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Timor-Leste: Experiencias de um Tradutor de Português na ONU Molok ha’u hato’o ha’u-nia dadolin konabá Timor, ha’u hakfulak ho lian: Bomdia, di’ak ka lae? Em primeiro lugar quero agradecer a ABRATES pelo convite falar aqui hoje. Em segundo, quero agradecer a todos vocês por terem vindo. Espero poder compartilhar um pouco das minhas experiências adquiridas ao longo de quase cinco anos como tradutor numa Missão da Paz das Nações Unidas. Irei abordar três pontos: 1) Timor-Leste – o país, história, línguas e povo 2) A Missão de Paz da ONU em Timor-Leste onde eu trabalhei – UNMIT - e mais particularmente a SCIT 3) Carreiras na ONU para Tradutores, Intérpretes, Editores e Revisores No final espero ter um tempo para perguntas, ou se não, podem correr para assistir as demais palestras! 1) Timor-Leste – Povo e País Acredita-se que os primeiros seres humanos a colonizar a ilha de Timor, vindo do que hoje é Sri Lanka, chegaram mais de 40 mil anos atrás, de acordo com artefatos deixados em cavernas. Depois, uns 3 mil anos atrás, vieram proto-malaios do sul da China e norte da Indochina, forçando o povo vedo-australoide para o interior montanhoso. Mais tarde chegou uma nova vaga migratória, a dos deutero-malaios. No século XIV chegaram comerciantes portugueses, que aos poucos colonizaram a ilha. Depois de conflitos com a Holanda, a ilha foi divida – a parte leste ficando sob o controle de Portugal. Embora o budismo e islamismo tenham chegado a suplantar as religiões animistas autóctones na maioria das ilhas da região, como Java, Bali, etc., o povo de Timor continuou com suas crenças indígenas intactas basicamente até o final do Século XX.

Timor leste - experiencias de um tradutor de português na onu

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Timor-Leste: Experiencias de um Tradutor de Português na ONU

Molok ha’u hato’o ha’u-nia dadolin konabá Timor, ha’u hakfulak ho lian: Bomdia, di’ak ka lae?

Em primeiro lugar quero agradecer a ABRATES pelo convite falar aqui hoje. Em segundo, quero agradecer a todos vocês por terem vindo.

Espero poder compartilhar um pouco das minhas experiências adquiridas ao longo de quase cinco anos como tradutor numa Missão da Paz das Nações Unidas.

Irei abordar três pontos:

1) Timor-Leste – o país, história, línguas e povo

2) A Missão de Paz da ONU em Timor-Leste onde eu trabalhei – UNMIT - e mais particularmente a SCIT

3) Carreiras na ONU para Tradutores, Intérpretes, Editores e Revisores

No final espero ter um tempo para perguntas, ou se não, podem correr para assistir as demais palestras!

1) Timor-Leste – Povo e País

Acredita-se que os primeiros seres humanos a colonizar a ilha de Timor, vindo do que hoje é Sri Lanka, chegaram mais de 40 mil anos atrás, de acordo com artefatos deixados em cavernas. Depois, uns 3 mil anos atrás, vieram proto-malaios do sul da China e norte da Indochina, forçando o povo vedo-australoide para o interior montanhoso. Mais tarde chegou uma nova vaga migratória, a dos deutero-malaios. No século XIV chegaram comerciantes portugueses, que aos poucos colonizaram a ilha. Depois de conflitos com a Holanda, a ilha foi divida – a parte leste ficando sob o controle de Portugal.

Embora o budismo e islamismo tenham chegado a suplantar as religiões animistas autóctones na maioria das ilhas da região, como Java, Bali, etc., o povo de Timor continuou com suas crenças indígenas intactas basicamente até o final do Século XX.

Ao colonizar Timor, os portugueses fizeram o oposto do que fizeram no Brasil. Se Brasil foi a colónia mais importante da metrópole, Timor ocupou o último lugar de importância. Da sua chegada em 1512 até 1890, a influência portuguesa não passou de algumas pequenas cidades no litoral norte da ilha. A Coroa Portuguesa deixou os pequenos reinados que existiam neste lado leste da pequena ilha de Timor, que tem território do tamanho do estado de Sergipe. Exigia juramento de lealdade a Portugal e pagamento de imposto em mão-de-obra e recursos naturais como sândalo, mas deixaram o povo local em paz a maior parte do tempo. Assim criou-se uma identidade de povo autónomo dentro do império português.

Outro fato marcante foi a não-extinção das línguas indígenas. Hoje existem 16 línguas distintas, além de vários dialetos neste pequena meia-ilha. O Tétum-praça, ou Tetum-Dili, ou simplesmente Tetum, é a língua franca entre os grupos linguísticos. Tetum e Português são as línguas oficiais de Timor-Leste.

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Embora o Tétum seja amplamente falado pelo país todo, o último recenseamento populacional mostra que pouco mais de 20% da população diz falar Português. A geração de meia-idade, educada durante a ocupação, teve o indonésio como língua de escolarização; os mais velhos educados no tempo colonial português falam a língua portuguesa, e começa a haver uma nova geração de crianças que vão falando português, idioma oficial do sistema de ensino, com diversos graus de fluência. Contudo, da mesma forma que o Inglês tem um léxico coloquial que vem do anglo-saxónio enquanto o léxico mais sofisticado vem do Latim, quase 40% do vocabulário do Tétum vem do Português. Se os indonésios erraram em não perceber e subestimar a ligação que o povo timorense tem com Portugal, muitos lusófonos hoje em dia superestimam essa ligação. O povo do país está longe de ser lusófono, embora o governo e as elites sejam.

Na Segunda Guerra Mundial, o país foi invadido preemptivamente pela Austrália, para evitar que o Japão tivesse lugar do qual poderia invadi-la. Claro que o Japão invadiu em seguida. Os indígenas timorenses tomaram lado com os australianos, ajudando-os na sua guerrilha, e sofreram as consequências. Só em Dili foram mortos 40 mil em represálias. Ainda, imensos numeros de mulheres timorenses foram raptadas e forçadas a trabalhar em bordéis do exército japonês.

A Revolução dos Cravos em Portugal em 1975 deu início a descolonização em Timor. Três partidos surgiram, a FRETILIN – que queria independência imediata do Portugal, a UDT – que queria independência gradativa dentro de uma comunidade de ex-colónias, e a APODETI – apoiado por Indonésia, que queria integração com a Indonésia. Houve golpe de estado e contragolpe, e FRETILIN saiu vitoriosa, e declarou independência unilateral no dia 28 de novembro de 1975. Nove dias depois, com anuência dos EUA, Indonésia invadiu Timor. A invasão foi denunciada pela ONU e Portugal, e somente Austrália reconheceu formalmente a anexação da ex-colónia portuguesa pela Indonésia, em troca de acordos comerciais que cederam metade do petróleo no Mar do Timor para Austrália, situação que perdura até hoje.

Nas décadas que sucederam, estima-se que 200 mil pessoas, um terço da população do Timor morreu, ou em conflito direto, ou por causa da fome provocada pela guerra. Isto faz Timor o palco do maior genocídio moderno, em termos proporcionais a população. Nos anos 90, alguns jornalistas corajosos conseguiram contrabandear gravações dos massacres para fora do território, colocando pressão da opinião publica internacional contra os indonésios. Em 1999, a crise financeira asiática levou a renúncia do Presidente Suharto e a eleição de um governo democrático. A pressão internacional, a falta de ação no caso de Ruanda, e um momento singular na Indonésia conspiraram para que o governo fosse persuadido a organizar um referendo no qual o povo de Timor decidiria se queria permanecer dentro da Indonésia ou ser independente. A ONU auxiliou na organização do referendo, apesar de tentativas dos indonésios de subornar e intimidar a população e até assassinar lideres da oposição, e 97% dos eleitores votaram e 78% destes a favor da independência. A reação dos indonésios foi imediata. Milícias, armadas, treinadas e financiadas pelo governo indonésio, e tropas do exército indonésio, desencadearam um bem-planejada campanha de ‘terra arrasada’, matando milhares de partidários da independência, destruindo aldeias inteiras e 80% da infraestrutura do país, e deslocando à força mais de cem mil timorenses para a Indonésia. A ONU conseguiu pressionar o governo indonésio a permitir os capacetes azuis a desembarcar no território para restaurar a paz.

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Então houve uma série de missões da ONU em Timor, primeiro como administração transitória, enquanto criava-se os órgãos do governo timorense. Neste período o chefe da missão era Sérgio Vieira de Mello, posteriormente enviado para Iraque, onde foi vitima de um ataque a bomba. A última missão da ONU em Timor foi a UNMIT, que basicamente fechou em dezembro do ano passado, com somente uma unidade em atividade – a nossa – a SCIT (Equipe de Investigação dos Crimes Graves).

2) A Equipe de Investigação de Crimes Graves (SCIT – Serious Crimes Investigation Team)

Logo na primeira missão da ONU em Timor-Leste, o Conselho de Segurança estabeleceu a Unidade de Crimes Graves (SCU – Serious Crimes Unit) para investigar os crimes cometidos na época do referendo e os Painéis Especiais de Crimes Graves para processar os culpados. Nos primeiros anos conseguiu iniciar centenas de investigações e indiciar muitos suspeitos responsáveis, incluindo generais e autoridades indonésios. Em 2005 a SCU foi desativada ainda com centenas de casos em aberto, quando a ONU retirou a missão da paz do país, acreditando que não precisava mais da sua tutela. Ledo engano. Rixas entre grupos étnicos e de resistência que haviam-se aliado durante a luta de independência começaram a surgir, e o país desceu em caos com conflito armado deflagrando entre estes grupos – alguns dizem com interferência externa. A ONU voltou para Timor em 2006 com a criação da Missão das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT – United Nations Mission in Timor-Leste). Junto com a nova missão foi criada a Equipe de Investigação de Crimes Graves (SCIT – Serious Crimes Investigation Team), na qual eu trabalhei como tradutor sénior por quase cinco anos (2008-2013).

Pelos processos demorados de recrutamento da ONU, somente no final de 2008 que conseguimos completar a equipe. Somos três tradutores internacionais – um americano, um brasileiro e uma portuguesa – e o nosso trabalho é de traduzir toda a documentação das investigações – relatórios diversas de investigação, cena de crime, autópsia, antemortem, antropológico, depoimentos etc. do inglês (a língua oficial da missão) para português (a língua do judiciário timorense). Teoricamente isso não teria grandes complicações, mas na prática, acontecia o seguinte: Os investigadores internacionais (vindo de vários países – Rússia, Colômbia, Filipinas, Polónia, Estados Unidos, Canadá, Senegal, etc. – mas trabalhando em “Inglish”) iam para o campo junto com intérpretes locais, todos sem nenhum treinamento ou experiência previa como intérpretes, e investigavam os casos. A Missão precisava de centenas de intérpretes para acompanhar os quase 2 mil policiais, militares e civis estrangeiros e então oferecia a qualquer pessoa que falava um pouco de inglês o trabalho de intérprete. Os investigadores faziam perguntas em inglês, que eram interpretadas para as diversas línguas existentes em Timor, e as respostas interpretadas de volta para os investigadores. Como podem imaginar, houve muitos problemas aí. Então esses documentos vinham para a capital, Dili, onde nós os traduzíamos para português, porque Tétum, a língua franca de Timor, carece de vocabulário para um sistema judiciário moderno, e então o português, a outra língua oficial do país, é usada.

Como muitos de vocês sabem, eu morei cerca de 20 anos em Belém do Pará, abri empresa de locação de equipamentos de interpretação de conferências, e fazia versões e interpretações, sempre do português para inglês. Comecei a organizar cursos, oficinas e workchoppes devido a falta de oportunidades de

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treinamento em Belém, e criei a lista de discussão Tradnorte, para divulgar notícias de interesse aos profissionais locais. Um belo dia, vi um anúncio para um tradutor português - inglês na ONU em Timor-Leste e encaminhei para a lista. Vários colegas se candidataram e a linda minha esposa (de mais de 30 anos) insistiu que eu me candidatasse também. Fiz só para evitar discussão com ela, pois estava muito bem acomodado na minha vida em Belém. O processo de seleção consistiu de entrevistas por telefone e testes onde recebi documentos para traduzir com tempo muito limitado para devolver via email, alem de ter o meu currículo comparado com outros candidatos. Cada critério tinha determinado peso e os candidatos finais foram contatados para confirmar se ainda estivessem dispostos e disponíveis. Eu recebi uma oferta formal e então tive que fazer exame medica e encaminhar para aprovação. Anos depois fiquei sabendo que um outro candidato da lista havia sido o primeiro colocado mas não estava disponível para viajar na data exata que pediram que fosse, talvez pensando que poderia negociar outra data, mas a ONU simplesmente foi para o segundo colocado – eu! Esta é um fenómeno que já me beneficiou várias vezes na vida – de estar disposto a pular quando oportunidades aparecem. Anos antes, a minha empresa havia feito com sucesso a tradução simultânea de um evento do G7 no Brasil. Meses depois, andando no centro, recebo uma ligação do Banco perguntando se a minha equipe poderia estar em Paris em três dias – sem hesitar, disse ‘sim’. Fomos e, a partir de então viajamos regularmente para participar em eventos em Londres, Paris e Bona – tudo porque pulei quando apareceu a oportunidade.

O processo de seleção levou meses, e quando finalmente confirmaram a minha contratação, estava já com viagem marcada para os EUA para participar no congresso da ATA na Florida. Então, cancelei a volta, e fui direto do congresso para o Curso de Introdução da ONU em Brindisi, no sul da Itália. Quando cheguei em Timor, ainda havia muitos refugiados em campos com barracas pela cidade, por causa do conflito meses antes quando o Presidente (e laureado do prémio Nobel) José Ramos-Horta foi baleado e o líder de um grupo de soldados rebeldes Alfredo Reinado foi morto. A cidade estava com muitos dos prédios em ruínas, das sucessivas crises em 1999, 2006 e 2008. A Missão da ONU era um complexo com soldados armados, barreiras contra bomba etc. Comecei o meu serviço como tradutor da Equipe de Investigação de Crimes Graves, junto com 2 colegas – um brasileiro e uma portuguesa.

Durante as entrevistas no processo de seleção, eu disse repetidas vezes que só fazia versão – português para inglês – porque de fato eu tinha quase nenhuma experiência em fazer o contrário – nos 17 anos de experiência que tinha na época. Ao chegar, a primeira incumbência que recebi foi de verter o recém-promulgado Código Penal do português para inglês. Eu só consegui fazer graças a ajuda de muitos colegas das listas de discussão aqui no Brasil e nos EUA com os conceitos e terminologia que eu não dominava.

A expectativa do meu chefe era, você foi recrutado porque é perito, então deve poder fazer tudo! Eu nunca mais fiz versão – tradução para inglês – depois. Para os últimos quase cinco anos, tenho trabalhado exclusivamente para português! Como infelizmente os casos, depoimentos, incidentes relacionados com os crimes contra humanidade cometidos em Timor guardam muita semelhança entre si, o uso de programa CAT foi importante em acelerar o processo. Inicialmente eu instalei Wordfast no meu computador com licença pessoal. Mais tarde, tradutores por toda a missão adotaram a Wordfast e os tradutores da SCIT passavam a usar uma memória compartilhada, que também foi importante, porque às vezes um tradutor traduzia documentos como depoimentos, laudas de autópsia etc.

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enquanto outro fazia relatórios finais e as acusações formais, que continham longos trechos dos documentos de apoio. Isto deu um salto de eficiência para a unidade.

Queria mencionar mais duas coisas mais sobre meu trabalho na SCIT.

Primeiro foi algo que me sucedeu, que ninguém me avisou que podia acontecer. Nos primeiros seis meses em Timor eu estava só, deixei a família no Brasil. Isto, junto com o fato que oito horas por dia eu traduzia textos sobre massacres, assassinatos, estupros, torturas, com todos os detalhes, fez com que tenha sofrido o que é chamado ‘trauma vicaria’ (second-hand trauma). Fiquei comovido com as histórias, eu imaginei eu ou entes queridos em situações semelhantes, e isso me deixou profundamente deprimido. A Missão tem serviço de psicólogo, mas não sabia na época. A minha fé, a vinda de parte da minha família, e os conselhos de uma colega tradutora, Rina Neeman, nos EUA – que tinha uma experiencia parecida, em traduzir narrativas do holocausto de hebraico para inglês – me ajudou a distanciar-me do assunto. Graças a Deus consegui, e hoje traduzo como se fosse enredo de filme e não como a vida real.

A outra foi a interação com o departamento de tradução da missão em si. A SCIT era uma unidade dentro da missão mas com mandato específico, numa área de acesso restrito, e interagia pouco com o restante da UNMIT. Eu senti muita vontade de interagir com os demais tradutores e intérpretes internacionais, e tomei passos para fazer isso. Como não tinha intérpretes de conferência suficientes neste departamento (Translation and Interpretation Cell), frequentemente fui chamado para auxilia-lo. Conseguimos trocar experiências, lições, até o uso de Wordfast, alem de cimentar amizades duradouras. Como tradutores e intérpretes, conseguimos romper o compartimentalização que é prevalente na ONU e grandes organizações em geral.

Bem, chegamos a terceira e ultima parte da minha fala aqui hoje –

3) Oportunidades para Tradutores, Revisores e Intérpretes na ONU.

Devo começar explicando um pouco sobre a questão de línguas nas Nações Unidas. São seis línguas oficiais na Organização – Árabe, Chinês, Espanhol, Francês, Inglês e Russo. Esta representação tem raízes históricas no pós-guerra de WW2, na Guerra Fria, e também pelo número de falantes no mundo e países onde são faladas como línguas oficiais. Estas são usadas em todas as reuniões da ONU e todos os documentos da ONU são traduzidos para as seis. Oradores podem falar em qualquer uma delas e terá interpretação para as demais cinco, ou, pode falar qualquer língua e fornecer intérpretes desta para uma das seis e terá interpretação simultânea. Embora todas tenham peso igual no papel, em termos práticos, francês e inglês são as mais usadas nas sedes da ONU. Pelo menos em Nova Iorque, também tem um departamento que presta serviços de tradução e interpretação na língua alemã. Seu orçamento é proveniente do governo da Alemanha. Há discussão sobre a possibilidade de acrescentar mais línguas – Hindi e Português, por exemplo.

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A ONU tem sedes em todos os continentes – em Nova Iorque, Genebra, Nairobi, Bangcoc e Santiago, além de escritórios em Viena e Beirute. Todas têm equipes de tradução, revisão e interpretação nas seis línguas. As categorias ou níveis na hierarquia do funcionalismo da ONU são:

G – Gerais – normalmente são vagas para pessoas do local, serviços menos especializados, com salários de acordo com o mercado local e reduzidos benefícios.

FS – Serviços de Campo (Field Services) – normalmente são vagas para pessoas em missões de paz e no sistema de apoio de telecomunicações da ONU. Salários são compatíveis com salários de funcionalismo federal dos EUA, com benefícios plenos.

P – Profissional – quase todas as vagas para serviços linguísticos estão nesta categoria. Salários são compatíveis com os salários pagos ao funcionalismo público nos países com maiores salários. Como o FS, esse nível também recebe vários adicionais e benefícios.

D, ASG, USG – são Diretor, Secretário-geral Adjunto e Subsecretário Geral. Se não me engano, o Chefe de Serviços Linguísticos é do nível D.

Cada categoria tem níveis, tipo G-1, G-2, G-3 etc., e também tem acréscimos por tempo de serviço.

Os adicionais e benefícios são muitos – a ONU é um bom empregador. Se for para uma missão, há periculosidade, mobilidade (disposição em deslocar), subsidio de aluguel, subsidio de plano de saúde, subsidio das férias, e outros, e para mim o que acabou sendo mais importante, subsídio para educação dos dependentes.

Se for contratado/a para uma das equipes permanentes nas sedes, basicamente tem emprego garantido enquanto desempenhar bem o seu trabalho. Para candidatar-se, precisa ter uma das seis línguas oficiais da ONU como língua-mãe e poder traduzir/interpretar de duas outras. Por enquanto, Português não é uma dessas línguas. Como as exigências são rígidas, entre 20-30% das vagas nas sedes permaneçam em aberto, com edição a Espanhol. Além das sedes, tem as Missões de Paz. Estas têm mandato renovado (ou não) ano a ano pelo Conselho de Segurança; e espere-se que tenham vida limitada. Assim, se for contratado/a para uma Missão, o seu emprego durará o tempo da missão, ou o tempo do mandato do seu trabalho dentro da missão. Acabou a Missão em dezembro de 2012, mas foi dado pelo Conselho de Segurança um prazo adicional de seis meses para que concluísse as investigações dos crimes cometidos em 1999. Gostaria de destacar que as missões de paz são entidades criadas rapidamente, mediante um mandato emitido pelo Conselho de Segurança. Assim, ao recrutar funcionários, são mais interessados em capacidade prática que currículo académico, e disponibilidade imediata. Quando a Missão fechar, você precisa ou achar outra vaga e candidatar-se para ela, ou sai da organização. No caso de Timor, como tinha vizinho um país (Austrália) de uma das línguas oficiais da ONU (inglês), a língua escolhida como oficial da missão foi inglês. Na Guiné-Bissau, os países vizinhos falam Francês, outra língua oficial da ONU e então a língua oficial da missão em Guiné-Bissau é Francês, mas como a língua oficial do país é Português, poderia ser possível haver vaga para tradutor e/ou intérprete com esta combinação.

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Fora as sedes e missões, há as agências, programas e outros órgãos da ONU, tipo UNICEF, PNUD, OIT. FMI, etc. Alguns desses têm outras línguas de trabalho – por exemplo, o UIT – União Internacional de Telecomunicações e a UPU - União Postal Universal – usam Português como língua de trabalho. Às vezes a organização regional dos órgãos mundiais usa Português – tipo PAHO como organização regional ligada a OMS; e organizações regionais como MERCOSUL e a OEA têm vagas internas para tradutores e interpretes de Português. Ainda, o FMI e outras agencias às vezes abrem vagas para tradutores e interpretes de Português. Precisa estar atento às ofertas anunciadas nos sites delas.

Finalmente muitas dessas agências, programas etc. contratam freelancer. Antes de entrar na ONU como funcionário, já havia acompanhado o Secretário-geral numa visita ao norte do Brasil, feito varias traduções para agências da ONU no Brasil, e servido de pivô na cabine de inglês para um evento da ONU onde os intêrpretes vindos de Genebra e Nova Iorque precisavam de alguém para passar o português para uma das seis línguas oficiais.

Não existe, do meu conhecimento, um só lugar onde pode encontrar informações sobre todas as oportunidades. Posso, porém, repassar alguns endereços de sites de interesse para quem busca emprego nas Nações Unidas.

https://careers.un.org/lbw/home.aspx?viewtype=LE

http://www.unlanguage.org/LE/default.aspx

https://careers.un.org/lbw/Home.aspx

http://www.unjobs.org/

http://www.unmultimedia.org/radio/portuguese/2013/05/no-brasil-missao-ensina-como-se-candidatar-a-empregos-nas-nacoes-unidas/

Obrigadu Barak ba ita-nia pasiénsia!

Perguntas?

Bom almoço!