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O conto do Náufrago: três personagens à procura de intérpretre

Autor(es): Valdez, Maria Ana

Publicado por: Instituto Oriental da Universidade de Lisboa

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/24150

Accessed : 22-Apr-2021 03:32:53

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CADMORevista do Instituto Oriental

Universidade de Lisboa

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O CONTO DO NÁUFRAGO. TRÊS PERSONAGENS À PROCURA DE INTÉRPRETE*

Por MARIA ANA VALDEZDoutoranda da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Ainda hoje lido por grande número de pessoas através das diver- sas traduções e adaptações que têm sido feitas ao longo das últimas décadas, O Conto do Náufrago é um dos mais célebres contos egíp- cios conhecidos. Apenas existe uma única cópia, a do papiro Lenine- grado 1115, actualmente no Hermitage em S. Petersburgo.

O papiro foi apresentado em 1881 por W. Golénischeff no V Con- gresso de Orientalistas que decorreu nesse ano em Berlim, mas des- conhece-se completamente a sua origem e mesmo a maneira como chegou à Rússia.

Bem conservado, 0 papiro, com 3,8 m de comprimento e 12 cm de largura, tem 189 linhas(1), das quais as primeiras 123 estão escri- tas em colunas verticais, depois, e até à linha 176, em linhas horizon- tais, sendo 0 resto outra vez em colunas verticais.

A falta de outras cópias, integrais ou parciais, da mesma obra impede que se esclareça definitivamente a questão sobre 0 estado de integridade deste papiro. De facto, apesar de 0 que existe parecer não mostrar lacunas, parece que o início é demasiado abrupto, o que pode indicar de certa forma que 0 começo do papiro teria sido corta- do ou danificado(2).

A questão da datação da obra parece hoje não levantar grande celeuma entre os estudiosos. De maneira geral, todos aceitam que 0 papiro tenha sido escrito no início da XII dinastia, isto é, cerca de 2000 a. C., apesar de se dizer que também poderia ser do fim da XI dinastia. Mas no fundo, a data de cerca de 2000 a. C., manter-se-ia.

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MARIA ANA VALDEZ

Todavia, é necessário lembrar que a história, em si, é certamente produto da tradição popular oral, ou seja, 0 enredo seria bastante mais antigo do que a data acima indicada. Alguns especialistas falam mesmo da possibilidade de remontar ao tempo do Império Antigo.

Contudo, ao ser passada a escrito, em forma de poema como diz Josep Padró<3) (mas esta questão da poesia é muito delicada, visto a maioria dos autores dizer que não sabe muito bem como a distin- guir da prosa, afirmando que talvez tal se pudesse perceber pelo som da leitura, mas é difícil fundamentar completamente esta hipótese), certamente por um escriba culto, é natural que a linguagem e o con- teúdo tenham sido modificados, para melhor se adaptarem quer ao público a que se passaria a destinar quer à época que se vivia. Note- -se, por exemplo, o carácter humanista de algumas passagens, carac- terística esta que seria impossível existir numa época anterior à do Império Médio!

Apesar de ser escrita num tom dirigido a um grupo de pessoas cultas, a linguagem usada parece ser bastante clara e simples, aliás, todos os autores são unânimes neste ponto. Mesmo assim, e esta é uma das nossas actuais maiores lacunas, parece ser impossível sa- ber como é que esta obra foi recebida no seu tempo. Não há até agora qualquer referência, nem sequer ao seu título, que nos ajude a saber um pouco mais; no entanto, pensando na aceitação que ainda hoje tem, pode-se pensar que teria igualmente sido bem recebida no seu tempo. No entanto, a não existência de outras cópias pode levar- -nos também a equacionar a hipótese de que o seu conteúdo tenha sido considerado impróprio para uso escolar, sendo assim de certa forma como que banido da sociedade egípcia.

I - A história

Apesar de podermos facilmente resumir o enredo d’0 Conto do Náufrago, a verdade é que após as primeiras leituras e, depois de adquirido algum conhecimento específico sobre a época em questão, verificamos que o significado desta história é bastante mais complexo do que parecia.

Em poucas palavras, diríamos que se está perante uma história de marinheiros, em tudo semelhante às outras histórias deste género que habitaram as mentes de todos os povos que se dedicaram ao mar que viveram ao longo da História. É por isso, e de maneira bas- tante fácil, que podemos olhar para este conto como 0 precursor de

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obras que ficaram célebres, como por exemplo a Odisseia e As Aven- turas de Sindbad, o Marinheiro.

Se tentarmos resumir o conto, podemos dizer que se trata de uma história contada por um marinheiro ao comandante de uma expe- dição que parece não ter corrido da melhor forma. O propósito parece ser 0 do encorajamento do comandante. Para isso, 0 marinheiro con- ta-lhe como há tempos atrás tinha naufragado e sido 0 único sobrevi- vente de uma grande expedição que retornava ao Egipto. Salvara-se, diz-lhe ele, porque tinha ido parar a uma ilha muito especial, onde algum tempo depois conheceu uma serpente, a qual parecia ser 0 deus da ilha, que lhe predestinou o regresso a casa e 0 encheu de presen- tes para ele levar ao faraó, ao invés de o maltratar. Quando chega ao Egipto, o faraó, após ter recebido todos estes dons e ouvido a história do náufrago, eleva-0 à categoria de companheiro. Contudo, 0 final pare- ce um tanto ou quanto enigmático, porque se fica com a ideia de que esta história não foi o suficiente para encorajar 0 segundo marinheiro, quando ele diz: «Don’t make an effort, my friend. Who would give water at dawn to a goose that will be slaughtered in the morning?»(4)

Este conto parece de tal modo rico em significado e em possíveis vias de interpretação, aos diferentes estudiosos, que lhe é atribuído mais que um nome. Para além de Conto do Náufrago, é possível também encontrarmo-lo denominado por Ilha Encantada ou Conto da Serpente.

Uma das principais características desta obra é o facto de se tratar de um conjunto de histórias que perfazem uma só, como aliás é enfa- tizado por Dieter Kurth(5), mas que parece ser uma forma literária egíp- cia(e) comum. Assim, temos a história do comandante, cuja expedição parece não ter corrido da melhor forma, a história do náufrago e, por fim, a história da serpente, 0 que poderia ser representado graficamen- te como mostra a Fig. 1, visto estarmos em presença de uma história dentro de uma outra história, que por sua vez está incluída numa outra:

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Fig. 1

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MARIA ANA VALDEZ

Isto parece então demonstrar, tal como descreve Baines, uma estrutura concêntrica da obra, que se pode enunciar também da se- guinte forma: A - B - C - D - C’ - B’ - A’. Em relação a Kurth, a novidade é C - C’ que representa a vida do náufrago na ilha, de resto a divisão é igual, senão veja-se a Fig. 2:

A História do comandante

B História do náufrago

C Vida do náufrago na ilha

D História da serpente

C’ Vida do náufrago na ilha

B’ História do náufrago

A’ História do comandante

Fig. 2

De acordo com esta estrutura, a parte mais significativa do texto é a história do náufrago, a qual inclui cerca de 149 linhas das 189 do texto, sendo a mais curta a da serpente que apenas ocupa cerca de seis linhas, apesar de 0 seu conteúdo ser 0 centro da revelação divina que a história inclui.

A história contada pelo náufrago é, por assim dizer, a grande história da História, mas 0 relato da serpente é, também sem suscitar grandes dúvidas, a sequência mais expressiva de toda a narrativa no seu conjunto. É aí que se fazem as mais importantes revelações, tal como adiante se verá.

Quanto ao estilo pode-se dizer que é muito mais oral que escrito, apesar de ter como referência um público já letrado, o que contrasta de certa maneira com a restante literatura deste período(7). Mas, tal como afirma Baines, até esta aparente simplicidade textual foi cuida- dosamente estudada e aplicada. Mesmo assim, o conjunto final escrito é certamente bastante diferente da linguagem oral egípcia do tempo, apesar de a apresentação imitar a forma de um discurso directo. Pa- rece que as primeiras palavras do texto - dd jn - devem ser lidas como «discurso» e entendidas como uma forma de enunciar um texto escrito mas cuja linguagem teria a oralidade como principal caracte- rística(8). Quase poderíamos então dizer que se estava perante uma peça de teatro pela sequência de imagens que nos é fornecida.

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Outro aspecto que pode ser usado para reforçar esta visão é que tanto o discurso do náufrago como o da serpente, apesar de os tons serem ligeiramente diferentes (nota-se rapidamente que a ser- pente tem um discurso de género divino, mesmo na ligeireza estilís- tica que lhe serve de base), estão escritos na primeira pessoa. Aliás, este género de recurso também poderia facilmente servir para aproxi- mar ainda mais o público das personagens e da história.

Paralelamente, o texto encerra um outro ponto não muito comum se nos lembrarmos do que acontece nos outros contos seus contem- porâneos, como os incluídos no Papiro Westcar e, mesmo, a história de Sinuhe, que é o facto de, durante toda a narrativa, nunca se atri- buírem nomes às diferentes personagens, mas sim, títulos. Isto é, não há qualquer fixação histórica das personagens®, o que nos leva a pensar que um dos objectivos do texto seja mesmo a transmissão de uma forma modelar de estar perante a vida. Neste caso em concreto, na vida de um marinheiro, e não tanto, a manutenção no tempo de uma determinada história verídica, apesar de muitos dos aspectos aqui referidos serem certamente resultado do conhecimento concreto que os egípcios tinham deste tema das navegações.

Esta questão da não identificação das personagens também se alarga aos pormenores geográficos em geral, mesmo lembrando as refe- rências existentes a Wawat(10) e a Senmut(11) nas linhas 9 e 10, e as alusões que parecem ser feitas à zona do Sinai (cf. linhas 23-4 e 89-90).

Seria isto para mitificar ainda mais a história? É muito capaz.A última afirmação do comandante após a história do náufrago

deixa qualquer leitor com algumas dúvidas sobre 0 fim da história, porque parece que após todo este esforço para tentar animar 0 co- mandante, este continuava com 0 mesmo desalento inicial. Para isso, reveja-se o seu comentário:

«Don’t make an effort, my friend. Who would give water at dawn to a goose that will be slaughtered in the morning?»·12*.

Esta é porventura uma das frases do texto mais comentadas de sempre. Os especialistas discutem sobre se se trata de um provérbio ou de um aforismo, porque contrariamente ao comum dos provérbios 0 seu significado não é directo. Será que indicava um fim feliz da história, ou, antes pelo contrário, sublinhava a próxima morte do co- mandante, como pergunta Loprieno·131? Mas não poderia ser também uma ironia relativa ao conteúdo global do texto, como sublinham

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Baines(14) e Kurth(15), focando este último ainda mais um certo cepti- cismo do comandante?

Infelizmente, esta fala é demasiado obscura para que possamos decidir de forma segura e inequívoca sobre qual 0 seu real significa- do. Mesmo assim, Baines aventa a hipótese de «...is that the leader is so sunk in despair as to assume that the narrator is attacking, rather than helping, him with his story»(16), enquanto Loprieno diz que o autor «prefers the literary device of suspension, relying once more on his “secret community” with the reader»<17). De acordo com esta última hi- pótese, parece que o final ficaria suspenso até urna outra altura, ou seja, parece que ficava aberta na historia a possibilidade de continua- ção da mesma em novos episodios.

II - As personagens

a) O comandante

É provavelmente a personagem mais apagada de toda a narrativa. Déla apenas sabemos que estava de volta ao Egipto depois de urna expedição ao Sul, porventura uma expedição mineira ou militar, que parece não ter tido os resultados mais auspiciosos deste mundo. É a ele que o náufrago tenta consolar ao contar-lhe a sua aventura, ten- tando demonstrar-lhe que 0 faraó era benevolente mesmo em situa- ções menos boas, desde que se verificasse que ele tinha feito tudo quanto estava ao seu alcance para ser bem sucedido na missão de que fora incumbido.

A sua última fala no texto(18), de tom marcadamente céptico aos olhos de D. Kurth, parece deixar transparecer um completo desalento da personagem. Aliás, esta é uma das passagens de todo 0 conto mais discutidas pelos especialistas, porque deixa no ar uma certa in- decisão quanto ao final. No entanto, o desalento do comandante é algo que 0 marca desde 0 início da história, logo quando se verifica a sua incapacidade quer para se lavar quer para falar, 0 que leva ao primeiro conselho do náufrago sobre a melhor maneira de enfrentar problemas daquele género.

b) O náufrago

Parece ser a personagem por excelência da obra, mas, mesmo assim, a serpente ofusca-a, devido ao seu carácter divino. É quem mantém 0 fio condutor de toda a história.

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O CONTO DO NÁUFRAGO. TRÉS PERSONAGENS À PROCURA DE INTÉRPRETE

Tecnicamente dir-se-ia quase de certeza que se tratava de um narrador participante e também da personagem principal do conto. É ele quem sofre as maiores desventuras, mas é também o único que consegue contactar de forma realmente proveitosa com o deus-ser- pente, com quem parece mesmo conseguir estabelecer uma relação de amizade, se é que isto se pode dizer, e de respeito mútuo. Parece ser um escolhido dos deuses, não só pelo contacto com a serpente, mas, especialmente, porque lhe fora permitido salvar-se naquela ilha, ou não fora ele salvo por uma onda do mar que para ali 0 tinha atirado! Contudo, num primeiro momento, não é capaz de responder à serpente, ficando todos os seus movimentos e reacções tolhidas pelo medo que lhe provoca a situação. Mas num segundo instante parece ser capaz, respondendo adequadamente à pergunta da serpente, até mesmo de forma, diríamos nós, bastante astuta.

Todavia, apresenta-se como um ser ingénuo ao dizer ao deus- -serpente que quando chegasse ao Egipto arranjaria forma de lhe levar todas as oferendas que normalmente se levam a um deus, sem se aperceber de que a ilha era riquíssima em tudo aquilo. É por isso que a serpente rejeita a oferta e lhe dá para levar ao faraó um pouco de todos os produtos que ele lhe tinha tentado oferecer. Ora isto pa- rece uma situação um tanto ou quanto caricata, se pensarmos que em vez de ser 0 indivíduo a tentar agradar ao deus, é 0 deus quem tenta agradar ao ser humano!

Parece que 0 seu maior objectivo era 0 retorno são e salvo a casa, a fim de aí, no seio da sua família e pátria, poder construir um túmulo, isto é, morrer de acordo com os preceitos egípcios, e, espe- cialmente, de forma a poder garantir uma vida no Além.

No fim, consegue alcançar todos os seus maiores objectivos, e ainda ser agraciado pelo rei com o título de companheiro (semer), 0 que parece ser um alto grau de dignidade.

Para além disto, há que notar que esta personagem, socialmente falando, parece ser oriunda da classe emergente do Império Médio, a qual aspirava à ascensão social e profissional, e, especialmente, a conseguir obter na morte os mesmos privilégios.

c) A serpente

É certamente a personagem mais rica de todo o conto. Mesmo não tendo um discurso oral efectivo muito grande, 0 alcance das suas acções é enorme e dá-se a todos os níveis.

Visualmente aos olhos de um qualquer egípcio é a encarnação típica de um deus. Para tal contribui a sua cor dourada, os olhos cor

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de lápis-lázuli e a longa barba(19), bem como a sua estatura, ou me­lhor, comprimento(20). Além disso, há que notar tudo aquilo que diz sobre terem sido setenta e cinco serpentes na ilha e de ela ser a única sobrevivente da queda de uma estrela.

A partir desta referência às setenta e cinco serpentes, os especi­alistas discutem a possível identificação da serpente com uma mani­festação de Ré-Atum, de acordo com a ideia das formas de Ré que é exposta na chamada Ladainha de Ré(21), e sendo a pequena serpente encarada como a Maat. Seria aquilo que M.-T. Derchain-Urtel(22), teria dito tratar-se da serpente enquanto deus criador que teria sobrevivido com a sua filha Maat à catástrofe do fim da Criação e à perda dos outros deuses, o que significaria que a ilha era algo completamente fora do cosmos, e também, do tempo e do espaço.

A própria reacção do náufrago aquando do seu aparecimento, isto é, o medo e depois a alegria de estar perante um deus, bem como o imenso barulho e mesmo o tremor de terra que precede a sua chegada, são suficientes para que um egípcio identifique um deus(23).

É à serpente que cabe o privilégio de contar a história mais cen­tral deste conjunto de histórias, que, se bem que seja a mais pequena, é certamente das que implica mais comentários devido à riqueza do seu discurso.

Contudo, há outras interpretações sobre esta personagem que merecem também alguma atenção. Por exemplo, a serpente também pode ser encarada como uma metáfora astronómica, se todo o conjunto representar um período temporal. Isto significa que teríamos: «... the serpent as the sun, a falling star, a stay of four months, and a ship which sinks beneath the waves with 120 men only to reappear (?) Iater.»(24). Ora isto parece estar de acordo com a visão segundo a qual esta narrativa seria a descrição de um ciclo solar diário(25). Con­tudo, Baines argumenta que estas visões apenas explicam em parte a narrativa, e não conseguem suplantar a interpretação de M.-T. Derchain- -Urtel que cima se expôs.

Ill - Temas

a) A ilha

Quando se trata este assunto desta história, estar-se-á porven- tura perante 0 ponto mais importante da narrativa, porque é além do terreno onde a acção se passa, um factor determinante das diversas acções, quer pelo seu carácter sagrado, quer pelo seu significado inato.

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O CONTO DO NÁUFRAGO. TRÊS PERSONAGENS À PROCURA DE INTÉRPRETE

Geograficamente falando, esta ilha não existe. Mas isso não im- pede que possa ter sido inspirada em qualquer uma outra que existisse no mar Vermelho, e que, como tal, a maioria dos marinheiros egípcios a pudesse imaginar.

Na história, verifica-se 0 seu aparecimento a partir do nada. Parece ter sido ali colocada com 0 fim específico de salvar 0 náufrago, que tem alguns traços de um escolhido dos deuses, sendo 0 único sobre- vivente daquela terrível tempestade, que os marinheiros mais expe- rientes, habituados a saber quando elas vinham, não foram capazes de prever. No fundo, estaríamos então perante uma situação previa- mente definida, cujo objectivo final seria o de lançar 0 náufrago na ilha, permitindo-lhe o contacto com a divindade.

A imagem que se tem desta ilha é a de uma paisagem luxuriosa, onde nada falta, onde se vive perfeitamente. Não seria esta ilha 0 paradigma da terra ideal, tal como aconteceu nas utopias de Bacon e de Moore ou no episódio da Ilha dos Amores de Camões? É que as parecenças são enormes! Ali, tudo é perfeito e harmónico, nada falta e, especialmente, há convívio directo entre divindades e humanos.

No entanto, a ilha parece ser um local transitório, que apenas serviu para o encontro entre o náufrago e a serpente, ou seja, entre 0 divino e a humanidade(26). Mas que tal como surgiu do nada, mal 0 náufrago a abandone voltará a sucumbir nas profundezas das águas. É a imagem completa de uma quimera que, ao ser abandonada, se desvanece no ar.

No fundo, trata-se de um local muito especial, onde deuses e ho- mens, habituados a viverem cada um em sítios diferentes, se podem encontrar, é como que uma zona neutra, pelo que se pode perfeitamente considerar como algo fora do cosmos, do espaço e do tempo.

A ilha é denominada Ilha do Ka na tradução de Lichtheim, mas outros autores chamam-lhe outros nomes como por exemplo, île du génie, segundo Golénischeff, e phantom island, segundo Gardiner, o que aumenta ainda mais o alcance do seu significado. Este ka teria aqui um conceito bastante alargado*27*. Representa a memoria comum entre a serpente e o náufrago, visto ambos terem perdido todos os companheiros. É a ligação com o mundo dos mortos que de certo modo também os une pela desgraça que isso envolveu em ambos os casos. Parece, então, que nesta ilha, onde a presença do ka é tão forte, que a ligação entre o mundo dos vivos e o dos mortos é tão ténue, que por vezes não se consegue distinguir, porque se de facto 0 náufrago fala com a serpente e ela com ele, ela também lhe diz que estava morta desde que os seus companheiros tinham morrido, 0

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que parece algo incongruente, se não nos lembrarmos que o ka esta- belecia também a ponte entre os dois mundos.

No fundo, esta ilha não existe na realidade. É um objecto mítico que permite a construção de urna utopia relativamente à questão do que era o ideal de terra para um egípcio. E, na sua dimensão divina, acaba por não ser muito mais do que um espaço da memória, onde náufrago e serpente choram os seus mortos e comparam as suas tra- gédias. E na verdade constitui 0 móbil que possibilita a salvação, física pelo menos, do náufrago, permitindo-lhe finalmente alcançar a vida depois da morte, 0 que representava um, senão, o desejo maior de todo o egípcio.

b) A questão religiosa

Este é outro dos pontos basilares desta história. Aqui, para além do contacto entre um ser humano e uma divindade, observa-se tam- bém 0 carácter benevolente do deus, ao mesmo tempo que se nota um certo desprezo pelas oferendas humanas, que seriam indiferentes aos deuses. Além disso, o texto refere o deus, mas nunca 0 nomeia.

O primeiro contacto entre 0 náufrago e a serpente faz 0 leitor temer 0 pior, visto o náufrago não ser capaz de responder à sua per- gunta, 0 que a encoleriza. Todavia, num segundo momento, o nosso herói consegue finalmente responder-lhe e fá-lo até com bastante as- túcia como atrás referimos. A partir daqui, estabelece-se uma relação especial entre as duas personagens, que tinham, no fundo, sofrido perdas semelhantes. Assim, a serpente prevê 0 seu retorno a casa e à pátria, 0 que, em última instância, pode perfeitamente significar 0 aumento da bondade divina para com 0 homem, a sua condescen- dência mesmo.

Contudo, esta passagem parece oferecer problemas de tradução pelo menos para Loprieno(28>, que afirma haver ambiguidade na passa- gem (cf. linhas 147 e 148), passível de mais que uma interpretação. Por um lado, pode ser traduzida por «a god who loves mankind» ou por outro lado, «a god whom mankind loves», sendo ambas as opções gramaticalmente aceites. Mas isto ainda altera bastante o significado da obra, porque estar-se perante um deus que ama a humanidade não é exactamente o mesmo que se estar perante um deus amado pela humanidade. Os papéis invertem-se excessivamente. Assim, pelo que conhecemos da obra, somos levados a pensar que a primeira interpretação estaria mais de acordo com 0 significado final da histó- ria. Parece-nos que era mais importante aqui demonstrar que os deu-

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ses amavam 0 homem e não tanto que a humanidade gostava daquele deus em particular.

Outro assunto também muito discutido é 0 da rejeição das ofe- rendas prometidas pelo náufrago à serpente, que lhe pede antes que 0 seu nome seja lembrado. Aqui, ficamos com a certeza nítida de que tudo aquilo que os homens pudessem oferecer aos deuses eles já tinham e, provavelmente, até em maior quantidade e qualidade. Em última instância, poder-se-ia certamente levantar a questão da eficácia e dos limites das acções humanas, nomeadamente das oferendas que eram feitas aos deuses, ideia que parece já ter transparecido nas Admonições de Ipu-wer, pelo que 0 tema não é assim tão novo quan- to isso. Mas 0 seu significado aqui é diferente. Porque ao passo que nessa obra a questão era a da impossibilidade de contacto entre 0 humano e 0 divino e de que os deuses não ouviriam os homens, aqui a questão parece transparecer com um certo tom de ironia por parte da serpente, especialmente se tivermos em conta que é a serpente quem oferece estes mesmos dons ao náufrago<29)!

Durante toda a história este deus, tal como já se referiu, nunca é nomeado, antes é tratado pelo termo neutro de deus, netjer (ntr) em egípcio. Por aquilo que 0 leitor sabe, 0 náufrago está convencido de que se encontra perante um deus, mas não sabe nunca qual deus(30). No fundo, está-se perante uma concepção de deus anónimo, o que poderia levantar alguns problemas quando vemos a serpente pedir ao náufrago que 0 seu nome fosse lembrado na sua cidade. Que nome? Não sabemos, 0 que parece pôr-nos perante um conhecimento restri- to a que só alguns teriam acesso, 0 que marcaria um certo carácter místico na história. Por outro lado, 0 facto de ser tratada simplesmente como o deus permite que se vejam aqui algumas parecenças com Sinuhe, 0 qual parece afirmar uma tendência monoteísta da religião egípcia. No entanto, 0 carácter pessoal leva a que muitos autores pre- firam antes usar 0 conceito de henoteísmo.

c) Aspectos de sabedoria

Este texto não foi certamente escrito apenas pelo simples objec- tivo de contar uma história antiga! É óbvio que está aqui muito mais implícito. Senão, porque é que se fariam afirmações sobre a benevo- lência do faraó e sobre a magnanimidade dos deuses? E para que serviria saber ouvir e saber falar?

Logo nas primeiras linhas vem um conselho explícito do náufrago ao comandante referindo-lhe a necessidade de se arranjar conveniente- mente (lembra-nos a cena de Sinuhe quando retorna ao Egipto e não é

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MARIA ANA VALDEZ

reconhecido devido às roupas e quantidade de porcaria que tinha agar- rada ao corpo, pelo que tem que tomar banho, fazer a barba e perfumar- -se, isto é, civilizar-se para poder estar na presença do faraó), só depois poderá falar com toda a segurança com 0 rei. Além disto, 0 náufrago alerta-0 para o poder da palavra, isto é, sobre como um discurso muito bem feito e pensado 0 poderia salvar quando tivesse que prestar contas sobre a sua missão. No entanto, este esforço parece inútil ao náufrago devido ao estado de espírito em que 0 comandante se encontrava.

Todavia, mais à frente na história, quando 0 náufrago é interpelado pela primeira vez pela serpente, é ele próprio que não consegue articular uma resposta e parece mesmo que desmaia de medo. Mas logo de se- guida consegue articular uma resposta que 0 salva da cólera da ser- pente. Ora não seria esta experiência de vida que 0 náufrago estaria a tentar transmitir ao comandante? É provável, primeiro porque é temporal- mente anterior à situação do início do texto e, segundo, porque ele con- seguiu bons resultados com tal atitude, aliás, tanto perante a serpente como mesmo perante 0 faraó quando lhe contou a sua aventura.

Outro aspecto aqui realçado é 0 da benevolência de figuras su- periores como o faraó e 0 deus para com os seus inferiores. O pri- meiro é benevolente para com 0 náufrago e pensa-se que também 0 será para com o comandante, desde que ele demonstre que cumpriu 0 melhor possível aquilo de que tinha sido incumbido; enquanto 0 se- gundo demonstra uma faceta verdadeiramente simpática e, mesmo, uma capacidade de ajudar 0 seu inferior humano. Parece demonstrar- se aqui que os deuses amavam 0 seu povo, desde os mais humildes aos mais ricos, bastando apenas que fossem cumpridores dos precei- tos religiosos comuns à época.

No fundo, em todo o texto acaba por estar patente um certo ideal de aprendizagem pela experiência. Todas as acções do náufra- go, mesmo nos momentos mais caricatos, que se poderia dizer serem fruto de alguma incompreensão entre os dois mundos, seriam algo digno de ser tomado como exemplo, porque 0 seu resultado tinha, no conjunto final, sido o mais positivo possível.

Se bem que esta obra não seja exactamente uma obra de carác- ter sapiencial, 0 facto é que mesmo aqui há aspectos deste género que são bastante importantes para que nós hoje possamos compreen- der um pouco melhor os anseios deste povo na época da XII dinastia, ou seja, há cerca de quatro mil anos atrás. Temos então a certeza do que significava o poder da palavra, bem como qual era a importância da experiência enquanto forma de aprendizagem, para a sociedade egípcia do tempo.

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O CONTO DO NÁUFRAGO. TRÊS PERSONAGENS À PROCURA DE INTÉRPRETE

Conclusão

Após tudo 0 que atrás se disse sobre este excepcional conto de há quatro mil anos, parece-nos contudo necessário afirmar as reticên- cias que pomos perante certas afirmações como esta que diz: «Le Naufragé est un pur récit mythique»<31). É que, apesar de tudo o que aqui possa existir de mítico, há aspectos que são muito reais, como por exemplo as expedições egípcias ao Sul, o tipo de produtos que se importavam, as próprias navegações (um elemento do quotidiano egípcio), 0 que permite que exista entre 0 texto e 0 leitor uma ligação afectiva muito mais forte. No fundo, ao invés de uma simples relação com 0 maravilhoso que nunca se poderia alcançar, há uma relação de proximidade com temas e aspectos do quotidiano daquela época.

Por outro lado, e não obstante a ilha, tal como a serpente, ser um elemento do mito, parece-nos também que 0 objectivo do conto não seria tanto 0 de contar um mito, como 0 de contar uma determi- nada experiência de vida com vista a um ensinamento modelar.

É neste ponto que nos parece ser útil lembrar a diferença que existe entre este conto e os do Papiro Westcar, que primam pelo con- tar de episódios cuja historicidade pode ser comprovada, mesmo sen- do eles envoltos numa aura maravilhosa onde deuses e magia fre- quentemente estão presentes.

Em suma, está-se perante uma história maravilhosa com objecti- vos diversos, que pela forma como se desenrola agarra 0 leitor até ao fim, especialmente pelo facto de se tratar de um relato muito vivo e colorido que permite ir idealizando as diversas sequências, como se se estivesse a assistir a um filme. Com isto, torna-se então perfeita- mente compreensível que 0 conto ainda hoje continue a prender a nossa atenção, verificando-se 0 aparecimento sucessivo de edições do texto, tal como a criação de páginas na WWW que lhe são com- pletamente dedicadas!

Notas

* Texto escrito para o seminário de História e Cultura do Egipto faraónico, orientado pelo Prof. Doutor José Nunes Carreira, adaptado para publicação.

(1) Cf. http://www.sonoma.edu/people/poe/Texts/EgyptianlSM_SAIL.html

(2) William Kelly SIMPSON, The Literature of Ancient Egypt. An Anthology of Stories, Instructions, and Poetry, 2- ed., New Haven/London, Yale University Press [s. d.], p. 50.

(3) Josep PADRÓ, Historia del Egipto Faraónico, 2- ed., Madrid, Alianza Editorial, S.A., 1997, p. 230.

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(4) «The Tale of the Shipwrecked Sailor», in Miriam LICHTHEIM, Ancient Egyptian Litera- ture. A Book of Readings, Berkeley/Los Angeles/London, University of California Press, 1984, vol. I, p. 215.

(5) Dieter KURTH, «Zur Interpretation der Geschichte des Shiffbrüchigen», in SAK, vol. XIV, 1987, p. 167-179.

(6) John BAINES, «Interpreting the Story of the Shipwrecked Sailor», in Journal of Egyptian Archaeology, vol. 76, 1990, p 59.

(7) ibidem, p. 57.

(8) ibidem, p. 58.

(9) William Kelly SIMPSON, «Schiffbrüchiger», in Lexikon der Ägyptologie, dir. W. Helck e E. Otto, Wiesbaden, Otto Harrassowitz, 1984, vol. V, col. 619.

.Nordeste da Núbia (ו0)

<11) A ilha de Biga ao sul de Assuão.

(12) «The Tale of the Shipwrecked Sailor», in Miriam LICHTHEIM, Ancient Egyptian Literature. A Book of Readings, Berkeley/Los Angeles/London, University of California Press, 1984, vol. I, p. 215.

<13) Antonio LOPRIENO, «The Sign of Literature in the Shipwrecked Sailor», in U. Verhoeven- -E. Graefe (ed.) Religion und Philosophie im Alten Ägypten, Fs Ph. Derchain, Leuven, 1991, p. 216.

(14) cf. op. cit., p. 61.

(15) cf. op. cit., p. 178.

(16) cf. op. cit., p. 61.

(17) cf. op. cit., p. 216.

(18) «The Tale of the Shipwrecked Sailor», in Miriam LICHTEIM, Ancient Egyptian Literature. A Book of Readings, Berkeley/Los Angeles/London, University of California Press, 1984, vol. I, p. 215.

(19) Cerca de um metro de comprimento.

(20) Cerca de quinze metros de comprimento.

(21) A este propósito, John Baines refere a sua concordância com a interpretação de Assman e Wente, de acordo com 0 que esta obra seria produto do Império Médio, apesar de os seus textos só serem gravados nos monumentos a partir do Império Novo. De facto, parece que esta lista de 74 nomes poderia ser bastante mais antiga do que o Império Médio, podendo fazer parte de um conhecimento restrito. Em suma, a Ladainha, seria não uma exposição mas antes uma enumeração de formas do deus Ré.

<22> In SAK, 1974, p. 83-104.

<23) Erik HORNUNG, Les Dieux de l ’Égypt. L’Un et le Multiple, Paris, Flammarion, 1992.

(24) William Kelly SIMPSON, “Schiffbrüchiger”, in Lexikon der Ägyptologie, dir. W. Helck e E. Otto, Wiesbaden, Otto Harrassowitz, 1984, vol. V, col. 620.

<25> In SAK, 14, 173-5.

<26) Erik HORNUNG, Les Dieux de l ’Égypt. L’Un et le Multiple, Paris, Flammarion, 1992, p. 115-121.

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(27) Antonio LOPRIENO, «The Sign of Literature», p. 214-215.

(28) ibidem, p. 216.

(29) John BAINES, «Interpreting the Story of the Shipwrecked Sailor», in Journal of Egyptian Archaeology, vol. 76, 1990, p. 65.

(30) Erik HORNUNG, Les Dieux de l ’Égypt. L’Un et le Multiple, Paris, Flammarion, 1992, p. 115-121.

(31) Claire LALOUETTE, La Littérature Égyptienne, Paris, Presses Universitaires de France, 1981, p. 103. Também na obra Textes Sacrés et Textes Profanes de ¡’Ancienne Egypte. Mythes, Contes et Poésies, a autora repete a afirmação na página 157.

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