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INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS E COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL
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Introdução
A forma mais positiva para iniciar um trabalho de pesquisa, acerca de algo, é aquela que
consiste na tentativa de coligar o interesse pelo mesmo com a força de vontade para o
levar a cabo. Por isso tentei explorar este tema do modo que o achei interessante.
Neste trabalho pretendo analisar as ideias centrais de Émile Durkheim e Max Weber.
Durkheim e Weber viveram na Europa dos finais do séc. XIX, e ambos, observaram e
esforçaram-se para compreender a mesma realidade social. No entanto, a forma como a
interpretaram foi desigual, porque o contexto nacional, o tecido intelectual, o sistema de
valores em que estiveram inseridos, assim como a sua própria personalidade, são
discrepantes e influenciam o seu modo de expressão intelectual.
Durkheim foi considerado o pioneiro do pensamento estrutural – funcionalista,
considerando que a sociedade devia ser estudada como um todo. Segundo esta corrente
de pensamento que iniciou, a sociedade não é uma simples soma das suas partes, mas
um sistema formado pela sua combinação e relação mútua, que possui uma identidade e
um carácter que lhe são próprios e que se impõem aos indivíduos. Através desta
interligação e associação das partes são asseguradas a harmonia, a manutenção e a
continuidade do todo, a sociedade. Partindo desta concepção, ele analisou a sociedade
em torno do conceito facto social.
Em contrapartida, Webber tem uma maior afinidade com o interaccionismo simbólico,
sublinhando a natureza individual e intencional da acção humana, focando o conceito de
acção social em toda a sua abordagem teórica.
Para tornar mais fácil a compreensão deste trabalho dividi-o em três partes.
� A principal linha de pensamento de Durkheim, e um espaço final para
comentários ou criticas apontadas ao seu pensamento.
� A principal linha de pensamento de Weber, e um espaço final para os
comentários ou criticas a ele apontadas.
� Por fim a conclusão, onde pretendo realçar os pontos mais importantes destes
dois sociólogos.
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O Objectivo de Durkheim
O objectivo de Durkheim é a construção de uma nova ciência, autónoma em relação às
já existentes, que analise de forma objectiva a realidade social: a Sociologia. De acordo
com Aron Raymond, a sociologia é “o estudo dos factos essencialmente sociais, e a
explicação desses factos de maneira sociológica”1.
Para que a Sociologia seja uma ciência, tem de obedecer a alguns princípios como:
procurar as causas e não os fins dos fenómenos sociais; descobrir leis de causalidade
entre os fenómenos sociais; eliminar as pré-noções e os juízos de valor do processo de
conhecimento; possuir métodos empíricos de observação para a validação do
conhecimento adquirido. Para que estes princípios sejam cumpridos, Durkheim sugere
dois factores que reconhece como imperativos que são os seguintes: Identificação de um
objecto de estudo específico da Sociologia e que se distinga dos objectos de estudo de
todas as outras ciências; Constituição de um método de investigação que lhe permita
observar e explicar esse objecto de forma semelhante àquela como os objectos das
outras ciências são observados e explicados.
Tem como fim último provar que os comportamentos humanos também podem ser
estudados objectivamente pela ciência.
O objecto de estudo da Sociologia – O facto social
Para Durkheim, só os factos sociais têm as características que permitem oferecer à
sociologia um objecto de estudo específico e distinto do das outras ciências. Para ele
“facto social – toda a maneira de fazer, fixada ou não, susceptível de exercer sobre o
indivíduo uma coacção exterior ou ainda que é geral na extensão de uma sociedade
1 ARON, RAYMOND; “As Etapas do Pensamento Sociológico”, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1999, pag.352.
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dada, tendo ao mesmo tempo uma existência própria, independente das suas
manifestações individuais”.2
Daqui é possível tirar algumas conclusões dos factos sociais que são os seguintes: são
comportamentos e representações (normas e valores culturais) que são exteriores aos
indivíduos; têm um poder coercivo em virtude do qual se impõem aos indivíduos. Por
outro lado, são gerais e objectivos, pois são colectivos e independentes da
subjectividade dos indivíduos. Finalmente, e dadas as qualidades anteriores, os factos
sociais têm uma existência e um carácter próprios, independentemente dos indivíduos.
Este conjunto de características dos factos sociais conduz-nos a uma ideia que se
enquadra no estrutural – o funcionalismo. Os comportamentos e as representações
colectivos não são o simples resultado da soma dos comportamentos e representações
individuais, apesar de dependerem deles para se constituir. Os comportamentos e as
representações individuais combinam-se e associam-se, constituindo uma nova
realidade específica com um carácter próprio, exterior aos indivíduos e que se impõe a
eles.
A partir daqui, Durkheim pode individualizar o objecto de estudo da sociologia em
relação aos das outras ciências. Por um lado, os factos sociais são representações e
acções, não se confundem com os fenómenos orgânicos, estudados pela Biologia. Por
outro lado, sendo exteriores aos indivíduos, distinguem-se dos fenómenos psíquicos,
estudados pela Psicologia.
Ele distingue dois tipos de factos sociais: os factos sociais materiais são exteriorizados
e materializados em elementos concretos; os factos sociais imateriais são constituídos
pelas representações (normas e valores) que não atingem a exteriorização e a
materialização.
No fundo, os factos sociais materiais são o reflexo e a consolidação dos factos sociais
imateriais, porque têm uma primazia causal, afectando ou determinando os factos
sociais imateriais. Podemos dizer que os factos sociais materiais, simultaneamente,
condicionam e reflectem os factos sociais imateriais.
São os factos sociais imateriais que estão no centro da interpretação sociológica de
Durkheim. Contudo, tendo em conta as regras metodológicas que ele enuncia, e que são
expostas mais adiante, eles não podem ser analisados directamente por não se
manifestarem exterior e concretamente. Deste modo, é necessário procurar e observar os
2 ARON, RAYMOND, “As Etapas do Pensamento Sociológico”, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1999, pag.354.
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factos materiais, dado que reproduzem os factos imateriais. É deste modo, por exemplo,
que ele utiliza o Direito (facto social material), conjunto de leis de uma sociedade, para
procurar encontrar o tipo de solidariedade (facto social imaterial) existente nessa mesma
sociedade.
Mas, se os dois tipos de factos sociais têm graus de consolidação diferentes; no interior
de cada tipo podemos encontrar também vários níveis de cristalização. Eles são
descriminados seguidamente por ordem decrescente de consolidação:
Factos sociais materiais:
• sociedade;
• componentes estruturais da sociedade;
• componentes morfológicas da sociedade;
Factos sociais imateriais:
o moralidade;
o consciência colectiva;
o representações colectivas;
o correntes sociais;
Os factos sociais apresentam-se, assim, num continuum, que vai desde a sociedade, que
apresenta um maior grau de consolidação, às correntes sociais, que ainda não se fixaram
de modo definitivo, estes factos sociais unem-se e combinam-se, tendo cada um a sua
função, de forma a assegurar a manutenção e a continuidade do todo, a sociedade.
As regras de investigação da sociologia
Para definir um facto social, Durkheim propõe um conjunto de regras de modo a
organizar um método de investigação para a sociologia que incide sobre os seguintes
pontos:
Observação;
Ao nível da observação Durkheim aponta quatro pontos importantes que são os
seguintes:
- Os factos sociais devem ser considerados como coisas. Durkheim apoia-se em duas
razões para esta regra. Eles são os únicos dados que podem ser observados pelos
sociólogos, e têm as características de coisas, pois são exteriores aos indivíduos e
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independentes da sua vontade; ou seja, são objectivos, não sendo sujeitos à
subjectividade dos indivíduos.
- O sociólogo deve eliminar todas as pré-noções e preconceitos para conhecer
cientificamente os factos sociais. Porque o sociólogo, como indivíduo que é, possui a
sua subjectividade e, como tal, tende a introduzir conceitos vulgares da sua vida
quotidiana na esfera científica. No entanto, o conhecimento científico exige
objectividade. Logo, não é compatível com tais pré-noções e preconceitos.
-É fundamental identificar de forma objectiva os fenómenos a estudar, o que só é
possível através da identificação das suas características visíveis, ou seja, das suas
características exteriores. Apesar de Durkheim acreditar que as propriedades não
visíveis dos fenómenos são as mais importantes e vitais e, por isso, têm um maior valor
explicativo, elas não são conhecidas a priori. É por esta razão que o autor analisa os
factos materiais para compreender os factos imateriais.
- Por fim o sociólogo, quando pretende estudar um conjunto de factos sociais, deve
isolá-los das suas manifestações individuais. A importância que ele dá aos valores
estatísticos deve ser contextualizada nesta regra.
distinção normal / patológico e constituição de tipos sociais;
O segundo conjunto de regras está relacionado com a atitude reformista de Durkheim.
Ele concebe a Sociologia como uma ciência que não se limita a observar e a explicar os
factos sociais, pois também deve intervir na realidade social, indicando de uma maneira
objectiva, os passos que contribuem para a melhorar.
Para que a Sociologia tenha uma atitude reformista sem pôr em causa a sua
objectividade científica deve haver uma distinção normal / patológica e constituição de
tipos sociais. Ele encara os problemas que atingem uma determinada sociedade como
patologias e não como problemas inerentes a essa sociedade. Desta forma, os problemas
sociais (doenças) podem ser ultrapassados (curados) através da acção do sociólogo
(médico social) que reconhecer a natureza desses problemas e delinear reformas
estruturais para os anular.
Por normais, Durkheim entende os fenómenos que são frequentes e gerais numa
sociedade de um dado tipo, num dado momento do seu devir. Subentende-se que, pelo
contrário, patológicos são os fenómenos raros e excepcionais numa determinada
sociedade.
Sendo assim, a determinação do normal e do patológico só pode ser realizada por
relação a um determinado género de sociedade e porque esta passa por várias fases de
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evolução, por referência à fase específica em que essa sociedade se encontra. Então,
será necessário identificar esses géneros de sociedade. Cabe ao sociólogo construir e
classificar tipos sociais.
explicação e prova;
O último conjunto de regras diz respeito, à explicação e à prova. Em relação á
explicação existem três normas.
A primeira é: quando tentamos explicar um facto social devemos procurar a sua causa,
ou seja, identificar o facto anterior que necessariamente o produz.
Desta norma surge a segunda, a causa de um facto social deve ser averiguada entre os
factos sociais antecedentes. Ou seja, os factos sociais só podem ser explicados a partir
do meio social.
Para Durkheim, a sociedade não é idêntica à soma dos indivíduos que a constituem; é
algo distinto, cujas propriedades diferem das que revelam os indivíduos isolados. Deste
modo, a causa de um determinado facto social não pode ser encontrada nas
características individuais de cada pessoa.
Tendo em atenção este raciocínio chegamos à última regra sobre a explicação, ou seja,
se é na sociedade que devemos procurar a causa para os factos sociais, estes variam
consoante a forma que a sociedade toma. A morfologia de uma sociedade delimita os
fenómenos sociais. Aplicando novamente os conceitos de factos sociais materiais e
factos sociais imateriais, podemos dizer que os factos sociais materiais condicionam e
determinam os factos sociais imateriais. O sociólogo necessita, então, de identificar as
propriedades da sociedade que mais interferem nas características dos fenómenos
sociais, ou seja, os factos sociais materiais que mais influenciam os factos sociais
imateriais.
Por fim, o autor transmite uma série de princípios referentes à utilização da prova.
Segundo ele, só é possível demonstrar que um fenómeno é causa de um outro
comparando os casos em que eles estão simultaneamente presentes ou ausentes e apurar
se as variações que apresentam nessas diferentes combinações de circunstâncias
testemunham que um depende do outro. Para observar todas as diferentes combinações
que estes dois fenómenos têm, é importante percorrer as várias sociedades, ou,
aplicando o termo de Durkheim, todos os tipos sociais. Para atingir este objectivo, o
sociólogo utiliza o método comparativo, que tem exactamente como fim a comparação
entre as diferentes sociedades.
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A construção de um pensamento
Podemos concluir que Durkheim é um percursor da corrente estrutural – funcionalista,
pois transmite a ideia de que a sociedade não é o resultado da soma dos indivíduos que a
constituem, mas a sua combinação e associação. Tendo em conta esta noção, podemos
compreender a razão pela qual ele encara os factos sociais como exteriores aos
indivíduos e independentes da sua vontade, gerais e objectivos. Estes cruzam-se e
ligam-se de forma a preservar a manutenção e continuidade da sociedade.
Ao terem estas características, os factos sociais, podem ser objecto de estudo de uma
nova ciência, a Sociologia, que para ele é o estudo dos factos sociais, a sua natureza e
transformação, e a sua explicação em termos sociológicos. Mas, para que isso seja
possível, torna-se necessária esta ciência possuir um conjunto de regras metodológicas
que permitam analisar os factos sociais de forma racional e objectiva.
Algumas das regras são as seguintes:
-os factos sociais devem ser considerados como coisas, porque são exteriores aos
indivíduos e independentes da sua vontade e, portanto, objectivos; mas também com o
objectivo de afastar as pré-noções e os preconceitos que o sociólogo transporta, como
indivíduo que é, e que tende a introduzir na esfera científica.
-por outro lado, é de realçar a regra que define que a explicação de um facto social
implica a procura da sua causa na própria sociedade: a causa de um facto social é só, e
sempre, outro facto social. Mais uma vez está expressa a noção de autonomia da
sociedade.
No entanto, Durkheim encara a Sociologia, não só como a ciência que observa e tenta
explicar a realidade social, mas também como uma ciência activa, que tem capacidade
de intervir nessa realidade de forma a ultrapassar os seus problemas. Neste ponto
Durkheim apresenta uma atitude reformista.
A sua principal obra é: Da Divisão do Trabalho Social, que é onde traduz o tema central
do seu pensamento: a relação entre os indivíduos e as colectividades. Nesta obra tenta
responder a algumas questões para explicar as profundas transformações que se viviam
naquela conturbada sociedade, pois ele tenta explicar como é que um grupo de
indivíduos pode constituir uma sociedade; e como é que os indivíduos podem
permanecer em harmonia na sua existência social.
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Torna-se, então, importante interpretar esta obra, não só porque é o tema central do
pensamento Durkheimiano, mas também devido ao facto de, através dessa
interpretação, ser possível esclarecer alguns conceitos e regras mencionados
anteriormente.
Análise da Obra “Da Divisão do Trabalho Social”
Para Durkheim a divisão do trabalho social, é uma das principais características das
sociedades modernas.
Nesta obra ele define a divisão do trabalho social, como a divisão de funções ao nível
de toda a sociedade e em todas as suas áreas (economia, arte, ciência, política, justiça,
administração, etc.), que por conseguinte, gera a especialização de todos os indivíduos.
Através da divisão do trabalho e da consequente especialização dos indivíduos, eles
tornam-se socialmente interdependentes e cooperantes uns com os outros. Assim, a
sociedade permanece uma unidade coerente e consensual.
A divisão do trabalho social -é um fenómeno puramente social e, como tal, seguindo o
pensamento Durkheimiano, só é possível de ser explicado por outro fenómeno social.
Assim, fenómenos individualistas, como por exemplo o tédio, a busca de felicidade, o
desejo de aumentar o rendimento do trabalho colectivo, não podem ser encarados como
causas da divisão do trabalho social.
Mas, para facilitar a compreensão da causa da divisão do trabalho social, Durkheim
utiliza o método de identificação de tipos sociais. Ele, considera dois tipos de sociedade:
as primitivas e as modernas. Cada um destes dois tipos de sociedade é caracterizado por
um género de solidariedade diferente, que impede a sociedade de se desagregar, nas
sociedades modernas impera a solidariedade orgânica.
As sociedades primitivas são dominadas pela solidariedade mecânica que é a
semelhança, nestas sociedades os indivíduos são semelhantes entre si, pois ocupam
tarefas indiferenciadas, experimentam os mesmos sentimentos e aderem aos mesmos
valores. A principal responsável por estas similitudes é a consciência colectiva.
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Para Durkheim, consciência colectiva é “o conjunto das crenças e dos sentimentos
comuns à média dos membros da sociedade”3, este conjunto forma um sistema com
vida própria e que se impõe aos indivíduos.
A consciência colectiva possui quatro dimensões:
Volume: número de pessoas envolvidas pela consciência colectiva;
Intensidade: profundidade dos sentimentos que os indivíduos têm pela
consciência colectiva;
Rigidez: clareza com que a consciência colectiva está definida;
Conteúdo: forma que assume a consciência colectiva;
Podemos dizer que a consciência colectiva manifesta um volume, uma intensidade e
uma rigidez com graus bastante elevados na solidariedade mecânica. Por outro lado, o
seu conteúdo resume-se à religião, esta estende-se a todas as esferas da sociedade, para
além das crenças propriamente religiosas, como a moral, o direito, os princípios de
organização política e até a ciência.
O princípio da solidariedade orgânica é a cooperação. Aqui, a diferenciação é o
principal factor de consenso da sociedade. Nas sociedades modernas os indivíduos
executam funções especializadas, que são interdependentes e complementares entre si.
Por trás desta harmonia está a divisão do trabalho social.
Estes dois tipos de solidariedade não são estanques. São duas fases extremas, que não
existem no seu estado puro, entre as quais as sociedades evoluem progressivamente.
Esta tipologia das sociedades humanas tem, portanto, por trás, uma visão evolucionista
da sociedade.
De acordo com Durkheim, as sociedades evoluem desde as suas formas mais
elementares até às mais complexas através da intensificação da vida social. Para
explicar este mecanismo, o autor invoca o conceito de luta pela vida.
É de salientar que a semelhança entre os indivíduos, característica das sociedades
primitivas, permite que hajam mais tensões competitivas, ou seja, se há um aumento do
número de indivíduos que tentam viver juntos, mais intensa é a luta pela vida. A
diferenciação social é a solução pacífica para esta luta, pois obriga à cooperação. A
intensificação da vida social traduz-se pela conjugação de dois factores: pelo aumento
do número de indivíduos numa sociedade e, simultaneamente, pelo crescimento da
interacção entre eles, ou seja, o volume de uma sociedade e a sua densidade dinâmica.
3 ARON, RAYMOND, “As Etapas do Pensamento Sociológico”, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1999, pag.316.
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Daqui podemos concluir que a divisão do trabalho social, como facto social que é,
resulta de outros factos sociais, o volume e a densidade dinâmica da sociedade. De
facto, para este autor, as sociedades evoluem, passando de uma solidariedade
tipicamente mecânica para uma solidariedade tipicamente orgânica, através de um
processo de diferenciação e especialização crescente, que resulta do aumento do volume
e da densidade dinâmica das sociedades.
Paralelamente a este gradual incremento da divisão do trabalho social, Durkheim
observa uma sucessiva transformação da consciência colectiva.
Com a progressiva diferenciação social, as crenças, os sentimentos e as normas
colectivas perdem a sua força e tornam-se cada vez mais gerais e indeterminados,
oferecendo uma margem maior à interpretação individual dos imperativos sociais.
Desta forma, a tomada de consciência da individualidade decorre do desenvolvimento
histórico da sociedade e só pode, por isso, ser explicado por ela. É a transformação da
sociedade e o seu percurso em direcção a uma solidariedade orgânica, evidenciada pela
divisão do trabalho social, que permite a consciência da individualidade. Por outras
palavras, não são as vontades, os interesses ou as aspirações dos homens que
desencadeiam a progressiva diferenciação social e especialização dos indivíduos.
Todavia, a solidariedade social e a consciência colectiva que lhe está inerente são factos
sociais imateriais e, por isso, não são directamente observáveis pelas suas características
exteriores. Por esta razão, para reconhecer e analisar a sua natureza e a sua
transformação, Durkheim utiliza um facto social que as reflecte: o Direito. O autor
distingue dois tipos de direito, que correspondem aos dois tipos de solidariedade:
Solidariedade mecânica ���� direito repressivo – revelador da consciência colectiva
existente nas sociedades, caracterizadas pela solidariedade mecânica uma vez que
manifesta o elevado grau do volume, da intensidade e da rigidez dos sentimentos e das
crenças comuns. Dado que todos os indivíduos acreditam profundamente numa
consciência colectiva comum e estão fortemente envolvidos nela, qualquer acto que
ofenda a consciência colectiva é considerado um crime e tem que ser severamente
punido.
Solidariedade orgânica ���� direito restitutivo ou cooperativo- exprime a
solidariedade orgânica, pois o seu objectivo não é punir, mas apenas restabelecer o
estado das coisas quando este é perturbado, organizar a coexistência e regular a
cooperação entre indivíduos com funções diferenciadas. Este tipo de direito não é
acompanhado pela emoção e pela revolta que existem na solidariedade mecânica visto
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que as normas que contem não interessam a todas as pessoas ao mesmo tempo, estas
apenas são utilizadas nas diversas situações particulares e concretas.
Pode dizer-se que as sociedades estão numa etapa em que a consciência colectiva
correspondente às sociedades primitivas tende a desaparecer, e ainda não está
completamente instituída a consciência colectiva resultante da divisão do trabalho
social.
No seu estudo acerca do suicídio, Durkheim encara a anomia como uma das causas
possíveis para este fenómeno. De acordo com ele, o suicídio anómico ocorre quando os
poderes reguladores da sociedade foram destruídos. Cessando os mecanismos sociais
que asseguram a existência de constrangimento ou coerção externa sobre os indivíduos,
estes ficam entregues às suas paixões, que, sendo por definição insaciáveis, conduzem a
frustrações que podem desencadear no suicídio.
Durkheim toma uma atitude reformista, reconhecendo a necessidade de instituir, de uma
forma voluntária, uma autoridade que impeça o declínio da consciência colectiva, numa
sociedade onde a divisão do trabalho social ainda não é absoluta: as corporações.
Segundo ele, os conflitos desencadeados nas organizações resultam da inexistência de
uma consciência colectiva, que é demonstrada pela ausência de uma estrutura
integradora. Essa estrutura integradora pode ser instituída através de associações
ocupacionais que acompanham e envolvem todos os indivíduos da mesma indústria
num único grupo social, através da constituição de uma consciência colectiva comum a
todos os seus membros.
Críticas ao Pensamento de Durkheim
As primeiras críticas ao pensamento de Durkheim estão relacionadas com o próprio
conceito de facto social.
Em primeiro lugar, a preocupação em tornar autónomo e independente o objecto de
estudo da Sociologia, levou-o à posição extrema de considerar os factos sociais como
coisas com uma existência objectiva separada dos indivíduos. Desta forma, ele não deu
a atenção devida ao papel da consciência individual na relação entre indivíduo e
sociedade. Não teve em conta as representações individuais que reflectem, no fundo, as
relações de cada a indivíduo com a sociedade e com as representações colectivas.
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O papel coercivo que Durkheim dá aos factos sociais também é excessivo, porque
argumenta que os factos sociais controlam os indivíduos e impõem-se a eles, ele está a
dar um papel passivo e receptivo à consciência individual no processo social. Deste
modo, os indivíduos são produtos da sociedade e moldados por ela. Contudo, se existem
uma série de normas e valores numa dada sociedade, cada indivíduo tem capacidade e
liberdade para avaliar essas normas e esses valores e decidir as suas acções perante essa
avaliação.
Ao longo de toda a obra, Durkeim salienta os elementos de harmonia, de consenso e de
continuidade, que estão associados à sua visão de sociedade como um todo integrado
que se impõe aos indivíduos. No entanto, se estes elementos estão presentes na
sociedade, os factores de conflito, relacionados com a consciência e a acção dos
indivíduos também fazem parte dela. Em síntese eu acho que a própria divisão do
trabalho é geradora de conflitos, porque, se existem funções específicas na sociedade,
geram-se grupos diferenciados que possuem interesses particulares à sua função, que
muitas vezes entram em conflito com os interesses associados a outras funções.
Por outro lado, esses elementos de estabilidade e equilíbrio da sociedade tendem a estar
ligados ao reconhecimento, à legitimação e à justificação da ordem social existente e
das suas instituições. O pensamento Durkheimiano adquire, assim, um cariz
conservador, os indivíduos realizam acções intencionais que interferem na realidade
social. Sendo assim, interrogo-me até que ponto a diferenciação e especialização da
sociedade não resulta da vontade, dos interesses ou das aspirações dos homens. Para
mim, a ideia economicista segundo a qual a divisão do trabalho provém do interesse que
os indivíduos têm em dividirem as tarefas de maneira a aumentarem o rendimento da
colectividade tem bastante lógica, apesar de poder ser considerada um pouco
reducionista, pois não tem em conta outros possíveis factores.
Para Durkheim, a Sociologia não pode resumir-se à observação e explicação dos
fenómenos sociais, ela deve intervir na sociedade, aplicando os seus conhecimentos
objectivos, de forma a melhorá-la. Contudo, e apesar da prudência e da reserva serem as
suas atitudes mais frequentes, esta sua atitude reformista mostra que muitas vezes o
autor é tentado a fazer interferir a ideologia e a subjectividade no pensamento cientifico.
Por fim, resta-me salientar que Durkheim formula a sua abordagem teórica de uma
forma demasiado abstracta e geral, sendo, por essa razão, difícil de interpretar e operar.
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Compreensão e Explicação dos Fenómenos Sociais
Weber, vai definir os fronteiras conceptuais e metodológicas da Sociologia, de forma a
que esta nova ciência seja autónoma e não redutível a outras ciências já existentes. No
entanto, a forma como o faz é bastante diferente de Durkheim.
É importante realçar, o modo como ele encara a Sociologia, conciliando duas
importantes correntes de pensamento dos finais do séc. XIX, que ocupam posições
opostas na reflexão sobre o social. A Sociologia de Weber só pode ser compreendida
tendo em conta estas duas correntes.
De um lado, a análise positivista que procura estabelecer leis gerais a partir das
regularidades observadas ao longo da história, com o objectivo de alcançar um
conhecimento perfeito e totalizante da realidade social. O estabelecimento destas leis é
realizado através da utilização do princípio de causalidade, que estabelece uma relação
causal directa e inevitável entre os fenómenos sociais, ou seja, se um fenómeno implica
outro fenómeno, então, sempre que se observa um fenómeno é inevitável que surja o
outro. Desta forma, as ciências humanas podem ser comparadas às ciências naturais.
Do lado oposto, a hermenêutica considera que as ciências humanas são radicalmente
diferentes das ciências naturais, pois as primeiras nunca conseguem estabelecer leis
gerais para os fenómenos sociais. As ciências humanas apenas podem compreender,
interpretar e explicar os fenómenos singulares. O princípio que está na base deste
argumento sustenta que os fenómenos sociais são únicos, irredutíveis e não repetitivos.
Ele recusa a possibilidade encarada pelos positivistas do estabelecimento de leis gerais
com o objectivo de alcançar um conhecimento totalizante da realidade social.
Em primeiro, os indivíduos nunca conhecem a realidade tal como ela é; os indivíduos
constroem a sua própria realidade, através da aplicação de categorias ao real, na sua
relação com ele. Em segundo lugar, a história apresenta um conjunto interminável de
acontecimentos singulares, não susceptíveis a generalizações e a formulação de leis. No
entanto é importante o estabelecimento do princípio da causalidade proposto por esta
corrente, apesar de o formular de uma forma desigual.
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Por outro lado, critica o excesso de particularismo defendido pela hermenêutica. No
entanto, desta linha de pensamento retém a subjectividade dada aos acontecimentos
históricos, pois valoriza a consciência individual e a acção dos indivíduos na sociedade.
É desta maneira indispensável a compreensão e a interpretação da acção social.
Weber define a sociologia como a conjugação dos conceitos de compreensão e de
causalidade que o autor retira destas duas correntes de pensamento. De facto, de acordo
com o autor, “deve entender-se por sociologia ...: uma ciência que pretende entender,
interpretando-a, a acção social, para dessa maneira a explicar causalmente no seu
desenvolvimento e nos seus efeitos”.4
Para melhor entender a definição de Sociologia, torna-se necessário conhecer o modo
como ele enuncia os conceitos de acção e acção social. Segundo Weber, “por acção
deve entender-se uma conduta humana (que consista num fazer externo ou interno, num
omitir ou permitir) sempre que o sujeito ou os sujeitos da acção lhe dêem sentido. A
acção social, portanto, é uma acção onde o sentido pensado pelo sujeito ou sujeitos
está referido à conduta de outros, orientando-se por esta no seu desenvolvimento”.5
Tendo em conta os conceitos de acção e de acção social propostos por Weber,
pressupõe-se que, para ele, acção é um comportamento humano em que ele lhe atribui
um significado subjectivo. Desta forma, a acção diverge da reacção, comportamento
humano que é automático e não implica uma reflexão.
Por sua vez, a acção é social quando o sentido que o actor lhe dá se refere ao
comportamento das outras pessoas. Portanto, a acção social organiza-se em relação
social. A relação social surge quando, agindo vários actores, o sentido da acção de cada
um se refere à atitude do outro, de tal modo que as acções se orientam reciprocamente
umas para as outras.
A Sociologia é a ciência da acção, ou seja, dos comportamentos humanos que envolvem
processos de pensamento, visa compreender, interpretando, o sentido que os actores dão
aos seus comportamentos, de forma a poder chegar a explicações causais do seu curso e
dos seus efeitos. Sendo assim, os dois momentos decisivos desta ciência são:
Compreensão interpretativa � apreensão de significações e sua organização
em conceitos;
Explicação � demonstração das regularidades dos comportamentos;
4 FERREIRA, J. M. e outros; “Sociologia”, McGrawHill, Alfragide, 1995, pag. 98. 5 Idem.
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A ambos os momentos estão associados alguns instrumentos de investigação propostos
por Weber.
A Sociologia compreensiva
A Sociologia para Weber, pretende compreender e interpretar a acção social, ou seja,
captar o sentido que os actores dão aos comportamentos e torná-lo inteligível. Daí o
conceito de Sociologia compreensiva para Weber.
Para Weber os indivíduos isolados ou em grupo, são seres actuantes, interferindo na
sociedade através de comportamentos que para eles têm significado, tendo um papel
fundamental no percurso da história.
A Sociologia procura captar a realidade subjectiva que está por trás dos acontecimentos
históricos e dos fenómenos sociais, esta ciência pretende perceber as normas, valores e
sentimentos que direccionam as acções dos indivíduos, assim como o contexto cultural
onde eles participam.
É importante realçar que, segundo Weber, se por um lado, a sociedade nos sugere ou
impõe um sistema de valores que representa a herança do passado, por outro, os
indivíduos possuem uma consciência individual que interfere nas suas respostas a um
meio ou a uma situação, contribuindo para a criação do futuro. O universo de valores a
que cada um dos indivíduos se apega, é uma criação simultaneamente colectiva e
individual.
Esta concepção voluntarista da acção conduz-nos a três ideias chave no pensamento de
Weber. Em primeiro, se os homens e os grupos sociais interferem na construção do
sistema cultural, condicionando os acontecimentos históricos e os fenómenos sociais,
cada sociedade tem um sistema cultural específico, ou seja, os homens vivem em
diversas formas de existência, apenas compreensíveis à luz do seu sistema cultural,
podendo as diferentes sociedades evoluir de forma desigual. Weber contesta o
evolucionismo, segundo o qual as diferentes sociedades passam obrigatoriamente por
várias etapas de evolução comuns, desde as formas mais elementares até às mais
complexas.
Em segundo, se a acção humana contribui para a criação do futuro histórico é porque a
evolução das sociedades não está antecipadamente fixada: o futuro é indeterminado.
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16
Desta forma, é inaceitável antever em que direcções caminham as diferentes sociedades,
apenas é possível apontar algumas tendências.
Por fim, se os diferentes indivíduos e os diferentes grupos sociais dão significados
divergentes à acção, isto é, possuem normas, valores e sentimentos desiguais, é
impossível existir um pleno consenso entre os homens e entre as sociedades. O conflito
é inevitável.
Compreensão e construção de tipos – ideais
A Sociologia pretender compreender a subjectividade da acção humana, apesar de não
ser uma ciência subjectiva, porque dispõe de instrumentos que conferem o rigor e a
objectividade necessários a uma ciência: tipos – ideais. De acordo com Weber, “obtém-
se um tipo-ideal mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista, e
mediante o encadeamento de grande quantidade de fenómenos isoladamente dados,
difusos e discretos que se podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por
completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados, a
fim de se formar um quadro homogéneo do pensamento”6
Estes conceitos permitem-nos a racionalização, ou ainda a apreensão lógica, de um tipo
de comportamento ou de um fenómeno histórico singular. Por outro lado, tornam mais
inteligível a subjectividade da existência humana. Por outras palavras, possibilitam a
organização das significações apreendidas, com vista a dotá-las de uma maior
inteligibilidade. No fundo, oferecem objectividade e alguma unidade à reflexão
científica. Logo a sua construção, é um instrumento fundamental para a compreensão
dos sentidos subjectivos dos comportamentos humanos, estes tipos são apenas um meio
de compreensão da realidade social, não um fim em si mesmo. De facto, eles são
somente conceitos construídos pelo sociólogo, não traduzem a própria realidade. Mas, o
melhor, é evidenciar algumas características destes conceitos.
Os tipos-ideais são uma construção mental que incorpora as propriedades essenciais e
típicas de um fenómeno particular, são tipos puros que nunca são encontrados na
realidade. Este afastamento em relação à realidade concreta torna-se mesmo
conveniente, pois contrasta mais facilmente com determinados aspectos que interessam
ser estudados. O tipo-ideal é um instrumento de medida que permite encontrar pontos
6 FERREIRA, J. M. e outros; “Sociologia”, McGrawHill, Alfragide, 1995, pag.102.
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de referência. A sua função é ser comparado com a realidade empírica de forma a
estabelecer as diferenças e semelhanças entre os dois para, em seguida, descrever essa
realidade da maneira mais objectiva e inteligível possível.
Por outro lado, é necessário entender que o termo ideal não tem qualquer conotação
ética ou moral, ou seja, não implica nenhum dever ser nem se assume como algo
exemplar. Weber distingue quatro espécies de tipos-ideais:
Históricos; correspondem a formações históricas características e específicas (ex.:
capitalismo moderno, cidade do ocidente).
Abstractos; correspondem a formações históricas características e específicas (ex.:
capitalismo moderno, cidade do ocidente).
De acção e Estruturais são tipos-ideais que expressam reconstruções racionalizantes de
comportamentos com um carácter particular. Enquanto os tipos-ideais de acção estão
relacionados com as motivações dos indivíduos (ex: tipologia da acção), os estruturais
manifestam as formas assumidas pelas causas e consequências da acção social (ex.:
estruturas de dominação).
O principio da causalidade
A sociologia não se limita a compreender o sistema cultural, porque tenciona
estabelecer a forma como ele interfere no comportamento das sociedades, tenta
simultaneamente interpretar de forma compreensiva e explicar causalmente os
fenómenos sociais e acontecimentos históricos.
Weber chama a atenção para o facto de que a aplicação do princípio da causalidade,
assim como a construção dos tipos-ideais, não é o objectivo, mas apenas um meio para
o estudo de um dado fenómeno social. Por outro lado, o princípio de causalidade
proposto por ele diverge do que é sustentado pelo positivismo.
Em primeiro lugar, de acordo com ele, a causalidade é definida em termos
probabilísticos. O investigador estima o grau em que determinado efeito é potenciado
por certas situações. O raciocínio de Weber é: um fenómeno A favorece mais ou menos
fortemente um fenómeno B. Desta forma, a procura de relações directas, regulares,
repetidas e constantes entre os fenómenos para estabelecer uma relação causal é
insuficiente e incorrecta.
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18
Em segundo, os esquemas de weber pressupõem a multicausalidade, porque não há,
uma determinação unilateral do conjunto da sociedade por um só elemento, seja ele
económico, político, religioso,... ele analisa alguns fenómenos, procurando estabelecer
a probabilidade de cada um deles fazer surgir um ou mais dos outros fenómenos. Aquilo
que, sob um ponto de vista, é tido como uma causa, pode, noutra situação, ser visto
como um efeito.
Weber, propõe uma forma bastante curiosa de encontrar quais os fenómenos que
concorrem para o aparecimento de um dado fenómeno particular. Segundo ele, para
explicar um fenómeno singular é necessário enquadrá-lo num conjunto de fenómenos.
No entanto, nem todos os acontecimentos têm o mesmo peso e a mesma importância,
sendo conveniente que o pesquisador proceda a uma selecção.
Weber propõe dois conceitos: -possibilidade objectiva é a imaginação de um conjunto
de consequências esperadas. A possibilidade é objectiva porque se baseia na
argumentação racional apoiada no conhecimento das condições existentes e no saber do
investigador assente em regras de experiência, não tendo no entanto nada de arbitrário
ou subjectivo. Por outro lado, é uma mera possibilidade, não constituindo uma evolução
necessária ou imperativa.
A causalidade adequada, por sua vez, surge quando a possibilidade objectiva que
resulta deste exercício mental é muito elevada ou quase inevitável. Com a concepção de
causalidade adequada, o sociólogo emite afirmações probabilísticas sobre as relações
entre os fenómenos sociais, note-se que estas afirmações não consideram as relações
entre os fenómenos directas e inevitáveis: a concretização de um fenómeno depende de
múltiplos factores.
De facto, a análise causal nunca pode alcançar certezas. O principal agente dessa
limitação é o homem, como indivíduo participante na realidade social.
Autonomia e interdependência em relação às outras ciências
Weber apresenta um objecto e instrumentos metodológicos que individualizem a
sociologia em relação ás outras ciências sociais, de modo a criar a sua autonomia como
se queria no final do séc. XIX. Por exemplo, a sua Sociologia compreensiva não se pode
confundir com a Psicologia. Para Weber, o grande objecto de estudo é a apreensão das
significações que os indivíduos dão aos comportamentos. Ele organiza essas
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significações em conceitos, tipos-ideais, de maneira a torná-las objectivas e possíveis de
serem aplicadas na análise dos fenómenos sociais.
A sociologia também não pode ser confundida com a Economia. Weber atribui um
papel fundamental à acção social, não significando que dê primazia à racionalidade
instrumental que tem em conta os objectivos a alcançar, tal como os economistas. Para
ele, a sociologia preocupa-se com todos os tipos de acções, independentemente dos
motivos que levam os indivíduos a agir de determinada maneira.
Por outro lado, Weber estabelece uma forte relação entre Sociologia e História, embora
não omita a sua autonomia. Para ele, a História é composta por um número ilimitado de
fenómenos específicos e para estudar essa infinidade de fenómenos é necessário
construir uma variedade de conceitos. A Sociologia é a ciência que constrói uma série
de conceitos gerais que permitem realizar análises causais de fenómenos históricos
específicos, os tipos-ideais. O historiador utiliza os conceitos traçados pelo sociólogo
para identificar e definir a individualidade de cada fenómeno e os factores que levaram
a que ele se desenvolvesse. Contudo, para a sociologia compor esses conceitos tem que
se basear na repetição ou raridade, e na semelhança ou diferença, dos elementos que
constituem os diferentes fenómenos históricos.
Compreensão e explicação causal
Podemos afirmar que Weber acaba por conciliar duas correntes de pensamento opostas,
propõe uma Sociologia que conjuga a preocupação com a compreensão do sentido que
os indivíduos dão às suas acções com a explicação causal do desenvolvimento dessas
acções e dos seus efeitos.
Na formação da Sociologia está o valor que ele dá aos indivíduos como seres actuantes,
que interferem na sociedade e no seu desenvolvimento através de comportamentos. Na
fase da compreensão das acções sociais, Weber apresenta um instrumento chave: o tipo-
ideal. Este instrumento tem como função tornar inteligíveis e objectivos os significados
que os indivíduos dão às suas acções, através da sua organização. Deste modo, a
Sociologia assegura a objectividade e o rigor imprescindíveis numa ciência.
A explicação causal de Weber tem duas características: o modelo da multicausalidade:
em que há vários factores que podem influenciar o desenvolvimento de um dado
fenómeno social e o princípio probabilístico, que resulta exactamente da
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multicausalidade. De facto, se são diversos os factores que podem concorrer para o
desencadear de um fenómeno, é impossível estabelecer relações de causalidade directas
e inevitáveis. Estas relações apenas são prováveis.
Tipos – Ideais
Para Weber, os tipos-ideais têm um papel primordial, porque organizam o sentido e o
significado que os actores dão aos comportamentos, dotando-os de objectividade e
inteligibilidade e, consequentemente, permitem a análise causal dos fenómenos sociais.
Os principais tipos-ideais estão precisamente relacionados com as diferentes formas de
acção social.
Tipologia da acção social
A tipologia das formas de acção social tem uma natureza ideal – típica, uma vez que,
por um lado, raramente a acção social se encontra exclusivamente orientada para um
dos tipos-ideais e, por outro lado, eles não traduzem a realidade. De facto, as diferentes
formas de acção não se ligam a nenhuma sociedade ou época histórica precisas,
podendo ser antes encontradas em qualquer uma e de forma combinada.
A tipologia da acção social inclui quatro tipos distintos de acção:
Racional por relação a fins, é para Weber, definida pelo facto de conceber claramente
o fim e combinar os meios com vista a atingi-lo. Dois elementos são, assim,
determinantes para esta acção. Por um lado, o actor tem consciência das consequências
da sua acção e, por outro, são precisamente essas consequências que o levam a agir,
utilizando os meios apropriados para as alcançar.
Racional por relação a valores; este tipo de acção, o actor age racionalmente aceitando
todos os riscos, não para obter um resultado extrínseco, mas para permanecer fiel aos
seus valores e às suas crenças. Aqui podemos realçar que ele age para satisfazer os seus
valores pessoais e não para alcançar um fim exterior; por outro lado, as consequências
que poderão advir da sua acção não tem qualquer importância para o indivíduo.
Afectiva; é ditada, não por referência a um fim ou um sistema de valores, mas pelo
estado emocional do actor colocado em circunstâncias dadas.
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21
Tradicional; assenta, nos hábitos e costumes enraizados no indivíduo por meio de uma
longa prática. Portanto, o actor, para agir segundo a tradição, não tem necessidade de
procurar um fim, nem de conceber um valor, nem de ser agitado por uma emoção, pois
obedece simplesmente aos reflexos incorporados em si pela experiência.
Tanto a acção afectiva como a acção tradicional encontram-se no limiar do que pode ser
considerada como acção social. De facto, a acção tradicional pode, muitas vezes,
consistir apenas numa reacção a estímulos habituais. Por sua vez, a acção afectiva pode,
frequentemente, tratar-se apenas de uma reacção a um estímulo extraordinário. Assim,
ambas se distinguem da acção racional por relação a valores por esta supor a elaboração
consciente dos seus objectivos. Mas aproximam-se dela pelo facto de, em todas elas, o
sentido da acção se esgotar na própria acção e não no seu resultado, ou seja, não há uma
consideração das consequências. Pelo contrário, na acção racional por relação aos fins,
o actor considera sempre os fins, os meios e as consequências, ponderando-os de forma
racional.
Com base nesta tipologia da acção social, Weber constrói uma tipologia das relações
sociais. Relação social é uma conduta de vários indivíduos em que o sentido da acção de
cada um se refere à atitude do outro, de tal modo, que as acções se orientam
reciprocamente umas para as outras. Ele distingue dois tipos de relação social: a
comunalização e a sociação.
Assim, enquanto que a acção afectiva e a acção tradicional desembocam na relação
social com o nome de comunalização, a acção racional com relação a fins e a acção
racional com relação a valores convergem na relação social a que o autor chama
sociação.
A comunalização dá origem a um grupo, a que podemos chamar comunidade, cujo
fundamento é um sentimento de pertença recíproco. Contrariamente, a sociação
promove um grupo, a que podemos chamar sociedade, em que a motivação das acções
sociais é constituída por uma coordenação ou igualdade de interesses.
É importante assinalar que, para Weber, qualquer um destes dois tipos de relação social
tem uma natureza ideal - típica. A seu ver, a grande maioria das relações sociais
combina a comunalização com a sociação. Contudo, ele considera que a racionalização
é a característica dominante da modernidade, ou a sua principal tendência. Ora, se a
comunalização se baseia no sentimento ou na tradição e a sociação assenta na razão, e
se Weber sugere que a racionalização da acção é característica da sociedade moderna,
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22
até que ponto não podemos concluir que, progressivamente, a sociação predomina sobre
a comunalização?
Tipologia da dominação
Com a tipologia da acção social, Weber constrói também a tipologia da dominação.
Mas, primeiro que tudo, é necessário definir dominação e distingui-la do conceito de
poder.
Tendo em conta a análise que Aron faz de Weber, “poder define-se simplesmente pela
probabilidade que um actor possui de impor a sua vontade a um outro, mesmo contra a
resistência deste”7. Por sua vez, a dominação “pode definir-se pela probabilidade por
parte do senhor de obter a obediência daqueles que, em teoria, lha devam”8. A
diferença entre poder e dominação resulta do facto de: poder o comando não ser
necessariamente legítimo, nem a submissão obrigatoriamente um dever, ao passo que,
no segundo caso, a obediência assenta no reconhecimento, por parte dos que obedecem,
das ordens que lhes são dadas.
Assim sendo, a tipologia da dominação baseia-se na tipologia da legitimação que
assegura a dominação. Weber distingue três tipos de dominação:
Carismática; assenta numa dedicação, para além do quotidiano, ao carácter sagrado e
excepcional, à força heróica ou poderes especiais de uma pessoa e da ordem revelada ou
criada por ele. Este tipo de dominação está associada a uma virtude, o carisma, que é
inerente à pessoa que o possui.
Tradicional; é fundamentada na crença, no carácter sagrado das tradições antigas e na
legitimidade dos que foram chamados pela tradição ao exercício da dominação. O
fundamento deste tipo de dominação é o próprio costume. Ele implica uma atitude de
respeito piedoso para com o passado, de reverência para com realidades cuja origem
parece perder-se, confundida com o começo dos tempos. É fundamentada na crença, no
carácter sagrado das tradições antigas e na legitimidade dos que foram chamados pela
tradição ao exercício da dominação. O fundamento deste tipo de dominação é o próprio
costume. Ele implica uma atitude de respeito piedoso para com o passado, de reverência
7 ARON, RAYMOND; “As Etapas do pensamento Sociológico”, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1999. 8 Idem.
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23
para com realidades cuja origem parece perder-se, confundida com o começo dos
tempos.
Racional funda-se na crença da legalidade das regras institucionalizadas, bem como na
legalidade dos títulos dos que exercem a dominação. Este tipo de dominação emerge da
legitimidade de um sistema racional legal.
Estes tipos de dominação correspondem aproximadamente a três dos quatro tipos de
comportamento, porque há um paralelismo entre a acção racional relativa a um fim e a
dominação legal. Finalmente, há uma aproximação entre a acção afectiva e a dominação
carismática.
Weber relembra que os tipos de dominação são tipos-ideais que, na realidade concreta,
apenas podemos encontrar combinados entre si, em proporções e formas variadas.
Todavia, de acordo com Weber, se a racionalização é o traço principal das sociedades
modernas, a dominação racional parece traduzir essa tendência. A forma estrutural que
exprime a dominação racional é a burocracia, ou seja, a existência de um sistema
racional legal.
A burocracia
Weber constrói um tipo-ideal de burocracia de modo a destacar as suas características
fundamentais. Existe um corpo de funcionários com hierarquia de funções, direitos e
deveres bem definidos e esferas de competência bem demarcadas. A burocracia
assemelha-se com uma pirâmide, estando o chefe no topo e estendendo-se o comando
do topo até à base, sendo assim possível a coordenação da tomada de decisões: cada
funcionário de nível mais alto controla e supervisiona o seu subordinado. Desta forma,
apesar de cada departamento burocrático ter uma esfera de acção delimitada, existe uma
organização contínua de funções.
Existe um conjunto de regras de conduta dos funcionários que, por um lado, são
impessoais, e, por outro lado, são escritas. As próprias pessoas que exercem a
dominação também estão sujeitas a este conjunto de regras.
De seguida , os funcionários são trabalhadores a tempo inteiro e assalariados. O seu
recrutamento é feito através das suas qualificações técnicas. Logo, os subordinados não
devem aos seus superiores hierárquicos fidelidade pessoal. Cada função na hierarquia
tem um salário fixo e definido. Espera-se que os funcionários façam carreira na
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organização, ou seja, que ocupem apenas temporariamente a mesma função. A
progressão dos funcionários na carreira baseia-se na capacidade e/ou na antiguidade,
nunca na fidelidade pessoal prestada, há uma separação entre as tarefas do funcionário
na organização e a sua vida privada. A vida privada do funcionário é distinta das suas
actividades no local de trabalho, assim como também está fisicamente distanciada.
Por fim, nenhum membro da organização é dono do lugar que ocupa, assim como dos
recursos materiais que opera. Tanto o lugar como os recursos pertencem à organização.
Sendo assim, os trabalhadores não os controlam.
Weber acha que do ponto de vista técnico, a burocracia transporta uma série de
vantagens, porque permite atingir um elevado grau de eficácia devido à estabilidade, à
disciplina, à fiabilidade que ela impõe, ao elevado nível de previsibilidade que ela
alcança e ao universo de funções que ela cobre (aplicável a todo o tipo de tarefas
administrativas). È por esta razão que acha que as grandes organizações tendem
necessariamente a ser de natureza burocrática. Como relata Giddens, “segundo este
autor, a expansão da burocracia é um fenómeno inevitável das sociedades modernas; a
autoridade burocrática é a única forma de lidar com as implicações administrativas de
grandes sistemas sociais”9
Por outro lado, Weber diz que a progressiva racionalização das sociedades conduz à
alienação dos indivíduos.
Weber crê que a racionalização não conduz a uma maior autonomia e liberdade dos
indivíduos, mas antes a uma cada vez maior sujeição destes aos meios racionais que
criou para atingir os seus objectivos.
Por outro lado, com o aumento da especialização, os indivíduos são forçados a
desempenhar estritamente uma função limitada, obedecendo aos imperativos de uma
razão anónima. Assim, cada vez menos as motivações afectivas e morais determinam a
acção, o que provoca um certo desequilíbrio de motivações.
Por fim, com a racionalização das sociedades, observa-se uma queda das grandes
crenças na vida colectiva.
9 GIDDENS, ANTONY; “Sociologia”, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2000.
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Críticas ao Pensamento de Weber
A teoria de Weber tal como o pensamento de Dhurkeim possui algumas deficiências
que é importante salientar.
O pensamento de Weber apresenta-se bastante disperso e difuso, o que torna a sua
análise e síntese algo complicadas. A primeira crítica resulta do valor que ele dá à acção
dos indivíduos nos acontecimentos históricos e nos fenómenos sociais. Para ele, as
acções dos indivíduos decidem o futuro da história. apesar da direcção da evolução das
sociedades não estar pré-determinada, os indivíduos têm margem de liberdade para
agir, tal como argumenta Weber; existem, por vezes, condições exteriores aos
indivíduos que marcam o evoluir da história (ex. fenómenos naturais) e nas quais eles
não podem interferir.
Por outro lado, Weber defende a multicausalidade, um dado fenómeno social é sempre o
resultado simultâneo de diversas circunstâncias, não há determinação do conjunto da
sociedade por apenas um elemento. No entanto, ele dá ênfase ao sistema cultural. De
facto, ao longo da sua obra, a preocupação com os valores, os sentimentos e as normas
que estão por trás das acções dos indivíduos é bem visível. Na minha opinião, eu acho
que ele valoriza em excesso a acção social.
Ele recusa uma visão evolucionista da história, segundo a qual todas as sociedades
evoluem desde as formas mais simples até às mais complexas passando por diferentes
fases comuns de evolução, as diferentes sociedades têm a sua própria evolução
particular devido à diversidade de factores que poderão interferir na história de cada
uma delas. Todavia, ele mesmo diz que os tipos-ideais da acção racional e da burocracia
estão principalmente presentes nas sociedades modernas.
Ainda enquadrado no modelo da multicausalidade aparece um outro problema. Weber
defende que, para detectar as causas que interferiram em determinado fenómeno social,
o investigador deve proceder a um exercício mental em que imagina uma evolução
possível, por eliminação de cada um dos factores, para poder determinar a sua
significação e importância para o surgimento desse fenómeno. Na minha opinião, esta
operação é bastante subjectiva. Seguindo o próprio pensamento de Weber, nenhuma
pessoa pode captar a realidade concreta de uma forma absoluta; por isso, nenhum
investigador tem capacidade de captar todos os factores que intercedem num dado
fenómeno, apenas tem em conta aqueles que lhe saltam à vista, os factores que podem
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ter importância para um investigador podem ser irrelevantes para outro; depende da
forma como cada um interpreta a realidade.
Por fim, uma última crítica refere-se à ideia de Weber segundo a qual as sociedades
modernas tendem necessariamente para a burocratização, pois a burocracia é a única
maneira de trabalhar eficazmente em grandes sistemas sociais. Mas, o que se observa é
bem diferente. Por um lado, as organizações baseadas nos princípios formulados pelo
autor, como grandes fábricas com linhas de montagem e hierarquias de dominação
bastante rígidas, acabam por ter muitas dificuldades, porque devem ouvir todos os
intervenientes nas empresas para poderem ter sucesso.
Conclusão
À semelhança de outros autores dos finais do séc. XIX, Durkheim e Weber pretendem
uma autonomia da Sociologia face ás outras ciências humanas mais antigas e
estruturadas. Ambos, acham que é importante delimitar o objecto de estudo e os
instrumentos metodológicos, os que cada um propõe são bastante diferentes.
Para Durkheim o objecto de estudo é o facto social, a sociedade é muito mais do que a
soma das acções individuais; ela é uma entidade com propriedades próprias, exteriores
aos indivíduos e que constrangem os seus comportamentos. Para Weber acção social, é
quando os indivíduos são seres conscientes, que dão sentido às suas acções e que, ao
agirem, interferem na evolução da sociedade.
Durkheim dá uma grande importância ao grupo em detrimento do indivíduo na
determinação da conduta humana, em contrapartida, Weber diz que há uma grande
diferença entre fenómenos sociais e naturais, devendo compreender o desenrolar da
acção humana, é compreensivista, pois tudo tem que se compreender para ele a
sociologia terá que investigar quais os valores existentes na sociedade, para ver o que é
que esses valores exercem na acção humana.
Durkheim diz que os factos sociais não são redutíveis a factores individuais.
Para Weber não há leis sociais, podendo-se compreender e encontrar as consequências
causais, a sociologia é subjectiva porque tenta compreender a transformação da
sociedade faz uma compreensão causal, entre a causa e o efeito.
Para Durkheim a pesquisa da realidade social deve-se á observação dos factos, que são
reflexo das relações sociais profundas ele preocupa-se com os fenómenos de coesão
social.
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Os factos sociais são externos ao individuo, moldam a acção humana e interrelacionam
se entre si, porque fazem parte de uma entidade que está acima dos homens, para ele a
sociologia, deve preocupar-se em tentar explicar a realidade social não explicando os
factos sociais através da psicologia ou biologia, deixou heranças nas escolas, era
positivista e funcionalista.
Para Weber, a acção social, é analisada a partir do significado que o sujeito dá á sua
acção e á acção dos outros é uma sociologia subjectiva, sendo a sociedade analisada a
partir do sujeito.
Traçados que foram os objectivos expostos na parte introdutória deste trabalho, e
efectuadas que foram as tarefas ao longo de todo o desenvolvimento do mesmo, posso
então afirmar que, de facto, as conclusões que cheguei foram as esperadas.
Alarguei indubitavelmente os meus conhecimentos acerca de Durkheim e Weber, e
espero que este trabalho satisfaça os objectivos propostos.
Bibliografia
ARON, RAYMOND; “As Etapas do Pensamento Sociológico”, Publicações
Dom Quixote, Lisboa, 1999;
FERREIRA, J. M. e outros; “Sociologia”, McGrawHill, Alfragide, 1995;
GIDDENS, ANTHONY; “Sociologia”, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,
2000;
TIMASHEFF, Nicholas S. – Sociological Theory: its nature and
growth. Traduzido por Antônio Bulhões para Zahar ed, Rio, 1960.
Www.faculty.rsuedu
Www.tbe.unesco
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28
Índice
Introdução…………………………………………………………………................
1
Durkheim…………………………………………………………………………….
2
O objectivo de Durkheim………………………………………………………….
2
O objecto de estudo da sociologia – o facto social…………………………...
2
As regras da investigação da sociologia………………………………………
4
A construção de um pensamento……………………………………………...
7
Análise da obra “ Da Divisão do Trabalho Social”……………………………….
8
Críticas ao pensamento de Durkheim……………………………………………...
11
Max Weber………………………………………………………………………….
13
Compreensão e Explicação dos Fenómenos Sociais………………………………
13
A sociologia compreensiva…………………………………………………...
15
Compreensão e construção de tipos – ideais………………………………….
16
O principio da causalidade……………………………………………………
17
Autonomia e interdependência em relação ás outras ciências……………….
18
Compreensão e explicação causal…………………………………………….
19
Tipos – ideais……………………………………………………………………...
20
Tipologia da acção social…………………………………………………….
20
Tipologia da dominação………………………………………………………
22
A burocracia………………………………………………………………….
23
Críticas ao Pensamento de Weber…………………………………………………
25
Conclusão……………………………………………………………………………
26
Bibliografia………………………………………………………………………….
27
Índice………………………………………………………………………………...
28