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MODELO DE HARVARD, MEDIAÇÃO TRANSFORMATIVA E CIRCULAR NARRATIVA Conceitos Existem três correntes na conceituação da Mediação. A de Harvard, que é formal, utiliza-se mais nas questões comerciais e seu objetivo é centrado na busca do acordo. O enfoque de Busch e Folger, a Transformativa, cujo objetivo aponta para o vínculo, não importando se as partes chegarão a um acordo ou não. É particularmente recomendada para a mediação escolar e familiar. O modelo de Sara Cobb, o Circular Narrativo, centrado no processo da Comunicação, onde é tão importante o vínculo quanto a obtenção do acordo. Este último se aplica a todos os âmbitos. Diversas Escolas de Mediação Embora os doutrinadores coincidam nos aspectos básicos do processo de Mediação, existem algumas diferenças relativamente aos objetivos primários e secundários Os alcances da mediação são tratados de diferentes formas segundo as diversas escolas. O objetivo essencial do modelo de Harvard é que as partes possam estabelecer uma negociação colaborativa assistidas por um terceiro, procurando resolver o conflito que as levou a buscar essa intervenção. O tipo de comunicação é basicamente linear, mediante perguntas abertas; trata-se de evitar os interrogatórios fechados que limitam a flexibilidade das respostas. Segundo este método, é preciso tentar a aeração do conflito e exortar as partes a evitarem retroceder ao passado, colocando

Três Modelos de Mediação

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MODELO DE HARVARD, MEDIAÇÃO TRANSFORMATIVA E CIRCULAR NARRATIVA

Conceitos 

Existem três correntes na conceituação da Mediação. A de Harvard, que é formal, utiliza-se mais nas questões comerciais e seu objetivo é centrado na busca do acordo.

O enfoque de Busch e Folger, a Transformativa, cujo objetivo aponta para o vínculo, não importando se as partes chegarão a um acordo ou não. É particularmente recomendada para a mediação escolar e familiar. O modelo de Sara Cobb, o Circular Narrativo, centrado no processo da Comunicação, onde é tão importante o vínculo quanto a obtenção do acordo. Este último se aplica a todos os âmbitos.

Diversas Escolas de Mediação

Embora os doutrinadores coincidam nos aspectos básicos do processo de Mediação, existem algumas diferenças relativamente aos objetivos primários e secundáriosOs alcances da mediação são tratados de diferentes formas segundo as diversas escolas. O objetivo essencial do modelo de Harvard é que as partes possam estabelecer uma negociação colaborativa assistidas por um terceiro, procurando resolver o conflito que as levou a buscar essa intervenção.O tipo de comunicação é basicamente linear, mediante perguntas abertas; trata-se de evitar os interrogatórios fechados que limitam a flexibilidade das respostas. Segundo este método, é preciso tentar a aeração do conflito e exortar as partes a evitarem retroceder ao passado, colocando especial ênfase no futuro. Tende-se a desativar as emoções negativas, revalorizar os pontos de acordo e superar o caos, para conseguir a restauração ou instalação da ordem.

Trata-se de um processo estruturado, ainda que não rígido, durante o qual o mediador procura facilitar a comunicação e a interação entre as partes com o fim de diminuir as diferenças, obter o acordo e superar a disputa. Não se dá demasiada importância ao contexto no qual se desenvolvem as relações.

No que diz respeito ao procedimento em si, na primeira reunião conjunta, o Mediador instrui os participantes que poderá lhes solicitar entrevistas separadas quando necessitar conhecer aspectos que as partes – ao menos inicialmente –

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não estejam dispostas a exteriorizar publicamente. Nesta hipótese, manterá o sigilo sobre o que foi discutido na reunião privada, salvo se tiver autorização da parte, em contrário. De qualquer forma, o facilitador da negociação procurará utilizar essa informação para a obtenção do acordo.

As técnicas utilizadas na Escola de Harvard se aplicam com maior freqüência em negociações comerciais e nas controvérsias que derivam deste tipo de relação. Há ocasiões em que o conflito se origina dentro da mesma empresa, por dificuldades de comunicação que chega a tornar-se incongruente. Neste caso, a tarefa do Mediador será ouvir e fazer com que as partes se ouçam entre si, de tal forma, que da incongruência simultânea possam conseguir uma congruência sucessiva.

Faz-se necessário que cada parte possa explicitar com clareza seus interesses e o modo de satisfazê-los. Procura-se que os envolvidos encontrem, por trás dos comportamentos e aparências contraditórios, alguns interesses compartilhados e outros complementares, que lhes permitam se aproximar do acordo final. O terceiro pode colaborar para que cada parte perceba, sem comprometer seu ponto de vista, as intenções positivas do seu oponente. Os principais pontos onde se apóia esse método, são os seguintes:

1. Entende a comunicação em um sentido linear2. Uma parte expressa o seu conteúdo e a outra escuta ou não3. O mediador é um facilitador da comunicação4. Enfatiza a comunicação verbal5. Entende que o conflito tem uma causa que é o desacordo. Geralmente, não

se considera a origem em múltiplas causas6. Trabalha sobre Posições, Interesses e Necessidades, sem levar em

consideração o fator Relacional. Por essa razão, não tenta modificar as relações entre as partes.

7. Como método, propõe a aeração do conflito, permitindo o desabafo das emoções para logo após, avançar.

8. A mediação é considerada exitosa quando se chega a um acordo, define o objetivo como o melhoramento da situação das partes comparada com o que era antes.

Mediação Transformativa

A Teoria da Comunicação somou-se ao processo de Mediação quando de uma mudança paradigmática e, em certo momento, um teórico da Negociação – Robert A. Barush Bush – e um teórico da Comunicação – Joseph F. Folger – construíram juntos um modelo de trabalho que privilegiou o conflitante em lugar do conflito, ocupando-se dos personagens mais do que da substância e situando o acordo a partir das possibilidades das partes em lugar de ser esta a sua finalidade. Esta proposta objetiva auxiliar as pessoas a reconhecer em si mesmas e no outro, as

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necessidades, possibilidades, e capacidades de escolher e decidir. Fundamentam sua proposta no propósito de promover e transformar a relação e viabilizá-la, obtendo como conseqüência natural o acordo como ator coadjuvante do processo. É a denominada “Mediação Transformativa”.

O enfoque transformativo define o objetivo como o melhoramento das próprias partes comparado com o que eram antes.

Na mediação transformativa se alcança êxito quando as partes como pessoas, mudam para melhor, graças ao que ocorreu durante o processo de mediação. A mediação transformativa destaca a Revalorização e o Reconhecimento.

Revalorização

A parte é revalorizada na mediação quando:

Alcança uma compreensão mais clara, comparada com a situação anterior, ao mesmo tempo que obtém a certeza de que aquilo que lhe interessa, é reconhecido como verdadeiramente importante.

Compreende mais claramente quais são suas metas e interesses naquela situação, por que persegue essas metas e valoriza que elas são importantes e merecedoras de consideração.

Conscientiza-se da gama de alternativas que tem ao seu dispor e que podem garantir-lhe total ou parcialmente a obtenção de suas metas e de seu controle sobre essas alternativas.

Percebe que existem decisões a respeito do que deve fazer naquela situação e que exerce certo controle sobre essas decisões.

Entende que pode escolher se continuará na mediação ou se a abandonará, se aceitará ou recusará o conselho jurídico ou de qualquer outro caráter, se aceitará ou rejeitará uma possível solução.

Dá-se conta que à margem das restrições externas, sempre surgem algumas opções, e o controle sobre as mesmas é exclusivamente seu.

Acrescenta ou aumenta suas próprias habilidades na resolução de conflitos.

Aprende a escutar, melhorar a comunicação, organizar e analisar questões, apresentar argumentos, utilizar técnicas como o brainstorming, avaliar soluções alternativas.

Toma consciência dos recursos que possui.

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Compreende mais claramente que possui a capacidade de comunicar-se ou persuadir eficazmente; pode redistribuir seus recursos de modo que tenham mais alcance; seus recursos são suficientes para promover uma solução que antes não havia analisado; pode aumentar seus recursos explorando uma fonte suplementar de apoio que antes não havia percebido.

Reflete, delibera e adota decisões sobre o que fará nas discussões da mediação e sobre a possibilidade de acordar, o modo de fazê-lo e os outros passos que dará.

Avalia claramente as qualidades e debilidades dos seus argumentos e dos da outra parte, as vantagens e desvantagens das possíveis soluções e alternativas que excluem o acordo – e adota decisões à luz de tais avaliações.

Reconhecimento

O conflito trás como conseqüência que as partes sintam-se ameaçadas, atacadas e agredidas pelas atitudes e pretensões da outra parte. Por isso, chegam mais facilmente ao reconhecimento quando escolhem abrir-se mais, tornar-se mais atentas, empáticas e sensíveis à situação do outro.

Cada uma das partes reconhece a validade da mediação quando:

Compreende que tem a capacidade de considerar e reconhecer a situação da outra.

Pode colocar-se no lugar do outro.

Assume que não só possui a capacidade de avaliar a situação do outro, mas que tem o desejo real de fazê-lo.

Adverte que deseja concentrar sua atenção no que o outro está experimentando e encontrar o modo de reconhecer essa experiência através de seu comportamento na sessão.

Pode ver o seu comportamento e o da outra parte sob uma luz diferente e mais favorável que antes.

Consegue reinterpretar a conduta e o comportamento anterior das partes.

Renuncia conscientemente ao seu ponto de vista e procura ver as coisas sob a ótica da outra parte.

Admite francamente que mudou sua interpretação do outro e decide comunicar esse fato.

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Admite frente ao mediador, mesmo que em reunião privada, como vê agora, de modo diferente o que sucedeu e pode reconhecê-lo na presença do mediador ou diretamente da outra parte.

Permite-se pedir desculpas “por ter pensado o pior”.

Os modelos de mediação apresentados, são guias que podem ser utilizadas de forma eficaz em diferentes situações. Sem prejuízo disso, os elementos da mediação transformativa da revalorização e do reconhecimento, são particularmente úteis para os objetivos da mediação Escolar e Familiar. Na educação, o objetivo é formar atores institucionais em um fundamento que possam administrar seus próprios conflitos, fazendo de cada um deles, uma instancia para a aprendizagem.

Deve-se a Sara Cobb a inauguração do Modelo Circular Narrativo, o qual, como indica o nome, agregou o pensamento sistêmico com sua proposta de circularidade à Teoria das Narrativas – além do enfoque sobre redes sociais – a tarefa pós-moderna de encontrar na Mediação um instrumento extrajudicial de resolução, manejo e prevenção de controvérsias. O Modelo Circular-Narrativo se dispôs a cuidar da relação entre os litigantes tanto quanto da construção do acordo e abrange as propostas de:1 busca de informação sobre o processo de disputa e seu objetivo; 2 desestabilização das ‘'histórias oficiais’’ – relatos e alternativas trazidos – e

construção de '’histórias alternativas’' – relatos e alternativas ampliadas. 3 construção e confecção de acordo.

A resposta a estas interrogações vai depender do modelo ou marco teórico a partir do qual o mediador foca seu olhar face o processo que está conduzindo. Um destes marcos teóricos é a analogia do texto. O qual não significa que seja o único, nem o melhor, mas que é um ponto de vista que utilizamos para compreender os fatos. E justamente olhando a partir deste ponto de vista, se entende que as pessoas para dar sentido às suas vidas, estruturam suas experiências em forma de relatos ou histórias que mantém uma determinada coerência entre os fatos, personagens e argumento, que faz com que a história tenha sentido para cada um.

Quando nós contamos essa história a nosso respeito, selecionamos da nossa experiência aqueles fatos que confirmam a nossa versão, que ajudam a manter a coerência interna da história e descartamos os fatos que poderiam por em perigo o sentido que damos a ela.

Para compreender qualquer história, devemos pesquisar para ver como foi construída.

Existem quatro operações neste processo de construção da realidade: distinção, descrição, explicação e narração.

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A Distinção é o ato de perceber qualquer objeto como diferente de um fundo, para o qual empregamos, consciente ou inconscientemente um critério de seleção.

A Descrição que as partes fazem do problema é sempre posterior ao ato de demarcação ou distinção. Primeiro se distingue, e a seguir se descreve.

A Explicação reformula ou recria as observações de um fenômeno, em concordância com conceitos ou esquemas aceitáveis para o indivíduo.

A Narrativa é a maneira que o indivíduo, baseado nos pontos anteriores, conta a realidade.

Essas idéias são básicas para o mediador e se convertem em oportunidades para realizar sua tarefa, pois o que as partes percebem, descrevem, pensam e atuam, deriva em grande parte das distinções que estabelecem, e as descrições dos fatos que contam baseiam-se em distinções estabelecidas ao observar.

Daí a explicação porque face a um mesmo problema, as partes têm percepções e pensamentos diferentes dos mesmos fatos que as levam a construir diferentes histórias.

Quando as pessoas chegam à mediação, nos contam uma história, que é a versão que elas têm do problema, cada um a sua, cada um com o seu argumento – eu tenho razão – cada um com seu papel – eu sou a vítima – cada qual com seus valores.

E como o mediador vai saber quem tem razão? Na verdade não lhe interessa averiguar, porque ele já sabe que os dois têm razão. Por Que? Porque a realidade, os fatos verdadeiros são inapreensíveis, o material com que o mediador vai trabalhar são as histórias, a versão que cada um construiu do problema – e como tal – cada uma delas é verdadeira.

Porém, esta maneira de ver as coisas, não serviu às partes, tanto é que se encontram atoladas em uma situação de conflito, da qual não conseguem ver-se livres.

É necessário que se produza algum movimento, alguma modificação em sua maneira de ver as coisas para que seja possível construir um acordo.

À medida que o mediador vai desenhando e conduzindo o contexto da mediação, dá ocasião, como operador do processo, de um conhecer novo para as partes, que reconhecem, no sentido que voltam recursivamente a uma informação anterior registrada de outra maneira.

Segundo o ponto de vista de Harvard, a maneira de conseguir isto seria esquecer as diferenças e tratar de encontrar bases comuns sobre as quais poder trabalhar.

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Para isso, para que algum movimento se produza, é necessário, segundo eles, poder separar as pessoas do problema, e, assim poder descobrir os verdadeiros interesses ou necessidades que se ocultam por trás de uma posição rígida.

Na teoria circular narrativa, o mediador tem uma ferramenta, quase mágica, para produzir mudanças na forma como as partes vêm o problema. Se partirmos do pressuposto que cada história tem uma coerência interna que lhe dá sentido, a função do mediador será descobrir aqueles fatos que contradigam algum aspecto da história. Por exemplo, se uma mulher relata que seu marido sempre chega em casa irritado do trabalho e a agride, podemos perguntar: Recorda alguma vez que ele não tenha chegado irritado? O que houve neste dia? Você disse algo diferente que não havia dito em outra ocasião? E assim, o que estamos é tentando romper a coerência da sua história, verificando se ela pode trazer à sua memória fatos que a contradigam, por exemplo, alguma ocasião em que o marido não tivesse chegado irritado. Se isso acontecer, necessariamente terá que modificar seu relato para que estes novos fatos se encaixem e façam sentido dentro da história que conta.

Este acionar, aparentemente muito simples, produz grandes efeitos, porque baseando-nos na Teoria Geral dos Sistemas, sabemos que qualquer modificação em uma parte do sistema, por pequena que seja, produz uma mudança em todo o sistema. A estes fatos novos, que se incorporam à história original, White denomina “fatos extraordinários” justamente porque haviam sido totalmente apagados dos relatos e, ao não relatar-se, eles não existem; só existem para a pessoa aqueles fatos que ela pode narrar, que fazem parte da sua história de vida. No processo de distinção e percepção, estes fatos não foram selecionados, e, portanto, deixaram de ser incluídos na narrativa da pessoa. Se pudermos trabalhar na reconstrução da história, poderá surgir um enquadre novo que mude o sentido dos fatos vividos.

O mediador deve estar muito atento ao relato para poder descobrir “portas” que lhe permitam romper com a coerência do relato.

Toda narrativa tem uma estrutura formada por uma seqüência temporal de fatos (isto sucedeu antes, depois aquele outro, etc.), onde há personagens que representam diferentes papéis, valores que subsidiam a história e um argumento que dá coerência a esses fatos. Cada um destes elementos da história se transforma em uma possível “porta”, através da qual se poderá modificar a narrativa com que as partes chegam à mediação. A escuta ativa do mediador deve concentrar-se nas contradições que apareçam no relato, que podem ser indicadores de “fatos extraordinários” que não foram incorporados à história. Estas portas podem estar tanto na seqüência dos fatos como nos papéis que desempenham os personagens ou ainda nos valores que subsidiam a história.

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A primeira etapa da mediação consiste na narrativa do problema, a partir de cada uma das partes.

Sara Cobb, criadora do Modelo Circular Narrativo, incorpora no processo de mediação o que poderíamos denominar “uma fratura” importante em relação ao modelo tradicional de Harvard. Para isto, era fundamental que cada parte pudesse relatar o problema tal como ela o via, em uma reunião onde ambas estivessem presentes. Sara Cobb, depois de trabalhar muitos anos dessa forma, decidiu que era melhor que cada parte contasse sua versão da situação em reunião privada, sem a presença da outra.

A fundamentação dessa mudança se deve ao que ela denomina “a colonização das narrativas”. Significa que quando as partes chegam à mediação se encontram em um contexto adversarial, o que implica que suas narrativas terão forte conteúdo de acusação, incriminação, negação, etc.

A história que é contada em primeiro lugar, Sara Cobb a denomina de “narrativa primária”, porque devido a características do contexto da mediação, quando a segunda começa a contar a sua versão, transforma a mesma em argumentos de justificação, defesa e nova acusação. A esta, Sara denomina “narrativa secundária”. A história contada em segundo lugar, fica “colonizada” pela primeira narrativa, sendo altamente provável que o mediador também se colonize, inibindo-se, desta forma, a geração de novas alternativas.

Por esse motivo, Sara começou a implementar as reuniões privadas no início do processo, para que cada um possa contar sua história como deseje, evitando desta forma que a narrativa primária colonize as outras narrativas, já que se isso suceder, reduzem-se as alternativas.

Quando alguém nos conta o problema que o trouxe para a mediação, nos conta uma história (sabemos que o que conta é uma construção realizada de acordo com a seleção pessoal dos fatos, baseada em suas próprias percepções).

O mediador deve escutar atentamente para ter uma clara compreensão de como se construiu essa perspectiva do problema, como cada parte distingue, descreve e pontua os fatos. Deve trabalhar até obter uma definição clara do problema que inclua o reconhecimento próprio de cada parte sobre si mesma e de cada parte sobre a outra.

Tendo em mente o objetivo de “abrir” as histórias, que significa a possibilidade de modificar o sentido dos fatos, o mediador atenderá especialmente as “palavras-chave”. Estas palavras são aquelas que têm alguma significação especial para quem narra a história. Esta significação pode estar dada pela repetição das mesmas ou pelo conteúdo emocional posto nelas. Também dependerá do mediador, com sua experiência pessoal, o sentido que possa dar às palavras, que

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“ressoem” de uma ou outra maneira. Estas palavras-chave que podem referir-se a seqüência de fatos, valores ou personagens da história, podem transformar-se em portas que nos permitam abrir as narrativas. Por exemplo, em um relato onde a palavra “irritação” se repete com uma carga afetiva, pode nos levar a formular uma pergunta para indagar sobre o sentido que está sendo dado a ela. Pode-se perguntar: Que é que lhe produz irritação? Tem algo que você faça antes que se produza a irritação? O que faz depois?

Também se considera como palavras-chaves as generalizações, como “Chega sempre irritado do trabalho.” A pergunta que se poderia colocar é: “Recorda alguma vez que não tenha chegado irritado do trabalho?” Outras generalizações são “todos”, “nenhum” “ninguém”, etc. estas são portas que podem desestabilizar as histórias. Também as construções sem sujeito, como por exemplo: “Quebrou-se o vaso.” ou “A cozinha é uma sujeira.” Este trabalho nos permite modificar o sentido dado aos fatos, e, a partir daí co-construirmos uma história diferente.

FISCHER & URY. Como Cegar ao SimBUSH y FOLGER. La promesa de mediación. Buenos Aires, Granica, 1996SARA COBB.