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ALUNA DE TGP NA FASNE VALDIRENE CINTRA Disciplina Carga Horária Período de Aplicação Teoria Geral do Processo 30 h/a 3 o Período EMENTA - Teoria Geral do Processo: 1) Noções introdutórias e históricas. 2) Processo e Constituição. 3) Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo. 4) Processo e Constituição. 5) Aplicação do Direito Processual. Bibliografia Básica: COLUCCI, Maria da Glória; Almeida, José Maurício Pinto de. Lições de teoria geral do processo. Curitiba: Juruá, 2002. CONRADO, Paulo César. Introdução à teoria geral do processo civil. São Paulo: Max Limonad, 2000. CINTRA, Antônio. Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2007. SÁ, Djanira Maria Radamés de. Teoria Geral do direito processual civil: a lide e sua resolução. Bibliografia Complementar: DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do Processo. São Paulo: Malheiros, 2005. CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2002. COUTURE, Eduardo J. Interpretação das leis processuais. Rio de Janeiro: Forense, 1997. Teoria Geral do Processo (ENVIADO PELO PROFESSOR) Noções introdutórias essenciais para o estudo da Teoria Geral do Processo. () Jurisdição do latim jurisdictio (dizer o direito). Função própria e exclusiva do Poder Judiciário. Consiste no poder de atuar o direito objetivo, que o próprio Estado elaborou, compondo conflitos de interesses, resguardando a ordem jurídica. Composição da lide compor a lide é resolver o conflito, segundo a ordem jurídica. Extinção do Processo. Processo o meio pelo qual se faz atuar a lei à espécie. Portanto, Processo é um meio ou instrumento de composição da lide. O Processo consiste numa série de atos coordenados, tendentes à atuação da lei, tendo por finalidade a composição da lide. Direito Processual - ao sistema de princípios e normas legais que regulam o Processo, disciplinando as atividades dos sujeitos interessados, do órgão jurisdicional e seus auxiliares, dá-se o nome de Direito Processual. O Direito Processual, assim, é a regulamentação do exercício da função jurisdicional. Procedimento ou rito processual é a seqüência estabelecida para a realização dos atos e dos prazos processuais. É o caminho que se tem de seguir, de acordo com a lei, para aplicação dos atos e prazos processuais. Autos - constituem a materialidade dos documentos nos quais se corporificam os atos do procedimento. Teoria Geral do Processo É a parte da teoria do Processo que estuda as generalidades do Direito Processual, isto é, os elementos comuns aos vários ramos do Direito Processual.

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Disciplina Carga Horária Período de Aplicação

Teoria Geral do Processo 30 h/a 3o Período

EMENTA - Teoria Geral do Processo:

1) Noções introdutórias e históricas.

2) Processo e Constituição.

3) Faculdades Fundamentais do Direito Processual: Jurisdição, Ação, Defesa e Processo.

4) Processo e Constituição.

5) Aplicação do Direito Processual.

Bibliografia Básica:

COLUCCI, Maria da Glória; Almeida, José Maurício Pinto de. Lições de teoria geral do processo.

Curitiba: Juruá, 2002.

CONRADO, Paulo César. Introdução à teoria geral do processo civil. São Paulo: Max Limonad, 2000.

CINTRA, Antônio. Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2007. SÁ, Djanira Maria Radamés de. Teoria Geral do direito processual civil: a lide e sua resolução.

Bibliografia Complementar:

DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do Processo. São Paulo: Malheiros, 2005.

CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor,

2002.

COUTURE, Eduardo J. Interpretação das leis processuais. Rio de Janeiro: Forense, 1997.

Teoria Geral do Processo (ENVIADO PELO PROFESSOR)

Noções introdutórias essenciais para o estudo da Teoria Geral do Processo.

()

Jurisdição – do latim jurisdictio (dizer o direito). Função própria e exclusiva do Poder Judiciário. Consiste

no poder de atuar o direito objetivo, que o próprio Estado elaborou, compondo conflitos de interesses,

resguardando a ordem jurídica.

Composição da lide – compor a lide é resolver o conflito, segundo a ordem jurídica. Extinção do Processo.

Processo – o meio pelo qual se faz atuar a lei à espécie. Portanto, Processo é um meio ou instrumento de

composição da lide. O Processo consiste numa série de atos coordenados, tendentes à atuação da lei, tendo

por finalidade a composição da lide.

Direito Processual - ao sistema de princípios e normas legais que regulam o Processo, disciplinando as

atividades dos sujeitos interessados, do órgão jurisdicional e seus auxiliares, dá-se o nome de Direito

Processual. O Direito Processual, assim, é a regulamentação do exercício da função jurisdicional.

Procedimento ou rito processual – é a seqüência estabelecida para a realização dos atos e dos prazos

processuais. É o caminho que se tem de seguir, de acordo com a lei, para aplicação dos atos e prazos

processuais.

Autos - constituem a materialidade dos documentos nos quais se corporificam os atos do procedimento.

Teoria Geral do Processo – É a parte da teoria do Processo que estuda as generalidades do Direito

Processual, isto é, os elementos comuns aos vários ramos do Direito Processual.

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Litígio e litigante – o litígio é o conflito entre pretensões jurídicas de indivíduos diferentes, e litigantes é o

indivíduo que tem pretensão jurídica contrária à pretensão jurídica de outro indivíduo.

Pretensão jurídica – é o que concretamente se reclama, ou a exigência de subordinação de um interesse

alheio ao interesse próprio.

Direito objetivo (norma agendi) para assegurar a ordem jurídica, o direito tutela determinadas categorias

de interesses. E essa tutela consiste na formulação de regras gerais e abstratas, constituindo o que chamamos

de direito objetivo. Assim, podemos dizer que o direito objetivo é o sistema de normas destinadas a

disciplinar a conduta dos indivíduos na sociedade, as quais se revelam como ordens ou mandamentos –

imperativos ou proibitivos – ou como diretrizes, que também se fazem obrigatórias, quando as partes não

hajam convencionado ou tenham agido de modo diverso. Portanto, um conjunto de normas que a todos se

dirige e a todos vincula – norma agendi.

Norma Agendi – Normas para Agir (Ex: regras do CPC)

Direito subjetivo (norma facultas agendi) – É o poder atribuído à vontade de alguém para fazer valer seu

interesse, em conflito com o interesse de outro. Em síntese, a faculdade conferida ao indivíduo de invocar a

norma em seu favor – norma facultas agendi (faculdade para invocar a norma em seu favor).

Norma material e norma instrumental – as normas materiais (Ex CC - direito materiais) estabelecem as

regras que disciplinam as relações jurídicas, referentes a bens e utilidades da vida, como, por exemplo, as

normas de direito civil; as normas instrumentais (Ex: direito instrumental) são aquelas que servem de meio

para a realização de normas de direito materiais não pacificamente cumpridas. Aquelas que indicam os

modos de como aplicar o direito material. O Direito Processual é, assim, um instrumento a serviço do direito

material.

Error in iudicando e error in procedendo – as normas jurídicas materiais constituem o critério de julgar,

indicando o direito existente que deve ser aplicado no julgamento. Não sendo corretamente observadas essas

normas materiais, teremos o error in iudicando (erro no julgamento); já as normas instrumentais constituem

o critério de proceder, de maneira que, uma vez desobedecidas, ensejam a ocorrência do error in procedendo

(erro no procedimento).

Teoria Geral do Processo (II).

Ementa: Posição enciclopédica do direito processual. Divisão do direito processual. Princípios gerais

do direito processual: princípio da imparcialidade do juiz; princípio da igualdade; princípios do

contraditório e da ampla defesa; princípios da ação; princípios da disponibilidade e da

indisponibilidade; princípio dispositivo e princípio da livre investigação das provas (verdade formal e

verdade real); princípio do impulso oficial; princípio da lealdade processual; princípio do duplo grau

de jurisdição.

Informado por princípios próprios, decorrentes da função do processo e tendo este por objeto específico, o

direito processual é uma ciência autônoma no campo da dogmática jurídica. Admitida a autonomia do

direito processual, cumpre enquadrá-lo no âmbito geral do direito, relacionando-o com os demais ramos das

ciências jurídicas.

Costuma-se dividir o direito em dois ramos: o público e o privado. Diz-se, de modo geral, que as normas de

direito público cogitam de interesses da coletividade; as de direito privado tratam de interesses dos

particulares. Conclui-se, então, que o direito processual é direito público, uma vez que governa a atividade

jurisdicional do Estado. A jurisdição é um dos poderes do Estado, ao lado do poder legislativo e do poder

executivo. É o poder atribuído ao Estado para solucionar litígios, e órgão jurisdicional é o órgão por meio do

qual o Estado-juiz exerce a função jurisdicional.

O direito constitucional estabelece as bases do direito processual ao instituir o Poder Judiciário, criar órgãos

(jurisdicionais) que o compõem, assegurar as garantias da Magistratura e fixar aqueles princípios de ordem

política e ética que consubstanciam o acesso à justiça e a garantia do devido processo legal.

O direito processual, por meio de disposições contidas no próprio texto constitucional, cria e regula o

exercício dos remédios jurídicos que tornam efetivo todo o ordenamento jurídico, em todos os seus ramos,

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com o objetivo precípuo de dirimir conflitos interindividuais, pacificando e fazendo justiça em casos

concretos.

Conforme a natureza da pretensão sobre a qual incide, o processo será civil ou penal. Processo penal é

aquele que apresenta, em um dos seus pólos contrastantes, uma pretensão punitiva do Estado. E civil é o que

não é penal e por meio do qual se resolvem conflitos regulados não só pelo direito privado, como também

pelo direito constitucional, administrativo, tributário, trabalhista, etc. Disciplinando um e outro processo,

temos respectivamente o direito processual civil e o direito processual penal, cujas normas espelham as

características próprias dos interesses envolvidos no litígio civil e na controvérsia penal.

Princípios Gerais do Direito Processual:

1. Princípio da imparcialidade do juiz.

O caráter de imparcialidade é inseparável do órgão de jurisdição. O juiz coloca-se entre as partes e acima

delas. A imparcialidade do juiz é pressuposto para que a relação processual se instaure validamente. É nesse

sentido que se diz que o órgão jurisdicional deve ser subjetivamente capaz.

A incapacidade subjetiva do juiz, que se origina da suspeita de sua imparcialidade, afeta profundamente a

relação processual. Justamente para assegurar a imparcialidade do juiz, as Constituições lhe estipulam

garantias (art.95), e prescrevem-lhe vedações (art.95,§ único).

A imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes. O Estado, que reservou para si o exercício

da função jurisdicional, tem o correspondente dever de agir com imparcialidade na solução das causas que

lhe são submetidas.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, contida na proclamação feita pela Assembléia Geral das

Nações Unidas, reunida em Paris em 1948, estabelece: “toda pessoa tem direito, em condições de plena

igualdade, de ser ouvida publicamente e com justiça por um tribunal independente e imparcial, para a

determinação de seus direitos e obrigações ou para exame de qualquer acusação contra ela em

matéria penal”.

2. Princípio da igualdade.

A igualdade perante a lei é premissa para a afirmação da igualdade perante o juiz. Da norma inscrita no art.

5º, caput, da Constituição brota o princípio da igualdade processual: “Todos são iguais perante a lei, sem

distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

E o artigo 125, inc. I do Código de Processo Civil proclama que compete ao juízo “assegurar às partes

igualdade de tratamento. As partes e os procuradores devem merecer tratamento igualitário, para que

tenham as mesmas oportunidades de fazer valer em juízo as suas razões.

3. Princípios do contraditório e da ampla defesa.

A bilateralidade da ação gera a bilateralidade do processo. Em todo processo contencioso há pelo menos

duas partes: autor e réu. O autor (demandante) instaura a relação processual, invocando a tutela jurisdicional,

mas a relação processual só se completa e põe-se em condições de preparar o provimento judicial com o

chamamento do réu a juízo. O princípio da audiência bilateral encontra expressão no brocardo romano –

audiatur et altera pars.

O juiz, por força de seu dever de imparcialidade, coloca-se entre as partes, mas eqüidistante delas: ouvindo

uma, não pode deixar de ouvir a outra; somente assim se dará as ambas a possibilidade de expor suas razões,

de apresentar suas provas, de influir sobre o convencimento do juiz. Somente pela soma da parcialidade das

partes (uma representando a tese e a outra, a antítese) o juiz pode corporificar a síntese, em um processo

dialético. O contraditório e a ampla defesa estão previstos na Constitução Federal em seu artigo 5º, inc.LV.

Decorre de tais princípios, a necessidade de que se dê ciência a cada litigante dos atos praticados pelo juiz e

pelo adversário. Somente conhecendo-os, poderá ele efetivar o contraditório.

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No direito brasileiro, a ciência dos atos processuais é dada através da citação (art.213 CPC), da intimação

(art.234 CPC) e da notificação.

O contraditório não admite exceções: mesmo nos casos de urgência, em que o juiz, para evitar o periculum

in mora, provê inaudita altera parte(artigos 929, 932, 937, 813 ss., do CPC), o demandado poderá

desenvolver sucessivamente a atividade processual plena e sempre antes que o provimento se torne

definitivo.

4. Princípio da ação.

Princípio da ação, ou da demanda, indica a atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício da função

jurisdicional. Ação é o direito ou poder de ativar os órgãos jurisdicionais, visando à satisfação de uma

pretensão. A jurisdição é inerte e, para sua movimentação, exige provocação do interessado. É a isto que se

denomina princípio da ação – Nemo judex sine actore.

O princípio da ação manifesta-se, em primeiro lugar, através da iniciativa de provocar a movimentação do

aparelho jurisdicional, confiada à parte. Mas, não é só: o que vale para o pedido do autor também vale para o

pedido que o réu pode formular em juízo contra o autor e que o transforma de réu em verdadeiro autor, tal é

a reconvenção do processo civil.

A reconvenção é algo bem diverso da simples defesa do réu; ao reconvir, o réu move uma nova demanda ao

autor, exercendo uma pretensão própria e autônoma, com relação à qual são invertidas as posições das partes

no processo. O réu não se limita a defender-se, mas passa ao ataque: também exerce uma ação, no mesmo

processo em que é demandado(art.315, CPC.).

Como outra manifestação do princípio da ação, decorre a regra pela qual o juiz – que não pode instaurar o

processo – também não pode tomar providências que superem os limites do pedido: ne eat iudex ultra petita

partium (arts. 459/460, do CPC.).

5. Princípios da disponibilidade e da indisponibilidade.

Chama-se poder dispositiva a liberdade que as pessoas têm de exercer ou não seus direitos. Em direito

processual tal poder é configurada pela possibilidade de apresentar ou não sua pretensão em juízo. É o

princípio da disponibilidade processual.

Esse poder dispositivo é quase absoluto no processo civil, mercê da natureza do direito material que se visa

a atuar. Sofre limitações, quando o próprio direito material é de natureza indisponível, por prevalecer o

interesse público sobre o privado. No processo criminal, prevalece o princípio da indisponibilidade (ou da

obrigatoriedade). O crime é uma lesão irreparável ao interesse coletivo e a pena é realmente reclamada, para

a restauração da ordem jurídica violada. O Estado não tem apenas o direito, mas, sobretudo o dever de punir.

Daí a regra de que os órgãos incumbidos da persecução penal oficial não são dotados de poderes

discricionários para apreciarem a oportunidade ou conveniência da instauração, quer do processo penal, quer

do inquérito policial.

6. Princípio dispositivo e princípio da livre investigação das provas – verdade formal e verdade

real.

O princípio dispositivo consiste na regra de que o juiz depende, na instrução da causa, da iniciativa das

partes quanto às provas e às alegações em que se fundamentará a decisão: judex secundum allegata e probata

partium iudicare debet.

No processo civil, o juiz pode satisfazer-se com a verdade formal (ou seja, aquilo que resulta ser verdadeiro

em face das provas carreadas aos autos). No campo do processo civil, embora o juiz hoje não mais se limite

a assistir inerte à produção das provas, pois, em princípio pode e deve assumir a iniciativa destas(CPC, arts.

130 342...), na maioria dos casos(direitos disponíveis) pode satisfazer-se com a verdade formal, limitando-se

acolher o que as partes levam ao processo e eventualmente rejeitando a demanda ou a defesa por falta de

elementos probatórios. Quando a causa versa sobre relações jurídicas em que o interesse público prevalece

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sobre o privado, não há concessões à verdade formal. Nas causas versando direito de família, se faz presente

o órgão do Ministério Público e o juiz não estão vinculados ao impulso das partes; no processo penal, o juiz

deve atender a averiguação e ao descobrimento da verdade real (ou verdade material), como fundamento da

sentença. Só excepcionalmente o juiz penal se satisfaz com a verdade formal, quando não disponha de meios

para assegurar a verdade real.

7. Princípio do impulso oficial.

É o princípio pelo qual compete ao juiz, uma vez instaurada a relação processual, mover o procedimento de

fase em fase, até exaurir a função jurisdicional. O processo uma vez instaurado não pode ficar à mercê das

partes. E é conveniente que assim seja, em virtude do predomínio do interesse público sobre o particular, a

exigir que a relação processual, uma vez iniciada, se desenvolva e conclua no mais breve tempo possível,

exaurindo-se, dessa maneira, o dever estatal de prestar o serviço jurisdicional.

8. Princípio da lealdade processual.

Sendo o processo, por sua índole, eminentemente dialético, é reprovável que as partes se sirvam dele

faltando ao dever de verdade, agindo deslealmente e empregando artifícios fraudulentos. O processo é um

instrumento posto à disposição das partes não somente para a eliminação de seus conflitos e para que

possam obter resposta às suas pretensões, mas também para a pacificação geral na sociedade e para a

atuação do direito. Diante dessas finalidades, que lhe outorgam uma profunda inserção sócio-política, deve

ele revestir-se de uma dignidade que corresponda a seus fins. O princípio que impõe esses deveres de

moralidade e probidade a todos aqueles que participam do processo (partes, juízes e auxiliares da justiça;

advogados e membros do Ministério Público) denomina-se princípio da lealdade processual.

O desrespeito ao dever de lealdade processual traduz-se em ilícito processual, ao qual correspondem sanções

processuais (vide arts. 14, 15, 17, 18, 31, 133, 144, 147, 153, 193, 600 e 601).

9. Princípio do duplo grau de jurisdição.

Esse princípio indica a possibilidade de revisão, por via de recurso, das causas já julgadas pelo juiz de

primeiro grau (ou primeira instância), que corresponde à denominação jurisdição inferior. Garante, assim,

um novo julgamento, por parte dos órgãos da “jurisdição superior”, ou de segundo grau (ou de segunda

instância).

É conveniente dar ao vencido uma oportunidade para o reexame da sentença com a qual não se conformou.

Os tribunais de segundo grau, formados em geral por juízes mais experientes e constituindo-se em órgãos

colegiados, oferecem maior segurança; e está psicologicamente demonstrado que o juiz de primeiro grau se

cerca de maiores cuidados no julgamento, quando sabe que sua decisão poderá ser revista pelos tribunais de

jurisdição superior.

Em princípio só se efetiva o duplo grau de jurisdição se e quando o vencido apresentar recurso contra a

decisão de primeiro grau: ou seja, há necessidade de nova provocação do órgão jurisdicional, por parte de

quem foi desfavorecido pela decisão. Só excepcionalmente, em casos expressamente previstos em lei e

tendo em vista interesses públicos relevantes, a jurisdição superior entra em cena sem provocação da parte

(art.474, CPC). Tal é a devolução oficial, ou remessa necessária, que alguns denominam de recurso de

ofício.

(Síntese e arrumação didática de capítulos do livro Teoria Geral do Processo de autoria de Cintra/Grinover

e Cândido Dinamarco, organizada pelo , da FASNE).

TEORIA GERAL DO PROCESSO (III).

Ementa: Norma processual e norma material. Objeto e natureza da norma processual. Eficácia da lei

processual no espaço e no tempo.

O Estado estabelece normas de conduta para a sociedade. Essas normas de conduta, de modo geral, definem

os direitos e obrigações das pessoas, ou, então, as próprias condições de exercício do direito. Pelo contrato

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de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa e o outro a pagar-lhe

certo preço em dinheiro (CC. art. 481). O art. 1º do Código Civil diz que “todo homem é capaz de direitos e

obrigações na ordem civil”; os arts. 3º e 4º cuidam da capacidade de exercícios dos direitos; os arts. 40 e

seguintes se referem às pessoas jurídicas; o livro II cuida dos bens e os classifica; o livro III disciplina os

fatos jurídicos. Tais normas compõem o que se chama “direito primário”.

Outras normas existem com função essencialmente instrumental. Servem apenas para a aplicação de normas

primárias. Por isso são chamadas normas secundárias. Dessa espécie, são as normas processuais, que

orientam o exercício da jurisdição. O Direito Processual é, pois, o ramo da ciência jurídica que cuida do

conjunto de normas reguladoras do exercício jurisdicional. Quando a matéria não for de ordem penal, tem-se

o Direito Processual Civil, a não ser que, em razão da própria matéria, outro ramo disciplinador se

estabeleça como ocorre com o Direito Processual Trabalhista. As normas processuais são de Direito Público,

já que disciplinam o exercício da jurisdição.

Leis processuais ou leis do processo, e que formam o direito processual, são, assim, aquelas que regulam o

exercício da função jurisdicional. Como a finalidade de função jurisdicional é a atuação da lei material ao

caso concreto, e como essa atuação se dá no processo, e não fora dele, pode-se dizer que leis processuais são

as que regulam a atuação da lei material no processo. Enquanto as leis materiais criam direitos e obrigações

ou definem situações, ou seja, tutelam determinadas categorias de interesses e, quando em conflito, declara

qual dos interesses em conflito se acha protegido pelo direito, as leis processuais se destinam a realizar

aquelas leis em face de um concreto conflito de interesses.

As normas processuais, em princípio, são de competência legislativa da União, mas a organização judiciária

está a cargo dos Estados, à exceção de normas referentes a juízes e tribunais federais. A Lei de Organização

Judiciária é votada por proposta do Tribunal de Justiça, nos Estados. Cada tribunal tem seu regimento

interno que, por sua vez, pode albergar normas de processo. Tais normas, porém, não devem contrariar

normas processuais federais, que sobre as primeiras prevalecem

Eficácia da lei processual no tempo.

Como qualquer outra lei, a processual se subordina às regras comuns de vigência. Se não dispuser

diferentemente, a lei começa a vigorar quarenta e cinco dias após sua publicação (LICC, art.1º).

A lei processual em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido

e a coisa julgada (LICC, art. 6º). A própria Constituição Federal assegura a estabilidade dessas situações

consumadas em face da lei nova (art.5º, inc. XXXVI).

Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue (LICC, art.

2º).

A lei processual respeita, assim, o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (CF, art.153).

A lei processual não tem efeito retroativo, mas é de aplicação imediata, alcançando os atos que ainda vão

realizar-se.

Eficácia da lei processual no espaço.

O princípio que regula a eficácia espacial das normas de processo é o da territorialidade, que impõe sempre

a aplicação da lexfori.

A territorialidade da aplicação da lei processual é expressa pelo art. 1º do Código de Processo Civil – “ a

jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes em todo o território nacional,

conforme as disposições que este Código estabelece” -

O processo é o meio pelo qual a jurisdição atua; logo, apenas as leis processuais do local são aplicáveis. A

não ser nos casos de prova quanto aos negócios jurídicos estrangeiros (LICC, art.13), não se observa norma

processual alienígena.

Assim, o princípio absoluto da territorialidade em matéria processual exclui a existência de normas de

direito internacional privado relativas ao processo e, em conseqüência, impede que as normas processuais

estrangeiras sejam aplicadas diretamente pelo juiz nacional.

(síntese e arrumação didática de alguns capítulos dos livros Teoria Geral do Processo, de

Cintra/Grinover/Dinamarco; Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, de Moacyr Amaral, e Manual de

Direito Processual Civil, de Ernane Fidélis, organizada pelo professor , da Fasne).

TEORIA GERAL DO PROCESSO - QUESTIONÁRIO (1)

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1. O que podemos entender por Processo?

É o conjunto de atos coordenados, tendentes à atuação da lei, tendo por finalidade a composição da lide.

Portanto, é meio pelo qual se faz atuar a lei à espécie.

2. O que podemos entender por composição da lide?

Compor a lide é resolver o conflito, segundo a ordem jurídica, restabelecendo-a.

3. Processo e procedimento constituem a mesma coisa?

Já vimos que Processo é o meio pelo qual se faz atuar a lei à espécie; já o procedimento ou rito processual é

a seqüência estabelecida para a realização dos atos e dos prazos do processo. É, portanto, a seqüência

ordenada em lei para a realização dos atos e prazos processuais.

4. O que é então direito processual?

É o sistema de princípios e normas legais que regulam o processo, disciplinando as atividades dos sujeitos

interessados, do órgão jurisdicional e seus auxiliares. Em síntese: o direito processual é a regulamentação do

exercício da função jurisdicional.

5. O que são autos?

É a materialidade dos documentos nos quais se corporificam os atos do procedimento.

6. O que podemos entender por Teoria Geral do Processo?

É a parte da teoria do processo que estuda as generalidades do direito processual. Assim, há tantas espécies

de teorias particulares do processo quantas forem às espécies de direitos processuais, com destaque especial,

a teoria do processo civil e a teoria do processo penal.

7. Que é litígio? Litigante? Pretensão jurídica?

Litígio é o conflito entre pretensões jurídicas de indivíduos diferentes; litigante é o indivíduo que tem

pretensão jurídica contrária à pretensão jurídica de outro indivíduo; pretensão jurídica é a exigência de

subordinação de um interesse alheio ao interesse próprio. Em resumo: Aquilo que concretamente se reclama.

8. Que é direito objetivo? E direito subjetivo?

Direito objetivo, em síntese, é o conjunto de normas que a todos se dirige e a todos vincula – norma agendi

(norma de agir, norma jurídica); direito subjetivo é poder atribuído à vontade de alguém para fazer valer seu

interesse, em conflito com o interesse de outrem. Em síntese, a faculdade conferida ao indivíduo de invocar

a norma em seu favor – norma facultas agendi (faculdade para agir).

9. O que é norma material? E norma instrumental? Como se caracteriza o direito processual?

Normas materiais estabelecem as regras que disciplinam as relações jurídicas referentes a bens e utilidades

da vida, como, por exemplo, as normas do direito civil; as normas instrumentais contribuem para a resolução

dos conflitos, mediante a criação e atuação das regras jurídicas gerais. Assim, o direito processual tem

caráter instrumental, quer dizer, caracteriza-se como meio de realização de normas de direito material não

pacificamente cumpridas.

10. Que entende por error in iudicando? E error in procedendo?

As normas jurídicas materiais constituem o critério de julgar, de modo que, não sendo observadas, dão lugar

ao error in iudicando; as normas instrumentais constituem o critério de proceder, de maneira que, uma vez

desobedecidas, ensejam a ocorrência do error in procedendo.

11. O que é o princípio dispositivo e princípio da livre investigação das provas? Verdade formal e

verdade real?

O princípio dispositivo consiste na regra de que o juiz depende, na instrução da causa, da iniciativa das

partes quanto às provas e às alegações em que se fundamentará a decisão –

judexsecundumallegataetprobatapartiumiudicaredebet. Verdade formal é aquilo que resulta ser verdadeiro em face das provas carreadas aos autos. Na maioria dos

casos (direitos disponíveis), o juiz pode satisfazer-se com a verdade formal, limitando-se acolher o que as

partes levam ao processo e eventualmente rejeitando a demanda ou a defesa por falta de elementos

probatórios. Quando a causa versa sobre relações jurídicas em que o interesse público prevalece sobre o

privado, não há concessões à verdade formal. Nas causas versando direito de família, se faz presente o órgão

do Ministério Público e o juiz não estão vinculado ao impulso das partes.

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No processo penal também o juiz deve atender a averiguação e ao descobrimento da verdade real (ou

verdade material), como fundamento da sentença. O juiz penal só excepcionalmente se satisfaz com a

verdade formal, quando não disponha de meios para assegurar a verdade real.

12. E o que se pode entender pelo princípio do impulso oficial?

É o princípio pelo qual compete ao juiz, uma vez instaurada a relação processual, mover o procedimento de

fase em fase, até exaurir a função jurisdicional. O processo uma vez instaurado não pode ficar à mercê das

partes. E é conveniente que assim seja, em virtude do predomínio do interesse público sobre o particular, a

exigir que a relação processual, uma vez iniciada, se desenvolva e conclua no mais breve tempo possível,

exaurindo-se, dessa maneira, o dever estatal de prestar o serviço jurisdicional.

13. E o princípio da lealdade processual?

É o princípio que impõe a todos que participam do processo (partes, juízes, auxiliares da justiça, advogados

e membros do Ministério Público) dever de moralidade e probidade. É que, sendo o processo, por sua

índole, eminentemente dialético, é reprovável que as partes se sirvam dele, faltando ao dever da verdade,

agindo deslealmente e empregando artifícios fraudulentos. Deve o processo revestir-se de uma dignidade

que corresponda a seus fins.

14. O que podemos entender pelo princípio do duplo grau de jurisdição?

É o princípio que indica a possibilidade de revisão, por via de recurso, das causas já julgadas pelo juiz de

primeiro grau (ou primeira instância), que corresponde à denominação – jurisdição inferior. Garante, assim,

um novo julgamento, por parte dos órgãos da jurisdição superior, ou de segundo grau (ou de segunda

instância). É conveniente dar ao vencido uma oportunidade para o reexame da sentença com a qual não se

conformou.

15. Como se efetiva o duplo grau de jurisdição?

Em princípio só se efetiva o duplo grau de jurisdição, se e quando o vencido apresentar recurso contra a

decisão de primeiro grau: ou seja, há necessidade de nova provocação do órgão jurisdicional, por parte de

quem foi desfavorecido pela decisão. Só em casos excepcionais, expressamente previstos em lei, e tendo em

vista interesse público, a jurisdição superior entra em cena sem provocação da parte (art. 474, CPC). Tal é a

devolução oficial, ou remessa necessária, que alguns denominam de recurso ex officio (recurso de ofício).

Teoria Geral do Processo – Questionário (2).

(Profº )

1. Qual a posição enciclopédica do direito processual?

Costuma-se dividir o direito em dois ramos: o público e o privado. As normas de direito público cogitam de

interesses da coletividade; as de direito privado tratam de interesses dos particulares. Assim, podemos

concluir que o direito processual é direito público, uma vez que governa a atividade jurisdicional do Estado.

2. Que é Jurisdição? E órgão jurisdicional?

A jurisdição é o poder atribuído ao Estado para solucionar litígios, e órgão jurisdicional é o órgão por meio

do qual o Estado-juiz exerce a função jurisdicional.

3. Como atua o Direito Processual?

O direito processual, por meio de disposições contidas no próprio texto constitucional, cria e regula o

exercício dos remédios jurídicos que tornam efetivo todo o ordenamento jurídico, em todos os seus ramos,

com o objetivo precípuo de dirimir conflitos interindividuais, pacificando e fazendo justiça em casos

concretos.

4. Conforme a natureza da pretensão sobre a qual incide, como se divide o direito processual?

De acordo com a pretensão sobre a qual incide, o processo será civil ou penal. Processo penal é aquele que

apresenta, em um dos seus pólos contrastantes, uma pretensão punitiva do Estado. E civil é o que não é

penal e por meio do qual se resolvem conflitos regulados não só pelo direito privado, como também pelo

direito constitucional, administrativo, tributário, trabalhista, etc.

5. O que se pode entender por princípio da imparcialidade do juiz?

A imparcialidade do juiz é pressuposto para que a relação processual se instaure validamente. É nesse

sentido que se diz que o órgão jurisdicional deve ser subjetivamente capaz. Para assegurar a imparcialidade

do juiz, as Constituições lhe estipulam garantias (art.95), e prescrevem-lhe vedações (art.95, § único). A

imparcialidade do juiz é uma garantia de justiça para as partes. O Estado, que reservou para si o exercício da

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ALUNA DE TGP NA FASNE – VALDIRENE CINTRA

função jurisdicional, tem o correspondente dever de agir com imparcialidade na solução das causas que lhe

são submetidas.

6. O que se pode entender pelo princípio processual da igualdade?

O princípio da igualdade está proclamado no artigo 125, inc. I, do Código de Processo

Civil - compete ao juízo “assegurar às partes igualdade de tratamento. As partes e os procuradores devem

merecer tratamento igualitário, para que tenham as mesmas oportunidades de fazer valer em juízo as suas

razões.

7. O que podemos entender pelo princípio do contraditório e da ampla defesa?

Em todo processo contencioso há pelo menos duas partes: autor e réu. O autor instaura a relação processual,

invocando a tutela jurisdicional, mas a relação processual só se completa e põe-se em condições de preparar

o provimento judicial com o chamamento do réu a juízo. O princípio da audiência bilateral encontra

expressão no brocardo romano – audiaturet altera pars. Somente pela soma da parcialidade das partes –

uma representando a tese e a outra a antítese – o juiz pode corporificar a síntese, em um processo dialético.

O contraditório e a ampla defesa estão previstos na Constituição Federal em seu artigo 5º, inc.LV. Decorre

de tais princípios, a necessidade de que se dê ciência a cada litigante dos atos praticados pelo juiz e pelo

adversário. Somente conhecendo-os, poderá ele efetivar o contraditório.

No direito brasileiro, a ciência dos atos processuais é dada através da citação (art.213, CPC), da intimação

(art. 234, CPC) e da notificação. O contraditório, mesmo no caso de urgência, em que o juiz, para evitar o

periculum in mora, provê inaudita altera parte (arts. 929, 932, 937, 813 SS, do CPC), o demandado poderá

desenvolver sucessivamente a atividade processual plena e sempre antes que o provimento se torne

definitivo.

8. Que podemos entender pelo princípio da ação?

Princípio da ação, ou da demanda, indica a atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício da função

jurisdicional. Ação é o direito ou poder de ativar os órgãos jurisdicionais, visando à satisfação de uma

pretensão. A jurisdição é inerte e, para sua movimentação, exige provocação do interessado. É a isto que se

denomina princípio da ação – nemojudexsineactore.

9. O princípio da ação pode manifestar-se de alguma outra maneira?

O princípio da ação manifesta-se, em primeiro lugar, através da iniciativa de provocar a movimentação do

aparelho jurisdicional, confiada à parte. Mas não é só: o que vale para o pedido do autor também vale para o

pedido que o réu pode formular em juízo contra o autor e que o transforma de réu em verdadeiro autor, tal é

a reconvenção do processo civil. A reconvenção é algo bem diverso da simples defesa do réu; ao reconvir, o

réu move uma nova demanda ao autor, exercendo uma pretensão própria e autônoma, com relação à qual são

invertidas as posições das partes no processo. O réu não se limita a defender-se, mas passa ao ataque:

também exerce uma ação, no mesmo processo em que é demandado (art.315, CPC).

Como outra manifestação do princípio da ação, decorre a regra pela qual o juiz – que não pode instaurar o

processo – também não pode tomar providências que superem os limites do pedido: ne eatiudex ultra

petita partium (arts. 459/460, do CPC).

10. Que podemos entender pelo princípio da disponibilidade e o princípio da indisponibilidade?

Chama-se poder dispositivo a liberdade que as pessoas têm de exercer ou não seus direitos. Em direito

processual tal poder é configurado pela possibilidade de apresentar ou não sua pretensão em juízo. É o

princípio da disponibilidade processual. Esse poder é quase absoluto no processo civil, mercê da natureza do

direito material que se visa a atuar. Sofre limitações, quando o próprio direito material é de natureza

indisponível, por prevalecer o interesse público sobre o privado.

No processo criminal, prevalece o princípio da indisponibilidade (ou da obrigatoriedade). O crime é uma

lesão irreparável ao interesse coletivo e a pena é realmente reclamada, para a restauração da ordem pública

violada. O Estado não tem apenas o direito, mas, sobretudo o dever de punir. Daí a regra de que os órgãos

incumbidos de persecução penal oficial não são dotados de poderes discricionários para apreciarem a

oportunidade ou conveniência da instauração, quer do processo penal, quer do inquérito policial.

TEORIA GERAL DO PROCESSO – QUESTIONÁRIO (3).

1. O que podemos entender por “normas de conduta para a sociedade”?

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ALUNA DE TGP NA FASNE – VALDIRENE CINTRA

Normas de conduta são as que definem os direitos e obrigações das pessoas, ou, então, as próprias condições

de exercício do direito: pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o

domínio de certa coisa e o outro a pagar-lhe certo preço em dinheiro (art.481 CC.) O art. 1º do Código Civil

diz que “todo homem é capaz de direitos e deveres na ordem civil”; os artigos 3º e 4º cuidam da capacidade

de exercícios dos direitos; os artigos 40 e seguintes se referem às pessoas jurídicas; o livro II cuida dos bens

e os classifica; o livro III disciplina os fatos jurídicos. Tais normas compõem o que se chama “direito

primário”.

2. Por que se diz que existem normas com função essencialmente instrumental?

Dizemos que existe norma com função essencialmente instrumental, porque ela serve apenas para a

aplicação de normas primárias. Chamam-se, por isso, de norma secundária, como as normas processuais,

que orientam o exercício da jurisdição.

3. Que são leis processuais?

Leis processuais ou leis do processo, que formam o direito processual, são, assim, aquelas que regulam o

exercício da função jurisdicional. Como a finalidade de função jurisdicional é a atuação da lei material ao

caso concreto, e como essa atuação se dá no processo, e não fora dele, pode-se dizer que leis processuais são

as que regulam a atuação da lei material no processo.

4. Em que se distinguem as normas materiais das leis processuais?

É que, enquanto as leis materiais criam direitos e obrigações ou definem situações, ou seja, tutelam

determinadas categorias de interesses e, quando em conflito, declara qual dos interesses em conflito se acha

protegido pelo direito, as leis processuais se destinam a realizar aquelas leis em face de um concreto conflito

de interesses.

5. Quando começa a vigorar a lei processual e até quando ela estará em vigor?

Como qualquer outra lei, a processual se subordina às regras comuns de vigência. Se não dispuser

diferentemente, a lei começa a vigorar quarenta e cinco dias após sua publicação (LICC, art. 1º). A lei

processual em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a

coisa julgada (LICC, art. 6º). A própria Constituição Federal assegura a estabilidade dessas situações

consumadas em face da lei nova ( art.5º, inc.XXXVI).

Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue (LICC,

art.2º).

6. Qual o princípio que regula a eficácia espacial das normas de processo?

O princípio que regula a eficácia espacial das normas de processo é o da territorialidade, que impõe sempre

a aplicação da lexfori. A territorialidade da aplicação da lei processual é expressa pelo artigo 1º do Código

de Processo Civil: “a jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes em todo o território

nacional, conforme as disposições que este Código estabelece”.

O processo é o meio pelo qual a jurisdição atua; logo, apenas, as leis processuais do local são aplicáveis. A

não ser nos casos de prova quanto aos negócios jurídicos estrangeiros (art.13, LICC), não se observa norma

processual alienígena.

TEORIA GERAL DO PROCESSO – QUESTIONÁRIO ( 4 ).

1. Quais as funções exercidas pelo Estado moderno para desenvolver as condições da vida em

sociedade?

O Estado moderno, para conservar e desenvolver as condições da vida em sociedade exerce três funções

distintas, correspondentes aos três poderes – Legislativo Executivo e Judiciário. Como legislador, o Estado

estrutura a ordem jurídica. Formula as leis destinadas à conservação e desenvolvimento da vida em

sociedade. Realizando a ordem jurídica, aplica a lei. Aplica-a no exercício de sua função administrativa, de

garantia do bem comum, ou no exercício de sua função jurisdicional, de compor conflitos de interesses

perturbadores da paz jurídica.

2. O que significa jurisdição? Em que ela consiste? Qual a diferença entre função jurisdicional e

função legislativa?

A palavra jurisdição, do latim jurisdictio, significa ação de dizer o direito. É função própria e exclusiva do

Poder Judiciário. Consiste no poder de atuar o direito objetivo, que o próprio Estado elaborou, compondo

conflitos de interesses e, dessa forma, resguardando a ordem jurídica, e autoridade da lei. A função

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ALUNA DE TGP NA FASNE – VALDIRENE CINTRA

jurisdicional é como um prolongamento da função legislativa, e a pressupõe. No exercício desta, o Estado

formula as leis, que são regras gerais e abstratas, reguladoras da conduta dos respectivos conflitos; na função

jurisdicional, especializa as leis, fazendo-as atuar em casos concretos.

3. A jurisdição atua sempre na composição dos litígios? Como poderíamos definir de modo mais

completo a jurisdição?

Nem sempre a jurisdição atua na composição dos litígios. É que, às vezes, aquilo que a lei considera direito

e dever já está devidamente acertado. O acertamento pode dar-se através de decisão judicial, como a

sentença civil condenatória, ou por título extrajudicial, que, em razão de sua forma ou origem, a lei

considera líquido e certo e hábil para a execução. Nesses casos, nada havendo para se acertar ou se compor,

o que compete às partes é a realização efetiva daquilo que já está reconhecido, acertado.

Por outro lado, como a providência jurisdicional de conhecimento, a de decisão, ou de execução, que exigem

atividades várias, que exigem tempo mais ou menos demorado, podem chegar tarde demais em prejuízo do

direito das partes. A fim de impedir o periculum in mora, recorre-se ao processo cautelar, por meio do qual

a jurisdição determina providências preventivas ou cautelares.

Daí, então, uma definição mais completa de jurisdição: o poder-dever do Estado de compor litígios, de dar

efetivação ao que já considera direito, devidamente acertado, e de prestar cautela aos processos em

andamento ou a se instaurarem, para que não percam sua utilidade prática.

4. Pela diversidade da matéria a que se refere como distinguimos a jurisdição?

Pela diversidade da matéria a que se refere à jurisdição se distingue em dois ramos: jurisdição civil e

jurisdição penal. A jurisdição penal trata de lides de natureza penal, que são reguladas pelo direito penal.

Seu instrumento é o processo penal, disciplinado pelo direito processual penal. Todas as lides de natureza

não penal são de âmbito da jurisdição civil, no sentido amplo. A jurisdição civil versa sobre lides de

natureza não penal, isto é, sobre conflitos de interesses qualificados por uma pretensão de natureza não

punitiva. Da jurisdição civil se destacam determinadas categorias de lides, que se caracterizam pela sua

natureza especial e pelos seus sujeitos, que passam a constituir objeto de jurisdições especiais: a jurisdição

trabalhista e a jurisdição eleitoral.

5. E pela gradação dos órgãos que a exercem como se distingue a juridisção?

Quanto à gradação dos órgãos jurisdicionais, a jurisdição pode ser inferior ou superior. A jurisdição de

primeiro grau, ou inferior, conhece e decide as causas, com recurso para a jurisdição superior, que pode

reformar as decisões daquela. Na jurisdição civil, a inferior é exercida pelos juízes de direito e pelos juízes

federais. Num patamar acima, é exercida pelos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, e,

ainda, pelos Tribunais Regionais Federais. Acrescente-se que, no sistema brasileiro, além dos Tribunais de

segundo grau, existe outro, de terceiro grau – o Superior Tribunal de Justiça. E na cúpula do Poder

Judiciário está o Supremo Tribunal Federal.

6. Como se distingue a jurisdição quanto ao seu objeto?

Quanto ao seu objeto, à jurisdição civil pode ser contenciosa e voluntária, como define o artigo 1º do Código

de Processo Civil.

7. Qual a distinção entre jurisdição contenciosa e a voluntária? Quais os casos de jurisdição

voluntária previstos em nosso Código de Processo Civil?

A jurisdição contenciosa visa à composição de conflitos de interesses; a voluntária versa sobre interesses

não em conflito, protegendo os respectivos interessados. Ambas se exercem pelos órgãos jurisdicionais e

têm por finalidade resguardar, assegurar a paz jurídica. Há certas categorias de interesses privados, cuja

administração, a ser atribuída também a órgãos públicos, é especialmente conferida a órgãos jurisdicionais,

porque estes se apresentam em relação aos demais órgãos públicos, em melhores condições de a

desempenharem, tanto por seus conhecimentos jurídicos, capacidade e idoneidade, como também pelas

garantias de independência de que desfrutam: nomeação e remoção de tutores, a autorização para a venda de

bens de menores, suprimento de consentimento para casamento, o divórcio consensual, a abertura de

testamentos, etc. Enquanto na jurisdição contenciosa pressupõe a existência de partes: uma pede, contra a

outra, uma providência jurisdicional, tendo em vista uma relação jurídica existente, ou, um conflito de

interesses a ser composto pela providência jurisdicional, na jurisdição voluntária não há pedido de uma parte

contra a outra, isto é, não há duas partes, autor e réu, mas apenas interessados. Nesta, existe a intervenção do

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juiz apenas para homologar o acordo ou a vontade das partes. Da jurisdição voluntária fala a nossa lei, sendo

que o próprio Código de Processo Civil lhe dedica todo um capítulo, com cento e oito artigos (1.103 a

1.210).

TEORIA GERAL DO PROCESSO (IV).

Ementa: Jurisdição, Legislação, Administração. Espécies e limites da jurisdição. Jurisdição

Contenciosa e jurisdição voluntária.

O Estado moderno, no desempenho de sua finalidade, qual a de conservar e desenvolver as condições da

vida em sociedade, exerce três funções distintas, conquanto harmônicas entre si, correspondentes aos três

poderes – Legislativo, Executivo e Judiciário – em que distribui o seu poder soberano, as funções legislativa,

administrativa e jurisdicional.

Como legislador, o Estado estrutura a ordem jurídica. Formula as leis destinadas à conservação e

desenvolvimento da vida em sociedade. Realizando a ordem jurídica, aplica a lei. Aplica-a no exercício de

sua função administrativa, de garantia do bem comum, ou no exercício de sua função jurisdicional, de

compor conflitos de interesses perturbadores da paz jurídica.

A palavra jurisdição, que vem do latimjurisdictio, quer dizer, etimologicamente, ação de dizer o direito.É

ela uma das funções da soberania do Estado. Função própria e exclusiva do Poder Judiciário. Consiste no

poder de atuar o direito objetivo, que o próprio Estado elaborou, compondo os conflitos de interesses e,

dessa forma, resguardando a ordem jurídica, a autoridade da lei. A função jurisdicional é, assim, como que

um prolongamento da função legislativa, e a pressupõe. No exercício desta, o Estado formula as leis, que são

regras gerais abstratas reguladoras da conduta dos respectivos conflitos; no daquela, especializa as leis,

atuando-as em casos ocorrentes.

Nem sempre, todavia, a jurisdição atua na composição dos litígios. Muitas vezes, aquilo que a lei considera

direito e dever já está devidamente acertado. O acertamento pode dar-se através de decisão judicial, como a

sentença civil condenatória, ou por título extrajudicial, que, em razão de sua forma ou origem, a lei

considera líquido e certo e hábil para a execução. Nesses casos, nada havendo para se acertar ou a se

compor, o que compete àspartes é a realização efetiva daquilo que já está reconhecido, acertado. O Estado

proíbe a justiça privada; em conseqüência , também para a efetivação do que já está acertado, para a

execução, assume ele a mesma função substitutiva, própria da jurisdição, dando cumprimento àquilo que

credor e devedor deveriam fazer, ou seja, o pagamento e o recebimento. Na execução, o Estado nada decide,

a não ser questões que decorrem do próprio processo de execução, onde o objetivo não é solucionar litígio,

mas sim, cumprir o que, por decisão judicial, ou por lei, já está devidamente acertado.

Ocorre, entretanto, que a providência jurisdicional de conhecimento, a de decisão, ou a de execução, que

reclamam atividades várias, que exigem tempo mais ou menos demorado, podem chegar tarde demais, em

desprestígio da lei e, consequentemente, em prejuízo do direito das partes. A fim de impedir as

consequências do periculum in mora, recorre-se ao processo cautelar ou preventivo, por meio do qual a

jurisdição determina providências preventivas ou cautelares. Essa é a chamada tutela jurisdicional cautelar.

É a hipótese do pedido reivindicatório que se faz de um bem. Ficando ele com o réu, pode ser que despareça,

ou seja destruído, obrigando sua apreensão, para que tal não aconteça. Ao Estado, mais uma vez, compete,

substitutivamente, agir, para acautelar a própria realização e efetivação do processo de execução ou de

conhecimento.

Daí, então, uma definição mais completa de jurisdição: o poder-dever do Estado de compor os litígios, de

dar efetivação ao que já se considera direito, devidamente acertado, e de prestar cautela aos processos em

andamento ou a se instaurarem, para que não percam sua utilidade prática.

Distingue-se a jurisdição pela diversidade da matéria a que se refere, pela gradação dos órgãos que a

exercem, pelo seu objeto. Quanto à matéria a que se refere, a jurisdição se distingue em dois ramos:

jurisdição civil e jurisdição penal.

Versa a jurisdição penal sobre lides de natureza penal, que são reguladas pelo direito penal. Seu instrumento

é o processo penal, disciplinado pelo direito processual penal. Todas as lides de natureza não penal são do

âmbito da jurisdição civil, no sentido amplo. Jurisdição civil, assim, versa sobre lides de natureza não penal,

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ALUNA DE TGP NA FASNE – VALDIRENE CINTRA

isto é, sobre conflitos de interesses qualificados por uma pretensão de natureza não punitiva. Da jurisdição

civil, entretanto, se destacam determinadas categorias de lides, que se caracterizam pela sua natureza

especial e pelos seus sujeitos, que passam a constituir objeto de jurisdições especiais: a jurisdição trabalhista

e a jurisdição eleitoral. Assim, podemos conceituar jurisdição civil, no sentido estrito, ou próprio: a que

versa sobre lides de natureza não penal, excetuadas aquelas lides que constituem objeto de jurisdições

especiais.

Quanto à gradação dos órgãos jurisdicionais, isto é, quanto à categoria desses órgãos, a jurisdição pode ser

inferior ou superior. A jurisdição de primeiro grau, ou inferior, conhece e decide as causas, com recurso para

a jurisdição superior, que pode reformar as decisões daquela. Na jurisdição civil, a inferior é exercida pelos

juízes de direito e pelos juízes federais. Num patamar acima, é exercida pelos Tribunais de Justiça dos

Estados e do Distrito Federal, e, ainda, pelos Tribunais Regionais Federais. Acrescente-se que, no sistema

brasileiro, além dos Tribunais de segundo grau, existe um outro, de terceiro grau – o Superior Tribunal de

Justiça. E na cúpula do Poder Judiciário está o Supremo Tribunal Federal.

Costuma-se, enfim, distinguir a jurisdição quanto ao objeto em jurisdição contenciosa e voluntária, esta

também chamada graciosa ou administrativa (CPC, art. 1º). Trata-se de espécies de jurisdição civil.

Jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária.

Já vimos que a jurisdição se exerce em face de conflitos de interesses qualificados por uma pretensão, isto é,

seu objeto são as lides a serem compostas.

Enquanto a jurisdição contenciosa visa à composição de conflitos de interesses, a voluntária versa sobre

interesses não em conflito. Ambas se exercem pelos órgãos jurisdicionais e têm por finalidade resguardar,

assegurar a paz jurídica.

A fim de assegurar a ordem jurídica, intervém o Estado até mesmo na administração dos mais diversos

interesses privados, pelos mais diferentes órgãos. Assim, no que concerne às pessoas físicas, a lei tutela o

fato do nascimento ou do óbito, pelo termo respectivo em registro próprio; o reconhecimento de filho, ou no

próprio termo de nascimento, ou por escritura pública, ou por testamento, etc. A propriedade é tutelada pela

inscrição no Registro Imobiliário não só dos atos respeitantes à sua alienação, como das restrições que a

onerem.

Em todos esses exemplos, estamos a ver o Estado, por diferentes órgãos, que não são jurisdicionais, a

administrar interesses privados, limitando, assim, a autonomia da vontade dos respectivos titulares.

Mas há certas categorias de interesses privados, cuja administração, a ser atribuída também a órgãos

públicos, é especialmente conferida a órgãos jurisdicionais, porque estes se apresentam,em relação aos

demais órgãos públicos, em melhores condições de a desempenharem, tanto por seus conhecimentos

jurídicos, capacidade e idoneidade, como também pelas garantias de independência de que gozam. Dentre os

numerosos interesses, cuja administração se faz pelos órgãos jurisdicionais se acham, por exemplo, os

seguintes: nomeação e remoção de tutores, a autorização para venda de bens de menores, suprimento de

consentimento para casamento, separação consensual, abertura de testamentos, etc.

Em todos esses casos, os interesses sujeitos à administração dos órgãos judiciários não estão em conflito

com interesses de outrem. Quer dizer que esses órgãos os conhecem não para compor conflitos, mas para

tutelá-los, protegendo os respectivos titulares. Esse é o objeto da jurisdição voluntária: tutelar interesses não

em conflito, protegendo os respectivos interessados.

A jurisdição contenciosa pressupõe a existência de partes: uma que pede, contra ou em relação à outra, uma

providência jurisdicional. Esta tem em vista uma relação jurídica existente, ou, um conflito de interesses a

ser composto pela providência jurisdicional.

Diversamente, os atos de jurisdição voluntária visam à constituição de estados jurídicos novos ou cooperam

para o desenvolvimento de estados jurídicos existentes. Quer dizer que a finalidade da jurisdição voluntária

é eminentemente constitutiva (serve para constituir relações jurídicas ou para modificar ou desenvolver as já

existentes). Na jurisdição voluntária não há pedido de uma parte contra a outra ou em relação à outra, isto é,

não há duas partes, autor e réu, mas apenas interessados. Nesta, existe a intervenção do juiz apenas para

homologar o acordo ou a vontade das partes

Por isso mesmo, enquanto na jurisdição contenciosa há sempre possibilidade de contraditório, circunstância

que a caracteriza, na voluntária, desconhece-se essa possibilidade.

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ALUNA DE TGP NA FASNE – VALDIRENE CINTRA

Em resumo: os característicos da jurisdição contenciosa – a existência de partes e a possibilidade de

contraditório – não se encontram na jurisdição voluntária.

Da jurisdição voluntária fala a nossa lei, sendo que o próprio Código de Processo Civil lhe dedica todo um

capitulo, com cento e oito artigos (1.103 a 1.210)

(síntese e arrumação didática de alguns capítulos dos livros - Primeiras Linhas de Direito Processual Civil,

de Moacyr Amaral; Manual de Direito Processual Civil, de Ernane Fidélis; e Teoria Geral do Processo, de

Cintra/Grinover/ Cândido Dinamarco, organizada pelo professor , da FASNE).

TEORIA GERAL DO PROCESS0( V ).

Ementa: Poder Judiciário: funções, estrutura e órgãos. Poder Judiciário e Ministério Público. (síntese

deste capítulo do livro Teoria Geral do Processo de Cintra/Grinover/Dinamarco).

A Constituição brasileira, no art. 2º estabelece: “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre

si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

O Judiciário ocupa um lugar de destaque entre os demais, quando encarado pelo ângulo das liberdades e dos

direitos individuais e sociais, de que constitui a principal garantia.

A Constituição brasileira dedica-lhe o cap. III do Tít. IV (arts. 92 e ss.) e inscreve, entre os direitos e

garantias individuais, o princípio da inafastabilidade da apreciação judiciária, segundo o qual “a lei não

excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direilto(art.5º, inc.XXXV).

Os direitos fundamentais, formulados pela Constituição através de normas necessariamente vagas e

genéricas, quando violados ou postos em dúvida só podem ser afirmados, positivados e efetivados pelos

tribunais. E a regulamentação das relações jurídicas, por parte do direito objetivo, é frequentemente

importante para a solução dos conflitos de interesses.

É perante o Poder Judiciário, portanto, que se pode efetivar a correção da imperfeita realização automática

do direito: vãs seriam as liberdades do indivíduo, se não pudessem ser reivindicadas e defendidas em juízo.

Esclareçamos que nem toda atividade jurisdicional está confiada ao Poder Judiciário, nem toda a atividade

desenvolvida pelo Judiciário se qualifica como jurisdicional. O Supremo Tribunal Federal, ao editar as

súmulas vinculantes previstas no art. 103-A da Constituição Federal, estará exercendo uma atividade

verdadeiramente normativa que em muito se assemelha à legislação.

Por outro lado, a Constituição brasileira atribui expressamente a função jurisdicional:

a) À Câmara dos Deputados, quanto à declaração da procedência de acusação contra o

Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado (art.51, inc.I);

b) Ao Senado Federal para “processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos

crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e oscomandantes da Marinha, do

Exército e da Aeronáutica em crimes da mesma natureza conexos com aqueles” (art.51,inc.I);

c) Também ao Senado Federal, para “processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal

Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho do Ministério Público, o

Procurador- Geral da República e o Advogado-Geral de União nos crimes de responsabilidade”

(art.52, inc.II);

d) À Câmara dos Deputados e ao Senado Federal, quanto à declaração de perda do mandato de

seus membros, por infringência das proibições estabelecidas no art.54 da Constituição, ou por

procedimento incompatível com o decoro parlamentar ou atentatório das instituições vigentes

(art.55,§ 2º).

Assim como outros Poderes podem ser investidos de função jurisdicional, o Judiciário não se limita ao

exercício da jurisdição, que é sua função precípua, mas exerce também funções legislativas e

administrativas.

Funções normativas são exercidas pelos tribunais na elaboração de seus regimentos internos, o que constitui

aspecto de seu poder de autogoverno (art.96, inc. I, a). Constitui atividade legislativa, ainda, a iniciativa de

leis de organização judiciária, conferida com exclusividade aos tribunais (art.93 e 125, § 1º).

Funções administrativas, o Judiciário as exerce em variadas atividades inerentes ao autogoverno da

Magistratura (Constituição, art.96). Diante disso, podemos dizer que tudo quanto é atribuído ao Poder

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ALUNA DE TGP NA FASNE – VALDIRENE CINTRA

Judiciário tem o caráter genérico de atividade judiciária; esta compreende não só a função jurisdicional

(precípua do Judiciário, mas também atribuída a outros poderes), como ainda, em casos excepcionais e

restritos, a administrativa e a legislativa.

Nos expressos termos do disposto no art. 92 da Constituição brasileira, o Poder Judiciário é composto

pelos seguintes órgãos: I- Supremo Tribunal Federal; II- Superior Tribunal de Justiça; III –

Tribunais Regionais Federais e juízes federais; IV – tribunais e juízes do trabalho; V – tribunais e

juízes eleitorais; VI – tribunais e juízes militares; VII – tribunais e juízes dos Estados e do Distrito

Federal e Territórios.

Entre os órgãos de primeiro grau das Justiças Estaduais, prevê a Constituição também expressamente, os

juizados especiais cíveis e criminais (art. 24, inc.X).

Por expressa disposição constitucional, deverão também integrar o Poder Judiciário o Conselho Nacional de

Justiça, as ouvidorias de Justiça e as Escolas da Magistratura – órgãos que, embora não sejam dotados de

qualquer competência jurisdicional, serão, rigorosamente, órgãos judiciários.

O Conselho Nacional de Justiça será o mais elevado órgão, no cenário judiciário brasileiro, encarregado do

controle do Poder Judiciário e de seus integrantes (art.103-B, inc.I a XIII).

As ouvidorias de Justiça terão competência para “receber reclamações e denúncias de qualquer interessado

contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares, representando

diretamente ao Conselho Nacional de Justiça (art.103-B, § 7º).

As Escolas de Magistratura têm a incumbência de realizar cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e

promoção de magistrados, constituindo etapa obrigatória de vitaliciamento a participação em curso oficial

ou reconhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados.

Poder Judiciário e Ministério Público.

A nossa Constituição define o Ministério Público como “instituição permanente, essencial à função

jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos

interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127).

Esses valores recebem a atenção dos membros do Parquet, seja quando estes se encarregam da persecução

penal, deduzindo em juízo a pretensão punitiva do Estado e postulando a repressão ao crime, seja quando no

juízo cível os curadores se ocupam da defesa de certas instituições (registros públicos, fundação, família), de

certos bens e valores fundamentais (meio ambiente, valores artísticos, estéticos, históricos, paisagísticos), ou

de certas pessoas (consumidores, ausentes, incapazes, etc.)

O Ministério Público é, portanto, configurado no Brasil como instituição autônoma, que não integra o Poder

Judiciário, embora desenvolva as suas funções essenciais, primordialmente, no processo e perante os juízos

e tribunais.

Oficiando os membros do Ministério Público junto ao Poder Judiciário e compondo-se este de diversos

organismos distintos – O Superior Tribunal Federal, O Superior Tribunal de Justiça, e as Justiças comuns e

especiais, da União e dos Estados – é compreensível que também o Ministério Público se apresente

diversificado perante um daqueles.

Assim, a Constituição apresenta o Ministério Público da União integrado pelo Ministério Público Federal

(oficiando perante o Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e Justiça Federal), Ministério

Público do Trabalho, Ministério Público Militar e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (art.

128, inc .I ).

Há, além disso, junto à Justiça de cada Estado, um Ministério Público Estadual (Const., art.128, inc. II ).

Eles são organizados segundo as normas contidas na própria Constituição e na Lei Orgânica federal que dá

normas gerais para a organização do Ministério Público dos Estados, e Cada Estado organiza o seu Parquet,

mediante legislação própria.

O Código de Processo Civil no seu art. 82 diz, quando o Ministério Público terá de intervir nos processos, e

no art. 84 estabelece que “quando a lei considerar obrigatória a intervenção do Ministério Público, a parte

promover-lhe-á a intimação sob pena de nulidade do processo”.

PROVA : CONCEITO, DISCRIMINAÇÃO, ÔNUS E VALORAÇÃO (VIII).

“A prova é o farol que deve guiar o juiz nas suas decisões sobre as questões de fato”.

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A prova constitui o instrumento por meio do qual se forma a convicção do juiz a respeito da ocorrência ou

inocorrência dos fatos controvertidos no processo.

É que, toda pretensão se prende a algum fato, ou fatos, em que se fundamenta. Deduzindo sua pretensão em

juízo, ao autor da demanda incumbe afirmar a ocorrência do fato que lhe serve de base, qualificando-o

juridicamente e dessa afirmação, extraindo as consequências jurídicas que resultam no seu pedido de tutela

jurisdicional.

As afirmações de fato feitas pelo autor podem corresponder ou não à verdade. E a elas ordinariamente se

contrapõem as afirmações de fato feitas pelo réu em sentido oposto, as quais, por sua vez, também podem

ser ou não verdadeiras. As dúvidas sobre a veracidade das afirmações de fato feitas pelo autor ou por ambas

as partes no processo, a propósito de dada pretensão deduzida em juízo, constituem as questões de fato que

devem ser resolvidas pelo juiz, à vista da prova dos fatos pretéritos relevantes.

O Código de Processo Civil estabelece que todos os meios legais, bem como quaisquer outros não

especificados em lei, desde que moralmente legítimos, “são hábeis para provar a verdade dos fatos em que

se funda a ação ou a defesa (art.332). O Código de Processo Penal contém implícita a adoção do princípio da

liberdade dos meios de prova (art. 155).

A prova diz respeito aos fatos. Mas não a todos os fatos. Assim, não deve ser admitida a prova dos fatos

notórios (conhecidos de todos), dos impertinentes (estranhos à causa), dos irrelevantes (os que embora

pertençam à causa, não influem na decisão), dos incontroversos (confessados ou admitidos por ambas as

partes), dos que sejam cobertos por presunção legal de existência ou de veracidade (CPC, art.334) ou dos

impossíveis (embora se admita a prova dos fatos improváveis).

A distribuição do ônus da prova repousa principalmente na premissa de que, visando à vitória da causa, cabe

à parte desenvolver perante o juiz e ao longo do procedimento uma atividade capaz de criar em seu espírito a

convicção de julgar favoravelmente. O juiz deve julgar – secundum allegata et probata partium – e não –

secundum propriam suam conscientiam – e daí o encargo, que as partes têm no processo, não só de alegar,

como também de provar.

O ônus da prova recai sobre aquele a quem aproveita o reconhecimento do fato. Assim, segundo o disposto

no art. 333 do Código de Processo Civil, o ônus da prova incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo do

seu direito; e ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

O Código de Defesa do Consumidor (lei 8.078/90) veio possibilitar ao juiz a inversão do ônus da prova, em

favor do consumidor, quando considerar verossímil a alegação ou for ele hliposuficiente, segundo as regras

de experiência (art.6º, inc.VIII – CDC).

Existem três sistemas de apreciação da prova que podem ser acolhidos pelos ordenamentos processuais. O

acolhido pelo nosso direito é o sistema do livre convencimento(ou sistema da persuasão racional),

consagrado no artigo 131 do Código de Processo Civil: “o juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos

fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na

decisão, os motivos que lhe formaram o convencimento”.

Persuasão racional, no sistema do devido processo legal, significa convencimento formado com liberdade

intelectual, mas sempre apoiado na prova constante dos autos e acompanhado do dever de fornecer a

motivação dos caminhos do raciocínio que conduziram o juiz à conclusão.

(Síntese do capítulo sobre Prova do livro - Teoria Geral do Processo - de Cintra/Grinover / Cândido

Dinamarco, organizada pelo Profº , da FASNE)

TEORIA GERAL DO PROCESSO.

()

Ementa: teoria geral do processo. Sociedade e direito. Conflitos de interesse: litígio, litigante,

pretensão jurídica. Direito objetivo e direito subjetivo. Direito material e direito instrumental. Error

in iudicando e error in procedendo. Normas processuais.

Entendamos, logo de início, o que é Processo, Direito Processual, Procedimento e Autos.

A lide perturba a paz social, que reclama se restabeleça a ordem jurídica. Donde, aos interesses em lide –

ditos interesses internos – sobreleva-se o interesse público, interesse externo, consistente na composição da

lide. Compor a lide é resolver o conflito, segundo a ordem jurídica, restabelecendo-a. Assim, o conflito de

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interesses em lide compor-se-á pela atuação do direito objetivo, que o regula, isto é, pela atuação da vontade

da lei ao caso concreto. A lei reguladora da espécie do conflito, e que é uma norma geral e abstrata, se

manifestará, no caso concreto, através de operações e de órgãos adequados, sob a forma de lei especial e

concreta, resolvendo a lide.

O meio pelo qual se faz atuar a lei à espécie é o que se chama processo. Este consiste numa série de atos

coordenados, tendentes à atuação da lei, tendo por escopo a composição da lide. Processo, portanto, é um

meio ou instrumento de composição da lide. É uma operação por meio da qual se obtém a composição da

lide. A palavra processo vem do latim procedere, palavra composta de pro (para adiante), e cadere, cair,

caminhar. Os atos processuais se sucedem uns aos outros, encaminhados para um fim – a composição da

lide (função jurisdicional).

O processo, portanto, como sistema de atos, se rege por princípios e leis, constituindo um fenômeno que se

situa no campo do direito. Ao sistema de princípios e normas legais que regulam o processo, disciplinando

as atividades dos sujeitos interessados, do órgão jurisdicional e seus auxiliares, dá-se o nome de direito

processual. Ou, simplesmente, o direito processual é a regulamentação do exercício da função jurisdicional

Os atos e os prazos processuais têm uma seqüência ordenada em lei, que se chama procedimento, ou rito

processual. Assim, podemos dizer que procedimento, ou rito processual é a seqüência estabelecida para a

realização dos atos e dos prazos do processo.

Autos, por sua vez são a materialidade dos documentos nos quais se corporificam os atos do procedimento.

Não se deve falar, por exemplo, em fases do processo, mas do procedimento; nem consultar o processo, mas

os autos.

Feita essa necessária introdução, vejamos agora o que vem a ser a teoria geral do processo e qual o seu

objeto. Podemos defini-la dizendo que é a parte da teoria do processo que estuda as generalidades do direito

processual. E essas generalidades são os elementos comuns aos vários ramos do direito processual. Assim,

há tantas espécies de teorias particulares do processo quantas forem as espécies de direitos processuais, com

destaque especial, a teoria do processo civil e a teoria do processo penal. A teoria do processo civil estuda o

direito processual civil; a teoria do processo penal, o direito processual penal.

O direito processual, também chamado, direito judiciário, direito instrumental, direito formal, direito

adjetivo, é a parte do direito que disciplina a solução jurídica dos litígios de direito material.

Não há sociedade sem direito – ubi societas, ibi jus. Ora, o direito exerce, na sociedade, a função de

coordenação dos interesses que se manifestam na vida social, de modo a organizar a cooperação entre

pessoas e compor os conflitos que se verificarem entre os seus membros. Esses conflitos caracterizam-se por

situações em que uma pessoa, pretendendo para si determinado bem, não pode obtê-lo, especialmente

porque aquele que poderia satisfazer a sua pretensão não a satisfaz. Nessa situação, caracteriza-se a

insatisfação de uma pessoa e, daí, o litígio, que nasce pelo conflito de interesses. O litígio é o conflito entre

pretensões jurídicas de indivíduos diferentes, e litigante é o indivíduo que tem pretensão jurídica contrária à

pretensão jurídica de outro indivíduo. E pretensão jurídica “es lo que concretamente se reclama” (Vésco) ou

no dizer de Carnelutti – “la pretension es exigência de subordinación de un interés ajeno ao interés próprio”.

Os conflitos de interesses constituem ameaça à paz social, e é prevenindo e eliminando conflitos que a

sociedade humana assegura essa paz, a ordem. Sem ordem não há sociedade , e suporte e escudo da ordem é

o direito, que é o sistema normativo de regras de conduta. A ordem, regulada pelo direito, que previne e

dirime os conflitos de interesses entre os associados, é a chamada ordem jurídica. Para assegurar a ordem

jurídica, o direito tutela determinadas categorias de interesses. E essa tutela consiste na formulação de regras

gerais e abstratas, constituindo o que chamamos de direito objetivo. Podemos dizer, assim, que direito

objetivo é o sistema de normas destinadas a disciplinar a conduta dos indivíduos na sociedade, as quais se

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revelam como ordens, ou mandamentos – imperativos ou proibitivos - ou como diretrizes ou preceitos

dispositivos, mas que também se fazem obrigatórios, quando as partes não hajam convencionado ou tenham

agido de modo diverso. O direito objetivo se manifesta sob a forma de leis. Nesse sentido, o direito objetivo

abrange toda norma geral de conduta disciplinada da vida em sociedade, ou seja, não só as leis em sentido

próprio e formal, formulados pelo órgão competente para legislar, mas também os decretos, regulamentos e

bem assim as normas costumeiras. A lei, assim, considerada, disciplinando a conduta dos indivíduos na

sociedade, tem a função de regular a atitude dos indivíduos em face dos seus interesses e, como

conseqüência, a solução dos conflitos ocorrentes quanto a estes. A lei (direito objetivo), deste modo, regula

conflitos de interesses. Em síntese: o direito objetivo é o conjunto de normas que a todos se dirige e a todos

vincula – norma agendi.

Já o direito subjetivo é um interesse juridicamente protegido com o concurso da vontade de seu titular. É o

poder atribuído à vontade de alguém para fazer valer seu interesse, em conflito com o interesse de outrem. É

o poder atribuído à vontade do titular do interesse juridicamente protegido de fazer atuar a sanção ou mesmo

uma medida preventiva, a fim de que se realize a subordinação do interesse de outrem ao seu. Em síntese:

direito subjetivo é a faculdade conferida ao indivíduo de invocar a norma em seu favor – norma facultas

agendi.

O direito processual caracteriza-se por seu caráter instrumental, quer dizer, como meio de realização de

normas de direito material não pacificamente cumpridas. Entendamos por direito material aquele que

estabelece as regras jurídicas que devem incidir nas relações entre os homens. É corpo de normas que

disciplinam as relações jurídicas referentes a bens e utilidades da vida (direito civil, direito penal, trabalhista,

etc.)

O direito processual é, assim, de acordo com sua função jurídica, um instrumento a serviço do direito

material, e todos os seus institutos básicos (jurisdição, ação, processo) são concebidos e justificam-se no

quadro das instituições do Estado pela necessidade de garantir a autoridade do ordenamento jurídico.

Temos, então, de distinguir norma material e norma instrumental. Normas materiais, como já vimos,

estabelecendo as regras que disciplinam as relações jurídicas referentes a bens e utilidades da vida, como,

por exemplo, as normas do direito civil. As normas jurídicas materiais constituem o critério de julgar, de

modo que, não sendo observadas, dão lugar ao error in iudicando.

As normas instrumentais contribuem para a resolução dos conflitos interindividuais, mediante a disciplina da

criação e atuação das regras jurídicas gerais destinadas a regulá-los diretamente. Assim, as normas

instrumentais constituem o critério de proceder, de maneira que, uma vez desobedecidas, ensejam a

ocorrência do error in procedendo.

Existem três classes de normas processuais (instrumentais): normas de organização judiciária, ue tratam

primordialmente da criação e estrutura dos órgãos judiciários e seus auxiliares; normas processuais em

sentido estrito, que cuidam do processo como tal, atribuindo poderes e deveres processuais; e normas

procedimentais, que dizem respeito ao modus procedendi, inclusive a estrutura e coordenação dos atos

processuais que compõem o processo.

(síntese e arrumação didática de alguns capítulos do livro Teoria Geral do Processo de autoria de

Cintra/Grinover e Cândido Dinamarco, e do livro Primeiras Linhas de Direito Processual Civil de Moacyr

Amaral, organizada pelo , da FASNE).

TEORIA GERAL DO PROCESS0( VI ).

Ementa: Competência: conceito e espécies. Competência absoluta e a relativa.

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Competência é a atribuição que tem determinado órgão jurisdicional – estabelecida por meio de um ou mais

critérios – para atuar sozinho, isto é, com a exclusão de qualquer outro órgão jurisdicional.Diz-se que um

juiz é competente quando, no âmbito de suas atribuições, tem poderes jurisdicionais sobre determinada

causa. A lei, portanto, estabelece a competência dos órgãos jurisdicionais, prefixando os limites dentro dos

quais cada um deles pode exercer a função jurisdicional. Competência, assim, é o poder de exercer a

jurisdição nos limites estabelecidos pela lei. Ou, conforme conceituação generalizada, é o âmbito dentro do

qual o juiz pode exercer a jurisdição.

O instituto da competência está fundado na necessidade da divisão do trabalho entre os diversos órgãos

jurisdicionais, já que não é possível o exercício da jurisdição por um só órgão.

No Brasil, a distribuição da competência é feita em diversos níveis jurídico-positivos, assim considerados:

a) Na Constituição Federal, especialmente a determinação da competência de cada uma das justiças e

dos tribunais superiores da União;

b) Na lei federal, principalmente as regras sobre o foro competente;

c) Nas constituições estaduais, a competência originária dos tribunais locais;

d) Nas leis de organização judiciária, as regras sobre competência de juízo.

Verifiquemos o que torna possível determinar os diversos passos da caminhada através da qual a jurisdição

sai do plano abstrato que ocupa como poder atribuído a todos os juízes e chega à realidade concreta da

atribuição do seu exercício a determinado juiz(com referência a determinado processo).

São as seguintes as fases dessa caminhada, cada qual representando um problema a ser resolvido:

a) Competência de jurisdição (qual a Justiça competente?);

b) Competência originária (competente o órgão superior ou o inferior?);

c) Competência de foro (qual a comarca, ou seção judiciária competente?);

d) Competência de juízo (qual a vara competente?);

e) Competência recursal (competente o mesmo órgão ou um superior?).

Todo conflito trazido à Justiça para exame trava-se entre pessoas, exprime-se no pedido de uma medida

jurisdicional (sentença de determinada natureza e conteúdo) e origina-se de fatos que se enquadram em

determinada categoria jurídica (crime, ato ilícito, locação, relação empregatícia, inadimplemento, etc.). Em

consequência, exige a lei que toda demanda apresentada em juízo contenha os seguintes elementos

identificadores:

a) As partes, ou seja, a identificação da pessoa que vem pedir uma medida jurisdicional ao juiz e

daquela com relação à qual essa medida é postulada (autor e réu – exequente e executado);

b) O pedido, no qual se traduz a pretensão do autor da demanda e que consiste na solicitação da medida

jurisdicional pretendida (condenação do acusado, decretação de um despejo, etc.);

c) Os fatos dos quais, segundo a exposição do demandante, decorre direito que afirma ter (por exemplo,

o fato criminoso concretamente imputado ao acusado, os fatos caracterizadores de grave violação aos

deveres do casamento na ação de divórcio, a despedida injusta nas reclamações trabalhistas);

d) Os fundamentos jurídicos, ou seja, as regras de direito pertinentes ao caso e das quais o demandante

extrai a sua conclusão (v.g., a norma penal incriminadora, as regras sobre locação e despejo, etc.).

Vamosverificar, a seguir, como é feita a distribuição entre os órgãos judiciais do país, de todas as causas

sujeitas à jurisdição brasileira.

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A competência de jurisdição é distribuída na forma dos arts. 109, 114, 121, 124, 125, §§ 3º e 4º, da

Constituição Federal.

Nos diversos casos, são da seguinte natureza os dados levados em conta pelo constituinte: a) natureza da

relação jurídica material controvertida, para definir a competência das justiças especiais em contraposição à

das comuns (arts. 114, 121, e 124); b) qualidade das pessoas, para distinguir a competência da Justiça

Federal (comum) e das justiças estaduais ordinárias (também comuns), no art.109, bem como das justiças

militares estaduais e da União (art. 125,§§ 3º e 4º).

A competência originária é, em regra, dos órgãos inferiores (órgãos judiciários de primeiro grau de

jurisdição, ou de primeira instância). Só excepcionalmente ela pertence ao Supremo Tribunal Federal (C.F.,

art. 102), ao Superior Tribunal de Justiça (art. 105) ou aos órgãos de jurisdição superior de cada uma das

justiças (p.ex., art. 29, inc. X, em que é levada em conta a condição pessoal do acusado – prefeito). Demais

casos de competência originária dos tribunais de cada justiça são estabelecidos em lei federal (tribunais

trabalhistas, eleitorais, militares: Const. Fed., arts. 113, 121 e 124, § único) ou nas Constituições dos Estados

(C.F., art. 125, §1º).

A competência de foro (ou territorial) é a que mais pormenorizadamente vem disciplinada nas leis

processuais principalmente no Código de Processo Civil e no Código de Processo Penal. As regras básicas,

ou seja, aquelas que constituem o chamado foro comum: a) no Processo Civil, prevalece o foro do domicílio

do réu (CPC, art.94); b) no processo penal, o foro da consumação do delito (CPP, art.70); no processo

trabalhista, o foro da prestação dos serviços ao empregador( C.L.T., art.651).

Considera-se foro comum aquele que corresponde a uma regra geral, que só não vale nos casos em que a

própria lei fixar algum foro especial (p.ex., a residência da mulher, nas ações de anulação de casamento, ou

divórcio – art. 100, inc.I). Há também casos em que a lei fixa foros concorrentes, à escolha exclusiva do

autor(local do fato ou domicílio do autor, na ação para indenização de danos causados em acidentes de

veículos – CPC, art.100, par.). Quando não for possível determinar a competência pelos critérios primários

fornecidos pela lei, em muitos casos há o foro subsidiário (v.g., o domicílio ou residência do acusado, se não

for conhecido o local da consumação da infração – CPP, art.72).

A competência de juízo resulta da distribuição dos processos entre órgãos judiciários do mesmo foro. Juízo é

sinônimo de órgão judiciário e, em primeiro grau de jurisdição, corresponde às varas. Em um só foro há,

frequentemente, mais de um juízo ou vara.

A competência de juízo é determinada precipuamente: a) pela natureza da relação jurídica controvertida, ou

seja, pelo fundamento jurídico-material da demanda (varas criminais ou as civis; varas de acidentes do

trabalho, da família, das sucessões e registros públicos, etc.); b) pela condição das pessoas (varas privativas

da Fazenda Pública).

A competência interna dos órgãos judiciários é problema decorrente da existência de mais de um juiz

(pessoa física) no mesmo juízo ou vara. A competência interna nos diversos juízos no Estado de

Pernambuco é ditada pelo Código de Organização Judiciária do nosso Estado.

A competência recursal pertence, em regra, aos tribunais e não aos juízes de primeiro grau: a parte vencida,

inconformada, pede manifestação do órgão jurisdicional maiselevado ( e aí reside o funcionamento do

princípio do duplo grau de jurisdição).

Nosso Código de Processo Civil trata da Competência nos seus artigos 86 e 87; da competência

internacional, nos artigos 88 a 90; da competência interna, arts. 91 a 124; da competência em razão do valor

e da matéria, nos arts. 91 e 92; da competência funcional, art. 93; da competência territorial, arts. 94 a 101;

da modificação das competências, arts. 102 a 111; e da declaração de incompetência, nos artigos 112 a 124.

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COMPETÊNCIA ABSOLUTA E A COMPETÊNCIA RELATIVA.

O juiz deverá exercer as funções jurisdicionais nos limites da sua competência. Exercendo-as além desses

limites, e, portanto, fora de sua competência, diz-se juiz incompetente.

É o próprio juiz que, antes de mais nada, deverá oficiosamente, ao intervir no processo, verificar se é ou não

competente para conhecimento da matéria que lhe é proposta. Verificando sua incompetência, e tratando-se

de incompetência absoluta, deverá necessariamente declarar-se incompetente.

Pode-se dizer, pois, que o juiz da causa é o primeiro juiz da própria competência. Vale dizer, o juiz tem

competência para decidir sobre a própria competência, quer oficiosamente, quando se trate de competência

absoluta, ou, por força da impugnação à sua competência, quando se trate de competência relativa. A

competência absoluta não pode ser violada, é inderrogável; a relativa é derrogável.

Sobre a incompetência relativa, o CPC, em seu art.112 diz: “Argui-se, por meio de exceção, a incompetência

relativa”. Esta pode ser suscitada em qualquer tempo, mas no prazo de 15 dias, contado do fato que

ocasionou a incompetência (CPC, art.305). Não oposta no caso e no prazo legal, a competência do juiz,

apesar de relativamente incompetente, permanece intacta, prorroga-se (art. 114, CPC).

Da incompetência absoluta, trata o art. 113 do referido Código: “A incompetência absoluta deve ser

declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de

exceção”. E acrescenta o § 1º do mesmo artigo: “Não sendo, porém deduzida no prazo da contestação (art.

301,nº II), ou na primeira oportunidade que lhe couber falar nos autos, a parte responderá integralmente

pelas custas”. Por outro lado, e isso é fundamental na distinção que fazemos, a sentença de mérito proferida

por juiz absolutamente incompetente é nula, podendo ser rescindida por via de ação rescisória

(CPC,art.485,II).

Do exposto, resulta: a incompetência relativa prorroga-se, tornando competente o juiz incompetente, se não

for arguida no caso e prazo legais, por meio de exceção de incompetência; a incompetência absoluta é vício

insanável, incorrigível, que torna nula a sentença de mérito, suscetívelde rescisão, mesmo depois de

transitada em julgado, por meio de ação rescisória.

(Síntese e arrumação didática de alguns capítulos do livro Teoria Geral do Processo, de autoria de

Cintra/Grinover/Cândido Dinamarco, e do livro Primeiras Linhas de Direito Processual Civil de Moacyr

Amaral, organizada pelo prof. Alfredo Barreto de Barros Filho, da FASNE).

CONTEÚDO DAS AULAS DADAS NO 3º PERIODO DA FASNE