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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – DFCH ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA I CURSO DE PEDAGOGIA Relatório de Pesquisa de Campo- A Lei 11645/2008 e seu funcionamento na rede Estadual e Municipal de ensino de Vitória da Conquista Vitória da Conquista- BA 1

trabalho prontinho

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESBDEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – DFCH

ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA ICURSO DE PEDAGOGIA

Relatório de Pesquisa de Campo- A Lei 11645/2008 e seu funcionamento na rede Estadual e Municipal de ensino de Vitória da Conquista

Vitória da Conquista- BA

2009

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Kelly Silva Prado Andrade

Séfora Barros da Silva

Relatório de Pesquisa de Campo- A Lei 11645/2008 e seu funcionamento na rede Estadual e Municipal de ensino de Vitória da Conquista

Atividade solicitada pela professora Lívia Diana Rocha Magalhães para cumprimento de crédito da III unidade da disciplina Estrutura e Funcionamento da Educação Básica I.

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Sumário

Justificativa .................................................................................................. 04

Referencial Teórico ...................................................................................... 05

Análise............................................................................................................. 26

Conclusão ........................................................................................................44

Conclusão Individual – Kelly S. Prado Andrade ............................................49

Conclusão Individual – Séfora Barros da Silva ...............................................51

Anexos ...........................................................................................................52

Referências bibliográficas............................................................................. 55

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1. Justificativa

A partir da implementação de diversas políticas públicas ligadas a

questões étnicas, vemos surgirem em nosso país diversas modificações

políticas, dentre elas, as políticas de ação afirmativa, buscando beneficiar

negros e indígenas de diversas maneiras. No campo educacional, além das

cotas nas universidades, vemos também a implementação de leis que tornam

obrigatória a presença da história e da cultura africana e indígena na sala de

aula.

Decidimos investigar até que ponto a Lei 11.645 de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional no Artigo 26-A, do capítulo II que diz: “Nos

estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e

privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e

indígena”; vigora no Colégio Estadual Abdias Menezes e na escola Maria da

Conceição Meira Barros. Para isso, a pesquisa que fizemos foi de cunho

exploratória e posteriormente qualitativa, sendo nossas entrevistas livres, de

cunho não-diretivas, de acordo com a orientação metodológica fornecida por

MENDONÇA et alli. (2003, p.72- 73 )

Certas da inquestionável importância desse artigo iremos buscar de que

forma a Lei é aplicada através de análises de documentos e depoimentos dos

educadores da área, direção e coordenação pedagógica, considerando a

capacitação dos mesmos para o oferecimento da disciplina e toda a

problemática sócio-política que o tema propõe, a partir de questionamentos

acerca do contato dos professores com a elaboração da lei 11645, como

também sobre o nível de diálogo dos professores com o Estado, seja por

discussões mais amplas ou por habilitação para as disciplinas, e por fim,

acerca da implementação prática dessas temáticas dentro da escola, se ela

aconteceu ou não , e se caso tenha ocorrido, quais as diferenças sentidas pelo

corpo docente e pelo alunado acerca da diversidade dentro da escola, já que ,

afinal, o ambiente escolar mostra-se como ambiente propício para a

fomentação de novas idéias negadoras daquilo que Vieira e Silvério (s. d.)

apontam como o único parâmetro de referência: homem-branco-cristão-

heterossexual-ocidental.

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2. Referencial Teórico.

Antes de localizarmos nossa problemática em meio à educação atual,

faremos uma retrospectiva de toda a história da educação brasileira na

tentativa de entendermos de forma satisfatória nossa realidade.

A educação como cita Saviani (1997) é inerente a sociedade humana,

originando-se do mesmo processo que deu origem ao homem. Dessa forma

podemos entender que o homem em sua constante interação com a sociedade

se desenvolveu por meio da educação. Nesse processo através do crescente

domínio do homem sobre a natureza e a perpetuação das suas peculiaridades

na sociedade valores são construídos, aprendidos e transmitidos as novas

gerações.

O autor ainda nos coloca que, nas sociedades primitivas a educação se

dá através da apropriação coletiva dos meios de produção da existência. Nas

sociedades antigas o processo é mais complexo, pois surge a apropriação de

terras e por conseqüência a disparidade de classes. Para aqueles que faziam

parte da classe ociosa surge à necessidade de uma educação diferenciada

para ocupar da melhor maneira o seu tempo disponível. È nesse contexto que

surge a escola com instituições específicas composta de forma sistemática por

exercícios físicos, música, arte da palavra e atividade intelectuais destinadas à

elite. Em contraponto estava a educação prática, assistemática que se dava

através do trabalho, daqueles que garantiam a produção da existência para si e

seus senhores.

Saviani prossegue nos dizendo que na sociedade moderna a classe

dominante burguesia é aquela que detém a propriedade privada dos meios de

produção adquirida através da expropriação dos produtores. Essa classe é

enérgica e por conta da sua agilidade e domínio das práticas mercantis

movimenta as relações de produção e acumula o capital. A partir de então a

agricultura e o campo é subordinada a cidade e a indústria convertendo

potência espiritual em potência material. Nesse contexto a palavra ou direito

natural não bastava, exigiam o direito positivo sistematizado em termos

escritos, por isso a necessidade da generalização da escola para que

houvesse o domínio da escrita.

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Sendo assim, o autor define que com essas novas exigências sociais a

educação escolar sobrepõe-se de forma cada vez mais definida sobre a

educação informal se tornando um interesse geral da sociedade a educação se

torna um interesse público, dessa forma caberia ao Estado e aos órgãos

públicos oferecer escolas a população.

A partir de sucessivas evoluções, Luzuriaga (1959) define no século XIX

como sendo o século “da educação pública nacional” e o século XX

correspondente ao advento da “educação pública democrática”.

Segundo o autor, o Brasil se insere na Civilização Ocidental no século

XVI coincidindo com o período do surgimento e desenvolvimento da escola

pública. A educação brasileira surge emersa a diversas contradições históricas,

sociais, culturais e políticas.Desde o período do descobrimento quando os

portugueses aqui chegaram que nossa educação foi formulada iniciou-se um

processo violento de aculturação, onde foi desprezado todo o conhecimento

cultural, religioso e prático dos índios que aqui habitavam. A partir de então a

Coroa Portuguesa envia aqueles que viriam a ser os primeiros professores do

Brasil, os jesuítas, que vieram com o objetivo de catequizar os índios impondo

a sua fé. Com um método rígido embasado nas normas do Ratio Studiorum

eles ensinavam aos índios a religião católica, a língua portuguesa e as regra de

conduta. As escolas jesuítas duraram 210 anos, quando o Marquês de Pombal

em1759 expulsou os jesuítas de Portugal e de todos os seus domínios

destruindo completamente a organização educacional que existia nas terras

brasileiras. Em 1972 o Marquês de Pombal influenciado pelas idéias iluministas

que se destacavam no período implantou o ensino público oficial através das

aulas-régias. Esse período representou grande caos para educação brasileira.

O ensino funcionava com aulas avulsas e era ministrada por professores em

suas casas. Alguns eram pagos pelo Estado e outros pelos próprios

estudantes. A nomeação para o cargo era por indicação ou com a aprovação

dos bispos e se tornavam proprietários vitalícios de suas aulas régias.

Luzuriaga prossegue dizendo que, posteriormente, no Brasil Império em

1822 através da lei de 20 de outubro tornou-se livre a educação popular,

eliminando o privilégio do Estado estabelecido por Pombal, abrindo caminho

para a iniciativa privada. A educação não sofreu muitas evoluções, pois foi um

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período em que o ensino se limitava aos que tinham recursos financeiros. A

corte não tinha muito interesse no crescimento educacional e por conta disso

não dava subsídios para a construção de escolas.

Segundo o autor, em 1826 com a abertura do Parlamento foi aprovada

uma lei que garantia escolas de primeiras letras em todos os lugares

populosos, porém essa lei não se tornou ativa, pois no Ato Adicional à

Constituição do Império promulgado em 1834, a responsabilidade do ensino

primário nas Províncias isentando o Estado Nacional de cuidar desse ensino.

Devido à falta de subsídios financeiros as províncias não poderiam oferecer

esse ensino atravessando o século XIX sem o funcionamento de fato da escola

pública.

Com a Proclamação da República, em 1889 , Luzuriaga nos conta que

decretou-se a separação entre Igreja e Estado e a abolição do ensino religioso

nas escolas. Porém a educação popular continuava descentralizada com a

justificativa de acompanhar o novo modo de governo, persistindo a

responsabilidade as antigas províncias que passaram a ser Estados

Federados.

Já em 1920, o autor nos conta que o Estado começa a assumir o ensino

secundário e superior, e o primário responsabilidade dos municípios, entretanto

o prosseguimento nos estudos era acessível apenas a elite que tinha a

possibilidade de se deslocar para a capital. Nessa mesma década ocorreu a

Semana da Arte Moderna que através da arte mostra a necessidade de

valorizar as riquezas e valores do nosso país deixando de copiar as tendências

internacionais. A partir de então, com o crescimento industrial e urbano do

Brasil aumenta-se a cobrança popular pelo ensino público que garanta ao

menos o 1º nível de instrução. Por conta disso durante a década de 20 ocorrem

várias reformas no ensino na tentativa de ampliar o ensino público nos Estados

Federados.

De 1920 a 1930, segundo o autor, inicia a sistematização de fato da

educação do Brasil principalmente na região sudeste do país, foco da política

café-com-leite, sendo que, após a Revolução de 1930 é criado o Ministério da

Educação e Saúde passando a educação a ser reconhecida no plano

institucional como uma questão nacional. Nessa seqüência ocorreram medidas

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como as reformas do Ministério Francisco Campos em 1931, o Manifesto dos

Pioneiros da Escola Nova, a Constituição de 1934 que exigia a fixação das

diretrizes da Educação Nacional e elaboração de um Plano Nacional de

Educação, reformas promulgadas entre 1942 e 1946 por Gustavo Campanema,

porém só fomos ter uma lei nacional que beneficiasse o primário em 1946.

Luzuriaga ainda nos conta que a Constituição Federal de 1946 definia a

educação como direito de todos e o ensino primário como obrigatório para

todos e gratuito nas escolas públicas e determinando à União a tarefa de fixar

as diretrizes e bases da educação nacional. Dessa forma abre a possibilidade

de organização e instalação de um sistema nacional de educação como

instrumento de democratização da educação por meio da universalização da

escola básica.

A elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação iniciada em

1947 foi, segundo o autor, uma resposta a possibilidade dada pela constituição

de 1946. Entretanto quando a lei foi aprovada no dia 20 de dezembro de 1961

não trouxe os benefícios esperados propondo uma realidade limitada quanto a

democratização do acesso ao ensino fundamental.

Sobre esse período, Cunha e Góes (2002) nos mostram que em 1930

com Getúlio Vargas o Brasil vive o esgotamento do populismo e a crise política

começa a se revelar. Diante desse quadro a educação reage e através de

pessoas como Pascoal Leme busca visão mais ampliada da problemática

sócio-política existente que perpassa a sala de aula. Com a crise de 50-60

educadores como Paulo Freire busca a prática social analítica que viabiliza

novos caminhos para educação. Evocando temas como a “Educação dos

adultos e as populações marginais: o problema dos mocambos” e a “Educação

e Atualidade Brasileira” o educador demonstrou grande preocupação com os

caminhos da educação e sua relação direta social, política, educacional

presente nas práticas dos educandos. Paulo Freire acreditava que nos anos 60

seria marcado por um “trânsito” de uma sociedade fechada para uma

sociedade aberta, mais crítica. Eram momentos de esperança, de superação a

tantos planos falidos, como por exemplo, a Cruzada Nacional de Educação

(1932), A Cruzada da Educação e Adultos(1947), a Campanha Nacional de

Erradicação do Analfabetismo e tantas outras. (Cunha e Góes, 2002)

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Os autores nos contam ainda que no final do governo de JK a discussão

da LDB ganha espaço no Congresso Nacional, nos órgãos educacionais,

sindicais, estudantis, imprensa e nos comícios da campanha eleitoral de 1960.

Depois disso, Jânio Quadros governou sete meses e assinou um convênio com

a Igreja católica criando o MEB- Movimento de Educação de Base (21 de

março de 1961) que viria a causar grandes polêmicas no futuro.

Com a entrada de Jango veio o governo parlamentarista com o seu

programa de educação onde estava inserido os seguintes objetivos, segundo

os autores: a expansão e o aprimoramento da rede escolar comum, a

recuperação dos analfabetos e insuficientemente alfabetizados para a nação, a

extensão dos benefícios da cultura a todos os brasileiros, o incentivo a criação

artística, intelectual e científica. Além de alguns planos para a melhoria do

primário.

Segundo os autores, em 1962 com a crise institucional foram medidas

como a Mobilização Nacional contra o analfabetismo, que propunha propósitos

de alfabetização e educação de base, mas que ficou apenas nas intenções.

Esses fatos marcaram o período de descentralização da LDB. Essa discussão

em torno da Lei de Diretrizes e Bases iniciaram em 1948 e assumiu um papel

questionador até 1964 quando foi vetada toda e qualquer discussão popular.

Cunha e Góes analisam que, entre outras polêmicas inseridas na Lei

estava o confronto entre privatistas do ensino na defesa do substitutivo Lacerda

e os educadores que defendiam a escola pública, gratuita, obrigatória e laica

com o Projeto Mariani. Em meio a essa polêmica os católicos se dividiram de

forma que a AEC ( Associação de Educação Católica) defendia a liberdade de

ensino em oposição aos movimentos estudantis JEC( Juventude Estudantil

Católica) e JUC( Juventude Universitária Católica) que defendiam a escola

pública. Cunha e Góes afirmam que a LDB findou sendo uma conciliação

fazendo com que o ensino no Brasil fosse direito tanto do poder público como

do da iniciativa privada.

Freitag (1980) relata a proclamação da educação como direito e dever

de todos omitindo uma realidade social em que a desigualdade está

profundamente arraigada. A autora nos mostra também que é válido ressaltar

que apesar de todos os conflitos da República presidencialista de Jango foi

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proposta a nação: O Plano De Educação(PNE), O Plano Trienal de Celso

Furtado, A Comissão de Cultura Popular e o Plano Nacional de Alfabetização

que foi extinto 14 dias após o golpe de Estado.

Sobre a universidade brasileira, a autora diz que era um verdadeiro local

para poucos e os que por condições econômicas e sociais alcançavam esse

patamar perpetuava essa presença na universidade, pois de alunos poderia

através de indicações passar a assistente ou instrutor e futuramente até

professor. A renovação era inviável nesse período apesar das reivindicações

do Movimento Estudantil.

A autora também ressalta que em alguns lugares esses movimentos

populares se destacavam como Movimento de Cultura Popular- (MCP do

Recife) em Natal; Campanha de Pé no Chão também se aprende a ler e

representando a Igreja Católica Movimento de Educação de Base – MEB. Via-

se uma sede de mudança que trazia resultados de fato, a organização unia

essas massas populares que eram claras em seus objetivos. Esse processo

viabilizou o estreitamento dos laços entre poder público e poder popular

gerando uma educação popular que visava a transformação social. Não foi por

acaso que o método Paulo Freire nasceu no MPC e desde então proporcionou

mitos resultados no âmbito educacional.

Freitag também nos conta que no movimento “Pé no Chão...” as rupturas

foram o grande destaque, pois através de muito trabalho esse grupo conseguiu

romper com pensamento colonizador, com o currículo pauperismo –

analfabetismo - pauperismo, com a hierarquia acadêmica ao gerar seus próprio

docentes e para finalizar ruptura com a teoria e a prática da classe dominante,

comprovando o poder da classe subordinada de criar sua prática de acordo a

sua realidade.

Segundo a autora, o MEB foi criado a partir da união do Governo

Federal de Jânio Quadros com a igreja católica. Sua área de atuação iniciou

nas regiões mais precárias no Norte, Nordeste e Centro-Oeste ganhando

espaço posteriormente em outras regiões.Esse movimento buscava uma

concretização popular através da educação.Foi o único movimento a resistir ao

Golpe de Estado de 1964, apesar da grande perca de impulso registrado nessa

época.

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E para finalizar esses movimentos, a autora cita o Centro Popular de

Cultura órgão Cultural da UNE, que possuía autonomia administrativa e

financeira.Um movimento que surgiu como porta-voz das massas em um teatro

de 150 lugares e ganhou espaço em todo Território Nacional levando o seu

idealizador Vianinha a lutar por ideais bem maiores. Eles buscam a

transformação da massa através da música, da arte, da literatura chegando a

construir seu próprio teatro que infelizmente foi incendiado pelos Lacerdistas

um dia depois da inauguração no Movimento “Caça ás Bruxas” gerados pelo

Golpe do Estado. Esses quatro movimentos juntamente com o Sistema Paulo

Freire mostrou uma face do nosso país de força e coragem de um povo

consciente dos seus objetivos e que buscou dentro das possibilidades por vias

públicas melhorias para educação.

Com o Golpe Militar de 1964 a autora nos mostra que o retrocesso

popular imposto pela repressão se estendeu aos intelectuais comprometidos

com a reforma e aos demais que lutavam nessa mesma causa. A partir de

então a educação brasileira foi confiada a USAID que unida ao MEC buscava

formas de divulgar a nossa ideologia e os seus interesses capitalistas. Com

essa interferência norte-americana na educação brasileira o ensino primário,

médio e superior, os demais níveis, o treinamento de professores e a produção

de livros didáticos, todos sofreram tendências técnicas e capitalistas.

Dessa forma, os movimentos de educação e cultura popular foram

destruídos os seus educadores cassados e exilados. Vítimas dessa repressão

estavam estudiosos com Anísio Teixeira que fora demitido da Universidade de

Brasília logo após o golpe, professores e estudantes universitários forma

expulsos das instituições onde trabalhavam e estudavam e dessa forma a

repressão política ocupava as instituições principalmente onde havia o ensino

público substituindo os mesmos por aqueles que defendiam a escola particular

com o apoio do estado. Os funcionários públicos que não foram demitidos

permaneceram em seus cargos, vivendo sobre constante vigília e ameaças,

pois esse novo rege aspirava ao consentimento popular através do medo.

A partir do exposto acima, observamos que a educação a partir de então

passou a ser um grande negócio, pois com a vitória do Golpe de 1964 os

defensores do ensino privado ganharam espaço e as verbas públicas

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passaram a serem transferidas para as escolas particulares, através de bolsas

de estudo e outros recursos.

De acordo ainda com Cunha e Góes, em 1970 o Censo demográfico

demonstrou que as coisas iam bem, mas o povo ia mal,a renda mal distribuída

os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Nesse

momento os economistas da ditadura atribuem essas diferenças de renda a

falta de escolaridade e a partir de então utiliza os meios de comunicação dos

quais tinha grande domínio para incutir esse papel milagroso da educação na

massa.

Segundo os autores, para solucionar esse problema e conquistar a

população, o governo organiza o Movimento Brasileiro de alfabetização –

Mobral que pretendia diminuir sensivelmente o analfabetismo no Brasil. Com o

intuito de ampliar e melhorar a escola de 1º grau foi utilizado os meios de

comunicação e em 1971 a Lei de Diretrizes e Bases do ensino de 1º e 2º grau

(lei 5.692/71) acabou com o exame de admissão ao ginásio, uniu os diversos

ramos do ginásio em um só e o ligou ao primário. Só que o efeito foi completam

ente o contrário, ao invés do número de alunos na escola aumentarem,

diminuiu, pois com a ampliação as condições de escolarização pioraram na

escola primária englobada no ensino de1º grau. Isso se deu por conta do

Estado que não oferecia condições nem mesmo para quatro anos obrigatório

piorando a situação com a ampliação para oito anos. O resultado foi o aumento

de um milhão de excluídos da escola entre 1970 e 1980.

Apesar de todos esses acontecimentos, Cunha e Góes nos mostram que

a política educacional investiu com mais ênfase no ensino profissionalizante.

Entre as iniciativas houve a multiplicação dos ginásios orientados para o

trabalho e o 2º ciclo do ensino do 2º grau tornou-se profissional. Nas duas

primeiras séries do antigo ginásio predominava as disciplinas de caráter geral,

ao lado das disciplinas vocacionais, nas duas últimas séries aumentava a carga

horária destinada ás disciplinas vocacionais para sondar a escolha do curso

profissional que o estudante iria optar no 2º. E nesse sistema foi criado cerca

de 600 ginásios com a contribuição dos dólares da USAID.

Segundo os autores, na verdade o que esse ensino visava eram o

emprego rápido e mão de obra barata justificada pela industrialização. Desde

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que surgiu essa educação diretamente ligada ao trabalho que seu objetivo está

voltado para a formação dos pobres e marginalizados para atuarem no sistema

produtivo nas funções mais técnicas localizadas nos níveis baixos da hierarquia

ocupacional.

Sendo assim, o governo a fim de modernizar o ensino constrói algumas

grandes escolas bem equipadas beneficiando uma minoria em detrimento da

defasagem da escola pública que abriga a maioria.Na verdade o GOT( ginásio

orientado para o trabalho) Não tinha uma função de fato na sociedade, pois

enquanto a industrialização crescia em busca de grandes técnicos , estes

formavam pequenos artesãos. A educação para o lar reservava as meninas o

domínio do lar, e afazeres domésticos sem nenhuma qualificação que lhe

assegurasse uma capacitação que ultrapassasse os limites do lar. Dessa forma

obtinham-se profissionais desqualificados o que resultava em mão de obra

barata.

Segundo Kuenzer (No ensino de 2º grau o objetivo do ensino

profissionalizante era de frear o ensino clássico inviabilizando a chegada da

classe média nas universidades e a redefinição da mulher que cada vez mais

buscava essas instituições. Temendo a formação dessa grande demanda sem

mercado e sua suposta revolta perante essa realidade impõem-se o ensino

profissionalizante. Porém essa é uma realidade da escola pública, pois apesar

da lei ser abrangente a todos na escola particular ocorria como um faz de

conta, pois os alunos estavam mesmo era interessados no curso superior.

A autora ainda coloca que as escolas técnicas industriais ganhavam

destaque nesse momento proporcionando uma mão de obra qualificada,

apesar da pequena quantidade dessas escolas ao fim dos anos 60 gozavam de

alto conceito.

Kuenzer nos mostra que, com a certeza que encontrariam a solução do

problema o governo transforma o 2º em profissionalizante excluindo o científico

e clássico e a especificidade das escolas técnicas industriais e das escolas

normais, pois a partir de então o 2º grau profissionalizante capacitaria o

profissional como técnico ou auxiliar técnico, garantindo supostamente pelo

milagre econômico um bom emprego e grandes salários. Isso não passou de

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um equívoco, pois quem estava ocupando os lugares dos técnicos eram os

engenheiros por falta não de técnicos, mas de emprego.

Embalado nesse tecnicismo desgovernado, a autora nos mostra que as

habilitações do ensino de 2º grau se ampliam chegando a agosto de1974 e

1958, até mesmo as escolas normais foram desativadas para se tornarem mais

uma habilitação oferecida nas escolas sem qualificação o que provocou grande

queda na qualidade do ensino. Os certificados das escolas técnicas que eram

reconhecidos passou a valer o mesmo que os certificados dos cursos

improvisados. Dessa forma o mercado para o técnico industrial também piorou.

A autora ainda nos mostra que frente a esse caos as resistências se

movimentaram e ganharam força contra a política de profissionalização

compulsória e o governo pressionado reestruturou a lei 5.652/71 sobre o

ensino profissionalizante, aumentando a carga das disciplinas de caráter geral.

Apesar dessa meia-profissionalização as resistências continuaram, além da

pressão dos movimentos de professores, dos empresários do ensino, dos

estudantes e dos técnicos da educação.

Sendo assim, após diversas discussões do Ministério da Educação o

governo enviou ao Congresso um incisivo do projeto de lei que alterou

profundamente a lei 5692/71. Por conta dessa mudança esta lei foi substituída

pela lei 7044/82 onde a qualificação para o trabalho passou a ser substituído

pela preparação para o trabalho.

Kuenzer relata que, com o fracasso da educação profissionalizante as

escolas ficaram a deriva, pois não foi elaborado nenhum método satisfatório

para substituí-lo. As escolas públicas ficaram ainda mias desorganizadas, com

currículos sobrecarregados de disciplinas. As escolas técnicas industriais

nesse momento funcionaram como uj refúgio dos estudantes que sem opção

buscavam uma escola que os qualificasse para os exames vestibulares e esta,

contudo conseguiu manter um ensino de alta qualidade.

Dessa forma, temendo as ideologias do comunismo o governo na

pessoa do General Costa e Silva insistiu na inclusão da disciplina E.M.C

(educação, moral e cívica) nos currículos escolares. De início não foi possível

por conta da resistência de Anísio Teixeira e Dermeval Trigueiro, mas em 1966

apesar da resistência um decreto de Castelo Branco determinou a inserção da

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disciplina em todo país. Dentre outras finalidades essa disciplina teria que

preencher a mente dos jovens impedindo que esta fosse preenchida com ideais

esquerdistas. Além disso, essa disciplina deveria estimular o amor à pátria, ao

seu governo e suas decisões, o culto da obediência a lei, da fidelidade ao

trabalho, e da integração na comunidade e o estímulo a educação física

visando a ocupação do ócio para o estudante não ter tempo para pensar,

analisar e nem disposição para entrar na política.

Dando continuidade ao relato histórico, Harper (1980 et alli) retrata a

decadência escolar na década de 80 e propõe uma leitura crítica e

aprofundada em busca de um verdadeiro significado para essa problemática

como conseqüência de uma crise econômica, política e social vivida pela nação

nesse período histórico.

Para tanto os autores faz uma retrospectiva histórica que possibilita

entender a atual realidade, relatando desde os ensinamentos que partia das

próprias experiências onde a vida, o saber e o trabalho eram inseparáveis até o

surgimento de fato das escolas. No princípio essa escola se restringia a

nobreza, somente com o desenvolvimento industrial que surge a necessidade

de operários com o mínimo de instrução para serem bons cidadãos e

trabalhadores disciplinados.

Os autores nos mostram que a existência desses dois tipos escola cria

uma verdadeira segregação escolar; as crianças do povo freqüentavam a

escola primária que não oferece estudos aprofundados e as crianças da elite

seguiam um caminho com acesso ao ensino de nível superior, monopólio da

burguesia. Os operários indignados com essa situação e sua exploração diária

nas fábricas se unem para lutar por melhores condições de trabalho e por uma

democratização do ensino. Com essa luta operária que ocorre em todo o

mundo vão acontecendo algumas evoluções, aos poucos vai sendo abolido o

sistema de escolas separadas para ricos e pobres dando espaço a um único

tipo de escola onde todos iniciam seus estudos.

Harper et alli nos mostram que a escola a partir de então se torna

aparentemente mais igualitária, porém na realidade apenas adiou a divisão. É

verdade que com esse processo o número de pessoas com acesso a escola

aumentou consideravelmente, porém é nítido que as possibilidades de

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ascensão na sociedade são bem distintas. Os selecionados para dar

prosseguimento a seus estudos e alcançar as universidades são aqueles que

tiverem melhor desempenho ou maiores condições para se dedicar ao estudo

entre outros fatores que finda na exclusão de uma grande maioria que acaba

por adentrar em cursos mais curtos, profissionais e técnicos para atingirem sua

necessidade imediata.

Desta forma a conquista do ensino gratuito e obrigatório para todos

remete a uma vitória fragmentada, pois até os dias atuais quando se faz uma

análise da qualidade pedagógica, estrutural e política oferecidas na realidade

escolar pública é notória a perpetuação da desigualdade social.

Sendo assim, os autores afirmam que toda essa impossibilidade de

métodos formais, tradicionais, e ditadores que a escola transmite impedem o

aluno de se expressar, de participar e de ser aceito com as suas peculiaridades

agrava esse distanciamento aluno X escola alimentando os grandes índices de

evasão escolar dos alunos de classe baixa.

Para finalizar os autores do livro plantam uma semente de esperança e

inquietação em cada leitor colocando a escola como algo mutável e de

constantes transformações e que, portanto através da inovação pedagógica

disposta a reinventar uma prática escolar embasada nas necessidades própria

às crianças, é possível mudar esse quadro.

Quando passamos a analisar a legislação brasileira, observamos uma

série de modificações que atendem a nova forma de organização econômica

chamada neoliberalismo. Se tratando, por exemplo, da Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988 é válido lembrar que esta é a sétima

constituição a reger o Brasil desde a independência e que serve de parâmetro

de validade a todas as espécies formativas. Desde 1964 que o nosso país vivia

sob leis impostas pela ditadura militar e a partir da abertura política surgiu um

anseio por uma nova Constituição. Com o fim da ditadura esse ideal se

materializou através da Constituição de 1988 sofrendo influências populares de

reivindicações sindicais, movimentos de educação, religiosos entre outras

classes. Essa Constituição trouxe apesar de algumas controvérsias políticas,

diversos benefícios para população brasileira como, por exemplo, o direito a

voto para Presidente da República, Governador do Estado e do Distrito

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Federal, Prefeito, Deputado Federal, Estadual e distrital, Senador e Vereador .

Além disso, no Brasil a educação passar a ser regida pela Lei de Diretrizes e

Bases da educação, Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação

Básica e pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério, tem ainda as evoluções dos

direitos trabalhistas com diminuição de carga horária, direito a licença

maternidade e outros benefícios.

Nesse contexto, concordamos com GENTIlLI (1994) quando diz que o

liberalismo surgiu com o objetivo de diminuir as responsabilidades do Estado

de forma que as transferisse para a iniciativa privada e o neoliberalismo

reafirma esse processo através da criação de um espaço em que se torne

impossível pensar o econômico, o político e o social fora das categorias que

justificam o arranjo social capitalista.

Ainda segundo o autor, o discurso liberal atribui à intervenção do Estado

e à esfera pública todos os males sociais e econômicos de nossa atual

realidade, portanto o liberalismo transfere muito das suas responsabilidades

para a sociedade de forma completamente estratégica: através de incentivos

na mídia, na própria escola como “Aparelho Ideológico do Estado” como define

muito bem Bourdieu passando uma idéia de solidariedade que findamos por

nos sentir responsáveis e até culpados diante das mazelas sociais.

Nas escolas a estratégia neoliberal é, segundo o autor, preparar os

alunos para a competitividade do mercado nacional e internacional e incutir as

idéias que proclamam as excelências do livre mercado e da livre iniciativa,

além disso há uma alteração do currículo com o objetivo de dirigir o aluno a

uma preparação voltada para o trabalho.

Ainda dentro dessa realidade escolar, o autor nos mostra que as

dificuldades encontradas nas salas de aula pelos professores e estudantes são

vista como resultado de má gestão e desperdício de recursos por parte dos

poderes públicos, como falta de produtividade e esforço por parte dos

professores (a responsabilidade continua sendo transferida), mas a escola

pública vai mal não por conta desses fatores mais por que a população a que

servem está colocada numa posição subordinada em relação às classes

dominantes de poder.

17

Page 18: trabalho prontinho

O neoliberalismo educacional, segundo o autor, redefine o significado de

termos como direitos, cidadania, democracia, e como conseqüências estreitam

e restringem o campo social e da política, condenando-os a viver em um

ambiente de competitividade. Dessa forma, na medida em que o mundo torna-

se um grande mercado, as relações pautam-se pelos critérios do lucro e do

consumo individualista.

Acreditamos que se torna difícil educar nessa realidade, pois de acordo

com essa lógica, a própria educação passa a ser uma mera mercadoria

oferecida de modo semelhante a qualquer objeto de consumo, no mercado

global. Também observamos que, apesar de todos os esforços teórico-práticos,

o ideal de uma educação crítica e emancipadora continuam sendo o grande

desafio. Não menos importante que isso, a escola ainda está desafiada a

enfrentar outras forças que também (des) “educam” como a internet, a

televisão, o rádio, os jornais e revistas.

Como se pode perceber são questões bastante complexas que se

apresentam neste cenário.

O autor nos mostra que essas mudanças atingiram as diferentes

instâncias sociais, a educação a partir desse período passa por um conjunto de

reformas marcadas pelo discurso da quantidade em detrimento a qualidade. No

campo educacional cruzam inúmeras relações de poder e cultura, pedagogia e

política, memória e história e são nesses espaços todos que nós precisamos

ocupar o nosso lugar e responsabilidade de educadores para tentarmos

redefinir conceitos impostos pelo poder que omite o sentido real de igualdade,

justiça e de um futuro melhor como direito de todos.

Adentrando na análise da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação)

a partir dos trabalhos de Saviani (1999) é importante ressaltarmos que iniciou a

discussão da sua elaboração em 1947, como resposta a possibilidade dada

pela Constituição de 1946 quando determinou a União o encargo de fixar as

diretrizes e bases da educação nacional. Entretanto quando a lei foi aprovada

no dia 20 de dezembro de 1961 não trouxe os benefícios esperados propondo

uma realidade limitada quanto a democratização do aceso ao ensino

fundamental. Com o regime militar implantado por conta do Golpe de Estado a

lei apesar de permanecer com os títulos relativos às diretrizes gerais, sofreu

18

Page 19: trabalho prontinho

modificações nos dispositivos referentes ao Ensino Superior através da Lei

5.540/68 e as normas correspondentes ao ensino primário e médio que,

através da Lei 5.962/71 passou a se chamar de primeiro e segundo graus. Com

o desgaste do regime militar e a elaboração da Constituição de 1988

atualmente em vigor que preserva a competência da União para legislar, em

caráter privativo, sobre diretrizes e bases da educação nacional (Artigo 22,

Inciso XXIV) entrou em vigência no dia 20.12.96 a nova LDB.

Saviani nos conta que até a sua aprovação a LDB passou por processos

polêmicos de muita discussão. Inicialmente a partir da mobilização dos

educadores foi elaborado o que se chamou de anteprojeto de lei que aspirava

como cita Saviani “mecanismos que permitam ultrapassar a falta de unidade e

de harmonia assim como a improvisação e descontinuidade que tem marcado

o nosso país”, visando facilitar as discussões e possibilidades de se alcançar à

aplicação de uma nova Lei de diretrizes e bases que adequasse de fato às

necessidades da sociedade brasileira atual. Amadurecido esse processo a

elaboração da proposta passou por um processo de síntese até se adequar ao

parâmetro necessário a uma Lei de Diretrizes e Bases. Assim sendo a Lei foi

apresentada a Câmara de Deputados pelo deputado Octávio Elísio. Após esse

processo ocorreram muitas emendas e foram incluídas muitas outras propostas

e sugestões vindas da própria comunidade educacional. Enfim veio a

aprovação do substituto Jorge Hage pela Comissão de Educação, Cultura e

Desporto da Câmara dos Deputados em 28.06.90 que marcou mais essa etapa

vencida, mas ainda restavam outros tramites a correr.

Entretanto quando tudo parecia correr bem, Saviani nos conta que

ocorre uma alteração no contexto político e conseqüentemente a correlação de

forças, e em 20 de maio de 1992 deu entrada naquela Comissão do Senado

um projeto de Lei de autoria do Senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ) e assinada

pelos senadores Marco Maciel (PFL-PE) e Maurício Correa (PDT-DF), tendo

sido indicado como relator o senador Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP)

ficando, porém, sem ser apreciado. O projeto citado era inteiramente contrário

ao projeto em tramitação na Câmara, com uma democracia representativa que

resume a participação social ao momento do voto.

19

Page 20: trabalho prontinho

Dessa forma, enquanto cresce a expectativa de aprovação do projeto da

Câmara durante a convocação extraordinária do Congresso em fevereiro de

1993, o projeto de Darcy Ribeiro ganhava espaço para aprovação do seu

projeto. Após muitos percalços políticos o projeto de Darcy Ribeiro passa por

algumas adaptações e altera baseado em mínimas causas do projeto da

câmara. Enfim, depois de mais de sete meses do seu ingresso na Câmara o

projeto em 17 de dezembro de 1996 era aprovada na Câmara dos Deputados

o relatório apresentado por José Jorge (PFL-PE) que possuía ao texto final da

LDB, e em 20 de dezembro de 1996 é promulgada a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional.

Observamos que, sendo essa a nossa atual LDB é facilmente

perceptível os ideais liberais e os interesses privatistas embebidos nesta,

permeada de vocábulos imprecisos ela explicita claramente a intencional

omissão do Governo perante suas responsabilidades.

O autor ainda nos conta que simultâneo ao surgimento da República no

Brasil surgiu as idéias em torno de um plano que desse conta da educação de

todos os Estados brasileiros.Com a evolução social,econômico e político do

país a educação tornou-se necessária para o êxito do seu

desenvolvimento .Visando alcançar todos esses avanços ocorreram reformas

educacionais que viabilizavam cada vez mais a melhoria do ensino em seus

diferenciados níveis.

Saviani relata que a partir do Manifesto dos Pioneiros, movimento como já

foi citado de grande importância para o progresso do ensino foi motivado uma

campanha que resultou na inclusão de um artigo na Constituição de 16 de julho

de 1934. O art. 150 declarava ser competência da União "fixar o plano nacional

de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e

especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do

País". Atribuía, em seu art. 152, competência precípua ao Conselho Nacional

de Educação, organizado na forma da lei, a elaborar o plano para ser aprovado

pelo Poder Legislativo, sugerindo ao Governo as medidas que julgasse

necessárias para a melhor solução dos problemas educacionais bem como a

distribuição adequada de fundos especiais". A partir de então todas as

20

Page 21: trabalho prontinho

constituições incorporaram a idéia de um Plano Nacional De Educação e o

consenso de que o plano devia ser fixado por lei.

O autor nos mostra que o primeiro Plano Nacional de Educação surgiu em

1962, elaborado já na vigência da primeira Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, Lei nº 4.024, de 1961. Inicialmente foi uma iniciativa do

Ministério da Educação e Cultura aprovada pelo Conselho Nacional de

Educação que visava um conjunto de metas e quantitativas e qualitativa a

serem alcançadas em oito anos. Em 1965 passou por uma revisão que

introduziu normas para elaboração de planos estaduais, em 1966 surge uma

nova revisão que resultou nas importantes alterações na distribuição dos

recursos federais que beneficiaram a criação de ginásios voltados para o

trabalho e o atendimento aos analfabetos com mais de dez anos. A idéia de

uma lei ressurgiu em 1967, novamente proposta pelo Ministério da Educação e

Cultura. Com a Constituição Federal ressurgiu a idéia de um plano nacional de

longo prazo.

Por outro lado, de acordo com Saviani, a Lei nº 9.394, de 1996 , que

"estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional", determina nos

artigos 9º e 87, respectivamente, que cabe à União, a elaboração do Plano, em

colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e institui a

Década da Educação. Estabelece ainda, que a União encaminhe o Plano ao

Congresso Nacional, um ano após a publicação da citada lei, com diretrizes e

metas para os dez anos posteriores, em sintonia com a Declaração Mundial

sobre Educação para Todos.

Saviani relata que em 10 de fevereiro de 1998, o Deputado Ivan Valente

apresentou no Plenário da Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 4.155,

de 1998 que "aprova o Plano Nacional de Educação". Em 11 de fevereiro de

1998, o Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional a Mensagem 180/98,

relativa ao projeto de lei que "Institui o Plano Nacional de Educação". Iniciou

sua tramitação na Câmara dos Deputados como Projeto de Lei nº 4.173, de

1998, apensado ao PL nº 4.155/98, em 13 de março de 1998. Na Exposição de

Motivos destaca o Ministro da Educação a concepção do Plano, que teve como

eixos norteadores, do ponto de vista legal, a Constituição Federal de 1988, a

21

Page 22: trabalho prontinho

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, e a Emenda

Constitucional nº 14, de 1995, que instituiu o Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério. Em

torno desse plano estavam os seguintes objetivos: A elevação global do nível

de escolaridade da população; a melhoria da qualidade do ensino em todos os

níveis; a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante a ao acesso

e à permanência, com sucesso na educação pública e a democratização da

gestão no ensino público nos locais oficiais. É relevante ressaltar ainda que

seja construídas prioridades nesse Plano segundo o dever constitucional e as

necessidades sociais como: Garantia de ensino fundamental obrigatório de

sete anos até quatorze anos, assegurando o seu ingresso e permanência na

escola e a conclusão desse ensino; garantia de educação a todos que a ele

não tiveram acesso na idade própria ou que não o concluíram; ampliação ao

atendimento nos demais níveis de ensino; valorização dos profissionais da

educação; desenvolvimento de sistemas de informação de avaliação em todos

os níveis e modalidades de ensino.

Baseado nos trabalhos de Rocha (2006) e Glat, (2003 et alli) procuramos

desenvolver uma discussão em torno do Art.26-A e os parágrafos 1º e 2º

correspondente da Lei de Diretrizes e Bases que defende “Nos

estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e

privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e

indígena.”

De acordo com Rocha e Glat, percebemos a complexidade da temática e

os problemas históricos, sociais e políticos que o mesmo está inserido. Se

tratando mais especificamente da implementação da disciplina História

afrobrasileira e cultura indígena é válido ressaltar que a sua discussão aparece

inserida entre as políticas de ação afirmativa que são resultantes de uma

grande luta do povo negro. Resta saber até onde esta é benéfica ou maléfica

para o reconhecimento do negro na sociedade.

Rocha, em seu trabalho, relata sua própria experiência onde ressalva sua

auto-cobrança perante as notas, no comportamento, nos trabalhos realizados a

fim de provar que “apesar da condição de negro” não era inferior aos outros e

22

Page 23: trabalho prontinho

infelizmente essa ainda é um fato corriqueiro não só nas escolas, mas em

diversas áreas sociais. Traz ainda uma reflexão sobre as aulas de história que

quase sempre remete a história do negro ao coitado, sofrido, diminuído e sem

os traços de humanidade que ele sempre admirou em seus familiares. O autor

em seguida faz uma ressalva isentando o professor da responsabilidade diante

das suas sensações. Entretanto compreendemos ser de suma importância o

papel do professor e sua didática perante o assunto.

Já Glat e os demais autores, trabalham com o enfoque nas práticas

docentes a partir da educação inclusiva,onde percebemos a relevância do

educador e seu domínio do conteúdo a partir de uma visão histórico crítica que

saiba valorizar e reconhecer o negro muito além da capoeira, das danças, das

lutas e da sua famosa culinária, mas que reconheça o negro como parte

integrante do povo brasileiro enquanto mestiço.

Inicialmente, observa-se, a partir do trabalho de Rocha (2006) que a Lei

10639 surge a partir de longas discussões promovidas pelo Movimento Negro

Brasileiro frente à demandas visando à reparação dos danos históricos

ocasionados pela escravidão, indo da valorização da cultura, da identidade, da

questão jurídica, até as reivindicações de ordem material.

Em contrapartida, podemos observar também o interesse de

organizações econômicas, tais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário

Internacional (FMI) na implementação de políticas públicas que favoreçam as

classes mais pobres, não visando uma igualdade plena, mas apenas a

diminuição das elevadas taxas de pobreza, e consequentemente,a diminuição

dos riscos de ações violentas e de revoltas, como também anseiam pela maior

qualificação desses contingentes populacionais para o mercado de trabalho,

gerando assim mais lucros para os capitalistas. Já organismos

internacionais multilaterais, como UNESCO e ONU, segundo Rocha,

enxergam as políticas para grupos historicamente discriminados pelo viés da

fraternidade e convivência entre os povos, quando propõem em congressos

internacionais a assinatura de tratados que visam a diminuição dessas

desigualdades, via políticas de ação afirmativa, que surgem em um momento

oportuno para as políticas neoliberais.

23

Page 24: trabalho prontinho

É dentro dessa teia de contradições que surge a Lei 10639, mas que,

segundo Paixão,

As políticas de ações afirmativas, mesmo carregadas de uma série de contradições podem contribuir como um momento e um dado da luta pela transformação social, na medida que colocam em xeque determinados pilares de sustentação da atual ordem vigente. Torna-se necessário, porém, que essas não sejam um fim em si mesmo.

Para Rocha, a luta pela transformação social inicia - se, -sem perder seu

foco de luta de classes-, na desconstrução do mito de democracia racial e na

falsa noção de inferioridade do negro. Essa desconstrução é proposta a partir

da visão de que o discurso de inferioridade do negro era uma das justificativas

elaboradas cientificamente para dar respaldo e naturalidade à escravidão,

visando a manutenção de sua produção econômica, como também a posterior

construção do mito de “democracia racial”, visando omitir os reflexos da

escravidão para o negro e as desigualdades raciais no Brasil. :

. A crença da convivência cordial e harmoniosa das raças/etnias que compuseram a sociedade brasileira, aliada à construída crença da inferioridade do negro, consolidou um quadro de desigualdade racial estrutural no país. Deste modo, o racismo, aqui, toma formas especiais; ele é negado, velado.

Essas duas construções ideológicas, a inferioridade do negro e a “democracia

racial” constituem-se como parte da ideologia de dominação racial, ainda

presente na sociedade brasileira, e tão enraizada que faz parte do ideário de

muitos negros. Para Rocha, o papel da lei 10.639 consiste em negar e

desconstruir essas criações ideológicas:

Assim posto, os conteúdos relacionados à cultura e à história da África e dos negros brasileiros poderão atuar no sentido de expor as lacunas e as idéias que fundamentaram a ideologia de dominação racial. Assim sendo, a Lei 10639/03 pode constituir-

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Page 25: trabalho prontinho

se como uma ferramenta de luta contra-ideológica, pois “o silêncio, ao ser falado, destrói o discurso que o silenciava” .(CHAUI, Apud Paixão, 2001, p.25)

Quanto ao indígena enfatizamos igualitariamente a busca por uma melhor

exploração desse vasto conteúdo que tanto tem a contribuir para o

reconhecimento do nosso povo e suas ricas raízes. Essa formação crítica em

torno do índio também ainda é muito precária apesar da clareza exposta no

artigo da LDB referente ao tema. A imagem do índio ainda está presa a visão

resumida e alegórica daquele que mora na oca, anda despido e comem

mandioca. Qual o educador responsável ou não pelo vigor na prática da nova

disciplina que estuda os problemas vividos atualmente pelo índio ou fazendo

uma leitura do índio do descobrimento do Brasil?

A lei 11.645/2008, que corrige a 10.638/2003, ampliando a

obrigatoriedade do ensino de História Afro e Indígena, foi construída a partir do

questionamento por parte dos movimentos indígenas,que exigiram que a lei

também tratasse das questões étnico-culturais indígenas.

A partir dessa reflexão é que buscamos analisar a formação do professor

indicado para lecionar a disciplina acima citada, sua capacitação, o seu nível

de entendimento perante a lei e o seu domínio critico do conteúdo exigido pela

mesma

Partindo das finalidades da Lei, que são colocadas por Rocha como a

desmistificação da ideologia de dominação racial, visando conquistas sociais

mais amplas pelo movimento negro, e das contradições nessas finalidades a

partir das expectativas de organismos econômicos internacionais que visam

políticas sociais que desobriguem o estado em suas responsabilidades, alguns

elementos e questões se apresentam como centrais para a análise das

entrevistas, que serão expostos a seguir.

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Page 26: trabalho prontinho

3. Análise

Nesta análise pretendemos investigar de que forma a Lei 11.645 é

aplicada nas Escolas Abdias Menezes (Rede Estadual de Ensino) e Maria da

Conceição Meira Barros (Rede Municipal de Ensino). Visando alcançar esse

objetivo realizamos sete entrevistas de cunho não diretivo, com três

professores regentes, sendo dois da área de história e um de língua

portuguesa; duas professoras que exercem cargo de direção escolar e dois

alunos das escolas correspondentes.

No Colégio Estadual Abdias Menezes conversamos com a professora

que é licenciada em história e rege a disciplina na instituição e com a vice-

diretora que também é licenciada em história e leciona a disciplina de cultura

afro no outro colégio pesquisado.Neste colégio conversamos ainda com

Ludmylle ,aluna do 2º Ano do 2º grau.

Na Escola Municipal Maria da Conceição Meira Barros, conversamos

com a diretora que é licenciada em Geografia, com uma professora que é

licenciada em letras e ensina Cultura Afro, e com o professor que é graduando

em História e também ensina Cultura Afro nessa escola. Por fim, conversamos

com Renato, aluno da 8ª série do colégio.

No início da nossa entrevista com a Vice-diretora do Colégio Estadual

Abdias Menezes, questionamos quanto à existência de discussões sobre a lei

11.645 entre os professores e coordenadores da escola antes da sua

implantação. A mesma respondeu:

Eu acho que sou a menos indicada para responder, porque eu cheguei aqui só tem seis anos. Eu só tenho seis anos aqui no Abdias, então eu não sei, de lá para cá não se discutiu, não.

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Page 27: trabalho prontinho

Remetendo essa mesma pergunta para a professora responsável pela

disciplina de história nesta instituição obtivemos a seguinte resposta:

Não. Na verdade alguns professores vão a fontes e procuram se informar, professores que lêem jornais, professores que tem acesso a internet, que compram revistas que trabalha com a escola, novas perspectivas para o ensino fundamental e ensino médio, essas mudanças todas da LDB tem professores que buscam essas informações em outros lugares até pela Secretaria de Educação, mas o fato é que são poucos, eles são minoria, eles acabam repassando para outros professores as mudanças ,os outros professores é impactante “ah que legal, ótimo”e as vezes um se assusta “e ai como é que a gente vai trabalhar”, se preocupa,mas ninguém vai buscar e essa falta de iniciativa do próprio profissional, mas eu acho que é muito mais do Estado, de dá acesso a esses cursos deformação que elabore por exemplo numa perspectiva didática um programa específico para disciplina.

Quando no Escola Municipal Maria Da Conceição destinamos essa

pergunta para a professora que é graduada em Letras, porém ministra a

disciplina Cultura afro ela nos relatou que:

Eu fiz o curso de Afro e tudo, agora a gente não chegou a fazer nenhuma reunião aqui com os pais, passar em sala, não.

A diretora dessa mesma escola nos deu o seu parecer

perante essa questão com o seguinte relato:

Olha, quando foram falar de Cultura Afro, quem foram chamados lá foram apenas os professores de história e de português, então, quanto a isso aí eu não tenho nem como te ajudar.

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Page 28: trabalho prontinho

O último a ser questionado com essa mesma pergunta foi o professor

graduando de história que leciona a disciplina Cultura Afro nesta escola sua

resposta foi a seguinte:

Sim, Houve. O pessoal da SMED reuniu a comunidade escolar, a SMED, né, a Secretaria Municipal de Educação, reuniu a comunidade escolar pra falar a respeito do ensino de cultura afro, né, que ia ser adotado, por quais razões, que deveria ser adotado esse estudo, essa conversa houve.

Analisando a problemática que debruça sobre essa questão fica muito explícito

as controvérsias. Entretanto, apesar das respostas serem diversas a falta de

comunicação do Estado, de minimização da educação e descaso com a

comunidade escolar é gritante, pois podemos observar que as discussões

foram restritas não sendo de alcance a todos. Consideramos que o

conhecimento dos objetivos acerca da implementação da lei se fazem

imprescindíveis para toda a comunidade escolar, para que se entenda qual é o

verdadeiro papel da disciplina de Cultura Afro-indígena dentro da sala de aula,

e a partir desses conhecimentos, tornar possível uma verdadeira mudança na

sociedade, a partir da escola. Bastaria um pouco de conhecimento de causa

para que as visões a respeito da forma que o governo têm lidado com a

implementação da disciplina fossem mais crítica.

Direcionando-nos para outra questão da mesma importância viemos a

questionar aos educadores quanto à capacitação para habilitar o professor a

docência das temáticas que regem a lei 11.645. A vice-diretora do Colégio

Estadual Abdias Menezes se posicionou dizendo que:

Ó, capacitação, teve assim, é, teve palestrantes nos projetos que a gente fez aqui na escola contemplando essa temática, que contempla a temática do preconceito, da igualdade dos direitos humanos, então, que contemplou, que contemplam, que isso tá dentro do, inclusive a lei 10639 ela, ela é um desfecho dos direitos humanos, é um resultado da luta por direitos humanos, certo? Ao meu ver, então já teve aqui discussão, discussão não, palestras falando sobre.. inclusive

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nós professores fizemos parte de um curso de Direitos Humanos, 3 professores aqui da casa.

Posteriormente perguntamos o mesmo à professora de história do

colégio acima citado e obtivemos a seguinte resposta:

Houve a menção de um curso que inclusive foi formado pela Direc de última hora para as unidades escolares de Vitória da Conquista e os professores rapidamente tiveram que fazer as inscrições indicando sua participação no curso, tinha que se fazer uma justificativa do porque o interesse nessa capacitação mandava via email e lá essa organização se incumbia de selecionar os professores, Eu mandei justifiquei que queria ter acesso as propostas relacionadas a disciplina para elaborar um contexto levando em consideração que a Bahia foi um foco imenso de escravidão , algo na perspectiva da região sudoeste como isso tudo vai se inserir,citei que tinha acabado de fazer minha dissertação de mestrado e eles não me selecionaram.Aqui em Conquista foi 4 ou 5 vagas, e essas foram preenchidas por profissionais de uma única área escolar, todos da instituição Alaor Coutinho,não tem lógica, eu não sei inclusive quem foram esses professores para fazer um contato perguntar como foi o curso, a capacitação. Eles também não multiplicam o conteúdo e nesse aspecto eu acho que a universidade está estancada com relação à comunidade, estancada em relação à educação, a UESB é um centro de educação eles tem que entender que a universidade tem que conversar com a comunidade e a comunidade é o bairro, é a escola. A universidade tem que ser prestadora de serviço a comunidade sim, ela tem que conversar nesse sentido, de levar para dentro dela a comunidade viabilizar essa conversa porque se isso não ocorre, fica sempre assim a lei existe, a disciplina ela é implementada, os ajustes são feitos na educação de cima para baixo, mas na prática as coisas não ocorrem, não funcionam.

Na Escola Municipal Maria Da Conceição Meira Barros a direção nos

respondeu que:

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Teve, sim, tanto que só foi, eu sou professora de geografia, só foi professora de história como eu tô falando pra você, esse foi até um questionamento nosso aqui de geografia, porque nós tivemos uma disciplina África na Uesb, porque a secretaria não admitiu que nós estudássemos Afro. Então, só professor de história e língua portuguesa. Teve capacitação. Olha vocês sentem com a professora que ensina a disciplina, aí, conversem logo com ela aí.

Pela secretaria, eu fiz, agora tem dois anos ou três. Foi logo no primeiro ano. Foi bem, bem elaborado.

Conversando com a professora responsável pela disciplina(graduada em

Letras) foi passado que :

Foi pra quem se dispôs a ir, né? Foi no CAIC, certo? Agora a gente visitou, é... quilombolas, teve outras atividades fora lá do CAIC, teve aquela parte da, das religiões, né? Que teve... mostrando lá... é... mãe, mães de santo.. essas coisas, sei lá, as culturas, e foi mais amplo... Só faltou a gente conhecer o terreiro. Alguns colegas até foram, mas não foi funcionando, né? Foi ver um terreiro simples. Eu não fui nesse dia porque, não sei, acho que eu tive um outro compromisso, não fui. Eu queria ver um terreiro realmente funcionando, o candomblé, tudo, mas não tive essa oportunidade. Ficou pra outra época. Foi muito bom , lá.

Eu fiz acho que uns dois módulos, foi por módulo, dois ou três, eu não lembro bem, mas eu tenho um certificado, em casa, acredito que de 80 horas, que nós fomos lá no coisa Velame,

teve outro grupo que foi aqui no lado... Foi boa, foi... Agora o que falta de Cultura Afro é a secretaria mandar material pra gente aplicar com os alunos, porque eles prometem filmes, e até hoje não chegou nada aqui, chegou?

E finalizando essa questão o professor graduando de história que ensina

nessa mesma escola respondeu que:

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Não, negativo. Nenhuma, eu não fiz capacitação nenhuma. A capacitação que houve foi essa aí que vocês viram, realmente uma coisa precária, entendeu. Todo o material que eu utilizo é de internet.

Dando ênfase ao âmbito da capacitação do professor mais uma vez

percebemos a falta de interesse do Governo. Para haver uma precisão de fato

dos reais objetivos da luta dos negros e índios para implementação dessa lei o

Governo deveria ao menos capacitar os profissionais da área dando um

suporte que fosse além da estigmatização do negro e índio que temos

estabelecida em nossa cultura. Nesse sentido, podemos afirmar que, no Brasil,

a formação de professores segue ainda um modelo inadequado para suprir as

reivindicações em favor da educação inclusiva.Ou seja, segue um modelo

tradicional de formação (Glat, Senna, Oliveira & Ferreira,2003)

Outro aspecto crucial levantado a partir das entrevistas foi a Ausência

de metodologia e conteúdo específico para a disciplina: conseqüência da

falta de material de apoio e capacitações voltadas para uma verdadeira

conscientização política e social do professor. A partir da fala de alguns dos

professores entrevistados percebemos a compreensão do negro a partir

apenas de sua cultura, o que não é suficiente. Esses relatos nos mostram uma

situação preocupante, pois se o professor não se apropriou do discurso de

valorização do negro, não tem acesso a uma preparação ou a um material que

lhe forneça subsídios para fazer valer dentro da sala de aula o real objetivo da

disciplina que é a superação das idéias de dominação racial, isso indica um

impasse na aplicação de fato da Lei.

Continuando a nossa entrevista voltamos para a aplicação de fato da Lei

11.645 no que diz respeito à presença ou não da disciplina na escola. E caso a

resposta fosse negativa qual a iniciativa tomada pela escola para decidir esse

impasse.Inicialmente direcionamos a pergunta a vice-diretora do Colégio

Estadual Abdias Menezes, a mesma respondeu que:

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Ainda não, nós queremos pro ano que vem . Agora, tem uns 23 professores, uns 26, 25 O Abdias tem 78 professores, fazendo curso de inclusão... sabe? .Que o Abdias tem inclusão, também, né, tem inclusão assim, todos, tem que incluir todo mundo, mas a escola tem um trabalho específico com deficiente auditivo, visual, sabe? Cadeirante... baixa visão...

A gente quer o ano que vem, Eu, Patrícia, eu sou da área de História, formada em História, eu, Patrícia, a turma toda da área de história quer sim, geografia também. Porque estava tendo... a disciplina que estava tendo... que est... como... sendo ministrada aqui da parte diversificada da matriz curricular nossa, nós temos geometria, RH, relações humanas, no fundamental nós temos essas duas e no ensino médio a gente tinha, é... regionais, (...) Estudos Regionais, até o ano passado, do ano passado pra cá Estudos Regionais saiu da matriz e nós excl... incluímos sociologia e filosofia. E o ano que vem a proposta nossa é de integrar, de incluir na matriz, tirar RH e colocar história afro-brasileira e indígena.

Ao direcionarmos a mesma pergunta a professora de História da

instituição citada acima obtivemos a seguinte resposta:

Ela não é ministrada na escola. A comunidade escolar não sentou para discutir, existem milhares de disciplinas com temas transversais, com propostas diversas, mas eu não vejo a escola se mobilizando para trabalhar com essa disciplina, eles não conseguem entender a urgência disso, na própria escola, não é. Eu como articuladora da área já tentei organizar os professores para ver como nós vamos trabalhar isso, mas aí a escola veta porque vem a programação da escola e na programação a “mulher” coloca gestão, coloca redação, e muitas outras para completar carga horária de professor. Nesse aspecto tem a excedência que está tomando a escola pública hoje inclusive na escola pública professor que não tem carga horária, que não tem vaga para ensinar, então a disciplina que tiver com maior dificuldade ela tem que criar essas disciplinas para encaixar os professores. Tem pedagogos ensinando sociologia, professor de matemática trabalhando com história, eu não, sempre coloquei o pé na parede dizendo se eu me formei em história quero lecionar

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história é minha disciplina e eu não abro mão disso, mas tem professor que tá recente é novo na escola e não tem carga horária ai ele vai pegando essas disciplinas. O ensino religioso, “me poupe, me economize” essa altura do campeonato com tantas mudanças mundiais, sabe que a educação é uma base e o povo ocupa grade curricular com o ensino religioso, não existe uma coisa dessas. Assim está tirando a oportunidade de trabalhar uma disciplina importante como essa. A escola não criou nenhum espaço para essa disciplina, os professores já se perguntaram houve uns momentos da escola que eles fizeram uma disciplina interessante Estudos Regionais, mas não existe mais essa disciplina, outras diversificadas como ensino religioso, gestão e outra que não me recordo agora estão ficando. Inclusive agora vai entrar diversidade sexual, o pessoal do Movimento Gay da Bahia está tentando viabilizar isso via Secretaria de Educação e provavelmente essa disciplina vai ser colocada diante das questões que envolvem a comunidade escolar, a questão da homofobia. Eu soube disso no IAT, nos congressos que estavam acontecendo de educação, cultura e milhares de planejamento foram feitos, mas na ação até agora não vi nada.

Remetendo a mesma questão à direção da Escola Municipal Maria da

Conceição Meira Barros registramos que:

Tem, mas também tem aquele detalhe que dependendo do professor, o professor de língua portuguesa dá um enfoque na disciplina, e o professor de história dá outro enfoque.

Prosseguindo a nossa conversa com a mesma pedimos para ter acesso

a grade curricular, obtendo a seguinte resposta:

Ô, bem, infelizmente, não. Deixa eu te falar porque: nós estamos em fase de mudança, é documento pra tudo quanto é lado.

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Page 34: trabalho prontinho

A partir da confirmação da disciplina pela diretora da escola a professora

que regia a disciplina (graduada em Letras) pesquisada relatou que:

Eu levei vários textos pra lá, que eu fico xerocando livros , levei lá nos dias de AC... A gente recebeu um livro... parece que dois livros, um sobre vocabulário, e outro, mas só foi agora no final do ano, então a gente tem que ter, assim, um planejamento, uma programação pra cada série, a coisa tá assim muito solta, é uma matéria boa pra trabalhar, eu trabalho muito ... cultura indígena, todas as diferenças, né? Hoje mesmo eu tava fazendo até uma avaliação com eles.. aqui, ó, falando de Era,eu sou normal, a era do camaleão, os anos 80, trabalho músicas, no livro tem muitos textos também, falando de capoeira, de... mas tá faltando, viu, pra gente as músicas, material, filme... Essa semana agora nós planejamos lá no AC que seria uma semana toda em comemoração, e dizem que vai ficar pro dia 30, né, ainda, seria essa semana agora, não sei nem o que é que vai ter, porque eu inscrevi a escola pra filme na Uesb,, pra tudo, as duas escolas, e nada foi feito , nessa parte aí ta faltando, né? Porque nós vimos um filme lá que a menina branca foi descriminada na escola, porque a gente sabe que não é só o negro que é descriminado, é quem estuda muito, não é, quem se destaca, é ridicularizado pelos colegas. Nós já tivemos aqui o caso de uma menina ruiva, que ela era muito descriminada... Então tem esse filme lá que nós vimos, escolhemos pra trazer pra escola, esse e mais outro que é o filme “Da doida”, de Carlos Drummond, que é um curta, 12 minutos, mas até agora...

(...) Eu tenho duas turma como complementação, duas nessa e duas na outra escola. Afro- indígena. Eu trabalho vários textos assim. Aproveito o que tem no livro e o que eu consigo eu trago, mas é mais assim com texto, com música, passei filme pra eles de Michael Jackson, pouca coisa... essa parte que eu quero trabalhar mais, que eu acho que eles interessam mais, é assim, é música, filme, filme, eles gostam.

Agora trabalhar África, assim, estudar mapas, conteúdo assim, isso eu não fiz. Não fiz isso aí. Eu tenho até livros, mas eu não tenho assim, muito conhecimento de geografia pra... Eu se eu for trabalhar, eu posso até... mas a gente tem que ter tempo pra estudo, e quem tem carga horária de 40 horas... Eu acredito que essa matéria seria boa se fosse assim um professor só, como tem inglês, como tem artes...

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Page 35: trabalho prontinho

É, isso aí, pra dedicar mesmo e ter material, porque não tem livro... A gente até comentou com a menina, pro ano que vem, aquela Néia, é Néia, né? Pra fazer um módulo de Cultura Afro, fazer um módulo por série...

E finalizando essa questão colhemos a opinião do professor graduando

de história que leciona a disciplina nessa mesma escola que relatou o exposto

abaixo:

A escola ofereceu um manual, um livro, certo? Que tinha pouquíssimo conteúdo, inclusive eu tenho até ele lá em casa, um livretinho fino, que fornecia material para uma unidade no máximo, e mesmo assim um material muito... resumindo, um livretinho fino, um manual, na verdade, não é um livro, é um manual,né? e aí vinha com algumas músicas que abordavam o tema né, de África, e tudo o mais, nada de especial, de conteúdo, nada.

Discutindo a existência ou não da disciplina percebemos um caos em

ambos os casos. No Colégio Estadual Abdias Menezes foi constatado, embora

também não tenhamos conseguido acesso a grade curricular, um desinteresse

perante a disciplina, como foi constatado no relato da professora da instituição.

E na Escola Municipal Maria Da Conceição Meira Barros apesar da resposta

positiva da direção e professores responsáveis pela disciplina percebemos um

equívoco no que diz respeito ao conhecimento da lei. Na verdade a lei que de

fato foi implementada na escola foi a 10639/03 que diz respeito à

implementação da disciplina de Cultura Afro brasileira desprezando a

renovação da lei que insere o índio nessa disciplina com o objetivo de resgatar

as contribuições dos negros e índios na formação do povo brasileiro. Além

disso, os depoimentos dos professores foram bem claros quanto a

precariedade do material disponibilizado pelo Governo para aplicação dos

conteúdos. Nesse sentido, corre-se o risco da utilização dentro de sala de aula

de 50 minutos que poderiam desfazer enganos seculares estarem sendo

substituída por uma ludicidade sem conteúdo, onde a disciplina acaba sendo

encarada como algo lúdico, desprovido de conteúdo teórico. Dessa forma há

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Page 36: trabalho prontinho

possibilidades de se reproduzir os preconceitos contra os quais a própria lei

tenta lutar, já que, o conteúdo não está formulado e cabe inteiramente ao

professor criá-lo, corre-se o risco de uma confusão entre informação e

conhecimento, onde aspectos e informações adquiridas via meios de

comunicação de massa são colocadas dentro de sala de aula, como se fossem

conhecimentos reais, sem uma reflexão prévia, somadas aos preconceitos

pessoais de cada professor, gerando uma reprodução de informações

amplamente veiculadas, carregadas de preconceitos, de objetivos unicamente

políticos, de dominação e destituídas de conhecimento científico. De acordo

com Rocha,

Assim, a luta contra o racismo e a luta pela superação das desigualdades raciais e sociais é também uma luta contra-ideológica. Desta forma torna-se necessário o restabelecimento de verdades, o preenchimento de lacunas e a superação de visões ideológicas da questão do negro no Brasil. (2006, p.

A partir disso, entendemos que, se o ensino da disciplina fica sob esses

moldes, a escola está fazendo o contrário do que seria o seu papel, que

acreditamos que, dentre muitos outros, seja o de formar cidadãos críticos

capazes de desmistificar essas informações enganosas veiculadas pela mídia

de “massa”.

E para finalizar a nossa entrevista questionamos até que ponto os

mesmos viam a Lei 11.645 enquanto política de ação afirmativa como

benéficas para os negros e índios. Ao direcionar a pergunta a vice-diretora do

Colégio Estadual Abdias Menezes foi colocada a resposta seguinte:

Ah, eu acho que é tudo sempre benéfico, sabe? Primeiro, a minha visão de professora de história, sabe?... É que nós... temos uma dívida que nunca iremos pagar, que é com os africanos. Eu acho que o povo europeu, enfim, tem uma dívida... enfim, nós ainda hoje, desde o primeiro momento de arrancar, pode se dizer, de arrancar os africanos de sua terra de origem e trazer pra outras terras desde esse momento, eu

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Page 37: trabalho prontinho

acho que... a humanidade tem uma dívida com esse povo que nunca irá pagar, e que qualquer política que venha, qualquer política que venha beneficiar essa massa, ...essa classe social, que pode ser negro, os mais pobres, os indígenas, pra mim tudo são ações afirmativas. Eu vejo assim, sabe? Na escola, trabalhar direitos humanos... eu acho que o viés deve ser esse, sabe? Deve ser sempre esse, né? ... Trazer cada vez mais, mais pra...pra realidade deles, nossa, que é nossa, da escola,eles tem que vir pra escola, tem que integrar, tem que vivenciar, as culturas, as etnias devem se misturar cada vez mais, sabe? eu acho que isso é cultura, e isso tem que perpetuar. Sou a favor, sim, da gente mexer na nossa matriz curricular, vamos... vamos melhorar isso aqui, qual é a filosofia da nossa escola, a filosofia é essa, a linha de trabalho é essa, eu sou dessa linha, inclusive eu sou professora de cultura afro, no município, eu ministro essa disciplina, e amo. Eu já pedi pro ano que vem me colocar tudo pra cultura afro, de noite, no Maria da Conceição Meira Barros .

Ao remeter essa mesma pergunta a professora de História da escola acima citada foi respondida que:

Importantíssimo, isso é instrumento de inserção. A educação ela tem que tratar isso a diversidade étnica, religiosa, sexual, e essas propostas elas são importantíssimas antes elas não podem ser jamais descartadas por que nós temos assim lei que promovem a inclusão, políticas de inclusão, Pró Uni, Enem para o aluno de escola pública, as vagas para afrodescedentes, mas essas leis não funcionam se a mentalidade se o comportamento da população não for trabalhado dentro da educação básica, é uma questão comportamental você tem que mudar o comportamento do indivíduo para que ele aceite a diferença, para que ele compreenda a diferença. Alguns anos atrás eu fiz um estudo, eu andei lendo algumas coisas sobre esse processo de demonização das religiões africanas, e afrobrasileiras a questão do candomblé, na dissolução do núcleo do candomblé dentro das favelas, co Rio de Janeiro, nas periferias da grande cidade. As igrejas protestantes que é muito forte mesmo, ainda e que isso é também um problema, porque esse processo de demonização para mostrar que a religião é ruim é do demônio, associa-se ao negro e isso vem por trás daquela questão do racismo. E realmente essas mudanças, esse respeito as diferenças só pode existir quando a gente tem u uma sociedade preparada para lidar com ela. E o que prepara

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Page 38: trabalho prontinho

realmente o homem é a escola. O 1º núcleo é o familiar o que não está ajustado ai você tenta ajustar na escola, não é educação pessoal, mas visão de mundo mesmo é comportamental.

Se não for assim nós não vamos conseguir diminuir os índices do racismo, de violência racial, você ver constantemente essa violência racial no cotidiano, no barzinho que você freqüenta tem restrições, por isso essa disciplina é importante para nós buscarmos nossa origem, se entender como mestiço, como brasileiro, como um povo mestiço. E é todo um processo, eu tinha um aluno que dizia odiar preto e eu disse a ele “menino você vai agora para frente do espelho”. Eu falei “olhe para você menino”, ele era negro e não moreno ou mulato e ele não suportava pensar em uma namorada negra, e ai foi um processo o ano todo, vergonha da família e outras coisas. As pessoas dizem aquele pretinho, mas eu não sou racista, mas aquele pretinho aí eu falo está tão dentro de você que você não reconhece.

E por isso é muito difícil é um processo longo para nós irmos dissolvendo todas essas questões e uma disciplina como essa ajuda muito. Ajuda a valorizar a herança cultural africana, a reconhecer essa herança cultural no seu dia a dia. Não só nas questões folclóricas e de festa, mas de reconhecer você enquanto indivíduo mesmo, enquanto afrodescedente.Minha grande preocupação é que o próprio professor é preconceituoso é cada discurso dentro da sla de profesores, eu questiono se ele é um educador, será, fico me perguntando se você não é apenas um professor de biologia, por exemplo, um apenas um passador de conhecimentos, que vomita conhecimentos na sala de aula.Não é um educador.Porque um educador não pode de forma alguma entrar em uma sala de aula e dizer venha assim “venha cá viadinho”, Priscila chamando o aluno homossexual de Priscila, o aluno no meio dos outros sofre assédio moral constantemente e ainda acha um professor para fazer uma brincadeira sem graça dessa.

Ou então o professor entrar na sala de aula com o “narizinho” tampadinho e quando você pergunta o que foi ele responde é aquela pretinha que não tomou banho hoje. Quer dizer isso não é uma coisa que não existe isso é uma coisa real, que existe sim por isso tem que formar o educador tem que orientá-lo para ele realmente desenvolver um trabalho na perspectiva de promover a mudança de juízo em torno dos negros e indígenas.

No mês passado, por exemplo, a globo passou uma reportagem de umas máquinas do pessoal do MST que

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destruiu uma plantação de laranja, aí foi uma comoção chegou professor reclamando “esse povo do MST é miserável, ladrão invade a terra dos outros”. Na sala de aula eu comecei a falar sobre Movimentos Sociais durante o Governo Vargas e acabou caindo na história do MST e uma aluna indignada com o MST eu questionei: Você conhece o movimento, já foi a algum assentamento, é um dos movimentos mais organizados que o Brasil tem e se alguma coisa tivesse de acontecer de diferente só esse movimento tem condições realmente de fazer , pela sua organização e comprometimento de mudança realmente. E quanto a fazenda ela foi invadida anteriormente por um latifundiário, pois as terras eram do governo , o INCRA já tinha dado o documento dizendo que era terra devoluta, do Estado. Por isso o pessoal do MST quando invadido tratou de tirar logo as laranjinhas do latifundiário. Eles não estavam invadindo as terras de ninguém, mas é muito mais fácil ficar sabendo pela Rede Globo, da boca de Fátima Bernardes e William Bonner.Usurpações de uma terra pública que poderia está sendo dividida por quem não tem.

São questões físicas de terras, de trabalho, mas que perpassam pela questão racial, e étnica que a gente sabe que ainda é grande o número de afrodescendentes e negros que estão na periferia, na favela em situação de miséria. Dando uma aula para uma turma de 6º série falando do canavial para eles só existem negros no canavial, e existiam índios no canavial em situação de escravidão também, eles não conseguem visualizar não conseguem conceber dentro desse contexto de escravidão o índio também porque é vista aquela história factual de que o índio se defendia, fugia da escravidão por isso ele não foi escravizado então o africano despatriado vem para cá trabalhar como mão de obra escrava nos canaviais. Então a história é assim estancada, ela é estanque, ela é imóvel.

Dando seguimento a nossa entrevista na Escola Municipal Maria Da Conceição Meira Barros colhemos a seguinte opinião da professora regente da disciplina de História:

Ah, eu acho ótimo isso aí... né?... Não só para o negro, pra todos. Eu acho que a base de tudo é o respeito, porque se existir respeito não tem esses outros problemas... e pra eles também é um incentivo pra eles estudarem mais, pra não se sentirem assim tão descriminados, que hoje em dia eu acho

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que a coisa tem que melhorar pra todos, são os pobres de um modo geral.

O parecer da direção desta escola nessa questão não foi posicionado. Nesse momento já havia uma indisponibilidade da mesma.Já o professor graduando de história se colocou da seguinte forma :

Olha, eu acho que pra... pra ser realmente uma política de ação afirmativa, é, é.. deveria ser um negócio mais bem elaborado... deveria fornecer mais conteúdo, deveria separar profissionais da área mesmo , de África pra poder conversar com a gente, capacitar, passar os conteúdos a serem trabalhados, então, da forma que ta sendo ministrado, eu acho que não, não desenvolve função alguma, da forma que tá sendo trabalhado nas escolas, por enquanto, não só aqui, como em outras escolas, que eu, no ac, a gente tem um ac mensal que é na secretaria, faz 3 acs na escola e um ac na secretaria, Nesse Ac, a gente se reúne com outros professores que trabalham com cultura afro, e aí a gente troca experiências, materiais e tudo, entendeu? E assim, pelo que eu vi, até agora, tanto aqui na minha escola como em outras escolas, não tem exercido essa função, entendeu? de inclusão do aluno, de modificar a mentalidade, de , de, como é que eu poderia dizer, de... afirmação mesmo do que é ser afro-descendente, do que é a cultura afro, da participação que a África... deu ao Brasil no aspecto de cultura, entendeu? Eu acho que infelizmente, por enquanto ela ainda não ta exercendo esse papel.

Algumas dessas respostas, nos mostra uma aceitação do “porquê” sem

questionar o “como”. Parte dos professores fazem uma análise positiva da lei,

mas sem verificar se ela cumpre sua finalidade ou não, que é a de ser uma

política afirmativa. Podemos verificar que essa é uma aceitação sem mais

questionamentos, que entendemos que seja oriunda da falta de entendimento

do que é a lei e do que ela representa dentro da luta do negro por direitos e

reconhecimento. Mais profundamente, observamos que existe todo um

desconhecimento das lutas no âmbito dos movimentos sociais para a

implementação dessas políticas que desconstruam os mecanismos de

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Page 41: trabalho prontinho

dominação ideológica que ainda existem sobre o negro. Por conta dessa

carência múltipla em torno dos recursos que é praticada a lei, seja por falta de

discussão sobre o assunto na comunidade escolar, por falta de materiais

didáticos mais críticos, ou até mesmo e principalmente falta de conhecimento

docente os preconceitos enraizados em nossa cultura perpassão os tempos de

forma cada vez mais sutil sem previsão de extermínio.

A partir dessa fala, é possível observar algumas questões a respeito da

posição do professor em relação ao ensino de cultura afro, tais como

colocações sobre a necessidade de políticas de inclusão não apenas para os

negros, mas para os pobres em geral. Analisamos que há nessa fala a

diminuição das conseqüências sociais na vida dos negros enquanto vítimas da

escravidão no período colonial e do preconceito até os dias de hoje,

confirmando a fala de Rocha, quando ele nos coloca que:

“No entanto, para a grande maioria dos envolvidos no

processo da educação escolar, a relação entre raça/racismo e

educação passa despercebida. Esta parece ser invisível aos

olhos dos brancos, amarelos, índios e dos próprios negros.

Perpassa pelos bancos escolares uma névoa ideológica,

“quase imperceptível” de sustentação à crença de inferioridade

do grupo negro.” (2006, p. 11)

A fala da professora de língua portuguesa, por exemplo, nos remete ao

conceito citado anteriormente da “democracia racial”, onde se tenta minimizar

os problemas sociais e as ideologias de dominação racial insistindo no discurso

de que no Brasil racismo não existe, demonstrando, de acordo como que já foi

exposto sobre quais são os objetivos da lei perante os Movimentos Negros

Brasileiros, nós pudemos identificar, em diversos momentos das entrevistas, a

falta de entendimento mais teórico do problema social do negro por parte

de professores e direção das escolas.

Outro aspecto relevante encontrado nessa fala é a Vitimização

do negro – abordagem já questionada pela historiografia atual, onde não se

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sustenta uma dicotomia entre negros e brancos, passando a observar a história

a partir do trânsito de agentes sociais, sem maniqueísmos do tipo “bem contra

o mal”. Essa é uma das finalidades da disciplina e da lei: acabar com a visão

do povo negro como sendo vítimas caladas ou apáticas sobre o jugo do

colonizador branco europeu. A própria história da cidade de Vitória da

Conquista nos mostra um “preto forro”, João Gonçalves da Costa, que tinha

seus escravos, capturava índios para serem escravos e teve grande sucesso

economicamente dentro de suas atividades. Entendemos que os objetivos da

disciplina são, como Paixão nos coloca, a ação valorativa da cultura negra,

entretanto, não é apenas um resgate de auto-estima, uma fórmula para que os

negros dentro de sala de aula “não se sintam tão descriminados”. Como Paixão

nos coloca,

Mais do que o aspecto valorativo, a Lei 10639/03 deve atuar no sentido de desconstruir mecanismos ideológicos que dão sustentabilidade aos mitos da inferioridade do negro e da democracia racial. Essa compreensão parece ser fundamental para o êxito da nova legislação, na perspectiva da transformação das estruturas de produção das desigualdades sociais e raciais no país. (2006, p.100)

Para finalizar as nossas entrevistas questionamos dois alunos:

uma estudante do 2º ano do 2º grau do Colégio Estadual Abdias Menezes e um

estudante da Escola Municipal Maria Da Conceição Meira Barros sobre a

importância da implantação da disciplina de História Afro brasileira e cultura

indígena.

A primeira aluna nos respondeu que:

Olha, eu não tava sabendo não, é, eu também acho interessante porque os alunos vai acabar, as pessoas que tem um certo tipo de preconceito, até contra a raça e até contra a cultura vai até saber entender, poder lidar até com essas pessoas, entendeu? Eu acho bom que interagem também alunos de raças diferentes, diferentes culturas.

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Direcionando a essa mesma aluna, perguntamos se ela via muitos

benefícios com relação ao convívio em sala de aula na implantação dessa

disciplina, obtivemos a resposta seguinte:

Acho, ajuda porque muitas pessoas podem se achar inferior também pode sim, ajuda no convívio.

Quanto ao aluno da Escola Municipal Maria da Conceição Meira Barros

questionamos a importância da disciplina a seu ver e o que foi aprendido por

ele nessa disciplina, obtivemos a seguinte resposta:

Aí é difícil... Gostei de saber sobre a cultura africana, sobre os negros, sobre o que ele fazia... Eu aprendi que... você fica sabendo de várias coisas que você não sabia, pronto!

Nessa análise das entrevistas dos alunos Ludmylle e Renato, esse já

como aluno da disciplina, demonstrando o quão pouco representou em sua

formação a disciplina de cultura afro- indígena, pela forma evasiva de suas

respostas, e pela entrevista de Ludmylle, que fala sobre suas expectativas a

respeito da disciplina que será ministrada no ano que vem. Podemos apenas

esperar que esta disciplina, quando for ministrada ano que vem no Abdias

Menezes, que trate efetivamente sobre a dissipação dos preconceitos contra

negros e indígenas, deixando aos alunos mais elementos de sentimento de

identidade e de pertença do que foi deixado ao nosso entrevistado, Renato.

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Page 44: trabalho prontinho

4. Conclusão

Após todo esse período de embasamento teórico e de pesquisa in loco

ouvindo professores, diretores e alunos de escolas públicas a respeito do

funcionamento da lei 11.645/2008, podemos dizer que a partir dos diversos

problemas encontrados relacionados a metodologia de ensino, á historiografia

da áfrica, a questões administrativas do sistema escolar, e relacionados a

questão política que envolve as ações afirmativas, pudemos constatar que a

Lei não cumpre seu objetivo principal enquanto política de ação afirmativa ,

que, de acordo com ROCHA (2006), são a desmistificação da ideologia de

dominação racial, visando conquistas sociais mais amplas pelo movimento

negro.

Esse objetivo de desmistificar preconceitos, que podemos colocar como

bandeira principal do movimento negro sobre o ensino de cultura afro-indígena,

esbarra em diversos obstáculos já analisados anteriormente, que serão

sistematizados a partir de agora, na tentativa de estabelecer os aspectos

fundamentais de entrave e suas contradições a respeito desses objetivos da

lei.

Iniciamos com a constatação de que encontramos na figura do

professor uma forma de trabalho muitas vezes apática e dependente dos

organismos estatais e dos livros didáticos, sem ter um posicionamento mais

ativo dentro do processo de criação dos conteúdos, e se encontra menos ainda

habilitado ou disposto a um trabalho de construção do conhecimento em sala

de aula, com ou sem a participação dos alunos como pesquisadores também.

Não é nosso objetivo aqui buscar as causas dessas deficiências na atuação

dos professores, muito menos as soluções para elas, mas vale ressaltar que

concordamos com Villalta quando diz que

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Um professor frágil do ponto de vista teórico e/ou cuja prática difere radicalmente de seu discurso. Um professor que não planeja suas aulas. Aulas monótonas, pobres do ponto de vista didático e histórico. Esse é o professor real, de uma precariedade teórica e didática assustadora. Se ele é assim, estaríamos então diante do verdadeiro algoz do ensino de história? Não. Esse “professor real” é o resultado de um processo em que salários aviltantes, jornadas de trabalho extremamente pesadas, ausências de recursos e materiais didáticos nas escolas e, como corolário da interação desses elementos, uma “seleção natural” no interior da “espécie docente” rebaixaram terrivelmente o nível do professorado, tornando-o um campo fértil para a incompetência. Mas isso não basta: ao nos restringirmos a esses elementos, estaríamos insistindo num certo “olhar acadêmico” muito bem denunciado por Marcos A. da Silva (1984) que exime a Universidade (...) de sua responsabilidade, neste processo: o “professor” real é também o resultado de uma formação universitária precária, que tangencia a teoria , negligencia a prática e não estabelece qualquer vinculação entre uma e outra. (1993, p. 226-227)

Dessa forma, concordamos com Villalta quando diz que esse professor

real, é fruto de uma série de fatores já descritos na citação acima, incluindo

entre eles a formação recebida dentro das Universidades, que também tem

responsabilidades pela formação desse professor real, e dessa forma

concordamos com a entrevista de uma das professoras, que argumenta sobre

a responsabilidade da Universidade não só coma formação de seus alunos

regulares, mas também com a capacitação dos professores da comunidade a

que a Universidade pertence, já que existe dentro dela o Departamento de

História, que está habilitado com professores da área de África e que poderiam

confortavelmente capacitar os professores para essas áreas.

Já que a Universidade é um organismo governamental, podemos

configurar essa deficiência da Universidade como mais uma forma de

desinteresse do estado, que além do que já foi descrito acima em relação à

Universidade, também não oferece aos professores da rede estadual e

municipal discussões prévias acerca da implantação da lei, também não

oferece formação específica nas áreas de conhecimento de que trata a lei, e

por fim também não fornece recursos a serem utilizados em sala de aula.

Como nos mostra Rocha, a Lei é criada de certa forma para desviar a

atenção dos Movimentos Sociais Negros da inexistência do Ministério de

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Promoção da Igualdade na pasta do recém eleito Presidente Lula. Isso nos traz

um questionamento sobre se o interesse dos órgãos governamentais não fosse

apenas a Lei no papel, cumprindo a função de atenuadora das reivindicações

ou das frustrações do Movimento Negro a respeito da atuação do governo Lula,

e sendo assim, o seu cumprimento efetivo nos estabelecimentos escolares não

fosse assim tão importante, mostrando a nossa pesquisa um dos motivos de a

Lei não sair do papel? Esse é um questionamento que aqui não nos propomos

a responder, mas que com certeza é pertinente e relevante para estudos

posteriores.

Também relacionado ao papel do estado, pudemos observar uma

relação de dependência, e porque não dizer, de subserviência dos professores,

sobretudo daqueles ligados a cargos de direção das escolas, ao discurso do

estado, procurando atenuar fatos como a falta de abrangência do material

didático entregue aos professores, como a entrega das disciplinas apenas para

complementação de carga horária, ou como a inconsistência da capacitação

oferecida pelo município (que para ser confirmada ou não, precisaria ser

investigada posteriormente) , deixando claro uma defesa absoluta das ações

do estado, talvez por convicção ideológica ou por pressões relativas aos cargos

de direção, mas que resulta em uma aceitação total das ações do estado sem

uma maior discussão, sem um maior questionamento das formas como essas

ações acontecem, e muito menos ainda, questionam se essas ações estão

alcançando os objetivos a que se propõem.

Outro aspecto encontrado por nós bastante relevante é a falta de

entendimento teórico da questão do negro e a ausência de metodologia e de

conteúdo específico sobre a disciplina de história afro-indígena, o que traz

como graves conseqüências, como a vitimização do negro em sala de aula e o

desenvolvimento de atividades lúdicas sem nenhum conteúdo. Percebemos

através da pesquisa que na realidade, o que acontece é e a transformação de

um espaço que, inicialmente era voltado para dissipar preconceitos, em um

espaço de difusão de novos e velhos preconceitos, já que, como vimos pela

entrevista da professora de língua portuguesa, quando não se tem o domínio

do conteúdo específico, acaba-se transmitindo em sala de aula aquilo que

“pensamos” que é correto: associação do negro apenas à música, à dança, à

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capoeira, à religião de matrizes africanas, esquecendo-se de mostrar o negro

também como intelectualmente capaz e esquecendo-se também de

desmistificar vários outros enganos sobre os negros e indígenas.

De acordo com tudo o que já foi exposto acima, nós concluímos que a

Lei 11.645/2008 é pouco conhecida, onde a comunidade escolar conhece mais

a 10.638/2003, mas que, entretanto, não a põe em prática como ela deveria ser

aplicada. Se nós iniciamos a pesquisa querendo averiguar a aplicação da lei no

que tange ao ensino de história indígena, qual não foi a nossa surpresa ao

constatar que nem a parte que concerne ao ensino de cultura afro-brasileira

vem sendo aplicada de forma correta e coerente, que ela é aplicada sem maior

formação do professor pelo estado, sem fornecimento de material didático pelo

estado, sem maior interesse pessoal do professor em se aperfeiçoar, sem

apoio de órgãos como a UESB- Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,

que poderia ser de grande relevância na formação desses professores.

Dessa forma, o que concluímos é que o espaço criado pela lei

11.645/2008 para a dissolução de preconceitos dentro do ambiente escolar, é

muitas vezes utilizado de forma errônea, o que faz com que o que seja

veiculado nesses espaços, em sala de aula, sejam os mesmos valores

discriminatórios e de preconceito pelos quais a lei existe para combater.

Não cabe a nós, agora, revelar culpados e propor soluções para essa

situação, já que isto demandaria tempo de estudo e pesquisa muito maiores do

que até mesmo uma monografia de final de curso poderia proporcionar.

Entretanto, acreditamos ser esse um objeto de pesquisa extremamente

importante e pertinaz para estudos posteriores

O que fica mais claro a nós é representado pela análise das entrevistas

dos alunos Ludmylle e Renato, esse já como aluno da disciplina, demonstrando

o quão pouco representou em sua formação a disciplina de cultura afro-

indígena, pela forma evasiva de suas respostas, e pela entrevista de Ludmylle,

que fala sobre suas expectativas a respeito da disciplina que será ministrada

no ano que vem. Esperamos sinceramente, que a disciplina se estabeleça de

forma a atender as expectativas de Ludmylle, servindo cada vez mais para a

dissipação dos preconceitos contra negros e indígenas, deixando aos alunos

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Page 48: trabalho prontinho

mais elementos de sentimento de identidade e de pertença do que foi deixado

ao nosso entrevistado, Renato. Quem sabe, se a disciplina tivesse sendo

ministrada de forma diferenciada na escola em que ele estuda, as suas

respostas, enquanto aluno negro, tivessem sido diferentes, mais

contextualizadas, mais conscientes de sua história e de sua importância

enquanto negro. Isso é o que nós, enquanto pesquisadoras e educadoras

esperamos observar daqui a alguns anos, caso voltemos a esse objeto de

estudo.

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5. Conclusão Individual.

Por Kelly Silva Prado Andrade

Acredito que, pelo meu interesse por história indígena, explicado tanto

pela genética, pelo sentimento absoluto de pertença racial às nações

indígenas, gerador da paixão por essa temática, quanto pelo sentimento de

necessidade de se resgatar essa história, envolvi mais um trabalho acadêmico

dentro dessa temática que eu amo tanto.

E qual não foi a surpresa, o espanto, e porque não dizer, a tristeza ao

ver que se nem as demandas do Movimento Negro são contempladas pela lei,

são muito menos ainda atendidas as demandas dos povos indígenas por

igualdade.

A primeira reação foi de vontade de mudar de temática. Mas, depois, me

conformei com o novo objeto de estudo e foram necessárias novas leituras

para que fosse possível o entendimento da lei 10.639/2003, já substituída pela

11.645/2008. Após as leituras, passamos a um segundo momento das

entrevistas, onde a afinidade pela temática foi sendo enriquecida com a

problematização dos pontos que foram sendo levantados durante a entrevista.

Uma temática oriunda de uma lei, que dentro do corpo da LDB nos

parece tão simples e tão direta, ao observarmos a sua prática, torna-se tão

complexa, tão cheia de mecanismos, de elementos favoráveis e desfavoráveis,

que nos impele muitas vezes a querer continuar com essa temática. Quando

pensamos em uma Lei, que nada mais é do que um mecanismo de ação e

interferência do estado frente ao processo educativo, mas que poderia estar

sendo empregada de forma a minimizar construções ideológicas que perduram

em nossa sociedade há tanto tempo, queremos tentar entender os mecanismos

e as causas que a fazem se tornar ineficaz.

E foi isso que fizemos: a partir das entrevistas a nós concedidas,

tentamos encontrar as causas da ineficácia da lei, e o que achamos foi sempre

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relacionado ao estado e seu descompromisso com qualquer causa social,

sobre o descompromisso dos professores com a causa da promoção da

igualdade, levando na verdade à contramão do que se queria fazer : em vez

de se promover a igualdade e a dissolução dos preconceitos historicamente

construídos contra negros e indígenas, o que se faz em sala de aula, muitas

vezes, é disseminar esses mesmos preconceitos.

Essa constatação é, ao mesmo tempo dolorida e instigante, na medida

em que nos mostra uma realidade que nos impulsiona a fazer algo mais, a

contribuir como pesquisadora e como educadora para a melhoria desse

quadro, para um maior cumprimento de uma lei que, a princípio, poderia

efetivamente exercer seu papel de modificação de conceitos e de preconceitos.

Acredito que constatações como essa me impulsionam a querer mais

dentro da pesquisa, a pesquisar não só problemas, mas também soluções e

inovações sobre a temática indígena, para a história indígena, para que essa

discussão cresça, ocupe mais espaços dentro da academia e fora dela, para

que, cada vez mais pessoas procurem os cursos de especialização latu e

strictu sensu voltadas para a temática indígena.

Situações como a de uma colega do curso de história, que concorreu

este ano a uma vaga na seleção do mestrado em História Social da UFBA, e

que foi a única concorrente que se propunha a estudar História Indígena,

dentre mais de 80 inscritos, serão cada vez menores, a partir do trabalho

incansável, dentro da pesquisa histórica e da prática em sala de aula, de uns

poucos (que futuramente serão muitos) apaixonados por História Indígena,

como eu.

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6. Conclusão Individual.

Por Séfora Barros da Silva

O trabalho exposto proporcionou um grande crescimento na minha vida

acadêmica. Como todo projeto exigiu muita dedicação e esforço.

A importância do tema estudado me despertou ainda mais para a

problemática étnico-racial que vive o nosso país, principalmente quando

partimos para a observação prática. Pesquisando a presença da disciplina de

História e Cultura afro- brasileira e cultura indígena conforme determina a Lei

11.645 no Colégio Estadual Abdias Menezes e na Escola Municipal Maria da

Conceição Meira Barros constatamos os diversos problemas em torno da

aplicação da lei. Entre eles poderia citar: a falta de uma discussão prévia a

implantação da lei, a falta de materiais que proporcionasse uma visão crítica da

questão e principalmente a falta de uma capacitação que realmente

conscientizasse o professor em torno das lutas do movimento negro e indígena

pelo seu espaço na sociedade.

Portanto pude concluir que a lei existe, porém o Governo não oferece

subsídios para que a mesma alcance o seu objetivo. Por conta disso a

mistificação do negro como povo sofrido, inferior e do índio como o resumido

personagem da história que vive despido, mora em ocas e come mandioca se

perpetua no decorrer dos séculos.

É preciso que em um país miscigenado como o nosso as pessoas

despertem e se descubram como negros e índios o quanto antes para terem

condição de se entender como povo brasileiro.

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7. Anexos

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Cronograma

DATA ATIVIDADES03/11 Exposição do Roteiro05/11 Entrega de Ofícios10/11 Estudo da LDB12/11 Elaboração da Justificativa17/11 Visita ao Colégio Estadual Abdias Menezes e ao SMED19/11 Visita a residência da Prof. de História(CEAM)20/11 Visita a Escola Maria Da Conceição Meira Barros24/11 Elaboração da revisão teórica e da análise26/11 Entrega da primeira versão01/11 Correções da revisão teórica e da análise03/11 Revisão geral do trabalho08/11 Apresentação Final

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Perguntas utilizadas nas entrevistas

Antes da implementação da Lei 11.645 aconteceram discussões com os professores e demais membros da comunidade escolar a respeito do projeto e

lei?

Aconteceram capacitações voltadas para habilitar o professor para a docência das temáticas que regem a Lei 11.645?

A disciplina foi ou é ministrada na escola? Se caso não estiver sendo ministrada, explique-nos porque e quais as saídas adotadas pela comunidade

escolar para resolver esse impasse?

Até que ponto a Lei 11.645 enquanto política de ação afirmativa é benéfica aos negros e índios?

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Referências bibliográficas:

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