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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA KUÉZIA DA COSTA APOLARO A CRIAÇÃO DA BIBLIOTECA PÚBLICA NA PROVÍNCIA DO PARÁ Um estudo com ênfase nos Relatórios endereçados à Assembléia Legislativa Provincial do Pará BELÉM 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS

FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA

KUÉZIA DA COSTA APOLARO

A CRIAÇÃO DA BIBLIOTECA PÚBLICA NA

PROVÍNCIA DO PARÁ

Um estudo com ênfase nos Relatórios endereçados à Assembléia Legislativa Provincial do Pará

BELÉM 2008

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KUÉZIA DA COSTA APOLARO

A CRIAÇÃO DA BIBLIOTECA PÚBLICA NA PROVÍNCIA DO PARÁ

Um estudo com ênfase nos Relatórios endereçados à Assembléia Legislativa Provincial do Pará

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia da Universidade Federal do Pará, orientado pela Prof. MSc. Maria Izabel Moreira Arruda.

BELÉM 2008

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___________________________________________________________ A643c Apolaro, Kuézia da Costa. A criação da Biblioteca Pública na Província do Pará: um estudo com ênfase nos Relatórios endereçados à Assembléia Legislativa Provincial do Pará / Kuézia da Costa Apolaro; orientador, Maria Izabel Moreira Arruda. – 2008. 68 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universi- dade Federal do Pará, Instituto de Ciências Sociais e Aplica- das, Faculdade de Biblioteconomia, Belém, 2008.

1. Biblioteca Pública do Pará. 2. História - Pará. I. Título. CDD – 22. ed. 027.48115

__________________________________________________________

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Dedico aos meus pais Genaro e

Athanázia com muito carinho.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelo seu infinito amor dado a mim;

Agradeço ao meu pai Genaro e minha mãe Athanazia, por sempre me

ensinarem o caminho mais correto.

Aos meus irmãos Antonio, Andréia, Helenise, Lia, Raquel, Thiago, Noeme,

Daniel e André, por estarem sempre ao meu lado , assim como meus cunhados,

cunhadas, sobrinhas e sobrinhos.

Agradeço também aos meus tios Jaime e Cleta que em nenhum momento me

esquecem dando-me apoio e carinho.

Ao Valdener Antonio por estar ao meu lado nessa conquista dando-me

compreensão e amor.

Agradeço de todo coração as minhas queridas amigas Adriana, Lucicléa e

Thaís pelos momentos que passamos juntas nessa etapa de nossas vidas ajudando

uma as outras. Sentirei muitas saudades...

Agradeço a minha Professora Orientadora Maria Izabel Arruda, que me

auxiliou com muita compreensão durante todo o processo de desenvolvimento deste

trabalho e a todos os professores da Faculdade de Biblioteconomia que se

disponibilizaram a me conduzir nesse processo educacional por meio de seus

esforços e muito empenho.

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Lugar da memória nacional, espaço de conservação do patrimônio intelectual, literário e artístico, uma biblioteca é também o teatro de uma alquimia complexa em que, sob o efeito da leitura, da escrita e de sua interação, se liberam as forças, os movimentos do pensamento. Christian Jacob

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RESUMO

Traça um panorama da história da Biblioteca Pública na Província do Pará

a partir de sua criação em 1839, até sua instalação em 1986 no Centro Cultural e

Turístico do Pará tomando como principais fontes de informação os Relatórios

endereçados à Assembléia Legislativa Provincial do Pará. Apresenta os aspectos

mais significantes sobre a criação da Biblioteca Pública no momento em que foi

idealizada por um cidadão paraense que estudava medicina em Lisboa, no ano de

1839, que enviou uma correspondência ao Sr. José de Nápoles Telles de Menezes

na qual ele recomendava aos seus conterrâneos a dedicação que tinha pelos

estudos e a felicidade em cooperar com o desenvolvimento intelectual da Província.

Aponta a trajetória de desenvolvimento da Biblioteca no que diz respeito à formação

do acervo desde as primeiras doações de livros até o número total de volumes

transferidos para o novo prédio da Biblioteca, bem como as pessoas nomeadas para

o cargo de Diretor da Biblioteca e a freqüência de usuários entre os anos de 1871 a

1986.

PALAVRAS-CHAVE: Biblioteca Pública do Pará; Pará – História.

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ABSTRACT

It traces a panorama of the history of the Public Library in the Province of

Pará starting from it’s creation in 1839, until it’s installation in 1986 in the Cultural and

Tourist Center of Pará taking as main sources of information the Reports addressed

to the Provincial Legislative Assembly of Pará. It presents the most significant

aspects about the creation of the Public Library of Pará when it was idealized by a

paraense citizen who studied medicine in Lisbon, in 1839, who sent a

correspondence to Mr. José de Nápoles Telles de Menezes in the which he

recommended his fellow citizens the same dedication which he had for the studies

and the happiness in cooperating with the intellectual development of the Province. It

points out the path of development of the Library in relation to the formation of the

collection since the first donations of books until the total number of volumes

transferred to the new building of the Library, as well as the nominated people for the

position of Director of the Library and the users' frequency among the years from

1871 to 1986.

KEY WORDS: Public library of Pará; Pará - History.

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 – Dr. Joaquim Pires Machado Portella .............................. ...... 34

Fotografia 2 – Biblioteca e Arquivo Público do Pará .................................... 38

Fotografia 3 – Maquete do Centro Cultural e Turístico de Belém................. 40

Fotografia 4 – Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves ........................ 42

Fotografia 5 - Domingos Soares Ferreira Penna.......................................... 50

Fotografia 6 – Ernesto Horácio da Cruz ....................................................... 54

Fotografia 7 – Corpo Técnico da Biblioteca ................................................. 55

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................. ............................................................. 11 2 OBJETIVOS .................................................................................................. 12 2.1 GERAL ....................................................................................................... 12 2.2 ESPECÍFICOS ........................................................................................... 12 3 METODOLOGIA ........................................................................................... 13 4 HISTÓRIA DO PARÁ NO SÉCULO XIX ....................................................... 14 4.1 ASPECTOS POLÍTICOS E SOCIAIS......................................................... 14 4.2 ASPECTOS ECONÔMICOS...................................................................... 16 4.3 ASPECTOS CULTURAIS........................................................................... 17 5 BIBLIOTECA PÚBLICA ................................................................................ 18 5.1 FUNÇÕES.................................................................................................. 19 5.1.1 Função Educacional .............................................................................. 19 5.1.2 Função Informacional ........................................................................... 21 5.1.3 Função Cultural ..................................................................................... 23 5.1.4 Função Recreacional ............................................................................ 24 6 HISTÓRIA DAS BIBLIOTECAS ................................................................... 25 6.1 BIBLIOTECAS ANTIGAS ........................................................................... 25 6.2 BIBLIOTECAS MEDIEVAIS ....................................................................... 26 6.3 BIBLIOTECAS MODERNAS ...................................................................... 27 7 HISTÓRIA DA BIBLIOTECA PÚBLICA ....................................................... 29 7.1 NO BRASIL ................................................................................................ 30 8 BIBLIOTECA PÚBLICA NA PROVÍNCIA DO PARÁ ................................... 32 8.1 DA INAUGURAÇÃO ATÉ 1986...................................................................34 8.1.1 Acervo ......................................................................................................43 8.1.2 Diretores ................................................................................................. 50 8.1.3 Freqüência de usuários ..........................................................................57

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 61 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 63 ANEXOS............................................................................................................68

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1 INTRODUÇÃO

A história vem para resgatar o que muitos deixaram esquecido, através dela, fatos e

acontecimentos que marcaram épocas são relembrados através de pesquisas, que nos ajudam a

esclarecer certas transformações, para que hoje sejamos o que somos com nossos costumes,

valores e instituições.

Nessa abordagem, por meio de um processo metodológico paciente, os acontecimentos

foram dispostos de forma cronológica iniciando com uma visão sobre os aspectos históricos do Pará

no século XIX, e em seguida abordando as características da biblioteca pública, assim como

surgimento das bibliotecas antigas, medievais e modernas, ressaltando-se alguns fatos

determinantes que ajudaram a alcançar o objetivo, isto é, a compreensão do tema e sua

centralização para desenvolver a pesquisa.

Os Relatórios endereçados à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, eram os

principais registros da época. Esses documentos eram elaborados pelos presidentes da Província,

nos quais apresentavam a situação de cada ramo do serviço público. Dando ênfase a esses

documentos, serão apresentados os aspectos mais significantes sobre a criação da Biblioteca Pública

na Província do Pará no momento em que foi idealizada 1839 por um cidadão paraense que estudava

medicina em Lisboa que enviou uma correspondência ao Sr. José de Nápoles Telles de Menezes na

qual “aconselhava aos seus comprovincianos a dedicação às letras e a cooperação no

desenvolvimento intelectual da Província”.

A partir desse momento será abordada a trajetória de desenvolvimento da Biblioteca no

que diz respeito à formação do acervo desde as primeiras doações de livros até o número total de

volumes transferidos para o novo prédio da Biblioteca, bem como as pessoas nomeadas para o cargo

de Diretor da Biblioteca e a freqüência de usuários entre os anos de 1871 a 1986.

Certamente haverá omissões que deverão ser justificáveis, mas reuni um conteúdo que

poderá servir de contribuição para o estudo histórico documental de nosso Estado.

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2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

� Traçar um panorama da história da Biblioteca Pública na Província do Pará a partir de

sua criação em 1839, até sua instalação em 1986 no Centro Cultural e Turístico do

Pará.

2.2 ESPECÍFICOS

� Abordar o contexto histórico no Pará no século XIX no momento de criação e

instalação da Biblioteca Pública;

� Apresentar os principais conceitos e funções da Biblioteca Pública;

� Estudar documentos referentes à criação da Biblioteca Pública na Província do Pará;

� Estudar o processo de planejamento, estrutura e funcionamento da Biblioteca Pública

de 1839 até 1986.

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3 METODOLOGIA

O objeto de estudo desta pesquisa é a história de criação da Biblioteca Pública do Pará

em 1839 até a sua instalação no Centro Cultural e Turístico do Pará em 1986. A metodologia usada

para o desenvolvimento da pesquisa é baseada em um estudo histórico-documental abrangendo

fontes de informação como os Relatórios endereçados à Assembléia Legislativa Provincial do Pará a

partir do ano de 1871, assim como, obras de História do Pará escritas por autores paraenses

consagrados como Ernesto Cruz, Benedicto Monteiro e Carlos Rocque, além de artigos publicados

em jornais e periódicos impressos e eletrônicos.

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4 HISTÓRIA DO PARÁ NO SÉCULO XIX

Abordar a história do Pará no século XIX permite-nos resgatar grandes conquistas do

Estado que resultaram em seu crescimento político, social, econômico e cultural.

4.1 ASPECTOS POLÍTICOS E SOCIAIS

O Pará inicialmente era um Estado independente do Brasil, em seguida tornou-se uma

Capitania ficando mais tarde subordinado ao Estado do Maranhão. De acordo com Monteiro (2006, p.

44) em 1751 o Pará virou Estado do Grão-Pará e Maranhão. De acordo com a lei de 16 de dezembro

de 1815, a capitania do Grão-Pará foi, com as demais capitanias brasileiras, transformada em

Província, sendo seu primeiro Governador Antônio José de Souza Manoel de Menezes, Conde de

Vila Flor. O Estado continuou até o ano de 1823 uma Colônia subordinada as autoridades de Lisboa e

somente em 11 de agosto do mesmo ano que o Estado aderiu a Independência do Brasil, sendo que,

apenas no dia 15 foi oficializado como a data da Adesão do Pará. Segundo Monteiro (2005, p.101) A

adesão, entretanto, não aconteceu pacificamente. Além da demora de um ano, ela registra na sua

história muito sacrifício, muito sangue, muitas torturas e muitas mortes.

O Pará mesmo depois de sua adesão, continuou a mando das autoridades portuguesas,

por questões de leis de terras somente em 1850 foi criada uma lei federal regulando as questões de

terra em caráter nacional. (MONTEIRO, 2006, p. 107).

A Cabanagem foi um movimento que marcou o Pará no século XIX, no qual os paraenses

levantaram-se em armas no dia 7 de janeiro de 1835, contra o Presidente Lobo de Souza. De acordo

com Monteiro (2006, p. 111) a Cabanagem se originou em razão da grande distância que separava a

Amazônia dos centros de decisão dos colonizadores e do Império, motivando o tratamento violento e

explorador do povo, sem o controle das autoridades maiores, sem qualquer acesso aos violentados e

explorados.

A Cabanagem no Pará prende-se aos fatos subversivos cometidos nos anos anteriores; é o resultado natural da anarquia promovida pelos agentes do poder público, de mãos dadas com os intitulados diretores dos Partidos que nesses tempos de digladiavam em lutas fraticidas, tratando cada um de desmoralizar por sua vez o princípio da autoridade, arrastando as massas populares aos movimentos tumultuários, apagando nelas a noção dos deveres sociais, cavando o abismo em que mais tarde uns e outros se precipitaram, com irreparável dano de todos e ruína geral da Província. (CRUZ, 1973, p. 288)

Ao longo da história a revolta dos cabanos jamais foi vista, pois o povo assumiu o poder

em razão de um movimento armado, veio de baixo para cima, não foi uma luta da burguesia foi da

plebe contra as classes dominantes da época; foi um grito de liberdade política, econômica e social.

(ROCQUE, 2001, p. 38).

Outro fator importante na vida política e social do Pará no século XIX foi o surgimento da

imprensa. Felipe Patroni, Domingos Simões da Cunha e José Batista da Silva foram os precursores

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na imprensa no Pará. Em março de 1822 começou a circular o primeiro jornal impresso do Pará, e em

25 de maio do mesmo ano, Felipe Patroni foi preso a mando do General José Maria de Moura em

razão de defender os princípios constitucionalistas, passando a direção do jornal ao Cônego João

Batista Gonçalves Campos, que segundo Cruz (1973, p. 146) sem temer conseqüências futuras,

desenvolveu violenta campanha contra o General Moura, ao mesmo tempo em que pregava

abertamente a adesão da Província dos independentes do Sul.

Durante o século XIX surgiram no Pará diversos jornais impressos, entre eles, o

Independente, O Verdadeiro Independente, O jornal do Pará, O Diário do Pará entre outros, que

segundo Cruz (1973) foram bem aproveitados pelos jornalistas paraenses para pregar o

engrandecimento do Estado. Sendo que, é este o papel da imprensa na cooperação com os poderes

públicos e na crítica justa aos seus atos, elogiando ou profligando atitudes, mas, serena e

conscientemente indicando os meios oportunos de combater os males e de incentivar as iniciativas

promissoras.

4.2 ASPECTOS ECONÔMICOS

Nos aspectos econômicos da história do Pará é importante salientar que até o início do

século XIX, o Estado era um grande produtor da seringa e castanha-do-Pará, produtos estes que

eram exportados para Europa em razão do vasto território hidroviário, além de outras riquezas que

eram produzidas, entre elas, as especiarias, a cana-de-açucar, o café, o feijão, o tabaco, o cacau e a

pecuária. Após o movimento da Cabanagem, os primeiros anos do século XIX foram de uma

economia muito baixa, pois a mão-de-obra estava envolvida nas lutas e não havia quem trabalhasse

nas safras.

De acordo com Monteiro (2006, p. 59) somente no ano de 1839, com a fase áurea da

borracha e a sua conseqüente produção e exportação, todos esses gêneros começaram a perder

importância, sendo que, só a partir de 1850 a produção da borracha ultrapassou as fronteiras do

Pará. Sobre isso, podemos observar que:

Apesar da população do Pará já ser de 275.072 habitantes, em 1872, acentua-se a escassez da mão-de-obra na produção gumífera, pois a produção comercial da borracha expandira-se até o Xingu e o Tapajós, exigindo mais que 31.000 pessoas empregadas na extração. (MONTEIRO, 2006, p. 157).

Durante todo o século XIX, a economia Paraense foi sustentada principalmente pela

produção da borracha, pois suas exportações cresciam cada vez mais devido suas diversas

utilidades. Segundo Monteiro (2006, p. 160) na passagem do século, entre 1890 e 1920, as

exportações do látex amazônico chegaram a atingir mais de 40 toneladas.

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4.3 ASPECTOS CULTURAIS

A cultura paraense vista no século XIX esteve diretamente ligada as letras, pois nesse

período surgiram diversos autores da literatura popular, bem como vários centros de cultura como a

Academia Paraense de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico do Pará e o Instituto de Antropologia

e Etnologia do Pará, assim como o Museu Emílio Goeldi, a Biblioteca e Arquivo Público do Pará e o

Conservatório Carlos Gomes.

Foi durante o século XIX que a Instrução Pública desenvolveu-se definitivamente, foram

montadas escolas de ensino primário, assim como outras escolas de apoio a educação. De acordo

com Cruz (1973, p.369):

Nesses estabelecimentos da instrução processa-se, no Pará, o grande trabalho de ensino primário, profissional, secundário, normal e superior, onde se plasmam caracteres e se cultivam inteligência para garantia do progresso do Estado e do Brasil.

Além da ligação com as letras, a cultura paraense formou-se a partir das lendas, da

religião, dos movimentos populares, das artes, entre outras. A religião católica advinda dos

colonizadores é fortemente marcada na cultura paraense, assim como, as crenças indígenas e as

crenças trazidas pelos negros escravizados.

De acordo como Salles (apud MONTEIRO, 2005, p.230):

A nossa história é, por conseguinte, a história do modelo europeu de cultura transplantado para a Amazônia, uma história de imposições culturais ora violentas, ora persuasivas, fruto de um caldeamento étnico de tal sorte que nada é essencialmente indígena, africano ou europeu na Amazônia, nos dias atuais. Tudo é experiência de vida de seus habitantes.

Os índios e os negros foram grandes influenciadores da cultura paraense, eles deixaram

além de suas crenças, as lendas e as manifestações folclóricas como as danças populares. O teatro

popular também é herança indígena e negra mesclada com a cultura européia. “Sob influência do

ritmo da natureza e da miscigenação das raças, surgiu a cultura paraense que está expressa nas

formas variadas na música, no artesanato, na dança, na literatura e no teatro popular”. (MONTEIRO,

p. 235).

5 BIBLIOTECA PÚBLICA

Vários autores atribuem conceitos para Biblioteca Pública, entre eles podemos destacar

os seguintes:

“A biblioteca pública é o centro local de informação, disponibilizando prontamente para os

usuários todo tipo de conhecimento.” (FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, 2000, p.18). Observa-

se nesse conceito que a biblioteca pública deve possuir um acervo diversificado que atenda a

qualquer tipo de usuário.

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É importante salientar que o conceito de biblioteca pública diferencia-se apenas em razão

do meio social no qual está inserida. Por esse motivo, observa-se que:

A biblioteca pública possui uma característica singular. Acompanha e se ajusta às mudanças que a sociedade experimenta, mas se mantém íntegra na observância de suas funções de disseminadora do saber, preservadora da memória cultural da humanidade, estimuladora da educação permanente de cada cidadão. (CUNHA, 2003, p.67).

Para Suaiden (2000, p. 57) “a própria denominação ‘biblioteca pública’ pressupõe uma

entidade prestando serviços ao público em geral, independente das condições sociais, educacionais

e culturais”. O autor observa que nesse aspecto a biblioteca pública é falha, pois sua atenção

restringiu-se a prestação de serviços para estudantes de primeiro e segundo graus.

Para Almeida Júnior (2003, p. 29):

Na realidade, a biblioteca pública deve constituir-se, cada vez mais em um centro convergente

das aspirações comunitárias, ou seja, deve ter uma identificação muito grande com sua

comunidade e contribuir para resolver os problemas que são próprios à mesma comunidade.

A partir dos conceitos apresentados, concluiu-se que o conceito dado à biblioteca pública

deve estar diretamente ligado com a comunidade a qual está inserida, visando suas necessidades

educacionais, culturais, recreativas e informacionais.

5.1 FUNÇÕES

Sobre as funções da biblioteca pública, é de grande importância citar o Manifesto da

UNESCO para Bibliotecas Públicas: esse documento foi criado para ditar as atividades que seriam

realizadas, bem como a forma de organização das bibliotecas públicas. O Manifesto da UNESCO

teve sua primeira versão publicada em 1949, caracterizando a biblioteca pública como fonte de

ensino e centro de educação popular. Em sua segunda versão criada em 1972 caracterizava a

biblioteca pública como centro de educação, cultura, lazer e informação. Enfim, foi no ano de 1994

durante uma reunião da “PGI Council Meeting” da UNESCO que surgiu a última versão do Manifesto,

a qual incorporou as novas tecnologias, propondo como função da biblioteca pública, facilitar o

desenvolvimento da informação e da habilidade no uso do computador.

A biblioteca pública de acordo com alguns autores possui quatro funções básicas, sendo

elas: educacional, informacional, cultural e recreacional. Sobre essas funções, Cunha (2003) observa

que elas permanecem inerentes à instituição, sendo alteradas em conteúdo, forma e estratégia, na

medida em que se modifica o contexto social onde se situam.

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5.1.1 Função Educacional

Desde o surgimento da biblioteca pública pôde-se observar que sua função primordial era

dar suporte à educação, pois as bibliotecas públicas surgiram a partir da reivindicação do povo que

buscava ter acesso à educação gratuita. Essa função predomina até os dias atuais, como comenta

Cunha (2003) que nas bibliotecas públicas do Brasil e de outros países a predominância da função

educacional permanece por inexistência ou precariedade das bibliotecas escolares, fazendo com que

a biblioteca pública assuma esse outro papel.

A educação formal tornou-se um dos principais objetivos da biblioteca pública, pois, ela

oferece mais suporte e preferência aos estudantes do ensino fundamental e médio do que aos

demais usuários. Segundo a afirmação de Arruda (2000) “a biblioteca pública deve ser uma entendida

como sendo as atividades que servirão, exclusivamente, como complemento, suporte e apoio à

educação formal, sem, contudo, deixar de atender a educação não-formal e informal”.

Podemos observar que o papel educacional da biblioteca pública é muito discutido pelos

autores da literatura especializada, pois se entende que a biblioteca pública deveria atender não

somente o público estudantil, mas, toda a sociedade em geral freqüentadora ou não da biblioteca.

Suaiden (2000) descreve um fenômeno chamado escolarização da biblioteca pública.

Esse fenômeno dar-se a partir da ocupação que os alunos fazem da biblioteca pública o qual resulta

no afastamento dos outros grupos sociais.

Existem divergências entre os autores estudados, pois de acordo com Suaiden (2000) “a

biblioteca pública prioriza seus recursos no atendimento ao público estudantil”, sendo que Almeida

Júnior (2003) afirma que “a biblioteca pública não considera como sua função primordial atender aos

alunos, não estando preparada para atender os interesses desse tipo de usuário”. A afirmação dos

autores leva-nos a refletir de que forma a biblioteca pública está desempenhando sua função

educacional? Os autores concordam com a falta de preparo profissional no serviço de referência e

informação das bibliotecas públicas.

O Manifesto da Unesco aponta três tópicos relacionados à função educacional da

biblioteca pública, sendo eles:

� Criar e fortalecer hábitos de leitura nas crianças, desde a primeira infância;

� Apoiar a educação individual e a autoformação, assim como a educação formal a

todos os níveis;

� Apoiar, participar e, se necessário, criar programas e atividades de alfabetização para

os diferentes grupos etários.

Enfim, o papel educacional da biblioteca pública deve ser visto como essencial, já que em

sua maioria a demanda é de estudantes.

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5.1.2 Função Informacional

A função informacional surgiu entre os anos de 1960 e 1970 com o objetivo de oferecer

informação de forma adequada, rápida e precisa. Segundo Arruda (2000) sua origem deu-se a apartir

da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente, após os anos 50.

A função informacional verdadeiramente,

[...] é fruto de um estudo de usuário que tenha detectado a necessidade da população por informações para atender e fazer face a problemas cotidianos, mas de um interesse da própria biblioteca: lutar por uma fatia maior do orçamento destinado aos equipamentos culturais. (ALMEIDA JÚNIOR, 2003, P. 74).

Essa afirmação do autor está relacionada à diminuição das verbas que eram destinadas

aos espaços culturais dos Estados Unidos e que por essa razão implantaram Centros referenciais

para se mostrarem úteis e importantes socialmente. “Esses Centros introduziram vários novos termos

no linguajar bibliotecário, tentando identificar e distinguir seus serviços, suas ações e o tipo de

informação com a qual trabalhavam.” (ALMEIDA JÚNIOR, 2003, p. 75).

A biblioteca pública deve manter um acervo que satisfaça as necessidades de informação

de seus usuários, bem como, divulgar seus serviços para que sua demanda seja potencial e esteja

sempre satisfeita. Segundo Suaiden (1995, p. 64) o distanciamento da comunidade com a biblioteca

pública faz com que as pessoas busquem outras fontes de informação para satisfazer suas

necessidades. A biblioteca pública precisa oferecer sempre outras fontes de informação além de sua

principal que é o livro, para que seus serviços alcancem outros grupos que também necessitam de

informação e conhecimento. Como propõe o autor:

A implantação do serviço de informação a comunidade nas bibliotecas públicas, a partir do diagnóstico das necessidades de informação da comunidade e com uma ampla interação entre as partes (biblioteca e comunidade), pode ser de grande importância para o desenvolvimento de todos os setores da comunidade. (SUAIDEN, 1995, P. 66).

O Manifesto da Unesco aponta três tópicos relacionados à função informacional da

biblioteca pública, sendo eles:

� Apoiar a tradição oral; assegurar o acesso dos cidadãos a todos os tipos de

informação à comunidade;

� Propiciar serviços de informação adequados às empresas locais, associações e

grupos de interesse;

� Facilitar o desenvolvimento da capacidade de utilizar a informação e a informática.

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Portanto, a biblioteca pública deve estar diretamente ligada à comunidade que demanda

seus serviços informacionais, pois o acesso à informação rápida e precisa é um dos grandes

investimentos dos dias atuais.

5.1.3 Função Cultural

Entre as funções exercidas pela biblioteca pública, a função cultural foi incorporada

somente na primeira metade do século XX, inicialmente ela era confundida com um caráter erudito,

ou seja, a biblioteca pública deveria ter como objetivo oferecer os melhores meios para que as

pessoas desenvolvessem sua inteligência. Sobre isso, Almeida Júnior (2003, p. 73) observa que, “a

preocupação era, e ainda é, levar as pessoas à leitura do ‘bons’ livros, entendidos esses a partir de

conceitos dos próprios bibliotecários e de análises mais ou menos sedimentadas e consensuais de

críticos da literatura”.

Atualmente, podemos notar que essa função da biblioteca pública tem por objetivo levar a

cultura aos seus usuários de diversas maneiras como mostra Cunha (2000) através da música

clássica, da ópera, ballet, sessões de cinema, vídeo e TV, além de acervos de literatura, cursos,

palestras, debates, exposições, entre outros.

O Manifesto da Unesco aponta três tópicos relacionados à função cultural da biblioteca

pública, sendo eles:

� Promover o conhecimento sobre a herança cultural, o apreço pelas artes e pelas

realizações e inovações científicas;

� Facilitar o acesso às diferentes formas de expressão cultural das manifestações

artísticas;

� Fomentar o diálogo inter-cultural e, em especial, a diversidade cultural.

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5.1.4 Função Recreacional

A recreação é sinônimo de diversão e entretenimento, por esse motivo a função

recreacional vem perdendo seu espaço, pois de acordo com Cunha (2000) ela é vista como a função

da biblioteca pública que está perdendo seu valor entre os meios de comunicação, uma vez que a

mídia coloca a leitura em segundo plano.

A leitura deve ser vista como algo prazeroso para quem a está praticando, visto que a

mídia é um dos principais meios que nos induz a não ler, fazendo com que tudo chegue a nós de

maneira pronta, ou seja, a imagem que ela impõe nos transmite toda a informação que buscamos

naquele momento. A biblioteca pública ao desempenhar a função recreacional, vem nos proporcionar

o gosto pela leitura de forma livre. Podemos observar que:

[...] através da aparente leitura descompromissada, esta poderá tornar-se indispensável para a comunidade que, apriori, irá procurá-las apenas para a obtenção de uma leitura que desperte a imaginação, ficção, criatividade ou, uma forma de evasão e de compensação. (ARRUDA, 2000, p 12)

Arruda (2000) observa também que a função recreacional da biblioteca pública não deve

deixar de lado o seu público infantil, cumpre a ela reservar um espaço recreativo com jogos, livros,

brinquedos, entre outros que contribuam para o desenvolvimento da criança no que diz respeito ao

raciocínio, coordenação motora e principalmente o prazer da leitura.

O Manifesto da Unesco aponta dois tópicos relacionados à função recreacional da

biblioteca pública, sendo eles:

� Oferecer possibilidades de um criativo desenvolvimento pessoal;

� Estimular a imaginação e criatividade das crianças e jovens.

6 HISTÓRIA DAS BIBLIOTECAS

A história das bibliotecas remonta desde a antiguidade até os dias atuais, suas

características, funções e conceitos modificaram-se de acordo com o momento histórico e social no

qual estava inserida.

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6.1 BIBLIOTECAS ANTIGAS

As bibliotecas existiram no Antigo Oriente desde antes do surgimento da imprensa, eram

instaladas nos templos e tinham uma característica mais ou menos religiosa.

As características principais das bibliotecas antigas eram principalmente por serem

bibliotecas fechadas ao público, pois eram instaladas em templos e palácios e tinham como

responsáveis os sacerdotes que consideravam o saber sagrado e eram os únicos que sabiam ler. As

bibliotecas diferenciavam-se entre si pelo tipo de material como as consideradas minerais, compostas

de tabletas de argila e as vegetais e animais compostas de rolos de papiro ou pergaminho.

Segundo narram alguns historiadores, a primeira biblioteca de que se há memória foi organizada em Mênfis, pelo Rei Osimandias, 2.000 a. C. Na Grécia, a mais antiga de que há notícia é a que Pisístraco fundou em Atenas. (LOPES, 1987, p.528).

A biblioteca de Mênfis possuía uma preciosa coleção de manuscritos em antigo hebraico.

Durante o período helenista, as bibliotecas desenvolveram-se muito, principalmente as de Pérgamo,

fundada por Eumene II e Atalo II que possuía um acervo com aproximadamente duzentos mil

volumes e a biblioteca de Alexandria, com certeza a mais famosa de todas as bibliotecas egípicias

organizada por Ptolomeu Sóter com um acervo de cerca de setecentos mil volumes que segundo

Martins (2002) dividiam-se em duas partes: quatrocentos mil volumes foram depositados num bairro

da cidade chamado Bruchium e trezentos outros mil volumes, formaram uma biblioteca suplementar,

num bairro, chamado Serápio. A biblioteca da Alexandria é considerada a mais importante biblioteca

de toda antiguidade.

Além dessas bibliotecas na Antiguidade, havia também as bibliotecas judaicas em cada

sinagoga que possuíam grandes livros sagrados. Também é importante citar as bibliotecas da

Mesopotâmea e especialmente a de Nínive descoberta por Layard, em 1854, no palácio do rei

Assurbanipal que segundo Martins (2002, p.76) era conhecida por suas tabletas de argila que

continham obras religiosas, de magia, históricas e de astrologia, catálogos de plantas e de animais,

mapas e estipulações de toda espécie, hoje recolhidas ao Museu Britânico.

6.2 BIBLIOTECAS MEDIEVAIS

As bibliotecas medievais dividiam-se em monacais, universitárias e particulares, o

pensamento que predominava na Idade Média era favorável a existência e manutenção de bibliotecas

monásticas, pois muitos clérigos tinham a piedade de fazer cópias de obras antigas que muitas vezes

não tinham nenhuma importância para outras pessoas. “[...] são os mosteiros que salvam, para o

mundo moderno, a riqueza literária da Antiguidade.” (MARTINS, 2002, p.83)

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Dentre as bibliotecas mais importantes da Idade Média, citam-se as do Monte Atos, na

Turquia; as do Ocidente; as italianas; as de Saint-Grall na Suíça; as de Corbie; de Cluny e de Fleury-

sur-Loire, na França; a de Fulda, na Prússia e a Vaticana.

As bibliotecas particulares eram mantidas por imperadores e grandes senhores, que as

transformavam em oficiais. Os monges copistas eram contratados pelos imperadores para fazerem

cópias dos manuscritos, segundo Martins (2002, p.87) pelo código Teodosiano, sabe-se que essa

época havia sete copistas, dirigidos por um bibliotecário principal.

Entre as bibliotecas particulares da Idade Média, vale ressaltar a do Sábio Fócio que

possuía 280 obras, a de Loup entre outras. É importante ressaltar que as coleções de livros desses

imperadores eram bem pequenas e eles faziam questão de levá-las em suas viagens.

A fundação das Universidades na Idade Média marca uma grande mudança para a

civilização que a partir de então se desliga da cultura religiosa, assim como as bibliotecas, sendo a

primeira a da Universidade de Oxford chamada Bodleiana fundada a partir de doações de livros feita

pelo seu fundador Richard de Bury, assim como Humphrey que doou 600 volumes em 1597.

Outra importante biblioteca fundada na Idade Média foi a da Universidade de Paris

chamada Sorbonne. A biblioteca desta universidade era instalada em uma das alas do edifício muito

bem acomodada e havia um rigor muito grande em seu regimento, obrigando o leitor obedecer

determinadas regras e nela constava o “livro acorrentado”.

As bibliotecas universitárias da Idade Média ganham seu grande desenvolvimento no

decorrer do século XV, quando, na observação de Stephen d’Irsay, as riquezas materiais das

universidades aumentam. (MARTINS, 2002, p.91).

A partir do século XV, as universidades passaram a ter edifício próprio facilitando assim o

aparecimento das bibliotecas universitárias. É também nesse período que as bibliotecas começam a

adquirir sua característica moderna, bem como o aparecimento da figura do Bibliotecário.

6.3 BIBLIOTECAS MODERNAS

As bibliotecas modernas caracterizam-se por acompanhar a evolução social, ou seja, o

desmembramento do religioso, passando então a ser uma instituição leiga e civil, pública e aberta

que para Martins (2002, p.323) essa transformação implica, como é fácil de compreender, uma

democratização cada vez maior. Ou seja, a quebra dos privilégios apenas para minoria.

[...] a biblioteca moderna não apenas abriu largamente as portas, mas ainda sai à procura de leitores; não apenas quer servir ao indivíduo isolado, proporcionando-lhe a leitura, o instrumento, a informação de que necessita, mas ainda deseja satisfazer às necessidades do grupo, assumindo voluntariamente o papel de um órgão sobrecarregado, dinâmico e multiforme da coletividade. (MARTINS, 2002, p.325).

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As bibliotecas modernas deixaram de ser apenas depósito de livros que poucos tinham

acesso, e passaram então a serem dinâmicas e circulantes. Entre as bibliotecas modernas, pode-

se destacar como as mais importantes:

� Biblioteca Nacional de Paris iniciada por Luís XI entre 1461 e 1483;

� Biblioteca Nacional do Reino Unido fundada juntamente com o British Museum em 1753,

sendo em seguida desmembrada para formar a British Library em 1973;

� Biblioteca do Congresso de Washington fundada em 24 de abril de 1800;

� Biblioteca Vaticana da Itália que passou por uma reforma que durou dois anos, de 1928 a

1930;

� Biblioteca de Berlim, chamada inicialmente de Biblioteca Real do Imperador que em 1659

passou a ser chamada de Biblioteca do Estado Prussiano, sendo até 1831 a biblioteca da

Universidade de Berlim;

� Biblioteca Nacional da Rússia e a Biblioteca do Estado de Moscou chamada de Biblioteca V.I.

Lenin que foi reorganizada em 1993;

� Biblioteca Nacional de Buenos Aires criada em 1810 e a,

� Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro agora denominada de Fundação Biblioteca Nacional

que inicialmente era uma livraria organizada pelo Rei de Portugal D. José I, foi transferida

para o Brasil em fins de 1807 e princípios de 1808 por D. João VI.

7 HISTÓRIA DA BIBLIOTECA PÚBLICA

A biblioteca pública foi criada para alcançar diversos objetivos como dar acesso à leitura,

propagar a cultura popular, disseminar assuntos gerais, etc. De acordo com Cunha (2003) é de

Atenas, na Antiguidade, o primeiro registro de criação de biblioteca pública de que se tem notícia. Em

seguida de Roma, no ano 39 de nossa era. Essas bibliotecas já eram focadas a um público mesmo

que pequeno, pois eram poucas as pessoas letradas nessa época.

A partir da Antiguidade foram surgindo diversas bibliotecas que possuíam caráter público,

No que diz respeito à história das bibliotecas que se disseram públicas, devido seus acervos terem sido fraqueados ao público, liga-se ao fato de que as primeiras bibliotecas que surgiram, apresentaram um caráter eminentemente particular. Isto se dá pelo fato do acervo dessas bibliotecas serem constituídas a partir das doações de um grupo pequeno de pessoas de acordo com seus interesses. (ARRUDA, 2000, p.3).

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Três grandes aspectos diferenciam as características das bibliotecas que surgiram a

partir de 1850 das anteriores. Segundo Almeida Júnior (2003) são mantidas integralmente pelo

Estado; com funções específicas e com a intenção de atender toda a sociedade.

Como atestam vários autores, entre os quais Muller, Nogueira, Serrai, etc., a biblioteca pública surge na segunda metade do século XIX, nos Estados Unidos e na Inglaterra, tendo o ano de 1850 como marco histórico desse fato. (ALMEIDA JÚNIOR, 2003, p.66).

Na Inglaterra, na época das revoluções Industrial e Liberal, havia a necessidade de mão-

de-obra qualificada. Segundo Almeida Júnior (apud WADA, 1985, p.16) “o desenvolvimento industrial

demandava uma mão-de-obra especializada e a Biblioteca Pública surgiu como meio de

aperfeiçoamento dos trabalhadores que já estavam fora do ensino formal”. A Revolução Francesa

também foi uma das grandes responsáveis pelo surgimento das bibliotecas públicas, pois,

Os cidadãos passaram a ter direito a instrução elementar e principalmente pelo fato desta Revolução tentar abolir a idéia de que o passado pertencia apenas à classe burguesa, através das bibliotecas particulares. Por esse motivo, tais bibliotecas passaram a ser concebidas como sendo “inimigas da República”, tornando-se assim um dos alvos automático da referida Revolução. (ARRUDA, 2000, p.7).

7.1 NO BRASIL

Os Jesuítas foram os primeiros a organizar as primeiras bibliotecas no Brasil, essas

bibliotecas não eram consideradas públicas, eram instaladas para assentar as armas para a

conversão dos gentios.

Os livros que faziam parte desse arsenal religioso espalhado pelas primeiras povoações e colégios eram apropriados ao objetivo: fundamentalmente obras litúrgicas ou de amparo doutrinário ao trabalho apostólico, sempre sob respaldo do colonizador, o poder temporal indissociado da pregação religiosa. (MILANESI, 1989, p. 65).

O fator mais importante para o surgimento da biblioteca pública no Brasil e que se

mantém até os dias atuais é a educação, pois de acordo com Almeida Júnior (2003) a grande maioria

das escolas brasileiras não possui bibliotecas ou, quando afirma possuir, não passa de um arremedo

de biblioteca com poucos e ultrapassados materiais e localizando-se nos espaços mais inadequados,

fato este que ocasiona a procura dos alunos pela biblioteca pública.

No Brasil, a biblioteca pública surge a partir da iniciativa de algum cidadão preocupado

com a população. De acordo com Suaiden (1995, p.24) “a primeira biblioteca pública fundada no

Brasil foi a Biblioteca da Pública da Bahia, inaugurada no dia 4 de agosto de 1811”. O autor enfatiza

que a biblioteca foi criada a partir da iniciativa dos cidadãos sem nenhuma intervenção do Governo,

por esse motivo pode-se afirmar ser ela realmente pública. Essa biblioteca foi criada a partir de um

projeto enviado no dia 5 de fevereiro de 1811 ao Conde dos Arcos, governador da Capitania da Bahia

por Pedro Gomes Ferrão Castello Branco solicitando a aprovação do plano para a fundação da

biblioteca que após a criação seria mantida através da cooperação de todos os cidadãos. Em seguida

foram criadas diversas bibliotecas em vários estados do Brasil.

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Entre elas, destaca-se a Biblioteca Pública do Pará que foi idealizada em 1839 por um

estudante paraense e fundada no ano de 1871 a partir de doações de livros e quantias em dinheiro

feitas por diversos cidadãos que fizeram questão de apoiar o Presidente da Província do Pará Sr.

Joaquim Pires Machado Portella por sua iniciativa frente à criação da Biblioteca Pública. O capítulo

seguinte deste trabalho apresentará detalhadamente toda a trajetória de criação da Biblioteca Pública

do Pará até a sua instalação em 1986 no Centro Cultural e Turístico do Pará.

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8 BIBLIOTECA PÚBLICA NA PROVÍNCIA DO PARÁ

Na Província do Pará a primeira iniciativa de se criar uma Biblioteca Pública partiu de um

estudante de medicina em Lisboa, através de uma correspondência enviada ao Sr. José de Nápoles

Telles de Menezes que tratou de enviar uma cópia anexada a um ofício que foi lido em sessão de 27

de abril de 1839 na Câmara Municipal, o estudante “aconselhava aos seus comprovincianos a

dedicação às letras e a cooperação no desenvolvimento intelectual da Província”.

Em 1839, quando surgiu a ideia de crear uma bibliotheca publica, mostrava ainda o Pará deplorável estado, conseqüente dos successivos motins que o tinham ensangüentado: a instrucção publica esnsaiava os primeiros passos, difficeis pela defeituosa organização que a presidia; em todo o vastissimo território da Província, que abrangia ainda o actual Estado do Amazonas, existiam 33 escolas, das quaes só 24 funccionavam; na capital, a titulo de curso secundário, ensinava-se philosophia, rhetorica, grammatica latina, geometria e francez. (PARÁ. Secretaria de Estado de Educação e Cultura, 1968, p III).

Para que a Biblioteca Pública fosse criada, era necessário que se criasse um projeto de

organização da biblioteca. Teles de Menezes foi responsável em criar, o qual em seguida enviou ao

atual Presidente da época o Dr. Bernardo de Sousa Franco que aprovou inteiramente a proposta.

Após a aprovação do projeto, viu-se a necessidade de criar uma comissão de pessoas capazes de

estabelecer o projeto, juntamente com José de Nápoles Teles de Menezes faziam parte também da

comissão o Dr. Joaquim Frutuoso Pereira Guimarães, Cônego Silvestre Antunes Pereira da Serra e

Dr. Luiz Barroso Bastos, além dos suplentes Luiz Calandrini da Silva Pacheco e Joaquim Antonio

Alves. Essa comissão encontrou muitas dificuldades em realizar o projeto, pois foi arrecadado apenas

1:348$000 réis que ainda foi reduzido para 1:016$550 réis. Foi instituída a Lei nº 43, de 15 de outubro

de 1839, na qual foi incluída no capítulo 5º relativo à Instrução pública uma verba de 600$000 réis

para auxílio à biblioteca, quantia que a lei orçamentária do exercício de 1840-1841, publicada sob o

nº 82, em 21 de outubro de 1840, elevou a 1.000$000 réis.

Através da Resolução da Assembléia Provincial nº 134 de 14 de outubro de 1846 baixada

pelo Presidente João Maria de Moraes, pode-se obter verba para criar um espaço onde começou a

funcionar a Biblioteca Pública, anexa ao Liceu Paraense criado em 1841 e instalado a 17 de janeiro

do ano seguinte. A Biblioteca ficou sob a direção da Instrução Pública e regida por um regulamento

elaborado pelo Governo que em 1851 orçou uma lei que destinava uma gratificação de 10$000 réis

mensais para um Bibliotecário, sendo que esta medida não melhorou em nada a situação da

Biblioteca que juntamente com o Liceu foi transferida para um prédio na rua Formosa, hoje treze de

maio, entre as travessas de São Matheus e Campos Salles, e, pouco depois, para outro, a rua Nova

de Sant’Anna, canto da travessa das Mercês. (PARÁ. Secretaria de Estado de Educação e Cultura,

1902, p. VII).

Em 1861 foi cedido ao Governo um espaço no prédio do antigo Convento do Carmo para

onde mais tarde o Liceu Paraense foi transferido podendo assim em 1863 a Biblioteca ser

reorganizada com a responsabilidade do Dr. Joaquim José de Assis, diretor da Instrução Pública e do

Colégio Paraense. Em 1868, mais uma vez o Liceu foi transferido, sendo agora instalado em um

palacete na Praça Saldanha Marinho, no qual a Biblioteca foi novamente desorganizada ficando

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entregue ao mais completo abandono em uma das salas do andar térreo com a falta de estantes para

os livros, amontoados uns e espalhados outros pelo chão. (PARÁ. Secretaria de Estado de Educação

e Cultura, 1968, p. VIII).

8.1 DA INAUGURAÇÃO ATÉ 1986.

No ano de 1871, o Dr. Joaquim Pires Machado Portella assume a Província do Pará,

sendo que sua administração dura de 07 de janeiro a 24 de abril do mesmo ano. É importante

salientar que o objetivo do Dr. Portella era “crear uma nova Bibliotheca, annexar-lhe os livros da

primeira, instituil-a como departamento público.” (VIANNA, 1938, p. 25).

Fotografia 1 – Dr. Joaquim Pires Machado Portella.

Como não poderia ser diferente, o Dr. Portella foi quem iniciou as primeiras doações para

que a biblioteca fosse inaugurada.

O Presidente Machado Portella iniciou a série de ofertas, com 30 volumes de diferentes autores. Seguiu-se o dr. Fiock Romano com 59 obras; dr. Francisco Antônio Pinheiro com 28; o cônsul do Peru, sr. José Miguel Rios, com 2 e a quantia de dez mil réis, o dr. Francisco da Silva Castro, com dois livros. (CRUZ, 1971, p. 6).

Antes de sua inauguração, a biblioteca recebeu doações de livros e quantias em

dinheiro de diversas pessoas. Aos 1.888 volumes doados, fez o Presidente reunir os livros da antiga

Biblioteca Pública, aumentando o número do acervo para mais de 3.000 volumes.

Nos Relatórios endereçados à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, que eram os

principais registros da época elaborados pelos Presidentes da Província, nos quais apresentavam a

situação da cada ramo do serviço público, a Biblioteca Pública do Pará também é descrita.

No Relatório do dia 15 de agosto de 1871, o Presidente da Província Abel Graça, destaca

em seus relatos a iniciativa do cidadão Sr. Dr. Joaquim Pires Machado Portella, o qual figura como

uns dos principais idealizadores do projeto de criação da primeira Biblioteca Pública na Província do

Pará. Sobre tal personagem, o Presidente da Província faz o seguinte comentário.

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O sr. Dr. Portella, conhecedor do espírito generoso dos habitantes do Pará, pôde sem o menor sacrifício dos cofres públicos achar os recursos necessários para fundar n’esta cidade uma Bibliotheca Publica. Dirigio cartas particulares aos habitantes d’esta capital e de vários pontos da Província, pedindo livros ou alguma quantia destinada á compral-os para fundar essa Bibliotheca. (BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 15 de agosto de 1871, p. 14).

Como administrador da Província, o Dr. Portella recebeu total confiança da população

que colaborou com livros e até mesmo com quantias em dinheiro. Em 25 de março de 1871 com uma

grande festa literária, a Biblioteca Pública foi inaugurada com um acervo de 2.196 volumes de

diversas obras. Depois de sua inauguração a biblioteca continuou recebendo doações além das

obras compradas ou subscritas.

O fundador Dr. Portella, enviou do Rio de Janeiro uma boa quantidade de obras, o

secretário do Instituto Histórico do Rio de Janeiro Dr. Fernandes Pinheiro ofereceu uma coleção

quase completa da Revista do Instituto e o Sr. Dr. Carlos Frederico Hartt, Naturalista e Geólogo norte

americano, trouxe do seu país muitos livros novos que ofereceu a biblioteca.

A Biblioteca Pública do Pará foi inaugurada em uma sala do pavimento térreo do edifício

Liceu Paraense, assim como o Museu instalado na mesma data e que até o ano de 1872 tinha o

diretor da Biblioteca como responsável.

Como era de praxe, cantou-se nesse dia, às 10 horas da manhã, um Te-Deum, na Cathedral, e realisou-se logo em seguida, o cortejo às effigies de S. S. M. M., no Palácio do Governo; finda esta ceremonia o presidente, acompanhado pela officialidade de terra e mar, funccionarios públicos, e um crescido numero de cidadãos, foi ao Lyceu inaugurar as novas instituições. (PARÁ. Secretaria de Estado de Educação e Cultura, 1902, p. XII).

Durante a cerimônia de inauguração, o bispo D. Antonio de Macedo Costa fez um

discurso abordando a evolução das bibliotecas desde a antiguidade até a modernidade. (Ver o

discurso no Anexo A). Após o bispo falou o Dr. Francisco Pereira de Souza Junior, diretor da

Instrução Pública e em seguido o Presidente Dr.Portella declarando instalados a Biblioteca Pública e

o Museu.

O Relatório de 05 de novembro de 1872, endereçado à Assembléia Legislativa Provincial

do Pará pelo Presidente Bonifácio de Abreu, relata as más condições do pavimento em que estava

instalada a Biblioteca. O Dr. Abel Graça, antigo administrador da Província decidiu após discussão

que o Museu seria instalado em outro local.

Em diversos Relatórios, a localização da Biblioteca é mencionada pelos Presidentes sem

dar nenhuma importância às necessidades de mudança de local. Somente em 16 de julho de 1879, o

Presidente José Coelho da Gama e Abreu, comenta em sua Falla apresentada à Assembléia

Legislativa, a ameaça que a biblioteca estava sofrendo pela infestação de cupins, e que somente por

esse motivo ela foi vistoriada por um Engenheiro que reconheceu a necessidade de substituição do

forro por um que não fosse de madeira, sendo que o orçamento seria de 2:013$000 réis.

Nos Relatórios de 1880 e 1881, o Presidente José Coelho da Gama e Abreu faz o

seguinte comentário com relação aos problemas de cupins, assim como concorda com as

reclamações do Bibliotecário com relação ao local. “É de urgente necessidade que autorizeis a

execução do orçamento feito para as obras indispensáveis à extinção do cupim que atacou a sala da

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bibliotheca”. (BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 15 de

fevereiro de 1880, p.13).

O Relatório endereçado à Assembléia Legislativa do Pará em que o Presidente Manuel

Pinto de Souza Dantas Filho passa a administração da Província ao Sr. Dr. José da Gama Malcher,

inicia-se com uma crítica do Presidente com relação ao local de funcionamento da biblioteca, sendo

que este a seu ver continuava inconveniente, pois o edifício Liceu Paraense possuía uma localização

junto a um terreno arborizado que muito contribuía para a humidez e infestação de pequenos insetos,

fato este que contribuía muito para a destruição dos livros. Menciona também acerca do pequeno

espaço em que a biblioteca estava acomodada, sendo necessária melhor acomodação para as

estantes e os outros móveis usados.

A este respeito tomei a providencia de mandar comprehender nos planos levantados, para a casa destinada para uma escola publica e que tem de ser construída na Praça da Independência, os compartimentos apropriados, para n’elles funccionar a bibliotheca, pois que não possue a província outro edifício. (BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 4 de janeiro de 1882, p.77).

Os Bibliotecários tinham sempre a preocupação de citar em seus relatórios a

necessidade de mudança da biblioteca para um lugar mais salubre e mais no centro da cidade.

O ano de 1885 tem como Presidente da Província João Silveira de Souza o qual retoma

em seu Relatório a continuidade das más condições de funcionamento da biblioteca em umas das

salas do edifício Liceu Paraense. O Presidente menciona a necessidade de melhoramentos na

biblioteca bem como os reparos que mandou fazer em alguns compartimentos da mesma. O vice-

presidente da Província João Lourenço Paes de Souza faz o seguinte comentário:

Esta repartição funcciona em uma sala térrea do Lyceu Paraense; lugar acanhado e impróprio para um estabelecimento d’essa ordem. Actualmente está em obras de melhoramentos, tanto no edifício, como nas estantes. (BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 16 de setembro de 1885, p.61).

A Biblioteca sofria com a falta de verbas para o melhoramento, o Presidente Francisco

José Cardoso Júnior comenta em seu Relatório de 06 de maio de 1888 a importância deste

estabelecimento, o qual não possuía verbas para por em boa guarda as valiosas obras que ali

existiam.

A Biblioteca Pública do Pará era subordinada a instrução pública, portanto, no Relatório

de 02 de fevereiro de 1889, o Presidente Miguel José Almeida Pernambuco anexa as informações

enviadas pelo diretor da instrução pública. Com relação à Biblioteca o diretor faz a seguinte crítica:

“uma visita a esse estabelecimento lança o desanimo ao espírito interessado pelo bem publico, em

rasão do espectaculo que logo se apresenta a um olhar investigador”. Observa-se nessa crítica do

diretor a pouca importância que era dada à biblioteca e que esta não sofria apenas com a falta de

verbas mais também com o descaso por parte dos governos.

Foi no ano de 1890 durante o Governo de Justo Chermont que o Arquivo Colonial

começou a ser organizado pelo professor Marcos Nunes. Em virtude da Lei n. 164 de 31 de maio de

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1894, o Arquivo Colonial foi anexado oficialmente a Biblioteca Pública com documentos que datam os

séculos XVII, XVIII e XIX até o ano de 1840.

No ano de 1895, durante o Governo do Dr. Lauro Sodré foi adquirido um prédio na

Travessa Campos Salles, esquina com a Treze de maio, local onde funcionava o Banco Comercial do

Pará, para a instalação da Biblioteca Pública no dia 31 de maio do mesmo ano com um custo de 115

contos de réis.

Em meados de 1895, começou a Biblioteca a funccionar no seu novo local, dispondo de bom material technico, de vastos salões depósitos, de commodos para as diversas secções, de uma espaçosa sala de leitura, completamente separada das demais dependências. (PARÁ. Secretaria de Estado de Educação e Cultura, 1902, p. XXIV).

Fotografia 2 – Biblioteca e Arquivo Público do Pará.

Ao findar o mandato do Dr. Lauro Sodré no ano de 1897, ele faz a seguinte observação

em sua mensagem dirigida ao Congresso do Estado do Pará:

Installada no excellente prédio que, com auctorisação vossa; adquiri, a Bibliotheca hoje está em condições de concorrer para o bem publico, pondo os livros e as Revistas ao alcance dos que querem e não podem ler; esses são na massa do povo o maior numero. Agora já ali não há apenas o montão desordenado de livros velhos, que eram, passados tempos o mesmo capital com que começara a instituição, apenas desfalcado de muitos volumes que a desídia deixara que se extraviassem e até que a traça consumisse. (BRASIL. Mensagem dirigida ao Congresso do Estado do Pará, 1897, p. 33).

Durante o governo do Dr. Paes de Carvalho no ano de 1899, a Biblioteca Pública foi

reorganizada a partir do decreto nº. 692, de 09 de maio de 1899, e mais tarde no ano de 1901 no

governo do Dr. Augusto Montenegro, houve uma importante reforma, cujos resultados foram muito

vantajosos para a Biblioteca.

De acordo com o Relatório apresentado pelo Diretor da Biblioteca e Arquivo Públicos Dr.

Raul Paula Remijio de Bellido no ano de 1907, a situação do edifício continuava imprópria, pois

estava localizado no centro comercial da cidade, no qual era impossível haver silêncio para quem

estava estudando na Biblioteca. No dia 07 de outubro do mesmo ano, o Governador do Estado fez

uma visita ao edifício da Biblioteca para vistoriar a situação na qual se encontrava, e pelo cuidado

que tinha com o serviço público, ordenou que fizessem reparos e modificações com urgência. No ano

seguinte, o Diretor da Biblioteca continua sendo o Dr. Raul Paula Remijio de Bellido que comenta em

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seu Relatório a respeito das visitas realizadas pelo Governador e dos melhoramentos ocorridos nas

dependências do edifício e para o qual faz o seguinte argumento:

No entretanto, por essa occasião tive de fazer notar ao emérito cidadão, a exigüidade de acommodações de que se resentia para poder armazenar a massa volumosa de manuscriptos e livros, que constituem o Archivo do Estado, tanto mais agora que, esses documentos têm convergido, em crescido numero, de todas as repartições publicas. (PARÁ. Secretaria de Estado de Educação e Cultura, 1908, p. 266).

O Diretor deixou bem claro em seu relatório dois problemas pelo qual a Biblioteca

passava, sendo primeiramente o rumor e movimento nos arredores do edifício que prejudicavam o

silêncio e segundo, o aumento do número de documentos do arquivo.

Oswaldo Vianna, diretor da Biblioteca e Arquivo Público do Pará no ano de 1938 observa

que:

[...] é de justiça salientar o muito que se tem interessado pelo desenvolvimento da Bibliotheca e Archivo o actual governo do Estado, confiando ao illustre paraense dr. José Carneiro da Gama Malcher, quer como governador constitucional que o foi, ou agora, como inventor federal. (VIANNA, 1938, p. 30).

Durante o Governo do Sr. Tenente Coronel Alacid da Silva Nunes em 1971, a Biblioteca e

Arquivo Públicos do Pará foi restaurada no seu grandioso edifício com a responsabilidade do

Secretário de Estado da Viação e obras Públicas Dr. José Maria de Azevedo Barbosa. No ano de seu

centenário, Cruz (1971, p. 19) observa que a biblioteca cumpre sua finalidade de facilitar os

conhecimentos gerais e especializados, desenvolve a cultura, a leitura e as vocações e contribui para

o conhecimento da terra paraense e da Amazônia.

Até o ano de 1978 a Biblioteca e Arquivo Público continua a funcionar no prédio onde foi

instalado durante o Governo de Lauro Sodré, o qual foi construído para servir a outros desígnios e

que no momento não poderia mais comportar o grande volume do acervo e de freqüentadores, foi

então que no Governo Aloysio da Costa Chaves a nova Biblioteca começou a ser projetada pelo

Secretário de Estado de Cultura, Desportos e Turismo, Olavo Lyra Maia, para comportar mais de 350

mil volumes de livros com todos os indispensáveis equipamentos exigidos pela moderna

Biblioteconomia.

Fotografia 3 – Maquete do Centro Cultural e Turístico.

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Na segunda administração de Alacid da Silva Nunes, a construção desse prédio com

24.000 m² que integrava um complexo e eclético Centro Cultural, Educacional e Turístico, situado na

Avenida Gentil Bittencourt no bairro de Nazaré, foi uma de suas prioridades.

Este foi o primeiro espaço construído exclusivamente para a Biblioteca Pública,

localizado no centro nobre e urbanizado da cidade e sua construção variava em torno de Cr$

72.000.000,00 (Setenta e dois milhões de cruzeiros) mais as verbas para a aquisição dos

equipamentos e restauração do acervo. De acordo com Suaiden (1995, p.28) a maioria das

bibliotecas públicas foi criada sem possuir local próprio tendo que ocupar vários locais diferentes e

algumas delas construíram edifício próprio somente na década de 1970 para melhor funcionamento

dos seus serviços.

Juntamente com a construção da nova Biblioteca, iniciou-se o projeto para implantação

do Sistema Estadual de Bibliotecas no qual a Biblioteca seria seu representante no Estado do Pará.

Faziam parte do projeto a Secretaria de Estado de Cultura, Desporto e Turismo, que representava o

Instituto Nacional do Livro no Estado do Pará, e juntos criaram o Projeto para implantação do Sistema

Estadual de Bibliotecas Públicas que tinha como objetivo criar uma Biblioteca Pública em cada um

dos 83 municípios paraenses. Ver o Projeto na íntegra no Anexo B.

Após a construção do prédio da Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves, o

Governador Tenente Coronel Alacid da Silva Nunes, permitiu que a Biblioteca se desvinculasse do

Arquivo e fosse transferida para o novo prédio. A Diretora Valdéa Silva começou a tomar todas as

providências contando com a ajuda de uma equipe de mais de setenta pessoas para fazer a

mudança do acervo e dos equipamentos.

Segundo o Jornal O Liberal (1986, p. 28):

Para o novo prédio da Biblioteca Pública, a Secdet já encomendou estantes especiais. Das 70 que existiam atualmente, vão ficar no casarão da Campos Sales apenas as 16 antigas, trabalhadas em ferro e praticamente irremovíveis. Essas prateleiras e mais as modernas que estão a caminho receberão um acervo acumulado ao longo de mais de um século, e que está sendo pacientemente higienizado para que não chegue à nova biblioteca com poeira e prováveis fungos.

O novo prédio da Biblioteca, além de estar de acordo com as modernas técnicas

biblioteconômicas da época, possuía outras vantagens como o silêncio, ou seja, a falta de poluição

sonora e a instalação de uma central de ar condicionado para melhor preservação do acervo.

No dia 27 de junho de 1986 a Biblioteca Pública do Pará foi transferida para o Centro

Cultural e Turístico do Pará, atualmente Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves. “O Centur foi o

primeiro espaço construído, especialmente, para a Biblioteca. Antes, eram espaços adaptados”.

Observou Valdéa Silva, coordenadora da diretoria de Bibliotecas Públicas do Pará em uma

reportagem feita pelo Jornal Diário do Pará em 1993.

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Fotografia 4 – Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves.

Atualmente com 137 anos, a Biblioteca Pública possui o nome de Biblioteca Pública

Arthur Vianna e integra a Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves. A Biblioteca Pública é

considerada a mais importante da região Norte, oferecendo diversos serviços nas áreas da

promoção, difusão e preservação da cultura, em todas as suas formas de expressão, sobretudo

através da leitura. (BIBLIOTECA PÚBLICA ARTHUR VIANNA, 2007).

8.1.1 Acervo

A Biblioteca Pública do Pará foi inaugurada em 25 de março de 1871 com um acervo de

1.888 volumes de diversas obras que foram doados pelos cidadãos da Província e reunidos com os

volumes da antiga Biblioteca, somando um acervo com mais de três mil volumes.

No Relatório do ano seguinte o Presidente da Província do Pará, Abel Graça, mostra o

crescimento ocorrido no acervo contendo em si vários formatos somando 3.605 volumes, sendo eles:

FORMATO NÚM. VOLUMES

Encadernados 2.708

Brochados 440

Folhetos simples 457

TOTAL 3.605

(Fonte: Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 1872).

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Quanto ao idioma, as obras estavam divididas em oito línguas, sendo as seguintes:

IDIOMA NÚM. VOLUMES

Hebraico 01

Italiano 04

Espanhol 08

Alemão 20

Inglês 49

Latim 81

Francês 488

Português 619

TOTAL 1.270

(Fonte: Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 1872).

O Presidente Abel Graça cita algumas obras existentes na biblioteca, bem como a forma

como elas foram adquiridas.

De volumes manuscritos há apenas 3, sendo um original de autor conhecido, outro em prosa e verso (assumpto religioso), cujo autor é desconhecido, suppondo-se ser um monge Crusco do século 16, e o terceiro é uma simples copia em latim, do Claves Profetarum, do Padre Vieira, já muito estragado. (BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 15 de fevereiro de 1872, p. 15-16).

As doações de livros feita pela população e por algumas pessoas letradas, continuaram

mesmo depois da instalação da Biblioteca. Além das doações, as obras eram adquiridas por meio de

compra e assinatura de revistas e jornais, tais como a “Geographischi Mittheilungen, do dr. A.

Peterman. Todas as obras de Castelman, o Jornal dos Economistas, entre outras, foram

encomendadas pela casa dos srs. S. Broklehurst & Cª.

O ano de 1872 tinha como Presidente da Província o Sr. Barão da Villa da Barra, que

apresenta em seu Relatório o número de obras que contabilizava o acervo da biblioteca nesse

período, de acordo com Presidente o número era de 1.338 obras divididas em 3.899 volumes,

somando ao acervo os jornais nacionais e estrangeiros.

O acervo estava dividido da seguinte forma e idioma:

FORMATO NÚM. VOLUMES

Encadernados 2.800

Brochados 1.099

TOTAL 3.899

(Fonte: Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 1872).

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IDIOMA NÚM. OBRAS NÚM. VOLUMES

Hebraico 01 01

Italiano 04 17

Espanhol 09 24

Alemão 21 50

Inglês 52 123

Latim 84 254

Francês 510 1.680

Português 657 1.550

TOTAL 1.338 3.699

(Fonte: Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 1872).

“D’essas obras, 519 versão sobre differentes ramos de sciencias, 232 sobre litteratura, e

587 são romances”. (BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 05

de novembro de 1872, p.23).

De acordo com o Presidente da Província Sr. Dr. Domingos José da Cunha Júnior, o

acervo da biblioteca segundo o seu Relatório de 01 de julho de 1873, conta com um número de 1.380

obras em 3.985 volumes nos idiomas, hebraico, grego, polaco, italiano, espanhol, latim, alemão,

inglês, francês e português. Sendo que até 31 de dezembro do mesmo ano, o acervo aumentou para

1.400 obras em número superior a 4.000 volumes de diversos idiomas.

Foi augmentada com 153 volumes, possuindo hoje 6.377 volumes. Resolvereis sobre o pedido feito pelo director geral da instrucção publica da quantia necessária para a aquisição de livros e revistas litterarias e scientificas. (BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 15 de fevereiro de 1876, p.22).

O acervo da biblioteca conta no ano de 1877 com aproximadamente 5.000 volumes além

dos jornais, folhetos e periódicos, tendo no ano anterior um aumento de 78 volumes. O Presidente Dr.

João Capistrano Bandeira de Mello em sua Falla apresentada à Assembléia Legislativa em 15 de

fevereiro de 1877, aborda sobre as necessidades de obras de autores clássicos e escritores

nacionais. Ele refere-se ao aumento do imposto de contribuição sendo como parte para compra de

livros.

Com relação ao acervo da Biblioteca, o Presidente José da Gama Malcher, em sua Falla

apresentada à Assembléia Legislativa Provincial do Pará em 09 de março de 1878, observa o

aumento do número de volumes de obras do ano de 1876 que eram de 4.511 volumes somados aos

1.031 volumes do ano anterior e do ano corrente, elevando-se para 5.542 volumes no total.

De acordo com o Presidente, das obras entradas, 526 foram enviadas pelo Governo e

pela presidência, 02 foram compradas, 14 adquiridas por troca e 461 por doações. Ele menciona

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sobre a contradição entre o número de entrada e saída dos volumes, lembrando que 56 volumes

foram queimados por causa dos cupins e outros que foram encadernados em somente um volume.

No Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará pelo Presidente Sr.

Dr. José Coelho da Gama Abreu, observa-se o desgosto com que ele fala sobre o pouco crescimento

ocorrido na Biblioteca, pois no ano anterior ela recebeu apenas 529 volumes dos quais 523 foram

doadas, tendo um total de 6.001 obras.

O fato da Biblioteca Pública do Pará ter sido instalada a partir de doações feita pelos

cidadãos e quase nada do Governo, é mencionado pelo Presidente Manuel Pinto da Souza Dantas

Filho em seu Relatório de 04 de janeiro de 1882, ele comenta que quase todos os livros foram

oferecidos por particulares, isto explica a falta de escolha de obras que podia oferecer aos seus

leitores.

O Presidente demonstra ter conhecimento de como deve ser uma biblioteca pública, faz

uma crítica ao acervo, pois a Biblioteca possuía apenas uma “pobre coleção” de livros de medicina e

ciências, sendo que a literatura brasileira não estava bem representada. Ele recebeu do Sr. Francisco

Gomes de Amorim uma proposta de venda de uma livraria com 5.000 volumes encadernados a uma

preço de 5:000$000 réis, essa proposta despertou muito o seu interesse, fato este que o fez autorizar

o inspetor do tesouro provincial realizar a compra.

O Presidente propôs em seu Relatório, que a Assembléia Legislativa Provincial votasse

em uma verba de 2:000$000 réis para compra de novas obras para enriquecimento da Biblioteca.

De acordo com o Relatório de 24 de junho de 1884, apresentado pelo Presidente o Sr.

General Visconde de Maracajá, os jornais que mandavam exemplares para a biblioteca eram os

seguintes:

� Liberal do Pará

� A Constituição

� Província do Pará

� Diário do Gram-Pará

� Vida Paraense

� Diário de Notícias

� Diário de Belém

“No Relatório enviado pelo Administrador da Bibliotheca Pública do Pará, consta possuir

a Bibliotheca até o dia 24 de dezembro último, 8.071 volumes”. (BRASIL. Relatório apresentado à

Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 24 de junho de 1884, p.44).

Na Falla em que o Presidente João Silveira de Souza apresenta à Assembléia Legislativa

Provincial do Pará no dia 18 de abril de 1885, observa-se a elevação do número de volumes

brochados e encadernados da Biblioteca. Esse número era de 10.735 volumes incluindo as livrarias

que foram compradas aos Srs. Ferreira Penna e Conselheiro Azambuja.

Com todas as dificuldades que a Biblioteca enfrentava para receber verbas do

Governo para o aumento do seu acervo, podemos perceber a elevação do número de volumes entre

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os anos de 1872 a 1885. De acordo com PARÁ. Secretaria de Estado de Educação e Cultura (1968,

p. XVIII) “[...] a coadjuvação particular continuou a enriquecer de obras a bibliotheca, assim

accelerado foi, em relatividade, o augmento da livraria, como nol-o demonstram os seguintes

algarismos”:

Em 1872................................................3.899 volumes

“ 1873................................................3.985 “

“ 1874................................................4.300 “

“ 1875................................................4.377 “

“ 1876................................................4.511 “

“ 1878................................................5.472 “

“ 1880................................................6.001 “

“ 1884................................................8.071 “

“ 1885................................................10.735 “

O Presidente Miguel José de Almeida Pernambuco anexou a sua Fala de 02 de fevereiro

de 1889 o Relatório enviado pelo Diretor da Instrução Pública, fazendo as seguintes observações

com relação ao acervo da biblioteca. Observa o péssimo estado que se encontravam os livros devido

à infestação dos cupins, bem como os meios impróprios que estavam sendo usados para combatê-

los. Segundo ele, a verba de um conto de réis estava sendo muito bem aplicada na encadernação de

livros brochados, para ele seria de bom proveito à manutenção, bem como o aumento desta verba,

além disso, sugeriu que fossem estabelecidas verbas para compra de mais livros e assinatura de

jornais e revistas para que a Biblioteca não fosse apenas um depósito de livros.

De acordo com o Diretor da Instrução Pública:

Não se encontrando na Bibliotheca as obras dos mais notáveis pensadores comtemporaneos, as quaes assignalaram os últimos progressos do espírito humano de acordo com as activas intuições liberaes do altruísmo scientifico philosophico, essa mui sensível falta brada pela votação d’uma verba para suppril-a. (BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 02 de fevereiro de 1889, p.41).

O acervo da Biblioteca continuou crescendo a partir de doações e permutas, somando

um acervo com 8.608 volumes em perfeito estado de conservação e de uso, e 1.536 que aguardam

encadernação, ascendendo assim o computo geral a mais de 10.000 volumes. (VIANNA, 1938, p.

28).

No ano de 1907, o diretor da Biblioteca Sr. Raul Paula Remijio de Bellido observa em seu

Relatório, a necessidade de se adquirir verba para compra de obras de maior evidencia nas ciências,

letras e artes, sem esquecer das obras nacionais que eram de número muito reduzido na Biblioteca.

Neste ano, foi doada a Biblioteca 585 obras diversas, e permutados 257 obras como mostra o Anexo

C.

No ano seguinte, o diretor da Biblioteca mostra a elevação do acervo nesse ano de 1908.

O Sr. General Jacques Oriuque, autor do livro O Amazonas e o Acre, em visita a Biblioteca, fez a

doação de dez exemplares de seu livro. A Biblioteca fez diversas doações e recebeu em forma de

permuta 208 livros de diversos ofertantes como mostra o Anexo D.

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O diretor Oswaldo Vianna, observa que em 1938 “Apezar de todos os contratempos

havidos, possue a Bibliotheca Pública do Pará, presentemente, 17.560 obras, divididas por 20.027

volumes, sem alludir á collecção de 1.934 jornaes”. (VIANNA, 1938, p.30).

Anos mais tarde, a Biblioteca e Arquivo Público completam 100 anos de fundação e

instalação com um acervo de 50.000 volumes, uma coleção de 42 jornais editados a partir do século

XIX no total de 1.400 volumes, 1.275 códices de documentos manuscritos catalogados e mais ou

menos 1.500 ainda não catalogados. (CRUZ, 1971, p. 19).

Devido ao local inapropriado para abrigar o número cada vez maior do acervo, a situação

continuava a se agravar. Ajanary Samuel de Souza Cruz, Diretor da Biblioteca e Arquivo Público no

ano de 1978, faz as mesmas reclamações de seus antecessores. O Repórter Cléodon Godim, em

sua reportagem para o Jornal O Estado do Pará, faz várias críticas em relação ao acervo, segundo

ele:

Hoje é muito mais grave: como acondicionar e conservar aproximadamente 70.000 volumes que constituem a Biblioteca? Os 1.275 códices manuscritos, muitos destes contendo mais de 200 documentos antigos? As milhares de cópias paleográficas de originais guardados em Portugal? As coleções de publicações periódicas que, só de jornais, contam com 45 títulos? E todo material a ser, ainda, incorporado ao acervo? E os três milhões de peças ainda não classificadas e que estão nos porões, absolutamente virgens, talvez a esconder, quem sabe, importantes valores culturais? (GODIM, 1978, p.3).

Até o ano de 1986 quando a Biblioteca foi transferida para o Centro Cultural e Turístico

do Pará, o acervo era composto por 120.000 volumes. Para a mudança, a Diretora Valdéa Silva

resolveu numerar todos os livros para chegarem a seu lugar certo na nova Biblioteca. O trabalho de

higienização do acervo foi de responsabilidade da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos. A

Diretora comenta em uma entrevista ao Jornal O Liberal, que foi um milagre conseguir guardar tantos

livros raros em um local tão úmido e sem tratamento específico. Ela faz o seguinte elogio aos antigos

diretores:

“Os antigos diretores, que quase sempre eram escritores ou pesquisadores, porque o curso de biblioteconomia não existia, tiveram o extremo cuidado de preservar o acervo. E muito nós devemos a eles, que, mesmo sem conhecimento específico, deixaram para o presente um tesouro fabuloso”. (UMA SUPER..., 1986, p.28).

Atualmente, a Biblioteca Pública Arthur Vianna dispõe de um valioso acervo com

aproximadamente 500.000 volumes em todas as vertentes literárias, técnicas e didáticas.

8.1.2 Diretores

� 1871

O primeiro Diretor da Biblioteca Pública do Pará foi o Sr. Domingos Soares Ferreira

Penna, nomeado no dia 14 de abril de 1971 para assumir o cargo de Bibliotecário e Diretor do Museu

instalado na mesma data da Biblioteca.

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Fotografia 5 - Domingos Soares Ferreira Penna.

De acordo com o resumo histórico dos Anais da Biblioteca e Arquivo Público:

Ficaram os dois estabelecimentos sob a direcção de Domingos Ferreira Penna que percebia pelos trabalhos do seu duplo cargo o insignificante ordenado mensal de 133$333 réis, e tinha, para auxilia-lo em todo o serviço interno, apenas um ajudante, com 75$000 réis mensaes. (PARÁ. Secretaria de Estado de Educação e Cultura, 1968, p. XV).

O Diretor foi retirado do seu cargo de Bibliotecário para assumir apenas a diretoria do

Museu, cargo este, que ele recusou através de uma carta enviada ao Presidente.

� 1872

De acordo com o Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará pelo

Presidente Sr. Barão da Villa da Barra em 05 de novembro de 1872, o antigo administrador da

Província o Dr. Abel Graça, decidiu após discussão que o Museu seria instalado em outro local. Em

conseqüência disso o atual administrador da Província nomeou no dia 28 de julho de 1872, Júlio

Cezar Ribeiro de Sousa como Bibliotecário Público pelo fato deste ter conhecimentos literários e

serviços militares prestados na campanha do Paraguai e para seu ajudante nomeou a João de

Oliveira Seixas.

Os trabalhos de Bibliotecário de Júlio Cezar foram muito criticados pelos seus inimigos.

[...] o jornal Luz da Verdade, em seu número 149, increpou virulentamente ao Barão da Villa da Barra a nomeação que d’lle fizera, chegou mesmo a taxal-a de desastre. Atacado sem considerações, attribuiu as censuras ao seu antecessor, e, retribuição, fez-lhe em documentos officiaes graves cargas, quer em pontos referentes as suas habilitações technicas, quer em relação aos seus deveres de director. (PARÁ. Secretaria de Estado de Educação e Cultura, 1968, p. XIX).

� 1874

Em 22 de abril de 1874 foi nomeado Diretor João de Oliveira Seixas.

� 1876

Em 29 de maio de 1876 foi nomeado Diretor Pedro Gomes do Rego.

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� 1877

Em 17 de janeiro de 1877 o Bibliotecário Pedro Gomes do Rego foi substituído pelo

cidadão Raymundo Brito Gomes de Souza, sobre o qual o vice-presidente José da Gama Malcher faz

o seguinte comentário:

Intelligente e zeloso pelo serviço da repartição a seu cargo, este funcionário muito se recommenda pelos melhoramentos que tem realisado nesta repartição, sendo que ultimamente está elle concluindo o catálogo definitivo dos livros existentes na Bibliotheca. (BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 09 de março de 1878, p. 74).

O cidadão Raymundo Brito Gomes de Souza foi também o responsável pela biblioteca

nos anos de 1879 e 1880, o qual estava fazendo um brilhante trabalho, segundo o Presidente da

Província José Coelho da Gama Abreu.

� 1881

Em 02 de setembro de 1881 foi nomeado Diretor José Veríssimo Dias de Mattos.

� 1882

O oficial da Secretaria do Governo, José Veríssimo Dias de Mattos era quem estava no

cargo de Bibliotecário no ano de 1882, o qual foi nomeado pela portaria de 02 de setembro, para o

qual o Presidente Manuel Pinto de Souza Dantas Filho faz o seguinte comentário:

Funcionário illustrado e zeloso, tem-se ocupado com actividade da organização dos catálogos indispensáveis e de outros trabalhos e é de esperar que continue a prestar bons serviços áquela instituição. (BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 04 de janeiro de 1882, p.78).

Em 05 de dezembro de 1882 foi nomeado diretor Dr. Geraldo Barbosa de Lima.

� 1886

Em 20 de janeiro de 1886 foi nomeado Francisco de Souza Campello. Foram nomeados

para ajudante de Bibliotecário os Cidadãos Quirino Feliciano de Souza por portaria de 08 de abril e

Antonio Aprisco de Oliveira por portaria de 03 de outubro, sendo demitido do cargo de ajudante de

Bibliotecário pela mesma portaria o cidadão José Maria Camisão. Neste mesmo ano, foi dada licença

de três meses ao Bibliotecário D. Geraldo Barbosa Lima que exerceu o cargo até o ano de 1887. No

ano seguinte, o Presidente Francisco José Cardoso Júnior concede ao Bibliotecário Francisco

Joaquim da Souza Campello três meses de licença para cuidar de sua saúde.

� 1889

Em 09 de julho de 1889 foi nomeado Diretor Raymundo José Ferreira.

� 1891

No dia 25 de março de 1891, o Capitão-Tenente Duarte Huert de Bacellar Pinto Guedes

passa a exercer o cargo de Presidente. Neste mesmo ano ele baixa um decreto nº. 322 de 08 de abril

regulamentando o serviço da Biblioteca contratando um ajudante, um porteiro, um servente e para

Bibliotecário o Sr. Artimidoro da Silveira Góes.

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� 1893

Em 19 de agosto de 1893 foi nomeado Diretor o Sr. Bertino de Miranda Lima, que prestou

excelentes serviços durante a mudança e instalação da Biblioteca para o prédio onde funcionava o

Banco Comercial do Pará.

� 1898

No ano de 1898 durante o Governo de Augusto Montenegro, Arthur Octávio Nobre

Vianna foi nomeado diretor da Biblioteca. No ano de 1901, o Arquivo Público foi anexado a Biblioteca

a qual teve que passar por uma reorganização, trabalho este, que obteve muitos elogios para o

Diretor. Arthur Vianna que exerce o cargo até o ano de 1906 e deixa continuação da publicação dos

Anais da Biblioteca e Arquivo Público do Pará iniciado por ele no ano de 1902.

Rêgo (1971, p. 257) transcreve do Quinto Tomo dos Anais as palavras de despedida de

Arthur Vianna. O Diretor declara que circunstâncias especiais o abrigaram a deixar o cargo mais se

sentindo satisfeito por deixar completamente organizado a primeira seção de manuscritos. Segundo

Arthur Vianna,

“É, pois, com a consciencia satisfeita, permitta-me o leitor esta franqueza, que transmitto

ao meu successor esse bello patrimonio historico, objecto da minha constante preocupação e dos

meus mais esforços labores”. (RÊGO, 1971, P. 257).

� 1907

No dia 06 de abril de 1907, foi nomeado como Diretor da Biblioteca, o Sr. Raul Paula

Remijio de Bellido assumindo o cardo no dia 15 do mesmo mês. O Diretor faz a seguinte declaração

em seu primeiro Relatório:

Tomando sobre meus ombros a difficil tarefa de dirigir esta repartição, fil-o convencido de que não me sobravam requisitos intellectuaes para desempenhar-me de tão elevada missão, e de modo a corresponder a confiança com que me galardeou S. Exc. O Sr. Dr. Governador do Estado. (PARÁ. Secretaria de Estado de Educação e Cultura, 1907, p. 271).

� 1926

A Biblioteca tinha como Diretor o Sr. Anthenor Cavalcante.

� 1935

A Biblioteca tinha como Diretor o Sr. Octavio Mendes.

� 1938

A Biblioteca tinha como Diretor o Sr. Oswaldo Vianna que contribuiu muito para o

desenvolvimento da Biblioteca durante a sua responsabilidade.

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� 1947

Fotografia 6 – Ernesto Horácio da Cruz.

Ernesto Horácio da Cruz foi um dos mais notáveis diretores da Biblioteca, pois, ao

assumir a direção tomou providências em criar um regulamento que estava anexado no decreto n.

1479, de 9 de julho de 1954, além do tombamento do acervo que a muito tempo não era realizado de

maneira objetiva e criteriosa. Nesse período, o Diretor realizou diversas exposições de livros, assim

como escreveu o volume 11 dos anais da Biblioteca e Arquivo Público que infelizmente não foi

publicado pela Imprensa oficial para a qual ele teria enviado o original. Foi com muita dedicação que

Ernesto Cruz conduziu a direção da Biblioteca e Arquivo Públicos do Pará, para os quais ele faz a

seguinte declaração:

Falar da Biblioteca e Arquivo Públicos, na sua finalidade de facilitar conhecimentos gerais e especializados desenvolver e expandir a cultura; de difundir o gosto pela leitura; de dar oportunidade aos artistas; de estimular vocações; de contribuir, enfim, para o conhecimento mais exato da terra paraense, significa expressar um sentimento exato de proporção e beleza que assegura às obras do pensamento o selo da imortalidade. (GODIM, 1978, p. 3).

� 1978

Ajanary Samuel de Souza Cruz, filho de Ernesto Cruz, foi o Diretor da Biblioteca no ano

de 1978. Ele enfrentou muitas dificuldades, pois assim como seus antecessores, reclamava das más

condições do prédio da Biblioteca, que nesse ano era muito mais grave.

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� 1981 a 1986

No ano de 1981 faziam parte do quadro de funcionários:

� Valdéa de Nazaré Cunha da Silva – Diretora;

� Kátia de Moraes Rêgo Chaves – Divisão de processamento técnico;

� Mara Cecília Souza da Costa – Seção;

� Maria Suely Palheta Pires – Seção de referência;

� Maria de Nazaré dos Santos Corrêa – Seção de periódicos;

� Maria da Luz Lopes Lima – Seção Braille

� Maria de Fátima Santos de Miranda – Seção de obras do Pará;

� Vanja Dias Ferreira Araújo – Seção infanto-juvenil;

� Regina Vitória Alves da Fonseca – Divisão de extensão;

� Maria Rosa Lourenço - Bibliotecária.

Fotografia 7 – Corpo Técnico da Biblioteca.

No ano de 1986, Valdéa Cunha da Silva continuou a ser a Diretora desempenhando um

excelente papel durante a transferência da Biblioteca Pública para o Centro Cultural do Pará.

Presentemente, a Biblioteca Pública Arthur Vianna, é gerenciada por Ruth Selma dos

Santos e está subordinada a Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves - CENTUR.

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8.1.3 Freqüência de usuários

A pequena freqüência de leitores foi um problema da Biblioteca mencionado pelo

Presidente Domingos José da Cunha Júnior em seu Relatório de 01 de julho de 1873. De acordo com

ele, a freqüência média desta repartição é de 10 pessoas diariamente, e muito maiores seria, se a

falta de muitas obras geralmente procuradas não denunciasse o grande número de visitantes.

(BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Pará, 01 de julho de 1873,

p.32). O Presidente Manoel Pinto de Souza Dantas Filho faz o seguinte comentário em seu Relatório

enviado à Assembléia Legislativa:

Do relatório que me foi apresentado pelo respectivo bibliotecário, consta que a bibliotheca é

pouco freqüentada sendo duas as causas porque o público que lê não a frequenta mais

assiduamente; a ignorancia em que está, por falta de um catálogo das obras que possa

encontrar, e que lhe faz suppor que nada há no estabelecimento que mereça, e as horas

inconvenientes em que elle esta franco.(BRASIL. Relatório apresentado à Assembléia

Legislativa Provincial do Pará, 04 de janeiro de 1882, p.78).

O Relatório anual enviado pelo Diretor Raul Bellido, acusa a freqüência de usuários

durante o ano de 1907:

MÊS MANHÃ TARDE TOTAL

JANEIRO 93 51 144

FEVEREIRO 70 68 138

MARÇO 105 40 145

ABRIL 177 85 262

MAIO 169 178 347

JUNHO 83 113 196

JULHO 152 67 219

AGOSTO 140 80 220

SETEMBRO 121 63 184

OUTUBRO 149 64 213

NOVEMBRO 140 38 168

DEZEMBRO 83 38 121

TOTAL 1482 885 2367

(Fonte: Relatório da Bibliotheca e Archivo Público do Pará, 1907).

No final do ano seguinte, o Diretor Raul Bellido faz a seguinte observação com relação à

freqüência de usuários na Biblioteca:

É animadora a que teve esta Bibliotheca durante o anno que findou. Acredito que esta freqüência se desenvolva, progressivamente, em virtude das condições mais attraentes em que se encontra o leitor agora, com a promptidão do serviço, alliado por egual ao excepcional acolhimento dos empregados. (PARÁ. Secretaria de Estado de Educação e Cultura, 1908, p.277).

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Durante o ano que findou, o livro de registro acusa os seguintes números mensais de

usuários:

MÊS MANHÃ TARDE TOTAL

JANEIRO 111 110 221

FEVEREIRO 104 105 209

MARÇO 99 115 214

ABRIL 92 25 117

MAIO 91 10 101

JUNHO 94 105 199

JULHO 106 115 221

AGOSTO 126 134 260

SETEMBRO 130 125 255

OUTUBRO 144 126 270

NOVEMBRO 123 138 261

DEZEMBRO 102 139 243

TOTAL 1324 1247 2571

(Fonte: Relatório da Bibliotheca e Archivo Público do Pará, 1908).

Em 1949 quando Ernesto Cruz assumiu a diretoria da Biblioteca Pública, a freqüência de

leitores era muito reduzida, as consultas eram restritas a jornais e revistas e os usuários dificilmente

consultavam o acervo de livros. O Diretor modificou alguns hábitos que já estavam ultrapassados e

fez aumentar o número de usuários que chegou a ser de 300 a 400 por mês.

De acordo com Cruz (1971, p. 18):

No ano de 1958 a freqüência foi de 16.010 pessoas; Em 1960 a freqüência subiu para 22.281 pessoas; Em 1969 a freqüência foi de 22.722 pessoas; E em 1970 elevou-se para 36.754 pessoas. Diferença para mais no ano de 1970 – 14.032 pessoas.

Podemos observar também, que no ano de 1971, o expediente na Biblioteca era maior

pela parte da manhã, assim como, o número de usuários do sexo masculino entre 12 e 16 anos. O

Diretor promovia exposições de livros, jornais, revistas, obras raras e manuscritos de documentos

antigos que atraíam ainda mais a atenção dos jovens usuários. Nesse ano, o número de

freqüentadores que foi de 14.095, superou a do ano de 1969. Os leitores tinham preferência pelas

obras gerais como os jornais e revistas, pelas obras de Geografia, História, Literatura, Filologia,

Ciências Puras e Aplicadas. (CRUZ, 1971, p. 18).

A freqüência reduzida de usuários na Biblioteca, preocupava o Diretor Ernesto Cruz.

Essa redução dava-se pelo fato dos períodos de férias e que só aumentaria quando os professores

voltassem a exigir resultados em suas salas de aula. De acordo com um artigo publicado no Jornal a

Província do Pará, em 1974 a Biblioteca foi visitada por 48.329 pessoas. “O mês de setembro foi o

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mais movimentado, registrando-se 7.314 visitas, sendo que janeiro, fevereiro, março e dezembro

houve um decréscimo na freqüência, em virtude das férias escolares”. (BIBLIOTECA...., 1974, p.06).

Durante o período em que a Biblioteca passou por problemas de espaço físico para

comportar o grande número de acervo, a freqüência de usuários era em torno de 500 pessoas por

dia. O Diretor efetivo do ano de 1978, Ajanary Cruz, questiona a situação em uma entrevista ao

Jornal O Estado do Pará:

Como atender satisfatoriamente 500 pessoas que, em média, freqüentam diariamente o velho casarão, se, de início, eles estão, sujeitas ao excesso de decibéis na área do prédio, encravado em um perímetro de intenso movimento, distante de parques e áreas de estacionamentos, e vizinho de lojas de discos causadoras de poluição sonora? (GODIM, 1978, p. 3).

Até a mudança para o novo prédio da Biblioteca Pública do Pará, o número de usuários

chegou a aproximadamente cinqüenta mil por dia. Alguns usuários que costumavam consultar o

acervo ficaram um pouco revoltados pelo fato do fechamento da Biblioteca por algum período para

que fosse feita a mudança até a reorganização dos livros e materiais, pois prejudicaria a realização

dos trabalhos escolares. (BIBLIOTECA Pública..., 1986, p.17).

Atualmente, a Biblioteca Pública Arthur Vianna atende um público diversificado que

aumenta cada vez mais, formado por crianças, jovens, idosos, portadores de necessidades especiais,

estudantes, profissionais, pesquisadores, donas de casa, entre outros, com uma freqüência média de

2.000 usuários por dia.

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9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa mostrou que a história da criação da Biblioteca Pública do Pará está

diretamente ligada ao momento histórico, político e cultural do Estado do Pará. As evoluções

ocorridas nos seus objetivos e na sua estrutura modificaram-se de acordo com as transformações

que a sociedade estava vivendo. Desde sua idealização pode-se observar que a Biblioteca enfrentou

muitas dificuldades para ter um prédio com instalação própria, sendo a falta de verbas um dos

principais problemas, e os Presidentes da Província do Pará mostravam-se sempre indiferentes aos

apelos dos Diretores por uma mudança imediata de local.

Felizmente no ano de 1895 durante o Governo de Lauro Sodré, a Biblioteca Pública foi

transferida para um prédio mais adequado na Travessa Campos Salles, esquina com a Treze de

maio, local onde funcionava o Banco Comercial do Pará, para comportar o grande número de livros e

dos documentos que faziam parte do acervo do Arquivo Público anexado a Biblioteca no ano de

1894. A partir de então, o acervo continuou a aumentar durante os anos e os diretores continuavam

preocupados com o destino incerto de tão valiosos documentos que representam não só a nossa

história mais toda uma dedicação e empenho por parte dos mesmos e dos cidadãos que

freqüentavam a Biblioteca Pública.

Foi com muito empenho e dedicação que os Diretores e ajudantes da Biblioteca Pública,

conseguiram manter em bom estado um grande número de volumes durante os 147 anos de

trajetória da Biblioteca, desde sua idealização até sua transferência para o prédio do Centro Cultural

e Turístico do Pará em 1986, sendo este um grande feito, pois o prédio foi construído especialmente

para instalar a Biblioteca Pública do Pará com as modernas técnicas biblioteconômicas da época.

O empenho, perseverança e desejo de ter uma Biblioteca Pública no Estado do Pará, por

parte dos Diretores, Presidentes e os próprios cidadãos, foi o ápice que despertou o interesse pelo

estudo da criação dessa tão grandiosa e importante instituição.

A análise feita nos Relatórios endereçados à Assembléia Legislativa Provincial do Pará,

mostrou que os documentos históricos nos levam a descobrir a importância que pessoas e

instituições tiveram no passado e que agora está refletida no presente pela grandiosidade de seus

resultados.

Através desse estudo observou-se o grande valor da Biblioteca Pública na Província do

Pará como conservadora da memória cultural do Estado, disseminadora de conhecimentos diversos e

motivadora de um dos atos mais importantes de nossa história que é a leitura.

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1885.

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BRASIL. Falla com que o Exm. Sr. Conselheiro Tristão de Ale ncar Araripe,

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Assembléia Provincial no dia 25 de março de 1886 . Pará: Typ. do "Diario de

Noticias," 1886.

BRASIL. Falla com que o Exm. Sr. Dr. João Capistrano Bandei ra de Mello Filho

abriu a 2ª sessão da 20ª legislatura da Assembléia Legislativa da Província do

Pará em 15 de fevereiro de 1877 . Pará: Typ. do Livro do Commercio, 1877.

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Presidente da Província, abriu a 2ª sessão da 26ª l egislatura da Assembléia

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Sodré (Governador do Estado) ao expirar o seu manda to no dia 1º de fevereiro

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sessão da 18ª legislatura em 15 de fevereiro de 187 2 pelo Presidente da

Província, Dr. Abel Graça . Pará: Typ. do Diário do Gram-Pará, 1872.

BRASIL. Relatório apresentado a Assembléia Legislativa Prov incial na primeira

sessão da 19ª legislatura pelo Presidente da Provín cia do Pará, o Exm. Sr. Dr.

Pedro Vicente de Azevedo, em 15 de fevereiro de 187 4. Pará: Typ. do Diário do

Gram-Pará, 1874.

BRASIL. Relatório apresentado á Assembléia Legislativa Prov incial na segunda

sessão da 17ª legislatura pelo Dr. Abel Graça, Pres idente da Província . Pará:

Typ. do Diário do Gram-Pará, 1871.

BRASIL. Relatório apresentado á Assembléia Legislativa Prov incial na segunda

sessão da 22ª legislatura em 15 de fevereiro de 188 1 pelo Exm. Sr. Dr. José

Coelho da Gama e Abreu. Pará: Typ. do Diario de Noticias de Costa & Campbell,

1881.

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BRASIL. Relatório com que o Exm. Sr. Dr. Domingos José da C unha Junior

passou a administração da Província do Pará ao 3º v ice-presidente, o Exm. Sr.

Dr. Guilherme Francisco Cruz em 31 de dezembro de 1 873. Pará: Typ. do Diário

do Gram-Pará, 1873.

BRASIL. Relatório com que o Exm. Sr. Dr. Domingos José da C unha Junior,

Presidente da Província, abriu a 2ª sessão da 18ª l egislatura da Assembléia

Legislativa Provincial em 1º de julho de 1873 . Pará: Typ. do Diário do Gram-Pará,

1873.

BRASIL. Relatório apresentado pelo Exm. Sr. Dr. Francisco M aria Corrêa de Sá

e Benevides, Presidente da Província do Pará, á Ass embléa Legislativa

Provincial na sua sessão solemne de installação da 20ª legislatura, no dia 15

de fevereiro de 1876 . Pará, 1876.

BRASIL. Relatório que o Exm. Sr. Dr. João Lourenço Paes de Souza, 1º vice-

Presidente da Província do Gram-Pará, apresentou o Exm. Sr. Dr. Carlos

Augusto de Carvalho ao passar-lhe a administração e m 16 de setembro de

1885. Pará: Typ. de Francisco de Costa Junior, 1885.

BRASIL. Relatório com que ao Exm. Sr. Dr. José da Gama Mal cher, 1º vice-

presidente, passou a administração da Província do Pará o Exm. Sr. Dr. João

Capistrano Bandeira de Mello Filho em 9 de março de 1878. Pará: Typ.

Guttemberg, 1878.

BRASIL. Relatório apresentado pelo Exm. Sr. Barão da Villa da Barra em 5 de

novembro de 1872 por ocasião de passar a administra ção da Província ao 2º

vice-presidente o exm. Sr. Barão de Santarém . Pará, 1872.

BRASIL. Relatório com que o Exm. Sr. Barão de Santarem, 2º vice-presidente

da Província passou a administração da mesma ao Exm . Sr. Dr Domingos José

da Cunha Junior em 18 de abril de 1873 . Pará: Typ. do Diário do Gram-Pará,

1873.

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BRASIL. Relatório com que o Exm. Sr. General Visconde de Ma racajú passou a

administração da Província ao 2º vice-presidente, E xm. Sr. Dr. José de Araujo

Roso Danin, no dia 24 de junho de 1884 . Pará: Typ. de Francisco da Costa Junior,

1884.

BRASIL. Relatório com que o Exm. Sr. Presidente, Sr. Manuel Pinto de Souza

Dantas Filho, passou a administração da Província a o Exm. Sr. 1º vice-

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