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TRANSGRESSÕES E TRADUÇÕES para um livro CORPO

Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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“TRANSGRESSÕES E TRADUÇÕES PARA UM LIVRO CORPO” de Lu Trevisan apresenta uma série de fotografias, produzidas em diferentes espaços. Imagens que fazem parte dos diferentes processos de criação desta artista, seja na própria fotografia, na performance, na dança, em espaços cênicos, cotidianos e em contato com a natureza. Assim como as fotos, o livro também se compõe com texto da autora/artista, onde o corpo atravessa e é atravessado por forças que compõe os estudos e experimentações da mesma. Este livro faz para da Coleção Estudos do Corpo que é organizada por Wagner Ferraz.

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Page 1: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

TRANSGRESSOtildeES E TRADUCcedilOtildeESpara um livro CORPO

Lu Trevisan

TRANSGRESSOtildeES E TRADUCcedilOtildeESpara um livro CORPO

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoCoordenaccedilatildeo Wagner Ferraz

1ordf Ediccedilatildeo

Porto AlegreINDEPIn

2014

2014 2015

Copyrigth 2014 Lu Trevisan

Autor Lu Trevisan (Luiacutesa Beatriz Trevisan Teixeira)

Projeto Editorial INDEPIN - Miriam Piber Campos

Processo C3 - Wagner Ferraz

Foto da capa Lu Trevisan

Arte da capa Anderson Luiz de Souza

Layout e diagramaccedilatildeo Lu Trevisan e Wagner Ferraz

Revisatildeo Geral Wagner Ferraz

Apoio Editorial CANTO Cultura e Arte

Coordenaccedilatildeo Editorial - EditoresMiriam Piber Campos e Wagner Ferraz

INDEPIN INSTITUTO

O Instituto de Desenvolvimento Educacional e Profissio-nal Integrado ndash INDEPin ndash oferece cursos livres em dife-rentes aacutereas e atua como Editora atraveacutes de publica-ccedilotildees colaborativas em formato impresso sob demanda e em formato digital para download gratuito O Instituto natildeo visa lucro com essas propostas de publicaccedilatildeo ape-nas busca contribuir para que produccedilotildees de diferentes aacutereas sejam disponibilizadas facilitando o acesso

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Bibliotecaacuteria Responsaacutevel Ana Liacutegia Trindade CRB10-1235

T814t Trevisan Lu Transgressotildees e traduccedilotildees para um livro corpo Lu Trevisan ndash Porto Alegre INDEPin 2014 168 p - (Coleccedilatildeo Estudos do Corpo v 1)

Organizaccedilatildeo da Coleccedilatildeo Wagner Ferraz ISBN 978-85-66402-06-3 (coleccedilatildeo) ndash ISBN 978-85-66402- 07-0 (v1)

1 Artes ndash corporeidade I Tiacutetulo II Coleccedilatildeo

CDU 708159925

Registrado e editado em 2014 e lanccedilado em 2015

INDEPIn - wwwindepin-educombrCANTO - Arte e Cultura - wwwcantoartbr

COMISSAtildeO EDITORIAL

Prof Ms Anderson Luiz de Souza - FeevaleProfordf Ms Daniele Noal Gai - UFRGS

Prof Ms Wagner Ferraz - UFRGSUCS

COLECcedilAtildeO ESTUDOS DO CORPO

A ldquoColeccedilatildeo Estudos do Corpordquo surge como desdobramento de encontros realizados para estudos que aconteciam no INDEPIn e hoje ocorrem como Programa de Extensatildeo da UFRGS e desdobramento do livro ldquoEstudos do Corpo Encontros com Artes e Educaccedilatildeordquo ndash Editora INDEPIn

Nos citados encontros diferentes artiacutestas educadores e profissionais de diversas aacutereas se encontram para estudar experimentar discutir ler escrever performar danccedilar compor criar desenhar pintar (ar)riscarhellip Discutindo em primeiro plano ldquoo corpordquo com atravessamentos com criaccedilatildeo educaccedilatildeo filosofia artes visuais danccedila teatro muacutesica performance moda educaccedilatildeo fiacutesica e demais aacutereashellip

Com isso se viu a necessidade de produzir mais publicaccedilotildees com os participantes dos estudos e com convidados que de alguma forma produzem suas escritas visualidades e artes pensando o corpo

Wagner FerrazCoordenador dos encontros Estudos do Corpo

Organizador da Coleccedilatildeo Estudos do Corpo

ParaPietro Gabriela e Leo

AGRADECimENTOS

Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem

pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel

A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro

A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e

parafernaacutelias

Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais

Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de

loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas

A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura

Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta

vida e pelos clicks roubados e conspirados

SUmAacuteRiO

- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144

14 15

17

Apresentaccedilatildeo

Daniele Noal Gai

Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em

ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde

vemem disquete em quem

conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas

onde quer ir

ESPECiALiSTA prometo

em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos

continuaraparelhagem toca discos

tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim

18 19

Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa

Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa

doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e

i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix

e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a

na feitura

na artesania

de quaisquer coisas

de uma infinidade de coisas

em uma diversidade de coisas

catadora de vazios de cacos

de tintas de danccedilas de vatildeos

de pedaccedilos de sensaccedilotildees

especialista em parir gente que faz coisas muitas

especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme

na grande sauacutede nietzscheana

na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias

nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos

rasgadora de papeacuteis

esculpidora de pedras

misturadora de tintas

20 21

Corpo

23

Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

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S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 2: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

Lu Trevisan

TRANSGRESSOtildeES E TRADUCcedilOtildeESpara um livro CORPO

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoCoordenaccedilatildeo Wagner Ferraz

1ordf Ediccedilatildeo

Porto AlegreINDEPIn

2014

2014 2015

Copyrigth 2014 Lu Trevisan

Autor Lu Trevisan (Luiacutesa Beatriz Trevisan Teixeira)

Projeto Editorial INDEPIN - Miriam Piber Campos

Processo C3 - Wagner Ferraz

Foto da capa Lu Trevisan

Arte da capa Anderson Luiz de Souza

Layout e diagramaccedilatildeo Lu Trevisan e Wagner Ferraz

Revisatildeo Geral Wagner Ferraz

Apoio Editorial CANTO Cultura e Arte

Coordenaccedilatildeo Editorial - EditoresMiriam Piber Campos e Wagner Ferraz

INDEPIN INSTITUTO

O Instituto de Desenvolvimento Educacional e Profissio-nal Integrado ndash INDEPin ndash oferece cursos livres em dife-rentes aacutereas e atua como Editora atraveacutes de publica-ccedilotildees colaborativas em formato impresso sob demanda e em formato digital para download gratuito O Instituto natildeo visa lucro com essas propostas de publicaccedilatildeo ape-nas busca contribuir para que produccedilotildees de diferentes aacutereas sejam disponibilizadas facilitando o acesso

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Bibliotecaacuteria Responsaacutevel Ana Liacutegia Trindade CRB10-1235

T814t Trevisan Lu Transgressotildees e traduccedilotildees para um livro corpo Lu Trevisan ndash Porto Alegre INDEPin 2014 168 p - (Coleccedilatildeo Estudos do Corpo v 1)

Organizaccedilatildeo da Coleccedilatildeo Wagner Ferraz ISBN 978-85-66402-06-3 (coleccedilatildeo) ndash ISBN 978-85-66402- 07-0 (v1)

1 Artes ndash corporeidade I Tiacutetulo II Coleccedilatildeo

CDU 708159925

Registrado e editado em 2014 e lanccedilado em 2015

INDEPIn - wwwindepin-educombrCANTO - Arte e Cultura - wwwcantoartbr

COMISSAtildeO EDITORIAL

Prof Ms Anderson Luiz de Souza - FeevaleProfordf Ms Daniele Noal Gai - UFRGS

Prof Ms Wagner Ferraz - UFRGSUCS

COLECcedilAtildeO ESTUDOS DO CORPO

A ldquoColeccedilatildeo Estudos do Corpordquo surge como desdobramento de encontros realizados para estudos que aconteciam no INDEPIn e hoje ocorrem como Programa de Extensatildeo da UFRGS e desdobramento do livro ldquoEstudos do Corpo Encontros com Artes e Educaccedilatildeordquo ndash Editora INDEPIn

Nos citados encontros diferentes artiacutestas educadores e profissionais de diversas aacutereas se encontram para estudar experimentar discutir ler escrever performar danccedilar compor criar desenhar pintar (ar)riscarhellip Discutindo em primeiro plano ldquoo corpordquo com atravessamentos com criaccedilatildeo educaccedilatildeo filosofia artes visuais danccedila teatro muacutesica performance moda educaccedilatildeo fiacutesica e demais aacutereashellip

Com isso se viu a necessidade de produzir mais publicaccedilotildees com os participantes dos estudos e com convidados que de alguma forma produzem suas escritas visualidades e artes pensando o corpo

Wagner FerrazCoordenador dos encontros Estudos do Corpo

Organizador da Coleccedilatildeo Estudos do Corpo

ParaPietro Gabriela e Leo

AGRADECimENTOS

Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem

pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel

A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro

A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e

parafernaacutelias

Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais

Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de

loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas

A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura

Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta

vida e pelos clicks roubados e conspirados

SUmAacuteRiO

- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144

14 15

17

Apresentaccedilatildeo

Daniele Noal Gai

Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em

ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde

vemem disquete em quem

conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas

onde quer ir

ESPECiALiSTA prometo

em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos

continuaraparelhagem toca discos

tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim

18 19

Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa

Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa

doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e

i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix

e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a

na feitura

na artesania

de quaisquer coisas

de uma infinidade de coisas

em uma diversidade de coisas

catadora de vazios de cacos

de tintas de danccedilas de vatildeos

de pedaccedilos de sensaccedilotildees

especialista em parir gente que faz coisas muitas

especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme

na grande sauacutede nietzscheana

na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias

nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos

rasgadora de papeacuteis

esculpidora de pedras

misturadora de tintas

20 21

Corpo

23

Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 3: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

Copyrigth 2014 Lu Trevisan

Autor Lu Trevisan (Luiacutesa Beatriz Trevisan Teixeira)

Projeto Editorial INDEPIN - Miriam Piber Campos

Processo C3 - Wagner Ferraz

Foto da capa Lu Trevisan

Arte da capa Anderson Luiz de Souza

Layout e diagramaccedilatildeo Lu Trevisan e Wagner Ferraz

Revisatildeo Geral Wagner Ferraz

Apoio Editorial CANTO Cultura e Arte

Coordenaccedilatildeo Editorial - EditoresMiriam Piber Campos e Wagner Ferraz

INDEPIN INSTITUTO

O Instituto de Desenvolvimento Educacional e Profissio-nal Integrado ndash INDEPin ndash oferece cursos livres em dife-rentes aacutereas e atua como Editora atraveacutes de publica-ccedilotildees colaborativas em formato impresso sob demanda e em formato digital para download gratuito O Instituto natildeo visa lucro com essas propostas de publicaccedilatildeo ape-nas busca contribuir para que produccedilotildees de diferentes aacutereas sejam disponibilizadas facilitando o acesso

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Bibliotecaacuteria Responsaacutevel Ana Liacutegia Trindade CRB10-1235

T814t Trevisan Lu Transgressotildees e traduccedilotildees para um livro corpo Lu Trevisan ndash Porto Alegre INDEPin 2014 168 p - (Coleccedilatildeo Estudos do Corpo v 1)

Organizaccedilatildeo da Coleccedilatildeo Wagner Ferraz ISBN 978-85-66402-06-3 (coleccedilatildeo) ndash ISBN 978-85-66402- 07-0 (v1)

1 Artes ndash corporeidade I Tiacutetulo II Coleccedilatildeo

CDU 708159925

Registrado e editado em 2014 e lanccedilado em 2015

INDEPIn - wwwindepin-educombrCANTO - Arte e Cultura - wwwcantoartbr

COMISSAtildeO EDITORIAL

Prof Ms Anderson Luiz de Souza - FeevaleProfordf Ms Daniele Noal Gai - UFRGS

Prof Ms Wagner Ferraz - UFRGSUCS

COLECcedilAtildeO ESTUDOS DO CORPO

A ldquoColeccedilatildeo Estudos do Corpordquo surge como desdobramento de encontros realizados para estudos que aconteciam no INDEPIn e hoje ocorrem como Programa de Extensatildeo da UFRGS e desdobramento do livro ldquoEstudos do Corpo Encontros com Artes e Educaccedilatildeordquo ndash Editora INDEPIn

Nos citados encontros diferentes artiacutestas educadores e profissionais de diversas aacutereas se encontram para estudar experimentar discutir ler escrever performar danccedilar compor criar desenhar pintar (ar)riscarhellip Discutindo em primeiro plano ldquoo corpordquo com atravessamentos com criaccedilatildeo educaccedilatildeo filosofia artes visuais danccedila teatro muacutesica performance moda educaccedilatildeo fiacutesica e demais aacutereashellip

Com isso se viu a necessidade de produzir mais publicaccedilotildees com os participantes dos estudos e com convidados que de alguma forma produzem suas escritas visualidades e artes pensando o corpo

Wagner FerrazCoordenador dos encontros Estudos do Corpo

Organizador da Coleccedilatildeo Estudos do Corpo

ParaPietro Gabriela e Leo

AGRADECimENTOS

Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem

pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel

A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro

A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e

parafernaacutelias

Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais

Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de

loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas

A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura

Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta

vida e pelos clicks roubados e conspirados

SUmAacuteRiO

- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144

14 15

17

Apresentaccedilatildeo

Daniele Noal Gai

Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em

ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde

vemem disquete em quem

conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas

onde quer ir

ESPECiALiSTA prometo

em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos

continuaraparelhagem toca discos

tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim

18 19

Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa

Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa

doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e

i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix

e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a

na feitura

na artesania

de quaisquer coisas

de uma infinidade de coisas

em uma diversidade de coisas

catadora de vazios de cacos

de tintas de danccedilas de vatildeos

de pedaccedilos de sensaccedilotildees

especialista em parir gente que faz coisas muitas

especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme

na grande sauacutede nietzscheana

na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias

nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos

rasgadora de papeacuteis

esculpidora de pedras

misturadora de tintas

20 21

Corpo

23

Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

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TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

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126 127

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 4: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

COLECcedilAtildeO ESTUDOS DO CORPO

A ldquoColeccedilatildeo Estudos do Corpordquo surge como desdobramento de encontros realizados para estudos que aconteciam no INDEPIn e hoje ocorrem como Programa de Extensatildeo da UFRGS e desdobramento do livro ldquoEstudos do Corpo Encontros com Artes e Educaccedilatildeordquo ndash Editora INDEPIn

Nos citados encontros diferentes artiacutestas educadores e profissionais de diversas aacutereas se encontram para estudar experimentar discutir ler escrever performar danccedilar compor criar desenhar pintar (ar)riscarhellip Discutindo em primeiro plano ldquoo corpordquo com atravessamentos com criaccedilatildeo educaccedilatildeo filosofia artes visuais danccedila teatro muacutesica performance moda educaccedilatildeo fiacutesica e demais aacutereashellip

Com isso se viu a necessidade de produzir mais publicaccedilotildees com os participantes dos estudos e com convidados que de alguma forma produzem suas escritas visualidades e artes pensando o corpo

Wagner FerrazCoordenador dos encontros Estudos do Corpo

Organizador da Coleccedilatildeo Estudos do Corpo

ParaPietro Gabriela e Leo

AGRADECimENTOS

Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem

pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel

A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro

A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e

parafernaacutelias

Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais

Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de

loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas

A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura

Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta

vida e pelos clicks roubados e conspirados

SUmAacuteRiO

- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144

14 15

17

Apresentaccedilatildeo

Daniele Noal Gai

Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em

ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde

vemem disquete em quem

conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas

onde quer ir

ESPECiALiSTA prometo

em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos

continuaraparelhagem toca discos

tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim

18 19

Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa

Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa

doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e

i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix

e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a

na feitura

na artesania

de quaisquer coisas

de uma infinidade de coisas

em uma diversidade de coisas

catadora de vazios de cacos

de tintas de danccedilas de vatildeos

de pedaccedilos de sensaccedilotildees

especialista em parir gente que faz coisas muitas

especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme

na grande sauacutede nietzscheana

na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias

nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos

rasgadora de papeacuteis

esculpidora de pedras

misturadora de tintas

20 21

Corpo

23

Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

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136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

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jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

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sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

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Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 5: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

ParaPietro Gabriela e Leo

AGRADECimENTOS

Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem

pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel

A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro

A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e

parafernaacutelias

Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais

Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de

loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas

A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura

Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta

vida e pelos clicks roubados e conspirados

SUmAacuteRiO

- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144

14 15

17

Apresentaccedilatildeo

Daniele Noal Gai

Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em

ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde

vemem disquete em quem

conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas

onde quer ir

ESPECiALiSTA prometo

em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos

continuaraparelhagem toca discos

tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim

18 19

Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa

Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa

doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e

i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix

e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a

na feitura

na artesania

de quaisquer coisas

de uma infinidade de coisas

em uma diversidade de coisas

catadora de vazios de cacos

de tintas de danccedilas de vatildeos

de pedaccedilos de sensaccedilotildees

especialista em parir gente que faz coisas muitas

especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme

na grande sauacutede nietzscheana

na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias

nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos

rasgadora de papeacuteis

esculpidora de pedras

misturadora de tintas

20 21

Corpo

23

Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 6: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

AGRADECimENTOS

Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem

pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel

A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro

A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e

parafernaacutelias

Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais

Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de

loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas

A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura

Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta

vida e pelos clicks roubados e conspirados

SUmAacuteRiO

- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144

14 15

17

Apresentaccedilatildeo

Daniele Noal Gai

Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em

ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde

vemem disquete em quem

conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas

onde quer ir

ESPECiALiSTA prometo

em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos

continuaraparelhagem toca discos

tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim

18 19

Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa

Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa

doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e

i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix

e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a

na feitura

na artesania

de quaisquer coisas

de uma infinidade de coisas

em uma diversidade de coisas

catadora de vazios de cacos

de tintas de danccedilas de vatildeos

de pedaccedilos de sensaccedilotildees

especialista em parir gente que faz coisas muitas

especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme

na grande sauacutede nietzscheana

na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias

nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos

rasgadora de papeacuteis

esculpidora de pedras

misturadora de tintas

20 21

Corpo

23

Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 7: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

SUmAacuteRiO

- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144

14 15

17

Apresentaccedilatildeo

Daniele Noal Gai

Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em

ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde

vemem disquete em quem

conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas

onde quer ir

ESPECiALiSTA prometo

em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos

continuaraparelhagem toca discos

tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim

18 19

Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa

Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa

doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e

i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix

e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a

na feitura

na artesania

de quaisquer coisas

de uma infinidade de coisas

em uma diversidade de coisas

catadora de vazios de cacos

de tintas de danccedilas de vatildeos

de pedaccedilos de sensaccedilotildees

especialista em parir gente que faz coisas muitas

especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme

na grande sauacutede nietzscheana

na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias

nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos

rasgadora de papeacuteis

esculpidora de pedras

misturadora de tintas

20 21

Corpo

23

Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 8: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

14 15

17

Apresentaccedilatildeo

Daniele Noal Gai

Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em

ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde

vemem disquete em quem

conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas

onde quer ir

ESPECiALiSTA prometo

em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos

continuaraparelhagem toca discos

tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim

18 19

Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa

Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa

doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e

i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix

e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a

na feitura

na artesania

de quaisquer coisas

de uma infinidade de coisas

em uma diversidade de coisas

catadora de vazios de cacos

de tintas de danccedilas de vatildeos

de pedaccedilos de sensaccedilotildees

especialista em parir gente que faz coisas muitas

especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme

na grande sauacutede nietzscheana

na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias

nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos

rasgadora de papeacuteis

esculpidora de pedras

misturadora de tintas

20 21

Corpo

23

Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

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S

US P

E

N S O S

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140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 9: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

17

Apresentaccedilatildeo

Daniele Noal Gai

Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em

ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde

vemem disquete em quem

conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas

onde quer ir

ESPECiALiSTA prometo

em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos

continuaraparelhagem toca discos

tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim

18 19

Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa

Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa

doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e

i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix

e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a

na feitura

na artesania

de quaisquer coisas

de uma infinidade de coisas

em uma diversidade de coisas

catadora de vazios de cacos

de tintas de danccedilas de vatildeos

de pedaccedilos de sensaccedilotildees

especialista em parir gente que faz coisas muitas

especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme

na grande sauacutede nietzscheana

na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias

nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos

rasgadora de papeacuteis

esculpidora de pedras

misturadora de tintas

20 21

Corpo

23

Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

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sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

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as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

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1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

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Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 10: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

18 19

Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa

Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa

doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e

i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix

e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a

na feitura

na artesania

de quaisquer coisas

de uma infinidade de coisas

em uma diversidade de coisas

catadora de vazios de cacos

de tintas de danccedilas de vatildeos

de pedaccedilos de sensaccedilotildees

especialista em parir gente que faz coisas muitas

especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme

na grande sauacutede nietzscheana

na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias

nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos

rasgadora de papeacuteis

esculpidora de pedras

misturadora de tintas

20 21

Corpo

23

Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

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S

US P

E

N S O S

132 133

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140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

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1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

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Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 11: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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Corpo

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Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

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36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

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72 73

74 75

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TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

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128 129

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N S O S

132 133

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136 137

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140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

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jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

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sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 12: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

23

Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return

O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis

Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul

Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos

Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar

nOW TOUCHE me baby

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

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138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 13: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

25

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

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64 65

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68 69

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TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

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E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 14: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

26 27

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 15: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

28 29

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

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N S O S

132 133

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138 139

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 16: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

30 31

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 17: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

33

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

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102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

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S

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N S O S

132 133

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138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 18: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

34 35

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 19: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

36 37

Duvido do corpo fragmentado

do corpo condicionado dos paralelos opostos e

dos opostos complementares

Duvido dos padrotildees de beleza

Alias descredito na feiura e belezura

na deficiecircncia e eficiecircncia

Fujo do diagnostico de bipolaridade

Faccedilo cara de paisagem pros

prognoacutesticos

Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees

dos historiadores e poliacuteticos e

questiono as escalas das cores

Desconheccedilo

o que pode o corpo

e o que eacute o corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

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N S O S

132 133

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136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 20: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

38 39

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 21: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

40 41

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 22: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

42 43

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 23: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

44 45

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

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sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 24: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

46 47

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 25: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

49

Natildeo

Lugar

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 26: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

50 51

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 27: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

52 53

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 28: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

54 55

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

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136 137

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140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 29: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

56 57

No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e

a frontei desdobras e desvios

Os corpos se datildeo

A partir do acontecimento

ultrapassa transpassa

a fronteira do diziacutevel

provocando

e produz i n f o r m e

em atualizaccedilotildeestrans itivas

um novo si eacute exigido

58 59

60 61

63

64 65

66 67

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TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

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102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 30: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

58 59

60 61

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

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136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 31: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

60 61

63

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68 69

70 71

72 73

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TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

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136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 32: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

63

64 65

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

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138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 33: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

64 65

66 67

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70 71

72 73

74 75

76 77

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TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

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92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

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138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 34: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

66 67

68 69

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 35: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

68 69

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TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

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118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

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138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 36: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

70 71

72 73

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 37: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

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94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

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136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 38: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

74 75

76 77

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 39: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

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Estaraacute na horizontal ou

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E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

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126 127

128 129

130 131

S

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132 133

134 135

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

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as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 40: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

79

TRA

NSG

RESccedil

S OtildeES

80 81

82

Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

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140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 41: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

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118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

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Estaraacute na horizontal ou

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E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

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Vertical

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132 133

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

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sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

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Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 42: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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Andei tendo um sonho engraccedilado contigo

a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse

teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim

como as benzeduras de minha avorsquo

(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra

que ela entoava)

Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-

derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()

(um sonho estranhoque me fez sorrir)

ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme

Sonho de chocolateGoiaba-sonho

Freguesiardquo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 43: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

84 85

86 87

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

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US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 44: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

86 87

88 89

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94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

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102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

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E

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132 133

134 135

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 45: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

88 89

90 91

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 46: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

90 91

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ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

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jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 47: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

92 93

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 48: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

94 95

ldquotraduzir os

geneacutericos a tal

ponto que natildeo

sirvam mais para dizer o

que dizem

ou seja

torna-los estranhos

desenvolve-los aos caos

para que tomem

velocidade e se

desnaturalizemrdquo

(DALAROSA 2012 p60)

96 97

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

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138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

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144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 49: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

96 97

98 99

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102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

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130 131

S

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E

N S O S

132 133

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140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 50: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

98 99

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

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N S O S

132 133

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136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 51: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

100 101

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

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138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 52: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

102 103

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 53: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

104 105

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 54: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

106 107

RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias

Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc

E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem

Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo

O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos

O rastro de luz produzidoespelhado

a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo

A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes

Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas

das tuas revoltasdos teus desassossegos

dos teus planosDos planos de imanecircncia

de impermanecircncia de transferecircncia

de resistecircncia (re)existecircncia

(re)flexatildeo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 55: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

109

Cia Soacute

do E

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

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E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 56: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

111

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

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Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

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Estaraacute na horizontal ou

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E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

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S

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N S O S

132 133

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140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 57: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

112 113

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 58: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

114 115

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 59: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

117

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

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E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

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136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 60: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

118 119

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

S

US P

E

N S O S

132 133

134 135

136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 61: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

120 121

Arquivos do Devir

Caccedilando achadouros da infacircncia

Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou

arco-iacuteris

Vou arquivando no subterracircneo

mantendo a superficialidade

Na pele o que haacute de mais profundo

imaginando quais livros contaratildeo uma

verdade

E se o observador ainda natildeo observou tudo

que haacute pra se observar

Natildeo observou o invisiacuteveliquest

Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-

vado

Que nome ele daraacute

Viajando nas nuvens de algodatildeo

Estaraacute ele em repouso ou

movimento

Estaraacute na horizontal ou

iquest

E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo

Onde se guarda uma coleccedilatildeo

Guarda-se em gavetas

Em prateleiras

Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil

Onde podem danccedilar se desconstruindo e

se reinventando

Vertical

122 123

125

126 127

128 129

130 131

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US P

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N S O S

132 133

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136 137

138 139

140 141

T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 62: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

142 143

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

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sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

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as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

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Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 63: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

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jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

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as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

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Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

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DELEUZE GUATARI 1997 p118

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

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jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

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Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

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as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

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Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

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jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 66: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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S

US P

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

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jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

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1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

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Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 68: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

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jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

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sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 69: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

136 137

138 139

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

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144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

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jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

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sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

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1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

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Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 71: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i

q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo

DELEUZE GUATARI 1997 p118

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

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jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

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sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 72: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

142 143

144 145

Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 73: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa

Dores e delicias da vida

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 74: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

147

jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas

Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina

Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos

1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento

2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer

148 149

sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

150 151

as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

154 155

157

Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 75: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

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sebos3)

Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia

Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho

Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro

Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS

noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa

Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando

6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel

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as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

152 153

1997 p118

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

159

Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

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as flores na base do ldquoescorregardquo

Em plena ditadura militar faziacuteamos

eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento

A agitaccedilatildeo curiosidade

e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com

aquelas caixas

mAGiCAS foi

criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e

transgredir as normas

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Referecircncias utilizadas no livros

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997

DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

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Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

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WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

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DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)

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WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

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LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

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Organizador da Coleccedilatildeo

Autora

WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769

LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

Projeto Editorial

Page 81: Transgressões e Traducões para um livro Corpo

Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162

Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn

Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)

ISBN 978-85-66402-07-0

Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz

Editora

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