Torpe e Futil

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Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, 2 : parte especial : dos crimes contra a pessoa. 2. ed. rev. e ampl. So Paulo : Saraiva, 2012Homicdio Qualificado.12.1 Motivos qualificadoresAo contrrio do que ocorre nas figuras do homicdio privilegiado, os motivos que, eventualmente, fundamentam a prtica do crime de homicdio podem ser imorais e antissociais. O Cdigo Penal agrupou-os nos incisos I e II do 2 do art. 121; so eles: mediante paga ou promessa de recompensa, motivo torpe e motivo ftil.a) Mediante paga ou promessa de recompensaEste um crime tpico de execuo atribuda aos famosos jagunos; um crime mercenrio. Trata-se de uma das modalidades de torpeza na execuo de homicdio, esta especificada. Na paga o agente recebe previamente a recompensa pelo crime, o que no ocorre na promessa de recompensa, em que h somente a expectativa de paga, cuja efetivao est condicionada prtica do crime de homicdio. No necessrio que a recompensa ou sua promessa seja em dinheiro, podendo revestir-se de qualquer vantagem para o agente, de natureza patrimonial ou pessoal. Respondem pelo crime qualificado o que praticou a conduta e o que pagou ou prometeu a recompensa. desnecessrio que o agente receba a recompensa para qualificar o homicdio, sendo suficiente que tenha havido a sua promessa. Com muito mais razo, haver a qualificadora se o agente receber parte dela. indiferente que tenha havido a fixao prvia do valor, natureza ou espcie da recompensa, pois poder ser determinado aps a execuo do crime ou at mesmo ser fixado pelo prprio agente. No entanto, adotamos o entendimento de que a paga ou promessa de recompensa deve ter natureza econmica, que o fundamento que move o autor imediato a praticar o crime. Na verdade, a qualificao do crime de homicdio mercenrio justifica-se pela ausncia de razes pessoais para a prtica do crime, cujo pagamento caracteriza a sua torpeza.A maior reprovabilidade do crime mercenrio repousa na venalidade do agente. Os mandados gratuitos no qualificam o crime, tampouco eventuais benefcios concedidos a posteriori, com relao aos quais no haja acordo prvio. No entanto, no pacfico o entendimento de que somente a paga ou promessa de recompensa de natureza econmica qualificam o crime, embora seja a orientao dominante.Trata-se, nessa modalidade, de crime bilateral ou de concurso necessrio, no qual indispensvel a participao de, no mnimo, duas pessoas: quem paga para o crime ser cometido e quem o executa pela paga ou recompensa.b) Motivo torpeTorpe o motivo que atinge mais profundamente o sentimento tico-social da coletividade, o motivo repugnante, abjeto, vil, indigno, que repugna conscincia mdia. O motivo no pode ser ao mesmo tempo torpe e ftil. A torpeza afasta naturalmente a futilidade. O cime, por si s, como sentimento comum maioria da coletividade, no se equipara ao motivo torpe. Na verdade, o cime patolgico tem a intensidade exagerada de um sentimento natural do ser humano que, se no serve para justificar a ao criminosa, tampouco serve para qualific-la. O motivo torpe no pode coexistir com o motivo ftil. A qualificadora do homicdio, para ser admitida na pronncia, exige a presena de indcios, e sobre eles, sucintamente, deve manifestar-se o magistrado50.Nem sempre a vingana caracterizadora de motivo torpe, pois a torpeza do motivo est exatamente na causa da sua existncia. Em sentido semelhante, sustenta Fernando de Almeida Pedroso que a vingana, como sentimento de represlia e desforra por alguma coisa sucedida, pode, segundo as circunstncias que a determinaram, configurar ou no o motivo torpe, o que se verifica e dessume pela sua origem e natureza51.Com efeito, os fundamentos que alimentam o sentimento de vingana, que no protegido pelo direito, podem ser nobres, relevantes, ticos e morais; embora no justifiquem o crime, podem privilegi-lo, quando, por exemplo, configurem relevante valor social ou moral, v. g., quando o prprio pai mata o estuprador de sua filha. E um homicdio privilegiado no pode ser ao mesmo tempo qualificado por motivo ftil ou torpe. O STJ, em acrdo relatado pelo Ministro Flix Fischer, j decidiu nesse sentido, inclusive para afastar a natureza hedionda do fato imputado: A vingana, por si, isoladamente, no motivo torpe. III A troca de tiros, em princpio, sem outros dados, afasta a qualificadora do inciso IV do art. 121, 2, do Cdigo Penal. IV Se, inequivocamente, sem qualquer discusso, a imputatio facti no apresenta situao tpica prpria de homicdio qualificado, os efeitos processuais da Lei n. 8.072/90 devem ser, ainda que provisoriamente, afastados. V Consequentemente, inexistindo motivos para a segregao ad cautelam, deve o acusado aguardar o julgamento em liberdade. Habeas corpus deferido52.Os motivos que qualificam o crime de homicdio, na hiptese de concurso de pessoas, so incomunicveis, pois a motivao individual, e no constituem elementares tpicas, segundo o melhor entendimento doutrinrio.c) Motivo ftilFtil o motivo insignificante, banal, desproporcional reao criminosa. Motivo ftil no se confunde com motivo injusto, uma vez que o motivo justo pode, em tese, excluir a ilicitude, afastar a culpabilidade ou privilegiar a ao delituosa. Vingana no motivo ftil, embora, eventualmente, possa caracterizar motivo torpe. O cime, por exemplo, no se compatibiliza com motivo ftil. Motivo ftil, segundo a Exposio de Motivos, aquele que, pela sua mnima importncia, no causa suficiente para o crime. Na verdade, essa declarao da Exposio de Motivos no das mais felizes, porque, se for causa suficiente para o crime, justific-lo-, logo, ser excludente de criminalidade.Motivo ftil no se confunde com motivo injusto, pois este no apresenta aquela desproporcionalidade referida na Exposio de Motivos. E um motivo aparentemente insignificante pode, em certas circunstncias, assumir determinada relevncia. Por outro lado, todo motivo que no justifique53 o crime, excluindo-lhe a antijuridicidade ou eximindo a culpabilidade, , tecnicamente, sempre injusto; sendo justo o motivo, no se poder falar em crime.A insuficincia de motivo no pode, porm, ser confundida com ausncia de motivos. Alis, motivo ftil no se confunde com ausncia de motivo. Essa uma grande aberrao jurdico-penal. A presena de um motivo, ftil ou banal, qualifica o homicdio. No entanto, a completa ausncia de motivo, que deve tornar mais censurvel a conduta, pela gratuidade e maior reprovabilidade, no o qualifica. Absurdo lgico: homicdio motivado qualificado; homicdio sem motivo simples. Mas o princpio da reserva legal no deixa alternativa. Por isso, defendemos, de lege ferenda, o acrscimo de uma nova qualificadora ao homicdio: ausncia de motivo, pois quem o pratica nessas circunstncias revela uma perigosa anormalidade moral que atinge as raias da demncia.

ResumindoMotivo ftil: aquele que, por sua mnima importncia, no causa suficiente para o crime insignificante, desproporcional entre a causa e o crime perpetrado.Ausncia de motivo no motivo ftil que deve ser comprovado.A jurisprudncia tem decidido que o cime e a embriaguez do agente no configuram motivo ftil.O cime no considerado ftil e a vingana s ftil se decorrente de uma agresso tambm por este motivo. Quando h discusso entre partes antes do crime, em geral retirada a qualificadora da futilidade, pois a troca de ofensas supera a pequena importncia. O mesmo crime no pode ser qualificado por motivo ftil e torpe ao mesmo tempo. A acusao deve escolher a que melhor se enquadre ao caso em apreo.Motivo Torpe: o homicdio praticado por um sentimento vil, repugnante, que demonstra imoralidade do agente (por herana, por inveja, inconformidade por ter sido abandonado, por preconceito de sexo, cor, religio, etnia, raa (veja o genocdio descrito na Lei 2.889/56 quando inmeras vtimas por preconceito tnico ou racial).O cime no considerado sentimento vil. Vingana j se enquadra se decorrente de uma antecedente torpe.