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Transferência de Tecnologias para Valorização da Agricultura Urbana.
MODESTO JÚNIOR1, M. de S; SILVA2, D. da F.; ANDRADE3, A. C. da S.
1. INTRODUÇÃO
Existe no mundo um triste fenômeno que atesta o fracasso da Revolução
Verde e de seus métodos destruidores: um bilhão e duzentos milhões de pessoas sem
acesso à alimentação mínima necessária, dos quais 800 milhões passando fome
endêmica, inclinando-os à morte pela desnutrição e suas correspondentes doenças.
Os outros quatro bilhões e meio de habitantes do globo conseguem acesso à sua
ração alimentar diária suficiente ou excessiva - meticulosamente envenenada com
resíduos tóxicos de pesticidas e/ou aditivos químicos da indústria alimentícia. Os
primeiros morrem de fome; os segundos, de câncer e males circulatórios (INSTITUTO
SOLO VIVO, 2005).
Existe outro fenômeno para o qual o mundo não tem prestado a devida
atenção: 800 milhões de pessoas se dedicam à agricultura urbana, respondendo por
15% da produção mundial de alimentos. Trata-se de uma produção muito mais variada
e nutritiva, não baseada apenas em cereais e commodities agrícolas (INSTITUTO
SOLO VIVO, 2005).
A agricultura urbana é realizada em pequenas áreas dentro de uma cidade, ou
no seu entorno (peri-urbana), sendo destinada à produção de alimentos para utilização
e consumo próprio ou para a venda em pequena escala, em mercados locais. Difere
da agricultura tradicional (rural) em vários aspectos: a área disponível é geralmente
restrita aos quintais das residências, existe escassez de conhecimentos técnicos por
parte das pessoas envolvidas, dedicação à atividade não chega a ser exclusiva, existe
diversidade de cultivos, e outros.
A agricultura urbana e peri-urbana utilizada pela população de Belém-PA,
apresenta baixa produtividade devido à falta de planejamento da utilização dos
espaços e ao baixo nível tecnológico empregado. Porém, a introdução de tecnologias
Eng. Agr. Esp. em Marketing e Agronegócio. Analista da Embrapa Amazônia Oriental. Fone: (91) 3204-1190 ou 9942-6534. E-mail: [email protected] B.Sc em Administração de Agronegócios. Analista da Embrapa Amazônia Oriental. Fone: (91) 3204-
1190. E-mail: [email protected] Téc. Agropecuária, Graduando em Administração. Assistente da Embrapa Amazônia Oriental. Fone:
(91) 3204-1190 ou 8165-1243 E-mail: [email protected]
no processo produtivo visando a sua valorização torna-se cada vez mais importante,
pois 40% da população de Belém já adota a agricultura urbana como estratégia de
segurança alimentar, de melhoria da alimentação e de saúde preventiva (FRÈRE;
LUDOVINO; MARTINS, 1999).
Este trabalho tem como objetivo descrever as estratégias e resultados obtidos
com a condução do projeto “Quintal Produtivo: transferência de tecnologias para
valorização da agricultura urbana”, em áreas urbanas e peri-urbanas de Belém, no ano
de 2007/2008.
2. REVISÃO DA LITERATURA
A agricultura urbana envolve o plantio de hortaliças, frutas, grãos, ervas
medicinais e aromáticas, pequenos bosques, áreas de permacultura, flores e
ornamentais. É praticada tanto em cidades pequenas do terceiro mundo, como no
coração de megalópolis do mundo industrializado: Amsterdã, Paris, Nova York, Los
Angeles e Vancouver.
A agricultura urbana também é estratégica em Havana, com 26.000
praticantes, em Moscou (20.000), na Philadelphia, Kampala, cidade do México,
Boston, Tirana, Nairobi, Bangkok, Perth, Sidney, Toronto, São Petersburgo, Shangai,
Montevidéu, Lima, Buenos Aires, Corrientes e La Paz. Está muito bem organizada e
apoiada pelo governo no Canadá, África do Sul, Austrália, Alemanha, Índia e China
(INSTITUTO SOLO VIVO, 2005).
No Brasil, resultados parciais de uma pesquisa inédita financiada pelo
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), chamada
Identificação e Caracterização de Iniciativas de Agricultura Urbana e Periurbana
(AUP), em regiões metropolitanas brasileiras, resultado de um acordo entre a Rede de
Intercâmbio de Tecnologias Alternativas, a ONG peruana Ipes e a cooperação técnica
da FAO. O levantamento, feito em Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), São Paulo (SP),
Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE),
Belém (PA), Goiânia (GO) e Brasília (DF), identificou 635 iniciativas de agricultura
urbana, das quais 396 nos municípios-centro e 247 em outros municípios da mesma
região metropolitana (MARSICANO, 2007).
Com relação à grande de Belém no período de 1986 a 2001 ela perdeu cerca
201 Km2 de sua cobertura florestal Figura 1, 2 e 3 (PARANAGUÁ et al. 2003). A maior
parte da floresta nativa remanescente está concentrada nas ilhas e em áreas restritas
(áreas militares e áreas de instituições públicas de ensino e pesquisa).
1986 1994 2001
Figura 1 Fonte: PARANAGUÁ et al. (2003)
Figura 2 Legenda:
Figura 3
Água Área verde (Arborizada) Áreas com pouca ou nenhuma cobertura verde 1 Belém 2 Ananindeua 3 Marituba 4 Benevides 5 Santa Bárbara do Pará
Dados do IBGE (2008) indicam que Belém-PA possui uma área de 1.065 Km2 e
população estimada em 2007, em 1.408.847 habitantes. Como a maior parte das
capitais de estados brasileiros, o municipio tem sofrido um problema de crescimento
populacional intenso, sobretudo devido à chegada de novas populações que migraram
das zonas rurais.
A falta de qualificação da população migrante faz com que as famílias aufiram
renda baixa e irregular, refletindo assim na qualidade da alimentação. Um exemplo a
se considerar, é o gasto com a cesta básica, onde um trabalhador com renda de um
salário mínimo gasta mais de 50% com os itens básicos na cidade de Belém (DIEESE,
2005).
A desnutrição energético-protéica crônica, dada pelo déficit de altura para
idade, constitui-se em um dos graves problemas de saúde no Estado do Pará.
SANTOS (1998), estudando a desnutrição crônica em menores de dez anos das áreas
urbanas do Pará em constraste com as das regiões Nordeste e Sul do País, constatou
uma prevalência de déficit estatural severo de 30% no Pará, contra 21% e 6,5% nas
duas outras regiões, respectivamente.
Uma das formas de suprir a carência de alimentos tem sido através da
agricultura urbana. A prática de plantios em quintais é uma atividade realizada por
muitas famílias do município de uma maneira simples, espontânea e empírica,
importante para manutenção de áreas verdes, sem considerar as necessidades
nutritivas das famílias e a composição das frutas.
A falta de planejamento das espécies a serem plantadas e a não utilização de
tecnologias apropriadas leva a um baixo rendimento produtivo e expõe as famílias a
períodos sem colheita, devido plantio concentrado de espécies com
produção/frutificação na mesma época.
A Embrapa como parceira do programa Fome Zero, elegeu entre suas
prioridades a transferência de tecnologias para valorização e desenvolvimento da
agricultura urbana em Belém, que possui baixa produtividade pelo pouco nível
tecnológico aplicado.
Alguns trabalhos têm sido realizados, com destaque para uma iniciativa da
Prefeitura Belém, Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e outros parceiros,
por intermédio do projeto Quintal Vivo, atingiu em 2004, cerca de 200 famílias. Esta
ação tinha como foco principal somente a assistência técnica para os sistemas de
produção e não na transferência de material genético melhorado que fosse capaz de
aumentar a produtividade dos cultivos, cuja ação está inclusa entre os objetivos do
projeto conduzido pela Embrapa e parceiros..
A Embrapa Amazônia Oriental tem desenvolvido ao longo dos anos,
tecnologias que visam ao fortalecimento da agricultura paraense, que podem ser
introduzidas ou adaptadas às tradições culturais e ao tipo de agricultura praticado nos
quintais urbanos.
3. METODOLOGIA
O projeto “Quintal Produtivo: transferência de tecnologias para valorização da
agricultura urbana” foi aprovado no Edital 4/2005 do Macroprograma 4 da Embrapa,
com prazo de duração de três anos. Suas atividades iniciaram em 2007, sendo
conduzidas pela Embrapa Amazônia Oriental e parceiros, em áreas urbanas e peri-
urbanas de Belém.
3.1 Público-alvo:
O projeto destina-se a quintais, de áreas urbanas e peri-urbanas da grande
Belém, pertencentes a famílias que se encontrem em elevado risco social e de
segurança alimentar, desde que possuam área disponível para introdução de espécies
frutíferas regionais.
3.2. Objetivo geral
Incentivar a valorização da prática de agricultura urbana em quintais por meio
da transferência de tecnologias geradas pela Embrapa e parceiros.
3.3. Objetivos específicos
• Transferir tecnologias aplicáveis em áreas urbanas e peri-urbanas da região
metropolitana de Belém.
• Qualificar e disponibilizar os conhecimentos e tecnologias associados às
cultivares de espécies frutíferas e alimentares adaptáveis ao cultivo em áreas
urbanas e peri-urbanas.
• Montar módulos de demonstração com arranjo das cultivares para visualização
em forma de vitrines de tecnologias.
• Desenvolver ações de comunicação para disseminar as iniciativas e os
resultados do projeto.
• Capacitar agentes multiplicadores para desenvolvimento da agricultura urbana
em áreas urbanas e peri-urbanas de Belém.
• Produzir e distribuir sementes e mudas oriundas de melhoramento genético de
espécies frutíferas geradas pela Embrapa.
• Monitorar e avaliar os resultados e impactos das ações de transferência de
tecnologias.
3.3. Metas
• Montar e organizar o Colegiado Gestor do projeto, a ser formado por
representantes de instituições interessadas no desenvolvimento da agricultura
urbana e peri-urbana da região metropolitana de Belém.
• Levantar tecnologias aplicáveis em áreas urbanas. Qualificá-las, tratá-las e
disponibilizá-las por meio de material impresso e outras mídias, visando
subsidiar o entendimento e aplicação pelas comunidades urbanas.
• Montar uma vitrine de tecnologias em cada comunidade selecionada com as
espécies e cultivares recomendadas pela pesquisa, plantadas em arranjos ou
espaçamentos adequados para subsidiar eventos de capacitação e
demonstração das tecnologias no campo.
• Divulgar ações do projeto ao público-alvo por meio de mala direta e matérias
em veículos de comunicação de massa (VCM).
• Produzir e distribuir em 2007/2008, 10.000 mudas de cultivares frutíferas
provenientes de programas de melhoramento/seleção genética da Embrapa
Amazônia Oriental.
• Capacitar 30 técnicos e 30 famílias de cada comunidade a ser selecionada.
• Realizar levantamentos das áreas dos quintais e socioeconômicos das famílias
atendidas, com objetivo de obter indicadores sobre cobertura vegetal, espécies
existentes, nível educacional, renda familiar e outros.
• Realizar, após dois anos de atividades, pesquisa de monitoramento nas
famílias atendidas visando obter nível de satisfação e o indicativo sobre os
impactos sociais e econômicos gerados pelas tecnologias transferidas.
3.4. Estratégia de ação
Para atingir os objetivos e as metas planejadas, as atividades serão
desenvolvidas por meio dos seguintes planos de ação:
• Plano de Ação 1. Gestão do Projeto
Consiste na formação de um colegiado gestor formado por representantes de
instituições parceiras interessadas pelo desenvolvimento da agricultura urbana e peri-
urbanas da região metropolitana de Belém, com objetivo de planejar atividades e
administrar a dotação orçamentária necessária para condução do projeto.
• Plano de Ação 2. Organização da Informação
Consiste no levantamento de material bibliográfico sobre sistemas de produção
e de cultivares de espécies frutíferas (cupuaçu, açaí, banana, acerola, graviola e
outras) e técnicas de cultivo apropriadas a espaços urbanos e peri-urbanos. As
informações serão qualificadas, tratadas e disponibilizadas através de meios, formatos
e linguagem específicos que possam ser utilizados nos eventos de capacitação e
demonstração das tecnologias para o público-alvo. A ação será coordenada pela
Embrapa Amazônia Oriental e terá duração de 24 meses.
• Plano de Ação 3. Montagem de Vitrine de Tecnologias
Consiste na instalação de unidades demonstrativas com as espécies frutíferas
recomendadas e os possíveis arranjos espaciais para os quintais (módulos de 200,
400, 600 e 1000 m ), em cada comunidade selecionada. Este plano de ação inclui a
exposição das tecnologias para visualização pelos setores público, privados, aos
parceiros e às comunidades. Será coordenada pela Embrapa Amazônia Oriental, em
conjunto com a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e Emater-PA (30
meses).
• Plano de Ação 4. Comunicação
Corresponde às ações de divulgação do projeto combinando mídias de
marketing direto junto às agências de extensão, associações comunitárias, prefeituras,
e outros, e comunicação dirigida aos veículos de massa locais, como: rádio de bairro e
rádios-poste, jornais e outros. As ações servirão para divulgar os principais benefícios
dos produtos e técnicas recomendadas, de forma a tornar o projeto atrativo ao público-
alvo, bem como permitir a adoção por diferentes públicos de interesse. Este plano de
ação será coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental e terá duração de 36 meses.
• Plano de Ação 5. Capacitação
Abrangerá atividades de capacitação de técnicos da assistência técnica e
membros das comunidades, por meio de palestras, cursos e demonstração de
tecnologias utilizando a vitrine de tecnologia, dias-de-campo e outros. Aboradará
temas sobre técnicas de cultivos das espécies, desde a forma de plantio, adubação,
controles alternativos de pragas e doenças, colheita e conservação de frutas. Este
plano de ação será executado por todos os parceiros do projeto, coordenado pelo
colegiado gestor, com prazo de 36 meses.
• Plano de Ação 6. Produção e Distribuição de Mudas
As sementes de material genético serão disponibilizadas pela Embrapa. As
mudas serão produzidas por empresas e/ou viveiristas credenciados no Ministério de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento e posteriormente serão distribuídas às
comunidades pelo Comitê Gestor do projeto, com prazo de 36 meses.
• Plano de Ação 7. Monitoramento
Consistirá em dois levantamentos por meio da aplicação de questionários nas
comunidades selecionadas. O primeiro foi realizado na comunidade do Tapanã por
ocasião da implementação do projeto para definição do marco zero, com objetivo de
identificar o perfil das famílias sobre: profissão, nível de escolaridade, renda, despesa
familiar e segurança alimentar.
O segundo questionário, será realizado após dois anos de implantação no
projeto na comunidades, com objetivo de obter o nível de satisfação das famílias e os
impactos sociais, econômicos e ambientais obtidos com a adoção de tecnologias e
melhoria do processo produtivo seja na qualidade dos produtos, na elevação da renda,
entre outros.
Esta avaliação subsidiará a equipe do projeto no ajuste de estratégias e ações,
bem como retroalimentar a pesquisa sobre novas demandas/necessidades
manifestadas pelo público-alvo. Este plano será coordenado pela Embrapa com prazo
de duração de 36 meses.
4. Resultados
4.1. Formação do Comitê Gestor
O Comitê Gestor foi formado por representantes de instituições de pesquisa
(Embrapa Amazônia Oriental), instituições de ensino superior e capacitação de
pessoas (UFRA e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR), empresas e
órgãos governamentais de assistência técnica e extensão rural (Emater-PA e
Secretaria de Agricultura do Pará – SAGRI), empresa privada que atua no
agronegócio (Amazonflora) e instituto sem fins lucrativos (Instituto de Desenvolvimento
Humano Integral – IDHI), cujas principais funções e atribuições estão relacionadas no
Quadro 1.
Quadro 01. Principais funções e atribuições do Comitê Gestor.
INSTITUIÇÕES FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES
Embrapa Conduzir atividades técnico-científicas e de transferência de tecnologias, por meio do fornecimento de material genético de espécies frutíferas, capacitação de pessoal, divulgação das ações do projeto, avaliação das comunidades e monitoramento dos impactos sociais, econômicos e ambientais.
UFRA Capacitação de pessoal sobre técnicas de cultivo de fruteiras em áreas urbanas.
SENAR Capacitação de pessoal sobre técnicas de cultivo de fruteiras em áreas urbanas.
Emater-PA Seleção de comunidades e prestação de serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural, bem como divulgação das ações do projeto.
SAGRI Apoiar os serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural, bem como divulgação das ações do projeto.
IDHI Identificação e articulação em conjunto com a arquidiocese de Belém nas comunidades urbanas e peri-ubanas, bem como auxiliar na ampliação de parcerias e divulgação do projeto.
Amazonflora Produção de mudas de espécies frutíferas recomendadas pela Embrapa Amazônia Oriental.
4.2. Tecnologias Disponibilizadas
O projeto viabilizou transferência de tecnologias, por meio de cursos sobre
técnicas de cultivo de cupuaçu e açaí para produção de frutas, às famílias.
Além dos cursos de capacitação, foram transferidas às famílias mudas de
clones de cupuaçuzeiros tolerantes à vassoura de bruxa, denominados de Coari,
Codajás, Manacapuru e Belém. Além desses materiais serem tolerantes à doença
vassoura-de-bruxa, possuem produtividade média de 13 frutos/planta/safra, polpa com
teores médios de 14° brix e promovem a redução de até 50% nos custos de produção,
representados pela necessidade de poda de ramos, flores e frutos afetados pela
doença (ALVES, 2005).
Sobre a cultura do açaí distribuiu-se mudas da cultivar BRS Pará, selecionada
para produção de frutos em área de terra firme, em regiões que tenham chuvas bem
distribuídas durante todo o ano. Essa cultivar tem como características o início da
produção a partir dos três anos de idade, produtividade média de 10 t/ha/ano, apartir
dos 8 anos de idade, rendimento de polpa variando entre 15 e 25% e altura média do
primeiro cacho com 1,12 m do solo, facilitando a colheita de frutos (OLIVERIA e
FARIAS NETO, 2004).
Os cursos sobre meliponicultura foram ministrados segundo VENTURIERI
(2004).
4.3. Comunidades Beneficiadas
De janeiro de 2007 a abril de 2008, foram atendidas nove comunidades, sendo
sete na região metropolitana de Belém, nos bairros do Tapanã (comunidade da
Associação dos Produtores Rurais do Tapanã- ASPRUTAN), Outeiro (comunidade de
Nossa Senhora da Conceição das Ilhas), Curuçambá (comunidade da Associação dos
Produtores de Hortaliças-APHA), Utinga (comunidades do Pantanal e Paraíso Verde),
Marituba (comunidade de Belavista) e Combu (comunidade do Furo São Benedito) e,
duas no município de Castanhal que foram as comunidades do Barreirão e Fonte Boa.
Nas nove comunidades, foram atendidas 441 famílias, com a distribuição de
2.500 mudas de açaí BRS Pará, 1.750 mudas de clones de cupuaçu tolerantes à
vassoura-de-bruxa e 700 mudas de mamão hawai (Tabela 1).
Todas as comunidades atendidas receberam mudas das culturas mencionadas
e respectivos treinamentos teóricos e práticos sobre técnicas de plantio e cultivo. Além
desse treinamento, as comunidades do Tapanã, Outeiro, Pantanal, Paraiso Verde e
Curuçambá, também receberam cada uma, cinco enxames de abelhas sem ferrão,
com respectivo treinamento em meliponicultura, visando à produção de mel. As
comunidades do Combu, Barreirão e Fonte Boa foram capacitadas por um curso de 40
horas-aula sobre fruticultura básica, ministrado pelo SENAR-PA, que abordou diversas
tecnologias sobre preparo de solo, plantio, tratos culturais, controle de pragas,
plantadas daninhas e doenças, adubação, podas e colheita de diversas espécies
frutíferas.
TABELA 1. Relação de comunidades, número de mudas distribuídas e cursos
realizados nas comunidades atendidas em 2007/2008.
Mudas Comunidades
Nº de famílias Açaí Cupuaçu Mamão Cursos
Belém Tapanã 42 300 250 - Técnicas de cultivo e
meliponicultura Outeiro 30 200 350 - Técnicas de cultivo e
meliponicultura Pantanal 30 50 150 - Técnicas de cultivo e
meliponicultura Paraíso Verde 30 50 150 Sistema de produção e
meliponicultura BelaVista 42 200 400 - Técnicas de cultivo Curuçambá 42 700 - 100 Técnicas de cultivo e
meliponicultura Combu 25 500 200 300 Fruticultura básica Castanhal Barreirão 100 250 100 150 Fruticultura básica FonteBoa 100 250 100 150 Fruticultura básica Total 441 2.500 1.750 700 11
4.4. Material disponibilizado às famílias atendidas
Com base em diversos resultados de pesquisa gerados sobre as culturas do
açaizeiro e cupuaçuzeiro, foi produzida e distribuída uma cartilha em linguagem
simples com as recomendações para o plantio e cultivo de açaí e cupuaçu e, formação
de pomar em quintais urbanos.
4.5. Comunicação das ações do projeto
Foi desenvolvido e distribuído um folder a todas famílias atendidas sobre o
projeto abordando os principais benefícios da agricultura urbana (Figura 5). Também
foi desenvolvido e um Site do projeto disponível em
http://10.132.1.11:8080/quintalprodutivo, que está em fase de inserção de conteúdo.
4.6. Informações sócioeconômicas da comunidade do Tapanã
4.6.1. Renda das famílias atendidas
Constatou-se que 50% das famílias possuem renda entre 1 e 3 salários
mínimos. Desse montante 30% possuem renda de um salário mínimo. Entretanto, 10%
dos entrevistados não possuem renda, depreendendo-se que este público poderia se
dedicar com a produção urbana para sua subsistência. A agricultura urbana
proporciona uma ocupação que gera renda proveniente da venda de parte da
produção, além de melhorar a qualidade alimentar das pessoas envolvidas. Também
existem famílias que recebem de 3 a 6 salários e acima de 6 salários, correspondendo
a 3,33% e 6,6%, respectivamente.
4.6.2. Despesas familiar
As famílias da comunidade gastam em torno de 61,45% da sua remuneração
com alimentação, ficando os gastos com a saúde com 15,80% de seus proventos.
Estes indicadores evidenciam a excelente oportunidade para políticas públicas que
possam incentivar a produção agrícola familiar, haja vista, a possibilidade dos
alimentos produzidos reduzirem parcialmente as despesas com alimentação e
conseqüentemente melhoria da saúde e qualidade de vida. Da mesma forma, poderá
reduzir as despesas com transporte, habitação e educação que consomem cerca de
11,92%, 6,29% e 4,54%, respectivamente (Figura 4).
Figura 4. Gastos das famílias do Tapanã no município de Ananindeua-PA.
A possibilidade de criação de ocupação e renda para a população pobre e a
conseqüente melhoria de sua qualidade de vida constitui a grande contribuição
econômica da agricultura urbana. As pessoas podem vender o excedente da produção
para a população moradora nos entornos da comunidade, ou por algum tipo de pré-
processamento, como a produção de compotas, por exemplo.
Para isso, o processo educativo incluindo a capacitação técnica é fundamental,
compreendendo noções básicas de cultivos das espécies, de higiene, produção,
processamento, comercialização e gerenciamento.
4.6.3. Faixa etária
A faixa etária varia entre 15 a 75 anos. Pela Figura 5, observa-se que a idade
entre 35 e 45 anos prevalece na comunidade do Tapanã com 30% dos entrevistados,
seguida da idade de 25 a 35 anos, com 25% das pessoas entrevistadas.
Figura 5. Idade das famílias do Tapanã no município de Ananindeua-PA.
4.6.4. Segurança alimentar
Uma parte considerada das famílias entrevistadas (10%) situa-se em condições
graves de pobreza, pois informaram que não dispõem de dinheiro todos os dias,
possivelmente com sérias restrições para obtenção de comida. Uma parcela também
representativa de pessoas (26,67%) passa pela mesma necessidade por um ou dois
dias do mês e o restante, possuem dificuldades esporádicas, muito embora tenham
algum tipo de renda (Figura 6).
Figura 6. Falta de recursos financeiros das famílias do Tapanã no município de Ananindeua-PA.
Esses indicadores mostram fortes evidências para que as famílias busquem
outros meios para obtenção de renda, o que faz com que a agricultura urbana torne-se
uma alternativa cada vez mais viável, principalmente para famílias que dispõem de
áreas em quintais urbanos. Dados gerados pela FAO (1999), mostram que a maior
proporção de alimentos produzidos na área urbana é consumida na mesma área ou
em suas proximidades, pois o acesso a uma dieta saudável é dificultado pela falta de
alimentos frescos e pela própria pobreza das famílias.
4.6.5. Alimentação saudável
Uma parte considerada das famílias entrevistadas (20%) não se alimenta
saudavelmente durante todos os dias do mês, provavelmente, em função de não
possuírem renda regular. Também ficou evidente que 25% das famílias entrevistadas
passam pelas mesmas condições por um ou dois dias do mês e o restante, têm
dificuldades esporádicas, todavia, possuem algum tipo de renda regular (Figura 6).
Figura 6. Freqüência de alimentação saudável das famílias do Tapanã no município de Ananindeua-PA.
4.6.5. Alimentação suficiente/ insuficiente
Da mesma forma que o item anterior, uma parte considerável das famílias
entrevistadas (6,67%) não se alimentam suficientemente durante todos os dias,
provavelmente, em função de não possuírem renda regular. Outra parcela superior de
pessoas (33,33%) passa pelas mesmas condições por um ou dois dias do mês e o
restante, têm dificuldades esporádicas, porém, possuem algum tipo de renda (Figura
7).
Figura 8. Freqüência da quantidade de alimentos adquiridos/consumidos pela comunidade do Tapanã no município de Ananindeua-PA.
4.6.6. Profissão dos entrevistados
A pesquisa indicou que a profissão de produtor rural prevalece entre as famílias
da comunidade do Tapanã com cerca de 40% dos entrevistados, ficando a dona de
casa em segundo lugar com 27% (Figura 9).
Figura 9. Tipo de profissão das famílias do Tapanã no município de Ananindeua-PA.
4.6.7. Escolaridade
Observou-se que no nível de escolaridade dos entrevistados da comunidade do
Tapanã predomina o ensino fundamental em 70% das pessoas. Apenas 20% possuem
o nível médio, porém o índice de analfabetismo é quase zero (Figura 10).
Figura 10. Escolaridade dos entrevistados da comunidade do Tapanã no município de
Ananindeua-PA.
5 Considerações Finais
A agricultura urbana não tem como pretensão concorrer com as produções
rurais nem de abastecer os mercados de Belém, mas sim ajudar algumas famílias
motivadas a se prepararem para enfrentar os períodos difíceis e a melhorarem as suas
condições de habitação por meio da melhoria na renda do grupo familiar. Além do
mais, ela constitui um instrumento que pode ter um importante impacto sobre o
ambiente da cidade.
Os governos estaduais e municipais deveriam criar políticas de crédito e
assistência técnica para o incentivo e desenvolvimento da agricultura urbana em prol
dos diversos benefícios que pode gerar, seja socialmente, economicamente,
ambientalmente e patrimonialmente: quem não gostaria de morar em uma propriedade
repleta de árvores frutíferas?
Justifica-se tal sugestão em virtude de que, quase 100% dos entrevistados
passam fome pelo menos 12 ou 24 dias durante o ano, pois se alimentam muito mal e
em pequenas quantidades. Portanto o cultivo em áreas urbanas deve ser incentivado
e sua sustentabilidade dependerá do uso de tecnologias, como espécies melhoradas
pela pesquisa e práticas agrícolas embasadas na agroecologia.
5. REFERÊNCIAS
ALVES, R. M. Recomendações técnicas para o plantio dos clones de cupuaçuzeiro. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2005. 4 p. (Embrapa Amazônia Oriental. Comunicado Técnico, 151).
DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICAS E ESTUDOS SOCIO ECONÔMICOS. Quanto se trabalha para comer. Disponível em: http://www.dieese.org.br/rel/rac/traset05.xml#BELEM. Acesso em 16 de abr/2008.
FAO. Comitê de Agricultura. La agricultura urbana y periurbana. In: Documento do Tema 9 del programa provisional. Roma, 25-29 jan. 1999. Disponível em: http://www.fao.org/unfao/bodies/coag/coag15/x0076s.htm
FRÈRE, N; LUDOVICO, R.M.R.; MARTINS, P. F. da S. Agricultura urbana em Belém – Pará. In: Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, 37, Anais... Foz do Iguaçu – PR. SOBER; 1999. p. 1-10.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GESGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php. Acesso em 16 de abr/2008.
SANTOS, H. Prevalência, distribuição e determinantes do retardo do crescimento infantil na população urbana do Estado do Pará, Brasil. São Paulo: FSP/USP, 1998. 129p. (Tese de Doutorado).
MARSICANO, K. Encontro em Brasília discute importância da agricultura urbana. Rede de Educação Cidadã. 2007. Disponível em: http://www.recid.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=466&Itemid=2. Acesso em 16 de abr/2008.
OLIVERIA, M. do S. P.; FARIAS NETO, J. T. de. Cultivar BRS-Pará: açaizeiro para produção de frutos em terra firme. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2004. 3 p. (Embrapa Amazônia Oriental. Comunicado Técnico, 114).
PARANAGUÁ, P.; MELO, P.; SOTTA, E.D.; VERÍSSIMO, A. Belém Sustentável. Belém:IMAZON, 2003. 112p.