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TEXTO 01 - TEXTO BÁSICO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Texto de João Luís de Abreu Vieira A Educação é a base para o desenvolvimento de um país, pois através dela as pessoas têm subsídios para exigir seus direitos e cumprir os seus deveres, ou seja, as pessoas têm condições de desempenhar o seu papel de cidadão. É a participação cidadã que surge como "mola-mestra" na solução dos problemas ambientais e na proposta de conviver em sociedade e com a natureza. E a participação pode se dar nos mais diversos níveis: no caso da participação em relação à resolução dos problemas ambientais, ela é a principal das profundas transformações que estão ocorrendo para assegurar a convivência democrática, sustentável e harmônica dos seres humanos entre si e com o ambiente. Nesse processo, a Educação Ambiental entra não somente como uma passagem de informações - como ocorre geralmente com a Educação Tradicional - mas também na aplicação dessas informações como forma de mudança de comportamentos e atitudes em relação aos problemas ambientais. E quem já aprendeu - o Educador Ambiental - pode partilhar com quem apenas inicia esta jornada - os alunos - que serão transmissores desses conhecimentos aos seus pais, vizinhos, amigos, enfim, como se fosse através de uma corrente, pois, ao contrário do que Paulo Freire decidiu chamar de "Educação Bancária", caracterizada pelo acúmulo de informações "pré-fabricadas" sem conexão com o potencial de "evocação" existente em qualquer aprendizagem, a Educação Ambiental se baseia na premissa de que é na reflexão sobre a ação individual e coletiva em relação ao meio ambiente que se dá o processo de aprendizagem. Ou seja, ela vem da emergência de uma percepção renovada de mundo chamada de holística. Em outras palavras, é uma forma íntegra de ler a realidade e atuar sobre ela através de uma visão de mundo como um todo, não podendo ser reduzida só a um departamento, uma disciplina ou programa específico. Daí a necessidade de ligar ações multi e interdisciplinares à Educação Ambiental - contando com a ajuda de profissionais ligados à área da Educação como também a Biologia, Artes, Ecologia, Geografia, História, Matemática, Português, enfim, todos aqueles que trabalham como professores das disciplinas básicas nas escolas de primeiro e segundo graus, sendo disseminadores desses conhecimentos que serão inseridos na vida cotidiana de todos os indivíduos. A Educação Ambiental é uma proposta de filosofia de vida que resgata valores éticos, estéticos, democráticos e humanistas. Ela parte de um princípio de respeito pela diversidade natural e cultural, que inclui a especificidade de classe, etnia e gênero, defendendo, também, a descentralização em todos os níveis e a distribuição social do poder, como o acesso à informação e ao conhecimento. A Educação Ambiental visa modificar as relações entre a sociedade e a Natureza, a fim de melhorar a qualidade de vida, propondo a transformação do sistema produtivo e do consumismo em uma sociedade baseada na solidariedade, afetividade

Textos diversos

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TEXTO 01 - TEXTO BÁSICO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Texto de João Luís de Abreu Vieira

A Educação é a base para o desenvolvimento de um país, pois através dela as pessoas têm subsídios para exigir seus direitos e cumprir os seus deveres, ou seja, as pessoas têm condições de desempenhar o seu papel de cidadão. É a participação cidadã que surge como "mola-mestra" na solução dos problemas ambientais e na proposta de conviver em sociedade e com a natureza. E a participação pode se dar nos mais diversos níveis: no caso da participação em relação à resolução dos problemas ambientais, ela é a principal das profundas transformações que estão ocorrendo para assegurar a convivência democrática, sustentável e harmônica dos seres humanos entre si e com o ambiente.

Nesse processo, a Educação Ambiental entra não somente como uma passagem de informações - como ocorre geralmente com a Educação Tradicional - mas também na aplicação dessas informações como forma de mudança de comportamentos e atitudes em relação aos problemas ambientais. E quem já aprendeu - o Educador Ambiental - pode partilhar com quem apenas inicia esta jornada - os alunos - que serão transmissores desses conhecimentos aos seus pais, vizinhos, amigos, enfim, como se fosse através de uma corrente, pois, ao contrário do que Paulo Freire decidiu chamar de "Educação Bancária", caracterizada pelo acúmulo de informações "pré-fabricadas" sem conexão com o potencial de "evocação" existente em qualquer aprendizagem, a Educação Ambiental se baseia na premissa de que é na reflexão sobre a ação individual e coletiva em relação ao meio ambiente que se dá o processo de aprendizagem. Ou seja, ela vem da emergência de uma percepção renovada de mundo chamada de holística. Em outras palavras, é uma forma íntegra de ler a realidade e atuar sobre ela através de uma visão de mundo como um todo, não podendo ser reduzida só a um departamento, uma disciplina ou programa específico. Daí a necessidade de ligar ações multi e interdisciplinares à Educação Ambiental - contando com a ajuda de profissionais ligados à área da Educação como também a Biologia, Artes, Ecologia, Geografia, História, Matemática, Português, enfim, todos aqueles que trabalham como professores das disciplinas básicas nas escolas de primeiro e segundo graus, sendo disseminadores desses conhecimentos que serão inseridos na vida cotidiana de todos os indivíduos.

A Educação Ambiental é uma proposta de filosofia de vida que resgata valores éticos, estéticos, democráticos e humanistas. Ela parte de um princípio de respeito pela diversidade natural e cultural, que inclui a especificidade de classe, etnia e gênero, defendendo, também, a descentralização em todos os níveis e a distribuição social do poder, como o acesso à informação e ao conhecimento. A Educação Ambiental visa modificar as relações entre a sociedade e a Natureza, a fim de melhorar a qualidade de vida, propondo a transformação do sistema produtivo e do consumismo em uma sociedade baseada na solidariedade, afetividade e cooperação, ou seja, visando a justa distribuição de seus recursos entre todos.

Para viver nosso cotidiano de maneira mais coerente com os ideais de uma sociedade sustentável e democrática, é necessária uma educação que repense velhas fórmulas de vida, propondo ações concretas para transformar nossa casa, rua, bairro, enfim, comunidades, sejam elas no campo ou na cidade, na fábrica, na escola ou no escritório.

TEXTO 02 - A BIODIVERSIDADE

Texto de Alexandre Schiavetti

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Toda nação possui três formas de riqueza: material, cultural e biológica. As duas primeiras são bem compreendidas, pois fazem parte de nossa vida cotidiana. O problema da biodiversidade consiste no fato de a riqueza biológica ser levado muito pouco a sério.

Mas, o que seria biodiversidade?

A palavra biodiversidade, que tem um amplo significado, vem sendo muito utilizada tanto nos meios científicos como no cotidiano dos meios de comunicação, serve tanto para tratar da Variabilidade Genética (diferença existente entre indivíduos da mesma espécies quanto a características específicas, como a cor dos olhos) como da Diversidade Biológica (número de espécies) e dos Processos Ecológicos (por exemplo, quanto se está absorvendo de energia por espécie) existentes em algum local.

Bom, mas por que ela é importante?

A diversidade é uma fonte potencial de imensas riquezas materiais ainda não exploradas, seja sob a forma de alimentos, medicamentos ou bem-estar. A fauna e a flora também são parte do patrimônio de uma nação, produto de milhões de anos de evolução concentrada naquele local e momento e, portanto, tão merecedora da atenção nacional quanto as particularidades da língua e da cultura.

E nós podemos usá-la?

A Conservação da Biodiversidade é hoje discutida por cientistas, políticos e simpatizantes da questão ambiental, como forma de assegurar o uso, pelo ser humano, dos benefícios atuais e futuros deste recurso, como os produtos farmacêuticos e industriais.

O Brasil possui esta diversidade?

A região tropical, localizada entre os Trópicos de Capricórnio e de Câncer, é rica em número de espécies, principalmente as Florestas Úmidas Brasileiras, as quais possuem a maior biodiversidade conhecida e ainda a ser descoberta do planeta, sendo declarada pela ONU como uma das áreas emergenciais para a conservação.

Uma reflexão:

"Será que temos o direito de destruir estas formas de vida que ainda nem sequer conhecemos, e que podem até salvar nossas vidas? E as espécies que não nos ajudam, devem desaparecer?"

Bibliografia Recomendada

WILSON, E.O. Diversidade da Vida. Trad.. C.A. Malferrari. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. 447 p.

TEXTO 03 - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Texto de Marina Ceccato Mendes

Você já parou para pensar no que significa a palavra "progresso"? Pois então pense: estradas, indústrias, usinas, cidades, máquinas e muitas outras coisas que ainda estão por vir e que não conseguimos nem ao menos imaginar. Algumas partes desse processo todo são muito boas, pois melhoram a qualidade de vida dos seres humanos de uma forma ou de outra, como no transporte, comunicação, saúde, etc. Mas agora pense só: será que tudo isso de bom não tem nenhum preço? Será que para ter toda essa facilidade de vida nós, humanos, não pagamos nada?

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Você já ouviu alguém dizer que para tudo na vida existe um preço? Pois é, nesse caso não é diferente. O progresso, da forma como vem sendo feito, tem acabado com o ambiente ou, em outras palavras, destruído o planeta Terra e a Natureza. Um estudioso do assunto disse uma vez que é mais difícil o mundo acabar devido a uma guerra nuclear ou a uma invasão extraterrestre (ou uma outra catástrofe qualquer) do que acabar pela destruição que nós, humanos, estamos provocando em nosso planeta. Você acha que isso tudo é um exagero? Então vamos trocar algumas idéias.

E o Desenvolvimento Sustentável?

O atual modelo de crescimento econômico gerou enormes desequilíbrios; se, por um lado, nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação ambiental e a poluição aumentam dia-a-dia. Diante desta constatação, surge a idéia do Desenvolvimento Sustentável (DS), buscando conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e, ainda, ao fim da pobreza no mundo.

As pessoas que trabalharam na Agenda 21 escreveram a seguinte frase: "A humanidade de hoje tem a habilidade de desenvolver-se de uma forma sustentável, entretanto é preciso garantir as necessidades do presente sem comprometer as habilidades das futuras gerações em encontrar suas próprias necessidades". Ficou confuso com tudo isso? Então calma, vamos por partes. Essa frase toda pode ser resumida em poucas e simples palavras: desenvolver em harmonia com as limitações ecológicas do planeta, ou seja, sem destruir o ambiente, para que as gerações futuras tenham a chance de existir e viver bem, de acordo com as suas necessidades (melhoria da qualidade de vida e das condições de sobrevivência). Será que dá para fazer isso? Será que é possível conciliar tanto progresso e tecnologia com um ambiente saudável?

Acredita-se que isso tudo seja possível, e é exatamente o que propõem os estudiosos em Desenvolvimento Sustentável (DS), que pode ser definido como: "equilíbrio entre tecnologia e ambiente, relevando-se os diversos grupos sociais de uma nação e também dos diferentes países na busca da equidade e justiça social".

Para alcançarmos o DS, a proteção do ambiente tem que ser entendida como parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente; é aqui que entra uma questão sobre a qual talvez você nunca tenha pensado: qual a diferença entre crescimento e desenvolvimento? A diferença é que o crescimento não conduz automaticamente à igualdade nem à justiça sociais, pois não leva em consideração nenhum outro aspecto da qualidade de vida a não ser o acúmulo de riquezas, que se faz nas mãos apenas de alguns indivíduos da população. O desenvolvimento, por sua vez, preocupa-se com a geração de riquezas sim, mas tem o objetivo de distribuí-las, de melhorar a qualidade de vida de toda a população, levando em consideração, portanto, a qualidade ambiental do planeta.

O DS tem seis aspectos prioritários que devem ser entendidos como metas:

- A satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, saúde, lazer, etc);

- A solidariedade para com as gerações futuras (preservar o ambiente de modo que elas tenham chance de viver);

- A participação da população envolvida (todos devem se conscientizar da necessidade de conservar o ambiente e fazer cada um a parte que lhe cabe para tal);

- A preservação dos recursos naturais (água, oxigênio, etc);

- A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a

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outras culturas (erradicação da miséria, do preconceito e do massacre de populações oprimidas, como por exemplo, os índios);

- A efetivação dos programas educativos.

Na tentativa de chegar ao DS, sabemos que a Educação Ambiental é parte vital e indispensável, pois é a maneira mais direta e funcional de se atingir pelo menos uma de suas metas: a participação da população.

Bibliografia Recomendada

SATO, M.; SANTOS, J. E. Agenda 21 em sinopse. São Carlos, 1996. 41 p. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal de São Carlos.

CAVALCANTI, C. Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade sustentável. São Paulo, Cortez Editora, 1995. 429 p.

TEXTO 04 - DEVASTAÇÃO DAS FLORESTAS

Texto de Raquel Baraldi Ramos Soares

O homem precisa satisfazer suas diversas necessidades, e para isso está sempre recorrendo à Natureza, retirando dela tudo aquilo que precisa. Para isso damos o nome de exploração.

Hoje, já sentimos as conseqüências da exploração indiscriminada dos recursos naturais no nosso dia-a-dia e temos conhecimento dos problemas enfrentados pelo planeta com tudo isso. Um dos maiores recursos naturais explorados pelo nosso país são as florestas.

As florestas guardam uma grande riqueza em sua diversidade. Plantas e animais desconhecidos, madeira, minérios e outros recursos explorados fazem parte deste tesouro e são de grande interesse - principalmente econômico - para o homem.

A exploração leva à retirada da vegetação natural para a obtenção de madeira, usada pelas fábricas de móveis, pela indústria de papel e celulose ou para exportação. Com isso, a área devastada pode ser utilizada para a monocultura agrícola, para a formação de pastos, para criação de animais, e ainda explorada pela indústria mineradora.

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Aos poucos, pela exploração descontrolada, as florestas vão desaparecendo. Animais e vegetais que poderiam ser utilizados pela Ciência e pela Medicina desaparecem, pois já não possuem mais seu habitat, os solos são compactados ou degradados pela erosão e os rios sofrem assoreamento devido à retirada da mata ciliar.

Precisamos, antes de tudo, repensar a importância que as florestas possuem em nossas vidas, assim como as áreas verdes em nossas cidades, e as conseqüências da real possibilidade de seu desaparecimento.

Precisamos pensar também na possibilidade de Exploração e Natureza poderem "conviver" de forma equilibrada (ver texto sobre Desenvolvimento Sustentável) sem causar danos maiores ao nosso ambiente e à nossa forma de viver.

Você sabia...

- que a Mata Atlântica cobria todo o litoral brasileiro (1 milhão de km2) e hoje está reduzida a apenas 4% do seu estado original?

- que a Floresta Amazônica brasileira representa 40% das reservas de florestas tropicais úmidas ainda existentes no planeta?

- que as queimadas contribuem para a emissão de grandes quantidades de gás carbônico na atmosfera, contribuindo para o efeito estufa?

- que as matas, além de diminuírem os riscos de erosão, contribuem também para a manutenção do ciclo hidrológico e da estabilidade climática?

- que as florestas tropicais possuem solos muito pobres e que a sua manutenção é realizada pela rápida reciclagem dos materiais (serrapilheira e animais mortos) em decomposição encontrados nestes lugares?

Bibliografia Recomendada

CIP - BRASIL. Educação Ambiental: uma abordagem pedagógica dos temas da atualidade. 3a Edição. Erexim: CRAB, 1995. 88 p.

TEXTO 05 - PERCEPÇÃO AMBIENTAL

Texto de Sandra Faggionato

O homem está constantemente agindo sobre o meio a fim de sanar suas necessidades e desejos. Você já pensou em quantas das nossas ações sobre o ambiente, natural ou construído, afetam a qualidade de vida de várias gerações? E nos diversos projetos arquitetônicos ou urbanísticos que afetam as respostas dos seus usuários e moradores? E não estamos falando de respostas emocionais, que dependem do nosso humor ou predisposição do momento, mas da nossa própria satisfação psicológica com o ambiente.

Cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente frente às ações sobre o meio. As respostas ou manifestações são, portanto, resultado das percepções, dos processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada indivíduo. Embora nem todas as manifestações psicológicas sejam evidentes, são constantes, e afetam nossa conduta, na maioria das vezes, inconscientemente.

Em se tratando de ambiente urbano, muitos são os aspectos que direta ou indiretamente, afetam a grande maioria dos habitantes - pobreza, criminalidade, poluição, etc. Estes fatores são relacionados como fontes de insatisfação com a vida urbana. Entretanto há também uma série de fontes de satisfação a ela associada. As cidades exercem um forte poder de atração devido à sua heterogeneidade, movimentação e possibilidades de escolha.

Uma das manifestações mais comuns de insatisfação da população é o vandalismo. Condutas agressivas em relação a elementos físicos e arquitetônicos, geralmente públicos, ou situados próximos a lugares

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públicos. Isso se dá na grande maioria, entre as classes sociais menos favorecidas, que no dia-a-dia, estão submetidos à má qualidade de vida, desde à problemática dos transportes urbanos, até a qualidade dos bairros e conjuntos habitacionais em que residem, hospitais e escolas de que dependem, etc.

Assim, o estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para que possamos compreender melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas.

E o que tem a ver percepção ambiental e Educação ambiental?

Saber como os indivíduos com quem trabalharemos percebem o ambiente em que vivem, suas fontes de satisfação e insatisfação é de fundamental importância, pois só assim, conhecendo a cada um, será possível a realização de um trabalho com bases locais, partindo da realidade do público alvo.

Quais são as formas de se trabalhar percepção ambiental?

Diversas são as formas de se estudar a percepção ambiental: questionários, mapas mentais ou contorno, representação fotográfica, etc.

Existem ainda trabalhos em percepção ambiental que buscam não apenas o entendimento do que o indivíduo percebe, mas promover a sensibilização, bem como o desenvolvimento do sistema de percepção e compreensão do ambiente.

Bibliografia Recomendada

FERRARA, L. D. A. As Cidades Ilegíveis - Percepção Ambiental e Cidadania. Percepção Ambiental: a experiência brasileira. EdUFSCar, São Carlos, SP 1996

HEINSTRA, M. & FARLING, C. Psicologia Ambiental. EDUSP, 1978.

Texto 06 - POLUIÇÃO DA ÁGUA

Texto de Dr.ª Sônia Lúcia Modesto Zampieron e João Luís de Abreu Vieira

Alguém já disse que uma das aventuras mais fascinantes é acompanhar o ciclo das águas na Natureza. Suas reservas no planeta são constantes, mas isso não é motivo para desperdiçá-la ou mesmo poluí-la. A água que usamos para os mais variados fins é sempre a mesma, ou seja, ela é responsável pelo funcionamento da grande máquina que é a vida na Terra; sendo tudo isto movido pela energia solar.

Vista do espaço, a Terra parece o Planeta Água, pois esta cobre 75% da superfície terrestre, formando os oceanos, rios, lagos etc. No entanto, somente uma pequenina parte dessa água - da ordem de 113 trilhões de m3 - está à disposição da vida na Terra. Apesar de parecer um número muito grande, a Terra corre o risco de não mais dispor de água limpa, o que em última análise significa que a grande máquina viva pode parar.

A água nunca é pura na Natureza, pois nela estão dissolvidos gases, sais sólidos e íons. Dentro dessa complexa mistura, há uma coleção variada de vida vegetal e animal, desde o fitoplâncton e o zooplâncton até a baleia azul (maior mamífero do planeta). Dentro dessa gama de variadas formas de vida, há organismos que dependem dela inclusive para completar seu ciclo de vida (como ocorre com os insetos). Enfim, a água é componente vital no sistema de sustentação da vida na Terra e por isso deve ser preservada, mas nem sempre isso acontece. A sua poluição impede a sobrevivência daqueles seres, causando também graves conseqüências aos seres humanos.

A poluição da água indica que um ou mais de seus usos foram prejudicados, podendo atingir o homem de forma direta, pois ela é usada por este para ser bebida, para tomar banho, para lavar roupas e utensílios e, principalmente, para sua alimentação e dos animais domésticos. Além disso, abastece nossas cidades,

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sendo também utilizada nas indústrias e na irrigação de plantações. Por isso, a água deve ter aspecto limpo, pureza de gosto e estar isenta de microorganismos patogênicos, o que é conseguido através do seu tratamento, desde a retirada dos rios até a chegada nas residências urbanas ou rurais. A água de um rio é considerada de boa qualidade quando apresenta menos de mil coliformes fecais e menos de dez microorganismos patogênicos por litro (como aqueles causadores de verminoses, cólera, esquistossomose, febre tifóide, hepatite, leptospirose, poliomielite etc.). Portanto, para a água se manter nessas condições, deve-se evitar sua contaminação por resíduos, sejam eles agrícolas (de natureza química ou orgânica), esgotos, resíduos industriais, lixo ou sedimentos vindos da erosão.

Sobre a contaminação agrícola temos, no primeiro caso, os resíduos do uso de agrotóxicos (comum na agropecuária), que provêm de uma prática muitas vezes desnecessária ou intensiva nos campos, enviando grandes quantidades de substâncias tóxicas para os rios através das chuvas, o mesmo ocorrendo com a eliminação do esterco de animais criados em pastagens. No segundo caso, há o uso de adubos, muitas vezes exagerado, que acabam por ser carregados pelas chuvas aos rios locais, acarretando o aumento de nutrientes nestes pontos; isso propicia a ocorrência de uma explosão de bactérias decompositoras que consomem oxigênio, contribuindo ainda para diminuir a concentração do mesmo na água, produzindo sulfeto de hidrogênio, um gás de cheiro muito forte que, em grandes quantidades, é tóxico. Isso também afetaria as formas superiores de vida animal e vegetal, que utilizam o oxigênio na respiração, além das bactérias aeróbicas, que seriam impedidas de decompor a matéria orgânica sem deixar odores nocivos através do consumo de oxigênio.

Os resíduos gerados pelas indústrias, cidades e atividades agrícolas são sólidos ou líquidos, tendo um potencial de poluição muito grande. Os resíduos gerados pelas cidades, como lixo, entulhos e produtos tóxicos são carreados para os rios com a ajuda das chuvas. Os resíduos líquidos carregam poluentes orgânicos (que são mais fáceis de ser controlados do que os inorgânicos, quando em pequena quantidade). As indústrias produzem grande quantidade de resíduos em seus processos, sendo uma parte retida pelas instalações de tratamento da própria indústria, que retêm tanto resíduos sólidos quanto líquidos, e a outra parte despejada no ambiente. No processo de tratamento dos resíduos também é produzido outro resíduo chamado "chorume", líquido que precisa novamente de tratamento e controle. As cidades podem ser ainda poluídas pelas enxurradas, pelo lixo e pelo esgoto.

Enfim, a poluição das águas pode aparecer de vários modos, incluindo a poluição térmica, que é a descarga de efluentes a altas temperaturas, poluição física, que é a descarga de material em suspensão, poluição biológica, que é a descarga de bactérias patogênicas e vírus, e poluição química, que pode ocorrer por deficiência de oxigênio, toxidez e eutrofização.

A eutrofização é causada por processos de erosão e decomposição que fazem aumentar o conteúdo de nutrientes, aumentando a produtividade biológica, permitindo periódicas proliferações de algas, que tornam a água turva e com isso podem causar deficiência de oxigênio pelo seu apodrecimento, aumentando sua toxidez para os organismos que nela vivem (como os peixes, que aparecem mortos junto a espumas tóxicas).

A poluição de águas nos países ricos é resultado da maneira como a sociedade consumista está organizada para produzir e desfrutar de sua riqueza, progresso material e bem-estar. Já nos países pobres, a poluição é resultado da pobreza e da ausência de educação de seus habitantes, que, assim, não têm base para exigir os seus direitos de cidadãos, o que só tende a prejudicá-los, pois esta omissão na reivindicação de seus direitos leva à impunidade às indústrias, que poluem cada vez mais, e aos governantes, que também se aproveitam da ausência da educação do povo e, em geral, fecham os olhos para a questão, como se tal poluição não atingisse também a eles. A Educação Ambiental vem justamente resgatar a cidadania para que o povo tome consciência da necessidade da preservação do meio ambiente, que influi diretamente na manutenção da sua qualidade de vida.

Dentro desse contexto, uma grande parcela da contenção da "saúde das águas" cabe a nós, brasileiros, pois se a Terra parece o Planeta Água, o Brasil poderia ser considerado sua capital, já que é dotado de uma extensa rede de rios, e privilegiado por um clima excepcional, que assegura chuvas abundantes e

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regulares em quase todo seu território.

O Brasil dispõe de 15% de toda a água doce existente no mundo, ou seja, dos 113 trilhões de m3

disponíveis para a vida terrestre, 17 trilhões foram reservados ao nosso país. No processo de reciclagem, quase a totalidade dessa água é recolhida pelas nove grandes Bacias Hidrográficas aqui existentes. Como a água é necessária para dar continuidade ao crescimento econômico, as Bacias Hidrográficas passam a ser áreas geográficas de preocupação de todos os agentes e interesses públicos e privados, pois elas passam por várias cidades, propriedades agrícolas e indústrias. No entanto, a presença de alguns produtos químicos industriais e agrícolas (agrotóxicos) podem impedir a purificação natural da água (reciclagem) e, nesse caso, só a construção de sofisticados sistemas de tratamento permitiriam a retenção de compostos químicos nocivos à saúde humana, aos peixes e à vegetação.

Quanto melhor é a água de um rio, ou seja, quanto mais esforços forem feitos no sentido de que ela seja preservada (tendo como instrumento principal de conscientização da população a Educação Ambiental), melhor e mais barato será o tratamento desta e, com isso, a população só terá a ganhar. Mas parece que a preocupação dos técnicos em geral é sofisticar cada vez mais os tratamentos de água, ao invés de se aterem mais à preservação dos mananciais, de onde é retirada água pura. Este é o raciocínio - mais irracional - de que a técnica pode fazer tudo. Técnicas sofisticadíssimas estão sendo desenvolvidas para permitir a reutilização da água no abastecimento público, não percebendo que a ingestão de um líquido tratado com tal grau de sofisticação pode ser tudo, menos o alimento vital do qual o ser humano necessita. Ou seja, de que adianta o progresso se não há qualidade de vida? A única medida mitigadora possível para este problema, na situação grave em que o consumo da água se encontra, foi misturar e fornecer à população uma água de boa procedência com outra de procedência pior, cuidadosamente tratada e controlada. Vejam a que ponto tivemos que chegar.

Portanto, a meta imediata é preservar os poucos mananciais intactos que ainda restam para que o homem possa dispor de um reservatório de água potável para que possa sobreviver nos próximos milênios.

Texto 07 – COMPOSTAGEM

Texto de Renato Russo

Nos últimos anos tem-se verificado um aumento acentuado da produção de resíduos sólidos, devido a uma vida exageradamente consumista, fruto do avanço tecnológico. Isso, lamentavelmente, se afasta de um modelo de Desenvolvimento Sustentável. Como conseqüência desse fenômeno, o tratamento e destino final dos resíduos sólidos tornou-se um processo de grande importância nas políticas sociais e ambientais dos países mais desenvolvidos. Regra geral, a maior fração destes resíduos é ocupada pela matéria orgânica e um dos processos mais utilizados para lidar com esse material é a compostagem.

A compostagem é um processo biológico, através do qual os microrganismos convertem a parte orgânica dos resíduos sólidos urbanos (RSU) num material estável tipo húmus, conhecido como composto. A compostagem, embora seja um processo controlado, pode ser afetada por diversos fatores físico-químicos que devem ser considerados, pois, para se degradar a matéria orgânica existem vários tipos de sistemas utilizados.

Educação com o destino do lixo.Nada mais do que a obrigação de cada um de nós.

COMPOSTAGEM EM CASA

Este processo requer que cada indivíduo dentro da sua própria casa desenvolva um método de processar restos de jardim, principalmente folhas e aparas de relva. Se forem galhos, mato, toras de madeira, também funciona. O método mais simples requer a disposição do material numa

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pilha que vai ser regada e revolvida ocasionalmente, tendo em vista a promoção de umidade e oxigênio aos microorganismos da mistura. Durante o período de compostagem (que poderá levar um mês ou um ano), o material empilhado sofre decomposição por intermédio de bactérias e fungos até a formação de húmus. Quando este material composto se encontrar estabilizado biologicamente, poderá ser usado para correção de solos ou como adubo.

É importante salientar que sistemas imaginativos de compostagem em jardins têm sido desenvolvidos com grande êxito, devido a facilidade em construir o sistema.

COMO FAZER

Compostagem é como cozinhar, com muitas receitas e variações, você faz sucesso!

Esta poderá ser uma aproximação simples:

1. Recolha folhas, erva e aparas de jardim;

2. Coloque num monte ou caixote;

3. Salpicar com água, mantendo a umidade.

Para uma compostagem rápida (1-3 meses) alternar camadas de misturas verdes e materiais secos. Para arejar o empilhado, remexa e retalhe os materiais em bocados mais pequenos e umedeça-os. Para uma compostagem lenta (3-6 ou mais meses) adicionar, continuamente, material ao caixote e manter a umidade. É simples e novas receitas dentro deste contexto se encaixam perfeitamente!

Observação: Restos de comida, serão bem vidos, mas alimentos de origem animal (carne) podem atrair ratos e pragas do gênero.

FATORES FÍSICO-QUÍMICOS

Teor de Umidade

O teor ótimo de umidade para compostagem aeróbica compreende-se entre 50 a 60%. O ajuste de umidade pode ser feito por mistura de componentes. Na prática também se verifica que depende da eficácia do arejamento (manual ou mecânica) da massa em compostagem, nas características físicas dos resíduos (estrutura, porosidade etc.) e na carência microbiológica da água. Altos teores (~ 65%) fazem com que a água ocupe os espaços vazios da massa, impedindo a livre passagem do oxigênio, o que poderá provocar o aparecimento de zonas de anaerobiose.

Baixos teores de umidade (inferiores a 40%), inibem, por sua vez, a atividade microbiológica, diminuindo a taxa de estabilização.

O teor ótimo de umidade é de, aproximadamente, de 55%.

Controle de odores

A maior parte dos problemas de odores nos processos de compostagem aeróbia estão associados ao desenvolvimento de condições anaeróbias na pilha de compostagem.

Em grandes processos de compostagem aeróbia é comum encontrar fragmentos de revistas, livros e outros compostos orgânicos que não são compostados num espaço curto de tempo, e como o oxigênio nem sempre é suficiente, desenvolvem-se condições anaeróbias. Nestas circunstâncias, há produção de ácidos orgânicos que emitem odores intensos. Para minimizar os potenciais problemas de odores é importante reduzir o tamanho das partículas, retirar plásticos e outros materiais não biodegradáveis do material orgânico para compostar.

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Qualidade do produto final

A qualidade do composto obtido pode ser definida em termos de composição de nutrientes e de matéria orgânica, pH, textura, distribuição do tamanho das partículas, percentagem de sais, odor residual, grau de estabilidade e maturação, presença de organismos patogênicos e concentração de metais pesados. Infelizmente, estes valores são bastante variáveis e não existe consenso quanto às quantidades ideais para estes parâmetros. Para além do composto ser calibrado pode-se considerar que ocorre uma triagem biológica, já que as minhocas tendem a recuperar o material orgânico ligado ao inorgânico, valorizando também os inertes, dado que ficam mais limpos. Relativamente à qualidade do composto verifica-se uma melhoria tendo em consideração que à digestão das minhocas estão associadas enzimas e microorganismos. O processo de digestão demora menos de dois meses, permitindo que seja feito em espaços cobertos, em condições ambientais controladas.

PROBLEMAS

Os principais problemas associados à utilização do processo de compostagem são: os maus odores, os riscos para a saúde pública, a presença de metais pesados e a definição do que constitui um composto aceitável. A separação de plásticos e papéis também pode constituir um problema, pois, uma grande quantidade de papel reduz a proporção de nutrientes orgânicos e plásticos são muito lentos em sua decomposição, reduzindo a homogeneidade do composto. A não ser que estas questões sejam resolvidas e controladas, a compostagem pode tornar-se numa técnica inviável.

Produção de odores

Sem um controle apropriado do processo, a produção de odores pode tornar-se um problema. Como consequência a escolha da localização da estação de compostagem, o design do processo e a gestão do odor biológico são de extrema importância.

Produção de biogás

Esta é também uma consequência indireta da compostagem, pois, está relacionada com a deposição de materiais em aterro. A formação de biogás nos aterros pode ser bastante nociva para o ambiente, uma vez que, ocorre uma grande libertação de metano para a atmosfera que contribui para o aumento do efeito estufa. Constitui também um risco para a segurança do próprio aterro, uma vez que, pode provocar explosões. Existem processos que permitem a recolha deste gás para posterior combustão ou aproveitamento energético.

Riscos para a saúde pública

Se a operação de compostagem não for conduzida adequadamente existem fortes probabilidades de os organismos patogênicos sobreviverem ao processo. A ausência de microorganismos patogênicos no composto final é extremamente importante, uma vez, que este vai ser utilizado em aplicações às quais as pessoas vão estar diretamente expostas. No entanto, o controle desses microorganismos pode ser facilmente alcançado, quando o processo é eficiente e controlado. A maior parte dos microorganismos patogênicos são facilmente destruídos às temperaturas e tempos de exposição utilizados nas operações de compostagem (55ºC durante 15 a 20 dias).

Presença de metais pesados

Pode afetar todas as operações de compostagem, mas principalmente, aquelas onde se utilizam esfarrapadoras mecânicas. Quando os metais dos resíduos sólidos são desfeitos, as partículas

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metálicas que se formam podem ficar agarradas aos materiais mais leves. Depois da compostagem estes materiais vão ser aplicados ao solo, podendo provocar sérios problemas de toxicidade. Normalmente, a quantidade de metais pesados encontrados no composto produzido a partir da parte orgânica dos RSU é bastante inferior a verificada nas lamas de águas residuais. Quando há separação prévia dos resíduos, a concentração de metais pesados é ainda menor. A co-compostagem de lamas de águas residuais com a parte orgânica dos RSU é uma solução para reduzir a concentração de metais nas lamas.

Bibliografia Recomendada

Novaes, W. Lixo Venenoso

Cardoso, F. O papel de Cada Um

Eigenher, E. Lixo Doméstico: Coleta Seletiva e Educação

In: Seminário: O Lixo como Instrumento de Resgate Social. 1989.

Ciência Hoje no 9

Super Interessante no 5

TEXTO 08 - ANÁLISE DA ÁGUA

Texto de André Jean Deberdt

As técnicas e, principalmente, os equipamentos empregados nas pesquisas hidrobiológicas, variam conforme a finalidade do estudo que está sendo realizado, as características ambientais do rio ou lago considerado, e sobretudo, com os recursos disponíveis para a realização do trabalho. Estudos limnológicos com finalidade técnica ou científica requerem, geralmente, aparelhos de grande complexidade e alta precisão. Para trabalhos em áreas reduzidas e análises de rotina, ou quando não se dispõe de grandes recursos financeiros, pode-se empregar equipamento mais modesto, aumentando o número de dados em poucos pontos de coleta, obtendo-se, dessa forma, uma precisão razoável de resultados, com um mínimo de despesas de material e operação.

A obtenção de informações integradas sobre um reservatório depende basicamente do estudo das interações que ocorrem entre os fatores bióticos e abióticos que regem o funcionamento desse ecossistema. Porém, não se pode esquecer que estas interações estão vinculadas a uma escala temporal, refletindo um comportamento dinâmico e imprevisível, intrínseco a cada ambiente. Dessa forma, cabe ao pesquisador promover um levantamento prévio das características ambientais da área a ser estudada, a fim de definir o melhor ponto, horário e época para a realização dos trabalhos.

PARÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS

Variáveis Climatológicas

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Os aspectos climatológicos de uma região influencia diretamente o corpo d’água, provocando sensíveis alterações no seu metabolismo. Num período de maior precipitação pode ocorrer um aumento na turbidez em função do grande aporte de material que é carreado pelas chuvas para o corpo d’água em questão. O vento por sua vez pode provocar uma mistura na água, ocasionando uma ressuspensão de nutrientes das partes mais profundas.

As variáveis climatológicas podem ser obtidas através de aparelhos como o pluviômetro (precipitação), termômetro, anemômetro (vento) e luxímetro ou actinógrafo (radiação solar). Uma solução prática na falta deste material é a obtenção dos dados numa estação climatológica próxima ao local de estudo.

Variáveis Hidrológicas

Radiação Solar Subaquática

Da radiação que atinge a superfície da água, parte penetra e parte é refletida, voltando para a atmosfera. A quantidade de radiação refletida depende das condições da superfície da água (plana ou ondulada) e principalmente do ângulo de incidência da radiação sobre esta.

Ao penetrar na coluna d’água, a radiação é submetida a profundas alterações, tanto na sua intensidade quanto na sua qualidade espectral. Estas alterações dependem de vários fatores: quantidade de material dissolvido e quantidade de material em suspensão. A primeira alteração sofrida é a mudança de direção devido à refração provocada pela redução da velocidade ao penetrar no meio líquido. Em seguida, parte da radiação é absorvida e transformada em outras formas de energia, por exemplo, química pela fotossíntese e calorífica pelo aquecimento da água. Outra parte da radiação sofre dispersão devido ao "choque" com partículas suspensas ou dissolvidas na água. Assim, a absorção e a dispersão são os dois fatores principais, responsáveis pela atenuação da radiação com a profundidade nos ecossistemas aquáticos.

A determinação da radiação solar (na superfície e subaquática) pode ser feita através de um aparelho denominado "Quanta-Meter".

Zona Eufótica e Transparência da Água

A transparência da coluna d’água pode variar desde alguns centímetros até dezenas de metros. Essa região da coluna d’água é denominada zona eufótica e sua extensão depende, principalmente, da capacidade do meio em atenuar a radiação subaquática. O limite inferior da zona eufótica é geralmente assumido como sendo aquela profundidade onde a intensidade da radiação corresponde a 1% da que atinge a superfície.

Do ponto de vista óptico, a transparência da água pode ser considerada o oposto da turbidez. Sua avaliação de maneira mais simples é feita através de um disco branco de 20 a 30 cm de diâmetro, denominado disco de Secchi. A medida é obtida mergulhando-se o disco branco no lado da sombra do barco, através de uma corda marcada. A profundidade de desaparecimento do disco de Secchi corresponde àquela profundidade na qual a radiação refletida do disco não é mais sensível ao olho humano. A profundidade obtida em metros é denominada transparência de disco de Secchi.

Temperatura da Água

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Nos ecossistemas aquáticos continentais, a quase totalidade da propagação do calor ocorre por transporte de massa d’água, sendo a eficiência deste em função da ausência ou presença de camadas de diferentes densidades.

Em lagos que apresentam temperaturas uniformes em toda a coluna, a propagação do calor através de toda a massa líquida pode ocorrer de maneira bastante eficiente, uma vez que a densidade da água nessas condições é praticamente igual em todas as profundidades, sendo o vento o agente fornecedor da energia indispensável para a mistura das massas d’água.

Por outro lado, quando as diferenças de temperatura geram camadas d’água com diferentes densidades, que em si já formam uma barreira física, impedindo que se misturem, e se a energia do vento não for suficiente para misturá-las, o calor não se distribui uniformemente, criando a condição de estabilidade térmica. Quando ocorre este fenômeno, o ecossistema aquático está estratificado termicamente. Os estratos formados freqüentemente estão diferenciados física, química e biologicamente.

Para as medidas de temperatura, podem ser utilizados termômetros simples de mercúrio ou aparelhos mais sofisticados como o "Termistor", que pode registrar diretamente a temperatura das várias profundidades na coluna d’água. Estas medidas devem ser realizadas no próprio local de coleta.

Oxigênio dissolvido

A determinação do oxigênio dissolvido é de fundamental importância para avaliar as condições naturais da água e detectar impactos ambientais como eutrofização e poluição orgânica.

Do ponto de vista ecológico, o oxigênio dissolvido é uma variável extremamente importante, pois é necessário para a respiração da maioria dos organismos que habitam o meio aquático. Geralmente o oxigênio dissolvido se reduz ou desaparece, quando a água recebe grandes quantidades de substâncias orgânicas biodegradáveis encontradas, por exemplo, no esgoto doméstico, em certos resíduos industriais, no vinhoto, e outros. Os resíduos orgânicos despejados nos corpos d’água são decompostos por microorganismos que se utilizam do oxigênio na respiração. Assim, quanto maior a carga de matéria orgânica, maior o número de microorganismos decompositores e, conseqüentemente, maior o consumo de oxigênio. A morte de peixes em rios poluídos se deve, portanto, à ausência de oxigênio e não à presença de substâncias tóxicas.

A determinação do oxigênio dissolvido na água pode ser feita através do método "Winkler" ou eletrométrico.

pH e alcalinidade

O termo pH (potencial hidrogeniônico) é usado universalmente para expressar o grau de acidez ou basicidade de uma solução, ou seja, é o modo de expressar a concentração de íons de hidrogênio nessa solução. A escala de pH é constituída de uma série de números variando de 0 a 14, os quais denotam vários graus de acidez ou alcalinidade. Valores abaixo de 7 e próximos de zero indicam aumento de acidez, enquanto valores de 7 a 14 indicam aumento da basicidade.

As medidas de pH são de extrema utilidade, pois fornecem inúmeras informações a respeito da qualidade da água. Às águas superficiais possuem um pH entre 4 e 9. As vezes são ligeiramente

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alcalinas devido à presença de carbonatos e bicarbonatos. Naturalmente, nesses casos, o pH reflete o tipo de solo por onde a água percorre. Em lagoas com grande população de algas, nos dias ensolarados, o pH pode subir muito, chegando a 9 ou até mais. Isso porque as algas, ao realizarem fotossíntese, retiram muito gás carbônico, que é a principal fonte natural de acidez da água. Geralmente um pH muito ácido ou muito alcalino está associado à presença de despejos industriais. A determinação do pH é feita através do método eletrométrico, utilizando-se para isso um peagômetro digital.

A alcalinidade representa a capacidade que um sistema aquoso tem de neutralizar (tamponar) ácidos a ele adicionados. Esta capacidade depende de alguns compostos, principalmente bicarbonatos, carbonatos e hidróxidos. A alcalinidade é determinada através da titulação.

Condutividade Elétrica

A condutividade elétrica é a capacidade que a água possui de conduzir corrente elétrica. Este parâmetro está relacionado com a presença de íons dissolvidos na água, que são partículas carregadas eletricamente. Quanto maior for a quantidade de íons dissolvidos, maior será a condutividade elétrica da água. Em águas continentais, os íons diretamente responsáveis pelos valores da condutividade são, entre outros, o cálcio, o magnésio, o potássio, o sódio, carbonatos, carbonetos, sulfatos e cloretos. O parâmetro condutividade elétrica não determina, especificamente, quais os íons que estão presentes em determinada amostra de água, mas pode contribuir para possíveis reconhecimentos de impactos ambientais que ocorram na bacia de drenagem ocasionados por lançamentos de resíduos industriais, mineração, esgotos, etc.

A condutividade elétrica da água pode variar de acordo com a temperatura e a concentração total de substâncias ionizadas dissolvidas. Em águas cujos valores de pH se localizam nas faixas extremas (pH> 9 ou pH< 5), os valores de condutividade são devidos apenas às altas concentrações de poucos íons em solução, dentre os quais os mais freqüentes são o H+ e o OH-.

A determinação da condutividade pode ser feita através do método eletrométrico, utilizando-se para isso um condutivímetro digital.

Demanda Biológica do Oxigênio (DBO) e Demanda Química do Oxigênio (DQO)

A expressão Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), utilizada para exprimir o valor da poluição produzida por matéria orgânica oxidável biologicamente, corresponde à quantidade de oxigênio que é consumida pelos microorganismos do esgoto ou águas poluídas, na oxidação biológica, quando mantida a uma dada temperatura por um espaço de tempo convencionado. Essa demanda pode ser suficientemente grande, para consumir todo o oxigênio dissolvido da água, o que condiciona a morte de todos os organismos aeróbios de respiração subaquática.

O teste de Demanda Química de Oxigênio (DQO) baseia-se no fato de que que todos os compostos orgânicos, com poucas exceções, podem ser oxidados pela ação de um agente oxidante forte em meio ácido. Uma das limitações entretanto é o fato de que o teste não diferencia matéria orgânica biodegradável e matéria orgânica não biodegradável, a primeira determinada pelo teste de DBO. A vantagem é o tempo de teste, realizado em poucas horas, enquanto o teste de DBO requer no mínimo 5 dias (período de incubação).

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Material em Suspensão

Como o próprio nome já diz, o material em suspensão é o material particulado não dissolvido, encontrado suspenso no corpo d’água, composto por substâncias inorgânicas e orgânicas, incluindo-se aí os organismos planctônicos (fito e zooplâncton). Sua principal influência é na diminuição na transparência da água, impedindo a penetração da luz.

Os valores para o material em suspensão podem ser obtidos através da filtragem da água com a utilização de filtros especiais e posterior análise espectrofotométrica.

Compostos de Nitrogênio e Fósforo

As águas naturais, em geral, contêm nitratos em solução e, além disso, principalmente tratando-se de águas que recebem esgotos, podem conter quantidades variáveis de compostos mais complexos, ou menos oxidados, tais como: compostos orgânicos quaternários, amônia e nitritos. Em geral, a presença destes denuncia a existência de poluição recente, uma vez que essas substâncias são oxidadas rapidamente na água, graças principalmente à presença de bactérias nitrificantes. Por essa razão, constituem um importante índice da presença de despejos orgânicos recentes.

Os compostos de fósforo são um dos mais importantes fatores limitantes à vida dos organismos aquáticos e a sua economia, em uma massa d’água, é de importância fundamental no controle ecológico das algas. Despejos orgânicos, especialmente esgotos domésticos, bem como alguns tipos de despejos industriais, podem enriquecer as águas com esse elemento.

PARÂMETROS BIOLÓGICOS

Coliformes

O rio é habitado, normalmente, por muitos tipos de bactérias, assim como por várias espécies de algas e de peixes. Essas bactérias são importantíssimas porque, alimentando-se de matérias orgânicas, são elas que consomem toda a carga poluidora que lhe é lançada, sendo assim as principais responsáveis pela auto-depuração, ou seja, limpeza do rio.

Porém, quando o rio recebe esgotos, ele passa a conter outros tipos de bactérias que não são da água e que podem ou não causar doenças às pessoas que beberem dessa água. Um grupo importante, dentre elas, é o grupo das bactérias coliformes.

Bactérias coliformes não causam doenças. Elas, ao contrário, vivem no interior do intestino de todos nós, auxiliando a nossa digestão. É claro que nossas fezes contém um número astronômico dessas bactérias: cerca de 200 bilhões de coliformes são eliminados por cada um de nós, todos os dias. Isso tem uma grande importância para a avaliação da qualidade da água dos rios: suas águas recebem esgotos, fatalmente receberão coliformes.

A presença das bactérias coliformes na água de um rio significa, pois, que esse rio recebeu matérias fecais, ou esgotos. Por outro lado, são as fezes das pessoas doentes que transportam, para as águas ou para o solo, os micróbios causadores de doenças. Assim, se a água recebe fezes, ela pode muito bem estar recebendo micróbios patogênicos. Por isso, a presença de coliformes na

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água indica a presença de fezes e, portanto, a possível presença de seres patogênicos.

Comunidade planctônica

O conjunto de alterações que ocorrem num reservatório, ao longo de uma escala temporal variada, desencadeiam diferentes respostas por parte da comunidade planctônica, que podem ser utilizadas como parâmetros em estudos limnológicos. A utilização da comunidade fitoplanctônica como bioindicadora de um ecossistema aquático se fundamenta na avaliação da base de uma cadeia alimentar, na qual os efeitos oriundos das alterações ambientais serão refletidos em todos os seus componentes e, conseqüentemente, no bioma como um todo. Mudanças na dinâmica da comunidade fitoplanctônica são reflexos das alterações físicas, químicas e/ou biológicas que ocorrem num corpo d’água.

Referências Bibliográficas

BRANCO, S. M. (1986). Hidrobiologia aplicada à engenharia sanitária, São Paulo, 3 ed., CETESB/ASCETESB, 616p.

CARMOUZE, J. P. (1994). O Metabolismo dos ecossistemas aquáticos: fundamentos teóricos, métodos de estudo e análises químicas. São Paulo - Editora Edgard Blücher – FAPESP. 253p.

ESTEVES, F. ª (1988). Fundamentos de limnologia, Rio de Janeiro, - Editora Interciência Ltda – FINEP. 574p

TEXTO 09 – PLANTAS MEDICINAIS

Texto de Flávia Cristina Sossae

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INTRODUÇÃO

A utilização das plantas como medicamento provavelmente seja tão antiga quanto o aparecimento do próprio homem. A evolução da arte de curar possui numerosas etapas, porém, torna-se difícil delimitá-las com exatidão, já que a medicina esteve por muito tempo associada a práticas mágicas, místicas e ritualísticas. A preocupação com a cura de doenças, ao longo da história da humanidade, sempre se fez presente. Sabemos que os alquimistas, na tentativa de descobrir o "elixir da vida eterna", contribuíram e muito na evolução da arte de curar. Um grande avanço na terapia foi dado por Paracelso que defendia a teoria da "assinatura dos corpos", segundo a qual as plantas e animais apresentavam uma "impressão divina" que indicava suas virtudes curativas. De acordo com essa teoria, a semelhança da forma das plantas aos órgãos humanos determinam o seu efeito curativo sobre estes como, por exemplo, algumas hepáticas, apresentando formato parecido a um fígado, eram utilizadas para curar moléstias de tal órgão. As plantas pelas suas propriedades terapêuticas ou tóxicas adquiriram fundamental importância na medicina popular. A flora brasileira é riquíssima em exemplares que são utilizados pela população como plantas medicinais. Toda planta que é administrada de alguma forma e, por qualquer via ao homem ou animal exercendo sobre eles uma ação farmacológica qualquer é denominada de planta medicinal. Segundo VON MARTIUS, as plantas medicinais brasileiras não apenas curam, mas realizam milagres. As plantas medicinais sempre foram objeto de estudo na tentativa de descobrir novas fontes de obtenção de princípios ativos. Através dos dados fornecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), constata-se que o uso de plantas medicinais pela população mundial tem sido muito significativo nos últimos anos, sendo que este uso tem sido incentivado pela própria OMS. As plantas produzem substâncias responsáveis por uma ação farmacológica ou terapêutica que são denominadas de princípios ativos.

A fitoterapia é o tratamento das doenças, alterações orgânicas, por meio de drogas vegetais secas ou partes vegetais recém colhidas e seus extratos naturais. O conhecimento das propriedades medicinais das plantas, dos minerais e de certos produtos de origem animal é uma das maiores riquezas da cultura indígena. Uma sabedoria tradicional que passa de geração em geração. Vivendo em permanente contato com a natureza, os índios e outros povos da floresta estão habituados a estabelecer relações de semelhança entre as características de certas substâncias naturais e seu próprio corpo. O índio tem um profundo conhecimento da flora medicinal, e dela retira os mais variados remédios, que emprega de diferentes formas . As práticas curativas das tribos indígenas estão profundamente relacionadas com a maneira que o índio percebe a doença e suas causas. Tanto as medidas curativas como as preventivas são realizadas pelo pajé, sendo estes rituais carregados de elementos mágicos e místicos que refletem o modo de ser do índio e o relacionamento deste com o mundo. Segundo LELONG, na filosofia indígena as plantas são responsáveis pela cura devido à presença de um espírito inteligente. O que os índios denominavam de espírito inteligente, hoje, graças aos estudos farmacológicos, sabe-se que nada mais é do que o princípio ativo, produzido pelos vegetais. A evolução e o uso de plantas medicinais pelo homem estão associadas a sua evolução antropológica, da época em que era um simples nômade até tornar-se um espécime sedentário. Com a fixação de moradia, surgiram as mais variadas necessidades e outras acentuaram-se, assim o uso ficou comprovado através da experimentação, observação e necessidade, através de erros e acertos.

Além do metabolismo primário, as plantas produzem também substâncias resultantes do metabolismo secundário. Este metabolismo secundário se diferencia do primário, basicamente por não apresentar reações e produtos comuns à maioria das plantas, sendo portanto específico de determinados grupos. Os compostos secundários podem ter utilidade, para o homem, medicinal ou tóxica e, para a planta, existe uma interação com o ambiente no sentido de proteção contra predadores ou como atrativo de polinizadores. Plantas aromáticas são assim denominadas pois armazenam óleos essencias em células secretoras individuais ou formando estruturas como dutos ou canais, tricomas glandulares e outras. Tais estruturas secretoras podem encontrar-se distribuídas por todo o vegetal. Apesar de muitas plantas serem úteis ao homem, existem algumas que produzem substâncias que exercem efeitos tóxico e por isso são denominadas de plantas tóxicas ou venenosas.

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OBTENÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS

As plantas medicinais podem ser adquiridas nas casas de ervas ou podem ser coletadas no campo, sejam silvestres ou cultivadas em jardins ou hortos.

PLANTAS MEDICINAIS CULTIVADAS EM CANTEIROS

As plantas medicinais, por possuirem ciclo curto, podem ser tratadas como as hortaliças. Para cultivá-las em canteiros, estes deverão possuir 1 m de largura e comprimento variável, tendo uma distância de 50 cm entre eles, com a finalidade de possibilitar a movimentação. O espaçamento utilizado normalmente é de 20 cm entre as plantas de espécies de porte baixo e de 30 cm entre sulcos. Para plantas mais altas, que atinjam 1 m de altura, deve-se usar 35 cm entre as plantas e 50 cm entre as linhas. Para as plantas que chegam a 2 m de altura, usar 50 cm entre as mesmas e 70 cm entre sulcos. Os canteiros são normalmente utilizados para plantas de pequeno porte e anuais.

PLANTAS MEDICINAIS CULTIVADAS EM VASOS OU FLOREIRAS

Nos vasos, ou nas floreiras podem ser plantados sementes ou mudas de plantas medicinais. Existem vasos e floreiras de todas as formas, tamanhos e tipos de material. Quando se trata plantas individuais, o mais fácil e prático é provavelmente plantá-las em vasos. Conforme o tipo de material da qual é feita o futuro vaso ou jardineira, torna-se necessário um pequeno tratamento prévio. Seja para assegurar que eles tenham uma vida útil mais longa, seja para possibilitar às plantas melhores condições de cultivo:

- Vasos de barro que nunca foram usados devem ser mergulhados em água por 24 horas, para evitar que absorvam a umidade do solo;

- Materiais como xaxim e coxim (fibra de coco) também devem ser previamente encharcados, do contrário tenderão a ficar ressecados;

- Vasos de metal, em princípio, não deveriam ficar em contato direto com as terra, Se isso ocorrer, a tendência natural é que venham a enferrujar. Portanto, o melhor seria forrá-los internamente com um saco plástico e só depois colocar a terra;

- Plásticos, fibras de vidro para vasos, fibrocimento e cimento são materiais que não requerem nenhum tratamento antes do plantio;

- Vasos ou jardineiras de madeira exigem sempre impermeabilização, com selador, antes de ser pintada com verniz.

Todos os vasos ou jardineiras precisam ter buracos de drenagem e (exceto os cestos) uma camada de cascalho, perlite ou cacos partidos no fundo, para não haver excesso de água, devendo ser cheios com uma boa mistura de terra. Pode fazer-se esta mistura com uma parte de terra comum de jardim, uma parte de esterco ou composto orgânico e uma parte de areia grossa de construção. Devem cultivar-se com maior abundância as plantas que são utilizadas com mais freqüência. Num vaso podem plantar manjericão ou manjerona. Quanto ao coentro e salsa é melhor partilharem outro vaso, pois todas estas gostam de lugares iluminados, mas onde o sol não bata contentemente, dando-se melhor com um meio um pouco mais fresco e molhado do que o primeiro. Também há muitas variedades de hortelã que podem ser cultivadas no mesmo vaso, pois todas apreciam um solo moderadamente molhado e tendem a dispersar as raízes. Já o alecrim, a sálvia, a alfazema devem ser cultivadas sozinhas. No cuidado dispensado às plantas, as regas constituem uma das coisas mais importantes. Nem água demais, nem de menos, o melhor é verificar a umidade do solo todos os dias no verão, de 3 em 3 dias na primavera e no outono, enquanto que no inverno, apenas uma vez por semana é o suficiente. A adubação do solo deve

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ser feita de seis em seis meses, incorporando à terra composto orgânico ou esterco de gado curtido. No caso de aparecerem pragas como pulgões, cochonilhas, tripes nas plantas use o inseticida caseiro que é constituído de: 35 g de fumo de corda picado bem fino, 26 g de sabão de potássio neutro em pó e 50 ml de álcool, diluídos em 8 litros de água.

PLANTAS MEDICINAIS COLETADAS NO CAMPO

Ao coletar as plantas medicinais no campo são necessário saber que os vegetais das quais se utilizam:

a) as folhas devem geralmente, ser recolhidas antes da floração;

b) as flores ou as sumidades floridas devem ser recolhidas no início da floração;

c) os frutos devem ser colhidos no início da maturação;

d) as raízes devem ser retiradas do solo quando o talo murcha, ou no começo da primavera, antes que haja rebrotado.

Na coleta das plantas medicinais é preciso tomar algumas precauções, que são:

- Não devem ser coletadas plantas encontradas próximas de rodovias e plantações pois estas podem apresentar danificações provocadas pelos gases liberados dos escapamentos dos automóveis e, no segundo caso, podem estar impregnadas com produtos químicos utilizados como adubos ou inseticidas;

- É necessário tomar cuidado para que as plantas que se coletem não se sujem mutuamente com a terra;

- Fazer desde o momento da coleta, a triagem dos fragmentos que possam proceder de outras plantas;

- Não coletar plantas ou partes de plantas que estejam rigorosamente limpas. Vigiar particularmente as deposições de animais;

- Selecionar somente plantas sãs, sem manchas e não atacadas por insetos;

- Evitar as que se encontram nas proximidades de fungos;

- Não comprimí-las para que não murchem, o que as faria perder uma boa parte de seu aroma;

- Preparar para a dessecação o mais rápido possível, para evitar que apareçam bolores ou fermentações.

PROCESSAMENTO DAS PLANTAS MEDICINAIS

Após a obtenção das plantas medicinais, normalmente o material pode seguir três caminhos: uso direto do material fresco, extração de substâncias ativas ou aromáticas do material fresco e secagem do material fresco. Este último destino é o que requer mais atenção, por preservar os materiais, possibilitando o uso das plantas a qualquer tempo, dentro dos prazos normais de conservação. Antes de submeter as plantas à secagem, deve-se adotar alguns procedimentos básicos para se obter um produto de boa qualidade, independente do método a ser empregado. São eles:

- não lavar as plantas antes da secagem, exceto no caso de determinados rizomas e raízes;

- devem-se separar a plantas se espécies diferentes;

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- as plantas colhidas e transportadas ao local de secagem não devem receber raios solares;

- antes de submeter as plantas à secagem, deve-se fazer a eliminação de elementos estranhos (terra, pedras, outras plantas, etc.) e partes que estejam em condições indesejáveis (manchadas, danificadas, descoloridas, etc.);

- as plantas colhidas inteiras devem ter cada parte (folhas, flores, sementes, frutos e raízes) seca em separado e conservada em recipientes individuais;

A secagem pode ser conduzida em condições ambientais ou com o uso de estufas, secadores, etc. A secagem natural é um processo lento e deve ser conduzida à sombra, em local ventilado, protegido de poeira e do ataque de insetos e outros animais. Esse processo de uso doméstico, é recomendado para regiões que apresentam condições climáticas favoráveis, relacionadas principalmente com a ventilação. Nesse processo, deve-se espalhar o material a ser seco em camadas finas, permitindo assim a circulação de ar entre as partes vegetais e uma secagem mais uniforme. Para isto podem ser utilizados bandejas com fundo de tela plástica fina, aço inoxidável ou tecido com características semelhantes. Outra maneira prática consiste em espalhar em camada fina o material em uma mesa ou bancada forradas com papel, em ambiente abrigado do sol e com ventilação. A secagem artificial de plantas medicinais é fundamentada no aumento da capacidade do ar de retirar a umidade da palnta. Assim, utilizam-se métodos que elevam a temperatura e promovem a ventilação ou simplesmente reduzem a umidade relativa do ar. O aumento da temperatura vai também reduzir a umidade relativa do ar, enquanto a ventilação vai facilitar a homogenização do ar de secagem em toda a massa de plantas secagem. A temperatura utilizada varia de 35 a 45ºC. Temperaturas acima de 45ºC danificam os órgãos vegetais e seus conteúdos, pois proporcionam "cocção" das palntas e não uma secagem, apesar de inativarem maior quantidade de enzimas, A secagem artificial origina material de melhor qualidade por aumentar a rapidez do processo. A secagem artificial origina material de melhor qualidade por aumentar a rapidez do processo.

MANIPULAÇÃO DAS PLANTAS MEDICINAIS

1 - CATAPLASMAS

Preparações para uso externo, de consistência mole e compostas de pós ou farinhas diluídas em água, cozimentos, infusões, vinho ou leite. São preparados a quente ou, muito raramente, a frio.

É obtido por diversas formas:

• amassar as ervas frescas e bem limpas e aplicá-las diretamente sobre a parte afetada ou envolvidas em um pano fino ou gaze;

• reduzi-las em pó, misturá-las em água, chá ou outras preparações e aplicá-las envoltas em pano fino sobre as partes afetadas e

• pode-se ainda, utilizar farinha de mandioca ou fubá de milho e água, geralmente quente, com a planta fresca ou seca triturada.

2- CONTUSÃO

Consiste em colocar a substância dentro de um gral e fazer com que atue sobre ela a mão ou pilão perpendicularmente, com bastante força, para destruir a coesão das moléculas. A sustância deve obter a consistência de pó ou pasta.

3 - DECOCÇÃO

É a fervura da substância, para dissolvê-la pela ação prolongada da água e do calor. Utilizada sobretudo

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no caso das sementes de cereais, a decocção pode ser leve ou branda, carregada ou concentrada, conforme sua duração (de apenas alguns minutos a várias horas) e a saturação do líquido empregado.

4 - INALAÇÃO

Na inalação é utilizada a combinação de vapor de água com sustâncias voláteis das plantas aromáticas. Para direcionar o vapor é utilizado um cone de papelão colocado sobre com a base maior voltada para o recepiente e a base menor voltada para cima. Normalmente esse processo é recomendado para para problemas respiratórios.

5 - INFUSÃO

Esse processo é indicado particularmente para as plantas aromáticas. A substância é colocada numa vasilha, que depois recebe água fervente e posteriormente é tampada. Após descansar por um certo tempo, a mistura é coada. O tempo de infusão varia de 10 a 15 minutos (para folhas ou flores) a várias horas (no caso de raízes).

6 - FILTRAÇÃO

Seu objetivo é separar o líquido (solução, sumo, tisanas, tinturas, azeites, xarope) de certas partículas que se encontram em suspensão. Quando não se exige uma perfeita transparência do líquido, substitui-se a filtração pela coadura. Para a primeira utiliza-se papel de filtro e na segunda, emprega-se tecidos de lã, pedaços de algodão.

7 - MACERAÇÃO

Neste processo, a substância vegetal é deixada em contato com o veículo (líquido usado para dissolver o princípio ativo, como por exemplo: álcool, óleo, água ou outro líquido extrator), em temperatura ambiente. O período de maceração depende do material a ser utilizado. Folhas, flores e outra partes tenras são picadas e ficam macerando por 10 a 12 horas, enquanto partes mais duras ficam macerando por 18 a 24 horas. Embora lenta, a maceração é um método excelente para obter o princípio ativo em toda sua integridade.

8 - SUCOS

É um processo para ser utilizado imediatamente. Na preparação são utilizados frutos moles e maduros espremidos em pano ou ou folhas, flores e sementes triturados em liquidificador ou pilão. Nesses sucos podem ser adicionados água ou não.

9 - VINHOS MEDICINAIS

São preparações que resultam da ação dissolvente do vinho sobre as substâncias vegetais. O vinho utilizado deve ser puro, com alto teor alcoólico; tinto para dissolver princípios tônicos ou adstringentes e branco quando se deseja obter um produto diurético. O método para se obter vinhos medicinais é muito simples: adiciona-se 5g de uma ou mais ervas secas, bem limpos e picados para cada 100ml de vinho e macera-se em recipiente bem tampado e em local escuro, por um período de 10 a 15 dias, sendo agitado uma ou duas vezes diariamente. Depois de filtrado, o produto deve ser conservado em local arejado.

10 - TINTURAS

A preparação de tinturas a partir de substâncias é um processo minucioso e delicado que consiste em misturar partes de plantas secas e dividas em álcool de pureza absoluta, onde o contato deverá ser mais ou menos prolongado para permitir uma melhor extração dos princípios ativos (8 a 15 dias).

Para obter as tinturas deve-se:

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• plantas frescas - utilizar a proporção de 50% em peso de plantas em relação ao álcool a 92ºGL, em volume, isto é, 500g de planta fresca em 1000 ml de álcool;

• plantas secas - usar a proporção de 25% em peso de plantas secas em relação à mistura álcool-água, na proporção de sete partes de álcool a 92ºGL e três partes de água destilada ou fervida, em volume, ou seja, 250g de plantas secas em 700ml de álcool a 92ºGL e 300 ml de água.

Após a obtenção da tintura, filtra-se e o resíduo é espremido em uma prensa, para extrair o líquido que ainda esteja presente. As tinturas alcoólicas conservam os princípios ativos por muitos anos e são utilizadas em pequena quantidade para uso interno (puras ou diluídas) e externamente em maiores quantidades (puras ou diluídas).

11 - TISANAS

Nome genérico dado às soluções, macerações, infusões e decocções preparadas com plantas medicinais. Quando a elas se agregam xaropes, tinturas, extratos ou outros ingredientes, as tisanas são chamadas de poções.

12 - TORREFAÇÃO

Este processo possui dois objetivos: retirar a água de certas substâncias e submetê-las a um princípio de decomposição que modifica algumas de suas propriedades. O agente no processo da torrefação utilizado é o fogo. O café após a torrefação torna-se aromático, o ruibarbo perde suas qualidades laxantes e o ópio seu princípio viscoso.

13 - UNGÜENTO E POMADAS

Medicação imediata, podendo ser guardada por tempo determinado. É preparado através da mistura do suco, tintura ou chá da planta medicinal com vaselina ou lanolina. As pomadas e os ungüentos permanecem mais tempo sobre a pele, devem ser usados a frio e renovados duas ou três vezes ao dia.

14 - XAROPE

Preparação de uso mais prolongado, usado principalmente para doenças da garganta, pulmão e brônquios. Para prepará-lo são necessários dissolver açúcar em água e aquecer até a obtenção de ponto de fio e depois acrescentar a tintura do vegetal na preparação.

OS EFEITOS DAS PLANTAS MEDICINAIS

Abortivo: provoca a eliminação do feto. Adsorvente: elimina os gases acumulados. Anticatarral: Inibe a formação de catarro. Antiespasmódico: evita ou alivia as cólicas e os espasmos (contrações musculares dolorosas). Antiflatulento: elimina os gases intestinais. Anti-reumático: combate o reumatismo e seus sintomas. Antitussígeno: inibe a tosse. Carminativo: elimina gases acumulados e favorece a digestão, diminuindo o inchaço abdominal, a flatulência e as dores. Catártico: o mesmo que laxante ou purgativo. Colagogo: favorece a eliminação do conteúdo das vias biliares. Colerético: contrai a vesícula biliar para a eliminação de seu conteúdo. Diaforético: provoca suor. Diurético: faz urinar mais, auxilia a eliminação de líquidos pelos rins. Drástico: purgante enérgico. Emenagogo: estimula a menstruação (não é o mesmo que abortivo). Emético: provoca vômito. Emoliente: suaviza, amolece uma inflamação. Estomacal: ajuda a digestão no estômago. Estomáquico: favorece as funções digestivas; tonificante do estômago. Expectorante: elimina a mucosidade do aparelho respiratório. Febrífugo: abaixa a febre. Galactogogo: aumenta a secreção do leite. Hemostático: estanca as hemorragias. Laxante: purgante de efeito brando, que induz a evacuação de fezes moles, não causando dor nem irritação intestinal. Mucolítico: bloqueia a produção de muco; pode ser anticatarral. Obstipante: prende os intestinos. Sudorífico: o mesmo que diaforético.

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CUIDADOS NO USO DAS PLANTAS MEDICINAIS

Muitas vezes escutamos as pessoas recomendarem o uso de plantas medicinais dizendo: "Se bem não fizer, mal também não fará." Infelizmete não é isso que ocorre, porque o uso inadequado de plantas medicinais pode muitas vezes não realizar o efeito desejado. O uso de plantas medicinais, quando efetuado com critérios, só tem a contribuir para a saúde de quem o pratica. Esses critérios se referem à identificação da doença ou do sintoma apresentado, conhecimento e seleção correta da planta a ser utilizada e uma adequada preparação. As plantas medicinais devem ser adquiridas, preferencialmente, por pessoas ou firmas idôneas que possam dar garantia da qualidade e da identificação correta. O ideal seria que as pessoas e instituições que fazem uso das plantas medicinais, mantivessem o cultivo das espécies mais utilizadas. Na preparação, deve-se observar cuidadosamente a dosagem das partes vegetais e sua forma de uso. As misturas de plantas no chá devem se restringir a um número pequeno de espécie com indicações e uso semelhantes. A forma de uso e a freqüência também são importantes durante o tratamento. Não adianta ingerir um litro de chá de uma só vez, quando se deveria tomar a intervalos regulares de tempo durante o dia. Da mesma forma, uma planta recomendada exclusivamente para uso externo não deve ser administrada internamente. O uso contínuo de uma mesma planta deve ser evitado. Recomenda-se períodos de uso máximo entre 21 e 30 dias, intercalados por um período de descanso entre 4 e 7 dias, permitindo que o organismo desacostume-se e, também, para que o vegetal possa atuar com toda a sua eficácia. A adição de mel a chás e xaropes só deve ser feita depois que estes fiquem mornos ou frios. A dosagem dos remédios caseiros feitos com plantas medicinais variam de acordo com a idade e com o tipo de metabolismo de cada pessoa. O horário em que devem ser tomados os preparados fitoterápicos é muito importante para a obtenção dos efeitos desejados. Assim, têm-se as seguintes regras gerais:

- desjejum: preparações os laxativos, depurativos, diuréticos e vermífugos;

- duas horas antes de depois das refeições principais: preparações anti-reumáticas, hepatoprotetoras, neurotônicas e antitérmicas;

- meia hora antes das refeições principais: preparações tônicas e antiácidas;

- depois das refeições principais: preparações digestivas e contra gases;

- antes de se deitar: preparações hepatoprotetoras e laxativos.

As dosagens dos fitoterápicos caseiros variam de acordo com a idade e metabolismo de cada indivíduo. Para os chás (decocção, infusão e maceração) recomenda-se:

- de 6 meses de idade até 1 ano, 1 colher (café) do preparado 3 vezes ao dia (somente com acompanhamento médico);

- de 1 a 2 anos è ½ xícara (chá) 2 vezes ao dia;

- de 2 a 5 anos è ½ xícara (chá) 3 vezes ao dia;

- de 5 a 10 anos è ½ xícara (chá) 4 vezes ao dia;

- adultos è 1 xícara (chá) 3 a 4 vezes ao dia.

As informações sobre a dosagem de plantas medicinais são muito divergentes, principalmente quando se

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trata da medição de volumes com utensílios domésticos ou mesmo conversão de pesos em volumes e vice-versa. Recomenda-se que ao preparar decocções, infusões e macerações deve-se utilizar para material seco uma colher (chá) e para o vegetal fresco uma colher (sopa), ambos misturados em um litro de água. Todo cuidado é pouco. Mas isso não impede de utilizarmos as plantas medicinais, desde que, estas sejam empregadas da maneira correta.

PRINCÍPIOS ATIVOS DAS PLANTAS MEDICINAIS

Os constituintes químicos, encontrados nos vegetais, são sintetizados e degradados por inúmeras reações que constituem o metabolismo das plantas. A síntese de compostos essenciais para a sobrevivência das espécies vegetais, tais como: açúcares, aminoácidos, ácidos graxos, nucleotídeos e seus polímeros derivados, faz parte do metabolismo primário das plantas. Enquanto que os compostos sintetizados por outras vias e que aparentam não ter grande utilidade na sobrevivência das espécies, fazem parte do metabolismo secundário, logo são denominados de compostos secundários. Os metabólitos secundários são caracterizados por não serem vitais para as plantas, na maioria das vezes, como os alcalóides; por apresentar diferenças qualitativas e quantitativas entre as diferentes espécies, e ainda, por serem produzidos em pequenas quantidades. A separação dessas duas vias metabólicas é muito discutida e, a classificação dos compostos em primários e secundários depende muito da importância de determinado composto para uma determinada espécie, assim como do estágio de desenvolvimento em que se encontra. Segundo Mann (1987), há três pontos de origem e produção de compostos secundário, diferenciados mediante seus precursores:

• ácido shiquímico, como precursor de inúmeros compostos aromáticos;

• aminoácidos, fonte de alcalóides e peptídeos;

• acetato, que através de duas rotas biossintéticas origina compostos como poliacetilenos, terpenos, esteróides e outros.

A concentração de princípios ativos na planta depende, naturalmente, do controle genético e dos estímulos proporcionados pelo meio, como por exemplo fatores climático, edáficos (relacionados com o solo), exposições a microrganismos, insetos, outros herbívo-ros e poluentes. Os estímulos proporcionados pelo meio são normalmente caracterizados como situações de "stress", isto é, excesso ou deficiência de algum fator de produção para a planta. Dentre os fatores climáticos, o fotoperíodo ( número de horas de luz por dia necessário por uma planta para que possam florescer), a temperatura, o "stress" hídrico (deficiência de água no solo) podem determinar em determinadas espécies a época ideal de colheita onde poderá se obter uma maior quantidade do princípo ativo desejado. Existem vários grupos de princípios ativos como por exemplo os alcalóides, os óleos essenciais, os taninos, as saponinas, os glicosídeos cardiotônicos, os flavonóides, etc.

Bibliografia

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VIERA, L.S. Fitoterapia da Amazônia. São Paulo. Ed. Ceres. 347p., 1992.

TEXTO 10 - ARBORIZAÇÃO URBANA

Texto de Perci Guzzo

A CIDADE

O espaço urbano é constituído basicamente por áreas edificadas (casas, comércio e indústrias), áreas destinadas à circulação da população (sistema rodo-ferroviário) e áreas livres de edificação (praças, quintais, etc.). As áreas ou espaços livres podem ser públicos, potencialmente coletivos ou privados. Denominamos espaços livres de uso público as áreas cujo acesso da população é livre. São os parques, praças, cemitérios e unidades de conservação inseridas na área urbana e com acesso livre da população. As áreas ou espaços livres potencialmente coletivos são aqueles localizados junto às universidades, escolas e igrejas. Nestas áreas o acesso da população é controlado de alguma forma. Finalmente, as áreas livres privadas são aquelas de propriedade particular, onde o acesso não é permitido para qualquer cidadão. São os jardins e quintais de

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residências, clubes de lazer, áreas de lazer de condomínios e remanescentes de vegetação natural ou implantada de propriedade particular. Entende-se por arborização urbana toda cobertura vegetal de porte arbóreo existente nas cidades. Essa vegetação ocupa, fundamentalmente, três espaços distintos:

• as áreas livres de uso público e potencialmente coletivas, citadas anteriormente;

• as áreas livres particulares; e

• acompanhando o sistema viário.

O presente texto estará tratando especificamente da arborização urbana que acompanha as ruas e avenidas. São as árvores encontradas ao longo das calçadas, nos canteiros centrais de avenidas e nas rotatórias.

AS ÁRVORES: BENEFÍCIOS E PROBLEMAS

Da mesma forma que a arborização encontrada nas áreas livres públicas e privadas, as árvores que acompanham o sistema viário exercem função ecológica, no sentido de melhoria do ambiente urbano, e estética, no sentido de embelezamento das vias públicas, conseqüentemente da cidade. Algumas contribuições significativas na melhoria da qualidade do ambiente urbano são citadas a seguir:

• purificação do ar pela fixação de poeiras e gases tóxicos e pela reciclagem de gases através dos mecanismos fotossintéticos;

• melhoria do microclima da cidade, pela retenção de umidade do solo e do ar e pela geração de sombra, evitando que os raios solares incidam diretamente sobre as pessoas;

• redução na velocidade do vento;

• influência no balanço hídrico, favorecendo infiltração da água no solo e provocando evapo-transpiração mais lenta;

• abrigo à fauna, propiciando uma variedade maior de espécies, conseqüentemente influenciando positivamente para um maior equilíbrio das cadeias alimentares e diminuição de pragas e agentes vetores de doenças; e

• amortecimento de ruídos.

Outra função importante da arborização que acompanha o sistema viário é seu préstimo como corredor ecológico, interligando as áreas livres vegetadas da cidade, como praças e parques. Além disso, em muitas ocasiões, a árvore na frente da residência confere a esta uma identidade particular e propicia o contato direto dos moradores com um elemento natural significativo, considerando todos os seus benefícios. No entanto, muitos são os problemas causados do confronto de árvores inadequadas com equipamentos urbanos, como fiações elétricas, encanamentos, calhas, calçamentos, muros, postes de iluminação, etc. Estes problemas são muito comuns de serem visualizados e provocam, na grande maioria das vezes, um manejo inadequado e prejudicial às árvores. É comum vermos árvores podadas drasticamente e com muitos problemas fitossanitários, como presença de cupins, brocas, outros tipos de patógenos, injúrias físicas como anelamentos, caules ocos e podres, galhos lascados, etc. Frente a esta situação comum nas cidades brasileiras, soma-se o fato da escassez de árvores ao longo das ruas e avenidas. Neste sentido, é fundamental considerarmos a necessidade de um manejo constante e adequado voltado especificamente para a arborização de ruas. Este manejo envolve etapas

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concomitantes de plantio, condução das mudas, podas e extrações necessárias. Para que seja implementado um sistema municipal que dê conta de toda essa demanda de serviços, é necessário considerar a necessidade de uma legislação municipal específica, medidas administrativas voltadas a estruturar o setor competente para executar os trabalhos, considerando, fundamentalmente, mão-de-obra qualificada e equipamentos apropriados, bem como o envolvimento com empresas que ajudem a sustentar financeiramente os projetos e ações idealizados, e com a população em geral. Este último poderá acontecer, preferencialmente, através de programas de educação ambiental voltados para o tema, procurando envolver de fato os moradores no processo de arborização ou rearborização da cidade.

A escolha da espécie a ser plantada na frente da residência é o aspecto mais importante a ser considerado. Para isso é extremamente importante que seja considerado o espaço disponível que se tem defronte à residência, considerando a presença ou ausência de fiação aérea e de outros equipamentos urbanos, citados anteriormente, largura da calçada e recúo predial. Dependendo desse espaço, a escolha ficará vinculada ao conhecimento do porte da espécie a ser utilizada. Para facilitar, as árvores usadas na arborização de ruas e avenidas foram classificadas em pequeno, médio e grande porte. A seguir seguem as definições de cada um dos portes, com indicação de nomes de algumas espécies mais comuns.

ÁRVORES DE PEQUENO PORTE

São aquelas cuja altura na fase adulta atinge entre 04 e 05 metros e o raio de copa fica em torno de 02 a 03 metros. São espécies apropriadas para calçadas estreitas (< 2,5m), presença de fiação aérea e ausência de recuo predial. Exemplos: Murta, Falsa-murta, Murta de cheiro Murraya exótica; Ipê-de-jardim Stenolobium stans; Flamboyantzinho, Flamboyant-mirim Caesalpinia pulcherrima; Manacá-de-jardim Brunfelsia uniflora; Hibisco Hibiscus rosa-sinensis; Resedá anão, Extremosa, Julieta Lagerstroemia indica; Grevílea anã Grevillea forsterii; Cássia-macrantera, manduirana Senna macranthera; Rabo-de-cotia Stifftia crysantha; Urucum Bixa orelana; Espirradeira, Oleandro Nerium oleander; Calistemon, Bucha-de-garrafa Callistemon citrinum; Algodão-da-praia Hibiscus pernambucencis; Chapéu-de-Napoleão Thevetia peruviana.

ÁRVORES DE MÉDIO PORTE

São aquelas cuja altura na fase adulta atinge de 05 a 08 metros e o raio de copa varia em torno de 04 a 05 metros. São apropriadas para calçadas largas (> 2,5m), ausência de fiação aérea e presença de recuo predial. Exemplos: Aroeira-salsa, Falso-chorão Schinus molle; Quaresmeira Tibouchina granulosa; Ipê-amarelo-do-cerrado Tabebuia SP; Pata-de-vaca, unha-de-vaca Bauhinia SP; Astrapéia Dombeya wallichii; Cássia imperial, cacho-de-ouro Cassia ferruginea; Resedá-gigante, Escumilha african Lagerstroemia speciosa; Magnólia amarela Michaelia champaca; Eritrina, Suinã, Mulungu Erytrina verna; Ligustro, Alfeneiro-do-Japão Ligustrum lucidum; Sabão-de-soldado Sapindus saponaria; Canelinha Nectandra megapotamica.

ÁRVORES DE GRANDE PORTE

São aquelas cuja altura na fase adulta ultrapassa 08 metros de altura e o raio de copa é superior a 05 metros. Estas espécies não são apropriadas para plantio em calçadas. Deverão ser utilizadas prioritariamente em praças, parques e quintais grandes. São elas: Sibipiruna Caesalpinia peltophoroides; Jambolão Eugenia jambolona; Monguba, Castanheira Pachira aquática; Pau-ferro Caesalpinia férrea; Sete-copas, Amendoeira Terminalia catappa; Oiti Licania tomentosa; Flamboyant Delonix regia; Alecrim-de-Campinas Holocalix glaziovii; Ipê-roxo Tabebuia avellanedae; Ipê-amarelo Tabebuia chrysotrica; Ipê-branco Tabebuia roseo-alba; Cássia-grande, Cássia-rósea Senna grandis; Cássia-de-Java Senna javanica; Jacarandá-mimoso Jacaranda mimosaefolia; Figueiras em geral Ficus sp.

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As palmeiras em geral também não são apropriadas para uso em calçadas, seja pelo porte, na maioria das vezes grande, e também pela dificuldade de manejo. No entanto, podem ser utilizadas nos canteiros centrais de avenidas e nas rotatórias, bem como nas áreas livres públicas.

PODA

A poda tem a função da adaptar a árvore e seu desenvolvimento ao espaço que ela ocupa. O conhecimento das características das espécies mais utilizadas na arborização de ruas, das técnicas de poda e das ferramentas corretas para a execução da poda permite que esta prática seja feita de forma a não danificar a árvore. Entretanto, a poda sempre será uma agressão à árvore. Sempre deverá ser feita de modo a facilitar a cicatrização do corte. Caso contrário, a exposição do lenho permitirá a entrada de fungos e bactérias, responsáveis pelo apodrecimento de galhos e tronco, e pelo aparecimento das conhecidas cavidades (ocos). A situação ideal é conduzir a árvore desde jovem, quando tem maior capacidade de cicatrização e regeneração, orientando o seu crescimento para adquirir uma conformação adequada ao espaço disponível. As espécies cujo principal atributo são as flores não deverão ser podadas nos meses que antecedem a época de floração. Para as espécies que apresentam floração pouco significativa, do ponto de vista paisagístico (ligustro, canelinha, sete-copas, monguba, aroeira-salsa, etc), a poda deverá ser feita no final do período de repouso vegetativo que, para nossas condições climáticas, ocorre nos meses de agosto e setembro. O local mais apropriado para o corte é na base do galho, ou seja, onde ele está inserido no tronco ou em ramos mais grossos. A base do galho possui duas regiões de intensa atividade metabólica, que apresentam rápida multiplicação de células: a crista, que fica na parte superior e o colar, que fica na parte inferior do galho. Para poda de galhos grossos (diâmetro superior a 2,0 cm), considerados lenhosos, o corte deverá ser feito em três etapas. A figura 06 mostra a anatomia da base do galho e o posicionamento dos três cortes em galhos grossos. Os galhos com até 2,0 cm de diâmetro são eliminados em corte único, com auxílio de tesoura de poda ou serra manual.

A seguir seguem os tipos de poda utilizados em árvores de rua:

• Poda de Condução : é adotada em mudas e árvores jovens com o objetivo de adequá-las às condições do local onde se encontram plantadas, adquirindo tronco em haste única, livres de brotos e copa elevada, acima de 1,80 metros.

• Poda de Manutenção : adotada nas árvores jovens e adultas, visando a manutenção da rede viária. Divide-se em:

• Poda de limpeza : é executada em árvores jovens e adultas, com o objetivo de remover galhos secos, doentes ou ramos ladrões.

• Poda de conformação : poda leve em galhos e ramos que interferem em edificações, telhados, iluminação pública, derivações de rede elétrica ou telefônica, sinalização de trânsito, levando-se em consideração o equilíbrio e a estética da árvore.

• Poda para livrar fiação aérea : adotada em árvores de médio e grande portes sob fiação, visando evitar a interferência dos galhos com a mesma. O ideal é o preparo da árvore desde jovem. Pode ser efetuda de quatro maneiras diferentes, dependendo de cada situação e da espécie que será podada.

• Poda em "V": é a remoção dos galhos internos da copa, que atingem a fiação secundária energizada ou telefônica, dando aos ramos principais a forma de V, permitindo assim o desenvolvimento da copa acima e ao redor da rede elétrica.

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• Poda em "furo": consiste na manutenção da poda em "V", com o desenvolvimento da copa acima e ao redor da fiação. É necessária remoção constante das brotações desenvolvidas ao redor dos fios.

• Poda de formação de copa alta : a copa é direcionada a se formar acima da rede elétrica. Consiste na remoção dos ramos principais e/ou secundários que atingem a fiação. Quando existe fiação primária energizada, a formação de copa alta não é possível.

• Poda de contenção de copa : é a redução da altura da copa, com o objetivo de mantê-la abaixo da fiação aérea. É utilizada principalmente em árvores plantadas sob fiação primária energizada.

• Poda drástica : é considerada poda drástica aquela que apresenta uma das seguintes características:

I - Remoção total da copa, permanecendo acima do tronco os ramos principais com menos de 1,0 metro de comprimento nas árvores adultas;

II - Remoção total de um ou mais ramos principais, resultando no desequilíbrio irreversível da árvore;

III - Remoção total da copa de árvores jovens e adultas, resultando apenas o tronco.

As podas drásticas deverão ser evitadas, sendo a sua utilização permitida apenas em situações emergenciais ou quando precedida de parecer técnico de funcionário municipal autorizado. As ferramentas e equipamentos principais para os serviços de poda são: tesoura de poda, serras manuais ou moto-serras. Deverão ser evitadas as seguintes ferramentas: machado, facão e foice. Os equipamentos acessórios são as escadas, cordas e plataformas elevatórias ou cestos. Os equipamentos de segurança são: capacete com fixação no queixo, óculos para evitar serragem nos olhos, protetores auriculares para os operadores de moto-serra, luvas de couro e sapatos com solado reforçado.

OBSERVAÇÃO: Este texto sobre poda foi inteiramente retirado da Apostila "A poda na arborização urbana", elaborada pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Ribeirão Preto/SP.

DOENÇAS

O controle da saúde das árvores deve ser feito regularmente. Os problemas mais freqüentes são formigas, cochonilhas, pulgões, lagartas, fungos e cupins. Sempre que houver algum problema, dessa natureza, com as árvores próximas à sua residência, o melhor a fazer é procurar orientação de técnicos habilitados, que indicarão o procedimento adequado para cada caso. A prática comum de caiar troncos das árvores não tem função benéfica. A cal é tóxica para os líquens que vivem nos troncos das árvores.

Bibliografia

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Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Ribeirão Preto/SP. A Poda na Arborização Urbana. Apostila. 1996. 32 p.

AULA 11 – ÁREAS VERDES URBANAS

Texto de Perci Guzzo

CONCEITOS E DEFINIÇÕES

Existe uma dificuldade com relação aos diferentes termos utilizados sobre as áreas verdes urbanas. Similaridades e diferenciações entre termos como áreas livres, espaços abertos, áreas verdes, sistemas de lazer, praças, parques urbanos, unidades de conservação em área urbana, arborização urbana e tantos outros, confundem os profissionais que trabalham nessa área. Esse problema existe nos níveis de pesquisa, ensino, planejamento e gestão dessas áreas, e conseqüentemente, nos veículos de comunicação. Nesse sentido foi desenvolvido um trabalho por Lima et all ( 1994 ), na tentativa de definir esses termos, através de consultas a profissionais que trabalham nessa área e a experiência do grupo que desenvolveu o trabalho. A seguir seguem algumas definições retiradas desse trabalho:

• Espaço Livre : trata-se do conceito mais abrangente, integrando os demais e contrapondo-se ao espaço construído, em áreas urbanas. Assim, a Floresta Amazônica não se inclui nessa categoria; já a Floresta da Tijuca, localizada dentro da cidade do Rio de Janeiro, é

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um espaço livre.

• Área Verde : onde há o predomínio de vegetação arbórea, englobando as praças, os jardins públicos e os parques urbanos. Os canteiros centrais de avenidas e os trevos e rotatórias de vias públicas, que exercem apenas funções estéticas e ecológicas, devem, também, conceituar-se como área verde. Entretanto, as árvores que acompanham o leito das vias públicas, não devem ser consideradas como tal, pois as calçadas são impermeabilizadas.

• Parque Urbano : é uma área verde, com função ecológica, estética e de lazer, entretanto com uma extenção maior que as praças e jardins públicos.

• Praça : como área verde, tem a função principal de lazer. Uma praça, inclusive, pode não ser uma área verde, quando não tem vegetação e encontra-se impermeabilizada ( exemplo, a Praça da Sé em São Paulo). No caso de ter vegetação é considerada Jardim.

• Arborização Urbana : diz respeito aos elementos vegetais de porte arbóreo, dentro da cidade. Nesse enfoque, as árvores plantadas em calçadas, fazem parte da arborização urbana, porém, não integram o sistema de áreas verdes.

• Área Livre e Área Aberta: são termos que devem ter sua utilização evitada, pela imprecisão na sua aplicação.

• Espaço Aberto : traduzido erroneamente e ao pé da letra do termo inglês "open space". Deve ser evitada sua utilização, preferindo-se o uso do termo espaço livre.

A CIDADE COMO UM ECOSSISTEMA E AS ALTERAÇÕES AMBIENTAIS DECORRENTES DA URBANIZAÇÃO

As cidades, assim como o meio natural, possuem entrada, tocas e saída de matéria e energia. Nesse sentido, pode ser considerada como um ecossistema. A Ecologia Urbana é a área do conhecimento responsável pelo estudo das cidades sob a ótica ecológica.

No entanto, o meio urbano não é nem um pouco auto-sustentável. Há uma grande quantidade de consumo de recursos naturais provenientes de outros sistemas, como os naturais, os semi-naturais e os agrários. Por exemplo, a água que consumimos, os alimentos que comemos, são provenientes, originariamente, fora das cidades. Tudo para abastecer uma única espécie dominante que vive nas áreas urbanas, o homem. Os rejeitos da utilização de bens e produtos são uma grande fonte de poluição para o próprio ambiente das cidades, seu entorno e até mesmo de áreas mais distantes. A ciclagem ou reciclagem desses rejeitos ainda é insignificante. A poluição atmosférica por gases e partículas, a contaminação das águas pelos esgotos urbanos e industriais, o lixo e entulho gerados são os principais exemplos desses rejeitos.

Em suma, somos uma espécie que consome bastantes recursos naturais, desperdiça muitos bens e produtos e polui bastante o ambiente que co-habitamos com outros seres vivos.

A urbanização em maior ou menor escala provoca alterações no ambiente das cidades. Essas alterações ocorrem no micro-clima e atmosfera das cidades, no ciclo hidrológico, no relevo, na vegetação e na fauna.

A atmosfera se torna mais poluída e aquecida, devido: .presença de material particulado ( poeira, fuligem ); .liberação de gases ( CO2, CO, e outros), provenientes de veículos, indústrias e construções, provocando nuvens produzidoras de sombra; .umidade relativa menor do que no meio natural e agrário e ; .temperaturas mais altas devido o aquecimento de grandes áreas concretadas e escassez de vegetação e corpos d’água.

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O ciclo das águas é alterado pela impermeabilização do solo, onde a água pluvial escorre por galerias e sistemas de drenagem, tornando essa água imprópria para uso. Os cursos d’água são retificados, não respeitando a existência e necessidade das matas ciliares. Assim as águas atingem os fundos de vale rapidamente e, não tendo condições de vazão suficiente, causam as enchentes. Além disso, as águas carregam para os rios materiais, como terra, lixo, entulho que contribuem com o assoreamento dos mesmos.

O maior problema com relação ao relevo são os cortes e aterros de grandes extenções, causando compactação e erosão dos solos. A vegetação natural é quase totalmente dizimada e substituida por ruderais ou por plantas exóticas, muitas vezes com pequena função ecológica.

A fauna original é totalmente dizimada em função da destruição de seu habitat natural. Algumas espécies de animais se sobressaem nas cidades, devido as condições favoráveis que encontram para o seu aumento populacional e ausência de seus predadores naturais, provocando um desequilíbrio inigualável nas cadeias alimentares. Baratas, ratos, pombos, pardais, escorpiões, formigas, cupins, pernilongos, são os principais exemplos de animais urbanos. Muitos deles vetores de doenças e indesejáveis devido a sua grande população.

AS DIFERENTES FUNÇÕES DAS ÁREAS VERDES URBANAS

As áreas verdes urbanas proporcionam melhorias no ambiente excessivamente impactado das cidades e benefícios para os habitantes das mesmas.

A função ecológica deve-se ao fato da presença da vegetação, do solo não impermeabilizado e de uma fauna mais diversificada nessas áreas, promovendo melhorias no clima da cidade e na qualidade do ar, água e solo.

A função social está intimamente relacionada com a possibilidade de lazer que essas áreas oferecem à população. Com relação à este aspecto, deve-se considerar a necessidade de hierarquização, segundo as tipologias e categorias de espaços livres, tema que será abordado a seguir.

A função estética diz respeito à diversificação da paisagem construída e o embelezamento da cidade. Com relação a este aspecto deve ser ressaltada a importância da vegetação.

A função educativa está relacionada com a possibilidade imensa que essas áreas oferecem como ambiente para o desenvolvimento de atividades extraclasse e de programas de educação ambiental.

A função psicológica ocorre, quando as pessoas em contato com os elementos naturais dessas áreas, relaxam, funcionando como antiestresse. Este aspecto está relacionado com o exercício do lazer e da recreação nas áreas verdes.

No entanto, a serventia das áreas verdes nas cidades está intimamente relacionada com a quantidade, a qualidade e a distribuição das mesmas dentro da malha urbana. Com relação à quantidade, a seguir estaremos discutindo a questão do índice de áreas verdes públicas e outros índices que mensuram a quantidade de vegetação nas cidades. Com relação à qualidade e distribuição, pretende-se abordar a questão da hierarquização dos espaços livres e aspectos relacionados à manutenção, conservação e planejamento dessas áreas.

ÍNDICES

Na realidade pode-se falar em diferentes índices para expressar o verde nas cidades. O índice de

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áreas verdes é aquele que expressa a quantidade de espaços livres de uso público, em Km 2 ou m2, pela quantidade de habitantes que vive em uma determinada cidade. Então, neste cômputo, entram as praças, os parques e os cemitérios, ou seja, aqueles espaços cujo acesso da população é livre. Vale salientar que dever-se-ia trabalhar com um primeiro valor que é em função da quantidade total das áreas existentes e um segundo, recalculado, que expresse quantas dessas áreas estão sendo realmente utilizadas, após uma avaliação do seu estado de uso e conservação. Este índice se refere àquelas áreas verdes que desempenham todas as funções descritas no item anterior. No entanto, está intimamente ligado à função de lazer que desempenham ou que podem desempenhar.

Outro índice que pode ser gerado é o índice de cobertura vegetal em área urbana. Para obtenção desse índice é necessário o mapeamento de toda cobertura vegetal de um bairro ou cidade e posteriormente quantificado em m2 ou Km2.Conhecendo-se a área total estudada, também em m2

ou km2, chega-se posteriormente à porcentagem de cobertura vegetal que existe naquele bairro ou cidade. Se mapearmos somente as árvores, então esse índice expressará somente a cobertura vegetal de porte arbóreo. Nucci (1996), em sua tese de doutorado, fez esse levamento para o Distrito de Santa Cecília, na cidade de São Paulo. Neste trabalho o autor mapeou as "manchas de verde", obteve o valor em m2 e depois dividiu pela população residente naquele bairro, chegando a um índice que ele denominou índice de verde por habitante. Neste caso ele considerou todo o verde existente no bairro, independente de ser área pública ou particular e não se preocupando, neste caso, com o acesso da população a essas áreas. Em seguida o autor diferenciou as áreas verdes públicas das particulares e obteve também o índice de áreas verdes.

Oliveira (1997), em sua dissertação de mestrado, fez um levantamento das áreas públicas de São Carlos e obteve dois índices diferentes. O primeiro, denominado percentual de áreas verdes (PVA), foi estimado para grandes áreas da cidade que o autor chamou de unidades de gerenciamento. Neste índice entraram todas as áreas verdes públicas da cidade, independentemente da sua acessibilidade à população. Diferentes valores foram obtidos para as diferentes unidades de gerenciamento. Em seguida, o autor calculou o índice de áreas verdes (IAV), considerando somente aquelas áreas verdes públicas de acesso livre para a população. Neste caso os índices foram obtidos para setores da cidade. Também chegou ao índice de áreas verdes para a cidade como um todo. O valor obtido foi de 2,65 m2/hab. Segundo o autor este último índice é um indicador de qualidade de vida da população, expressando a oferta de área verde "per capta".

"Ainda em relação aos índices é importante comentar que está difundida e arraigada no Brasil a assertiva de que a ONU, ou a OMS, ou a FAO, considerariam ideal que cada cidade dispusesse de 12m2 de área verde/habitante. Nas pesquisas, por carta, que fizemos junto à essas Organizações, foi constatado que esse índice não é conhecido, como não o é, entre as faculdades de paisagismo da República Federal da Alemanha. Somos levados a supor, depois de termos realizado muitos estudos, que esse índice se refira, tão somente às necessidades de parque de bairro e distritais/setoriais, já que são os que, dentro da malha urbana, devem ser sempre públicos e oferecem possibilidade de lazer ao ar livre" (Cavalheiro & Del Picchia, 1992).

A falta de uma definição amplamente aceita sobre o termo "áreas verdes" e as diferentes metodologias utilizadas para obtenção dos índices, dificulta a comparação dos dados obtidos para diferentes cidades brasileiras e destas com cidades estrangeiras.

Estes índices carregam consigo apenas uma informação quantitativa geral, não expressando como essas áreas verdes se encontram, como estão sendo utilizadas e nem a distribuição das mesmas dentro da cidade. Imagine que podemos ter um alto índice de áreas verdes em uma determinada cidade, mas quando vamos observar onde estão localizadas essas áreas, constatamos que a grande maioria delas estão nos bairros de classe de alta renda. Soma-se a isto, o fato de que as pessoas mais pobres, onde há uma carência maior dessas áreas, não possuem acesso a clubes

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de lazer particulares e seus quintais internos são pequenos ou mesmo inexistentes, tendo muitas vezes que praticar esporte ou desenvolver algum tipo de recreação nas ruas do seu bairro.

HIERARQUIZAÇÃO DOS ESPAÇOS LIVRES

Os espaços livres de construção são classificados segundo:

• Tipologia ( baseado em Gröening, 1976 apud Escada, 1987 ), em:

Particulares: jardins, quintais, chácaras;

Potencialmente coletivos: clubes, escolas, fábricas, universidades;

Públicos: praças, parques, cemitérios.

b) Categoria e Disponibilidade, veja Tabela 01.

Segundo Cavalheiro & Del Picchia (1992), os valores contidos na Tabela devem servir como indicações quanto à capacidade de suporte para visitação, a quantidade de equipamentos que possam conter e à maximização de sua manutenção.

Os parques de vizinhança, segundo Escada (1992), são de uso localizado, pois são planejados para servir à uma unidade de vizinhança ou de habitação, substituindo as ruas e os quintais de casas das cidades menores. São espaços com tamanho reduzido, que devem abrigar alguns tipos de equipamentos ligados à recreação, vegetação e distar entre 100 e 1.000 m das residências ou do trabalho.

Os parques de bairro são de maiores dimensões, devendo conter uma gama maior de equipamentos de lazer. Podem desempenhar função paisagística e ambiental, se dotados de vegetação, espaços livres de impermeabilização e águas superficiais.

Os parques distritais são espaços livres de grandes dimensões. Segundo Birkholz, 1983 apud Escada, 1992 são áreas de bosques que contém elementos naturais de grande significado, tais como montanhas, cachoeiras, florestas, etc. Devem ser concebidos e equipados para permitir acampamentos, possuir trilhas para passeios a pé e a cavalo, locais de banho, natação, esporte e outros.

Os parques metropolitanos também são espaços livres de grandes dimensões, devendo possuir os espaços e equipamentos de lazer citados para os parques distritais. A diferença maior com estes é sua inserção em áreas metropolitanas, servindo como um espaço público para habitantes de diferentes cidades próximas. Os dois maiores exemplos são o Central Park de Nova York e o Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

MANUTENÇÃO, CONSERVAÇÃO E SEGURANÇA DAS ÁREAS VERDES

A disponibilidade de espaços para recreação e prática de esporte nas cidades não depende exclusivamente da existência de áreas para o desenvolvimento dessas atividades. A conservação e manutenção de todos elementos que compõem uma praça ou um parque devem merecer atenção continuada dos orgãos públicos que gerenciam essas áreas e da população que as utilizam. O uso público de uma área verde está intimamente ligado à manutenção, conservação e segurança que esta área recebe.

Todo elemento natural constituinte de uma área verde, principalmente a vegetação deve ser

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manejada constantemente. Alguns tipos de manejo são citados a seguir:

• podas em árvores com galhos podres, secos ou lascados;

• extrações de árvores com risco de queda ou que apresentam algum problema fitosanitário irreparável;

• plantio de novas árvores, visando a substituição daquelas extraídas, ou mesmo, para adensamento da vegetação de porte arbóreo;

• poda de levantamento de copa;

• trato com os problemas de pragas e doenças;

• capina do gramado e poda das arbustivas;

• diversificação das espécies utilizadas e priorização das nativas.

Também deve ser levado em consideração, na fase de planejamento de uma área verde, a preocupação com espécies que dão maior demanda de manutenção e altos custos de implantação, como as capinas de gramas exóticas. Em grandes parques é possível utilizar como substrato as herbáceas existentes na própria área. À medida que as árvores crescem, essas invasoras tendem a desaparecer dos espaços sombreados. Posteriormente, pode-se pensar em gramar os espaços expostos ao sol pleno ou mesmo manter a vegetação existente.

Com relação aos equipamentos de lazer e a todo mobiliário urbanoque faz parte da área verde, deve-se reparar todo dano existente e paralelamente, desenvolver campanha educativa aos usuários para uso adequado e proteção dos mesmos. Um banco quebrado ou uma luminária que não funcione é motivo suficiente para reprodução desses e de outros tipos de danos.

Permanecer tranqüilo em uma praça, hoje em dia, é algo difícil de acontecer. Na maioria das vezes não nos sentimos seguros. O que dá segurança em uma área verde na cidade é o seu uso constante pela população e uma guarda municipal que seja mais educativa que punitiva. Esse uso ocorrerá se a praça estiver dotada de iluminação eficiente, equipamentos funcionando, gramados capinados, árvores de copas altas e muitos outros ítens relacionados à conservação e manutenção dos elementos existentes na área.

PLANEJAMENTO E LEGISLAÇÃO

O Código de Áreas Verdes e Arborização Urbana de uma cidade é o instrumento legal e de gerenciamento mais importante que pode existir para assegurar a existência de espaços que desempenhem funções de melhorias do ambiente urbano e da qualidade de vida dos seus habitantes.

Com relação ao planejamento, deve-se pensar primeiro na cidade como um todo, propondo a existência e funcionalidade de um sistema municipal de áreas verdes ou de espaços livres, considerando a densidade populacional dos bairros ou setores da cidade e o potencial natural das áreas existentes.

Para cada bairro ou setor, no planejamento e projeção dos espaços livres ou setor deve-se levar em consideração as faixas etárias predominantes e existentes, a opinião dos moradores e o potencial de cada área. Guzzo (1991), em sua monografia de graduação, desenvolveu um trabalho de planejamento dos espaços livres de uso público para um conjunto habitacional de Ribeirão Preto/SP. Primeiro foi feita uma hierarquização das áreas verdes e sistemas de lazer existentes no Projeto Urbanístico, segundo as categorias existentes na Tabela 01. As áreas foram

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classificadas em parques de vizinhança, parques de bairro e verde de acompanhamento viário. Posteriormente a população foi consultada através de questionário segundo seus desejos quanto aos elementos que deveriam estar presentes nessas áreas. Posteriormente, o autor observou quais os tipos de lazer que as crianças desenvolviam nas ruas do bairro. Com todas essas informações foi feito dois pré-projetos paisagísticos para uma área categorizada como parque de vizinhança e outra como parque de bairro. Este último, com área superior a 6,0 hectares se transformou em 1995, através de lei municipal, no Parque de Bairro Tom Jobim. Porém, até a presente data, ainda não foi totalmente implantado. Apenas alguns equipamentos esportivos e a arborização externa da área foi implementada.

Ainda com relação à legislação, cita-se a seguir aquelas que devem merecer atenção para quem for desenvolver algum tipo de trabalho com áreas verdes e arborização urbana:

- Lei 7.803/89, alterando a Lei 4.771/65 que estabelece o Código Florestal Brasileiro;

- Lei 6.766/79 que dispõe sobre parcelamento do solo urbano;

- Lei Orgânica do Município e ;

- Plano Diretor do Município e leis complementares, como Código Municipal de Meio Ambiente, Lei Municipal de Parcelamento e Uso do Solo Urbano, Plano Viário Municipal, Lei do Mobiliário Urbano e Lei Municipal de Saneamento.

BIBLIOGRAFIA

CAVALHEIRO, F. & DEL PICCHIA, P.C.D. Áreas Verdes: conceitos, objetivos e diretrizes para o planejamento. In: Congresso Brasileiro sobre Arborização Urbana, I, Vitória/ES, 13-18/09/92. Anais I e II. 1992. P.29-35.

ESCADA, M.I.S. Utilização de técnicas de sensoriamento remoto para o planejamento de espaços livres urbanos de uso coletivo. ( Dissertação de Mestrado em Sensoreamento Remoto ) - INPE, São José dos Campos, 1992. 133 p.

GUZZO, P. Propostas para planejamento dos espaços livres de uso público do conjunto habitacional Procópio Ferraz em Ribeirão Preto/SP. ( Monografia de Graduação ) – Instituto de Biociências - Unesp, "Campus" de Rio Claro/SP. 1991. 140 p.

LIMA, A.M.L.P.; CAVALHEIRO, F.; NUCCI, J.C.; SOUZA, M.A.L.B.; FIALHO, N.O ; DEL PICCHIA, P.C.D. Problemas de utilização na Conceituação de termos como espaços livres, áreas verdes e correlatos. In: Congresso Brasileiro sobre Arborização Urbana, II, São Luiz/MA, 18-24/09/94. Anais. p. 539-550.

NUCCI, J.C. Qualidade ambiental e adensamento: um estudo de planejamento da paisagem do Distrito de Santa Cecília ( Município de São Paulo ). ( Tese de Doutorado em Geografia Física ) F.F.L.C.H. - USP, São Paulo, 1996. 229 p.

OLIVEIRA, C.H. Planejamento ambiental na cidade de São Carlos/SP com ênfase nas áreas públicas e áreas verdes: diagnóstico e propostas. (Dissertação de Mestrado ) UFSCar, São Carlos, 1996. 181 p.

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TEXTO 12 - TRILHAS URBANAS

Texto de Alexandre Schiavetti

MODALIDADES DE TRABALHOS DE CAMPO ATUAIS

Excursão: podem ser freqüentes, porém é o professor, ou um guia, o agente ativo da aprendizagem. Necessitam de várias horas, ocasionando problemas com outras disciplinas do dia, datas marcadas com antecedência, organização de ônibus, comida e principalmente autorização da direção e dos pais para ser realizada.

Trilha Urbana: esta modalidade de trabalho de campo o professor, durante a realização do caminho é o único elemento passivo e só em determinadas ocasiões intervêm orientando os alunos.

A trilha se desenvolve em uma porção de terreno limitado e escolhido pelo professor, com a vantagem de poder ser realizado em curto período de tempo. A diferença entre este caminho e uma trilha oficial é que a trilha elaborado pelo professor não possui demarcações, nem sinalização. A orientação dos alunos é realizada segundo acidentes naturais que determinam uma série de paradas (pontos). O aluno realizará a trilha munido de um caderno de atividades fotocopiado, onde se encontra as atividades e questões que deve realizar "in situ". As atividades poderão ser em grupo e/ou individuais, de tal modo que cada aluno percorra o caminho no seu próprio tempo.

Para tanto porém o professor têm que elaborar, previamente, seu percurso. E isto não é muito rápido, mas depois de pronto o trabalho será apreciado por todos: alunos e professores.

NECESSIDADES PARA A REALIZAÇÃO DE UMA TRILHA URBANA

É mais do que recomendável que cada professor elabore sua própria trilha, pois este conhece a realidade de seus alunos e em que área do conhecimento são mais interessados. Para o nosso trabalho, que deve ser realizado para a escola o ideal é que o caminho seja feito e discutido entre os professores, abordando o conteúdo das diversas áreas na mesma proporção. Aspectos biológicos, físicos, químicos e antrópicos devem estar relacionados, visando entender o funcionamento da Bacia Hidrográfica.

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LOCAL DE REALIZAÇÃO

As trilhas podem ser realizados tanto em áreas naturais como em áreas urbanas. Como nosso objetivo é de realizar uma saída rápida e barata da sala de aula podemos escolhe os arredores da escola para realizarmos nosso percurso. Uma vantagem desta abordagem é o reconhecimento pelos alunos da realidade local da área da escola.

Outras razões para realizar uma trilha em áreas urbanas:

• Presença de alterações antrópicas e de degradação de recursos;

• Áreas comerciais que permitem identificar usos adequados dos recursos;

• Fachadas de edifícios para determinação de uso de recursos minerais;

• Presença de resíduos sólidos;

• Distribuição de energia;

• Áreas verdes e arborização urbana; dentre outras.

INICIANDO O TRABALHO

Deve-se começar o trabalho através de um questionamento com os professores (e em sala com os alunos) sobre observações e fatos interessantes ao redor da escola. Devemos evitar as situações transitórias, pois as atividades propostas não serão realizadas em todos os períodos do ano.

Um percurso completo deve conter as seguintes partes:

Capa de apresentação - com nome da trilha e um desenho. Permite interação do conteúdo do caminho com a disciplina de artes/desenho geométrico (pode ser realizado um concurso para se escolher a melhor!);

Apresentação e introdução à temática;

Objetivos;

Material - mostra qual material é necessário para desenvolver a atividade;

Localização - mapas da região (bacia) com localização do caminho, e um croqui da trilha. Permite interação com a disciplina de geografia;

Desenvolvimento;

Conclusões e

Apêndices - material de suporte para realizar as atividades, como uma chave de identificação.

TIPOS DE ATIVIDADES

É recomendável mesclar todos os tipos de questões e atividades lúdicas durante o caminho, diminuindo a caracterização de uma "aula" prática. A atividade deve ser encarada como uma novidade.

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As perguntas sobre os temas a serem abordadas podem ser:

• Memória - como se origina...?

• Comparação - qual a diferença...?

• Implicação - você acha que...?

• Indução - quais as causas...?

• Dedução - partindo de vários dados prévios pede-se algo para concluir.

• Causa e efeito - se fizéssemos isso...?

• Tradução - depois de recolher dados, simbolizá-los.

• Aplicação - que solução...?

• Análises - pense sobre...?

As atividades devem realizar alguma ação, como:

• Chaves de identificação;

• Desenhos;

• Croquis;

• Registro de dados;

• Distâncias;

• Pontos cardeais;

• Moldes;

• Cálculos de idade, área etc.;

• Pesquisas rápidas, dentre outras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DE FRUTOS, J.A. et al. (1996). Sendas ecológicas: un recurso didáctico para el conocimiento del entorno. Editoral CCS, Madrid, 183 p.

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TEXTO 13 – OS SOLOS

Texto de Alexandre Schiavetti

FORMAÇÃO DO SOLO

O solo nada mais é do que o resultado da ação conjunta de agentes externos (como chuva, vento, umidade etc) sobre restos minerais, porém enriquecidos com matéria orgânica.

Sem a presença de matéria orgância não há a formação de solo, tratando-se somente de minerais não consolidados.

O solo pode ser compreendido como consequência da ação do tempo, dos vegetais e animais, do clima e da topografia sobre o material do subsolo (rocha). Estes fatores são chamados de agentes formadores do solo. Estes agentes podem ser divididos em agentes ativos; o clima e a biosfera, e a agentes passivos: a rocha e o relevo.

O tempo determina a maturidade do processo de formação do solo, dividindo os solos em jovens e maduros, dependendo da intensidade da atuação.

PERFIL DO SOLO

O solo é dividido em camadas horizontais, chamados de horizontes. As características que podem ser levadas em conta para diferenciação dos horizontes dependem do conhecimento da pessoa que está realizando o trabalho e são baseados em alguns critérios como textura, cor, consistência, estrutura, atividade biológica, tipo de superfície dos agregados, etc.

Normalmente o solo possui três horizontes bem fáceis de distinguir, o horizonte O, que representa a matéria orgânica presente na superfície; o horizonte A, que representa a região em que o solo perde material para as camadas mais profundas e o horizonte B, local em que se acumulam os materiais perdidos pelo horizonte A.

Outras camadas importantes para se distinguir um perfil de solo são o horizonte C, e R, caraterizados pela rocha matriz decomposta (C) e não decomposta (R).

No exame do perfil do solo três variáveis são de fácil identificação, podendo ser realizadas no campo e por pessoas sem experiência nesta área.

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A cor é uma das caracterísitcas que mais chamam a atenção, devido às várias tonalidades de coloração existentes no perfil, permitindo uma rápida delimitação dos horizontes.

Na determinação da cor do solo 3 são os fatores predomimantes; a matéria orgância, que confere uma cor escura; o ferro, que confere um tom avermelhado e a quantidade de sílica (quartzo), que clareia o horizonte. Ou seja, quanto mais escuro (negro) for o solo, mais matéria orgânica ele possui; quanto mais vermelho, mais compostos de ferro e quanto mais claro (branco), mais quartzo terá.

A textura do solo refere-se às proporções dos grupos de grãos que formam o solo, ou seja à proporção de argila, silte e areia. Na prática o conhecimento da textura é feito mediante a manipulação do solo úmido entre os dedos, o que dará uma idéia, pela manipulação táctil, da predominância das frações granulométricas finas e grosseiras.

A consistência do solo é a última variável de fácil identificação no campo e é dividida em seca, úmida, molhada e cimentada. Estas classes são expressas pelo grau de adesão ou pela resistência à deformação.

CAPACIDADE DE USO DO SOLO

A classificação de capacidade de uso do solo é baseada em 8 classes, dividida em terras próprias para cultivos anuais e impróprias para cultivos anuais. Esta última classe ainda se divide em terras para cultivo permanente e de preservação.

De acordo com sua adequação as terras apresentam:

1. Terras Próprias para Cultivo anuais - classes I, II, III e IV

2. Terras Impróprias para Cultivos anuais - classes V, VI, VII e VIII

As classes I, II e III inclem as terras que estão capacitadas a um regular cultivo, enquanto a classe IV, as que podem ser cultivadas ocasionalmente, isto é, de uma maneira limitada.

As classes V, VI e VII abragem as não adaptadas ao cultivo frequente, a não ser pastagens ou florestas implantadas. A classe VIII é reservada às que não servem para cultivos, pastos ou reflorestamentos, mas que em parte podem ser detinadas à vida selvagem, a recreação, etc.

Procure na casa de agricultura de sua cidade um esquema mostrando quais as terras que fazem parte das classes de uso do solo. Talvez já existam mapas de sua região com as classes de uso.

A figura 1 apresenta como deve ser realizado um levantamento de solos em uma propriedade, esquema que pode ser realizao em qualquer local.

BIBLIOGRAFIA

VIEIRA, L.S. Manual da Ciência do Solo: com ênfase aos solos tropicais. 2ª Edição, Editora Agronomica CERES LTDA, São Paulo, 1988. 464 p.

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Aula 14 - ESCRAVIDÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS

Texto de Rita de Cássia de Almeida

Todo o mês de maio lembramos da libertação dos escravos; Princesa Isabel; situação dos negros no Brasil; trabalho infantil; sub-emprego etc. Este texto coloca em pauta essa questão e reflete sobre as formas de escravidão a que somos submetidos todos os dias.

Desde os primórdios dos tempos, o homem tem escravizado outros homens, a fim de satisfazer suas necessidades de mão-de-obra e, principalmente, para demonstrar e aumentar seu poder.

As grandes civilizações tiveram a mão de obra escrava como seu principal meio de produção. Na antigüidade podemos citar como exemplo mais claro, o Império Romano, que chegou a ter mais escravos do que cidadãos Romanos.

Nos tempos modernos podemos citar nosso colonizador, Portugal, que desenvolveu o maior e mais lucrativo empreendimento escravista da época. O sistema econômico implantado no Brasil e em outras colônias portuguesas, fez do comércio de negros africanos, homens e mulheres, um meio eficaz de atingir o lucro rápido e fácil.

Mas, após a libertação dos escravos no Brasil (último local a manter esse tipo de mão-de-obra), pode-se que dizer acabou a escravidão?

O trabalho de homens, mulheres e crianças nas fábricas inglesas, no auge da Revolução Industrial, não pode ser considerado escravismo?

Focalizando os nossos dias, ainda podemos citar formas de escravidão? Cabe a pergunta: como os produtos "made in Taiwan", que nós compramos a preços baixos, podem ser tão baratos. Qual o tipo de mão-de-obra utilizada nessa produção?

Além da escravidão física, isto é, utilização de mão-de-obra nas fábricas, nas usinas, nas carvoarias, no campo etc., existem outras formas de escravidão?

A mídia desempenha diariamente um papel massificador. Através da propaganda ela ordena, consuma!!! "Faça como as pessoas bem sucedidas, seja um deles." Consuma e descarte. Quanto "custa" consumir? Para onde vai o que você descarta e quais as conseqüências disso ao ambiente?

Isso é, ou não, escravidão?

Sugestão de atividades

• Pesquisa das formas de escravismo através da história;

• pesquisa das propagandas mais vinculadas na televisão, revistas, jornais, "out doors", a fim de perceber quais produtos tem maior investimento, mais apelo etc. ;

• situação dos negros no país (sócio-econômica, política, cultural etc.);

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• para onde vão os descartes resultantes do consumo excessivo (ex.: latas de refrigerantes, "pets", fraldas descartáveis etc.), como meio de incentivar a redução de consumo.

Essas atividades tem como objetivo levar o aluno a:

• compreender e analisar de modo crítico as formas de escravidão através da história até os dias atuais;

• analisar criticamente a massificação feita pela propaganda, que leva a sociedade ao consumo exagerado;

• compreender a importância de se reduzir o consumo.

Aula 15 - MATA ATLÂNTICA: ESSA HISTÓRIA PODE TER UM FINAL FELIZ

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Texto de Rita de Cassia de Almeida

Quando os portugueses aqui chegaram, a Mata Atlântica era uma exuberante barreira que se erguia por todo o litoral brasileiro com 1.000.000 Km² de extensão, chegando a invadir o interior do território (ex.: na região sudeste ela se alargava chegando a ocupar 100 Km para o interior). Hoje, resume-se a apenas 7% da mata original, sendo que, menos de 2% estão protegidos em unidades de conservação oficiais. Nada menos que 11% da Mata Atlântica foi destruída nos últimos dez anos.

Por que nossa Mata Atlântica foi e, continua sendo, destruída?

Pode-se resumir essa resposta em apenas duas palavras: exploração econômica.

Voltaremos um pouco no tempo, para podermos entender o presente. A colonização empreendida pelos portugueses no Brasil é o que os historiadores chamam de colonização de exploração, explorar os recursos naturais e mão-de-obra da colônia para enriquecimento da metrópole (no Brasil, além da exploração da mão de obra dos índios - em escala reduzida - foi "importada" a mão-de-obra estrangeira, os negros africanos). O primeiro alvo foi a Mata Atlântica, tanto pela madeira e pelo corante extraído da casca do pau-brasil como pelo empecilho que ela oferecia ao desbravamento do interior do território.

Nos dias de hoje, de maneira geral, o desmatamento ocorre devido a especulação imobiliária, expansão da agricultura e utilização para pastagens. Além da perda de grande área de mata, a área destinada a pastagem é praticamente perdida, pois sua produtividade é baixíssima, principalmente, pelo relevo acidentado não ser adequado a esse tipo de atividade.

Nos tempos de Cabral não existia fiscalização, nem tampouco, área de proteção ambiental. Os donos da terra, os índios, não tinham direitos, pois não eram considerados cidadãos brasileiros. Assim sendo, não tinham como reclamar ou exigir respeito ao ambiente.

Ao contrário de nossos antepassados, nós temos voz ativa na sociedade e meios para exigir de nossos governantes mais respeito ao ambiente e cumprimento da legislação vigente. Existem áreas sendo devastadas em torno de zonas urbanas, onde o meio de acionar a fiscalização é mais fácil, mas essa facilidade não está sendo aproveitada. É necessário que a sociedade conheça as leis de preservação do ambiente e exija que estas sejam cumpridas. Nossos deputados estão analisando um projeto de lei específico para a Mata Atlântica desde 1992, nesse tempo em que esta tramita pelo Congresso, perdemos 600.000 hectares de florestas.

Na região metropolitana de São Paulo, bairros são submetidos a rodízio de água durante todo o ano, mesmo estando em uma área de grandes recursos hídricos. Somente na bacia de Guarapiranga, foram eliminados 15% da mata protetora de nascentes, córregos e rios.

A importância da preservação da Mata Atlântica não é somente por sua beleza, mas também para evitar que se afete a vida de grande parte da população brasileira, que vive na área original desse ecossistema. Além de regular o fluxo dos recursos hídricos, ela é essencial para o controle do clima e a estabilidade de escarpas e encostas. É também a conservação da maior biodiversidade de árvores do planeta; 39% dos mamíferos que vivem na Mata Atlântica são nativos (vale para borboletas, répteis, anfíbios e aves) e mais de 15 espécies de primatas. A destruição desse ecossistema leva espécies de animais brasileiros à ameaça de extinção, por exemplo, das 202 espécies ameaçadas no Brasil, 171 são originários da Mata Atlântica.

Além da perda dos recursos naturais, também estamos destruindo um patrimônio cultural, histórico, arqueológico e arquitetônico, construídos ao longo de séculos pelas comunidades

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tradicionais que vivem na mata (como os indígenas, os caiçaras, os quilombos e os caboclos), que correm risco de desaparecer, por descaracterização ou expulsão de seu ambiente.

A preservação de nosso ambiente não depende somente das leis que tramitam no Congresso, mas, essencialmente, dos cidadãos brasileiros no pleno exercício de sua cidadania. Para que esse exercício seja eficaz, a educação ambiental torna-se fundamental, levando o indivíduo à conscientização da importância da conservação desse ambiente, para a visão crítica frente às suas próprias atitudes e, finalmente, seu dever e direito de cidadão quanto a fiscalização no cumprimento das leis existentes e regulamentação de outras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAPOBIANCO, João Paulo. Revista Veja – A chance de evitar o pior. p. 37. 3/Junho/1998.

MATA ATLÂNTICA - PPMA – Mata Atlântica, Páginas da Rede Internet. Endereço eletrônico http://www.ppma-br.org/mataatl.htm

Glossário de Biologia. Academia de Ciências do estado de São Paulo, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo, Secretaria da Ciência e Tecnologia. 1ª edição (definitiva). Publicação ACIESP no. 57, 1987.

GLOSSÁRIO

Unidade de conservação: áreas naturais sob proteção governamental, podendo ser classificadas como: áreas de proteção ambiental; áreas naturais tombadas; estações ecológicas; parques; reservas ou santuários.

Área de proteção ambiental: área pública ou privada determinada por decreto federal, estadual ou municipal para que nela seja disciplinado o uso do solo e evitada a degradação nos ecossistema sob interferência humana.

Ecossistema: conjunto de uma comunidade e seus ambientes biótico e abiótico. Sistema composto da flora, fauna e fatores físico-químicos de uma comunidade e as interrelações entre eles.

Recursos hídricos: numa determinada região ou bacia, a quantidade de águas superficiais ou subterrâneas, disponíveis para qualquer uso.

Biodiversidade: A palavra biodiversidade, que tem um amplo significado, vem sendo muito utilizada tanto nos meios científicos como no cotidiano dos meios de comunicação, serve tanto para tratar da variabilidade genética (diferença existente entre indivíduos da mesma espécies quanto a características específicas, como a cor dos olhos) como da diversidade biológica (número de espécies) e dos processos ecológicos (por exemplo, quanto se está absorvendo de

energia por espécie) existentes em algum local.

Recursos naturais: qualquer recurso ambiental que pode ser utilizado pelo homem. O recurso será renovável ou não na dependência de exploração e/ou de sua capacidade de reposição.

Aula 16 - IMPACTO AMBIENTAL

Texto de Raquel Baraldi Ramos Soares

DEFINIÇÃO

IMPACTO AMBIENTAL é a alteração no meio ou em algum de seus componentes por determinada ação ou atividade. Estas alterações precisam ser quantificadas pois apresentam variações relativas, podendo ser positivas ou negativas, grandes ou pequenas.

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O objetivo de se estudar os impactos ambientais é, principalmente, o de avaliar as conseqüências de algumas ações, para que possa haver a prevenção da qualidade de determinado ambiente que poderá sofrer a execução de certos projetos ou ações, ou logo após a implementação dos mesmos.

PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO: UMA PARCERIA QUE DÁ CERTO!

Antes de se colocar em prática um projeto, seja ele público ou privado, precisamos antes saber mais a respeito do local onde tal projeto será implementado, conhecer melhor o que cada área possui de ambiente natural (atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera) e ambiente social (infraestrutura material constituída pelo homem e sistemas sociais criados).

O estudo para a avaliação de impacto permite que uma certa questão seja compreendida: proteção e preservação do ambiente e o crescimento e desenvolvimento econômico.

Muitas vezes podemos encontrar grandes áreas impactadas, ou até mesmo países e estados, devido ao rápido desenvolvimento econômico, sem o controle e manutenção dos recursos naturais. A conseqüência pode ser poluição, uso incontrolado de recursos como água e energia etc.

E também podemos encontrar áreas impactadas por causa do subdesenvolvimento, que traz como conseqüência a ocupação urbana indevida em áreas protegidas e falta de saneamento básico.

Avaliar para planejar permite que desenvolvimento econômico e qualidade de vida possam estar caminhando juntas. Depois do ambiente, pode-se realizar um planejamento melhor do uso e manutenção dos recursos utilizados.

CADA CASO É UM CASO

Sabemos que Ambiente tem vários significados para pessoas e realidades diferentes. Não seria então estranho compreendermos que muitos projetos são propostos para ambientes diversos. Então, fazer uma análise ambiental é, antes de tudo, estudar as possíveis mudanças de características sócio-econômicas e biogeofísicas de um determinado local (resultado do plano proposto).

Devemos levar em consideração que nosso planeta é composto por muitos ecossistemas e ambientes com características próprias, não podendo haver um padrão único para o estudo.

O EIA - Estudo de Impacto Ambiental - propõe que quatro pontos básicos sejam primeiramente entendidos, para que depois se faça um estudo e uma avaliação mais específica. São eles:

1 - Desenvolver uma compreensão daquilo que está sendo proposto, o que será feito e o tipo de material usado.

2 - Compreensão total do ambiente afetado. Que ambiente (biogeofísisco e/ou sócio-econômico) será modificado pela ação.

3 - Prever possíveis impactos no ambiente e quantificar as mudanças, projetando a proposta para o futuro.

4 - Divulgar os resultados do estudo para que possam ser utilizados no processo de tomada de decisão.

O EIA também deve atender à legislação expressa na lei de Política Nacional do Meio Ambiente. São elas:

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1 - Observar todas as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, levando em conta a hipótese da não execução do projeto.

2 - Identificar e avaliar os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação das atividades.

3 - Definir os limites da área geográfica a ser afetada pelos impactos ( área de influência do projeto), considerando principalmente a "bacia hidrográfica" na qual se localiza;

4 - Levar em conta planos e programas do governo, propostos ou em implantação na área de influência do projeto e se há a possibilidade de serem compatíveis.

É imprenscindível que o EIA seja feito por vários profissionais, de diferentes áreas, trabalhando em conjunto. Esta visão multidisciplinar é rica, para que o estudo seja feito de forma completa e de maneira competente, de modo a sanar todas as dúvidas e problemas.

RIMA

O RIMA - Relatório de Impacto Ambiental - é o relatório que reflete todas as conclusões apresentadas no EIA. Deve ser elaborado de forma objetiva e possível de se compreender, ilustrado por mapas, quadros, gráficos, enfim, por todos os recursos de comunicação visual.

Deve também respeitar o sigilo industrial (se este for solicitado) e pode ser acessível ao público. Para isso, deve constar no relatório:

1 - Objetivos e justificativas do projeto e sua relação com políticas setoriais e planos governamentais.

2 - Descrição e alternativas tecnológicas do projeto ( matéria prima, fontes de energia, resíduos etc.).

3 - Síntese dos diagnósticos ambientais da área de influência do projeto.

4 - Descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação da atividade e dos métodos, técnicas e critérios usados para sua identificação.

5 - Caracterizar a futura qualidade ambiental da área, comparando as diferentes situações da implementação do projeto, bem como a possibilidade da não realização do mesmo.

6 - Descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras em relação aos impactos negativos e o grau de alteração esperado.

7 - Programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos.

8 - Conclusão e comentários gerais.

Deve-se lembrar que a SEMA (Secretaria do Meio Ambiente) fornece o Roteiro Básico para a elaboração do EIA/RIMA e a partir do que poderá se desenvolver um Plano de Trabalho que deverá ser aprovado pela secretaria.

BIBLIOGRAFIA:

TAUK, Sâmia Maria Tauk. ANÁLISE AMBIENTAL: Uma visão multidisciplinar.

Editora Unesp, 206 pg.

________, INTRODUÇÃO À AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS, texto

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da graduação do curso de Ecologia/Unesp - Rio Claro, 36 pg.