7
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA MCM Nº 70058278839 (Nº CNJ: 0020446-29.2014.8.21.7000) 2014/CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE. GUARDA MUNICIPAL. HORAS EXTRAS. REGIME DE PLANTÃO EM PERÍODO NOTURNO. ADICIONAL NOTURNO PAGO INDEVIDAMENTE. POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO. 1. Expressamente consignado na sentença a ressalva admitindo a compensação de valores pagos a título de horas extras com aquelas a serem pagas em face da condenação, não há interesse recursal do Município. 2. Quanto à aplicação dos índices da Lei nº 11.960/09, não houve fundamentação do recurso no ponto, o que implica o não conhecimento da irresignação, face ao disposto no art. 514, inciso II, do CPC. NEGADO SEGUIMENTO À APELAÇÃO. APELAÇÃO CÍVEL TERCEIRA CÂMARA CÍVEL 70058278839 (Nº CNJ: 0020446-29.2014.8.21.7000) COMARCA DE PORTO ALEGRE MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE APELANTE JADIR XAVIER CAMPELO APELADO DECISÃO MONOCRÁTICA Vistos. 1. Trata-se de apelação interposta pelo MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE em face da sentença de fls. 102-103, que 1

TJ-RS_AC_70058278839_d4d4e(1)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

jurisprudencia

Citation preview

Page 1: TJ-RS_AC_70058278839_d4d4e(1)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

MCMNº 70058278839 (Nº CNJ: 0020446-29.2014.8.21.7000)2014/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. SERVIDOR PÚBLICO. MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE. GUARDA MUNICIPAL. HORAS EXTRAS. REGIME DE PLANTÃO EM PERÍODO NOTURNO. ADICIONAL NOTURNO PAGO INDEVIDAMENTE. POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO.1. Expressamente consignado na sentença a ressalva admitindo a compensação de valores pagos a título de horas extras com aquelas a serem pagas em face da condenação, não há interesse recursal do Município.2. Quanto à aplicação dos índices da Lei nº 11.960/09, não houve fundamentação do recurso no ponto, o que implica o não conhecimento da irresignação, face ao disposto no art. 514, inciso II, do CPC.

NEGADO SEGUIMENTO À APELAÇÃO.

APELAÇÃO CÍVEL TERCEIRA CÂMARA CÍVEL

Nº 70058278839 (Nº CNJ: 0020446-29.2014.8.21.7000)

COMARCA DE PORTO ALEGRE

MUNICIPIO DE PORTO ALEGRE APELANTE

JADIR XAVIER CAMPELO APELADO

D E C I S Ã O M O N O C R Á T I C A

Vistos.

1. Trata-se de apelação interposta pelo MUNICÍPIO DE PORTO

ALEGRE em face da sentença de fls. 102-103, que julgou procedentes os pedidos

formulados na demanda movida por JADIR XAVIER CAMPELO, nos seguintes

termos:

PELO EXPOSTO, JULGO PROCEDENTE o presente pedido formulado por JADIR XAVIER CAMPELO contra o MUNICÍPIO DE PORTO ALEGRE, para declarar o direito do autor relativamente à hora reduzida noturna, condenando o requerido ao pagamento de uma hora extra por plantão ordinário, a título de indenização, no período compreendido entre

1

Page 2: TJ-RS_AC_70058278839_d4d4e(1)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

MCMNº 70058278839 (Nº CNJ: 0020446-29.2014.8.21.7000)2014/CÍVEL

1992 a 1995, com repetição, reflexos (13º salário e férias) e devidas repercussões. O valor das parcelas deverá ser corrigido monetariamente a contar da data em que seriam devidas as mencionadas parcelas, a tudo acrescidos juros legais a contar da citação. Eventuais horas extras já adimplidas ao autor poderão ser comprovadas e compensadas pelo Município quando da liquidação do julgado.

Arcará a parte requerida com as custas processuais e com honorários de sucumbência que fixo em 20% sobre o valor da condenação.

Em suas razões (fls. 107-111), não controverte o fato de que deixava

de remunerar adequadamente a 13ª hora diária, mas havia pagamento em

duplicidade do adicional noturno. Refere que, embora sejam devidas horas extras

no período de julho de 1994 a dezembro de 1995, o Município efetuou o pagamento

indevido de adicionais noturnos, em decorrência do mesmo fato gerador (prestação

de serviço extraordinário), o que deve ser compensado, vez que há comprovação

desse fato nos autos.

Requer o provimento do recurso a fim de que haja a compensação

das horas extras devidas com o pagamento do adicional noturno efetuado na via

administrativa, bem como para que sobre os valores devidos incidam os índices da

caderneta de poupança, conforme Lei nº 11.960/09.

A apelação foi recebida em seu duplo efeito (fl. 112).

O autor apresentou contrarrazões às fls. 114-115v, pugnando pela

manutenção da sentença.

Nesta instância, manifestou-se o Ministério Público pelo parcial

conhecimento do recurso e, na parte em que conhecido, pelo provimento, em

parecer do ilustre Procuradora de Justiça, Dr. Ricardo Alberton do Amaral (fls. 118-

120v).

É o relatório.

2. O autor é servidor público do Município de Porto Alegre, no cargo

de Guarda Municipal, e trabalha em regime de plantão – 12h de trabalho e 36h de

descanso.

2

Page 3: TJ-RS_AC_70058278839_d4d4e(1)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

MCMNº 70058278839 (Nº CNJ: 0020446-29.2014.8.21.7000)2014/CÍVEL

Afirma que de 1992 a 1995, quando o plantão era à noite, iniciava a

jornada de trabalho às 19h e findava às 7h, o que somava 13h de trabalho –

considerando-se a contagem reduzida da hora noturna (52min e 30seg das 22h às

5h) –, devendo ser remunerada como extra esta 13ª hora.

Postulou administrativamente, em 10 de novembro de 1995, o

pagamento das horas extras (processo administrativo nº 01.045276.95.1), havendo

Parecer da Procuradoria do Município no sentido de deferimento do pleito (fls. 28-

30).

Julgado procedente o pedido, recorre o Município, pleiteando a

compensação do valor a ser pago a título de hora extra com os valores do serviço

extraordinário pago a título de adicional noturno.

Contudo, tal como concluiu o nobre presentante do Ministério

Público, de fato, inexiste interesse recursal do Município.

A sentença consignou expressamente a possibilidade de

compensação pretendida pela Administração, afirmando que (fl. 102v)

Outrossim, vale ressaltar que eventuais horas extras já adimplidas ao autor poderão ser comprovadas e compensadas pelo Município quando da liquidação do julgado, tudo a fim de evitar a condenação em duplicidade do ente público e mesmo o enriquecimento ilícito do requerente.

Ou seja, o pagamento indevido de adicionais noturnos poderá ser

compensado na fase liquidatória em decorrência do mesmo fato gerador (prestação

de serviço extraordinário) das horas extras devidas em face da condenação, de

modo que não há interesse recursal do Município no aspecto.

Vejamos o seguinte excerto do parecer do ilustre Procurador de

Justiça, Dr. Ricardo Alberton do Amaral, in verbis (fls. 118v-119):

2. O apelo é tempestivo e está dispensado de preparo.

Carece de interesse o apelante em relação ao pedido de compensação dos valores alcançados na via administrativa.

3

Page 4: TJ-RS_AC_70058278839_d4d4e(1)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

MCMNº 70058278839 (Nº CNJ: 0020446-29.2014.8.21.7000)2014/CÍVEL

Veja-se que o Município não se opõe ao direito do autor ao pagamento de horas extras em decorrência da contagem reduzida da hora noturna.

A insurgência diz respeito apenas à possibilidade de compensação dos valores já pagos.

Afirma o ente público que durante o período reclamado, entre 1992 e 1995, deixou de remunerar a 13ª hora, porém remunerou indevidamente as demais horas prestadas de forma extraordinária, pois acrescentou ao seu valor o percentual relativo ao adicional noturno, o qual também era pago em separado. Esclarece, assim, que embutido no valor das horas extras, pagava duplamente o valor do adicional noturno. Desta forma, requer a compensação dos valores.

Ora, tratando-se de compensação de valores da mesma natureza, oriundos da prestação de serviço extraordinário, como frisa em razões o apelante, há absoluta ausência de interesse recursal, pois a sentença ressalvou expressamente a possibilidade de compensação dos valores alcançados na via administrativa, esclarecendo que “eventuais horas extras já adimplidas ao autor poderão ser comprovadas e compensadas pelo Município quando da liquidação do julgado, tudo a fim de evitar a condenação em duplicidade do ente público e mesmo do enriquecimento ilícito do requerente.” (fl. 102v.).

Quanto ao pedido do apelante relativamente à aplicação dos índices

da Lei nº 11.960/09, ressalto não ter havido fundamentação do recurso no ponto, o

que implica o não conhecimento da irresignação, face ao disposto no art. 514,

inciso II, do CPC.

Vejamos:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRISÃO ILEGAL. DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ.

4

Page 5: TJ-RS_AC_70058278839_d4d4e(1)

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA

MCMNº 70058278839 (Nº CNJ: 0020446-29.2014.8.21.7000)2014/CÍVEL

VIOLAÇÃO GENÉRICA À LEI. SÚMULA 284/STF. FUNDAMENTOS AUTÔNOMOS NÃO ATACADOS. SÚMULA 283/STF. VIOLAÇÃO AO ART. 514, II, CPC. INEXISTÊNCIA. RAZÕES DE APELAÇÃO SUFICIENTES À IMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DA SENTENÇA. REDUÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO E PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.

[...]

4. Esta Corte Superior firmou entendimento no sentido de que o princípio da dialeticidade consiste no dever, imposto ao recorrente, de o recurso ser apresentado com os fundamentos de fato e de direito que deram causa ao inconformismo contra a decisão prolatada. A apresentação do recurso sem a devida fundamentação implica o não conhecimento da súplica. Nesse sentido: AgRg no AREsp 335.051/PR, 1ª Turma, Rel. Ministro Sérgio Kukina, DJe 04/02/2014; AgRg no REsp nº 1.367.370/MG, 2ª Turma, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJe 26/6/2013; AgRg nos EDcl no REsp 1310000/MG, 2ª Turma, Rel. Ministro Humberto Martins, DJe 28/08/2012.

[...]

7. Agravo regimental não provido.

(AgRg no AREsp 617.412/PE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/02/2015, DJe 19/02/2015)

3. Diante do exposto, nego seguimento à apelação.

Porto Alegre, 25 de setembro de 2015.

DES.ª MATILDE CHABAR MAIA,Relatora.

5