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Ética Utilitarista de Stuart Mill

Professor Domingos Faria

v180420

Colégio Pedro Arrupe

Filosofia

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Sumário

1 Informações para o 3º período

2 Problema da Fundamentação da Moral

3 Introdução ao Utilitarismo

4 Contribuição para a felicidade

5 Conceito de felicidade

6 Argumento a favor do utilitarismo

7 Críticas à ética de Mill

8 Outras versões de utilitarismo

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Sumário

1 Informações para o 3º período

2 Problema da Fundamentação da Moral

3 Introdução ao Utilitarismo

4 Contribuição para a felicidade

5 Conceito de felicidade

6 Argumento a favor do utilitarismo

7 Críticas à ética de Mill

8 Outras versões de utilitarismo

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Momentos de avaliação

Momentos de avaliação para o 3º período:

• Dois testes sobre a matéria lecionada. [80%]• Um ensaio filosófico. [15%]• Uma apresentação de trabalho de grupo (2 ou 3 elementos). [5%]

Problemas Filosóficos que vamos estudar:

• Ética Normativa (Stuart Mill e Kant).• Filosofia Política (John Rawls).• Moralidade da Guerra (para o ensaio filosófico).• Ética Aplicada (para trabalho de grupo - Ex: erradicação da pobreza,

estatuto moral dos animais, responsabilidade ambiental, problemaséticos na interrupção da vida humana, limites da liberdade deexpressão, etc.)

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O que se avalia num ensaio?

Aspetos importantes no Ensaio Filosófico:1. O problema está corretamente formulado?2. A importância do problema é mostrada?3. As principais teses concorrentes são apresentadas?4. A tese que se pretende defender é óbvia para o leitor?5. Mostra-se que o argumento principal apresentado é dedutivamente válidoou não-dedutivamente forte e não há falácias evidentes?6. Fundamenta-se com pormenor a verdade (solidez, cogência) ouplausibilidade de cada uma das premissas?7. As principais objeções são apresentadas?8. As objeções apresentadas são devidamente refutadas?9. A prosa é coerente, fácil de ler e de compreender?10. As ideias são apresentadas de forma pessoal e original?

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Sumário

1 Informações para o 3º período

2 Problema da Fundamentação da Moral

3 Introdução ao Utilitarismo

4 Contribuição para a felicidade

5 Conceito de felicidade

6 Argumento a favor do utilitarismo

7 Críticas à ética de Mill

8 Outras versões de utilitarismo

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Problema da Fundamentação da Moral

PROBLEMA: Qual é o fundamento da moral?

• Perguntar pelo fundamento da moral é procurar saber duas coisas:1 Qual é o bem último? Ou seja, que coisa valorizamos por si mesma?1

[Teoria do Bem/Valor]2 O que faz uma ação ser correta? Ou seja, qual é o critério da ação

correta?2 [Teoria da Correção/Obrigação]

• Os problemas (1) e (2) estão relacionados. Isto porque é naturalpensar que as ações corretas promovem o bem, e as incorretaspromovem o mal.

1O bem ou valor último é muitas vezes identificado com o bem ou valor intrínseco,opondo-se este ao bem ou valor meramente instrumental.

2Trata-se de saber que caraterísticas fazem uma ação ser correta e outra incorreta.Professor Domingos Faria (v180420) Ética Utilitarista de Stuart Mill Colégio Pedro Arrupe Filosofia 7 / 57

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A resposta utilitarista

Ética Utilitarista de Mill

Qual é o bem último? A felicidadeQual é o critério da ação correta? As consequências

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Sumário

1 Informações para o 3º período

2 Problema da Fundamentação da Moral

3 Introdução ao Utilitarismo

4 Contribuição para a felicidade

5 Conceito de felicidade

6 Argumento a favor do utilitarismo

7 Críticas à ética de Mill

8 Outras versões de utilitarismo

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Introdução

• A teoria utilitarista foi explicitamente desenvolvida a partir do séculoXVIII por Jeremy Bentham.

• Mas foi no século XIX que John Stuart Mill lhe deu nova vida, sendohoje uma das teorias éticas mais estudadas.

• A tese principal defendida pelo utilitarismo é o Princípio da MaiorFelicidade.

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Princípio da maior felicidade

T1. “A doutrina que aceita como fundamento da moral autilidade, ou princípio da maior felicidade, defende que asações são corretas na medida em que tendem a promover afelicidade, e incorretas na medida em que tendem a gerar ocontrário da felicidade. Por felicidade entendemos o prazer, ea ausência de dor; por infelicidade, a dor, e a privação deprazer”.

Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, pp. 50-51.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?

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Ideias principais do PMF

Princípio da Maior Felicidade (PMF)Uma ação é moralmente correta se, e só se, tendo em conta as alternativas,for aquela que resulta numa maior felicidade geral. Caso contrário, a ação émoralmente errada.

As ideias principais do PMF são as seguintes:

1 Um ato ser certo ou errado depende de um único fator: a suacontribuição para a felicidade. (Consequencialismo)

2 Conceito de felicidade: prazer. (Hedonismo)

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Sumário

1 Informações para o 3º período

2 Problema da Fundamentação da Moral

3 Introdução ao Utilitarismo

4 Contribuição para a felicidade

5 Conceito de felicidade

6 Argumento a favor do utilitarismo

7 Críticas à ética de Mill

8 Outras versões de utilitarismo

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1. Contribuição para a felicidade

T2. “Esse padrão [utilitarista] não é a maior felicidade dopróprio agente, mas a maior porção de felicidade no todo.[. . . ] Pode ser, na sua máxima extensão, garantida a toda ahumanidade; e, não apenas à humanidade, mas na medida emque a natureza das coisas o permitir, a todas as criaturassencientes.”3

Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, pp. 56-57.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?

3Mill pensa que os interesses de todos os animais com a capacidade de sofrer têm importância moral.Professor Domingos Faria (v180420) Ética Utilitarista de Stuart Mill Colégio Pedro Arrupe Filosofia 14 / 57

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1. Contribuição para a felicidade

T3. “A moralidade utilitarista reconhece, de facto, nos sereshumanos o poder de sacrificarem o seu maior bem em prol dobem dos outros. Apenas recusa admitir que o sacrifício é, emsi, um bem. A moralidade utilitarista considera desperdiçadoqualquer sacrifício que não aumente, ou tenda a aumentar, aquantidade total de felicidade.”4

Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, p. 63.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?

4Ou seja, sacrificar o bem pessoal tem sentido se, e só se, aumentar (ou tender a aumentar) a quantidade total defelicidade.Professor Domingos Faria (v180420) Ética Utilitarista de Stuart Mill Colégio Pedro Arrupe Filosofia 15 / 57

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1. Contribuição para a felicidade

T4. “Tenho de repetir, uma vez mais, que a felicidade queconstitui o padrão utilitarista do que está correto na condutanão é a própria felicidade do agente, mas a de todos osenvolvidos [. . . ]. O utilitarismo exige que o agente seja tãoestreitamente imparcial entre a sua própria felicidade e a dosoutros como um espectador desinteressado e benevolente.”5

Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, pp. 63-64.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?

5O bem a promover consiste exclusivamente na felicidade dos indivíduos que poderão ser afetados pela nossa conduta.Além disso, por causa da imparcialidade a felicidade de uma pessoa não conta mais do que a felicidade de qualquer outra pessoa.Professor Domingos Faria (v180420) Ética Utilitarista de Stuart Mill Colégio Pedro Arrupe Filosofia 16 / 57

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1. Contribuição para a felicidade

T5. “O motivo nada tem a ver com a moralidade da ação,embora tenha muito a ver com o valor do agente. Quem salvaum semelhante de se afogar faz o que está moralmentecorreto, quer o seu motivo seja o dever, ou a esperança de serpago pelo seu incómodo; quem trai a confiança de um amigo,é culpado de um crime, ainda que o seu objetivo seja serviroutro amigo para com o qual tem deveres ainda maiores”.

Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, p. 65.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?

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1. Contribuição para a felicidade

• Recapitulando:• O utilitarismo defende o Princípio da Maior Felicidade (PMF).• De acordo com o PMF, uma ação é correta quando produz a maior

felicidade para o maior número. Ou seja, quando maximizaimparcialmente o bem.6

• Aquilo que importa promover não é a felicidade do próprio agente(egoísmo ético), mas a felicidade geral ou bem-estar agregado (sendoindiferente a forma como o bem-estar está distribuído).

• A melhor escolha será aquela que, de um ponto de vista imparcial,promove a maior felicidade geral. Ou seja, aquela que mais felicidadetrouxer a um maior número de agentes morais.

• Na avaliação de um ato, o que interessa são as melhores consequências(o que resultará desse ato); sendo irrelevante o motivo ou intenção doagente (a razão pela qual queremos fazer algo).

• Assim, o utilitarista defende uma perspetiva consequencialista – são asconsequências de um ato que determinam se este é certo ou errado.

• Por isso, também não há regras morais absolutas ou invioláveis.6P.e. imagine-se que nos é dado a escolher entre construir um cinema ou um novo hospital na nossa cidade. . .

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Exercícios

EXERCÍCIOS

De um milionário prestes a morrer recebo um cheque de 500 mileuros. Comprometo-me a cumprir a sua última vontade: entregaressa quantia ao presidente do seu clube de futebol preferido. Contudo,a caminho do estádio, uma campanha contra a fome no mundo chamaa minha atenção. Surge um conflito: devo ser fiel à minha promessaao moribundo ou contribuir para salvar milhares de vítimas de fome?

1 Seguindo a ética utilitarista, qual seria a ação correta? Porquê?2 Concordas com essa ação utilitarista? Justifica.

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Exercícios

EXERCÍCIOS

Imagina que um avião descontrolado ameaça despenhar-se sobre umedifício repleto de pessoas. O avião tem um único ocupante - o piloto- que nada pode fazer a fim de evitar a catástrofe. A única maneira deevitar que a queda do avião mate centenas de pessoas é abatê-lo antesque se despenhe - matando, assim, o seu único e inocente ocupante.

1 Seguindo a ética utilitarista, qual seria a ação correta? Porquê?2 Concordas com essa ação utilitarista? Justifica.

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Exercícios

EXERCÍCIOS

Um grupo de vinte turistas tenta sair de uma gruta situada na costa,à beira-mar. O líder do grupo fica preso na estreita abertura dagruta, sem conseguir mexer-se, para dentro ou para fora. A maréenche. Todos se apercebem de que, se não saem rapidamente dagruta, acabarão por morrer afogados. Desesperados, encontram nagruta um isqueiro e um pau de dinamite. Se o usarem para libertar asaída, morre o líder, mas os restantes membros do grupo salvam-se.Se nada fizerem, todos morrem, exceto o líder, que já tem a cabeçade fora.

1 Seguindo a ética utilitarista, qual seria a ação correta? Porquê?2 Concordas com essa ação utilitarista? Justifica.

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Exercícios

EXERCÍCIOS

Imagina que és um bombeiro e estás prestes a efetuar um salvamento.Uma casa está a arder e as pessoas não conseguem sair de lá. Numaparte da casa (área A) está apenas uma pessoa e na outra parteoposta da casa (área B) estão quatro pessoas. Tu só tens tempo deir a uma das partes da casa. O que deves fazer?

1 Seguindo a ética utilitarista, qual seria a ação correta? Porquê?2 Concordas com essa ação utilitarista? Justifica.3 E se na área A estiver um teu amigo e na área B estiverem

quatro estranhos?

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Exercícios

EXERCÍCIOS

Uma mulher é presa pelos nazis e, com os seus dois filhos, enviadapara o campo de concentração de Auschwitz. À chegada, para a“recompensarem” por não ser judia, os nazis colocam-na peranteum terrível dilema: um dos filhos será poupado às câmaras de gás,mas tem de ser ela a escolher qual. Agoniada, não sabe que decisãotomar. Para a forçarem a escolher, os nazis começaram a levar ascrianças em direção às câmaras de gás. Sofia acaba por ceder eescolhe salvar aleatoriamente um dos seus filhos. Imagine-se queesse filho salvo tem uma longa vida de experiências agradáveis e semgrandes sofrimentos.a

aEste caso é inspirado no filme "Escolha de Sofia": ver aqui.

1 Seguindo a ética utilitarista, a ação de Sofia foi correta?

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1. Contribuição para a felicidadeUma questão importante:Mas uma ação é correta se efetivamente maximiza a felicidade ou seprevisivelmente maximizará a felicidade?

Caso 1

Imagine-se um agente bem-intencionado que decide dar alimentos a um homemmuito pobre. Embora ninguém o soubesse, esse homem é extremamente alérgicoa uma substância presente nos alimentos e acaba por morrer pouco depois de oster ingerido.

• Será que o agente procedeu bem?

Caso 2

Imagine-se agora um agente mal-intencionado tenta envenenar uma pessoa inocenteque está bastante doente. No entanto, o veneno acaba por curar inesperadamenteessa pessoa.

• Será que o agente procedeu bem?Professor Domingos Faria (v180420) Ética Utilitarista de Stuart Mill Colégio Pedro Arrupe Filosofia 24 / 57

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1. Contribuição para a felicidadeDois tipos de utilitarismo:

Utilitarismo objetivo (atualista)O melhor ato é sempre aquele que efetivamente maximiza a felicidadegeral, independentemente daquilo que o agente previu ou poderia terprevisto.

Utilitarismo subjetivo (ou probabilista)Agir da melhor maneira é seguir o curso de ação que, ponderadas asprobabilidades à luz dos dados disponíveis, se apresenta para o agentecomo aquele que maximiza a felicidade geral.

• A resposta de Mill (p. 66) parece ser a de que uma ação é correta se, esó se, previsivelmente maximizar a felicidade geral. Por isso, Millparece aceitar um utilitarismo subjetivo.

• Mas, o que significa a felicidade?Professor Domingos Faria (v180420) Ética Utilitarista de Stuart Mill Colégio Pedro Arrupe Filosofia 25 / 57

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Sumário

1 Informações para o 3º período

2 Problema da Fundamentação da Moral

3 Introdução ao Utilitarismo

4 Contribuição para a felicidade

5 Conceito de felicidade

6 Argumento a favor do utilitarismo

7 Críticas à ética de Mill

8 Outras versões de utilitarismo

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2. Conceito de felicidade

HedonismoA felicidade ou bem-estar de um indivíduo consiste unicamente no prazer ena ausência de dor ou sofrimento. Assim, a felicidade consiste apenas emexperiências aprazíveis (e a ausência de experiências dolorosas).

Nem todos os prazeres têm o mesmo valor: alguns são melhores que outros.Mas porquê? Duas teorias que respondem a essa questão:

Hedonismo quantitativoO valor intrínseco de um prazer depende apenas da sua duração eintensidade.

Hedonismo qualitativoO valor intrínseco de um prazer depende sobretudo da sua qualidade.

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2. Conceito de felicidade: hedonismo quantitativo

Hedonismo quantitativo:

• Bentham (fundador da ética utilitarista) defendia que os prazerespoderiam ser quantitativamente melhores atendendo à suaintensidade e duração.

• Todos prazeres (e dores) são comensuráveis, ou seja, podemos fazerum cálculo da felicidade:

• valor(p) = Intensidade(p) × Duração(p)• Podemos comparar os vários valor(p) para ver qual tem mais valor e agir

em conformidade com o resultado.7• A melhor vida é aquela que, depois de considerados todos os prazeres e

dores que a constituem, apresenta o saldo mais positivo.

• Será plausível o hedonismo quantitativo?

7P.e. O prazer que uma pessoa sente ao passar de ano com boas notas talvez seja maior em intensidade e duração do queo prazer que sente durante um curto passeio.Professor Domingos Faria (v180420) Ética Utilitarista de Stuart Mill Colégio Pedro Arrupe Filosofia 28 / 57

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2. Conceito de felicidade: hedonismo quantitativo

Objeções ao hedonismo quantitativo:

• Para Mill a avaliação dos prazeres não depende apenas da quantidade.

• Considere-se a seguinte experiência mental:• Imagine-se a vida tranquila e agradável de uma ostra com a duração de

500 anos.• Agora compare-se essa vida com a de um cientista que desfrutou de

prazeres superiores que resultaram do trabalho científico, mas que sódurou 60 anos.

• Segundo o hedonismo quantitativo, a vida da ostra seria melhor do quea do cientista, dado que os prazeres da ostra duram muito mais tempo.

• Contudo, parece óbvio que a vida do cientista é qualitativamentemelhor do que a da ostra.

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2. Conceito de felicidade: hedonismo qualitativo

T6. “Seria absurdo que a avaliação dos prazeres dependesseapenas da quantidade, dado que ao avaliar todas as outrascoisas consideramos a qualidade a par da quantidade. (. . . ) Éum facto inquestionável que aqueles que estão igualmentefamiliarizados com [dois prazeres], e são igualmente capazesde os apreciar e gozar, dão uma acentuada preferência aomodo de vida no qual se faz uso das faculdades superiores.Poucas criaturas humanas consentiriam em ser transformadasem qualquer um dos animais inferiores, a troco da máximaquantidade dos prazeres de um animal”.

Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, pp. 52-53.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?Professor Domingos Faria (v180420) Ética Utilitarista de Stuart Mill Colégio Pedro Arrupe Filosofia 30 / 57

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2. Conceito de felicidade: hedonismo qualitativoHedonismo qualitativo:

• Mill defende que alguns tipos de prazeres são qualitativamentesuperiores a outros. Ou seja, há prazeres intrinsecamente melhores doque outros.

Prazeres inferioresOs prazeres inferiores correspondem aos prazeres corpóreos, ou seja,dizem respeito à satisfação das necessidades primárias (comer, dormir, etc.)

Prazeres superioresOs prazeres superiores correspondem aos prazeres intelectuais eemocionais, ou seja, dizem respeito à satisfação das necessidadesmentais/espirituais (como a fruição da beleza, do conhecimento, daamizade e do amor, etc.).

Mas como sabemos que os prazeres intelectuais são superiores aoscorporais?Professor Domingos Faria (v180420) Ética Utilitarista de Stuart Mill Colégio Pedro Arrupe Filosofia 31 / 57

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2. Conceito de felicidade: hedonismo qualitativo

Hedonismo qualitativo:

• Mill argumenta que um juiz competente, o qual tem experiência dosdois tipos de prazeres (intelectuais e corporais), não trocaria aoportunidade de fruir dos prazeres superiores por nenhuma quantidadede prazeres inferiores.

• Por exemplo, ainda que os prazeres de um porco fossem mais intensose duradouros do que os de um ser humano, os de um ser humanoseriam preferíveis aos de um porco, pois o porco apenas pode terprazeres inferiores.

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2. Conceito de felicidade: hedonismo qualitativo

T7. “É indiscutível que o ser cujas capacidades de prazer sãobaixas tem uma maior possibilidade de vê-las inteiramentesatisfeitas; e um ser superiormente dotado sentirá sempre quequalquer felicidade que possa procurar é imperfeita, tendo emconta a maneira como o mundo é constituído. Mas ele podeaprender a suportar as imperfeições da sua felicidade. (. . . ) Émelhor ser um ser humano insatisfeito do que um porcosatisfeito; um Sócrates insatisfeito do que um idiota satisfeito.E se o idiota, ou o porco, têm opiniões diferente, é porqueapenas conhecem o seu lado da questão. A outra parte dacomparação conhece ambos os lados”.

Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, p. 54.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?Professor Domingos Faria (v180420) Ética Utilitarista de Stuart Mill Colégio Pedro Arrupe Filosofia 33 / 57

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Exercícios

EXERCÍCIOS

Considere-se duas vidas possíveis: (1) a vida de uma ostra, quecontém apenas prazer físico ténue, mas que se estenderá por ummilhão de anos; (2) a vida feliz de um artista ou cientista, que terá aduração normal da vida humana.

1 Segundo o hedonismo quantitativo, que vida será melhor?Porquê?

2 Segundo o hedonismo qualitativo, que vida será melhor?Porquê?

3 Que vida será melhor? Porquê?

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Exercícios

EXERCÍCIOS

1 O que é o hedonismo?2 Como difere o hedonismo de Bentham do hedonismo de Mill?3 Como distingue Stuart Mill os prazeres inferiores dos superiores?4 Segundo Stuart Mill, que prazeres são inferiores e que prazeres

são superiores?5 ’O ser mais feliz é aquele que se sente mais satisfeito’. Será que

Stuart Mill concorda com esta perspectiva? Porquê?

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Sumário

1 Informações para o 3º período

2 Problema da Fundamentação da Moral

3 Introdução ao Utilitarismo

4 Contribuição para a felicidade

5 Conceito de felicidade

6 Argumento a favor do utilitarismo

7 Críticas à ética de Mill

8 Outras versões de utilitarismo

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Argumento a favor do utilitarismo

A ética utilitarista defende:

Princípio da Maior Felicidade (PMF)Uma ação é moralmente correta se, e só se, tendo em conta as alternativas,for aquela que resulta numa maior felicidade geral. Caso contrário, a ação émoralmente errada.

Mas que argumento Stuart Mill apresenta a favor do PMF?

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Argumento a favor do utilitarismo

T8. “A única prova de que um som é audível é que as pessoaso ouvem. (. . . ) Penso que, de modo semelhante, a únicaprova que é possível apresentar de algo é desejável, é aspessoas desejarem-no de facto. (. . . ) Nenhuma razão podeser avançada para explicar por que razão a felicidade geral édesejável, excepto que cada pessoa, na medida em que pensapoder alcançar a sua própria felicidade, deseja-a. (. . . )[Assim,] a felicidade de cada pessoa é desejável para essapessoa e, a felicidade geral é, portanto, desejável para oconjunto de todas as pessoas (. . . ) e, consequentemente, umdos critérios da moralidade”.

Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, p. 90.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?Professor Domingos Faria (v180420) Ética Utilitarista de Stuart Mill Colégio Pedro Arrupe Filosofia 38 / 57

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Argumento a favor do utilitarismo

T9. “Se a natureza humana é constituída de forma a nadadesejar que não seja ou parte da felicidade ou um meio para afelicidade, não podemos ter outra prova, e não precisamos deoutra, de que estas são as únicas coisas desejáveis. A serassim, a felicidade é o único fim da ação humana, e a suapromoção o teste por meio do qual se avalia toda a condutahumana; de onde necessariamente se segue que tem de ser ocritério da moralidade”.

Stuart Mill, Utilitarismo, Gradiva, pp. 94.

• O que podemos sublinhar nesta passagem?

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Argumento a favor do utilitarismo

Representação canónica do argumento:

1 Se as pessoas conseguem ouvir um som, isso prova que este é audível.2 ∴ Se as pessoas desejam uma coisa, isso prova que tal coisa é

desejável. [De 1, por analogia]3 A única coisa que cada pessoa deseja como fim último é a sua própria

felicidade.4 ∴ A única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a

sua própria felicidade. [De 2 e 3, por modus ponens]5 Se a única coisa que é desejável como fim último para cada pessoa é a

sua própria felicidade, então só a felicidade geral é desejável como fimúltimo para o agregrado das pessoas.

6 ∴ Só a felicidade geral é desejável como fim último para o agregradodas pessoas, sendo assim o critério da moralidade. [De 4 e 5, pormodus ponens]

Será este um bom argumento?

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Sumário

1 Informações para o 3º período

2 Problema da Fundamentação da Moral

3 Introdução ao Utilitarismo

4 Contribuição para a felicidade

5 Conceito de felicidade

6 Argumento a favor do utilitarismo

7 Críticas à ética de Mill

8 Outras versões de utilitarismo

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Críticas à ética de Mill

Objeções à ética utilitarista de Mill:

1 Falácias no argumento a favor do utilitarismo.2 Críticas ao hedonismo (máquina de experiências).3 O utilitarismo é uma ética demasiado exigente.4 O utilitarismo é uma ética demasiado permissiva.5 Problemas do cálculo da utilidade.

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Falácias no argumento a favor do utilitarismo

Falácia da Falsa Analogia(1) Se as pessoas conseguem ouvir um som, isso prova que este é

audível.(2) ∴ Se as pessoas desejam uma coisa, isso prova que tal coisa é

desejável. [De 1, por analogia]

• Esta analogia parece fraca, pois:• "Audível" é um conceito descritivo, enquanto "desejável" é um

conceito normativo.• "Audível" significa apenas "aquilo que pode ser ouvido". Como só

ouvimos o que pode ser ouvido, o facto de ouvirmos um som prova queeste é audível.

• Mas "desejável" não significa apenas "aquilo que pode ser desejado" -significa antes algo como "aquilo que merece ou deve ser desejado".

• Por isso, do facto de alguém desejar uma coisa daí não se segue que estaseja desejável, ou seja, que mereça ou deve ser desejada.

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Falácias no argumento a favor do utilitarismo

Falácia da Composição(5) Se a única coisa que é desejável como fim último para cada

pessoa é a sua própria felicidade, então só a felicidade geral édesejável como fim último para o agregrado das pessoas.

• A premissa (5) comete a falácia da composição, pois:• Esta falácia consiste em atribuir ao todo características que apenas

podem ser legitimamente atribuídas a cada uma das suas partes.• Por exemplo, se cada um dos átomos que compõem esta mesa é

invisível, então a mesa no seu todo é invisível.• Mill comete um erro semelhante: mesmo que a felicidade de cada pessoa

seja desejável para ela mesma, daí não se segue que a felicidade geralseja desejada para um agregado de pessoas.

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Críticas ao hedonismo (máquina de experiências)

HedonismoA felicidade ou bem-estar de um indivíduo consiste unicamente no prazer ena ausência de dor ou sofrimento. Assim, a felicidade consiste apenas emexperiências aprazíveis (e a ausência de experiências dolorosas).

Experiência Mental da máquina de experiências (de Robert Nozick)Imagine-se que vivemos num mundo em que todas as pessoas se encontramligadas a sofisticadas máquinas que controlam os nossos pensamentos esentimentos. Imagine-se também que as máquinas controlam as nossasexperiências de forma a tornar as nossas vidas virtuais extremamente ricasem prazeres. Em tal mundo, temos uma vida repleta de sucesso e prazer,sem nunca termos de enfrentar obstáculos ou dissabores. Imagine-se aindaque este mundo seria pleno de todo o tipo de prazeres, superiores einferiores. Seria uma boa ideia estar ligado à máquina de experiências?

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Críticas ao hedonismo (máquina de experiências)

Objeção ao Hedonismo - argumento da máquina da experiências(1) Se o hedonismo fosse verdadeiro, então o mundo da máquina

de experiências seria melhor do que o nosso.(2) Mas o mundo da máquina da experiências não é o melhor.

(Aliás, seria um mundo bastante pior porque seria uma farsa,constituído por experiências ilusórias).

(3) ∴ O hedonismo é falso. [De 1 e 2, por modus tollens]

• De acordo com Robert Nozick (1974):• Não é verdade que uma vida seja boa apenas devido às experiências

agradáveis que a constituem.• A autenticidade das nossas experiências é algo intrinsecamente valioso.• Uma vida constituída por experiências ilusórias, ainda que que muito

agradáveis, tem menos valor do que uma vida real.

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O utilitarismo é uma ética demasiado exigente

UtilitarismoSe um ato não contribui no máximo grau possível para a felicidade geral,então é errado. Assim, devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance paracontribuir para o bem-estar de todos.

Utilitarismo é demasiado exigente• Mas, esta perspetiva não exigirá de nós um altruísmo extremo?• Não nos obrigará a fazer sacrifícios excessivos para benefício dos

outros?

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O utilitarismo é uma ética demasiado exigente

Um exemplo da exigência excessiva do utilitarismoImagina que tens 50 euros no banco e que estás a decidir como hás-degastá-los. Como gostas muito de ver filmes, tencionas gastar esse dinheiroem bilhetes de cinema. Mas, como tu és um utilitarista, o que deves fazer:gastar esse dinheiro em bilhetes de cinema ou doá-lo a instituições decaridade para ajudar a combater a fome? Qual é a ação que maximiza obem e contribui para o bem-estar geral?

Um utilitarista diria que gastar esse dinheiro em bilhetes de cinemaprovavelmente não gerará um estado de coisas tão bom como dar essedinheiro a instituições de caridade; logo, deve-se doar este dinheiro a umainstituição de caridade.

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O utilitarismo é uma ética demasiado exigente

Utilitarismo é demasiado exigente• Se o utilitarismo fosse verdadeiro, então teríamos o dever de dedicar a

nossa vida a gerar o melhor estado de coisas possível, e não teríamosmuita oportunidade para tentar desenvolver os nossos projetospessoais (como ir ao cinema, fazer um curso, comprar livros, etc. . . ).

• Assim, se seguirmos o utilitarismo, parece que teremos que redefinirradicalmente a nossa vida, prescindindo de quase tudo o queapreciamos para benefício dos outros.

• Teremos de sacrificar o nosso bem-estar até àquele ponto em quesacrificá-lo ainda mais não resultaria numa maior felicidade geral. a

aUma resposta é dizer que o critério utilitarista de maximização imparcial do bem apenas nos dá um idealorientador, tal como a moral cristã é apenas um ideia orientador.

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O utilitarismo é uma ética demasiado permissiva

A felicidade geral pode ser o melhor dos fins, mas nem sempre os finsjustificam os meios; ou seja, existem certas formas de maximizar o bem quenão são eticamente permissíveis.

Um exemplo da permissividade excessiva do utilitarismoA Sara é uma cirurgiã especializada na realização de transplantes. Nohospital em que trabalha enfrenta uma terrível escassez de órgãos – cincodos seus pacientes estão prestes a morrer devido a essa escassez. Ondepoderá ela encontrar os órgãos necessários para salvá-los? O Jorge está nohospital a recuperar de uma operação. A Sara sabe que o Jorge é umapessoa solitária – ninguém vai sentir a sua falta. Tem então a ideia dematar o Jorge e usar os seus órgãos para realizar os transplantes, sem osquais os seus pacientes morrerão.

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O utilitarismo é uma ética demasiado permissiva

Consideramos a ideia da Sara abominável. Mas de acordo com outilitarismo, nada há de errado em matar o Jorge (pois, permitiria salvarcinco pessoas que de outro modo morrerão).

Objeção da permissividade excessiva do utilitarismo(1) Se o utilitarismo fosse verdadeiro, seria permissível a Sara

matar o Jorge.(2) Mas fazer tal coisa não é permissível.(3) ∴ O utilitarismo é falso. [De 1 e 2, por modus tollens] a b

aUma resposta utilitarista a esta objeção: matar pessoas inocentes para salvar outras acabaria por produzirinfelicidade porque ficaríamos inseguros.

bOutra resposta: Henry Sidgwick defende que o utilitarismo não deve ser usado sistematicamente para tomardecisões e que existem outras motivações úteis para agir.

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Problemas do cálculo da utilidade

Segundo o utilitarismo dos atos temos de realizar o cálculo dasconsequências favoráveis e desfavoráveis de uma ação.

Dificuldades de realizar o cálculo das consequências• Pressupõe que todos os prazeres e dores, de variáveis tipos e sentidos

de diferentes formas por diversas pessoas, podem ser reduzidos aalguma escala puramente numérica. Mas isso é implausível.

• O cálculo também pressupõe que podemos saber quais são asconsequências prováveis das ações. Porém, não parece que se consigaprever com plausibilidade as consequências a longo prazo.

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Sumário

1 Informações para o 3º período

2 Problema da Fundamentação da Moral

3 Introdução ao Utilitarismo

4 Contribuição para a felicidade

5 Conceito de felicidade

6 Argumento a favor do utilitarismo

7 Críticas à ética de Mill

8 Outras versões de utilitarismo

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Outras versões de utilitarismoAlém do utilitarismo dos atos de Stuart Mill, existem outras versões de utilitarismo,como o caso do utilitarismo das regras.

Utilitarismo dos Atos (Stuart Mill)Uma ação é moralmente correta se, e só se, tendo em conta as alternativas, foraquela que resulta numa maior felicidade geral.

Utilitarismo das Regras (John Harsanyi)Uma ação é moralmente correta se, e só se, não infringe as regras morais corretas.As regras morais corretas são aquelas que, se fossem adotadas por todas ou quasetodas as pessoas, mais contribuiriam para a felicidade geral.

• Para sabermos se uma regra moral é correta, devemos imaginar como seria omundo se todos ou quase todos a aceitassem.

• Se descobrirmos que a aceitação geral de uma regra seria prejudicialpara a felicidade geral, teremos de considerá-la incorreta.

• Se entendermos que a sua aceitação geral teria um impacto muitopositivo na felicidade geral, então poderemos considerá-la correta.

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Utilitarismo das Regras

O utilitarismo das regras pode contornar algumas das objeções anterioresao utilitarismo dos atos.

• Por exemplo, considere-se a regra «É proibido matar inocentes».• É plausível que, se todos ou quase todos aceitarem essa regra, as

consequências disso serão muito boas.• Assim, se uma regra que proíba matar inocentes se conta entre as regras

morais corretas, todos os atos que a infrinjam são errados.• Por isso, matar uma pessoa inocente e usar os seus órgãos para realizar

os transplantes para salvar cinco seria errado.

• Problemas: pode ser considera uma teoria demasiado idealista.• Segundo o utilitarista das regras, devemos agir em conformidade com

aquelas regras que, numa situação ideal em que todos ou quase todosas adotassem, mais promoveriam a felicidade geral.

• Porém, no mundo real, como muitas pessoas podem não adotar essasregras, segui-las pode ser desastroso ou inútil.

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Conceções não-hedonistas de felicidadeMas que alternativas existem ao hedonismo?

Teoria das preferências informadas (R. M. Hare)A felicidade consiste apenas na realização de desejos ou preferênciasinformadas e racionais.

• Uma vida feliz resulta da realização daqueles desejos que teríamos seestivéssemos devidamente informados e racionais.

Teoria da lista objetiva (G. E. Moore)A felicidade consiste apenas na realização de desejos de bens objetivos nanossa vida. Mas que coisas são objetivamente valiosas?

• O desenvolvimento de relações de amizade e de amor.• A obtenção de conhecimento importante.• O desenvolvimento da virtude, isto é, de um bom caráter moral.• Etc...

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Vídeos sobre o utilitarismo:

• Introdução geral ao utilitarismo (ver aqui)• Video de Michael Sandel sobre o utilitarismo (ver aqui)• Um dilema ético (ver aqui)• Sobre a qualidade dos prazeres (ver aqui)

Para falar com o professor:

[email protected]• http://www.domingosfaria.net

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