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1 INTRODUÇÃO A palavra Teoria tem origem grega“Visão”, constitui a forma sistemática de olhar o mundo, para descrevê-lo, explicá-lo, prevê-lo ou controlá-lo. Composta de conceitos, definições, modelos, preposições e suposições. Teoria de Enfermagem é a forma de relacionar conceitos, através do uso de definições que sejam úteis ao desenvolvimento de inter-relações significativas para a descrição ou classificação da prática. Existem várias teorias de enfermagem como: Teoria Ambiental: F. Nightingale; Teoria das Necessidades Básicas: Virginia Henderson ; Teoria do Autocuidado: Dorothea Orem; Teoria da Adaptação:Sister Calista Roy; Teoria das Relações Interpessoais em Enfermagem: Hildegard Peplau; Teoria Holística: Myra E. Levine; Teoria do Modelo Conceitual do Homem: Martha Rogers; Teoria das Necessidades Humanas Básicas:Wanda Horta; Teoria Alcance dos Objetivos:Imogenes King; Teoria Transcultural: Madeleine Leininger. Este trabalho tem como objetivo estudar e refletir sobre a Teoria Transcultural de Madeleine Leininger, pois na visão de Leininger, a Enfermagem é uma disciplina de cuidados transculturais humanísticos e uma profissão cujo propósito maior é servir o ser humano. Para ela o paradigma qualitativo proporciona novas formas de saber e diferentes meios de descobrir as dimensões do cuidado humano transcultural que, por sua vez, se constitui numa contribuição especial da Enfermagem à sociedade, com

Trabalho Sobre Teoria de Leininger

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1 INTRODUÇÃO

A palavra Teoria tem origem grega“Visão”, constitui a forma sistemática de olhar o mundo, para descrevê-lo, explicá-lo, prevê-lo ou controlá-lo. Composta de conceitos, definições, modelos, preposições e suposições. Teoria de Enfermagem é a forma de relacionar conceitos, através do uso de definições que sejam úteis ao desenvolvimento de inter-relações significativas para a descrição ou classificação da prática. Existem várias teorias de enfermagem como:

• Teoria Ambiental: F. Nightingale;

• Teoria das Necessidades Básicas: Virginia Henderson ;

• Teoria do Autocuidado: Dorothea Orem;

• Teoria da Adaptação:Sister Calista Roy;

• Teoria das Relações Interpessoais em Enfermagem: Hildegard Peplau;

• Teoria Holística: Myra E. Levine;

• Teoria do Modelo Conceitual do Homem: Martha Rogers;

• Teoria das Necessidades Humanas Básicas:Wanda Horta;

• Teoria Alcance dos Objetivos:Imogenes King;

• Teoria Transcultural: Madeleine Leininger.

Este trabalho tem como objetivo estudar e refletir sobre a Teoria Transcultural de Madeleine Leininger, pois na visão de Leininger, a Enfermagem é uma disciplina de cuidados transculturais humanísticos e uma profissão cujo propósito maior é servir o ser humano. Para ela o paradigma qualitativo proporciona novas formas de saber e diferentes meios de descobrir as dimensões do cuidado humano transcultural que, por sua vez, se constitui numa contribuição especial da Enfermagem à sociedade, com significados científicos, históricos e humanísticos em uma abrangência biofísica, política, social e cultural.

2 MADELEINE M. LEININGER

Madeleine M. Leininger recebeu sua educação básica em enfermagem na St. Anthony’s School of Nursing Denver, CO, e graduou-se em 1948. Em 1950, obteve o bacharelado em ciências do Benedictine College, Atchison, KS; em 1953 o mestrado em ciência da enfermagem da Catholic University,

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Washington, Seattle. Ela é membro da American Academy of Nursing e possui doutorado em ciências humanas do Benedictine College.

A Dra. Leininger é a fundadora do subcampo transcultural de enfermagem. Ela é professora de enfermagem e antropologia e pesquisa no atendimento humano, Colleges of Nursing and Liberal Arts, Wayne State University. Assumiu postos, tanto no corpo docente quanto no administrativo; no ensino de enfermagem sua publicação é extensa.

Nos anos 40, Leineinger (1991) reconheceu a importância dos cuidados para a enfermagem pelo entendimento. Em meados dos anos 50, experimentou o que descreve como um choque cultural enquanto trabalhava em um lar de orientação infantil no meio-oeste dos EUA, trabalhava como enfermeira clínica especialista com crianças perturbadas e seus pais, com isto percebeu diferença de comportamento recorrentes entre as crianças e concluiu que essas diferenças tinham uma base cultural. Identificou a falta de conhecimento sobre a cultura das crianças como o elo que faltava, na enfermagem, para o entendimento das variações de cuidados para os clientes. Essa experiência transformou-a na primeira enfermeira profissional no mundo a obter um doutorado em antropologia e propiciou o desenvolvimento do novo campo da enfermagem transcultural como um subcampo da enfermagem. Leininger inicialmente usou os termos “enfermagem transcultural”, “etno enfermagem” e “enfermagem cultural cruzada” nos anos 60. Em 1966, na Universidade do Colorado, ministrou o primeiro curso de enfermagem transcultural.

3 TEORIA DE LEININGER

Em 1985, Leininger publicou a primeira apresentação como teoria e em 1988 e 1991, apresentou maiores explicações sobre suas idéias. A enfermagem é definida como “uma profissão e uma disciplina aprendida e humaniza enfocada no fenômeno e nas atividades do cuidado humano para assistir, apoiar, facilitar ou capacitar indivíduo ou grupos a manterem ou readquirirem seu bem-estar (ou saúde) em forma culturalmente significativas e benéficas ou para ajudar a pessoa a enfrentar a deficiência ou a morte” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.298).

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O atendimento profissional de enfermagem (cuidar) é definido como “o conhecimento de cuidados profissionais e habilidades práticas aprendidos, formal e cognitivamente, e obtida através de instituições educacionais que estão acostumadas a proporcionar atos assistenciais, apoiadores, capacitadores ou facilitadores para outro ou por outro indivíduo ou grupo, visando melhorar a condição de saúde humana (ou bem-estar), a incapacidade e o modo de vida ou para trabalhar com clientes à morte” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.300). O cuidado cultural congruente (enfermagem) é definido como “os atos ou as decisões assistenciais, apoiadoras, facilitadoras ou capacitadoras, cognitivamente baseadas, que são elaboradas para se ajustarem aos valores culturais, crenças e modos de vida, de um indivíduo, grupo ou instituições, visando proporcionar ou apoiar o atendimento de saúde significativo, benéfico e satisfatório, ou os serviços de bem-estar” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.300). Leininger denominou a sua teoria de diversidade e universalidade do cuidado cultural e a descreve no modelo Sunrise (ver figura I abaixo).

Figura 1 – Modelo Sunrise

Fonte: Livro de GEORGE, Júlia B. Teorias de Enfermagem. Fundamentos à Prática Profissional. 4ª Edição. 2000. p. 301.

Leininger (1991) salientou que o modelo não é a teoria, mas uma descrição dos componentes da teoria de diversidade e universalidade do cuidado cultural. A finalidade do modelo é de auxiliar o estudo de como os componentes da teoria influenciam o estado de saúde e o atendimento proporcionado aos indivíduos, famílias, grupos, comunidades e instituições de uma cultura. Ela apresenta argumentos convincentes para o uso do modelo na orientação da pesquisa de descobrimento que usa métodos de estudo qualitativos e etnográficos. Ela condena o uso de definições operacionais e de noções pré-concebidos e o uso de perspectivas causais ou lineares no estudo da diversidade e da universalidade do cuidado cultural. Apóia a importância de descobrir o que é, de explorar e descobrir a essência e os significados do cuidado.

3.1 TEORIA DE LEININGER E METAPARADIGMA DE ENFERMAGEM

Em 1985, Leininger publicou a primeira apresentação de seu trabalho como teoria em 1988 e 1991 apresentou maiores explicações sobre suas idéias, Na apresentação de 1991, proporcionou definições orientadoras para os conceitos

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de cultura, cuidado cultural, diversidade do cuidado cultural, universalidade do cuidado cultural, enfermagem, visão de mundo, dimensões da estrutura cultural e social, contexto ambiental, étno-história, sistemas de cuidados genéricos (popular e leigo), sistemas de cuidados profissionais, assistência de enfermagem culturalmente congruente, saúde, cuidado/cuidar, conservação do cuidado cultural, ajustamento do cuidado cultural e repadronização do cuidado cultural. Algumas destas definições eram de trabalhos anteriores e algumas eram originais do trabalho de 1991. Leininger salienta que essas definições são guias provisórios que podem ser alterados conforme a cultura é estudada.

Além das definições, ela apresentou pressupostos que apóiam a sua previsão de que “culturas diferentes, apesar de haver pontos comuns no cuidado de todas as culturas do mundo. Ela refere-se aos pontos comuns como universalidade e às diferenças como diversidade.

A cultura é definida como os valores, crenças, normas e modos de vida de um determinado grupo aprendidos, compartilhados e transmitidos e que orientam seu pensamento, suas decisões e suas ações de maneira padronizada” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.298). Um pressuposto relacionado é que os valores, as crenças e as práticas param o cuidado culturalmente incorporadas no “contexto de visão de mundo linguístico, religioso (ou espiritual), de companheirismo (social), político (ou legal), educacional, econômico, tecnológico, etno-histórico e ambiental” da cultura (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.298).

A diversidade do cuidado cultural indica “as variações e/ou as diferenças nos significados, padrões, valores, modos de vida ou símbolos de cuidado dentro ou entre coletivos que são relacionados às expressões assistenciais, apoiadores ou capacitadoras do cuidado humano” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). Contrastando, a universalidade do cuidado cultural indica “os significados, padrões, valores, modos de vida ou símbolos comuns, similares ou dominantemente uniformes de cuidados, que se manifestam em muitas culturas e refletem as formas assistenciais, apoiadoras, facilitadoras ou capacitadoras de auxiliar as pessoas” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). Presume-se que enquanto o cuidado humano é universal através das culturas, o cuidar pode ser demonstrado através de diversas expressões, ações, padrões, estilos de vida e significados. O cuidado cultural é definido como “os valores, as crenças e os modos de vida padronizado aprendidos, subjetiva e objetivamente e transmitido que auxiliam, sustentam, facilitam ou capacitam outro indivíduo ou grupo a manter seu bem-estar, saúde, melhorar sua condição humana e seu modo de vida ou lidar com a doença, a deficiência ou a morte” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). O pressuposto

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relacionado é que o cuidado cultural é “o meio holístico mais amplo para conhecer, explicar, interpretar e prever o fenômeno do atendimento de enfermagem visando orientar as práticas de cuidados d enfermagem” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299).

A visão de mundo é a forma na qual as pessoas vêm o mundo ou o universo e formam um “quadro ou instância de valor” sobre o mundo e as suas vidas (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). As dimensões culturais e de estrutura social são definidas como envolvendo “os padrões e os aspectos dinâmicos dos fatores estruturais e organizacionais inter-relacionados de uma determinada cultura (subcultura ou sociedade) que incluem os valores religiosos, de companheirismo (social), políticos (legal), econômicos, educacionais, tecnológicos e culturais, os fatores etno-históricos e como esses fatores podem estar inter-relacionados e funcionam para influenciar o comportamento humano em diferentes contextos ambientais” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). O contexto ambiental é “a totaldade de um evento, situação ou experiência particular que dá significado às expressões humanas, interpretações e interações sociais em ambientes físicos, ecológicos, sócio-políticos e/ou culturais determinados” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). A etno-história inclui “os fatos, os eventos, as instâncias, as experiências passadas de indivíduos, grupos, culturas e instituições que são principalmente centralizadas em pessoas (etno) e que descrevem, explicam e interpretam os modos da vida humana em determinados contextos culturais e durante períodos curtos ou longos de tempo” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). O conhecimento de significados e práticas derivadas da visão do mundo, de fatores da estrutura social, de valores culturais, do contexto ambiental e de usos de linguagem são essenciais para orientar as decisões e as ações de enfermagem na promoção do cuidado cultural congruente” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299).

Os sistemas de cuidados genéricos (populares ou leigos) são “conhecimentos e habilidades tradicionais, populares (com base domésticas), culturalmente aprendidos e transmitidos usados para proporcionar atos assistenciais, apoiadores, capacitadores ou facilitadores para outro ou por outro indivíduo, grupo ou instituição com necessidades evidentes ou antecipadas de melhorar um modo de vida humano, uma condição de saúde (ou bem-estar) ou para lidar com situações de deficiência e morte” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). O conhecimento genérico ou popular é êmico. Os sistemas de cuidados profissionais são definidos como “o cuidado profissional formalmente ensinando, aprendido e transmitido assim como o conhecimento de saúde,

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doença, bem-estar e as habilidades práticas as que prevalecem em instituições profissionais, geralmente com pessoal multidisciplinar para atender aos consumidores” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). O conhecimento do cuidado profissional é ético. A saúde é “um estado de bem-estar culturalmente definido, valorizado e praticado que reflete a capacidade dos indivíduos (ou grupos) para desempenhar suas atividades diárias em modos de vida culturalmente expressos, benéficos e padronizados” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). Os pressupostos relacionados são de que todas as culturas têm práticas de cuidados de saúde genéricas ou populares, de que as práticas profissionais geralmente variam nas diferentes culturas e de que em qualquer cultura existirão as similaridades e as diferenças culturais entre os recetores dos cuidados (genéricos) e os prestadores de cuidados profissionais.

Os cuidados, como substantivo, são definidos como “o fenômeno abstrato e concreto relacionado com a assistência, o apoio ou a capacitação de experiências ou de comportamentos para outros ou por outros com necessidades evidentes ou antecipadas para melhorar uma condição humana ou forma de vida” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). Presume-se que o cuidado seja o enfoque distinto, dominante, unificador e central da enfermagem e que. Apesar de a cura não pode ocorrer sem a cura não poder ocorrer efetivamente sem o cuidado, o cuidado pode ocorrer sem a cura. Cuidar como verbo, é definido como “as ações e atividades dirigida para a assistência, o apoio ou a capacitação de outro indivíduo ou grupo com necessidades evidentes ou antecipadas para melhorar uma condição humana ou forma de vida ou para encarar a morte” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.300). Os pressupostos relacionados com o cuidado e o cuidar incluem o fato de que eles são essenciais para a sobrevivência dos homens assim como para o seu crescimento, saúde, bem-estar, cura e capacidade de lidar com as deficiências e a morte. As expressões, os padrões e os modos de vida têm significados diferentes em contextos culturais diferentes. O fenômeno do cuidado pode ser descoberto ou identificado pelo exame da visão de mundo, da estrutura social e da linguagem do grupo cultural.

Leininger define a saúde, mas não especificamente os principais conceitos de ser humano, sociedade/ambiente e enfermagem. No entanto, sua visão desses conceitos pode ser deduzida a partir de suas definições e de seus pressupostos conceituais. Ela também apresenta o argumento do cuidado como conceito central no metaparadigma de enfermagem (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.302).

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Os seres humanos são mais bem representados em seus pressupostos. Os homens são considerados capazes de cuidar e de preocupar-se com as necessidades, o bem e a sobrevivência dos outros. O cuidado humano é universal, isto é, em todas as culturas. Os homens têm sobrevivido nas culturas e ao longo do lugar e do tempo porque são capazes de cuidar dos bebês, das crianças e dos idosos de maneiras variadas e em muitos ambientes diferentes. Assim, os homens são universalmente seres cuidadores que sobrevivem em uma diversidade de culturas pela sua capacidade de proporcionar a universalidade do cuidado de várias maneiras e de acordo com as diferentes culturas, necessidades e situações. Leininger (1991) também indica que a enfermagem como ciência do cuidado deve enfocar além da interação tradicional enfermeira-paciente, incluindo “famílias, comunidades, culturas completas e instituições” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.302). Assim como as instituições mundiais de saúde e as formas de desenvolvimento de políticas e práticas de enfermagem internacionais. Ela salienta que em muitas culturas não-ocidentais a família e as instituições dominam. Nessas culturas, a pessoa não é um conceito importante. Na realidade pode não haver um termo para pessoa no idioma.

Sociedade/ambiente não são termo definido por Leininger; ela fala, em vez disso, em visão de mundo, estrutura social e contexto ambiental. Contudo, sociedade/ambiente, e considerado representado na cultura, ao um tema importante na teoria de Leininger. O contexto ambiental é definido como sendo a totalidade de um evento, situação ou experiência. A definição de cultura de Leininger (1991) enfoca um determinado grupo (sociedade) e a padronização de ações, pensamento e decisões que ocorrem como resultado de “valores, crença, norma e modo de vida aprendida, compartilhada e transmitida” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.303). Este aprendizado, compartilhamento, transmissão e padronização ocorrem dentro de um grupo de pessoas que funciona em um cenário ou ambiente identificável. Desse modo, apesar de Leininger não usar os termos específicos de sociedade ou ambiente, o conceito de cultura está aproximadamente relacionado com sociedade/ambiente e é um assunto central de sua teoria.

3.2 DIVERSIDADE E UNIVERSALIDADE DO CUIDADO E CARACTERÍSTICAS DE UMA TEORIA

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3.2.1 As teorias podem inter-relacionar conceitos de tal forma que criem uma nova maneira de ver um determinado fenômeno

Leininger desenvolveu o modelo Sunrise para demonstrar a inter-relação dos conceitos em sua teoria da diversidade e universalidade do cuidado cultural. A visão de mundo e a parte de estrutura social do modelo não difere, significativamente, de qualquer outra visão de cultura e de sua interação com os seres humanos, com a possível exceção da inclusão de padrões de cuidados e de saúde. O modelo enfoca indivíduos, famílias, grupos, comunidades e instituições sócio-culturais, o que é similar às outras teorias de enfermagem.

Acima de tudo a teoria do cuidado cultural foi a primeira a enfocar, especificamente, o cuidado humano de uma perspetiva transcultural (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.305). Ela proporciona uma visão holística, não fragmentada das pessoas. Esta visão inclui “visão do mundo; estado biofísico, orientação religiosa (ou espiritual), padrões de companheirismo; fenômenos culturais materiais (e não-materiais); ambiente político, econômico, legal, educacional, tecnológico e físico; linguagem e prática de cuidados populares e profissionais” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.305). Assim, Leininger inter-relacionou os conceitos de uma forma que proporciona uma maneira diferente de ver o fenômeno do atendimento de enfermagem.

3.2.2 As teorias devem ser de natureza lógica

Existe uma lógica inerente no pensamento de que quanto mais conhecido for o cliente, maior é a oportunidade de ser prestado um atendimento que preencha a sua necessidade. Leininger enfocou uma área do conhecimento como sendo a mais importante – essa área é a cultura do cliente, tendo a cultura a sua definição mais ampla. O modelo Sunrise tem uma ordem lógica em si mesmo.

3.2.3 As teorias devem ser relativamente simples e ainda generalizáveis

A teoria Leininger é essencialmente moderada, incorporando os conceitos necessários de tal maneira que a teoria e o seu modelo possam ser aplicados

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em muitos cenários diferentes. A teoria e o modelo não são simples em termos de serem facilmente entendidos ao primeiro contato. Entretanto, as apresentações de Leininger da teoria e do modelo sustentam a necessidade de cada um dos conceitos e demonstram como eles são inter-relacionados. Uma vez captados os inter-relacionamentos, a simplicidade é mais aparente. A teoria e o modelo são exemplos excelentes de generalização. Os conceitos e os relacionamentos apresentados estão em um nível de abstração que permitem serem aplicados em muitas situações diferentes. Uns proporcionam um guia que vai de geração inicial de conhecimento substantivo, para a aplicação deste conhecimento, através de afirmação de conhecimento substantivo, para a aplicação desse conhecimento no processo de cuidados. Enquanto o conhecimento é para ser específico à situação na qual o atendimento deve ocorrer, seu processo de geração e aplicação é universal.

3.2.4 As teorias podem ser as bases para as hipóteses serem testadas ou para a teoria ser expandida

Durante o desenvolvimento da teoria da diversidade e universalidade do cuidado cultural muito estudos têm sido conduzidos demonstrando que a teoria pode servir de base para a pesquisa. Alguns desses estudos foram apresentados durante quatro conferências de enfermagem transcultural ocorridas de 1975 a 1978, no College of Nursing, Universidade de Utah. Os anais dessas conferências estão apresentados em Transcultural Nursing (LEININGER, 1979). Leininger apresentou alguns relatórios relacionais que proporcionam os fundamentos para estudos mais aprofundados (ver tabela abaixo).

* Existe um relacionamento identificável, positivo, entre a forma que as pessoas de diferentes culturas definem, interpretam e conhecem o cuidado e os seus padrões recorrentes de pensamento e de vida.

* O êmico (visão interna) dos valores, crenças e práticas de cuidado cultural de culturas mostrará um relacionamento próximo com seus padrões de cuidados da vida diária.

* O significado e o uso de conceitos de cuidados cultural variam nas diversas culturas e influenciam as práticas do prestador e do receptor do cuidado.

* Existe um relacionamento significativo entre os fatores da estrutura social e a visão do mundo e as práticas de cuidado populares e profissionais.

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* Os subsistemas de atendimento de enfermagem estão proximamente relacionados com os sistemas de atendimento de saúde profissionais, mais diferem fortemente dos sistemas populares de cuidado à saúde.

* As decisões e ações de enfermagem que refletem o uso dos valores, crenças e práticas de cuidado cultural do cliente terão uma relação positiva com a satisfação do cliente com o atendimento de enfermagem.

* As ações e as decisões de enfermagem baseadas no uso da conservação, ajustamento e/ou repadronização do cuidado cultural no atendimento do cliente terão uma relação positiva com o cuidado benéfico de enfermagem.

* Os sinais de conflitos e estresses interculturais de cuidado serão evidentes se os prestadores de atendimento deixar de usar os valores e as crenças do cuidado cultural dos clientes.

* Diferenças notáveis entre os significados e as expressões dos prestadores e dos receptores de cuidados levam à insatisfação de ambos.

* A grande dependência dos clientes nas atividades tecnológicas da assistência de enfermagem estará proximamente relacionada com o cuidado cultural que reflete a diminuição das ações de cuidados personalizadas.

* Os fatores de religião e o companheirismo no cuidado serão mais resistentes à mudança do que os fatores tecnológicos.

* As práticas de auto-cuidado serão evidentes nas culturas que valorizam o individualismo e a independência; outras práticas de cuidados serão evidentes nas culturas que apóiam a interdependência humana.

Além disso, Leininger (1991) desenvolveu um método de estudo que denominou método de pesquisa etno-enfermagem. Ela inclui exemplos de estudos de pesquisa de etno-enfermagem de enfermeira filipinas e anglo-americanas, de membros da religião Amish, de México-americanos urbanos, de gestação e de parto ucranianos, de Gadsup Akuna, de pacientes à morte e viúvas Greco-canadenses. É importante observar que a teoria da diversidade e universalidade do que a quantitativa.

3.2.5 As teorias contribuem para o aumento do corpo de conhecimento geral dentro da disciplina através da pesquisa implementada para validá-las

A pesquisa conduzida sobre a enfermagem transcultural contribui para o corpo geral de conhecimentos na disciplina de enfermagem. Um dos resultados desta

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pesquisa é a identificação dos principais constituintes do cuidado cultural. Leininger indica que, como em 1991, a pesquisa de etno-enfermagem identificou 172 constituintes de cuidados em 54 culturas. Esses continentes têm mais diversidade do que universalidade de significado. Incluídos nestes constituintes estão a antecipação, a atenção, o conforto, a compaixão, o enfrentamento, a empatia, a preocupação, a Judá, a nutrição, a proteção, a restauração, o apoio, a estimulação, o alívio dos estresses, o socorro, a supervisão, a ternura, o toque e a confiança (LEININGER, 1979, 1985, apud. GEORGE, 2000, p.306).

Leininger (1991) direcionou a sua pesquisa, durante as três últimas décadas, para a procura epistemiológica, visando estabelecer o cuidado como a essência e o constituinte distinto da enfermagem. Ela procurou explicar a diversidade ilusória e integrante de culturas específicas e a universalidade cultural do cuidado. A meta de sua teoria é proporcionar cuidado culturalmente congruente para a saúde e o bem-estar de indivíduos, famílias, comunidades e ambientes institucionais.

3.2.6 As teorias podem ser usadas por profissionais para orientar e melhorar a sua prática

Em sua apresentação, Leininger apresenta em sua teoria exemplos de achados de pesquisa que podem orientar e melhorar a prática de enfermagem. Um exemplo apresenta as diferenças de interpretações de cuidado pelas enfermeiras americanas em vários hospitais gerais, enfermeiras canadenses e enfermeiras polinésias no Havaí. As enfermeiras americanas interpretavam o cuidado como principalmente o alívio do estresses e depois o conforto. As canadenses afirmaram que o cuidado é principalmente apoio. As enfermeiras polinésias no Havaí identificaram o cuidado como o compartilhar com outros as formas culturais personalizadas e depois acrescentaram a generosidade com os outros para a obtenção de sinais de harmonia entre as pessoas e o seu ambiente. Conhecer a diversidade na interpretação na interpretação das enfermeiras apoia a diversidade que estará presente nos clientes e reforça a necessidade de reconhecimento dessa diversidade.

O cuidado universal, o significado do cuidado é diversificado. Leininger (1991) também apresenta o uso da teoria na administração de enfermagem. Ela afirma que “a meta da teoria é melhorar e proporcionar um cuidado culturalmente congruente para as pessoas que sejamos benéficas ajuste-se, e

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seja útil aos modos de vida saudáveis do cliente, da família ou do grupo cultural” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.307).

3.2.7 As teorias devem ser consistentes com outras teorias validadas, leis e princípios, mas devem deixar abertas as questões não-respondidas, que devem ser investigadas

A teoria de Leininger é certamente consistente com todas as teorias que incluem o conceito de importância do conhecimento do cliente mais como uma pessoa do que como um problema. A discussão de Leininger sobre a seriedade da imposição cultural não-intencional de práticas pelas enfermeiras e da necessidade de as enfermeiras estarem conscientes de sua própria cultura e das suas implicações para a situação enfermeira-cliente é muito similar à ênfase de King (1981) sobre a importância das perceções e a necessidade de que a enfermeira esteja alerta tanto para as perceções do cliente quanto para as suas próprias.

As perguntas sem respostas que permanecem para investigação são em maior número do que as já respondidas. Como as culturas são diversas, não apenas entre elas, mas dentro delas mesmas, e os indivíduos, mesmo dentro da mesma cultura, reagem diferentemente aos mesmos estímulos, cada situação enfermeira-cliente proporciona novas questões a serem exploradas.

3.2.8 Pontos fortes e limitações

Um ponto importante da teoria de Leininger é o reconhecimento da importância da cultura e da sua influência sobre tudo que envolve os recetores e os fornecedores da assistência de enfermagem. O desenvolvimento desta teoria durante vários anos permitiu que seus conceitos e constituintes fossem testados por muitas pessoas em uma variedade de cenários e culturas. O modelo Sunrise proporciona orientação para as áreas nas quais a informação necessita ser coletada.

Algumas limitações, conforme identificadas por Leininger (1991) incluem o número reduzido de enfermeiras graduadas que estão academicamente preparadas para conduzir a investigação necessária para proporcionar o

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atendimento de enfermagem transcultural. Ao mesmo tempo em que houve algum aumento no número de enfermeiras preparadas em enfermagem transcultural, é importante observar-se o perigo dos preconceitos culturais e da imposição cultural ocorrendo com os valores culturais pessoais das enfermeiras. Uma preocupação associada é que poucos programas de enfermagem incluem cursos e experiências de aprendizado planejadas que proporcionem uma base de conhecimento para a prática da enfermagem tarnscultural. Existe também a necessidade de recursos de pesquisa para apoiar o estudo continuado das práticas de cuidados – tanto as universais quanto as particularidades de uma cultura.

Em alguns de seus escritos, Leininger não é consistente em sua terminologia. Por exemplo, em Transcultural Nursing (1979), refere-se aos constituintes do cuidado etnocultural e depois aos constituintes do cuidado de etno-enfermagem. Nas apresentações de sua teoria refere-se aos mesmos constituintes como principais do cuidado cultural (Leininger, 1988). Como são listados, é relativamente fácil perceber que todos esses termos referem-se aos mesmos constituintes. No entanto, a energia mental do leitor poderia ser conservada para compreender a teoria e o modelo se a terminologia fosse mais consistente.

A complexidade do modelo Sunrise pode ser considerada tanto um ponto forte quanto uma limitação. A complexidade é um ponto forte ao enfatizar a importância da inclusão de conceitos antropológicos e culturais no ensino e na prática de enfermagem. Por outro lado, pode levar à interpretação errada. Por outro lado, pode levar à interpretação errada ou à rejeição, ambas constituindo limitações.

Madeleine Leininger tem trabalhado desde 1950 no desenvolvimento de sua teoria da diversidade e da universidade de cuidado cultural, nos anos 60, ela começou a usar os termos enfermagem transcultural e etno-enfermagem. Os principais conceitos de sua teoria são a cultura, a diversidade e a universalidade do cuidado cultural, a enfermagem, a visão de mundo, as dimensões da estrutura cultural e social, o contexto ambiental, a etno-histórica, o sistema popular de cuidados, o sistema profissional de cuidados, a saúde, o cuidado, o cuidar, a preservação do cuidado cultural, a acomodação do cuidado cultural, a repadronização do cuidado cultural e o atendimento de enfermagem culturalmente congruente. Ela define cada um desses conceitos e apresenta pressupostos que são relacionados com eles.

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1 INTRODUÇÃO

A palavra Teoria tem origem grega“Visão”, constitui a forma sistemática de olhar o mundo, para descrevê-lo, explicá-lo, prevê-lo ou controlá-lo. Composta de conceitos, definições, modelos, preposições e suposições. Teoria de Enfermagem é a forma de relacionar conceitos, através do uso de definições que sejam úteis ao desenvolvimento de inter-relações significativas para a descrição ou classificação da prática. Existem várias teorias de enfermagem como:

• Teoria Ambiental: F. Nightingale;

• Teoria das Necessidades Básicas: Virginia Henderson ;

• Teoria do Autocuidado: Dorothea Orem;

• Teoria da Adaptação:Sister Calista Roy;

• Teoria das Relações Interpessoais em Enfermagem: Hildegard Peplau;

• Teoria Holística: Myra E. Levine;

• Teoria do Modelo Conceitual do Homem: Martha Rogers;

• Teoria das Necessidades Humanas Básicas:Wanda Horta;

• Teoria Alcance dos Objetivos:Imogenes King;

• Teoria Transcultural: Madeleine Leininger.

Este trabalho tem como objetivo estudar e refletir sobre a Teoria Transcultural de Madeleine Leininger, pois na visão de Leininger, a Enfermagem é uma disciplina de cuidados transculturais humanísticos e uma profissão cujo propósito maior é servir o ser humano. Para ela o paradigma qualitativo proporciona novas formas de saber e diferentes meios de descobrir as dimensões do cuidado humano transcultural que, por sua vez, se constitui numa contribuição especial da Enfermagem à sociedade, com significados científicos, históricos e humanísticos em uma abrangência biofísica, política, social e cultural.

2 MADELEINE M. LEININGER

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Madeleine M. Leininger recebeu sua educação básica em enfermagem na St. Anthony’s School of Nursing Denver, CO, e graduou-se em 1948. Em 1950, obteve o bacharelado em ciências do Benedictine College, Atchison, KS; em 1953 o mestrado em ciência da enfermagem da Catholic University, Washington, Seattle. Ela é membro da American Academy of Nursing e possui doutorado em ciências humanas do Benedictine College.

A Dra. Leininger é a fundadora do subcampo transcultural de enfermagem. Ela é professora de enfermagem e antropologia e pesquisa no atendimento humano, Colleges of Nursing and Liberal Arts, Wayne State University. Assumiu postos, tanto no corpo docente quanto no administrativo; no ensino de enfermagem sua publicação é extensa.

Nos anos 40, Leineinger (1991) reconheceu a importância dos cuidados para a enfermagem pelo entendimento. Em meados dos anos 50, experimentou o que descreve como um choque cultural enquanto trabalhava em um lar de orientação infantil no meio-oeste dos EUA, trabalhava como enfermeira clínica especialista com crianças perturbadas e seus pais, com isto percebeu diferença de comportamento recorrentes entre as crianças e concluiu que essas diferenças tinha uma base cultural. Identificou a falta de conhecimento sobre a cultura das crianças como o elo que faltava, na enfermagem, para o entendimento das variações de cuidados para os clientes. Essa experiência transformou-a na primeira enfermeira profissional no mundo a obter um doutorado em antropologia e propiciou o desenvolvimento do novo campo da enfermagem transcultural como um subcampo da enfermagem. Leininger inicialmente usou os termos “enfermagem transcultural”, “ecnoenfermagem” e “enfermagem cultural cruzada” nos anos 60. Em 1966, na Universidade do Colorado, ministrou o primeiro curso de enfermagem transcultural.

3 TEORIA DE LEININGER

Em 1985, Leininger publicou a primeira apresentação como teoria e em 1988 e 1991, apresentou maiores explicações sobre suas ideias. A enfermagem é definida como “uma profissão e uma disciplina aprendida e humaniza enfocada no fenômeno e nas atividades do cuidado humano para assistir, apoiar, facilitar ou capacitar indivíduo ou grupos a manterem ou readquirirem seu bem-estar (ou saúde) em forma culturalmente significativas e benéficas ou para ajudar a

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pessoa a enfrentar a deficiência ou a morte” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.298).

O atendimento profissional de enfermagem (cuidar) é definido como “o conhecimento de cuidados profissionais e habilidades práticas aprendidos, formal e cognitivamente, e obtida através de instituições educacionais que estão acostumadas a proporcionar atos assistenciais, apoiadores, capacitadores ou facilitadores para outro ou por outro indivíduo ou grupo, visando melhorar a condição de saúde humana (ou bem-estar), a incapacidade e o modo de vida ou para trabalhar com clientes à morte” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.300). O cuidado cultural congruente (enfermagem) é definido como “os atos ou as decisões assistenciais, apoiadoras, facilitadoras ou capacitadoras, cognitivamente baseadas, que são elaboradas para se ajustarem aos valores culturais, crenças e modos de vida, de um indivíduo, grupo ou instituições, visando proporcionar ou apoiar o atendimento de saúde significativo, benéfico e satisfatório, ou os serviços de bem-estar” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.300). Leininger denominou a sua teoria de diversidade e universalidade do cuidado cultural e a descreve no modelo Sunrise (ver figura I abaixo).

Figura 1 – Modelo Sunrise

Fonte: Livro de GEORGE, Júlia B. Teorias de Enfermagem. Fundamentos à Prática Profissional. 4ª Edição. 2000. p. 301.

Leininger (1991) salientou que o modelo não é a teoria, mas uma descrição dos componentes da teoria de diversidade e universalidade do cuidado cultural. A finalidade do modelo é de auxiliar o estudo de como os componentes da teoria influenciam o estado de saúde e o atendimento proporcionado aos indivíduos, famílias, grupos, comunidades e instituições de uma cultura. Ela apresenta argumentos convincentes para o uso do modelo na orientação da pesquisa de descobrimento que usa métodos de estudo qualitativos e etnográficos. Ela condena o uso de definições operacionais e de noções pré-concebidos e o uso de perspetivas causais ou lineares no estudo da diversidade e da universalidade do cuidado cultural. Apoia a importância de descobrir o que é, de explorar e descobrir a essência e os significados do cuidado.

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3.1 TEORIA DE LEININGER E METAPARADIGMA DE ENFERMAGEM

Em 1985, Leininger publicou a primeira apresentação de seu trabalho como teoria em 1988 e 1991 apresentou maiores explicações sobre suas ideias, Na apresentação de 1991, proporcionou definições orientadoras para os conceitos de cultura, cuidado cultural, diversidade do cuidado cultural, universalidade do cuidado cultural, enfermagem, visão de mundo, dimensões da estrutura cultural e social, contexto ambiental, etno-história, sistemas de cuidados genéricos (popular e leigo), sistemas de cuidados profissionais, assistência de enfermagem culturalmente congruente, saúde, cuidado/cuidar, conservação do cuidado cultural, ajustamento do cuidado cultural e repadronização do cuidado cultural. Algumas destas definições eram de trabalhos anteriores e algumas eram originais do trabalho de 1991. Leininger salienta que essas definições são guias provisórios que podem ser alterados conforme a cultura é estudada.

Além das definições, ela apresentou pressupostos que apoiam a sua previsão de que “culturas diferentes, apesar de haver pontos comuns no cuidado de todas as culturas do mundo. Ela refere-se aos pontos comuns como universalidade e às diferenças como diversidade.

A cultura é definida como os valores, crenças, normas e modos de vida de um determinado grupo aprendidos, compartilhados e transmitidos e que orientam seu pensamento, suas decisões e suas ações de maneira padronizada” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.298). Um pressuposto relacionado é que os valores, as crenças e as práticas para o cuidado culturalmente incorporadas no “contexto de visão de mundo linguístico, religioso (ou espiritual), de companheirismo (social), político (ou legal), educacional, econômico, tecnológico, etno-histórico e ambiental” da cultura (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.298).

A diversidade do cuidado cultural indica “as variações e/ou as diferenças nos significados, padrões, valores, modos de vida ou símbolos de cuidado dentro ou entre coletivos que são relacionados ás expressões assistenciais, apoiadores ou capacitadoras do cuidado humano” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). Contrastando, a universalidade do cuidado cultural

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indica “os significados, padrões, valores, modos de vida ou símbolos comuns, similares ou dominantemente uniformes de cuidados, que se manifestam em muitas culturas e refletem as formas assistenciais, apoiadoras, facilitadoras ou capacitadoras de auxiliar as pessoas” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). Presume-se que enquanto o cuidado humano é universal através das culturas, o cuidar pode ser demonstrado através de diversas expressões, ações, padrões, estilos de vida e significados. O cuidado cultural é definido como “os valores, as crenças e os modos de vida padronizado aprendidos, subjetiva e objetivamente e transmitido que auxiliam, sustentam, facilitam ou capacitam outro indivíduo ou grupo a manter seu bem-estar, saúde, melhorar sua condição humana e seu modo de vida ou lidar com a doença, a deficiência ou a morte” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). O pressuposto relacionado é que o cuidado cultural é “o meio holístico mais amplo para conhecer, explicar, interpretar e prever o fenômeno do atendimento de enfermagem visando orientar as práticas de cuidados d enfermagem” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299).

A visão de mundo é a forma na qual as pessoas vêm o mundo ou o universo e formam um “quadro ou instância de valor” sobre o mundo e as suas vidas (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). As dimensões culturais e de estrutura social são definidas como envolvendo “os padrões e os aspetos dinâmicos dos fatores estruturais e organizacionais inter-relacionados de uma determinada cultura (subcultura ou sociedade) que incluem os valores religiosos, de companheirismo (social), políticos (legal), econômicos, educacionais, tecnológicos e culturais, os fatores etno-históricos e como esses fatores podem estar inter-relacionados e funcionam para influenciar o comportamento humano em diferentes contextos ambientais” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). O contexto ambiental é “a totalidade de um evento, situação ou experiência particular que dá significado às expressões humanas, interpretações e interações sociais em ambientes físicos, ecológicos, sócio-políticos e/ou culturais determinados” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). A etno-história inclui “os fatos, os eventos, as instâncias, as experiências passadas de indivíduos, grupos, culturas e instituições que são principalmente centralizadas em pessoas (etno) e que descrevem, explicam e interpretam os modos da vida humana em determinados contextos culturais e durante períodos curtos ou longos de tempo” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). O conhecimento de significados e práticas derivadas da visão do mundo, de fatores da estrutura social, de valores culturais, do contexto ambiental e de usos de linguagem são essenciais para orientar as decisões e as ações de enfermagem na promoção do cuidado cultural congruente” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299).

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Os sistemas de cuidados genéricos (populares ou leigos) são “conhecimentos e habilidades tradicionais, populares (com base domésticas), culturalmente aprendidos e transmitidos usados para proporcionar atos assistenciais, apoiadores, capacitadores ou facilitadores para outro ou por outro indivíduo, grupo ou instituição com necessidades evidentes ou antecipadas de melhorar um modo de vida humano, uma condição de saúde (ou bem-estar) ou para lidar com situações de deficiência e morte” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). O conhecimento genérico ou popular é êmico. Os sistemas de cuidados profissionais são definidos como “o cuidado profissional formalmente ensinando, aprendido e transmitido assim como o conhecimento de saúde, doença, bem-estar e as habilidades práticas as que prevalecem em instituições profissionais, geralmente com pessoal multidisciplinar para atender aos consumidores” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). O conhecimento do cuidado profissional é ético. A saúde é “um estado de bem-estar culturalmente definido, valorizado e praticado que reflete a capacidade dos indivíduos (ou grupos) para desempenhar suas atividades diárias em modos de vida culturalmente expressos, benéficos e padronizados” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). Os pressupostos relacionados são de que todas as culturas têm práticas de cuidados de saúde genéricas ou populares, de que as práticas profissionais geralmente variam nas diferentes culturas e de que em qualquer cultura existirão as similaridades e as diferenças culturais entre os recetores dos cuidados (genéricos) e os prestadores de cuidados profissionais.

Os cuidados, como substantivo, são definidos como “o fenômeno abstrato e concreto relacionado com a assistência, o apoio ou a capacitação de experiências ou de comportamentos para outros ou por outros com necessidades evidentes ou antecipadas para melhorar uma condição humana ou forma de vida” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.299). Presume-se que o cuidado seja o enfoque distinto, dominante, unificador e central da enfermagem e que apesar de a cura não poder ocorrer sem a cura não poder ocorrer efetivamente sem o cuidado, o cuidado pode ocorrer sem a cura. Cuidar como verbo, é definido como “as ações e atividades dirigida para a assistência, o apoio ou a capacitação de outro indivíduo ou grupo com necessidades evidentes ou antecipadas para melhorar uma condição humana ou forma de vida ou para encarar a morte” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.300). Os pressupostos relacionados com o cuidado e o cuidar incluem o fato de que eles são essenciais para a sobrevivência dos homens assim como para o seu crescimento, saúde, bem-estar, cura e capacidade de lidar com as deficiências e a morte. As expressões, os padrões e os modos de vida têm significados diferentes em contextos culturais

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diferentes. O fenômeno do cuidado pode ser descoberto ou identificado pelo exame da visão de mundo, da estrutura social e da linguagem do grupo cultural.

Leininger define a saúde, mas não especificamente os principais conceitos de ser humano, sociedade/ambiente e enfermagem. No entanto, sua visão desses conceitos pode ser deduzida a partir de suas definições e de seus pressupostos conceituais. Ela também apresenta o argumento do cuidado como conceito central no metaparadigma de enfermagem (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.302).

Os seres humanos são mais bem representados em seus pressupostos. Os homens são considerados capazes de cuidar e de preocupar-se com as necessidades, o bem e a sobrevivência dos outros. O cuidado humano é universal, isto é, em todas as culturas. Os homens têm sobrevivido nas culturas e ao longo do lugar e do tempo porque são capazes de cuidar dos bebês, das crianças e dos idosos de maneiras variadas e em muitos ambientes diferentes. Assim, os homens são universalmente seres cuidadores que sobrevivem em uma diversidade de culturas pela sua capacidade de proporcionar a universalidade do cuidado de várias maneiras e de acordo com as diferentes culturas, necessidades e situações. Leininger (1991) também indica que a enfermagem como ciência do cuidado deve enfocar além da interação tradicional enfermeira-paciente, incluindo “famílias, comunidades, culturas completas e instituições” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.302). Assim como as instituições mundiais de saúde e as formas de desenvolvimento de políticas e práticas de enfermagem internacionais. Ela salienta que em muitas culturas não-ocidentais a família e as instituições dominam. Nessas culturas, a pessoa não é um conceito importante. Na realidade pode não haver um termo para pessoa no idioma.

Sociedade/ambiente não são termo definido por Leininger; ela fala, em vez disso, em visão de mundo, estrutura social e contexto ambiental. Contudo, sociedade/ambiente, e considerado representado na cultura, ao um tema importante na teoria de Leininger. O contexto ambiental é definido como sendo a totalidade de um evento, situação ou experiência. A definição de cultura de Leininger (1991) enfoca um determinado grupo (sociedade) e a padronização de ações, pensamento e decisões que ocorrem como resultado de “valores, crença, norma e modo de vida aprendida, compartilhada e transmitida” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.303). Este aprendizado, compartilhamento, transmissão e padronização ocorrem dentro de um grupo de

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pessoas que funciona em um cenário ou ambiente identificável. Desse modo, apesar de Leininger não usar os termos específicos de sociedade ou ambiente, o conceito de cultura está aproximadamente relacionado com sociedade/ambiente e é um assunto central de sua teoria.

3.2 DIVERSIDADE E UNIVERSALIDADE DO CUIDADO E CARACTERÍSTICAS DE UMA TEORIA

3.2.1 As teorias podem inter-relacionar conceitos de tal forma que criem uma nova maneira de ver um determinado fenômeno

Leininger desenvolveu o modelo Sunrise para demonstrar a inter-relação dos conceitos em sua teoria da diversidade e universalidade do cuidado cultural. A visão de mundo e a parte de estrutural social do modelo não difere, significativamente, de qualquer outra visão de cultura e de sua interação com os seres humanos, com a possível exceção da inclusão de padrões de cuidados e de saúde. O modelo enfoca indivíduos, famílias, grupos, comunidades e instituições sócio-culturais, o que é similar às outras teorias de enfermagem.

Acima de tudo a teoria do cuidado cultural foi a primeira a enfocar, especificamente, o cuidado humano de uma perspetiva transcultural (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.305). Ela proporciona uma visão holística, não fragmentada das pessoas. Esta visão inclui “visão do mundo; estado biofísico, orientação religiosa (ou espiritual), padrões de companheirismo; fenômenos culturais materiais (e não-materiais); ambiente político, econômico, legal, educacional, tecnológico e físico; linguagem e prática de cuidados populares e profissionais” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.305). Assim, Leininger inter-relacionou os conceitos de uma forma que proporciona uma maneira diferente de ver o fenômeno do atendimento de enfermagem.

3.2.2 As teorias devem ser de natureza lógica

Existe uma lógica inerente no pensamento de que quanto mais conhecido for o cliente, maior é a oportunidade de ser prestado um atendimento que preencha

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a sua necessidade. Leininger enfocou uma área do conhecimento como sendo a mais importante – essa área é a cultura do cliente, tendo a cultura a sua definição mais ampla. O modelo Sunrise tem uma ordem lógica em si mesmo.

3.2.3 As teorias devem ser relativamente simples e ainda generalizáveis

A teoria Leininger é essencialmente parcimoniosa, incorporando os conceitos necessários de tal maneira que a teoria e o seu modelo possam ser aplicados em muitos cenários diferentes. A teoria e o modelo não são simples em termos de serem facilmente entendidos ao primeiro contato. Entretanto, as apresentações de Leininger da teoria e do modelo sustentam a necessidade de cada um dos conceitos e demonstram como eles são inter-relacionados. Uma vez captados os inter-relacionamentos, a simplicidade é mais aparente. A teoria e o modelo são exemplos excelentes de generalização. Os conceitos e os relacionamentos apresentados estão em um nível de abstração que permitem serem aplicados em muitas situações diferentes. Uns proporcionam um guia que vai de geração inicial de conhecimento substantivo, para a aplicação deste conhecimento, através de afirmação de conhecimento substantivo, para a aplicação desse conhecimento no processo de cuidados. Enquanto o conhecimento é para ser específico à situação na qual o atendimento deve ocorrer, seu processo de geração e aplicação é universal.

3.2.4 As teorias podem ser as bases para as hipóteses serem testadas ou para a teoria ser expandida

Durante o desenvolvimento da teoria da diversidade e universalidade do cuidado cultural muitos estudos têm sido conduzidos demonstrando que a teoria pode servir de base para a pesquisa. Alguns desses estudos foram apresentados durante quatro conferências de enfermagem transcultural ocorridas de 1975 a 1978, no College of Nursing, Universidade de Utah. Os anais dessas conferências estão apresentados em Transcultural Nursing (LEININGER, 1979). Leininger apresentou alguns relatórios relacionais que proporcionam os fundamentos para estudos mais aprofundados (ver tabela abaixo).

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* Existe um relacionamento identificável, positivo, entre a forma que as pessoas de diferentes culturas definem, interpretam e conhecem o cuidado e os seus padrões recorrentes de pensamento e de vida.

* O êmico (visão interna) dos valores, crenças e práticas de cuidado cultural de culturas mostrará um relacionamento próximo com seus padrões de cuidados da vida diária.

* O significado e o uso de conceitos de cuidados cultural variam nas diversas culturas e influenciam as práticas do prestador e do recetor do cuidado.

* Existe um relacionamento significativo entre os fatores da estrutura social e a visão do mundo e as práticas de cuidados populares e profissionais.

* Os subsistemas de atendimento de enfermagem estão proximamente relacionados com os sistemas de atendimento de saúde profissionais, mais diferem fortemente dos sistemas populares de cuidado à saúde.

* As decisões e ações de enfermagem que refletem o uso dos valores, crenças e práticas de cuidado cultural do cliente terão uma relação positiva com a satisfação do cliente com o atendimento de enfermagem.

* As ações e as decisões de enfermagem baseadas no uso da conservação, ajustamento e/ou repadronização do cuidado cultural no atendimento do cliente terão uma relação positiva com o cuidado benéfico de enfermagem.

* Os sinais de conflitos e estresses interculturais de cuidado serão evidentes se os prestadores de atendimento deixar de usar os valores e as crenças do cuidado cultural dos clientes.

* Diferenças notáveis entre os significados e as expressões dos prestadores e dos receptores de cuidados levam à insatisfação de ambos.

* A grande dependência dos clientes nas atividades tecnológicas da assistência de enfermagem estará proximamente relacionada com o cuidado cultural que reflete a diminuição das ações de cuidados personalizadas.

* Os fatores de religião e o companheirismo no cuidado serão mais resistentes à mudança do que os fatores tecnológicos.

* As práticas de auto-cuidado serão evidentes nas culturas que valorizam o individualismo e a independência; outras práticas de cuidados serão evidentes nas culturas que apoiam a interdependência humana.

Além disso, Leininger (1991) desenvolveu um método de estudo que denominou método de pesquisa etno-enfermagem. Ela inclui exemplos de estudos de pesquisa de etno-enfermagem de enfermeira filipinas e anglo-

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americanas, de membros da religião Amish, de México-americanos urbanos, de gestação e de parto ucranianos, de Gadsup Akuna, de pacientes à morte e viúvas Greco-canadenses. É importante observar que a teoria da diversidade e universalidade do que a quantitativa.

3.2.5 As teorias contribuem para o aumento do corpo de conhecimento geral dentro da disciplina através da pesquisa implementada para validá-las

A pesquisa conduzida sobre a enfermagem transcultural contribui para o corpo geral de conhecimentos na disciplina de enfermagem. Um dos resultados desta pesquisa é a identificação dos principais constituintes do cuidado cultural. Leininger indica que, como em 1991, a pesquisa de etno-enfermagem identificou 172 constituintes de cuidados em 54 culturas. Esses continentes têm mais diversidade do que universalidade de significado. Incluídos nestes constituintes estão a antecipação, a atenção, o conforto, a compaixão, o enfrentamento, a empatia, a preocupação, a Judá, a nutrição, a proteção, a restauração, o apoio, a estimulação, o alívio dos estresses, o socorro, a supervisão, a ternura, o toque e a confiança (LEININGER, 1979, 1985, apud. GEORGE, 2000, p.306).

Leininger (1991) direcionou a sua pesquisa, durante as três últimas décadas, para a procura epistemológica, visando estabelecer o cuidado como a essência e o constituinte distinto da enfermagem. Ela procurou explicar a diversidade ilusória e integrante de culturas específicas e a universalidade cultural do cuidado. A meta de sua teoria é proporcionar cuidado culturalmente congruente para a saúde e o bem-estar de indivíduos, famílias, comunidades e ambientes institucionais.

3.2.6 As teorias podem ser usadas por profissionais para orientar e melhorar a sua prática

Em sua apresentação, Leininger apresenta em sua teoria exemplos de achados de pesquisa que podem orientar e melhorar a prática de enfermagem. Um exemplo apresenta as diferenças de interpretações de cuidado pelas enfermeiras americanas em vários hospitais gerais, enfermeiras canadenses e enfermeiras polinésias no Havaí. As enfermeiras americanas interpretavam o cuidado como principalmente o alívio do estresses e depois o conforto. As

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canadenses afirmaram que o cuidado é principalmente apoio. As enfermeiras polinésias no Havaí identificaram o cuidado como o compartilhar com outros as formas culturais personalizadas e depois acrescentaram a generosidade com os outros para a obtenção de sinais de harmonia entre as pessoas e o seu ambiente. Conhecer a diversidade na interpretação na interpretação das enfermeiras apoia a diversidade que estará presente nos clientes e reforça a necessidade de reconhecimento dessa diversidade.

O cuidado universal, o significado do cuidado é diversificado. Leininger (1991) também apresenta o uso da teoria na administração de enfermagem. Ela afirma que “a meta da teoria é melhorar e proporcionar um cuidado culturalmente congruente para as pessoas que sejamos benéficas ajuste-se, e seja útil aos modos de vida saudáveis do cliente, da família ou do grupo cultural” (LEININGER, 1991, apud. GEORGE, 2000, p.307).

3.2.7 As teorias devem ser consistentes com outras teorias validadas, leis e princípios, mas devem deixar abertas as questões não-respondidas, que devem ser investigadas

A teoria de Leininger é certamente consistente com todas as teorias que incluem o conceito de importância do conhecimento do cliente mais como uma pessoa do que como um problema. A discussão de Leininger sobre a seriedade da imposição cultural não-intencional de práticas pelas enfermeiras e da necessidade de as enfermeiras estarem conscientes de sua própria cultura e das suas implicações para a situação enfermeira-cliente é muito similar à ênfase de King (1981) sobre a importância das perceções e a necessidade de que a enfermeira esteja alerta tanto para as perceções do cliente quanto para as suas próprias.

As perguntas sem respostas que permanecem para investigação são em maior número do que as já respondidas. Como as culturas são diversas, não apenas entre elas, mas dentro delas mesmas, e os indivíduos, mesmo dentro da mesma cultura, reagem diferentemente aos mesmos estímulos, cada situação enfermeira-cliente proporciona novas questões a serem exploradas.

3.2.8 Pontos fortes e limitações

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Um ponto importante da teoria de Leininger é o reconhecimento da importância da cultura e da sua influência sobre tudo que envolve os recetores e os fornecedores da assistência de enfermagem. O desenvolvimento desta teoria durante vários anos permitiu que seus conceitos e constituintes fossem testados por muitas pessoas em uma variedade de cenários e culturas. O modelo Sunrise proporciona orientação para as áreas nas quais a informação necessita ser coletada.

Algumas limitações, conforme identificadas por Leininger (1991) incluem o número reduzido de enfermeiras graduadas que estão academicamente preparadas para conduzir a investigação necessária para proporcionar o atendimento de enfermagem transcultural. Ao mesmo tempo em que houve algum aumento no número de enfermeiras preparadas em enfermagem transcultural, é importante observar-se o perigo dos preconceitos culturais e da imposição cultural ocorrendo com os valores culturais pessoais das enfermeiras. Uma preocupação associada é que poucos programas de enfermagem incluem cursos e experiências de aprendizado planejadas que proporcionem uma base de conhecimento para a prática da enfermagem transcultural. Existe também a necessidade de recursos de pesquisa para apoiar o estudo continuado das práticas de cuidados – tanto as universais quanto as particularidades de uma cultura.

Em alguns de seus escritos, Leininger não é consistente em sua terminologia. Por exemplo, em Transcultural Nursing (1979), refere-se aos constituintes do cuidado etnocultural e depois aos constituintes do cuidado de etno-enfermagem. Nas apresentações de sua teoria refere-se aos mesmos constituintes como principais do cuidado cultural (Leininger, 1988). Como são listados, é relativamente fácil perceber que todos esses termos referem-se aos mesmos constituintes. No entanto, a energia mental do leitor poderia ser conservada para compreender a teoria e o modelo se a terminologia fosse mais consistente.

A complexidade do modelo Sunrise pode ser considerada tanto um ponto forte quanto uma limitação. A complexidade é um ponto forte ao enfatizar a importância da inclusão de conceitos antropológicos e culturais no ensino e na prática de enfermagem. Por outro lado, pode levar à interpretação errada. Por outro lado, pode levar à interpretação errada ou à rejeição, ambas constituindo limitações.

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Madeleine Leininger tem trabalhado desde 1950 no desenvolvimento de sua teoria da diversidade e da universidade de cuidado cultural, nos anos 60, ela começou a usar os termos enfermagem transcultural e etno-enfermagem. Os principais conceitos de sua teoria são a cultura, a diversidade e a universalidade do cuidado cultural, a enfermagem, a visão de mundo, as dimensões da estrutura cultural e social, o contexto ambiental, a etno-histórica, o sistema popular de cuidados, o sistema profissional de cuidados, a saúde, o cuidado, o cuidar, a preservação do cuidado cultural, a acomodação do cuidado cultural, a repadronização do cuidado cultural e o atendimento de enfermagem culturalmente congruente. Ela define cada um desses conceitos e apresenta pressupostos que são relacionados com eles.

CONCLUSÃO

Em poucas palavras pode-se dizer que Leininger acredita que a prática de cuidado é a essência e a dimensão intelectual e unificadora na profissão de Enfermagem, pois é uma prática de profundas raízes culturais e requer, portanto, um conhecimento de base cultural além de suficiente capacitação para sua eficaz aplicação e não se pode produzir cura sem cuidados, mas pode haver cuidados sem que se produza cura.

Cada cultura tem maneiras próprias de definir, compreender, refletir e explicar a saúde e a doença, sendo assim o cuidado, um fenômeno culturalmente construído. O cuidado de enfermagem será adaptado à cultura do cliente não havendo incongruências entre o cliente e o cuidador. O Cuidado Humano é Universal, sendo vivenciado nas diversas culturas. Madeleine em sua Teoria sobre a Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural, enfatiza que o mesmo é necessário para o desenvolvimento da prática assistencial de enfermagem. O sendo um comparativo e análise de culturas em relação às práticas de cuidado de enfermagem, visando um atendimento significativo e eficaz às pessoas de acordo com seus valores culturais e seu contexto saúde-doença.

Cuidar é um verbo que se refere a ações de assistir, ajudar, facilitar o outro indivíduo ou grupo, com necessidades evidentes ou que podem ser antecipadas, que levam a melhorar ou aperfeiçoar uma condição humana ou modo de vida. Cuidado é um substantivo que se refere às atividades empregadas na assistência, ajuda ou facilitação desse indivíduo ou grupo com

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necessidades evidentes ou antecipadas, a fim de melhorar a condição ou modo de vida humana ou para se defrontar com a morte

REFERÊNCIA

GEORGE, Júlia B. Teorias de Enfermagem, Os Fundamentos à Prática Profissional. Ed. ARTMD. 4ª Edição, Porto Alegre, 2000.