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TRES FORQUILHAS
1949 – 1974
Elio Eugenio Müller
Lembrança do Jubileu de Prata. 25 anos de efetivo pastorado nativo, da IECLB,
no vale do Tres Forquilhas.
ITATI, município de Osório – RS, 1974.
Palavra ao Leitor.
Há quem me dissesse de que na IECLB é um desrespeito, o modo como procedi em 1974, ao festejar o “Jubileu de Prata” do trabalho dos pastores nativos que no “pós guerra” foram preparados às pressas e enviados à Comunidade de Três Forquilhas. Seria um desrespeito a quem? Seria um desrespeito aos valorosos pastores estrangeiros que, vindos particularmente da Alemanha, mas também da Suiça, dos Estados Unidos da América e de outros países europeus, vieram ao Brasil para dedicaram suas vidas em favor da Igreja, na pregação do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo e no serviço pastoral à Comunidade? Na verdade os colegas católicos de ministério, em particular Padre Rizzieri Frederico Delai e Padre Luiz Benini não mostraram nenhum constrangimento para enaltecer a preparação e envio dos chamados “padres nativos” para Torres, São Pedro de Alcântara e Maquiné e depois para Três Forquilhas e Terra de Areia.
Conforme o padre Delai: - “Os padres nativos foram providenciais para que a Igreja Católica Romana mantivesse o cuidado por um rebanho desassistido”. Espero assim que esta coletânia de fotos, fatos e relatos sobre o período de 1949 a 1974, dos 25 anos de pastores nativos na Comunidade de Três Forquilhas, sirva para observar este curto período de atuação e os resultados alcançados. Acredito que os colegas pastores que não nasceram no Brasil e ainda estão atuantes em nossa Pátria, não irão se sentir rejeitados ou diminuídos. Pelo contrário, o meu objetivo é apenas de afirmar que quem decide servir um povo de outra língua não se constranja para aprender tal língua e passar a utilizá-la em todas as oportunidades possíveis. Vai a minha gratidão aos pastores do passado que num passo de fé e deâcoragem vieram para as terras brasileiras, terra para eles estranha, para servir o nosso povo com a Boa Nova do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas vai também a minha homenagem aos pastores nativos, portanto nascidos no Brasil, que às vezes insuficientemente preparados, também, deram um passo de fé e de coragem, seguindo para uma área quase inóspita, para servir nosso Senhor Jesus Cristoe o seu rebanho.
Itati, município de Osório – RS, 7 de setembro de 1974. (Revisão: abril de 1999).
Elio Eugenio Müller [email protected]
FIGURA 01: Pastor Augusto Ernesto Kunert, 1º pastor brasileiro, portanto,
formado no Brasil, que assumiu em 1949 a Comunidade Evangélica de Três Forquilhas.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller
Que foi batizada pelo pastor Kunert no dia 19 de janeiro de 1950.
FIGURA 02: ADOLFO VOGES, o harmonista da igreja durante 40 anos, de 1912 até 1952. Com o falecimento de Adolfo Voges em 1952, o professor
Justino passou a preparar a sobrinha Luiza Antonieta Schmitt para assumir a
função. Na foto, Adolfo Voges e esposa Maria Luiza Justo. Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller,
neta de Adolfo e Maria Luiza Voges.
FIGURA 03: Professor Justino Alberto Tietböhl, baluarte do ensino, no trabalho em facor de música e canto em prol da Igreja, no vale, ladeado pela filha professora Elsa e
o sobrinho professor Laudelino Bobsin. Ele faleceu em 1952.
Figura 04: Luiza Antonieta Schmitt Blehm, ao lado do marido Albino. Em 1950 ela passou a ser preparada pelo mestre Justino Tietboehl para ser harmonista e regente de coral da igreja. Em 1952 faleceu mestre Justino e pastor Kunert chamou a Luiza
para que ela assumisse o serviço de harmonista e a regência do coral da igreja.
Fonte: Arquivo fotográdico de Doris Voges Bobsin Müller,prima de Luiza Antonieta.
Figura 05: Arthur Gottlieb Erling, jovem escolhido pelo pastor Kunert para receber preparação intensiva, juntamente com outros, visando proporcionar presbíteros bem preparados para o exercício da liderança na Comunidade. Tornou-se presidente da Diretoria da Comunidade, por diversos anos, no período do pastor Kunert.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 06: Eugenio Bobsin, jovem escolhido pelo pastor Kunert para
receber preparação intensiva, juntamente com outros, visando proporcionar presbíteros bem preparados para o exercício da liderança na Comunidade.Tornou-se presidente da Diretoria da Comunidade por dez anos, no período do pastor Fischer.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
FIGURA 07: Octavio Becker, moleiro, comerciante e agricultor, jovem escolhido pelo pastor Augusto Kunert para receber preparação intensiva, juntamente com outros, visando proporcionar presbíteros bem preparados para o exercício da liderança na Comunidade.
Foi incumbido, por longos anos, para ser o administrador financeiro do Hospital Três Forquilhas, de Itati já no período do pastor Kunert, nas precárias instalações instaladas na antiga casa comercial dos Becker e continuou nesta função no período do pastor Fischer.
Figura 08: José Osvaldo Brusch ao lado da esposa Elohy de Souza Neto Brusch, escolhido entre outros para ser preparado para a função de presbítero da Comunidade.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
FIGURA 09: Lidurino “Barroso” Menger e esposa Olinda Brehm Menger. Líder na Comunidade filial de Três Pinheiros.
Fonte: Arquivo fotográfico de Lidurino Menger.
FIGURAS 10 e 11: Celina Voges Bobsin com Doris no colo. Foto do dia 19 de janeiro de 1950, após o batismo da pequena Doris. Embaixo, Celina com Doris no colo, sobre a
ponte pencil, diante do Sítio da Figueira, tendo ao lado a prima Maria Antonia Tietböhl Martins.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 12: Pastor Oscar Hennig, de 1957 a 1959. Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 13: Pastor Ernesto Fischer, 1959 a 1969.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
FIGURA 14: Dona Hanna Dummer Fischer, professora da Escola Evangélica José de Alencar e que assumiu as funções de harmonista e regente do coral da igreja, de 1959 a 1969. Atrás de Dona Joana, se vê
Celina Voges Bobsin, presidente da OASE.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 15: Celina Voges Bobsin, eleita em 1959 para presidir o grupo da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas – OASE, criada na ocasião.
Na foto Celina de braço dado com seu marido Emilio Bobsin. Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 16: Café de Advento da OASE em 1969. A presidente Celina está de luto em virtude do falecimento de sua mãe. Ela mesma viria a falecer poucos dias após.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
FIGURA 17: Formatura da Escola Evangélica José de Alencar, no pátio da igreja, vendo-se o professor Neri Knack à esquerda.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
FIGURA 18: Inauguração do prédio Hospitalar, em 1963.
Figura 19: Nova Igreja inaugurada em 1967.
Figura 20: Festa da Colheita em 1967 no novo templo. Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 21: P. Elio Eugenio Müller ao lado da esposa, professora Doris Bobsin Müller. Supriu este pastorado de 1970 a 1975.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 22: A antiga casa pastoral construída em 1892. O autor foi o último pastor que nela residiu.
Figura 23: Nova e atual casa pastoral. O autor foi o primeiro pastor a residir nela, quando casou com Doris, em 19 de dezembro de 1970.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 24: José Adelino Kellermann eleito presidente da Comunidade em 01/01/1970, no dia em que também pastor Elio Müller oficialmente assumiu a Comunidade, como
pastor.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
FIGURA 25: Carlos Augusto Müller no colo da mãe Doris, no dia do batismo. Os padrinhos foram Olício e Olívia Bobsin, Frida Kellermann e Frederico Walter
Trein Lothammer. Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 26: Juventude Evangélica, em 1970, ao centro o pastor Elio, na esquerda professora Nelene Gross e na direita Walter Bobsin.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 27: O sineiro Arthur Kellermann ao lado da esposa. O ofício do sineiro mostra que o saber tocar sinos está na habilidade e na memória dos
sineiros. Existem diferentes toque para anunciar um falecimento, para dobrar pelo momento de um enterro, para anunciar a entrada dos noivos no templo, para chamar ao culto e tantas
outras situações.
Figura 28: Luiza Antonieta Schmitt Blehm foi chamada, depois dos 10 anos da presença de Dona Hanna, para voltar a dirigir o coral e ser a harmonista oficial da Comunidade. Luiza chorou de emoção, ao ser convidada, dizendo lembrar com gratidão das aulas recebidas do seu tio Mestre Justino Tietböhl.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 29: Nestor Becker eleito Presidente da Comunidade em 1974. Ele já exercia o cargo de Subprefeito de Itati desde 1968.
Fonte: Arquivo fotográfico da professora Mária Vanês Becker Tössner.
Figuras 30 e 31: A passagem do cavalo para um fusca no trabalho pastoral. Tornei-me, assim, no primeiro pastor de Três Forquilhas
a contar com um carro.
Figura 32: O mastro da Festa da Colheita, em Itati, 1971.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 33: Meus primeiros confirmandos em Itati.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 34: O altar preparado para o Culto de Confirmação.
Fonte: Arquivo fotográfico de Doris Voges Bobsin Müller.
Figura 35: Recem casados em 1970, na nova casa pastoral
Figura 36: A Doris, grávida de Carlos Augusto, no final de 1972.
Figura 37: Carlos Augusto Müller, 22/04/1972; Cristiane Müller, 27/12/1973;
Figura 38: A professora Alba Ilonda Hübner, Diretora da Escola Estadual Pastor Voges, em Itati.
Ela tornou-se depois madrasta de Doris por contrair matrimônio com
Emílio Bobsin;
Figura 39: Encontro da OASE, em 1974, com a orientadora Doris no centro.
Figura 40: Escola Dominical – Culto Infantil wm Itati,
Figura 41: Confirmandos diante da igreja, em Itati.
Figura 42: Legião de Homens, da Comunidade, diante do templo.
A capa do nosso projeto para erigir o Monumento ao Imigrante, em 1974. A Prefeitura Municipal de Osório assumiu a execução do projeto e o monumento foi inaugurado ainda em 1974 dentro dos festejos pelo Sesquicentenário da Imigração
Alemã no Rio Grande do Sul.
O monumento foi depois reinaugurado pelo sucessor no pastorado, em 1976.
FIGURAS 44 e 45: Hasteamento das bandeiras do Brasil, RGS, Alemanha e Japão.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
FIGURA 46: O assistente rural Walter Lothammer ao lado do autor, em 1973, diante da área de experimentação com alunos da Escola Pastor Voges no cultivo de moranguinho.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
FIGURA 47: A Professora Doris Voges Bobsin e, a 1ª turma de Jardim de Infância, em Itati, que iniciou nos primeiros dias de agosto de 1970.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor.
FIGURA 48: Palestra para a Colônia Japonesa. Na foto, na direita Elio Müller, no centro seu sogro Emilio Bobsin e na esquerda o chefe da JAMIC.
Fonte: Arquivo fotográfico da Colônia Japonesa de Itati.
Figura 49: Japoneses como membros da Comunidade.
FIGURA 50: Japoneses batizados em 02.02.1974.
Fonte: Arquivo fotográfico de Masaharu Aso.
Figura 51: O PADICAMI – Plano de Ação Diaconal Catequético Missionário da
IECLB, depois chamado apenas de Plano de Educação – 70.
Foram estabelecidas seis segmentos para receberem atenção: AS CRIANÇAS – Com atenção para a escola dominical, ensino confirmatório e a
educação nas escolas públicas locais. OS JOVENS, no grupo da juventude evangélica e em cursos profissionalizantes. AS SENHORAS – No grupo da OASE e nas atividades gerais da Comunidade. OS HOMENS – Na Legião Evangélica, vinculados à LE de Porto Alegre. OS DEFICIENTES – incluindo os analfabetos, além dos deficientes físicos. OS VELHOS – Visando a formação de grupos voltados à tradição oral da
memória da comunidade. Surgiram os Círculos de Estudo da História de Três Forquilhas.
A busca por professores especializados
para a vinda a Itati.
Figura 52: Professora Doris Voges Bobsin e, pelo casamento, Müller, natural de Itati, veio formada em nível Colegial ( 2º grau) pela Fundação
Evangélica de Hamburgo Velho. Inicialmente, em 1970, foi possível um contrato com a Prefeitura Municipal de Osório e em convênio com a mesma criamos o primeiro Jardim de Infância de Itati.
O passo seguinte foi o concurso público e Doris assumiu o magistério na Escola Rural Pastor Voges, de Itati, como professora nomeada.
Figura 53: Professora CENIRA BECKER, filha de Octavio e Alda Becker, de Itati,
formada em Magistério nível Colegial em Canela – RS prestou concurso e assumiu o magistério estadual. Além disso foi secretária de educação na Sub-Prefeitura de Itati e
coordenadora do ensino religioso nas escolas..
Figura 54: Professor DARIO HOLZ, natural de Pelotas formado em Magistério,
apenas em nível ginasial em Ivoti – RS, veio inicialmente para servor a Vila Lothammer – Torres – RS, mas depois foi trazido para Itati.
Figura 55: O Professor GUIDO NELSON WEISS, natural de Santa Cruz do Sul – RS, formado em Magistério apenas em nível ginasial, em Ivoti – RS foi trazido pelo autor com a intenção de se recriar a Banda de Música do Vale do Três Forquilhas. O autor não conseguiu angariar os recursos necessários para a compra de instrumentos musicais e, por isto, o professor Guido ficou apenas direcionado para a atuação como professor público e em atividades voluntárias na Comunidade. O professor Guido jamais se conformpu com o nosso fracasso, de não termos conseguido adquirir os instrumentos para formar a desejada Banda de Música do Vale. Ele acusava, dizendo: - “Vim a Itati iludido com uma falsa promessa”.
Figura 56: Fábrica de Conservas Brehm, surgiu em 1970. Darci Brehm e irmãos foram od pioneiros na Indústria de Conservas no
vale do Três Forquilhas. Na foto: Enildo dos Santos Brehm atual diretor da tradicional fábrica.
Figura 57: Indústria Alimentícia de Terra de Areia – INALTA, foi a segunda fábrica a funcionar no vale. Lamentavelmente foi vendida para a empresa
GLITZ que, em seguida, a fechou.
Figura 58: Lembrando 1949 – 1974 – pela comemoração dos 25 anos do efetivo
trabalho do Pastorado Nativo da IECLB, no vale do rio Três Forquilhas, através da
atuação de pastores brasileiros. Todo o respeito aos pastores alemães do passado,
porém com a certeza que a formação de jovens nativos bem deveria ter ocorrido
muitos anos antes.
Na foto: P. Augusto Ernesto Kunert que assumiu em 1949, P. Oscar Hennig assumiu
em 1956, P. Ernesto Fischer em 1959 e P. Elio Eugenio Müller de 1969 a 1975.
CONHECENDO A COLÔNIA
DE TRÊS FORQUILHAS.
Quem não gosta de rezar ou dançar, não apareça aqui”.
No dia 17 de dezembro de 1969 pisei, pela primeira vez, na localidade
de Itati. Era uma Vila, que corria ao longo de uma estrada, margeando o rio
Três Forquilhas, a 12 quilômetros da BR-101.
Itati era, na época, o terceiro distrito do município de Osório – RS. Um
lugarejo considerado de difícil acesso, pelas autoridades governamentais. Os
professores estaduais recebiam um abono especial para se disporem a
lecionar na localidade. Nem médicos e nem dentistas se sentiam atraídos pela
Vila.
Argumentavam que a sensação de solidão se instalava no ânimo da
pessoa, já por ocasião da chegada, particularmente para quem viesse solteiro
e sem família.
A vida social resumia-se na ida à igreja protestante, aos domingos, ou
eventuais “domingueiras” (tardes dançantes) que se realizavam em alguma
casa, escola ou salão e que podiam estender-se noite à dentro.
“Quem não gosta de rezar ou dançar, não apareça aqui”, (FHO nr.
11), disse-me um morador, nos primeiros dias após a minha chegada.
No verão as estradas eram bem poeirentas. No inverno, embarradas e
cheias de buracos.
Não houvera um planejamento urbanístico para a Vila. O fato irremediavelmente haveria de deixar grandes problemas para os administradores do futuro, para a criação de praças e a abertura de ruas.
“Quem bebe das águas do rio Três Forquilhas . . . “
Em 1969, quando da minha chegada, senti o forte isolamento de Itati.
Enfrentei grandes dificuldades de locomoção, nas andanças pela Colônia. Eu
não possuía carro.
Figura 59: Meu cavalo baio.
Dependia assim do lombo de um cavalo ou então das escassas linhas
de ônibus, só atuantes durante o dia. À noite eu me sentia ilhado, no meio de
uma profunda solidão. Este sentimento possivelmente era ampliado, pelo fato
de ser solteiro e passar a residir em uma enorme casa, de mais de 10
cômodos, além de um enorme sótão, geralmente visitado pelos gambás.
Existiam duas empresas de ônibus que asseguravam a ligação de Itati
com o mundo de fora. Eram as Empresas UNESUL e ANDORINHA.
A UNESUL mantinha duas linhas: Itati a Porto Alegre, com o motorista
Albino Blehm e a linha Bananeira a Tramandaí (via Osório), com o motorista
Araci Tietboehl. A Empresa ANDORINHA oferecia a opção de Arroio Carvalho
até Osório e outra linha de Itati até Capão da Canoa.
Por um lado Itati se apresentara para mim como um local bastante isolado e parado. Mas logo conheci um outro aspecto da Colônia. O povo era acolhedor e que, de imediato, envolvia o visitante. Além disso, a exuberante paisagem verde, concedia-me uma grande paz, com a sensação de estar ao abrigo da “Mãe Natureza” e, assim, protegido por Deus
“Quem bebe das águas do rio Três Forquilhas, casa aqui e não vai
mais embora”, diziam os moradores. Eu já ouvira frase semelhante em outras
cidades, por onde já transitara. Em si não era novidade ouvir tal mensagem.
Entretanto, para mim, tornar-se-ia verdade. Casei em Itati com Doris Voges
Bobsin, uma descendente do quase lendário pastor Voges.
Figura 60: Na foto Doris Voges Bobsin Müller.
Eu ficaria ligado a essa Colônia como jamais pudera imaginar. Assim
parece que, por mais terras que eu percorra, sempre de novo volto para lá.
Fico cantando em prosa e em versos, as belezas dessa terra e de sua
rica história. Certamente é por isto que passei a escrever meus livros, todos
eles falando da história de Itati e do vale do rio Três Forquilhas.
Como se estivesse num
templo, a céu aberto...
Nas primeiras semanas após a minha
chegada ao vale do Rio Três Forquilhas, e no
período antes de meu casamento, quando eu
desejava encontrar inspiração para escrever,
fossem prédicas ou cartas, eu saía da antiga casa
pastoral, subia estrada acima, passando diante da
igreja, passava pela antiga casa de pastor Voges
(agora ocupada por seu bisneto Alberto Schmitt),
transpunha um “passo de rio” sobre o qual fora
jogado um trilho de trem (para servir de ponte para
os pedestres.
Depois, caminhava por mais uns trinta
metros e sentava sobre o gramado, à sombra de
um frondoso umbu. O que mais me inspirava não
era exatamente o lindo e forte verde do vale. Eu
ficara fascinado pelos morros circuncidantes, de um
vale espremido pelas fraldas da Serra.
Olhando para os morros eu tinha a sensação
de estar entrando em ligação direta com o Infinito e
com o Eterno. Aquela geografia parecia reproduzir
as linhas arquitetônicas de uma igreja gótica.
Sentia-me sentado em um templo a céu aberto,
coberto pela abóbada celeste e rodeado pelos
mistérios do mais distante e vasto universo. Sentia-
me envolvido espiritualmente pelo Criador e Eterno
e libertado de toda a opressão deste mundo
material.
Enquanto ali escrevia sem ser notado eu
escutava pessoas que passavam. Entendia que se
tratava de gente que vivia à sombra de tempos idos,
por demais isolados do mundo moderno, e que
invariavelmente falavam de uma grandeza perdida.
Elio E. Müller - 1970
Apaixonei-me por esta paisagem . . .
Figura 61: As terras que pertenciam ao pastor Voges.
Um pouco de história sobre a
Escola da Comunidade.
(Com base no livro OS PELEADORES, 6º volume da
Coleção Memórias da Figueira).
Em uma das visitas que fiz a Alberto Schmitt perguntei desejoso de saber: - “Como foi a Escola da Comunidade, na sua
infância, já que conheceu a mesma, já bem no final do tempo do pastor Voges?”.
Ele explicou: - “Realmente, eu comecei a ser alfabetizado quando o meu bisavô pastor Voges ainda era vivo, mas já estava com
quase noventa e dois anos de idade. Pouco ainda existia da escola que ele um dia organizara e desenvolvera nos bons tempos de sua
atividade pastoral. Quando comecei a frequentar a escola já haviam começado os tempos difíceis da revolução federalista. Mas a escola
do pastor ainda funcionava no sobrado, no piso superior, onde existiam bancos escolares, a mesinha do professor, mapas na parede
e livros escolares. Eu gostava de subir até ali só para olhar os mapas e tentar entendê-los. Você sabe o que significava a oportunidade de
poder olhar um mapa do Rio Grande do Sul ou do Brasil para ali procurar o nosso litoral e ver as lagoas e os rios desenhados, com os
nomes deles marcados?”.
Alberto observou por instantes a minha reação e depois,
satisfeito em ver o meu integral interesse, continuou: - “Todas as escolas da Colônia haviam estagnado, sem atividade pela falta de
professores e pela falta de uma segurança pública que era bastante instável. É preciso explicar que a maioria dos professores foram
perseguidos por serem liberais indicados pelo meu avô major Voges. Um exemplo para isso foi o caso do nosso professor Serafim
Agostinho do Nascimento que era o nosso professor de língua nacional e que havia alfabetizado tantos alunos na nossa escola da
comunidade, que ele até já perdera a conta. Eu felizmente ainda recebi a possibilidade de ser alfabetizado pelo professor Serafim e
isto fez depois toda a diferença para a continuação dos meus estudos, quando fui para a Capital da nossa Província”.
Fiz alguns apontamentos e Alberto ficou me observando por um
instante e depois continuou: - “Quando o pastor Geisler chegou,
pretendeu assumir aulas na escola para oferecer também a possibilidade de uma alfabetização na língua alemã. Tive, talvez dois
meses de aulas com ele, mas o pastor cancelava muitas dessas aulas e nós esquecíamos a sequência das lições. O número de alunos foi
caindo muito e no final éramos menos de dez. Ficamos muito tristes quando um dia o pastor Geisler avisou que teria que viajar por algum
tempo para cuidar da saúde da mulher dele. Ela estava muito
atemorizada com as mortes em nossa Colônia, trazidas pela câimbra de sangue – a rote Ruhr”.
Pedi licença e solicitei mais explicações sobre essa tal de câimbra de sangue e ele explicou: - “Era uma epidemia que
apresentava todos os sintomas da cólera, conforme descobri mais tarde”...
Alberto só falou isso a respeito da epidemia e continuou com o
assunto da sua escolarização, dizendo: - “Em 1894 não tivemos um dia de aula, pois o sobrado do pastor ficou em estado de quarentena
por causa da morte de minha bisavó Elisabetha e mais de Mãe Maria. Quando vinham tropas republicanas ou federalistas pediam para
ocupar o sobrado e meu avô major Voges permitia, dizendo: < Eles vão ajudar a desinfetar a casa e que levem embora, com eles, essa
câimbra de sangue... >“.
Alberto sorriu, como para revelar que estava exagerando no
conto e que aumentara alguns pontos. Depois continuou: - “Quando chegou da Alemanha o novo pastor Gottfried Schlegtendal ele
resolveu transferir a escola para a casa dele, alegando que era mais prático. Ele dispensou o professor Serafim que, mesmo aposentado
desejava oferecer a possibilidade de alfabetizar crianças na nossa língua nacional. Nunca esquecerei o dia em que o meu pai e o novo
pastor discutiram aqui diante da porta do sobrado, pois que aqui também era nossa morada e cartório. O meu pai insistiu que era
importante contratar um professor de língua nacional, para possibilitar aos filhos dos colonos, mais adiante pudessem enviar os
filhos para continuar os estudos. Depois eu soube que meu pai e o pastor não discutiram apenas uma vez, mas diversas vezes. O novo
pastor teimava e dizia que na escola da comunidade haveria apenas ensino na língua alemã e seria denominada de Escola Alemã, da
Comunidade, pois que escola de língua nacional deveria ser oferecida
pelo Governo e não pela Igreja. Essa decisão do pastor não foi boa para nós... Esses tempos do pastor Schlegtendal depois pesaram
sobre nós, pela falta do domínio da língua nacional, por parte das crianças que ingressavam na vida escolar.”
Esse assunto despertou o meu total interesse, pois que eu
estava com a atenção voltada para a situação atual, de 1970, desejoso de movimentar a Comunidade em favor da ampliação da
atividade educacional em nossa localidade.
Considerei que era pouco o que se oferecia para alunos e professores e que muita coisa poderia ser melhorada e aperfeiçoada
no vale do rio Três Forquilhas.
O Plano de Educação 70
Saindo da residência do Sr. Alberto Schmitt eu me senti
altamente motivado para priorizar as ações pastorais, e colocar a
educação como a opção preferencial, diante dos inúmeros projetos que eu havia elaborado por sugestão dos militares da Operação
ACISO, que estivera durante quase duas semanas em Itati.
Busquei os depoimentos de Eugenio Bobsin, Arthur Gottlieb Erling, José Osvaldo Brusch e Octavio Becker para saber algo mais
sobre a atividade escolar desenvolvida pelos meus antecessores, os pastores brasileiros Augusto Ernesto Kunert, Oscar Hennig e Ernesto
Fischer. As histórias que consegui coletar foram muito interessantes.
Constam em meu registro os relatos a respeito do tempo do pastor Augusto Ernesto Kunert – 1948 - 1954, um líder que veio para
uma comunidade quase desintegrada pelos efeitos da II Guerra Mundial e de quase seis anos de vacância pastoral.
O pastor Kunert lançara o programa DESPERTAR VOCAÇÕES, depois mantido pelos pastores Hennig, Fischer e por mim.
Conforme esse programa, até bem simples, a comunidade toda
era convidada a participar em um empenho coletivo para localizar e despertar vocações em particular de jovens para serem enviados a
Escolas Normais da Igreja de São Leopoldo e Novo Hamburgo, para uma formação e qualificação no exercício do magistério.
A primeira pessoa a atender ao apelo da campanha de vocações
encetada pelo pastor Kunert, foi alguém do sexo feminino. As jovens Noely Becker e Nilza Huyer responderam ao apelo e foram enviadas a
São Leopoldo para cursar a Escola Normal Evangélica, mantida pelo Sínodo Riograndense.
Essas duas jovens depois de formadas retornaram ao vale e receberam vaga na Escola Evangélica José de Alencar que passou a
funcionar no salão comunitário em Itati. Mais tarde o pastor Kunert diria: - “A Noely Becker e a Nilza Huyer são as meninas dos meus
olhos e representam a primeira conquista em nosso programa do Despertar Vocações”.
Pastor Fischer, após 1960, concedeu um novo impulso para
este programa de vocações para o magistério e diversos jovens saíram para São Leopoldo e Novo Hamburgo. Para a Fundação
Evangélica seguiram Doris Voges Bobsin e Neli Brusch Erling. Para o Colégio Sinodal em São Leopoldo foram Luis Carlos Voges Bobsin,
Carlos Jacó Bobsin, Odilon Becker Bobsin e Lizete Maria Voges Bobsin.
Outros jovens seguiram para continuar os estudos, mas que
escolheram caminhos menos onerosos. São mencionados Lucia Maria Schmitt, filha do escrivão Alberto Schmitt, o Pedro Osmar Schütt, a
Maria Zeni Voges de Oliveira, a Nerene Brusch Erling, a Marina
Brusch e a Nelene Gross.
Para a Base Aérea de Canoas seguiram os filhos de Dona China
Bobsin, que era vizinha da casa pastoral. Foram os jovens Oscar e
Edgar Bobsin que foram para seguir a carreira militar.
Nos depoimentos coletados é muito interessante o que o Sr.
José Osvaldo Brusch dizia com orgulho: - “Eu ajudei a alfabetizar as
minhas filhas Marina e Maria Regina. A Marina34 teve que ir fazer o
ginásio em Osório no Colégio Conceição. Depois fez Escola Normal,
também em Osório e veio lecionar em nossa Escola da Comunidade.
Já a Regina35, depois de também fazer o primário em Itati, fez um
ano no Ginásio Conceição em Osório, três anos no Ginásio Evangélico
Alberto Torres em Lajeado, depois a Escola Normal La Salle em
Osório. Ela fez estágio na Feitoria Velha, pelo Colégio São José de
São Leopoldo. Isso mesmo, ela deu aula lá naquele prédio histórico
onde os nossos antepassados foram acolhidos, no tempo da
imigração desde 1824. Paralelamente a Regina começou a cursar
Letras, na Faculdade de Ciências e Letras de São Leopoldo.
FIGURA 62: Na residência de Osvaldo e Elohy Brusch.
Maria Regina na espreguiçadeira, a direita Doris, de preto, a esquerda
a professora Nelene Gross, e na cadeira ao centro Eva Maria Bobsin.
Na porta da residência Dona Lóia Brusch, dona da casa.
O Sr. Arthur Gotlieb Erling sempre insistia em recordar das
enormes dificuldades financeiras que eram enfrentadas por colonos
que desejavam proporcionar aos filhos a possibilidade de viajar e
continuar os estudos fora de Itati. Ele lembrou: - “O meu filho Nilon36
trabalhava no hotel do Osvaldo e da Lóia Brusch, ali na praia de Bom
Jesus para ganhar seu dinheirinho. Certo dia lá se hospedou um
militar da Base Aérea de Canoas, que perguntou: < Meu caro jovem,
você não gostaria de servir na nossa Base Aérea? >. Para o Nilon
pareceu ser um sonho, mas que se concretizou. Quando já trabalhava
na Base Aérea decidiu que não podia se contentar apenas com isso.
Desejava ter um curso de nível superior Fez então o vestibular para
Medicina em Pelotas, passou e frequentou essa faculdade com grande
sacrifício, porque tinha de fazer trocas de plantões da base e inclusive
remunerar eventuais trocas”.
O Sr. Erling continuou explicando: - “O meu outro filho, o Nei37,
incentivado pelo irmão Nilon foi para Canoas para a conclusão do
curso secundário. Lá ele foi selecionado e conseguiu fazer o Curso
Superior de Cartografia”.
O Sr. Octavio Becker comentou: - “E eu consegui enviar a minha filha Cenira para a cidade serrana de Canela onde ela teve a
possibilidade de ficar hospedada na casa do meu irmão. Ali ela realizou seus estudos numa Escola Normal e, agora em 1969,
formou-se para o magistério”.
Deste modo descobri que existiam professoras que haviam se
formado nesse final de 1969 e que deveriam ser trazidas, de volta, para o vale do rio Três Forquilhas.
Eram as professoras Doris e Cenira e que passaram a receber
uma motivação e apoio permanente da Comunidade, para serem contempladas com uma vaga em Itati, para o exercício do magistério.
Em outro momento esse assunto voltará à baila para maiores detalhes sobre esse trabalho de apoio para professores recém
formados.
Escola Nacional na Figueira
Retornando aos acontecimentos de 1895, conforme Alberto
Schmitt, as discussões acaloradas com o pastor Schlegtendal, não
foram apenas com Christovam Schmitt. O chefe castilhista da Colônia Carlos Frederico Voges também tinha filhos em idade de alfabetização
e insistia que a Escola da Comunidade se mantivesse bilíngue.
Entretanto não havia argumento que convencesse o novo pastor, a
dar espaço para a língua nacional, sempre insistindo: < O sagrado dever de todo o evangélico é de zelar pela língua alemã, pois disto é
que depende o futuro da nossa Igreja em terras brasileiras >.
Carlos Frederico Voges negociou um espaço ocioso no Armazém
da tia dele, que distava a duzentos metros do Sítio da Figueira. A viúva Elisabetha König Voges diminuiria consideravelmente as
atividades comerciais de modos que o salão dos fundos estava sem ocupação prática. Em 1895 ela cedeu aquele espaço para a instalação
de uma sala de aula para a Escola Nacional para ali serem alfabetizadas crianças que tencionassem continuar os estudos fora da
Colônia.
Em 1899 Carlos Voges adquiriu toda a propriedade comercial da tia e transformou a casa principal em escola de língua nacional.
Enquanto isso a Escola da Comunidade permaneceu atrofiada,
na condição de Escola Alemã com um ensino para dois anos. O
primeiro ano era dedicado à alfabetização na língua alemã. O segundo ano era dedicado para noções de aritmética e
conhecimentos gerais da cultura alemã. Havia ainda um terceiro ano voltado exclusivamente para o ensino confirmatório ou ensino da
doutrina luterana.
Esta situação se manteve durante todo o período do chamado tempo dos pastores alemães de 1895 até 1943, quando, durante a II
Guerra Mundial o pastor Schreiner foi preso e conduzido para Novo Hamburgo. Durante esse longo período a Escola Alemã de Três
Forquilhas ajudou a isolar uma grande camada da população evangélica desta antiga Colônia Alemã, particularmente as famílias de
colonos mais humildes que não tinham recursos para oferecer uma continuação nos estudos para os filhos. Vieram gerações de pessoas
isoladas, vivendo em seus guetos de língua e cultura, bastante
alienadas e divorciadas de uma participação mais efetiva na vida social e política da localidade e da região. Pessoalmente nunca
consegui me afinar com a corrente germanista38, às vezes exacerbada, que dominou a Igreja à qual pertenço e sirvo.
A Guerra foi o sinal definitivo, quando as Escolas Alemãs foram
proibidas de funcionar, em todo o território brasileiro, a Igreja havia tomado a carruagem errada, pois de repente a língua alemã foi
proibida e muitas famílias passaram dificuldades desnecessárias, pelo simples fato de não terem recebido as noções mais elementares da
língua nacional. Estiveram certas as lideranças que desejavam um ensino bilíngue na escola mantida pela Igreja.
Com a prisão do idoso pastor Gustav Schreiner, já alquebrado,
doente, quase sem condições de andar a cavalo, foi que a Comunidade ainda teve que amargar diversos anos de vacância
pastoral
Com a vinda do primeiro pastor brasileiro para a Comunidade
Evangélica de Três Forquilhas surgiram as medidas necessárias para situar o ensino escolar dentro das exigências governamentais.
O pastor Augusto Ernesto Kunert, como medida imediata, criou
a Escola Evangélica José de Alencar, sucessora da Escola de Voges e da Escola Alemã. As aulas passaram a ser integralmente na língua
nacional. Pastor Kunert lançou então o programa Despertar Vocações com o objetivo prioritário de formar filhos desta localidade, para
assumirem o magistério em escolas mantidas pelo Sínodo Riograndense.
Pastor Fischer, a partir de 1960 procurou reativar esse
programa, mas constatou que a maioria das famílias sofria de
dificuldades financeiras e, a princípio, enviaram os filhos para Osório, onde havia uma Escola Normal. Apenas o presidente da Comunidade,
Arthur Gottlieb Erling e o industrialista Emilio Bobsin39 corresponderam ao apelo e enviaram filhas para a Fundação
Evangélica de Hamburgo Velho.
Doris Voges Bobsin foi, em 1961, aos oito anos de idade, para realizar o então chamado ensino ginasial, para somente depois poder
ingressar no Colégio Normal, no nível secundário. Ela permaneceu durante oito anos fora de casa, confinada no internato da Fundação
Evangélica, em Hamburgo Velho.
Doris concluiu o curso como professora do nível de 2º grau, em 1969, quando sua mãe veio a falecer. Talvez este fato a motivou a
permanecer em Itati, pois ficara o irmãozinho dela, de apenas quatro
anos de idade, agora órfão de mãe e decidiu tomar o encargo desse cuidado por ser madrinha de batismo do pequenino. Parecia até que a
mãe previra algum problema ao escolher a filha para ser madrinha desse caçula.
O pupilo dos meus olhos
Entre 1970 a 1975 me foi dada a satisfação de localizar diversos jovens que responderam ao programa de Despertar
Vocações, que eu havia reativado imediatamente após a minha chegada em Itati, considerando isso como medida de suma
importância para a Comunidade.
A primeira vocação foi do jovem Oneide Bobsin40 que estava se
formando no Curso Ginasial de Osório. Sem querer plagiar o pastor Kunert, que chamou Noely Becker e Nilza Huyer de meninas dos
olhos dele, eu escrevi: < Oneide é o pupilo41, iris ou o preto dos
meus olhos que veio coroar o reinício desse fecundo trabalho de despertar vocações na Comunidade de Itati >.
Oneide Bobsin foi o primeiro, depois do ano de 1970, que
decidiu seguir os estudos em uma escola eclesiástica, para receber uma aprimorada formação em um educandário do mais alto nível
para se tornar um obreiro cristão e luterano.
Oneide foi em seguida para a Faculdade de Teologia da IECLB.
Depois dele muitos jovens desejaram seguir-lhe os passos e continuar os estudos.
Puderam ainda ser enviados para escolas da IECLB os jovens:
Carlos Henrique Mauer, Gilson Dahl, Eneu Voges e Genésio Bobsin.
FIGURA 63 e 64: Jovens da Comunidade do vale do Três Forquilhas, prontos para a apresentação do Presépio ao Vivo. O jovem Oneide fez
o papel do carpinteiro José. À direita: Oneide, em detalhe de zoom. Essa Cantata de Natal foi ensaiada pela professora Doris Voges Bobsin.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor, 1972.
Mais adiante seguiram Gilmar Nascimento e sua irmã Zaida e primas, descendentes do dedicado professor Serafim Agostinho do Nascimento.
Seguiu também um jovem católico, o José Carlos
Torres42 apresentou-se desejoso de seguir os passos de Oneide Bobsin.
Porém a Escola Normal Evangélica de Ivoti exigiu que,
para ser matriculado na Escola Normal Evangélica de Ivoti, o jovem teria que tornar-se luterano, pois que o educandário era de cunho confessional, voltado para a preparação de obreiros eclesiásticos.
Lançando o PADICAMI
Às vezes alguém inventa uma sigla que não pega. Isso aconteceu comigo em 1970, no vale do rio Três Forquilhas quando
lancei a idéia do PADICAMI.
Isto ocorreu durante um encontro de planejamento, realizado na casa pastoral.
Desde estudante sempre gastei tempo com planos, projetos e
criação de uma respectiva sigla que melhor pudesse identificar o propósito.
O PADICAMI nada mais era do que simplesmente: Plano de Ação Diaconal Catequético Missionário. Um plano que visava
implementar, maior amplitude e consistência para o Projeto de Educação 70.
Os líderes reunidos simplesmente não se animaram para
repetirem o nome da sigla, e passaram a falar somente em Projeto de Educação 70, como um termo certamente bem mais agradável para
os ouvidos deles, e, que definia muito bem o que estava em jogo.
Já que a nossa opção prioritária havia sido pela educação, o que importava mesmo era de, também, priorizar ações neste sentido.
A etapa inicial foi de uma tomada de conhecimento da situação.
Para tanto foram reunidos diversos professores com destaque para
Pedro Osmar Schütt e, algumas lideranças antigas da comunidade tais como Eugenio Bobsin, Arthur Gottlieb Erling, José Osvaldo Brusch
e Octavio Becker.
Um Dom Quixote maluco.
Semanas mais tarde, voltei, para continuar a conversa com
meu vizinho Alberto Schmitt, a Fonte da História Oral – FHO - mais
preciosa do lugar e que eu jamais pensara existir.
Alberto começou a conversa pedindo explicações sobre rumores que ele ouvira a respeito da linha de ação do Projeto de Educação 70,
que eu começara a desenvolver na localidade, visando envolver e levar a população à participação.
- “Porque esse alvoroço de alguma gente com o teu serviço
pastoral?”. Quis saber Alberto.
Questionei logo: - “Não entendi que alvoroço seria esse! O senhor poderia explicar melhor o assunto?”.
Alberto continuou: - “Tem pessoas, entre elas até o meu
vizinho Octavio Becker, que alegam que o pastor é um Dom Quixote maluco, Ele falou que agora o pastor pensa em promover entre os
nossos agricultores, o uso da pá de cami. Que ferramenta é essa?
Pensei um pouco e tive então um lampejo de luz, recordando de recente reunião onde eu lançara a sigla PADICAMI, para a
execução do Projeto de Educação 70.
Expliquei que de fato eu abraçara, com paixão, esse ideal
diaconal catequético e missionário, ou que seja apenas de visionário.
Perguntei então: - “Será loucura, ou quixotismo, viver por um ideal? Será quixotismo, servir os pobres e os mais fracos? Ou seria
maluquice, lutar com os gigantes e convertê-los em moinhos de vento? Creio que todos juntos podemos e devemos lutar,
apaixonadamente sim, por um mundo novo, mais humano e mais fraterno?”. - Mostrei uma fotografia que eu tirara lá no fundo do
Morro do Chapéu, numa localidade na época pertencente ao município de Torres – RS. Na foto aparecia um homem pobre,
analfabeto e descalço, com o corpo coberto com trapos de roupa, posando para a minha máquina, com sua família e uma carrocinha,
puxada por cabras. Expliquei: - “Casualmente tenho aqui em minha pasta esta fotografia que tirei do Tonho das Cabras, há poucos dias.
Se esse Tonho Das Cabras, do Morro do Chapéu, no vale do Rio Três
Forquilhas, tem a coragem de atrelar cabras numa minúscula carreta e tem a coragem de sair com a família para buscar pasto na lavoura
ou ir fazer compras no boteco, por que haveria eu de ter vergonha de ser visto como algum Quixote, pelo fato de lutar com o que parece
impossível de ser modificado na nossa sociedade desumana e egoísta?”.
FIGURA 65: Tonho das Cabras do Morro do Chapéu.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor, 1970.
Fiz uma pequena pausa e continuei: - “Posso lhe citar mais
alguns fatos bem concretos, por exemplo, que quase 90% dos membros, nas filiais, no vale do rio Três Forquilhas comparecem aos
cultos calçando chinelos de dedo e tenho verificado alguns chegando sem calçado algum nos pés. Já constatei que muitos adultos não
sabem ler e nem escrever. Li também textos escritos que o pastor Kunert deixou para os sucessores dele, onde ele lastima a
precariedade da vida de muita gente, como que esquecidos pelas nossas autoridades, vivendo ou vegetando em meio a esses morros
do vale do rio Três Forquilhas. Foi por isto que eu propus uma
intervenção bem prática e vigorosa, nesta realidade. Foi nessa idéia que propus o PADICAMI e, conforme constato parece que virou
jacota, pois acredito que todos os presentes entenderam que eu estava colocando uma sigla, pois logo expliquei que se tratava de um
Plano de Ação Diaconal Catequético Missionário ou então, de modo mais simples, o Plano de Educação 70”.
Alberto riu e ele não era muito de rir. Porém ele achou graça
que a tal pá de cami, era uma simples sigla. Ele revelou grande interesse no assunto e confirmou que era da mesma opinião, de que
algo deveria e poderia ser feito para mudar tal realidade em que
tanta gente sofrida do vale do rio Três Forquilhas vivia.
O ex-escrivão pegou mais uma vez a fotografia do Tonho das Cabras e comentou: - “Estou perplexo com esta fotografia do Tonho
das Cabras e família. Nunca imaginei que pudesse existir tal coisa em nosso lugar. Qual é mesmo o plano que você arquitetou para
enfrentar isso? O que você espera que a Comunidade assuma?”, quis saber Alberto.
Expliquei então: - “Um Plano de Ação só pode ser executado
quando todos aceitam a idéia e se dispõe a unir forças para a realização do projeto. Eu já expliquei para as lideranças reunidas de
que precisamos, em primeiro lugar, descobrir quais são as possibilidades, a capacidade, os limites e as oportunidades das
lideranças locais, para uma participação neste plano de promover
essa transformação sócio-econômica e cultural no Vale do Rio Três Forquilhas. Estou pensando, se os Presbíteros concordarem, em
organizar uma Associação para o Desenvolvimento de Itati – ADITA. Eis outra sigla para aqueles que não gostam delas...”.
Alberto Schmitt sorriu outra vez, mostrando que ele se divertia
um pouco com esse meu gosto em criar siglas.
Continuei explicando: - “A ADITA seria um bom instrumento para mobilizarmos todas as forças vivas que temos aqui na Colônia.
Mostrei a idéia para o Prefeito Coronel Azambuja e ele me deu a maior força e prometeu que estaria nos concedendo assessoria de
técnicos da Secretaria da Agricultura, caso necessitássemos de algum tipo de apoio. Ele citou o nome do engenheiro agrônomo Dr. Wilson
Castro, dizendo que se trata de uma pessoa de mais alta qualificação
e que já vem apoiando o distrito de Terra de Areia. O prefeito contou que o Dr. Wilson Castro, juntamente com Quirino Guazzelli,
introduziram o cultivo do abacaxi naquela localidade e, que é exatamente esse tal de Quirino quem levou as primeiras mudas de
abacaxi para Terra de Areia e, lá as plantou...”.
Alberto Schmitt mexeu com a cabeça afirmativamente e logo falou: - “Esse Dr. Wilson Castro é muito competente e podes confiar
na orientação dele. Esse engenheiro tem feito um trabalho muito bom em favor de nosso povo de Osório. Quando ao Quirino Guazzelli eu
acredito que isso seja mesmo verdade, pois esse homem veio aqui em Itati, há uns dois anos atrás e promoveu o cultivo de cenoura.
Parecia que seria a solução para a situação precária em que se encontrava, e ainda se encontra, a nossa agricultura. E veja só que
no primeiro ano foi, tudo, muito bom de ver. A produção estava toda
bem amarrada para a venda e o lucro foi positivo. Mas no ano seguinte, muita gente que não se ligou ao projeto do cultivo de
cenoura foi comprar sementes por conta própria e de repente parecia
que aqui estávamos no Vale das Cenouras. Foi um drama para muitos agricultores, pois a produção em excesso não tinha colocação. Faltou
o contrato de uma venda amarrada, feita de antemão. Contaram-me que muita gente simplesmente passou o arado nas lavouras de
cenoura, pois não tinha para quem vender o produto... E, então culparam o Quirino Guazzelli quando na verdade o erro foi daqueles
que saíram, por conta própria, enchendo todas as lavouras com cenoura, sem estar incluídos em contrato de venda da produção”
Naquele dia, antes de voltar para casa, ainda falei para o Sr.
Alberto: - “Decidi conhecer cada pessoa pelo nome e, ainda, saber um pouco da história pessoal e coletiva deles. Eu preciso diagnosticar
a realidade social, na qual vive o povo desta localidade”.
Ele concordou, dizendo: - “Você é semelhante a um escrivão,
pois que eu, nestes meus trinta anos de atividade, passei a conhecer praticamente todas as pessoas que vivem em cada casa, neste nosso
distrito...”.
Contando com tal incentivo, do Sr. Alberto Schmitt, tomei ainda maior ânimo confiando que havia um caminho aberto que podia ser
restabelecido e atividades para serem colocadas em andamento.
Dias depois, por casualidade, encontrei-me, com o engenheiro agrônomo Wilson Castro, em Maquiné. Ele se dispôs a nos apoiar no
que fosse necessário. Os elos estavam começando a se unir e uma corrente estava se formando. Isso era muito gratificante, como
experiência num campo de trabalho recentemente assumido.
Procurei, também, o Sr. Quirino Guazzelli e fiquei encantado
com o tamanho do idealismo desse homem e da vontade dele, em ver a nossa região florescendo e se desenvolvendo. Tive a impressão
que ele desejava ver, logo, Terra de Areia emancipada, como um município e, ele como primeiro prefeito do mesmo.
Em Itati e Três Forquilhas despertou um interesse acentuado da
parte das principais lideranças, citando: Eugenio Bobsin, Arthur Gottlieb Erling, Olício Bobsin, Nestor Becker, José Osvaldo Brusch,
Vital Bobsin, Balduino Mittmann, Lidurino Menger, Osvaldo Schmitt do Nascimento, Ady Brehm, Avelino Menger, Clarestina Justin Brehm,
entre outros, cujos nomes não me recordo.
Até o escrivão Alcides Marques da Silva, vendo que eu passava diante do Cartório, chamou-me e prontificou-se: - “Pastor, caso eu
puder ser útil, não me esqueça das reuniões que vocês vierem a
fazer. Eu posso servir de escriba, caso necessitarem de um secretário”.
Encontrei também uma análise que o meu antecessor pastor Ernesto Fischer escrevera a respeito da realidade em que se debatem
os nossos pequenos agricultores. E ele concluía o artigo: - “Assim como está não pode ficar!“.
Junto às Fontes da História Oral – FHO -, procurei, nas horas de
folga, fazer uma identificação do contexto sócio-histórico e cultural, em que eles vivem. Eu senti falta de uma maior compreensão das
relações institucionais existentes no vale do rio Três Forquilhas, das relações de grupo e das relações comunitárias. Eu desejava e até
precisava observar a situação da população, desde os primórdios da colonização, que vinha desde o ano de 1826. Só que isso seria um
trabalho que poderia levar muitos anos... E, eu tinha pressa, pois muito bem entendia que o tempo se vai e, se nada se faz agora,
certamente nada acontece!
Indústria de Conservas Brehm
Uma realidade animadora surgiu para o vale do rio Três
Forquilhas no dia 13 de agosto de 1970. Passando na Vila Brehm era possível ver um movimento diferente, acontecendo no terreno que se
situava atrás do armazém de Antonio Clarestino Brehm.
Havia um ajuntamento de pessoas mostrando que algum evento importante estava acontecendo. Chegando perto foi possível
ver o início de uma obra e o momento do lançamento da pedra fundamental de uma nova construção.
Darci Brehm, parado ao lado do irmão Helio, explicava aos presentes: - “Aqui lançamos agora o começo da nossa Indústria de
Doces e Conservas Três Forquilhas. O contrato social de formação da empresa foi assinado no dia 30 de junho. Se tudo correr conforme
esperamos, no máximo dentro de meio ano nós estaremos apresentando a primeira lata de conserva produzida aqui no vale,
para levar a marca Brehm e Três Forquilhas para todo o nosso grande Brasil”.
A família Brehm sonhava e sonhava grande e isso era um bom
sinal. Despedi-me deles desejando a benção de Deus para esta valiosa obra. E acentuei: - “Este é um momento propício para
rendermos ações de graças ao nosso Criador e Senhor, pelas coisas boas que ele nos concede”.
FIGURA 66: O jovem Enildo dos Santos Brehm. Diante do Armazém do seu pai Antonio Clarestino Brehm.
Fonte: Arquivo fotográfico do autor, 1972.
O sonho de podermos ver fábricas surgindo no vale estava se concretizando. Quando eu transmiti essa novidade do surgimento de
uma fábrica de conservas no vale, nas reuniões da igreja, foi notório como muitos não queriam crer nessa possibilidade da construção de
uma Indústria de Conservas.
Talvez tivesse sido a tradição de engenhos de cana, com a
produção artesanal de açúcar mascavo, que colocara viseiras em muita gente, fazendo-os pensar que a melhor alternativa seria uma
Usina Açucareira, para o vale. Um agricultor, estendendo o braço na direção da planície explicou: - “Imagine o nosso vale, se tornando um
verde mar de canaviais. Eu sonho, dia e noite, com isso!”.
Tal idéia fugia da verdadeira vocação de uma região como a do vale do rio Três Forquilhas, onde o verde mar de canaviais seria um
desastre para todos os pequenos agricultores, pois todos sabem que
cana-de-açúcar pede propriedades maiores, para serem rentáveis. O mais próprio para um vale estreito baseado no minifúndio só poderia
ser a produção de hortifrutigranjeiros.
Eu fiquei pensando e concluí: - “Felizmente surgiu este arrojado empreendimento de Brehm & Filhos e a mudança para a produção
intensiva de hortifrutigranjeiros chegará ao natural, pelo mercado que eles estão oferecendo aos nossos agricultores”.
No entanto um trabalho de conscientização teria que ser
desencadeado, pois encontrei ainda fumicultores se lamentando e dizendo: - “Porque os Brehm não tentaram trazer uma filial da Souza
& Cruz para nós, para que o tabaco que produzimos pudesse ser beneficiado e industrializado aqui no vale?”.
A minha resposta foi espontânea, porém chocou, quando falei: - “O que importa? Importa produzir alimentos ou alimentar um
vício?”.
Constatei uma reação forte de desagrado e bem sabia que os fumicultores eram numerosos, com suas lavouras de fumo e estufas.
Por questão de tática decidi não mais entrar em choque direto com eles, pois acreditei que um processo de mudança na produção
agrícola, desta hora em diante, haveria de chegar de modo natural, como consequência da fábrica de conservas.
Seria a Indústria de Conservas em funcionamento que
representaria um convite direto a todos para a adoção sistemática da produção de hortifrutigranjeiros e não convinha estabelecer focos de
desentendimento com fumicultores ou devotos da produção de álcool.
INALTA em Terra de Areia
O Sr. Quirino Guazzelli soube com antecedência do lançamento da pedra fundamental da Indústria de Conservas dos Brehm. Ele
procurou acelerar os planos para as obras de uma Indústria de Conservas em Terra de Areia que eles também haviam idealizado,
mas, não conseguiram vencer a data deles.
O amigo Quirino enviou um convite especial, para todas as lideranças de Itati desejando presença maciça de agricultores, no ato
do lançamento da pedra fundamental para a construção da Indústria
Alimentícia Terra de Areia S.A. – INALTA, < uma indústria de
agricultores para agricultores >, conforme foi anunciado no folheto.
O ato de lançamento da pedra fundamental teve lugar no dia 22
de agosto de 1970 e contou com a presença do Coronel Carlos Fernando Dorneles de Azambuja, interventor federal responsável pela
Prefeitura de Osório.
Foi apregoado que a indústria pertenceria ao povo, sendo todos conclamados a comprarem ações e assim ajudar a levantar o capital
social da empresa.
Também comprei 100 ações, quantia mínima para aquisição apesar de que representava um gasto pesado na situação financeira
em que eu vivia. O amigo Quirino Guazzelli notando o meu constrangimento, sorriu e falou: - “Os melhores padres sempre são
os pobres. Por isso não se constranja, pegue as suas cem ações e as pague em dez vezes, dez cruzeiros”.
A INALTA contratou o engenheiro agrônomo Dr. José Büttow para ficar à disposição dos agricultores da região, visando o
incremento da produção de hortifrutigranjeiros. O engenheiro Büttow era membro da Igreja Luterana de Pelotas, IECLB, e logo buscou
estabelecer um estreito contato com a nossa Comunidade, em Itati.
Na primeira reunião em que Büttow compareceu, anunciou: - “Um novo tempo está chegando para a agricultura no vale do rio Três
Forquilhas. O produtor terá um mercado certo para a sua produção e também a garantia de um preço justo, pois quase não mais haverá
intermediários. No início iremos propor a implantação de culturas de curto ciclo evolutivo, fato que trará uma renda imediata para o
agricultor. No segundo passo virá a implantação do cultivo de frutíferas, com um rigoroso planejamento, onde estaremos
fornecendo mudas e acompanhamento técnico, sem custo para os
nossos agricultores acionistas ou cadastrados”.
Agora já era duas Indústrias novas em instalação e voltadas para a produção de hortifrutigranjeiros, fato que era muito animador.
Isto nos serviu de incentivo para promover o plano de criação
de um Centro de Assistência Rural em Itati.
Em Pirataba localizamos o jovem Frederico Walter Trein
Lothammer, que viera de um estágio agrícola na Alemanha, e na
condição de técnico, se dispôs a assumir o trabalho de assistência
agrícola no vale do rio Três Forquilhas.
Onde está o meu Irmão Timotinho?
Elio E. Müller – Itati
( - Salmo dos dias atuais - )
Ansiedade por um irmão desaparecido. O que fizeram, Senhor,
com o meu irmão?
Tu bem sabes, Senhor,
que não encontro sossego.
não encontro sossego, Senhor,
enquanto não souber
o que fizeram
com o meu irmão?
Dizem que ele sumiu . . .
Falam que ele fugiu . . .
Foste tu, Senhor;
tu Senhor permitiste,
que me sobreviesse
tão grande ansiedade,
quando pessoas segredam
em meu ouvido:
- “Ele não fugiu . . .” - “Ele foi torturado . . .” - “Ele foi morto!”.
Mas são confidências, Senhor,
de consciências
que não tem força
para continuar escondendo
a VERDADE!.
(Observação: Salmo moderno, redigido em 1970,
em Itati, mun. de Osório – RS)
FONTES DA HISTÓRIA ORAL (FHO)
- Grupo de Estudo da História -
01 – ALBERTO SCHMITT. Alberto Schmitt, nasceu na Colônia de Três Forquilhas (Itati – RS) no dia
03.06.1886, filho do escrivão Christovam Schmitt e Antonieta Voges. Faleceu em 07.07.1971, aos 85
anos de idade.
02 – JOÃO NASCIMENTO. João Nascimento, nasceu na Colônia de Três Forquilhas (Itati – RS) no dia
25.07.1889, filho de Antonio Agostinho do Nascimento (“Nico”) e Catharina Schwartzhaupt. Faleceu em
21.11.1971 aos 82 anos de idade.
03 – BALDUINO MITTMANN. Balduino Mittmann, nasceu na Colônia de Três Forquilhas ( Itati-RS), em
09.02.1912, filho de Peter Mittmann e Maria Klein. Faleceu em 14.10.1994, aos 82 anos de idade.
04 – JOÃO JACOB MAUER. João Jacob Mauer, o “Jacó Mauer”, nasceu na Colônia de Três Forquilhas
(lado de Tôrres – RS) no dia 10.03.1882, filho de Johannes Mauer e Carolina Kellermann. Faleceu em
1981 aos 99 anos de idade.
05 – SATURNINA EBERHARDT BOBSIN. Saturnina Eberhardt Bobsin, a “Dona Negra”, nasceu na
Colônia de Três Forquilhas (lado de Osório – RS) no dia06.12.1891, filha de Christian Eberhardt e
Christina Becker. Casou com Henrique Guilherme Bobsin.
06 – OTHILIA VOGES BOBSIN. Othília Voges Bobsin, nasceu no dia 22.08.1885 na Colônia de Três
Forquilhas (lado de Osório – RS), filha do Coronel Carlos Frederico Voges Sobrinho e Felisbina Schmitt.
Casou com Henrique Bobsin. Faleceu em 1979 aos 85 anos de idade.
07 – THEOBALDO STRASSBURG. Theobaldo Strassburg, nasceu no dia 03.07.1923, na Colônia de
Três Forquilhas (lado de Tôrres – RS), filho de Pedro Strassburg Faleceu em 20.10.1984, aos 61 anos de
idade.
08 – LUIZA VIRGINIA MASCHMANN PEREIRA DE SOUZA. LUIZA VIRGINIA, a “Dindinha”, nasceu no
dia 11.03.1909 na Colônia de Três Forquilhas (lado de Osório – RS) filha de Carl Maschmann e Dorothea
Becker. Casou com Frederico Leopoldo Pereira de Souza. Faleceu em 29.12.1989, aos 80 anos de idade.
09 – ARTHUR DANIEL GROSS. Arthur Daniel Gross nasceu na Colônia de Três Forquilhas (lado de
Osório – RS) no dia28.07.1910, filho de Carlos Daniel Gross Filho (“Paraguai Gross”) e de Carolina
Bobsin. Casou com Lucy Maria Huyer. Faleceu na cidade de Curitiba – PR, em 25.08.1986 aos 86 anos
de idade.
10 – EUGENIO BOBSIN. Eugenio Bobsin, o “Eugenio Barata”, nasceu no dia 04.06.1911 na colônia de
Três Forqquilhas ( lado de Osório – RS) filho de Heinrich Wilhelm Bobsin e Deolinda Eberhardt. Casou
com Lydia da Silva Porto. Faleceu em 14.07.1986.
11 – OCTAVIO BECKER. Octavio Becker, nasceu na Colônia de Três Forquilhas (lado de Osório – RS
filho de Jacob Becker e Adelina Schmitt. Casou com Alda Bobsin. Faleceu em
12 – CLARERSTINA JUSTIN BREHM. Clarestina Justin Brehm, a “Dona Clara” nasceu no dia
15.05.1919 na Colônia de Três Forquilhas (lado de Tôrres – RS) filha de
Faleceu em 14.02.2000 aos 81 anos de idade.
13 – ADŸ BREHM. Ady Brehm nasceu no dia 14.09.1929 na Colônia de Três Forquilhas (lado de Tôrres
– RA) filho de Faleceu em 21.09.2000 aos 71 anos de idade.
14 – LIDURINO MENGER. Lidurino Menger, o “Barroso”, nasceu em 05.04.1918 na Colônia de Três
Forquilhas (lado de Tôrres – RS), filho de João Henrique Menger e Maria Luisa Witt. Faleceu em
02.03.1999, aos 81 anos de idade.
14 – GUILHERME BREHM. Guilherme Brehm, o “Lema”, nasceu em 20.03.1912 na Colônia de Três
Forquilhas (lado de Osório – RS), filho de Guilherme Brehm e Hosana Jacoby. Falecido.
16 – JOÃO BECK. João Beck, o “Janguinha”, nasceu em 11.01.1900, na Colônia de Três Forquilhas
(lado de Osório – RS), filho de Cristiano Beck Filho e Maria Ricarda Hoffmann. Faleceu em 14.11.1990
aos 90 anos de idade.
17 – HONORINA SCHWARTZHAUPT. Honorina Schwartzhaupt, a “Dona Norcha”, nasceu no dia
, na Colônia de Três Forquilhas (lado de Osório – RS)
18 – PEDRO LINO JACOBY. Pedro Lino Jacoby, nasceu na colônia de Três Forquilhas (lado de Tôrres
– RS)
19 – ARQUIMIMO KÖNIG. Arquimimo König, o “Mimo”, nasceu no dia 25.11.1920 na Colônia de Três
Forquilhas (lado de Tôrres – RS) filho de João Damasceno König e Maria Olídia Voges.
20 – NAIR BREHM KÖNIG. Nair Brehm König, nasceu no dia 31.08.1934, na Colônia de Três
Forquilhas (lado de Tôrres – RS, filha de Albino Otávio Brehm e Albertina de Souza. Esposa de
Arquimimo König.
21 – JOSÉ IVO DE OLIVEIRA MELO. José Ivo de Oliveira Melo, o “Ivo Baiano”, nasceu no dia
13.09.1925 na Colônia de Três Forquilhas (lado de Osório – RS) filho de Aldino de Oliveira Mello e
Realina Pereira dos Santos. Neto de “Baiano Candinho”.
22 – ANTONIO LUIS DA ROCHA. Antonio Luis da Rocha nasceu no dia 07.10.1916 na Colônia de Três
Forquilhas (lado de Tôrres – RS) filho de Galdino Luis da Rocha e Maria Cristina de Barros.
23 – JOSÉ VICENTE PEREIRA DE SOUZA. José Vicente nasceu no dia 23.09.1910 na Colônia de Três
Forquilhas (lado de Osório – RS) filho de José Pereira de Souza Sobrinho e Carolina Klein.
24 – NELSON DA SILVA SANTOS. Nelson da Silva Santos nasceu no dia 15.04.1951 filho de Gustavo
Rodolfo dos Santos e Leontina da Silva.
25- HERNANDO DO NASCIMENTO. Hernando do Nascimento nasceu no dia 08.12.1930 na Colônia
de Três Forquilhas (lado de Osório – RS) filho de João Antonio do Nascimento e Adelina Schmitt.
26 – ADAIR KÖNIG. dair König nasceu em 1958, filho de Otalírio König e Onira Tietboehl.
Sobre o autor:
(Estas informações foram atualizadas).
ELIO EUGENIO MÜLLER
Dados biográficos
Nasceu em Panambl - RS no dia 12/11/1944,
filho de Arthur Theodoro Müller e Hilda Müller
irmão de Armindo, Arry, Dulce e Waldemar..
Casado com Doris (Voges) Bobsin Müller.
Tiveram os filhos Carlos Augusto e Cristiane.
Possui morada no histórico "Sítio da Figueira,
em Itati - RS.
Dados profissionais:
Pastor Luterano da lECLB,
Coronel Capelão R/1 do
Exército Brasileiro,
e escritor.
Atividade literária:
Membro da Academia Virtual Brasileira
de Letras – AVBL.
Ocupa a cadeira 211 da Academia de Letras dos
Municípios do Rio Grande do Sul – ALMURS.
Sócio dos Instituto Histórico e Geográfico
do Paraná – IHGP.
Sócio do Instituto Genealógico
do Rio Grande do Sul – INGERS.
Membro do Centro de Letras do Paraná, em Curitiba – PR.