.4 Sujeito 4 ...................................................................................................53
4.1.5 Sujeito 5....................................................................................................57
4.1.6 Sujeito 6....................................................................................................62
4.1.7 Sujeito 7...................................................................................................66
4.1.8 Sujeito 8...................................................................................................71
4.2 Discusso sobre as leituras obtidas.............................................................73
5 CONSIDERAES FINAIS..............................................................................................75
6 REFERENCIAL BIBLIOGRFICO................................................................................79
7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.....................................................................................81
8.ANEXOS...............................................................................................................................82
12
INTRODUO
No contexto cultural em que vivemos, atualmente, deparamo-nos, a todo o
momento, com um universo imenso de signos que nos abordam com seus estmulos e
significados. As mdias, de forma acentuadamente progressiva, monopolizam os
processos comunicacionais e, por consequncia, os mtodos de sistematizao e
articulao dos signos para a formao de mensagens, aqui entendidas para alm do
modelo ciberntico estrito.
Nesse sentido, empreender estudos semiticos das mensagens que se criam por
meio desse aparato tcnico-comunicacional torna-se imprescindvel, para que possamos
compreender os mecanismos de construo, organizao e recepo dessas
manifestaes textuais e dos efeitos que se produzem, atravs de sua veiculao, na
sociedade contempornea.
justamente nessa perspectiva que este trabalho tem o intuito de levantar uma
reflexo sobre a proficincia de leitura de textos verbo-visuais por graduandos de Letras
de uma universidade federal do sul do pas, tendo como referencial o modelo terico de
anlise da mensagem publicitria proposto por Umberto Eco. Visamos a verificar,
criticamente, se, no Curso de Letras da instituio em que centramos nossa pesquisa,
feito algum estudo com textos sincrticos e como essa atividade se reflete na leitura dos
graduandos, uma vez que no podemos perder de vista que um curso de graduao
forma professores que devero ser capazes de ensinar a leitura das mltiplas linguagens
com que convivem os seus alunos, principalmente dada a nfase dos PCNs no estudo
via gneros com exemplares de textos autnticos.
Com esse fim, para proceder coleta das informaes de que precisvamos para
pr em execuo nosso projeto, organizamos dois questionrios. O primeiro constituiu-
se de uma sondagem a respeito de dados pessoais dos sujeitos a serem investigados, a
fim de se estabelecer um perfil desses sujeitos. Embora todos os sujeitos sejam por
definio universitrios, foi preciso atentar para o fato de que a maneira de um
indivduo estar no mundo e entend-lo informada por uma estrutura contingencial,
considerando-se variveis situacionais, uma vez que diferentes fatores pessoais e sociais
influenciam no modo como um sujeito se apropria de informaes, constri seus
conhecimentos e os aplica em suas atividades de leitura.
13
O segundo questionrio apresentou perguntas direcionadas obteno de leituras
de dois anncios publicitrios de cigarros, sendo um da dcada de 80 e outro da dcada
de 90 do sculo XX, escolhidos pelo fato de julgarmos que as restries pelas quais a
publicidade de cigarros passou antes de ser definitivamente banida da mdia brasileira
motivaram a busca de estratgias muito significativas para a criao de anncios, uma
vez que, face severa regulamentao, a indstria do tabaco precisou modificar o modo
de estabelecer contato com o pblico. Tais perguntas foram formuladas de modo a
contemplarem o modelo terico adotado.
Eco observa que a cada definio do signo de Peirce pode corresponder um dado
fenmeno de comunicao visual. Seu mtodo toma o anncio no duplo registro, o
verbal e o icnico (visual), e observa a imagem publicitria como um conglomerado de
camadas que analisa separadamente, em cinco nveis, sendo que os trs primeiros
icnico, iconogrfico e tropolgico tratam especificamente da imagem e, os outros
dois tpico e entimemtico da argumentao.
Nossa hiptese, quando da elaborao do projeto, era de que alunos de uma
realidade sociocultural mais privilegiada perceberiam mais eficazmente a mensagem
pretendida, compreendendo a articulao do verbal com o visual e alcanando,
gradativamente, os nveis de complexidade previstos por Eco, de modo a demonstrar a
hiptese de que uma mensagem no to somente o que enxergamos primeira vista
mas um complexo articulado de componentes e formas de organizao.
O interesse por essa pesquisa iniciou-se durante o curso de graduao, quando
passamos a fazer parte de um grupo de estudos semiticos da FURG, a fim de atuar em
um projeto de pesquisa intitulado Multitextos: estudos de mltiplas linguagens. Este
projeto surgiu pelo constante interesse do grupo em analisar como eram construdos os
mtodos de persuaso utilizados pela mdia impressa e/ou digital. Alm dos processos
de persuaso, nosso grupo interessou-se em saber como os leitores desses textos
verbo-visuais identificavam esses processos. Utilizando mtodos de anlise de base
peirceana, como o de Roland Barthes e o de Umberto Eco, integramos um subgrupo do
referido projeto que realizou um nmero significativo de pesquisas a partir de textos
publicitrios veiculados na mdia impressa.
Como nosso grupo apenas analisou leituras de alunos de escolas de ensino
fundamental e mdio, ficou o interesse e o questionamento sobre como ocorreriam as
leituras de alunos do ensino superior, especificamente, de alunos de Letras, e se existiria
14
uma evoluo ou crescimento de percepo do contedo de textos verbo-visuais, com o
avanar do curso.
Quisemos verificar se um curso de graduao em Letras auxilia o aluno a tornar-
se proficiente na leitura de textos sincrticos, a fim de constatar se essa formao est
sendo construda de acordo com as exigncias de nossa sociedade; se ocorre um
amadurecimento no processo de leitura desse aluno de licenciatura, ao longo dos
quatro anos do curso e se existe algum trabalho elaborado pelos professores do Curso de
Letras da universidade para auxiliar esse aluno no momento de sua primeira atuao, ou
seja, no momento do estgio supervisionado obrigatrio. Enfim, objetivamos traar um
quadro dos resultados obtidos, para que fosse possvel visualizar e discutir constataes,
de modo a contribuir, com a pesquisa, para a possvel implementao de mudanas que
possam vir a ser necessrias na grade curricular do curso, a fim de que seja alcanada
essa meta.
1.1 Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo geral verificar se um curso de graduao,
na rea de Letras Portugus, dentro de seus quatro anos, auxilia o indivduo/aluno a
tornar-se proficiente na leitura de textos sincrticos. Com isso, a nossa preocupao
principal constatar se essa formao do graduando est sendo construda de acordo
com as exigncias do grupo social em que ele est inserido, pois sabemos que a cada dia
que passa a utilizao de textos sincrticos, ou seja, textos que se utilizam de imagens e
signos lingusticos para persuadir os leitores, est em constante crescimento. Tal
crescimento faz com que professores venham utilizando, de forma significativa, em suas
salas de aula, esses textos verbo-visuais, com a finalidade de tornar o indivduo/aluno,
cada vez mais cedo, proficiente na leitura de elementos sgnicos funcionalmente
diferentes, tendo em vista que podemos encontrar textos desse tipo em diferentes
lugares da nossa sociedade.
O trabalho tem como objetivos especficos:
a) verificar como se processa a leitura de textos publicitrios por sujeitos de uma mesma
realidade sociocultural, considerando os nveis de apreenso da mensagem publicitria
propostos por Umberto Eco;
15
b) constatar se os estudantes atingem ou no todos os nveis contemplados na proposta,
atravs da anlise orientada de textos verbo-visuais em que os sujeitos investigados
podero evidenciar como procedem leitura dos textos que lhes forem apresentados;
c) verificar se os sujeitos investigados identificam algum trabalho efetivo elaborado
pelos professores do Curso de Letras-Portugus com a finalidade de auxili-los na
compreenso de textos verbo-visuais.
1.2 Questes norteadoras
Para viabilizar esses objetivos, o trabalho parte das seguintes questes norteadoras:
a) o curso de graduao na rea de Letras-Portugus de uma universidade federal do sul
do pas, dentro de seus quatro anos, fornece condies e meios de seus alunos se
tornarem proficientes na leitura de textos sincrticos (verbo-visuais1)?
b) qual o grau de proficincia por eles alcanado ao longo do processo?
1.3 Estrutura da dissertao
O trabalho apresenta-se estruturado em quatro captulos. No primeiro, tratamos
da semitica e de suas linhas de pesquisa, destacando a semitica de Umberto Eco, pois
propusemo-nos a seguir o modelo de anlise do texto publicitrio criado pelo
semioticista italiano. Expomos, em seguida, um breve panorama sobre a semitica e a
comunicao, mostrando que, embora se distingam, h entre elas ntimas relaes, sem
deixarem de se cruzar. Enfocamos tambm questes que circulam sobre a alfabetizao
semitica, vinculada, obviamente, com os textos sincrticos, verbo-visuais e outros.
No segundo captulo, fazemos referncia metodologia utilizada, descrevendo
procedimentos, caracterizando os sujeitos investigados e explicitando os critrios de
anlise do corpus.
J no terceiro trabalhamos com a descrio dos resultados oriundos da aplicao
dos questionrios, procedemos a uma anlise das leituras obtidas frente aos textos
publicitrios apresentados e discutimos os resultados obtidos.
No quarto captulo, fazemos as consideraes finais da pesquisa desenvolvida.
1 Neste trabalho iremos utilizar o termo sincrtico como sinnimo de texto verbo-visual.
16
CAPTULO 2
2 FUNDAMENTAO TERICA
2.1Semitica
A Semitica um saber ou prtica muito antigo que surgiu com a funo de
estudar os modos de como o homem significa o que lhe rodeia. Embora a teoria tenha
seus precursores como, por exemplo, Plato e Santo Agostinho, somente no incio do
sculo XX, com os trabalhos paralelos de Ferdinand de Saussure e Charles Sanders
Peirce, que a semitica comea a adquirir o status de cincia.
Segundo Santaella, a Semitica tambm teve seu incio com filsofos como John
Locke (1632-1704) que, no seu Essay on human understanding, de 1690, postulou uma
doutrina dos signos com o nome de Semeiotik, e com Lambert (1728-1777) que,em
1764, foi um dos primeiros filsofos a escrever um tratado especfico intitulado
Semiotik.
Hnault (2006) diz que por meados da dcada de 1960, surgiram algumas
correntes que comearam a se impor dentro da academia. Segundo ele, em 1967, a
revista Information sur les sciences sociales inaugura uma coluna sobre pesquisas
semiticas. Hnault (2006: 8) refere que essa coluna foi aberta a todas as correntes da
Semitica. Pouco tempo depois, a coluna acaba desaparecendo da ento renomada
revista, transformando-se em uma revista intitulada Semitica, da mesma editora.
Com isso, a revista, transforma-se em uma tribuna para a filosofia semitica, onde
podiam ser expressas reflexes provenientes do mundo todo (2006: 8). Porm, essa
revista, ao mesmo tempo em que se tornou uma tribuna, no abriu quase nenhum espao
teoria semitica, que era construda atravs de um processo de acumulao de
conhecimento como as de origem moderna como, por exemplo, os trabalhos de
Saussure, em Paris e Genebra.
Segundo Volli (2007, p.13), a Semitica, atravs de seus aspectos de cincia
moderna, mostra que foi fundada duas vezes: primeiro, no final do sculo XIX, e logo
aps, no incio do sculo XX. Seus fundadores foram o linguista estruturalista, de
17
origem europia, Ferdinand de Saussure, que observava a Semitica como sendo a
disciplina-me e como parte da psicologia social (2007, p.13), e o filsofo de
origem americana, Charles Sanders Peirce, que, ao contrrio do estruturalista Saussure,
compreendia a Semitica como uma disciplina puramente filosfica, aparentada com a
lgica e a fenomenologia (2007, p.13).
Atravs disso, entendemos, segundo Volli (2007), que a Semitica foi construda
atravs de uma dupla alma que ainda hoje est presente. Uma delas compreendida
por duas principais correntes: estrutural ou gerativa. Essas correntes remetem-se ao
europeu Ferdinand de Saussure, por meio de outro linguista, o dinamarqus Louis
Hjelmslev, que o reinterpretou, e do semilogo Algirdas Julien Greimas, que recebeu
essa herana. A outra a de origem interpretativa, que foi desenvolvida atravs dos
trabalhos de Peirce e teve entre seus seguidores Umberto Eco.
Para muitos semioticistas, pode-se definir, brevemente, a Semitica como a
cincia dos signos e dos processos significativos (semiose) na natureza e na cultura.
Nesse sentido, Santaella (2005, p.XI) afirma:
Embora a semitica s tenha ficado conhecida como uma cincia dos
signos, da significao e da cultura, no sculo XX, a preocupao com
os problemas da linguagem j comearam no mundo grego. Fala-se,
por isso, em uma semitica implcita, que compreende todas as
investigaes sobre a natureza dos signos, da significao e da
comunicao, e uma semitica explcita, quando a cincia semitica
propriamente dita comeou a se desenvolver (...).
Santaella mostra a existncia de uma distino entre linguagem2 e Semitica. A
semioticista afirma que, dentro do sculo XX, viu-se nascer duas cincias da linguagem,
a Lingustica, que trata mais especificamente da linguagem verbal, e a Semitica, que
trata de toda e qualquer linguagem. Sendo assim, percebemos que a linguagem verbal
trata especificamente dos sons que veiculam conceitos. J a Semitica algo mais
2 Pode-se dizer que linguagem o objeto do saber, visado pela semitica geral (ou semiologia): no
sendo tal objeto definvel em si, mas apenas em funo dos mtodos e dos procedimentos que permitem
sua anlise e/ou sua construo, qualquer tentativa de definio da linguagem (como faculdade humana,
como funo social, como meio de comunicao, etc.). (2008, p.290).
18
amplo, pois se trata de uma enorme variedade de outras linguagens3, que se
constituem em sistemas sociais e histricos de representao do mundo.
Com isso, percebemos que Semitica uma cincia dos signos e dos processos
significativos na natureza e na cultura, independentemente das linguagens envolvidas.
evidente que nem todos os tericos aceitam essa definio, pois muitos preferem que ela
seja mais especfica, como o caso da escola de Greimas, que se recusa a definir
Semitica como teoria dos signos, defendendo-a, antes, como uma teoria da
significao, ou seja, da semiose.
Santaella mostra que a noo de signos para a Escola de Tartu4 (Moscou)
tambm, geralmente, didica. Porm, a escola no concentrava seu conceito central no
signo, mas no contexto em que ele era recebido, no s como fala lingustica, mas
tambm como fenmeno cultural. Alm da doutrina didica dessa escola, temos a noo
tridica, que vem de Peirce.
Charles Sanders Peirce (1839-1914), cientista, matemtico, historiador, filsofo
e lgico norte-americano, considerado o fundador da moderna Semitica, tambm,
criador do pragmatismo como mtodo para a determinao de significados, concebidos
como produtos realizveis. O filsofo mostra que essa doutrina metafsica no se prope
como filosofia, ou seja, um recurso para o pensamento filosfico.
Sua metodologia, como j foi dito, concebida sempre na relao tridica. Para
ele, todo o significado parte de uma hiptese, a que segue uma operao. Peirce constri
trs elementos lgicos que permitem a decifrao dos fenmenos, ou sua conceituao:
primeiridade, secundidade e terceiridade.
A primeiridade (nvel dos cones) uma qualidade sensitiva, ou sensao
percebida, pois se caracteriza por fenmenos singulares, o signo em si mesmo por mera
qualidade, um existente concreto, ou seja, signos que constroem uma analogia de
semelhana com a coisa representada. Portanto, compreendemos que esse seja o tipo de
signo mais fcil de ser reconhecido, tendo em vista que no seria necessrio fazer
qualquer trabalho especfico para identificar a imagem como, por exemplo, de um
automvel.
3 Quando dizemos outras linguagens, estamos nos referindo a linguagens como, por exemplo,
fotografia, ao cinema, aos meios de impresso grfica, ao rdio, TV, ou seja, todos os conjuntos de
signos que tenham significado para o leitor. 4 Lembramos que h pelo menos trs grandes teorias semiticas: uma que se elabora nos Estados Unidos e
se constitui em torno da obra de Charles Sanders Peirce; uma que se organiza na Frana e se constri a
partir da obra de Algirdas Julien Greimas; uma que se desenvolve na Rssia e se estabelece a partir da
obra de Iuri Lotman.
19
A secundidade (nvel dos ndices) a reao que o sujeito tem frente ao signo,
portanto, seria a resposta, uma relao de contiguidade e/ou causalidade com a coisa
representada. So indcios, pistas, vestgios que apontam para algo que no est
presente, mas representado. Um exemplo simples so, por exemplo, marcas de pneus no
cho, mostrando que houve uma travagem rpida.
J a terceridade (nvel dos smbolos) representa-se pelos signos que tm um grau
maior de complexidade, pois, eles, no detm qualquer tipo de analogia ou semelhana
com o objeto representado. Com isso, podemos dizer que sua relao com o real
extremamente cultural e arbitrria, pois para entender um smbolo, necessrio
aprender o que ele significa.
Nesse sentido, Peirce (2010, p.10) afirma:
Uma trade particularmente importante a seguinte: descobriu-se que
h trs tipos de signos indispensveis ao raciocnio; o primeiro signo
diagramtico ou cone, que ostenta uma semelhana ou analogia com
o sujeito do discurso; o segundo o ndice que, tal como um pronome
demonstrativo ou relativo, atrai a ateno para o objeto particular que
estamos visando sem descrev-lo; o terceiro (ou smbolo) o nome
geral ou descrio que significa seu objeto por meio de uma
associao de idias ou conexo habitual entre o nome e o carter
significado.
Delimitar e conceituar qualquer cincia sempre uma tarefa rdua e que, s
vezes, pode resultar em um trabalho sem xito. Sendo assim, fica difcil denominar a
Semitica como cincia dos signos. Na verdade, segundo Peruzzolo (2004, p.43),
embora exista uma dessemelhana nos modelos de anlise como, por exemplo,
Semitica da Cultura, da Significao, da Recepo, etc, existe sempre um ponto em
comum entre elas. Peruzzolo (2004, p.44) nos mostra que, na realidade, o que delimita o
campo da Semitica o estudo de qualquer fenmeno tomado como linguagem, a
criao e a anlise de sua constituio como linguagem, quer dizer, compreende as
aes de semiose que se conjugam no fenmeno.
20
2.2. Semitica da cultura
Eco desenvolveu sua teoria de semitica da cultura a partir de sua obra A
estrutura ausente, de 1968, em um momento em que se encontrava sob a influncia das
teorias da informao, da comunicao, da ciberntica e da semiologia estruturalista.
Para o escritor italiano, conforme Prola de Carvalho (2010, p.XIII), comunicao e
estrutura so palavras que funcionam como chaves que abrem as portas de uma
cultura que at ento era vista atravs de um processo de setorizao crescente. Eco
mostra que a Semitica preocupa-se com tudo o que pode ser tomado como signo,
sendo signo tudo aquilo visto como substituto significativo de outra coisa, portanto, seu
objeto de estudo o mundo como fato de cultura e como fatos de comunicao, isso
considerado como mensagens a serem desvendadas.
Para Eco, a Semitica se baseia no estudo de cdigos e um cdigo possui sua
prpria base em uma conveno cultural, ou seja, o estudo sgnico da cultura. Segundo
ele, no existe diferenas entre a Semitica e uma semitica da cultura, pois entende que
todos os fenmenos como, por exemplo, a arquitetura, a arte, a poesia, a literatura so
fenmenos culturais.
A necessidade de entender problemas de linguagem fez com que a semitica da
cultura j nascesse, no como uma teoria geral dos signos e das significaes, mas como
uma teoria de carter aplicado, voltada para o estudo das mediaes ocorridas entre
fenmenos diversificados.
Eco busca resumir de forma coerente o conhecimento semitico anterior,
procurando dissipar dvidas e unir ideias semelhantes expostas de formas diferentes,
introduzindo novos conceitos, relativamente, aos tipos de signos que considera existir, e
estabelecendo relaes correspondentes aos cones e s inferncias naturais, aos ndices
ou indcios de Peirce, e s equivalncias arbitrrias, conhecidas como smbolos na
concepo do filsofo norte-americano.
Dessa forma, Eco procura compreender quais so os aspectos mais relevantes
que atuam durante a atividade interpretativa dos leitores, observando os mecanismos
que engendram a cooperao interpretativa, ou seja, o "preenchimento" de sentido que o
leitor faz do texto, procurando, ao mesmo tempo, definir os limites interpretativos a
serem respeitados e os horizontes de expectativas gerados pelo prprio texto, em
confronto com o contexto em que se insere o leitor.
21
Pode-se dizer que Eco e Peirce compartilham de um mesmo ponto de vista.
Alegam que o juzo de um texto, por mais original que este possa ser, depende do
manejo da experincia prvia do leitor, portanto considerando sempre a experincia de
mundo que o sujeito traz consigo.
Peruzzolo (2004, p.43) relata que o semioticista Umberto Eco (1980), diz que a
semiologia estuda todos os fenmenos culturais como se fossem sistemas de signos (...)
na verdade todos os fenmenos de cultura so sistemas de signos, isto , fenmenos de
comunicao.
Segundo a proposta do semioticista italiano, o texto publicitrio contempla dois
registros, o verbal e o visual. Nesse sentido, Eco (2001, p.160) escreve:
Os cdigos publicitrios funcionam num duplo registro: a) verbal; b)
visual.
(...) o registro verbal tem a funo precpua de ancorar a mensagem,
porque freqentemente a comunicao visual se mostra ambgua e
conceptualizvel de modos diversos. (...) o texto realiza sua funo de ancoragem pondo, ele prprio, em ao vrios artifcios retricos.
Uma das finalidades de uma investigao retrica sobre a publicidade
ver como se cruzam as solues retricas nos dois registros. Pode,
de fato, verificar-se ou uma homologia de solues ou uma total
discordncia: com imagem de funo esttica e texto de funo
emotiva ou com imagem que procede por simples tropos enquanto que
o texto introduz lugares; ou com imagem de estrutura metafrica e
texto estrutura metonmia; ou com imagem que prope um lugar
argumentativo e texto que o contradiz; e assim por diante, atravs de
uma combinatria dificilmente codificvel de antemo.
Visualmente, a mensagem publicitria dividida em cinco nveis, sendo que os
trs primeiros tratam, de forma especfica, da imagem, e, os outros dois, da
argumentao. Desse modo, ele aponta o nvel icnico, construdo atravs dos dados
concretos do plano da denotao. Nesse sentido, explica Eco (2001, p.162):
a) nvel icnico: a codificao dos signos icnicos no pertencem ao
estudo retrico da publicidade, assim como no lhe pertence, no
registro verbal, o estudo de valores denotativos dos vrios termos
verbais. Podemos aceitar por princpio que certa configurao
represente um gato ou uma cadeira, sem nos perguntarmos o porqu
ou o como.
22
Alm disso, Eco (2001, p.162) relata que podemos considerar alguns tipos de
cones, relacionando-os com seu forte valor emotivo, e os denomina cones
gastronmicos, ou seja, aqueles que ocorrem quando uma qualidade de determinado
objeto (untuosidade de um molho, vio de uma pele feminina) em sua violenta
representatividade, estimula diretamente o nosso desejo ao invs de limitar-se a denotar
molho ou maciez.
O nvel iconogrfico articulado em torno das conotaes baseadas nas
convenes sociais estabelecidas, geralmente, pelos publicitrios e as mdias de massa.
Eco assim o define (2001, p.162):
b) nvel iconogrfico: temos dois tipos de codificao. Uma de tipo
histrico, que a comunicao publicitria usa configuraes que em termos de iconografia clssica remetem a significados convencionados
(....). A outra, de tipo publicitrio, onde, por exemplo, a condio de
manequim conotada por um modo particular de ficar de p coma as
pernas cruzadas. Isto , o costume publicitrio ps em circulao
iconogramas convencionados.
O nvel tropolgico composto pelas figuras da retrica clssica como, por
exemplo, metonmia, metfora, hiprbole etc., aplicadas comunicao visual. Eco
(2001, p.162) diz que este nvel
(...) compreende os equivalentes visuais dos tropos verbais. O tropo
pode ser inusual e assumir valor esttico, ou ento ser a exata traduo
visual da metfora sopitada e passada para uso corrente, tanto que
passa despercebida. Por outro lado, a linguagem publicitria
introduziu tropos tpicos da comunicao visual que dificilmente
podem ser reportados a tropos verbais pr-existentes. (...) Cabe, enfim,
observar que quase todas as imagens publicitrias visuais encarnam
uma figura retrica que a assume uma importncia predominante.
23
O nvel tpico construdo atravs das premissas e dos lugares argumentativos
do processo persuasivo. Assim, Eco (2001, p.164) esclarece que este nvel
(...) compreende tanto o setor das chamadas premissas como o dos
lugares argumentativos ou topoi, antigas rubricas gerais sob as quais
se reuniam grupos de argumentaes possveis. (...) Uma codificao
dos topos visuais poderia comportar a classificao das possveis
tradues visivas dos topos verbais; mas o que mais ostensivamente
emerge a uma primeira inspeo efetuada sobre a linguagem visual a
existncia de iconogramas que conotam de antemo um campo tpico,
isto , que evocam por conveno uma premissa ou blocos de
premissas de modo elptico, como se se tratasse de uma sigla
convencionada.
O nvel entimemtico construdo atravs das concluses desencadeadas na
argumentao. Dessa maneira, Eco (2001, p.165) explica que este nvel
(...) comportaria a articulao de autnticas argumentaes visuais.
(...) Nesse caso, os iconogramas em jogo, assim como evocam campos
tpicos, evocariam de hbito campos entimemticos, isto ,
subentenderiam argumentaes j convencionadas e reevocadas por
uma imagem suficientemente codificada.
Umberto Eco (2009, p.21) entende a cultura, por conseguinte, como fenmeno
semitico. Diz que considerar toda a cultura como uma questo semitica no significa
reduzir o conjunto da vida social a puros eventos mentais, mas respeitar a complexidade
da semiose. Afirma ainda (2009, p.21) que olhar a cultura na sua totalidade no
significa v-la enquanto comunicao e significao, pois a cultura, no mbito
complexo, no qual a percebemos, pode ser compreendida mais eficientemente, se
tomada sob um ponto de vista semitico. Pela sua lente, o funcionamento dos objetos,
dos comportamentos e dos valores est submetido a leis semiticas e isso que permite
ver toda a cultura do ponto de vista semitico, observando a maneira como os seres
humanos em sociedade significam sua vida e suas relaes.
24
2.3 Semitica, comunicao, publicidade e propaganda
Percebemos na atualidade que no existe mais a possibilidade de se pensar em
propaganda como fenmeno isolado. A propaganda faz parte de um panorama geral da
comunicao. Porm, o termo comunicao envolve uma esfera muito mais ampla,
servindo como condutor da informao. Essa informao conduzida atravs da palavra
falada, do sinal, do gesto, da imagem, da exibio, da impresso, do cinema, ou seja, de
todos os signos e smbolos por meio dos quais os humanos tratam de transmitir
significados e valores sociedade, de uma forma geral.
Importante aqui fazer referncia aos diferentes sentidos dos termos
propaganda e publicidade. O termo propaganda pode ser definido como o
conjunto de tcnicas utilizadas com o objetivo de divulgar conhecimentos e promover
adeso a princpios, ideias ou teorias. Propagandear exercer influncia sobre o
pblico, por meio de aes que objetivem promover determinado comportamento. Por
sua vez, o termo publicidade constitui o conjunto de tcnicas de marketing
empregadas com o objetivo de divulgar um produto, ou instituio, a fim de vend-lo ou
torn-lo aceito. um tipo de comunicao de carter persuasivo que tem como intuito
vender um bem de consumo, criar ou manter um mercado consumidor ou consolidar
uma imagem institucional.
Feita essa diferenciao, passemos para o que diz Santaella acerca da produo
bibliogrfica no Brasil e no exterior sobre a discusso das relaes entre Semitica e
comunicao. A autora afirma que essa produo escassa e isso pode ocorrer por se
tratarem de reas recentes de conhecimento, tendo em vista que s se desenvolveram
maciamente em meados do sculo XX. claro que a comunicao sempre existiu,
como podemos perceber atravs das descobertas de escritas de civilizaes j extintas,
mas no a esse tipo de comunicao a que nos referimos, ou seja, referimo-nos ao
nome especfico comunicao que designa uma rea de investigao autnoma.
25
O aparecimento e a expanso dos meios de massa transformaram essa rea em
um problema para ser pensado sob os mais diferentes ngulos. Nesse sentido, afirma
Frana (2002, p.41):
(...) bvio que os homens sempre se comunicaram, que os primeiros
agrupamentos humanos, aquilo que podemos intuir como o embrio
da vida social, apenas se constituram sobre a base das trocas
simblicas, da expressividade dos homens. bvio que a
comunicao processo social bsico de produo e partilhamento do sentido atravs da materializao de formas simblicas existiu desde sempre na histria dos homens, e no foi inventada pela imprensa,
pela TV, pela internet. A modernidade no descobriu a comunicao apenas a problematizou e complexificou seu desenvolvimento,
promovendo o surgimento de mltiplas formas e modulaes na sua
realizao.
Segundo Santaella, a relao entre os processos semiticos e a comunicao de
integrao em dilogo, o que constitui uma matriz do prprio processo da semiose,
como a produo de sentidos, e das interpretaes como formas de sustentao de
relaes e vnculos comunicativos. Conforme Ferrara (2008, p.186), podemos perceber
que, sem semiose no h semitica, sem dilogo e interao no h comunicao e, em
conseqncia, que sem semitica no h comunicao e, sobretudo, no h cognio
comunicativa atravs dos signos que a sustentam, ou seja, comunicao partilha,
portanto quer dizer que ao vivermos em uma sociedade, a comunicao sua
respirao. A comunicao tem a funo de disseminar as culturas. Os signos se
organizam e criam sentidos sempre no mbito de processos comunicacionais que, por
sua vez, inscrevem-se sempre dentro de outros cdigos e linguagens.
2.4 Alfabetizao semitica
Considerando que temos algum conhecimento sobre a situao da educao no
pas, e que, ao mesmo tempo, por termos um contato com essa realidade, no momento
do estgio obrigatrio que cumprimos no ltimo ano do Curso de Letras, verificamos
que a escola enfrenta seu maior desafio e sua maior crise: andar ao lado dos avanos
26
tecnolgicos da sociedade e conseguir modificar-se para tornar a sala de aula mais
atraente e dinmica. Com isso, imprescindvel redefinir o papel do professor, do leitor
e dos textos produzidos na escola.
Nosso trabalho no tem como foco as novas metodologias de ensino per se, mas
antes, quer verificar se os alunos/professores esto sendo formados de modo a
contemplar esse desafio. Por isso, consideramos importante verificar o grau de
proficincia de leitura de textos verbo-visuais que circulam e podem vir a circular nas
salas de aula da universidade, tendo em vista que trabalhos com essa modalidade de
textos so exigidos no momento do estgio obrigatrio do Curso de Letras. Essa
exigncia est ocorrendo dentro da academia devido s mudanas tecnolgicas
ocorridas nas ltimas dcadas, como j dito anteriormente, com a introduo de uma
cultura digital essencialmente sincrtica, na sociedade e no ensino.
Com isso, uma das principais preocupaes est fortemente ligada questo da
leitura, pois sabemos que a leitura de textos verbo-visuais hoje um tpico frequente
nas escolas, desde os anos iniciais, possibilitada em especial pela quase onipresena dos
computadores e da internet na vida cotidiana de importante parcela da populao. Essa
tendncia traz, no entanto, questes que podemos vincular com a chamada alfabetizao
semitica visual. Oliveira (2009, p.17) chama ateno para esse aspecto, dizendo:
Diante da complexa realidade social contempornea, a qual
disponibiliza todo o tipo de informao por meio dos mais variados
sistemas lingusticos e aparatos tecnolgicos, a escola necessita
formar um cidado capaz de interagir e se comunicar atravs de todos
os meios. Nesse contexto, uma linguagem constantemente utilizada
a visual. Ao situar a origem da linguagem visual na histria da arte,
tem-se a arte-educao como a principal responsvel pelo ensino dos
cdigos lingusticos visuais os quais constituem as imagens criadas e difundidas pelos diversos meios de comunicao.
Quando falamos de alfabetizao semitica (ou melhor, letramento semitico)
no estamos falando da definio de alfabetizao descrita como, por exemplo, no
dicionrio Houaiss, segundo o qual alfabetizar o ato ou efeito de ensinar as primeiras
letras. Trabalhamos com o sentido de alfabetizao semitica como sendo o ato de
ensinar a desvendar sentidos de qualquer tipo de signo.
27
Sendo assim, fica evidente a necessidade de a escola alfabetizar para alm do
sentido literal do termo, encontrado em dicionrios, pois, com isso, o indivduo somente
seria capaz de ler e compreender textos escritos, no dando importncia necessria para
as imagens e os signos que esto presentes em todos os lugares e meios de
comunicao. Portanto, se no ocorrer o processo de alfabetizar em um sentido mais
amplo, para alm do registro verbal, provavelmente, a escola estar formando cidados
incapazes de interagir e se comunicar eficazmente atravs de todos os meios de
informao.
Desse modo, uma das formas de essa alfabetizao ocorrer atravs da insero
do aluno/indivduo em diversas situaes de interao com diversas fontes e
modalidades de informao, para poder se engajar nas mais diversas prticas sociais,
aprendendo a observar, relacionar, comparar, abstrair, criticar, e, com isso, tornar-se
proficiente na leitura de textos verbo-visuais, que so os mais utilizados para a
disseminao de ideias, produtos e valores, nessa poca de cibercultura.
Em consonncia com isso, h hoje a tendncia a uma nova perspectiva terica
intitulada alfabetizao semitica. Segundo Andrade e Azevedo (2009, p.115), a
alfabetizao semitica ocorre porque a escrita est sofrendo um constante processo de
expanso e esse fato acontece porque consequncia da maneira como nossa cultura
est sendo constituda. Portanto, podemos entender nossa cultura como um grande texto
que se organiza atravs de diversos sistemas semiticos, interconectados, em constante
dilogo, por meio de um crescente processo de experimentao, transformao e
expanso. Isso mostra que a cultura algo vivo e que se modifica, exigindo dos sujeitos
novas habilidades, principalmente semitica.
Tem-se insistido ultimamente que o professor, antes de iniciar o processo de
ensino-aprendizagem da leitura de textos, verbais e verbo-visuais, dever diagnosticar a
competncia de percepo simblica e cognitiva de seus alunos, a fim de propor
atividades compatveis com o grau dessa competncia. Isso, naturalmente, torna
necessrio desenvolver mtodos de verificao e desenvolvimento dessa competncia.
Alm disso, podemos perceber tambm que os estudos semiticos vm trazendo
diversas contribuies tericas no que concerne explorao dos mais diferentes
cdigos e linguagens como auxiliares do processo de ensino/aprendizagem, no
somente na leitura dessas diversas linguagens e seus textos, como na preparao para o
exerccio da cidadania plena.
28
Segundo Peruzzolo (2004, p.13), todos ns nos alfabetizamos em todas as
coisas da cultura. O autor afirma:
Os comeos so sempre complicados, mas depois, com os exerccios e
com a prtica, isto , com a constituio de um ncleo de saberes (que
em Teoria da Comunicao se chama Repertrio), as aes e
movimentos se tornam fceis e, com freqncia, automticos. Foi
assim que aprendemos a caminhar, a bater numa bola, a dirigir um
carro, a ler um livro, a ver um filme.
Mas a grande questo : isso alfabetizar-se ou simplesmente repetir aes
propostas por outras pessoas? Na nossa concepo, alfabetizar significa dar condies e
subsdios para que o sujeito possa apreender o objeto e decodific-lo, dele captando
sentidos e a ele atribuindo sentidos. Aprender a ler no o mesmo que desenvolver
aptides fsicas como andar, mas aprender a inserir-se plenamente no mbito das
prticas sociais e das concomitantes semioses.
CAPTULO 3
3 METODOLOGIA
Neste captulo descrevemos o contexto de pesquisa e apresentamos os
procedimentos de coleta de dados, caracterizamos os sujeitos investigados e
explicitamos os critrios de anlise do corpus coletado.
3.1 Contexto de pesquisa
Como j foi dito, nossa pesquisa nasceu de um projeto de iniciao cientfica de
uma universidade federal do sul do pas. No momento do desenvolvimento desse
projeto, emergiram algumas questes que, por falta de tempo para centrarmos nelas
nossa ateno e por no ser, naquela ocasio, o objetivo do grupo de pesquisa de que
29
fazamos parte, ficaram causando inquietao. A proposta surgiu pelo constante
interesse do grupo em analisar como eram construdos os mtodos de persuaso
utilizados em textos publicitrios pela mdia impressa e/ou digital. Alm de interessar-
se pelo processo de persuaso, nosso grupo quis tambm saber como os leitores
desses textos verbo-visuais identificavam esse processo, ou seja, nossa curiosidade
tambm se deteve em saber como ocorria essa percepo, analisando tais textos de
acordo com a proposta de Umberto Eco que constitui a base terica deste trabalho.
No momento em que o projeto estava sendo desenvolvido, nosso grupo apenas
havia analisado interpretaes feitas por alunos de escolas de ensino fundamental e
mdio e como se desenvolvia esse processo de percepo. Porm, em muitas de nossas
reunies do projeto, ficava o questionamento acerca de como o processo ocorreria em se
tratando de alunos de ensino superior, especificamente de alunos de Letras, e se existiria
um crescimento de percepo desses textos verbo-visuais com o avanar do curso.
Sendo assim, resolvemos levar esses questionamentos para nosso curso de Ps-
Graduao, pois percebemos que esse seria o momento certo para investigarmos sobre
esse tema que esperava resposta desde o tempo da graduao. Com isso, selecionamos a
universidade em que iramos desenvolver esta pesquisa e a quantidade de indivduos, de
cada ano de curso, cujas leituras seriam investigadas.
Decidimos, ento, nossa escolha pelo curso de Letras-Portugus e por dois
sujeitos/alunos de cada um dos quatro anos do curso, na tentativa de verificar se iria se
registrar uma evoluo da compreenso de textos sincrticos ao longo do curso. A
habilitao em Portugus foi selecionada, porque tnhamos o interesse em pesquisar se
essa universidade estaria formando alunos dessa especificidade capazes de se tornarem
professores aptos a manusear textos verbo-visuais e a trabalhar, efetivamente, com essa
tipologia textual.
Logo em seguida, decidimos buscar em diferentes mdias como, por exemplo,
internet, revistas, jornais e televiso, os textos publicitrios que elegeramos para nosso
trabalho. Optamos por dois anncios da marca de cigarros Carlton de diferentes
dcadas, veiculados na mdia impressa. Um anncio foi publicado na dcada de 80 e o
outro na dcada de 90. Ambos os textos publicitrios foram escolhidos, por total
coincidncia, em edies da revista Claudia, da editora Abril.
A opo por esses textos publicitrios de diferentes dcadas levou em conta o
incio da campanha antitabagista. O Ministrio da Sade, no inicio da dcada de 1990,
exigiu algumas alteraes na forma de veicular a publicidade de cigarros. Uma das
30
exigncias foi a de colocar a advertncia de que o consumo de cigarro faz mal sade.
Outra constou da proibio de apresentar o cigarro em sua forma original.
3.2 Descrio dos procedimentos
Com a inteno de facilitarmos a compreenso acerca da metodologia utilizada para o
desenvolvimento da pesquisa, organizamos a exposio em oito etapas. Cada uma delas
descreve cada procedimento executado. Em alguns momentos, alguns trechos podem
parecer repetitivos, mas optamos por descrever detalhadamente todos os procedimentos,
tendo em vista que esta pesquisa teve que construir sua prpria metodologia e a no
compreenso dela poderia acarretar um no entendimento da proposta.
1 Etapa Nesta fase escolhemos a universidade em que queramos desenvolver a
pesquisa, o curso e a quantidade de sujeitos/alunos que seriam selecionados em cada
ano. Optamos por selecionar indivduos de todos os anos, na tentativa de verificar a
proficincia na leitura ao longo do curso. A opo por uma universidade pblica federal
do sul do pas foi feita tendo em vista o grande nmero que sujeitos/professores que
forma a cada ano que passa. Dentre as modalidades do Curso de Letras que a
universidade dispe em sua grade curricular, elegemos apenas sujeitos/alunos que
estavam cursando o Curso de Letras-Portugus, pois acreditamos que se houvesse uma
alternncia de sujeitos/alunos dos demais cursos de licenciaturas como, por exemplo,
Letras-Portugus/Ingls, Portugus/Espanhol, Portugus/Francs, isso poderia acarretar
uma mudana nos resultados que seriam obtidos, sendo capaz de prejudicar sua
consistncia, diante da possvel disparidade de perfis. Sendo assim, selecionamos dois
alunos de cada ano do curso, de uma mesma realidade scio-econmico-cultural, com
base no questionrio de perfil (Anexo 2).
2 Etapa Nesta fase verificamos os diversos anncios publicitrios veiculados na
mdia impressa, digital e televisiva. Aps pesquisarmos os anncios publicitrios
existentes, selecionamos dois anncios de um produto veiculado na mdia impressa:
Cigarros Carlton. Como j dito, essa escolha aconteceu pelo fato de ocorrer uma
31
modificao na veiculao desse produto, ou seja, o Ministrio da Sade exigiu que os
publicitrios alterassem a forma de veicular os anncios de todas as marcas de cigarros,
passando a obedecer a uma srie de regras. Elegemos anncios de diferentes dcadas,
pois assim os leitores poderiam evidenciar se percebiam ou no essas mudanas. Assim,
o primeiro anncio reproduz a carteira de cigarros e o outro, seguindo as novas regras,
no o faz.
Anncios publicitrio selecionados:
Figura 1: anncio veiculado na dcada de
80, na revista Cludia, editora Abril.
3 Etapa Aps a escolha dos anncios e da universidade, organizamos um
questionrio de sondagem, na tentativa de selecionar um grupo de uma mesma realidade
scio-econmico-cultural de maior acesso s mdias de massa 5 e aos meios de cultura.
Entendemos que essa tentativa tornou-se necessria, pois, do nosso ponto de vista,
sujeitos oriundos dessa realidade social produziriam uma leitura com maior
proficincia. Se os sujeitos fossem de realidades scio-econmico-cultural diferentes,
essa disparidade poderia interferir negativamente no resultado das leituras. Nesse
sentido, para traar um perfil com algum grau de homogeneidade, elaboramos o
seguinte questionrio de sondagem de perfil (ANEXO 2):
5 Tomamos como mdia de massa toda a forma de comunicao que est presente em nossa sociedade e
que formadora de opinio como, por exemplo, televiso, revistas, jornais, internet, redes sociais, etc. E
como meios de cultura, o teatro, o cinema, documentrios, etc.
Figura 2: anncio veiculado na
dcada de 90, na revista Cludia,
editora Abril.
32
Universidade Catlica de Pelotas UCPEL PPG LETRAS
Aluno: Rodrigo Nunes Feij
Orientador: Prof. Dr. Adail Sobral
Linha de pesquisa: Texto, Discurso e Relaes Sociais
Questionrio de sondagem6
1. Nome:
2. Idade:
3. Sexo:
4. Ano:
5. Qual a sua cidade natal?
6. Quantas pessoas moram em sua casa?
7. Qual o seu nvel de renda familiar?
8. Possui telefone celular?
9. Possui Internet Banda Larga?
10. Quanto tempo voc passa navegando na internet?
11. Tem acesso a cinema?
12. Com que frequncia voc vai ao cinema?
13. Qual o gnero de filme preferido?
14. Tem acesso a teatro?
15. Possui televiso a cabo?
16. Que tipo de programao de televiso voc assiste?
17. Quanto tempo voc passa assistindo televiso?
18. Na sua casa h computador? Quantos?
19. Voc estudou em escola pblica ou particular?
20. Voc fala ou compreende alguma lngua estrangeira? Qual?
21. Voc l revistas? Quais?
22. Voc l jornais? Quais?
23. Qual o contedo que voc normalmente acessa na internet?
24. Quando voc v anncios impressos ou digitais voc l?
4 Etapa Elaborado o questionrio de sondagem, aplicamo-lo ao um total de 115
alunos dos quatro anos do curso de Letras-Portugus: dezenove alunos do primeiro ano,
trinta alunos do segundo ano, trinta e quatro alunos do terceiro ano e trinta e um alunos
6 Este questionrio foi elaborado sob a orientao do Prof. Dr. Adail Sobral.
33
do quarto ano. Esses nmeros referem-se aos alunos que estavam presentes no momento
da pesquisa. Aps isso, analisamos mais detidamente os seguintes itens para fins de
seleo dos sujeitos: idade, salrio familiar, condies de acesso internet, tempo de
navegao na internet, condies de acesso televiso paga, tempo despendido em
frente televiso, frequncia escola pblica ou particular, contato com lngua
estrangeira. Esses dados foram considerados porque acreditamos que, ao arrol-los,
poderamos selecionar para a pesquisa sujeitos scio-econmico-culturais iguais ou
aproximados. Aps a aplicao do questionrio de sondagem7, selecionamos dois
sujeitos de cada ano do Curso de Letras, a partir da seguinte classificao, alcanada
pela anlise das respostas dadas s perguntas do instrumento de investigao:
1- Contato com as diversas mdias utilizadas (jornal, revista, televiso,
internet, teatro e cinema).
Acreditamos que esse seja o mais importante item a ser considerado, pois
esses meios de comunicao de massa so os principais formadores de
opinio e promotores da proficincia.
2- Tempo despendido frente s mdias mencionadas.
Pressupomos que o tempo despendido diante dessas mdias influencie a
capacidade de percepo dos sujeitos interpretantes.
3- Alunos oriundos de escola pblica.
Item tambm importante por crermos que sujeitos oriundos de ensino
particular teriam um ensino de qualidade superior ao dos sujeitos
provenientes de escolas pblicas, e esse seria um ponto que poderia
alterar o resultado das anlises feitas.
4- Contato com lnguas estrangeiras.
7 Ao elaborarmos o questionrio de sondagem scio-econmico-cultural, acreditvamos que itens como
sexo, idade e cidade natal poderiam criar uma alternncia nas anlises fornecidas pelos sujeitos. Porm,
ao verificarmos os textos produzidos por eles, observamos que esses itens no foram relevantes no
resultado das anlises, por isso, no foram tomados como critrios de excluso para selecionarmos os
sujeitos.
34
Condio importante por entendermos que, se um sujeito tiver contato
com diferentes lnguas e suas respectivas culturas, provvel que tenha
um olhar mais agudo sobre os textos a que estiver exposto.
5 Etapa Aps a seleo dos sujeitos, atravs do questionrio de sondagem,
apresentamos os anncios a serem analisados, em multimdia e individualmente, bem
como o questionrio de obteno de dados. Os textos publicitrios foram mostrados
individualmente por acreditarmos que, se colocssemos todos os sujeitos em uma
mesma sala, haveria o risco de se comunicarem entre si, o que poderia influenciar o
resultado da leitura de cada sujeito.
6 Etapa De posse do questionrio de interpretao j respondido pelos sujeitos-alvo,
verificamos, de acordo com o modelo de anlise publicitria eleito, se os alunos
conseguiram atingir todos os nveis propostos por Umberto Eco e se fizeram referncia
a alguma atividade desenvolvida no decorrer do curso de Letras que os tenha auxiliado a
analisarem textos verbo-visuais.
7 Etapa Neste momento, aps as anlises feitas pelos sujeitos-alvo, descrevemos os
resultados obtidos e as concluses a que chegamos, referentes s leituras. Para efeito de
clareza, optamos por expor os resultados em grficos. Esses grficos visam a mostrar
em que medida os sujeitos atingiram os nveis propostos por Eco na leitura de cada
texto publicitrio utilizado. Ao indicarmos no grfico o alcance dos nveis pelos
sujeitos, trazemos, tambm, as respostas dadas ao questionrio, com a finalidade de
demonstrarmos de que forma os leitores os atingiram.
8 Etapa Ao final da anlise dos resultados das dezesseis leituras realizadas,
procedemos concluso da pesquisa.
3.3 Caracterizao dos sujeitos
Como j dito, os sujeitos investigados foram selecionados a partir de um
questionrio de sondagem scio-econmico-cultural que teve a finalidade de
caracteriz-los. evidente que a equiparao dos dados scios-econmicos-culturais
dos sujeitos uma tentativa de os igualarmos, mas isso uma questo subjetiva, pois
35
nem sempre os integrantes de uma mesma classe econmica exercem as mesmas
atividades.
Assim, selecionamos dois sujeitos em cada ano do Curso de Letras-Portugus, atravs
do questionrio de sondagem. No questionrio, elaboramos vinte e quatro questes.
Nesse sentido, demonstramos as questes elaboradas com suas respectivas finalidades:
(ANEXO 2)
Universidade Catlica de Pelotas UCPEL PPG LETRAS
Aluno: Rodrigo Nunes Feij
Orientador: Prof. Dr. Adail Sobral
Linha de pesquisa: Texto, Discurso e Relaes Sociais
Questionrio de sondagem
1. Nome:
2. Idade:
3. Sexo:
4. Ano:
5. Qual a sua cidade natal?
6. Quantas pessoas moram em sua casa?
7. Qual o seu nvel de renda familiar?
8. Possui telefone celular?
9. Possui Internet Banda Larga?
10. Quanto tempo voc passa navegando na internet?
11. Tem acesso a cinema?
12. Com que frequncia voc vai ao cinema?
13. Qual o gnero de filme preferido?
14. Tem acesso a teatro?
15. Possui televiso a cabo?
16. Que tipo de programao de televiso voc assiste?
17. Quanto tempo voc passa assistindo televiso?
18. Na sua casa h computador? Quantos?
19. Voc estudou em escola pblica ou particular?
20. Voc fala ou compreende alguma lngua estrangeira? Qual?
21. Voc l revistas? Quais?
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22. Voc l jornais? Quais?
23. Qual o contedo que voc normalmente acessa na internet?
24. Quando voc v anncios impressos ou digitais voc l?
As questes de um a cinco tratam basicamente da caracterizao individual dos
sujeitos investigados. Nas questes de seis a nove, comeamos a levantar a situao
econmica dos envolvidos, pois, ao questionarmos o salrio familiar e a quantidade de
pessoas que constituem a famlia, conseguiramos verificar em linhas gerais a classe
social em que eles se inseriam. As questes de dez a vinte e quatro tratam da
investigao do perfil cultural. Quando questionamos se o sujeito possui internet banda
larga, foi com a finalidade de constatarmos se ele estava em contato permanente com o
mundo virtual, tendo em vista a recorrncia de textos sincrticos em todos os sites que
so acessados. O mesmo ocorreu quando indagamos sobre o acesso televiso paga,
pois nessa modalidade, alm de estar disponvel uma quantidade maior de canais, o
sujeito fica em contato com anncios publicitrios e textos sincrticos de diversos locais
do mundo e de diversos produtos. Isso tambm ocorreu quando perguntamos sobre a
leitura de revistas e jornais, pois esses tambm so meios de divulgao de mensagens
publicitrias.
Ao buscarmos informaes sobre o tipo de instituio pblica ou privada na
qual se deu a formao do individuo, foi com a inteno de verificarmos a qualidade do
ensino ao qual esteve exposto. O mesmo ocorreu quando questionamos sobre o contato
com alguma lngua estrangeira, pois partimos do pressuposto de que esse seria tambm
um fator de alternncia na interpretao dos anncios expostos.
Desse modo, tivemos um total de dezesseis textos selecionados. Embora, entre
os sujeitos, o sexo e a idade se diferenciem, no houve nenhuma particularidade
relevante que justificasse a manuteno dessa diviso. Por isso, em nossa pesquisa,
chegamos concluso de que essa diviso seria absolutamente desnecessria e intil.
Ainda que a idade no tenha sido um ponto que fosse evidenciado, entendemos ser
importante mencionar que a idade entre os sujeitos-alvo desta pesquisa no varia mais
do que cinco anos. Essa variao ocorreu porque buscamos alunos dos quatro anos do
curso e por isso, obrigatoriamente, eles teriam idades diferentes.
37
3.4 Critrios de anlise
Tambm no caso das perguntas feitas para obteno de leituras, preciso levar
em conta a especificidade de cada uma. Sendo assim, explicaremos a seguir o objetivo
de cada questo aplicada aos sujeitos atravs do questionrio de obteno de dados.
Esse questionrio foi elaborado com o intuito de facilitar a leitura dos sujeitos, sem que
eles percebessem nossa inteno, mas fossem orientados para os elementos que so o
foco de nosso interesse.
Vejamos o questionrio (ANEXO 3):
Universidade Catlica de Pelotas UCPEL PPG LETRAS
Aluno: Rodrigo Nunes Feij
Orientador: Prof. Dr. Adail Sobral
Linha de pesquisa: Texto, Discurso e Relaes Sociais
Questionrio de obteno de dados8
1. Quando v anncios impressos como os dois acima, o que lhe chama
imediatamente a ateno?
2. Explique por que voc acha que isso acontece.
3. Voc acha que existe uma relao entre a imagem e o texto escrito? Qual?
4. O texto escrito ajuda a compreender a imagem? Sim ( ) No ( ) Por qu?
5. A imagem auxilia a compreenso do texto escrito? Sim ( ) No ( ) Por qu?
6. O que a imagem lhe sugere?
7. Algum o ensinou a ver imagens assim? Como?
8. O que voc acha que o ajuda mais a entender o anncio? Explique.
9. O que voc acha que o levaria a aceitar a proposta feita pelo anncio?
10. A que concluso voc acha que o anncio o levou? Explique.
8 Questionrio elaborado sob a orientao do Prof. Dr. Adail Sobral.
Anncio publicitrio veiculado
na dcada de 90. Anncio publicitrio veiculado na
dcada de 80.
38
A primeira pergunta (Quando v anncios impressos como os dois acima, o que
lhe chama imediatamente a ateno?) direcionou o leitor a enumerar os elementos
concretamente visveis no texto publicitrio, percepo que poderia lev-lo a atingir o
nvel icnico. A segunda pergunta (Explique por que voc acha que isso acontece.)
visou a constatar se o leitor conseguiria abstrair sentidos a partir das concretudes
anteriormente observadas, ao que o levaria a atingir o nvel iconogrfico.
A sexta pergunta9 (O que a imagem lhe sugere?) induziu o sujeito leitor a
estabelecer comparaes entre imagem e pensamento, o que efetivamente o conduziria a
construir relaes metafricas, ou seja, a alcanar o nvel tropolgico. As questes nove
(O que voc acha que o levaria a aceitar a proposta feita pelo anncio?) e dez (A que
concluso voc acha que o anncio o levou? Explique.) desencadeariam o pensamento
lgico-dedutivo sob forma de premissas, raciocnios que permitiriam ao leitor atingir os
nveis tpico e entimemtico.
A respeito das questes trs (Voc acha que existe uma relao entre a imagem e
o texto escrito Qual?), quatro (O texto escrito ajuda a compreender a imagem? Sim ( )
No ( ) Por qu? ), cinco (A imagem auxilia a compreenso do texto escrito? Sim ( )
No ( ) Por qu?) e oito (O que voc acha que o levaria a aceitar a proposta feita pelo
anncio?), objetivamos verificar se o aluno perceberia a relao entre o verbal e o visual
com ancoragem, ou seja, um registro complementando o outro, de modo a possibilitar
que expressasse que um no pode ser entendido sem o outro, pois a informao seria
incompleta e/ou vaga.
Com referncia questo sete (Algum o ensinou a ver imagem assim? Como?),
nossa inteno foi a de verificar se o Curso de Letras oferece instrumentos que
disponibilizem contato com aparato terico prprio para que se treine a habilidade de ler
textos sincrticos.
Entendemos que, a fim de estabelecer critrios para a avaliao das interpretaes
dos sujeitos investigados, seria necessria a leitura prvia do pesquisador. Essa leitura
realizou-se, pois, com intuito de que se constitusse como parmetro para a anlise das
leituras dos alunos.
Assim, em se tratando do anncio publicitrio da dcada de 80, efetivou-se a
expectativa de leitura a seguir:
9 No seguimos aqui a ordem numrica das perguntas porque as organizamos em termos de seus
objetivos.
39
Anncio publicitrio da dcada de 80
Registro Verbal
Alm da identificao grfica da marca Carlton na carteira de cigarros, podemos
perceber, ainda, os signos lingusticos que esto presentes nas lombadas dos livros,
embora sejam legveis apenas os de um dos livros vermelhos, no qual est escrito
Galerias da Europa. A expresso smbolo de distino aparece fora da carteira de
cigarros, porm logo ao lado da marca Carlton, funcionando, sintaticamente, como
aposto ou como predicativo, dependendo de como o leitor preenche os elementos
lacunares.
Registro Visual
Nvel Icnico
Em primeiro plano, est a carteira-box dos cigarros Carlton, na sua tradicional
embalagem branca e vermelha. Logo atrs, h livros deitados, com encadernao de
capa dura, letras douradas, sendo trs vermelhos e um verde. Ainda, num plano
posterior, h um livro aberto mostrando a reproduo de uma pintura em que aparecem
personagens nobres, rei e rainha. Uma cortina vermelha pode ser vista num ltimo
plano.
40
Nvel Iconogrfico
As imagens que aparecem remetem a cultura e nobreza.
Nvel Tropolgico
Metaforicamente, nessa perspectiva, o hbito de fumar revela requinte, cultura, e
alto poder econmico.
Nvel Tpico
Todas as pessoas que so cultas, que tm bom gosto, que tm bom poder
aquisitivo fumam Carlton.
Nvel Entimemtico
Eu quero parecer essa pessoa chic, inteligente, culta e de bom gosto, portanto,
tambm irei fumar Carlton.
Da mesma forma, quanto ao anncio publicitrio da dcada de 90, efetivou-se a
leitura a seguir:
Anncio publicitrio da dcada de 90
41
Registro Verbal
Na parte superior da folha da revista, aparece o enunciado: CARLTON. UM
RARO PRAZER. E na parte inferior esquerda, dentro de um retngulo, a advertncia
do Ministrio da Sade:
O MINISTRIO DA SADE ADVERTE: EVITE FUMAR NA
PRESENA DE CRIANAS.
Registro Visual
Nvel Icnico
Em primeiro plano, sobre um fundo branco, aparece um conjunto de pires e
xcara de porcelana branca. A xcara contm um ch de cor vermelho-alaranjada. Da
borda da xcara pende um cordo onde, presumivelmente, est o que pode ser entendido
como uma etiqueta vermelha do sachet de ch. Essa etiqueta remete ao logotipo da
marca de cigarro Carlton.
Nvel Iconogrfico
A imagem que aparece remete idia de requinte, finesse, hbito elegante.
Nvel Tropolgico
A xcara de ch , metaforicamente, um cigarro, com a brasa acesa na ponta. A
ideia de calor, de fogo, fica pressuposta pela evocao de sensao trmica advinda do
ch e da cor vermelha.
Essa imagem ativa na lembrana o refinado hbito da elite inglesa de tomar ch
s cinco da tarde, possibilitando a associao de que fumar Carlton um ato de
requinte.
42
Nvel Tpico
Todas as pessoas que so chics, finas, elegantes, que tm hbitos requintados,
fumam Carlton.
Nvel Entimemtico
Eu quero parecer essa pessoa chic, fina, elegante e requintada, portanto, tambm
irei fumar Carlton.
Tendo essas leituras como parmetros para as interpretaes dos alunos,
aplicamos o questionrio referente s questes de anlise dos anncios publicitrios.
Acreditamos que seja necessrio mencionar que os anncios publicitrios da
marca de cigarros Carlton so, teoricamente, destinados a pessoas de maior poder
aquisitivo, uma vez que se trata de um dos cigarros mais caros venda no pas. Esse
aspecto importante citar, pois os sujeitos investigados fazem parte de uma realidade
econmica privilegiada, o que, acreditamos, seja um ponto facilitador para a anlise,
considerando que, em tese, pessoas abonadas tm maior acesso ao saber e cultura.
Tendo como ponto de vista o modelo proposto em nveis pelo semioticista
Umberto Eco, passemos ao exame das respostas dadas pelos sujeitos selecionados ao
questionrio de obteno de dados, nos termos da anlise prvia do corpus.
43
CAPTULO 4
4 RESULTADOS E DISCUSSO
Apresentamos aqui os resultados obtidos no questionrio aplicado aos sujeitos
para orientar a leitura dos anncios, ao lado das discusses sobre as leituras realizadas
pelos sujeitos.
4.1 DADOS OBTIDOS
4.1.1 SUJEITO 1
1 ano Sujeito 110 Dcada de 80
Uma vez estabelecido que o alcance da leitura do nvel icnico seria considerado
pela descrio dos elementos imagticos explcitos concretamente no texto, foi possvel
constatar que o Sujeito 1, no na resposta primeira pergunta, mas, ao responder
10
Grfico 1 construdo a partir da leitura do Sujeito 1, referente ao anncio da dcada de 80.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Grfico 1: Sujeito 1 - 1 ano
Innico
Iconogrfico
Tropolgico
Tpico
Entimemtico
44
pergunta de nmero trs, alcana timidamente o nvel icnico, descrevendo apenas um
cone da cena imagtica:
3. Voc acha que existe uma relao entre a imagem e o texto escrito?
Qual?11
Sim, na charge 1 os livros so smbolos de pessoa intelectual e
distinta j 2 raro pessoas que ainda bebam ch da a raridade ser
compara com esse hbito.
medida que analisamos as respostas, fazemos reflexes. Nessa perspectiva,
importante assinalar que no podemos ter como expectativa que todos os sujeitos
tenham a mesma pr-concepo do real, a ponto de perceber e compreender o
significado dos signos da mesma forma. As leituras so frutos de uma percepo e de
uma compreenso subjetiva e singular, pois a manifestao textual em exame
resultado da interao de signos comuns com um referente percebido subjetivamente
por cada leitor.
O olhar do aluno o olhar de um sujeito constitudo por uma histria social e
cultural que est inserido em um espao-histrico e imerso em uma subjetivao
particular. Da, chama a ateno a troca de gnero textual feita pelo aluno, pois, ao se
reportar imagem publicitria, o Sujeito 1 classificou-a como charge. Acreditamos que
isso tenha ocorrido por influncia bsica de dois fatores.
Um dos fatores seria o conhecimento de mundo do sujeito, pois, embora, todos
tenham uma mesma realidade scio-econmica-cultural, como j foi afirmado em
momento anterior, acreditamos que cada sujeito tenha preferncia por determinados
gneros textuais, e, com esses gneros tenha mais contato. O outro poderia ser apontado
pelo fato de esse sujeito estar ainda no primeiro ano do Curso de Letras, ainda com
pequena experincia na identificao de diferentes gneros textuais.
11
Todas as respostas obtidas a partir dos sujeitos esto transcritas na integra.
45
Embora a questo cinco trate do sincretismo entre o registro verbal e o registro
visual, atravs da resposta dada a essa pergunta, o Sujeito 1 consegue atingir o nvel
iconogrfico, como podemos constatar na transcrio abaixo12
:
5. A imagem auxilia a compreenso do texto escrito? Sim (x) No ( )
Por qu?
Por que utiliza de algo considerado como smbolo do intelectual13
,
utiliza-se da distino os livros e da raridade da xcara de ch.
Esta significao percebida atravs dos signos da imagem no caso, os livros
e de como esses signos esto inseridos na cena visual. Os signos denotados so
analgicos, e, ao serem percebidos e identificados levam a um nvel de decodificao
pelo valor simblico que tm e pelo contexto em que esto inseridos na cena.
Na questo 6, o Sujeito 1 atinge o nvel tropolgico, conforme atesta com a
resposta dada:
6. O que a imagem lhe sugere?
Que fumar to prazeroso que ler ou beber um ch.
O leitor demonstra como a imagem produz sentido para a sua leitura. Signos
imagticos, como xcara de ch metaforizando cigarro e livros metonimizando leitura, e
verbais, como distino e prazer, complementam-se para direcionar a leitura do texto.
So dois tipos de linguagem percebidos num mesmo sistema e propiciando uma leitura.
12
As transcries das respostas repetem-se durante a anlise, pois os sujeitos, ao darem as respostas, no
separam as leituras das duas imagens publicitrias. Portanto, acreditamos que no seria conveniente o
recorte das respostas, pois isso poderia alterar a interpretao do pesquisador, tendo em vista, que, para a
Semitica, a palavra-chave relao e tudo o que est no texto, no est por mero acaso, pois tem um significado e sentido. Com isso, as respostas e as questes iro se repetir, pois colocaremos as mesmas na
medida em que iremos analisar os demais nveis atingidos pelo sujeito. 13
Para efeito de clareza, utilizamos destaques marcados com sublinhas e negritos. Isso vale para todas as
transcries realizadas.
46
1 ano Sujeito 114 Dcada 90
A forma como o Sujeito 1 atingiu os trs nveis icnico, iconogrfico e
tropolgico ocorreu do mesmo modo, ou seja, ele os atingiu nas respostas das mesmas
questes. Em relao ao nvel icnico, ele demonstra esse alcance com a seguinte
descrio:
3. Voc acha que existe uma relao entre a imagem e o texto escrito?
Qual?15
Sim, na charge 1 os livros so smbolos de pessoa intelectual e
distinta j 2 raro pessoas que ainda bebam ch da a raridade ser
compara com esse hbito.
14
Grfico 2 construdo atravs da leitura do Sujeito 1, referente ao anncio da dcada de 90. 15
Embora a resposta da questo cinco esteja relacionada leitura das duas imagens publicitrias,
acreditamos que no seria conveniente o recorte da resposta, pois isso poderia alterar a interpretao do
pesquisador, tendo em vista, que, para a Semitica, tudo que est dentro do texto tem um sentido e um
significado, portanto, no est por mero acaso. Com isso, as respostas e as questes iro se repetir, pois
colocaremos as mesmas na medida em que iremos analisar os demais nveis atingidos pelo sujeito.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Grfico 2: Sujeito 1 - 1 ano
Icnico
Iconogrfico
Tropolgico
Tpico
Entimemtio
47
Compreendemos, dessa forma, que o Sujeito 1 apenas identifica, no anncio
publicitrio de 1990, o lquido contido na xcara. O fato de esse sujeito negar o hbito
de as pessoas de hoje tomarem ch revela o seu nvel de entendimento desse costume,
ou seja, entendemos que tomar ch, para ele, signifique ingerir medicamento. Ele
demonstra compreender que o hbito de tomar ch algo raro, porm parece evidenciar
o entendimento desse raro como dmod e no como sofisticado.
Essa percepo, como outras que j vimos, mostra que cada interpretao
individual e subjetiva, pois os sujeitos trazem consigo seu conhecimento prvio de
mundo, que, quase sempre, modifica a maneira como ele apreende e l o que lhe rodeia.
O Sujeito 1 atinge parcialmente o nvel iconogrfico, tendo um entendimento
limitado da proposta do texto, conforme a transcrio a seguir:
5. A imagem auxilia a compreenso do texto escrito? Sim (x) No ( )
Por qu?
Por que utiliza de algo considerado como smbolo do intelectual,
utiliza-se da distino os livros e da raridade da xcara de ch.
A interpretao do aluno o resultado da interao de signos que so comuns e
possuem um mesmo referente que percebido pelos diferentes leitores. Nessa
perspectiva, verifica-se que o Sujeito1 no consegue perceber a ideia de raridade como
privilgio de poucas e selecionadas pessoas que fumam Carlton associada ideia do
hbito comum de pessoas requintadas tomarem ch.
Com referncia ao nvel tropolgico, podemos compreender que o Sujeito 1 o
atinge atravs dessa transcrio:
6. O que a imagem lhe sugere?
Que fumar to prazeroso que ler ou beber um ch.
Compreendemos que o Sujeito 1 consegue evidenciar, atravs dos itens expostos
na imagem publicitria, como produz sentido em sua leitura, os signos imagticos,
como a xcara de ch metaforizando cigarro.
48
4.1.2 SUJEITO 2
1 ano Sujeito 216 Dcada de 80
Conforme j mencionado, elaboramos a questo de nmero um para verificar se
o sujeito atinge o nvel icnico. O Sujeito 2, em sua anlise, no estabelece uma
resposta para os dois textos publicitrios, ou seja, a cada questo respondida, ele
enumera cada cena imagtica e elabora respostas individuais, conforme segue:
1. Quando v anncios impressos como os dois acima, o que lhe
chama imediatamente a ateno?
1) O livro (as imagens).
2)A xcara.
O primeiro passo que geralmente o sujeito faz para a leitura de uma imagem a
descrio dos signos da cena. A percepo dos signos neste primeiro nvel interpretativo
determina a direo do sentido a ser construdo para a compreenso da mensagem. A
16
Grfico 3 construdo atravs da leitura do Sujeito 2, referente ao anncio da dcada de 80.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Grfico 3: Sujeito 2 - 1 ano
Icnico
Iconogrfico
Tropolgico
Tpico
Entimemtio
49
transcrio permite ver que o Sujeito 2 descreve os signos que, provavelmente, lhe
paream mais salientes.
Perceber o nvel icnico captar a primeira mensagem vinda da relao do
significante com seu significado, alcanar um primeiro grau do inteligvel.
Segundo Barthes (1990, p.35), por quem Eco foi notadamente influenciado:
(...) antes deste grau teramos apenas uma percepo de linhas traos
e alm deste grau () quem quer que seja, oriundo de uma sociedade real, dispe sempre de um saber superior ao saber antropolgico ().
Quanto ao anncio dos anos 80, o Sujeito 2 evidencia apenas perceber um livro
entre todos os demais signos imagticos presentes na cena. A partir da, esse sujeito,
atravs de sua leitura subjetiva e individual, consegue atingir o nvel iconogrfico. Isso
fica evidente na transcrio que segue:
1. Explique porque voc acha que isso acontece.
1) A imagem no livro remete a uma epoca historica.
2) A beleza.
Os ndices livros e xcara