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JARAMILLO, Samuel “El Desenvolvimiento de la Discusión sobre la Urbanización Latinoamericana: Hacia un Nuevo Paradigma de Interpretación” IN Jaramillo, S. e Cuervo, L.M. Urbanización Latinoamericana: nuevas perspectivas. Bogotá: ESCALA, 1992, p. 9-44. (Resumo: Fernanda Furtado) I. Teoria(s) da Marginalidade 1ª. Fase da TM Antecedentes – AL: - crescimento rápido das cidades - migração campo-cidade - transformação dos centros urbanos Pós 2ª. Guerra Mundial e com mais força nos anos 50: esforço para compreender e interpretar este processo. Toma como base a Sociologia Urbana Norte-americana – Escola de Chicago Núcleo de argumentação: correspondência em relação direta entre as formas de organização espacial e as formas sociais :

1) áreas urbanas ? características econômicas e sociais modernas 2) não urbano ? características tradicionais

Eixo articulador: CULTURAL Primeiros esforços de interpretação da espacialidade latino-americana: Teoria do “contínuo rural – urbano – influência de Redfield (Sociedade Folk)

Mas, na prática, não se observava a aplicação desta teoria... O que se observava: transformações aceleradas da espacialidade não acompanhadas de transformações culturais – resistência inesperada de padrões culturais anteriores, e inclusive sua expansão. “ANOMALIAS” que não confirmavam o modelo proposto: presença e crescimento de áreas inteiras que mais se identificavam com passado rural e atrasado. Estas manifestações ocorriam não somente no aspecto físico, com a reprodução de formas de habitar procedentes do meio rural, mas também no comportamento e valores dessas novas populações urbanas. Por ex. na priorização de relações de parentesco, na

rural urbano

Motor do deslocamento: variável ecológica – crescimento demográfico, aumento de densidade, etc. Deslocamento gradual e contínuo gerando elementos culturais necessários à modernização.

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presença de famílias extensas, na relutância às transformações e à adoção de parâmetros modernos como o individualismo, as práticas mercantis, etc. RURALIZAÇÃO DAS CIDADES – como compreendê- la? Desenvolvem-se então esforços de ajustes à teoria 2ª. Fase da TM América Latina: Cidades da região apresentariam BARREIRAS CULTURAIS à transformação social. Um número considerável de habitantes é colocado à margem do desenvolvimento e dos frutos do progresso. Obs. Sobre as diferenças da TM em países avançados e AL: Países avançados – urbanização é processo auto-gerado, as atividades urbanas são criadas e desenvolvidas internamente Países AL – boa parte da urbanização ocorre por indução externa. Ex. industrialização sem a existência prévia de massas urbanas => migração => “inchaço” das cidades Com isso, camponeses que chegam às cidades para ocupar postos nas fábricas trazem consigo seu universo cultural. Ex. Volta Redonda Aqui, pode-se identificar, esquematicamente, 2 correntes de apropriação da teoria, segundo a FONTE DOS BLOQUEIOS que travam o processo de mutação cultural: A) “corrente de direita” – a 1ª. A tomar corpo como formulação teórica - Barreiras têm caráter temporal e inercial, para superá-las é necessário eliminar esses redutos físicos (marcos ecológicos) de ruralidade nas cidades. A esta postura denominamos DETERMINISMO ECOLÓGICO. Tem como pressuposto que a organização espacial é decisiva na determinação do comportamento social. - Oferece a base para a política urbana de erradicação de cortiços e favelas, com a “integração” das populações em moradias “modernas”, de modo a torná- las “verdadeiramente” urbanas – ENGENHARIA SOCIAL B) “corrente de esquerda” Ótica teórica similar (barreiras), porém políticas divergentes. As barreiras são entendidas como criadas pelos setores privilegiados, não dispostos a renunciar a suas vantagens, e mantidos pela inoperância do Estado. Aqui, cabe aos detentores do poder econômico e político oferecer o apoio necessário para a superação dessas barreiras. Processo de “urbanização popular” visto como mecanismo poderoso de adaptação dos migrantes às cidades e de promoção social. Política sugerida: apoio à autoconstrução, adequação de assentamentos irregulares, racionalização dos sistemas “espontâneos”.

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II. Teoria da Urbanização Dependente Surge no início dos anos 70, como reação à TM. Utiliza ferramentas metodológicas do marxismo: urbanização não como resultado da atração à vida urbana, desqualificam o âmbito espacial como motor do processo, invocando a prevalência das relações sociais. Rejeitam o entendimento do caráter gradual e adaptativo da estrutura social e seu rebatimento espacial, que entendem, ao contrário da apreensão anterior, como de caráter CONFLITIVO E CONTRADITÓRIO. Assim, características peculiares da urbanização na região não seriam um anacronismo ou um bloqueio ao processo tal como observado nos países avançados. Aqui, as anomalias são tomadas como resultado de uma estrutura diferente, na qual a dimensão espacial não caminha em direção ao padrão dos países centrais. Importante: trata-se não somente de afastar-se das interpretações da versão “de direita” da TM, mas também de distanciar-se das teses da ala “de esquerda” dessa teoria, consideradas ilusórias, conciliadoras e reformistas. Tese central: as características centrais da urbanização na AL são ao mesmo tempo COMPONENTE E RESULTADO DA ESTRUTURA DE CLASSES, então somente a redefinição profunda e radical dessa estrutura poderá alterar seus efeitos espaciais. Salienta o caráter dependente e subordinado dos processos de acumulação de capital na AL, estendendo essa concepção ao âmbito espacial. Esta dependência não é vista como imutável, evolui com o tempo, e é múltipla em cada período, gerando não só uma colonização externa mas também colonizações internas. Quanto à periodização dessa evolução, uma das correntes mais representativas destaca os seguintes períodos: 1) dependência colonial: submissão política direta aos impérios espanhol e português, relação econômica baseada na canalização de mercadorias-chave, gerando centros urbanos em função dessas atividades. Não há uma segregação espacial muito nítida, uma vez que o excedente aplicado nas colônias é muito modesto, sendo as diferenças marcadas por práticas socialmente muito hierarquizadas. 2) dependência comercial: a partir do início do séc. XIX – dissolução do império espanhol e crescente autonomia das colônias portuguesas. Submissão econômica real (embora politicamente independente) através da forma de inserção no novo esquema da divisão internacional do trabalho imposto pelo capitalismo industrial. Produção de matérias-primas e produtos agrícolas. Aqui, a fragmentação política das colônias em estados nacionais gera diversas modalidades de articulação da dependência:

a) países que ficam à margem do processo – urbanização se mantém com as mesmas características coloniais, com centros pequenos servidos apenas por infra-estrutura elementar.

b) economias de enclave – investimento estrangeiro para exploração de matérias-primas específicas destinadas à exportação, sobretudo mineração. Também não geram grandes modificações espaciais, exceto equipamentos diretamente relacionados a estas atividades (ex. portuários)

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c) economias de “plantation” – similar ao anterior, porém por questões técnicas (agricultura) exige o emprego maciço de mão-de-obra, assim como a utilização extensiva do território. Por isso, geram impacto muito maior sobre a economia espacial, porém este tende a concentrar-se em canais (eixos) formados pelas áreas ligadas a este processo.

d) economias agro-pecuárias – agricultura e gado para exportação, com aliança entre capitais estrangeiros e grupos locais muito fortes, cuja apropriação do excedente é em parte canalizada para o desenvolvimento de uma rede urbana, embora com foco muito centralizado onde se concentram as atividades.

3) dependência na “industrialização pela substituição de importações”: Investimento do capital monopolista dos países centrais em um setor industrial implantado nos países periféricos, orientado ao mercado interno. Controle econômico guiado por uma lógica que ultrapassa os limites nacionais. A maior parte do excedente retorna às origens internacionais, e os países da AL têm um crescimento muito lento que só aumenta a brecha em relação à acumulação dos países avançados. São identificados 2 sub-períodos:

a) transicional – fruto da crise do modelo de dependência comercial, esta determinada pela recessão dos anos 30 e pela 2ª. Guerra Mundial. Dominação pelo capital local, para a produção de mercadorias essenciais antes importadas.

As condições para o desenvolvimento dessas atividades serão encontradas principalmente nas cidades maiores pré-existentes. A atração de mão-de-obra gera uma corrente migratória do campo que em grande medida pode ser absorvida pelas indústrias de baixa ou média composição técnica.

b) dependência pela subordinação ao capital imperialista. Invasão pelo capital

internacional aos setores de investimento mais dinâmico, deslocando o capital nacional ou obrigando-o, financeiramente, a associar-se em posição subordinada. Desenvolvimento do transporte e comunicações, com a vinculação de regiões antes dedicadas à economia de subsistência. Alianças estreitas com grandes proprietários rurais, com a criação de um enorme excedente populacional rural. A industrialização avança com alto grau de monopolização e relativamente alto grau de tecnificação. Como resultado, é proporcionalmente baixa a absorção de mão-de-obra, e aquela envolvida no processo tem seu custo de reprodução pressionado para baixo, sendo mantido a níveis mínimos.

Em suma, com esta interpretação, se chega a uma definição diversa para a existência da população “marginal” nas cidades: não se trata de “inadaptados culturais”, mas de camadas que ou nem mesmo conseguem proletarizar-se, ou quando chegam a consegui-lo, são submetidas a um regime de baixos salários, grande jornadas de trabalho e frágil inclusão dos itens necessários à reprodução da força de trabalho, principalmente moradia. Como resultados espaciais principais, ocorrem a macrocefalia urbana, a hiper-urbanização, a proliferação de áreas urbanas de miséria, etc. – que só poderão ser eliminadas através do rompimento de suas determinações básicas e gerais, e em especial sua subordinação ao capital imperialista.

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III.“Crítica Singeriana” (crítica à TUD – liderada por Paul Singer) Também dentro da tradição marxista, embora se pretendendo mais vigorosa em relação aos seus instrumentos. Singer aponta que embora a TUD avance em relação à TM, considerando que as características peculiares da urbanização latino-americana não são anacrônicas e sim manifestações de um tipo distinto de estrutura social, a TUD continua tomando como referência implícita – de modo acrítico - a “normalidade” e “adequação” das características espaciais dos países de desenvolvimento capitalista clássico. Assim, tudo que difere da configuração espacial dos países avançados é catalogado como anormal (vide os termos usados: macrocefalia, hiper-urbanização, cidades terciárias parasitárias, etc.) e se identifica como obstáculo ao desenvolvimento. Singer assinala, então, que não há estudos rigorosos que demonstrem nem uma coisa nem outra. – vale aqui a referência à primazia urbana, por ex. o caso de SP. Singer e seus colegas consideram que não existe uma categoria de desenvolvimento dependente em que caibam todos os casos latino-americanos. Sua crítica mais contundente refere-se à consideração da TUD que atribui ao capital imperialista todas as conseqüências negativas da urbanização na AL, exonerando o capital nacional da responsabilidade desses resultados. Propõe focar a atenção no caráter capitalista das formações sociais da AL, sendo as relações de dependência apenas uma das muitas estruturas de organização espacial da região. Neste sentido, as características centrais da urbanização latino-americana respondem a um processo de consolidação das relações capitalistas, e se elas se acentuam no segundo período da dependência, não se deve à supremacia do capital imperialista, e sim a uma aceleração do movimento de consolidação do capital. Portanto, essas características teriam se tornado mais agudas de todas as formas, mesmo sob a liderança do capital nacional. Alguns elementos de sua crítica à TUD: a) migração cidade-campo corresponde a 2 situações de conteúdo social diverso - por atração - por expulsão b) urbanização privilegiada dos centros da rede urbana Deve-se a condições estruturais da organização social capitalista, seja ela comandada pelo capital imperialista ou nacional. Envolve a centralização de grandes empresas, lugar de residência dos setores de liderança. c) deseconomias de aglomeração Não se refletem em custos particulares para os capitais responsáveis pelas decisões de localização, e sim em custos gerais para todos. A divergência ocorre entre quem sustenta os custos e quem desfruta das vantagens. d) “grupos marginalizados” Não são fruto de características peculiares e sim uma modalidade do exército industrial de reserva; os assentamentos periféricos são um resultado típico da crise habitacional característica das sociedades capitalistas; a segregação urbana é o resultado da operação da renda econômica da terra e não algo específico da AL.

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IV. Um novo paradigma em formação (Samuel Jaramillo)

1) Considerações críticas à crítica singeriana Jaramillo aponta para o perigo de se chegar a uma conclusão simétrica (mas não oposta!) à da TUD: a de considerar automaticamente que todas as realidades espaciais do continente, por serem geradas dentro de um processo dominante e abrangente, são adequadas ao nosso desenvolvimento (como no caso das cidades macrocéfalas) ou podem ser orientadas através de ferramentas convencionais de planejamento (como no caso das áreas periféricas desassistidas). Sublinha a agudeza dos processos e características da urbanização latino-americana (da migração, da concentração urbana, das disparidades urbanas, da segregação urbana, da exclusão, etc.) como forma específica que confere peculiaridade à dinâmica da urbanização na região.

2) Em busca de uma nova formulação

Alinha os seguintes elementos, apoiando-se nos diversos aportes dessas correntes, buscando superar suas limitações:

a) tomar como ponto de partida o caráter capitalista das formações sociais latino-americanas (Singer)

b) reconhecer o lugar subordinado que os países da região ocupam na cadeia capitalista mundial (TUD)

c) considerar, com os necessários cuidados, as transformações atuais orientadas pelo Capitalismo Monopolista Avançado (CMA), tomando como referência (mas não adotando de modo acrítico) os estudos realizados para o caso dos países centrais (Globalização, etc.)

Idéias para avançar nesses estudos para a AL: CMA: Metropolização; alteração dos padrões de localização industrial; difusão energética alterando diferenças regionais; progressos nos meios de transporte diminuem a importância do fator “espaço” na produção e circulação de mercadorias. Porém: “novas” restrições de localização industrial privilegiam a aglomeração urbana – força de trabalho qualificada ou “domesticada”; formação de complexos produtivos. Fortalecimento das Regiões Metropolitanas. Ao que tudo indica, a cidade determina a localização industrial, e não o inverso como antes. Capitalismo Monopolista Periférico Hipótese: dupla determinação.

1) Fase monopolista avançada do capitalismo 2) Lugar subordinado na cadeia capitalista mundial

Orientam a estruturas espaciais que são diferentes: - das que apareceram nos países centrais no período de transição (cidades industriais) - das que emergem nos países centrais atuais (regiões metropolitanas)

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Evidência 1 Concentração de atividades. Combinação particular de “novas” restrições com a sobrevivência de restrições “tradicionais”. Ex. Investimentos em infra-estrutura energética e de transportes concentrada em poucos pontos do território, com núcleos privilegiados de concentração. O mesmo para todos os fatores que, nos países centrais, contribuem para a homogeneização das condições espaciais. Evidência 2 Por outro lado, há que se reconhecer que a tecnificação da indústria na AL, embora sensivelmente menor que a dos países centrais, é muito mais sofisticada que a observada naqueles países quando seu grau de industrialização era equivalente ao hoje existente nos países da AL. Desenvolvimento da Hipótese: A combinação dessas 2 diferenças essenciais define particularidades do modo de urbanização latino-americano, originando, como correspondente às “regiões metropolitanas” dos países centrais, a “grande cidade primada” latino-americana. Como se caracteriza essa grande cidade:

A) Pela combinação de novos e tradicionais fatores de localização industrial B) Pelo aumento de importância das atividades terciárias superiores (Estado

e Capital com investimentos dirigidos) C) Pela proletarização peculiar – parte da mão-de-obra excedente não se

constitui em exército industrial de reserva, não é nem nunca será, mas serve ao sistema pois contribui para a reprodução da força de trabalho, constituindo um sistema de apoio, criando seu próprio sistema auto-reprodutor.

D) Pela sobrevivência, possibilitada pela necessária não-exclusividade dos sistemas de consumo coletivo, aliada à fortíssima segregação sócio-espacial que sustenta níveis de abastecimento diferentes para distintas camadas da população, reforçando o modo capitalista periférico de acumulação.

Assim, a Grande Cidade Latino-Americana, apesar de, por seu tamanho, parecer-se às Regiões Metropolitanas dos países avançados, é espacialmente e funcionalmente desarticulada e desintegrada. Essas características se concretizam, entre outros fatores, nas diversas formas contrastantes de produção e consumo do espaço construído, de ocupação do uso do solo e organização intra-espacial, de provisão de valores de uso coletivo e equipamentos urbanos. Jaramillo propõe que essas idéias sejam tomadas como postulados provisórios para a construção de um novo paradigma de interpretação sobre a urbanização latino-americana, que julga estar em formação, e para o qual sugere, de modo tentativo, a denominação de “neodependentista”, ou, de maneira mais descritiva, a de “Teoria da Espacialidade Monopolista Periférica”.