Transições de Ciclo

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tese sobre transições de ciclo e as dificuldades que os alunos enfrentam

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  • UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE PSICOLOGIA

    A PRONTIDO ESCOLAR DE CRIANAS EM

    TRANSIO PARA O 1 CICLO: CRENAS DE PAIS E

    PROFESSORES

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro

    MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

    (Seco de Psicologia da Educao e da Orientao)

    2012

  • UNIVERSIDADE DE LISBOA

    FACULDADE DE PSICOLOGIA

    A PRONTIDO ESCOLAR DE CRIANAS EM

    TRANSIO PARA O 1 CICLO: CRENAS DE PAIS E

    PROFESSORES

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro

    Dissertao orientada pela Prof. Doutora M Dulce Gonalves

    MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

    (Seco de Psicologia da Educao e da Orientao)

    2012

  • A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro iii

    As crianas esto sempre prontas para aprender s uma questo do que vo

    aprender, como vo aprender, e em que contexto vo aprender.

    Carlton & Winston (1999)

  • Agradecimentos

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro iv

    Agradecimentos

    No trabalho que desenvolvi ao longo de um ano, nada teria sido possvel sem a ajuda,

    fora e inspirao de algumas pessoas, a quem gostaria de agradecer.

    Professora Dulce Gonalves, minha orientadora. Pelo apoio, por todos os

    ensinamentos, pela pacincia, pelos conselhos, pelo modo apaixonado com que fala da

    Psicologia Educacional, pelo projeto IDEA que inspira a desenvolver mais e mais esta

    rea de estudos, por uma amizade que estimo.

    Ao corpo docente da seco de Psicologia da Educao e Orientao da

    Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Pelo ensino de qualidade, pela

    paixo com que lecionam, pela proximidade e apoio dado aos alunos.

    Ao grupo de colegas da Faculdade, que constituram uma fonte de amizade,

    inspirao, suporte e troca de experincias preciosa. Dora e Marta, que me

    acompanharam durante todo o percurso acadmico, e com quem sempre pude contar.

    Ana Lcia pela partilha de angstias e conquistas no processo de escrita da monografia.

    Escola Bsica Antnio Matos Fortuna (em especial Prof. Ana Mendo) e ao

    Colgio de S. Filipe (em especial ao Prof. Lus Abelho). Pela disponibilidade e

    colaborao com este estudo.

    A todos os participantes do estudo, quer na fase de entrevista (um agradecimento

    especial Prof. Natlia Lopes, Prof. Amlia Agostinho, e Prof. Telma Oliveira), quer na

    resposta aos questionrios.

    minha famlia mais prxima me, pai, Clara a quem dedico este trabalho.

    minha tia Coli por me ajudar com as revises. minha restante famlia tambm. Por

    serem as minhas referncias dirias e fontes de conforto e aconselhamento.

    Ao Nuno, o meu pilar. Por acreditar em mim e por estar ao meu lado todos os

    dias, nos bons e nos maus. Por me apoiar ao longo do percurso da faculdade e, espero,

    no meu restante percurso de vida.

    A todos, por tudo, muito obrigada!

  • Resumo

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro v

    Resumo

    Existe uma grande preocupao em perceber se as crianas se encontram em condies de

    realizarem uma transio escolar bem sucedida para o 1 ciclo. O conceito de prontido

    escolar surge na dcada de 80 e desde ento tem sofrido vrias tentativas de definio e sido

    alvo de vrias concees. O presente estudo segue uma perspetiva ecolgica e dinmica da

    transio, e uma perspetiva interacionista da prontido. Com o objetivo de conhecer as

    crenas dos pais e professores envolvidos nesta transio para o 1 ano, procede-se a um

    estudo prvio com vista adaptao do questionrio do projeto australiano Starting School.

    Questionaram-se pais e professores (n=51) acerca do que consideram serem os indicadores da

    prontido das crianas para que ingressem na escola com o maior sucesso possvel. Avaliou-

    se o funcionamento global do questionrio, tendo-se verificado as taxas de resposta s

    questes abertas e as respostas omissas s questes fechadas. Analisaram-se as frequncias e

    mdias das respostas dos participantes, e atriburam-se as categorias definidas no projeto

    Starting School quando se considerou que fazia sentido.

    Aparentemente a maioria dos pais e professores consideram que as atitudes em relao

    escola e aprendizagem constituem o tipo de indicador de prontido mais importante, assim

    como a adaptao aos pares e professores. Os indicadores menos importantes relacionam-se

    com os conhecimentos e competncias das crianas.

    Seria interessante melhorar este questionrio para futuras recolhas de informao, assim

    como reunir uma amostra de participantes que permitisse uma comparao entre grupos de

    pais e professores, de modo a obter-se uma melhor compreenso sobre as suas crenas.

    Espera-se poder contribuir para a evoluo de todas as crianas, assim como para educar os

    intervenientes no processo de transio, de modo a estarem preparados para a mudana.

    Palavras-Chave: Transio para o 1 Ciclo; Prontido Escolar; Indicadores de Prontido; Crenas de Pais e

    Professores; Modelo Ecolgico e Dinmico da Transio.

  • Abstract

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro vi

    Abstract

    There is a big concern to understand if a child is, or not, ready to make a successful transition

    to elementary school. The school readiness concept emerged in the 80s, and since then it has

    been evolving into different conceptions. The present study follows an ecological and

    dynamic perspective on transition and an interactionist perspective on readiness. Having as a

    goal to understand the beliefs of the teachers and parents involved in the transition to the 1st

    year, we have performed a preliminary study which has as a goal to adapt the questionnaire

    of the Australian Starting School project. Parents and teachers (n=51) were asked about what

    they considered to be the childs readiness indicators, in order for her to start school

    successfully. The overall functioning of the questionnaire was evaluated by checking

    response rates to open questions and missing answers to closed questions. The participants

    answers were analyzed according to their frequencies and means, and the categories defined

    by the Starting School project were attributed when significant.

    It seems that the majority of parents and teachers think that a positive attitude towards school

    and learning is the most important indicator of readiness, along with a good adaptation to the

    school setting and their peers and teachers. The least important aspects were related to the

    childrens knowledge and the skills.

    It would be interesting to improve this questionnaire for further data collection and to gather

    a sample that allows the comparison between groups of parents and teachers, so that we could

    have a better understanding about their beliefs. In this way, we hope that we may contribute

    to the evolution of all children, and to educate those intervening on the transition process, so

    they are prepared for change.

    Key Words: Transition to Elementary School; School Readiness; Readiness Indicators; Parents and Teachers

    Beliefs, Ecological and Dynamic Model of Transition.

  • Abstract

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro vii

    ndice Agradecimentos ............................................................................................................... iv

    Resumo ............................................................................................................................. v

    Abstract ............................................................................................................................ vi

    Introduo ......................................................................................................................... 1

    Captulo I Enquadramento Terico ........................................................................... 3

    1.1. A Transio Escolar para o 1 ciclo do ensino bsico ....................................... 3

    1.1.1. Pais e professores como agentes ativos na Transio................................. 4

    1.2. Readiness o conceito de Prontido ................................................................. 6

    1.3. Indicadores de Prontido Escolar ...................................................................... 8

    1.3.1. O projeto de investigao Starting School, na Austrlia .......................... 10

    1.3.2. Crenas acerca da Prontido ..................................................................... 12

    1.4. Estudos portugueses que abordam crenas sobre a Prontido ......................... 13

    1.5. Intervir sobre a Prontido Escolar ................................................................... 15

    1.6. Objetivos do presente estudo ........................................................................... 16

    Captulo II Metodologia ............................................................................................ 18

    2.1. Participantes ..................................................................................................... 18

    2.2. Instrumentos ..................................................................................................... 19

    2.3. Procedimento ................................................................................................... 20

    2.3.1. Aplicao experimental do questionrio .................................................. 21

    2.3.2. Recolha de dados ...................................................................................... 21

    2.3.3. Anlise dos dados ..................................................................................... 22

  • Abstract

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro viii

    Anlise estatstica ................................................................................................... 22

    Anlise de contedo................................................................................................ 23

    Captulo III Resultados ............................................................................................. 24

    3.1. Anlise de Itens ................................................................................................ 24

    3.1.1. Respostas omissas s questes de resposta fechada ................................. 24

    3.1.2. Frequncia de resposta s questes de resposta aberta ............................. 24

    3.2. Anlise da seco A Ingresso na Escola (1 ciclo) ....................................... 25

    3.3. Anlise da seco B Antes da Entrada na Escola (1 ciclo) ........................ 26

    3.4. Anlise da seco C Categorias.................................................................... 28

    3.5. Anlise da seco D Indicadores de Sucesso na Transio.......................... 28

    3.6. Anlise da seco E Opinies sobre a Entrada na Escola (1 ciclo) ............ 29

    Captulo IV Discusso e Concluso .......................................................................... 32

    4.1. Discusso de Resultados .................................................................................. 32

    4.1.1. Resposta s questes de investigao ....................................................... 32

    4.1.2. Contedo e forma dos itens do questionrio ............................................ 33

    4.1.3. Seco A (Ingresso na escola) .................................................................. 35

    4.1.4. Seco B (Antes da entrada na escola) ..................................................... 36

    4.1.5. Seco C (Categorias) .............................................................................. 37

    4.1.6. Seco D (Indicadores de sucesso na transio) ...................................... 37

    4.1.7. Seco E (Opinies sobre a entrada na escola) ........................................ 38

    4.2. Concluses ....................................................................................................... 39

  • Abstract

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro ix

    4.2.1. Estudos Posteriores ................................................................................... 40

    4.2.2. Contributo para a Prtica da Psicologia Educacional ............................... 42

    Referncias ..................................................................................................................... 45

    Lista de Anexos .............................................................................................................. 48

  • Introduo

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 1

    Introduo

    A transio para o 1 ciclo uma mudana inerente vida de todas as crianas e

    suas famlias. Em todas as mudanas surgem oportunidades de aprendizagem e

    evoluo, dado que constituem um processo que coloca desafios e dificuldades. Esta

    transio tem sido estudada segundo diferentes pontos de vista e concees.

    No presente estudo adota-se uma perspetiva sobre a transio de carter

    interacionista, em que se consideram pais e professores como intervenientes ativos no

    processo. Procura-se ainda estudar a prontido escolar (school readiness) de um ponto

    de vista da educao para a mudana, e pretende-se analisar os indicadores de prontido

    como pistas para uma constante evoluo de cada criana enquanto indivduo, atravs

    da estimulao de recursos pessoais com vista transio com o maior sucesso possvel.

    Dada a importncia de promover uma transio para o 1 ciclo bem sucedida,

    surge a necessidade de investigar, em Portugal, que indicadores sero importantes para

    considerar que uma criana se encontra pronta a ingressar na escola. De acordo com o

    Modelo Ecolgico e Dinmico da Transio (Rimm-Kaufman & Pianta, 2000), os pais e

    professores so agentes importantes em interao com a criana durante o processo de

    transio, pelo que se procura compreender quais as suas crenas relativamente a

    diferentes indicadores de sucesso antes (ao nvel pr-escolar) e aps a transio (no 1

    ano).

    Este estudo encontra-se organizado segundo quatro captulos: o Captulo I, que

    consiste num enquadramento terico, de explicitao e evoluo dos conceitos, e onde

    se apresentam a relevncia do estudo e seus objetivos; o Captulo II, onde explicado o

    mtodo seguido, incluindo uma descrio dos participantes, dos instrumentos utilizados,

    e do procedimento; o Captulo III, onde se apresentam os resultados obtidos; e o

  • Introduo

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 2

    Captulo IV, que um captulo de discusso e concluso, onde so apresentadas pistas

    para a investigao e interveno futura.

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 3

    Captulo I Enquadramento Terico

    1.1. A Transio Escolar para o 1 ciclo do ensino bsico

    Quer a criana frequente ou no o ensino pr-escolar, a entrada no 1 ano do 1

    ciclo do ensino bsico (adiante referido apenas como 1 ano ou 1 ciclo) sempre

    considerada uma transio escolar, pois uma mudana marcante. Essa transio

    constitui um momento muito importante na vida da criana, sendo algo que a prpria

    antecipa com algum entusiasmo e ansiedade.

    Em Portugal a educao pr-escolar no tem ainda um carter obrigatrio e, por

    essa razo, para muitas crianas, a transio para o 1 ciclo poder constituir uma

    mudana mais brusca, pois ser o primeiro contacto com o meio escolar. Ainda assim,

    mesmo quando h frequncia da educao pr-escolar, a transio motivo de distress.

    Uma das razes para esse stress de carter negativo prende-se com a descontinuidade ao

    nvel dos contedos curriculares, do ambiente fsico, da organizao da sala de aula, e

    das metodologias subjacentes a cada ciclo escolar (Curtis, 1986, citado por Yeboah,

    2002).

    As transies entre ciclos escolares constituem eventos de stress normativo, pois

    todas as crianas iro experienci-las ao longo do seu percurso escolar. um

    acontecimento que geralmente envolve a mudana de escola, de grupo de pares, de

    professores, por vezes de localidade, e ainda de regras e exigncias escolares. O que

    constitui um fator de risco no a mudana/transio em si, mas a simultaneidade de

    mudanas que decorrem da transio (Schlossberg, 1981, Seiffge-Krenke, 1995,

    Simmons, 1987, cit. por Cleto & Costa, 2000).

    Os fatores encontrados na literatura como determinantes do sucesso da transio

    escolar so referentes a fatores de contexto em geral, fatores da escola, fatores da

    famlia, fatores de etnia, cultura e linguagem, e fatores das caractersticas pessoais da

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 4

    criana (ex., Yeboah, 2002). Ou seja, uma transio bem sucedida depende de muito

    mais do que da prpria criana. Ainda assim, denota-se que em inmeros estudos o foco

    colocado na criana, deixando de parte todos os restantes fatores que so tanto ou mais

    importantes.

    O sucesso nos primeiros anos de escola prediz o sucesso escolar a longo prazo

    (Rimm-Kaufman & Pianta, 2000), da ser to importante que se promova uma transio

    para o 1 ano to bem sucedida quanto possvel. Tendo essa preocupao em vista, nas

    ltimas dcadas tem havido um amplo debate acerca do que sero os pr-requisitos

    essenciais para que a transio escolar se faa com sucesso, ou seja, tem-se procurado

    definir o que constituir a frmula da prontido escolar. Acontece que o sucesso da

    transio e a prontido escolar dependem de diversos intervenientes: a) da criana em

    questo; b) da sua famlia; c) da escola; d) da comunidade. Deste modo, no existir a

    dita frmula de sucesso, mas antes indicadores de que a criana poder lidar melhor

    com as mudanas inerentes transio.

    Pode-se dizer que existem duas grandes preocupaes relativamente transio

    e, como veremos adiante, prontido. Tem-se, por um lado, a preocupao de avaliar as

    crianas, de compreender de modo dicotmico se estas esto, ou no, aptas a transitar

    com sucesso; por outro lado tem-se a preocupao de educar para a mudana que

    inerente transio, procurando indicadores de prontido e promovendo uma constante

    evoluo nas aprendizagens.

    1.1.1. Pais e professores como agentes ativos na Transio

    Rimm-Kaufman e Pianta (2000) apresentam uma conceptualizao da transio

    para o 1 ciclo (no original, transio para o kindergarten) que segue uma perspetiva

    ecolgica - o Modelo Ecolgico e Dinmico da Transio para o 1 Ciclo (figura 1).

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 5

    Figura 1 - Modelo Ecolgico e Dinmico da Transio para o 1 Ciclo (adaptado de Rimm-Kaufman & Pianta, 2000)

    Os autores preconizam a transio como um processo que decorre ao longo do

    tempo, e no como um momento. Inicia-se ainda durante o ensino pr-escolar e

    continua no 1 ano. Face a modelos anteriores, a introduo da varivel temporal

    inovadora. Seguindo o modelo ecolgico de Bronfenbrenner (ex., 1994), os autores

    contemplam na transio vrios atores, sendo que a criana o central. Os restantes

    intervenientes so a famlia, os professores, os pares, e a comunidade. O carter

    dinmico do modelo prende-se com a interao que ocorre entre todos estes

    intervenientes entre si, pois considera-se que todos influem na transio (e todos

    sofrem, efetivamente, uma transio), e que os relacionamentos entre as partes fazem

    parte do processo.

    Para que a transio escolar ocorra da melhor forma, feito um apelo a diversos

    pr--requisitos (ex., competncias, regras, conhecimentos, exigncias fsicas, ), quer

    da criana, quer do seu contexto (escola, famlia, comunidade), que remetem para o

    conceito de prontido escolar.

  • Captulo I Enquadramento Terico

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    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 6

    1.2. Readiness o conceito de Prontido

    O debate sobre o conceito de prontido torna-se notrio nos Estados Unidos da

    Amrica devido definio, em 1989, do objetivo educacional Todas as crianas

    devem ingressar na escola prontas para aprender (Action Team on School Readiness,

    1992, cit. por Lewit & Baker, 1995). Embora haja uma boa inteno, surge uma maior

    necessidade de se operacionalizar o conceito: o que significa estar pronto? Como se

    pode medir a prontido? E como ajudar a que as crianas fiquem, efetivamente,

    prontas? O conceito de prontido no se encontra bem definido e passvel de

    diferentes interpretaes.

    Em torno do debate sobre a prontido, surgem ainda outras questes: ser que

    a criana que deve estar pronta para a escola, ou o contrrio (Sim-Sim, 2010)? E qual o

    papel da comunidade na criao de condies para que ocorra a tal prontido? (Lewit &

    Baker, 1995).

    Existem diferentes concees de prontido, e na literatura (Meisels, 1998;

    Dockett & Perry, 2002a) esto descritas quatro vises diferentes sobre o conceito: a

    viso maturacionista (maturationist), a viso contextualista (environmental), a viso

    scio-construtivista (social constructivist), e a viso interacionista (interactionist).

    A viso maturacionista determina que a criana est pronta quando estiver

    pronta, considerando que o processo de desenvolvimento no pode ser acelerado de

    nenhuma forma. Esse processo intrnseco criana, como que um relgio interno

    que determinar o momento em que a criana estar pronta para a escola e para

    aprender.

    Do ponto de vista contextualista, a prontido da criana revelada pelos seus

    comportamentos, e existe um foco exclusivo nas evidncias externas de aprendizagem

    (ex., OKane & Hayes, 2006). De acordo com esta conceo, pode-se considerar que

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 7

    perante uma grande variabilidade dos ambientes pr-escolares tambm se ter uma

    grande variabilidade de estados de prontido. No tido em considerao o potencial

    de aprendizagem de cada criana; estas ou esto prontas para a escola, ou no esto, e

    atravs de testes e checklists que se ir verificar se esse estado foi, ou no, atingido.

    Graue (2006) chama-lhe uma perspetiva -procura-de-problemas, pois em vez de

    serem dadas orientaes a pais e professores no sentido de os ajudarem, so levantados

    problemas e sugeridas razes para considerar que a criana poder no estar pronta.

    A viso scio-construtuvista defende que a prontido um conceito co-

    construdo socialmente, que est imbuda no contexto social da criana. As crenas,

    expectativas, as percees e experincias daqueles que esto envolvidos na escola e na

    comunidade em que a escola existe, so quem fortemente determina a prontido escolar

    nesse contexto. Ter-se-, portanto, uma definio de prontido que varia de contexto

    para contexto, e que retira da criana o foco como indivduo, centrando-se nas

    exigncias e recursos que o contexto apresenta.

    De acordo com a perspetiva interacionista, que engloba elementos de todas as

    vises anteriormente apresentadas, a prontido concebida como uma interao entre as

    caractersticas da criana e as caractersticas do meio em que vive (a sua famlia, grupo

    de pares, escola, professores, comunidade em geral). A prontido , portanto, encarada

    no mbito dos relacionamentos, no fazendo sentido analisar unicamente a criana ou os

    restantes intervenientes sem considerar as relaes entre eles (o que implica que seja

    feita uma avaliao ao longo do tempo, para permitir o estabelecimento de relaes). A

    variabilidade no desenvolvimento das crianas encarada como sendo normal, em vez

    de ser encarada como um dfice.

    Na viso de Pianta e Walsh (1996, cit. por Meisels, 1998), as crianas

    encontram-se prontas para a escola quando por um perodo de vrios anos, foram

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 8

    expostas a adultos consistentes e estveis que investiram emocionalmente nelas; a um

    ambiente fsico que seguro e previsvel; a rotinas regulares e ritmos de atividade; a

    pares competentes; e a materiais que estimulam a sua explorao e os fazem desfrutar

    do mundo dos objetos, e que as fazem desenvolver um sentido de mestria. No fundo, a

    prontido pode ser conceptualizada como um constructo amplo, que incorpora todos os

    aspetos da vida da criana que contribuem diretamente para a sua capacidade para

    aprender.

    A avaliao da prontido pressupe a homogeneidade e equidade de

    oportunidades ao nvel do pr-escolar, o que, claramente, ir contrastar com a

    homogeneidade dos contextos em que as crianas crescem, com a variedade de prticas

    educativas das diferentes famlias, do acesso que houve a materiais, recursos e estmulos

    (Meisels, 1998). Deste modo, pode parecer intil e injusto que se avalie do mesmo

    modo todas as crianas, sem considerar todas as diferenas individuais e de contexto.

    Segundo Meisels (1998), a avaliao da prontido dever seguir trs condies:

    a) a avaliao deve ser cautelosa, com recurso a diferentes materiais e instrumentos,

    com conhecimento quanto ao propsito para o qual foram criados; a avaliao deve

    resolver problemas educacionais e no cri-los; b) no fazer mau uso dos resultados de

    avaliao psicolgica (como sejam decises sobre reteno, promoo, incentivos para

    crianas ou professores, ou outros reforos ou punies tangveis), dado que levam a

    impactos negativos nas crianas, professores e comunidade escolar; c) adotar uma viso

    compreensiva acerca da aprendizagem e desenvolvimento.

    1.3. Indicadores de Prontido Escolar

    Em muitas escolas est instaurada uma prtica que no decorre da

    fundamentao em literatura e que no tem em conta os resultados de estudos recentes,

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 9

    pelo que a definio da prontido escolar de uma criana segue medidas de carter

    intuitivo: definida uma idade mnima para um bom funcionamento na escola, realiza-

    se uma avaliao do momento de prontido, e criam-se alternativas para as crianas

    que se considera no estarem prontas para o ingresso na escola (Carlton & Winsler,

    1999).

    A definio de uma idade de corte parece ser um critrio amplamente utilizado,

    aparentemente pela simplicidade com que determinado. No entanto, a idade ideal

    difcil de estabelecer, e os estudos demonstram que a idade mostra ter pouca

    importncia no progresso acadmico e bem-estar das crianas (Morrison, Griffith, &

    Alberts, 1997; Gredler, 1980, Jones & Mandeville, 1990, cit. por Carlton & Winsler,

    1999). Alm disso no h uma idade mgica na qual todas as crianas tenham

    sucesso garantido (Graue, 1999, cit. por Dockett & Perry, 2009). Em Portugal, uma

    criana torna-se elegvel para se matricular no 1 ano se tiver 6 anos. Tem de se

    matricular obrigatoriamente se tiver completado os 6 anos at 15 de setembro do ano

    presente, e tem a sua matrcula condicionada pelo nmero de vagas existentes e ter de a

    pedir atravs um requerimento se s os completar entre 15 de setembro e 31 de

    dezembro (cf. Artigo 6 do Decreto-Lei n 301/1993)

    O uso de testes para a avaliao da prontido das crianas cada vez mais

    popular, mas acarreta problemas e demonstra menos vantagens para as crianas.

    Segundo Carlton e Winsler (1999), existem dois tipos de testes: os que medem marcos

    de desenvolvimento e os que medem os conhecimentos acadmicos. No entanto, h o

    problema de se utilizarem instrumentos sem qualidades psicomtricas reconhecidas, e

    que revelam ter pouco poder preditivo (pois correlacionam-se muito pouco com o futuro

    desempenho escolar das crianas) e utilidade. Alm disso, dada a dificuldade de se

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 10

    atingir uma definio de prontido que seja clara, compreensiva e objetiva, reflete-se na

    dificuldade em operacionalizar o conceito, sendo por isso difcil a sua medio.

    A distino entre crianas prontas e no prontas para o ingresso escolar acarreta

    ainda mais um problema: o que fazer com aquelas que no esto? As prticas referidas

    prendem-se por um lado com o atraso do ingresso (uma espcie de chumbo no ltimo

    ano do pr-escolar) e com a criao de turmas de transio. O atraso no ingresso parece

    no ter quaisquer vantagens; pelo contrrio, as crianas apresentam autoconceitos

    diminudos e atitudes negativas perante a escola (White & Howard, 1973, cit. por

    Carlton & Winsler, 1999). A criao de turmas de transio, ou seja, criar um grupo de

    alunos considerados com um nvel de desenvolvimento inferior onde aprendem a

    aprender, tambm se revelou ser uma metodologia ineficaz, no se tendo verificado

    diferenas nas competncias acadmicas destas crianas aps a frequncia dessas aulas

    especiais (Carlton e Winsler 1999), para alm de que contribui para a estigmatizao

    social das crianas com dificuldades.

    No presente estudo segue-se uma perspetiva que se demarca das focadas na

    avaliao psicolgica, pois o objetivo no a distino das crianas prontas/no-

    prontas, mas sim a descrio de indicadores de prontido que permitam uma

    interveno baseada na educao e na potencializao de aprendizagens que conduzam

    a uma transio com o maior sucesso possvel.

    1.3.1. O projeto de investigao Starting School, na Austrlia

    O projeto Starting School na Austrlia desenvolvido pelos investigadores Sue

    Dockett e Bob Perry, e procura estudar as crenas sobre a prontido escolar. Um dos

    objetivos do estudo consiste na criao de um conjunto de guidelines que orientem e

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 11

    enquadrem o desenvolvimento e avaliao dos programas que promovem a transio

    bem sucedida.

    Este projeto de investigao iniciou-se com uma primeira fase de entrevistas em

    focus groups com crianas, pais e professores envolvidos no processo de transio (quer

    antes, quer aps o momento da transio propriamente dita). Atravs da informao

    recolhida nas entrevistas, construram um questionrio com duas formas, e recolheram

    dados das crenas de pais e professores, entre os anos de 1998 e 2000 (Perry, Dockett,

    & Tracey, 1998, Perry, Dockett, & Howard, 2000; cit. por Dockett & Perry, 2001,

    2002a, 2002b, 2003a, 2004). Assim, conseguiram congregar uma grande quantidade de

    opinies, e delinear um perfil dos indicadores da prontido escolar das crianas em

    transio para o 1 ciclo, em New South Wales na Austrlia.

    Atravs de anlise fatorial confirmatria, definiram 8 categorias de resposta: 1)

    conhecimento; 2) ajustamento social; 3) competncias; 4) atitudes; 5) regras; 6) aspetos

    fsicos; 7) aspetos relacionados com a famlia; 8) ambiente educacional. Na anlise de

    resultados do seu questionrio, verificaram que tanto pais como professores referiam a

    adaptao como um dos indicadores mais importantes, embora os pais valorizassem

    mais os aspetos relacionados com a adaptao ao ambiente escolar, e os professores

    dessem maior importncia adaptao interpessoal. Os professores tendiam a valorizar

    mais o conhecimento que os pais, e eram estes ltimos a referir mais frequentemente

    aspetos fsicos como indicadores na transio. Tanto pais como professores valorizam

    mais as atitudes da criana em detrimento das competncias e conhecimentos que

    possuem, considerando mais importante que estas se sintam felizes na escola e queiram

    aprender. No geral, verificaram que pais e professores possuem focos semelhantes no

    que respeita transio, mas que lhes atribuem, por vezes, diferentes nfases.

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 12

    As guidelines para programas de transio bem sucedidos propostas por Dockett e

    Perry (2001) sugerem orientar essas intervenes no sentido de: 1) estabelecerem

    relaes positivas entre as crianas, pais e educadores; 2) facilitarem o desenvolvimento

    de cada criana enquanto aprendente com capacidades; 3) diferenciarem entre

    programas de orientao para a escola e de transio para a escola; 4) recorrerem a

    financiamento e recursos adequados; 5) envolverem toda a amplitude de intervenientes;

    6) serem bem planeados e devidamente avaliados; 7) serem flexveis e responsivos; 8)

    basearem-se no respeito e confiana mtuos; 9) apoiarem-se em comunicao recproca

    entre os participantes; 10) terem em conta aspetos contextuais da comunidade das

    crianas e famlias, enquanto indivduos nessa comunidade.

    1.3.2. Crenas acerca da Prontido

    Da reviso de literatura realizada, denotou-se haver mais estudos a incidir nas

    crenas dos professores acerca da transio e da prontido escolar, do que nas crenas

    dos pais e da famlia. Os estudos que abordam as crenas dos pais, geralmente fazem

    tambm uma anlise das crenas dos professores, comparando-as.

    Num estudo qualitativo de levantamento de crenas e prticas dos professores

    relativamente prontido escolar (Smith e Shepard, 1988) sugerida uma

    categorizao dos perfis de crenas revelados pelos participantes: Nativistas,

    Diagnstico-Prescritivas (disgnostic-prescriptives), Interacionistas, e Remediacionistas.

    Com exceo da perspetiva interacionista, com caractersticas semelhantes viso de

    mesmo nome, referida por Meisels (1998), as restantes categorias de crenas

    apresentam como preocupao comum a rotulao pronto/no pronto.

    Num estudo americano desenvolvido pelo National Center for Education Statistics

    (1993, cit. por Meisels, 1998), no qual participaram 1448 professores do ensino pr-

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 13

    escolar, os sujeitos consideraram que os fatores mais essenciais indicadores de que uma

    criana estaria pronta para entrar na escola seriam: a) a criana estar fisicamente

    saudvel, bem nutrida e descansada; b) ser capaz de comunicar verbalmente as suas

    necessidades, vontades e pensamentos; c) ter entusiasmo e curiosidade relativamente s

    novas atividades. As caractersticas consideradas menos importantes prendiam-se com

    capacidades de ndole mais acadmica (ex., resoluo de problemas, conhecer o

    alfabeto). Estes resultados foram replicados no estudo de Harradine e Clifford (1996),

    embora verifiquem que esses fatores tm uma diferente importncia relativa para pais e

    professores.

    Zhang , Sun e Gai (2008) verificaram haver consistncia entre as crenas de pais e

    professores, atribuindo maior importncia a aspetos relacionados com o interesse da

    criana e competncias de aprendizagem, do que a aspetos que se prendem com os

    conhecimentos bsicos por ela possudos. Tambm no seu estudo, Lin, Lawrence e

    Gorrel (2003) verificam que as expectativas dos professores em relao prontido se

    prendem mais com aspetos de adaptao social em detrimento de conhecimentos de

    ndole acadmica.

    1.4. Estudos portugueses que abordam crenas sobre a Prontido

    Da reviso de literatura realizada, verificou-se que em Portugal existem escassos

    estudos acerca da transio escolar para o 1 ciclo. No entanto, no se encontraram

    referncias ao conceito de prontido propriamente dito. Segundo Correia e Marques

    Pinto (2011), os estudos existentes sobre a transio podem ser agrupados conforme o

    seu foco em trs diferentes domnios: a) foco na criana e na sua

    adaptao/desadaptao ao novo meio; b) foco nos sistemas de ensino, e na

    continuidade/descontinuidade entre os nveis escolares com a transio; e c) foco em

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 14

    estratgias que promovam a adaptao das crianas em transio, estratgias essas que

    podem ser concebidas a um nvel mais macro (sistema de ensino) ou micro (programas

    de transio em cada escola, por exemplo).

    Correia e Marques Pinto (2011) investigam as crenas e percees acerca de

    fatores de adaptao e desadaptao na transio para o 1 ciclo. Os dados foram

    recolhidos atravs de focus-group com pais, educadores e crianas na situao de pr-

    transio, ou seja, no ltimo ano do ensino pr-escolar e meses antes do ingresso para o

    1 ciclo. Em relao a indicadores de adaptao transio, o que os pais identificaram

    foram aspetos relacionados com atitudes positivas da criana em relao escola

    (mostrar interesse, querer estar na escola), assim como um bem-estar fsico (ausncia de

    ansiedade), e os professores destacaram aspetos relacionados com a adaptao social

    com pares e professores, adaptao a regras e rotinas, e sentimentos positivos em

    relao escola e a si prpria (querer aprender, gostar da escola, sentir-se capaz).

    O estudo (Correia & Marques Pinto, 2011) segue uma abordagem de promoo

    de bem-estar e adaptao, estudando o stress decorrente da transio, enquanto no

    presente estudo pretende-se que a perspetiva seja a de educao para a mudana. Sendo

    a transio para o 1 ciclo uma transio normativa (todas as crianas passam por ela),

    considera-se importante que se estude a prontido no sentido de se poder estimular as

    crianas para que possam, da melhor forma, encarar os desafios que novas tarefas e

    exigncias lhes suscitam.

    Numa breve investigao em 2002, Castro e Rangel questionaram um grupo de

    crianas que frequentavam o ensino pr-escolar (n= 18) e alguns pais de crianas pr-

    transio (n=5) sobre a transio. As questes colocadas aos pais tinham um carter

    algo negativo, centrado em preocupao (ex., Tem alguma inquietao/preocupao

    relativamente transio do seu filho para a Primria?, O seu filho est apreensivo

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 15

    com a passagem para a Primria?). Apesar disso, questionaram tambm que diferenas

    consideravam haver entre o pr-escolar e o 1 ciclo, mas as respostas denotaram aspetos

    positivos para o ensino pr-escolar (mais brincadeira, maior a mistura entre o

    brincar e o aprender, mais liberdade e espontaneidade) e com uma carga mais

    negativa em relao ao 1 ciclo (maiores exigncias/mais regras/obrigatoriedade das

    tarefas, maior responsabilidade individual, a parte ldica vai diminuir, avaliada

    por todos, necessidade de maior ateno e concentrao).

    Resumidamente, os estudos portugueses relacionados com crenas de pais e/ou

    professores acerca da prontido escolar para a transio do 1 ciclo ou esto mais

    relacionados com um ponto de vista da adaptao ao stress, ou se focam particularmente

    nos aspetos negativos da transio, como a ansiedade e as preocupaes.

    1.5. Intervir sobre a Prontido Escolar

    Segundo a perspetiva defendida pelo presente estudo, a interveno

    relativamente prontido escolar prende-se sobretudo com a estimulao das

    competncias das crianas, com vista a uma transio bem sucedida. O objetivo

    educar para a mudana, verificando os indicadores de prontido de cada criana e

    promovendo uma melhor adaptao, contemplando todas as dimenses que se verifique

    serem necessrias: fsica, acadmica, social, emocional, entre outras. Procura-se ainda

    que a prontido no contemple apenas a criana em transio, mas tambm outros

    intervenientes ativos, tais como pais e professores. No s so importantes fontes de

    informao, como estes agentes se encontram tambm envolvidos no processo de

    transio, pelo que um dos objetivos formar e informar a todos.

    Tal como Carlton e Winsler (1999) sugerem, prope-se uma abordagem baseada

    na conceo de aprendizagem de Vygotsky a Aprendizagem por Andaimes, em que a

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 16

    criana dever ser exposta a situaes em que possa aprender as competncias que lhe

    sero necessrias para uma participao bem sucedida na cultura escolar. Dever-se-

    promover um acompanhamento prximo, de modo a que a criana tenha suporte e assim

    possa evoluir, havendo a promoo da sua autonomia e autorregulao. Sendo os

    autores apologistas de uma conceo de prontido bidirecional (que contempla a criana

    e a escola na equao), propem que, para uma transio melhor sucedida, se

    implementem as seguintes medidas: a) maior contacto com a instituio de ensino pr-

    escolar; b) criao de turmas com menor nmero de alunos; c) adoo de prticas de

    avaliao de cariz mais dinmico e compreensivo; d) mais formao para os

    professores; e) maior envolvimento parental.

    1.6. Objetivos do presente estudo

    Constata-se que h uma preocupao por parte das escolas em verificar a

    preparao dos seus alunos para um ingresso timo no 1 ciclo, e muitas j investem em

    programas de transio. Continuar a estudar a prontido, as crenas e construes que

    os principais agentes fazem sobre ela, e quais os indicadores considerados fundamentais

    para uma transio bem sucedida torna-se, por isso, uma prioridade.

    Seguindo uma perspetiva de educao para a mudana, por oposio

    preocupao habitual em avaliar para rotular as crianas como prontas/no-prontas,

    procura-se contribuir com conhecimento acerca de indicadores de prontido, com o

    principal objetivo de promover uma contnua evoluo e superao de dificuldades nas

    aprendizagens.

    neste sentido que o presente estudo ganha relevncia: ao investigar as crenas

    de pais e professores sobre aquilo que , para eles, a prontido escolar; sobre aquilo que

    para eles necessrio para uma transio de sucesso, ganha-se um maior entendimento

  • Captulo I Enquadramento Terico

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 17

    sobre dimenses da prontido escolar, atravs de importantes intervenientes na transio

    escolar.

    Considera-se ainda importante que exista um instrumento que possa servir para,

    com relativa rapidez e facilidade, se recolherem esses dados em cada escola e

    comunidade. Com o presente estudo no se pretende encontrar a frmula da prontido

    escolar, mas sim criar um modo de conhecer as diferentes frmulas que existam em

    cada criana, famlia, escola, comunidade.

    De acordo com a reviso bibliogrfica realizada, apresentada anteriormente,

    identifica-se a necessidade de estudar quais as crenas que importantes agentes no

    processo de transio possuem, neste caso pais e professores.

    Pretende-se ainda que este seja um estudo preliminar com vista futura

    adaptao de um instrumento que ajude ao levantamento dessas crenas, dado que nas

    pesquisas realizadas no se encontrou um instrumento portugus que tivesse como

    objetivo a recolha desse tipo de informao.

    Deste modo, pretende-se obter respostas s seguintes questes:

    a) Que indicadores so considerados mais relevantes pelos pais e professores para

    considerar uma criana pronta para a transio antes da entrada para a escola (1 ano)?

    b) Que indicadores so considerados mais relevantes pelos pais e professores para

    considerar que uma criana est a ser bem sucedida aps a entrada para a escola (1

    ano)?

    c) Que alteraes se podero introduzir no questionrio, de modo a torn-lo mais

    eficiente na recolha de crenas de pais e professores acerca da prontido escolar?

  • Captulo II Metodologia

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 18

    Captulo II Metodologia

    Verificando a importncia de se compreender o conceito de prontido e os seus

    indicadores no mbito de uma comunidade, atravs das suas crenas e expectativas,

    neste estudo vo ser investigadas as perspetivas de pais e professores acerca da

    prontido escolar das crianas em transio para o 1 ciclo.

    Neste captulo apresentam-se os participantes do estudo e suas caractersticas, os

    instrumentos utilizados, e todo o procedimento utilizado ao longo do estudo, desde a

    recolha de dados at sua anlise.

    2.1. Participantes

    Colaboraram com este estudo 51 participantes, entre os quais: 6 pais/cuidadores

    habituais de alunos pr-transio (que ingressam no 1 ano no ano letivo seguinte); 42

    pais/cuidadores habituais de alunos ps-transio (que frequentam o 1 ano no presente

    ano letivo); 2 professores de alunos antes pr-transio (educadores de infncia); 3

    professores de alunos ps-transio (professores do 1 ciclo). Chama-se a ateno para o

    facto de 2 sujeitos serem simultaneamente pais/cuidadores habituais e professores,

    tendo respondido tendo em conta a sua experincia em ambos os papis. A maioria dos

    participantes pertence ao sexo feminino (84.3%), possui idades compreendidas entre os

    31 e os 42 anos (80.4%) e tem formao de nvel superior (66.7%). Dois sujeitos

    responderam na qualidade de avs cuidadores/habituais, sendo os sujeitos que

    apresentavam menor nvel de escolaridade (1 ciclo), assim como uma idade mais

    avanada (entre os 55 e 66 anos). Na tabela 1 encontram-se compilados os dados que

    descrevem os participantes no estudo.

  • Captulo II Metodologia

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 19

    Caractersticas dos Participantes

    (n=51)

    Frequncia

    (Percentagem %)

    Sexo Feminino 43 (84.3)

    Masculino 8 (15.7)

    Idades 24 30 5 (9.8)

    31 36 17 (33.3)

    37 42 24 (47.1)

    43 54 3 (5.9)

    55 60 1 (2.0)

    61 66 1 (2.0)

    Nvel de Escolaridade 1 ciclo 2 (3.9)

    3 ciclo 2 (3.9)

    Secundrio 13 (25.5)

    Superior 34 (66.7)

    Pais/Cuidadores Habituais (n=48) Posio Face Transio

    Pr-Transio 6 (12.5)

    Ps-Transio 42 (87.5)

    Professores (n=5) Posio Face Transio

    (Formao Profissional)

    Pr-Transio

    (educador de infncia)

    2 (40.0)

    Ps-Transio

    (professor 1 ciclo)

    3 (60.0)

    Tabela 1 - Caracterizao dos Participantes

    2.2. Instrumentos

    No presente estudo, utiliza-se um questionrio como modo de avaliao das

    crenas acerca da prontido escolar.

    O questionrio consiste numa traduo e adaptao do questionrio de Dockett e

    Perry Starting School: Beliefs, Myths and Consequences (ver anexo 1), utilizado no

    seu estudo "Starting School Research Project", construdo e aplicado na Austrlia. O

    questionrio foi construdo a partir da informao que os autores recolheram atravs da

    entrevista em focus group numa srie de estudos piloto que decorreram entre 1997 e

    1998 (Dockett & Perry, 2002a). Foi criado ento o questionrio, que por ser muito

    extenso os autores dividiram-no em duas formas, e foi aplicado entre 1998 e 2000 em

    New South Wales, na Austrlia (Perry, Dockett, & Tracey, 1998, Perry, Dockett, &

  • Captulo II Metodologia

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 20

    Howard, 2000; cit. por Dockett & Perry, 2001, 2002a, 2002b, 2003a, 2004). Do

    questionrio original congregaram-se algumas questes das formas B dos seus

    questionrios para pais e professores, que se considerou servirem melhor os objetivos

    do presente estudo.

    O questionrio Prontido para a Transio para o 1 ciclo Crenas de Pais e

    Professores (ver anexo 2) do presente estudo possui um total de 8 questes: 4 questes

    de resposta aberta e 4 questes de resposta fechada (cuja resposta dada atravs de

    escalas de Likert de 4 pontos).

    As questes inserem-se em cinco temticas relacionadas com a investigao:

    Seco A Ingresso na Escola (1 ciclo) (resposta aberta); Seco B Antes da

    Entrada para a Escola (1 ciclo) (resposta fechada com 43 itens e resposta aberta);

    Seco C Categorias (resposta fechada, com 6 categorias para ordenar); Seco D

    Indicadores de Sucesso na Transio (resposta fechada com 16 itens e resposta

    aberta); Seco E Opinies sobre a Entrada na Escola (1 ciclo) (resposta fechada

    com 20 itens e resposta aberta).

    2.3. Procedimento

    Com a criao do projeto deste estudo, submeteu-se um Requerimento de

    Aprovao do Projeto de Investigao Comisso Especializada de Deontologia da

    Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Tendo o projeto sido aprovado,

    levaram-se a cabo todos os procedimentos para o concretizar.

    De forma levar a cabo o presente estudo, foi necessrio percorrer diversas

    etapas, sendo elas: traduo e adaptao do questionrio; aplicao experimental do

    questionrio; recolha de dados; anlise dos dados (anlise estatstica e anlise de

    contedo).

  • Captulo II Metodologia

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 21

    2.3.1. Aplicao experimental do questionrio

    Fizeram-se seis aplicaes experimentais do questionrio com o objetivo de

    verificar a legibilidade do questionrio, e compreender a adequabilidade dos itens aps

    a traduo e adaptao do original australiano. Nas aplicaes experimentais os

    participantes respondiam a uma verso provisria do questionrio (anexo 3) na presena

    da investigadora, tendo liberdade para colocar dvidas e fazer comentrios. No final da

    aplicao colocaram-se algumas questes acerca da opinio sobre a forma e contedo

    do questionrio (guio de entrevista disponvel no anexo 4).

    Para esta etapa contou-se com a colaborao de 3 professoras do 1 ciclo (as trs

    do sexo feminino) e 3 pais/cuidadores habituais (uma do sexo feminino e dois do sexo

    masculino).

    Com as informaes recolhidas das aplicaes experimentais tomou-se a deciso

    de eliminar 3 itens (A criana aborrece-se em casa; A criana aborrece-se no pr-

    escolar; A criana est perturbada por ir para a escola); e de modificar dois itens

    (Os pais/cuidadores habituais esto felizes por deixar a criana na escola o dia inteiro;

    A criana no tem medo de falar com os professores). Os referidos itens revelaram-se

    de interpretao ambgua, ou de difcil resposta por parte dos respondentes (ver anexo

    5).

    2.3.2. Recolha de dados

    Contactaram-se pessoalmente diversas instituies escolares que congregam o

    ensino pr-escolar e o 1 ciclo do ensino bsico, pedindo-se colaborao com o presente

    estudo. Foram dados todos os esclarecimentos oralmente e foi entregue um documento

    com o pedido de colaborao (ver anexo 6), assim como um exemplar do questionrio

    (ver anexo 2). O pedido foi feito no sentido de obter resposta aos questionrios pelos

    educadores de infncia e professores de 1 ciclo, assim como pelos encarregados de

  • Captulo II Metodologia

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 22

    educao dos alunos em pr-transio (que vo ingressar no 1 ano no ano letivo de

    2011/2012) e ps-transio (que se encontrem no 1 ano no presente ano letivo).

    Apenas duas instituies escolares se mostraram recetivas em colaborar com a

    investigao. Essas escolas situam-se na regio de Setbal, sendo uma de ensino

    pblico e a outra de ensino privado. Na escola pblica fez-se diretamente o pedido aos

    encarregados de educao numa reunio no final do 2 perodo. No total foram

    entregues cerca de 140 exemplares do questionrio, embora apenas se tenha obtido

    resposta a 51.

    2.3.3. Anlise dos dados

    Anlise estatstica

    A anlise estatstica dos dados quantitativos foi realizada com recurso ao

    programa informtico SPSS Statistics (verso 19).

    Dado o carter exploratrio do presente estudo, e o facto de a utilizao do

    questionrio constituir uma primeira traduo e adaptao, considerou-se relevante a

    anlise de algumas qualidades psicomtricas do instrumento. Fez-se uma anlise ao

    nvel dos itens, verificando-se aqueles aos quais havia mais respostas omissas (missing

    cases). Realizou-se ainda uma breve anlise de preciso por seco de questes, com

    recurso ao indicador alfa de Cronbach.

    semelhana da anlise realizada por Dockett e Perry com o seu questionrio

    original, ao nvel da estatstica descritiva, analisaram-se frequncias e respetivas

    percentagens, assim como as mdias. A anlise de qui-quadrado para apurar diferenas

    estatisticamente significativas entre grupos (pais vs. professores; pr- vs. ps-transio,

    por exemplo) verificou-se pouco vlida para o presente estudo devido dimenso e

  • Captulo II Metodologia

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 23

    distribuio da amostra, pois no era possvel cumprir a condio de ter pelo menos

    80% das clulas com 5 ou mais casos (Marco, 2010).

    Anlise de contedo

    Para analisar a informao recolhida atravs das questes de resposta aberta, fez-

    se uma anlise ao contedo das respostas, fazendo-se uma tentativa de as enquadrar

    e/ou agrupar em categorias com significado. Foram utilizadas as categorias de

    indicadores de prontido definidas por Dockett e Perry (2002a, 2003a, 2003b, 2004), e

    que se encontram brevemente descritas na tabela 2.

    Conhecimento Ideias, factos ou conceitos que precisam de ser conhecidos para entrar na escola

    Adaptao Adaptao social ao contexto escolar, incluindo a adaptao interpessoal e organizacional

    Competncias Pequenas unidades de ao que podem ser observadas ou inferidas do comportamento

    observvel

    Atitudes As atitudes ou sentimentos da criana acerca da escola ou aprendizagem

    Regras Ajustamento escola e s expectativas da escola

    Aspetos Fsicos Atributos, necessidades ou caractersticas fsicas da criana, incluindo questes de

    segurana, sade e idade

    Aspetos Familiares Aspetos relacionados com o funcionamento familiar ou o seu envolvimento com a escola

    Ambiente

    Educacional Preocupaes relativas natureza do ambiente escolar

    Tabela 2 - Categorias de indicadores de prontido

  • Captulo III Resultados

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 24

    Captulo III Resultados

    3.1. Anlise de Itens

    3.1.1. Respostas omissas s questes de resposta fechada

    Como modo de verificar os itens em relao aos quais os participantes podero

    ter sentido dificuldades, procurou-se tomar ateno ao nmero de respostas omissas. Os

    itens de resposta fechada aos quais se verificou haver respostas omissas ( 3 respostas

    omissas, o que equivale a uma ausncia de resposta por parte de 5.88% dos

    participantes) esto sumariados na tabela 3.

    Item com Respostas Omissas N de

    Respostas

    Omissas

    Seco D

    Indicadores de

    Sucesso na

    Transio

    D5. Depois de entrar na escola (1 ano),

    qual a importncia das seguintes questes

    para considerar que os primeiros meses de

    escola esto a ser bem sucedidos?

    5.10. Os pais/cuidadores

    habituais esto felizes por

    deixar a criana na escola o dia

    inteiro.

    5

    Seco E Opinies

    sobre a Entrada na

    Escola (1 Ciclo)

    E7. Aqui encontra algumas opinies sobre

    a entrada na escola. Por favor indique se

    discorda fortemente, se discorda, se

    concorda ou se concorda fortemente com

    elas.

    7.4. As escolas devem aceitar

    todas as crianas, estejam

    prontas ou no.

    3

    7.9. A idade no um bom

    preditor da prontido escolar.

    3

    7.10. As crianas de contextos

    no-portugueses tm

    dificuldades quando entram

    para a escola.

    4

    7.18. Os professores do pr-

    escolar so muito mais

    acessveis que os professores

    do 1 ciclo.

    3

    Tabela 3 - Itens de resposta fechada com respostas omissas (por parte de 5% dos participantes)

    3.1.2. Frequncia de resposta s questes de resposta aberta

    Verificou-se quantos participantes responderam s questes de resposta aberta:

    questo 1 da seco A, questo 3 da seco B, questo 6 da seco D e questo 8 da

    seco E. A frequncia de respostas e respetiva percentagem encontra-se na tabela 4.

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    Frequncia (%)

    A.1. Liste as primeiras 5 coisas que lhe venham mente quando pensa numa criana a

    ingressar na escola (1 ano).

    50 (98.0)

    B.3. H outras condies prvias entrada para a escola (1 ano) que considere serem

    importantes para que a criana tenha uma transio para a escola bem sucedida?

    23 (45.0)

    D.6. H outros indicadores de sucesso que considere serem importantes para determinar

    que a transio para a escola foi bem sucedida?

    17 (33.0)

    E.8. H algo mais, em relao entrada para a escola, sobre o qual gostasse de dar a sua

    opinio?

    9 (18.0)

    Tabela 4 - Frequncia de resposta s questes abertas

    Dada a diminuta taxa de resposta s questes D6 e E8 (de 33.0% e 18.0%,

    respetivamente), inferiores a um tero dos participantes, decidiu-se no analisar as

    respostas obtidas.

    3.2. Anlise da seco A Ingresso na Escola (1 ciclo)

    Obteve-se uma taxa de resposta questo A1 de 98.0% (ver anexo 7), tendo

    apenas um participante no dado qualquer resposta. Fez-se uma anlise qualitativa s

    respostas, procurando-se verificar quais as palavras ou expresses mais frequentes.

    Tentou-se fazer um enquadramento nas categorias criadas por Dockett e Perry, mas tal

    no se revelou adequado.

    Para as respostas seco A, analisaram-se as famlias de palavras mais

    frequentes, criando-se assim uma espcie de ranking das palavras mais utilizadas

    relativamente ao ingresso na escola. Os temas das palavras ou expresses mais

    frequentes nas respostas so 1) Aprendizagem; 2) Mudana; 3) Preocupao; 4)

    Adaptao; 5) Maturidade; 6) Regras; 7) Crescer (ver tabela 5).

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    Tema/Expresso Frequncia Exemplos

    1 Aprendizagem 20 Aprender; Vontade de aprender e conhecer; Aprendizagens novas

    2 Mudana 16 Nova etapa; Sada do ninho; Primeira grande transio; Incio de um

    longo caminho

    3 Preocupao 14 Eu no conseguir ajud-lo; Ansiedade; Medo; Vai ter sucesso

    escolar?

    4 Adaptao 13 Adaptvel; Adaptao a horrios, matrias, formas de estar; Como se

    vai adaptar com o novo professor

    5 Maturidade 11 Maturidade; Ter maturidade adequada para essa etapa; A imaturidade

    da maioria das crianas de 6 anos

    6 Regras 8 Regras/cumprir as mesmas; Adaptao s novas regras; Reconhecer as

    regras; Saber comportar-se conforme regras

    7 Crescer 7 Importante etapa de crescimento; Entrada no mundo dos crescidos;

    Crescer; Crescimentos

    Tabela 5 - Temas mais frequentes na resposta questo A1

    3.3. Anlise da seco B Antes da Entrada na Escola (1 ciclo)

    Os 43 itens da questo B2 tm uma consistncia interna de .927 (alfa de

    Cronbach)

    Pais e professores destacaram como indicadores mais importantes numa fase de

    pr-transio aspetos relacionados com atitudes positivas face escola (58.82%

    consideram extremamente importante que a criana fale da escola de um modo positivo,

    e 60.00% que manifeste o seu entusiasmo em participar nas atividades da escola) e em

    relao a si mesma (64.71% consideram extremamente importante). Consideram

    extremamente importante que a criana esteja feliz por ir para a escola (75.51%), e que

    esteja confiante na interao com outras crianas (50.98%). tambm destacada a sua

    motivao para aprender (78.48% pensam ser extremamente importante que a criana

    queira aprender), e a necessidade de descansar o suficiente (74.51%). Na tabela 6

    encontram-se os aspetos considerados extremamente importantes pela maioria dos

    participantes, e a restante distribuio de respostas est disponvel no anexo 8.

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    EI Categoria

    Atribuda f %

    2.28. A criana quer aprender. 40 78.43 Atitudes

    2.36. A criana descansa o suficiente. 38 74.51 Aspetos Fsicos

    2.4. A criana est feliz por ir para a escola. 37 75.51 Atitudes

    2.19. A criana sente-se bem em relao a si mesma. 33 64.71 Atitudes

    2.15. A criana fala da escola de um modo positivo. 30 58.82 Atitudes

    2.39. A criana est entusiasmada por participar na maioria das atividades

    escolares. 30 60.00 Atitudes

    2.8. A criana est confiante quando interage com outras crianas. 26 50.98 Atitudes

    Tabela 6 - Indicadores de prontido pr-transio considerados extremamente importantes (EI), e respetiva categoria

    A questo de resposta aberta B3 tem o objetivo de permitir aos participantes

    acrescentarem condies prvias entrada na escola que considerem importantes, e

    houve uma taxa de resposta de 45.0% (n=23; ver anexo 9). Tendo-se categorizado as

    respostas a este item, foi possvel observar que a maioria das respostas se prende com

    aspetos familiares e relativos ao ambiente educacional (n=7; por ex., Apoio e

    suporte familiar; e importante que no ltimo perodo do pr-escolar sejam simulados

    momentos e ambientes tpicos de uma aula de 1 ano (), respetivamente), seguindo-se

    uma preocupao com as atitudes e regras (n=4; por ex., A criana ter uma atitude

    positiva face aprendizagem, ter curiosidade em aprender coisas novas e ter o

    incentivo/reconhecimento dos pais; e Que a criana tenha regras e rotinas que no as

    impostas pelos pais ou avs, respetivamente), e sendo menos referidos aspetos

    relacionados com conhecimentos, competncias e a adaptao (n=1; ex., O

    conhecimento do sentido do nmero; Ter autonomia para fazer o bsico do dia a dia,

    tal como comer, vestir-se, ir casa de banho sozinha; e Convvio e contacto com

    colegas da sala, respetivamente). A categoria aspetos fsicos no foi referida. de

    salientar que foram referidos aspetos relacionados com a maturidade (n=3; ex., Existir

    alguma maturidade), os quais no se integram inequivocamente nas categorias

    anteriormente referidas.

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    3.4. Anlise da seco C Categorias

    Para verificar a importncia relativa atribuda s diferentes categorias de indicadores

    de prontido escolar, observou-se a mdia (tabela 7). De acordo com isso, realizou-se o

    ordenamento das categorias conforme a sua importncia.

    Categoria M Posio de Importncia

    Atitudes 1.90 1

    Adaptao 2.80 2

    Regras 3.46 3

    Aspetos Fsicos 3.82 4

    Competncia 4.12 5

    Conhecimento 4.38 6

    Tabela 7 - Importncia relativa atribuda s categorias de indicadores de prontido (n=50; classificao de 1 a 6)

    3.5.Anlise da seco D Indicadores de Sucesso na Transio

    Atravs de uma anlise de preciso, verifica-se que os 16 itens da questo D5

    possuem uma elevada preciso (alfa de Cronbach=.891). A distribuio de respostas

    obtidas encontra-se no anexo 10, e os indicadores considerados extremamente

    importantes pela maioria dos participantes esto expostos na tabela 8.

    Os indicadores de sucesso ps-transio mais valorizados por pais e professores

    (i.e., maioritariamente considerados extremamente importantes) prendem-se com as

    atitudes da criana face escola e aprendizagens, quer com o seu entusiasmo (80.00%),

    quer com a sua satisfao face sua adaptao social (52.00%) e progresso acadmico

    (54.00%). Tambm considerado extremamente importante que a criana no tenha

    medo de falar com os professores (66.00%).

    EI

    Categoria Atribuda f %

    5.1. A criana est entusiasmada por ir para a escola. 40 80.00 Atitudes

    5.16. A criana no tem medo de falar com os professores. 33 66.00 Atitudes

    5.9. A criana est satisfeita com o seu progresso acadmico. 27 54.00 Atitudes

    5.5. A criana est satisfeita com a sua adaptao social. 26 52.00 Atitudes

    Tabela 8 - Indicadores de prontido ps-transio considerados extremamente importantes (EI), e respetiva categoria

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    Na questo D6 os participantes podiam acrescentar outros indicadores de sucesso na

    transio, tendo-se obtido 17 respostas (33.0%; ver anexo 11). Dessas respostas 12

    relacionavam-se com a categoria das atitudes (por ex., Quando a criana reconhece

    que est a progredir e sente o entusiasmo de saber mais a cada dia), 2 prendiam-se

    com aspetos familiares (por ex., A criana partilha as aprendizagens com os

    pais()), e menos referidos foram aspetos relativos a competncias,

    conhecimentos, adaptao e ambiente educacional (n=1; ex., ()que o discurso

    da criana tenha princpio, meio e fim; Notar a evoluo da criana tanto na escrita,

    como na leitura e na matemtica; A criana brinca com os seus pares no recreio; e Os

    auxiliares da escola esto contentes com o progresso do aluno, respetivamente). No

    so referidos indicadores do tipo aspetos fsicos nem regras.

    3.6. Anlise da seco E Opinies sobre a Entrada na Escola (1 ciclo)

    Os 20 itens que compem a questo E7 possuem uma consistncia interna de .398

    (alfa de Cronbach).

    Na anlise das afirmaes da questo E7 (anexo 12), verifica-se qual a posio dos

    respondentes s opinies dadas em cada item. Para compreender melhor a opinio,

    somaram-se as respostas Discordo Fortemente e Discordo e tambm Concordo

    Fortemente e Concordo, de modo a verificar apenas se a posio era favorvel ou

    desfavorvel. Compreendendo que h itens relativamente aos quais h uma clara

    tendncia de resposta (concordncia/discordncia) e outros em que h uma disperso

    das respostas, havendo opinies variadas, apresentam-se na tabela 9 os itens ordenados

    desse modo.

    Os pais e professores consideram que no h diferena quanto ao momento em

    que meninos e meninas devem ingressar na escola (98.0% discorda das afirmaes 7.8 e

  • Captulo III Resultados

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    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 30

    7.12). Demonstram expressivamente a convico de que as crianas, mesmo que no

    prontas para o ingresso na escola (1 ciclo) devero frequent-la (forte discordncia com

    as afirmaes 7.13 e 7.19 93.88% e 100.0% respetivamente), at em situaes que

    denotem sinais de desadaptao, tal como no terem amigos (98.0% de discordncia

    com a afirmao 7.17), e rejeitam a hiptese de se dever repetir o pr-escolar caso isso

    ocorra.

    So de salientar as posies manifestadas relativamente s questes 7.1 (95.92%

    discordam), 7.5 (95.92% concordam), 7.8 (98.0% discordam), 7.12 (98.0% discordam),

    7.13 (93.88% discordam), 7.17 (98.0% discordam), 7.18 (95.83% discordam), 7.19

    (100% discordam).

    Relativamente questo E8, que pretendia obter opinies adicionais dos

    participantes acerca da entrada para a escola, foram obtidas 9 respostas (ver anexo 13).

    A maioria incidiu sobre aspetos relacionados com o ambiente educacional (ex., As

    turmas deviam ser mais pequenas), tendo surgido uma referncia a atitudes (a

    pedra base para o sucesso de uma criana na escola ela sentir-se bem com ela

    prpria), outra a maturidade (As crianas devem ter um tempo para serem apenas

    crianas e entrarem para a escola quando j tm alguma maturidade umas atingem

    essa maturidade com 6 anos [em relao ao item 7.14]), e ainda outras sem categoria

    (ex., Avaliar a capacidade psicolgica de cada criana em lidar com a sociedade).

  • Captulo III Resultados

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 31

    n

    missing M DF D C CF

    D

    (total)

    % C

    (total)

    %

    7.5. Todas as crianas devem ir para o pr-escolar antes de entrarem para a escola. 49 2 3,55 0 2 18 29 2 4.08 47 95.92

    7.9. A idade no um bom preditor da prontido escolar. 48 3 2,75 4 13 22 9 17 35.42 31 64.58

    7.6. As crianas que tm dificuldades com o trabalho do 1 ano devem repetir. 49 2 2,73 3 13 27 6 16 32.65 33 67.35

    7.14. As crianas devem ter 6 anos antes de entrarem para a escola. 49 2 2,49 6 16 24 3 22 44.90 27 55.10

    7.3. As crianas podem ficar prontas para a escola indo para a escola. 50 1 2,68 3 14 29 4 17 34.00 33 66.00

    7.4. As escolas devem aceitar todas as crianas, estejam prontas ou no. 48 3 2,58 3 18 23 4 21 43.75 27 56.25

    7.2. As crianas podem estar prontas para aprender mas no prontas para a escola. 50 1 2,54 3 20 24 3 23 46.00 27 54.00

    7.11. As crianas podem estar prontas para a escola mas no prontas para aprender. 50 1 2,50 4 21 21 4 25 50.00 25 50.00

    7.10. As crianas de contextos no-portugueses tm dificuldades quando entram para a escola. 47 4 2,40 3 23 20 1 26 55.32 21 44.68

    7.15. Os professores deviam tentar ir de encontro s expectativas que os pais/cuidadores habituais tm

    sobre a escola.

    50 1 2,22 5 29 16 0

    34 68.00 16 32.00

    7.16. As crianas que entram para a escola mais velhas aprendem melhor que as mais novas. 49 2 2,16 9 25 13 2 34 69.39 15 30.61

    7.20. A escola a srio no comea antes do 1 ano. 50 1 2,02 15 22 10 3 37 74.00 13 26.00

    7.7. As crianas que comeam a escola cedo demais no aprendem. 49 2 1,92 13 28 7 1 41 83.67 8 16.33

    7.13. As crianas devem ser mantidas fora da escola at que estejam prontas. 49 2 1,73 16 30 3 0 46 93.88 3 6.12

    7.18. Os professores do pr-escolar so muito mais acessveis que os professores do 1 ciclo. 48 3 1,65 19 27 2 0 46 95.83 2 4.17

    7.1. As aulas do 1 ano deviam ser mais como o pr-escolar. 49 2 1,94 7 40 1 1 47 95.92 2 4.08

    7.17. As crianas deviam repetir o pr-escolar se no tiverem amigos na escola. 50 1 1,56 23 26 1 0 49 98.00 1 2.00

    7.12. Os meninos devem comear a escola um ano depois das meninas. 50 1 1,34 34 15 1 0 49 98.00 1 2.00

    7.8. As meninas devem comear a escola antes dos meninos. 50 1 1,30 36 13 1 0 49 98.00 1 2.00

    7.19. As crianas que no se adaptam escola at ao final do 1 perodo, devem ser mantidas em casa. 50 1 1,24 38 12 0 0 50 100.00 0 0.00

    Tabela 9 - Itens da seco E, opinies de tendncia positiva, disperso de opinies e tendncia negativa (DF Discordo Fortemente; D Discordo; C Concordo; CF Concordo Fortemente)

  • Captulo IV Discusso e Concluso

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 32

    Captulo IV Discusso e Concluso

    4.1. Discusso de Resultados

    Este estudo pretendeu ter um carter exploratrio, constituindo um estudo prvio

    relativamente traduo e adaptao do questionrio Starting School: Beliefs, Myths

    and Consequences. Por um lado interessa compreender o funcionamento do

    instrumento, para melhorias posteriores, mas tambm compreender que aspetos so

    mais valorizados por pais e professores, no sentido de conhecer indicadores de

    prontido na transio para o 1 ciclo, e a sua opinio sobre o processo de transio.

    Assim, neste captulo procura-se dar uma resposta s questes exploratrias do estudo,

    comeando por apresentar-se uma anlise mais formal aos itens que podero vir a ser

    alvo de reformulao em estudos futuros, posteriormente faz-se uma discusso dos

    dados obtidos em cada uma das seces do questionrio, e finalmente segue-se uma

    concluso onde so apresentadas as sugestes para estudos futuros e pistas para a

    interveno no mbito da educao para a mudana.

    4.1.1. Resposta s questes de investigao

    Foram colocadas trs questes exploratrias, s quais este estudo pretendia

    responder, com a devida cautela por se tratar de um estudo em que a adaptao do

    questionrio tem um carter preliminar.

    Relativamente primeira questo, relativa a quais os indicadores de prontido

    que pais e professores consideravam mais relevantes para considerar uma criana pronta

    para a transio antes da entrada no 1 ano, os resultados indicam que estes valorizam

    mais os aspetos relacionados com as atitudes positivas da criana em relao escola,

    em termos afetivos e motivacionais, assim como a qualidade do descanso da criana. Os

    indicadores tidos como menos relevantes, no seu geral, prendem-se com os

  • Captulo IV Discusso e Concluso

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 33

    conhecimentos e competncias. Valorizam ainda o envolvimento da famlia e aspetos

    relativos ao ambiente educacional, e referem-se vrias vezes maturidade das

    crianas.

    A segunda questo prende-se com os indicadores de prontido das crianas aps

    a sua entrada no 1 anoque sero mais valorizados por pais e professores. De acordo

    com os resultados obtidos, verifica-se que atravs das atitudes das crianas em relao

    escola, e em relao a si mesma e ao seu progresso escolar, em conjunto com aspetos

    da sua adaptao, que pais e professores consideram poder perceber se a criana estar a

    realizar uma transio bem sucedida.

    A terceira e ltima questo, relativa s alteraes que podero ser feitas no

    questionrio de modo a que possa ser um instrumento mais eficaz na recolha de crenas

    sobre a prontido escolar na transio. Foram identificados alguns itens que podero ser

    alvo de excluso ou alterao, nomeadamente os itens 5.10, 7.4, 7.9, 7.10, e 7.18.

    4.1.2. Contedo e forma dos itens do questionrio

    Atravs da anlise das respostas omissas a cada item, possvel identific-los

    como potenciais itens-problema, que podero no ter obtido resposta por parte dos

    participantes por terem um carter ambguo, controverso ou serem incompreensveis.

    Com as aplicaes experimentais foram excludos alguns itens por se revelarem itens-

    problema, e com esta anlise surgem novos itens que podero necessitar de ser retirados

    ou modificados.

    O item 5.10 Os pais/cuidadores habituais esto felizes por deixar a criana na

    escola o dia inteiro revelou-se problemtico. 5 Participantes deixaram a resposta em

    branco, demonstrando a sua dificuldade em expressar a sua opinio. O item pode ter

    uma interpretao ambgua: as pessoas podem considerar ser positivo que os pais

  • Captulo IV Discusso e Concluso

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 34

    fiquem contentes por deixar a criana na escola porque sabem que esta fica bem

    entregue e gosta de estar na escola, ou pelo contrrio, podem considerar negativo que

    fiquem felizes por acharem que isso denota que os pais se queiram ver livres da criana,

    depositando-a na escola o mximo de tempo possvel. Nas aplicaes experimentais

    tinha surgido esta dvida, mas no se previu que causasse tanta dificuldade.

    O item 7.4 As escolas devem aceitar todas as crianas, estejam prontas ou no

    tambm relevou no resultar bem. Com 3 participantes a no responderem, e com as

    respostas obtidas a no se demonstrarem conclusivas quanto concordncia ou

    discordncia da maioria, por alguma razo foi sentida dificuldade em decidir se seria

    positivo ou no que as escolas aceitassem as crianas prontas e no prontas.

    O item 7.9 A idade no um bom preditor da prontido escolar teve 3

    respostas omissas e provavelmente no resulta por no ser compreensvel por parte dos

    participantes. As palavras preditor e prontido talvez correspondam a conceitos que

    no so muito frequentemente utilizados no quotidano, pelo que possivelmente haveria

    respondentes a no conhecerem o seu significado e, assim, no conseguirem interpretar

    a questo. De futuro poder ser prefervel no utilizar este item, ou caso se decida

    continuar a utiliz-lo, fornecer uma explicao breve do conceito em rodap. Apesar de

    se haver 3 respostas omissas, a maioria dos participantes (64.68%) concorda que a idade

    no ajuda a prever o funcionamento das crianas na escola.

    O item 7.10 As crianas de contextos no-portugueses tm dificuldades quando

    entram para a escola tambm ter gerado alguma controvrsia. Com 4 respostas

    omissas, os respondentes podero ter considerado que a questo tinha um carter

    estereotipado (e, efetivamente tem; mas resulta da recolha de opinies no estudo

    original australiano, sendo que o item originalmente se refere a children from non-

    english backgrounds). Nas aplicaes experimentais tinha surgido a questo de poder

  • Captulo IV Discusso e Concluso

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 35

    ser abusivo considerar que todas essas crianas teriam dificuldades, pois se verdade

    que muitas estariam em desvantagem em relao exposio lngua portuguesa, por

    exemplo, tambm verdade que poderiam haver crianas que no sentissem mais

    dificuldade que crianas de contextos ditos portugueses.

    O item 7.18 Os professores do pr-escolar so muito mais acessveis que os

    professores do 1 ciclo teve 3 respostas omissas, mas apesar disso a maioria dos

    respondentes (95.83%) discorda da afirmao. Sendo uma opinio que explicitamente

    discrimina os professores de 1 ciclo em relao aos educadores de infncia, e que

    por isso controversa, ter gerado dificuldade em tomar partido quer em relao a uns,

    quer em relao a outros. Mesmo havendo respostas omissas, o item foi informativo em

    em termos de opinio dos participantes, que discordam da afirmao.

    4.1.3. Seco A (Ingresso na escola)

    As respostas questo A1 foram analisadas segundo os temas mais frequentes,

    ou seja, segundo as palavras e expresses utilizadas pelos participantes. Embora o

    principal tema se prenda com Aprendizagem, habitualmente no era especificada, sendo

    que por vezes se referia a aprendizagem da leitura, escrita e nmeros (ex., Aprender

    escrita e nmeros; Comear a aprender a ler e a escrever). H o reconhecimento do

    ingresso na escola como uma mudana, uma transio, o incio de uma etapa

    considerada nova, qual muitas vezes est associada uma preocupao, sentimentos

    com uma carga negativa. A adaptao referida em diferentes formas, tais como a

    adaptao social (aos pares, aos professores) e a adaptao a aspetos do ambiente

    escolar (como sendo os horrios, as regras). O facto de o ingresso na escola ser

    encarado como fonte de preocupao, insegurana e medo, vai ao encontro dos

    resultados do estudo de focus group conduzido por Castro e Rangel (2002).

  • Captulo IV Discusso e Concluso

    A Prontido Escolar de Crianas em Transio para o 1 Ciclo Crenas de Pais e Professores

    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 36

    4.1.4. Seco B (Antes da entrada na escola)

    Atravs das percentagens superiores a 50.0% da resposta extremamente

    importante, verificou-se quais as condies prvias transio que os participantes

    mais valorizam. Embora seja til a anlise atentando na descrio do item, utilizou-se a

    categorizao para facilitar a anlise. Pode-se considerar que pais e professores uma

    clara preferncia por aspetos relacionados com as atitudes, como fatores motivacionais

    (ex., A criana quer aprender) e afetivos (ex., A criana sente-se bem em relao a si

    mesma), dando-se tambm importncia qualidade do descanso da criana (um aspeto

    fsico), em detrimento de aspetos de ndole mais acadmica, relacionados com

    conhecimentos (conhecer nmeros, ler, escrever, etc.) e competncias (a criana

    sabe). Apesar disso, quando se pede aos pais e professores que sugiram outras

    condies prvias que para eles sejam importantes, so referidos aspetos relacionados

    com a famlia (ex., atitude dos pais em relao escola) e com o ambiente da escola

    (ex., exigncia no 3 perodo no pr-escolar), sugerindo que no se encontram apenas

    focados na criana como agente na transio, mas consideram que famlia e escola tm

    tambm um papel importante a desempenhar. Estes resultados so congruentes com

    estudos anteriores, em que se verificou que pais e professores tendem a valorizar mais

    as atitudes das crianas face escola (Harradine & Clifford, 1996; Dockett & Perry,

    2002a; Zhang, et al., 2008; Correia & Marques Pinto, 2011). Apesar disso, est descrito

    na literatura que pais e professores consideram condies importantes para a transio

    os aspetos fsicos (Harradine & Clifford, 1996; Dockett & Perry, 2001; Correia &

    Marques Pinto, 2011) e as regras (Correia & Marques Pinto, 2011), o que no se

    verificou to relevante no presente estudo. Mas adotando-se uma perspetiva ecolgica

    sobre a prontido, compreende-se que conforme cada contexto e respetivos agentes na

  • Captulo IV Discusso e Concluso

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    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 37

    transio, existem diferentes concees da prontido, e portanto sero atribudos

    diferentes graus de importncia s vrias categorias de indicadores.

    4.1.5. Seco C (Categorias)

    Ordenando as categorias de acordo com as mdias das pontuaes atribudas

    pelos participantes, obteve-se um ranking das categorias de indicadores de acordo com

    a importncia atribuda pelos pais e professores. Consistente com o que foi descrito por

    Dockett e Perry (2001), os pais e professorem tendem a valorizar mais os aspetos

    relacionados com as atitudes e adaptao das crianas, em detrimento das competncias

    que adquiriram ou os conhecimentos que possuem. Assim, de acordo com a opinio dos

    participantes neste estudo, a motivao para aprender, as atitudes positivas sobre a

    escola, e a capacidade de adaptao escola e seus atores, sero aspetos importantes a

    estimular para uma transio considerada bem sucedida.

    4.1.6. Seco D (Indicadores de sucesso na transio)

    Analisando as percentagens de resposta iguais ou superiores a 50.0% de

    extremamente importante e respetivas categorias, verificaram-se quais os indicadores

    de sucesso ps-transio considerados pelos pais e professores como mais relevantes.

    Aparentemente, estes tendem a valorizar mais os indicadores de transio com sucesso

    que se prendem com a atitude positiva da criana face escola e sua prpria adaptao

    (quer a um nvel social, quer a um nvel mais acadmico). As atitudes perante a escola,

    que incluem aspetos motivacionais (ex., a criana quer saber cada vez mais), de

    autorregulao (ex., a criana reconhece que est a progredir), emocionais (ex., a

    criana est feliz, confiante), e de autoconceito (ex., autoestima em si mesma), so

    predominantes nos indicadores de sucesso aps a entrada no 1 ano referidos na questo

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    Joana Pereira de Almeida Nunes Monteiro 38

    D6. De notar que no so referidos aspetos relativos maturidade, ao contrrio do que

    acontecia relativamente a indicadores pr-transio. Dockett e Perry (2004) descrevem

    que os pais tendiam a valorizar mais o conhecimento, enquanto que os professores

    davam maior importncia adaptao, atitudes, e ao cumprimento das regras. Tal no se

    verificou no presente estudo, denotando-se apenas a preferncia pelos indicadores

    relacionados com as atitudes da criana.

    4.