Trabalho de Arte Romana

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS IFCH - DEPARTAMENTO DE HISTRIA HH 718 - INTRODUO HISTRIA DA ARTE ROMANA PROF -MARCELO HILSDORF MAROTTA Augusto Costa e Silva RA: 105871

Anlise da escultura Augusto de Prima Porta(20 a. C.)

O ponto mais importante da arte Augusta, que houve a utilizao de formas helensticas para expressar os valores romanos. Karl Galinsky ainda afirma, durante a poca de Augusto a arte romana teve uma continuao dos fenmenos j existentes, mas que necessrio ter outro tipo de olhar para entender a forma de expresso neste instante. Comeo por explicar o contexto no qual a obra foi esculpida. Os romanos tinham lutado contra o Imprio Parto (sia Central) trs vezes antes do principado de Augusto. Este imprio era uma formidvel fora inimiga para os romanos, estes perderam seus estandartes nas batalhas contra os Partos. O evento que acarreta na futura rendio dos Partos para com Roma acontece sob o Imprio de Augusto, Galinsky estabelece que com a conquista do territrio Armnio houve uma presso maior para os Partos que acabaram, em 20 a.C., por se render ao Imprio Romano, tornaram-se portanto um reino cliente. Augusto na sua obra Res Gestae fala desse momento, Eu forcei os Partos a me devolverem como despojo os estandartes de trs armadas romanas e a pedir como suplicantes a amizade para com o povo romano. Da Espanha a Glia e dos Dalmatianos, Eu recuperei, depois de conquistar o inimigo, muitos estandartes militares que haviam sido tomados em derrotas de outros generais, estes estandartes eu depositei no centro do templo do Deus Marte1.

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SHIPLEY, Frederick W. Velleus Paterculus and Res Gestae Divi Augusti. Ed. Harvard University Press. p.383.

Portanto como comemorao da vitria obtida por Augusto, foi construda a obra a qual analiso, e no somente a esttua havia sido esculpida, houve tambm a cunhagem de moedas que representavam a entrega dos estandartesi. H outro ponto de vista pelo qual pode ser visto o contexto da obra, atravs da religio, e Paul Zanker quem descreve melhor essa viso. Segundo o autor Augusto tinha em Roma a imagem de Divi filius2, porque era considerado filho do Imperador divinizado Jlio Csar. Mas essa associao no renderia um futuro prspero para Augusto como Imperador, seu pai tambm era reconhecido pela guerra civil que causara em Roma, portanto para desassociar tal desapontamento, era assegurada uma aproximao que Augusto teria para com os deuses. (...) J menino havia manifestado seu poder divino; inclusive as rs o obedeciam (...) ao assumir seu primeiro consulado apareceram doze abutres, como ocorrera antigamente com Rmulo. Numerosos sonhos e sinais associavam o garoto com o sol e os astros, como correspondia ao nvel geral de esperanas prprias de uma nova era da humanidade e um governante de origem divina. (...)3. Em suma, eu pondero que o comitente da obra, teve razes tanto polticas, tendo em vista a conquista realizada por Augusto em relao ao Imprio Parto, obtendo sucesso onde outros no tiveram e recuperando os estandartes perdidos, e quanto religiosas, ele queria afirmar sua proximidade com os deuses, que de acordo com Augusto, estes abenoavam o mesmo concedendo-lhe benefcios. Aps contextualizar o ambiente em que a obra foi planejada e feita, fao agora a descrio e anlise da mesma. A comear pelo rosto da esculturaii, eu vejo um rosto jovem, cabelos lisos e curtos, a sua expresso normal, no h nenhuma ruga ou sinal de qualquer emoo sendo esboada. Posso afirmar a minha viso atravs das palavras de Zanker (...) os traos de ansiedade e tenso assim como os gestos arrogantes da retratstica antiga haviam desaparecido. (...) O novo retrato uma criao plenamente pensativa, um rosto artstico no qual se combinam a sutileza dos traos fisionmicos com as formas clssicas. O

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Filho do Divino. ZANKER, Paul. Augusto y el poder de las imagenes. Ed. Alianza. Trad. Pablo Diener Ojeda. 1987. p.70.

rosto de Augusto aparece concebido com uma beleza clssica que sublima a idade. (...)4. Sigo a descrio relatando a posio em que a escultura se encontraiii, a perna direita esta firme, ou seja, o corpo se apia nela, j a perna esquerda possui um relaxamento e est levemente arqueada para trs. A posio da sua mo direita o gesto chamado de Ad locutio, essa posio especificamente significa que o indivduo est manifestando a sua vontade de falar, eu entendo como se ele estivesse frente de uma multido e fizesse esse sinal para indicar o momento em que gostaria de ter a palavra, como no caso Augusto o Imperador, ele talvez estivesse fazendo algum tipo de pronunciamento que relacionado com o contexto da obra pode significar que ele queira falar sobre as conquistas dos Partos. de se notar tambm que mesmo usando uma armadura militar Augusto est descalo. De acordo com Mark Morford a escolha pelos ps descalos simboliza a relao com o divino que Augusto tem. Concordo com a teoria de Morford, uma vez que militares no iam para a guerra descalos, ento porque ao usar uma armadura Augusto estaria descalo? Como j dito, para simbolizar a sua relao com o divino, uma vez que as representaes dos deuses tambm eram feitas descalas. A constituio do seu corpo, perna direita em riste, perna esquerda arqueada, o corpo levemente torcido para a direita e um rosto jovem e belo com a cabea levemente torcida tambm para a direita, fazem referncia a arte clssica grega, mais especificamente falando, da obra Dorforo de Policletoiv, que considerada um marco de extrema beleza, portanto ao esculpir uma obra que se assemelhe na forma grega clssica, Augusto tinha a inteno de exaltar a sua prpria imagem equiparando-a arte grega clssica. Nota-se tambm ao p da escultura, um pequeno apoio, assim como em Dorforo, mas Augusto esculpe nesse apoio um cupido montado em um golfinho, o cupido faz referncia ligao que Augusto tinha com Vnus atravs de Jlio Csar, j o golfinho tem dois significados, de acordo com Nancy Ramage ele simboliza o nascimento de Vnus, portanto legitimando ainda mais a ligao Augusto e deuses. Mas Diana Kleiner define que o golfinho representa a vitria de Augusto na Batalha de ccio (31 a. C.). A minha viso sobre o que o golfinho representa se assemelha mais4

ZANKER, Paul. Augusto y el poder de las imagenes. Ed. Alianza. Trad. Pablo Diener Ojeda. 1987. p.125

com a primeira, Augusto faz muitas referncias a sua ligao com os deuses e esta seria mais uma oportunidade de legitimar sua ascendncia divina. Eu acredito haver certo anacronismo ao relacionar o golfinho com a Batalha de ccio, uma vez que Augusto tinha a inteno de demonstrar a sua conquista sobre os Partos que ocorre em 20 a. C. e ao mesmo tempo fazer referncia aos deuses, eu acho que no cabe no momento da obra revolver a memrias mais antigas. Mas aps toda a anlise e descrio da obra como um todo importante ater-se aos detalhes da couraav por ele vestida. Nela h muitas representaes com as quais ele queria expressar sua conquista e a sua ancestralidade divina. Ao comear pela figura central, observa-se a direita a figura de um brbaro, provavelmente um Parto que entrega o estandarte para a imagem de um homem que esta vestindo tambm uma couraa militar, um elmo e botas militares o que faz dele a representao do exrcito romano. Ao p da figura militar est colocado, um animal, provavelmente uma loba simbolizando Roma. Mas eu gostaria de ir mais longe na interpretao, a figura militar, pra mim, no representaria somente o exrcito romano, como Augusto disse em sua obra Res Gestae, ele entregou os estandartes que havia conseguido de volta para o deus Marte, portanto eu infiro que a figura militar poderia representar o deus Marte. Essa viso a defendida por Karl Galinsky e eu concordo Acima da imagem central est a representao de trs deuses, o da direita o Sol, o deus que cavalga a carruagem que carrega o sol pelo cu, a do meio que Caelus, a divindade que segura o manto do cu, e por fim a da esquerda, a deusa Aurora, a deusa alada do entardecer, que esta carregando uma outra divindade feminina. Karl Galinsky oferece duas opes das possveis representaes a quem essa divindade faz aluso. Primeira, que ela a deusa Noctiluca, a deusa que ilumina a noite, ele defende essa teoria baseado na tocha que ela carrega, pois esta seria a tocha que ilumina a noite, a segunda, que quem esta sendo carregada a prpria Vnus, porque (...) ela carrega tocha com a qual ela polvilha o orvalho de um recipiente (...)5. O meu ponto de vista mais de acordo com a primeira suposio. Ao fim, Galinsky ainda termina por dizer que Augusto, ao representar os deuses do cu, ele quer simbolizar que aps sua vitria sobre

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GALINSKY, Karl. Augustan Culture. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1996.

os Partos tendo conquistado o leste, estes deuses, principalmente Sol e Noctiluca podem fazer sua viagem com segurana. Na lateral da couraa esto duas figuras, uma em cada lado, mas ambas sentadas e cabisbaixas. A da direita segura em sua mo uma espcie de trombeta no formato de um drago, o que de acordo com Galinsky, simboliza uma tribo celta a sua frente est uma figura candea, que novamente vem a ser a loba, representao de Roma. A loba dessa vez est em posio de ameaa em relao ao celta cabisbaixo, isso significa que a possvel nao que este representa foi conquistada e Roma exerce seu poder sobre ela. A imagem do outro lado conserva tambm a posio cabisbaixa, mas diferentemente da primeira, carrega uma espada e a loba no est presente, fazendo com que Galinsky a classifique como um Reino Cliente de Roma, um local que no est sob controle total de Roma. Quanto a quem ela pode representar no se sabe ao certo, talvez esta seja a figura que menos se pode deduzir de toda a escultura, mas especulaes apontam para a Judaea. Na parte inferior da couraa encontram-se mais trs imagens. A da direita representa o deus Apolo montado em um grifo, a representao de Apolo na couraa tem a inteno de aproximar o Imperador a figura do Deus. A da esquerda Diana montada de seu veado, ambas as representaes dos dois deuses, simbolizam a aproximao que Augusto tinha dos deuses. A ltima figura esta posicionada exatamente no extremo oposto da figura de Caelus a deusa Tellus, a deusa da terra-me, esta segura uma cornucpia, para representar a fertilidade da poca de Augusto, e dois bebes. Por fim, a interpretao geral da couraa, segundo Galinsky, que o feito de Augusto, a conquista dos Partos, s pode ter acontecido graas s bnos que os deuses lhe concederam, por isso as imagens mundanas (as centrais) esto rodeadas por figuras divinas. O ltimo pedao da obra a ser descrito e analisado o manto enrolado em sua cintura logo abaixo da couraa, esse pedao de acordo com Galinsky, d a noo de santidade para Augusto, porque na poca da construo da escultura o manto um emblema que era associado ao deificado Jlio Csar.

A minha concluso para esta obra perpassa por ligar os pontos entre o contexto da construo da obra e os emblemas nela contidos. Eu entendi que Augusto, como comitente da obra, quis demonstrar toda a prosperidade do Imprio sob seu comando. Para isso, ele utilizou da conquista do Imprio Parto para demonstrar o seu poderio militar, a couraa que veste indica que ele o chefe militar, e o gesto que faz simboliza a vontade de direcionar a sua palavra para a sua armada, com se ele estivesse na batalha. A constituio do corpo, como jovem e belo, e fazendo referncia arte grega atravs da obra Dorforo de Policleto, Augusto idealiza a sua figura, aproximando-o dos deuses. Quanto as mltiplas representaes dos deuses em sua couraa, tambm aproxima-o aos deuses. A vida anterior ao Imprio sob o poder de Augusto, passava fome e vrias necessidades, de acordo com Zanker, o perodo de Augusto possui uma expectativa pelo povo como poca urea, pois seria quando as necessidades seriam sanadas, a fome acabaria, por isso Tellus carrega a cornucpia, para representar a abundncia de perodo de Augusto. Em suma, Augusto de Prima Porta, tem uma inteno puramente propagandstica da imagem do Imperador Augusto.

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Figura retirada do site: http://web.mit.edu/21h.402/www/primaporta/context/historical/ii

Figura retirada do site: http://web.mit.edu/21h.402/www/primaporta/description/head/

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Figura retirada do site: http://web.mit.edu/21h.402/www/primaporta/iv

Figura retirada do site: http://kuratti.wordpress.com/category/the-streets-of-rome/

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Figura retirada do site: http://web.mit.edu/21h.402/www/primaporta/interpretations/breastplate/

Referncia Bibliogrfica

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GALINSKY, Karl. Augustan Culture. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1996.

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ZANKER, Paul. Augusto y el poder de las imagenes. Ed. Alianza. Trad. Pablo Diener Ojeda. 1987.

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KLEINER, Diana E. E. Roman Sculpture. London : Yale University Press, 1992.

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RAMAGE, Nancy. H. Roman Art, 4th ed. Pearson Prentice Hall: 2005. MORFORD, Mark. Augustus: Images of Power. University of Virginia Classics Department. 1995 in http://web.mit.edu/21h.402/www/primaporta/

Fontes

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SHIPLEY, Frederick W. Velleus Paterculus and Res Gestae Divi Augusti. Ed. Harvard University Press.