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Títulos de Crédito Legislação Base: Decreto nº 57.663/1966 - Lei Uniforme de Genebra em matéria de Letra de Câmbio e Nota Promissória Decreto nº 57.595/1966 – Lei Uniforme de Genebra em matéria de Cheque Lei nº 5.474/1968 – Lei de Duplicata Lei nº 7.357/1985 – Lei de Cheque Código Civil – arts. 887 a 926) xxx I. Introdução Direito Cambial: sub-ramo do Direito Empresarial que disciplia todo o regime jurídico aplicável aos títulos de crédito. Surgiu da necessidade de viabilizar uma circulação de riqueza mais rápida do que a obtida com a moeda manual. Além disso, a segurança foi outro fator determinante para o surgimento dos títulos de crédito. Afinal, é muito mais seguro transportar a cártula do que enormes volumes de dinheiro ou bens. O crédito consiste no direito de uma prestação futura, que se baseia, fundamentalmente, na confiança (elementos boa-fé e prazo). O crédito, ao conseguir fazer com que o capital circule, torna-o extremamente mais produtivo e útil. Sendo assim, os títulos de crédito são fundamentais na história da economia mundial, já que são os documentos que instrumentalizam os créditos e permitem sua mobilização com rapidez e segurança. Títulos de crédito = instrumentos de circulação de riquezas II. Legislação Brasileira Encerrada a 1ª Guerra Mundial, a Liga das Nações organizou, em 1930, a Convenção de Genebra, que aprovou a chamada Lei Uniforme das Cambiais, relativa às letras de câmbio e às notas

Títulos de Crédito - Resumo

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Títulos de Crédito

Legislação Base:

Decreto nº 57.663/1966 - Lei Uniforme de Genebra em matéria de Letra de Câmbio e Nota Promissória

Decreto nº 57.595/1966 – Lei Uniforme de Genebra em matéria de Cheque

Lei nº 5.474/1968 – Lei de Duplicata

Lei nº 7.357/1985 – Lei de Cheque

Código Civil – arts. 887 a 926)

xxx

I. Introdução

Direito Cambial: sub-ramo do Direito Empresarial que disciplia todo o regime jurídico aplicável aos títulos de crédito.

Surgiu da necessidade de viabilizar uma circulação de riqueza mais rápida do que a obtida com a moeda manual. Além disso, a segurança foi outro fator determinante para o surgimento dos títulos de crédito. Afinal, é muito mais seguro transportar a cártula do que enormes volumes de dinheiro ou bens. O crédito consiste no direito de uma prestação futura, que se baseia, fundamentalmente, na confiança (elementos boa-fé e prazo).

O crédito, ao conseguir fazer com que o capital circule, torna-o extremamente mais produtivo e útil. Sendo assim, os títulos de crédito são fundamentais na história da economia mundial, já que são os documentos que instrumentalizam os créditos e permitem sua mobilização com rapidez e segurança.

Títulos de crédito = instrumentos de circulação de riquezas

II. Legislação Brasileira

Encerrada a 1ª Guerra Mundial, a Liga das Nações organizou, em 1930, a Convenção de Genebra, que aprovou a chamada Lei Uniforme das Cambiais, relativa às letras de câmbio e às notas promissórias. No ano seguinte, foi realizada nova Convenção, na qual foi aprovada a Lei Uniforme do Cheque.

O Brasil participou das Convenções de Genebra e aderiu, em 1942, ao que nelas ficou decidido. As Convenções foram aprovadas pelo Congresso Nacional em 08.09.1964, por meio do Decreto Legislativo 54. Por fim, os Decretos 57.663/1966 e 57.595/1966 promulgaram as Leis Uniformes das Cambiais e do Cheque, respectivamente, em nosso ordenamento.

O Brasil já possuía legislação muito boa sobre títulos de crédito, o Decreto 2.044/1908, com status de lei ordinária. Sendo assim, esperava-se que a incorporação dos Leis Uniformes em nosso ordenamento ocorresse por meio do envio de projeto de lei ao Congresso Nacional.

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Como isso não ocorreu, houve grande controvérsia na doutrina acerca da efetiva adoção, pelo direito cambiário brasileiro, dos preceitos das legislações internacionais.

O STF, em julgamento datado de 04.08.1971, encerrou os questionamentos, entendendo como legítima a forma de incorporação das Leis Uniformes ao nosso ordenamento jurídico, inclusive naquilo em que modificasse a legislação interna (STF, RE 71.154-PR, Rel. Min. Oswaldo Trigueiro, DJ 27.08.1971, RTJ 58/70).

Em 2002, o Código Civil trouxe capítulo próprio para tratar sobre títulos de crédito, mas suas regras só se aplicam se não houver disposição diversa na legislação específica (art. 903 CC).

III. Conceito, Princípios e Características dos Títulos de Crédito

“Título de Crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado”

Cesare Vivante

Este é o conceito unanimemente aceito pela doutrina e adotado pelo Código Civil (art. 887).

O conceito de Vivante remete aos três princípios informadores do regíme jurídico cambial:

a) Princípio da Cartularidade

O exercício de qualquer direito representado no título pressupõe sua posse legítima. A cártula é imprescindível para a comprovaçao da própria existência do crédito e de sua consequente exigibilidade.

O direito de crédito não existe sem a cártula, não pode ser transmitido sem a sua tradição e não pode ser exigido sem a sua apresentação.

Em razão disso, são documentos dispositivos, ou seja, a categoria de documentos que são imprescindíveis para o exercício do direito que representam.

Importante: Existem diversos documentos necessários ao exercício legítmo de direito, o que não os torna títulos de crédito. Só são títulos de crédito aqueles expressamente previstos em lei (princípio da tipicidade). Além disso, não apenas provam um direito, mas o representam.

Importante: (i) a posse do título pelo devedor pressume o pagamento dele; (ii) só possível protestar o título apresentando-o; e (iii) só é possível executar o título apresentando-o, não suprindo sua ausência nem a cópia autenticada.

Desmaterialização dos títulos de crédito:

O crescente desenvolvimento tecnológico vem mitigando o tradicional princípio da cartularidade. Ocorre uma proliferação de títulos magnéticos, isto é, sem a materialização em um documento físico.

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A desmaterialização dos títulos de crédito cria situações em que, por exemplo, o credor pode executar o título sem apresentá-lo em juízo. É o que ocorre com as chamadas duplicatas virtuais, muito comuns na praxe mercantil, que podem ser executadas com a apresentação de instrumento de protesto por indicações e do comprovante de entrega das mercadorias (art. 15, §2º da Lei de Duplicata).

Trata-se de consequencia natural do desenvolvimento do comércio eletrônico, repensando o conceito de documento como algo que não pode mais ser representado em papel.

V Jornada de Direito Civil do CJF:

Enunciado 461: Art. 889: As duplicatas eletrônicas podem ser protestadas por indicação e constituirão título executivo extrajudicial mediante a exibição pelo credor do instrumento de protesto, acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou de prestação dos serviços.

Enunciado 462: Art. 889, § 3º: Os títulos de crédito podem ser emitidos, aceitos, endossados ou avalizados eletronicamente, mediante assinatura com certificação digital, respeitadas as exceções previstas em lei.

b) Princípio da Literalidade

Somente os atos que são devidamente lançados no próprio título de crédito produzem efeitos jurídicos perante o seu legítmo portador. É o princípio que assegura às partes da relação cambial a exata correspondência entre o teor do título e o direito que ele representa.

Dupla função do princípio da literalidade: (i) o credor pode exigir tudo que está expresso no título; e (ii) o devedor tem o direito de só pagar o que está expresso no título.

Como a pessoa que recebe o título tem a certeza de que a partir da simples leitura do documento ficará ciente de toda a extensão do crédito que está recebendo, fica segura para realizar a operação.

É por isso que toda operação relacionada ao título deve estar nele representada (quitação parcial, endosso, aval, etc.), sob pena de não ser válida. O aval, por exemplo, se é constituído em documento separado não será válido como aval, mas, no máximo, como fiança (instituto de direito civil).

c) Princípio da Autonomia

O título de crédito é documento constitutivo de direito novo, completamente autônomo à relação jurídica que o originou. Assim, as relações jurídicas representadas num determinado título de crédito são autônomas e independentes entre si. O legítimo portador de um título pode exercer seu direito de crédito sem depender das relações jurídicas que o antecederam, estando completamente imune aos vícios ou defeitos que eventualmente as acometeram.

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É o princípio que atribui segurança às relações cambiais, sem a qual os títulos perderiam sua negociabilidade e circulabilidade. É o princípio mais importante!

c.1) Abstração

Quando o título de crédito circula ele se desvincula da relação que lhe deu origem. A abstração significa, portanto, a completa desvinculação do título em relação à causa que originou sua emissão.

Importante lembrar que se não ocorre a circulação do título a relação cambial se encerra nas pessoas que participaram da relação jurídica deram origem a ele. A circulação é fundamental para que se opere a abstração, para que o título se desvincule completamente do negócio jurídico originário.

A abstração, ainda, desparecerá com a prescrição do título. A prescrição opera na perda da executividade e da cambiariedade. O título perde suas características intrínsecas, por isso, caberá ao devedor, na cobrança de um título prescrito, demosntrar a origem da dívida.

c.2) Inoponibilidade de Exceções Pessoais a terceiros de boa-fé

Não pode constituir matéria de defesa processual o vício ou defeito da relação que deu origem ao crédito documentado em título de crédito a terceiro que, de boa-fé, é credor do título.

Nada mais é do que a manifestação processual do princípio da autonomia e do subprincípio da abstração.

Art. 17 LUG e art. 916 CC

Cabe ressaltar que a boa-fé do portador do título de crédito se presume. O devedor que quiser opor exceções pessoais contra o portador do título deverá demonstrar a má-fé (ex: conluio entre o atual e o antigo portador do título). Não demonstrada a má-fé, resta ao devedor alegar unicamente fatos ligados diretamente a eles (ex: vícios de forma, conteúdo literl da cártula, prescrição, falsidade, etc.).

Principais Características:

a) Natureza essencialmente comercial;

b) Documentos Formais: precisam observar requisitos previstos na legislação cambiária;

c) Bens Móveis: sujeitam-se aos princípios que norteiam a circulação desses bens (posse de boa-fé vale como propriedade, por exemplo);

d) Títulos de Apresentação: documentos necessários ao exercício do direito neles contidos;

e) Títulos Executivos Extrajudiciais: configuram obrigação líquida e certa (art. 585 CPC);

f) Representam Obrigações Quesíveis: cabe ao credor dirigir-se ao devedor para receber a importância devida, tendo, em regra, sua emissão e entrega ao credor natureza pro solvendo, isto é, não implica novação à relação jurídica que deu origem ao título;

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g) Título de Resgate: sua emissão pressupõe futuro pagamento em dinheiro que extinguirá a relação cambiária; e

h) Título de Circulação: principal função é a circulabilidade do crédito.

IV. Classificação

a) Quanto à forma de transferência ou circulação

Os títulos podem ser ao portador, nominativo à ordem e nominativo não à ordem.

Ao portador: É o título que circula por mera tradição (art. 904 CC). Não há identificação expressa do credor. Qualquer pessoa que esteja com a simples posse da cártula é considerada titular do crédito e a simples transferência do documento opera a transferência do crédito.

Nominativo à ordem: É a regra dos títulos de crédito próprios (letra de câmbio, nota promissória, duplicatal, etc.). Identifica expressamente o titular do crédito, o credor. Não basta a transferência do documento para a transferência do crédito, é necessário ato formal. Os títulos com cláusula à ordem fazem parte do regime cambial e transferem-se por endosso.

Nominativo não à ordem: Assim, como o nominativos à ordem, não identifica o credor e precisa de ato formal para a transferência do crédito, mas não faz parte do regime cambial. O título com cláusula não à ordem transfere-se por cessão civil de crédito, não faz parte do regime jurídico cambial. Importante frisar que a cláusula não à ordem, diferente da cláusula à ordem, não se presume, deve estar expressamente contida no título para que ele vigore no regime jurídico civil.

b) Quanto ao modelo

Os títulos de crédito podem ser livres ou vinculados.

Livre: A lei não prescreve modelo formal específico, isto é, presentes os requisitos essenciais de constituição do título ele pode ser emitido em simples folha de papel.

Vinculado: Há um rígida padronização fixada por lei. Deve seguir requisitos específicos de forma para produzir efeitos.

c) Quanto à estrutura

Ordem de Pagamento: A emissão cria três situações jurídicas distintas: (i) sacador, que emite o título (ordena o pagamento); (ii) sacado, contra quem o título é emitido (recebe a ordem de pagamento); e (iii) tomador, beneficiário do título (em favor de quem o título foi emitido).

Promessa de Pagamento: A emissão cria apenas duas situações jurídicas: (i) sacador ou promitente, quem promete pagar determinada quantia; e (ii) tomador, quem receberá o valor prometido (beneficiário da promessa).

d) Quanto às hipóteses de emissão

Causal: É o título que só pode ser emitido nas estritas previsões legais, quando autorizado por lei.

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Abstrato: A emissão não está condicionada a nenhuma hipótese prescrita por lei.

V. Letra de Câmbio

É o título de crédito de origem histórica mais remota (Idade Média). A descentralização do poder político favoreceu o surgimento de cidades com relativa autonomia (burgos), que utilizam, sobretudo, moeda própria. Em razão da existência de diversas moeda, fazia-se necessário o desenvolvimento das operações de câmbio. A letra de câmbio surge como decorrência dessas operações cambiais.

Como é o título de crédito que possui estrutura mais tradicional, é utilizado como base doutrinária para o estudo do direito cambial.

Requisitos principais da letra de câmbio:

a) É uma ordem de pagamento, criando, portanto, três situações jurídicas distintas. Sacador, sacado e tomador podem ser pessoas diferentes ou confundirem-se na mesma pessoa. Isto é, sacador e tomador podem ser a mesma pessoa (letra sacada à ordem do próprio sacador), sacador e sacado podem ser a mesma pessoa (letra emitida sobre o próprio sacador) ou podem ser pessoas diferentes (letra emitida por ordem e conta de terceiro).

b) Não se admite que o cumprimento da obrigação esteja condicionado (condição suspensiva ou resolutiva).

c) O valor da letra deve mencionar a moeda de pagamento que, no Brasil, deve ser feito em moeda corrente nacional. Admite-se a emissão da letra com indexação, desde que o índice seja conhecido e de ampla utilização na praxe comercial.

Cláusula Cambiária:

Trata-se da identificação precisa do título. Como os títulos de crédito submetem-se, muitas vezes, a regimes jurídicos distintos e a cláusula à ordem é implícita, a cláusula cambiária é fundamental para a identificação do documento como título de crédito.

Importante: A jurisprudência admite a emissão de qualquer título de crédito em branco ou incompleto, desde que preenchido pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto (verbete 387 da súmula do STF e art. 891 CC).

Art. 1º LUG – informações necessárias ao título de crédito (mitigado pela jurisprudência do STF)

Art. 2º LUG – requisitos que ausentes ao título não maculam sua validade, podendo ser de boa-fé preenchidos.

Importante: A falta de identificação da época do pagamento caracteriza o título como à vista.

VI. Saque, Aceite, Vencimento e Pagamento

Saque

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É o ato que cria o título de crédito. Antes consideravam-se os momentos de criação e emissão do título como distintos, mas não há mais esse entendimento. O saque cria e emite o título de crédito, isto é, ordena o seu pagamento.

Com o saque, o sacador torna-se codevedor do título, garantindo a aceitação e o pagamento da cártula.

Aceite

Após a emissão do título pelo sacador, ele deve ser levado pelo tomador ao sacado para que este aceite efetuar o seu pagamento.

O aceite é facultativo. O sacado não tem obrigação cambial de aceitar a ordem de pagamento que lhe foi dada. É, portanto, por meio do aceite que o sacado assume obrigação cambial e se torna o devedor principal da letra (aceitante).

Apesar de facultativo, o aceite é irretratável, isto é, uma vez dado o aceite o sacado se obriga pelo pagamento do crédito, assumindo a posição de devedor principal.

Não aceite: Causa vencimento antecipado do título, podendo o tomador exigir o imediato pagamento do sacador (codevedor a partir do saque). Trata-se do desprestígio do crédito. O sacado não assume qualquer responsabilidade cambial.

Aceite parcial: Trata-se, obrigatoriamente, da recusa parcial do título, produzindo os mesmos efeitos que o não aceite, isto é, vencimento antecipado e cobrança imediata do sacador. Contudo, nesse caso, o sacado se vincula ao pagamento do título nos termos de seu aceite. Dois tipos de aceite parcial: (i) aceite-limitativo, quando o sacado aceita pagar apenas parte do valor mencionado no título; e (ii) aceite-modificativo, quando o sacado altera alguma condição de pagamento, como, por exemplo, o vencimento.

Cláusula não aceitável: Impõe ao tomador a obrigação de só procurar o sacado para aceite quando do vencimento do título. Sendo assim, se o tomador procurar o sacado antes do vencimento, o sacado não poderá recusar o aceite, não causando o vencimento antecipado do título. De acordo com essa cláusula, se o sacado não aceitar o pagamento, isto ocorrerá na data do vencimento, quando o sacador não será surpreendido pela obrigação do pagamento do título.

Importante: Não cabe esta cláusula na letra a certo termo da vista, pois nessas letras o vencimento só se inicia a partir do aceite.

Vencimento

Emitida a letra e realizado o aceite, o título se torna exigível a partir de seu vencimento, podendo-se distinguir quatro espécies de letra de câmbio: (i) letra com dia certo; (ii) letra à vista; (iii) letra a certo termo da vista; e (iv) letra a certo termo da data.

(i) Letra com dia certo:

O vencimento ocorre em data preestabelecida pelo sacador (posterior à data do saque).

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(ii) Letra à vista:

O vencimento ocorre no mesmo momento da apresentação da letra ao sacado, não há prefixação de uma data específica. É o mesmo dia do aceite.

(iii) Letra a certo termo da vista:

O vencimento ocorre após determinado prazo estipulado pelo sacador quando da sua emissão, que começa a contar a partir do aceite.

(iv) Letra a certo termo da data:

O vencimento também ocorre após decurso de determinado prazo estipulado pelo sacador, mas conta-se a partir do saque.

Prazo de Apresentação e Pagamento

Na letra a certo termo da vista, o tomador deverá apresentá-la para aceite ao sacado no prazo estabelecido no título ou, na ausência de estipulação de prazo, dentro de 01 ano a contar da sua emissão.

Já na letra à vista, o tomador não precisa levá-la à aceite necessariamente, podendo optar por apresentá-la diretamente para pagamento, o que deve ser feito em até 01 ano após a emissão do título.

Após a apresentação para aceite, o sacado deverá devolver a cártula de imediato, sob pena, inclusive, de responsabilização penal pelo crime de apropriação indébita. O sacado pode requerer que o título volte a ser apresentado no dia seguinte da primeira apresentação (24 horas), que é o chamado “prazo de respiro”.

Com o aceite, o tomador deverá aguardar a data do seu vencimento, quando o título se tornará exigíel.

O título deve ser apresentado para pagamento na data de seu vencimento e deve ser pago, em regra, pelo sacado, seu devedor principal. Vencido o título e não apresentado pelo tomador para pagamento, começa a fluir o prazo para protesto (2 dias úteis seguintes ao vencimento para a letra de câmbio – art. 44 LUG).

Pagamento de letra de câmbio pagável no Brasil: Apresentação na data do vencimento ou no dia útil seguinte.

Pagamento de letra de câmbio pagável no exterior: Apresentação na data do vencimento ou nos dois dias úteis seguintes.

V. Atos Cambiários: Endosso, Aval e Protesto

Endosso

É o ato cambiário de transferência do título de crédito, colocando-o em circulação. Circulam por endosso apenas os título nominativos à ordem, os títulos ao portador e nominativos não à ordem não fazem parte do regime cambial, não circulando por endosso.

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O endossante (aquele que transfere o crédito ao endossatário) torna-se codevedor pelo pagamento da dívida.

O endosso, em regra, é feito no verso do título por meio de simples assinatura do endossante. Caso seja feito no anverso do título deverá constar a indicação de que se trata de endosso.

É proibido o endosso parcial ou limitado a certo valor da dívida, bem como o endosso subordinado a determinada condição.

A circulação do crédito cria uma cadeia de endosso, na qual os anteriores respondem pelos posteriores. O credor do título de crédito poderá cobrar a dívida de qualquer pessoa que faça parte da cadeia de endosso e essa pessoa deverá pagar a totalidade da dívida. Contudo, quem efetuar o pagamento não terá direito de regresso contra todos que figuram na cadeia de endosso, mas somente contra aqueles que vêm antes.

Por exemplo:

André > Carlos > Maria > João > Paulo > José > Vicente > Renata

André, tomador da letra de câmbio, transfere seu crédito à Carlos, que o transfere a João, e assim por diante. Renata poderá cobrar a quantia mencionada no título de crédito de qualquer pessoa que está na cadeia de endosso. Ela decide cobrar de João e ele paga a integralidade da dívida. João só terá direito de regresso contra Maria, Carlos e André.

Duplo efeito: (i) transferência da titularidade do crédito; e (ii) responsabilização do endossante (passa a ser codevedor do crédito).

Cláusula sem garantia: Exonera expressamente o endossante da responsabilidade pelo adimplemento da obrigação.

Endosso em branco: Não identifica o beneficiário (endossatário), permitindo que o título circule ao portador (tradição da cártula). O endossatário poderá: (i) completar seu nome ou de terceiro, transformando-o em endosso em preto; (ii) endossar novamente o título, em branco ou em preto, responsabilizando-se pelo adimplemento da obrigação; ou (iii) transferir o título por mera tradição (ao portador).

Endosso em preto: Identifica expressamente a quem está sendo transferida a titularidade do crédito, tornando obrigatória sua circulação por endosso.

Endosso impróprio: Consideram-se endossos impróprios: (i) endosso-mandato; e (ii) endosso-caução. Diferente do que foi dito acima, esses endossos não têm o condão de transferir a titularidade do crédito ou de tornar o endossante codevedor da obrigação. O objetivo é legitimar a posse de alguém sobre o título para que possa exercer os direitos representados na cártula.

(i) Endosso-mandato: art. 18 LUG. O endossante confere poderes ao endossatário para agir como seu legítimo representante, exercendo em seu nome os direitos constantes do título de crédito (cobrança, protesto, execução, etc).

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(ii) Endosso-caução: art. 19 LUG. O endossante transmite o título como forma de garantia de uma dívida contraída perante o endossatário. Se o endossante pagar a dívida contraída, resgatará o título de crédito. Se não pagar, o endossatário poderá executar a garantia e passar a ter a titularidade plena do crédito. Portanto, o endosso-caução não transmite necessariamente a titularidade.

Endosso póstumo ou tardio: É o endosso realizado do título após o protesto ou após o prazo para a realização do protesto. O endosso nçao produz seus efeitos normais, valendo tão somente como cessão civil de crédito.

Importante: Admite-se que o endosso sem data foi realizado antes do prazo para o protesto.

Endosso Cessão CivilRegime Jurídico Cambial Regime Jurídico CivilAto unilateral, realizado no próprio título Negócio Bilateral, formalizado por meio de

contrato (instrumento à parte)Endossante se torna codevedor da obrigação Cedente só responde pela existência do

crédito cedidoDevedor não pode opor exeções pessoais ao endossatário que recebeu o título de boa-fé

O devedor pode opor qualquer exceção pessoal que tinha contra o cedente

Aval

É o ato cambiário pelo qual um terceiro se responsabiliza pelo pagamento da obrigação constante do título (garante o pagamento). O avalista, ao garantir o cumprimento da obrigação do avalizado, responde de forma equiparada a este. Para melhor visualização, equivale à fiança do Direito Civil.

O aval, em regra, é dado no anverso do título por meio de simples assinatura do avalista. Caso seja feito no verso do título deverá constar a indicação de que se trata de aval.

Aval em branco: Não identifica o avalizado. Pressume-se que o aval é feito em favor do sacador (ou do emitente em títulos que são promessas de pagamento).

Aval em preto: Identifica expressamente o avalizado.

Avais Simultâneos (Coavais): Dua os mais pessoas avalizam um título conjuntamente, garantindo a mesma obrigação cambial. Os avalistas são coniderados “uma só pessoa”, razão pela qual assumem responsabilidade solidária (regime civil) entre eles. Contra o avalizado e demais codevedores do título, possuem direito de regresso próprio do regime cambial, na totalidade da dívida.

Por exemplo:

André > Carlos > Maria > João > Paulo > José > Vicente > Renata

João tem dois avalistas: Pedro e Thiago.

Renata cobra a totalidade da dívida de Thiago, que a paga.

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Contra Pedro, Thiago terá direito de regresso com relação à sua quota-parte (50%), já que a responsabilidade é solidária e se rege de acordo com as regras de Direito Civil. Contudo, contra João (avalizado) e os demais codevedores do título (os mesmos que João teria direito de regresso: Maria, Carlos e André), Thiago terá direito de regresso no valor total da dívida, já que tal direito de regresso segue as regras do Direito Cambial.

Avais Sucessivos (Aval de Aval): É terceiro que garante a obrigação assumida pelo avalista, isto é, quando alguém avaliza um outro avalista. O direito de regresso do avalista do avalista é igual à do avalizado.

Aval antecipado: Prestado antes do surgimento da obrigação do avalizado e não se condiciona a sua futura constituição válida.

Aval prestado por pessoa casada: É obrigatória a outorga conjugal para prestação de aval, salvo se o regime jurídico do casamento for o da separação absoluta. Entendimento do STJ e mesmo tratamento dado à fiança.

Aval Parcial: É admitido para os títulos de crédito regulados por lei especial. Diferente do que dispõe o art. 897, §únido do Código Civil, que deve ser aplicado aos títulos que não possuem lei especial.

Aval FiançaGarantia Cambial > Regime Jurídico Cambial Garantia Civil > Regime Jurídico CivilObrigação autônoma com relação à dívida assumida pelo avalizado

Obrigação acessória, segue a obrigação principal

Não admite o benefício de ordem (avalista pode ser acionado juntamente com o avalizado)

Benefício de ordem (prerrogativa do fiador de ser acionado apenas após o afiançado)

Prestado no próprio título Pode ser prestada em documento apartadoNão pode ser parcial Pode ser parcial, limitando-se a valor inferior

ao da obrigação principal

Protesto

Ato formal pelo qual se atesta um fato relevante para a relação cambial, que pode ser: (i) a falta de aceite do título; (ii) a falta de devolução do título; e (iii) a falta de pagamento do título.

Para a relação cambiária, o protesto só é indispensável se o credor desejar executar os codevedores. Para a execução do devedor principal do título e seus avalistas, dispensa-se a realização de protesto.

O protesto cambial feito no prazo e na forma da lei interrompe a prescrição.

Enquanto o protesto não foi lavrado cabe cautelar de sustação de protesto. Após a lavratura pode ser determinada, no máximo, a sustação dos efeitos do protesto, que permanecerá incólume e registrado nos assentamentos do cartório em que foi lavrado até que seja feito seu cancelamento. O cancelamento é feito após o pagamento e a requerimento do interessado, sendo entendimento do STJ de que este é ônus do devedor.