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Tribunal Judicial da Comarca de Viseu
Juízo Central Criminal de Viseu - Juiz 3 Palácio da Justiça , Av. da Europa
3514-506 Viseu
Telef: 232427000 Fax: 232427099 Mail: [email protected]
Proc.Nº 411/12.9TAVIS
79734890
CONCLUSÃO - 30-03-2017
(Termo eletrónico elaborado por Escrivão Auxiliar Rui Palhares)
=CLS=
Processo n.º 411/12.9TAVIS
ACÓRDÃO DO TRIBUNAL COLECTIVO
RELATÓRIO
Para julgamento em processo comum e com intervenção do Tribunal Colectivo, foram
pronunciados,
Alexandre Sviatopolk – Mirsky Raimundo, casado, empresário de telecomunicações,
natural do Rio de Janeiro, Brasil, onde nasceu a 11 de Outubro de 1973, filho de Anacleto
Abreu Raimundo e de Svetlana Sviatopolk – Mirsky Raimundo, residente quando em
Portugal na Rua da Estrada Velha, n.º 15, Viseu,
Rafael Sviatopolk – Mirsky Raimundo, casado, empresário, natural do Rio de Janeiro,
Brasil, onde nasceu a 21 de Fevereiro de 1977, filho de Anacleto Abreu Raimundo e de
Tribunal Judicial da Comarca de Viseu
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Proc.Nº 411/12.9TAVIS
Svetlana Sviatopolk – Mirsky Raimundo, residente quando em Portugal na Rua da Estrada
Velha, n.º 15, Viseu,
Pela prática, no processo principal e pelos factos descritos a fls.526 e seguintes,
aqui dados por reproduzidos, pelos arguidos, em co-autoria material, de um crime de fraude
na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º 5 alínea
a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro.
No processo apenso A, o Ministério Público requereu o julgamento em processo
comum e com intervenção do Tribunal Colectivo, pelos factos descritos a fls. 160 e seguintes
aqui dados por reproduzidos, imputando ao arguido Rafael Sviatopolk – Mirsky Raimundo,
acima identificado e à arguida ABSS Broadcast, L.da, NIPC 510155677, com sede na Rua
Luís Ferreira, n.º 58, 3º, sala 6, e Viseu, a prática, em co-autoria material e concurso real de
dois crimes de fraude na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1
alínea c), n.º 2 e n.º 5 alínea a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro.
*
No processo principal, os arguidos Alexandre Sviatopolk-Mirsky Raimundo e
Rafael Sviatopolk-Mirsky Raimundo apresentaram contestação, pela forma constante de fls.
888 e seguintes, sustentando, em síntese, por um lado, a ilegalidade da obtenção da prova
documental carreada para os presentes autos e que foi extraída de um processo de inquérito do
Tribunal de Caminha (processo n.º 207/10.2TACMN), invocando a nulidade das buscas ali
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realizadas e, por outro lado, impugnando os factos descritos no despacho de acusação que
alegam não corresponderem à verdade.
*
No apenso A, o arguido Rafael Sviatopolk-Mirsky Raimundo apresentou
contestação e rol de testemunhas, negando a prática dos factos, como resulta de fls. 187-188.
*
Procedeu-se a julgamento com observância das formalidades legais, como consta
da respectiva acta, sendo que nessa sede foi comunicada aos arguidos uma alteração não
substancial dos factos descritos nos respectivos despachos de acusação (processo principal e
processo apenso).
*
Da nulidade das buscas:
Os arguidos Rafael e Alexandre Raimundo invocam, em sede de contestação, a
nulidade da busca realizada nos autos, essencialmente, por três ordens de razões:
- A busca não foi realizada no local ordenado;
- Foi efectuada a instalações de órgãos de comunicação social, sem observância dos
necessários requisitos; e
-Foi realizada em escritório de advogado, igualmente sem observância dos requisitos e
cautelas impostas por lei.
Os presentes autos tiveram o seu início na sequência de suspeitas de fraude
relacionada com um projecto de investimento, efectuado no âmbito de Incentivo à
Consolidação e ao Desenvolvimento das Empresas de Comunicação Social Regional e Local,
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apresentado pela sociedade “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ld.ª”,
constituída pelos arguidos.
No decurso das investigações, foram emitidos os competentes mandados de busca à
“Sede da Sociedade “ABSSL – Audio Broadcasting Software, Ld.ª, sita na Rua do Comércio,
n.º 58, 3º, sala 5, Viseu.” (ver cópia junta a fls. 372).
Estabelece o n.º 5 do artigo 177º do Código de Processo Penal, que, tratando-se de
busca em escritório de advogado ou em consultório médico, ela é, sob pena de nulidade,
presidida pessoalmente pelo juiz, o qual avisa previamente o presidente do conselho local da
Ordem dos Advogados ou da Ordem dos Médicos, para que o mesmo, ou um seu delegado,
possa estar presente.
Por sua vez, estabelece o artigo 11.º n.º 6 do Estatuto do Jornalista, aprovado pela Lei
n.º 1/99, de 1 de Janeiro, a busca em órgãos de comunicação social só pode ser ordenada ou
autorizada pelo juiz, o qual preside pessoalmente à diligência, avisando previamente o
presidente da organização sindical dos jornalistas com maior representatividade para que o
mesmo, ou um seu delegado, possa estar presente, sob reserva de confidencialidade.
As acrescidas exigências estabelecidas na lei decorrem do especial dever de cautela
que envolve a realização de buscas a determinados locais, como seja a salvaguarda do sigilo
profissional associado ao exercício de determinadas profissões, como sejam o caso de
advogados ou, no caso dos meios de comunicação social, a protecção das fontes jornalísticas.
No caso dos autos, a busca ordenada à sede da empresa “ABSSL-Audio Broadcasting
Software System, L.da”, não obedeceu a qualquer destes requisitos cumulativos, tendo sido
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ordenada ou autorizada pelo Ministério Público (cf. certidão de despacho e mandados de
fls.372 e seguintes dos autos).
Da prova produzida, dúvidas não restam que no local efectivamente buscado
funcionavam órgãos de comunicação social, tal como resulta consignado no próprio auto de
busca, como dúvidas também não restam de que, segundo informação de fls.815 do Conselho
Distrital do Porto da Ordem dos Advogados, à data da busca, o Sr. Dr. Anacleto Abreu
Raimundo, portador da cédula profissional nº2101C, era advogado com inscrição em vigor e
tinha o domicílio profissional na Rua do Comércio, nº58, 3º andar, sala 6, 3500-110 Viseu.
A busca em escritório de advogado, como a busca domiciliária ou em órgão de
comunicação social, “constitui uma medida restritiva de direitos fundamentais e, como tal,
sujeita a reserva de lei e de juiz para a respectiva autorização. A finalidade da intervenção
judicial é assegurar a garantia de um controlo preventivo através de uma instância
independente e neutral que leve também em adequada consideração os interesses do titular
do direito fundamental restringido pela medida. De acordo com os princípios inscritos na
Constituição em matéria de direitos fundamentais, a autorização de uma medida restritiva de
direitos está necessariamente sujeita aos limites impostos pela necessidade, adequação e
proporcionalidade (cfr. arts. 18.º e 34.º da CRP). E o princípio da proporcionalidade exige
que a limitação dos direitos fundamentais de cada um se cinja ao indispensável para a
proteção do interesse público. Sendo sabido que não cabe ao juiz definir a estratégia da
investigação, não é menos certo, porém, que a ele cabe a avaliação da possibilidade de
empreendimento de outras medidas menos lesivas. As dúvidas sobre a proporcionalidade de
uma medida restritiva de direitos fundamentais não devem resolver-se contra o titular desse
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direito. É a restrição do gozo do direito que constitui a exceção, não a plenitude do seu gozo.
Significa isto que é a intervenção restritiva que demanda fundamentação alicerçada em
dados que permitam afirmar a adequação, necessidade e proporcionalidade da medida. Não
o seu indeferimento”.
Sem aqui entrarmos em apreciações sobre se ao tempo o Dr. Anacleto Abreu
Raimundo, ali exercia efectivamente, de facto, a actividade de advocacia, sendo também
irrelevante o número da sala (sala 6 ou 5), de acordo com aquele entendimento, na certeza de
que ali funcionava uma rádio, aliado ao facto da inscrição em vigor de advogado com
escritório domiciliado no local buscado, tal seria bastante para obrigar à observâncias
daqueles requisitos, tanto mais que as testemunhas Dr. Martinho Quintela e Daniel e Daniel
Américo Figueiredo, ouvidos em audiência de julgamento, referiram ter alertado os
Inspectores da PJ que levavam a cabo a busca, de que naquele local funcionava um escritório
de advogado – artigo 177º n.º 1 e 5 do Código de Processo Penal.
A busca em escritório de advogado ou órgão de comunicação social que não seja
autorizada pelo juiz ou que não seja presidida pelo juiz nem assistida por representante da
Ordem dos Advogados ou do sindicato de jornalistas, constitui uma proibição de prova
relativa e, por isso, nulidade sanável prevista no art.126º, nº3, do C. Proc. Penal, porque
claramente não constitui nenhum dos casos previstos no art.126º, nº1 e 2, do C. Proc. Penal,
(nesse sentido, Ac. do STJ 8.02.95 CJ, 3, 1, 194, STJ 11.06.2014, disponível em www.dgsi e
Germano Marques da Silva, 2002, pg.216).
O que no caso, implicaria a declaração de nulidade da prova.
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Contudo, haverá que ter em consideração que nem todas as nulidades são de
conhecimento oficioso, havendo algumas dependentes de arguição, em tempo e por quem se
encontrar legitimado a fazê-lo.
No que diz respeito à obtenção de provas proibidas que reconduzem à nulidade das
mesmas, haverá que distinguir entre provas absolutamente proibidas, as quais constituem
nulidade insanável, de conhecimento oficioso, e as provas relativamente proibidas, as quais
constituem nulidade sanável, dependentes de arguição.
Concretizando, caso as provas obtidas o sejam por métodos absolutamente proibidos,
não podem nunca ser utilizadas no processo, mesmo com o consentimento do visado, ao passo
que as provas obtidas por métodos apenas relativamente proibidos, as mesmas podem ser
valoradas pelo consentimento do titular. Neste último caso, verificando-se a nulidade, a
mesma é, no entanto, sanável, dependendo de arguição da pessoa interessada, conferindo-se
essa legitimidade (quer para o consentimento quer para a arguição) ao titular do direito em
relação ao qual se verificou a intromissão legal. Se o titular do direito pode consentir na
intromissão na esfera jurídica do seu direito, ele também pode renunciar expressamente à
arguição da nulidade ou aceitar expressamente os efeitos do ato, tudo com a consequência da
sanação da nulidade da prova proibida (vide nesse sentido, Paulo Pinto Albuquerque, in
Comentário ao Código de Processo Penal, 3ª Edição, Anotação ao art.126º).
Voltando ao caso que nos ocupa, o consentimento, a arguição da nulidade ou a sua
renúncia são direitos que pertencem, naturalmente, ao titular do direito ao sigilo profissional
afectado com a busca, isto é, ao advogado, Sr. Dr. Anacleto Abreu Raimundo, por um lado, e
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à empresa titular das rádios que funcionavam no local objecto da busca, por outro, cujos
interesses se visa acautelar.
Dos autos resulta inequívoco que os arguidos Rafael e Alexandre não são os titulares
desses direitos, não o sendo claramente no que diz respeito ao sigilo profissional de advogado
e não o sendo também em relação às rádios, nem tão pouco eles se assumiram nessa
qualidade, não dispondo, pois, de legitimidade para arguir a nulidade das buscas.
Não tendo esta nulidade sido invocada pelos respectivos titulares do sigilo profissional
afectado com a busca, teremos que conclui que essa nulidade se encontra sanada e, em
consequência, deverá ter-se por válida e bem assim válidas as apreensões efectuadas no
âmbito da mesma.
No que concerne à eventual discrepância na identificação do local da busca (sala 5 ou
6), tal constituiria mera irregularidade e só determinaria a invalidade da apreensão e dos
termos subsequentes, se tivesse sido arguida pelos interessados no próprio acto ou, se a este
não tivessem assistido, nos três dias seguintes a contar daquele em que tivessem sido
notificados para qualquer termo do processo ou intervindo em algum acto nele praticado (cf.
art.123º, nº1, do C. Proc. Penal).
No caso, os arguidos não arguiram, em devido tempo, expressamente qualquer
nulidade ou irregularidade consistente na discrepância na identificação do local da busca, pelo
que, a existir algum vício, sempre o mesmo estaria sanado, pelo decurso do prazo previsto no
artigo120º n.º3 alíneas a) e c) do Código de Processo Penal.
De todo o modo, a testemunha Daniel Américo Figueiredo Ferreira, confirmou que
naquelas instalações estava sedeada a empresa objecto da busca “ABSSL-Audio Broadcasting
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Software System, L.da”, pelo que dúvidas não existem que a busca àquela empresa foi
realizada no local onde a mesma funcionava, independentemente de ser na sala 5 ou 6.
Em face de todo exposto, julga-se improcedente a arguição de nulidade das buscas e,
em consequência, declara-se a validade das mesmas e bem assim das apreensões efectuadas
na sequência das mesmas.
Notifique.
*
Não se suscitam questões prévias ou incidentais susceptíveis de obstar à apreciação do
mérito da causa.
*
2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1. Matéria de facto provada
Produzida a prova e discutida a causa, resultaram provados os seguintes factos:
Do Processo principal
1. Em 25 de Setembro de 2001, os arguidos Alexandre e Rafael e o André
Sviatopolk-Mirsky Raimundo, constituíram entre si a sociedade por quotas
“Raimundo Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª”, cuja gerência,
entre 21 de Fevereiro de 2002 e 20 de Março de 2006 esteve a cargo do
arguido Rafael, passando a partir de então a incumbir tal gerência ao arguido
André;
2. Por sua vez, a sociedade “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e
Jornais, L.da” (abreviadamente RCI) tinha por objecto a exploração de
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emissoras de rádio e televisão, publicação de jornais e revistas, publicidade,
informática e afins e comercialização de componentes electrónicos, e,
inicialmente encontrava-se sediada na Avenida António José de Almeida, nº9,
mudando-se em 6 de Agosto de 2010 para a Rua Dr. Luís Ferreira, nº58, 3º
Andar, Sala 6, Viseu, onde ficou sediada até à sua dissolução, encerramento
da liquidação e cancelamento da matrícula, ocorridos em 2 de Maio de 2014;
3. A sociedade “ABSSL – Audio Broadcasting Software System, L.da”
(abreviadamente ABSSL), cujo objecto social era a prestação de serviços no
domínio da informática, produção, montagem e desenvolvimento de sistemas
de software para automação de rádios, produção, desenvolvimento e
montagem de programas multimédia e audiovisuais, representação, compra e
venda, importação, exportação e montagem de componentes electrónicos,
sistemas informáticos e de computação e publicidade) desde a sua
constituição, em 13 de Março de 2003, até à sua dissolução, encerramento da
liquidação e cancelamento da matrícula, ocorridos em 30 de Julho de 2012,
teve a sua sede na Rua do Comércio, n.º 58, 3º andar, Viseu;
4. O arguido Rafael Sviatopolk foi o único gerente da sociedade “ABSSL”
durante todo a existência desta, apesar de as decisões relativas à gestão da dita
sociedade serem tomadas, de comum acordo, com os arguidos Anacleto,
André e Alexandre, todos eles sócios da mesma sociedade;
5. Em data não concretamente apurada, mas seguramente ocorrida antes de
Março de 2009, os arguidos combinaram entre si uma forma de, através das
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sociedades “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª” e
“ABSSL – Audio Broadcasting Software System, Ldª”, de que todos eram
simultaneamente sócios, obterem da parte do Estado quantias monetárias para
pagamento de investimentos pretendiam efectuar para equipar a Rádio de Seia,
também por todos explorada;
6. Sucede que os arguidos bem sabiam que a Rádio de Seia não reunia as
necessárias condições para poder candidatar-se a tal incentivo, desde logo por
ser muito recente e carecer de toda uma série de requisitos contabilísticos que
permitissem obter a aprovação da sua candidatura;
7. Por esse motivo, e porque a “RCI”, empresa também ela propriedade dos
arguidos, como supra se disse, conseguiria reunir os requisitos impostos por
tal candidatura, logo os arguidos, aproveitando-se de serem os únicos sócios e
gerentes da “RCI” e da “ABSSL”, delinearam entre eles um plano com vista a
conseguirem ser subsidiados pelo Estado na aquisição do material pretendido
para a Rádio de Seia;
8. Assim, por requerimento datado de 25 de Março de 2009, subscrito pelo
André Raimundo, enquanto sócio gerente, dirigido ao Ministro dos Assuntos
Parlamentares, a sociedade “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e
Jornais, L.da” candidatou-se ao Incentivo à Consolidação e ao
Desenvolvimento das Empresas de Comunicação Social Regional e Local,
previsto no art.3º do Decreto-Lei nº7/2005 de 6 de Janeiro;
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9. Tal incentivo consiste numa comparticipação do Estado, a fundo perdido, de
um montante que não exceda 50% do financiamento necessário à execução do
projecto aprovado;
10. Nesse projecto de candidatura, é apresentado um investimento num valor total
de 148.988€, composto pela utilização de capitais próprios no valor de
74.494€ e de outro tanto que receberiam do Estado a titulo de incentivo,
valores esses que vieram a ser rectificados, tendo sido aprovado e concedido à
sociedade “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Lda.”
um subsídio a fundo perdido no valor de 72.494€, correspondente a 50% do
valor do projecto apresentado;
11. O projecto de investimento apresentado pela “Raimundo Comunicação
Independente – Rádio e Jornais, L.da” consistia, concretamente, na aquisição
dos seguintes equipamentos que precisavam ser substituídos na sua sede em
Viseu:
- Sistema Digital RM 5.3 Upgrade no valor de 10.000€ (sem IVA)
- Consola de Emissão Soundcraft Digital 12 faders +8 Externos AES/EBU no
valor de 20.478€ (sem IVA);
- Processador DEigital 8600 AES/EBU orban com extra HD MPX limiter, no
valor de 22.400€ (sem IVA);
- Leitores de CD, Professional Denon AES/EBU Duplo com MP3 e pitch, no
valor de 5.400€ (sem IVA);
- Bastidores de 42U e 32U, no valor de 5.700€ (sem IVA);
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- Distribuidor de Audio Rane, no valor de 1.300€ (sem IVA);
- Caixas de Rack e conversores VGA, no valor de 2.000 (sem IVA);
- Conversores VGA/PS2/USB para cabo UPT para remoto (5 unidades), no
valor de 4.000€ (sem IVA);
- Link Digital Moseley 2 Canais para ligação digital entre estúdios/emissor
com antenas, no valor de 35.040 (sem IVA);
- Sistema Digital RM Newsroom Newsbar system, no valor de 5.000€ (sem
IVA);
- Computador de produção ABSS – Premiu com raid system, no valor de
2.870€ (sem IVA);
- Computador de Emissão ABSS - Premiu com raid system, no valor de 5.740€
(sem IVA);
- Torre Galvanizada de 15 Metros triangular com espias, iluminação para
estúdios, no valor de 16.300€ (sem IVA):
- 1 unidade de instalação, no valor de 2000€ (sem IVA);
- Um microfone Neuman, no valor de 6.760€ (sem IVA);
12. Todavia, a factura apresentada no projecto de candidatura não correspondia à
realidade pois estava sobre-orçamentada, encontrando-se alguns dos
equipamentos facturados pela “ABSSL” sobreavaliados, sendo o valor real
dos mesmos muito menos de metade do valor constante de tal factura;
13. Com efeito, parte dos preços acima referidos resultavam de uma prévia
combinação entre o arguido Rafael Raimundo e o Anacleto Raimundo e
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André Raimundo, que, em data não concretamente apurada, combinaram entre
si sobre-facturar tais bens de modo a poderem auferir maior subsídio que
aquele a que teriam direito;
14. Na verdade, veio a apurar-se que, ao invés dos preços acima indicados, o
verdadeiro custo dos seguintes bens importaria em:
- Processador DEigital 8600 AES/EBU orban com extra HD MPX limiter,
custaria apenas 2.600€ e não o valor de 22.400€ constante da factura;
- Leitores de CD, Professional Denon AES/EBU Duplo com MP3 e pitch,
custaria apenas 1.638€ e não o valor de 5.400€ indicado na factura;
- Consola de Emissão Soundcraft Digital 12 faders +8 Externos AES/EBU,
custaria apenas o valor de 6.000,00€ e não o valor de 20.478€ indicado na
factura;
- Um microfone Neuman, custaria apenas 850€ e não o valor de 6.760€
indicado na factura;
15. Acresce que os equipamentos descritos em 14) foram pelos arguidos
adquiridos, pelos preços referidos no mesmo parágrafo, não para as
instalações da RCI em Viseu, como resultava do projecto de candidatura, mas
sim para a instalação de uma Rádio em Seia;
16. Com a candidatura a tal incentivo, a sociedade “Raimundo Comunicação
Independente – Rádio e Jornais, Ldª” apresentou toda a documentação
exigida, na qual se incluía o orçamento justificativo da verba solicitada, tendo
apresentado ainda a factura pró-forma nº72/2009, emitida em 17/11/2009 pela
Tribunal Judicial da Comarca de Viseu
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“ABSSL – Audio Broadcasting Software System, Ldª” no montante de
173.985,60€;
17. Face à apresentação de tal candidatura, instruída com os ditos documentos,
por despacho de 19/10/2010, foi atribuído pelo Estado à sociedade “Raimundo
Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª” um incentivo no valor de
72.494,00€, correspondente a 50€ do financiamento necessário à execução do
projecto aprovado, cujo pagamento foi efectuado em 18/12/2009;
18. Na sequência da adjudicação de tal incentivo foi o processo de candidatura
referido sujeito a uma auditoria vindo então a constatar-se que a “Raimundo
Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª” não logrou nunca
comprovar que havia efectuado os pagamentos das quantias acima referidas
para pagamento dos investimentos que no seu projecto de candidatura
declarava ter adquirido;
19. Mais se apurou que, como comprovativo de tais operações, foram juntos
apenas a factura nº72/2009, emitida em 17/11/2009 pela “ABSSL – Audio
Broadcasting Software System, Ldª” no montante de 173.985,60€ e o recibo
nº55/2009, emitido pela mesma sociedade e igualmente datado de 17/11/2009;
20. De tal situação, e porque as duas sociedades envolvidas tinham os aqui
arguidos como sócios e gerentes, veio pois a apurar-se que, afinal, os bens
constantes do projecto de candidatura da “Raimundo Comunicação
Independente – Rádio e Jornais, Ldª” ao incentivo em causa foram adquiridos
não por esta sociedade mas sim pela “ABSSL” e foram os mesmos
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canalizados para a estação de Rádio de Seia, também ela explorada pelos aqui
arguidos;
21. Por força da factura e do recibo falsamente emitidos pela “ABSSL – Audio
Broadcasting Software System, Ldª” e apresentado pela “Raimundo
Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª”, o Gabinete da
Comunicação Social veio a pagar o subsídio no montante atribuído, tendo sido
transferido para a conta bancária do André Raimundo a quantia de 25.000€, e
para a conta da “ABSSL” foram transferidas duas verbas de 12.500€, ficando
o restante na conta da RCI;
22. Para poder justificar a entrada das quantias recebidas pela RCI a título de
incentivo e por esta transferidas nos termos referidos, de modo a permitir
regularizar em termos contabilísticos as transferências de dinheiro efectuadas
pela “RCI”, em 31/12/2009, a “ABSSL” emite um registo contabilístico onde
faz constar falsamente a emissão de um documento de prestação de serviços
de publicidade por parte da “RCI” no mesmo valor do emitido e utilizado
como justificativo do investimento (isto é, 173.985,60€, que equivale a
144.988€ + 28.997,60 a título de IVA);
23. Os arguidos Rafael Raimundo e Alexandre Raimundo actuaram em
conjugação de esforços e intentos e, no seguimento de planos acordados entre
ambos, e utilizando para tanto as sociedades “RCI” e “ABSSL” de que eram
os únicos sócios e gerentes, emitiram facturas em valores superiores aos
transaccionados, falsificaram facturas e recibos, de modo a poderem adquirir
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os bens que pretendiam para a s instalações da Rádio de Seia logrando obter
do estado subsídio de metade do investimento declarado;
24. Bem sabia os arguidos não ter direito às quantias recebidas, no valor de
72.494,00€, sabendo outrossim que apenas lograram auferir as mesmas graças
à facturação falsa e à falsificação das demais declarações prestadas no seu
projecto de candidatura, em que anunciavam que tais bens se destinavam às
suas instalações de Viseu, quando na verdade os colocaram, como sempre foi
seu intuito, na Rádio de Seia;
25. Os arguidos agiram em comunhão de esforços e intentos, agindo nas
circunstâncias acima descritas de forma livre, deliberada e consciente, bem
sabendo serem as suas condutas proibidas e penalmente punidas;
Do Apenso A:
26. Em 25 de Setembro de 2001, o arguido Rafael Raimundo, juntamente com o
André e Alexandre Sviatolopolk-Misky Raimundo, constituíram entre si a
sociedade por quotas “Raimundo Comunicação Independente – Rádio e
Jornais, Ldª”, cuja gerência, entre 21 de Fevereiro de 2002 e 20 de Março de
2006 esteve a cargo do arguido Rafael, passando a partir de então a incumbir
tal gerência ao André Sviatolopolk-Misky Raimundo, até à data da dissolução
daquela, em 2 de Maio de 2014;
27. A sociedade “ABSSL – Audio Broadcasting Software System, Ldª”
(abreviadamente ABSSL), cujo objecto social era a prestação de serviços no
domínio da informática, produção, montagem e desenvolvimento de sistemas
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de software para automação de rádios, produção, desenvolvimento e
montagem de programas multimédia e audiovisuais, representação, compra e
venda, importação, exportação e montagem de componentes electrónicos,
sistemas informáticos e de computação e publicidade) desde a sua
constituição, em 13 de Março de 2003, até à sua dissolução, encerramento da
liquidação e cancelamento da matrícula, ocorridos em 30 de Julho de 2012,
teve a sua sede na Rua do Comércio, n.º 58, 3º andar, Viseu;
28. O arguido Rafael Sviatopolk foi o único gerente da sociedade “ABSSL”
durante toda a existência desta, sendo também sócio da mesma juntamente
com Anacleto Raimundo, André e Alexandre Sviatolopolk-Misky Raimundo;
29. Por sua vez, a arguida “ABSS –Broadcast, Ldª” (abreviadamente ABSS), foi
constituída em 26 de Janeiro de 2012, tendo como sócios o arguido Rafael
Raimundo e o Anacleto Raimundo, cabendo a cada um destes duas quotas
sociais no valor de 2.5000€;
30. O arguido Rafael Sviatopolk foi o único gerente da sociedade “ABSS” durante
todo a existência desta, bastando a sua assinatura para obrigar aquela
sociedade;
31. Por requerimentos datados de 31/3/2011 e 3/8/2012, a sociedade “Raimundo
Comunicação Independente – Rádio e Jornais, Ldª” (doravante, RCI)
candidatou-se, por duas vezes, ao Incentivo à Consolidação e ao
Desenvolvimento das Empresas de Comunicação Social Regional e Local,
previsto no art.3º do Decreto-Lei n.º 7/2005 de 6 de Janeiro;
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32. Tal incentivo consiste numa comparticipação do Estado, a fundo perdido, de
um montante que não exceda 50% do financiamento necessário à execução do
projecto aprovado face ao valor titulado nas facturas apresentadas;
33. Para justificar o recebimento de tal incentivo, na primeira dessas candidaturas,
o arguido Rafael Raimundo, em nome e representação da arguida ABSSL de
que era sócio gerente, preencheu a factura com o n.º 43/2011 de 9/12/2011,
nela indicando o valor de 60.834,57€,que passou em nome da RCI;
34. Tendo por base tal factura, foi a primeira das referidas candidaturas aprovada
em 25/11/2011, e na sequencia dessa aprovação, em 28 de Dezembro de 2011,
efectuou o GMCS uma transferência bancária para a conta n.º48300804 do
BCP, titulada pela RCI, no valor de 26.213,27€ (correspondente a 50% do
valor líquido da referida factura), valor esse que, todavia, não foi usado para
proceder à aquisição dos bens facturados mas antes acabaram por ser
transferidos para a conta bancária titulada pelo arguido Rafael Raimundo, que
assim se apropriou ilegitimamente de tal quantia;
35. De igual modo, para justificar a segunda candidatura, o arguido Rafael
Raimundo em nome e representação da arguida ABSS de que era sócio
gerente, preencheu a factura com o n.º F 155, de 6/11/2012, nela indicando o
valor de 52.072,05€,que passou em nome da RCI;
36. Tendo por base esta factura, foi a segunda candidatura aprovada em
25/10/2012 vindo, em 21 de Novembro de 2012, o GMCS a efectuar uma
transferência bancária para a conta n.º48300804 do BCP, titulada pela RCI, no
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valor de 22.437,55€ (correspondente a 50% do valor líquido da referida
factura), valor esse que, todavia, não foi usado para proceder à aquisição dos
bens facturados, acabando por ser transferidos para a conta bancária titulada
pela arguida ABSS, representada pelo arguido Rafael Raimundo, que assim se
apropriou ilegitimamente de tal quantia;
37. Com efeito, as facturas emitidas pela arguida ABSS não correspondiam ao
pagamento da venda de qualquer bem ou prestação de serviço que aquela
arguida tivesse efectuado à empresa RCI, antes tendo servido tão só de meio
para que esta última lograsse obter a quantia monetária, a título de subvenção,
a que se candidatara;
38. O arguido Rafael Raimundo, aproveitando-se da sua posição de sócio gerente
da ABSS - Broadcast, Ldª e da extinta ABSSL - Audio Broadcasting Software
System, Ldª, emitiu as duas facturas acima referidas, que não correspondiam a
quaisquer fornecimentos de bens ou serviços, com o intuito de, mediante a
apresentação das mesmas, a extinta Raimundo Comunicação Independente –
Rádio e Jornais, Ldª viesse a obter do estado subsídio de metade do
investimento declarado em tais documentos, o que conseguiu;
39. Bem sabia o arguido que a RCI não tinha direito às quantias recebidas, no
valor de total de 48.650,82€, sabendo outrossim que a mesma apenas logrou
auferir as mesmas graças à facturação falsa e à falsificação das demais
declarações prestadas no seu projecto de candidatura, em que anunciava a
aquisição de tais bens à arguida ABSS e à ABSSL para incremento da
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actuação da RCI, bens que nunca chegaram a entrar nesta última empresa
sendo que foram os arguidos Rafael e ABSS quem, a final, se apropriaram de
tais quantias pagas pelo Estado, não obstante bem saberem não lhes serem as
mesmas devidas;
40. Agiu o arguido Rafael nas circunstâncias acima descritas de forma livre,
deliberada e consciente, bem sabendo serem as suas condutas proibidas e
penalmente punidas;
Condições pessoais e sociais dos arguidos e impacto jurídico-penal
41. Rafael Raimundo é natural do Brasil, país para onde o pai havia emigrado
ainda jovem e onde nasceu a mãe, cujos progenitores eram cidadãos russos. É
o mais novo de três irmãos, tendo a família vindo para Portugal em agosto de
1986, por decisão do pai, que considerou experienciar temporariamente a
vivência no nosso país, sobretudo, ao nível da educação e formação dos filhos,
sendo que tal situação viria a assumir carácter definitivo;
42. Quer no Brasil quer em Portugal a família sempre beneficiou de condições
económicas favoráveis, desenvolvendo o pai as actividades de advocacia e
empresarial;
43. Da sua infância e juventude, o arguido guarda recordações positivas,
denotando um sentimento de pertença e identidade familiar que parecem ter
contribuído favoravelmente para a formação da sua personalidade,
preocupavam-se os pais com a transmissão de valores e regras de conduta;
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44. Ao nível escolar, após ter sido sujeito a uma prova de aptidão em Lisboa
quando veio do Brasil, foi integrado no 4.º ano de escolaridade, tendo
registado sucesso ao longo do seu percurso;
45. A frequentar o curso universitário de Engenharia Electrotécnica e de
Computadores no Instituto Superior Técnico de Lisboa, Rafael Raimundo
colaborava paralelemente com o pai na empresa ligada a uma Rádio, onde lhe
suscitava particular interesse a parte técnica, actividade que acabaria por o
afastar da frequência daquele curso, o qual ainda não terminou. Contudo,
constitui um dos seus objectivos a concretizar, a curto prazo, a conclusão do
mesmo, prevendo que tal aconteça em apenas um ano lectivo;
46. Do ponto de vista profissional, sempre esteve ligado às empresas da família
(pai e irmãos), nomeadamente, àquela que está em causa nos presentes autos, a
“ABSSL – Audio Broadcasting Software System, Lda.”, cuja dissolução
ocorreu em finais de Julho de 2012;
47. Regressados os pais e os dois irmãos ao Brasil, o arguido ficou sozinho a gerir
o que resta da empresa da Rádio, a qual chegou a ter 22 colaboradores;
48. Um acentuado decréscimo na procura dos serviços de publicidade e os
créditos acumulados ao longo do tempo, determinaram a situação em que se
encontra. Desde então, tem vindo a desenvolver um projecto com um grupo
que tem várias rádios, prestando serviços para o mesmo, na área técnica;
49. Os rendimentos, muito variáveis, que vai conseguindo e a remuneração da
esposa como Técnica Superior no Município de Viseu, vão permitindo ao
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casal fazer face às despesas do agregado familiar, ainda que tal implique uma
gestão muito rigorosa de tais recursos económicos, dado terem despesas fixas
mensais superiores a 1.200 euros;
50. Rafael Raimundo, o cônjuge com quem casou em 2010, e o filho de ambos, de
5 anos, residem num apartamento arrendado localizado no centro da cidade de
Viseu;
51. O relacionamento conjugal foi descrito como gratificante e isento de conflitos
significativos, assentando numa dinâmica de coesão e de apoio;
52. Uma vez que os familiares mais próximos se encontram a residir no Brasil, o
arguido compensa tal ausência através do convívio que mantém com a família
da esposa, sendo a principal forma de ocupar os seus tempos livres;
53. Em termos pessoais, revela ser uma pessoa com um bom contacto interpessoal
e com uma personalidade assente em valores pró-sociais;
54. É considerado correto e cordial nos contactos que mantém com os outros;
55. Para além do presente processo judicial Rafael Raimundo referiu dois
contactos anteriores com o sistema de Justiça, tendo sido proferidas decisões
que se encontrarão em fase de recurso;
56. Relativamente aos presentes autos, discorda dos termos em que se encontra
acusado, contudo, reconhece que os confrontos com as estruturas judiciais lhe
têm provocado grande inquietação e, num momento inicial, alguma tensão no
relacionamento conjugal, situação que se encontra ultrapassada, beneficiando
agora do total apoio da esposa;
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57. O arguido Alexandre vive no Brasil, no Rio de Janeiro, com a esposa e o filho
de 1 ano e 7 meses de idade, sendo a sua esposa militar das Forças Armadas;
58. Trabalha como empresário de telecomunicações;
59. Tem a frequência do 4º ano de Direito;
60. A arguida ABSS, Broadcast, L.da tem um capital social de €10.000,00 e no
exercício de 2015 apresentou um volume de negócios de €101.748,30 e um
lucro tributável de €9.668,88.
Antecedentes criminais dos arguidos
61. Os arguidos pessoas singulares e a arguida sociedade não têm antecedentes
criminais.
2.2. Matéria de facto não provada
Para além dos factos meramente conclusivos, que contenham matéria de direito ou que
estejam em manifesta contradição com os dados como provados, nada mais se provou com
relevância para a decisão da causa, não se provando que:
1. Todos os equipamentos que constam da factura n.º 72/2009, da ABSSL, foram
adquiridos pela RCI, fornecidos e instalados;
2. O pagamento da RCI para a ABSSL não foi feito integralmente pela RCI mas sim
via sócios e em dinheiro, em termos contabilísticos foi feito integralmente por
caixa;
3. Alguns montantes foram pagos directamente via bancos e o restante através de
encontro de contas dos sócios com as empresas e via caixa e bancos;
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4. A RCI factura pacotes de publicidade à ABSSL que, por sua vez, revendia a
publicidade a clientes de Viseu;
5. Todo o material comprado foi para a RCI em Viseu e não para a Rádio de Seia;
6. Nas circunstâncias descritas em 2.1.31. tenha sido o arguido Rafael Raimundo
quem subscreveu os requerimentos ali referidos;
7. Nas circunstâncias descritas em 2.1.33. o arguido Rafael Raimundo tenha
preenchido a factura ali referida em nome e em representação da arguida ABSS;
8. Nas circunstâncias descritas em 2.1.36. a verba ali referida acabasse por ser
transferida para a conta bancária titulada pelo arguido Rafael Raimundo.
2.3. Motivação da matéria de facto
A convicção do Tribunal no que respeita à factualidade provada formou-se com base
na conjugação de toda a prova produzida em sede de audiência de julgamento e recurso às
regras de experiência comum.
No que se refere aos factos descritos em 2.1.1. a 2.1.25. (processo principal) tomou em
consideração o tribunal, desde logo, o teor dos documentos de fls.4-63, certidão de fls. 64-65,
documentos de fls.66-187, factura de fls. 188, recibo de fls. 189, documentos de fls.190-201,
relatório de fls.202-226, documentos de fls.227-272 e 295-300, documento de fls. 343,
documentos de fls. 359-454, certidão de fls. 455-459, relatório da PJ de fls.460-464,
documentos de fls. 815 e 816 e 1074-1075.
Para além da prova documental, valorou o tribunal os depoimentos das seguintes
testemunhas, prestados em sede de audiência de julgamento:
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- Arlindo Ferreira, Inspector da Polícia Judiciária, fora da efectividade de funções
desde 2015, o qual depondo de forma isenta e credível, começou por esclarecer a sua função
de investigador nos presentes autos. Para além disso, confirmou e esclareceu o teor do
relatório por si elaborado e que consta a fls. 460-464 e a forma como chegou às conclusões ali
apontadas;
- José António Lino Craveiro, jurista, actualmente exercendo funções na Secretaria
Geral da Presidência do Conselho de Ministros e à data dos factos exercia as funções de
jurista no Gabinete para os Meios de Comunicação Social, tendo como função apreciar os
processos de candidatura a fundos comunitários. No essencial, esta testemunha, depondo com
isenção e credibilidade, reportou-se ao relatório de auditoria que consta a fls. 202 e seguintes
dos autos principais, esclarecendo que no que diz respeito ao subsídio concedido a que se
reportam aqueles autos, não foi obtida a evidência do pagamento ao fornecedor do material
alegadamente adquirido e que tal não veio a acontecer mesmo depois de solicitados
esclarecimentos à RCI, sendo certo que tal só seria evidenciado através de cheque ou
transferência bancária já que era proibido fazer o pagamento em dinheiro. Mais disse que tal
constituía uma das condições da candidatura e que era do conhecimento de quem apresentava
a candidatura;
- Daniel Américo Figueiredo Ferreira, o qual referiu ter trabalhado como locutor de
rádio, na RCI, desde 1988 até há cerca de 3 ou 4 anos e, depondo com isenção e credibilidade,
com relevo para os autos referiu que no mesmo espaço onde funcionava a RCI, funcionava
também a Rádio de Seia e o Engº Rafael. Mais disse que a RCI nunca fez publicidade à
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ABSSL, nem no ano de 2009, nem posteriormente e que se tal tivesse acontecido seria do seu
conhecimento;
- Maria Mabília de Sousa Amaral, funcionária da RCI como angariadora de
publicidade, a qual, depondo com credibilidade, referiu de interesse para aos autos que era o
Sr. Daniel quem fazia os spots publicitários e que não é do seu conhecimento que a RCI
fizesse publicidade à ABSSL;
- Pedro Miguel Nunes de Sousa, auditor, funcionário da BDO, disse conhecer os
arguidos por ter feito uma auditoria à RCI, auditoria contratada pelo Gabinete para os Meios
de Comunicação Social (GMCS). Depondo com credibilidade e isenção referiu que o objecto
da auditoria consistia em saber se o material tinha sido adquirido, se estava a funcionar e se
tinha sido pago e que no âmbito da auditoria realizada tiveram dificuldades em saber se o
equipamento tinha sido pago ao fornecedor. Pese embora tivesse dificuldades em se recordar
da situação em concreto em face do tempo decorrido, disse que a auditoria foi desfasada no
tempo em relação ao projecto, ter ideia de que se tratava de uma única factura e que terá feito
no local a conferência do equipamento através da mesma, com os números de série. Mais
disse que a ilegibilidade das despesas era duvidosa porque não se demonstrou o fluxo
financeiro do pagamento.
As restantes testemunhas ouvidas não contribuíram com relevância para a decisão da
causa, razão pela qual se não faz referência aos seus depoimentos.
Da conjugação de toda a prova produzida e acima referida fica-nos a convicção da
verificação dos factos que foram dados como provados, sendo a factura n.º 72/2009 e o recibo
n.º 55/2009 falsos, não tendo os arguidos adquirido aquele material nem tão pouco o pagaram,
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sendo certo que as justificações apresentadas pelos arguidos em sede de declarações (em
suma: acerto de contas entre sociedades, suprimentos de sócios, acertos de contas entre os
sócios) não foram corroboradas por qualquer meio de prova e antes foram infirmadas pelos
acima elencados.
Na verdade, inexiste nos autos qualquer prova documental do pagamento da factura n.º
72/2009 por parte da RCI à ABSSL, sendo certo que tal prova teria que consistir em cheques
ou transferências bancárias, não constituindo prova dos fluxos financeiros a referida factura e
o recibo n.º 55/2009. Dos autos resulta que a RCI veio alegar o pagamento de duas tranches
no montante de €12.500,00 cada uma, realizadas em Dezembro de 2009 e que a liquidação do
restante teria sido feita directamente pelos sócios ao fornecedor, não tendo, contudo, logrado
demonstrar documentalmente tal desiderato. Por outro lado, não deixa de ser no mínimo
estranho que n.º 55/2009 tenha a data de 17 de Novembro de 2009 e, como tal, anterior ao do
pagamento efectuado pelo GMCS, o qual ocorreu no dia 18 de Dezembro de 2009.
Por outro lado, do quadro descrito a fls. 343 o qual consiste numa análise às
contas bancárias dos arguidos, resulta que do montante de €72.494,00 pagos pelo GMCS, o
qual foi transferido para uma conta da RCI, foram transferidos para a ABSSL duas tranches
de €12.500,00 cada, uma no dia 23 de Dezembro de 2009 e a outra no dia 30 de Dezembro de
2009. Do restante, €25.000,00 foram transferidos para a conta do André Raimundo, através de
três tranches, duas de €10.000,00 e uma de €5.000,00 (dias 29/12/2009 e 31/12/2009), sendo
que o que sobrou ficou na conta da RCI. Donde resulta que, do valor titulado pela factura n.º
72/2009, apenas €25.000,00 foram transferidos para o fornecedor e com o dinheiro
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proveniente do GMCS, sendo certo que, como adiante se verá, tal quantia não se destinou à
aquisição de qualquer equipamento.
Pese embora tal montante não ter sido pago, como se disse, ele aparece compensado e
registado contabilisticamente na ABSSL. Com efeito, no documento de fls. 400, datado de 31
de Dezembro de 2009, é contabilizada uma suposta prestação de serviços de publicidade da
RCI para a ABSSL, pasme-se, exactamente no mesmo valor da factura - €173.985,60!!,
quando é certo e, como resulta da prova testemunhal acima elencada, a RCI nunca prestou
serviços de publicidade para a ABSSL no ano de 2009.
Outra conclusão não se poderá extrair que não seja a de que os arguidos quiseram
obter o montante do subsídio em questão e, com a suposta publicidade, regularizar
contabilisticamente tal valor, evitando desta forma a obrigação de pagamento de IVA
incidente sobre tais supostas vendas de materiais constantes da factura n.º 72/2009.
A sustentar e para explicar todas estas movimentações temos os emails de fls. 408 a
454 dos autos, onde os arguidos deixam claro quais as suas intenções.
No email que consta a fls. 412, no dia 13 de Abril de 2009, o arguido Rafael dá conta
ao arguido Alexandre, ao Anacleto Raimundo e ao André Raimundo de que o projecto da RCI
irá conter equipamentos realmente a comprar, com outros já existentes para haver um encaixe
financeiro.
No email de fls. 425-428, enviado pelo arguido Alexandre ao arguido Rafael, datado
de 1 de Dezembro de 2009, aquele diz que o projecto da RCI foi aprovado mas que “pode-se
não comprar nada, mas que tal será impossível justificar numa auditoria certos
equipamentos, para mais, o que tem de ser comprado é que tem de ser comprado para seia,
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logo vem em perfeita altura”. Nesse mesmo email envia a relação do equipamento que terá de
ser adquirido e do que poderá ser maquiado, sendo que dessa lista constam os valores reais
dos equipamentos a adquirir, tal como consta dos factos provados. Daqui resulta que o
equipamento a adquirir para o projecto apresentado pela RCI totalizava apenas a quantia de
€14,458,00. Também ali se faz referência ao encontro de contas entre a ABSSL e a RCI
através do cruzamento de facturas por forma a evitar o pagamento do IVA, o qual se veio a
concretizar, como acima se referiu, com o documento de fls. 400. Tudo visto, diz o arguido
Alexandre, dá para adquirir o material da RCI, daquele que irá para Seia e ainda resta um
lucro de cerca de 50 mil euros.
No email de fls. 435-436, datado de 26 de Janeiro de 2010, o arguido Rafael diz que a
única razão para ter passado os €25.000,00 para a ABSSL foi por causa da ATM, aqui
surgindo a explicação para o movimento dessa quantia para a ABSS e a restante quantia ter
ficado na RCI. Mais diz o arguido Rafael que a forma como vai ser movimentado o dinheiro
para efeitos de futuras auditorias ainda não tinha definido, justamente para ter os valores do
fecho definidos.
Finalmente, no email de fls. 437, do André Raimundo para o arguido Rafael aquele
refere que em termos de movimentação de contas, convinha que este transferisse o dinheiro
para a Raimundo para compor o saldo. Refere ainda que é importante ver com a funcionária
Almerinda os circuitos dos incentivos para chegarem ao valor final de IVA o quanto antes.
Mais uma vez, em 27 de Janeiro de 2010, o arguido Rafael diz para o seu pai Anacleto
Raimundo que a movimentação dos incentivos da RCI deverá passar para a ABSS, depois
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para os sócios, depois dos sócios para a RCI e aí de novo para a ABSS e no final para a RCI,
onde ficará.
Se dúvidas houvesse, e já não havia, estes emails explicam e demonstram claramente
que nunca houve qualquer pagamento dos equipamentos referidos na candidatura e na
respectiva factura por parte da RCI à ABSSL, não contendendo com estas conclusões que
resultam à saciedade, o depoimento prestado pela testemunha Pedro Miguel Nunes de Sousa,
a qual se notou ter algumas dificuldades em se recordar da situação, o que é normal se
pensarmos no tempo que passou. Assim, não obstante este ter dito que conferiu no local o
equipamento com os números de série, não cremos que o tenha feito na realidade, desde logo
porque da factura não consta qualquer número de série e, por outro lado, mesmo que ele tenha
feito a conferência do equipamento, não seria difícil aos arguidos, avisados que eram da
auditoria, em ali colocar equipamento compatível com o descrito na factura, tanto mais que a
Rádio de Seia funcionava no mesmo local, facto que consta do mandado de busca
referenciado a fls. 372 e foi referido pela testemunha Daniel Ferreira.
Quanto aos factos descritos em 2.1.26.-2.1.40. (apenso A), relevou desde logo o teor
do documento de fls. 15, factura de fls. 16, certidões de fls.17 e 18, documento de fls.19,
factura de fls. 20, certidões de fls. 21-23, documentos de fls. 25-36, certidão de fls. 37-41,
documentos de fls.45-57, certidões de fls.66-69, 70 e 71, documentos de fls.74-84, 93 e 94,
97-101, 105-107, Informação de fls.109-111 e documentos de fls. 132-134, todos do apenso
A. Teve-se também em consideração o teor dos documentos de fls.1, 46, 53, 96, 98, 110, 133,
166, 167, 168, 181, 182, 196, 219, 230, 231, 232, 233, todos do Apenso I dos Documentos
Bancários.
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Para além disso, valorou o tribunal valorou o tribunal os depoimento das seguintes
testemunhas, prestado em sede de audiência de julgamento:
- Arlindo Ferreira, Inspector da Polícia Judiciária, fora da efectividade de funções
desde 2015, o qual depondo de forma isenta e credível, começou por esclarecer a sua função
de investigador nos presentes autos. Para além disso, confirmou e esclareceu o teor da
informação por si elaborada e que consta a fls.109-111 e a forma como chegou às conclusões
ali apontadas;
- Susana Gomes Pereira, auditora financeira da BDO, a qual, de forma isenta e
credível, referiu ter realizado auditoria a projectos financiados pelo GMCS (gabinete para os
meios de comunicação social), a pedido deste, onde se incluem os projectos em causa nos
autos. A esse propósito referiu que foi realizada auditoria por suspeitas sobre a elegibilidade
das despesas por ausência de fluxos financeiros que o justificassem, sendo que as conclusões
se encontram no relatório de fls. 26 e seguintes dos autos. Mais referiu não ter sido feita a
verificação física da existência dos equipamentos não só porque não tal verificação não fazia
parte do caderno de encargos da auditoria como também pelo facto de o equipamento poder
ter sido vendido dois anos depois já que os projectos eram antigos. De relevo disse que caso
tivessem feito uma verificação física dos equipamentos a empresa visada era sempre avisada
da sua visita;
- Mafalda Cristina Abade da Silva Bastos Lopes, auditora financeira da BDO, a qual,
de forma isenta e credível, referiu ter realizado auditoria a projectos financiados pelo GMCS
(gabinete para os meios de comunicação social), a pedido deste, onde se incluem os projectos
em causa nos autos. A esse propósito referiu que as conclusões da auditoria se encontram no
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relatório de fls. 26 e seguintes dos autos. Mais referiu não ter sido feita a verificação física da
existência dos equipamentos porque não tal verificação não fazia parte do caderno de
encargos da auditoria. De relevo disse que não tiveram acesso aos extractos bancários da
ABSS e só aos da RCI porque não fazia parte do caderno de encargos a consulta daqueles
extractos.
Da conjugação de toda a prova produzida e acima referida, com destaque e maior
relevo para os documentos referidos, fica-nos a convicção da verificação dos factos que foram
dados como provados, sendo certo que as justificações apresentadas pelos arguidos em sede
de declarações (em suma: acerto de contas entre sociedades, suprimentos de sócios, acertos de
contas entre os sócios) não foram corroboradas por qualquer meio de prova e antes foram
infirmadas pelos acima elencados.
Com efeito, no que diz respeito aos factos provados em 2.1.31.-2.1.34 verifica-se que
para justificar o recebimento desse incentivo, no montante global de €26.213,27, foi
apresentada a factura n.º 43/2011, de 09/12/2011, emitida pela ABSSL, a qual se referia à
compra de diverso equipamento para a RCI no valor ali referido - €60.834,57 (fls. 16 do
apenso A).
Tal candidatura foi aprovada no dia 25 de Novembro de 2011, tendo nessa sequência
sido creditada na conta da RCI do BCP n.º 48300804, da qual era titular o André Raimundo,
no dia 28 de Dezembro de 2011 a quantia de €26.213,27.
Contudo, esse valor não serviu para a aquisição dos bens descritos na referida factura,
já que foi transferido em 3 de Janeiro de 2012 e 9 de Janeiro de 2012, em parcelas de
€10.000,00, €6.213,27 e de duas parcelas de €5.000,00 para a conta da RCI do Banco
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Santander Totta, conta essa com o n.º 0003.22952188020, conforme resulta de fls. 166 do
apenso de documentos bancários.
No dia 6 de Janeiro de 2012, a RCI havia transferido desta conta com o n.º
0003.22952188020 para a conta n.º 0003.22952881020 do Banco Santander Totta, titulada
pela ABSSL, a quantia de €15.000,00, como se vê de fls. 96 e 166 do apeno de documentos
bancários.
Após, no dia 20 de Janeiro de 2012, a RCI transferiu da sua conta n.º
0003.22952188020 do Banco Santander Totta para a conta do mesmo Banco com o
n.º0003.22952881020, titulada pela ABSSL a quantia de €10.000,00, como se vê de fls. 96 e
167 do apenso de documentos bancários.
Por fim, no dia 13 de Fevereiro de 2012 a RCI transfere da sua conta n.º
0003.22952188020 do Banco Santander Totta para a conta da ABSSL do mesmo Banco com
o n.º n.º0003.22952881020 a quantia de €35.834,57, assim se perfazendo o pagamento do
restante montante constante da factura n.º 43/11, como se vê de fls. 168 do apenso de
documentos bancários.
Como claramente resulta destes movimentos bancários, o montante constante da
referida factura, se por um lado “foi paga” com a quantia de €26.213,27 proveniente do
subsidio concedido, no restante “foi paga” com verbas provenientes da própria ABSSL uma
vez que no dia 8 de Fevereiro de 2012, a ABSSL emitiu um cheque a favor do arguido Rafael
Raimundo o cheque que consta de fls. 98 e 196, no montante de €36.000,00, cheque esse que
no mesmo dia foi depositado pelo mesmo arguido Rafael na conta n.º 171676421 do BCP,
titulada pelo próprio, como resulta de fls. 196 e 53 do referido apenso.
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No dia 9 de Fevereiro de 2012, o próprio arguido Rafael emite os cheques que
constam a fls. 212 a 214, cada um no montante de €12.000,00, para após a RCI no dia 13 de
Fevereiro de 2012, efectuar a última parte do pagamento da quantia de €35.854,57, sendo
certo que sem estas verbas não existia saldo na RCI para efectuar esse pagamento, como se
pode ver de fls. 168 do apenso de documentos bancários e do referido extracto de conta.
Em conclusão, para além da quantia subsidiada (€26.213,27) pelo GMCS, não existe
qualquer pagamento por parte da RCI à ABSSL uma vez que o montante restante proveio,
como acima se demonstrou, da própria ABSSL, tudo para fazer acreditar que o investimento
tinha sido feito a 100% como constava da factura, o que não aconteceu, facto que resulta do
que acima se expôs, não sendo despiciendo referir a proximidade dos dias em que foram feitas
todas as movimentações bancárias, algumas no próprio dia ou no dia seguinte.
A forma contabilística encontrada para esconder ou branquear todas estas operações,
foi fazer reflectir na contabilidade da RCI as verbas provenientes da ABSSL como
empréstimos do sócio Alexandre Raimundo, conforme se vê do extracto de conta de
conferência da RCI de fls. 46 dos autos.
No que diz respeito aos factos provados em 2.1.31.-2.1.32 e 2.1.35.-2.1.37., refere-se
ai à concessão de um subsídio no montante global de €22.437,55, sendo que para justificar o
recebimento de tal montante foi apresentada a factura n.º 155/2012, de 6 de Novembro de
2012, conforme resulta de fls. 20 do apenso A, factura emitida pela ABSS e que se referia à
compra pela RCI à referida ABSS de diverso equipamento, no valor ali referido - €52.072,05.
A candidatura a tal subsídio veio a ser aprovada em 25 de Outubro de 2012, conforme
resulta de fls. 25 do apenso A e foi creditada na conta da RCI do BCP com o n.º 48300804, no
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dia 21 de Novembro de 2012, a quantia de €22.437,55, como se vê de fls. 51 e 52 do apenso
A.
Logo no dia seguinte, ou seja, no dia 22 de Novembro de 2012, o arguido Rafael
levantou €20.000,00 da conta n.º 0003.22952882020, titulada pela ABSSL (sociedade que se
encontrava extinta desde 30 de Julho de 2012), como resulta de fls. 110 e 233 do apenso de
documentos bancários.
De seguida, nesse mesmo dia, efectuou dois depósitos de €10.000,00 na conta n.º
0003.2295288020, titulada pela RCI, como resulta de fls. 181, 230 e 231 do apenso de
documentos bancários.
No dia 29 de Novembro de 2012 o arguido Rafael depositou mais €10.000,00 em
numerário nessa conta titulada pela RCI, como resulta de fls. 181 a 232 do apenso de
documentos bancários.
Ora, foi com esse dinheiro que no dia 14 de Dezembro de 2012 a RCI efectuou o
pagamento da quantia de €52.072,05 da factura n.º155/2012, conforme resulta de fls. 133 e
182 do apenso de documentos bancários.
Como é bom de ver, o pagamento da factura foi efectuado com verbas do GMCS e
com verbas próprias da ABSS, já que a ABSSL já estava extinta, o que significa que o valor
excedente ao do subsídio (€29.634,05) nunca foi pago, sendo certo que todas estas
movimentações bancárias foram destinadas a dar a aparência de que o investimento
subsidiado havia sido efectivamente realizado, o que não ocorreu.
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No tocante aos elementos subjectivos de todos os crimes praticados foram
consideradas as regras da experiência comum em face do contexto e condições em que os
factos foram praticados e da actuação dos arguidos.
Quanto aos antecedentes criminais dos arguidos valorou o tribunal o teor dos seus
certificados de registo criminal juntos aos autos a fls.935-937.
No que diz respeito às condições pessoais, económicas e sociais dos arguidos (factos
descritos em 2.1.41. a 2.1.59. e 2.1.60.), considerou o tribunal o relatório social junto aos
autos apensos a fls.256-259 quanto ao arguido Rafael, as declarações prestadas a esse respeito
pelo arguido Alexandre e o teor da certidão permanente de fls.1119-1122 e documento de fls.
1125-1130 quanto à sociedade arguida.
Quanto aos factos não provados, a convicção do tribunal alicerçou-se na análise crítica
de toda a prova produzida em julgamento designadamente a que se expressou e na falta de
consistência da mesma sobre a factualidade em causa, em resultado, nomeadamente, de não
terem sido carreados outros elementos probatórios credíveis e com força bastante para os
sustentar, quer testemunhal, quer documental.
3. ASPECTO JURÍDICO DA CAUSA
3.1. Da responsabilidade criminal
Assentes os factos, façamos o seu enquadramento jurídico-penal.
Os arguidos Rafael Raimundo e Alexandre Raimundo encontram-se pronunciados, no
processo principal pela prática, em co-autoria material, de um crime de fraude na obtenção de
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subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º 5 alínea a) do Decreto-
Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro.
Já o arguido Rafael Raimundo encontra-se também acusado, no processo apenso A, da
prática, em autoria material e concurso real, de dois crimes de fraude na obtenção de subsídio
ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º 5 alínea a) do Decreto-Lei n.º
28/84, de 20 de Janeiro.
Dispõe o artigo 36° n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º 5 al. a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20
de Janeiro, que: ”1 - Quem obtiver subsídio ou subvenção: a) Fornecendo às autoridades ou
entidades competentes informações inexactas ou incompletas sobre si ou terceiros e relativas
a factos importantes para a concessão do subsídio ou subvenção; b) Omitindo, contra o
disposto no regime legal da subvenção ou do subsídio, informações sobre factos importantes
para a sua concessão; c) Utilizando documento justificativo do direito à subvenção ou
subsídio ou de factos importantes para a sua concessão, obtido através de informações
inexactas ou incompletas; será punido com prisão de 1 a 5 anos e multa de 50 a 150 dias. 2 -
Nos casos particularmente graves, a pena será de prisão de 2 a 8 anos (…) 5-Para os efeitos
do disposto no n.º 2, consideram-se particularmente graves os casos em que o agente: a)
Obtém para si ou para terceiros uma subvenção ou subsídio de montante consideravelmente
elevado ou utiliza documentos falsos.”
O bem jurídico que se visa proteger com a incriminação, têm-se pronunciado os
autores de forma que se pode dizer consensual enquanto evidenciam, “por um lado, a
confiança necessária à vida económica, e por outro, a correcta aplicação dos dinheiros
públicos no campo económico” - [cf.. Tolda Pinto e Reis Bravo, em «Colectânea de
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Legislação Penal Extravagante, Direito Penal Económico e Afim», Coimbra Editora, pág.
110], a “economia e a intervenção do Estado nesta área efectuada mediante a utilização de
dinheiros públicos», protegendo-se num «segundo plano … a boa gestão do património
público” - [cf. Paulo Pinto de Albuquerque e José Branco, em “Comentário das Leis Penais
Extravagantes”, Volume 2, Universidade Católica Editora, pág. 115], “a confiança
necessária à vida económica e por outro lado a correcta aplicação dos dinheiros públicos no
campo económico” - cf. Carlos Codeço, em “Delitos Económicos”, Almedina, 1986, págs.
176/177, em consonância, aliás, com o “preâmbulo” do diploma em causa, enquanto ali se
consigna: “Entre os novos tipos de crimes incluídos neste diploma destacam-se a fraude na
obtenção de subsídios ou subvenções, o desvio ilícito dos mesmos e a fraude na obtenção de
créditos, conhecidos de outras legislações, como a República Federal da Alemanha, os quais,
pela gravidade dos seus efeitos e pela necessidade de proteger o interesse da correcta
aplicação dos dinheiros públicos nas actividades produtivas, não poderiam continuar a ser
ignorados pela nossa ordem jurídica”.
Da análise do preceito resulta inegável que a conduta tipicamente relevante abarca a
obtenção “para terceiros” da subvenção ou subsídio - cf. a alínea a), do n.º 5, do artigo 36.º-, o
que se compreende, identificada que está a natureza supra – individual do bem jurídico
tutelado “no sentido de que estão em causa dinheiros de todos e que a sua aplicação se dirige
a um fim de interesse social” - cf. Rosário Teixeira, em «Crimes de fraude na obtenção e de
desvio de subsídio (Notas de trabalho sobre um caso prático)», em RMP, Ano 16º, nº 62, pág.
117-, não se vendo motivo para que assim não seja, também, relativamente ao tipo do corpo
do n.º1.
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Não se trata, pois, de um crime específico de que apenas o agente promotor possa
constituir-se autor, entendimento que encontra acolhimento, vg. no acórdão do STJ de
02.11.95, BMJ n.º 451, pág. 56, ao considerar que é autor do crime de fraude na obtenção de
subsídio “aquele que toma parte directa na sua execução …, sendo irrelevante que não tenha
efectuado quaisquer pagamentos ou recebido para si qualquer quantia», posição
corroborada por Paulo Pinto de Albuquerque e José Branco quando referem que « … autor
do crime pode ser qualquer pessoa, singular ou colectiva”-cf. ob. cit, pág. 116.
Trata-se, assim, de crime comum, susceptível de ser praticado por qualquer pessoa,
independentemente de ser ou não o promotor ou beneficiário do subsídio ou subvenção.
São elementos do tipo legal de fraude na obtenção de subsídio:
- A existência de uma (ou mais) entidade de direito público, prestadora do subsídio ou
subvenção (sujeito enganado e lesado);
- A existência de uma empresa ou unidade produtiva (beneficiária do subsídio ou
subvenção);
- A obtenção de um subsídio ou subvenção;
- A verificação de erro da entidade concedente do subsídio ou subvenção;
- A conduta fraudulenta causadora daquele erro;
- O dolo ou, nos casos das alíneas a) e b) do nº1, a negligência.
No caso dos autos a entidade prestadora do subsídio foi o GMCS, o qual foi enganado
quanto à regularidade da atribuição dos subsídios.
Beneficiária dos subsídios foi sempre a RCI.
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Considerando que o ilícito em causa configura um crime de dano e de resultado ou
material, uma vez que a sua consumação depende do efectivo recebimento do subsídio ou
subvenção, dúvidas não restam que os financiamentos em causa configuram claramente um
subsídio, nos termos e para os efeitos do disposto no artigo 21º do Decreto-Lei n.º 28/84, de
20/01, visando a aquisição de equipamento para a RCI.
A conduta do agente com vista à obtenção do subsídio terá de assumir uma das três
formas típicas e abstractamente descritas:
- Fornecimento de informações inexactas ou incompletas
Pune-se a obtenção de subsídio ou subvenção através de afirmações inexactas ou
incompletas, ou seja, de informações desconformes com a realidade.
Neste caso, “o documento que contém as afirmações é verdadeiro nos seus requisitos
externos ou materiais, mas o que nele se diz é inexacto ou incompleto. Há genuinidade formal
do escrito, mas não há veracidade intelectual do conteúdo. Estas informações devem dizer
respeito ao sujeito activo ou a terceiro e recair sobre factos essenciais ou determinantes da
concessão do subsídio ou subvenção.
Ocultação de factos importantes
Comete-se o delito com a omissão de factos importantes para a concessão do subsídio
ou subvenção, contanto que sobre o agente recaia o dever legal de informar.
- Uso de documento falso
O agente serve-se de documento falsificado (falsificação material e/ou ideológica)
para obter o deferimento da sua pretensão.
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A actividade do agente consiste em apresentar como genuíno o documento, se ele foi
materialmente falsificado, ou como verídico, se foi ideologicamente falsificado.
Visto o regime jurídico-penal deste tipo de crime, teremos que concluir que as
condutas imputadas aos arguidos preenchem a acção típica em causa uma vez que ocorreu
efectivamente a concessão de subsídios, os arguidos forneceram informações inexactas sobre
si ou sobre terceiros, mediante a apresentação de facturas falsas e recibos falsos (falsos porque
visavam comprovar factos que não correspondiam à verdade), tendo sido por causa dessas
informações inexactas para a concessão do subsídio que o GMCS considerou ilegíveis os
montantes constantes das facturas e procedeu ao pagamento dos subsídios em causa.
Por outro lado, dúvidas não restam que cometeram os arguidos o crime de fraude na
obtenção de subsídio na sua forma agravada.
Tem sido entendimento que o conceito de valor consideravelmente elevado ínsito no
artigo art.202º alínea b) do Código Penal, não se aplica às actividades delituosas contra a
economia nacional, como é o caso do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20/01, o qual não define o
conceito de valor consideravelmente elevado.
Como escrevem Figueiredo Dias/Costa Andrade a particular natureza dos bens
jurídicos coenvolvidos e da danosidade social a afrontar há-de reclamar outros –
concretamente mais elevados – limiares quantitativos para balizar este elemento da agravação
típica.
No caso dos autos, no processo principal, o valor do subsídio indevidamente pago foi
de €72.494,00, sendo que no processo apenso foi de €26.213,27 numa das situações e de
€22.437,55, montante que não pode deixar de ser havido à data da prática dos factos, no
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contexto da economia nacional, como um valor consideravelmente elevado para efeitos do
disposto no n.º 5 alínea a) do artigo 36º do DL n.º 28/84.
Acresce que esses subsídios foram obtidos mediante a utilização de documentos
falsos, facturas e recibos que instruíram as candidaturas e os pedidos de pagamento dos
subsídios.
Donde, estão preenchidos os elementos constitutivos do crime agravado de fraude na
obtenção de subsídio.
No plano subjectivo o tipo de crime em apreço não exige como no crime de burla um
dolo específico, “a intenção de obter um enriquecimento ilegítimo”, nem o artifício
fraudulento, ou que a mentira, ou a ocultação sejam astuciosos.
Com efeito, bastarão inverdades, inexactidões ou omissões, sobre factos importantes
para a obtenção do subsídio para integrarem a factualidade típica.
Nas modalidades de prestação de informações inexactas ou incompletas e ocultação de
factos importantes, além do dolo, é punível a negligência. No que diz respeito à utilização ou
uso de documento falso apenas é punível o dolo, consistindo este na vontade de uso e no
conhecimento da falsidade.
Os arguidos agiram (nos autos principais) sempre em execução de um plano
previamente traçado, em comunhão de esforços e comum acordo, com vista à obtenção de um
enriquecimento financeiro para a RCI, empresa da qual eram ambos sócios e combinaram, da
forma descrita nos factos provados, falsificar a factura fazendo dali constar a aquisição do
equipamento ali descrito, o qual na verdade não tiveram a intenção de adquirir, nem
adquiriram.
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Por sua vez, o arguido Rafael era o único sócio da ABSSL e era o sócio gerente da
ABSS (no caso do apenso A), praticando os actos de execução descritos nos factos provados.
No caso dos autos principais foi a actuação conjunta do arguido Alexandre e do
arguido Rafael que os levou a locupletarem-se com o valor do subsídio nos termos descritos.
Ambos agiram de forma livre, voluntária e conscientemente, cientes que toda esta
relatada actuação era proibida e punida por lei.
Posto isto, nenhuma dúvida oferece o carácter doloso do comportamento dos arguidos,
na sua forma de dolo directo, que assim actuaram sob co-autoria material, no caso dos autos
principais – art.14º, nº1, e art.26º do C. Penal.
No que respeita à “ABSS, L.da”, arguida no apenso A, há desde logo que considerar
que, nos termos do artigo 11º do Código Penal, só as pessoas singulares são susceptíveis de
responsabilidade criminal, salvo disposição legal em contrário.
Cabe assim agora fazer referência ao artigo 3º nº1 do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de
Janeiro, nos temos do qual: "1- As pessoas colectivas, sociedades e meras associações de
facto são responsáveis pelas infracções previstas no presente diploma quando cometidas
pelos seus órgãos ou representantes em seu nome e no interesse colectivo.(…) 3- A
responsabilidade das entidades referidas no n.º 1 não exclui a responsabilidade individual
dos respectivos agentes, sendo aplicável, com as necessárias adaptações, o n.º 3 do artigo
anterior.”
Exige-se sempre uma conexão entre o comportamento do agente – pessoa singular - e
o ente colectivo, já que aquele deve actuar em representação ou em nome deste e no interesse
colectivo - cf. Manuel Lopes Rocha in “Responsabilidade penal das pessoas colectivas –
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novas perspectivas” (Direito Penal Económico, CEJ, 1985, p.p. 162 a 165), reconhece no
artigo 3.º do DL 28/84 uma consagração do princípio da responsabilidade penal das pessoas
colectivas, exigindo-se cumulativamente que o facto seja praticado por quem actua em termos
de exprimir ou vincular a vontade da sociedade, procurando a satisfação de interesses, embora
ilícitos, dessa sociedade.
Da prova produzida resulta que foi também, no interesse da própria sociedade que os
factos ocorreram. A sua responsabilidade criminal constrói-se pois, sobre a do próprio
arguido, sem prejuízo de, atenta a natureza da pessoa colectiva não lhe ser aplicável outra
pena que não a de admoestação, multa e dissolução, como expressamente prevê o artigo 7º n.º
1 do mesmo diploma legal.
Como se disse, o n.º 3 do artigo 3º, que aos agentes individuais é aplicável, com as
necessárias adaptações, o disposto no n.3, do artigo anterior sobre a responsabilidade civil
solidária das sociedades por actos dos titulares dos seus órgãos ou representantes.
Estabelecem estes normativos a reciprocidade entre a responsabilidade substitutiva da
sociedade e dos titulares dos seus órgãos e representantes.
O que significa que, nos termos deste n.º 3 do art.3º, também os titulares dos órgãos e
representantes da sociedade são responsáveis pelo pagamento das multas e indemnizações em
que a sociedade for condenada.
Não resultando dos autos que arguidos tenham actuado ao abrigo de qualquer causa de
exclusão da ilicitude ou da culpa, deverão ser condenados pelos ilícitos cuja prática lhes é
imputada.
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3.2. Medida concreta da pena
De acordo com o disposto no artigo 70º do C.P. se ao crime forem aplicáveis, em
alternativa, pena privativa e pena não privativa da liberdade, o tribunal deve dar preferência à
segunda sempre que esta realizar de forma adequada e suficiente as finalidades da punição.
Tais finalidades são, como se determina no artigo 40º, nº1, do mesmo diploma, a
protecção de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade.
Dispõe o artigo 47º n.º 1 do C.P. que “A pena de multa é fixada em dias, de acordo
com os critérios estabelecidos no n.º 1 do artigo 71º, sendo, em regra, o limite mínimo de 10
dias e o máximo de 360.”.
Por isso, há também que atentar no que dispõe o artigo 71º n.º 1 do C.P. que dispõe
que “…dentro dos limites definidos na lei, é feita em função do agente e das exigências de
prevenção.”
Por outro lado, há ainda que atender a todas as circunstâncias que, não fazendo parte
do tipo de crime, depuserem a favor do agente ou contra ele, designadamente, as referidas no
artigo 71º n.º 2 do C.P nomeadamente:
- O grau de ilicitude do facto, o modo de execução deste e a gravidade das suas
consequências, bem como o grau de violação dos deveres impostos ao agente;
- A intensidade do dolo ou da negligência;
- Os sentimentos manifestados no cometimento do crime e os fins ou motivos que o
determinaram;
- As condições pessoais do agente e a sua situação económica;
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- A conduta anterior ao facto e a posterior a este, especialmente quando esta seja
destinada a reparar as consequências do crime;
- A falta de preparação para manter uma conduta lícita, manifestada no facto, quando
essa falta deva ser censurada através da aplicação da pena» (art.º 71º, n.ºs 1 e 2, do CP).
Cumpre, desde já, determinar quais os tipos de penas que deverão ser aplicadas.
No caso, afigura-se que considerado o elevado grau de ilicitude, sendo particularmente
elevada no caso do arguido Rafael pelo valor dos subsídios em causa, sendo fortes as
exigências de prevenção geral e especial.
Por se reflectir na pena, através da culpa, antes de mais, há que considerar como factor
de graduação daquela, a ilicitude típica que, no caso concreto, se afigura ponderosa no quadro
da gravidade suposta pela moldura abstracta do crime em causa.
Contra todos os arguidos depõe a circunstância de jamais terem reparado os prejuízos
causados e relativamente aos arguidos Alexandre e Rafael não terem mostrado qualquer
arrependimento, insistindo em negar a prática dos factos, não obstante a evidência dos
mesmos, o que revela não terem interiorizado o desvalor das suas condutas.
O modus operandi da actuação dos arguidos denota premeditação e particular
sofisticação, com recurso a documentos falsos e esquemas contabilísticos entres as várias
sociedades, revelando ainda quanto ao arguido Rafael alguma habitualidade nesta conduta e
ter tido uma participação mais activa nos mesmos já que era o sócio gerente das sociedades
que emitiram as facturas que suportaram a concessão dos subsídios.
Os sentimentos revelados pela prática do crime não são outros que não sejam a
obtenção de vantagens patrimoniais ilícitas à custa do erário público.
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Em qualquer dos casos, considerando o modo e circunstâncias como actuou, o dolo
dos arguidos foi directo e intenso, intensidade revelada também na comparticipação.
A favor dos arguidos milita a ausência de antecedentes criminais e sua a integração
social, profissional e familiar.
Como atenuante relativamente ao arguidos, sobretudo no que concerne ao Alexandre,
temos ainda a circunstância de ter decorrido algum tempo sobre a prática do crime a que se
reporta o processo principal onde estava em causa a quantia mais elevada dos subsídios
indevidamente recebidos (8 anos).
Embora os arguidos sejam pessoas integradas do ponto de vista social e familiar, este
tipo de crimes por regra tem como agentes pessoas socialmente integradas e, em algumas
situações, com estatuto social e económico acima da média (Acórdão do STJ de 20-01-2005,
disponível em www.stj.pt e no Ac STJ 11.10.2006, disponível também em www.dgsi.pt).
O que quer significar que essa integração social não constitui, nesses casos,
fundamento para uma particular diminuição da pena, “pois a desnecessidade de intervenção,
por meio da pena, no âmbito da reinserção social do agente do ponto de vista cultural,
económico e familiar, é compensada pela necessidade dessa intervenção no que se conexiona
com o asseguramento do respeito pelos valores de ordem económica e social que estão na
base de direitos fundamentais constitucionais e em relação aos quais o tipo de agentes
implicados nestes crimes se mostra particularmente insensível e com um acentuado grau de
dessocialização”.
Atendendo à intensidade do dolo e à necessidade de a comunidade ver reforçado o seu
sentimento de segurança na estabilização dos valores violados, respeitantes a fraudes,
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justifica-se que a pena de prisão, embora adequada e proporcional à culpa e aos factos, não se
situe muito próxima do seu mínimo.
No que concerne à pessoa colectiva, atento o disposto no artigo 7º do Decreto-Lei n.º
28/84, de 20 de Janeiro, será de aplicar pena de multa já que excluída se mostra a aplicação de
uma admoestação atenta a gravidade dos factos e também a dissolução uma vez que aqui não
se mostram, no caso, os requisitos previstos no n.º 6 daquele preceito legal.
Estabelece o artigo 90º-B do C. Penal (aplicável por via do artigo 1º n.º 1 do Decreto-
Lei n.º 28/84, de 20/01) que os limites mínimo e máximo da pena de multa aplicável às
pessoas colectivas e entidades equiparadas são determinados tendo como referência a pena de
prisão prevista para as pessoas singulares, correspondendo 1 mês de prisão a 10 dias de multa.
Sempre que a pena aplicável às pessoas singulares estiver determinada exclusiva ou
alternativamente em multa, são aplicáveis às pessoas colectivas ou entidades equiparadas os
mesmos dias de multa.
A conduta do arguido Rafael (pessoa singular), é punível com pena de 2 a 8 anos de
prisão, o que equivale dizer que à sociedade arguida é aplicável a pena de 240 a 960 dias de
multa.
Quanto ao quantitativo diário da multa, em função da situação económica da
sociedade arguida, atender-se-á ao previsto no artigo 7.º, n.º 4 do Decreto-Lei n.º 28/84, aqui
aplicável por estarmos perante um regime especial, sendo que o quantitativo diário deve ser
fixado nos limites legalmente estabelecidos, entre os 1.000$00 e 1.000.000$00
(correspondente a € 4,99 a € 4.987,98.
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Na fixação da medida da pena importa ter em conta que a multa não pode deixar de
revestir a natureza de uma verdadeira pena, representando para o condenado um sacrifício real
que responda aos imperativos de prevenção geral e especial.
Realça-se ainda a dimensão económica desta empresa, considerado o valor médio do
respectivo capital social (€10.000,00) e o volume anual de negócios, tratando-se, pois, de uma
empresa com uma dimensão média, não lhe sendo conhecidas condenações
Tudo ponderado, serão os arguidos condenados:
- O arguido Rafael Raimundo pela prática em co-autoria material, de um crime de
fraude na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º
5 alínea a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro (processo principal) na pena de 3 (anos)
e 6 (seis) meses de prisão;
- O arguido Alexandre Raimundo pela prática em co-autoria material, de um crime de
fraude na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c), n.º 2 e n.º
5 alínea a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro (processo principal) na pena de 3 (três)
anos e 3 (três) meses de prisão;
-O arguido Rafael Raimundo pela prática, em co-autoria material, e concurso real, de
dois crimes de fraude na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1
alínea c), n.º 2 e n.º 5 alínea a) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro (processo apenso)
na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão, por cada um deles;
- A arguida ABSS, L.da pela prática, em co-autoria material, e concurso real, de dois
crimes de fraude na obtenção de subsídio ou subvenção, p. e p. pelo artigo 36º n.º 1 alínea c),
n.º 2 e n.º 5 alínea a) e 7º do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro e 47º do Código Penal ex
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vi do disposto no artigo 1º n.º 1 do citado Decreto-Lei (processo apenso) na pena de 350
(trezentos e cinquenta) dias de multa, à taxa diária de €100,00 (cem euros), por cada um deles.
Cúmulo Jurídico
O arguido Rafael Sviatopolk Mirsky Raimundo a arguida ABSS, L.da deverão ser
condenados numa única pena que terá como limite máximo a soma das penas concretamente
aplicadas aos vários crimes e como limite mínimo, a mais elevada das penas concretamente
aplicadas aos vários crimes (artigo 77º, nºs 1 e 2 do C.P.).
A moldura penal do concurso no que concerne ao arguido Rafael será de 8 (oito) anos
e 6 (seis) meses de prisão (no seu limite máximo) e de 3 (três) anos e 6 (seis) meses de prisão
no seu limite mínimo.
A moldura penal do concurso no que concerne à arguida ABSS, L.da será de 700
(setecentos) dias de multa (no seu limite máximo) e de 350 (trezentos e cinquenta) dias de
multa no seu limite mínimo.
Estabelecida a moldura penal do concurso, deve determinar-se a pena conjunta do
concurso, dentro dos limites daquela. Tal pena será encontrada em função das exigências de
culpa e de prevenção, tendo o legislador fornecido, para além dos critérios gerais
estabelecidos no artigo 71º do C.P., um critério especial: “Na determinação concreta da pena
serão considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente”.
No que diz respeito aos factos, importa ter em consideração a pluralidade dos mesmos
e os bens jurídicos violados.
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No que diz respeito à personalidade do arguido Rafael e à dimensão da sociedade
arguida, remetemo-nos para as considerações já realizadas.
Ponderando todos estes factores, julga-se adequado condenar o arguido Rafael
Raimundo na pena única de 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses de prisão e a arguida ABSS, L.da
na pena única de 450 (quatrocentos e cinquenta) dias de multa, à taxa diária de €100,00 (cem
euros).
Da suspensão das penas
Como sublinha o Prof. Figueiredo Dias, à pena privativa da liberdade, o tribunal deve
preferir «uma pena alternativa ou de substituição sempre que, verificados os respectivos
pressupostos de aplicação, a pena alternativa ou a de substituição se revelem adequadas e
suficientes à realização das finalidades da punição. O que vale por dizer que são finalidades
exclusivamente preventivas, de prevenção especial e de prevenção geral, não finalidades de
compensação da culpa, que justificam a preferência por uma pena alternativa ou por uma
pena de substituição e a sua efectiva aplicação» – Direito Penal Português, cit., pág. 331.
Segundo o disposto no artigo 50º n.º 1 do C.P., “o tribunal suspende a execução da
pena de prisão aplicada em medida não superior a cinco anos se, atendendo à personalidade
do agente, às condições da sua vida, à sua conduta anterior e posterior ao crime e às
circunstâncias deste, concluir que a simples censura do facto e a ameaça da prisão realizam
de forma adequada e suficiente as finalidades da punição”.
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E, o n.º 5 dispõe que: “ O período de suspensão tem duração igual à da pena de
prisão determinada na sentença, mas nunca inferior a um ano, a contar do trânsito em
julgado da decisão”.
As finalidade político-criminal que a lei visa com o instituto da suspensão reside no
afastamento do agente, no futuro, da prática de novos crimes.
Atentas as circunstâncias que depõem a favor dos arguidos acima referidas, afigura-se
legítimo fazer um juízo de prognose favorável no sentido de que a ameaça da pena bastará
para os afastar de novas infracções, satisfazendo do mesmo modo, as demais finalidades das
penas, acreditando o tribunal que eles tomaram consciência da necessidade de respeitar os
valores que violaram e de se alcançar de forma responsável a sua ressocialização.
Porém, o tribunal, se o julgar conveniente e adequado à realização das finalidades da
punição, subordina a suspensão da execução da pena de prisão ao cumprimento de deveres ou
à observância de regras de conduta ou determina que a suspensão seja acompanhada de
regime de prova, de acordo com o estipulado no nº 2 do artigo 50º e artigo 53º do C.P.
Como se refere no Acórdão da Relação de Coimbra de 12.05.1999 (in www.trc.pt)
para que se possa suspender a execução da pena de prisão, necessário se torna que os fins das
penas não exijam o seu cumprimento e que as circunstâncias referentes à personalidade e
condições de vida do arguido o aconselhem.
No caso dos autos, entende-se que ficam acauteladas as exigências de prevenção se as
presentes suspensões das penas aplicadas aos arguidos Alexandre e Rafael forem
acompanhadas de um plano individual de readaptação social dos mesmos, executado com
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vigilância e apoio dos serviços de reinserção social, durante o tempo em que as mesmas
durarem, nos termos do disposto no nº 2 do artigo 53º do C.P.
Todavia e uma vez que, de momento, o tribunal não dispõe de elementos para a
elaboração de tais planos, determina-se que a sua elaboração fique a cargo dos serviços de
reinserção social, de acordo com o disposto no nº 3 do artigo 494º do C.P.P.
Por outro lado, nos termos do disposto no artigo 50º n.º 2 do Código Penal que “O
tribunal, se o julgar conveniente e adequado à realização da punição, subordina a suspensão
da execução da pena de prisão, …, ao cumprimento de deveres…”.
E, o artigo 51º n.º 1 alínea a), também do Código Penal, diz que “A suspensão da
execução da pena de prisão pode ser subordinada ao cumprimento de deveres impostos ao
condenado e destinados a reparar o mal do crime, nomeadamente, pagar dentro de certo
prazo, no todo ou em parte que o tribunal considerar possível, a indemnização devida ao
lesado, ou garantir o seu pagamento por meio de caução idónea…”.
Consideradas as particulares exigências de prevenção geral que o caso reclama,
ditadas pela função da pena na contribuição para a transformação necessária da consciência
comunitária face aos crimes de natureza económicas, impõe-se que as penas de prisão
aplicadas aos arguidos fiquem subordinadas à condição de os arguidos repararem o mal que
causaram ao lesado, devolvendo ao Estado as quantias com as quais se locupletaram enquanto
sócios da RCI, correspondentes ao montante dos subsídios recebidos.
Assim, o abrigo das disposições legais supra citadas, a suspensão da execução das
penas de prisão aplicadas aos arguidos fica subordinada, à seguinte condição:
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- O arguido Rafael pagar ao Gabinete para os Meios de Comunicação Social, a quantia
global de €84.897,82, (oitenta e quatro mil oitocentos e noventa e sete euros e oitenta e dois
cêntimos), quantia correspondente a metade do montante do subsídio recebido no processo
principal (€36.247,00) e à totalidade dos subsídios recebidos no processo apenso
(€48.650,82). Tal pagamento deverá ser feito no prazo de 4 (quatro) anos, a contar do trânsito
em julgado da presente decisão, devendo o arguido comprovar nos autos, no final de cada
ano, o pagamento das quantias parcelares de €21.224,45 (vinte e um mil duzentos e vinte e
quatro euros e quarenta e cinco cêntimos);
- O arguido Alexandre pagar ao Gabinete para os Meios de Comunicação Social, a
quantia global de €36.247,00 (trinta e seis mil duzentos e quarenta e sete euros), quantia
correspondente a metade do subsídio recebido no processo principal. Tal pagamento deverá
ser feito no prazo de 3 (três) anos a contar do trânsito em julgado da presente decisão,
devendo o arguido comprovar nos autos, no final de cada ano, o pagamento das quantias
parcelares de €12.082,33 (doze mil e oitenta e dois euros e trinta e três cêntimos).
Da restituição das quantias
Dispõe o art.39º do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro: “Além das penas
previstas nos artigos 36.° e 37°, o tribunal condenará sempre na total restituição das
quantias ilicitamente obtidas ou desviadas dos fins para que foram concedidas”.
De aplicação automática em consequência da condenação, esta restituição é inerente
ao ilícito cometido e é um efeito necessário do crime com a medida correspondente à quantia
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que não teria sido atribuída se a entidade que concedeu o subsídio tivesse tido conhecimento
da fraude.
A restituição prevista naquele art.39.º traduz-se na reintegração dos valores recebidos
no património de quem os entregou, por parte de quem os recebeu e/ou delas beneficiou ainda
que indirectamente.
Considerando que os arguidos Rafael e Alexandre, enquanto sócios da RCI, entidade
que recebeu o subsídio, beneficiaram com a prática do crime, recebendo e dando destino ao
subsídio, incorporando o respectivo valor no seu património, deverão restituir o montante
ilicitamente recebido.
Da pena acessória de privação do direito a subsídios ou subvenções outorgados por
entidades ou serviços púbicos
Dispõe o artigo 8º alínea f) do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro que
“Relativamente aos crimes previstos no presente diploma podem ser aplicadas as seguintes
penas acessórias: privação do direito a subsídios ou subvenções outorgados por entidades ou
serviços púbicos.”
Por sua vez, o artigo 14º do mesmo diploma que “1-A privação do direito a subsídios
ou subvenções outorgados por entidades ou serviços públicos é aplicável a agente que exerça
ou não profissão ou actividade subsidiada ou subvencionada; 2- A sanção prevista no
número anterior terá a duração fixada entre 1 e 5 anos”.
No presente caso, sendo a fraude agravada nos termos do artigo 36º n.º 2 e n.º 5 do
Decreto-Lei n.º 28/84, considerado o particular conteúdo do delito, traduzido na gravidade da
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premeditação e elaboração do plano com vista à obtenção dos subsídios, o montante total dos
subsídios concedidos e a repetição no que ao arguido Rafael diz respeito, a privação do direito
a subsídios ou subvenções outorgados por entidades ou serviços púbicos impõem-se por
evidentes razões de prevenção geral e fundada nos interesses violados.
Essa proibição terá a duração de 3 (três) anos.
Da pena acessória de publicação da decisão condenatória
Dispõe o artigo 36º n.º 4 do Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro, sobre a
publicidade da decisão condenatória, a qual se encontra prevista no art.8º alínea l) do mesmo
diploma, como uma das penas acessórias aplicáveis.
A pena acessória de publicidade de sentença condenatória visa, em primeira linha, dar
a conhecer às pessoas (à comunidade) o crime ou crimes praticados, prevenindo as mesmas do
perigo de lesão de bens ou interesses, concretamente do perigo de lesão dos bens ou interesses
que a norma que prevê o crime perpetrado pretende tutelar.
No domínio da criminalidade económica, em que as condutas delituosas atingem
interesses colectivos relevantes e os danos morais e materiais por elas causados são muito
elevados, a publicação nos jornais - e em edital da sentença condenatória contribui,
seguramente, para a “estabilização das expectativas comunitárias na validade e na vigência
da norma infringida”- e assim para o “reforço da consciência jurídica comunitária e do seu
sentimento de segurança”, que foi abalado pela infracção cometida.
Prescreve o artigo 19° n.°1, que a pena acessória de publicidade da decisão
condenatória é feita, a expensas do condenado, em publicação periódica editada na área da
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comarca da prática da infracção ou, na sua falta, em publicação periódica da comarca mais
próxima, bem como através da afixação de edital, por um período não inferior a 30 dias, no
próprio estabelecimento comercial ou industrial ou no local de exercício da actividade, por
forma bem visível ao público.
Em casos “particularmente graves”, a publicidade da decisão condenatória far-se-á
também na 2ª série do Diário da República - art.19º n.º 2.
Publica-se um extracto da sentença de onde constem “os elementos da infracção e as
sanções aplicadas, bem como a identificação dos agentes” - artigo19º n º 3.
Sendo a fraude agravada nos termos do artigo 36º n.º 2 e n.º 5 do Decreto-Lei n.º
28/84, considerado o total dos subsídios concedidos e as relevantes finalidades prosseguidas
pelo plano subvencional, a publicidade desta decisão condenatória impõe-se, no caso, por
evidentes razões de prevenção geral e fundada nos interesses essencialmente colectivos
violados.
4. DECISÃO
Em face de todo o exposto, acordam os juízes que constituem o Tribunal Colectivo da
Instância Central, Secção Criminal, em:
a) Condenar o arguido Rafael Sviatopolk Mirsky Raimundo pela prática, sob a
forma de co-autoria e consumada, de um crime agravado de fraude na
obtenção de subsídio, p. e p. pelo artigo 36º n.ºs 1 alínea c), 2, 5, alínea a) do
DL nº28/84, de 20/01, na pena de 3 (três) anos e 6 (seis) meses de prisão
(processo principal);
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b) Condenar o arguido Alexandre Sviatopolk Mirsky Raimundo pela prática, sob
a forma de co-autoria e consumada, de um crime agravado de fraude na
obtenção de subsídio, p. e p. pelo art.36º nºs 1 alínea c), 2, 5, alínea a) do DL
nº28/84, de 20/01, na pena de 3 (três) anos e 3 (três) meses de prisão (processo
principal);
c) Condenar o arguido Rafael Sviatopolk Mirsky Raimundo pela prática, sob a
forma de co-autoria consumada e em concurso real, de dois crimes agravados
de fraude na obtenção de subsídio, p. e p. pelo art.36º nºs 1 alínea c), 2, 5,
alínea a) do DL nº28/84, de 20/01, na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de
prisão, por cada um deles (processo apenso);
d) Condenar a arguida ABSS Broadcast, Lda pela prática, sob a forma de co-
autoria consumada e em concurso real, de dois crimes agravados de fraude na
obtenção de subsídio, p. e p. pelo art.36º nºs 1 alínea c), 2, 5, alínea a) do DL
nº28/84, de 20/01, na pena de 350 (trezentos e cinquenta) dias de multa, à taxa
diária de €100,00 (cem euros), por cada um deles (processo apenso);
e) Efectuado o cúmulo jurídico das penas aplicadas ao arguido Rafael Sviatopolk
Mirsky Raimundo, referidas em a) e c), condenar o arguido na pena única de 4
(quatro) anos e 8 (oito) meses de prisão, cuja execução se suspende, pelo
Tribunal Judicial da Comarca de Viseu
Juízo Central Criminal de Viseu - Juiz 3 Palácio da Justiça , Av. da Europa
3514-506 Viseu
Telef: 232427000 Fax: 232427099 Mail: [email protected]
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período de 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses, nas seguintes condições:
- Ao acompanhamento do arguido através de regime de prova que assentará
num plano individual de readaptação social, executado com vigilância e apoio
dos serviços de reinserção social, durante o tempo de duração da suspensão, em
termos a definir pela DGRS;
- o arguido pagar ao Gabinete para os Meios de Comunicação Social, a
quantia global de €84.897,82, (oitenta e quatro mil oitocentos e noventa e sete
euros e oitenta e dois cêntimos), devendo tal pagamento ser feito no prazo de 4
(quatro) anos, a contar do trânsito em julgado da presente decisão, devendo o
arguido comprovar nos autos, no final de cada ano, o pagamento das quantias
parcelares de €21.224,45 (vinte e um mil duzentos e vinte e quatro euros e
quarenta e cinco cêntimos);
f) Suspender a execução da pena de prisão aplicada ao arguido Alexandre
Sviatopolk Mirsky Raimundo referida em b) pelo período de 3 (três) anos e 3
(três) meses, na seguinte condição:
-Ao acompanhamento do arguido através de regime de prova que assentará
num plano individual de readaptação social, executado com vigilância e apoio
dos serviços de reinserção social, durante o tempo de duração da suspensão, em
termos a definir pela DGRS;
- O arguido pagar ao Gabinete para os Meios de Comunicação Social, a
quantia global de €36.247,00 (trinta e seis mil duzentos e quarenta e sete
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euros), devendo tal pagamento ser feito no prazo de 3 (três) anos a contar do
trânsito em julgado da presente decisão, devendo o arguido comprovar nos
autos, no final de cada ano, o pagamento das quantias parcelares de €12.082,33
(doze mil e oitenta e dois euros e trinta e três cêntimos);
g) Efectuado o cúmulo jurídico das penas aplicadas à arguida ABSS, L.da,
referidas em d), condenar a arguida na pena única de 450,00 (quatrocentos e
cinquenta) dias de multa, à taxa diária de €100,00 (cem euros) e, por cujo
pagamento, se condena solidariamente o arguido Rafael Sviatopolk Mirsky
Raimundo;
h) Condenar os arguidos Alexandre Sviatopolk Mirsky Raimundo e Rafael
Sviatopolk Mirsky Raimundo na restituição ao Gabinete para os Meios de
Comunicação Social da quantia de € 72.494,00 (setenta e dois mil
quatrocentos e noventa e quatro euros) recebida indevidamente a título de
subsídio, nos termos do disposto no artigo 39º do DL n.º 28/84, de 20/01
(processo principal);
i) Condenar o arguido Rafael Sviatopolk Mirsky Raimundo na restituição ao
Gabinete para os Meios de Comunicação Social da quantia de €48.650,82
(quarenta e oito mil seiscentos e cinquenta euros e oitenta e dois cêntimos)
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recebida indevidamente a título de subsídio, nos termos do disposto no artigo
39º do DL n.º 28/84, de 20/01 (processo apenso);
j) Condenar ainda todos os arguidos na pena acessória de privação do direito a
subsídios ou subvenções outorgados por entidades ou serviços púbicos pelo
período de 3 (três) anos, nos termos do disposto nos artigos 8º alínea f) e 14º
do DL n.º 28/84, de 20/01;
k) Ordenar a publicidade deste acórdão condenatório, a expensas dos
condenados, mediante extracto que contenha a identificação dos arguidos e o
respectivo dispositivo integral (as sanções aplicadas e os elementos da
infracção), em publicação periódica de ampla circulação editada na área da
Instância Local de Viseu e em edital afixado, pelo período de 30 dias, em local
bem visível ao público na sede da sociedade arguida, nos termos dos artigos 8º
alínea l), 19º e 36º n.º 4 do DL n.º 28/84, de 20/01;
l) Condenar ainda os arguidos nas custas do processo, fixando em 4UC o valor
da taxa de justiça devida e demais encargos do processo.
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Notifique e Deposite.
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Após trânsito:
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- Remeta boletins ao registo criminal;
- Comunique à DGRS e ao Gabinete para os Meios de Comunicação Social.
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Proceda-se à recolha de amostras aos arguidos, prevista no art.8º, nº2, da Lei nº5/2008,
de 12/02, e à sua introdução na base de dados de perfis de ADN, ressalvada a dispensa
prevista no nº6, do cit. art.8º.
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Viseu, 30 de Março de 2017