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1 Treme! A influência da Pop Music Mundial na construção identitária do Tecnobrega e de suas Divas 1 Anderson Patrick Rodrigues 2 RESUMO Nos últimos anos, o Tecnobrega sofreu profundas transformações em sua raiz musical, passou por diversas influências rítmicas, mas nenhuma está tão presente quanto a Pop Mucic mundial. Essas transformações contribuíram para que o maior expoente da música popular paraense de massa deixasse de ser considerado um estilo periférico e marginal e adquirisse status de movimento pop-cult, passando então a circular livremente entre todas as classes sociais do Pará e do Brasil. O presente trabalho tem por objetivo principal analisar como os hits e videoclipes de Divas da música pop mundial, como Beyoncé e Lady Gaga, influenciam na produção, performance e comercialização do atual Tecnobrega, além de observar como se constitui a modelagem das novas Divas locais como Gaby Amarantos e Keila Gentil (Gang do Eletro) e como estas estabelecem e defendem suas identidades exageradas, multicoloridas e glamorosas. Para tanto, este trabalho divide-se em dois momentos distintos e complementares: o primeiro, diz respeito na análise das músicas e respectivos videoclipes que inspiraram versões de suas letras “traduzidas” e musicalizadas em Tecnobrega, buscando a relação entre os hits e videoclipes com o ritmo em questão; o segundo momento, consiste em identificar como a imagem das Divas da música pop mundial inspira e se insere na construção da identidade das Divas do Tecnobrega paraense. Espera-se com este trabalho contribuir para o entendimento da nova música popular de massa do Pará, chamar atenção para a sua construção identitária enquanto Cultura Popular e provocar a realização e novas pesquisas sobre o tema. Palavras-chave: Tecnobrega, Música Pop, Cultura Popular. Introdução O Tecnobrega é uma manifestação musical popular paraense surgido no início dos anos 2000. Trata-se da mistura do estilo “bregatradicional com “pegadas” de música eletrônica” tendo a tecnologia como matéria prima fundamental para a composição do referido estilo. Como quase todos os ritmos da cena musical do Pará, o Tecnobrega tem uma raiz tradicional, manifestada por estilos tais como a Carimbó, o Siriá, o Lundu e outros 1 Trabalho apresentado na Divisão Temática “Música e Meios: convergências e divergências”, durante o Culturas, Linguagens e Interfaces Contemporâneas 2012, realizado no Espaço Benedito Nunes, na Saraiva MegaStore, de 20 a 23 de novembro de 2012.. 2 Graduado em Letras, habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará ( UFPa); Graduando em Educação Física pela Universidade Estadual do Pará (UEPa). E-mail. [email protected]

Treme! A influência da Pop Music Mundial na construção … · 2012-12-09 · status de movimento pop-cult, ... Escolheu-se então, um cenário simples, em preto e branco, ... porém

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Treme! A influência da Pop Music Mundial na construção identitária do

Tecnobrega e de suas Divas1

Anderson Patrick Rodrigues

2

RESUMO

Nos últimos anos, o Tecnobrega sofreu profundas transformações em sua raiz musical, passou

por diversas influências rítmicas, mas nenhuma está tão presente quanto a Pop Mucic

mundial. Essas transformações contribuíram para que o maior expoente da música popular

paraense de massa deixasse de ser considerado um estilo periférico e marginal e adquirisse

status de movimento pop-cult, passando então a circular livremente entre todas as classes

sociais do Pará e do Brasil. O presente trabalho tem por objetivo principal analisar como os

hits e videoclipes de Divas da música pop mundial, como Beyoncé e Lady Gaga, influenciam

na produção, performance e comercialização do atual Tecnobrega, além de observar como se

constitui a modelagem das novas Divas locais como Gaby Amarantos e Keila Gentil (Gang do

Eletro) e como estas estabelecem e defendem suas identidades exageradas, multicoloridas e

glamorosas. Para tanto, este trabalho divide-se em dois momentos distintos e

complementares: o primeiro, diz respeito na análise das músicas e respectivos videoclipes que

inspiraram versões de suas letras “traduzidas” e musicalizadas em Tecnobrega, buscando a

relação entre os hits e videoclipes com o ritmo em questão; o segundo momento, consiste em

identificar como a imagem das Divas da música pop mundial inspira e se insere na construção

da identidade das Divas do Tecnobrega paraense. Espera-se com este trabalho contribuir para

o entendimento da nova música popular de massa do Pará, chamar atenção para a sua

construção identitária enquanto Cultura Popular e provocar a realização e novas pesquisas

sobre o tema.

Palavras-chave: Tecnobrega, Música Pop, Cultura Popular.

Introdução

O Tecnobrega é uma manifestação musical popular paraense surgido no início dos

anos 2000. Trata-se da mistura do estilo “brega” tradicional com “pegadas” de música

eletrônica” tendo a tecnologia como matéria prima fundamental para a composição do

referido estilo. Como quase todos os ritmos da cena musical do Pará, o Tecnobrega tem uma

raiz tradicional, manifestada por estilos tais como a Carimbó, o Siriá, o Lundu e outros

1 Trabalho apresentado na Divisão Temática “Música e Meios: convergências e divergências”, durante o

Culturas, Linguagens e Interfaces Contemporâneas 2012, realizado no Espaço Benedito Nunes, na Saraiva

MegaStore, de 20 a 23 de novembro de 2012.. 2 Graduado em Letras, habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará ( UFPa); Graduando em Educação Física pela Universidade Estadual do Pará (UEPa). E-mail. [email protected]

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gêneros populares como o Calypso e as guitarradas, todos, claro, extremamente exagerados e

ressintetizados em batidas eletrônicas. O diferencial do estilo, não está apenas na composição

tecnológica das batidas, na alegria das melodias e exagero das letras, coreografias e figurinos,

mas também na produção, no desenvolvimento e na distribuição musical em um mercado

independente e autossustentável.

Outra característica importante do Tecnobrega e alvo desta pesquisa é a presença da

Música Pop mundial em sua composição, seja inspirando versões de letras “traduzidas” e

musicalizadas no referido ritmo, seja na montagem visual e identitária das Divas Tecno

inspirada nas atuais Divas da musica pop mundial: Beyoncé e Lady Gaga. Este trabalho visa,

portanto, analisar como os hits e videoclipes das Divas destacadas anteriormente, influenciam

a criação/produção, a performance e comercialização do atual Tecnobrega, além de observar

como se constitui a modelagem da identidade das novas Divas Tecno paraenses como Gaby

Amarantos e Keila Gentil (Gang do Eletro) e, paralelo a isso, como estas estabelecem e

defendem suas identidades exageradas, multicoloridas e glamorosas no mercado musical

brasileiro.

Para esta pesquisa, trabalharemos com alguns dos clipes mais famosos das Divas da

Pop Music mundial, aqueles que insipraram as versões tecnobrega mais expressivas dos

últimos tempos. De Beyoncé, o videoclipe escolhido é o da música Single Ladies; de Lady

Gaga o videoclipe analisado é o da música Bad Romance. Ambos os videoclipes apresentam

particularidades que chamaram atenção mundial para as Divas que os consagraram, seja pela

coreografia inovadora e pós-moderna do primeiro, seja pela estranhesa e liberdade de criação

do segundo. Trazê-los para uma versão tecnobrega foi um risco assumido que deu certo,

muito certo, isso fez com que a carreira dos músicos que os gravaram ganhasse tamanho

reconhecimento que em pouco tempo consagraram as novas Divas da música Tecno paraense,

dentre elas a mais representativa nacionalemnte, Gaby Amarantos com seus figurinos

assimétricos, exagerados e trabalhados no LED, seguida de Keila Gentil (Gang do Elétro)

com seu psicodelismo manifestado tanto na energia transbordada nos palcos, quanto no

figurino fosforecente de toda a sua gang.

O Videoclipe

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A palavra videoclipe é uma palavra inglesa traduzida em Português por “filme curto,

em suporte digital”. O videoclipe é a materialização da música. Atua como canal de

transporte da mensagem de um emissor (o cantor/compositor) transmitida através de imagens,

facilitando assim o entendimento da mensagem. Sua criação pode ou não seguir regras

lineares de tempo e produção, mas todos seguem um roteiro, todos usam de atores e/ou

modelos, defendem um argumento e utilizam diversos recursos cinematográficos para

destacar aquela como uma grande produção.

A partir dos anos 80, com a explosão da Musica Pop mundial, por intermédio de seu

maior ícone, Michael Jackson, os vídeos musicais adquiriram uma linguagem diferenciada

que resultou em uma estética própria, chamada de “Estética Videoclipe” (SUSSI, 2007). Essa

nova linguagem, caracterizou-se por tratar-se de

montagens fragmentadas e aceleradas, com narrativa não linear, imagens curtas,

justapostas e misturadas, variedade visual, riqueza de referências culturais e uma

forte carga emocional nas imagens apresentadas. Todos esses elementos reunidos se

transformavam num produto de impacto e de fácil absorção: o videoclipe. (Idem.

p.8).

O videoclipe representou uma nova forma de linguagem. Esta, jovial e atrativa,

influenciou toda uma geração e destaca-se no cenário cultural da música mundial como

influenciador direto nos modos de agir, consumir, vestir e modelar a própria identidade.

Falamos, portanto em um difusor cultural e informativo.

Os Videoclipes Analisados

Single Ladies – Beyoncé

A música Single Ladies está no álbum “I Am...Sasha Fierce” de Beyoncé e tem um

ritmo marcante e uma mensagem direta a todas as mulheres que terminaram um

relacionamento ruim e estão vivendo muito bem sem os seus respectivos ex - amores. Ao

mesmo tempo em que atua como motivação e exemplo de solidariedade feminina, pois

implicitamente diz às mulheres: “Você é melhor que ele! Você pode viver sem esse cachorro

que só te faz sofrer”; diz explicitamente aos homens: “estou curtindo a minha vida... agora

você vai aprender o que é sentir minha falta”. Trata-se de uma mensagem clara e objetiva,

logo traduzi-la em videoclipe com todos os elementos citados no tópico anterior: roteiro,

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atores e/ou modelos, argumentos e diversos recursos cinematográficos poderiam prejudicar a

receptividade da mensagem. Escolheu-se então, um cenário simples, em preto e branco, sob

uma espécie de tablado amplo e rampado, com figurino e maquiagem sem grande apelo pop,

mas com um diferencial: a coreografia mais dinamicamente ousada dos últimos tempos.

Single Ladies faz de Beyoncé ícone histórico da nova geração de artistas Pop

mundiais. Torna-se uma das artistas mais ouvidas e, consequentemente, vendidas em todo o

mundo e chega a causar polêmica por perder um dos prêmios mais importantes da música

americana, o MTV Music Awards, para Taylor Swift esta, com um hit e videoclipe não tão

significativo e inovador quanto o de Beyoncé.

Single Ladies inspirou vários posts no Youtube de pessoas reproduzindo, ou tentando

reproduzir, seja com seriedade seja com humor, a coreografia do videoclipe. O fato é que

estamos falando de um fenômeno musical que coordenou o mundo na mesma batida e na

mesma coreografia das mãos próximas ao rosto movendo-se para direita e esquerda.

A música de Beyoncé inspirou a versão “Hoje eu to solteira” que ganhou vida na voz

de Gaby Amarantos, e logo virou hit Tecnobrega no Pará e em seguida em todo o Brasil, tanto

que após cantá-la em um festival em Recife-Pe, Gaby ficou conhecida nacionalmente como

“Beyoncé do Pará” e mais tarde, devido aos figurinos exagerados, pirotécnicos e luminosos de

“A Lady Gaga da Amazônia” tornando-se o ícone mais significativo da cultura Tecnobrega

atual.

Bad Romance – Lady Gaga

A música "Bad romance" está presente no álbum "The Fame Monster", de Lady

Gaga e fala sobre uma pessoa que não tem medo da dor, pois está “Presa em um romance

mau” e quer esse romance mal. Ao contrário de Single Ladies, Bad Roamance apresenta

muitas mensagens em sua composição e isso está refletido no videoclipe que é repleto de

símbolos e imagens estranhas, na maioria das vezes, imcompreensíveis aos olhos comuns. .

São varias imagens compondo um mosaico de significados onde o óbvio é quase

inexistente, pois há a mistura de alegroias do amor, do sadomazoquismo, do gosto pela fama,

do tráfico de mulheres, das drogas, da religiosidade, do sexo e tantas outras. Bad Romance é

sem dúvida um divisor de águas na carreira de Lady Gaga. Mas do que uma dose cavalar de

simbolismo, Bad Romance, é subversivo, ousado, grotesco, e comercial, pois não há como

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ouvir a música e/ou assistir ao videoclip sem repetir “Rah-rah-ah-ah-ah!Roma-roma-ma!Ga-

ga-ooh-la-la!Want your bad romance”

Bad Romance isnpirou a versão “Não quero Romance” da banda Os Brothers, mas

cantada por vários artistas da música tecno, dentre eles Keila Gentil e sua Gang do elétro que

herda de Lady Gaga o Psicodelismo, a ousadia, as roupas brilhosas e luminosas do estilo

Gaga.

As Versões da Musica Pop Mundial em Tecnobrega

Com as versões das músicas pop mundiais em tecnobrega, este gênero musical

tomou força e proporções nunca antes esperadas por seus defensores: saiu das casas da

periferia diretamente para o deleite musical das elites paraenses que até pouco tempo o

rejeitavam e o classificavam como ritmo marginal, periférico, “coisa de pobre”, ou sendo

mais realista ainda, “música de ladrão”.

A grande sacada de unir a melodia da música pop de maior sucesso da atualidade à

batida brega e ressintetiza-la com nuances eletrônicas dos estilos house e tecnomusic deixou o

ritmo mais acelerado, porém harmônico e agradável para todos os ouvidos, independente da

classe social a que pertençam. Graças a essas versões, (ou sampliações como a própria Gaby

Amarantos registrou em sua música “Xirley”, carro chefe de seu primiero CD solo, intitulado

“Treme”), o Tecnobrega evoluiu musicalmente, imageticamente e socialmente. Hoje está

presente em todas as classes sociais, animando, encantando, dividindo opiniões sobre ser ou

não cultura popular paraense. Independente das discussões sobre o tema, de uma coisa não se

deve duvidar: ser tecnobrega hoje é cult, é pop e está na moda. Isso implica diretamente na

formatação de uma nova identidade cultural da música paraense. Entendamos por Identidade

cultural aquela que consiste em um

um sistema de representação das relações entre indivíduos e grupos, que envolve o

compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião, as artes, o

trabalho, os esportes, as festas, entre outros. É um processo dinâmico, de construção

continuada, que se alimenta de várias fontes no tempo e no espaço. (OLIVEIRA,

2010).

Com essa nova roupagem do gênero, o tecnobrega alcança reconhecimento nacional,

mas não podemos deixar de nos perguntar: como seria o cenário do tecnobrega paraense sem

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a introdução da música pop mundial em suas raizes? Será que o Tecnobrega seria tão bem

aceito atualemnte se negasse a influência da música pop em sua produção musical?

Provavelemente não estaria em tamanha evidência e continuaria renegado à condição de

música periférica.

As versões analisadas nessa pesquisa foram “Hoje eu to solteira”, de Gaby

Amarantos e “Não quero Romance” da banda Os Brothers, mas cantada por vários nomes da

música Tecno praraense, dente eles Keila Gentil e sua Gang. A primeira tem como base, a

melodia e a letra de Single Ladies, de Beyoncé e segue a mesma ideia de liberdade feminina,

da mulher solteira, que sabe o que quer, porém, diferentemente da música de Beyoncé, ela não

quer fazer um ex-namorado sofrer, e sim conquistar o coração do homem que ama e que por

algum motivo está longe e isso a deixa triste:

“Você sabe que preciso

De você aqui comigo

Me fazendo feliz

No teu sorriso

Eu viajo, eu deliro

Teu beijo me acende.

Você sabe que eu preciso

Então fica comigo

Preciso amar você

Quando a saudade me consome Grito seu nome...” (BROTHERS, 2009).

É importante salientar que pouco se modificou da estrutura melódica de Single

ladies. A versão Tecnobrega, abusou da semelhança musical para sustentar a ideia de que sua

interprete não é qualquer pessoa, mas Gaby Amarantos, a Beyoncé do Pará. Trata-se,

portanto de uma canção identitária.

A segunda música por sua vez tem como base a melodia e a letra de Bad Romance,

porém, ao contrário da música que a originou, não fala da espera de viver um amor, por mais

penoso que ele seja, ao contrário, fala da separação: “oh oh oh oh oh oh oh oh Vai! Tchau e

benção! oh oh oh oh oh oh oh oh Vê se me esquece!” (OS BROTHERS, 2009). Enquanto a

música de Lady Gaga é carregada de varias imagens compondo um mosaico de significados

onde o óbvio é quase inexistente devido à intensa mistura de alegroias do amor, do

sadomazoquismo, do gosto pela fama, do tráfico de mulheres, das drogas, da relidiosidade,

do sexo e tantas outras, a versão Tecnobrega de Bad Romance, é pobre em imagens e

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significados prevalecendo assim o óbivio em detrimento da estranhesa e complexidade da

música que a originou.

Em “Não quero Romance” o Eu lírico revela a dor da perda de um amor que a fez

mal, mas diferentemente da Música de Gaga, ela não pretende viver o mesmo amor

novamente e sim sair e curtir a vida à Single Ladies. O uso da melodia e da letra de Bad

romance é justificado apenas por tratar-se de uma canção famosa mundialmente com forte

apelo jovem e homossexual, campos produtivos comercialmente para germinação do

Tecnobrega. Seus autores apenas ressintetizaram (ou sampliaram) a música original,

acrescentaram uma letra pobre de sentido e abusaram de batidas eletrizantes para chamar

atenção para a versão e assim conquistaram o mercado brega paraense. Não demorou muito e

todos já estavam repetindo baixinho: “Ah-rá uh lalá, eu sou sincera! Ah-rá uh lalá, eu sou

sincera!”. Evitou-se modificar o mínimo possível a melodia da música original, deixando-a

apenas mais rápida e com as bases graves mais potentes, isso porque a letra usaria um sentido

diferente daquela que a inspirou, puro marketing promocional.

Divas Pop versus Divas Tecno

1. Beyoncé

Beyoncé Giselle Knowle, ou simplesmente Beyoncé, é cantora, compositora, atriz,

dançarina, coreógrafa, arranjadora vocal, produtora, diretora de vídeo e empresária americana

nascida e criada em Houston, Texas. Ficou conhecida mundialmente a partir de 1997, quando

era vocalista do girlsband Destiny's Child, que já vendeu mais de 50 milhões de discos. Possui

cinco singles em primeiro lugar na Billboard Hot, vendeu mais de 75 milhões de discos em

todo o mundo, fato este que a qualifica como uma das artistas musicais mais bem sucedidas

da história. Uma verdadeira Diva da Pop muisc mundial que preserva sua imagem particular

do acesso das câmeras e da fúria dos Paparazzos.

Beyoncé é duas mulheres em uma: de um lado a ousada e destemida Sasha Fierce

que encanta e seduz com seu corpo escultural, voz potente e coreografias arrasadoras, de

outro, Beyoncé Knowle, casada, mãe de familia, discreta, exemplo de elegância e educação,

criadora da instituição de caridade Survivor Foundation , a típica mulher religiosa, política e

conservadora sobre tudo, mas que não levanta a bandeira da moralidade contra seu público,

formada por uma parcela homossexual significativa.

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2. Lady Gaga

Stefani Joanne Angelina Germanotta, mais conhecida por Lady Gaga, é cantora,

compositora e produtora musical nascida nos Estados Unidos. Gaga ganhou destaque no

cenário musical mundial após o lançamento de seu álbum “The Fame”, em 2008. Seu

diferencial está no culto ao estranho, à androgenia e à provocação, na fuga dos padrões

comerciais de Divas Pop e no início de uma nova geração musical inspirada na ousadia de

outros artistas libertários que fizeram história como David Bowie e Fred Mercury.

A recepção crítica da música de Lady Gaga, está intimamente ligada a seu senso de

moda e a sua personalidade marcante. Sua imagem de Diva pop convive com a imagem de

uma pessoa crítica, politizada, louca e trasformadora. Gaga surge como ícone de um novo

movimento de cultura popular na contracorrente do mercado musical e com sua irreverência e

ousadia que vai de suas letras ao estilo próprio marcado por figurinos exagerados e o culto ao

corpo assexuado ou androgino, além da liberadade sexual. Seu papel de Diva manifesta-se na

íintima relação que estabelece com seu público, na preocuapção com o reforço da autoestima

de seus fãs e na militância homossexual, genêro que compõe a maioria significativa de seus

seguidores mais fiéis.

3. Gaby Amarantos

Gabriela Amaral dos Santos, ou simples mente Gaby Amarantos, é cantora e

compositora de Tecnobrega, MPB e Carimbó. É natural de Belém do Pará, iniciou sua carreira

como cantora na Paróquia de Santa Terezinha do Menino Jesus, onde participava do coral, de

onde mais tarde fora convidada a se retitar, pois sua alegria “exagerada” não condizia com a

vertente musical do coral em questão. Gaby começou então a cantar nas noites paraeses e logo

ficou conhecida por seu estilo exuberante e extravagante.

Gaby tem um estilo que divide opiniões, abusa do figurino autoral composto por

muitos brincos de mateirias inusitados, sapatos de 20 centímetros de altura com leds, roupas

coloridas, muitos cílios postiços, apliques de cabelo e uma infinidade de acessórios coloridos.

Usa a tecnologia e as redes sociais para divulgar e transmitir suas músicas e é uma das

responsáveis pelo surgimento e difusão do estilo Tecnobrega paraense com vertentes da

musica pop mundial. Dentre seus sucessos nacionais estão as músicas “Hoje eu tô Solteira”,

versão da música “Single Ladies”, da cantora americana Beyoncé e “ Beba Doida” versão da

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música “I like to move it”, tema do filme Madascar. Seus grandes sucessos atuais são as

músicas, "Xirley" e “Ex mai love”, esta última, tema de novela inspirada no estilo brega pop

de Gaby e outras cantoras nacionais que seguem o estilo.

É inegável a influência comercial de Beyoncé e Lady Gaga na construção da

personagem Gaby Amarantos. Quando batizada de Beyoncé do Pará, Gaby passou a se

apresentar com figurinos, penteado e maquiagem que lembravam aqueles usados por Beyoncé

no videoclipe Single Ladies. Para Gaby, essa ligação foi extremamente positiva, favorecendo

assim a aceitação de, ou ao menos a curiosidade por, suas músicas, seu estilo, seu jeito de ser.

De Gaga, Gaby abusa na inspiração de um figurino composto por modelos assimétricos,

multicoloridos, polêmicos, pirotecnicos e luminosos que chamam atenção por onde ela passa.

4. Keila Gentil ( Gang do Eletro)

A Gang do Eletro é uma combinação de vozes e ritmos eletrônicos do Pará com

batida eletro que abriu uma nova vertente de ritmos eletrônicos paraenses, tem seis anos de

estrada e há dois está sob os comandos vocais da eletrizante e irreverente Keila Gentil. Keila,

é amazonense e assim como Gaby Amarantos, também iniciou sua carreira cantando em

igrejas, mudou-se para Belém com 16 anos, onde teve experiência musicais com bandas de

forró, passando pelo rock, até chegar ao Tecnobrega, ritmo apresentado pelo marido William.

A Gang utiliza hits com “pegadas” fortes, ritmo aluciante e utiliza como materia

prima de suas versões, a musica pop mundial. Keila, abusa dos figurinos psicodélicos e

luminosos à Lady Gaga e como esta, não teme ousar em cima do palco, em suas letras, em sua

diversidade.

Ao fazer esse panorama das Divas pop e Divas Tecnobrega paraenses, podemos

observar o quão presente está a musica pop mundial na construção da identidade do estilo

brega atual. Relacionar as características que inspiraram as cantoras Tecno não é afirmar que

elas copiam Divas “de verdade”, mas que se inspiram na atitude, no profissionalismo, na

visão de mundo, de comércio musical, e na própria questão cultural que essas mulheres

defendem.

Pode-se afirmar que sem essa influência o estilo eletrônico do Pará ainda enfrentasse

dificuldades para sair da periferia e talvez, não estaríamos falando sobre assunto neste

momento. O fato é que o Tecnobrega é uma expressão cultural que ganhou forma

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mercadológica e seus intérpretes não poderiam deixar de acompanhar esse produto. Passou-se

então a modernizar e a recriar a identidade Tecno e isso, ao mesmo tempo em que assustou,

foi extremamente positivo para quem o defende e o produz.

Com o reconhecimento das Divas populares paraenses, estas tiveram que adotar

certos posicionamentos, algumas pesquisas e muitas decisões que determinaram seus

respectivos estilos musicais e visuais, pois o estilo Tecnobrega é uma arte que se vê, ouve e

faz TREMER. Essa remodelagem imagética e musical foi importante para atingir o gosto da

burguesia e classificar o gênero musical em questão como música cult, ainda que seja aceito e

defendido por alguns estudiosos do assunto, como um ritmo midcult (BARROS, 2009), que

não permanecerá muito tempo no gosto da elite por tratar-se de um veículo de massa. O que

houve, portanto, foi um rearranjo estrutural-cultural onde a imagem do brega eletrônico é

vendida como cultura superior, valorativa da tradição musical paraense o que facilita sua

introdução em espaços antes não ocupados. Ressalta-se que o gênero não deixou de ser uma

manifestação de massa, o que nos leva a firmar que sua aceitação não se dá por mudanças na

estrutura musical do próprio gênero, mas por mudanças sociais da atual burguesia que o

aprecia.

Considerações Finais

Diante do exposto, podemos afirmar que as grandes mudanças ocorridas no estilo

Tecnobrega, nos últimos anos, deve-se pela influência da musica pop mundial. Essas

transformações contribuíram para que o estilo musical deixasse de ser considerado um ritmo

periférico e marginal e adquirisse status pop-cult, passando então a circular livremente entre

todas as classes sociais do Pará e do Brasil.

A análise dos hits e videoclipes de Divas da música pop mundial, como Beyoncé e

Lady Gaga, permitiu observar como suas músicas e suas respectivas imagens de Divas Pop

influenciam na produção, performance e comercialização do atual Tecnobrega; permitiu

também observar e entender como se constitui a modelagem da identidade das novas Divas

locais como Gaby Amarantos e Keila Gentil da Gang do Eletro (a partir da imagem de Lady

Gaga e Beyoncé), além de entender como estas compõe e defendem suas personagens

exageradas, multicoloridas e glamorosas.

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Da análise comparativa entre as músicas e videoclipes selecionados com as

respectivas versões Tecnobrega, pode-se observar a obediência melódica das versões

eletrônicas que apresentaram diferença apenas na letra e nas mensagens apresentadas ao

interlocutor. Da análise comparativa entre imagens das Divas pop e das Divas Tecno

verificou-se que o quão presente está a estilo pop mundial na construção da identidade

Tecnobrega atual e que não se trata de uma cópia de estilo, mas de uma inspiração de atitude,

profissionalismo, visão de mundo e de comércio musical dessas mulheres, características

essas que Gaby Amarantos e Keila Gentil, cultivam no estilo musical/cultural que defendem.

Espera-se com este trabalho contribuir com o entendimento que o gênero Tecnobrega

não deve ser visto com olhos recriminadores, mas ao contrário, encarado como manifestação

artística (de massa ou de elite) cultural paraense. Que a identidade Tecnobrega é constituída

por raízes amazônicas, mas também apresenta traços significativos extraídos da musica pop

mundial e do estilo de vida, profissional e pessoal de suas maiores Divas; que não se pode

simplesmente excluir o Tecnobrega do ciclo de Cultura tradicional por tratar-se de um gênero

divisor de opiniões, pois negar a importância musical do estilo e seu atual sucesso nacional é

negar a si mesmo, sua historia e sua Cultura.

É desejo deste autor mobilizar especialmente às pessoas que manifestam todo o seu

preconceito contra a música eletrônica paraense, que estes possam voltar seus olhares para o

Tecnobrega sem medo do desconhecido e sem os pré-julgamentos elíticos que possam

cultivar em relação ao assunto. Que entendam que atualmente há uma valorização elítica da

Cultura periférica, esta aos moldes barrocos, privilegia o estranho, o diferente, o ambíguo, o

grotesco aglutinadas e devoradas em uma espécie de processo antropofágico pós-moderno que

as digere e em seguida as cospem na cara da sociedade elitista, mas com um gosto doce,

refinado e de boa aparência, fazendo, com isso, que o produto final seja bem aceito por quem

antes a renegava e a discriminava. Portanto, não se pode falar em identidade Tecnobrega hoje

sem considerar três fatores indissociáveis no processo de aceitação do gênero: a tradição do

estilo brega e dos ritmos paraenses que nunca saem de moda; a presença da musica pop

enquanto cultura influenciadora de uma nova geração de interpretes e estilos da música

eletrônica do Pará; e da aceitação total ou parcial do gênero pela burguesia do Pará e do

Brasil.

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Referências

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contribuição teórica à etnomusicologia. Revista Opus, v. 6. Belo Horizonte: ANPPOM, 1999.

Disponível em www.anppom.com.br/opus

BARROS, Lygia. Tecnobrega: entre o apagamento e o culto. Revista Contemporânea. N.12,

2009.

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http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-index.php?page=Identidade+cultural>>. Acesso: 26

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Contribuições da Semiótica da Canção e dos Estudos Culturais. Revista UNIrevista - Vol. 1,

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em: <http://www.encontroespm.com.br/pdf/prov52.pdf> Acesso: 18 setembro de 2006.

SUSSI, Juliano Shiavo. et. al. Videoclipe, estética e linguagem: sua influência na

sociedade contemporânea. Revista NUCON - Ano 4, nº 12- Limeira/SP :De outubro à

dezembro de 2007.

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Anexos

Imagem 01 Lady Gaga – Bad Romance

Fonte: www.google.com.br/imagens

Imagem 02. Lady Gaga- Turnê Borns This way

Fonte: www.google.com.br/imagens

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Imagem 03 Beyoncé – Single Ladies

Fonte: www.google.com.br/imagens

Imagem 04 Gaby Amarantos

Fonte: www.google.com.br/imagens

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Imagem05 Keila Gentil (Gang do Eletro)

Fonte: www.google.com.br/imagens