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Letícia de Souza Vano USP: 7664758 Noturno Em ‘Pós escrito a O nome da Rosa’, Eco discorre sobre o processo de criação e construção do romance “O nome da Rosa”. Começa por explicar sobre a escolha do título, que a princípio seria “A abadia do crime”, ideia que abandonou por considerar que criaria no leitor a expectativa de muita ação e conteúdo policial e isto seria enganá-lo. Eco também demonstra sua recusa em dar orientações interpretativas ao leitor. Nas palavras dele, o romance é, per se, uma “máquina de gerar interpretações, e “um título deve confundir as ideias, nunca discipliná-las”. Sendo assim, sua grande preocupação era escolher um título que pouco dissesse sobre o livro. A escolha de ‘O nome da rosa’ satisfez essa aspiração justamente por ‘rosa’ ser uma figura extremamente simbólica, repleta de significados. Sobre o processo de composição, Eco insiste na supremacia da técnica e do esforço sobre a inspiração e faz uma analogia com a criança que fala muito bem a língua materna sem conhecer suas regras. Da mesma forma, para o escritor italiano, mesmo o artista que trabalhou sem refletir sobre as regras do processo, na verdade apenas não sabia que as conhecia. O terceiro ponto, cujo título ‘A Idade Média, naturalmente’ parodia outro texto do mesmo autor, ‘Um

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Letcia de Souza VanoUSP: 7664758Noturno

Em Ps escrito a O nome da Rosa, Eco discorre sobre o processo de criao e construo do romance O nome da Rosa. Comea por explicar sobre a escolha do ttulo, que a princpio seria A abadia do crime, ideia que abandonou por considerar que criaria no leitor a expectativa de muita ao e contedo policial e isto seria engan-lo. Eco tambm demonstra sua recusa em dar orientaes interpretativas ao leitor. Nas palavras dele, o romance , per se, uma mquina de gerar interpretaes, e um ttulo deve confundir as ideias, nunca disciplin-las. Sendo assim, sua grande preocupao era escolher um ttulo que pouco dissesse sobre o livro. A escolha de O nome da rosa satisfez essa aspirao justamente por rosa ser uma figura extremamente simblica, repleta de significados. Sobre o processo de composio, Eco insiste na supremacia da tcnica e do esforo sobre a inspirao e faz uma analogia com a criana que fala muito bem a lngua materna sem conhecer suas regras. Da mesma forma, para o escritor italiano, mesmo o artista que trabalhou sem refletir sobre as regras do processo, na verdade apenas no sabia que as conhecia. O terceiro ponto, cujo ttulo A Idade Mdia, naturalmente parodia outro texto do mesmo autor, Um manuscrito, naturalmente- esse tambm uma referncia a outro texto -, explica como a Idade Mdia sempre foi um tema-obsesso para ele, seu hobby. Eco no decidiu escrever sobre a Idade Mdia, e sim na Idade Mdia. Para isso, explica tambm a importncia da escolha de um narrador que esteve neste ambiente e familiarizado a ele. O narrador seria sua mscara e Eco estaria livre de suspeitas - uma preocupao compreensvel de um autor que tambm crtico literrio. Outra grande necessidade de Eco sempre foi a de construir um mundo literalizvel, com o mximo de detalhes e assim formar uma atmosfera pormenorizada para seus personagens. Neste sentido, escrever um romance, para ele, um fato cosmolgico, no uma questo de palavras. Uma vez que o mundo ficcional est construdo, as palavras viro naturalmente; o grande desafio construir este mundo. E para Eco este desafio pressupe a criao de obstculos: preciso criar obstculos para poder inventar livremente. Assim, as personagens so foradas a agir segundo as premissas inventadas para este mundo construdo e previamente regrado. Sobre a questo do narrador, Eco mais uma vez demonstra seu receio em conduzir a opinio do leitor. Fala sobre os turn ancillaries que o torneio pelo qual o narrador introduz a palavra de outras personagens. A escolha destes elementos diz muito sobre o estilo do escritor e, no caso do Eco, optar por uma segunda instncia enunciativa, Adson, representou maior liberdade para digresses e formulaes histricas principalmente. O encaixa das vozes e os dilogos entre os personagens uma dos aspectos que Eco acredita ser o responsvel pela legibilidade do romance por parte dos leitores no-sofisticados. Ainda sobre Adson, o texto menciona como seu estilo narrativo se pauta na figura de pensamento denominada preterio: "dizemos no querer falar de algo que todos conhecem muito bem, e ao dizer isso, falamos da coisa. Quando narra para seu suposto pblico eventos que eles no reconheceriam, Adson assume um tom didtico, tom este alinhado ao estilo de cronista medieval. O ponto alto e chave do texto, na minha opinio, quando Eco explica a construo de seu leitor. Ele refora uma ideia j debatida em outros textos seus, que a importncia do interlocutor em qualquer enunciado artstico: escreve-se pensando em um leitor. E este dilogo duplo: entre o texto e todos os outros textos precedentes e entre o escritor e seu leitor modelo. Neste sentido, a escolha de manter as cem primeiras pginas da verso original de O nome da rosa de difcil e lenta leitura foi proposital, para que servisse como uma espcie de peneira que filtrasse os leitores que no aceitassem esse ritmo e estilo. Eco queria produzir um leitor novo, provocar um leitor normal para com isso revelar o leitor a si prprio. Alinhado a isso, o gnero romance policial tambm se enquadrava perfeitamente nesse desejo de causar calafrio metafsico. Para o escritor do ensaio, o romance policial to atraente por representar uma histria de conjetura em estado puro, e assim tambm faz a mesma pergunta bsica da filosofia e da psicanlise: De quem a culpa? Eco queria divertir o leitor, no no sentido de desvi-lo de seus problemas, mas seguindo o conceito aristotlico de divertir atravs da intriga. Problematiza tambm a questo da inferncia consenso= desvalor, que inclusive foi assumida pelo Grupo 63, do qual ele fazia parte. O escndalo pblico, para Eco, no valida um trabalho e o que j foi considerado experimental deixa de s-lo a partir do momento que codificado como agradvel. Em outro ponto alto do ensaio, o escrito italiano faz uma diferenciao histrica para definir o ps-moderno, que, na sua opinio, no pode ser definido cronologicamente, mas sim como uma forma de operar. Assim, cada poca teria seu prprio ps-moderno. Sobre esse tema, Eco sintetiza: A resposta ps moderna ao moderno consiste em reconhecer que o passado, j que no pode ser destrudo porque sua destruio leva ao silncio, deve ser revisitado: com ironia, de maneira no inocente. A ironia uma elemento crucial nessa reformulao: para a compreenso em um contexto ps moderno, no necessrio negar o que j foi dito (tradio?), mas sim retom-lo ironicamente. Na concepo do escritor, o romance ps moderno deveria ser como a msica clssica: quando se ouve vrias vezes e se analisa uma partitura, conseguimos descobrir vrias coisas que no foram notadas na primeira vez, mas para isso, preciso que sejamos cativados na primeira vez para desejarmos ouvir outras vezes. preciso romper a barreira que foi erguida entre a arte e o divertimento.