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TRABALHO E SAÚDE MENTAL: A ÉTICA DO CUIDADO DE SI COMO CONDIÇÃO PARA O CUIDADO DO OUTRO Tatiana Ramminger – Doutoranda Ensp-Fiocruz [email protected] Iniciarei esta nossa conversa, apresentando brevemente alguns estudos sobre a saúde do trabalhador que trabalha em saúde mental. Ressalto que não é um tema muito pesquisado nem na área de Saúde Mental – que tem priorizado as discussões em torno das mudanças no cuidado do louco e no entendimento da loucura - nem no campo da Saúde do Trabalhador - que tem acumulado estudos em organizações privadas e industriais. Mas antes creio que seja importante refletir, rapidamente, sobre as mudanças nos modos de trabalhar (e cuidar) em saúde mental. Identificamos, com simples objetivo didático, três diferentes formas de compreender o cuidado, diretamente relacionadas com os discursos que se destacaram em distintos contextos históricos. No discurso religioso, por exemplo, predominante à época do Brasil Colonial e Imperial, o cuidador não tinha como preocupação curar o louco, mas garantir sua própria salvação espiritual, já que o cuidado estava relacionado à caridade – uma forma de expiar pecados e assegurar a salvação eterna. A partir do século XIX, é o discurso médico que detém a verdade sobre a loucura, inaugurando o trabalho especializado no cuidado com o que passou a ser denominado “doença mental”. As figuras que se destacavam no contexto hospitalar eram o médico psiquiatra – responsável desde a construção e administração do hospital psiquiátrico, até a definição e cura da doença mental - e o enfermeiro psiquiátrico - colocado em último lugar na escala hierárquica, que exercia prioritariamente a função de vigilância. Finalmente, outro discurso, identificado como Reforma Psiquiátrica, começou a disputar com o discurso médico, a legitimidade nos jogos de verdade a respeito da loucura, do louco e seu cuidado, propondo um deslocamento do saber médico- psiquiátrico para a interdisciplinaridade, da noção de doença para a de saúde, dos muros dos hospitais psiquiátricos para a circulação pela cidade. Se estes diferentes discursos e práticas parecem monolíticos e distantes no tempo, como se houvesse uma progressão evolutiva de um para outro, percebemos que não há uma nítida ruptura entre eles, ao contrário, todos coabitam o cotidiano dos atuais serviços de saúde mental. Entendemos que o trabalho em saúde mental constrói-se, hoje, em meio à disputa dos discursos que refletem o embate interno ao campo designado como Saúde Mental. É um espaço tenso por estar habitado por diferentes formações discursivas, desde a crença de que cuidar é uma forma de caridade (discurso religioso), passando pela afirmação de que é a ciência que pode falar do tratamento da loucura (discurso científico), até o entendimento de que não basta apenas conhecimento técnico-científico, mas também implicação política e afetiva com a construção de um outro modo de se relacionar com a loucura (discurso da reforma psiquiátrica). Em relação à organização do trabalho em saúde mental, também percebemos a permanência de algumas características diretamente ligadas ao passado religioso e hospitalar desta atividade, mesmo com os esforços para transformá-la. Assim, é difícil romper com o modelo hierarquizado das funções, com separação entre os técnicos (nível superior) e os auxiliares (nível médio), ainda subordinados ao médico, geralmente a única atividade masculina em meio a um trabalho prioritariamente feminino. Mesmo nos novos serviços de saúde mental esta divisão social e sexual do trabalho parece se repetir, como aponta meu estudo 1 realizado em um CAPS – Centro de Atenção Psicossocial – em Porto Alegre – RS, onde dos 27 profissionais do serviço, apenas quatro eram homens: três médicos psiquiatras e um “apoio administrativo” (porteiro/segurança). Sendo assim, consideramos que as mudanças nos objetivos, não garantem a modificação do processo de trabalho. Diversas pesquisas apontam o despreparo dos profissionais para trabalhar no atual paradigma de atendimento em saúde mental, havendo uma tendência a reproduzir o modelo dos hospitais psiquiátricos 2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12 . Mais difícil do que convocar os trabalhadores a derrubar

Trabalho e Saúde Mental - A Ética Do Cuidado de Si Como Condição Para o Cuidado Do Outro

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Iniciarei esta nossa conversa, apresentando brevemente alguns estudos sobre a saúde dotrabalhador que trabalha em saúde mental. Ressalto que não é um tema muito pesquisado nem naárea de Saúde Mental – que tem priorizado as discussões em torno das mudanças no cuidado dolouco e no entendimento da loucura - nem no campo da Saúde do Trabalhador - que tem acumuladoestudos em organizações privadas e industriais.

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  • TRABALHO E SADE MENTAL: A TICA DO CUIDADO DE SI COMO CONDIO PARA O CUIDADO DO OUTRO Tatiana Ramminger Doutoranda Ensp-Fiocruz

    [email protected]

    Iniciarei esta nossa conversa, apresentando brevemente alguns estudos sobre a sade do trabalhador que trabalha em sade mental. Ressalto que no um tema muito pesquisado nem na rea de Sade Mental que tem priorizado as discusses em torno das mudanas no cuidado do louco e no entendimento da loucura - nem no campo da Sade do Trabalhador - que tem acumulado estudos em organizaes privadas e industriais.

    Mas antes creio que seja importante refletir, rapidamente, sobre as mudanas nos modos de trabalhar (e cuidar) em sade mental. Identificamos, com simples objetivo didtico, trs diferentes formas de compreender o cuidado, diretamente relacionadas com os discursos que se destacaram em distintos contextos histricos. No discurso religioso, por exemplo, predominante poca do Brasil Colonial e Imperial, o cuidador no tinha como preocupao curar o louco, mas garantir sua prpria salvao espiritual, j que o cuidado estava relacionado caridade uma forma de expiar pecados e assegurar a salvao eterna. A partir do sculo XIX, o discurso mdico que detm a verdade sobre a loucura, inaugurando o trabalho especializado no cuidado com o que passou a ser denominado doena mental. As figuras que se destacavam no contexto hospitalar eram o mdico psiquiatra responsvel desde a construo e administrao do hospital psiquitrico, at a definio e cura da doena mental - e o enfermeiro psiquitrico - colocado em ltimo lugar na escala hierrquica, que exercia prioritariamente a funo de vigilncia. Finalmente, outro discurso, identificado como Reforma Psiquitrica, comeou a disputar com o discurso mdico, a legitimidade nos jogos de verdade a respeito da loucura, do louco e seu cuidado, propondo um deslocamento do saber mdico-psiquitrico para a interdisciplinaridade, da noo de doena para a de sade, dos muros dos hospitais psiquitricos para a circulao pela cidade.

    Se estes diferentes discursos e prticas parecem monolticos e distantes no tempo, como se houvesse uma progresso evolutiva de um para outro, percebemos que no h uma ntida ruptura entre eles, ao contrrio, todos coabitam o cotidiano dos atuais servios de sade mental. Entendemos que o trabalho em sade mental constri-se, hoje, em meio disputa dos discursos que refletem o embate interno ao campo designado como Sade Mental. um espao tenso por estar habitado por diferentes formaes discursivas, desde a crena de que cuidar uma forma de caridade (discurso religioso), passando pela afirmao de que a cincia que pode falar do tratamento da loucura (discurso cientfico), at o entendimento de que no basta apenas conhecimento tcnico-cientfico, mas tambm implicao poltica e afetiva com a construo de um outro modo de se relacionar com a loucura (discurso da reforma psiquitrica).

    Em relao organizao do trabalho em sade mental, tambm percebemos a permanncia de algumas caractersticas diretamente ligadas ao passado religioso e hospitalar desta atividade, mesmo com os esforos para transform-la. Assim, difcil romper com o modelo hierarquizado das funes, com separao entre os tcnicos (nvel superior) e os auxiliares (nvel mdio), ainda subordinados ao mdico, geralmente a nica atividade masculina em meio a um trabalho prioritariamente feminino. Mesmo nos novos servios de sade mental esta diviso social e sexual do trabalho parece se repetir, como aponta meu estudo1 realizado em um CAPS Centro de Ateno Psicossocial em Porto Alegre RS, onde dos 27 profissionais do servio, apenas quatro eram homens: trs mdicos psiquiatras e um apoio administrativo (porteiro/segurana).

    Sendo assim, consideramos que as mudanas nos objetivos, no garantem a modificao do processo de trabalho. Diversas pesquisas apontam o despreparo dos profissionais para trabalhar no atual paradigma de atendimento em sade mental, havendo uma tendncia a reproduzir o modelo dos hospitais psiquitricos2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12. Mais difcil do que convocar os trabalhadores a derrubar

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    os muros dos hospitais psiquitricos, portanto, auxili-los na desconstruo dos manicmios mentais que trazem consigo13.

    Para no cair na simplista culpabilizao dos trabalhadores, porm, temos que considerar que o dispositivo do hospital psiquitrico no foi eficaz apenas no controle e disciplinarizao dos doentes, mas teve tambm fortes efeitos nos modos de trabalhar dos profissionais. Basaglia14 (1990), idealizador da Reforma Psiquitrica Italiana que inspirou a Reforma Psiquitrica Brasileira, afirmava que a principal caracterstica dos estabelecimentos psiquitricos uma separao entre aqueles que tm o poder e aqueles que no o tm. Foucault15 salientava que todas as grandes reformas, no s da prtica psiquitrica, mas do pensamento psiquitrico se situam em torno desta relao de poder, so tentativas de deslocar a relao, mascar-la, elimin-la, anul-la (p.124). Isto nos leva a pensar que talvez o que legitime um processo de desinstitucionalizao seja a mudana efetiva na rede de relaes de poder, tanto na relao entre os trabalhadores, como destes com os gestores e com os usurios, ou seja, um questionamento tico a respeito dos lugares que ocupamos e dos usos que fazemos disso.

    No mesmo sentido, Palombini16 aponta que a tica que regeu as relaes de trabalho nestas instituies no foi diferente daquela que regulou sua relao com a loucura, instituindo a obedincia como modo de relao, desautorizando a inveno e prescrevendo comportamentos (p.161). Oliveira & Alessi11, pesquisadoras do Mato Grosso, entendem que houve um processo de desumanizao de profissionais e pacientes nestes locais. J o ponto de partida do estudo de Bernardes17, no Rio Grande do Sul, foi a entrevista com uma auxiliar de enfermagem, que explicitava que a humanizao dos pacientes ser a nossa humanizao. Lanzarin18 pergunta-se se estes trabalhadores so carcereiros ou esto encarcerados; Zerbetto & Pereira9 consideram necessrio o processo de desinstitucionalizao da atividade de enfermagem; assim como Oliveira & Alessi12 apontam para a co-relao entre a incluso dos pacientes como cidados, no processo teraputico, e a correspondente percepo dos trabalhadores em relao sua prpria cidadania. Finalmente, Palombini14 conclui: no h resgate de cidadania, no h acolhimento diferena radical que representa a loucura, se os profissionais que com ela trabalham no forem, eles tambm, respeitados em suas diferenas e reconhecidos como sujeitos do seu trabalho (p.162).

    Conhecendo os estudos sobre sade mental do trabalhador de sade mental Os estudos sobre a relao entre sade/adoecimento e trabalho, tendem a estar ligados ao

    que visvel, ou seja, ao que pode ser medido, examinado ou medicado, estabelecendo objetivamente um nexo entre determinada situao de trabalho e suas conseqncias para a sade do trabalhador (como no caso de uma perda auditiva, por exposio ao rudo, por exemplo). Dificilmente considera, portanto, a mobilizao cognitiva e afetiva do trabalhador, ambas caractersticas importantes do trabalho em sade, especialmente do trabalho em sade mental.

    Analisando a produo escrita disponvel no Brasil, a respeito da sade do trabalhador de sade mental, percebemos que este um tema recente. O interessante que todos os autores elegeram como foco, sob diferentes perspectivas, a sade mental do trabalhador de sade mental. Sendo assim, apresentaremos brevemente as principais abordagens do campo da sade mental e trabalho, inserindo nesta sistematizao os estudos sobre o trabalhador de sade mental.

    Neste campo, podemos demarcar dois plos antagnicos. Um centrado na motivao e satisfao no trabalho, com objetivos claros de aumento da produo e lucratividade, sendo que o adoecimento psquico do trabalhador tende a ser visto como reflexo de patologias do individuo, sem relao possvel com o trabalho. Ou seja, o trabalho entra como fator desencadeante de um problema individual, que o sujeito j trazia consigo, devido a fatores genticos ou de relaes familiares, e que apenas se manifestou no local de trabalho. No plo inverso, o tema da sade mental integra-se s propostas da Sade do Trabalhador, partilhando de seus pressupostos e propondo uma redefinio da noo de sade mental, onde o trabalho aparece como fator constitutivo de adoecimento e de sade mental19 (p.216).

    Considerando este ltimo plo, comecemos pelas abordagens calcadas no diagnstico. Estabelecer a relao entre doena/sade mental e trabalho no tarefa fcil, visto que o processo

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    de adoecimento psquico sempre singular, e envolve vrias dimenses da vida do sujeito. Isto pode dificultar pesquisas quantitativas, como os estudos epidemiolgicos que, no entanto, so fundamentais para nos dar a dimenso deste invisvel que pode tornar-se mais palpvel na medida em que comea a ser reconhecido, pelo menos nas estatsticas19. Neste sentido, estudos realizados sobre transtornos mentais relacionados ao trabalho, estimam ndices de 30% de transtornos mentais menores, e de 5 a 10% de transtornos mentais graves na populao trabalhadora ocupada20. Estes ndices so confirmados pelos nmeros da Previdncia Social, onde as psiconeuroses ocupam o primeiro lugar entre as causas de incapacidade temporria, e o segundo e terceiro lugares entre as causas de incapacidade permanente e invalidez sem, no entanto, existir referncia quanto relao destes ndices com o trabalho21.

    O peso das estatsticas, somado ao esforo dos pesquisadores e dos movimentos sociais, culminou no reconhecimento legal da relao entre sade mental e trabalho no Brasil, a partir de 1999, atravs do Decreto 3.048 do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social que discrimina os Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho. Dentre estes, encontramos a sndrome do esgotamento profissional, ou de burnout, descrita pelas teorias do estresse.

    As teorias do estresse, embora tenham como referencial bsico a Fisiologia, originaram modelos mais complexos, com a incluso da perspectiva social e da subjetividade22. A sndrome de burnout, mesmo que originalmente no estivesse exclusivamente ligada s situaes de trabalho, hoje tem sido apontada como recorrente entre os trabalhadores da educao, sade e segurana, sobrecarregados em suas formas de prover cuidado. Segundo Codo23 suas principais caractersticas so a exausto emocional, a despersonalizao da ateno e a falta de compromisso com o trabalho. As pesquisas que seguem este referencial, em relao ao trabalho em sade mental, apontam um alto ndice de esgotamento emocional e estresse crnico entre os profissionais, diretamente proporcional ao tempo e intensidade no cuidado direto do paciente18,24,25,26,27,28,29,30.

    J o estudo de Carvalho31, a partir dos conceitos de carga de trabalho e desgaste, buscou analisar o processo sade-doena vivenciado pela equipe de enfermagem de um hospital psiquitrico, concluindo que estes trabalhadores apresentam um intenso desgaste mental, mais pelas condies de trabalho do que pelo convvio com os pacientes. As cargas de trabalho (fsicas, qumicas, biolgicas, fisiolgicas e psquicas), segundo Laurell & Noriega32, so elementos do processo de trabalho que atuam dinamicamente entre si e com o corpo do trabalhador, gerando processos de adaptao que se traduzem em desgaste, entendido como perda da capacidade potencial e/ou efetiva corporal e psquica. Nesta direo, Bandeira, Pitta & Mercier33 validaram, no Brasil, escalas internacionais de avaliao da satisfao e da sobrecarga das equipes tcnicas de servios de sade mental que devem, futuramente, fornecer importantes subsdios para estudos epidemiolgicos.

    A pesquisa de Lanzarin18, ancorada na psicodinmica do trabalho, procurou analisar as relaes entre trabalho, prazer e sofrimento das auxiliares de enfermagem de um hospital psiquitrico. Sob inspirao da psicanlise, Dejours34 entende que frente s vivncias de sofrimento, os trabalhadores desenvolvem, coletivamente, estratgias defensivas, que podem ser muito teis, pois permitem que as pessoas continuem trabalhando, sobrevivendo angstia. No entanto, (...) as estratgias defensivas podem atenuar o sofrimento, mas, por outro lado, se funcionarem muito bem e as pessoas deixarem de sentir o sofrimento, pode-se prever a alienao35. (p. 171). Lanzarin percebeu grande envolvimento emocional entre as auxiliares de enfermagem e a clientela atendida. Segundo a pesquisadora, se por um lado esta intensificao do lao afetivo constitui-se fonte de gratificao para as auxiliares, funcionando como estratgia defensiva frente ao medo e angstia, por outro lado, acaba contribuindo para a explorao do trabalho. Em sua maioria mulheres, as auxiliares acabam tomando para si algumas responsabilidades que no esto relacionadas com a funo que desempenham. Nesta atividade, prossegue a autora, comum que ocorra a naturalizao das competncias femininas. O cuidado com o paciente toma a forma de uma relao maternal, que tem seus efeitos no plano de reconhecimento profissional, mas no chega a ser reconhecido como uma qualificao ou competncia da trabalhadora, mas como um atributo inato.

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    Outros estudos apontam, ainda, para o aumento da responsabilidade e autonomia do trabalhador de sade mental em seu processo de trabalho. No entanto a exigncia de que o trabalhador esteja apto a resolver problemas complexos, no acompanhada do aumento dos necessrios recursos tericos, financeiros ou emocionais, em uma clara tendncia precarizaco do trabalho em sade, somada a expectativas cada vez maiores em relao ao trabalhador. Alm disso, a tomada de responsabilidade jargo do campo da sade mental - no apenas do servio (pelo territrio); do trabalhador (que como profissional de referncia, responsabiliza-se pela circulao do usurio por uma rede de cuidados), mas tambm dos prprios usurios, familiares e comunidade. Na direo de um estatuto de cidadania e autonomia possvel ao louco; profissionais, familiares, usurios e comunidade tm que negociar entre si, os encargos do cuidado em sade mental36.

    Finalmente, em minha pesquisa de mestrado1, que privilegiou o ponto de vista dos trabalhadores de sade mental sobre a relao entre a sade e suas atividades de trabalho, observou-se que a precariedade das polticas pblicas de ateno sade do servidor pblico, reflete-se nos servios de sade mental, onde o acolhimento (ou no) das questes relacionadas sade no trabalho depende, exclusivamente, do funcionamento e das diretrizes de cada servio. Em um entendimento de que a sade no trabalho est relacionada possibilidade de transgredir ou criar outras normas, que permitam enfrentar situaes de adoecimento e/ou empobrecimento subjetivo37, o estudo concluiu que o trabalhador de sade mental tem maior espao para inventar seu trabalho e, conseqentemente, ter mais sade no trabalho, quanto mais presente est a reflexo sobre o trabalho (de cada um e da equipe), sem com isso prescindir das condies materiais e estruturais necessrias para tanto.

    A seguir apresentaremos alguns trechos das entrevistas realizadas para esta pesquisa1, que nos inspiram na construo de espaos desinstitucionalizantes e produtores de sade, no s para os familiares e usurios dos servios de sade mental, mas tambm para seus trabalhadores.

    Sade e Trabalho nos CAPS A anlise das entrevistas evidencia a trama enunciativa que aponta para o embate presente

    no jogo de verdades que demarca o campo da sade mental no Brasil e as dificuldades para a implementao da Reforma Psiquitrica. Para a maior parte dos entrevistados, os servios em que trabalham esto de acordo com os pressupostos da Reforma Psiquitrica, ou melhor, em tese sim, na prtica ainda temos muito que avanar. Todos entendem, tambm, que seu local de trabalho raramente contempla aes especficas direcionadas sade do trabalhador, e com poucas excees, j adoeceram, ou conhecem algum que adoeceu, trabalhando em servios de sade mental.

    Em relao ao discurso da Reforma Psiquitrica, as definies foram muito semelhantes, ressaltando-se o rompimento paradigmtico com a forma de tratamento da loucura, a reverso do modelo hospitalocntrico, a criao de novos servios, a nova legislao, a humanizao no atendimento e, principalmente, a cidadania e incluso social dos portadores de sofrimento psquico.

    Quando perguntados sobre como e o quanto a Reforma Psiquitrica influiu em seu trabalho, ficou evidente o comprometimento poltico e afetivo de algumas pessoas com este projeto. Foram comuns palavras como me encantei, abracei a causa, me apaixonei ou ainda depois que bebi dessa cachaa, nunca mais consegui largar. Uma pessoa chegou a reconhecer que meu trabalho s existe porque a Reforma Psiquitrica est acontecendo. Outros, em tom mais formal, citaram os princpios, diretrizes e financiamento do Ministrio da Sade que do sustentao s suas atividades. Para alguns, a Reforma auxiliou na prtica reflexiva de seu trabalho, com uma politizao constante das prticas clnicas, no cotidiano dos servios. A Reforma incutiu em mim, um olhar crtico dos processos de institucionalizao das relaes cotidianas que tecem o trabalho

    1 Pesquisa realizada como parte do Mestrado em Psicologia Social e Institucional UFRGS, concludo em 2005. Utilizamos um roteiro de entrevista com 16 perguntas semi-abertas para guiar um encontro, em grupo, com trabalhadores de sade mental de um CAPS do municpio de Porto Alegre. O mesmo roteiro foi disponibilizado para outros servios de sade mental brasileiros utilizando, como ferramenta de comunicao, a internet. No total foram 40 trabalhadores entrevistados, representando vrios servios/gestes estaduais Acre, Alagoas, So Paulo e Rio Grande do Sul ou municipais Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Recife.

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    nos servios; fez com que eu alargasse os horizontes da clnica, ou ainda, me permitiu uma nova atuao no campo e uma postura mais crtica frente s demandas. Uma das entrevistadas, no entanto, apontou que a Reforma da maneira como chegou s unidades bsicas de sade, sobrecarregou a clnica mdica e prejudicou os pacientes. As internaes diminuram, os pacientes foram referenciados s unidades bsicas, os profissionais no foram capacitados como programado e as equipes de sade mental ficaram desfalcadas por aposentadorias e exoneraes.

    Sem dvida, um trabalho que exige muito do trabalhador, no s pela angstia que lidar com o discurso que no faz lao com o outro, com aquilo que contagia distncia, mas tambm porque a Reforma Psiquitrica nos colocou nesse lugar do tem que fazer, tem que inovar, tem que pensar diferente, d mais trabalho, d mais cansao.

    Muitos relatos ressaltam a importncia da equipe, da superviso e at mesmo da psicoterapia individual para sustentar essa construo diria do trabalho e do trabalhador de sade mental. A superviso, tal como nos coloca Vasconcelos38, constitui-se como espao privilegiado de elaborao das dificuldades e conflitos, desde que no restrita apenas aos temas administrativos e clnicos, como geralmente acontece nos servios de sade mental. As supervises devem ser estruturadas de forma a incluir tambm a discusso das relaes de poder, das dificuldades de trabalho em equipe, das inseguranas que todos os profissionais tm quando lidam com desafios que escapam competncia adquirida na formao universitria ou tcnica convencional, das crises de identidade profissional, das dificuldades subjetivas da relao com a clientela, dos sintomas de estresse, etc.

    Contundente , ainda, a descrio das dificuldades, limites e ausncia de recursos para tamanho desafio:

    Alm disso, a orientao de aumentar a responsabilidade e autonomia do trabalhador pelo processo de trabalho (anlise institucional / gesto de recursos humanos) e de tomada de responsabilidade do servio pelo territrio (sade pblica) tem produzido bastante sobrecarga nos trabalhadores da sade mental, cujas funes e encargos tm crescido, mas os recursos tericos, financeiros e emocionais nem sempre acompanham o ritmo dos encargos. Nosso servio de referncia, mas uma referncia especfica, mas no de referncia para tudo. A gente faz o acolhimento, escuta, e muitas vezes aquele paciente no pra esse servio, mas acaba ficando porque no tem outro local para atender. Isso na reforma realmente no andou, mas um dos fatores de pacientes que ficam muito alm do que precisavam.

    No entanto, mesmo com todas as exigncias e limitaes dos servios sob a gide da

    Reforma Psiquitrica, a possibilidade de inventar o prprio trabalho, contrape-se falta de perspectiva caracterstica dos manicmios, e onde os trabalhadores parecem estar to encarcerados quanto a clientela que atendem18:

    (...) eu no trocaria, eu gosto disso, para mim no poderia ser diferente. Porque eu j passei seis anos dentro de um hospital psiquitrico e sei o que estar dentro de um hospital e dentro de um servio onde tu pensa diferente e est sempre buscando...

    Alis, a diferena de seu trabalho, em relao ao modelo encontrado nos hospitais

    psiquitricos ou em outras instituies totais, cada vez mais afirmada pelos trabalhadores dos atuais servios de sade mental que, ainda que nem sempre consigam definir o que querem de seu trabalho, sabem exatamente o que no desejam:

    O sinal de alerta pra ns quando a gente se d conta que est sendo manicomial. Este o sinal vermelho para ns. Tem uma fronteira entre o cuidado necessrio e at onde a gente vai nesse cuidado, que necessrio, e quando que a gente tem que deixar o paciente ir. Estimular que ele v. s vezes a gente cuida alm do que aquele paciente precisa, e acaba entrando na tutela, na institucionalizao. Se antes a reforma era uma escolha, hoje uma regra, lei... Mas so regras que no delimitam o funcionamento de uma equipe (...). A equipe vai montando suas

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    estratgias. isso que a gente t falando: a gente funciona desse jeito, porque essa a forma da gente lidar com aquilo que o nosso dia-a-dia. H outras forma de lidar, outras estratgias. Por exemplo, o hospital psiquitrico lida de um outro jeito. Lida como instituio total, totalizando o outro. Tu utiliza o discurso positivo da cincia, e o paciente objeto deste discurso. Ento fica mais fcil de lidar no momento em que voc faz um distanciamento.

    Outra diferena importante em relao ao trabalho nos hospitais psiquitricos uma maior

    circulao dos lugares nas relaes de saber/poder. Em uma tentativa, como diria Foucault39, no de negar ou anular as relaes de saber/poder, mas de posicionar-se nestas relaes com o mnimo de dominao possvel.

    A distribuio de funes dentro da equipe mais variada, menos restrita. Existe uma hierarquia, a gente no pode negar que exista uma hierarquia, existem diferentes saberes, mas a gente procura no ser muito estrito nas fronteiras entre uma especialidade e outra. O pessoal da enfermagem, convidado a participar de outras atividades que no so estritamente de ordem da funo do auxiliar de enfermagem. As gurias, por exemplo, (tcnicas de enfermagem) fazem outras coisas: participam das oficinas, fazem AT, fazem outras coisas que no so atribuies especficas daquela pequena burocracia do que so as funes do tcnico de enfermagem. Isso d um outro lugar.

    Alguns trabalhadores, no entanto, no conseguiram ficar, so pessoas que tm dificuldade

    em relao a esse tipo de funcionamento, e isso no restrito aos tcnicos de enfermagem, muitos profissionais de nvel superior tambm no conseguiram ficar. No entanto, tambm tem aquela pessoa que vem trabalhar aqui como auxiliar de secretariado, e vira monitor de oficina. Ento tem tanto aquele que no suporta essa forma de trabalhar, ou tem outros interesses na vida, ou pessoas que a partir daqui comearam a ter interesse. Neste sentido, uma nutricionista d o seu relato de como tornou-se uma trabalhadora de sade mental:

    (...) jamais trabalhei na rea psiquitrica, sempre na rea clnica. E quando entrei na sade, ca na sade mental. Quando cheguei l [no servio], foi uma loucura ver aquilo tudo, porque eu queria abraar todo mundo e chorar junto. A a gente faz esse trabalho em equipe, vendo a histria daquelas pessoas, e tal, foi passando, eu at falei com a coordenao, eu vou tentar, n, vamos ver se eu suporto isso (...). Claro que eu tive muitas dificuldades pra conviver tambm com a equipe, e com as situaes aqui onde a gente tem que ser rpido e acaba sendo muito objetivo nas falas. Fui tentando aprender, n, e me entender. E aqui acabou sendo um espao de aprendizado, ento na verdade o que pra mim parecia que ia ser um sofrimento, acabou sendo um acrscimo.

    Assim como uma tcnica de enfermagem, diz do seu esforo em adequar-se s novas

    exigncias do cargo: Eu vim de um abrigo, abrigo de adolescentes, que era totalmente diferente. No sabia o jeito de trabalhar. Ento quando eu chegava [no servio], via aqueles pacientes todos parados, eu pensava o que esto fazendo a parados? E falava: Vo pra oficina, vo pra oficina... Mesmo eles no querendo, eles tinham que ir, porque eu tocava todo mundo. Depois eu fui trabalhando muito isso com a equipe, e tenho que ir trabalhando ainda, porque ver os pacientes parados, me d uma coisa assim.

    Frente a estas falas, nos perguntamos: a reforma psiquitrica, entendida como processo de

    desinstitucionalizao, s possvel com trabalhadores-militantes? Como a Reforma Psiquitrica, enquanto um regime de verdades, acolhe aqueles trabalhadores formados prioritariamente fora deste

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    campo e que no tm a disponibilidade de implicao que a reforma exige? Qual a flexibilidade das equipes de sade mental para a formao daqueles que no fazem parte da cepa militante? Ao que parece, a tenso poltica, refora a radicalidade das posies neste campo, fazendo com que a necessidade constante de lutar e defender um outro modo de relacionar-se com a loucura, termine por obscurecer a crtica e a reflexo relativas s possibilidades de formao e incluso de profissionais no militantes nas equipes de sade mental. Talvez a questo seja a possibilidade de reconhecer que todo trabalho inclui riscos e que a militncia, enquanto forma de implicao e de expresso do que se acredita , sem dvida, um importante apoio para a sade no trabalho. No entanto, se esta mesma militncia nega a reflexo mais livre a respeito dos limites do trabalho em sade mental, porque a Reforma Psiquitrica TEM que dar certo, transforma-se em fonte de sofrimento. A reflexo desaparece, cegada pelo discurso da verdade nica, impedindo a ao para transformar o trabalho a partir do reconhecimento dos problemas que ele apresenta.

    Para encerrar, volto ao tema do cuidado. Agora no mais o cuidado do outro, mas o cuidado de si, ou melhor, o cuidado de si que inclui - e pressupe - o cuidado do outro. O cuidado de si, originalmente um tema caro aos gregos (Scrates) foi retrabalhado por Foucault39, em uma tentativa de pensar o cuidado de si como uma postura tica. A tica, tal como entendida por este autor, a relao que se estabelece consigo mesmo, a qual determina a maneira pela qual o sujeito exerce sobre si mesmo uma transformao, a fim de forjar modos mais belos de ser e viver.

    O cuidado de si para os gregos nada tinha a ver com a uma postura hedonista ou individualista. Ao contrrio, estava diretamente relacionado polis, ou seja, s tinha sentido na relao com o coletivo. Para bem governar era preciso, em primeiro lugar, aprender a governar a si prprio. Ou, nos aproximando de nosso tema: cuidar do outro implica, necessariamente, o cuidado de si, no sentido mesmo de uma postura tica, que nos permita questionar, por exemplo, tanto o lugar que ocupamos na relao com o usurio, como na relao com o gestor. No h processo de desinstitucionalizao, se no houver espao para o trabalho como uma prtica reflexiva, onde possamos nos perguntar sobre nossas relaes com a sade, com a loucura, com nosso trabalho, com nossos saberes e prticas. A tica do cuidado de si como condio para o cuidado do outro! 1 Ramminger T. Trabalhadores de sade mental: reforma psiquitrica, sade do trabalhador e modos de subjetivao nos servios de sade mental. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2006-09-14. 2 Brda MZ, Augusto LGS. O cuidado ao portador de transtorno psquico na ateno bsica de sade. Cincia e Sade Coletiva 2001; 6:471-80. 3 Kirschbaum DIR, Paula FCC. O trabalho do enfermeiro nos equipamentos de sade mental da rede pblica de Campinas. Rev. Latino-Americana de Enfermagem 2001; 9:77-82. 4 Campos CMS, Soares CB. A produo de servios de sade mental: a concepo de trabalhadores. Cincia e sade coletiva 2003; 8:621-8. 5 Lima LV, Amorim WM. A prtica da enfermagem em uma instituio pblica no Brasil. Revista Brasileira de Enfermagem 2003; 56:533-7. 6 Silveira DP. Sofrimento psquico e servios de sade: uma cartografia da produo do cuidado de sade mental na ateno bsica de sade [Dissertao de Mestrado]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Sade Pblica, Fundao Oswaldo Cruz; 2003. 7 Figueiredo VV, Rodrigues MMP. Atuao do psiclogo nos CAPS do Estado do Esprito Santo. Psicologia em Estudo 2004; 9:173-81. 8 Aranha e Silva AL, Fonseca RMGS. Processo de trabalho em sade mental e o campo psicossocial. Revista Latino-Americana de Enfermagem 2005; 13:441-9. 9 Zerbetto SR, Pereira MAO. O trabalho do profissional de nvel mdio de enfermagem nos novos dispositivos de ateno em sade mental. Revista Latino-Americana de enfermagem 2005; 13:112-7. 10 Oliveira AGB, Alessi NP. O trabalho de enfermagem em sade mental: contradies e potencialidades. Revista Latino-Americana de enfermagem 2003; 11:333-40. 11 Oliveira AGB, Alessi NP. Superando o manicmio? desafios na construo da reforma psiquitrica. Cuiab: EdUFMT; 2005. 12 Oliveira AGB, Alessi NP. Cidadania: instrumento e finalidade do processo de trabalho na reforma psiquitrica. Cincia e Sade Coletiva 2005; 10:191-203. 13 Pelbart PP. Manicmio mental a outra face da clasusura. SadeLoucura 1991; 2:131-8

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