Trabalho Escravo Contemporâneo

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Escravismo

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  • UNICOCTRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO

    BACHARELADO EM DIREITO

    FELIPE TANCINI BAZZAN

    TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORNEO

    RIBEIRO PRETO

  • 2006FELIPE TANCINI BAZZAN

    TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORNEO

    Trabalho de concluso de curso apresentado a UniCOC de Ribeiro Preto, como parte dos requisitos para obteno

    do grau de Bacharel em Direito.

    Orientador: Professor Jos Carlos Evangelista Arajo

    Co-orientador: Antonio Machado Neto

  • RIBEIRO PRETO2006

    BAZZAN. Felipe Tancini. Trabalho Escravo Contemporneo. RibeiroPreto, 2006. 61 fls. Trabalho de Concluso de Curso (Direito) UNICOC.2006.

    RESUMO

    Trabalho Escravo Contemporneo, no fala sobre o trabalho escravotipificado no Cdigo Penal. Faz meno a esse trabalho escravopropriamente dito, e sobretudo versa sobre as formas modernas deexplorao do trabalho humano. De modo a discorrer sobre algunsdireitos desrespeitados na relao de poder entre empregador eempregado, fazendo assim, uma relao mais especfica da relao detrabalho na zona rural do Brasil desde a colonizao portuguesa at osdias de hoje. A pesquisa demonstra as conseqncias do capitalismoexacerbado. Tem esse trabalho um carter denunciativo, no sentido dedemonstrar a ocorrncia da explorao de indivduos miserveis ecobrar dos nossos representantes polticos vontade e ateno para estaclasse.

    Palavras Chave: Trabalho Escravo, Trabalho Degradante, Exploraodo trabalho humano, Desigualdade Social.

  • SUMRIO

    INTRODUO...............................................................................................................1

    CAPTULO I

    1.A ESCRAVIDO NO BRASIL..................................................................................4

    1.1.COLONIZAO: FORMAO DE UMA SOCIEDADE

    ESCRAVOCRATA ........................................................................................................4

    1.2. TRFICO NEGREIRO: A ESCRAVIDO LEGALIZADA..............................6

    1.3. REVOLUO INSDUSTRIAL: NOVOS MODOS DE EXPLORAO.......10

    1.4. O FIM DO TRFICO: O CAMINHO DA ABOLIO....................................12

    CAPTULO II

    2. O TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORNEO...............................................16

    2.1. CONCEITO ATUAL.............................................................................................21

    2.2. DIREITO LIBERDADE E A PERDA DA DIGNIDADE ..............................25

    2.3. ASPECTOS LEGAIS ............................................................................................29

    CAPTULO III

    3. COMO OCORRE A ESCRAVIDO CONTEMPORNEA ..............................34

    3.1. QUEM ESCRAVO..............................................................................................38

    3.2. QUEM ESCRAVIZA.............................................................................................40

    3.3. QUEM LIBERTA E QUEM PODE LIBERTAR................................................42

    CAPTULO IV

  • 4. NOTCIAS VEICULADAS SOBRE A EXPLORAO DO

    TRABALHO HUMANO..............................................................................................46

    CONCLUSO ...............................................................................................................57

    INTRODUO

    Este trabalho de concluso de curso tem por objetivo fazer um singelo

    passeio pela histria do Brasil, buscando demonstrar como se deu o incio da

    Escravido no Brasil, e, sobretudo, investigar a Escravido Contempornea e

    apontar seus aspectos mais relevantes e atuais.

    O presente trabalho ir discorrer sobre a colonizao do Brasil, o trfico

    negreiro, a abolio, o trabalho escravo contemporneo, os conceitos atuais, o

    direito liberdade e a dignidade da pessoa humana, aspectos legais e de

    modo geral em quais condies ocorre a escravido atual.

    Diante dos temas a serem abordados, podemos dizer que o objetivo

    maior demonstrar, que mesmo aps tantos anos de abolio da escravatura

    (Lei urea), infelizmente ainda existe essa mazela em algumas regies do

    pas.

    Posterior a essa idia iremos demonstrar os principais problemas

    sociais, polticos e econmicos que propiciam a ocorrncia dessa forma

    desumana de explorao da fora de trabalho alheia, no nos esquecendo de

    traar um paralelo comparativo entre a escravido colonial e a escravido

    contempornea.

    Ainda assim, importante deixar claro que a maior finalidade desse

    trabalho levar ao conhecimento do maior nmero de pessoas a existncia de

    formas atuais de escravido. Por fim, levantar os aspectos determinantes

  • dessa relao de trabalho e principalmente debater formas de erradicao do

    trabalho escravo.

    Dessa forma, temos exata noo da abragncia do tema objeto de

    nossa pesquisa, que, alm de amplo, conta com minuciosos e por vezes

    obscuros detalhes. No , portanto, nosso objetivo maior a mera discusso de

    conceitos e definies, mas sim procurarmos formas de minimizar tais

    ocorrncias e promover os trabalhadores.

    No transcorrer do trabalho iremos levantar inmeros fatores os quais

    entendemos determinantes para a ocorrncia dos fatos narrados. No entanto,

    somente o faremos na tendncia e na preocupao de no sermos apticos a

    essas situaes e no intuito de provocar a reflexo de todos.

    Portanto, desde j esclarecemos no ser nosso objetivo o

    aprofundamento em discusses dogmticas, considerando-se a amplitude do

    tema e a necessidade primria de noticiar a ocorrncia ftica dessa molstia.

    Vale dizer, a pesquisa ser feita com base na bibliografia disponvel e

    estudar os eventos sociais atuais, sendo certo que, como operadores do

    direito em nenhum momento iremos nos afastar de nossas questes

    ideolgicas, sempre opinando e justificando nossas posies.

    Dentro da sociologia do conhecimento, acreditamos ser nosso mtodo

    de pesquisa FENOMENOLGICO, pelo qual, a partir de dados colhidos

    atravs das doutrinas, notcias de jornal e stios jurdicos de entes

    interessados, observaremos a manifestao fenomnica do tema objeto da

    pesquisa e, a partir disto, explicaremos a realidade. Sempre com a

    preocupao de buscar a verdade e verificabilidade dos fatos analisados.

  • Antever desde j os resultados que pretendemos alcanar algo muito

    difcil, visto que o principal objetivo do trabalho seria contribuir para a

    erradicao dessa forma ilegal e desumana de explorao.

    Porm, ao alcanarmos esses objetivos tidos por menores j nos

    sentiremos satisfeitos. Isso porque, acreditamos ser um tema desconhecido ou

    pouco discutido nas universidades de direito e ao levarmos o tema ao

    conhecimento de todos os que tiverem contato e oportunidade, estaremos por

    fazer um grande papel.

    O tema amplo foi escolhido propositalmente no sentido de deixar vrias

    perguntas ao leitor. So muitos os assuntos relacionados, tais como: Reforma

    Agrria, Agricultura Familiar, Modo Capitalista de Produo, Polticas Pblicas,

    Impunidade e Estrutura Legal.

    Desse modo, encontramos um tema que abarca vrias situaes e

    questes scio-econmicas diretamente relacionadas com as estruturas de

    poder atualmente vigentes em nossa sociedade.

    Nesse sentido, importante notar que durante a histria do Brasil

    tivemos sim um substancial avano social e legislativo com a Abolio da

    Escravatura. Porm, no podemos ser ingnuos de imaginar que todas as leis

    criadas nessa seara so suficientes soluo do problema ora abordado.

    E ainda assim, perceber que o sistema capitalista em que vivemos

    incentiva, fomenta esse modo de explorao o qual abordaremos. De modo

    que a estrutura econmica na qual o poder est concentrado nas mos de

    alguns privilegiados, faz com que o restante da massa submeta sua mo de

    obra a qualquer preo.

  • Contudo, importante salientar que desde j podemos dizer que a

    escravido contempornea no simplesmente uma conseqncia da

    escravido colonial, e sim, conseqncia de um modo de explorao capitalista

    que exclui quem tem a mo de obra como nica fonte de renda e privilegia

    quem tem nas mos o poder e a propriedade.

    CAPTULO I

    1. A ESCRAVIDO NO BRASIL.

    Para comear este trabalho necessrio voltarmos ao incio da histria

    do Brasil (em meados de 1500). Para que, a partir dessa data, possamos de

    maneira simplificada dar um passeio pelos acontecimentos, com a finalidade

    de demonstrar: quando, como e por que surgiu o trabalho escravo. E, por

    conseguinte, demonstrar as conseqncias atuais dessa forma de explorao

    do trabalho humano.

    certo que todo nosso estudo acerca desse triste tema, servir para

    pensarmos sobre todo o desrespeito aos indivduos que estiveram envolvidos

    neste horrvel drama, e, ainda, para notarmos que convivemos com a

    escravido.

    Ao fazer essa busca na histria, trazer e comparar com os

    acontecimentos atuais, mister dizer, no nosso pensamento os dolos dessa

    histria sero todos aqueles que lutaram e ainda lutam pelos direitos humanos

    inerentes ao homem.

  • Assim, desde j, pode-se deixar claro que nos posicionamos contra todo

    e qualquer tipo de abuso, seja escravido, superexplorao ou trabalho

    degradante que atentam contra a dignidade da pessoa humana.

    1.1.COLONIZAO: FORMAO DE UMA SOCIEDADEESCRAVOCRATA

    Para os portugueses, o Brasil apresenta-se como uma terra cujas

    possibilidades de explorao e contornos geogrficos eram desconhecidos.

    Assim, entre 1500 e 1535, com o incio da colonizao portuguesa, a principal

    atividade econmica foi extrao do pau-brasil, conseguida a partir de

    relaes de troca com os ndios (escambo).

    Os indgenas cortavam o pau-brasil, carregavam os navios europeus e

    em troca recebiam objetos das mais variadas naturezas e utilidades, tais como

    machados, anzis, espelhos, pentes, miangas de vidro, entre outros. Logo

    essas quinquilharias deixaram de despertar interesse dos ndios, que, ento,

    passaram a serem escravizados pelos portugueses no corte e transporte do

    pau-brasil.

    Sabendo-se que nesse mesmo perodo os espanhis e os franceses j

    freqentavam constantemente a costa brasileira, os portugueses trataram de

    acelerar o processo de colonizao e comearam a vislumbrar a posse da

    nova terra, e logo, buscar outras riquezas.

    Assim, para melhor atender as necessidades de colonizao, a Coroa

    portuguesa decidiu dividir a colnia em 14 faixas, com vistas a povoar as

    terras, que receberam o nome de capitanias hereditrias.

  • A inteno portuguesa foi patrulhar e explorar as terras, tendo em vista

    a necessidade de ocupao. Os pedaos de terra foram doados a pessoas da

    pequena nobreza (donatrios), as quais seriam responsveis pela explorao e

    policiamento, e, alm disso, deveriam durante a explorao pagar impostos

    sobre a utilizao da terra (importante dizer que os donatrios somente tinham

    a posse e no a propriedade da gleba recebida).

    Os pedaos de terras doados pela Coroa (Sesmarias) foi fator

    determinante para a formao dos latifndios no Brasil. O que demonstra que

    desde ento a terra era poder, e ento no prevalecia a funo da terra.

    Mesmo com esses grandes pedaos de terras, seja por m

    administrao, inexperincia ou mesmo por falta de recursos, a maioria dos

    donatrios no tiveram sucesso. Assim, aos poucos as terras foram voltando

    s mos da metrpole, que por fim estabeleceram o governo geral.

    Juntamente com a necessidade portuguesa da escravizao dos ndios

    para a explorao da colnia, vieram os jesutas com suas concepes

    missionrias, a fim de captar novos catlicos.

    Como justificativa para a catequizao do indgena, os padres diziam

    que os ndios (antropfagos) para serem salvos deveriam ser convertidos ao

    catolicismo. Juntamente com a salvao crist os portugueses traziam para

    os ndios a cultura do trabalho europeu (no de subsistncia).

    Entretanto, a escravizao dos ndios chocou-se com uma srie de

    dificuldades, visto ser a inteno do colonizador apressar o domnio da terra.

    Os ndios tinham uma cultura incompatvel com o trabalho intensivo e regular

    como pretendido pelos portugueses. Somente produziam o necessrio para

  • garantirem sua subsistncia, e o restante do tempo eram acostumados a

    dedicarem aos rituais e celebraes das tribos.

    Por fim, os ndios revelaram-se no ser a melhor mo de obra para os

    colonizadores. Fatores que predominaram para o no prosseguimento da

    escravido indgena foram o fato de a Coroa romper com a Igreja por no ser

    mais interessante para a Coroa a catequizao dos ndios, tendo em vista a

    dificuldade encontrada; o efeito dizimador da raa pelas enfermidades trazidas

    da Europa pelos brancos; e, ainda, as inmeras guerras que os ndios foram

    submetidos (alguns historiadores acreditam que de 1500 a 1800 a populao

    indgena foi reduzida de 4 milhes para 1 milho de gentios).

    1.2.TRFICO NEGREIRO: A ESCRAVIDO LEGALIZADA.

    Considerando que os ndios tinham algumas protees legais

    (INDIGENATO instituio jurdica luso-brasileira que deita suas razes j nos

    primeiros tempos da Colnia, quando o Alvar de 1 de abril de 1680,

    confirmado pela lei em 1755, firmara o princpio de que, nas terras outorgadas

    a particulares, seria sempre reservado os direitos dos ndios, primrios e

    naturais senhores delas) registre-se que essa proteo jurdica apesar de

    ineficaz, juntamente com outros fatores, acabava por desestimular a

    escravizao dos ndios.

    Paralelamente o mercado de negros vindo da frica comea a se

    intensificar, e a Coroa portuguesa opta por comercializar esse produto que se

    tornara muito lucrativo. Tudo isso porque a metrpole logo tratou de tributar

    esse comrcio, que se mostrou rentvel para todas as classes.

  • A escravido negra foi algo que movimentou muito dinheiro, tanto para

    os comerciantes, intermedirios, como para os consumidores (que abusavam

    dessa mercadoria) e, sobretudo, a Coroa portuguesa. Os negros j tinham

    experincia com os engenhos de acar, era a mo de obra mais barata e

    tinha em vasta quantidade.

    Ocorreu que o trfico acabou por ser a alternativa mais lucrativa entre as

    atividades econmicas aqui desenvolvidas, e, portanto agradava a todos. Os

    fazendeiros precisavam dessa mo de obra barata para reduzir o preo do

    acar a valores competitivos no mercado internacional; os traficantes

    (considerando os responsveis pela vinda dos escravos e os intermedirios)

    vendiam esses negros por altos preos; e para completar esse terrvel ciclo, a

    metrpole tributava esse comrcio totalmente legal (com aval da Igreja, que em

    nenhum momento se contraps ao comrcio).

    dramtico o depoimento do Dr. Livingstone sobre o trfico, note:

    O espetculo que presenciei, apesar de serem incidentes comuns

    do trfico, so to repulsivos que sempre procuro afast-los da

    memria. No caso das mais desagradveis recordaes, eu consigo

    por fim adormec-las no esquecimento; mas as cenas do trfico

    voltam-me ao pensamento sem serem chamadas, e fazem-me

    estremecer no silncio da noite, horrorizado com a fidelidade com

    que se reproduzem.

    Os negros no eram considerados pessoas titulares de direitos, eram

    tidos como racialmente inferiores e juridicamente reputados objeto de relaes

    econmicas. O que seria um grande argumento na poca para serem tratados

    como mercadorias. Legalmente o negro no era considerado pessoa e sim

    coisa.

  • importante lembrar a forma com que os negros eram tratados, e para

    qual finalidade ocorria o trfico negreiro. Descreve Eduardo Bueno:

    Ter sido o pior lugar do mundo, o ventre da besta e o bojo da fera,

    embora para aqueles que eram responsveis por ele, e no estavam

    l, fosse o mais lucrativo dos depsitos e o mais vendvel dos

    estoques.(...) O bojo dos navios da danao e da morte era o ventre

    da besta mercantilista: uma mquina de moer carne humana,

    funcionando incessantemente para alimentar as plantaes e os

    engenhos, as minas e as mesas, a casa, e a cama dos senhores e,

    mais do que tudo os cofres dos traficantes de homens

    (BUENO,2004, p. 112).

    Pode-se notar que no se tratava simplesmente da escravizao dos

    negros, e sim na transformao de um ser humano em produto. Era um

    negcio organizado, permanente e vultoso, estabelecido entre portugueses e

    africanos com a finalidade de integrar a Europa, a frica e a Amrica num

    comrcio, chamado Trfico Negreiro.

    Importante notar que as pessoas que detinham o poder (terras e

    riqueza) manipulavam e elaboravam a forma de aumentar sua lucratividade.

    Fica claro que os fazendeiros e os polticos (na maioria das vezes se tratando

    da mesma pessoa) exerciam o poder sobre os mais fracos e vulnerveis.

    O comrcio se dava da seguinte forma: partindo os navios da Europa,

    eram levadas manufaturas para a frica, onde na costa eram cambiadas por

    negros. Esses navios, agora com os pores lotados de escravos, partiam para

    o Brasil, onde os negros eram trocados por acar (revendido com grande

    lucro na Europa).

  • Vale lembrar que participaram do trfico tambm os holandeses,

    ingleses e espanhis. Porm os brasileiros e portugueses radicados no Brasil

    se tornariam os maiores e mais eficientes traficantes de escravos da histria;

    para tanto se utilizando a cachaa e do tabaco como moeda de troca, produtos

    baratos e abundantes no Brasil e muito desejados pelos africanos.

    Aos poucos o trfico foi aumentando, e nesse comrcio foram

    escravizados negros de vrias regies da frica (Moambique, Congo e

    Angola) e vendidos por quase todo o territrio brasileiro (Pernambuco, Rio de

    Janeiro, So Paulo e Minas Gerais), conforme foi se expandindo a colonizao

    e as diferentes formas de explorao.

    Neste momento, o comrcio de negros se tornar simples e ainda mais

    lucrativo, j que ao desembarcarem eram imediatamente negociados, ou

    mesmo leiloados. Havia intermedirios que compravam os negros e os

    revendiam no interior do pas.

    Tivemos ento durante mais de trs sculos a escravido legalizada. Todos

    esses anos traficantes, revendedores e exploradores lucraram sobre o esforo,

    sofrimento de seres humanos que foram mal tratados, castigados e

    humilhados por seus semelhantes inescrupulosos; que somente visavam cada

    vez mais obteno de lucro, mesmo que para alcanar o seu propsito

    tivessem que fazer sofrer tantos inocentes.

    1.3. REVOLUO INSDUSTRIAL: NOVOS MODOS DEEXPLORAO.

  • Em meados do sculo XVIII, paralelamente a todos acontecimentos que

    ocorriam no Brasil, que a partir de 1822 j se tornara independente, na

    Inglaterra, ocorria a Revoluo Industrial fator preponderante para o fim da

    escravido.

    Sento-S descreve em sua obra a importncia da Revoluo Industrial

    para a abolio da escravido, vejamos:

    A Revoluo Industrial conviveu com idias e pensamentos

    convergentes com seus princpios, que marcaram a Europa durante

    o incio do Sculo XVIII. De fato, as obras de pensadores como

    Montesquieu e Rosseau e o iderio de liberdade e igualdade, que

    marcaram a Revoluo Francesa de 1789, so eventos relacionados

    com as transformaes buscadas pela Revoluo Industrial. A partir

    do sculo XIX, o mundo inteiro comeou a vislumbrar essas idias

    iniciadas na Europa e que transformavam a teoria do pensamento

    humano. Os grandes intelectuais da poca, dentre eles Hegel,

    passaram a pugnar pela valorizao de determinados elementos

    diretamente identificados com a melhoria de vida do ser humano,

    como o caso da liberdade (Sento-S, 20001, pg. 32).

    Pensadores europeus exigiam a abolio da escravatura, entre outras

    idias liberais, tais como o trabalho livre e assalariado; assim podemos a partir

    de tal data perceber uma evoluo do trabalho e a criao de alguns direitos

    trabalhistas (jornada mnima, idade mnima e salrio).

    Vale dizer que no Brasil nesse perodo j contvamos com vrios

    abolicionistas, os quais importante citar: Jos do Patrocnio, Andr

    Rebouas, Joaquim Nabuco, Lus Gama, Antnio Bento, Rui Barbosa, entre

    outros. Importante ressalvar a presso inglesa sobre o Brasil para a abolio

    dos escravos.

  • Como vimos em todos os momentos na escravido durante o perodo

    colonial, e tambm veremos na escravido contempornea, o fator decisivo

    para dificultar o fim desse drama e crueldade reside no prprio sistema

    econmico. De fato, nos dias atuais, verificamos fazendeiros, mineradores,

    revendedores, muitas vezes polticos no medindo esforos para continuar a

    lucrar com essa explorao. De modo que sempre se procura uma forma de

    diminuir o custo de seu produto, aumentando assim a rentabilidade com a

    venda dos mesmos.

    Leo Huberman descreve bem o modo capitalista, veja:

    O que que o capitalista compra para vender com lucro? Entradas

    de Teatro?Carros? chapus?casas?No.No nenhuma dessa

    coisas, e ao mesmo tempo parte de todas elas.(...) a fora de

    trabalho do operrio que p capitalista compra para vender com

    lucro, mas evidente que o capitalista no vende a fora de trabalho

    de seu operrio. O que ele realmente vende e com lucro so as

    mercadorias que o trabalho do operrio transformou de matrias

    primas em produtos acabados. O lucro vem do fato de receber o

    trabalhador um salrio menor do que o valor da coisa produzida.

    Nota-se aqui, que naquele momento histrico se tornou mais

    vergonhoso, e, ainda mais inaceitvel para o Brasil manter a escravido, visto

    todos os pases europeus j terem trabalhadores livres e assalariados, ainda

    com a ressalva de algumas garantias trabalhistas.

    Porm, a grande critica se faz acerca do modo com que ocorreu o

    xodo rural e mesmo a forma com que foram feitos os investimentos no setor

    agrcola. Em outras palavras, podemos dizer que no houve em nenhum

  • momento polticas pblicas no sentido de distribuir melhor e de forma mais

    igual reas agricultveis.

    Desse modo, permaneceram as terras, e logo o poder concentrado nas

    mos de uma oligarquia pouco numerosa. Desse modo os trabalhadores que

    migraram para a zona urbana foram marginalizados, ficando somente com as

    oportunidades de emprego que tinham pssimas condies de trabalho e

    baixos salrios.

    1.4 O FIM DO TRFICO: O CAMINHO DA ABOLIO.

    Pode-se dizer que a Abolio foi um dos movimentos sociais mais

    importantes da histria do pas. Devemos ter em mente que foi uma luta muito

    rdua de abolicionistas e escravos e do outro lado todos os proprietrios e

    comerciantes de escravos (sem contar a Coroa e o imprio, que demoraram a

    ceder a todas as presses).

    Um trecho do livro de Joaquim Nabuco ilustra bem toda essa luta.

    Vejamos:

    O Abolicionismo um protesto contra essa triste perspectiva, contra

    o expediente de entregar morte a soluo de um problema, que

    no s de justia e conscincia moral, mas tambm de previdncia

    poltica. Alm disso, o nosso sistema est por demais estragado para

    poder sofrer impunemente a ao prolongada da escravido. Cada

    ano desse regime que degrada a nao toda, por causa de alguns

    indivduos, h de ser-lhe fatal, e se hoje basta, talvez, o influxo de

    uma nova gerao educada em outros princpios, para determinar a

    reao e fazer o corpo entrar de novo no processo, retardado e

    depois suspenso, do crescimento natural (NABUCO, 2000, P.28).

  • Foi declarado o fim do trfico negreiro, em 1888, pela princesa

    Isabel.At ento o que tivemos foram algumas tentativas de minimizar o

    sofrimento dos negros, ou at, mesmo tentativas de disfarar o trfico.

    Veremos a seguir algumas datas importantes na histria do

    abolicionismo e da escravido.

    Em 1845, foi assinado um ato unilateral pelo parlamento ingls o Bill

    Aberdeen, o qual declarava ilegal o trfico de africanos e determinava que os

    infratores fossem julgados pelos tribunais da marinha inglesa (o temor da

    extino da escravido gerou efeito contrrio, a entrada de negros a partir de

    1845 dobrou: 50.000 peas por ano).

    Em 1850, a Lei Eusbio proibiu o trfico negreiro. Com o preo dos

    escravos subindo, os produtores foram obrigados a encontrar alternativas mais

    baratas. A eliminao do trfico no modificou a estrutura da escravido,

    mudou apenas a forma de abastecimento, dando incentivo ao comrcio

    interno. dessa maneira que se afirma que o trfico acabou, mas a escravido

    continua.

    Em 1871, visconde do Rio Branco aprovou a Lei do Ventre Livre

    segundo a qual seria livre qualquer filho de escrava nascido no Brasil.

    J em 1884, foi aprovada a Lei Saraiva-Cotegipe ou Lei dos

    Sexaginrios, a qual tinha uma finalidade duvidosa. Sendo que estabelecia

    que os escravos maiores de 65 anos ganhariam liberdade e, ainda versava

    sobre alguns elementos para a libertao gradual dos escravos. A critica

    quanto a essa lei, feita no sentido de podermos entender que somente

    seriam libertos os maiores de 65 anos, por esses no interessarem mais aos

  • senhores visto a fraqueza e inoperncia, e ainda o fato da maioria deles no

    chegar a essa idade.

    Por fim, em 1888, a princesa Isabel promulgou a Lei urea que a partir

    desse momento a escravido passou a ser vedada no nosso ordenamento

    jurdico. No entanto, veremos ao longo desse trabalho que mesmo sendo a

    escravido ilcito penal o sistema econmico e de produo permaneceu

    indiferente essa circunstncia, de modo a utilizar ainda hoje a mesma forma

    de explorao da mo de obra.

    Sabendo-se que a Lei de Terras de 1850, elegeu o documento de

    compra e venda como o instrumento de sua apropriao, as Sesmarias foram

    confirmadas como propriedade privada e foi legitimada a posse de terras em

    que o ocupante tivesse moradia fixa e produo adequada s exigncias do

    mercado. Do contrrio, as que no se encaixavam nessa categoria eram tidas

    como devolutas, mesmo se usadas por alguma famlia de camponeses,

    ex-escravos ou pescadores.

    J que somente a elite tinha acesso aos cartrios de registro,

    considerados oficiais, mas contratados, num processo histrico de apropriao

    do pblico pelo privado, por algumas famlias, os fazendeiros se apoderaram

    de grandes extenses de terras, configurando assim, a estrutura de dominao

    e opresso do trabalhador rural sem terra j consolidada durante nossa

    histria.

    Ainda, como agravante escravido, devemos discutir as condies que

    os negros foram libertos.O que aconteceu foi tirar os negros das senzalas, na

    maioria das vezes na zona rural, e, mand-los para as favelas na zona urbana.

  • A maior parte dos ex-escravos continuaram a trabalhar para seus

    senhores ganhando muito pouco. Formalmente deixou de existir a escravido,

    no entanto o regime de servido e misria continuou o mesmo para essas

    pessoas.

    Com certeza, o fato de ser crime a escravido, no resolveu esse

    problema social e econmico, do qual essas pessoas continuam a ser vtimas

    de preconceito, sendo tratadas como raa inferior por muitos anos.

    De fato, o que deveria ter sido feito era um projeto de incluso social e

    econmica dos negros sendo esse um fator de grande discusso e polmica.

    As conseqncias podem ser notadas facilmente ainda hoje; assunto atual e

    muito discutido so as aes afirmativas e cotas, que se pode dizer serem

    conseqncias do perodo de escravido.

    No bastou a Lei urea que pensava somente na liberdade (certo que j

    foi um grande avano), era necessrio que se pensasse na conseqncia

    dessa libertao. No receberam os negros nenhuma indenizao e preparo

    para serem livres, sobretudo, faltou a prpria populao o respeito e a

    aceitao dessas pessoas a participarem da sociedade.

    Por fim, nessa ocasio iremos demonstrar que ainda hoje, mesmo aps

    a abolio, convivemos com a escravido, que manifestada de diferentes

    formas, conforme explicaremos nos prximos captulos.

  • CAPTULO II

    2. O TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORNEO

    Para darmos incio a definio de trabalho escravo contemporneo,

    mister que o distingamos do trabalho escravo institudo durante a colonizao,

    j aprofundado no captulo anterior. Nesse sentido, falar sobre as diferentes

    formas de agresso ao homem, diferentes formas de escravizao e, por fim,

    demonstrar a ineficcia social de leis, normas e resolues sobre o tema.

    Neste captulo, deixaremos explcita a idia de que ainda existe

    escravido no Brasil. O Cdigo Penal incrimina essa nova modalidade de

    explorao do homem pelo homem como reduo condio anloga a de

  • escravo. Vale dizer que facilmente encontramos exemplos mundiais de

    trabalho escravo relatados pela Organizao Internacional do Trabalho (OIT).

    Mesmo aps tantos anos passados da promulgao da Lei urea, seres

    humanos so aliciados e expostos a condies subumanas e indignas. Fato

    que ocorre por motivo de alguns empregadores (se que podemos cham-los

    assim), somente visarem o lucro, e, por conseguinte, inutilizar todos os

    princpios morais, ticos, divinos e mesmo direitos inerentes ao homem.

    Vale ressaltar, que o trabalho escravo atual, mais cruel do que antigo

    por colonizao. Visto, na poca alguns povos consideravam-se diferentes,

    superiores dos outros; e que em alguns casos, como o dos ndios a

    escravizao era feita pelos portugueses, por eles tambm objetivarem a

    expanso do cristianismo (catequizao) dizendo que seria para o bem do

    ndio.

    O escravo era uma mercadoria, um produto, e, tinha um valor de

    comrcio; hoje o escravo no comercializado. Sento S cita como diferena

    o fato de hoje o trabalhador no fazer mais parte integrante do patrimnio do

    patro (SENTO S, 2000. p. 24).

    Diferena essa que demonstra a gravidade do problema e que hoje a

    escravido bem mais lucrativa do que anteriormente. Por fora do ciclo

    natural do sistema capitalista o patro nem ao mesmo precisa comprar o

    indivduo para ter sua mo de obra.

    Como principal ponto de distino das duas cruis formas de escravido

    podemos apontar o fato de antes a escravido ser lcita, e, aps a abolio ser

    ilcita. O que, por conseguinte, vale dizer: a escravido no foi extinta, somente

    deixou de ser amparada legalmente.

  • Santos muito feliz ao comparar a escravido antiga, com a atual, veja:

    A descrio do trabalho escravo contemporneo se assemelha em

    muito ao trabalho escravo da poca colonial. Ao trocar-se a figura do

    senhor de engenho pela do fazendeiro e a do feitor pela do gato ou

    capataz, as similaridades so gritantes (SANTOS, 2004, p. 145).

    Cabe-nos dizer que mesmo que de diferentes formas de configurao

    (colonial X contempornea) essas tambm se assemelham. O fator

    preponderante para a escravizao o mesmo, ou seja, o escravocrata visa

    aumentar sua lucratividade e diminuir seus custos de mo de obra para que

    possa concorrer e ter maior rentabilidade.

    importante notar que o modo de explorao o mesmo. Os

    fazendeiros detentores das propriedades determinam os modos de produo,

    restando grande massa de camponeses utilizar-se da sua nica ferramenta

    a mo de obra. Tudo isso gera mo de obra farta, facilita e incentiva a

    explorao do trabalho.

    certo de que a escravido contempornea bem mais interessante

    para o patro do que a escravido colonial. Hoje, o escravo no tem valor

    nenhum, alm de ter um baixssimo custo de manuteno e no ter valor de

    compra, podendo facilmente ser dispensado sem dispor de qualquer meio de

    garantia de seu prprio sustento. Enquanto, antes o escravo era um

    investimento e tinha um alto custo de manuteno e de valor de compra e

    venda.

    Essa comparao necessria, visto o notvel motivo da ocorrncia do

    trabalho escravo ser a evoluo e o desenvolvimento do modo de produo

  • capitalista. Fator que contribui para gerar renda e manter a propriedade na

    mo de poucos, conseqentemente no distribuindo riqueza.

    O sistema conhecido como capitalismo selvagem acabou por fortalecer

    os grandes latifundirios, onde espelhados pelo sistema de capitalismo

    mundial iniciaram o processo de modernizao, o que teve por conseqncia

    a marginalizao da mo de obra do homem.

    Nesse aspecto, a Reforma Agrria, no sentido de descentralizar os

    latifndios e distribuir as propriedades para agricultores pequenos e mdios

    (Agricultura Familiar) faz-se urgentemente necessria visto a quantidade de

    emprego que proporcionaria. Elemento esse, muito contributivo para a

    erradicao do trabalho escravo e para minimizar a desigualdade

    social-econmica.

    Por fim, conclumos que a escravido continua, independente do modo

    de execuo. Atualmente no faz diferena se a pessoa negra, amarela ou

    branca. Os escravos so miserveis, sem distino de cor e credo. Porm,

    tanto na escravido colonial quanto na do Brasil contemporneo

    aproveitando-se da situao vulnervel do trabalhador, mantm-se a ordem

    por meio de ameaas, terror psicolgico, coero fsica, punies e

    assassinatos.

    Para ilustrar e completar nosso trabalho cabe-nos dizer que esse tipo de

    explorao no ocorre somente no Brasil, acontece tambm em vrias outras

    localidades. No Relatrio Global, a OIT descreve o fator principal para a

    ocorrncia trabalho forado:

    Em termos gerais, os incentivos ao trfico de pessoas entre pases

    mais pobres e pases mais ricos podem ser assim descritos. Em

  • termos de oferta, muitas vezes como conseqncia dupla do declnio

    de oportunidades de emprego e crescentes aspiraes de consumo,

    tm aumentado os incentivos para a migrao no s das zonas

    rurais para centros urbanos, mas tambm de pases menos ricos

    para os mais ricos. Nos pases mais ricos, parece constante a

    demanda de mo de obra disposta a aceitar empregos inseguros e

    mal pagos, muitas vezes de natureza sazonal. As pessoas naturais

    de pases mais ricos recusam-se, compreensivelmente, a aceitar

    empregos difceis, degradantes e perigosos. Mas, como os pases

    mais ricos levantam cada vez mais barreiras migrao legal e

    regular, elementos criminosos aproveitam da oportunidade para ter

    mais lucros. Alguns intermedirios cobram pesadas somas de

    candidatos a migrao para viabilizar ilegalmente a travessia de

    fronteiras, e outros usam prticas coercitivas e falazes para ganhar

    ainda mais no local de destino. Em suma, o trfico de pessoas uma

    reao oportunista a tenses entre a necessidade de migrar e as

    restries de natureza poltica para permitir o mesmo.

    Bem perto de ns temos o exemplo dos bolivianos que so explorados

    na industria txtil na grande So Paulo. Esses migram da Bolvia para o Brasil

    em busca de melhores condies de vida e emprego; ilegalmente no pas so

    obrigados a trabalhar para os empresrios por baixos salrios e em pssimas

    condies de labor. Presos a esse modo de explorao por estarem ilegais no

    pas e por no serem brasileiros esto desamparados pela legislao

    trabalhista nacional e iludidos de algum dia receber alguma quantia por todo

    seu trabalho.

    Mesmo sendo nosso foco principal o trabalho escravo no Brasil, ainda

    tendo como principal exemplo a zona rural, citaremos algumas diferentes

    formas de escravido (ou trabalho forado) comuns em outros pases.

  • A ndia sofre com o trabalho escravo infantil nas indstrias txteis

    onde crianas so obrigadas a trabalhar 10 horas por dia (THE HINDU, 2006).

    No Paquisto grande a quantidade de mulheres trabalhando como

    domsticas, em regime de escravido. O sistema parchi charhana significa

    que o empregado obrigado a indenizar o empregador por qualquer dano

    causado durante o servio, de modo que se torna escravo por dvida. Ainda

    so constantes as queixas de assdio sexual e violncia fsica.

    Trabalhadores domsticos migrantes encontram-se em condies

    precrias em vrios locais (Arbia Saudita, Europa Ocidental e sia), sabendo

    ser tambm o trabalho domstico utilizado dissimuladamente como forma de

    aliciar mulheres para emprego no exterior que acabam por serem exploradas

    como prostitutas. No Japo e na Austrlia, por exemplo, mulheres entram com

    autorizao legal (vistos de diverso) com promessas de trabalharem em

    danceterias, e logo so obrigadas prestarem servios sexuais.

    No Peru, Bolvia e Paraguai grande o nmero de ndios escravizados

    no campo, tendo em vista a discriminao e a inoperncia dos governos para

    polticas sociais, econmicas, ou mesmo de proteo.

    Com todos esses exemplos citados, podemos concluir que mesmo que

    seja diferente o lugar e a forma de explorao, os motivos so os mesmos. A

    mo de obra em grande quantidade, o empregador visando reduzir seu custo

    na mo de obra e atrair muitos consumidores. Esse sistema capitalista gera

    esse ciclo, de gente que tem oferta e gente que tem procura, assim no meio

    dessa vontade de ganhar cada vez mais o trabalhador explorado.

    Podemos dizer, com efeito, que no somente nos pases pobres ocorre

    a explorao do trabalho humano, e sim que nesses pases a ocorrncia

  • maior. Sendo mais vulnerveis nos pases onde tem governos mais

    enfraquecidos e polticas pblicas menos concretas.

    2.1 CONCEITO ATUAL

    Para definirmos o trabalho escravo contemporneo, iremos por uma

    questo didtica enquadr-lo na conceituao de trabalho forado (isso em

    conseqncia da quantidade de definies e por no pretender entrar nesse

    mrito, por acreditar ser mais importante o combate a essa forma de

    explorao).Necessrio tambm conceituarmos diferentes modos de

    explorao do trabalhador, seja: trabalho degradante e superexplorao.

    muito difcil chegar a uma conceituao do trabalho escravo, porm

    seguiremos a orientao da OIT (Organizao Internacional do Trabalho) e

    parte da doutrina que considera o trabalho escravo (termo utilizado no Brasil)

    espcie do trabalho forado.

    Define a OIT como sendo trabalho forado: todo trabalho ou servio

    exigido de uma pessoa sob a ameaa de sano e para qual ela no tiver se

    oferecido espontaneamente. Tendo assim, como principal caracterstica a

    natureza do trabalho compulsrio na relao de trabalho, entre a pessoa e o

    empregador.

    Nota-se que a definio de trabalho escravo um pouco menos

    abrangente, seja a definio dada na Conveno Suplementar das Naes

    Unidas sobre a abolio da escravido, trfico de escravos e instituies e

    prticas semelhantes escravido, no artigo 1, nos seguintes termos:

  • ... a situao ou condio decorrente do empenho, por parte do

    devedor, dos seus servios pessoais ou dos de pessoas sob seu

    controle como garantia para uma divida, se o valor desses servios,

    razoavelmente avaliado, no for aplicado liquidao da dvida, ou

    se a durao e a natureza desses servios no forem

    respectivamente, limitados.

    Por conseguinte, utilizaremos as duas expresses, tendo em vista a

    consagrao de ambas. E sendo o objetivo do trabalho informar o

    acontecimento dessa explorao e buscar criar meios de emancipar as vtimas

    desse drama e erradicar esse mal.

    J o trabalho degradante tem como principal elemento o fato de privar o

    trabalhador de dignidade. Em outras palavras, podemos dizer que esse

    trabalho: rebaixa, deteriora o indivduo, e, com ressalva deteriora sua sade.

    Este trabalho tira do indivduo a condio de ser humano, ele o rebaixa

    a condio de bicho, isso por ser a dignidade o elemento principal que coloca

    os homens como superiores e dotados de direitos inerentes.

    Importante salientar, que somente por ser um trabalho sacrificante, no

    configura o trabalho degradante. Mas configura sim, se os direitos trabalhistas,

    tais como: equipamentos de proteo, salrio adicional, insalubridade,

    periculosidade, higiene, boa condio de moradia e segurana no estiverem

    assegurados.

    Entretanto, o trabalho que tiver pssimas condies e remuneraes

    incompatveis, falta de garantias mnimas de sade e segurana, limitao na

    alimentao e moradia, ser sim um trabalho degradante.

    Define Luis Camargo de Melo como trabalho degradante:

  • Submisso s condies precrias de trabalho pela falta ou

    inadequado fornecimento de boa alimentao e gua potvel;

    alojamento sem as mnimas condies de habitao e falta de

    instalaes sanitrias; no utilizao de transporte seguro e

    adequado aos trabalhadores; no cumprimento da legislao

    trabalhista, desde o registro na CTPS, passando pela falta de

    exames mdicos admissionais e demissionais, at a remunerao ao

    empregado (MELO, 2004, P. 427).

    Assemelham-se os conceitos de trabalho degradante e de

    superexplorao do trabalhador.Sendo a principal e, talvez nica diferena,

    que na superexplorao h jornadas interminveis. Algumas vezes um trabalho

    alm de degradante de superexplorao.

    Para a total definio do trabalho forado, devemos acrescentar a falta

    de liberdade de ir e vir do trabalhador. Muitas vezes, um trabalho degradante

    (indigno, mas com liberdade) passa a ser um trabalho forado; assim o

    trabalhador por meio de coaes passa a estar preso ao trabalho.

    Como sendo superexplorao do trabalho, Jairo Lins Sento-S, define:

    [...] aquela situao em que o empregado submetido a jornadas de

    trabalho interminveis, laborando de domingo a domingo, sem ter

    sua CTPS devidamente assinada, sem receber o 13 salrio, frias,

    horas extras, etc. Trata-se muito mais de uma relao de emprego

    em que o obreiro labora sem que sejam respeitadas as garantias

    trabalhistas bsicas previstas em nosso ordenamento jurdico

    (SENTO-S, 2000, P. 17).

    Importante dizer que qualquer das formas desumanas de explorao do

    indivduo configura-se por interesses econmicos, e, faz com que o homem

    perca a caracterstica de ser humano, seja pela falta de liberdade ou pela

  • perda de sua dignidade. Em todas as formas de explorao supracitadas o

    indivduo perde a caracterstica de igualdade a todos homens, fazendo letra

    morta todas as Declaraes de Direitos Humanos.

    Neste momento, imprescindvel falar que o conceito atual de trabalho

    escravo contemporneo seja ele conforme descrito acima, ou mesmo, de

    diferente caracterizao (dada por outros autores) envergonha e empobrece

    todos os homens.

    Comprova que a pobreza generalizada no pas proporciona mo de obra

    desqualificada e barata, o que tem como conseqncia a explorao dos que

    detm o trabalho e poder sobre os miserveis que de qualquer modo

    precisam sobreviver.

    Assim, temos como base do conceito atual, o abuso do empregador

    aproveitando-se da misria e necessidade do trabalhador. Nesse sentido cabe

    convirmos que o trabalhador muitas vezes submete-se a esse tipo de trabalho

    na expectativa de uma melhora de vida, com a agravante de estar iludido por

    promessas de melhoras das condies de trabalho.

    Os trabalhadores buscam qualquer elemento que lhes mantenha a

    esperana de conseguir honestamente sustentar suas famlias, e,

    aproveitando-se dessa deficincia-necessidade do trabalhador, o empregador

    os alicia a esse tipo de trabalho (explicaremos como isso acontece no prximo

    captulo).

    Sabe-se que, como caracterstica essencial da escravido

    contempornea, vrios autores apontam somente o cerceamento da liberdade.

    Sendo ento diverso de trabalho degradante e superexplorao do trabalho.

  • Note-se a definio de trabalho escravo da Procuradora Denise Lapolla,

    no que tange a diferenciao de trabalho escravo para degradante:

    O elemento diferenciador o cerceamento da livre opo e ao do

    trabalhador.A prestao exigida contra a sua vontade. No bastam

    ms condies de vida, meio ambiente comprometido e salrios

    baixos insuficientes. O ncleo da relao escravista est fulcrado em

    violncia, em mecanismos de coero fsica e moral, utilizados para

    subjugar os trabalhadores (LAPOLLA, 2005, p 82).

    Devemos aqui fazer uma comparao entre a base dos dois conceitos.

    No caso do trabalho degradante a condio indigna, e no trabalho forado

    falta de liberdade. Veja, essas duas modalidades de desrespeito a direitos

    humanos, colocam o indivduo em condio inferior, em ambas as formas o

    indivduo perde o carter de homem.

    Para ilustrar nossa definio de trabalho escravo, usamos as palavras

    de Jos Cludio Monteiro de Brito Filho:

    Podemos definir trabalho em condies anlogas condio de

    escravo como o exerccio do trabalho humano em que h restrio,

    em qualquer forma, liberdade do trabalhador, e/ou quando no so

    respeitados os direitos mnimos para o resguardo da dignidade do

    trabalhador. Repetimos, de forma mais clara, ainda: a dignidade da

    pessoa humana que violada, principalmente, quando da reduo do

    trabalhador condio anloga de escravo. Tanto no trabalho

    forado, como no trabalho em condies degradantes, o que se faz

    negar ao homem direitos bsicos que o distinguem dos demais seres

    vivos; o que se faz coisific-lo; dar-lhe preo, e o menor possvel

    (Monteiro, 2004, p. 14).

  • 2.2 DIREITO LIBERDADE E A PERDA DA DIGNIDADE.

    O cerceamento da liberdade ocorre com coao fsica e moral, e, ainda

    vale acrescentar que fatores como m condio de trabalho, m remunerao,

    falta de higiene e segurana no trabalho, condies precrias de alojamento,

    pssima alimentao, entre outros, s podem ser suportados por homens que

    de alguma forma sofrem algum tipo de coao seja ela fsica ou moral.

    A coao fsica aquela que utiliza a violncia para obrigar o

    trabalhador fazer certa atividade, esteja ele com vontade ou no, sob pena de

    castigos violentos. Fatores esses que tipificam o crime de escravido.

    Diz Dalmo de Abreu Dallari:

    Para que se diga que uma pessoa tem o direito de ser livre,

    indispensvel que essa pessoa possa tomar suas prprias decises

    sobre o que pensar e fazer e que seus sentimentos sejam

    respeitados pelas outras.(DALLARI, P.9, 2001).

    Tambm se configura quando o trabalho realizado propositalmente em

    lugar de difcil acesso, cerceando assim o direito de ir e vir do trabalhador

    (explicaremos essa modalidade frente).

    J a coao moral, configura-se, por exemplo, quando, o trabalhador

    para chegar at o lugar onde ir trabalhar, fica devendo transporte,

    alimentao para o empregador. Assim, comea seu trabalho com dvidas, o

    qual por coao moral (seu orgulho e honestidade), no vai abandonar o

    trabalho enquanto no honr-las.

    Sobre coao fsica e moral, define Denise Lapolla:

    A coao fsica pode manifestar-se atravs de castigos infligidos,

    crcere privado, vigilncia armada, reteno de documentos, etc.

  • Pode decorrer, inclusive do fato de a prestao de trabalho ser em

    local de difcil acesso, do qual o trabalhador no possa sair por seus

    prprios meios. A coao moral, por outro lado, pode estar ligada a

    dvidas contradas para chegar ao local de trabalho, com a falsa

    promessa de ganhos imediatos que respondero pelos emprstimos

    e permitiro ao trabalhador retornar para sua casa em situao

    melhor (LAPOLLA, 2005, p. 83).

    certo de que no trabalho forado ou escravo, o trabalhador obrigado

    por foras alheias a sua vontade a laborar. Assim, podemos dizer que a

    principal caracterstica desse trabalho a falta de liberdade de fazer ou deixar

    de fazer que o empregador impe ao trabalhador.

    No trabalho escravo, o trabalhador no tem nenhuma opo. Para o

    empregador no importa se ele quer ou no quer, se tem vontade, sonhos,

    sentimentos, ou seja, no so consideradas suas carncias e manifestaes

    volitivas.

    Dalmo de Abreu Dallari versa sobre a dignidade da pessoa humana,

    observe:

    Para os seres humanos no pode haver coisa mais valiosa do que a

    pessoa humana. Essa pessoa, por suas caractersticas naturais, por

    ser dotada de inteligncia, conscincia e vontade, por ser mais do

    que uma simples poro de matria, tem dignidade que a coloca

    acima de todas as coisas da natureza.(...)O respeito pela dignidade

    da pessoa humana deve existir sempre em todos os lugares e de

    maneira igual para todos. O crescimento econmico e o progresso

    material de um povo tm valor negativo se forem conseguidos

    custa de ofensas dignidade de seres humanos.

    Mesmo sendo tema a ser abordado nos prximos captulos,

    importante dizer que o empregador alicia o trabalhador, em outras palavras, ele

  • frauda, cria mecanismos para convencer o trabalhador de que ser bem

    remunerado e ter um trabalho digno (como veremos um exemplo disso o

    adiantamento de salrio).

    Como visto a perda da liberdade rebaixa a condio de ser humano do

    indivduo, que conseqentemente perde a sua dignidade. Por isso torna-se

    importante citar dentro de nossa pesquisa o trabalho degradante e a

    superexplorao do trabalho.

    Essas modalidades de explorao no se caracterizam pela perda da

    liberdade, mas so muito semelhantes ao trabalho escravo sendo certo que

    em situaes nas quais no h liberdade de escolha certamente no haver

    condies dignas de trabalho.

    Podemos dizer que todo trabalho escravo degradante e de

    superexplorao, j o contrrio no verdadeiro.

    Neste momento, necessrio dizer que o trabalho escravo (ou forado)

    apresenta-se com maior gravidade. Porm, as demais modalidades so

    tambm muito preocupantes, e no devem ser ignoradas. preciso imaginar

    que um trabalho degradante ou de superexplorao esta a um passo de se

    transformar em trabalho forado.

    Neste aspecto, como operadores do direito no devemos nos contentar

    em contemplar o direito a liberdade (mesmo que j seja um grande avano) e

    sim, buscar promover todos os direitos humanos.

    Assim, vale dizer que o respeito vida de uma pessoa no significa

    somente no matar essa pessoa com violncia, mas tambm dar a ela a

    garantia de que todas as suas necessidades fundamentais sejam atendidas.

  • Todo o homem tem direito a integridade fsica sendo indispensvel que

    seja reconhecido e tratado como pessoa, sendo, todos esses direitos citados

    fundamentais, bem como o direito liberdade.

    O Direito a liberdade um sentimento inerente pessoa humana, algo

    que existe no seu pensamento e que sempre ir existir para aqueles que no

    admitirem renncia a liberdade. Ningum livre se no pode fazer sua prpria

    escolha, que possa escolher seu modo de vida, planejar seu futuro.

    Pode-se concluir, que qualquer direito fundamental, quando

    desrespeitado, acaba por tornar o homem indigno, e, coloca-o em condio

    subumana. Sendo assim, trabalho degradante, superexplorao acabam por

    ser uma forma to cruel quanto a reduo condio anloga a de escravo,

    tudo isso porque no garantem ao indivduo condies mnimas e necessrias

    para sua promoo humana.

    2.3 ASPECTOS LEGAIS

    Declarao Universal dos Direitos Humanos (1948):

    Artigo IV Ningum ser mantido em escravido ou servido; a

    escravido e o trfico de escravos sero proibidos em todas as suas formas.

    ONU Conveno Suplementar sobre Prticas anlogas Escravido

    (promulgada pelo Decreto n 58.563 de 1966) probe a escravido por dvida:

    o estado e a condio resultante do fato de que um devedor tenha

    se comprometido a fornecer, em garantia de uma divida, seus

    servios pessoais ou de algum sobre o qual tenha autoridade, se o

    valor desses servios no for eqitativamente avaliado no ato da

  • liquidao da dvida, ou se a durao desses servios no for

    limitada, nem sua natureza definida.

    E ainda outras formas de servido:

    a condio de qualquer um que seja obrigado pela lei, pelo costume

    ou por um acordo, a viver e trabalhar numa terra pertencente a outra

    pessoa e a fornecer a essa outra pessoa, contra remunerao ou

    gratuitamente, determinados servios, sem poder mudar sua

    condio.

    Conveno 29 da OIT:

    Art.2 - Para fins da presente conveno, a expresso trabalho

    forado ou obrigatrio designar todo trabalho ou servio exigido de

    um indivduo sob ameaa de qualquer penalidade e para o qual ele

    no se ofereceu de espontnea vontade.

    A anlise dos Tratados e Convenes deixa clara a inteno das

    organizaes internacionais, em extinguir o trabalho forado e a escravido, e

    ainda, demonstrar a preocupao que seus Estados-Membros no permitam a

    adoo desse regime de trabalho.

    Constituio Federal:

    Art. 5. III- ningum ser submetido a tortura nem a tratamento

    desumano ou degradante; X so inviolveis a intimidade, a vida

    privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a

    indenizao pelo dano material ou moral decorrente de sua violao;

    XXLVII no haver penas, alnea c- de trabalhos forados.

    Cdigo Penal, art. 149 (alterado pela lei 10.803/03):

    Reduzir algum a condio anloga de escravo, quer

    submetendo-o a trabalhos forados ou a jornada exaustiva, quer

    sujeitando-o a condies degradantes de trabalho, quer restringindo,

  • por qualquer meio, sua locomoo em razo de dvida contrada com

    o empregador ou preposto.

    Pena recluso, de dois a oito anos, e multa, alm da pena

    corresponde violncia.

    1. Nas mesmas penas incorre quem: I cerceia o uso de qualquer

    meio de transporte por parte do trabalhador por parte do trabalhador,

    com fim de ret-lo no local de trabalho; II mantm vigilncia

    ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou

    objetos pessoais do trabalhador, com fim de ret-lo no local de

    trabalho.

    2. A pena aumentada de metade, se o crime cometido: I

    contra, criana ou adolescente; II por motivo de preconceito de

    raa, cor, etnia, religio ou origem.

    No que diz respeito Carta Magna e as normas infra-constitucionais,

    poderamos enumerar vrias outras que abarcam situaes que envolvem a

    explorao do trabalho humano. No entanto, nos contentamos em citar

    algumas leis, no sentido de ilustrar a existncia de normas que probem tais

    prticas.

    certo de que temos vrias normas que abrangem a escravido, o que

    nos leva a pensar quais seriam as razes para tamanha impunidade.

    Vale dizer, que o Projeto de Lei n 368/03, em tramitao na Cmara

    dos Deputados pretende transformar esse ilcito em crime hediondo, com todos

    os efeitos da Lei n 8.072/90.

    Existem vrios crimes tipificados para esse tipo de conduta:

    - Crime de perigo para a vida ou sade de outrem (art. 132, caput e

    pargrafo nico do CP);

  • - Crime de aliciamento de trabalhadores de um local para outro territrio

    nacional (artigo 207, caput pargrafos 1 e 2 do CP);

    - Crime de frustrao de direitos trabalhistas mediante fraude ou coao

    (artigo 203, caput e pargrafos 1, I e II, e 2 do CP);

    - Crime de falsificao de documento pblico (artigo 297, pargrafo 4

    do CP, na redao da Lei n 9.983/00).

    Podemos notar que o trabalho escravo no apenas um problema

    trabalhista, e ainda, vale salientar que o conceito de trabalho escravo

    universal. Mesmo considerando algumas diferenas doutrinrias no que tange

    a definio de trabalho forado ou escravo, podemos facilmente enquadrar o

    fato na tipificao penal.

    Porm, mesmo diante de tantos regulamentos normativos, temos notado

    serem todos insuficientes, j que o nmero de proprietrios reincidentes

    grande (parece ser compensatrio pagar a multa e permanecer com a

    escravido).

    H medidas tambm como a lista suja, publicada pelo Ministrio Pblico

    do Trabalho e pelo Ministrio Pblico Federal, na tentativa de coibir a

    explorao suspendendo as linhas de crdito dos proprietrios em agncias

    pblicas.

    Essa prtica fez com que fosse editado um Projeto de Lei Federal (j

    aprovado no senado com unanimidade) no sentido de dificultar as relaes

    comerciais das empresas que constarem na lista suja, principalmente com

    entidades pblicas, e, ainda multar em 40% do valor do crdito onde

    verificar-se trabalho escravo- ps consentimento do crdito rural.

  • Neste aspecto, parece que j h um Projeto de Emenda Constitucional

    (PEC 438) que trata da expropriao das terras daqueles que utilizam prticas

    escravocratas, j aprovado no Senado Federal, e prestes a ser votado na

    Cmara dos Deputados. Acreditamos que essa medida certamente

    desencorajar a prtica.

    At a presente data o processo de tramitao do PEC est paralisado

    na Cmara dos Deputados, por motivo de fora poltica dos ruralistas.

    Importante versar sobre outro dispositivo legal, o qual reza sobre o

    princpio da funo social da propriedade (artigo 5, inc. XXIII e art. 170, inc. III

    da CF). A funo social do imvel rural, que nos interessa no caso tambm

    tem assento na Carta Magna, artigo 186 e no Estatuto da Terra (Art. 2,

    pargrafo 1 da Lei 4.504/64).

    O Estatuto da Terra conceitua o que seja funo social da terra, como

    sendo:

    1 A propriedade da terra desempenhada integralmente a sua

    funo social quando, simultaneamente:

    favorece o bem-estar dos proprietrios e dos trabalhadores que nela

    labutam, assim como de suas famlias;

    mantm nveis satisfatrios de produtividade;

    assegura a conservao dos recursos naturais;

    observa as disposies legais que regulam as justas relaes de

    trabalho entre os que a possuem e a cultivam.

    O descumprimento da funo social motivo de desapropriao do

    imvel. Assim, nem se faz necessria a explicao da importncia desse

    Estatuto e a necessidade poltica que se tem em comprovar (dificuldade

  • enfrentada pelo INCRA e o IBAMA) o no cumprimento da funo social da

    terra.

    Como mera questo didtica, importante saber a grosso modo que a

    desapropriao a perda da terra com pagamento de preo justo, enquanto

    expropriao simplesmente a perda da terra sem pagamento algum.

    Por fim, vale dizer que temos legislao suficiente para erradicar tal fato.

    Seja utilizando as normas brasileiras, ou mesmo preenchendo as deficincias

    com os instrumentos internacionais (dos quais o Brasil signatrio) que

    envolvem o trabalho escravo e direitos fundamentais.

  • CAPTULO III

    3. COMO OCORRE A ESCRAVIDO CONTEMPORNEA.

    So vrias as causas que contribuem para a ocorrncia da escravido

    contempornea. Difcil entendermos o que leva seres humanos a explorar

    seus semelhantes e, pior ainda acreditar que o objetivo dessas pessoas

    somente a obteno de vantagens econmicas sobre a fora de trabalho

    alheia.

    Sabemos que a forma com que ocorre a escravido no muito

    diferente da poca da escravido colonial. Existindo ainda as figuras do

    escravocrata, do traficante e claro do trabalhador.

    Porm, importante dizer que o escravo atual no mais mercadoria, em

    outras palavras, o escravo no tem valor de troca. Sendo assim, para o

    escravocrata pouco importa as condies do trabalhador caso fique doente

    ou fraco colocar outro em seu lugar.

    Nesse contexto, vale dizer que o processo de explorao o qual

    abordamos violento e se configura com homens cativos por dvidas

    contradas pela necessidade de sobrevivncia (mediante fraude ou coao), e

    forados a trabalharem por no restar outra opo.

    No Brasil a maior parte dos casos de explorao verificada nas

    regies do Mato Grosso, Par, Piau e Maranho (Norte e Nordeste)

    especificamente na zona rural.

    Ocorre que fazendeiros, para realizarem derrubadas de mata, ou

    mesmo trabalho contnuo (produzir carvo, preparar solo para plantio, entre

  • outras atividades agropecurias) para ter um lucro ainda maior procuram mo

    de obra barata (por intermdio dos gatos).

    Os gatos aliciam trabalhadores de regies distantes do local aonde ir

    se configurar o crime. No primeiro momento, os gatos se mostram como

    timas pessoas, e oferecem trabalho com altos salrios, adiantamentos e

    transporte gratuito at o local.

    Como bem afianou a pesquisadora inglesa Alson Sutton,

    ... estes homens chegam com um caminho a uma rea afetada

    pela depresso econmica e vo de porta em porta ou anunciam

    pela cidade toda que esto recrutando trabalhadores. s vezes usam

    um alto-falante, ou o sistema de som da prpria cidade. (...) Em

    muitos casos, tentam conquistar a confiana dos recrutados

    potenciais trazendo um peo, que pode j ter trabalhado para eles,

    para reunir uma equipe de trabalhadores. O elemento confiana

    importante, e sua criao favorecida pela capacidade que tem o

    gato de dar uma imagem sedutora do trabalho, das condies e do

    pagamento que esperam os trabalhadores. (SUTTON, TRABALHO

    ESCRAVO, P. 35).

    Entretanto, o transporte realizado sem segurana alguma e em

    pssimas condies (em nibus ou caminhes). E ao chegar ao destino os

    trabalhadores j confinados em lugares desconhecidos e de difcil acesso, so

    surpreendidos com as anotaes. Essas que so contraditrias as promessas,

    e inicia-se a dvida do trabalhador com todos os custos (de transporte,

    adiantamento, alimentao e instrumentos de trabalho).

    Vale lembrar, que as fazendas so distantes de qualquer centro

    comercial, ficando assim os trabalhadores obrigados a comprarem seus

    produtos pessoais e de alimentao no armazm da fazenda (sistema de

  • barraco ou configurao do truck system). Caso o trabalhador pense em ir

    embora ser impedido sob a alegao de dvida (coao moral) e poder at

    sofrer castigos corporais (coao fsica).

    Essa situao em que o homem livre submetido facilmente em

    escravo conhecida como escravido por dvida. Caracterizada pelo sistema

    de barraco no qual o fazendeiro paga o servio prestado com os produtos

    oferecidos no armazm, onde sempre os preos esto bem acima dos valores

    do mercado. Sendo a fazenda em lugar ermo, os obreiros se vem obrigados a

    comprar nesse armazm.

    Alm da coao fsica e o endividamento progressivo, os trabalhadores

    so vtimas de apreenses ilegais de documentos (coao moral). Como uma

    curiosidade, no mbito do trabalho forado internacional (trfico internacional),

    os criminosos seguram os documentos dos escravos e ameaam de denncia

    ao Estado, visto estarem no pas em condies ilegais.

    Importante salientar o fato de o obreiro rural, tampouco conhecer os

    direitos relativos a relao de trabalho que ir pactuar, ainda somado a estado

    de misria em que vive, e a vontade e esperana de melhorar sua condio de

    vida.

    Perfeito o seguinte comentrio a essa lamentvel forma de explorao

    e degradao do ser humano, veja:

    Essas circunstncias criam um tipo de sociedade cruel, que aceita

    seja a propriedade mais importante que a vida, e isso tambm

    escraviza. O modo de produo escravagista moderno

    suficientemente plstico para admitir em sua cadeia produtiva a

    violncia contra os direitos humanos, ao lado de safras recordes, alta

    tecnologia de inseminao artificial, criao e manejo dos rebanhos

  • bem cuidados e propriedades com vastos e quase ilimitados

    recursos econmicos e financeiros, com grande influncia do nosso

    sistema pblico (RAMOS VIEIRA, CONGRESSO BRASILEIRO DE

    MAGISTRADOS SALVADOR/BA).

    certo que desde a Revoluo Industrial tivemos muitos avanos

    cientficos, e acabam por ser inquestionveis alguns bons avanos trazidos por

    toda essa parafernlia tecnolgica e a globalizao.

    Todavia, essa automao poder sim implicar na diminuio do

    aproveitamento da mo de obra humana, e por conseqente teremos ainda

    maior oferta da mo de obra assim, facilitando a ocorrncia do tipo de

    explorao referida.

    claro que para ns, privilegiados por termos condies de estudo, de

    poder cursar uma universidade e de realmente estarmos inseridos na

    globalizao e no avano tecnolgico, parece inacreditvel que tais fatos

    ocorram diariamente em nosso pas. Porm, h outra realidade, principalmente

    nas regies norte e nordeste do pas.

    Os trabalhadores so recrutados em lugares onde as condies e as

    possibilidades de prosperar, ganhar o sustento dos filhos, parecem

    impossveis. So lugares no nordeste e norte onde indivduos no encontram

    condies de prover suas necessidades bsicas, so aliciados, acreditando

    numa possvel melhora e com certeza imaginam que essa a nica

    oportunidade de alcanarem o sustento familiar.

    Assim, no nos resta dvida de que a configurao do trabalho escravo

    contemporneo, no ocorre por acaso ou mesmo por descaso do fazendeiro.

    sim um negcio bem estruturado, pensado e muito lucrativo.

  • uma rede de criminosos que se juntam para fraudar leis e explorar

    seres humanos que se encontram nas piores situaes econmicas e sociais,

    e so ainda mais rebaixados a condies degradantes e indignas.

    Contudo, eles tm sua liberdade cerceada e so obrigados a trabalhar

    de forma forada, sem contar a tamanha frustrao que tem o indivduo ao

    notar que sua ltima esperana de melhorar a condio de vida virou um

    pesadelo. Esse que repleto de violncia, de maus tratos, de humilhao e

    tristeza.

    Por fim cabe a ns cidados de bem, dotados de sentimento e

    compaixo, alm de portadores da ferramenta de trabalho (direito),

    demonstrarmos tal prtica, identificarmos os porqus e os criminosos, e ainda

    lutarmos pela erradicao dessa forma de explorao e pela promoo da

    igualdade social.

    Como arma contra essa mcula temos a responsabilidade social. Se

    despertada em alguns empresrios (e assim transmitidos a outros) a

    percepo de que comprar, contratar com pessoas que se utilizam dessa

    mazela estar sim aderindo, compartilhando dessa idia.

    Podemos diminuir as relaes desses exploradores, de modo a

    exclu-los do mercado, e forando assim a necessidade de se adequar as leis

    trabalhistas e obrig-los a um trabalho com responsabilidade social.

    Assim, temos o dever de conscientizar essas pessoas inescrupulosas de

    que esse tipo de acontecimento atrasa muito o desenvolvimento da sociedade,

    e ainda, colocarmos em prtica todas as leis de modo a repreender tais

    condutas desumanas.

  • 3.1 QUEM ESCRAVO.

    Para levar em discusso tal tema e buscar possveis solues para essa

    explorao, se faz necessrio identificarmos as caractersticas dos indivduos

    que se submetem a tais condies.

    Podemos dizer que diferentemente da escravido colonial (escravido

    negra) o escravo moderno pode ser todo e qualquer trabalhador. Seja ele

    branco ou negro, brasileiro ou estrangeiro, e mesmo de qualquer idade ou

    sexo.

    Como caracterstica marcante do escravo moderno tem-se a

    necessidade de procurar trabalho, por se encontrar em condies miserveis

    de sobrevivncia. Assim, como j dito configura-se o crime com o recrutamento

    e confinamento em locais de trabalho distantes (geralmente no Piau e Par)

    sem possibilidades de fuga seja por condies impostas pela prpria floresta,

    ou mesmo por nem saber o trabalhador aonde se encontra.

    Neste aspecto, sabe-se que o escravo moderno um indivduo com

    grau de escolaridade baixo, na maioria das vezes analfabeto.Pode-se dizer

    que seu nico capital sua fora de trabalho. Assim, certo de que muitas

    vezes nem eles sabem que esto sendo vtimas de algum crime, e que so

    dotados de direitos. Muito comum o trabalhador se livrar desse mal, e voltar a

    acreditar nas falsas promessas de emprego.

    triste a definio dada ao escravo contemporneo,

    O escravo moderno menos que o boi (que cuidado, vacinado e

    bem alimentado), que a terra (que protegida e bem vigiada) e que a

    propriedade (sempre defendida com firmeza). Destarte, o trabalhador

  • escravizado, por no integrar o patrimnio do escravagista

    moderno, este no se preocupa com sua sade, segurana e

    higidez fsica e mental, sendo totalmente descartvel, utilizado

    apenas como meio de produo e no ligado ao proprietrio por

    qualquer liame, legal ou social, na viso daqueles que se utilizam da

    prtica ou que pretendem legaliz-la. (VIEIRA, TRABALHO

    ESCRAVO, P.5).

    Vale dizer que no somente a escravido ocorrida na zona rural

    brasileira tem por caracterstica fundamental a condio econmica do

    trabalhador. Todo o trabalho forado ocorrido no mundo, se no for por motivo

    de guerra ou religioso, se configura pela necessidade e vontade do trabalhador

    em melhorar as condies econmicas.

    Nos casos de trfico internacional as pessoas saem normalmente de

    pases pobres e migram para pases ricos, e sempre dotados dessa esperana

    de prosperarem financeira e socialmente.

    Agora que j temos uma idia de quem a figura do escravo veremos

    as caractersticas do explorador do ser humano.

    3.2 QUEM ESCRAVIZA.

    Antes de demonstrarmos o procedimento de escravizao dos

    trabalhadores importante ressaltar o principal motivo dessa ocorrncia. Para

    tanto, diz Sento - S que o interesse econmico a mola mestra que

    impulsiona a existncia da escravido contempornea na zona rural brasileira

    (Sento - S, p. 79, 2001).

  • O esquema de trfico e a escravido envolvem vrias pessoas. Temos

    aqueles que aliciam, aqueles que disponibilizam locais, aqueles que utilizam a

    mo de obra, e ainda, aqueles que mantm estabelecimentos (penses) para

    facilitar o aliciamento dos trabalhadores.

    O indivduo que alicia (conhecido como gato) aquele incumbido de

    ludibriar o trabalhador, esse engana, aproveita-se do sonho, da necessidade

    do trabalhador em buscar oportunidades de melhora nas condies de vida.

    Os gatos ou empreiteiros so os traficantes de gente, so os

    responsveis em recrutar e direcionar o trabalhador at onde ocorrer a

    explorao do trabalho humano. Note-se que aqui, ainda no h a implicao

    da coao fsica, os trabalhadores vo por vontade prpria, claro com a

    ressalva de serem instigados e enganados de ser uma tima proposta de

    emprego.

    Algumas vezes nesse esquema existe a figura do dono de penso, esse

    colabora com o aliciamento dos obreiros, facilitando a captao por parte dos

    empreiteiros.

    Como figura mais importante desse emaranhado criminoso, temos o

    fazendeiro, o qual tem a oferta de emprego. Em outras palavras, podemos

    dizer que o fazendeiro quem paga o gato para recrutar a mo de obra

    barata, e para esse que o trabalhador vai prestar servios, e tambm por ele

    ser humilhado (sempre representado por outros, mas a mando daquele).

    claro que neste momento nos cabe perguntar novamente o que leva

    um homem (no caso do fazendeiro dotado de conhecimentos) a fazer isso

    com outro ser humano?

  • De forma inaceitvel temos a resposta, o qual esta sempre relacionada

    a obteno de vantagens econmicas. E nesse caso claro que no se trata

    de caso de vida ou morte, passando por cima de todos direitos naturais e

    religiosos. A finalidade obter cada vez mais lucro e poder.

    Em nenhum momento queremos isentar de culpa das pessoas

    diretamente ligadas escravido. Porm, muito importante citar a

    responsabilidade ao menos indireta do poder pblico.

    Por ser do poder pblico representado pelo executivo a

    responsabilidade de criar polticas pblicas de modo a erradicar de vez com

    essa chaga. necessrio que o Presidente da Repblica no somente crie

    planos de erradicao da escravido, e realmente exija de todos os entes

    fiscalizadores maiores esforos para o fim dessa explorao humana.

    Enfim, podemos afirmar que todos so culpados pela escravido. A

    comear do fazendeiro que por motivo ftil incentiva e pratica tal crime, o

    Estado pela distncia e ausncia no tratamento com esses homens

    marginalizados, e carentes de assistncia social.

    3.3 QUEM LIBERTA E QUEM PODE LIBERTAR.

    Mesmo com tantos dados alarmantes, ainda nos resta alguma

    esperana para a erradicao da escravatura moderna. De 1995 at 2003,

    10.726 pessoas foram libertadas em aes dos grupos mveis de fiscalizao

    do Ministrio do Trabalho e Emprego. No total foram 1.001 propriedades

    fiscalizadas nas operaes.

  • As equipes de fiscalizao ou Grupo de Fiscalizao Mvel (GEFM)

    contam com a presena de auditores fiscais do trabalho, delegados e agentes

    da Polcia Federal e membros do Ministrio Pblico do Trabalho e Ministrio

    Pblico Federal, sempre pautando suas decises de acordo com a legislao.

    Neste aspecto, vale dizer que essas equipes so recebidas na maioria

    das vezes com violncia. Os fazendeiros contratam capatazes, vaqueiros e

    seguranas armados para intimidar a ao fiscalizatria. comum esses

    agentes ter suas vidas ameaadas.

    Como importante instituio, o Ministrio Pblico tem como funo

    essencial a defesa da ordem jurdica, do regime democrtico e dos interesses

    individuais indisponveis (todos tratados na Carta Magna).

    Sendo o Ministrio Pblico do Trabalho rgo especfico para atuar

    junto Justia do Trabalho, compete atuar como fiscal da lei e como agente

    atuando na defesa desses direitos.

    Como principal ferramenta de trabalho o Ministrio Pblico do Trabalho

    dispe da Ao Civil Pblica instrumento efetivo para defesa dos direitos

    coletivos, com o objetivo de aferir a veracidade da possvel ocorrncia de

    desconformidade com a ordem jurdica e tambm de responsabilizar os

    exploradores.

    Como outra importante forma de libertao dos escravos podemos citar

    a Justia Itinerante. Acrescida pela Emenda Constitucional 45/04, alterando o

    artigo 115, 1 da Constituio Federal. Com a seguinte redao:

    Os Tribunais Regionais do Trabalho instalaro a justia itinerante,

    com a realizao de audincias e demais funes de atividade

  • jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdio,

    servindo-se de equipamentos pblicos e comunitrios.

    Essa Justia acaba por agilizar todo o processo de fiscalizao,

    atuao, apurao judicial e condenao por atos de explorao do trabalho

    humano escravo. A Justia Itinerante deve estar acompanhada por

    procuradores do trabalho e polcia federal. Note-se que o principal objetivo

    levar a justia aos lugares de difcil acesso e libertar o maior nmero de

    trabalhadores.

    Fator decisivo para a erradicao dessa chaga, o incentivo da OIT

    (Organizao internacional do Trabalho) que investe em aes educativas,

    preventivas e de represso contra o trabalho escravo. Desde 1995, quando o

    Brasil assumiu a existncia da escravido vrios passos foram dados para o

    extermnio dessa molstia.

    A partir do apoio da OIT a qual investiu cerca de U$ 1.700.000,00 o

    governo federal aprovou um projeto em 2002 Combate ao Trabalho Escravo

    no Brasil. Esse que tem como principal objetivo intensificar os esforos dos

    grupos especializados para erradicao desse tipo de trabalho.

    So vrias as formas de atuao do projeto, por exemplo: Criao de

    banco de dados com a identificao das regies de incidncia; Campanhas

    Nacionais educativas e de preveno; Elaborao do PLANO NACIONAL DE

    ERRADICAO DO TRABALHO ESCRAVO (envolvendo, por exemplo,

    projetos de reinsero do trabalhador); Trabalhos de capacitao para os

    parceiros na represso; Investimentos em equipamentos para atuao das

    equipes (notebooks, mquinas fotogrficas, rdios de comunicao); e,

    assistncia jurdica aos libertados.

  • certo que esse incentivo internacional da OIT acabou por estimular o

    governo a tambm direcionar investimentos para esses projetos, o que elevou

    o pas a um cenrio de destaque internacional no combate escravido.

    Depois de apresentada uma viso geral sobre as formas de combate a

    escravido, importante ressalvar a importncia de alguns rgos, tais como:

    Comisso Pastoral da Terra (CPT), Grupo Executivo de Represso ao

    Trabalho Forado (GERTRAF), Comisso Nacional para a Erradicao do

    Trabalho Escravo (CONATRAE), Associao Nacional dos Procuradores do

    Trabalho (ANPT), Associao Nacional dos Magistrados da Justia do

    Trabalho (ANAMATRA) , ONG Reprter Brasil , entre outros.

    Por fim cabe-nos dizer que o Brasil tem muitas ferramentas operacionais

    para acabar com a escravido, e ainda, resta concretizar alguns projetos de lei

    para acabar com a impunidade e realmente fazer com que propagadores

    desse mal sintam no bolso as conseqncias da utilizao dessa mo de obra

    escrava.

    E por estarmos tratando de uma questo social totalmente ligada a

    direitos humanos, no podemos deixar de fazer um apelo sentimentalista. A

    seguir o desabafo do Magistrado do Par:

    O que liberta, tambm, a nossa capacidade de indignao,

    enquanto cidados ou Membros do poder do Estado, eis que, por

    nossas aes, ou omisses, temos responsabilidade pelos destinos

    de nossa Nao e de nosso Povo, principalmente pela transformao

    da sociedade, onde seja direito e obrigao de todos o cumprimento

    das leis e a realizao da justia, para que possamos ser, assim,

    verdadeiramente, homens livres e libertadores.(VIEIRA, p. 11, 2003).

  • Nesse sentido, no poderia deixar de encerrar o captulo sem dizer que todos ns

    podemos e devemos libertar esses indivduos. Com a certeza de que todos os cidados

    ajudam a construir uma sociedade menos desigual.

  • CAPTULO IV

    4. NOTCIAS VEICULADAS SOBRE A EXPLORAO DOTRABALHO HUMANO.

    Fazendeiros de Minas so condenados por trabalho escravo:

    Tribunal Regional do Trabalho da 3 Regio (MG) condenou os

    proprietrios da fazenda gua Preta, localizada na cidade de Santa

    Rita de Sapuca, Sul de Minas, a pagar indenizao por danos

    morais coletivos ao Fundo de Amparo ao Trabalhador por manterem

    trabalhadores em condies anlogas escravido. A sentena foi

    proferida depois que o Ministrio Pblico do Trabalho moveu Ao

    Civil Pblica pedindo a condenao dos rus. Inicialmente a

    condenao foi instituda em R$ 200 mil, com multa diria de R$ 500

    por trabalhador em situao irregular. O MPT recorreu e a

    indenizao foi fixada em R$ 400 mil com multa diria de R$ 1 mil

    por trabalhador irregular.

    De acordo com os autos do processo, o salrio dos trabalhadores era

    pago com o fornecimento de comida e se os empregados se

    lesionassem tinham de trabalhar, sob pena de no receberem a

    comida. Os trabalhadores que ousavam cobrar o salrio eram

    ameaados de morte.

    Alm disso, os proprietrios so acusados de no cumprirem com as

    obrigaes trabalhistas, como assinatura da carteira de trabalho,

    pagamento de salrio mnimo e cumprimento da jornada de trabalho

    de 8 horas dirias com direito a intervalo para repouso e refeio.

    A relatora do acrdo, juza Maria Lcia Cardoso de Magalhes,

    considerando o depoimento das testemunhas, entendeu que estava

    caracterizada a situao de escravido.(disponvel em:

  • www.anpt.org.br/info/ler_noticias.cfm?cod_conteudo=9548descricao=

    noticias, acesso em: 29/08/2006).

    somente dessa forma que vamos abolir com a escravido. Os

    fazendeiros s tm a percepo da crueldade que fazem, quando so

    aplicadas altas multas.

    Enquanto o poder judicirio levado ao conhecimento de tais fatos pelo

    MPT no tiver pulso firme nas punies, ser comum a reincidncia do crime

    aludido. Porm, sabe-se que somente a multa no resolver o problema do

    trabalhador. importante que se criem formas de insero do trabalhador no

    mercado de trabalho, o que para tal preciso que se criem empregos e

    redistribua a terra para que esses agricultores possam dar as condies

    mnimas de subsistncia a suas famlias.

    Portadores de deficincia mental so libertados de escravido em

    MG:

    Onze trabalhadores foram resgatados de duas fazendas de gado na

    regio de Juiz de Fora. Segundo o auditor fiscal que coordenou a

    ao, mais da metade dos empregados possua deficincia mental

    ou tinha problemas com alcoolismo.Por Beatriz Camargo.

    A equipe de fiscalizao da Subdelegacia Regional do Trabalho em

    Juiz de Fora (MG) libertou, no ltimo sbado (12), 11 pessoas que

    trabalhavam em regime anlogo ao de escravido: seis estavam em

    uma fazenda no municpio de Chiador e cinco em Mar de Espanha.

    Segundo o coordenador da ao, o auditor fiscal Roberto Mosqueira,

    mais da metade dos trabalhadores possua algum tipo de deficincia

    mental ou apresentava problemas com alcoolismo. Alguns deles

    recebiam o salrio em cachaa, afirmou o auditor.

    Trs irmos atuavam como gatos [contratadores de mo-de-obra a

    servio dos fazendeiros] e foram os responsveis pelo aliciamento

  • dos trabalhadores levados para essas fazendas. Dois deles foram

    presos durante a ao de fiscalizao e o terceiro est foragido. O

    auditor fiscal acredita que os gatos buscavam trabalhadores com

    histricos de problemas de sade mental. H libertados da fazenda

    em Chiador, por exemplo, que so ex-internos de uma casa de

    tratamento psicolgico em Barbacena (MG).

    Os empregados trabalhavam na limpeza do terreno para a pastagem

    do gado e haviam passado por cerca de nove fazendas do municpio

    executando o mesmo servio. No possuam carteira assinada e no

    recebiam salrio h trs meses. Mosqueira afirma que o Ministrio do

    Trabalho e Emprego (MTE) estuda responsabilizar por explorao de

    trabalho escravo todas as fazendas em que os trabalhadores

    resgatados estiveram, e no somente a propriedade em que eles

    foram encontrados.

    Segundo trabalhadores libertados em Chiador, o gato Fernando da

    Silva usava um revlver calibre 38 para amea-los e impedi-los de

    deixar a fazenda. Silva foi preso em flagrante pela Polcia Militar por

    porte ilegal de arma. Os agentes de fiscalizao da Subdelegacia do

    Trabalho tambm encontraram na fazenda a caderneta em que

    estavam anotadas todas as despesas dos trabalhadores na cantina

    da propriedade, como a compra de alimentos, cigarros e cachaa. As

    dvidas adquiridas pelos empregados tambm eram uma forma de

    obrig-los a permanecer na fazenda.

    Um dos proprietrios assumiu a responsabilidade pelas dvidas. Aps

    terem suas dvidas calculadas e receberem o saldo,

    regressariam para Barbacena, sua cidade de origem.

    Mar de Espanha os trabalhadores resgatados no municpio de Mar

    de Espanha tambm haviam passado por pelo menos outras seis

    fazendas nos ltimos trs meses. Agora, esto hospedados em uma

    penso da cidade, enquanto aguardam a negociao pelo

  • pagamento de seus direitos trabalhistas, o que deve acontecer ainda

    nesta quinta-feira (17).

    O segundo gato (irmo de Fernando da Silva), preso em Mar de

    Espanha pela equipe de fiscalizao, j foi libertado por deciso da

    Justia. De acordo com o auditor Mosqueira, o fato deixou os

    trabalhadores bastante apreensivos. Eles esto com medo de sofrer

    alguma retaliao, relata.

    O Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE) decidiu no divulgar o

    nome dos proprietrios das fazendas porque parte deles ainda no

    foi confirmado. Quando as negociaes se encerrarem, e a delegacia

    preparar o relatrio da ao, a informao ser divulgada. O

    Ministrio Pblico do Trabalho tambm aguarda o relatrio do MTE

    para dar incio a uma ao civil pblica, pedindo indenizaes por

    danos morais coletivos.

    Denncia: A Polcia foi levada fazenda de Chiador graas ao relato

    de dois trabalhadores fugitivos. Eles encontraram em uma estrada

    um agricultor que lhes ofereceu comida e abrigo. Contudo, os dois

    resolveram deixar a casa sem avisar. E o agricultor, pensando que

    eles pudessem ter praticado algum crime, comunicou a polcia.

    Depois de terem sido achados pelos policiais, os trabalhadores se

    sentiram mais protegidos e decidiram falar sobre a situao

    enfrentada pelos outros empregados na fazenda. A polcia fez ento

    uma visita ao local e encaminhou a denncia de explorao de

    mo-de-obra escrava ao Ministrio do Trabalho e Emprego, que

    concluiu a ao de resgate dos trabalhadores. (disponvel em:

    http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=699, acesso em

    22/08/2006).

    Nesse caso, nota-se o sistema truck system ou barraco

    escravido por dvida. Assim os trabalhadores so obrigados a permanecer

  • laborando at saldarem suas dvidas (que cresce de maneira incontrolvel) por

    meio de ameaas.

    Nota-se ainda, a gravidade do caso, o qual trabalhadores dotados de

    deficincia mental so aliciados e explorados. de extrema urgncia a tomada

    de medidas drsticas contra esse crime, com agravante de ter como sujeito

    passivo deficientes que merecem maior ateno por parte do estado.

    Temos aqui, a prova de que os escravocratas no tm sensibilidade

    nenhuma. Pior que escravizar um ser humano, escravizar um indivduo

    deficiente mental. No podemos ser coniventes com a impunidade.

    Fazenda de cana flagrada com 249 trabalhadores escravos no

    MT:

    Nas instalaes, os 249 trabalhadores dividiam um nico banheiro.

    Quando se dava a descarga, o esgoto corria a cu aberto, em frente

    ao local em que dormiam. Dono da fazenda dever desembolsar

    mais de R$ 500 mil em dvidas trabalhistas. Por Iber Thenrio.

    O grupo mvel de fiscalizao do Ministrio do Trabalho e Emprego

    (MTE) libertou, nesta quarta-feira (9), 249 trabalhadores que estavam

    submetidos a condies anlogas escravido na fazenda

    Agropecuria Pr-do-Sol, no municpio de Campos de Jlio, no

    Oeste do Mato Grosso, prximo fronteira com a Bolvia. A fazenda,

    que cultiva cana-de-acar, pertence Lenny Olvia Artmann,

    gerente de uma agncia do Banco do Brasil em Cuiab, e

    administrada por seu marido, Neri Guilherme Artmann. A produo

    era vendida usina Usimat, perto da propriedade.

    Para ressarcir as dvidas trabalhistas, eles devero desembolsar

    cerca de R$ 530 mil. O Ministrio Pblico do Trabalho (MPT), que

    enviou um procurador fiscalizao, acionar a Justia com uma

    ao civil pblica, pedindo indenizaes por danos morais coletivos.

  • Apesar do nome de Lenny constar do contrato social da empresa,

    investigaes iniciais do MTE indicam que podem haver outros

    proprietrios.

    Como um presdio: De acordo com o relato do coordenador da ao

    de fiscalizao, o auditor do trabalho Humberto Clio Pereira, a

    jornada dos libertados comeava s trs da manh, quando se

    dirigiam roa para cuidar da cana. Sob o sol, sem lugar para se

    abrigar, recebiam refeies estragadas, bebiam gua quente e no

    tinham local para fazer as necessidades. Como supostamente

    ganhavam por produo, se esforavam para cortar o mximo de

    cana possvel.

    Quando chegava o momento de descansar, s cinco da tarde,

    voltavam para o alojamento, onde dividiam o quarto - de seis metros

    quadrad