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» Consultas » Jurisprudência » Inteiro Teor Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª Câmara Número do processo: 1.0012.03.900064-6/001(1) Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA Data do acordão: 10/08/2004 Data da publicação: 16/10/2004 Inteiro Teor: EMENTA: Ausência de recurso de ofício que, no caso, era obrigatória a sua interposição pelo magistrado monocrático. Conhecimento do recurso. Recurso de ofício. Prejudicado o recurso da defesa. Homicídio. Inimputável. Dolo eventual. Dúvida. Ainda que, em tese, seja possível cogitar-se na existência de dolo eventual de homicídio por parte de inimputável, na prática, sua prova é quase impossível, pois o grau de previsibilidade do louco é absolutamente diverso daquele são, sendo impossível avaliar-se com certeza, se assumiu ou não o risco de produzir o resultado. Na dúvida, sobre a existência ou não de dolo de homicídio, solução outra não há senão a desclassificação para crime menos grave. Recurso a que se dá provimento. APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0012.03.900064-6/001 - COMARCA DE AIURUOCA - APELANTE(S): DEVANIL DA SILVA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA ACÓRDÃO Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0012.03.900064-6/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 10/08/2004 Data da publicação: 16/10/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Ausência de recurso de ofício que, no caso, era obrigatória a sua interposição pelo magistrado monocrático. Conhecimento do recurso. Recurso de ofício. Prejudicado o recurso da defesa. Homicídio. Inimputável. Dolo eventual. Dúvida. Ainda que, em tese, seja possível cogitar-se na existência de dolo eventual de homicídio por parte de inimputável, na prática, sua prova é quase impossível, pois o grau de previsibilidade do louco é absolutamente diverso daquele são, sendo impossível avaliar-se com certeza, se assumiu ou não o risco de produzir o resultado. Na dúvida, sobre a existência ou não de dolo de homicídio, solução outra não há senão a desclassificação para crime menos grave. Recurso a que se dá provimento.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0012.03.900064-6/001 - COMARCA DE AIURUOCA - APELANTE(S): DEVANIL DA SILVA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste

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o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM CONHECER DO APELO COMO RECURSO DE OFÍCIO, PREJUDICADO O VOLUNTÁRIO. DAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 10 de agosto de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Aiuruoca, Devanil da Silva como incurso nas sanções do art. 121, §2º, IV, c/c art. 14,II do CP, por ter, em 4 de novembro de 2002, por volta das 10h20, tentado matar as vítimas Alexandre da Silva Almeida de 12 (doze) anos de idade e Rosângela de Fátima Messias.

A sentença monocrática, às fls.91 e segs., julgou improcedente a denúncia e reconheceu a inimputabilidade do réu, aplicando-lhe, contudo, medida de segurança consistente em internação, pelo prazo mínimo de um ano.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões, às fls.100 e segs., nas quais pugna pela desclassificação dos delitos para as figuras previstas no art. 132 do CP em relação à vítima Rosângela e 129, caput do CP em relação à vítima Alexandre. Requer, alternativamente, a concessão do tratamento ambulatorial.

As contra-razões ministeriais são pelo improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, de f., manifestou-se pelo desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Em verdade, o magistrado monocrático deveria, nos termos do art. 411 do CPP, recorrer de ofício, mas como não o fez, e determinou a subida dos autos a este Tribunal.

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Conheço do recurso como de ofício, presentes os pressupostos de sua admissibilidade, ficando prejudicado o recurso da defesa, sendo de se notar, a título de ilustração, que o recurso cabível da decisão monocrática seria o Recurso em Sentido Estrito e não apelação.

Passo ao exame do mérito.

Inicialmente, cumpre registrar minha indignação por uma arma de fogo chegar às mãos de um inimputável com tamanha facilidade.

Não há qualquer dúvida sobre a inimputabilidade de Devanil e se alguém deveria estar sendo julgado no presente caso é o inconseqüente que permitiu que Devanil tivesse acesso à arma.

Vejamos a descrição dos fatos dada pelo próprio acusado, às fl.52, do incidente de insanidade mental:

"Eu dei um tiro num rapazinho dentro do colégio. Ele mexia comigo, chamava eu de louco, ameaçou um dia eu com uma faca, outro dia ele tava jogando pedra na minha casa também, a casa dele é na rua de cima, a minha é na de baixo. Eu comprei um revolver e dei um tiro nele. Eu queria dar um susto, não queria matar não, só pra ele aprender, para parar de xingar a mãe dos outros de puta e galinha e parar de jogar pedras nos outros. Depois que dei um tiro nele, eu saí correndo, para fugir, aí a polícia me prendeu"

Como se vê, tudo não passaria de uma rixa entre um adolescente de 12 anos e um jovem inimputável, não fosse o acesso por parte deste último à arma de fogo.

Fato é que, lamentavelmente o tiro foi disparado e necessário se faz julgar Devanil.

Não encontrei provas de dolo direto de homicídio em nenhum dos crimes pelo qual foi acusado.

A vítima Rosângela afirmou, à fl.52:

"que a depoente tinha um bom relacionamento com Devanil; que a depoente não acredita que o Devanil quisesse matá-la, achando que ele efetuou os disparos contra ela num momento de desespero e assustado pela presença dela diante dele;"

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Por outro lado, em relação à vítima Alexandre, apenas um único tiro foi dado, sendo que a arma estava municiada com 7 (sete) projéteis.

O acusado, em todos os momentos em que foi ouvido, afirmou que desejava tão-somente "dar um susto" na vítima Alexandre.

Assim, entendo que há sérias dúvidas sobre a existência de dolo direto de homicídio em ambos os crimes.

Quanto ao dolo eventual, sabe-se que para a sua configuração necessário se faz que o agente tenha a consciência do risco do resultado lesivo e, principalmente, que assuma o resultado previsto.

Ora, diante da provada incapacidade mental do réu, penso ser absolutamente impossível avaliar se ele teve ou não esta previsibilidade e, principalmente, se assumiu o risco morte.

A questão aqui é probatória, pois, ainda que em tese seja possível cogitar-se do dolo eventual por parte do inimputável, na prática sua prova se torna quase impossível e, principalmente, duvidosa.

Na dúvida, solução outra não há, senão desclassificar o crime praticado para as figuras previstas no art.129, caput, do CP para o crime praticado contra Alexandre e art.132 do CP com relação à vítima Rosângela.

Cumpre frisar que, como foi bem salientado pela culta defesa, não há qualquer prova de que a lesão corporal tenha sido grave ou gravíssima, assim, a solução mais favorável ao réu se impõe.

Por fim, tratando-se de crimes cujas penas previstas são as de detenção e, havendo farta prova nos autos de que o acusado, apesar de sua doença, nunca antes demonstrara comportamento violento, aplico-lhe medida de segurança consistente em tratamento ambulatorial pelo prazo mínimo de 1 (um) ano, nos exatos termos dos artigos 96, II, e 97, §1º do CP.

É como voto.

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O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Senhora Presidente.

Estou acompanhando o voto do Relator, ressalvando que o conhecimento do recurso voluntário somente seria possível pelo princípio da fungibilidade, pois cabível à espécie o recurso em sentido estrito. No entanto, desde que vieram os autos a este Tribunal, tenho sua remessa também para apreciação do recurso obrigatório que, acredito, por um lapso, não foi determinado pelo magistrado sentenciante.

Assim, conhecendo do recurso obrigatório, com suporte nas razões de decidir postas no brilhante voto do eminente Relator, também aplico ao réu a medida de segurança consistente em tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de um ano, valendo lembrar que, conforme noticiam os autos que nesse estado encontra- se o réu, desde sua prisão.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

De acordo.

SÚMULA : CONHECERAM DO APELO COMO RECURSO DE OFÍCIO, PREJUDICADO O VOLUNTÁRIO. DERAM PROVIMENTO.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0474.03.006015-3/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 03/08/2004 Data da publicação: 24/09/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Pena. Fixação. Conduta social e personalidade do agente."Conduta social reprovável" e "personalidade desvirtuada e voltada para o crime" são chavões judiciais sem qualquer fundamento jurídico e que lesam o princípio constitucional da legalidade, pois não há qualquer norma penal tipificando o que significam tais expressões. Destarte, não pode o magistrado, com base em preconceitos quanto à vida pretérita do agente, impor-lhe pena sem prévia tipificação legal. Recurso provido parcialmente em relação ao 1º apelante. Não conhecimento, por intempestivo, do 2º apelante.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0474.03.006015-3/001 - COMARCA DE PARAOPEBA - APELANTE(S): 1º ) WAGNER RIBEIRO DA COSTA, 2º ) CÉLIO CORREA DA SILVA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das

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notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL O RELATOR E O REVISOR AO PRIMEIRO APELO E NÃO CONHECER DO SEGUNDO, ACOMPANHAR O RELATOR, O REVISOR E O VOGAL, QUANTO AO PRIMEIRO RECURSO E DESCONHECER O SEGUNDO, AGINDO, DE OFÍCIO, POR HABEAS CORPUS, CONCEDER A ORDEM EM FAVOR DO SEGUNDO APELANTE, E, FINALMENTE, ADERIR AOS VOTOS ANTERIORES O RELATOR.

Belo Horizonte, 03 de agosto de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

A SRª. PRESIDENTE (DESª. JANE SILVA):

O julgamento deste feito foi adiado na Sessão do dia 15/06/2004, a pedido do Des. Revisor, após votar o Relator, dando provimento parcial ao recurso de Wagner Ribeiro da Costa e não conhecendo do apresentado por Célio Correa da Silva, por intempestivo.

Com a palavra o Des. Paulo Cézar Dias.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

Pedi vista para melhor analisar a questão posta em julgamento.

Quanto à intempestividade ponho-me de acordo com o em. Relator, aderindo ainda a seu voto, no tocante à diminuição de pena do apelante Wagner Ribeiro, com parcial provimento de seu recurso.

Por outro lado, diante da intempestividade do recurso de Célio Correa, hei por bem a ele conceder habeas corpus,de ofício, para que não se veja prejudicado pela ineficiência de seu patrono, fixando-lhe nova reprimenda, pois vejo idênticas as circunstâncias do delito e as atitudes dos agentes.

Assim, quanto à receptação:

Pelos mesmos motivos expostos, quanto ao co-réu Wagner, creio não haver fundamentos para a fixação da pena-base de Célio acima

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do mínimo legal, razão pela qual reduzo-a para 1 (um) ano de reclusão.

Em razão da agravante da reincidência, comprovada pela certidão a fl.34, agravo-lhe a pena em 4 (quatro) meses.

Não há atenuantes, fixo-lhe, pois, a pena provisória pela receptação em 1 (um) ano e 4 (quatro) meses de reclusão.

Reconheço em seu favor o pleonástico arrependimento posterior do art.16 do CP, reduzindo sua pena da metade e concretizando-a em 8 (oito) meses de reclusão.

No tocante ao art. 10, §3º, IV, da Lei 9.437/97:

Pelos mesmos motivos, fixo-lhe a pena-base no mínimo legal de 2 (dois) anos.

Deixo de levar em conta a agravante da reincidência, por ser elemento constitutivo da qualificadora do art.10, §3º, IV, da Lei citada.

Não há causas de aumento ou diminuição de pena em relação a este crime.

Concurso formal:

Tomo a pena do crime mais grave (porte de armas) e a majoro de 1/6 (um sexto) em virtude do concurso formal, concretizando-a em definitivo, em 2 (dois) anos e 4 (quatro) meses a ser cumprida em regime semi-aberto, face à reincidência.

Impossível a substituição de pena em razão da reincidência específica.

Reduzo-lhe a pena de multa pelo crime de receptação em 12 (doze) dias-multa com valor unitário mínimo.

Assim, em síntese, pedindo licença ao culto relator, estou dando parcial provimento ao recurso de Wagner Ribeiro da Costa. Por sua intempestividade, não conheço do recurso de Célio Correa da Silva, mas, ao mesmo tempo, concedo-lhe "habeas corpus", de ofício, tão-

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somente para minorar-lhe a pena.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

De acordo com o Revisor.

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

Srª. Presidente, pela ordem.

Vou retificar o meu voto e acompanhar os pronunciamentos que me sucederam.

SÚMULA : O RELATOR E O REVISOR DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO PRIMEIRO APELO E NÃO CONHECERAM DO SEGUNDO. O REVISOR E O VOGAL ACOMPANHARAM O RELATOR QUANTO AO PRIMEIRO RECURSO E DESCONHECERAM O SEGUNDO, MAS AGINDO EM "HABEAS CORPUS" DE OFÍCIO, CONCEDERAM ORDEM EM FAVOR DO SEGUNDO APELANTE. O RELATOR DEU ADESÃO AOS VOTOS ANTERIORES.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.00.353210-8/000(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 18/05/2004 Data da publicação: 03/09/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Violação de direitos autorais. CD pirata. O princípio constitucional da legalidade é a garantia de que todo cidadão só poderá ser condenado criminalmente se houver lei prévia que permita a ele saber - ainda que potencialmente - que a conduta é crime no ordenamento jurídico. A expressão "violar direitos autorais" é demasiadamente vaga e até mesmo especialistas em Direito Penal não poderiam precisar o seu âmbito de significação, quanto mais um vendedor ambulante sem educação jurídica. O desconhecimento da lei é escusável se esta não for suficientemente clara para permitir que qualquer um do povo possa compreender - ainda que potencialmente - o seu significado. Recurso provido.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.353210-8/000 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): JOSÉ GERALDO DOS SANTOS - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 7ª V CR COMARCA DE BELO HORIZONTE - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste

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o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO, VENCIDO O VOGAL.

Belo Horizonte, 18 de maio de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - Relator>>>

04/05/2004

TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

ADIADO

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.353210-8/000 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): JOSÉ GERALDO DOS SANTOS - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 7ª V CR COMARCA DE BELO HORIZONTE - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta capital, José Geraldo dos Santos como incurso nas sanções do art.184, §2º, do CP, por ter sido flagrado, em 7 de junho de 1999, na posse de 322 (trezentos e vinte e dois) CDs musicais com aspectos característicos de falsidade.

A sentença monocrática, às fls.98 e segs. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 1 (um) ano de reclusão e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa com valor unitário mínimo. A pena corporal foi substituída pela prestação de 12 (doze) cestas básicas à entidade assistencial.

Inconformada, apelou a culta defesa, apresentando suas razões, às fls.107 e segs., nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais, às fls.113 e segs., são pela manutenção da sentença guerreada.

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A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, à fl.125, manifestou-se pelo improvimento do recurso.

O documento de fl.128 informa que tramita neste Tribunal de Justiça outra apelação, na qual o réu está sendo processado por crime da mesma espécie, que pelas condições de tempo, lugar e maneira de execução, poderia, em tese, configurar uma continuidade delitiva.

A redistribuição do feito, no entanto, foi negada pelo eminente desembargador 1º vice-presidente em despacho de fl.136.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A determinação do real significado jurídico do art.184 do CP, na sociedade brasileira atual, é certamente um dos mais tormentosos problemas a ser enfrentado pelos estudiosos do Direito Penal.

Como é sabido, o art.184 do CP é um tipo aberto, caracterizado por ser uma incriminação vaga e indeterminada, já que são múltiplas as interpretações que podem ser dadas à frase típica "violar direitos autorais".

Nilo Batista adverte que:

"A função de garantia individual exercida pelo princípio da legalidade estaria seriamente comprometida se as normas que definem os crimes não dispusessem de clareza denotativa na significação de seus elementos, inteligíveis por todos os cidadãos. Formular tipos penais "genéricos ou vazios", valendo-se de "cláusulas gerais" ou "conceitos indeterminados" ou "ambíguos" equivale teoricamente a nada formular, mas é prática e, politicamente, muito mais nefasto e perigoso." (BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001. p.78)

Prossegue o ilustre catedrático de Direito Penal da UERJ:

"Alguns autores deslocam a ênfase para a subjetivação da

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imprecisão do preceito, isto é, para o aspecto de que o preceito deve ser ¿determinado e especificado de modo tal a fazer ver claramente ao cidadão a conduta a seguir, e os limites do próprio livre comportamento'" (BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001. p.79)

A questão que se coloca então é: - pode um cidadão comum, que não seja versado em Direito Penal, compreender a real limitação imposta pela expressão "violar direitos autorais"?

A resposta é decisivamente não, pois se mesmo a jurisprudência é vacilante no seu significado, como poderia entender o vendedor ambulante o seu real significado se, por hipótese, houvesse lido o disposto no art.184 do CP?

A problemática compreensão do âmbito de significado da norma pode ser percebida facilmente pelo fato de grande parte da população não saber ao certo se pratica crime ao comprar um CD "pirata".

É bem verdade que tanto quem vende como quem compra o CD "pirata" tem consciência da ilicitude de seus atos, mas a questão que se coloca aqui não é essa, mas, sim, se crêem estar praticando crime.

É bem verdade, que o art.21 do Código Penal estabelece que o desconhecimento da lei é inescusável, mas esse artigo deve ser lido em conformidade com a Constituição Federal que em seu art.5º, XXXIX, garante que:

"... não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;"

Se se supõe que uma das funções da pena é dissuadir a população a praticar as condutas que sabem estar definidas na lei como crime, como condenar alguém que não sabe ao certo se pratica ou não crime?

Nesse sentido, importantes precedentes jurisprudenciais:

"Erro de tipo. Exclusão da culpabilidade. Violação de direito autoral. Consciência atual da ilicitude. (...) Vendedor ambulante de ¿fitas piratas', sem nenhuma instrução e que somente assina o nome,

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não tem condições de saber o que é direito autoral e rege amparado por erro de tipo, que exclui a culpabilidade por não dispor de consciência atual da ilicitude" (TJSP RT 728/525)

"Violação de direito autoral. Comercialização de ¿fitas piratas'. Erro de tipo. Inocorrência. Réu, no entanto, sem condições atuais de saber da ilicitude de seu comportamento. Absolvição decretada, em face da ausência do elemento subjetivo do ilícito. Art.386, V, do Código de Processo Penal. Recurso não provido" (TJSP, JTJ 178/310)

Creio, no entanto, que a hipótese, ainda que se assemelhe em muito ao erro de tipo e, principalmente, ao erro de proibição, vai além, pois se limita a uma sutil aplicação do princípio da legalidade: ninguém pode ser preso por uma conduta, se ele não pode, previamente, ter certeza, de que era crime.

A legalidade constitucional implica na certeza da existência do crime por meio da descrição típica da conduta da forma mais detalhada possível: matar alguém; subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel; constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça; etc.

Quando a norma é clara, "o desconhecimento da lei é inescusável", tal como disposto no art.21 do CP.

Se, porém, como no caso dos presentes autos, a norma é vaga e nem mesmo um especialista em Direito Penal poderia dizer ao certo o que é "violar direito autoral", como exigir, então, que um vendedor ambulante o faça?

Alie-se a esta profunda dificuldade de compreensão do âmbito de significado da norma, o notório costume existente nas grandes metrópoles brasileiras da comercialização dos CDs piratas em vias públicas à vista da polícia e de todos, temos uma conduta que, não estivesse amparada pelo princípio da legalidade, certamente estaria amparada pela absoluta ausência de culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa.

No Estado Democrático de Direito, consagrado pela Constituição Federal de 1988, não há mais espaço para incriminações definidas discricionariamente pelo executivo ou pelo judiciário.

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Somente a lei cria a norma e o legislador ao fazê- lo deve certificar-se de que a norma criada é na medida do possível, suficientemente clara para que qualquer cidadão brasileiro, ao lê-la possa compreender o seu âmbito de incriminação.

Assim, em respeito ao princípio constitucional da legalidade, dou provimento ao recurso e absolvo o réu das imputações da denúncia, nos precisos termos do art.386, III, do CPP.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

De acordo com o Relator.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Peço vista dos autos.

SÚMULA: DERAM PROVIMENTO O RELATOR E O REVISOR. PEDIU VISTA O VOGAL.

>>>

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. PRESIDENTE (DES. KELSEN CARNEIRO):

O julgamento deste feito foi adiado, na Sessão do dia 04/05/04, a meu pedido, após votarem o Relator e o Revisor, dando provimento.

O meu voto é o seguinte:

Proferidos os votos pelos eminentes Desembargadores Relator e Revisor, sendo que este último se limitou a concordar com o primeiro, reexaminei os autos, com pedido de vista, e concluí, como já fizera a MMª Juíza de Direito Drª Maria Luíza M. A. Araújo, na sua bem fundamentada sentença de f. 98/102, pela procedência da denúncia, que deu o acusado, ora apelante, como incurso no art. 184, § 2º do Código Penal.

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As provas de autoria e materialidade delitivas mostram-se incontestes. O próprio acusado disse em seu interrogatório em juízo, ser verdadeira a acusação que lhe foi feita, que realmente vendia CD´s piratas vindos do Paraguai, o que foi confirmado pela prova testemunhal carreada para os autos. O laudo pericial de f. 11/14 constatou a falsidade do produto apreendido.

Por outro lado, não há que se falar em erro de tipo, pois conforme bem expressou a ilustre sentenciante:

"...inadmissível que uma pessoa estabelecida no comércio há mais de ano, que busca produto no Paraguai para vender, com grande margem de lucro, acompanha a cotação do dólar, não saber da ilicitude de seu comportamento"...

"O acusado comprava os CD´s no Paraguai e os vendia aqui, com conhecimento de causa, isto é, ciente de que tais CD´s eram produzidos com violação de direito autoral.

Destarte, não há que se falar em erro de tipo, como causa de exclusão da tipicidade da conduta do acusado pois esta pressupõe o desconhecimento total da ilicitude da conduta típica"...

O Des. Relator, conforme se verifica do seu voto, que foi acompanhado pelo eminente Des. Revisor, absolveu o acusado em respeito ao princípio da legalidade (art. 5º, inc. XXXIX, da Constituição Federal), todavia, ao contrário do seu entendimento, não há, no caso, em discussão como sequer cogitar-se de ofensa a tal princípio, considerando que o tipo e sua respectiva apenação encontram-se previstos no art.184, § 2º, do Código Penal.

Finalmente, é bom esclarecer que os dois votos precedentes conflitam-se com o acórdão proferido na apelação nº 346.394-0, julgada nesta mesma 3ª Câmara, sendo Relatora a Desª. Jane Silva, que deu pela procedência do apelo do Ministério Público e condenou o mesmo réu deste processo por idêntica infração e da qual havia sido absolvido em 1ª instância.

Com essas considerações, pedindo vênia aos eminentes Desembargadores Relator e Revisor, nego provimento ao recurso, mantendo, por seus próprios e jurídicos fundamentos a r. decisão recorrida.

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SÚMULA : DERAM PROVIMENTO, VENCIDO O VOGAL.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0392.04.910502-7/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 01/06/2004 Data da publicação: 24/08/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Medida de segurança. Prisão perpétua. Inconstitucionalidade. É princípio básico de hermenêutica jurídica que as normas que garantem direitos fundamentais devem ser interpretadas extensivamente. A vedação constitucional às penas perpétuas (art.5º, XLVII, da CF) inclui necessariamente a medida de segurança que, ainda que tenha natureza jurídica diversa da prisão, cerceia a liberdade do condenado de forma análoga. Destarte, não se pode cogitar de medida de segurança de internação por tempo indeterminado, sendo imprescindível que o magistrado fixe o período máximo de internação, que, em nenhum caso, poderá ser superior à pena máxima dos crimes pelos quais o réu foi denunciado, sob pena de se ferir o princípio constitucional da eqüidade (art.5º da CF), tratando aquele que sofre de uma enfermidade psíquica de forma mais gravosa do que é.

RECURSO DE OFÍCIO Nº 1.0392.04.910502-7/001 - COMARCA DE MALACACHETA - RECORRENTE(S): JD COMARCA MALACACHETA - RECORRIDO(S): OTAVIANO RODRIGUES DE SOUSA OU OTAVIANO RODRIGUES DE SOUZA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

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Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM NEGAR PROVIMENTO, VENCIDO O RELATOR.

Belo Horizonte, 01 de junho de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - Relator>>>

25/05/2004

TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

ADIADO

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

RECURSO DE OFÍCIO Nº 1.0392.04.910502-7/001 - COMARCA DE MALACACHETA - RECORRENTE(S): JD COMARCA MALACACHETA - RECORRIDO(S): OTAVIANO RODRIGUES DE SOUSA OU OTAVIANO RODRIGUES DE SOUZA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de reexame necessário da sentença, às fls.54 e segs., que impôs medida de segurança, determinando a internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, ao réu Otaviano Rodrigues de Sousa, por ter, em 9 de setembro de 1996, tentado matar sua amásia, Maria da Conceição Cruz Silva.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, às fls.62 e segs., manifestou-se pela manutenção da sentença.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

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A materialidade e a autoria delitivas estão sobejamente comprovadas nos autos, inclusive pela confissão do próprio réu.

A inimputabilidade do réu também restou devidamente comprovada a fl.52 do apenso.

Creio, porém, que um pequeno reparo seja necessário quanto à imposição de medida de segurança.

O magistrado monocrático determinou:

"a internação do acusado em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, através de perícia médica, a cessação da periculosidade, cujo período não poderá ser inferior a um ano, segundo disposto no §1º, art.97, do mesmo Diploma Penal".

Ocorre, porém, que a moderna doutrina penal brasileira tem reiteradamente demonstrado que tais artigos do Código Penal não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988 que, em seu art.5º, XLVII afirma categoricamente:

"não haverá penas:

(...)

b) de caráter perpétuo"

É bem verdade, que a doutrina tradicional sempre afirmou que a medida de segurança não é pena, pois tem natureza jurídica diversa, não se baseando na culpabilidade do agente, mas, sim, em sua periculosidade.

Ocorre, porém, que no Estado Democrático de Direito - consagrado pela Carta Magna de 1988 - não se pode abrir mão dos direitos fundamentais da pessoa humana, com base em um abstrato fundamento de periculosidade, até mesmo porque na maioria das vezes os "são" - as aspas aqui são inevitáveis - ou seja, na maioria das vezes, são muito mais perigosos que os loucos e nem por isso podem ser segregados eternamente.

A esse respeito ZAFFARONI e PIERANGELI argumentam que:

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"Se a Constituição Federal dispõe que não há penas perpétuas (art.5º,XLVII, b), muito menos se pode aceitar a existência de perdas perpétuas de direitos formalmente penais. A periculosidade de uma pessoa que tenha cometido um injusto ou causado um resultado lesivo a bens jurídicos pode não ser maior nem menor do que a de outra que o tenha causado, se a mesma depende de um padecimento penal. Não existe razão aparente para estabelecer que um azar leve a submissão de uma delas a um controle penal perpétuo, ou, possivelmente perpétuo, enquanto outra fica entregue às disposições do direito ou legislação psiquiátrica civil." (ZAFFARONI, Eugênio Raúl. PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 4ªed.rev. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p.857)

Na mesma linha de raciocínio, Virgílio Mattos, autor de uma festejada dissertação de mestrado na Faculdade de Direito da UFMG dedicada ao tema, conclui que:

"Ao contrário do que outros já sustentaram, a questão da reserva legal não continua em aberto; se se pensa em contrário, malferido restaria o inciso XXXIX (reserva legal constitucional), art.5º da Constituição de 88. Não há medida de segurança sem prévia cominação, uma vez que tem natureza jurídica de pena, sentido amplo, portanto - vedada pela Norma normarum a prisão perpétua - a medida de segurança ad vitam é ofuscantemente inconstitucional." (MATTOS, Virgílio. Trem de doido: o direito e a psiquiatria de mãos dadas. Belo Horizonte: UNA Editoria, 1999. p.136)

Assim, necessário se faz limitar o prazo da medida de segurança, pois se o louco, de fato, representa algum perigo para a sociedade, forçoso é reconhecer que tal perigo não é maior do que aquele representado pelos sãos, que matam não por uma anomalia psíquica, mas, sim, por um cálculo amoral de custo/benefício.

Buscando adequar as disposições da lei ordinária aos novos ditames constitucionais, ZAFFARONI e PIERANGELI lecionam que:

"Pelo menos, é mister reconhecer-se para as medidas de segurança o limite máximo da pena correspondente ao crime cometido, ou a que foi substituída, em razão da culpabilidade diminuída. Se, no primeiro caso, continuar a doença mental da pessoa submetida à

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medida, a solução é comunicar a situação ao juiz do cível ou ao Ministério Público, para que se proceda conforme o art.448 do Código Civil e efetivar a internação nas condições do art.457 desse mesmo Código "(Código Civil de 1916).(ZAFFARONI, Eugenio Raúl. PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 4ªed.rev. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p.858)

Destarte, com base, nesse entendimento, passo a determinar o período máximo da internação:

O réu foi denunciado como incurso nas sanções do art.121, §2º, II, c/c art.14,II, c/c art.132, na forma do art.70, todos do Código Penal.

Impossível cogitar-se da qualificadora de motivo fútil tratando-se de réu inimputável, pois se não é capaz de entender o caráter ilícito de sua conduta, muito menos será capaz de entender a futilidade de sua motivação.

Decoto, pois, a qualificadora.

A pena máxima do homicídio simples é de 20 (vinte) anos de reclusão. Diminuída de 1/3 (um terço) - a menor diminuição de pena prevista pela tentativa - temos como pena máxima da tentativa de homicídio 13 (treze) anos e 4 (quatro) meses.

Acresce-se a este quantum a pena máxima pelo crime do art.132 do CP - 1 ano - temos uma pena máxima, pela qual o réu foi denunciado de 14 (quatorze) anos e 4 (quatro) meses de reclusão.

Destarte, dou provimento parcial ao recurso, de ofício, para determinar, tão-somente, que a medida de segurança em nenhuma hipótese exceda a 14 (quatorze) anos e 4 (quatro) meses de reclusão.

Aliás, é o mínimo que posso fazer, para garantir os direitos fundamentais daquele que sofre de uma enfermidade mental, até porque, fosse ele considerado imputável, provavelmente, sua pena seria fixada abaixo desse quantum.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

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Versam os autos sobre recurso de ofício oferecido pelo MM. Juiz da Comarca de Malacacheta contra a v. sentença que absolveu o réu, por considerá-lo inimputável, aplicando-lhe medida de segurança de internação, por prazo indeterminado, sendo de um ano o período mínimo estipulado para que seja averigüada, por perícia, a cessação da periculosidade, no bojo da ação penal movida pela Justiça Pública contra Otaviano Rodrigues de Sousa, pelos crimes descritos nos arts. 121, § 2º, inc. II, na forma do art. 14, inc. II, e 132, na forma do art. 70, todos do Código Penal, praticado contra sua amásia Maria da Conceição Cruz Silva.

A materialidade e autoria restaram induvidosamente comprovadas, a primeira através do acd de fls. 12/13 e auto de apreensão de fl. 15, e a segunda pela confissão do réu (fls. 17 e 27), corroborada pela prova oral produzida, notadamente os depoimentos de fls. 10, 11, 14 e 33/34.

O laudo pericial de fls. 52, dos autos em apenso, entretanto, concluiu ser o acusado, ao tempo da ação, em virtude de doença mental, inteiramente incapaza de entender o caráter ilícito do fato criminoso ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Incensurável, assim, a decisão do MM. Juiz a quoque absolveu desde logo o réu, com fundamento no caput do art. 26 do CP, já que assim determina o art. 411 do CPP. A fixação de medida de segurança, consistente em internação hospitalar para tratamento psiquiátrico, por outro lado, está prevista no art. 96, inc. I e art. 97, ambos do CP.

Prescreve o § 1º, do art. 97, que a medida de segurança é por tempo indeterminado, tendo o MM. Juiz fixado em um ano o prazo mínimo para que seja averigüada, por perícia, a cessação da periculosidade.

Como se vê, a lei penal não prevê limite temporal máximo para o cumprimento da medida de segurança, vinculando a liberação somente à verificação da cessação da periculosidade, tendo em vista que o inimputável é internado não para ser punido, mas sim para ser tratado, nisso diferindo da pena privativa de liberdade.

A meu ver, tal disposição não conflita com a norma Constitucional que proíbe a instituição de penas perpétuas.

Page 24: TJMG

Sobre tal limite, leciona Magalhães Noronha ser "a periculosidade a preocupação constante da medida de segurança pessoal, e, cessada que ela seja, esta não tem mais razão de ser. Orientando-se nesse sentido é que o Código expressamente determina que, ao fim do prazo, ao fim do prazo mínimo, se examine o sentenciado, que também o será anualmente, se a execução continuar. Vê-se, pois, que ela não pode ter fim, já que durará enquanto o delinqüente for perigoso. Observa-se, entretanto, ter sido prudente o Código, querendo impedir que a situação se prolongue de modo indefinido sem necessidade, tanto que impõe expressamente o exame anual, que, aliás, pode ser feito com menor intervalo quando o prazo mínimo for inferior a um ano.

................................

A indeterminação é um corolário fatal: não se pode curar a prazo fixo.

Isto impede ou torna menos freqüente o triste espetáculo dos reincidentes voltando ao presídio duas, três ou quatro vezes, numa demonstranção eloqüente da ineficácia penal e da impotência de se readaptar o criminoso, com grave dano para a sociedade, o que, hoje, não acontecerá se a lei for executada como deve ser (...)" (Direito Penal, 10a. ed., págs. 323/324).

A respeito da indeterminação quanto ao prazo de duração das medidas de segurança, aduz José Frederico Marques que não parece que "esteja em antagonismo com o artigo 141, § 31, da Constituição Federal, que proíbe as penas perpétuas. Estamos de acordo com aqueles que não se encastelam em falsos nominalismos, e entendem, por isso, que a expressão ¿pena' ou ¿penas' da Constituição abrange todas as sanções penais repressivas e preventivas; mas sanção indeterminada no tempo não é o mesmo que sanção ou pena ou pena perpétua (...) Perpetuidade eventual as próprias penas temporárias podem trazer. Seria inconstitucional, por isso, a condenação de um indivíduo de 60 anos a trinta anos de reclusão, embora mínima a possibilidade de sair ele da prisão antes de morrer? Um doente desenganado, mesmo se a condenação for em pena de curta duração, estará sofrendo uma segregação perpétua, em face da probabilidade de não ter suficiente tempo de vida para aguardar o cumprimento integral da pena. Isto demonstra que a perpetuidade

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eventual não é proibida pela Constituição, e sim, a segregação perpétua necessária e formalmente imposta" (Tratado de Direito Penal, 2a. ed., vol. III, págs. 199/200).

E, em recente aresto, decidiu o STJ verbis:

"HABEAS CORPUS. RÉU INIMPUTÁVEL. MEDIDA DE SEGURANÇA. PRAZO INDETERMINADO. INEXISTÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA.

1. A medida de segurança de internação, imposta em processo de conhecimento, não se sujeita a prazos predeterminados, mas, sim à cessação da periculosidade do réu inimputável (Código Penal, artigo 97, parágrafo único).

2. Constatada, por perícias regulares, a subsistência da periculosidade do réu inimputável, descabe falar em constrangimento decorrente da sua manutenção em regime de internação, ainda que por prazo superior ao limite imposto às penas privativas de liberdade.

3. Ordem denegada (HC nº 27.993 - SP - Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, in Revista Eletrônica de Jurisprudência).

Isto posto, pedindo redobrada venia ao Eminente Relator, nego provimento ao recurso oferecido.

Custas pelo Estado.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Peço vista dos autos.

SÚMULA: O RELATOR DÁ PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO, NEGANDO-O O 1º VOGAL. PEDIU VISTA O 2º VOGAL.

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NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. PRESIDENTE (DES. KELSEN CARNEIRO):

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O julgamento deste feito foi adiado na Sessão do dia 25/05/2004, a meu pedido, após votarem o Relator, dando provimento ao recurso e o Primeiro Vogal, negando-o .

Meu voto é o seguinte:

Pedi vista dos autos, em face da divergência havida entre o Relator, Des. Erony da Silva, e o 1º Vogal, Des. Paulo Cézar Dias, restrita ao tempo de duração da medida de segurança aplicada ao réu, absolvido, nos termos do art. 411, CPP, em face de sua inimputabilidade, entendendo o primeiro que o prazo deve ser limitado a 14 anos e 04 meses, que corresponde à pena máxima que, em tese , seria imposta pelo crime praticado, e, o segundo, que deve ser indeterminado.

Não concordo com o ilustre Relator.

A medida de segurança não tem tempo determinado e deve perdurar, a teor do que dispõe o art. 97, § 1º, do Código Penal, enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação da periculosidade.

A indeterminação da duração é compreensível, porquanto a cura de moléstias mentais não tem como ser prevista, justificando-se, ainda, como medida de proteção social, pois não se pode restituir à normal circulação, quem exibe periculosidade que autorize temer reiteração de gravíssimas infrações, com irreparáveis seqüelas.

A respeito, já decidiu o Tribunal de Justiça de São Paulo:

MEDIDA DE SEGURANÇA - Internação - Tratamento psiquiátrico de paciente que já dura mais de trinta anos - Constrangimento ilegal inexistente - Laudo médico que atesta a persistência da periculosidade do agente - Inteligência do art. 97, § 1º, do CP. "Não configura constrangimento ilegal a ser amparado por habeas corpus, a medida de segurança consistente em internação para tratamento psiquiátrico, que já dura mais de trinta anos, de paciente que praticou dois homicídios. Ademais, foi atestado por meio de laudo médico a necessidade de renovação da medida de segurança, devido à persistência da periculosidade do agente e, conforme o previsto no art. 97, § 1º, do CP a internação se dá por tempo indeterminado" (RT 815/570).

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Com essas considerações, pedindo vênia ao ilustre Relator, acompanho o 1º vogal e, também, nego provimento ao recurso de ofício.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO, VENCIDO O RELATOR.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0024.02.681534-0/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 04/05/2004 Data da publicação: 10/08/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Pena. Fixação. Conduta social e personalidade do agente. Não podem ser consideradas desfavoráveis a conduta social e a personalidade do agente pelo fato de o réu ser reincidente, pois isto equivaleria a um "bis in idem". Recurso provido.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0024.02.681534-0/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): SIDNEY MOREIRA LOPES - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ COMARCA DE BELO HORIZONTE - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO, VENCIDO, EM PARTE, O VOGAL.

Belo Horizonte, 04 de maio de 2004.

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DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta capital, Sidney Moreira Lopes como incurso nas sanções do art. 121, §2º, II e IV, do CP, por ter, em 18 de abril de 2002, por volta das 17h30h, matado a vítima Marco Antônio de Miranda.

O Tribunal do Júri considerou o réu culpado, conforme Termo de Votação de Quesitos a fls.133 e segs. e o MM. Juiz presidente, em sentença a fl.141, condenou-lhe a 13 (treze) anos e 6 (seis) meses de reclusão, em regime integralmente fechado.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões a fls.143 e segs., nas quais pugna pela minoração da reprimenda e pela concessão do regime inicialmente fechado.

As contra-razões ministeriais a fls.160 e segs. são pelo improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a fls.168 e segs., manifestou-se pelo parcial provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A materialidade e a autoria delitivas encontram-se sobejamente comprovadas nos autos e não foram objeto de questionamento por parte da defesa.

A certidão a fl.78 comprova a existência de condenação transitada em julgado contra o réu, por crime de roubo em 25 de fevereiro de 2002, portanto, anterior ao crime sub judice.

Correto, portanto, o reconhecimento da agravante da reincidência.

Ocorre, porém, que se reconhecida a reincidência, não se pode

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aumentar a pena do réu, na primeira fase, em função dos maus antecedentes, pois isto equivaleria a um inadmissível bis in idem.

Não há falar, também, que a reincidência demonstre um "comportamento voltado para a criminalidade" o que seria motivo para considerar a personalidade e a conduta social do réu desfavoráveis, pois, em última análise, mais uma vez estar-se-ia punindo o acusado duplamente pelo mesmo fato.

Lado outro, toda conduta de homicídio qualificado, por si só, é altamente reprovável e tal critério não pode servir para aumentar-lhe a pena-base, salvo quando tal reprovabilidade é superior à comum aos crimes da espécie.

Assim, não vejo, no presente caso, qualquer justificativa para fixar a pena-base do acusado acima do mínimo legal, razão pela qual a reduzo para 12 (doze) anos de reclusão.

Houve o reconhecimento de uma agravante e uma atenuante e por uma questão de coerência, tenho-as como equivalentes, mantendo inalterada a pena-base.

Não há causas de aumento ou diminuição de pena, razão pela qual, fixo-lhe a pena definitiva em 12 (doze) anos de reclusão.

Em relação ao regime de cumprimento de pena, já me manifestei, por diversas vezes, nesta câmara no sentido de que não pode o legislador cercear do poder judiciário, o direito de fixar o regime de acordo com o caso concreto.

Isto porque a Constituição Federal consagrou o princípio da individualização da pena em seu art.5º, XLVI:

"a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras as seguintes: (...)"

Regular é fixar normas abstratas e, como tal, devemos entender a previsão de parâmetros mínimos e máximos para a determinação do quantum das penas in concreto.

Não pode, assim, o legislador ordinário determinar que todo crime hediondo seja cumprido em regime integralmente fechado, pois não cabe ao Poder Legislativo "fixar" o "quantum" das penas, mas

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simplesmente "regular" por meio de parâmetros máximos e mínimos, dando opções ao Poder Judiciário - responsável pela análise do caso concreto - elementos para a fixação definitiva da pena.

Pelo exposto, dou provimento ao recurso, para fixar a pena do apelante em 12 (doze) anos de reclusão em regime inicialmente fechado.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Acompanho integralmente o voto do Relator.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Respeito o ponto de vista divergente, dele discordando por ter, reiteradamente, decidido, nesta 3ª Câmara, que o art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/90, que trata dos crimes hediondos, dispõe que a pena aplicada deve ser cumprida integralmente em regime fechado.

Com essas breves considerações, peço vênia, ao eminente Relator e ao não menos eminente Revisor, deles discordando, apenas, no tocante ao regime prisional, concordando com a redução da pena aplicada ao apelante.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO, VENCIDO, EM PARTE, O VOGAL.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0334.03.000547-7/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 25/06/2004 Data da publicação: 03/08/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Homicídio. Coação moral irresistível. Provocação. A coação moral irresistível não se confunde com meras provocações. Se na coação o coator obriga o coato a agir segundo sua vontade, na mera provocação não há domínio do fato por parte do provocador que se limita a incitar o agente à prática dos atos desejados sem, no entanto, poder obrigá-lo a agir. Recurso ministerial provido.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0334.03.000547-7/001 - COMARCA DE ITAPAJIPE - APELANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, P.J. COM. DE ITAPAJIPE - APELADO(S): VALDIR FELIPE SOARES - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO.

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Belo Horizonte, 25 de junho de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Itapagipe, Valdir Felipe Soares como incurso nas sanções do art. 121, caput, c/c art.14, II do CP, por ter, em 25 de outubro de 2000, por volta das 22h30, tentado matar a vítima, Joel Magalhães de Sousa.

O Tribunal do Júri acatou a tese da coação moral irresistível, conforme Termo de Votação de Quesitos, às fls.172 e segs., e o MM. Juiz presidente, em sentença a fl.175, absolveu o acusado das imputações da denúncia.

Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas razões, às fls.181 e segs., nas quais pugna pela cassação da decisão, por manifestamente contrária à prova dos autos.

As contra-razões da defesa, às fls.188 e segs., são pelo improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, às fls.199 e segs., manifestou-se pelo conhecimento e provimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A decisão é visivelmente contrária, não só à prova dos autos, mas ao bom senso.

O Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa define o termo coação:

"...constrangimento, violência física ou moral imposta a alguém para que faça, deixe de fazer ou permita que se faça alguma coisa"

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Na hipótese dos autos, só se poderia falar em coação moral irresistível se a própria vítima tivesse constrangido o réu a dar-lhe as facadas.

Para que haja coação é necessário que o coator tenha dolo de constrangimento e é evidente que, no presente caso, a vítima não desejava receber as facadas.

A coação nem de longe se confunde com a provocação que é definida, no mesmo dicionário, como:

"...ato ou efeito de, com palavras ou atos, forçar alguém a uma luta, briga, discussão etc.; desafio, repto"

E também como:

"...ato ou processo de tentar causar uma reação; estimulação, incitamento, tentação"

Se na coação o coator obriga o coato a agir, segundo sua vontade, na mera provocação não há domínio do fato por parte do provocador que se limita a incitar o agente à prática dos atos desejados sem, no entanto, poder obrigá-lo a agir.

A tese da coação moral irresistível, no presente caso, é, pois, absurda e sem qualquer fundamento legal, pois é evidente que a vítima não obrigou o réu a lhe desferir os golpes.

Pelo exposto, dou provimento ao recurso ministerial para cassar o veredicto por manifestamente contrário à prova dos autos.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

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VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0511.03.900297-3/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: PAULO CÉZAR DIAS

Data do acordão: 04/05/2004 Data da publicação: 16/06/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Falsidade Ideológica - O apelante fez inserir em documento público de certificado de conclusão de curso, declaração inverídica, falsificando assinaturas, praticando, assim, o crime de falsidade ideológica. O momento consumativo do delito em apreço ocorre com a simples alteração do objeto material, independentemente de outro resultado.

V.V.

Falsidade documental. Crime de perigo concreto. Ausência de perigo de lesão a fé pública. Absolvição. O crime de falsidade documental é de perigo concreto e, portanto, exige um perigo de lesão à fé pública para se consumar. Se o réu vende histórico escolar para terceiro no nome deste, que em seguida o delata, em momento algum a fé pública se viu ameaçada. Provimento ao recurso para absolver.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0511.03.900297-3/001 - COMARCA DE PIRAPETINGA - APELANTE(S): MURILO DE SOUZA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ SECRETARIA DO JUÍZO DA COMARCA DE PIRAPETINGA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA - RELATOR PARA O

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ACÓRDÃO: EXMO SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM NEGAR PROVIMENTO, VENCIDO O RELATOR.

Belo Horizonte, 04 de maio de 2004.

DES. PAULO CÉZAR DIAS - Relator para o acórdão.

DES. ERONY DA SILVA - Relator vencido.NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. PRESIDENTE (DES. KELSEN CARNEIRO):

O julgamento deste feito foi adiado na Sessão do dia 06/04/2004, a pedido da Vogal, após votarem o Relator, dando provimento e o Revisor negando-o.

Com a palavra a Desª. Jane Silva.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

Examinei, cuidadosamente, o voto do eminente Relator, Desembargador Erony da Silva e peço vênia para dele discordar, pois me filio à corrente que considera como momento consumativo do crime, previsto no artigo 297 do Código Penal, aquele da ocorrência da falsificação ou da alteração do documento, independentemente do uso ou da existência de qualquer conseqüência posterior, nem mesmo a saída da esfera individual do agente, visto que já passou a existir o dano. O Superior Tribunal de Justiça assim já decidiu, ao considerar que "o tipo do artigo 297 do Código Penal exige apenas a editio falsi, sendo prescindível a posterior utilização do falso, que consiste em mero exaurimento do delito". (STJ ¿ JSTJ 62/500)

Desse modo, tendo sido comprovada a falsidade dos dados constantes do documento, bem como a autoria do delito, através de prova testemunhal colhida sob o crivo do contraditório, entendo,

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tal como o ilustre Revisor, que a condenação deve ser mantida.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO, VENCIDO O RELATOR.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0216.01.010876-1/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 04/05/2004 Data da publicação: 16/06/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Pena. Fixação. Dolo intenso. Personalidade voltada para o crime. Expressões demasiadamente vagas. Impossível é a majoração da pena-base apenas com referência às expressões vagas como "dolo intenso" e "personalidade voltada para o crime", pois a convicção do juiz deve ser fundamentada na prova e não podem exprimir um preconceito pelo simples fato de o acusado ser reincidente, sob pena de consagrarmos um "bis in idem".

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0216.01.010876-1/001 - COMARCA DE DIAMANTINA - APELANTE(S): DAVID DARIA MAURÍCIO JÚNIOR - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 2ª SECRETARIA JUÍZO DA COMARCA DE DIAMANTINA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Page 40: TJMG

Belo Horizonte, 04 de maio de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Diamantina, David Daria Maurício Júnior, como incurso nas sanções do art.129, §1º, I e II do CP, por ter, em 7 de julho de 1999, por volta das 22h, desferido um golpe com uma garrafa na cabeça da vítima Paulo Roberto Marques Saraiva, causando-lhe lesões que lhe resultaram perigo de morte e incapacidade para suas ocupações habituais por mais de 30 dias.

A sentença monocrática, às fls.79 e segs., julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 2 (dois) anos de reclusão em regime semi-aberto.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões, às fls.85 e segs., nas quais pugna pela absolvição ou pela minoração da pena.

As contra-razões ministeriais, às fls.91 e segs., são pelo desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, as fls.98 e segs., manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A materialidade e a autoria delitivas encontram-se sobejamente comprovadas nos autos.

A tese da legítima defesa não convence, pois salvo a palavra do réu, não há qualquer elemento nos autos que comprove a existência da agressão por parte da vítima.

Page 41: TJMG

Todas as provas são no sentido de que o réu teria agredido a vítima por vingança, já que acredita que ela o tenha delatado, quando eram companheiros de cela.

Por outro lado, o laudo de exame complementar à fl.26, ainda que tenha sido realizado muito posteriormente ao fato sub judice, não pode tão-somente por isso, ser considerado imprestável.

Se o perito tinha elementos para concluir pela existência de incapacidade da vítima para suas ocupações habituais por mais de trinta dias, irrelevante que o exame complementar tenha sido feito após o prazo.

Quanto à fixação da pena, razão assiste à defesa.

O magistrado monocrático fixou a pena-base do acusado em 8 (oito) meses acima do mínimo legal por: "agir com dolo intenso" e por ter "personalidade , sem dúvida alguma voltada para a criminalidade".

Ora, tais expressões são demasiadamente vagas para fundamentar uma exasperação de pena e não podem ser consideradas em desfavor do réu, sem uma expressa referência às provas que levaram o juiz a essa convicção.

Não se pode considerar a personalidade do acusado voltada para o crime pelo fato de ele ser reincidente, pois em tal caso, estar-se-ia aplicando um inadmissível bis in idem.

Pelo exposto, reduzo a pena-base para seu mínimo legal de 1 (um) ano.

Mantenho o agravamento tal como operado em primeira instância e, na falta de causas de aumento e diminuição de pena, concretizo sua reprimenda em 1 (um) ano e 4 (quatro) meses de reclusão a ser cumprida no regime semi-aberto.

Impossível a substituição da pena, face à violência com a qual o crime foi praticado.

Também não é cabível a suspensão da pena, pois o réu é reincidente.

Page 42: TJMG

Pelo exposto, dou provimento parcial ao recurso, tão-somente para minorar-lhe a pena.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

Page 43: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0024.04.254189-6/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 04/05/2004 Data da publicação: 16/06/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Homicídio. Torpeza. Delação - A delação, em nossa cultura, é conduta eticamente bastante reprovável e equiparada a pior das traições. Assim, não pode ser considerada torpe a motivação do homicídio quando praticado por grupo de presos em vingança contra delator.

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 1.0024.04.254189-6/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - RECORRENTE(S): DAVID FRANCISCO DA SILVA - RECORRIDO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ. V. CRIM. COM. B.HTE. - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Belo Horizonte, 04 de maio de 2004.

Page 44: TJMG

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto por David Francisco da Silva, inconformado com a sentença, às fls.232 e segs., que o pronunciou nas sanções do art. 121, §2º, I e III, ambos do CP, por ter, em 10 de junho de 2003, no interior da cela nº 1 da carceragem das Delegacia Especializada de Repressão de Furto de Veículos desta capital, matado a vítima, Renato Daniel Nunes, com o uso de uma corda trançada, conhecida como "tereza".

Em suas razões recursais, às fls.265 e segs., pugna a defesa tão-somente pelo decote das qualificadoras.

As contra-razões ministeriais, às fls.269 e segs., são pela manutenção da sentença guerreada.

Em juízo de retratação, à fl.289, a decisão foi mantida por seus próprios fundamentos.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, às fls.294 e segs., manifestou-se pelo desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A qualificadora da asfixia deverá ser submetida ao Tribunal do Júri, diante do exame de corpo de delito, às fls.56 e segs., que conclui:

"...diante dos dados colhidos durante a necrópsia e dos resultados, concluímos que a causa da morte foi: asfixia conseqüente a constrição extrínseca do pescoço."

Entretanto, não há falar em torpeza se a motivação do crime se deu em razão da delação de companheiros.

Page 45: TJMG

Isto porque a delação é ato notoriamente contrário à ética não só de prisioneiros, mas de estudantes e de inúmeros grupos profissionais (basta ver o baixíssimo número de condenações em entidades de classe).

O delator, em nossa cultura, é na maioria das vezes, visto como um traidor - ou por influência do cristianismo - como um "Judas", que trai o amigo quando as circunstâncias tornam-se desfavoráveis a ele.

Assim, impossível seria cogitar-se em torpeza, razão pela qual dou provimento parcial para decotar da pronúncia a qualificadora do art.121, §2º, I, do CP.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

Page 46: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0145.01.001631-2/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 06/04/2004 Data da publicação: 08/06/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Preliminar rejeitada. Homicídio. Mãe que abandona recém nascido em vala. Estado de necessidade. Inexigibilidade de conduta diversa. Não se pode exigir conduta diversa de mãe que, seja por graves problemas psicológicos, seja pelo estado puerperal ou mesmo pela absoluta miséria, abandona seu filho à própria sorte em uma vala. Absolvição sumária mantida. Nego provimento ao recurso, de ofício, e ao recurso ministerial.

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 1.0145.01.001631-2/001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, JD V EXEC CR TRIBUNAL JÚRI COMARCA JUIZ DE FORA - RECORRIDO(S): BIANCA ARCADNA DOS SANTOS - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO AO RECURSO, DE OFÍCIO, E JULGAR PREJUDICADO O DO M.P., VENCIDO, PARCIALMENTE, O RELATOR, QUE NEGAVA PROVIMENTO AO

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RECURSO, DE OFÍCIO.

Belo Horizonte, 06 de abril de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

A SRª. PRESIDENTA (DESª. JANE SILVA):

O julgamento deste feito, após rejeitada preliminar, foi adiado na Sessão do dia 23.03.04, a pedido do Primeiro Vogal, depois de votar o Relator, negando provimento aos dois recursos.

Com a palavra o Des. Paulo Cézar Dias.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

Trata a espécie de recurso, de ofício, oferecido pelo MM. Juiz da Comarca de Juiz de Fora, e recurso voluntário interposto pelo Ministério Público, contra a sentença que absolveu sumariamente a acusada, Bianca Arcadna dos Santos, do crime de homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incs. III e IV, c/c artigos 14, inc. II, e 61, inc. II, letra "e", do CP), ao entendimento de ter ela agido acobertada pela causa supra-legal da inexigibilidade de conduta diversa.

Rejeitada a preliminar, o eminente Relator negava provimento aos recursos, quando pedi vista dos autos, para maior reflexão da matéria posta a julgamento.

No mérito, a meu sentir, não há como se manter o decreto absolutório, a despeito dos motivos invocados na r. sentença de primeiro grau.

Relata a denúncia que, na madrugada do dia 30 de novembro de 2.000, a denunciada, em trabalho de parto, saiu de casa, "às escondidas", dirigindo-se para um loteamento, situado no Bairro, no qual reside, onde deu a luz a uma criança, do sexo feminino, que viria a receber o nome de Wilma Elisa dos Santos.

Consta da referida peça, que a denunciada não cortou o cordão

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umbilical e, ainda, envolveu a criança em um pano, que foi amarrado com três nós, abafando sua respiração, abandonando-a dentro de uma vala, deixando a seguir o local, como se nada tivesse acontecido.

A autoria e a materialidade encontram-se devidamente comprovadas, a primeira, pelo exame de corpo delito de fl. 32, e a segunda, pela confissão da vítima (fls. 13/14 e 50/53), corroborada pela prova testemunhal produzida, notadamente os depoimentos de fls. 26/27, 86 e 98.

Há dois aspectos controversos no recurso, o primeiro diz respeito à causa supra legal da inexigibilidade de conduta diversa, invocada para absolver a acusada.

Inicialmente, cumpre ressaltar que, consoante a teoria normativa adotada pelo Código Penal, a culpabilidade consiste em um juízo de reprovação ao autor de determinado fato, por agir em desacordo com a norma, tendo como elementos a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.

Assim sendo, em face das circunstâncias do caso concreto, todas as vezes em que não se puder exigir do sujeito outro comportamento além do cometido, excluída estaria a culpabilidade, e, portanto, a punição do fato.

Nesse sentido, merece destaque a lição de Aníbal Bruno, segundo o qual:

"A estrutura do conceito de culpabilidade completa-se com o elemento da exigibilidade de comportamento de acordo com a ordem jurídica, isto é, da possibilidade de motivação normal da vontade do agente, em conseqüência da normalidade das circunstâncias concomitantes do fato. O sujeito pode ter capacidade de entender e querer relevante para o Direito, pode ser um imputável, pode haver transgredido o preceito contido na norma, por imprudência, negligência ou imperícia, ou por vontade consciente dirigida no sentido desse resultado contrário à norma, por imprudência, negligência ou imperícia, ou por vontade consciente dirigida no sentido desse resultado contrário à norma; ainda assim não estão reunidos os elementos bastantes para suportar o juízo de reprovação em que a culpabilidade consiste. É necessário ainda que, nas circunstâncias, seja exigível do agente

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uma conduta diversa; que a situação total em que o proceder punível se desenvolve não exclua a exigência do comportamento conforme ao Direito, que se pode humanamente reclamar de todo homem normal em condições normais. O comportamento conforme ao Direito não pode ser exigido de maneira absoluta, mas tem de condicionar-se ao poder do sujeito, físico ou moral, de acordo com a situação total do momento. O juízo de culpabilidade pelo fato punível pressupõe que o agente devia e podia agir de maneira diversa" (Direito Penal, Parte Geral, 1967, t. II,p. 97/98).

Embora não se possa negar a admissibilidade, no direito brasileiro, da tese da inexigibilidade de conduta diversa como causa supra legal, apesar da divergência existente, seu reconhecimento, a meu ver, deve-se ater a casos específicos e comprovados, de modo a evitar embaraço e incerteza em relação à aplicação da lei penal.

Na espécie, à primeira vista, a situação fática relatada nos autos não comporta o reconhecimento da aludida causa de exclusão da culpabilidade.

Interrogada, a acusada declarou que não queria ficar com o filho por sentir medo de criá-lo sozinha, haja vista que não trabalhava, nem tinha o apoio do pai da criança. Alega que sua genitora só tomou conhecimento da sua gravidez uma semana antes do parto, e que não recebeu de bom grado a notícia, brigando muito com a declarante, dizendo que a colocaria para fora de casa.

A mãe da acusada, às fls. 38/39, informa, por sua vez, que a presente gestação não foi a primeira de Bianca, que, da primeira vez, perdeu o bebê. Alega que sequer sabia do seu estado atual de gravidez, e que, em nenhum momento, chegou a censurá-la por tal motivo.

Nota-se, assim, que não houve uma pressão grande por parte dos familiares, e que as circunstâncias que antecederam o crime são inerentes ao próprio delito praticado e, por si só, não conduzem ao acolhimento da exculpante, já que o infanticídio é inegavelmente um delito social, praticado na quase totalidade dos casos por mães solteiras e mulheres abandonadas, via de regra, na mesma situação da vítima.

Por outro lado, o estado de pobreza da vítima também não pode ser admitido como fator de justificativa de exclusão da

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culpabilidade, pois situações idênticas, ou ainda piores, são vivenciadas por outras tantas pessoas, por força da situação calamitosa por que passa o país, mas que não se propuseram à prática de crimes, caso contrário, bastaria alguém alegar uma situação de dificuldade para ser absolvido.

Relativamente ao quadro de suspeita sobre a higidez mental da acusada, em face da divergência havida no laudo pericial, se comprovado, deveria conduzir a um outro desfecho, e não a simples isenção da pena.

Aliás, "exigibilidade e inexigibilidade não são, no seio do juízo de culpabilidade, conceitos simétricos. Não é em todo caso que falte exigibilidade que irá se falar em inexigibilidade. Ao inimputável ou àquele que lhe falta a significação antijurídica de sua conduta não se pode exigir o comportamento de acordo com o comando ou o dever-ser normativo. Entretanto, nem o primeiro e tampouco o segundo atuam amparados pela inexigibilidade. No primeiro falta a capacidade de culpabilidade; no segundo, o dolo" (in Inexigibilidade de Conduta Diversa, Marco Antônio R. Nahum, Ed. Revista dos Tribunais, 2001, p. 72).

Como se sabe, sendo os crimes contra a vida de competência do Tribunal do Júri, conforme dispõe o art. 5º, XXXVIII, da Constituição Federal, somente quando houver circunstância que exclua o crime ou isente de pena o réu poderá o juiz absolver, sumariamente, o acusado, sendo certo que a prova, nessas hipóteses, tem que se apresentar estreme de qualquer dúvida.

E como se vê, a prova até agora produzida não permite concluir, sem que haja a mínima dúvida, a ocorrência da alegada exculpante.

Nessas condições, a absolvição sumária se fez precocemente, sendo mais prudente que seja a acusada submetida a julgamento pelo Tribunal Popular, juiz natural dos crimes dolosos contra a vida.

O segundo aspecto controverso do recurso, diz respeito à classificação do crime.

Verifica-se da descrição contida na exordial acusatória e ratificada pela prova nos autos produzida, pelas circunstâncias do crime, após o parto, e principalmente, pelo atestado médico de fl. 19, que

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conclui estar a paciente, à época, sob influência do estado puerperal, que a conduta da acusada não configurou o delito de homicídio, mas, sim, o de tentativa de infanticídio, previsto no art. 123 do CP.

Na realidade, o infanticídio não deixa de ser um homicídio, praticado pela progenitora, após o nascimento do filho, ainda sob os traumas do parto, ou seja, em circunstâncias especiais, ao qual o Código Penal comina pena menor que a do homicídio privilegiado, por entender o legislador se tratar de fato menos grave.

O infanticídio está elencado entre os delitos contra a vida, sendo, de igual modo, a competência do Júri para o seu julgamento.

Nessas condições, pedindo vênia ao eminente Relator, dou provimento ao recurso, de ofício, para, desclassificando a imputação, pronunciar a acusada nas disposições do art. 123, c/c art. 14, inc. II, ambos do Código Penal, determinando que seja ela submetida a julgamento pelo Tribunal do Júri, julgando por prejudicado o recurso interposto pelo Ministério Público.

Custas a final.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

Acompanho, integralmente, o voto do eminente Primeiro Vogal.

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

Srª. Presidenta, pela ordem.

Gostaria de retificar o meu voto, no que concerne ao recurso do Ministério Público para, como o Primeiro Vogal, também julgá-lo prejudicado.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO AO RECURSO, DE OFÍCIO, E JULGARAM PREJUDICADO O DO M.P., VENCIDO, PARCIALMENTE, O RELATOR, QUE NEGAVA PROVIMENTO AO RECURSO, DE OFÍCIO.

Page 52: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0019.03.900006-2/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 06/04/2004 Data da publicação: 28/05/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Fixação de pena. Personalidade do agente e conduta social. Antecedentes. Tentativa. O fato de o agente ter o hábito de embriagar-se não pode ser considerado circunstância judicial a ele desfavorável, sob pena de afronta ao princípio constitucional da legalidade, já que não pode haver pena sem lei prévia. Meras acusações sejam na fase inquisitorial ou judicial, não podem ser consideradas maus antecedentes em desfavor do réu, em respeito ao princípio constitucional da presunção da não culpabilidade. Na tentativa de homicídio, o fato de o tiro ter atingido a vítima já é suficiente para que a redução da pena, em virtude da tentativa não se dê na forma mais benéfica ao réu. Provimento parcial.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0019.03.900006-2/001 - COMARCA DE ALPINÓPOLIS - APELANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS - APELADO(S): ANTÔNIO LOURENÇO ROSA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das

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notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Belo Horizonte, 06 de abril de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Alpinópolis, Antônio Lourenço Rosa, como incurso nas sanções do art. 121, §2º, IV, c/c art.14, II, do CP, por ter, em 9 de dezembro de 2001, por volta das 13h30m, tentado matar a vítima Sebastião Ribeiro de Souza.

O Tribunal do Júri considerou o réu culpado, conforme Termo de Votação de Quesitos a fls.120 e segs. e o MM. Juiz presidente, em sentença a fls.122 e segs., condenou-lhe a 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de reclusão em regime aberto.

Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas razões a fls.130 e segs., nas quais pugna pela majoração da pena.

As contra-razões ministeriais a fls.140 e segs. são pela manutenção da sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a fls.151 e segs., manifestou-se pelo conhecimento e provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Sem razão, o Ministério Público.

O fato de o réu ter o hábito de embriagar-se, pode até ser uma atitude moralmente condenável, mas o Direito há tempos já não se confunde com moral ou religião, devendo o magistrado limitar-se a condenar o réu por condutas expressamente tipificadas na lei

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penal.

Impor uma majoração em sua reprimenda pelo hábito que tem de embriagar-se, equivaleria a condená-lo pelo uso de álcool em flagrante afronta ao princípio constitucional da legalidade.

Por outro lado, o réu não foi denunciado por lesões corporais em continuidade delitiva e, portanto, sua pena não pode ser majorada pelo fato de "sempre que bebia, batia em Maria Rosa".

Ainda que a lesão corporal seja tipificada na lei penal, deve o réu defender-se dos fatos narrados na denúncia, não podendo ser condenado ou mesmo ter sua pena aumentada por uma circunstância pela qual não foi acusado.

A esse respeito Túlio Vianna comenta:

"Ao condenar o réu a um ano de prisão com base em alguns fatos absolutamente atípicos sob o argumento de ser uma "conduta social imprópria" ou "personalidade deturpada", nada mais estará fazendo do que desprezar completamente um dos mais tradicionais princípios de Direito Penal. Ofenderá também o princípio do devido processo legal, pois se o indivíduo foi acusado de roubar um banco, irá defender- se deste fato tão-somente e não de supostas lesões corporais à esposa e tráfico de drogas alegado pelas testemunhas. O aumento da pena com base em supostos crimes que mesmo que provados nos autos não foram objeto de processo para apurá-lo é absolutamente inconstitucional, pois em última análise configura em condenação sem o devido processo legal." (VIANNA, Túlio Lima. Pena - Fixação: roteiro didático. Revista Síntese de direito penal e processual penal, Porto Alegre, a.4, v.19, p. 54-61, abril/maio de 2003.)

Por outro lado, a certidão a fl.23 indica tão- somente que o réu já foi acusado por porte ilegal de arma, sendo beneficiado com a suspensão condicional do processo, o que nem de longe é suficiente para desfazer a presunção constitucional de inocência.

Vale lembrar o art.5º, LVII, da Constituição Federal:

"Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória"

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Impossível, pois, considerar, de qualquer forma, meras acusações em desfavor do réu, pois é a própria Constituição Federal que presume sua não culpabilidade e, conseqüentemente, devemos esperar sua absolvição e não a sua condenação.

Mantenho, pois, a pena-base no mínimo legal.

Em relação à redução da pena face à tentativa, razão assiste ao Ministério Público.

É que, o critério a ser levado em conta para a determinação do quantum da diminuição é, efetivamente, a proporção inversa do iter criminis percorrido.

Assim, ainda que as lesões não tenham gerado efetivo risco de morte, é certo que o disparo acertou a vítima, o que, por si só, indica que o agente percorreu grande parte do iter criminis.

A minoração da pena, no entanto, não deve se dar no seu mínimo legal, pois tais hipóteses são reservadas a casos em que a vítima fique em estado de coma ou tenha efetivo risco de morte.

Pelo exposto, reduzo a pena aplicada, a fl.123, em 8 (oito) anos, tão-somente em 1/2 (um meio), concretizando-a em 4 (quatro) anos de reclusão em regime aberto.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

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Page 57: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.03.404549-2/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 30/03/2004 Data da publicação: 05/05/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Crimes hediondos. Progressão de regime. Admissibilidade. Em respeito ao princípio constitucional da individualização das penas, é perfeitamente possível a progressão de regime, mesmo nos crimes rotulados pela lei 8.072/90 como hediondos. Recurso ministerial desprovido.

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.03.404549-2/001 - COMARCA DE JUIZ DE FORA - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ COMARCA DE JUIZ DE FORA - RECORRIDO(S): MURILO GOUVEA DA SILVA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 30 de março de 2004.

Page 58: TJMG

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de agravo interposto pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais contra a decisão a fls.13 e segs. que deferiu a progressão de regime, do fechado para o semi-aberto, pleiteada pelo sentenciado, Murilo Gouvea da Silva.

As contra-razões da defesa a fls.47 e segs. são pelo desprovimento do recurso.

Em juízo de retratação, a fls.49 e segs., o MM. juiz monocrático manteve a decisão guerreada por seus próprios fundamentos.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a fls.55 e segs., manifestou-se pelo conhecimento e provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Rogata maxima venia aos entendimentos em contrário, mantenho meu posicionamento de que a progressão de regime é perfeitamente admissível, mesmo nos crimes rotulados pela Lei 8.072/90 como hediondos.

É que, a Constituição Federal de 1988 consagrou o princípio da individualização da pena, pelo qual cabe ao legislativo cominar parâmetros mínimos e máximos de pena em abstrato, que deverão ser fixados, no caso concreto, pelo judiciário.

Assim, ao estabelecer o regime integralmente fechado para todo e qualquer crime hediondo, o legislador excedeu a sua competência, pois não cominou parâmetros, mas fixou pena.

Pelo exposto, coerente com meus posicionamentos anteriores, nego provimento ao agravo, mantendo, na íntegra, a muito bem fundamentada sentença monocrática.

Page 59: TJMG

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

Page 60: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0024.01.094047-6/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 09/03/2004 Data da publicação: 06/04/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Homicídio. Recurso que dificultou a defesa da vítima. Colegas de cela. Não caracteriza a qualificadora do recurso que dificultou a defesa da vítima o fato de o agente ter sido morto por seu companheiro de cela, não podendo assim empreender fuga. O fato de encontrar-se preso não foi criado pelo agente, o que descaracteriza a ação ardilosa típica da qualificadora. Recurso a que se dá provimento parcial.

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 1.0024.01.094047-6/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - RECORRENTE(S): GIOVANNI JOSÉ DA SILVA - RECORRIDO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ COMARCA BELO HORIZONTE - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Page 61: TJMG

Belo Horizonte, 09 de março de 2004.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto por Giovanni José da Silva, inconformado com a sentença, às fls.294 e segs. que o pronunciou nas sanções do art. 121, §2º, II e IV, ambos do CP, por ter, em 12 de julho de 2001, por volta das 0h40m, no interior da cela nº 09, da Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio, matado a vítima, Márcio Pereira dos Santos.

As contra-razões, às fls.332 e segs., são pela manutenção da sentença guerreada.

Em juízo de retratação, às fls.337, a decisão foi mantida por seus próprios fundamentos.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer, às fls.341 e segs., manifestou-se pelo parcial provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A defesa insurge-se tão-somente em relação às qualificadoras.

Não há propriamente, na hipótese dos autos, a utilização de "recurso que dificulta ou impossibilita a defesa da vítima".

O fato de a vítima encontrar-se presa juntamente com seus agressores, certamente dificultou a sua defesa, mas não foi uma situação criada pelos réus, para a prática do delito.

Assim, tal circunstância não caracteriza o ardil que a mens legis do art.121, §2º, IV, do CP pune com maior rigor.

Decoto, pois, essa qualificadora.

Page 62: TJMG

Quanto ao motivo fútil, razão não assiste à defesa.

Há uma significativa desproporção entre a subtração de dois pães e a execução da vítima, o que, em tese, caracteriza o motivo fútil.

Não há, pois, nessa fase processual, como decotar essa qualificadora, pois somente o Tribunal do Júri poderá decidir sobre a futilidade ou não da motivação do agente.

Pelo exposto, dou provimento parcial, tão-somente para decotar da sentença de pronúncia a qualificadora do art. 121, §2º, IV, do CP.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

Page 63: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0686.01.030398-6/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 02/03/2004 Data da publicação: 30/03/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Júri. Nulidade. Parcialidade do juiz. É absolutamente nulo o interrogatório do réu em plenário do Tribunal do Júri em que o juiz presidente indaga ¿se no meio dessa mentirada toda o que é verdade?' Tal manifestação, por sua parcialidade, não é condizente com a figura do Juiz-presidente e certamente influencia o ânimo dos jurados.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0686.01.030398-6/001 - COMARCA DE TEÓFILO OTÔNI - APELANTE(S): JOSÉ GERALDO PEREIRA GOMES - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 1ª V CR COMARCA TEÓFILO OTÔNI - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM ACOLHER PRELIMINAR E ANULAR O JULGAMENTO DO APELANTE.

Belo Horizonte, 02 de março de 2004.

Page 64: TJMG

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Teófilo Otoni, José Geraldo Pereira Gomes como incurso nas sanções do art. 121, §2º, II do CP, por ter, em 23 de setembro de 2001, por volta das 18h, matado a vítima Maria de Lourdes Mendes Ribeiro.

O Tribunal do Júri considerou o réu culpado conforme Termo de Votação de Quesitos a fls.199 e segs. e a MMª. Juíza presidente, em sentença a fls.203/204, condenou-lhe a 12 (doze) anos de reclusão em regime integralmente fechado.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões a fls.210 e segs., nas quais pugna pela nulidade do processo pela parcialidade manifestada pela MMª. Juíza, no interrogatório em plenário, e pela nulidade verificada pela contradição entre as respostas dadas aos quesitos da série da legítima defesa e da qualificadora do motivo fútil. No mérito, requer o culto Defensor Público a cassação da decisão por manifestamente contrária à prova dos autos.

As contra-razões ministeriais a fls.219 e segs. são pelo acolhimento da preliminar e, no mérito, pelo improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a fls.230 e segs., manifestou-se pelo acolhimento das preliminares e, no mérito, pelo desprovimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Preliminar de parcialidade da MMa. Juíza:

Assiste inteira razão à defesa.

Page 65: TJMG

Ficou evidente a parcialidade da MMa Juíza, que encontra-se documentada e assinada a fl. 198, TJ:

"... que perguntado se no meio desse mentirada toda o que é verdade respondeu que tudo que respondeu aqui é verdade; (sic)"

Esse simples trecho do interrogatório já é mais do que suficiente para se anular o júri por manifesta parcialidade da julgadora.

Não se pode admitir que, um juiz, que preside um júri, manifeste-se de forma tão desrespeitosa para com o réu, até porque, evidentemente, estará influenciando na convicção dos jurados.

A nulidade é visível e remete-nos a era dos julgamentos inquisitoriais, nos quais a figura do magistrado confundia- se com a do acusador.

No Estado Democrático de Direito consagrado pela Constituição de 1988, não há espaço para tamanho desrespeito com o acusado que, antes de tudo, é um cidadão a quem a Constituição presume inocente.

Pelo exposto, sem maiores delongas, acolho a preliminar e anulo o júri, com base no art.564, I, do CP.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : ACOLHERAM PRELIMINAR E ANULARAM O JULGAMENTO DO APELANTE.

Page 66: TJMG
Page 67: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0216.99.005787-1/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 10/02/2004 Data da publicação: 23/03/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Uso de documento falso. Erro de tipo. Age em erro de tipo aquele que apresenta documento falso à autoridade policial, julgando tratar-se de documento legítimo adquirido por meio de corrupção de funcionário público do órgão de trânsito competente. Recurso provido.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0216.99.005787-1/001 - COMARCA DE DIAMANTINA - APELANTE(S): VALENTIM CÂNDIDO SOARES DE OLIVEIRA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 1ª SECRETARIA JUÍZO COMARCA DIAMANTINA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO O RELATOR E O REVISOR, VENCIDO O VOGAL.

Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 2004.

Page 68: TJMG

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

O julgamento deste feito foi adiado na sessão do dia 03.02.2004, a meu pedido, após votarem Relator e Revisor dando provimento.

O meu voto é o seguinte:

Pedi vista dos autos para um melhor exame dos fundamentos do recurso e cheguei à conclusão de que improcede o inconformismo do apelante, ao contrário do que pensam os ilustres Relator e Revisor.

As provas de sua culpabilidade foram bem examinadas e, diante delas, a condenação era mesmo de rigor.

O alegado desconhecimento pelo réu da falsidade do documento não procede. Quem, como ele, que já havia tentado na sua cidade obter Carteira de Habilitação regularmente, ou seja, através do DETRAN, como afirmou, e a adquire, posteriormente, em uma auto- escola, sabe de sua inautenticidade. Obviamente, o apelante não é exceção à regra. Não se trata de pessoa bisonha ao ponto de supor que pode se habilitar em auto-escola, local destinado apenas aos treinamentos, como é do conhecimento de todos.

Disse o apelante que chegou em Itapevi, cidade do Estado de São Paulo, compareceu em uma auto-escola, onde realizou os exames médico, psicotécnico, legislação e de direção, recebendo, alguns dias depois a CNH, da mesma pessoa que o havia levado à referida cidade, um tal de Lúcio, residente na localidade de Pedra Menina, município de Rio Vermelho/MG.

Portanto, não há como falar-se em ausência de dolo. Conforme ensina DELMANTO, "o elemento subjetivo é o dolo genérico, que consiste na vontade do uso e no conhecimento da falsidade", sendo que "a dúvida sobre esta não exclui o dolo." (Direito Penal, 12ª ed., 1980, vol. 4, pág. 166).

As penas aplicadas desmerecem qualquer censura, tendo o MM. Juiz analisado percucientemente as circunstâncias judiciais do art. 59, do CP, não havendo, nesse ponto, também, qualquer

Page 69: TJMG

modificação a se operar.

Pelo exposto, pedindo vênia ao eminente Des. Relator, que se fez acompanhar pelo Revisor, nego provimento ao recurso.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO O RELATOR E O REVISOR, VENCIDO O VOGAL.

Page 70: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0479.00.010481-6/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 17/02/2004 Data da publicação: 17/03/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Prestação pecuniária. Incapacidade econômica. O valor da pena de prestação pecuniária não pode exceder o valor recebido mensalmente pelo réu, pois ninguém pode ser obrigado ao impossível.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0479.00.010481-6/001 - COMARCA DE PASSOS - APELANTE(S): JORGE DAHER NETO - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 1ª CR PREC EXEC COMARCA PASSOS - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM REJEITAR PRELIMINARES E, NO MÉRITO, DAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 17 de fevereiro de 2004.

Page 71: TJMG

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Passos, Jorge Daher Neto como incurso nas sanções do art.16 da Lei 6368/76 e art.10 da Lei 9437/97 e art.10, §1º, III, da Lei 9437/97, por ter sido flagrado, em 28 de março de 2000, no período da manhã, trazendo consigo droga ilegal e portando um revólver, ambos sem qualquer autorização legal. Consta ainda que o acusado teria efetuado disparos com a arma em via pública.

A sentença monocrática às fls.71 e segs. absolveu-o das acusações do art.10, §1º, III, da Lei 9437/97, condenando-o nos demais crimes pelo qual fora denunciado a uma pena total de 1(um) ano e 6 (seis) meses de detenção e ao pagamento de 30 (trinta) dias-multa com valor unitário mínimo.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às fls.88 e segs., nas quais pugna, em preliminar, pela nulidade da decisão e, no mérito, pela minoração das reprimendas aplicadas.

As contra-razões ministeriais às fls.93 e segs. são pelo provimento parcial do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.101 e segs., manifestou-se pelo conhecimento do recurso, rejeição das preliminares e improvimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Preliminar de nulidade do feito por indeferimento da suspensão condicional do processo:

A suspensão condicional do processo não era possível no presente caso, pois a soma das penas mínimas cominadas aos delitos superava o limite de 1 (um) ano.

Page 72: TJMG

Neste sentido a súmula 243 do STJ:

"O benefício da suspensão condicional do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de 1 (um) ano."

Rejeito, pois, a primeira preliminar.

Preliminar de incompetência do magistrado monocrático:

A lei 10.409/02 define em seus arts.37 e segs. procedimento especial para os crimes relativos a substâncias entorpecentes, o que foge ao rito e à competência dos juizados especiais criminais.

Neste sentido tem entendido o TJMG:

"A lei 10.259/2001 não alterou a competência da Justiça comum para processamento do crime de uso de drogas ilícitas, nos termos dsa Leis 6.368/76 e 10.409/2002. A competência para julgamento é da Justiça comum, pois a Lei 10.409 de 2002 prevê procedimento incompatível com os princípios informadores dos Juizados Especiais Criminais" TJMG - CN 329.944-3 - Relatora Des. Jane Silva.

Rejeito, pois, a segunda preliminar.

Mérito:

No mérito, assiste inteira razão ao apelante.

Ninguém pode ser obrigado ao impossível e é impossível exigir-se o pagamento de 2 salários mínimos a quem tinha um salário mensal a época dos fatos inferior a este valor.

Destarte, converto sua pena em prestação de serviços à comunidade em entidade a ser designada pelo juízo da execução.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Page 73: TJMG

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : REJEITARAM PRELIMINARES E, NO MÉRITO, DERAM PROVIMENTO.

Page 74: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.00.350265-5/000(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 10/02/2004 Data da publicação: 10/03/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Agravo. Progressão de regime. Falta de vagas. Prisão domiciliar. Se a ninguém é lícito alegar sua própria torpeza, não pode, "mutatis mutandis", o Estado alegar sua própria ineficiência em construir estabelecimentos prisionais para manter sentenciado em regime mais severo do que aquele que tem direito. Não existindo vagas em casas de albergados, solução outra não há senão a concessão de prisão domiciliar.

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.00.350265-5/000 - COMARCA DE CARMO DO RIO CLARO - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ COMARCA CARMO DO RIO CLARO - RECORRIDO(S): CLÁUDIO ANTÔNIO DA SILVA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM NEGAR PROVIMENTO, VENCIDO O VOGAL.

Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 2004.

Page 75: TJMG

DES. ERONY DA SILVA - Relator>>>

03/02/2004

TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

ADIADO

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.00.350265-5/000 - COMARCA DE CARMO DO RIO CLARO - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ COMARCA CARMO DO RIO CLARO - RECORRIDO(S): CLÁUDIO ANTÔNIO DA SILVA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de agravo interposto pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais contra a decisão à fl. 47 - TJ, que concedeu ao agravado o direito de cumprir pena em regime de prisão domiciliar, na ausência de vagas para seu cumprimento em regime aberto.

Em juízo de retratação, à fl. 14, a decisão agravada foi mantida por seus próprios fundamentos.

As contra-razões da defesa às fls.15 e segs. são pelo desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.25 e segs., manifestou-se pelo conhecimento e provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Dentre os requisitos objetivos para a concessão da progressão de regime constantes no art.112 da Lei de Execução Penal não há

Page 76: TJMG

qualquer referência expressa ou implícita à existência de vaga no regime menos severo.

Não pode o magistrado em sede de execução penal criar um novo requisito objetivo para a concessão da progressão de regime: a existência de vaga.

Tudo o que se deve observar para a concessão da progressão de regime é tão-somente o cumprimento pelo condenado de ao menos um sexto da pena e seu mérito que deverá ser subjetivamente analisado. Nada mais.

Condicionar a progressão de regime à existência de vaga é afrontar o princípio constitucional da legalidade, criando por via jurisprudencial, novo requisito objetivo à progressão de regime, jamais concebido pelo legislador.

As normas penais devem ser interpretadas restritivamente, como toda e qualquer norma que restringe direitos fundamentais da pessoa humana.

Assim, na ausência de vaga para o cumprimento da pena em regime aberto, não pode o sentenciado ter seus direitos lesados pela simples ineficácia do Estado em gerir seu sistema de segurança pública.

Há um velho brocardo jurídico que afirma que: nemo auditur propriam turpitudinem allegans, ou em bom português: ninguém pode alegar sua própria torpeza.

Mutatis mutandis, não pode o Estado alegar sua própria ineficiência para restringir os direitos dos seus cidadãos.

Assim já decidiu o STJ:

"Se o Estado, que condena o acusado a cumprir pena prevista na lei, não tem local adequado para que ela seja cumprida nos termos da decisão que, por seu agente, entendeu de lavrar, não é possível manter o sentenciado em condições prisionais que extrapolem aquelas estritamente descritas na sentença. Recurso provido, para que o acusado cumpra a pena, excepcionalmente, em regime aberto ou, na falta de casa de albergado, em regime domiciliar, até que o Juízo das Execuções assegure vaga em estabelecimento

Page 77: TJMG

adequado" (STJ, RHC 9.289-SP, 5ª T., rel. Edson Vidigal, 07.12.1999, v.u., DJ 21.02.2000, p.141).

Pelo exposto, nego provimento ao recurso ministerial.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Peço vista.

SÚMULA: O RELATOR E 1º VOGAL NEGAM PROVIMENTO. PEDIU VISTA O 2º VOGAL.

>>>

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

O julgamento deste feito foi adiado na sessão do dia 03/02/2004, a meu pedido, após votarem o Relator e o Primeiro Vogal negando provimento.

O meu voto é o seguinte:

Pedi vista destes autos na sessão anterior para um melhor exame dos fundamentos do recurso e pude observar que o recorrente argüiu, em sede prefacial, a nulidade da decisão que concedeu ao recorrido o benefício da prisão domiciliar sem a oitiva prévia do representante do Ministério Público e tanto o Des. Relator quanto o 1º Vogal, por um lapso, deixaram de examinar tal questão, o que o faço agora.

Realmente, dispõe o art. 67, da Lei de Execuções Penais, que cabe ao Ministério Público fiscalizar a execução da pena e diante disso, é intuitivo que deva opinar previamente às decisões, sob pena de nulidade das mesmas.

Page 78: TJMG

Analisando o dispositivo à luz da ação fiscalizadora da Promotoria de Justiça, orienta Mirabete - "Execução Penal", Ed. Atlas, 1987, pág. 217 - que "não sendo dada oportunidade de manifestação ao Ministério Público, ocorrerá nulidade, salvo as hipóteses previstas expressamente no Código de Processo Penal (arts. 563, 565 e 566). Devido à imperiosa necessidade da fiscalização da lei, a declaração de nulidade independe de demonstração de prejuízo para o Ministério Público".

E a necessidade da intervenção ministerial vem expressa na jurisprudência pois "estranho que, em processo de execução penal, seja afastada a participação do Ministério Público ... mormente para atingir certas decisões como as pertinentes aos regimes de pena" (RC n. 415.277 do TACSP, retalho de parecer, in "Execução Penal" de Ada Pelegrini Grinover, ed. Max Limonad, ano 1987, pág. 33).

No presente caso, todavia, não há como acolher a presente nulidade pois, tendo sido pessimamente instruído o feito, torna-se impossível comprovar aqui e agora se foi ou não ouvido previamente o representante do Ministério Público, sobre o pedido do condenado, ora recorrido.

Diante disso, rejeito a preliminar invocada.

No mérito, cheguei à conclusão de que o Promotor de Justiça está inteiramente com a razão, ao contrário do que pensam os ilustres Relator e 1º Vogal.

Conforme já tive a oportunidade de me manifestar em diversos processos semelhantes a este, somente pode ser beneficiado com a prisão domiciliar aquele sentenciado cuja situação se enquadrar em uma das hipóteses previstas no art. 117, da Lei de Execuções Penais, ou seja, quando for maior de 70 anos; estiver acometido de doença grave; tratar-se de condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental; ou condenada gestante.

Fora dessas situações, estritamente definidas no mencionado dispositivo, e nas quais o agravado não se enquadra, não é possível conceder o benefício, ainda que a comarca não disponha ou não exista vaga em casa de albergado.

Page 79: TJMG

Aliás, a respeito do tema, o Pretório Excelso já teve a oportunidade de se manifestar, concluindo que:

"... a impossibilidade material de o Estado instituir casa de albergado não autoriza o Poder Judiciário a conceder a prisão-albergue domiciliar fora das hipóteses contempladas, em caráter estrito, no art. 117, da LEP." (Pleno do STF, HC 68.118-2-SP, Rel. Celso de Melo, DJU 25.02.1994).

Esta Terceira Câmara Criminal, no julgamento do "habeas corpus" nº 290.587-5/00, sendo Relatora a Desª. Jane Silva, decidiu:

"Habeas Corpus" - Regime Aberto - Inexistência de vaga em Casa de Albergado - Prisão Domiciliar - Impossibilidade - Constrangimento ilegal - Não- configuração - A inexistência de vaga em Casa de Albergado não autoriza o Poder Judiciário a conceder a prisão-albergue domiciliar fora das estritas hipóteses do art. 117 da LEP - Inexistindo casa de albergado, deve o réu cumprir sua pena no estabelecimento onde se encontra, no regime a que faz jus, recolhendo-se a cela separada das demais destinadas a regime diverso, sem que isso implique em constrangimento ilegal - Ordem Denegada."

No caso, as regras do regime aberto podem perfeitamente ser observadas. Na cadeia pública da comarca, conforme se constata do documento de f.13, há cela destinada àqueles que cumprem pena em regime aberto, existindo duas vagas na mesma, como informou o Delegado de Polícia. Deixar o condenado em sua residência particular, sem qualquer controle ou fiscalização por parte do Estado, realmente significa total impunidade pelo crime praticado.

Portanto, o sentenciado deve recolher-se à cadeia pública à noite e nos finais de semana e feriados, conforme regras do regime aberto, em cela destinada aos condenados que cumprem a sua pena naquele regime.

Pelo exposto, dou provimento ao recurso ministerial, nos termos deste voto.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO, VENCIDO O VOGAL.

Page 80: TJMG
Page 81: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.00.351038-5/000(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 03/02/2004 Data da publicação: 02/03/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Lesão corporal seguida de morte. Ausência de provas. A lesão corporal seguida de morte é crime preterdoloso e, como tal, exige prova incontroversa da existência de uma lesão dolosa e de um homicídio culposo decorrente desta lesão. Havendo prova de que a lesão se deu em legítima defesa e o resultado morte não era previsível e muito menos desejado a absolvição se impõe.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.351038-5/000 - COMARCA DE ESTRELA DO SUL - APELANTE(S): KEILA ADRIANA BARCELOS, FÁTIMA MARIA VIEIRA BARCELOS - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ COM. ESTRELA DO SUL - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO AO RECURSO PARA ABSOLVER AS APELANTES.

Belo Horizonte, 03 de fevereiro de 2004.

Page 82: TJMG

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Estrela do Sul, Keila Adriana Barcelos e Fátima Maria Vieira Barcelos como incursas nas sanções do art.129, §3º, do CP, por terem, em 26 de fevereiro de 2000, por volta das 20h30, agredido a vítima Terezinha Pereira Gama, provocando-lhe lesões que foram causa de sua morte.

A sentença monocrática às fls.116 e segs. julgou procedente a denúncia e condenou ambas as rés a 4 (quatro) anos de reclusão em regime aberto.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às fls.127 e segs., nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais às fls.142 e segs. são pela manutenção da sentença com a concessão da substituição da pena.

As contra-razões do assistente da acusação às fls.150 e segs. são pelo desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.160 e segs., manifestou-se pelo conhecimento e improvimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Rogata maxima venia, entendo que a prova dos autos é demasiadamente frágil para fundamentar uma condenação por crime tão grave.

A lesão corporal seguida de morte é crime preterdoloso e, como tal, exige para a sua configuração dolo no antecedente (lesões) e

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culpa no conseqüente (morte).

No caso dos autos, ainda que se admitisse uma condenação por lesões corporais, certamente estas jamais poderiam ser qualificadas pelo resultado morte, pois não seria previsível que da queda da vítima, originasse o traumatismo craniano que causaria sua morte.

As provas aqui constantes, no entanto, levam à conclusão de que a acusada Keila, agindo em legítima defesa de patrimônio próprio e da integridade física alheia, utilizou-se moderadamente dos meios necessários de que dispunha para repelir a agressão injusta que a vítima praticava em seu estabelecimento.

As provas de um eventual excesso na legítima defesa são absolutamente frágeis e se resumem basicamente nas declarações da testemunha presencial Benita Oliveira dos Reis, amiga da vítima.

Todos os demais depoimentos testemunhais constantes dos autos levam à conclusão diametralmente oposta e não podem ser simplesmente desprezados.

Sebastião Arismar Lopes afirmou à fl.14 na fase policial:

"notou que Keila estava puxando uma conhecida sua e, quando chegou na área do bar deu um empurrão na sua conhecida de nome Terezinha, vindo esta a cair na rua. O depoente chegou até onde estava Terezinha caída e a levantou e, em seguida a levou até a sua casa"

João Manoel Balduino afirmou em juízo à fl.58:

"que percebeu que a vítima Terezinha chegou caindo, pois estava bêbada; que a Keila retirou a vítima Terezinha para fora do bar, quando o chinelo desta virou, vindo a cair sentada do lado de fora da área, no cascalho; que em momento algum a vítima foi empurrada por Keila e nem por Fátima"

Por fim, a prova de que a acusada Fátima teria concorrido de qualquer forma para o resultado morte é simplesmente nula, pois sua suposta participação na agressão só teria se dado após a queda da vítima ao solo, o que exclui qualquer nexo de causalidade

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no resultado morte.

Diante do exposto e por absoluta ausência de provas, solução outra não há no presente caso senão dar provimento ao recurso da defesa para absolver ambas as acusadas nos precisos termos do art.386, VI, do CPP.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Do estudo que fiz, Sr. Presidente, cheguei à mesma conclusão do culto Relator. Não vejo prova suficiente para a condenação, razão pela qual dou provimento ao recurso.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

De acordo com o Relator.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO AO RECURSO PARA ABSOLVER AS APELANTES.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.03.401368-0/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 09/12/2003 Data da publicação: 11/02/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Agravo. Progressão de regime. Homicídio qualificado - privilegiado. O homicídio qualificado-privilegiado não se encontra no rol dos crimes definidos como hediondos e, por uma interpretação restritiva, não se pode considerá-lo como tal, pelo simples fato de o homicídio qualificado assim ser taxado.

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.03.401368-0/001 - COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ V EXEC CR COMARCA GOVERNADOR VALADARES - RECORRIDO(S): FLÁVIO BATISTA DA SILVA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 09 de dezembro de 2003.

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DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de Agravo interposto pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais contra a decisão às fls.7 e segs. que concedeu progressão de regime ao sentenciado Flávio Batista da Silva.

As contra-razões da defesa as fls.13 e segs. são pelo desprovimento do recurso.

Em juízo de retratação às fls.41 e segs. a MMª. Juíza a quo manteve a decisão guerreada por seus próprios fundamentos.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.45 e segs., manifestou-se pelo conhecimento e não-provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Sem razão o agravante.

O acórdão às fls.26/29 é expresso ao definir como inicialmente fechado o regime de cumprimento de pena em relação às condenações por estupro e atentado violento ao pudor.

Quanto ao crime de homicídio qualificado- privilegiado pelo qual foi condenado (art.121, §2º, III, c/c §1º do CP), não há falar em crime hediondo, por absoluta ausência de previsão legal.

É que a Lei 8.072/90, em seu art.1º, I, só faz referência ao homicídio qualificado, nada mencionando quando o homicídio for qualificado e privilegiado ao mesmo tempo.

Duas, então, são as interpretações possíveis na omissão da lei: 1) o homicídio qualificado-privilegiado é hediondo, pois a qualificadora se sobrepõe ao privilégio ou 2) o homicídio qualificado- privilegiado

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não é hediondo, pois o privilégio se sobrepõe à qualificadora.

Como é sabido, as normas que restringem direitos e impõem obrigações devem ser interpretadas restritivamente.

Assim, solução outra não há senão interpretar a hipótese da forma mais benéfica ao réu, considerando o homicídio qualificado-privilegiado como não sendo hediondo e, portanto, perfeitamente possível, em tese, a progressão de regime.

É o entendimento jurisprudencial majoritário:

"Por incompatibilidade axiológica e por falta de previsão legal, o homicídio qualificado-privilegiado não integra o rol dos denominados crimes hediondos" (STJ - RSTJ 122/428)

Diante do exposto, sem maiores delongas, nego provimento ao recurso ministerial.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0024.01.055021-8/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 02/12/2003 Data da publicação: 04/02/2004

Inteiro Teor: EMENTA: Atentado violento ao pudor. Desclassificação. Importunação ofensiva ao pudor. O beijo roubado e toques lascivos superficiais não são suficientes para caracterizar o delito de atentado violento ao pudor que, por sua essência, deve assemelhar-se em gravidade ao crime de estupro. A desclassificação para a contravenção de "importunação ofensiva a pudor" é a única solução possível em casos em que há um efetivo atentado ao pudor que, porém, não se reveste do grau de violência análogo ao existente no crime de estupro. Provimento parcial.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0024.01.055021-8/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): ALEX GERTRUDES CARDOSO - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 9ª V CR COMARCA BELO HORIZONTE - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO

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PARCIAL.

Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2003.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. PRESIDENTE (DES. KELSEN CARNEIRO):

O julgamento deste feito foi adiado na sessão do dia 25/11/03, a meu pedido, após votarem Relator e Revisor dando provimento parcial.

Meu VOTO é o seguinte:

Na sessão passada pedi vista dos autos para um melhor exame e, depois de fazê-lo com atenção, cheguei a mesma conclusão do ilustre Relator, Des. Erony da Silva, que se fez acompanhado pelo em. Revisor, Des. Paulo Cézar Dias.

No presente caso, no mínimo dúvida existe se a ação do acusado, beijando furtivamente a ofendida e passando a mão superficialmente sobre o seu corpo, tinha como escopo a satisfação da lascívia.

Ora, se não ficou claramente demonstrada a intenção libidinosa, a desclassificação realmente se impunha, inclusive, porque a jurisprudência tem considerado atos como os praticados pelo réu como simples importunação ao pudor, como se observa do julgado cuja ementa se transcreve abaixo:

"O beijo roubado, assim como o toque superficial e fugaz, por sobre as vestes, nos seios de uma mulher, não caracterizam a prática de ato libidinoso diverso da conjunção carnal e sim a conduta indecorosa de importunação ofensiva ao pudor" (RT 727/577).

Com essas considerações, também dou provimento parcial ao recurso, nos termos do voto do Relator, Des. Erony da Silva.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0153.02.015883-5/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: PAULO CÉZAR DIAS

Data do acordão: 25/11/2003 Data da publicação: 13/12/2003

Inteiro Teor: EMENTA: Tráfico de drogas - Substituição de pena - O art. 44 do CP, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei nº 9.714/98, não se aplica ao crime de tráfico ilícito de entorpecentes, e de resto a todos os delitos considerados hediondos.

V.V.

Tráfico de drogas. Substituição da pena. Possibilidade. O regime inicial de cumprimento de pena é instituto de natureza jurídica absolutamente diversa da pena substitutiva. Assim, é perfeitamente possível a substituição da pena corporal, mesmo nos crimes rotulados de hediondos em que há a previsão do regime integralmente fechado, pois não há qualquer vedação legal à substituição da pena e esta não pode ser criada pelo Poder Judiciário a partir de uma analogia "in malam partem". Provimento parcial.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0153.02.015883-5/001 - COMARCA DE CATAGUASES - APELANTE(S): RODRIGO MONTEIRO DE SOUZA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 1ª V CR COMARCA CATAGUASES - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA - RELATOR PARA O ACÓRDÃO: EXMO

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SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL, VENCIDO O VOGAL QUE, AO APELO, NEGA PROVIMENTO, PREVALECENDO, NO CASO, O VOTO MÉDIO PROFERIDO PELO REVISOR.

Belo Horizonte, 25 de novembro de 2003.

DES. PAULO CÉZAR DIAS - Relator para o acórdão.

DES. ERONY DA SILVA - Relator vencido.NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Cataguases, Rodrigo Monteiro de Souza como incurso nas sanções do art.12, caput, da Lei 6.368/76, por ter, em 31 de dezembro de 2001, por volta das 15h, sido preso trazendo consigo 59,5g (cinqüenta e nove gramas e meio) de cannabis sativa Lineu, destinada ao comércio ilícito.

A sentença monocrática às fls.55 e segs. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 3 (três) anos de reclusão em regime integralmente fechado e ao pagamento de 50 (cinqüenta) dias-multa com valor unitário mínimo.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às fls.65 e segs., nas quais pugna pela desclassificação para o art.16 da mesma lei.

As contra-razões ministeriais às fls.69 e segs. são pelo desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.77 e segs., manifestou-se pelo conhecimento e improvimento do

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recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A materialidade e a autoria delitivas estão sobejamente comprovadas nos autos.

A desclassificação para o delito do art.16 da Lei 6.368/76 não encontra respaldo no conjunto probatório.

O apelante narrou em seu interrogatório a fls.7 que:

"por volta das 9h, estando trabalhando, linha Bairro São Vicente/Bairro Leonardo, um elemento estranho, estando no ônibus, lhe ofereceu certa quantidade de maconha, lhe pedindo cem reais, entretanto o declarante ofereceu oitenta reais e este aceitou, lhe passando a droga e o declarante pago no ato em dinheiro; que o declarante deixou o serviço às 14h, foi até em casa, trocou de roupas e saiu com a intenção de fumar maconha"

Não é crível que, se a droga fosse destinada meramente a uso próprio, o declarante saísse com sua totalidade sem tomar o cuidado de deixar a maior parte dela guardada em local seguro na sua residência.

Por outro lado, também é bastante suspeito que um cobrador de ônibus gaste R$80,00 (oitenta reais) em maconha para uso próprio, pois comprometeria parte significativa de seu salário.

Aliado a isto, os policiais capturaram o apelante com base em uma "denúncia anônima" de que havia alguém traficando drogas naquele local.

Pelo exposto, não tenho dúvidas de que, de fato, o acusado estava comercializando a droga, razão pela qual mantenho a tipificação dada em primeira instância.

Mantenho ainda o quantum da pena arbitrado em primeira instância no mínimo legal, alterando, no entanto, o regime de

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cumprimento inicial da pena para inicialmente fechado, por entender que a Constituição Federal admite a possibilidade da progressão de regime mesmo nos crimes hediondos.

A este respeito já se decidiu que:

"PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - CRIMES HEDIONDOS. A progressividade no regime de cumprimento da pena, ainda que se tratte dos denominados crimes hediondos, não conflita com a Constituição Federal. Impertinência do recurso extraordinário interposto pelo Ministério Público como fiscal da lei, no que concedido o habeas corpus pelo Superior Tribunal de Justiça, possibilitando a referida progressão.(Recurso extraordinário 261.766-1 - Relator Ministro Marco Aurélio. Publicado no DJU de 17.08.2001)."

Por fim, não constatei nos autos nenhum impedimento à substituição da pena corporal do réu por restritiva de direitos.

Trata-se de réu primário, de bons antecedentes que traficava droga de baixa potencialidade ofensiva (maconha).

Por outro lado, não há qualquer vedação legal à substituição da pena, mesmo na Lei dos Crimes Hediondos que se limita a determinar o regime integralmente fechado, sendo omissa quanto à possibilidade da substituição da pena por restritiva de direitos.

Vale lembrar que a natureza jurídica do regime de cumprimento de pena é absolutamente diversa da pena substitutiva.

O regime deve ser sempre fixado independentemente da substituição da pena, pois em caso do descumprimento da pena restritiva de direito esta se converte em privativa de liberdade e já se deverá ter estabelecido previamente o regime de seu cumprimento.

Assim, a discussão quanto ao regime integralmente fechado é absolutamente independente da possibilidade ou não de se substituir a pena.

É bem possível que o legislador desejasse com a Lei dos Crimes Hediondos manter o réu preso durante todo o período de cumprimento de sua pena, vedando-lhe inclusive a substituição da

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pena.

Concessa venia, no entanto, não foi isso que foi positivado em nosso ordenamento jurídico. Não é isto que está escrito na lei, que se limita a vedar a progressão de regime, sendo absolutamente omissa quanto a uma eventual substituição da pena.

Como em nosso ordenamento jurídico vigora o princípio da legalidade e não se pode aplicar analogia in malam partem em matéria penal, impossível seria negar a substituição da pena ao argumento de que o regime é integralmente fechado, pois estar-se-ia tratando institutos de natureza jurídica absolutamente diversa (regime e penas substitutivas) como análogos, o que é vedado constitucionalmente.

Portanto, sem maiores digressões, substituo-lhe a pena corporal por duas restritivas de direitos a saber:

1. Prestação pecuniária de um salário mínimo a ser destinada a entidade assistencial de tratamento de usuários de drogas;

2. Prestação de serviços a comunidade em entidade a ser designada oportunamente pelo juiz da execução.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

Apenas discordo do douto Relator no que se refere a sua conclusão a respeito da substituição da pena privativa de liberdade.

No meu entendimento, o artigo 44 do Código Penal, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei nº 9.714/98, não se aplica ao crime de tráfico ilícito de entorpecentes, e de resto a todos os delitos considerados hediondos.

Inicialmente, deve-se destacar que a Constituição Federal conferiu tratamento mais rigoroso ao crime de tráfico, a ponto de não permitir certos favores, como a graça, fiança, indulto, e a liberdade provisória, justamente por entender o legislador que, diante no

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maior potencial ofensivo desses crimes, somente a restrição total da liberdade se apresenta suficiente à sua reprovação e prevenção.

Igualmente, não se deve olvidar que a Lei Antitóxicos, bem como a Lei dos Delitos Hediondos, são especiais em relação à Lei 9.714/98, e, no confronto entre elas, devem prevalecer as duas primeiras, pois têm ambas uma sistemática própria no que pertine à cominação legal de penas, incompatível com o benefício introduzido no art. 44 do CP.

Nesse sentido, também, a jurisprudência dos Tribunais Superiores vem se manifestando pela impossibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos aos crimes considerados hediondos, como se vê do seguinte aresto, proveniente do STJ:

"PENAL - CRIME HEDIONDO - TRÁFICO DE ENTORPECENTES - SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS - APLICAÇÃO DO ART. 44 E SEGUINTES DO CÓDIGO PENAL (LEI Nº 9.714/98) - IMPOSSIBILIDADE - 1. A lei nº 9.714/98 introduzindo modificações nos arts. 44 e seguintes do Código Penal, no que tange à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, não se aplica aos crimes hediondos que têm regulação específica, daí porque o condenado por tráfico (art. 12, da Lei nº 6.368/76), não tem direito ao benefício. Precedentes do STF e desta Corte. 2. Recurso conhecido em parte". (RESP 341615 - MG - 6a. T. - Rel. Min. Fernando Gonçalves - DJU 25.03.2002).

Com essas considerações, dou parcial provimento ao recurso tão-somente para alterar o regime de cumprimento da pena para o inicialmente fechado.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Discordo, data venia, dos eminentes Relator e Revisor, no que diz respeito à progressão do regime prisional do apelante. Tenho sempre, aqui, repetido que, tratando-se de crime hediondo, como é o tráfico de entorpecentes, de acordo com a Lei 8072/90, não é possível a progressão.

Discordo, também, agora do eminente Des. Relator com relação à substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de

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direito.

Resumindo, nego provimento ao recuso.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL, VENCIDO O VOGAL QUE, AO APELO, NEGA PROVIMENTO, PREVALECENDO, NO CASO, O VOTO MÉDIO PROFERIDO PELO REVISOR.

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Câmara

Número do processo: 1.0024.02.733495-2/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: PAULO CÉZAR DIAS

Data do acordão: 18/11/2003 Data da publicação: 13/12/2003

Inteiro Teor: EMENTA: Tráfico de drogas - Substituição de pena - O art. 44 do CP, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei nº 9.714/98, não se aplica ao crime de tráfico ilícito de entorpecentes, e de resto a todos os delitos considerados hediondos.

V.V.

Lei Antitóxicos. Art. 12. Absolvição por ausência de comprovação da autoria. Impossibilidade. Conjunto probatório que demonstra a prática mercantil ilícita realizada pelo apelante. Pena. Substituição por medidas restritivas de direitos. Cabimento. Inexistência de óbice legal. Conveniência da outorga do benefício. Requisitos subjetivos e objetivos preenchidos pelo réu. Regime prisional. Alteração para inicial fechado. Necessidade. Recurso parcialmente provido. O crime hediondo não é óbice a que, presentes os requisitos legais, seja o condenado beneficiado pela substituição da pena prevista no art. 44, do Código Penal.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0024.02.733495-2/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 3ª V TÓXICOS COMARCA BELO HORIZONTE -

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RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA - RELATOR PARA O ACÓRDÃO: EXMO SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL, O RELATOR E O REVISOR, VENCIDO O RELATOR EM PARTE, ENQUANTO O VOGAL NEGA PROVIMENTO, PREVALECENDO O VOTO MÉDIO, PROFERIDO PELO REVISOR.

Belo Horizonte, 18 de novembro de 2003.

DES. PAULO CÉZAR DIAS - Relator para o acórdão.

DES. ERONY DA SILVA - Relator vencido.NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Na 3ª Vara de Tóxicos da Capital, José Rodrigues dos Santos, vulgo "Botijão" e Paulo Augusto Pereira França, já qualificados, foram denunciados, respectivamente, nas penas dos artigos 12 e 16 da Lei Antitóxicos, porque no dia 25 de maio de 2002, por volta das 11:45h, policiais militares, averiguando denúncia anônima de comércio de drogas clandestino na Rua Gama, nº.62, onde residia o primeiro, dirigiram-se até o local e encontraram, dentro de um armário, 17 (dezessete) pedras de "crack" e dois invólucros de maconha, destinados à prática mercantil, sendo que dentro da "mochila" do segundo ainda foi apreendida outra pequena porção de maconha, cuja finalidade seria o uso próprio.

O processo foi desmembrado em relação ao acusado Paulo França, conforme consta do termo de audiência de f.53.

Ao final, julgando procedente a denúncia, o MM. Juiz incursou José Rodrigues dos Santos no art. 12 da Lei Antitóxicos, condenando-lhe à pena mínima - 03 (três) anos de reclusão, no regime integralmente fechado, e ao pagamento de 50 (cinqüenta) dias-multa, no valor unitário mínimo.

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Irresignado, o réu interpôs recurso, e nas razões de f.127/128 pugnou pela absolvição, forte na exculpação de incomprovação da autoria. Alternativamente, pretende a desclassificação para o tipo menos gravoso e, ainda, a substituição da pena corporal por medidas restritivas de direitos, bem como a modificação do regime prisional para o inicial fechado.

As contra-razões de f.131/137 abraçam as conclusões da sentença.

A douta Procuradoria de Justiça, em parecer de f.141/143, opina pelo não provimento.

No essencial, é o relatório.

Presentes os pressupostos da admissibilidade, sendo o recurso próprio e tempestivo, dele conheço.

A materialidade está positivada no auto de apreensão de f.21, laudo de constatação de f.16 e laudo toxicológico definitivo de f.63.

A autoria, ao contrário do alegado, restou sobejamente comprovada.

Exsurge dos autos que, na data dos fatos, uma guarnição policial foi designada pelo Copom para averiguar denúncia anônima sobre tráfico de drogas praticado pelos indivíduos alcunhados "Saramandaia" e "Botijão", na R. Gama, nº.62, bairro Bonfim.

Ao chegarem no local, os militares encontraram o apelante que, ao ser indagado, confessou o comércio ilícito, mostrando-lhes um armário, onde, dentro de uma gaveta, estavam acomodadas 17 (dezessete) pedras de "crack" e 02 (dois) invólucros de maconha.

Ouvido na fase extrajudicial, ainda no embrasamento dos fatos, José Rodrigues foi detalhista: "...esclarece o declarante que não reside no local dos fatos, mas que lá comparece uma ou duas vezes por semana e permanece nessa casa fazendo faxina, mas, de vez em quando, na ausência da "Sara", quando chega alguém para comprar droga, faz a venda, uma vez que a "Sara" lhe deixa ciente do local onde as substâncias ficam guardadas e quando vende alguma droga recebe uma "micharia", ou seja, gratificação"; (f.08).

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Em juízo, retratou-se das alegações iniciais, dizendo: "...que não confirma as declarações prestadas perante a autoridade policial lidas neste ato; que as declarações que teriam sido prestadas pelo declarante, na verdade, teriam sido ditas pelos policiais militares, portanto não confirma;" (f.82).

A retratação judicial restou escoteira nos autos, pois a prova testemunhal o incrimina.

O policial Marco Túlio Germano, à f.95, declara: "...que no dia dos fatos, tal seja, 25.05.02, por volta das 11:45 horas o depoente para lá se dirigiu juntamente com outros policiais e lá chegando foram recebidos pelo acusado José Rodrigues dos Santos, conhecido na região por "Bujão", o qual confessou que realmente estava comercializando drogas naquele local... (...); que debaixo do tapete, junto a uma janela, foi encontrada uma importância de R$90,50, que o próprio "Bujão" disse que era produto de venda de drogas; que "Bujão" disse ainda que vendia as drogas para o travesti cognominado "Saramandaia", o qual não foi identificado nem localizado;".

O depoimento supra merece ser amplamente recebido, especialmente porque não há indícios de má-fé ou abuso de poder, mesmo porque o miliciano sequer conhecia o acusado antes dos fatos.

A prova testemunhal obtida por relatos policiais não se desclassifica tão-só em razão da peculiar condição profissional dos depoentes, na suposição de que tendem a demonstrar a validade do trabalho realizado; é preciso evidenciar que tenham interesse particular na investigação, o que não é o caso dos autos.

Ademais, além de não conseguir provar qualquer ameaça ou pressão sofrida na Delegacia para confessar o crime, José Rodrigues reconheceu, como sua, a assinatura lançada no auto de prisão em flagrante.

Não restam dúvidas que o apelante, embora não tenha sido flagrado em ato explícito de venda de drogas, dedicava-se ao tráfico, fazendo as vezes de "Saramandaia" quando este estava ausente.

Nesse contexto, não se tem como albergar a tese desclassificatória,

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até porque, na Polícia, o apelante foi taxativo: "...não é usuário de drogas."

A incidência exclusiva do art. 16, que comina pena mais branda, só é admissível quando totalmente descartada a possibilidade de que o guardar, o adquirir ou trazer consigo possa vir a ser destinado a um fim que não o uso próprio.

Destarte, a incursão no art. 12 da Lei Antitóxicos era mesmo de rigor.

A pena está correta, mas, a meu aviso, merece ser substituída.

A despeito da natureza hedionda do delito cometido, reputo necessária a outorga do benefício.

Com efeito.

Preenchidos os requisitos legais objetivos e subjetivos, previstos no art. 44 do Código Penal, com as alterações trazidas pela Lei 9.714/98, nenhum impedimento há para que a reprimenda corporal, no caso do crime de tráfico, seja substituída.

A alegação de ser delito hediondo não convence, já que a legislação pertinente não fez qualquer restrição neste sentido, sendo incabível ao intérprete fazê-la.

Esse entendimento, inclusive, está afinado com a conclusão de que a Lei 8.072/90 não veda a concessão do sursis. Ora, se é cabível a suspensão da execução da pena em sede de crime hediondo, que também é medida penal sancionatória alternativa, afigurar-se-ia contraditório vedar a substituição da pena, desde que obedecidos os demais requisitos reclamados.

Obviamente que a aplicação das penas substitutivas não pode ser feita de forma indiscriminada, pois não se pode olvidar, como mencionado, os requisitos subjetivos.

Cabe, portanto, ao julgador valorar o réu e a conduta criminosa, verificando a conveniência e oportunidade da substituição da pena prisional por restritiva de direito, para fins de prevenção e repressão do crime.

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No caso destes autos, trata-se de réu primário, de bons antecedentes, sem qualquer registro de passagens anteriores no mundo da traficância (vide certidão de f.93), e que, certamente, era usado como instrumento do travesti conhecido por "Saramandaia", verdadeiro proprietário da residência onde a droga foi encontrada.

Aliás, ao ser submetido a exame de sanidade mental, o qual concluiu pela sua imputabilidade, o apelante declarou-se homossexual, fato que reforça ainda mais a conclusão de que "Saramandaia" sobre ele exercia certa influência.

O apelante não pode ser tratado como um verdadeiro traficante, que vive desse pernicioso negócio, buscando o lucro financeiro, sem qualquer pudor, na luta da sobrevivência diária.

Destarte, com fulcro no art. 44, §2º, substituo a pena privativa de liberdade por duas medidas restritivas de direito, a saber, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, conforme definido pelo Juiz da execução, e limitação de fim de semana, observado o que dispõe o art. 48 do Código Penal.

Desse modo, excepcionalmente, observadas as circunstâncias de cada caso, como ocorre na presente apelação, tenho adotado o entendimento de que é possível a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos.

Ademais, socorro-me das lições do Prof. Francisco de Assis Toledo que, junto com outros juristas, publicou excelente monografia a respeito do tema, in verbis:

"Assim, continuam excluídos da possibilidade de aplicação de pena alternativa, os seguintes crimes hediondos ou equiparados:

a) o homicídio, qualificado ou não, por se tratar de crime de ação violenta e por ter pena mínima superior a quatro anos;

b) a extorsão, em suas variadas formas, devido à violência ou grave ameaça e, ainda, em certas hipóteses, pela elevação da pena mínima acima do limite de quatro anos;

c) o estupro e o atentado violento ao pudor, pelas razões da letra

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"a";

d) a epidemia, com ou sem resultado morte, por ter pena mínima acima do limite;

e) o genocídio, nas modalidades do art. 1º, letras "a" e "c", da Lei 2.889/56, pela pena mínima superior ao limite e, nos demais casos, se houver violência ou grave ameaça;

f) a tortura (Lei 9.455/97) e o terrorismo, por serem crimes praticados mediante violência ou grave ameaça.

45. Restou, portanto, fora desse rol de proibição o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, em suas várias modalidades (Lei 6.368/76), já que, em todas elas a pena mínima cominada não ultrapassa quatro anos (mesmo com a causa de aumento do art. 18)."

E continua:

"O fato de que o tráfico "passou a ser tratado com extremo rigor desde o advento da Constituição de 1988"não constitui argumento suficiente para invalidar a opção do legislador.

Ao contrário, esse tratamento rigoroso tem estimulado excessos de certos promotores e de alguns juízes que não percebem, ou não distinguem convenientemente, a fronteira entre a doença do vício e a ganância do tráfico, capitulando e condenando por tráfico portadores de vício, a penas elevadas.

47. Como a zona fronteiriça entre o vício e o tráfico nem sempre é muito nítida, a possibilidade de aplicaçãio aos casos ocorrentes da pena substitutiva é uma boa solução, permitindo a correção ou a atenuação daqueles excessos.

48. Para os traficantes, exploradores do vício, verdadeiros mentores e responsáveis por essa praga que aflige a sociedade deste fim de século, não haverá certamente pena alternativa, seja pela normal elevação da pena concretizada, na sentença, acima do limite de quatro anos, seja pelas exigências do requisito do inciso III do art. 44, que eles, sem dúvida alguma, não preencherão, ante os motivos que os impelem e as circunstâncias que não os recomendam." (Penas Restritivas de Direitos, RT, ed. 1999, pp.

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146/147).

Por derradeiro, o regime prisional também está a merecer reparação.

É certo que os crimes etiquetados ou assemelhados à hediondos submetem-se aos ditames da Lei 8.072/90, que menciona em seu artigo 2º, §1º, ser obrigatório o cumprimento da pena, por delito previsto como hediondo, integralmente em regime fechado.

Venho sustentando que a imposição de regime integralmente fechado implica em determinação de pena cruel, pois retira do condenado o estímulo e a esperança necessários para o cumprimento das reprimendas impostas, o que foi reprimido pelo legislador constituinte, ao estabelecer o princípio da humanidade das penas.

Lado outro, a questão há de ser interpretada conforme o princípio da individualização da pena contido na nossa Constituição Federal, devendo, igualmente, serem individualizados os regimes prisionais, que se fazem de forma progressiva.

Assim, modifico o regime prisional do apelante para o inicial fechado, no qual deverá cumprir a pena privativa de liberdade se, por algum motivo, houver a revogação do benefício da substituição, de acordo com o §4º do art. 44 do C. Penal.

Do exposto, dou parcial provimento ao recurso para, mantida a condenação e a pena aplicada, modificar o regime prisional para o inicial fechado, bem como substituir a pena privativa de liberdade por duas medidas restritivas de direitos, nos termos do art. 44 do Código Penal.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Apenas discordo do douto Relator no que se refere a sua conclusão a respeito da substituição da pena privativa de liberdade.

No meu entendimento, o artigo 44 do Código Penal, com a nova redação que lhe foi dada pela Lei nº 9.714/98, não se aplica ao crime de tráfico ilícito de entorpecentes, e de resto a todos os delitos considerados hediondos.

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Inicialmente, deve-se destacar que a Constituição Federal conferiu tratamento mais rigoroso ao crime de tráfico, a ponto de não permitir certos favores, como a graça, fiança, indulto, e a liberdade provisória, justamente por entender o legislador que, diante do maior potencial ofensivo desse crimes, somente a restrição total da liberdade se apresenta suficiente à sua reprovação e prevenção.

Igualmente, não se deve olvidar que a Lei Antitóxicos, bem como a Lei dos Delitos Hediondos, são especiais em relação à Lei 9.714/98, e, no confronto entre elas, devem prevalecer as duas primeiras, pois têm ambas uma sistemática própria no que pertine à cominação legal de penas, incompatível com o benefício introduzido no art. 44 do CP.

Nesse sentido, também, a jurisprudência dos Tribunais Superiores vem se manifestando pela impossibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos aos crimes considerados hediondos, como se vê do seguinte aresto, proveniente do STJ:

"PENAL - CRIME HEDIONDO - TRÁFICO DE ENTORPECENTES - SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS - APLICAÇÃO DO ART. 44 E SEGUINTES DO CÓDIGO PENAL (LEI Nº 9.714/98) - IMPOSSIBILIDADE - 1. A lei nº 9.714/98 introduzindo modificações nos arts. 44 e seguintes do Código Penal, no que tange à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, não se aplica aos crimes hediondos que têm regulação específica, daí porque o condenado por tráfico (art. 12, da Lei nº 6.368/76), não tem direito ao benefício. Precedentes do STF e desta Corte. 2. Recurso conhecido em parte". (RESP 341615 - MG - 6a. T. - Rel. Min. Fernando Gonçalves - DJU 25.03.2002).

Com essas considerações, dou provimento parcial ao apelo apenas para fixar o regime inicialmente fechado para o cumprimento da pena privativa de liberdade.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Assim como o Des. Relator, também entendo não ser possível acolher a pretensão do apelante de se ver absolvido. Tampouco a de ter desclassificado para sua forma menos gravosa. A prova dos autos é toda no sentido do cometimento do crime de tráfico de

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entorpecentes.

Quanto ao regime imposto para o cumprimento da pena, pedindo vênia ao eminente Desembargador Erony da Silva, também concordo com o Juiz sentenciante.

Conforme já afirmei por reiteradas vezes, "a Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90) estabelece no seu art. 2º, parágrafo primeiro, que os delitos nela arrolados, entre os quais o tráfico ilícito de entorpecentes, no qual se viu o réu condenado, devem ser punidos sob o rigor do regime integralmente fechado".

A matéria, que já foi objeto de divergência e questionamentos nos tribunais, acha-se hoje pacificada nos superiores, inclusive, no Excelso Pretório que, recentemente, editou a súmula nº 698 com o seguinte enunciado:

"Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de progressão no regime de execução da pena aplicada ao crime de tortura."

E se, conforme visto acima, a Lei dos Crimes Hediondos não admite nem mesmo a progressão de regime, não há como aplicar aos delitos nela elencados a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, como pretende o réu , ora apelante.

Sobre a questão, assim orienta o STF:

"HABEAS CORPUS - TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES - LEI N. 6.368/76 - SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE PELA RESTRITIVA DE DIREITOS (LEI N. 9.714/98) - INAPLICABILIDADE.

1- O Preceito ínsito no art. 44 do Código Penal, com a redação dada pela Lei n. 9.714/98, é regra geral, não podendo ser aplicado à Lei n. 6.368/76, visto tratar-se de lei especial.

2- A pena privativa de liberdade por crime previsto na lei de tóxicos, equiparável a crime hediondo, tem que ser cumprida integralmente no regime fechado em face da Lei n. 8.072/90, impossibilitando assim a sua conversão em pena restritiva de direitos.

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3 - Habeas Corpusindeferido."(SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, HC 79.567-RJ, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, 2ª TURMA, "DJU", DE 03/03/2000, pág. 62).

Por todo o exposto, pedindo vênia ao eminente Des. Relator, nego provimento aos recursos.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL, O RELATOR E O REVISOR, VENCIDO O RELATOR EM PARTE, ENQUANTO O VOGAL NEGA PROVIMENTO, PREVALECENDO O VOTO MÉDIO, PROFERIDO PELO REVISOR.

Page 109: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.00.327370-3/000(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 25/11/2003 Data da publicação: 13/12/2003

Inteiro Teor: EMENTA: Embriaguez ao volante. Prova. A simples confissão do acusado de ter ingerido bebida alcoólica não é prova suficiente da materialidade do delito do art.306 do CTB, pois dependendo da quantidade e do lapso temporal entre a ingestão e os fatos, é possível que os efeitos do álcool não mais persistam. Preliminar de nulidade rejeitada. Provimento parcial.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.327370-3/000 - COMARCA DE TIMÓTEO - APELANTE(S): VANDERLEI DOS SANTOS - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 2ª V COMARCA TIMÓTEO - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL, VENCIDO EM PARTE, O RELATOR.

Belo Horizonte, 25 de novembro de 2003.

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DES. ERONY DA SILVA - Relator>>>

18/11/2003

TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

ADIADO

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.327370-3/000 - COMARCA DE TIMÓTEO - APELANTE(S): VANDERLEI DOS SANTOS - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 2ª V COMARCA TIMÓTEO - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Timóteo, Vanderlei dos Santos como incurso nas sanções dos arts.303, 304 e 306 do CTB e art. 329 do CP, por ter, em 4 de setembro de 1999, por volta das 14h40, conduzido seu veículo na contra mão de direção, atingindo e lesionando a vítima Felipe Cristian Ferreira Roques que trafegava de bicicleta.

Consta ainda da exordial acusatória que o réu estava embriagado e se evadiu do local sem prestar o devido socorro à vítima e, ao ser procurado pelo policial militar Romildo Santos Oliveira, opôs-se à execução do ato legal, mediante ameaças à integridade física do policial com o emprego de uma chave de fenda.

A sentença monocrática às f.124 e segs. julgou parcialmente procedente a denúncia para condená-lo nas sanções dos arts.303, parágrafo único, e 306 do CTB e 329 do CP, fixando-lhe a pena em um total de 1 (um) ano e 5 (cinco) meses de detenção. A pena corporal foi substituída por prestação de serviços a comunidade e por prestação pecuniária.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.127

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e segs., nas quais pugna, em preliminar, pela nulidade do feito e, no mérito, pela absolvição em relação aos crimes dos arts.306 do CTB e 329 do CP, com a redução da pena em relação ao delito do art. 303 do CP.

As contra-razões ministeriais às f.132 e segs. são pelo conhecimento e desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.146 e segs., manifestou-se pelo conhecimento e parcial provimento do recurso da defesa.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Preliminar de nulidade processual:

Rejeito a preliminar da defesa, pois o inquérito foi instaurado para apurar não só o crime de lesões corporais, mas também os demais crimes que são objetos destes autos e são de ação penal pública incondicionada.

Vale lembrar que, ainda que alguma nulidade houvesse no inquérito, esta jamais seria causa de nulidade do processo, pois o inquérito é mera peça informativa que, por si só não é suficiente para fundamentar uma condenação criminal.

Os fatos se deram em 4 de setembro de 1999 e a representação foi feita em 9 de dezembro de 1999 (fls 40), absolutamente dentro do prazo legal.

Mérito:

A omissão de socorro ficou devidamente demonstrada nos autos, pois era exigível do acusado, após dar causa ao acidente, que não só parasse seu veículo, mas descesse e se certificasse pessoalmente da necessidade ou não da prestação do socorro à vítima, principalmente pelo fato de tratar-se de criança.

Mantenho, pois a qualificadora.

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Em relação ao delito do art.306 do CTB, razão assiste à defesa, pois não fiquei convencido da materialidade delitiva.

A confissão do acusado na fase inquisitorial não supre os exames periciais, até porque ainda que de fato houvesse bebido, não se sabe ao certo se de fato estaria embriagado.

Pelo exposto, absolvo o apelante das imputações do crime do art.306 do CP.

Por fim, creio que a condenação pelo crime do art.329 do CP deve prosperar.

É que há provas de que o acusado efetivamente tenha se oposto à prisão com o uso de uma chave de fenda o que, por si só, já caracteriza o delito do art.329 do CP.

Pelo exposto, dou parcial provimento, tão-somente para absolver o apelante das imputações do art.306 do CP, reduzindo- lhe sua pena total para 11 (onze) meses de detenção e substituindo-a tão somente por uma pena restritiva de direitos consistente na prestação pecuniária de dois salários mínimos à vítima Felipe Cristian Ferreira Roques.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Sr. Presidente.

Também, pelos mesmos motivos expostos no brilhante voto do eminente Relator, absolvo o réu no tocante à embriaguez, reduzindo-se a pena para 11 (onze meses) de detenção, mantendo, no entanto, a substituição da pena privativa de liberdade pela prestação de serviços gratuitos, nos exatos termos ordenados pelo MM. Juiz sentenciante, excluindo-se a prestação pecuniária.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Peço vista dos autos.

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SÚMULA: O RELATOR E O 1º VOGAL DERAM PROVIMENTO PARCIAL, VENCIDO EM PARTE, O 1º VOGAL. PEDIU VISTA O 2º VOGAL.

>>>

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. PRESIDENTE (DES. KELSEN CARNEIRO):

O julgamento deste feito foi adiado na sessão do dia 18.11.2003, a meu pedido, após votarem o Relator e o Primeiro Vogal dando provimento parcial, vencido, em parte o segundo.

Meu voto é o seguinte:

Pedi vista e examinei os autos.

Pedindo vênia ao em. Des. Relator, estou a concordar com o Primeiro Vogal, Des.Paulo Cezar Dias, por entender que deve, com relação à substituição da pena, prevalecer a decisão de 1º Grau, proferida pelo MM. Juiz Sentenciante.

Com essas considerações, ponho-me de acordo com o ilustre Primeiro Vogal para, também, nesses termos e nos termos do voto por S. Exª. proferido, dar provimento parcial.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL, VENCIDO EM PARTE, O RELATOR.

Page 114: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0024.02.705513-6/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: PAULO CÉZAR DIAS

Data do acordão: 02/12/2003 Data da publicação: 13/12/2003

Inteiro Teor: EMENTA: TÓXICO - "CANNABIS SATIVA LINEU" - POSSE DE PEQUENA QUANTIDADE - TIPICIDADE DO CRIME PREVISTO NO ART. 16 DA LEI 6.368/76 - RISCO SOCIAL E DE SAÚDE PÚBLICA. Pune-se o crime previsto no art. 16 da Lei 6.368/76 não por ter causado, ou poder causar, dano à saúde ou ao usuário, mas, sim, pelo perigo que o entorpecente pode causar à coletividade, principalmente no que tange ao perigo que representa à saúde pública, face às suas propriedades.

V.V.

Tóxicos. Princípio da insignificância. O porte para consumo próprio de 0,56g de maconha não é suficiente para colocar em perigo a saúde pública que é o bem jurídico tutelado pelo art.16 da Lei 6.368/76. Sendo assim, aplica-se ao caso o princípio da insignificância para absolver o apelante por atipicidade de sua conduta.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0024.02.705513-6/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): GILSON MOREIRA GONÇALVES - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 1ª VARA DE TÓXICOS - RELATOR: EXMO. SR. DES.

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ERONY DA SILVA - RELATOR PARA O ACÓRDÃO: EXMO SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM NEGAR PROVIMENTO, VENCIDO O RELATOR.

Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2003.

DES. PAULO CÉZAR DIAS - Relator para o acórdão.

DES. ERONY DA SILVA - Relator vencido.NOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta capital, Gilson Moreira Gonçalves como incurso nas sanções do art.16 da Lei 6.368/76, por ter sido flagrado, em 20 de março de 2002, na posse de 0,56g de maconha que trazia consigo para consumo próprio.

A sentença monocrática às fls.62/63 julgou procedente a denúncia e condenou o réu a nove meses de detenção em regime semi-aberto e ao pagamento de 24 (vinte e quatro) dias- multa com valor unitário mínimo. A substituição da pena corporal por restritiva de direitos não lhe foi concedida.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões à fl.77, nas quais pugna pela minoração da reprimenda aplicada.

As contra-razões ministeriais às fls.79 e segs. são pela manutenção da sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fls.87 e segs., manifestou-se pelo improvimento do recurso.

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Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Na interpretação das normas penais nunca se pode esquecer que todo tipo penal para ser materialmente válido deve fundamentar-se na proteção de um bem jurídico socialmente relevante.

O Direito Penal é remédio extremo, que a sociedade reconhece ter conseqüências colaterais extremamente gravosas não só para o condenado, mas também para ela própria sociedade.

Não é de hoje tal concepção. No Direito Romano já se afirmava que minima non cura praeter.

A insignificância da afetação ao bem jurídico foi retomada, modernamente, por vários autores, destacando-se dentre eles Claus Roxin que em sua célebre obra Política Criminal e Sistema Jurídico Penal, publicada na Alemanha em 1970, tomou-o como:

"auxílio de interpretação para restringir formulações literais que também abranjam comportamentos suportáveis" (In Política Criminal e Sistema Jurídico-Penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 47).

A palavra-chave para a correta compreensão do princípio da insignificância é suportável. Não se trata de uma conduta elogiável, nem mesmo neutra, mas que o Estado se vê obrigado a suportar em razão da evidente desproporção entre a conseqüência legal prevista (pena) e o comportamento indesejado.

Creio que o caso dos autos ajuste-se perfeitamente a esta hipótese: por mais que individualmente possamos reprovar o uso de drogas, forçoso é reconhecer que a ínfima quantidade de maconha portada pelo agente é incapaz de causar qualquer dano ao bem jurídico penalmente tutelado (a saúde pública).

Sem lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, falta materialidade delitiva e, conseqüentemente, a conduta é atípica.

A punição do acusado não representaria qualquer benefício para a sociedade, muito pelo contrário, só geraria a falsa impressão de

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que a repressão deve ser voltada a todo custo para o usuário, que em última análise não se difere em muito de um alcoólatra.

Gilson com sua postura de portar 0,56g de maconha não gerou em momento algum qualquer perigo à saúde pública. Ouso dizer, com tão ínfima quantidade de maconha, nem mesmo a sua própria saúde causou qualquer prejuízo.

Nesse sentido, a jurisprudência tem avançado ao decidir que:

"RESP. PENAL. SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. QUANTIDADE ÍNFIMA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO CONHECIDO. 1. Não se justifica o acionamento do aparelho judiciário em se tratando de delito de uso (art. 16, da Lei nº 6.368/76) quando a quantidade de substância entorpecente encontrada e apreendida alcança apenas 0,903 - novecentos e três miligramas - de cannabis sativa, vulgo "maconha". 2. Nestas condições, a reduzida quantidade, não obstante o eventual maltrato à saúde pública e a difusão do consumo, prejudicando o grupamento social, não representa perigo grave a justificar a sanção. 3. Recurso não conhecido." RESP 287819/RS ; RECURSO ESPECIAL 2000/0119079-2 DJ 08/04/2002 Relator: Min. FERNANDO GONÇALVES

"RHC - PENAL - ENTORPECENTE - QUANTIDADE ÍNFIMA - O crime, além da conduta, reclama resultado, ou seja, repercussão do bem juridicamente tutelado, que, por sua vez, sofre dano, ou perigo. Sem esse evento, o comportamento é penalmente irrelevante. No caso dos entorpecentes, a conduta é criminalizada porque repercute na saúde (usuário), ou interesse público (tráfico). Em sendo ínfima a quantidade encontrada (maconha) é, por si só, insuficiente para afetar o objeto jurídico." RHC 8646/MG ; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 1999/0041268-0 DJ 06/09/1999 Relator Min. LUIZ VICENTE CERNICCHIARO

"PENAL. ENTORPECENTE. QUANTIDADE INFIMA. - ATIPICIDADE (ART. 16 DA LEI 6.368). CONCEDE-SE A ORDEM DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL, EM FACE DA INFIMA QUANTIDADE DE "MACONHA", EM CUJO USO FOI FLAGRADO O ORA PACIENTE, ASSIM CONFIGURADO O CHAMADO PRINCIPIO DA INSIGNIFICANCIA." RHC 7205 / RJ ; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 1998/0003364-5 DJ 18/05/1998 Relator Min. JOSÉ DANTAS

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Por todo o exposto, dou provimento ao recurso, para absolver o réu das imputações da denúncia por atipicidade da conduta com base no princípio da insignificância.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

VOTO

Peço venia ao douto Relator para dele discordar em parte.

A circunstância de ser mínima a quantidade de droga apreendida em poder do apelante não induz em atipicidade da sua conduta.

Pune-se o crime previsto no art. 16 da Lei nº 6.368/76 não por ter causado, ou poder causar, dano à saúde do usuário, mas, sim, pelo perigo que o entorpecente pode causar à coletividade, principalmente no que tange ao perigo que representa à saúde pública, face às suas propriedades.

E esse perigo é evidente mesmo em se tratando de uso individual de entorpecente. Basta, para comprovar essa afirmativa, considerar que o tráfico somente existe em razão do uso. Tráfico e uso de entorpecente são delitos interdependentes. O crescimento de um implica também no do outro, e, quanto mais acentuados, maior o risco para a coletividade.

Por esse motivo, irrelevante é a quantidade de droga apreendida com o réu.

Nesse sentido já decidiu a Excelsa Corte de Justiça que:

"A circunstância de ser mínima a quantidade de maconha encontrada em poder dos réus não prejudica a configuração da tipicidade do crime previsto no art. 16 da Lei 6.368/76, que está vinculada às propriedades da droga, ao risco social e de saúde pública e não à lesividade comprovada em cada caso concreto" (STF - RE 109.619 - Rel. Octávio Galloti - RTJ 119/874 e RT 614/402)

Assim, correta se mostra a condenação proferida contra o acusado

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pelo delito de porte para o uso de substância entorpecente. Também, diante da reincidência e antecedentes do apelante, impossível mesmo a substituição da pena privativa de liberdade.

Isto posto, com a devida licença ao culto Relator, estou negando provimento ao apelo e mantendo inalteradas as disposições da sentença hostilizada.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo com o Revisor.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO, VENCIDO O RELATOR.

Page 120: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.00.347641-3/000(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 04/11/2003 Data da publicação: 10/12/2003

Inteiro Teor: EMENTA: Remição. Estudo. Possibilidade. É perfeitamente possível a concessão de remição ao condenado que comprovadamente estudou durante o período em que cumpriu pena em regime fechado ou semi-aberto, em uma interpretação extensiva do art.126 da LEP.

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.00.347641-3/000 - COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES - RECORRENTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 1ª V CR EXEC PENAIS COMARCA GOVERNADOR VALADARES - RECORRIDO(S): JOSÉ FRANCISCO DA ROCHA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 04 de novembro de 2003.

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DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

Trata-se de agravo interposto pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais contra a decisão às f. 06/07 que concedeu remição de pena ao sentenciado José Francisco da Rocha por freqüência em curso de suplência.

As contra-razões da defesa às f.14 e segs. são pelo improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às fl. 30 e segs., manifestou-se pelo provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Dispõe o art.126 da Lei de Execução Penal:

"O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semi-aberto poderá remir, pelo trabalho, parte do tempo de execução da pena.

§1º A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita à razão de 1 (um) dia de pena por 3 (três) de trabalho".

Para uma perfeita interpretação teleológica do presente artigo, necessária se faz uma pequena digressão histórica.

ZAFFARONI e PIERANGELI nos narram o profundo vínculo histórico existente entre cárcere e fábrica:

"Entre os séculos XVIII e XIX manifesta-se uma transformação na pena, que passa das corporais às privativas de liberdade e do mero castigo à "correção". Tem-se afirmado (Foucault) que a pena passa do corpo à alma, o que parece certo e claro.(...)

O paradigma contratual permitia uma ideologia justificadora da

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pena privativa de liberdade, mas, na realidade, o apenado não era expropriado de qualquer capacidade laboral ou mão-de-obra. Isto porque os integrantes das massas despossuídas que, vindas do campo, constituíam a miséria da cidade durante o processo de acumulação de capital produtivo, não tinham capacidade laboral, porque não sabiam trabalhar nas fábricas, nas manufaturas. Eram homens, mulheres e crianças chegados do campo, habituados às tarefas agrícolas, mas não adaptados ao sistema e à disciplina da fábrica.(...)

Daí surge a invenção do estabelecimento carcerário "panóptico", ou seja, a construção de um estabelecimento radial, com pavilhões a partir de um centro, comum, de onde se consegue o máximo de controle sobre toda a atividade diária do indivíduo, com um mínimo de esforço. A partir do centro, um único guarda pode observar todos os pavilhões com apenas um giro da cabeça. A ideologia da pena era a do treinamento, mediante controle estrito da conduta do apenado, sem que este pudesse dispor de um só instante de privacidade. Essa ideologia será expandida e reformulada pelos diversos criadores de regimes e sistemas "progressivos", mas no fundo seguirá sendo a mesma: vigilância, arrependimento, aprendizagem, "moralização" (trabalhar para a felicidade). Em geral, corresponde à forma de trabalho industrial, tal como era concebida e praticada na época: a vigilância estrita do trabalhador na fábrica, o controle permanente pelo capataz, a impossibilidade de dispor de tempo livre durante o trabalho, etc. As analogias entre o cárcere e a fábrica têm sido estudadas nos últimos anos, com resultados satisfatórios e reveladores. Não podia ser de outra maneira, por quanto se havia concebido o cárcere como o treinamento dos desordeiros para as fábricas."(ZAFFARONI, Eugênio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 4. ed. rev. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p.276-279)

Vê-se, pois, que historicamente a pena privativa de liberdade cumpriu um importante papel de treinamento de mão-de-obra para as fábricas.

Os efeitos de prevenção especial positiva da pena tinham como fim não a "educação" do sentenciado, mas tão-somente o treinamento de mão-de-obra barata para as fábricas.

Nesta linha de raciocínio, a remição somente poderia ser concedida

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com base no trabalho - treinamento - e não com base no estudo, pois o cárcere não seria instituição destinada à melhoria das condições do indivíduo, mas mero produtor de mão-de- obra braçal para a sociedade.

Àqueles que se sujeitassem ao treinamento para serem eternos trabalhadores braçais, o Estado beneficiaria com o instituto da remição. Aos que desejassem estudar para conseguir melhores empregos e progredir na escala social, não se poderia conceder a remição, pois não é objetivo do cárcere a formação de mão-de-obra qualificada.

Trata-se de uma norma flagrantemente contrária ao art. 3º da Constituição Federal de 1988 que estabelece expressamente:

"Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais"

Assim, para que a pena privativa de liberdade efetivamente alcance os desejáveis efeitos de prevenção especial positiva, não basta o treinamento do preso para trabalho braçal, mesmo porque a sociedade moderna exige cada vez mais qualificação profissional.

É dever constitucional do Estado incentivar o estudo da massa de presos que em sua maioria não tem sequer o 1º grau completo, dando-lhe reais condições de melhoria de condições sociais e econômicas, pois só dessa forma poderemos evitar que o preso volte a delinqüir.

A meu sentir a melhor interpretação do termo trabalho é, pois, não de mera "atividade profissional regular, remunerada ou assalariada", mas todo e qualquer esforço humano dirigido a uma finalidade e, neste sentido não há dúvidas de que o estudo é espécie do gênero trabalho pela própria definição do dicionário:

"n substantivo masculino

1esforço incomum; luta, lida, faina

2conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem

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exerce para atingir determinado fim" (Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa)

Ainda que se opte por uma interpretação restritiva do termo "trabalho" para considerá-lo como mera atividade remunerada, é perfeitamente possível a analogia in bonam partem para conceder o direito à remição ao preso que comprovadamente estudou, pois tenho plena convicção de que este estará menos propenso a reincidir do que aquele que nenhuma qualificação terá ao sair da prisão.

É por todo o exposto que nego provimento ao recurso ministerial.

É como voto.

O SR. DES. PAULO CÉZAR DIAS:

Sr. Presidente.

No meu modo de pensar, embora seja admissível ao preso o trabalho intelectual, há que ser feita distinção entre este e o simples estudo acadêmico, apesar de ambos terem em comum a finalidade ressocializadora.

Nos termos do art. 28 da Lei de Execução Penal, o trabalho é dever do condenado, punindo, inclusive, com falta grave, o seu descumprimento, consoante se vê do art. 50, inciso 6, da LEP, ao passo que o estudo é um direito de toda pessoa e dever do Estado provê-lo, como dispõe o art. 205 da Constituição Federal.

Ademais não se deve procurar o caráter produtivo da atividade laborativa, eis que deve estar voltada para a profissionalização do preso caso não apresente qualquer capacitação, bem como a ela deva corresponder uma remuneração inexistente na atividade educativa que se trata, em última análise, de benefício concedido ao condenado no curso da execução, assumindo feição meramente assistencial.

Nota-se ainda que, no caso em exame, a atividade educativa sequer tinha por fim habilitação profissional do apenado, pois os atestados anexados aos autos se referem à freqüência as aulas e não à alfabetização.

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Quero evidenciar que não estou negando o caráter ressocializador do estudo como elemento de tratamento penitenciário com vistas a facilitar a reinserção do condenado na sociedade, de modo que não volte a delinqüir. Mas tão-somente manifesto assim porque não vejo, à primeira vista, sua equiparação ao trabalho para fins de remição, até mesmo porque não há previsão legal a esse respeito.

No entanto, para não ser impertinente e por não ter ainda formado inteiro convencimento a respeito da matéria, verificando, ainda, que, neste Tribunal, como em tantos outros, por analogia, decide-se no sentido de que a freqüência em curso é uma espécie de trabalho para aprimoramento intelectual, que leva o preso ao aperfeiçoamento, permitindo a sua ressocialização, por enquanto, vou aderir ao brilhante voto do eminente Relator, reservando-me o direito de modificar esse entendimento no futuro.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

De acordo com o Relator.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0024.98.105725-0/001(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 28/10/2003 Data da publicação: 03/12/2003

Inteiro Teor: EMENTA: Pena. Fixação. Conduta social e personalidade do agente. Não podem ser consideradas desfavoráveis a conduta social e a personalidade do agente dado ao uso de bebidas alcoólicas, pois tal prática é absolutamente atípica na legislação penal brasileira e é vedada expressamente, pelo princípio da legalidade, a imposição de pena sem prévia cominação legal. Regime integralmente fechado. Crimes hediondos. A imposição de regime integralmente fechado aos condenados por crimes hediondos fere o princípio constitucional da individualização das penas, pois a competência do Poder Legislativo é de fixar parâmetros máximos e mínimos para a imposição das reprimendas e não fixá-las em concreto, competência que, em nosso ordenamento jurídico, é exclusiva do Poder Judiciário.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0024.98.105725-0/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ I TRIBUNAL DO JÚRI - APELADO(S): FLÁVIO FERREIRA DE OLIVEIRA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

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Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 28 de outubro de 2003.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, nesta capital, Flávio Ferreira de Oliveira como incurso nas sanções do art.121, §2º, II, III e IV, do CP, por ter, em 10 de agosto de 1998, por volta das 20h30, matado a vítima Enoch Bento da Silva a golpes de madeira.

O Tribunal do Júri considerou o réu culpado, conforme Termo de Votação de Quesitos à f. 231 e o MM. Juiz presidente, em sentença à f. 234, fixou-lhe a pena de 12 (seis) anos de reclusão em regime semi-aberto.

Inconformado, apelou o Ministério Público, apresentando suas razões às f. 244 e segs., nas quais pugna pela majoração da pena e pela determinação do regime integralmente fechado.

As contra-razões da defesa às f. 253 e segs. são pela manutenção da sentença guerreada.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 276 e segs., manifestou-se pelo conhecimento e provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Rogata maxima venia, entendo não assistir razão ao Ministério Público.

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O simples fato de o acusado ter agido com dolo direto de homicídio não é circunstância que indique uma maior culpabilidade do réu, até porque a presença do dolo é elemento constitutivo do tipo penal.

O acusado é tecnicamente primário.

Sua conduta social não pode ser considerada desfavorável pelo simples fato de o réu ser "pessoa dada às bebedeiras".

É bom frisar que vivemos sob a égide do Estado Democrático de Direito no qual "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei" (art.5º, II, da Constituição Federal) e a ingestão de bebidas alcoólicas não é proibida em nosso ordenamento.

Aumentar a pena do acusado por este motivo seria uma nítida violação do princípio constitucional da legalidade: "não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal" (art.5º, XXXIX).

Pelo mesmo motivo sua personalidade não pode ser considerada violenta, sendo irrelevante se já teria ou não se envolvido em brigas, pois não há qualquer certidão condenatória por crime de lesões corporais nos presentes autos e "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória" (art.5º, LVII)

A este respeito Túlio Vianna faz a seguinte consideração:

"Ao condenar o réu a um ano de prisão com base em alguns fatos absolutamente atípicos sob o argumento de ser uma "conduta social imprópria" ou "personalidade deturpada", nada mais estará fazendo do que desprezar completamente um dos mais tradicionais princípios de Direito Penal.

Ofenderá também o princípio do devido processo legal, pois se o indivíduo foi acusado de roubar um banco, irá defender-se deste fato tão-somente e não de supostas lesões corporais à esposa e tráfico de drogas alegado pelas testemunhas. O aumento da pena com base em supostos crimes que mesmo que provados nos autos não foram objeto de processo para apurá-lo é absolutamente

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inconstitucional, pois em última análise configura em condenação sem o devido processo legal." (VIANNA, Túlio Lima. Pena - Fixação: roteiro didático. Revista Síntese de Direito Penal e Processual Penal. Porto Alegre: Síntese, v.4, n.19, abr./maio 2003. p. 56-57)

Os motivos são favoráveis ao réu já que os jurados reconheceram que o réu agiu por relevante valor moral.

As demais circunstâncias são comuns aos crimes de homicídio não indicando qualquer necessidade da fixação da pena-base acima do mínimo legal.

Vale frisar ainda que os jurados reconheceram em favor do réu as atenuantes da menoridade relativa e da confissão espontânea e, ainda que a pena-base tivesse sido fixada acima do mínimo legal, na segunda fase da fixação da pena, certamente haveria a redução para o mínimo legal.

Quanto à redução máxima em virtude da causa de diminuição de pena, entendo que mais uma vez procedeu bem o ilustre magistrado sentenciante.

É que, tendo o júri reconhecido que o réu cometeu o crime impelido por motivo de relevante valor moral, forçoso é que se reconheça a gravidade da proposta da vítima em manter relações sexuais com a esposa do réu mediante paga.

Mantenho, pois, o quantum da pena fixada em primeira instância.

Quanto ao regime inicial de cumprimento de pena, filio-me à corrente jurisprudencial minoritária que entende que a integralidade da execução penal em regime fechado é, não só ineficaz do ponto de vista da prevenção especial positiva, mas principalmente inconstitucional.

A Constituição Federal de 1988 consagrou um sistema misto de controle de constitucionalidade que agasalha não só o controle concentrado de constitucionalidade (de competência do STF na ação direta de inconstitucionalidade), mas também o controle difuso de constitucionalidade (de competência de todo e qualquer magistrado por via de exceção, ou incidental).

Assim, valendo-me de tal prerrogativa concedida pela Carta Magna,

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não posso me furtar à análise da constitucionalidade do art.2º, §1º, da Lei 8.072/90 - a famigerada Lei dos Crimes Hediondos.

A Constituição Federal em seu art.5º, XLVI, assim determina:

"a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras as seguintes: (...)"

O verbo utilizado pela Carta Magna é "regulará" e não "fixará" ou "determinará".

Regular é fixar normas abstratas e, como tal, devemos entender a previsão de parâmetros mínimos e máximos para a determinação do quantum da pena in concreto.

Se criasse o legislador ordinário uma lei determinando que a pena de um crime seria "2 anos de reclusão" e não mais "de 1 a 3 anos de reclusão" estaria ferindo o mandamento constitucional, pois não cabe ao Poder Legislativo determinar a pena in concreto, mas tão-somente fixar parâmetros in abstrato para a sua futura determinação concreta pelo Poder Judiciário.

Da mesma forma, não pode o legislador ordinário determinar que todo crime hediondo seja cumprido em regime integralmente fechado, pois não cabe ao Poder Legislativo "fixar" o quantum das penas, mas simplesmente arbitrar valores máximos e mínimos, dando opções ao Poder Judiciário - responsável pela análise do caso concreto - elementos para a fixação definitiva da pena.

Assim, concessa venia ao entendimento da jurisprudência majoritária, mantenho meu entendimento pela inconstitucionalidade da referida lei neste aspecto.

Nego, pois, provimento ao recurso ministerial, mantendo na íntegra a sentença do culto Juiz Fernando Alvarenga Starling por seus próprios fundamentos.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

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De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

Page 132: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.00.339976-3/000(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 28/10/2003 Data da publicação: 03/12/2003

Inteiro Teor: EMENTA: Abandono de incapaz. Erro de tipo. Se o acusado considerava que a vítima já tinha condições de permanecer sozinha sem que fosse previsível qualquer ameaça a sua vida ou integridade corporal, não há falar em omissão dolosa, por absoluto erro de tipo. Recurso provido.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.339976-3/000 - COMARCA DE CARMO DO PARANAÍBA - APELANTE(S): JOSÉ BATISTA DA SILVA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ COMARCA CARMO DO PARANAÍBA - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 28 de outubro de 2003.

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DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Carmo do Paranaíba, José Batista da Silva como incurso nas sanções do art.133, §2° e §3°, I, do CP, por ter, no dia 19 de julho de 1997, por volta das 4h, abandonado a vítima Carlos Roberto da Silva, que estava sob sua vigilância e, por motivo de embriaguez, incapaz de se autodefender dos riscos resultantes do abandono.

A sentença monocrática às f. 89 e segs. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 5 (cinco) anos e 3 (três) meses de reclusão em regime semi-aberto.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.100 e segs., nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais às f.104 e segs. são pelo desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.111 e segs., manifestou-se pelo improvimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Rogata maxima venia, não vejo como o caso dos autos possa ser considerado abandono de incapaz.

A discussão da causa centra-se na existência ou não de dolo do agente de abandonar pessoa incapacitada a sua própria sorte.

No parecer da douta Procuradoria-Geral de Justiça encontramos transcrição das lições do próprio Hans Welzel, expoente máximo da teoria finalista da ação:

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"toda ação consciente é conduzida pela decisão da ação, quer dizer, pela consciência do que se quer - o momento intelectual - e pela decisão a respeito de querer realizá-lo - o momento volitivo (Derecho Penal Alemán, p. 77)"

Dois são os elementos, portanto, para concluirmos pela presença do dolo: 1) a presença de consciência; 2) a presença de vontade. Não havendo a presença simultânea destes dois elementos, o agente certamente age em erro de tipo e, conseqüentemente, não pratica crime.

ZAFFARONI E PIERANGELI assim lecionam:

"O erro de tipo é o fenômeno que determina a ausência de dolo quando, havendo uma tipicidade objetiva, falta ou é falso o conhecimento dos elementos requeridos pelo tipo objetivo." (ZAFFARONI et PIERANGELI, Manual de Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. rev. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 491)

O elemento volitivo do dolo ficou perfeitamente demonstrado nos presentes autos, pois está claro que o agente teve vontade de abandonar a vítima.

A questão resume-se, pois, em analisar se o agente sabia ou não que a vítima encontrava-se na hipótese típica descrita no art. 133 do CP.

Em suma: O réu tinha consciência de que abandonava pessoa sob seu cuidado, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono?

E a esta pergunta, não tenho dúvida em responder que NÃO.

A vítima, o acusado e a testemunha Elias pararam de beber por volta das 22h, momento em que iniciaram o retorno à cidade.

Por volta das 2h, já próximos à cidade, o acusado disse a Elias que este poderia ir embora, pois ficaria com a vítima até que esta melhorasse.

As palavras do acusado e da testemunha são plenamente coerentes. A partir de então, só resta-nos a versão dada pelo réu

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aos fatos.

Em seu interrogatório às f.11, narra o acusado:

"que já por volta das 4h Carlos melhorou um pouco, se sentou e fumou um cigarro, porém, quando tentou andar, voltou a cair e deitado ainda conversou com o declarante, concordando com este quando o mesmo - declarante - disse que viria embora; que o declarante realmente disse a Carlos que viria embora, orientando o amigo para dormir ali até que o dia amanhecesse, para então voltar para casa; que o declarante então deixou Carlos deitado de "lado", e veio para Carmo do Paranaíba (MG);"

De tudo que consta nestes autos, nada é mais esclarecedor do que esta passagem das declarações do acusado.

Está claro que ao acordar e ver seu amigo sentado, julgou que, cerca de 6h após a bebedeira, seu colega já havia se reabilitado, tanto que se encontrava sentado e fumando.

Ainda que tentassem mais uma vez prosseguir na caminhada e a vítima mais uma vez tenha preferido esperar um pouco, é certo que não se encontrava mais no estado de incapacidade anterior.

O acusado julgou então que poderia deixá-lo ali são e salvo que com o tempo o efeito do álcool passaria e ele retornaria serenamente para casa.

A vítima, por outro lado, não deu qualquer sinal de que necessitasse da companhia do acusado, tanto que não pediu para que este permanecesse ali, muito pelo contrário: concordou com sua partida.

Por mais que o comportamento do acusado tenha sido negligente, impossível seria classificá-lo como doloso, pois está claro que ele não considerava a vítima "incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono", até porque não podia prever qualquer risco à vítima.

Mais uma vez, recorro-me às lições de ZAFFARONI e PIERANGELI:

"O dolo pressupõe que o autor tenha previsto o curso causal e a

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produção do resultado típico. Sem esta previsão, jamais se poderia falar de dolo." (ZAFFARONI et PIERANGELI, Manual de Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. rev. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 485)

Como exigir de um lavrador tamanho grau de previsibilidade do nexo causal?

Tivesse ele levado a vítima para sua casa, a colocado para dormir em sua cama e a asfixia se dado não pela grama, mas por um travesseiro, poderia o acusado ser responsabilizado?

Tivesse ele permanecido ao lado da vítima e com ela adormecido em virtude do cansaço natural, poderia ter evitado o resultado morte ou teria ele a obrigação de permanecer acordado vigiando o sono da vítima tal como um enfermeiro?

Os autos narram uma fatalidade; não, um crime.

O acusado não considerava a vítima incapaz e, muito menos, podia prever o risco da morte por asfixia.

Não vejo sequer dolo eventual em sua conduta, pois estou certo de que, caso previsse a hipótese da morte - ou mesmo de lesão - certamente teria permanecido ao lado do amigo, tal como fez durante 6h ininterruptas.

Condenar um acusado primário e de bons antecedentes a 5 (cinco) anos e 3 (três) meses de reclusão por uma fatalidade como esta seria, rogata maxima venia, um perigoso precedente à responsabilidade penal objetiva tão abominada no Direito Penal contemporâneo.

É por todo o exposto que dou integral provimento ao recurso da defesa, para absolver o acusado por erro de tipo, nos precisos termos do art. 386, III, do Digesto Processual Penal.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

Page 137: TJMG

De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO.

Page 138: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.00.348419-3/000(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 23/09/2003 Data da publicação: 03/12/2003

Inteiro Teor: EMENTA: Tentativa de Homicídio. Porte ilegal de armas. Princípio da Consunção. Absorção. A pronúncia por tentativa de homicídio absorve o delito de porte ilegal de arma, pois ambos os delitos tutelam o mesmo bem jurídico - a vida - e não haveria porque cogitar-se na punição de um delito de perigo, quando já se discute a punição pelo efetivo dano àquele bem jurídico.

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 1.0000.00.348419-3/000 - COMARCA DE CORONEL FABRICIANO - RECORRENTE(S): MÁRCIO JOSÉ DE ALMEIDA - RECORRIDO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ V CR MENORES COMARCA CORONEL FABRICIANO - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Belo Horizonte, 23 de setembro de 2003.

Page 139: TJMG

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto por Márcio José de Almeida, inconformado com a sentença às f.89 e segs. que o pronunciou nas sanções do art. 121, caput, c/c art. 14, II, do CP, e art. 10, caput, da Lei 9.437/97, na forma do art. 69 do CP.

Pugna o recorrente pela absolvição sumária, amparada no art. 25 do CP ou, alternativamente, pela desclassificação da imputação para aquela prevista no art. 129 do CP. Requer ainda a impronúncia em relação ao crime do art. 10 da Lei 9.437/97.

As contra-razões ministeriais às f. 104 e segs. são pelo improvimento do recurso.

O MM Juiz monocrático manteve a decisão guerreada às f. 110 e segs.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f. 116 e segs. manifestou-se pelo improvimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A sentença de pronúncia é mero juízo de admissibilidade da acusação que deverá ser submetida ao julgamento definitivo pelo Tribunal do Júri.

Assim, nesta fase processual, vigora o princípio do in dubio pro societate, não havendo necessidade de prova incontroversa do delito, mas tão-somente de indícios da existência do crime.

Ainda que o acusado sustente veementemente que não teve animus necandi e agiu em legítima defesa, a prova nos autos não é incontroversa.

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Segundo a própria versão do acusado no a.p.f., ele conseguiu interromper a discussão inicial e retornar a sua residência onde se apoderou de uma arma de fogo e tornou a procurar seus supostos agressores, o que deixa dúvidas sobre o efetivo dolo de defesa legítima.

Também não há falar na fase de pronúncia em desclassificação para o crime de lesões corporais, pois somente o Tribunal do Júri em análise apurada do conjunto probatório poderá realizar exame definitivo sobre a presença ou não do animus necandi.

Por outro lado, razão assiste ao recorrente quanto ao decote da pronúncia da acusação pelo delito do art. 10 da Lei 9.437/97.

Entendo, rogata maxima venia, dos entendimentos em contrário, que nas hipóteses de concurso entre os crimes de homicídio e porte ilegal de armas, aplica-se o princípio da consunção, independentemente da época em que, ou mesmo da finalidade para a qual a arma foi adquirida.

ZAFFARONI e PIERANGELI ensinam que:

"Em função do princípio da consunção, um tipo descarta outro porque consome ou exaure o seu conteúdo proibitivo, isto é, porque há um fechamento material."(ZAFFARONI, Eugenio Raul. PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. rev. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 735)

Partindo-se de uma interpretação teleológica do crime do art. 10 da Lei 9.437/97, percebe-se que se trata de crime de perigo que tem como bem jurídico tutelado a vida e a integridade corporal.

O porte de armas é proibido não como um fim em si mesmo, mas como um meio utilizado pelo legislador para tutelar o bem jurídico, vida.

Aliás, a intentio legis dos crimes de perigo é justamente evitar o dano a um bem jurídico penalmente relevante e a punição desta categoria de delito só se justifica enquanto não consumado o dano, pois do contrário estar-se-ia punindo duas vezes uma lesão ao mesmo bem jurídico.

Page 141: TJMG

O conteúdo proibitivo de ambos os delitos é, em última análise o mesmo: a preservação do bem jurídico, vida.

Assim, entendo que houve a absorção do porte ilegal de arma pela tentativa de homicídio, pois qual sentido haveria em se punir um perigo de lesão, se o réu já está sendo acusado de uma lesão efetiva a bem jurídico?

Esta Câmara assim já decidiu no julgamento do Recurso em Sentido Estrito nº 280.742-8/00, no qual foi relator o Des. Odilon Ferreira:

"Tenho, no entanto, que não há como manter a decisão de primeiro grau, no que diz respeito ao delito tipificado no artigo 10 da Lei 9.437/97.

É que, constituindo o porte ilegal de arma, crime-meio, para possibilitar a execução e consumação do Homicídio, crime-fim, fica, em razão do princípio da consunção, por este último absorvido. É que, de conformidade com nossa melhor doutrina e jurisprudência, em casos como o desses autos, é de boa política criminal, adotar a regra da consunção, ou seja, aplicar o princípio de Direito Penal, "major absorvet minorem", segundo o qual, a infração de menor potencial ofensivo ou de menor gravidade é absorvida pela infração mais grave."

Por todo o exposto é que dou provimento parcial ao recurso, tão-somente para decotar da sentença de pronúncia o delito do art. 10 da Lei 9.437/97.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

VOTO

Page 142: TJMG

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

Page 143: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.00.347203-2/000(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 28/10/2003 Data da publicação: 26/11/2003

Inteiro Teor: EMENTA: Lesões corporais. Resultado diverso do pretendido. Impossibilidade de responsabilidade objetiva. Se a vítima fraturou o braço em decorrência de queda provocada pela esquiva do golpe do réu, responderá o agressor tão- somente por lesões corporais simples, pois não era previsível que de seu golpe resultasse uma fratura que afastaria a vítima de suas atividades habituais por mais de 30 (trinta) dias.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.347203-2/000 - COMARCA DE ITUMIRIM - APELANTE(S): JOSÉ NASTRAL NASSUR - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ COMARCA ITUMIRIM - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM DAR PROVIMENTO PARCIAL.

Belo Horizonte, 28 de outubro de 2003.

Page 144: TJMG

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Itumirim, José Nastral Nassur, como incurso nas sanções do art.129, por três vezes, sendo uma combinada com o §1º, I, do CP, por ter ofendido a integridade corporal das vítimas Arnaldo Carvalho Souza, Flávia Maria Paula Souza e Carlos Andrade Rezende.

A sentença monocrática às f.100 e segs. condenou o réu a 2 (dois) anos de reclusão em regime aberto e a substituiu por prestação de serviços comunitários e prestação pecuniária à vítima.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões às f.107 e segs., nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais às f.116 e segs. são pelo conhecimento e improvimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer às f.125 e segs., manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do apelo.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A tese de que o acusado teria agido em legítima defesa do patrimônio não convence.

Ainda que se desconsiderasse a permissão dada por Rômulo para que se acendesse a fogueira, está claro que não há necessidade e muito menos moderação nos meios utilizados para repelir a suposta invasão patrimonial.

Pelo que consta nos autos as vítimas não eram desconhecidos do acusado e, portanto, era absolutamente desnecessário o emprego

Page 145: TJMG

da força bruta para repelir a agressão.

Por outro lado, entendo que não deva persistir a qualificadora do art. 129, §1º, pois o dolo do agente limitou-se a uma lesão corporal muito mais leve do que aquela efetivamente produzida.

Nas palavras da própria vítima em suas declarações à f. 63:

"os dois então começaram a conversar alto e discutir, momento em que o acusado tentou dar um golpe no depoente, que desviou vindo a perder o equilíbrio, caindo em cima de pedras; em razão da queda fraturou o braço direito;"

O acusado não tinha o dolo de causar qualquer fratura na vítima, mas tão-somente de causar-lhe lesões leves.

Não se pode cogitar nem mesmo em culpa no presente caso, pois não era previsível que a vítima escorregaria e da queda resultaria um fratura.

No Direito Penal contemporâneo não se pune a mera relação de causalidade entre a conduta e o resultado, sendo imprescindível a existência concomitante de um vínculo subjetivo que pode se dar na modalidade dolosa ou culposa.

No presente caso, o agente não poderia prever que de um golpe seu, fosse gerado o resultado fratura, devendo ser responsabilizado tão-somente pela hipótese prevista no caput do art.129 do CP.

O art.19 do CP é expresso quanto a casos como estes:

"Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente."

A este respeito vale transcrevermos os ensinamentos de ZAFFARONI e PIERANGELI:

"Em nossa legislação penal não há qualquer hipótese típica em que a produção do resultado não seja alcançada ao menos por culpa. Se houvesse uma tal hipótese, seria dificilmente explicável a sua constitucionalidade, frente ao disposto no art.5º, II, da CF, em que está consubstanciado o princípio de reserva: "Ninguém será

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obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Pode-se proibir uma conduta, uma ação a um habitante de um país, mas se lhe é proibida a causação de um resultado que não pode prever e que não se funde ao menos na violação de um dever de cuidado, nunca se poderá saber quando sua conduta está proibida e, portanto, o princípio da reserva legal - como fundamento imperioso de segurança jurídica - seria aniquilado." (ZAFFARONI et PIERANGELI, Manual de Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. rev. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 525)

Pelo exposto, dou provimento parcial ao recurso tão-somente para desclassificar o delito para a forma prevista no caput do art.129 do CP.

Fixo-lhe nova pena:

Nos três delitos as circunstâncias judiciais do art.59 são comuns aos crimes de lesões corporais, razão pela qual fixo-lhe a pena-base no mínimo legal: 3 (três) meses.

Não há agravantes ou atenuantes, nem causas de diminuição de pena.

Reconheço-lhe em seu favor a continuidade delitiva, aumentando sua pena em 1/5 (um quinto) e concretizando-a em 3 (três) meses e 18 (dias) de detenção em regime aberto.

Em respeito ao princípio do ne reformatio in pejusmantenho a substituição de pena efetuada em primeira instância, consistente na prestação pecuniária de 1 (um) salário mínimo a ser dividido entre as três vítimas.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

Page 147: TJMG

VOTO

De acordo.

SÚMULA : DERAM PROVIMENTO PARCIAL.

Page 148: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.00.349892-0/000(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 14/10/2003 Data da publicação: 19/11/2003

Inteiro Teor: EMENTA: Nulidade. Ausência de nomeação de curador ao réu menor de 21 anos. Nulo é o processo no qual não foi nomeado curador a réu menor de 21 anos não assistido em audiência por defensor constituído ou dativo.

APELAÇÃO CRIMINAL (APELANTE) Nº 1.0000.00.349892-0/000 - COMARCA DE ANDRADAS - APELANTE(S): WILSON DA SILVA FEITOSA - APELADO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ COMARCA ANDRADAS - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM ACOLHER PRELIMINAR E ANULAR O PROCESSO A PARTIR DO INTERROGATÓRIO DO APELANTE, INCLUSIVE, EXPEDINDO- SE ALVARÁ DE SOLTURA.

Belo Horizonte, 14 de outubro de 2003.

Page 149: TJMG

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou, na comarca de Andradas, Wilson da Silva Feitosa como incurso nas sanções do art. 157, §2º, II, do CP e art. 1º da Lei 2.252/54, por ter, em 27 de abril de 2002, por volta de 1h, convidado o menor Redinaldo Ramos de Jesus a praticar crime e subtraído, na companhia desse menor, uma carteira contendo R$20,00 (vinte reais) da vítima Tiago Juliano Soares.

A sentença monocrática a fls.83 e segs. julgou procedente a denúncia e condenou o réu a 6 (seis) anos e 6 (seis) meses de reclusão em regime semi-aberto e ao pagamento de 18 (dezoito) dias-multa.

Inconformada, apelou a defesa, apresentando suas razões a fls.96 e segs., nas quais pugna pela absolvição.

As contra-razões ministeriais a fls.100 e segs. são pelo conhecimento e desprovimento do recurso.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a fls.112 e segs., manifestou-se pelo conhecimento do recurso e pelo acolhimento da preliminar da defesa de nulidade do feito pela falta de nomeação de curador especial ao réu menor de 21 (vinte e um) anos.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

Preliminar de nulidade do processo:

Inteira razão assiste à defesa e ao douto Procurador de Justiça ao sustentarem a nulidade.

Page 150: TJMG

Verifica-se que o réu não teve curador nomeado, nem na fase policial (fls. 8), nem na fase judicial (fls. 40).

A MMª Juíza rejeitou a preliminar de nulidade a fls. 85 ao argumento de que o réu teria defensor constituído, mas não há qualquer menção no termo de interrogatório a fls.40 que o referido patrono do acusado estivesse presente na audiência.

Também não há qualquer referência à nomeação de defensor dativo ao réu o que, em tese, poderia suprir a presente nulidade.

Por uma interpretação teleológica da norma dos arts.194 e 262 do CPP, fica clara a intentio legis de proteger o réu menor de 21 anos das pressões próprias do processo penal e garantir-lhe a ampla defesa constitucionalmente assegurada.

Não se trata de mera formalidade, mas sim de garantia aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório.

Assim, não há falar na necessidade de demonstração do prejuízo por parte da defesa, pois há aqui uma presunção legal do prejuízo.

Por todo o exposto, anulo o processo a partir do interrogatório a fls. 40, inclusive.

Expeça-se imediato alvará de soltura se por al. não estiver preso.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

VOTO

De acordo.

A SRª. DESª. JANE SILVA:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : ACOLHERAM PRELIMINAR E ANULARAM O PROCESSO A

Page 151: TJMG

PARTIR DO INTERROGATÓRIO DO APELANTE, INCLUSIVE, EXPEDINDO-SE ALVARÁ DE SOLTURA.

Page 152: TJMG

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Jurisprudência Decisões Monocráticas Súmulas Criminais - TJMG Súmulas Criminais - 1ª

Câmara

Número do processo: 1.0000.00.345040-0/000(1)

Relator: ERONY DA SILVA Relator do Acordão: ERONY DA SILVA

Data do acordão: 07/10/2003 Data da publicação: 19/11/2003

Inteiro Teor: EMENTA: Custas processuais. Isenção. A Constituição Federal de 1988 não recepcionou em sua plenitude o art. 804 do CPP. Assim, o réu que se declarou pobre e foi assistido por serviço de assistência judiciária de Faculdade de Direito é isento das custas processuais, em obediência ao art. 5º, LXXIV da Carta Magna.

RECURSO DE AGRAVO Nº 1.0000.00.345040-0/000 - COMARCA DE GOVERNADOR VALADARES - RECORRENTE(S): IDER GOMES DA SILVA - RECORRIDO(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS, PJ 1ª V CR EXEC PENAIS GOVERNADOR VALADARES - RELATOR: EXMO. SR. DES. ERONY DA SILVA

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO, TENDO O RELATOR, VALENDO-SE DO QUE DISPÕE O REGIMENTO INTERNO DESTE TRIBUNAL, REFORMULADO O SEU VOTO, ANTERIORMENTE PROFERIDO.

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Belo Horizonte, 07 de outubro de 2003.

DES. ERONY DA SILVA - RelatorNOTAS TAQUIGRÁFICAS

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

VOTO

Trata-se de Agravo interposto por Ider Gomes da Silva, inconformado com a decisão a f. 03, TJ, que indeferiu o pedido de isenção de custas processuais e parcelou sua pena de multa e custas processuais em dez vezes.

A decisão monocrática foi mantida a f. 9.

A douta Procuradoria-Geral de Justiça, em parecer a f.13, manifestou-se pelo conhecimento e não provimento do recurso.

Em síntese, é o relatório.

Conheço do recurso, pois presentes os pressupostos de sua admissibilidade.

A Constituição de 1988 é expressa, quanto à questão, em seu art. 5º, LXXIV:

"o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos."

A insuficiência de recursos do acusado é visível, tanto que está sendo assistido pelo Serviço de Assistência judiciária da Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce.

Não há falar, pois, em pagamento de custas processuais, pois a gratuidade da assistência jurídica é assegurada constitucionalmente, sendo absolutamente irrelevante, se no futuro próximo, o assistido obterá renda suficiente para arcar com tal pagamento.

A Constituição é expressa e não faz qualquer ressalva se, posteriormente, o acusado terá ou não como pagar tais custas.

Page 154: TJMG

Não pode o legislador ordinário criar exceções, pois as normas constitucionais que garantem direitos só podem ser interpretadas extensivamente, sendo absolutamente vedada qualquer interpretação restritiva aos direitos e garantias fundamentais assegurados na Carta Magna.

Assim, onde a Constituição não restringe, não cabe ao legislador ordinário fazê-lo.

Aliás, já tive a oportunidade de expressar esse meu posicionamento quando do julgamento da Apelação Criminal nº 332.6434-8 do Eg. Tribunal de Alçada de Minas Gerais:

"A Constituição Federal de 1988 não recepcionou em sua plenitude o art. 804 do CPP. Assim, o réu que se declarou pobre e foi assistido por Defensor Público é isento das custas processuais, em obediência ao art. 5º, LXXIV da Carta Magna."

Também nesse sentido já se manifestaram outros tribunais:

"RECURSO EXTRAORDINÁRIO - MATÉRIA CRIMINAL - Acórdão que manteve a condenação do réu por crime de latrocínio, provendo, entretanto, o recurso da defesa para isentar o condenado do pagamento das custas processuais, com base no art. 5º, LXXIV, da Constituição, deixando de aplicar o art. 804 do Código de Processo Penal. Alegação do MP, no recurso extraordinário, de ofensa aos artigos 97 e 5º, LXXIV, da Constituição. O art. 5º, LXXIV, da Constituição, foi bem aplicado pelo acórdão, visto tratar-se de réu pobre, a quem devida assistência judiciária, a teor do art. 1.060, artigos 2º, 3º, II, 4º e § 1º. Não há ver ofensa ao art. 97 da Lei Maior, por não se fazer mister a declaração de inconstitucionalidade incidenter tantumdo art. 804 do Código de Processo Penal, como pretende o apelo extremo, a fim de isentar o réu pobre, condenado, do pagamento de custas, diante da norma do art. 5º, LXXIV, da Constituição. Recurso extraordinário não conhecido" (STF - RE 207.963-4 - DF - 2ª T. - Rel. Min. Néri da Silveira - DJU 18/6/1999 - p. 25).

"APELAÇÃO CRIMINAL - ISENÇÃO DE PAGAMENTO DAS CUSTAS - PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO - Tratando-se de pessoa comprovadamente pobre, tanto que defendida pela assistência judiciária, resulta clara a impossibilidade do réu de arcar com as despesas processuais, pelo que deve ser contemplado com a

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respectiva isenção." (TJMT - ACr 1.629/93 - Classe I - 14 - Cuiabá - 2ª C.Crim. - Rel. Des. Leônidas Duarte Monteiro - J. 2/3/1994)

Diante do exposto, dou provimento ao agravo para isentar o réu do pagamento das custas processuais em razão de sua reconhecida pobreza, mantendo o parcelamento em dez vezes da pena de multa.

É como voto.

O SR. DES. KELSEN CARNEIRO:

Não concordo, "data venia", com o ilustre Relator.

Segundo dispõe o art. 12 da Lei nº 1.060/50, "a parte beneficiada pela isenção do pagamento das custas ficará obrigada a pagá-las, desde que possa fazê-lo, sem prejuízo do sustento próprio ou da família. Se dentro de cinco anos, a contar da sentença final, o assistido não puder satisfazer tal pagamento, a obrigação ficará prescrita.

Vê-se, portanto, de forma clara, que o pagamento das custas apenas não será exigido quando importar em prejuízo do próprio sustento ou da família, ficando prescrita a obrigação se, no prazo de cinco anos, contados da sentença, não puder o sentenciado satisfazê-la.

Nos termos do enunciado da Súmula nº 58, editada pelo Grupo de Câmaras Criminais deste Tribunal:

"O juridicamente miserável não fica imune da condenação nas custas do processo criminal (art. 804 CPP), mas o pagamento fica sujeito à condição e prazo estabelecidos no art. 12 da Lei nº 1.060/50."

Sendo assim, se o agravante atualmente não tem condições de pagar as custas do processo deverá o pagamento ser suspenso, ficando prescrita a obrigação se, dentro de 05 anos, não houver modificação de sua situação sócio-econômica.

Pelo exposto, pedindo vênia ao em. Relator, nego provimento ao agravo.

Page 156: TJMG

A SRª. DESª. JANE SILVA:

De acordo com o 1º Vogal.

O SR. DES. ERONY DA SILVA:

Sr. Presidente, pela ordem.

Nos termos do Regimento Interno do Tribunal de Justiça, reformulo o meu entendimento e acompanho o voto do em. 1º Vogal para negar provimento ao Recurso de Agravo.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO, TENDO O RELATOR, VALENDO-SE DO QUE DISPÕE O REGIMENTO INTERNO DESTE TRIBUNAL, REFORMULADO O SEU VOTO, ANTERIORMENTE PROFERIDO