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1 TRAÇOS DE CHICO XAVIER FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER AUTORES DIVERSOS EDITORA CEU DIGITADO POR RAFAEL LIMA ASSOCIAÇÃO ESPÍRITA CASA DA ESPERANÇA

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    TRAOS DE CHICO XAVIER

    FRANCISCO CNDIDO XAVIER AUTORES DIVERSOS

    EDITORA CEU

    DIGITADO POR RAFAEL LIMA

    ASSOCIAO ESPRITA CASA DA ESPERANA

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    Sumrio Prefcio - Beatriz Galves Mensagem de Chico Xavier aos pacientes do Instituto Bairral / 05 Traos Pitorescos - Deolindo Amorim / 08 O Homem - Mrio Boari Tamassia / 12 Exposio sobre a mediunidade de ChicoXavier - Vitor Ribas Carneiro / 18 50 anos depois: Este jubileu vale mais que ouro - Zair Cansado / 22 O mdium dos impactos - Pedro Franco Barbosa / 23 Meio sculo de fidelidade a kardec - Floriano Moinho Pres / 32 Cidado da luz - Fernando do Oz / 36 Nota da grande imprensa - Senador Artur da Tvola / 39 Homenagem a Chico Xavier - Senadora Jnia Marise / 40 Traos de Chico Xavier - Carlos Madi / 43

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    Prefcio

    Este livro interessa a todos que queiram saber um pouco mais a respei-

    to de nosso querido Chico Xavier. Oferecendo sua leitura uma mensa-gem pessoal assinada pelo prprio Chico, e diversos textos de membros notveis da comunidade esprita, uma homenagem comemorativa pela edio do 400 volume fruto desta incansvel mediunidade.

    Nesta coletnea, endereando-se aos pacientes internados no Instituto Bairral, em Itapira, So Paulo, Chico revela traos de sua prpria persona-lidade, valores e anseios pessoais. Seguem-se depoimentos selecionados a partir de publicaes originais do Jornal Esprita de So Paulo em 1977, quando comemorvamos sues 50 anos ininterruptos de trabalhos medini-cos. O leitor ter oportunidade de conhecer episdios muito interessantes e ver que os comentrios continuam pertinentes e atuais, aps 19 anos pas-sados. Naquela poca, havia aproximadamente 150 livros editados. Mais recente, um depoimento publicado em 1995 na Folha Esprita, de So Pau-lo. Finalizando, transcrevemos o artigo de S. Exa. Senador Artur da Tvo-la publicado no jornal O Dia, Rio de Janeiro, e transcrevemos na ntegra o pronunciamento de S. Exa. Senadora Jnia Marise no Congresso Nacional, aos 2 de abril de 1995, ambos em congratulao aos 85 anos de vida terre-na deste maravilhoso ser humano.

    A capacidade medinica de Chico Xavier posiciona-se entre as de maior abrangncia que se tem conhecimento. Seu exerccio levou-o a di-versas atividades, priorizando o campo literrio atravs da psicografia co-mo sua maior tarefa, assumida com seriedade profissional.

    Todavia, aproveito esta oportunidade para enfatizar que, embora pu-desse ter tambm dedicado sua ateno a outras reas, seu avanado grau de compreenso humana, religiosidade e amor cristo levaram-no funda-mentalmente prtica da caridade e ao estmulo desta atravs do exemplo pessoal.

    To vasta quanto sua produo literria, qui maior, sua atividade de semeador: sua atitude amorosa, ponderada e respeitosa, sua vida inte-gralmente dedicada a servio do prximo, batalhando incansavelmente por uma melhor condio de vida para o ser humano, de acordo com os ensi-

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    namentos deixados por Jesus e Kardec, exemplificam a vivncia da cari-dade nas relaes pessoais e comunitrias. So de Chico Xavier as pala-vras:

    O Cristianismo a estaca bsica da Doutrina que abraamos. No podemos afastar Jesus do Espiritismo. H uma passagem bblica em que Jesus diz aos discpulos que no probe que seus passos os levem para on-de quiserem. Ao que um dos discpulos responde: Mestre, sem o Senhor, para onde iremos?

    Que a mesma alegria que tivemos ao ler estes excertos possa estar em seu corao, e que a luz brilhe sempre em todos ns!

    Beatriz Galves

    So Paulo, 17 de agosto de 1996

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    Mensagem de Chico Xavier aos Pacientes do Instituto Bairral

    Foi tamanho o fascnio que a famlia dos internados do Instituto exer-

    ceu sobre mim, da primeira vez que estive aqui, que no hesitei em voltar para dar um abrao a todos os nossos amigos, a todos os amigos de Itapira, mas, muito especialmente, a todos vocs, meus irmos e minhas irms que se encontram sob este abenoado teto, buscando a restaurao espiritual que, na essncia, ns todos estamos procurando em nossa existncia ter-restre.

    Ns todos fomos colocados dentro da reencarnao como criaturas que buscam a sua prpria recuperao diante das Leis de Deus. Se existem companheiros nossos que no se encontram nessa condio, em qualquer regio do mundo, esse algum ser uma criatura rara que talvez esteja dis-pensando cuidados especiais de misses verdadeiramente anglicas.

    Mas ns todos somos espritos em recuperao e, de quando em quan-do, precisamos de recolhimento, seja num quarto de hotel, num aposento de nossa prpria casa, num regime que ns consideramos como sendo re-gime de frias, ou ento, em uma casa abenoada como esta nossa em que nos demoramos mais um pouco, tratando de nossa prpria restaurao.

    Viemos dar um abrao a todos, pedindo a todos os nossos amigos, a todas as nossas amigas, que aqui se encontram, aquela f viva e profunda, que devemos ter na Divina Providncia, que nunca nos abandona. s ve-zes nos achamos dentro da vida terrestre como criaturas sitiadas por pro-blemas afetivos que nos parecem, s vezes, de soluo absolutamente ina-cessvel, mas podemos estar certos de que as mos Misericordiosas de Deus, atravs de muitos modos, nos socorrem. No h ningum abando-nado. Ns todos estamos recebendo zelos particulares de Nosso Senhor Jesus Cristo, em nome de Deus.

    E basta que faamos a aceitao de nossas dificuldades, de nossas lu-tas, para prosseguirmos adiante. s vezes chegamos mesmo a sentir no co-rao que todos processo religioso de f ser uma iluso. Quantos de ns teremos dito: Mentira! quando ns ouvimos uma orao. Mas isso na-tural.

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    Ns todos sofremos e, quando nos achamos nesta situao, recusa-mos, s vezes, embora transitoriamente, at mesmo o socorro da f. Mas tudo isso natural.

    A vida no termina no corpo terrestre. Continuaremos adiante. Ento, tanto quanto pudermos, tenhamos f, confiana na Providncia Divina, certeza de que no estamos abandonados.

    E as nossas dificuldades, que elas sejam para ns lies abenoadas do caminho, como as lies e provas que ns s aprendemos na escola, quan-do estamos buscando determinada titulao para que a vida se nos faa va-liosa no plano terrestre.

    Peamos a Deus coragem, fora para superar as nossas crises, apoio ntimo para que a paz nos felicite e que ns possamos viver com a alegria maravilhosa com que Deus organizou o mundo que habitamos. O sol a derramar-se em luz permanente, o dia claro, as fontes derramando gua limpa, rvores que nos estendem verdadeiros braos pejados de frutos que atendem a nossa alimentao.

    O milagre da sementeira pelo qual pequeninas sementes fazem lavou-ras enormes que sustentam a coletividade, o prodgio do trabalho atravs do qual ns podemos esquecer os nossos problemas e valorizar o nosso tempo melhorando as nossas condies de vida.

    A felicidade de termos amigos e tambm a alegria de termos advers-rios, que so aqueles representantes da incompreenso a nosso respeito que nos auxiliam tambm a policiar o prprio corao e caminhar com mais segurana.

    Tudo que existe na Terra grande, tudo belo, tudo nos induz confi-ana no Poder Maior que organizou este mundo como casa privilegiada para ns todos.

    A Terra, no fundo, se assemelha, em dimenses muito mais vastas, a um instituto como este, em que ns todos estamos internados, do ponto de vista espiritual, para cogitar de nosso prprio aperfeioamento.

    Ento, eu no tenho nenhuma palavra que possa traduzir conselho ou orientao.

    Eu tambm sou um irmo de todos, um servidor de todos, e me encon-tro em recuperao. Sou tambm um esprito doente. Compreendo que meu corpo assim como uma cela, em que me internaram pela Misericr-

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    dia de Deus, para que eu pudesse cuidar de meu tratamento. Quando eu recebo o abrao de um amigo, a prece de outro, o carinho de um corao maternal; quando me encontro com algum que me ampara, que me esten-de um conselho, que me transmite algum ensinamento, eu compreendo que tudo isso remdio para que eu aplique a mim mesmo.

    Ento, eu estou diante de meus irmos e minhas irms, mas com muita simpatia e com muita vontade de ficar aqui, com muita vontade de me ma-tricular tambm na famlia de internados do Instituto Bairral. Ficar com vocs, alimentar-me com vocs mesa, compreender com vocs as difi-culdades, muitas vezes, da nossa vida mental pra nos acomodarmos com certas situaes de nossa famlia, seja famlia da consanginidade, seja famlia social; trocar idias com vocs, me sentar debaixo das rvores, ou-vir estas preces, as msicas cantadas por vocs, para que eu pudesse a-prender mais.

    No pensem que eu estou aqui ensinando alguma coisa. Eu vim dizer a vocs, meus irmos e minhas irms: - Que vontade de ficar com vocs! E vocs todos que oram, peam tambm por mim a Deus, para que, quando eu puder, eu venha ficar com vocs.

    Deus abenoe a vocs todos pela ateno com que me ouvem. Deus abenoe vocs todos por tudo de bom que vocs me oferecem. Eu desejo a vocs a paz e a alegria, e que esta casa seja sempre aben-

    oada por Jesus e por seus Mensageiros. tudo o que eu posso dizer. Muito obrigado!

    Chico Xavier

    (Mensagem proferida por inspirao de seu benfeitor Emmanuel, aos 22 de agosto de 1973, no auditrio do cinema do Instituto Bairral, em Ita-pira, So Paulo)

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    Traos Pitorescos

    A partir de 1932, com a publicao do Parnaso de Alm-Tmulo, Chi-

    co Xavier passou a ser uma figura constante na literatura esprita. Hoje, na realidade, ma figura de expresso histrica. No decorrer de meio sculo, desde que nele despontou a faculdade medinica, o admirado e humilde mdium de Pedro Leopoldo, como ento se dizia (e hoje se diz de Ubera-ba), a pessoa de Chico Xavier tornou-se um ponto de convergncia indis-criminada pois, procura dele, como at hoje, concentravam-se pessoas de todos os nveis sociais e por motivos diversos: sofredores do corpo e do esprito, na maioria dos casos; jornalistas, procura de assuntos para re-portagem ou entrevistas; crticos literrios, querendo tirar a limpo a questo da autoria espiritual de suas obras; gente desajustada psicologica-mente, a pedir orientao; casais em conflito, com o lar ameaado de des-moronamento, apelando para Chico Xavier a fim de encontrar um meio de reconciliao. E a ningum deixou ele de dar o lenitivo de uma palavra consoladora.

    Se verdade que muitos procuraram Chico Xavier para pedir consultas sobre assuntos corriqueiros e problemas irrelevantes, tambm verdade que outros, muitos outros, tm seus motivos srios, seus dramas, suas pre-ocupaes e angstias deprimentes.

    A obra medinica de Chico Xavier j constitui uma literatura de vulto, abrangendo diversos campos, como a poesia, o romance, a elucidao filo-sfica, a dissertao histrica, a discusso de temas cientficos, o ensaio moral, a mensagem, que refulge em toda a sua produo, recebida do Alto.

    luz desse quadro de realizaes, h um aspecto que podemos chamar de pitoresco em Chico Xavier. Pitoresco, ao p da letra, simplesmente aquilo que pode ser retratado na tela, no livro, perfil, etc; mas tambm h o pitoresco no sentido especial de originalidade ou expresso prpria. o caso, por exemplo, da confluncia de vrios estilos na obra de Chico Xa-vier.

    Do mesmo modo, seus trabalhos medinicos so de carter muito vari-ado, pois tanto recebe comunicaes poticas, quanto comunicaes rela-tivas cincias, algumas vezes com termos tcnicos, inevitavelmente.

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    Em tudo, porm, se fixa uma idia dominante, o fio de unidade, po-demos dizer assim, justamente porque, embora discorrendo sobre matrias to distanciadas entre si, toda a obra, em seus conjunto, tem um objetivo maior e permanente: transmitir a mensagem da Espiritualidade concla-mando os homens para a compreenso e o amor, a despeito de todas as dessemelhanas de ordem tcnica, social cultural, religiosa, etc.

    Muito j se escreveu, nestes ltimos anos, sobre a obra medinica de Francisco Cndido Xavier, mas no se pode falar a respeito das obras sem considerar a posio do homem que o instrumento dessa imensa produ-o.

    Como pessoa humana, Chico Xavier revela abertamente duas caracte-rsticas impressionantes: a pacincia e a resistncia fsica. Sobrepondo-se s exigncias fsicas, ele atende, pacientemente, a quantos o cercam, nas palestras ou reunies pblicas, sem falar no atendimento constante nas sesses do Centro. Sinceramente, s vezes, eu fico com pena do Chico... Como que um homem, que no mais moo, vem para uma reunio, concentra-se, recebe comunicaes e, logo em seguida e de p veja-se bem fica atendendo verdadeira multido em fila, at altas horas, en-trando pela madrugada?...

    Todos querem falar com Chico, querem apertar-lhe a mo, pedir-lhe um conselho, trazer-lhe um livro para ser autografado por ele. E Chico, sempre sereno, sem se alterar, sem demonstrar a mnima inquietao, vai atendendo um por um, sem levar em conta o relgio, como se fosse uma criatura de ferro e no de carne e osso.

    certo que no h de faltar a indispensvel cobertura espiritual, pois um mdium, como ele, nunca est sozinho, mas o esforo humano inten-so e extenuante.

    J houve uma reunio, por exemplo, em que a fila de autgrafos termi-nou l pelas trs da madrugada. E ele j havia, na mesma noite, tomado parte em solenidade, tendo recebido uma comunicao um tanto longa.

    Muitos, por necessidade, entram na fila porque precisam realmente de orientao ou de um conselho, outros, porque desejam conhec-lo em pes-soa; outros, porque fazem questo de levar um autgrafo como lembrana e assim por diante.

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    Tudo isso humano e tem seu lado afetivo, muito aprecivel. Mas nem por isso deixa de haver, s vezes, alguma insistncia que bem poderia ser evitada em benefcio do prprio Chico e das pessoas que esto aguar-dando a sua vez.

    o caso de pessoas que, embora a fila esteja grande demais, envolvem o mdium de tal forma, relatando problemas, expondo situaes comple-xas, sem se preocuparem com o tempo, como se somente elas tivessem de ser atendidas. E Chico Xavier, com a calma inaltervel, faz o que pode em tais situaes; mas precisamos pensar um pouco na pessoa do mdium, que tambm necessita repouso.

    Ento, alm da produo medinica, que a maior do gnero, quer do ponto de vista quantitativo, quer do ponto de vista qualitativo, Chico Xa-vier tem, ainda, uma resistncia fsica como poucos homens de sua idade.

    Como obra medinica, indiscutivelmente, a de Chico Xavier a maior, pelo nmero de livros e mensagens, como ainda pela versatilidade dos as-suntos.

    verdade que alguns livros de Chico Xavier ainda suscitam discusso ou reservas, no por causa do mdium, mas devido natureza dos assun-tos.

    Determinadas assertivas, de origem extra-humana, certamente ainda necessitam de tempo, pois os espritos, como ensina o Espiritismo, tam-bm emitem opinies prprias. No pelo fato de ser opinio de um esp-rito que tal ou qual declarao deva ser tomada incondicionalmente como um princpio definitivo.

    O tempo no faz mal repetir o conselho da experincia sempre bom guia. O mdium, entretanto, continua a cumprir sua trabalhosa e me-ritria misso, recebendo e transmitindo o que vem do Alto.

    Nestes cinqenta anos de atividades medinicas, Chico Xavier j con-solou muito, j instruiu muito atravs de seus livros, mas difcil avaliar, em termos estatsticos, o nmero exato das pessoas que beberam ensina-mentos nas obras por ele recebidas e, hoje, esto transformadas, porque aprenderam a ver a vida por outro prisma, muito mais claro e mais racio-nal.

    Outras, que absorveram as leituras de Andr Luiz, Emmanuel, por e-xemplo, ficam incgnitas, porque tm receio de enfrentar os preconceitos

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    e as convenincias sociais. No importa, pois o mais importante que a luz da sabedoria se espalhe em todas as latitudes.

    Por ser mdium uma contingncia da faculdade medinica perante os homens Chico Xavier no pode evitar certos exageros. Os exageros podem chegar idolatria pessoal, como podem provocar suposies con-traditrias. Que culpa teria Chico Xavier, por exemplo, de se dizer, l uma vez por outra, que, depois da obras de Emmanuel e Andr Luiz, no h mais necessidade da Codificao de Allan Kardec? So manifestaes pu-ramente espordicas, nas quais se revela, sem tirar nem por, a demonstra-o de completo desconhecimento da Doutrina.

    Mas no Chico Xavier que deve intervir em tais discusses e por as coisas nos devidos lugares. Sua misso est a salvo das interpretaes pre-cipitadas.

    O trabalho do mdium, seja qual for o tipo de atividade que lhe seja destinado, vale pelos frutos que se espalham e perduram, porque so frutos do esprito. Que frutos? Glria literria, evidncia social, vantagens mate-riais? Claro que no. Mas os frutos do dever cumprido, quase sempre re-cebendo o ltego da crtica ferina de adversrios sistemticos do Espiri-tismo.

    Nenhum mdium, quando compenetrado de deus deveres, fica inclu-me a tais adversidades.

    Mas o bem sempre vence, apesar de todas as sombras e todos os espi-nhos. O mdium no um santo, como no um ser puro, mas um instru-mento escolhido para experincias difceis. Por isso, o mdium precisa muito de apoio espiritual. Chico Xavier j recebeu muito e j deu muito. Entretanto, ainda precisa de compreenso e solidariedade, pois a misso medinica no parou nos livros j publicados.

    Deolindo Amorim

    Jornal Esprita, So Paulo

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    O Homem

    Pietro Ubaldi, na apresentao do seu livro Fragmentos de Pensamen-

    to e de Paixo diz: Apresento-me como homem. No conheo nada do Chico Xavier, em que se apresente deste modo.

    O que fala de si, di-lo ligado ao contexto do que representa como instru-mento medinico e, nessa instrumentalidade, ressalta o fato de ser simples servo de Jesus e discpulo de Kardec.

    No entanto, no decorrer de pronunciamentos ocasionais em crculos estreitos, nas entrevistas, em cerimnias de concesso de ttulos, que deixa escapar fragmentos do seu lado humano. Um exemplo dessa amostragem deu-se quando, no vdeo, perante milhes de telespectadores, ele contou que viajava num avio e este, batido por uma tempestade, comeou a ba-lanar. Deixou-se tomar, ento, por grande pnico e ps-se a gritar: Va-lei-me, Deus, pedindo o amparo superior com escndalo, ao que seu men-tor espiritual, Emmanuel, prontamente atalhou: Se voc sabe que vai morrer, morra, ao menos, com educao.

    Neste confiteor, como em muitos outros, ele se pe a descoberto, mos-trando a sua falta de coragem diante do perigo ou relatando-a jeitosamen-te, em dado momento, a fim de que no o julguem um pequeno Deus.

    Evidentemente que a sua estrutura fisiopsicossomtica, na terminolo-gia de Andr Luiz, deve ser muito delicada para que possa ser um DArtagnan ou sentir impulsos sanguneos como respostas naturais aos desafios do meio ambiente terreno.

    Noutro memento humano, surpreendemos Chico dispensando uma a-feio toda particular a esta ou aquela senhora, a este ou aquele cidado, prendendo-se, em demasia, a tal ou qual grupo de pessoas.

    R. A. Ranieri, que teve a ventura de conviver mais intimamente com o nosso mdium e que deixou valiosa contribuio bibliogrfica, encontrava dificuldade em interpret-lo convenientemente. De modo geral, o seu co-rao terno e agasalhador para todos. Particularmente, porm, Chico Xa-vier d-se, num momento existencial, para este ou aquele algum, distin-guindo-o de modo especial. Os que desejariam t-lo, assim, mais junto de

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    si e com maior intimidade, porque realmente querido, sentem ento despeito pelos que conseguem, no seu corao, este lugar especial.

    Estas pessoas beneficiadas pelo seu afeto humano, no entanto, no o exploram particularmente, como poderia parecer primeira vista. Possuem entusiasmo febricitante em servi-lo, em acompanh-lo ou, ainda, em per-mutar eflvios e respirar aquela atmosfera radiante e extraordinria.

    Muitos destes, principalmente damas, algumas desfrutando alta posi-o social e econmica, revelam tal disposio ao trabalho e fidelidade obra, que atravessam uma noite sem dormir, tornam-se imunes ao cansao e conseguem o que no para qualquer um: agentar o Chico em sua re-sistncia e fleugma, impressionantes, na sua disposio para estar novo em folha, s tantas da madrugada, quando a maioria j deu o prego.

    Mas parece-me que no era de outro modo que agia Jesus e, no Seu ministrio, vemo-Lo ser de toda a humanidade, mas amar, de maneira di-ferente, aquelas mulheres que o serviam, Jesus chorou a morte de Lzaro. E vendo-o chorar, os judeus murmuravam: Vede como ele o amava! (J II. 35).

    Este tipo de relacionamento, muitas vezes, poder causar perplexidade, se no estivermos preparados para entend-lo. Numa fase pode demonstrar profundo interesse pessoal por ns, tornando-nos comensal, para, mais a-diante, passar por ns como diante de outro qualquer. No dizer de Ranieri: Assim como o beija-flor que vem pressuroso buscar o plen das flores e, depois, se afasta velozmente, Chico tambm se aproxima feliz, contempla-nos, por um momento e, depois, se afasta...

    No entanto, eu que o observei meia-distncia, perto dele, mas no na sua intimidade, acredito que, nesse relacionamento com os semelhantes, mormente confrades, permanea o mesmo trao que o levou a mostrar a sua fraqueza diante do perigo areo. Ou seja, importa reconhecer-se a sua natureza delicada, de tal modo humilde e amvel, que se entrega aos que se mostrem mais corajosos na aproximao. Quem lhe conquista mais ho-ras de ateno aquele que se mostra mais afoito.

    Eu, que tambm neste ponto sempre fui muito tmido, com medo de incomodar, tomar o tempo das pessoas destacadas, muitas vezes estive em Uberaba e, ali, na Comunho Esprita, era escolhido para compor a mesa e

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    fazer comentrios sobre os temas da noite. Mas nunca conseguia uma a-proximao aprecivel com o Chico.

    Fora dos trabalhos, muitas vezes, soube por terceiros, que transitara por Campinas, estivera na casa de A, reunira-se a B, aos quais parecia tri-butar amizade parte. Estas pessoas, s vezes, no tinham nenhuma signi-ficao no movimento esprita, mas tinham-no como amigo, enquanto grandes diretores de obras suspiravam por uma oportunidade, na qual pu-dessem receber uma orientao espiritual.

    Que se deduz disto? Que, alm desta sua natureza especial, sensvel aos que o tomem, nunca fez de sua mediunidade um instrumento de domi-nao ou de poltica religiosa. Pregou, anunciou mas no insinuou e nem insinuou-se. Nunca comandou, e portanto, no aliciou. E isto tem sido bom, muito bom.

    Quando lemos o livro de Jacob Nedleman As Novas Religies, te-mos de nos deter na figura do clebre Meher Baba, nascido em Pooma, na ndia, e educado no Sufismo e na religio de Zoroastro. Ele parece ter-se tornado um dos chamados Mestres Perfeitos que tomam a si o governo do mundo e ter despertado enorme afluxo de jovens para a sua quase que ado-rao. No entanto, e isso incrvel, parou de falar em 1925! Mais de qua-renta anos, sem dizer palavra! Os seus adeptos, em todo o mundo, porm, esperavam ansiosos a quebra do Silncio, da mesma maneira entusiasta com que os milenaristas esperavam eufricos o Fim do Mundo, mas Meher Baba no quebrou o silncio, no disse nada, pensou bastante e l se foi para o outro mundo.

    No deveramos nos deter to s neste consagrado Mestre Perfeito, mas faria bem que acompanhssemos os passos de Paul Brunton atravs da ndia, em busca de tais mestres que, na verdade, parece nunca ter en-contrado. E, s ento, compreenderamos que que est acontecendo de maravilhoso, no Brasil contemporneo.

    Quando Hamendras Nat Barneje esteve no Brasil, coloquiou com Chi-co Xavier e, ento, pediu-lhe as bnos. Declarou, depois, publicamen-te, atravs da Manchete, que Chico era o baba brasileiro.

    No entanto, o santurio ou o Ashram do Chico feito de gente. Gen-te de toda espcie, principalmente necessitada. Gente sofrida, angustiada, rica, pobre, acotovelando-se e trocando suor. Muitos desejando algo, ou-

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    tros querendo ouvi-lo e v-lo e alguns recebendo estmulo para a respec-tiva obra de benemerncia.

    Ele o que transmite. No tanto de si, mas como simples trombeta, na qual sopram os Emissrios do Senhor. No em som de Juzo, mas de me-eting, em que se d o mais estranho o gape de todos os tempos: o do en-contro entre vivos e mortos para o reencontro do caminho perdido da cris-tandade. O ditache que vo deixando, atravs dele, um Evangelho vi-vo, operante e interiorizado, o da III Revelao.

    Quando, recentemente, alguns confrades, tambm por amor, deseja-vam recriminar aquelas pessoas que o levam por Meca, em cansativas noi-tes de autgrafos e de recebimentos de ttulos de cidadania, Chico, na di-reo do jornal Nova Era, de Franca, veio esclarecer que essa fase estava programada, porque, no momento, lhe competia o esforo de alargar os horizontes do movimento esprita que precisa de expanso ideolgica, muito mais do que livros reveladores.

    Nenhum recolhimento, nem silncio, nenhum eremitrio nem gruta de Santo Anto, nenhuma atmosfera mstica nem posio de Mestre Perfeito.

    Certa ocasio, eu estava na fila, na Comunho Esprita Crist de Ube-raba, a fim de cumprimentar o Chico. Logo depois de mim, encontrava-se um solerte professor de Parapsicologia, h tantos por hora na poltrona. Chegando a vez do Dr. Para-Si falar como Chico, a fila parou. Atrs, cri-anas, senhoras, pessoas doentes. Ele, com impertinncia, insistia para que o Chico aderisse a um trabalho de pesquisa parapsicolgica. Precisamos trabalhar juntos falava e tornava a falar. Pela primeira vez, vi o Chico perder a estribeira, ficar um tanto nervoso, acabando por dizer-lhe: Sim, vamos trabalhar juntos. Volte aqui amanh. Vamos servir sopa para estes pobres famintos.

    Se se trata de conhecer o Chico Xavier-Homem, importa que se desta-que a sua impressionante coragem moral e espiritual. Em nenhum momen-to, vemo-lo tergiversar, recuar, no plano em que domina, o espiritual, no se curva diante da calnia, da traio e de quaisquer outros processos es-quivos do adversrio. Muitas vezes dever ter sofrido o abandono e a in-compreenso. Continuou impvido, mas corajoso do que Hrcules, ele, justamente, eu talvez no seja capaz de matar uma mosca.

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    , sobretudo, na humildade que reside a sua fora e com ela que esgrime. A estocada de seu florete derrama perfume e inculca no corpo do adversrio o plasma de amor. Querem-no, os da galeria, ovacionando-o, que, d marradas ou destile verrimas, mas ele logo obtempera: Antes de tudo, pedimos licena para dizer que temos aprendido com os Bons Espri-tos que s titulaes exteriores no nos afastam das obrigaes de ampara mtuo em nome do Cristo de Deus.

    Quando se refere aos representantes da Igreja, f-lo respeitosamente e com tanta delicadeza que muitos dignitrios eclesisticos chegam a esti-m-lo, embora saibam que lhes roube enorme quantidade de reses do re-banho. O Monsenhor Sebastio Scarzelli foi confessor de Chico Xavier e este nunca o esquece, assim como o Monsenhor, tambm, lembra-se do mdium com carinho: Conheci-o muito bem, quando vigrio de Matosi-nhos, Minas Gerais. Era, ento, balconista do senhor Carvalho, na cidade-zinha de Pedro Leopoldo. A famlia do Chico era de bons costumes. Seu pai vendia bilhetes de loteria. Constantemente, eu procurava conversar, na vendo do senhor Carvalho, co este pequeno empregado, apreciando no Chico a dedicao com que servia a freguesia.

    Talvez este treinamento atrs de um balco de venda do interior lhe te-nha valido muitos anos depois, famoso, devesse atender outro tipo de fre-guesia, em busca da mensagem espiritual.

    Tendo se deslocado da Comunho Esprita para o Grupo Esprita da prece, quis estar mais frente a frente com este pblico, sem intermedirios.

    Vimo-lo, ento, na porta de entrada recebendo o pblico, com lpis e papel na mo, atendendo um por um, anotando nome, o motivo, a interces-so desejada para si, para o tio, primo ou a av que havia morrido muitos anos passados.

    Ele, conselheiro, mdium, e escrivinhador. Ao menos, desejava dizer que a pena mais cintilante pode parar, por um momento, para suavizar a dor do semelhante. Sempre a primazia do amor.

    No conseguiramos, num espao assinalado, falar do Chico Homem. Se devssemos, entre tantos dons, ressaltar um importante, tomaramos a sua alegria contagiante. Alegria infantil, em que no h malcia. Num con-vento conta-nos o saudoso Carlos Imbassahy os monges quando se en-contravam, mostravam um ao outro, nos cumprimentos, uma caveira, e as

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    palavras no eram Bom Dia, mas, Irmo, lembrai-vos de que sereis isto amanh.

    Chico Xavier a aparte solar e brilhante do Cristo. No Evangelho que nos verte do corao, no h ilustraes com Nosso Senhor Jesus Morto porejando sangue. Como Francisco de Assis, naturalmente, gostaria de ser seresteiro. Aprecia a noitada de confraternizao, em tom de camarada-gem s e alegre.

    Para que no se azede esse companheirismo, s vezes, levado a nos enganar, deixando-nos vontade com os nossos pendores. Alguns amigos conta Ranieri levaram-no a pescar. Chico Xavier ficava quietinho, qui-etinho, co a linha na gua. Todos pescavam, menos ele. At que um dia se desfez o mistrio. Chico no colocava o anzol na linha!

    Mrio Boari Tamassia

    Jornal Esprita, So Paulo, SP

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    Exposio Sobre a Mediunidade de Chico Xavier

    O vocbulo latino mdium significa meio, intermedirio. a pessoa

    atravs da qual os Espritos externam seus pensamentos, usando seu apare-lho vocal, ou servem-se de sua fora psquica para produzirem os mais va-riados fenmenos de efeitos fsicos. Enfim, todas as manifestaes de or-dem espiritual, quer sejam inteligentes ou no, s se produzem havendo algum dotado da faculdade medinica, mais ou menos desenvolvida.

    Feita esta conceituao sobre o mdium, embora sintetizada, vamos fa-lar, a seguir, sobre um dos mais seguros intrpretes dos Espritos at hoje surgido em todo o mundo: tratas-se de Francisco Cndido Xavier, mais conhecido por Chico Xavier.

    Conhecemo-lo, pessoalmente, no ano de 1951, quando o visitamos em Pedro Leopoldo, sua cidade natal, distante cerca de 60 quilmetros de Be-lo Horizonte (MG).

    Fizemos uma viagem cansativa, pois a nossa conduo era um peque-no carro arca Renault e o trajeto foi feito pelo Tringulo Mineiro, cujas es-tradas, naquela poca, eram todas de leito natural. Viajamos cinco dias consecutivos para alcanar a pitoresca cidadezinha mineira, onde residia o Chico desde que nascera.

    Mas valeu a pena. Nosso contato com o famoso mdium de Pedro Le-opoldo nos estimulou bastante para prosseguirmos na luta que abraamos, ou seja, a de divulgar a Doutrina Esprita por todos os meios de que dis-pomos.

    Objetivamos homenagear Chico Xavier, ao ensejo do transcurso do cinqentenrio de sua atividades medinicas, o que fazemos prazerosa-mente, embora no nos seja possvel abordar, num trabalho jornalstico como este, todos os fatos registrados atravs de sua mediunidade, fatos es-ses que se enquadram, sem dvida alguma, na mais complexa tcnica me-dinica de que detentor o missionrio Pedro-leopoldinense.

    E o primeiro acontecimento, para ns muito importante, porque se ve-rificou quando de nossa viagem a Pedro Leopoldo, foi o da sua apario minha mulher, na cidade de So Gonalo do Sapuca (MG), no hotel onde

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    pernoitamos. Eram aproximadamente cinco horas da madrugada quando procurei acord-la para prosseguirmos viagem.

    Nesse exato momento, o Chico acabava de transmitir-lhe um passe re-confortador. Realmente, em virtude da longa jornada j percorrida, e tam-bm porque minha mulher naquela poca apresentava sintomas de angina pectoris, estava bastante abatida, motivo pelo qual o Chico, possivelmen-te ligado pelas nossas vibraes mentais, desdobrou-se e veio prestar-lhe o indispensvel auxlio. Trajava ele, na ocasio, terno listrado, detalhe esse que minha mulher no se esquecera.

    Chegamos a Pedro Leopoldo, numa sexta-feira, e fomos ao Centro Es-prita Luiz Gonzaga, onde o Chico trabalhava. Cerca de quarenta pesso-as, vinda de vrios pontos do pas, tambm ali aguardavam sua presena.

    Precisamente s 20:30 horas, dava entrada no salo daquela Casa um moo moreno, trajando camisa esporte e cala listrada. Houve apresenta-es por parte dos presentes, que ainda no o conheciam. Ns tambm fi-zemos a nossa, dizendo que chegramos de Curitiba Paran e que ra-mos espritas militantes. Diante disso, Chico recomendou-nos que fics-semos vontade pois, segundo disse, ramos da casa. Precisava atender os que o procuravam para expor seus problemas. Antes, porm, de se afastar, minha mulher, observando seu traje, disse-lhe: - Chico, o senhor me transmitiu um passe, ontem de madrugada, que me fez muito bem. Eu o vi trajando um terno listrado...

    - o desta cala disse ele e j faz quinze dias que o estou usando. Como todos sabemos, o fenmeno de desdobramento tem sido regis-

    trado em todos os tempos. Antnio de Pdua, por exemplo, na tera-feira santa do ano de 1226, quando pregava na Igreja de So Pedro de Orve-yroix, em Limonges, desdobrou-se. Os monges dum mosteiro, localizado noutro extremos da cidade, viram-no sair da capela, ler no ofcio a passa-gem designada e desaparecer, em seguida.

    Afonso de Lignori, encarcerado em Arezzo, abstivera-se de alimentos na cela onde permanecia, quieto. Cinco dias aps, despertou pela manh e afirmou ter assistido aos ltimos momentos de Clemente XIV. Ele fora visto ao lado do papa moribundo, confirmando-se, portanto, suas palavras.

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    Outro fato que merece ser relatado, por tratar-se de ocorrncia regis-trada com Chico Xavier, foi publicado na revista portuguesa Estudos Ps-quicos, na edio de dezembro do ano passado.

    Numa sesso realizada no Centro Esprita Dr. Dias da Cruz, em Ca-ratinga Minas Gerais em maro do mesmo ano, Henrique Magalhes, colaborador daquela revista, os conta o seguinte:

    A seguir, encontraram-se materializao de Chico Xavier, o qual falou conosco em linguagem bem conhecida, abraando-nos, bem como a uma sua sobrinha, que tambm se encontrava no local. Esta ltima, encar-nada.

    Foi a primeira vez em minha vida que abracei um esprito materializa-do, cuja criatura Chico Xavier ainda est vivendo entre ns, com a graa de Deus, pois ainda muito esperamos de seu labor.

    A ao extracorprea do homem encarnado explica Alexandre Ak-sakof pode ir at o desdobramento do organismo, ostentando um simula-cro de si mesmo, o qual se torna ativo durante certo tempo, independente-mente de seu prottipo, e apresenta tributos incontestveis de corporeida-de.

    No caso particular da materializao de Chico Xavier afirma nosso confrade Aureliano Alves Neto, em brilhante artigo publicado no jornal Mundo Esprita houve, concomitantemente, um fenmeno esprita, de vez que se fez imprescindvel a doao de ectoplasma por parte dos m-diuns do Centro Esprita Dr. Dias da Cruz.

    Embora sejam raros os fenmenos desta natureza verificados com Chico Xavier, no podemos deixar de consider-los como parte integrante da sua incomparvel faculdade medinica a servio do progresso moral e intelectual da humanidade.

    Manuseando as pginas da histria, verifica-se que, desde pocas re-motas, Deus tem enviado Terra missionrios capazes de ajudar o homem na sua grande caminhada rumo perfeio, cada um desempenha seu tra-balho no setor que lhe peculiar. Assim, espritos de escoltem reencarna-do em nosso orbe terreno, em cumprimento dessa rdua tarefa, de acordo com os planos traados pela Divina Providncia.

    no campo da mediunidade que se observa acelerado movimento vi-sando esclarecer o homem que a vida continua tal como na Terra; que o

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    Esprito, aps a morte do corpo fsico, conserva sua individualidade e que seu progresso espiritual s se completar atravs das mltiplas reen-carnaes, neste ou outros planetas, dependendo do grau evolutivo que te-nha alcanado.

    Sim, no caso da mediunidade, dissemos, porquanto foi pela comunica-o dos espritos, servindo-se das mais variadas faculdades medinicas, que os cticos e inveterados materialistas do sculo passado renderam-se diante da evidncia dos fatos.

    E Chico Xavier, que detm mediunidade segura, graas s aquisies do seu passado de sofrimento e de lutas jamais fracassar, pois tem como guia e protetor aquele que sempre esteve junto dele em pretritas existn-cias: trata-se de Pblios Lntulus, presidente da Judia, ao tempo do Cris-to.

    Hoje, no Plano Espiritual, mais ligado ao Chico por laos afins, aps ter sido Manoel da Nbrega, companheiro da Anchieta, quando muito con-tribuiu para assentar as bases do Cristianismo Nascente em nossa Ptria, apresenta-se como Emmanuel, cujo nome significa Deus conosco, para continuar a grandiosa obra de evangelizao em nossa terra, servindo-se da sua mediunidade desde 1931, quando apareceu ao mdium pela vez primeira, como um velhinho de barbas longas e brancas, apoiado num ca-jado.

    Desde ento, a faculdade medinica vem-se aprimorando cada vez mais. No sabemos qual tcnica usada pelos mentores da espiritualidade para este aprimoramento, mas de uma coisa temos certeza: as obras que at agora foram ditadas por seu intermdio, abordando assuntos de ordem cientfica, filosfica e religiosa, atestam que est, realmente, preparado pa-ra o exerccio medinico que abraou desde o dia 7 de maio de 1927, quando assistiu primeira sesso esprita. Nesse dia, fora dado por ele o primeiro passo. Outros mais seguiram-se a este e, em 1932, a Federao Esprita Brasileira lanava seu primeiro livro Parnaso de Alm-Tmulo com grande sucesso, pois no deixava dvida quanto autoria atribuda s poesias compiladas nessa monumental obra literria.

    Victor Ribas Carneiro

    Jornal Esprita, julho de 1977, So Paulo, SP

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    50 Anos Depois: Este jubileu vale mais que ouro

    O mdium de Uberaba atinge o meio centenrio de glrias, evitando as

    glorificaes humanas. Por sinal, ele est em repouso, naturalmente esgo-tado por uma atividade fora de srie que se intensificou nos ltimos 6 a-nos, a partir daqueles dois Pinga-Fogos, na televiso, quando delineou-se de fato em nosso pas nova fase de concepo e observao popular. Hoje, j se pode falar (tendo em vista o sucesso retumbante de Chico na TV) em antes e depois de Chico Xavier. Enquanto h os que se curvam reverentes e gratos a Chico Xavier por estes 50 anos de caridade, amor e verdade na perfeita personificao do Paracleto entre ns, no Corao do Mundo, Ptria do Evangelho, h os exploradores, aproveitadores e aam-barcadores margem do espiritismo. A sombra do humilde mdium mi-neiro usada como que uma capa apanhada sorrateiramente, para provei-tos diversos. Mensagens duvidosas, apcrifas, forjadas, adulteradas, rolam pelas ribanceiras dos mistificadores insaciveis, falsos profetas que procu-ram uma santificao custa dos 50 anos de trabalho cristo verdadeiro deste homem que no admite ser mais que um burro de carga da Espiritua-lidade, mas a cujos ps os farsantes das sombras deveriam em verdade se prostrar, envergonhados de tantas sandices, maldades e cinismo. Peamos a Deus muitos e muitos anos de existncia fsica para o querido Chico, o Brasil precisa dele. Porque do Brasil, para todo o mundo, atravs da Dou-trina Esprita, partem as claridades redentoras. Manifestamos a Chico Xa-vier a nossa alegria por este jubileu que vale mais que ouro. So 50 anos de amor puro, sob a rvore frondosa do Evangelho.

    Zair Cansado

    Jornal Esprita, julho de 1977, So Paulo, SP

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    O Mdium dos Impactos I O Homem Francisco de Paula Cndido nasceu em Pedro Leopoldo, pequena ci-

    dade de Minas Gerais, no dia 2 de abril de 1910 e seus pais foram Joo Cndido Xavier, simples operrio, e Maria Joo de Deus, humilde lavadei-ra, desencarnados, respectivamente, e, 1960 e 1915. Ficaria, entretanto, famoso e conhecido no mundo pelo nome literrio de Francisco Cndido Xavier ou, simplesmente, Chico Xavier.

    Seus 67 anos nesta encarnao constituem uma epopia marcada pelos dissabores da orfandade, pela doena, pela pobreza material, pela capaci-dade de trabalho, pela disciplina e perseverana, sobretudo pela mais ex-tremada dedicao a uma causa, a mais nobre e sagrada de todas: a da Doutrina Esprita, a de Jesus.

    Houve compensaes? Sim, as de ordem espiritual, as mais valiosas. O prprio Chico Xavier diz: Tenho tido uma compensao muito

    maior que aquela que pudesse vir ao meu encontro atravs do dinheiro: a compensao da amizade. O espiritismo e a mediunidade trouxeram-me amigos to queridos, que me dispensam tanto carinho, que eu me conside-ro muito mais feliz com estes tesouros do corao, como se tivesse mi-lhes minha disposio. (ver Entrevistas, edio do Instituto de Difuso Esprita, SP, 1975, pg. 23, tpico O Salrio da Mediunidade).

    rfo de me aos cinco anos, sua infncia foi difcil e sua instruo no passou do primrio, depois melhorada por fora do estudo exigido pa-ra o melhor desempenho das tarefas medinicas. A este respeito, o prprio Chico Xavier esclareceu (ver No Mundo de Chico Xavier, de Elias Barbo-sa): Em 36 anos de convvio estreito, quase dirio, ele (Emmanuel) me traou programas e horrios de estudo, nos quais a princpio incluiu at datilografia e gramtica, procurando desenvolver os meus singelos conhe-cimentos de curso primrio, em Pedro Leopoldo, o nico que fiz at agora, no terreno da instruo oficial.

    Exerceu os empregos mais humildes, como servente de fbrica de te-cidos (aos 9 anos), ajudante de cozinheiro, empregado de armazm e fun-ciona, Corao generoso, ala simples, sempre procurou minorar o sofri-

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    mento Pequenos e rpidos exemplos de como Chico Xavier se considera realmente perante o mundo:

    Estou na situao de laranjeira de condio extremamente inferior quando recebe a enxertia. Os frutos generosos so filhos da planta nobre que concedeu a laranjeira pobre e triste a honra de lhe ser, por algum tem-po, o magnnimo inquilino. Retirada a dadivosa ocupante, o vegetal que fica resduo intil... (Ditado a Clovis Tavares, em Trinta anos com Chi-co Xavier, pg. 11).

    ... receber livros dos Instrutores Espirituais no me cria privilgio al-gum, que estou apenas cumprindo um dever e que sou m mdium to fal-vel quanto qualquer outro, com necessidade constante de orao e traba-lho, boa vontade e vigilncia... Sei que sou um esprito imperfeito e muito endividado, com necessidade constante de aprender, trabalhar, dominar-se e burilar-me, perante as leis de Deus. (No Mundo de Chico Xavier, de E-lias Barbosa).

    De uma entrevista concedida por Chico Xavier e publicada no Anurio Esprita de 1967, portanto h 10 anos, vamos citar resumidamente algumas das respostas que deu ao reprter a seu prprio respeito e que, sabemos, continuam vlidas at hoje: a velhice no o preocupa; no se considera cansado: o tempo o vai amadurecendo a pouco e pouco; sente-se alegre e otimista; ama a vida (Presena Divina em toda parte); encara a morte co-mo mudana completa de casa sem mudana essencial da pessoa; mu-dou-se de Pedro Leopoldo por motivo de sade; no tem carro nem em-pregados; a sade est relativamente bem, exceo natural dos olhos que sempre os teve enfermos; sente dores comumente; faz tratamento rigoroso e constante; considera que a cegueira seria uma provao sem ser uma tragdia; sofreria se ofendesse ou prejudicasse algum; chora como qual-quer pessoa; gosta de animais, de solido, s vezes; trabalha, mesmo apo-sentado, embora tire alguns dias de frias anuais; gosta de fazendas, prai-as, de viagem de nibus, de preferncia com amigos, de andar a p; des-culpa sempre as ofensas, que recebe como avisos preciosos; gosta de lite-ratura, de pintura, de cinema (de filmes que nos faam sentir melhores); ouve msica; l jornais para informar-se; levanta-se cedo; de manh traba-lha com os amigos espirituais; almoa ao meio-dia, comida do interior, comum; bebe gua; no dorme aps o almoo; gosta de doces, de caf,

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    no fuma; de tarde, trabalha no servio da doutrina; no janta; de noite trabalha; deita-se tarde; dome tranqilo; tem bons sonhos.

    II O Mdium Francisco Cndido Xavier, para ns, o maior mdium do mundo pe-

    los seguintes motivos: a) capacidade de sintonia com muitas entidades espirituais, mais de

    500 espritos diversos; b) quantidade de obras publicadas, ou seja, na da menos de 150 com ti-

    ragem total de milhes de exemplares; c) diversificao das obras publicadas, que abrangem numerosos as-

    suntos, compreendendo poesias, romances, contos, crnicas, histria geral e do Brasil, cincia, filosofia, religio, etc.;

    d) qualidade das obras publicadas, de elevada concepo moral e edu-cativa;

    e) tempo de exerccio ininterrupto da mediunidade: 50 anos completos; f) variedade das aptides medinicas, reunidas num s instrumento:

    audincia, vidncia, cura, transporte, materializao, psicofonia, psicogra-fia;

    g) cumprimento integral e exemplar do mandato medinico. A atividade medinica de Chico Xavier pode ser assim esquematizada: 1 perodo dos 5 aos 17 anos (1927), em que v o esprito da me de-

    sencarnada e escreve, ditado por um esprito, uma pgina sobre Histria do Brasil, destinada a um concurso entre escolares (1922, aos doze anos de idade), bem como outra composio sobre a areia, tambm ditado pela en-tidade amiga.

    2 perodo de 1928 a 1931, em que recebe mensagens de adestramen-to da psicografia, muitas delas publicadas em rgos da imprensa profana, como Jornal das Moas, Suplemento Literrio de O JORNAL, Almanaque das Lembranas, de Portugal. Essas mensagens foram inutilizadas por or-dem de Emmanuel. Nesse perodo os trabalhos do sensitivo eram publica-dos com a assinatura F. Xavier.

    3 perodo de 1931 at hoje; mediunidade dirigida, orientada por Emmanuel, guia e protetor espiritual do mdium, de que resultou o acervo

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    aprecivel de obras medinicas as mais diversas, a comear pelo Parnaso de Alm-Tmulo, conjunto de maravilhosas poesias, publicado pela pri-meira vez em 1932.

    A primeira atividade esprita de Chico Xavier se deu no dia 7 de maio de 1927, numa reunio de preces em benefcio da irm doente, Maria Xa-vier Pena, reunio essa orientada por Jos Hermnio Percio que, junta-mente com a esposa, D. Carmem Percio, fundariam pouco depois, o Centro Esprita Luiz Gonzaga, insto , em 21 de junho do mesmo ano.

    Em 1927, no dia 18 de julho, uma sexta-feira, no Centro Esprita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo, escreveu sua primeira mensagem, ditada PR Um Esprito Amigo, a respeito de um tema evanglico, um apelo ao cumprimento de nossos deveres espritas perante Jesus.

    Em 18 de janeiro de 1929, D. Carmen Pena Percio teve linda viso, prenunciadora na misso espiritual de Chico Xavier, de psicografar o livro medinico: v uma chuva deles caindo sobre o mdium.

    Numa Tarde de domingo, no lugar Aude, junto linha frrea, em 1931, numa reunio de preces ao ar livre, Chico v Emmanuel pela pri-meira vez, na figura de um velhinho apoiado num bordo: s mais tarde o v na figura do Senador romano.

    Em 1931 recebe os poemas do Parnaso, que publicado em 1932. Era o comeo de uma longa atividade medinica cujos frutos constituem, hoje, uma vasta e bem caracterizada literatura esprita, ao lado das obras no-medinicas.

    O aparecimento do Parnaso causou o primeiro impacto na comunidade esprita, com intensa repercusso no meio profano, fato que exporemos melhor em outro artigo.

    Em 1944, com a publicao de obras medinicas assinadas por Hum-berto de Campos, esprito, e psicografadas por Chico Xavier, novo impac-to provoca grande celeuma no meio esprita, pois a viva do famoso escri-tor promove ao judicial contra o mdium e a Federao Esprita Brasi-leira, a respeito dos direitos autorais devidos. As obras de Emmanuel, as de Andr Luiz, provocam tambm outros impactos emocionais, levando os espritas leitura e ao estudo de livros opulentos de ensinamentos e sabe-doria, trazendo para as fileiras espritas numerosos adeptos, convencidos

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    das verdades eternas expostas nos livros medinicos. Outros impactos viriam.

    A mediunidade explosiva em Chico Xavier. Poderia ter sido feno-menal como audiente, vidente, em efeitos fsicos, em ectoplasmia. Devia s-lo, somente, na psicografia, pois que era seu objetivo maior dar livros, livros mo cheia e mandar o povo pensar...

    Em efeitos fsicos sabe-se que produziu, assim mesmo, coisas maravi-lhosas. Conta Joaquim Alves (J) que um caramujo grande, belo, molhado de gua salgada e gelada, com restos de areia fresca, foi jogado aos seus ps, em reunio com o Chico, trazido por Scheilla, reunio esta que se rea-lizava no Tringulo Mineiro, a centenas de quilmetros do mar.

    De outra feita, uma rosa amarela, com as ptalas orvalhadas, que trazida do Norte do Pas para reunio medinica. ainda J que nos revela o aparecimento, numa sesso, de grandes espritos materializados: Cidlia, madrasta de Chico; Meimei, com suas ondas de perfume, numa roupa Romana de tonalidade azulnea, trazendo no peito uma Via Lctea, com mirades de estrelas tremeluzindo com invulgar fulgor, nas mos uma ro-cha representando a f; Emmanuel, que fala aos presentes; Scheilla, que radiografa o estmago de um doente, permitindo aos presentes verem as vsceras em funcionamento, e Auta de Souza. Aberta a porta da cabina, o mdium, Chico Xavier, dormia e de seu peito irradiava um foco de luz, que formava no espao a palavras AMOR.

    Mais alguns exemplos emocionantes de fatos medinicos devidos a Chico Xavier:

    Ermelinda de Paula Peixoto, conta-nos Clvis Tavares (Presena de Chico Xavier, de Elias Barbosa, pg. 65), numa reunio em Campos, com Chico Xavier, pede-lhe que escreva em seu lbum alguns sonetos do Par-naso. Isto feito, Ermelinda passa a ler o que fora escrito e depara com esta quadra, intitulada Apelo a Ermelinda e assinada por Casimiro Cunha:

    Ermelinda, a nossa Escola um templo de Amor e Luz!... Eleva-te. Vence o mundo! Vai trabalhar com Jesus.

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    Ermelinda pe-se a chorar, comovida e explica que abandonara a Escola Jesus Cristo, de evangelizao, que freqentava, mas voltaria a se matricular, o que de fato fez.

    O mesmo Clovis Tavares, em Trinta Anos com Chico Xavier, relata o seguinte: em 15 de outubro de 1966, em Uberaba, em reunio com o Chi-co, este lhe comunica estar presente um esprito jovem que se diz chamar Emlia Neves, desencarnada em 1938 e que, por algum tempo, freqentara a escola Jesus Cristo, de Campos. Noutra reunio noite, o mesmo espri-to, tambm presente e visvel aos olhos do mdium, dita para ele um bilhe-te, em que diz ter morrido em 20/03/1938 e no em 20/08/1938, como an-tes anotara o Chico. Emlia Neves havia desencarnado em Itaperuna e l obteve, Clvis Tavares, a informao do fato e da data indicada pelo Esp-rito, mediante cpia da certido de bito, que estampa em seu livro (roda-p: pg. 169).

    Conta Newton Boechat (Presena de Chico Xavier pg. 127) que Dna. Esmeralda Bittencourt, cooperadora da seara, morava com a filha na rua Itapira, no Rio, onde conhecera um aougueiro portugus, de nome Manu-el, de estatura mdia, pela avermelhada, que lhe externara o desejo de in-gressar em certa ordem espiritualista de Lins. Dna. Esmeralda lhe retruca-ra que nada melhor havia, nesse particular, que a Doutrina Esprita, com seus postulados e suas diretas conseqncias aplicveis na vida de relao humana.

    O aougueiro, entretanto, realizou seu desejo. Um dia, a filha anuncia Dna. Esmeralda que o Manuel Templrio, como o chamavam ento, ha-via desencarnado.

    Anos depois, Dna. Esmeralda vai a Pedro Leopoldo e o Chico, que psicografava, pra, por instantes e lhe diz:

    - Estou vendo ao lado da senhora uma entidade espiritual, de estatura mdia, pele avermelhada, abraando-a carinhosamente e perguntando se se lembra dele: d o nome de Manuel Templrio.

    E diante da senhora que chorava, emocionada, acrescentou o mdium: - O nosso Manuel pede que lhe diga que a senhora tinha razo no caso

    da organizao secreta, a qual, em verdade, no lhe auxiliou a libertao espiritual da maneira decisiva. Nada melhor do que a Doutrina Esprita pa-ra simplificar nossas vidas.

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    Jean Manzon e David Nasser na poca obscuros reprteres, vo a Pedro Leopoldo e, dizendo-se jornalistas franceses, entrevistam Chico Xa-vier, fazendo o que quiseram. De volta ao Rio trazem dois livros, oferta do Chico, e ao abri-los, deparam com dedicatrias do mdium, em que os cita pelos prprios nomes.

    Chico Xavier tem respondido a muitas perguntas em numerosas ocasi-es em que entrevistado, seja por espritas, seja por leigos, no jornal, no rdio, na televiso. Vamos citar aqui algumas das respostas que ele deu a assuntos os mais diversos, mas de grande importncia para todos ns. Co-locamo-nos no II O MDIUM, porque o prprio Chico sempre fala ori-entado por Emmanuel, ou como sensitivo de grande acuidade espiritual, intuitivamente:

    a) sobre a operao plstica, esclareceu que se a Providncia Divina no-la concedeu, ser naturalmente para que venhamos a valorizar, cada vez mais, o veculo fsico pelo qual nos externamos na Terra, por ser a plstica regeneradora um fator de grandes estmulos psicolgicos par que a alegria de viver no fenea em nossos coraes e para que possamos traba-lhar com mais interesse, com mais estmulo, no rendimento de nossa vida para o bem de todos;

    b) sobre o congelamento de um ser vivo, explicou que o Esprito fica mais ou menos ligado ao corpo se houver vida orgnica assegurada por mtodos cientficos, podendo o esprito tambm desempenhar alguma ta-refa, em desdobramento, enquanto ligado ao corpo; c) quanto alimentao de um ser vivo, explicou que ainda necess-ria para muitas pessoas que, somente com a evoluo, podero dispens-la sem prejuzo de qualquer espcie; deve ser evitada em excesso, pelo me-nos; d) quanto s comunicaes com os desencarnados, o mdium assim se manifestou: Do ponto de vista literrio, muitas vezes tenho tido a visita de poetas e escritores que desejam escrever sobre os temas que os sensibi-lizaram neste mundo, mas sem maior proveito para a f. Eles, s vezes, querem escrever, conversar. Falam de pginas maravilhosas, se fossem es-critas; contudo, Emmanuel corrige o assunto e no permite que as pginas venham por nosso intermdio, porque ele considera que do Mundo Espiri-tual para ns deve vir aquilo que for construtivo, que possa nos ajudar;

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    e) a respeito do divrcio, disse Chico Xavier certa vez que medida humana; que processos novos de vivncia possam se inspirar nessa lei de libertao, que uma lei justa em favor da ps de nossos lares, com eman-cipao para o homem e para a mulher, sem a iluses e fantasias do amor possessivo, do amor egostico, de um lado ou do outro, porque cada um senhor do prprio destino;

    f) o homossexualismo mereceu o seguinte comentrio: no devemos desconsiderar, de maneira nenhuma, a maioria de nossos irmos que vie-ram e esto na Terra com condies inversivas do ponto de vista do sexo, realizando tarefas muito edificantes em caminho de redeno de seus pr-prios valores ntimos. Consideramos isso com muito respeito...

    g) o tema do amor livre foi assim considerado pelo mdium: o sexo responsvel quando instrumento do amor. Portanto, as nossas ligaes de natureza sexual devem obedecer ao critrio da lei, da palavra empenhada, do compromisso, da monogamia enfim, embora nos amemos infinitamente uns aos outros; no terreno do sexo, o amor precisa de represa para que ele no faa um inundao destrutiva, criando calamidades sentimentais ou suscetveis de arrasar com a famlia, com a nossa organizao social;

    h) o aparecimento na televiso, quando antes no dava entrevistas, assim explicado por Chico Xavier: Nosso Emmanuel sempre me disse: Aps o centsimo livro medinico, ns permitiremos que voc converse algumas vezes publicamente com os nossos irmos. Ento, depois dos 100 livros, o que foi completado em 1969, ele permitiu que eu viesse al-gumas vezes televiso;

    i) sobre as viagens ao exterior, to comentadas, disse: Creio que visi-tei pases do exterior por acrscimo de misericrdia Divina, pois, realmen-te, no tenho ttulos nem merecimento para viagens culturais.

    j) o transplante de rgos foi visto assim pelo mdium: A causa da re-jeio remonta ao corpo espiritual e no poderia exigir que a cincia abra-ce afirmativas nossas, sem experimentao positiva. O problema dos transplantes legtimo e deve ser levado a diante. Os espritos acham mui-to natural venhamos a doar os rgos prestantes a companheiros necessi-tados deles que possam utiliz-los com segurana e proveito. A doao de rgos no traz dor nem maiores conseqncias ao esprito que desencar-na. O doador, naturalmente, no tem, em absoluto, sofrimento algum,

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    mesmo porque a morte quase nunca dolorosa, exceto em casos excep-cionais. Os espritos auxiliam os mdicos em suas tarefas. O receptor tem uma sobrevida, que lhe pode ser muito til e o doador ter contribudo pa-ra o progresso da medicina no mundo;

    k) relativamente ao tubo de ensaio para produo do beb de proveta, disse o mdium: Tenho ouvido por diversas vezes o esprito de Emmanu-el a respeito disso. Ele diz que o nosso respeito Cincia deve ser incon-teste e que o progresso da Cincia infinito, porque a soluo do proble-ma do tudo de ensaio para o descanso do claustro materno, visvel. Mas, restar Cincia um grande problema, o problema do amor com que o es-prito reencarnante envolvido no lar pelas vibraes de carinho, de espe-rana, ternura e confiana de pai e me...

    O mdium admirvel nos levaria a encher pginas e mais pginas, por isso acrescentamos apenas o seguinte:

    O prof. Herculano Pires, em Quarenta Anos no Mundo da Mediunida-de, de Roque Jacinto, fala-nos de Chico, O Interexistente, explicando que pessoas como Scrates, Descartes, Joana DArc no apenas existiram mas tambm interexistiram. Quer dizer, cada uma delas existia ao mesmo tem-po no aqui e no agora, como homem no mundo, e existia no alm, como homem fora do mundo. Assim tambm o Chico. Nos mdiuns, continua o prof. Herculano Pires, a duplicidade vivencial se acentua de tal maneira que eles vivem ao mesmo tempo na duas formas de existncia, neste inter-cmbio que achamos interexistencial. Entretanto, observa o prof. Hercula-no, bom esclarecer que o alm no est alm de ns mesmos, est pelo contrrio, infiltrado no aqum; misturado ao aqui e ao agora, da mesma maneira que o esprito est infiltrado no corpo e com ele fundido. Chico Xavier vive, como sensitivo de extraordinria capacidade perceptiva, no mundo da matria e do esprito, ao mesmo tempo!...

    Pedro Franco Barbosa

    Jornal Esprita, julho de 1977, So Paulo, SP.

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    Meio Sculo de Fidelidade a Kardec

    No dia 2 de abril de 1910, surgiu nos cus do Brasil, em Pedro Leo-

    poldo, uma refulgente estrela cujo brilho, at hoje, se reflete em nosso or-be terrqueo, iluminando e esclarecendo milhes de mentes e coraes.

    Francisco Cndido Xavier. Misso santificante e gloriosa a servio do Cristianismo Restaurado. Desde a idade dos cinco anos, comeou a perceber a influncia de es-

    pritos. Com o decorrer do tempo, sentiu o grande desejo de obter conhe-cimento sobre os fenmenos medinicos.

    Graas a um amigo, chegaram-lhe s mos os livros da codificao do Espiritismo. O seu apostolado medinico comeou na noite de 8 de julho de 1927, em uma reunio pblica, no Centro Esprita Luiz Gonzaga, na ci-dade de Pedro Leopoldo, quando estava presente a mdium Carmem Per-cio, que lhe comunicou a presena de um esprito amigo que desejava transmitir-lhe uma mensagem. Francisco Cndido Xavier apanhou o papel sobre a mesa e escreveu 17 pginas.

    Segundo nos declarou, l, diariamente, um trecho do Testamento Kar-dequiano e um tpico de O Novo Testamento, mantendo permanente contato com a estrutura grantica da Doutrina Esprita codificada por Allan Kardec.

    A produo medinica impressionante. Mais de 150 livros. Milhes de exemplares. Tradues para o francs, ingls, japons, castelhano e es-peranto.

    Em 1974, a revista Argentina Conhecimento afirmou que a faculdade psicogrfica de Francisco Cndido Xavier assombrosa.

    O mdium considerado como a mais estranha antena psquica do s-culo XX.

    O Movimento Cristo-Esprita do Brasil muito deve a esse querido medianeiro, Cuja humildade deveras impressionante.

    A primeira obra medinica literria do mdium Parnaso de Alm-Tmulo, editada pela Casa de Ismael, em 1932, cujo objetivo primordial demonstrar a sobrevivncia dos poetas, atravs de temas e estilos.

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    Essa obra alcanou grande repercusso, reunindo poesias dos espri-tos Guerra Junqueira, Castro Alves, Olavo Bilac, Casimiro de Abreu, etc.

    A fidelidade do mdium na preservao da pureza do contexto karde-quiano no deixa nenhuma sombra de dvida em face de sua produo medinica eminentemente crist-evanglica.

    Emmanuel o seu guia espiritual que lhe vem supervisionando a obra com acendrado amor.

    Religio dos Espritos, Seara dos Mdiuns, O Esprito da Verdade, e Justia Divina, pelo esprito de Emmanuel, tornaram cativante o aprendi-zado de O Livro dos Espritos, O Livro dos Mdiuns, O Evangelho Se-gundo o Espiritismo e O Cu e o Inferno.

    Sua produo medinica compreende obas de literatura, poesias, ro-mances, contos, crnicas, literatura infantil, histria (histria geral e do Brasil) e doutrinrias (cientficas, religiosas, filosficas), reveladoras (ro-mances de Andr Luiz) e de moral evanglica (ativamente moral).

    Segundo depoimento pessoal do mdium, nestas cinco dcadas de me-diunidade santificante, sente-se como se estivesse viajando, aprendendo sempre. Diz-nos ele que esses livros que psicografou no lhe criaram ne-nhum privilgio, trazendo-lhe, pelo contrrio, muita responsabilidade. E mais: ele no o que imaginam, mas o que verdadeiramente, isto , um esprito necessitado, constantemente, de trabalho, orao, boa vontade e vigilncia.

    O mdium jamais se serviu de sua produo medinica para auferir vantagens ou qualquer proveito prprio. Faz doaes desses livros para as obras de assistncia social, em nome da caridade.

    Em sua cativante humildade, declara que esses livros que passaram por suas mos no lhe pertencem, mas sim, aos espritos instrutores e benfeito-res.

    Outra obra digna de realce Antologia dos Imortais, editada pela Fe-derao Esprita Brasileira, lanada em Belo Horizonte pela Unio Esprita Mineira e prefaciada por Dr. Elias Barbosa.

    Nessa obra, os espritos comunicantes demonstram sua predileo pelo soneto.

    O prefaciador informa que a mencionada obra no guarda qualquer re-lao com a imortalidade acadmica laureada na Terra e afirma que o

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    mdium fiel interprete das principais correntes literrias, desde a ro-mntica modernista, de duas literaturas, a brasileira e a portuguesa, in-clusive de poetas folcloristas.

    Essas consideraes vm a propsito, visto que alguns membros da Academia de Letras, manifestando-se sobre essa produo medinica, a-firmaram que Francisco Cndido Xavier poderia escolher, vontade, quantas cadeiras de imortais desejasse na mencionada Academia, para o-cup-las em face do vastssimo acervo cultural-literrio que essa obras re-presentam.

    Viajou ao exterior em companhia do mdium Waldo Vieira e, nos Es-tados Unidos, Amrica do Norte, recebeu, em ingls, vrias mensagens que culminaram com a edio do livro Entre irmos de Outras Terras.

    Recebeu dezenas de ttulos honorficos, outorgados por diversas As-semblias Legislativas Estaduais, Cmaras Municipais, Prefeituras, etc.

    Participou de inmeros programas de rdio e televiso. Salientamos o Pinga-Fogom pela TV Tupi de So Paulo, penetrando milhes de lares brasileiros, mostrando ao povo de s autoridades a verdadeira imagem da Doutrina Esprita que sintetiza na afirmao de Emmanuel: O apostolado de Allan Kardec a restaurao do Cristianismo simples e claro em que Jesus procura o povo e o povo encontra Jesus.

    Dezenas de rgos da imprensa brasileira e estrangeira j dedicaram ao mdium longos editoriais e seu nome foi focalizado em livros e revisas de todo o mundo.

    O mdium desempenha tarefa intensssima de atendimento volumosa correspondncia, dificilmente recolhendo-se ao leito antes das duas da madrugada.

    Alguns de seus clebres romances, como Paulo e Estevo e Renncia, foram radiofonizados e obtiveram retumbante xito.

    O mdium j recebeu comunicaes de centenas de espritos, esclare-cendo e consolando atravs de mensagens de fino teor evanglico.

    Dificilmente nos prximos sculos surgir em nosso planeta um m-dium de tamanha envergadura doutrinria.

    Exemplificando que a f sem obras morta, mantm um servio de as-sistncia social, em nome de Jesus, que deslumbra os olhos e edifica os

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    coraes. Milhares de pessoas recebem o po material e espiritual, em nome da abenoada Doutrina Esprita.

    Exerce, atualmente, o seu apostolado no Grupo Esprita da Prece, A-venida Joo XXIII, n 1495, em Uberaba, Minas.

    A tnica da produo medinica de Chico Xavier o perfume da mensagem crist. Emmanuel, atravs dele, j situou a posio do Espiri-tismo, simbolizando um tringulo de foras espirituais em que Cincia e a Filosofia vinculam Terra essa figura simblica, mas a Religio o Divi-no ngulo que a liga aos Cus.

    Rogamos a Jesus Cristo que permita que o nosso mdium no dia 8 de julho de 1977, quando estar completando 50 anos de atividades medini-cas a servio da Doutrina Esprita, esteja junto de ns no plano fsico para, juntos, com as falanges espirituais que nos assistem, abraarmo-nos mutu-amente, dando Glria a Deus nas Alturas, e Desejando Paz ao Homens da Terra.

    Floriano Moinho Peres

    So Paulo SP

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    Cidado da Luz

    Vou comear lembrando meu primeiro contato com Chico Xavier.

    Sim, era julho de 1974 e eu estava noutra. Me tinha por escritor e fazia um livro sobre a Revoluo Farroupilha de 1835. No sei porque fui redigi-lo em Uberaba, eu precisava de reconhecimento e solido. Num sbado noite, cansado de pesquisas e apontamentos, fui ao Centro Comunho Esprita Crist, pensando em aliviar a cabea. Conhecer o mdium de que todo o Brasil falava. Bem, a fila era enorme, eu queria apenas cumprimen-t-lo por curiosidade. Eu tinha um livro de poesias (Um Violinista te A-companha do Exlio), fui me chegando pelo lado e, quando ele me notou, ofereci-lhe o livro. Chico abriu-o ao acaso, leu algumas linhas, olhou-me e perguntou se eu podia aguard-lo na sala ao lado.

    Surpreso pela distino que ele me oferecia, aguardei-o sentado por mais de uma hora. Como a fila continuava enorme, j era uma hora da manh, achei que ele me havia esquecido e tratei de ir embora. Nesse ins-tante, Chico adentrou a sala. No me lembro agora sobre o que conversa-mos no incio, mas recordo que ele me disse: Voc veio hoje aqui trazido por sua falecida me (...). Ela sente-se muito feliz, est atrs de voc tra-jando um vestido azul com bolinhas brancas e um coque romano no cabelo preto. Diz que voc a chama de Tia e que sua grande esperana foi, e , v-lo cooperando na obra da Criao Divina... Sim, foi isso. Ningum me conhecia na cidade, no era telepatia, mas como ele poderia saber? Empa-lideci, a boca ficou sem saliva, o que ele dissera batia 100% com a reali-dade.

    Eu no acreditava em espritos nem na sobrevivncia da alma, meus valores eram outros, eu me tinha por ateu assumido, irretocvel, aquilo era a negao bsica das minhas armaes racionalistas.

    Minha me era esprita e, antes de morrer, disse-me: Tu no crs mas, um dia, todos ns temos nossa Estrada de Damasco. Sei que vou desen-carnar (ela estava com cncer terminal), mas estarei orando por ti. Foi a maior perda da minha vida, junto com a do meu filho Fernando Augusto, num acidente de moto. Sa de Uberaba intrigado, conflitado, confuso mesmo. Antes repetira para mim mesmo o famoso monlogo de Amado

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    Nervo, ante o fretro da me que tanto amava: Padre de los vivos, a-donde van los muertos, adonde van?... Bem, o tempo passou, as guas do rio desceram para o grande mar, muita coisa mudou. A vida mudou. Eu mudei. minha me e Chico Xavier, devo para sempre a opo de seguir o caminho da espiritualidade.

    Sou servo que chega atrasado ao banquete do Senhor, mas importan-te pra mim que esteja entre os convidados.

    Sei que Chico Xavier ler estas pobres linhas, ento este recado me importante: Convivemos alternadamente entre os anos de 1972/1984 e nos correspondemos at hoje. Compusemos juntos dois livros e tecemos su-blimes ideais. Dentre as inmeras coisas que aprendi condigo sobre medi-unidade confivel, a principal delas que o mdium nunca deve mentir. Lastimo que o mundo no tenha compreendido melhor tua mensagem. antigo hbito da humanidade ignorar, desvalorizar ou desprezar seus men-tores e profetas. Sei que depois, depois e muito depois de teres ido para o Mundo Maior, povos e naes te buscaro nas luzes do passado e no pres-sentimento do porvir. Quando vierem as horas de provao coletiva, al-gumas j acontecidas, outras sem andamento, te buscaro para ouvir-te. Uma vez me disseste que, no Alm, gostarias de continuar mdium. Acho que isso o que vai acontecer. Aos que te buscarem em horas de sofri-mento, aflio ou problemas difceis, continuars o medianeiro entre a Es-piritualidade Superior e a Humanidade chapinhando entre paixes e trevas. Habitas o reino onde a luz nunca se apaga.

    No conheo a linguagem dos anjos, por isso no encontro palavras para manifestar-te minha gratido. Que um dia todos os mdiuns confi-veis da Terra possam, ou possamos nos reencontrar auxiliando o amanhe-cer espiritual da evoluo terrestre. O espiritismo ajuda-nos a compreen-der, medir e aceitar o peso de nossa cruz. Todos somos filhos de Deus por igual; e todos, e cada um, teremos de despertar para a vida Maior. da Lei Divina e indesvivel. Roga a ns, portanto, teus irmos pela filiao Di-vina e pela fraternidade, que nossos caminhos sejam os da justia e mais os da misericrdia. Porque tu prprio, pelos exemplos que vivenciaste, s a personificao da Misericrdia.

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    Concluste tua parte no labor e no sonho. Ensinaste-nos como viver para que Deus permanea conosco. Porque a morte no separa os afetos verdadeiros, certo que um dia nos reencontraremos sob a gide de Deus.

    Fernando do Oz

    Folha Esprita, maio de 1995

    Nota de Folha Esprita:

    Explicao aos leitores: at aqui usei meu nome civil de nascimento,

    Fernando Worm. Muita pessoas tinham dificuldade de pronunciar corre-tamente meu sobrenome, de origem austro-hngara. Ento, resolvi cortar trs letras do sobrenome, para simplificar. Adotei o pseudnimo: Fernando do . Letra O de Cristo, de Amor e de Trabalho, passando depois a Fer-nando do Oz.

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    Nota da Grande Imprensa

    Saudar os oitenta e cinco anos de Francisco Cndido Xavier no co-

    memorar formalidades ou datas. us-las para meditar em profundidade sobre o sentido transcendente da vida, sobre o milagre da f e o grandioso destino da humanidade na direo de Deus, de onde proveio, para onde vai e ao qual pertence.

    Ele traz tona as antigas e profundas virtudes (e virtude quer dizer fora) que notabilizaram o cristianismo ao longo dos sculos: humildade, servio, generosidade, grandeza dalma, perdo, consolao e at, eu diria, milagres!

    No sculo do personalismo, da tecnologia, do marketing, do estrelato, das tcnicas de venda e de convencimento, um desconhecido funcionrio da Agricultura em Pedro Leopoldo, interior de Minas Gerais, por ser por-tador do dom da mediunidade, sem jamais usar uma palavra contra as de-mais religies, sem desejar ganhar, dominar, convencer, prosperar, brilhar e atravs do trabalho silencioso, indormido, modesto e pertinaz, ao longo de quase 60 anos sem frias, sem louros, sem viagens ao exterior, sem a-plausos pelo menos nos primeiros 30 anos, alheio ao poder dos homens e das religies, um ento annimo funcionrio do Ministrio da Agricultura, M. Gerais, eu dizia, transforma-se pela fora moral e pelos dons do Minis-trio, em gigantesca figura da espiritualidade, um benfeitor privado e p-blico que prmio Nobel algum da paz seria capaz de superar, igualar-se talvez.

    Senador Artur da Tvola

    Jornal O Dia Rua do Riachuelo, 359 2623-0011 Rio de Janeiro, RJ

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    Homenagem Chico Xavier

    Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores: No ltimo domingo, dia dois de abril, Francisco Cndido Xavier, o

    querido Chico Xavier, o mais famoso mdium brasileiro, completou oiten-ta e cinco anos de idade. para prestar minha homenagem a esse grande mensageiro da f que ocupo, hoje, a tribuna desta Casa.

    Como em anos anteriores, imagino que essa data to significativa te-nha passado sem maiores comemoraes, pois para os espritas a maneira de contar a idade pela medida da vida terrestre no tem grande valor. Mes-mo sabendo que certamente para Chico Xavier seus sessenta e oito anos ininterruptamente dedicados a fazer o bem so muito mais importantes, eu no poderia deixar de registrar nos Anais desta Casa minha admirao pe-lo incansvel trabalho desse ser humano admirvel, que vem dedicando toda a sua vida a ajudar os seus semelhantes.

    Nascido em 1910, em Pedro Leopoldo, situada em vale ameno nos contrafortes da Serra do Cip, ao norte de Belo Horizonte, Chico Xavier teve infncia difcil e sofrida. Filho de um lar muito pobre, pai operrio de uma fabrica de tecidos e me lavadeira, o menino Chico ficou rfo de me aos cinco anos.

    Provado pela dor, muito cedo teve manifestada sua mediunidade. Des-de os quatro anos de idade Chico tinha vises, mas somente em 8 de julho de 1927 teve incio sua verdadeira misso: a de psicografar mensagens. Desde essa poca, comeou a se dedicar ao espiritismo e s obras sociais. Sua mediunidade passou a se manifestar com maior intensidade e, ao lon-go de todos esses sessenta e oito anos, sempre procurou cumprir essenci-almente a misso de caridade que lhe foi atribuda por seu guia e men-tor.

    Na opinio de muitos estudiosos, Francisco Cndido Xavier um raro fenmeno de psicografia. Dotado de prodigiosa inteligncia e memria, aos dezessete anos, com apenas alguns anos de escolaridade, guiado pelo esprito superior de Emmanuel, comeou a escrever poesias. A publicao de seu primeiro livro Parnaso de Alm-Tmulo, em 1932, por iniciativa

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    da Federao Esprita Brasileira, causou espanto nos meios literrios. Es-tavam ali, cada um deles em seus estilo, dezenas de poetas brasileiros e portugueses. Seria praticamente impossvel a um jovem de vinte e um a-nos, de poucas luzes, ler e assimilar o universo de criao de cada um dos escritores psicografados.

    Castro Alves, Alphonsus de Guimares, Casimiro de Abreu, Cruz e Souza, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Antero de Quental, Guerra Jun-queiro, Antnio Nobre foram alguns dos inmeros escritores que tiveram seus textos psicografados pelo famoso mdium mineiro. Muitos dos livros de Chico Xavier foram traduzidos para vrias lnguas como o espanhol, o esperanto, o francs, o ingls, o grego, o japons, o tcheco, entre outras.

    Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Senadores, No plano literrio, Chico Xavier considerado um verdadeiro fen-

    meno, tendo publicado quase quatrocentos livros. Os recursos provenientes de seus direitos autorais so inteiramente

    destinados a obras sociais espalhadas pelo Brasil, principalmente em Ube-raba, cidade para onde mudou-se, em 1959.

    Em pouco tempo, o modesto funcionrio do Ministrio da Agricultura, j quela altura conhecido nacional e internacionalmente por seus dons medinicos, comeou a atrair para Uberaba pessoas de vrios pontos do Pas e do exterior, que vinham em busca de alento espiritual, de cura para os males do corpo e do esprito.

    A promissora cidade do Tringulo Mineiro acolheu Chico Xavier com carinho e o consagrou definitivamente como filho. Na rua Dom Pedro I, a casa nmero 165 abriga at hoje o homem caridoso que dedica a sua vida aos que sofrem.

    Em 1981, Chico Xavier foi indicado para o Prmio Nobel da Paz por seu trabalho assistencial e por sua obra de divulgao em favor da paz, tendo sido apoiado por cerca de dois milhes de assinaturas recolhidas em todo o Brasil.

    Apesar da sade debilitada desde o final do anos setenta, Chico Xavier vem resistindo, pregando e visitando os pobres de Uberaba. Com o dinhei-ro de seus direitos autorais, fundou inmeras entidades assistenciais e vem

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    mantendo outras, num total de sessenta instituies em todo o Pas e deu origem vasta e enriquecedora obra por ele publicada.

    Seu sorriso doce, sua mansido, sua bondade, sua humildade so ines-quecveis para todos os que tm o privilgio de conhec-lo. Os que a ele chegaram e ainda chegam, carregados das aflies do mundo, saem com a f reanimada pelas palavras e pela sabedoria desse grande mensageiro da f.

    Ao concluir meu pronunciamento, postaria de expressar, em nome dos mineiros e de todos os brasileiros que, como eu, o admiram e conhecem a dimenso de seu trabalho espiritual, a homenagem a Chico Xavier por cumprir to bem sua misso, com o reconhecimento, em via, da obra de um homem que construiu sua biografia fazendo o bem e pregando a espe-rana entre os pobres.

    Que Chico Xavier possa continuar por longos anos edificando a cari-dade e a solidariedade que constri.

    Era o que tinha a dizer.

    Senadora Jnia Marise Lder do PDT

    Resposta ao Sr. Francisco Galves, Presidente do C.E.U. Depto. Editorial Senado Federal Gabinete da Senadora Jnia Marise Braslia, 31 de maio de 1995. Prezado Presidente, Com os meus cumprimentos. Agradeo as palavras sobre o pronunci-

    amento que fiz sobre Chico Xavier e desde j, autorizo sua publicao. Como representante de Minas Gerais, reconheo em Chico Xavier um ci-dado do mundo, onde a bondade revelada no s em atos mas no todo que compe aquele esprito de luz.

    Cordialmente, Jnia Marise

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    Traos de Chico Xavier

    Traos, linhas marcas de uma pessoa so, na realidade, a impresso di-

    gital da alma. Traos de Chico Xavier, em uma tela, criariam o mais belo quadro re-

    tratando a paz, o trabalho, a felicidade e o amor. Pousadas sobre o frio mrmore, aquec-lo-iam, dando-lhe as formas da

    harmonia, cinzelado pela conscincia tranqila do dever cumprido. No tempo do poeta, dariam a mais profunda criao, revelando a pro-

    fundidade do ser. Na composio do msico, seriam a mais perfeita traduo da alegria

    de viver. Os traos de Chico Xavier so como as estrelas: marcam de maneira

    indelvel as rotas, tornando-as seguras para as vitrias ntimas de todos ns.

    Pela coragem de viver no Bem, Chico Xavier perpetua a ao agrega-dora, refletindo em ns a sua presena de luz, que a do lcido modifica-dor que atua em nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.

    Carlos Madi

    So Paulo, 1995

    Fim