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Treinamento em Bovinocultura de Leite
para técnicos do sistema cooperativista
ligados à OCB e SESCOOP
Manipulação nutricional de vacas para
alterações na composição do leite
Fernando César Ferraz Lopes
Juiz de Fora, 10/05/2017
IntroduçãoPesquisas na Embrapa Gado de Leite visando à produção de lácteos
naturalmente enriquecidos com ácidos graxos benéficos à saúde
Desde 2006 (Embrapa Gado de Leite):
→ $$$ da Embrapa, Fapemig, CNPq e Capes
→ parceria: Embrapa Agroindústria de Alimentos
UFJF, UFLA, UFMG, UFRJ e UFV
Objetivos:
1) Avaliar estratégias nutricionais e forrageiras tropicais capazes de aumentar a concentração
de ácidos graxos bioativos na gordura do leite; e
2) Testar, em estudos com animais e humanos, os efeitos da ingestão desta gordura naturalmente
modificada sobre biomarcadores de doenças crônicas.
Trabalhos da literatura:→ sistemas de produção de leite em regiões de clima temperado:
→ ≠s da maioria dos vigentes no Brasil: manejo nutricional das vacas
espécies forrageiras
grupos genéticos/raças
clima, solos etc.
Brasil:→ grande potencial para produção de leite com gordura naturalmente enriquecida com ácidos graxos
benéficos à saúde humana (Lopes et al., 2011, 2015)
Mudanças no perfil de ácidos graxos da gordura do leiteMudanças almejadas:
i) redução dos teores dos ácidos graxos láurico (C12:0), mirístico (C14:0) e palmítico (C16:0):
→ hipercolesterolêmicos (FAO, 2010; Fontecha & Juárez, 2014)
ii) incremento da concentração do ácido oleico (C18:1 cis-9):
→ hipocolesterolêmico; 2o ácido graxo em > teor na gordura do leite (FAO, 2010; Almeida et al., 2014)
iii) incremento do teor do ácido ω-3 α-linolênico (C18:3 cis-9 cis-12 cis-15):
→ concentração baixa no leite (bio-hidrogenação ruminal) (Kratz et al., 2013)
→ ácido graxo essencial; precursor de outros ácidos graxos ω-3:
→ EPA, DHA: propriedades cardioprotetoras/anti-inflamatórias
(Yashodhara et al., 2009; FAO, 2010; Salter, 2013)
iv) incremento da concentração do ácido rumênico (CLA cis-9 trans-11):
→ principal isômero de CLA (ácido linoleico conjugado) do leite bovino
→ anticarcinogênicas, antiaterogênicas, antidiabetogênicas (diabetes do tipo II) e imunomodulatórias
(Shingfield et al., 2008; Benjamin & Spener, 2009; Palmquist, 2010; Kratz et al., 2013)
v) incremento da concentração do ácido vacênico (C18:1 trans-11):
→ principal isômero trans do leite de ruminantes (Shingfield et al., 2008, 2013)
→ ~20% → conversão para ácido rumênico no metabolismo humano
(Turpeinen et al., 2002; van Wijlen & Colombani, 2010)
→ precursor para síntese do ácido rumênico na glândula mamária (64% a 97%)
(Shingfield et al., 2008)
Teores de CLA em lácteos e carnes
Ácidos rumênico e vacênico → gordura do leite é a principal fonte dietética (Kratz et al., 2013)
Concentração de ácido linoleico conjugado (CLA) e de ácido rumênico (CLA cis-9 trans-11) em alimentos
Alimentos Total de CLA
(% da gordura) Ácido rumênico
(% do total de isômeros de CLA)
Leite
Leite UHT 0,80 - Leite integral 0,34-0,68 82-97
Produtos lácteos
Leite condensado 0,63-0,70 82 Queijo Cheddar 0,40-0,53 78-82 Queijo Cottage 0,45-0,59 83 Queijo Muçarela 0,34-0,50 78-95 Manteiga 0,47-0,94 78-88 Iogurte integral 0,38-0,88 83-84 Sorvete 0,36-0,50 76-86
Carnes
Carne bovina moída 0,16-0,43 72-85 Carne de vitelo 0,27 84 Carne suína 0,06-0,13 25-82 Carne de frango 0,09-0,15 67-84 Carne de coelho 0,11 27 Carne de peru 0,20-0,25 40-76
Fonte: Adaptado de Dhiman et al. (2005)
Ácido rumênico:
→ concentração no leite pode variar amplamente:
Fatores que modulam o teor de ácido rumênico no leite
→ raça ou linhagem (Åkerlind et al., 1999; Lawless et al., 1999; Wales et al., 2009)
→ número de lactações (Darshan Lal & Narayanan, 1984; Stanton et al., 1997; Wu et al., 1997)
→ variação individual (Stanton et al., 1997; Kelly et al., 1998; Lawless et al., 1999; Offer et al., 1999)
→ horário de ordenha (Ferlay et al., 2010; Lopes et al., 2010; Almeida et al., 2014; Schwendel et al., 2015)
→ sistema de produção (Prandini et al., 2009; Butler et al., 2011; Bendrook et al., 2013; Roda et al., 2015)
→ nível de adubação nitrogenada da pastagem (Arvidsson et al., 2012)
→ manejo da pastagem (Bargo et al., 2006; Palladino et al., 2009, 2014)
→ estação do ano (Butler et al., 2011; Schwendel et al., 2015)
→ altitude em que a pastagem se encontra (Coppa et al., 2013; Roda et al., 2015)
→ dieta → efeito mais impactante (Lopes et al., 2011, 2015)
Para elevar a concentração de ácido rumênico na gordura do leite:
Estratégias nutricionais visando o incremento no teor dos
ácidos vacênico e rumênico no leite
→ ~79% do ácido rumênico secretado no leite (Mohammed et al., 2009)
→ explicado por diferenças no consumo de ácido α-linolênico
→ dieta rica em ácidos graxos poli-insaturados linoleico e α-linolênico
→ produção máxima do ácido vacênico no rúmen
(Griinari et al., 2000)
→ importância do conhecimento do perfil de ácidos graxos em forrageiras e concentrados
Teor de extrato etéreo (% da matéria seca) e perfil de ácidos graxos (AG) de gramíneas tropicais
Gramínea Extrato etéreo
Ácidos graxos (g/100 g de AG totais)
Palmítico Esteárico Oleico Linoleico α-linolênico
Brachiaria brizanta cv. Marandu 1,2 23,5 3,1 4,6 19,7 42,4
B. decumbens (julho/2002) 1,1 36,7 7,5 10,5 18,3 21,1
B. decumbens (novembro/2002) 2,2 33,3 6,0 5,5 20,1 31,5
B. ruziziensis (julho/2002) 2,1 21,0 2,2 6,7 17,8 50,4
B. ruziziensis (novembro/2002) 3,6 25,6 3,7 2,7 19,6 46,1
Pennisetum purpureum (4 cultivares) NI1 22,0-40,0 2,0-4,0 2,0-8,0 14,0-28,0 22,0-55,0
P. purpureum 1,9 25,3 5,8 5,7 18,7 37,0
P. purpureum 3,22 34,7 12,6 7,6 13,3 37,3
P. purpureum picado 1,2 27,9-42,5 3,5-5,6 5,9-11,6 17,1-25,9 13,8-22,6
P. purpureum picado 1,2 23,1-31,1 2,4-3,7 3,0-5,7 16,5-24,0 22,3-36,5
P. purpureum picado 2,4 17,6-21,0 1,9-2,6 4,0-6,0 14,0-15,8 24,6-28,7
P. purpureum cv. Pioneiro -Estrato Superior 3,1 15,4-20,1 NI 0,9-1,7 14,1-16,0 61,5-64,7
P. purpureum cv. Pioneiro - Estrato Inferior 2,3 17,3-21,6 NI 2,7-3,1 20,0-23,0 48,7-53,9
P. purpureum cv. Pioneiro (90 cm altura) 2,9 15,4-20,0 NI 1,7-3,1 14,1-21,4 51,7-64,7
P. purpureum cv. Pioneiro (120 cm altura) 2,6 17,1-21,6 NI 0,9-2,8 15,4-23,0 48,7-62,0
P. purpureum cv. Cameron (pasto) 2,8 18,7 2,5 1,72 12,3 53,8
P. purpureum cv. Cameron (pasto) 2,8 18,4 2,3 1,7 12,3 52,0
Cynodon spp (coast-cross/capim-estrela) 2,1 25,5 11,3 8,9 14,3 38,9
Paspalum distichum (verão) 3,12 23,8 3,0 6,1 25,1 34,8
P. distichum (inverno) 2,42 29,7 6,8 11,7 24,4 19,9
P. maximum var. Trichoglume (verão) 3,42 30,3 4,1 6,5 27,9 23,4
P. maximum var. Trichoglume (inverno) 3,02 29,6 5,4 9,5 32,4 15,8
P. maximum cv. Massai 2,8 41,8 6,2 6,8 9,4 30,0
Cenchrus ciliaris (verão) 4,52 23,3 2,5 6,6 22,5 35,3
C. ciliaris (inverno) 2,92 29,2 4,6 9,6 27,4 20,1
Chloris gayana (verão) 3,62 23,4 2,4 6,2 19,9 34,9
C. gayana (inverno) 3,02 30,7 3,8 9,9 23,5 19,2
Saccharum officinarum (cana picada) 0,8 27,1 2,4 9,1 35,9 22,9
S. officinarum RB-739735 (cana picada) 1,2 26,5 4,4 12,7 30,7 10,7
S. officinarum (cana picada) NI 26,2 2,6 8,7 24,3 13,9
Fonte: Adaptado de Lopes et al. (2015) 1NI = não identificado; 2Teor de lípides totais (% da matéria seca)
Perfil de ácidos graxos em gramíneas tropicais
≠s entre espécies e
cultivares
capim picado x pasto
volumoso para seca
estação do ano
Composição química e perfil de ácidos graxos (AG) de suplementos concentrados
utilizados em dietas para ruminantes no Brasil Grão de
soja tostado
Grão de
soja (6 cv.)
Farelo de
soja
Fubá de
milho
Polpa
cítrica
Óleo de
girassol
Óleo de
soja
Resíduo de
cervejaria
Composição química (% da matéria seca, MS)
Extrato etéreo 22,3 22,2-23,8 2,0 4,0 2,0 - - 7,1-11,7
Perfil de ácidos graxos (g/100 g de AG totais)
C16:0 11,43 8,06-11,84 18,86 17,07 29,80 6,96-7,54 11,17 22,7-41,0
C18:1 cis-9 22,14 21,15-39,93 17,21 35,69 20,30 18,35-22,07 22,49 11,2-28,5
C18:2 cis-9 cis-12 53,22 42,46-57,19 49,93 40,03 31,73 59,94-66,72 53,78 34,9-51,9
C18:3 ω3 6,77 4,64-7,69 5,61 0,94 5,47 0,67-1,36 6,50 2,6-4,8
Fonte: VIEIRA et al. (1999); FERNANDES et al. (2007); RIBEIRO (2009); MOURTHÉ (2011); SOUZA (2011)
Perfil de ácidos graxos em suplementos concentrados
utilizados em dietas de ruminantes do Brasil
grão de soja polpa cítrica caroço de algodãoconcentrado com ≠s níveis
de inclusão de óleo de soja
Óleo de
linhaça
17,8
18,7
51,9
Starvecik et
al. (2017)
Metabolismo dos ácidos oleico, linoleico
e α-linolênico no rúmen
Fonte: Shingfield et al. (2010)
Oleico
Linoleico
Linolênico
Vacênico = 64% a 97% do rumênico
Esteárico
Esteárico
Esteárico
Glândula mamária/Leite
RumênicoCLA cis-9 trans-11
LinoleicoC18:2 cis-9 cis-12
VacênicoC18:1 trans-11
α-linolênicoC18:3 cis-9 cis-12 cis-15
RumênicoCLA cis-9 trans-11
EsteáricoC18:0
OleicoC18:1 cis-9
Dieta (oleico, linoleico, α-linolênico)
Rúmen
isomerização
hidrogenação
hidrogenação
hidrogenação
VacênicoC18:1 trans-11
Δ-9 dessaturase
oleico, linoleico, α-linolênico etc.Escape/passagem
64% a 97%
OleicoC18:1 cis-9
Secreção do ácido rumênico no leite
~60%
EsteáricoC18:0
Δ-9 dessaturase
Literatura mundial:
→ maioria dos estudos de avaliação do perfil de ácidos graxos no leite
→ espécies forrageiras de clima temperado → fenos e silagens
Perfil de ácidos graxos no leite de vacas manejadas em sistemas
de alimentação à base de forragens conservadas
Brasil:
→ estudos com vacas recebendo forragens conservadas → silagem de milho
(Lopes et al., 2011)
→ fenos de gramíneas tropicais (Tifton-85) (Pereira et al., 2011)
→ silagens de cana de açúcar, sorgo, de capim-Napier, de Brachiaria ruziziensis
(Soglia & Abreu, 2003; Silva et al., 2011; Martins, 2013; Suksombat et al., 2013; Lopes et al., 2015)
Fenação e ensilagem:
→ perdas oxidativas de ácidos graxos poli-insaturados (α-linolênico) (Dewhurst et al., 2006)
→ principal substrato para formação do ácido vacênico (Bargo et al., 2006; Elgersma et al., 2006)
→ leite de vacas alimentadas com forrageiras frescas X forragens conservadas
→ maiores concentrações de ácidos graxos poli-insaturados e de ácido rumênico
(Elgersma et al., 2006; Gama et al., 2008b)
Teor de ácido rumênico no leite (dados brasileiros): vacas alimentadas com forragens conservadas:
Silagem de milho: sem suplementação com AG: 0,09 a 0,67 g/100 g da AG (6 trabalhos) (Lopes et al., 2011)
com suplementação com AG: 0,29 a 1,01 g/100 g da AG (10 trabalhos) (Lopes et al., 2011)
Silagem de cana de açúcar: sem suplementação com AG: 0,38 a 0,83 g/100 de AG (Lopes et al., 2015)
Feno de Tifton-85, silagens de sorgo/Napier (com suplementação com AG): 0,18 a 0,56 g/100 de AG (Lopes et al., 2011)
Perfil de ácidos graxos no leite de vacas manejadas em sistemas
de alimentação à base de forragens conservadas
(dados brasileiros)
Teor de extrato etéreo (% da matéria seca) e perfil de ácidos graxos (AG) de forragens conservadas
Forragem conservada Extrato
etéreo
Ácidos graxos (g/100 g de AG totais)
Palmítico Esteárico Oleico Linoleico α-linolênico
Silagem de B. ruziziensis 2,3 28,2 15,3 14,6 12,3 2,3
Feno de C. dactylon cv. Tifton-85 2,1 36,0 3,6 5,5 13,0 20,6
Silagem de S. officinarum (cana) 0,6 30,5 5,8 17,8 6,0 1,7
Silagem de cana SP-791011 1,8 42,3 11,7 12,0 13,5 Não detectado
Silagem de cana + 1% de ureia 1,1 45,4 8,1 14,0 16,8 2,8
Silagem de cana + 0,5% ureia + 0,5% CaO 1,7 37,7 12,1 11,7 15,4 0,7
Silagem de cana + 1% de Cao 1,7 43,1 10,0 14,5 15,7 3,1
Silagem de milho 2,1 23,8 5,6 24,6 34,3 4,7
Fonte: Adaptado de Lopes et al. (2011, 2015)
Vacas confinadas recebendo forragem fresca suplementada com AG = 1,22 a 4,59 g/100 de AG (Lopes et al., 2015)
Tabela anterior (cana picada fresca) 24,3-35,9 10,7-22,9
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
0 1,5 3,0 4,5 0 1,5 3,0 4,5 0 1,5 3,0 4,5
Nível de óleo de soja ou de girassol na matéria seca da dieta (%)
Capim-efefante + OS
Capim-efefante + OG
Cana + OG
Efeito da suplementação com óleo de soja (OS) ou de girassol (OG) sobre a concentração de ácido rumênico (g/100 g) no leite
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
0 1,5 3,0 4,5 0 1,5 3,0 4,5 0 1,5 3,0 4,5
Nível de óleo de soja ou de girassol na matéria seca da dieta (%)
Capim-efefante + OS
Capim-efefante + OG
Cana + OG
Efeito da suplementação com óleo de soja (OS) ou de girassol (OG) sobre a concentração de ácido vacênico (g/100 g) no leite
0,0
10,0
20,0
30,0
0 1,5 3,0 4,5 0 1,5 3,0 4,5 0 1,5 3,0 4,5
Nível de óleo de soja ou de girassol na matéria seca da dieta (%
Efeito da suplementação com óleo de soja (OS) ou de girassol (OG) sobre a concentração de ácido oleico (g/100 g) no leite
Capim-efefante + OSCapim-efefante + OG
Cana + OG
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
0 1,5 3,0 4,5 0 1,5 3,0 4,5 0 1,5 3,0 4,5
Nível de óleo de soja ou de girassol na matéria seca da dieta (%)
Cana + OG
Capim-efefante + OGCapim-efefante + OS
Efeito da suplementação com óleo de soja (OS) ou de girassol (OG) sobre a concentração de ácidos graxos C12:0 + C14:0 + C16:0 (g/100 g) no leite
Perfil de ácidos graxos no leite de vacas consumindo
gramíneas tropicais fornecidas frescas no cocho(Ribeiro, 2007; Ribeiro et al., 2015; Souza, 2011)
↑260%; 4,59 g/100 g
↑395%↑563%
↑368%
Inviabilidade econômica da inclusão de óleos vegetais:
→ Lopes et al. (2012): capim-elefante + óleo de soja
→ Lopes et al. (2014): cana + óleo de girassol
→ Lage et al. (2016): capim-elefante + óleo de soja(sistemas de pagamento por qualidade do leite no Brasil)
Perfil de ácidos graxos no leite de vacas consumindo
gramíneas tropicais fornecidas frescas no cocho(dados brasileiros)
Produção e composição do leite de vacas alimentadas com dietas baseadas em forrageiras tropicais suplementadas com concentrados contendo óleos vegetais
Parâmetro
Nível de inclusão de óleo vegetal na dieta
(% da matéria seca, MS)
Erro-padrão
da média
Efeito (valor de P)
0 1,5 3,0 4,5 Linear Quadrático
Vacas Holandês x Gir recebendo capim-elefante e concentrado (VC2 = 46:54, base MS)
(óleo de soja) (RIBEIRO et al., 2007)
Produção de leite, kg/vaca/dia 14,4 15,0 15,2 16,2 0,5037 0,02 ns1
Teor de gordura, % 3,50 3,45 3,22 3,07 0,0520 0,02 ns
Teor de proteína, % 2,90 2,88 2,92 2,89 0,0282 ns ns
Teor de lactose, % 4,52 4,46 4,50 4,44 0,0201 ns ns
Teor de sólidos totais, % 11,7 11,5 11,4 11,3 0,0528 0,02 ns
Vacas Holandês x Gir recebendo cana de açúcar e concentrado (VC = 60:40, base MS)
(óleo de girassol) (SOUZA, 2011)
Produção de leite, kg/vaca/dia 18,0 18,3 17,5 19,2 1,2381 ns ns
Teor de gordura, % 3,46 3,30 2,90 2,68 0,2054 0,0002 ns
Teor de proteína, % 3,04 2,80 2,94 2,90 0,1097 ns ns
Teor de lactose, % 4,31 4,36 4,40 4,26 0,0861 ns ns
Teor de sólidos totais, % 11,79 11,35 11,10 10,68 0,3351 0,0001 ns
1ns = não-significativo (P>0,05); 2VC = relação volumoso:concentrado
Efeito da suplementação de dietas baseadas em capim-elefante com níveis crescentes de óleo de soja
(OS) sobre o teor de gordura (ŷ) e a concentração do isômero de CLA C18:2 trans-10, cis-12 (x) no
leite de vacas Holandês x Gir (ŷ = 3,3 -16,44x; r2 = 0,30). Fonte: Adaptado de RIBEIRO (2009)
Perfil de ácidos graxos no leite de vacas consumindo
gramíneas tropicais fornecidas frescas no cocho(dados brasileiros; Ribeiro, 2009)
x
Potencial nutracêutico da gordura do leite produzido a pasto
Potencial nutracêutico da gordura do leite produzido a pasto
Ácido graxo (% da gordura) Pasto/forragem
fresca Dietas de
confinamento
C4:0 (ácido butírico) 3,4 3,6
C16:1 trans-9 (ácido trans-palmitoleico) 0,14 0,06
CLA cis-9 trans-11 (ácido rumênico) 1,61 0,45
3, 7, 11, 15 tetrametil-hexadecanoico (ácido fitânico) 0,45 0,15
C18:1 trans-11 (ácido vacênico) 3,1 0,7
C18:1 cis-9 (ácido oleico) 24,1 20,2
C18:3 cis-9 cis-12 cis-15 (ácido α-linolênico) 0,78 0,16
∑ C12:0 + C14:0 + C16:0 (ácidos láurico + mirístico + palmítico) 39,4 54,1
Fonte: Adaptado de Kratz et al. (2013).
x
Potencial nutracêutico da gordura do leite produzido a pasto
Dietas sem suplementação com ácidos graxos (dados brasileiros):
Silagem de milho: ácido rumênico: ≤ 0,67 g/100 g de AG
ácido vacênico: ≤ 3,93 g/100 g de AG
Pastos tropicais: ácido rumênico: 0,40 a 1,64 g/100 g de AG
ácido vacênico: 0,91 a 4,49 g/100 g de AG Lopes et al. (2015)
Panorama da literatura tropical:
→ apenas 11 trabalhos com perfil de ácidos graxos no leite de vacas em pastagens com gramíneas tropicais
→ Brachiaria brizantha (cvs. Marandu, Xaraés, MG-5), B. ruziziensis, Panicum maximum (cvs. Tanzânia/Massai),
Pennisetum purpureum (cvs. Pioneiro, Cameron), Cynodon nlemfuensis (cv. Estrela Africana) e C. dactylon
→ recentes (≥ 2009), muitos na forma de trabalhos de conclusão de cursos de pós-graduação
→ lacunas de informações: teores de rumênico, vacênico e CLA trans-10 cis-12
→ valores atípicos (análises laboratoriais)
→ colunas de 60 m para análise do perfil de ácidos graxos → baixa resolução (Lopes et al., 2015)
Potencial nutracêutico da gordura do leite
em sistemas de produção orgânica
Benbrook et al. (2013):
→ perfil de AG de 378 amostras de leite produzido de forma convencional ou orgânica
→ sete regiões dos EUA, ao longo de 12 meses
→ leite do sistema orgânico: + 18% de ácido rumênico
+ 60% ácido α-linolênico
+ 33% EPA
+ 18% DPA
→ legislação/certificação: 30% do consumo das vacas = pasto (+ 120 dias da estação de crescimento)
→ fazendas convencionais: dietas à base de forragens conservadas e concentrados
Butler et al. (2011):
→ perfil de AG da gordura de leite de marcas no comércio do NO da Inglaterra
→ leite de produção orgânica: > teor de gordura
< [láurico] e [palmítico]
> [vacênico], [rumênico], [α-linolênico], [EPA] e [DPA]
≈ [oleico] → P>0,05
Fanti et al. (2008):
→ trabalho realizado ao longo de 12 meses
→ amostras de 6 leites pasteurizados integrais (comércio local da cidade de São Paulo):
→ 2,4 (verão) e 2,8 (outono) vezes + CLA no leite de produção orgânica
Potencial do mercado (Mulvany, 2015):
→ vendas de leite de produção orgânica cresceram 9,5% nos 11 primeiros meses de 2014
→ gastos de US$5,1 bilhões com laticínios em 2014
Suplementação lipídica das dietas como estratégia para
incremento na qualidade nutricional da gordura do leite
Trabalhos realizados no Brasil:
→ dietas típicas de confinamento, suplementadas com AG → ≤ 1,01 g/100 g de AG (rumênico) (Lopes et al., 2011)
→ pastos tropicais, suplementados com AG → ≤ 2,46 g/100 g de AG (rumênico) (Lopes et al., 2015)
→ cana de açúcar → sem suplementação com AG → 0,38 a 0,54 g/100 de AG (rumênico)
→ 49,7 a 57,1 g/100 de AG (láurico + mirístico + palmítico)
→ com suplementação com AG → 2,75 g/100 de AG (rumênico)
→ 27,3 a 48,6 g/100 de AG (láurico + mirístico + palmítico)
Tipos de suplementos lipídicos e efeitos sobre perfil de AG do leite:
→ óleos vegetais livres → mudanças + bruscas do que grãos não processados
(Dhiman et al., 2000; Glasser et al., 2008; Chilliard et al., 2009; Oliveira et al., 2009; Benchaar et al., 2014)
→ ≠s respostas em função do processamento aplicado no grão:
integral, moagem, laminação, micronização, peletização, extrusão, tostagem etc.
(Chouinard et al., 1997; Dhiman et al., 2000; Silva et al., 2007; Chilliard et al., 2009; Neves et al., 2009; Santos et al., 2011)
Suplementos concentrados lipídicos estudos de perfil de ácidos graxos no leite de vacas (Brasil):
→ grãos: soja (moído, tostado, extrusado)
linhaça (inteiro, moído)
canola (moído, extrusado)
girassol (moído)
→ sais de cálcio (produtos comerciais): óleos de soja, de palma, de CLA
→ óleos vegetais livres: soja, girassol (normal, médio e alto oleico), licuri
(óleo de peixe → Instrução Normativa nº 15, de 17 de julho de 2001)
→ coprodutos agroindústria → caroço de algodão; resíduo de cervejaria; farelo de arroz
→ coprodutos da produção de biocombustível → tortas: girassol, amendoim, dendê etc.
→ glicerina bruta de baixa pureza
(36,7% lipídeos; 22,3% de oleico; 45,7% de linoleico)
(Lopes et al., 2015)
Perfil de ácidos graxos no leite de vacas consumindo
gramíneas tropicais sob pastejo (Mourthé et al., 2015)
0,00
2,00
4,00
6,00
Vacênico Linoleico Rumênico Linolênico
Efeito da quantidade de grãos de soja tostados sobre o perfil de ácidos graxos (g/100 g) do leite de vacas Holandês x Gir
em pastagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu
0,0 kg 1,3 kg 2,6 kg 3,9 kg
ŷ = 0,41 + 0,12XP<0,0001
ŷ = 1,79 + 1,02xP<0,0001
ŷ = 0,019 + 0,0098x - 0,065x2
P = 0,0002
ŷ = 0,942 + 0,066x - 0,017x2
P = 0,0092
↑123%
↑227%
Perfil de ácidos graxos no leite de vacas consumindo
gramíneas tropicais sob pastejo (Mourthé et al., 2015)
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
AGCM Oleico
Efeito da quantidade de grãos de soja tostados sobre o perfil de ácidos graxos (g/100 g) do leite de vacas Holandês x Gir em pastagem de
Brachiaria brizantha cv. Marandu
0,0 kg 1,3 kg 2,6 kg 3,9 kg
ŷ = 20,2 + 1,52XP<0,0001
ŷ = 40,2 - 3,36XP<0,0001
↓32%
↑31%
Efeito do horário de ordenha sobre o perfil de AG do leite de vacas
recebendo capim-elefante picado suplementado com óleo de soja
Efeito do horário de ordenha sobre o perfil de ácidos graxos do leite de
vacas recebendo capim-elefante picado suplementado com óleo de soja
Ácidos graxos
(g/100 g de AG totais)
Ordenhaa Coeficiente de
variação (%) Manhã Tarde
C4:0 3,06 a 3,16 b 6,12
C12:0 2,38 2,22 13,57
C14:0 9,37 a 8,87 b 8,62
C16:0 25,79 a 23,94 b 7,54
C18:1 trans-11 5,66 5,36 21,01
C18:1 cis-9 21,04 a 22,97 b 7,61
C18:2 cis-9 cis-12 2,30 a 2,46 b 7,23
C18:3 cis-9 cis-12 cis-15 0,28 0,25 20,00
CLA cis-9 trans-11 2,90 3,15 18,00
∑ AG Saturados 55,87 a 53,30 b 4,97
∑ AG Insaturados 41,28 a 43,39 b 5,42
∑ AG Monoinsaturados 35,04 a 36,77 b 10,4
∑ AG Poli-insaturados 6,24 6,63 5,81 aMédias seguidas por letras distintas diferem entre si (P<0,05) pelo teste de Tukey
Fonte: Lopes et al. (2010)
Variação individual e efeito da estação do ano sobre
o perfil de ácidos graxos do leite
→ Variação individual:
→ experimentos na Embrapa Gado de Leite → sistematicamente observada grande variação individual
→ Embrapa: vacas recebendo capim-elefante + óleo de soja: rumênico variou de 2,59 a 6,58 g/100 g de AG
→ vacas Holandês, Pardo-Suíço, Jersey e Mafriwall (recebendo a mesma dieta):
→ teores 2 a 3 vezes superiores de ácido rumênico
(Peterson et al., 2002; Kelsey et al., 2003; Yassir et al., 2010; Wang et al., 2013)
→ indicativos de importantes diferenças individuais na atividade da enzima ∆-9 dessaturase na glândula mamária
→ Estação do ano:
→ Seca: escassez de forragem nas pastagens → menores teores dos AG α-linolênico e linoleico no pasto:
→ limita a produção de leite naturalmente enriquecido com AG benéficos à saúde.
→ importância de pesquisas em estratégias de manejo nutricional do rebanho nesta estação do ano:
→ indústrias de laticínios → garantia dos níveis de específicos AG ao longo do ano
→ ininterrupta comercialização
→ Cana de açúcar picada e forragens conservadas (silagens e fenos) não suplementadas com fontes lipídicas:
→ limitado potencial para produção de leite enriquecido com os ácidos rumênico e vacênico
→ Forrageiras de inverno (picadas frescas no cocho ou a pasto) (Primavesi et al., 2006; Fontaneli et al., 2009)
→ estratégia com potencial; informações já disponíveis na literatura de clima temperado
Índices de qualidade nutricional dos lipídeos de lácteos
Cana + Óleo de girassol(manteiga)
y = -0,5822x + 3,7893 ; r² = 0,87
Cana + Óleo de girassol(leite)
y = -0,5644x + 3,5093; r² = 0,71
Capim-elefante + Óleo de girassol(leite)
y = -0,256x + 2,4198; r² = 0,84
Capim-elefante + Óleo de soja(manteiga)
y = -0,2569x + 2,9235; r² = 0,84
Pasto (braquiária) + Soja tostada (kg/vaca/dia)(leite)
y = -0,3462x + 2,2334; r² = 0,82
0,60
1,20
1,80
2,40
3,00
3,60
4,20
4,80
0,0 1,5 3,0 4,5
IA
% de óleo vegetal na matéria seca da dieta
Índice de Aterogenicidade (IA) de produtos lácteos em função da% de óleo vegetal na matéria seca da dieta das vacas
Cana + Óleo de girassol (manteiga)
Cana + Óleo de girassol (leite)
Capim-elefante + Óleo de girassol (leite)
Capim-elefante + Óleo de soja (manteiga)
Pasto (braquiária) + soja tostada (kg/vaca/dia) - leite
IA: classificar alimentos em função da probabilidade em predispor ao risco de ocorrência de doenças coronarianas
(Ulbricht & Southgate, 1991)
Estabilidade oxidativa do leite e lácteos obtidos de vacas consumindo
forrageiras tropicais suplementadas com fontes de ácidos graxos
y = -0,3137x + 6,7945r² = 0,23; P<0,04
y = -0,504x + 3,9178r² = 0,86; P<0,0001
y = -0,2606x + 2,5964r² = 0,61; P<0,0001
1,0
3,0
5,0
7,0
9,0
0,0 1,5 3,0 4,5
EA(h)
% de óleo vegetal na matéria seca da dieta
Estabilidade oxidativa (EA, h) de manteigas em função da % de óleo vegetal na matéria seca da dieta das vacas
Capim-elefante + Óleo de girassol
Cana de açúcar + Óleo de girassol
Capim-elefante + Óleo de soja
“Vida de prateleira” → redução da estabilidade oxidativa
→ ↑ teores de AG mono e poli-insaturados → + susceptíveis à oxidação (Gama et al., 2008; Barros et al., 2013)
Antioxidantes naturais (e.g. tocoferóis, carotenoides):
→ podem não ser suficientes para prevenção da rancidez oxidativa em lácteos enriquecidos com MUFA e PUFA
Lácteos naturalmente enriquecidos com
ácidos graxos benéficos à saúdePagamento por qualidade do leite (em função de teores de AG específicos):
→ não existe no Brasil
→ exemplos de adoção em alguns países da Europa (exceções!!!) (Borreani et al., 2013; Coppa et al., 2013)
→ Nova Zelândia:
→ fazendas especializadas na produção de leite com maior teor de AG insaturados:
< produção de sólidos, gordura e proteína
< lucratividade (NZ$1.324/ha menor em relação às fazendas convencionais)
bonificação de NZ$0,15/kg de gordura p/ cada ↑0,1 g AG insaturados/100 g gordura acima de 37,5 g/100 g(Silva-Villacorta et al., 2015, 2016)
Nichos de mercado:
→ consumidores com hábitos de consumo associados a estilos + saudáveis de vida, interessados em alimentos
naturais, com elevado valor nutritivo agregado (funcionais) e/ou produzidos de forma orgânica (ITAL, 2010)
Argentina, Canadá, China, Espanha, EUA e Itália: nichos de mercado explorados
→ leite UHT, queijos e manteigas → naturalmente enriquecidos com CLA e/ou AG ω-3
Brasil: perfil do consumidor:
→ consciente e crítico
→ preocupado c/ impacto da produção sobre meio ambiente
→ bem estar dos animais
→ exigente → conveniência e praticidade
saudabilidade e bem estar
confiabilidade e qualidade nutricional
(ITAL, 2010)
Considerações finais
Resultados apresentados → grande potencial de gramíneas tropicais manejadas a pasto para produção de
leite naturalmente enriquecido com ácidos graxos bioativos
Outros estudos/informações importantes nesta linha de pesquisa:
i) suplementação de dietas com ácidos graxos:
< emissão entérica de metano (GEE) → Embrapa (-21% na emissão de CH4)(Chaves et al., 2017)
ii) bancos de dados de perfil de AG de alimentos para ruminantes no Brasil
iii) níveis de ingestão de lácteos para alcance de benefícios terapêuticos
MARTINS, P.C.; PICCININI, G.A.; KRUG, E.E.B.; MARTINS, C.E.; LOPES, F.C.F. Sustentabilidade ambiental, social e econômica da
cadeia produtiva do leite: desafios e perspectivas. Brasília, DF : Embrapa, 2015.
https://www.embrapa.br/gado-de-leite/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1021902/sustentabilidade-ambiental-social-e-economica-
da-cadeia-produtiva-do-leite-desafios-e-perspectivas
Considerações finais
Agradecimentos
Fernando César Ferraz Lopes - Embrapa Gado de Leite
E-mail: [email protected]
Telefone: (32)3311-7461