51
Mesa coordenada. GEHLAL/ JOINPP 2019 “Civilização ou barbárie: o futuro da humanidade. Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO DA DIREITA NO CONTINENTE LATINO-AMERICANO, E OS DESAFIOS PARA A RESISTÊNCIA. Neste ano comemora-se os cem anos de morte da Rosa Luxemburgo, cuja indagação “Reforma ou Revolução?” tem muita pertinência nos dias de hoje. Depois de um ciclo de governos “progressistas” na região, presenciamos o retorno e uma reorganização da extrema-direita no continente que coloca em risco direitos conquistados. O caso brasileiro, cujo golpe de 2016 conseguiu emplacar um candidato de extrema direita nas eleições de 2018, é um exemplo. Com a eleição de Jair Bolsonaro desencadeia se uma grande ofensiva contra o pensamento crítico em todas as suas manifestações (nas escolas, nas universidades). Com o pretexto de acabar com a “doutrinação marxista-gramscista” se inculca uma volta às trevas onde pondera o obscurantismo: a terra é plana (anti-ciência), um fundamentalismo religioso cuja pretensão é a formação homogênea de uma geração apática e submissa. Esse movimento dá espaço para que cresçam na sociedade brasileira as bases para um “fascismo tupiniquim”. Ou seja, tem todas as características do fascismo adequado a realidade brasileira. Isso nos leva a pensar que as “reformas” superficiais dos governos progressistas não permitiram uma maior conscientização das massas e nos coloca a questao de quais os desafios hoje, (pois ao mesmo tempo, vemos um outro projeto de democracia e sociedade que se apresenta no bem viver boliviano, na escolha horizontal da Frente Ampla uruguaia, a resistência popular nicaraguense e venezuelana contra as tentativas de desestabilização de seus governos, o levante dos trabalhadores e povo haitiano, a vitória de Obrador no México . Todos a seu modo afirmam a vitalidade da democracia popular, da civilização de direitos e valores democráticos que valorizam a diversidade e o pluralismo nas sociedades contemporâneas e que estão sobre ameaça no continente latino-americano. Nomes: Joana Coutinho (Coordenadora) Alba Carvalho (Universidade Federal do Ceará) Lucio Oliver Universidad Nacional Autonoma de México - UNAM Guillermo Johnson- UFMA John Kennedy Ferreira- UFMA

Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

Mesa coordenada. GEHLAL/ JOINPP 2019 “Civilização ou barbárie: o futuro da

humanidade.

Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO DA DIREITA NO CONTINENTE

LATINO-AMERICANO, E OS DESAFIOS PARA A RESISTÊNCIA.

Neste ano comemora-se os cem anos de morte da Rosa Luxemburgo, cuja indagação

“Reforma ou Revolução?” tem muita pertinência nos dias de hoje. Depois de um ciclo de

governos “progressistas” na região, presenciamos o retorno e uma reorganização da

extrema-direita no continente que coloca em risco direitos conquistados. O caso brasileiro,

cujo golpe de 2016 conseguiu emplacar um candidato de extrema direita nas eleições de

2018, é um exemplo. Com a eleição de Jair Bolsonaro desencadeia se uma grande ofensiva

contra o pensamento crítico em todas as suas manifestações (nas escolas, nas

universidades). Com o pretexto de acabar com a “doutrinação marxista-gramscista” se

inculca uma volta às trevas onde pondera o obscurantismo: a terra é plana (anti-ciência), um

fundamentalismo religioso cuja pretensão é a formação homogênea de uma geração apática

e submissa. Esse movimento dá espaço para que cresçam na sociedade brasileira as bases

para um “fascismo tupiniquim”. Ou seja, tem todas as características do fascismo adequado

a realidade brasileira. Isso nos leva a pensar que as “reformas” superficiais dos governos

progressistas não permitiram uma maior conscientização das massas e nos coloca a

questao de quais os desafios hoje, (pois ao mesmo tempo, vemos um outro projeto de

democracia e sociedade que se apresenta no bem viver boliviano, na escolha horizontal da

Frente Ampla uruguaia, a resistência popular nicaraguense e venezuelana contra as

tentativas de desestabilização de seus governos, o levante dos trabalhadores e povo

haitiano, a vitória de Obrador no México . Todos a seu modo afirmam a vitalidade da

democracia popular, da civilização de direitos e valores democráticos que valorizam a

diversidade e o pluralismo nas sociedades contemporâneas e que estão sobre ameaça no

continente latino-americano.

Nomes:

Joana Coutinho (Coordenadora)

Alba Carvalho (Universidade Federal do Ceará)

Lucio Oliver – Universidad Nacional Autonoma de México - UNAM

Guillermo Johnson- UFMA

John Kennedy Ferreira- UFMA

Page 2: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

TITULO: A educação como mercadoria: formar para a subserviência.

Joana A. Coutinho1

RESUMO: Este texto analisa o processo de mercantilização da educação sob a égide do neoliberalismo. Busca compreender o desmonte da educação pública numa investida do imperialismo.

Palavras-chave:. educação, capitalismo, imperialismo

ABSTRACT.This paper examines the process of mercantilization of education under the aegis of neoliberalism. It seeks to understand the dismount of public education in an onset of imperialism.

Keywords: capitalism; education; imperialism

Considerando que o que o governo nos promete sempre

Está muito longe de nos inspirar confiança

Nós decidimos tomar o poder

Para podermos levar uma vida melhor.

Considerando: vocês escutam os canhões

Outra linguagem não consegue compreender -

Deveremos então, sim, isso valerá a pena

Apontar os canhões contra os senhores!

(Bretold Brecht)

1 INTRODUÇÃO

O Banco Mundial coloca a educação como um dos pilares para a concessão de

empréstimos e a sua ausência é apresentado como um obstáculo para o crescimento e

desenvolvimento. Mas convém nos indagar de que educação fala o Banco Mundial. Se de

um lado, o número de matrículas no ensino fundamental e médio seja colocada como

contrapartida, o critério muda completamente quando se trata da Universidade Pública

gratuita. Para o banco, os “gastos com o ensino superior beneficiam apenas poucos

privilegiados”. Segundo Noam Chomsky e Heinz Dietrich (1999) o Banco Mundial não tem

nenhum interesse real numa educação básica de nove anos para 200 milhões de jovens

1 Pós-Doutorado na Universidad Nacional Autonoma de México- UNAM. Professora na Universidade Federal do

Maranhão e Coordenadora do Observatório de Políticas Públicas e Lutas Sociais -OPPLS- e do Grupo de Estudos de Hegemonia e Lutas na América Latina – GEHLAL

Page 3: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou

no exército de desempregados. A educação é necessária, apenas, para uma minoria: cerca

de 30 a 40% da população economicamente ativa. O problema do banco consiste em

“pensar instrumentos que permitam institucionalizar este tipo de “capital humano”

indispensável para as necessidades laborais do capital global, e que afetem o menos

possível seus lucros. Ou seja, conseguindo alto coeficiente de custo benefício” (Chomsky e

Dietrich, 1999, p.12). Segundo dados do IBGE, o número médio de anos de estudos no

Brasil é de apenas 7,7 de anos de estudos.

Os problemas educacionais em Nuestra America são realmente alarmantes. Em

reunião do Projeto Principal de Educação na América Latina e Caribe da ONU deixa claro

esse panorama. Segundo a Comissão Internacional da Educação, toda educação deve

Basear-se em quatro pilares fundamentais “aprender a conhecer”, “aprender a fazer”, “aprender a ser” e “aprender a conviver”. A estes quatro preceitos gostaria de acrescentar um quinto pilar: “aprender a empreender”. Porque o mundo do futuro exigirá cada vez mais dos graduados universitários a capacidade de gerar empregos e riqueza, retribuindo, assim à sociedade que lhes proporcionou educação e lhes permitiu acesso aos postos que ocupam. Porque como gostaria de repetir, o risco sem conhecimento é perigoso, mas o conhecimento sem risco é inútil (Santiago, 1998). longa citação longaCitação longa citação longaCitação longa citação longa Citação longa citação longaCitação longa citação longaCitação longa citação longaCitação longa citação longaCitação longa citação longaCitação longa citação longa (AUTOR, 9999, p. 22).

Segundo Chomsky e Dietrich os altos funcionários

Chegaram à conclusão de que os problemas educacionais na Nossa América se deviam ao esgotamento das possibilidades dos métodos tradicionais de ensino. No seu novo modelo de desenvolvimento educativo, exigem uma transformação profunda na gestão educativa tradicional, que permita articular efetivamente a educação com as demandas econômicas, sociais, políticas e culturais (CHOMSKY e DIETRICH, ).1999,p.124),

.

Neste caso, coincidem os objetivos dos educadores e as demandas empresariais. Sem

contar que a evasão ocorre numa proporção maior nas camadas populares, cuja educação

Page 4: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

não rende benefícios somente custos para os “amos da sociedade global”. A escola

transformou-se num lugar pouco prazeroso, a começar pela deficiência curricular que não

utiliza, via de regra, o conhecimento dos alunos sobre quaisquer temas: não compartilha as

reflexões pertinentes com a família, com a comunidade. Na Universidade, ocorre o contrário,

há um crescente processo de privatização. A tentativa é de adequar ao conhecimento um

aspecto meramente técnico, conforme à necessidade e exigência do mercado.

Não se trata de educar para transformar (produzir conhecimento), mas do mero domínio da

técnica2. Por esta lógica basta criar alguns poucos centros de excelência — o desmonte da

Universidade Pública, no Brasil, segue este caminho—. A educação a ser tratada como uma

mercadoria, cuja preocupação central é “preparar” o jovem para o tal “mercado de trabalho”.

1. Educação e neoliberalismo: uma contradição insuperável

A educação do trabalhador para a sua total submissão ao capital é o que está oculto nas

reformas propostas pelo Banco Mundial, como já foi dito e, o que está em curso na chamada

“escola sem partido”, protagonizada por grupos de direita no Brasil. As políticas ditas

neoliberais

especialmente aquelas destinadas a varrer conquistas históricas dos trabalhadores (reajuste automático dos salários, estabilidade no emprego, educação laica e gratuita, acesso e até existência de um serviço público geral) constituem claramente uma tentativa de descarregar a crise do capitalismo nas costas dos trabalhadores (COGGIOLA, 2001, p.42).

Não podemos deixar de pensar a educação como um dos elementos fundamentais para

forjar o consenso na sociedade capitalista. Althusser ao discutir a reprodução da força de

trabalho assegura que a sua formação diferentemente do sistema escravocrata ou feudal,

no capitalismo “a qualificação da força de trabalho tende (trata-se de uma lei tendencial) a

ser assegurada não em ‘cima das coisas’ (aprendizagem na própria produção), mas é cada

vez mais fora da produção: através do sistema escolar capitalista e outras instâncias e

instituições O que se aprende na escola? Interroga o filosofo francês

aprende-se a ler, a escrever a contar, portanto algumas técnicas, e ainda muito mais

coisas, inclusive elementos (que podem ser rudimentares ou pelo contrário

aprofundados) de “cultura cientifica” ou literária” diretamente utilizáveis nos diferentes

lugares da produção (uma instrução para os operários, outra para os técnicos, uma

terceira para os engenheiros, uma outra para os quadros superiores, etc). Aprendem-se

portanto “saberes práticas (des “savoir faire”) (ALTHUSSER, 1980,p.20-21).

Mas a escola não é apenas o lugar do aprendizado das técnicas, ensina também

2 A técnica neste discurso é apresentada como neutra.

Page 5: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

as regras dos bons costumes, isto é o comportamento que todo o agente da divisão do trabalho deve observar, segundo o lugar que está destinado a ocupar: regras da moral, da consciência cívica e profissional, o que significa exatamente regras de respeito pela divisão social-técnica do trabalho, pelas regras da ordem estabelecida pela dominação de classe. Ensina também a “bem falar”, a “redigir bem”, o que significa exactamente (para os futuros capitalistas e para os seus servidores) a “mandar bem” isto é (solução ideal) a “falar bem” aos operários, etc. Enunciando este facto numa linguagem mais cientifica, diremos que a reprodução da força de trabalho exige não só uma reprodução da qualificação desta, mas ao mesmo tempo, uma reprodução da submissão (grifos nossos)desta à ideologia dominante para os operários e uma reprodução da capacidade para manejar bem a ideologia dominante para os agentes da exploração e da repressão, a fim de que possam assegurar também , “pela palavra”, a dominação da classe dominante (ALTHUSSER, 1980, p.21-22).

Os dados da UNESCO para a educação na América Latina, é importante para

compreendermos o papel que a educação exerce na formação dos trabalhadores para o

capital. Segundo documento do PREAL (Programa de Promoção da Reforma Educativa na

América Latina e Caribe, nº 11)

a Educação é fundamental para os desenvolvimentos econômico, social e cultural e para a estabilidade política, a identidade nacional e a coesão social. Mais ainda, os negócios altamente tecnológicos de nossos dias não podem prosperar sem pessoas com competência analítica, criatividade e cooperação para o trabalho. A existência de pessoal com estas qualificações pode ter grande impacto, ainda na capacidade de um país atrair investimentos estrangeiros ” (WOLF, s/d, p. 4).

Não resta dúvida que o direito a educação pública, gratuita e laica é fruto de muitas

lutas dos trabalhadores. Uma das primeiras medidas tomadas na Comuna de Paris, foi a

reforma escolar, fundamentada no princípio da educação geral, gratuita, obrigatória, laica e

universal. A educação sempre esteve na pauta de luta dos trabalhadores opondo-se à

educação que forma para a subserviência, tão cara ao capital. A contra-ofensiva imperialista

neste momento, sobretudo nos países da América Latina, tem a educação como um dos

elementos fundamentais. Neste sentido, a reforma no ensino médio, no Brasil, não pode ser

dissociada da perspectiva de dominação que contraria qualquer formação crítica e

universalista. O ensino religioso nas escolas públicas segue este caminho. Não separa a fé

da ciência. O alimento do obscurantismo é muito útil neste momento de avanço do

conservadorismo no mundo, e na sociedade brasileira. A educação perde seu papel

libertador, humanista, universalizante e reforça a submissão, a alienação. Nas palavras de

Scruton a educação também envolve o exercício do poder — um poder entronizado na

escola ou no professor.

A escola é concebida, porém, como uma arena de poder legitimado e

não apenas estabelecido. É claro que há um problema quanto às

verdadeiras origens da autoridade do professor no Estado moderno.

Uma das consequências indesejáveis de se fazer a educação (ou o

comparecimento à escola) compulsória por lei é que se torna impossível

construir a autoridade do professor como se fosse adquirida por

Page 6: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

alegação paterna, de modo que as duas instituições, lar e escola, não

se referem tão prontamente ao mesmo fundo de respeito natural.(

SCRUTON, 2015, p. 231

Como disse um dos expoentes do pensamento conservador, a educação envolve o

exercício do poder e, necessariamente, passa pela educação a formação da consciência e

do pensamento crítico. Os conservadores vêem as disciplinas como sociologia, história,

filosofia como menores, ou secundárias (seriam elas, passiveis da “doutrinação” de

esquerda). Para Scruton (2015, p.238) “a história não é uma ciência verdadeira— tem

poucos conceitos teóricos e nenhum método experimental. Os fatos que ela estuda não são

investigados dentro do aspecto da lei cientifica, mas sob o da percepção e da memória

cotidiana”. A sociologia ocupa neste pensamento, algo semelhante

a liturgia sociológica é somente a fácil ladainha da mente de ‘segunda ordem’, que usa conceitos prontos no lugar do conhecimento crítico. Uma tal mente não tem capacidade para testar suas ideias contra a realidade, ou para entender a realidade por meio de seu conjunto de ideias As ideias são essencialmente artificiais, frequentemente derivando de assuntos que não têm nem método, nem teoria e os fatos — sendo do tipo complexo, que deve ser compreendido em termos não de teoria cientifixa, mas de inteligência crítica— são essencialmente elusivos, estando mascarados por nada mais que estatísticas cegas, que são o recurso comum de uma mente desprovida de conceitos (SCRUTON, 2015,p.240-241).

O pensamento conservador-moderno, desafia a sociologia como ciência, e despreza

toda a obra do conservador Durkheim. Ou seja, o obscurantismo é de forma generalizada e

aqui, nos trópicos o reflexo se faz presente ao que assistimos nas escolas públicas (do

ensino fundamental às Universidades). Dessa forma, podemos compreender o significado

mais complexo e amplo da “escola sem partido” que busca cercear a liberdade de cátedra

do professor, para que exerça a “liberdade de doutrinar” para o capital.

2.Educação e Movimentos sociais

Para os objetivos deste artigo a questão é saber qual o papel que os movimentos

sociais desempenham neste quesito. A educação é pensada de forma ampla e complexa.

James Petras (1999) faz uma análise da transição dos regimes autoritários para democracia

eleitoral, nos países da América Latina e também verifica como os regimes eleitorais

aprofundaram e estenderam as políticas regressivas. Para o autor, a propriedade tornou-se

mais concentrada, a diferença entre os 10% mais ricos e os 50% mais pobres se ampliou:

vastos setores do serviço público foram privatizados e desnacionalizados e centenas de

bilhões de dólares foram transferidos do bolso dos trabalhadores para os bancos

estrangeiros num valor muitas vezes superior ao das dívidas públicas.

Page 7: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

O autor constata que, na medida em que os intelectuais de esquerda viram que o processo

eleitoral não levaria à mudanças, ao contrário, muitos deles se voltaram contra os

movimentos sociais.

As eleições constitucionais dos últimos anos na América Latina forma somente na aparência triunfos da democracia política, Os processos eleitorais mostraram que existe uma defasagem entre o que são os regimes do continente e a versão que deles dão os centros de poder financeiro (GARRIDO, 1999,p.17).

Mesmo os governos populares que colocaram em questão as políticas neoliberais,

na década de 2000, no continente latino-americano, não romperam com elas. O caso

brasileiro é lapidar: ampliação das universidades nos governos do PT e mesmo programa de

redistribuição de renda como o bolsa família não mudou em nada este cenário.

Ao contrário, a consubstanciação do golpe desnuda a forma cada vez mais ignara com que

a educação é tratada: desde o mais profundo fundamentalismo religioso como parte da

educação dos jovens das classes populares. A formação é clara: formar trabalhadores

submissos para o capital. O neoliberalismo mostra sua faceta mais cruel

O neoliberalismo é um totalitarismo, já que pretende impor um modelo único, mas é também um dogmatismo, pois seus princípios obscuros e contraditórios apresentam-se como verdades inquestionáveis (GARRIDO, 1999,p.12).

Mantendo o elo com os movimentos sociais dos anos 1980 surge a Universidade

Popular com o objetivo de formar lideres sociais por meio de uma metodologia que

compreende o compartilhamento dos saberes: a prática, a experiência com o saber cientifico

sistematizado. A Universidade Popular Madres da Plaza de Mayo tem o “propósito de

estimular um pensamento crítico e organizar grupos de reflexão criativa”. Articular a teoria e

a prática, gerar ferramentas para disputar a hegemonia intelectual, abrir um espaço que os

setores populares e novos movimentos sociais possam participar e criar formas de

construção política.

O objetivo geral é superar as práticas educativas legitimadoras da opressão,

“recuperar as tradições de lutas populares, e transformar a sociedade e nós mesmos, no

saber e na luta” (www.madres.org).

Outra experiência que vale a pena mencionar é a Escola Florestan Fernandes. Há

uma clara preocupação em educar para uma nova sociedade. Essa nova educação, como

destaca Makarenko, inclui as pequenas questões do cotidiano (que se transformam em

grandes questões), a forma como se divide os trabalhos, as equipes. Segundo Leher, o MST

protagoniza uma das experiências mais originais e fecundas de autoformação e

autopedagogia. Em parcerias com Universidades Públicas têm conseguido colocar na pauta

discussões, temas, autores enterrados pela modorrenta academia. A inclusão de

Page 8: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

trabalhadores em espaços de formação de alta qualidade é considerada pelas classes

dominantes uma inversão da ordem natural das coisas. Os bons centros de formação

deveriam estar reservados para as elites ou para seus intelectuais orgânicos. Mészáros, no

livro, Educação para além do capital destaca o papel que a educação desempenha no

capitalismo de gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses das

classes dominantes, como inexorável, ou seja, , como se não houvesse alternativas. Ela,

sob o domínio do capital, assegura que os indivíduos adote como suas, as metas de

produção do capital. Ao fazer isso, produz conformidade, ou “consenso” a partir de “dentro e

por meio dos seus próprios limites institucionalizados e legalmente selecionados (Mészáros,

2005).

Quando uma maioria significativa da população —afasta-se com desdém do processo

democrático do ritual eleitoral, tendo lutado durante décadas, pelo direito ao voto, mostra

uma mudança radical de atitude em face da ordem dominante: pode-se dizer que é uma

rachadura nas espessas camadas de gesso cuidadosamente depositadas sobre a fachada

“democrática do sistema”. Segundo o autor, necessitamos de uma

atividade de contra internalização coerente e sustentada, que não se esgote na negação — não importando quão necessário isso seja como uma fase nesse empreendimento—e que defina seus objetivos fundamentais, como a criação de uma alternativa abrangente concretamente sustentável ao que já existe (MÉSZÁROS, 2005,p.56).

À guisa de conclusão

Embora a educação é apresentada como um elemento importante para as organizações

internacionais como FMI e Banco Mundial, para medir o desenvolvimento de um país e se

impõe como condição para empréstimos, tentamos, de maneira breve, polemizar a que tipo

de educação referem-se.

Os anos de estudos no Brasil, ajuda-nos a compreender um pouco melhor este quadro

Tabela 1. Anos de estudos no Brasil das pessoas de 25 anos ou mais de idade

2007/2015

Grupos anos de estudos 2007 2015

Sem instruções e menos de um ano 13,7 11,1

1 a 3 anos 12,8 9,5

4 a 7 anos 25,9 21,7

8 a 10 anos 13,8 13,9

11 a 14 anos 24,7 30,7

15 anos ou mais 8,9 13,0

Não determinados 0,2 0,1

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007/2015.

Page 9: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

Embora a tabela demonstre a evolução em anos de estudos no período de 2007 a

20153, os anos de estudos ainda estão bem longe de considerar que, no Brasil,

frequentar a Universidade ainda está muito longe de não ser considerado um

“privilégio”.

Tabela 2. Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos e mais

Por sexo 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015

Total 10,1 10,0 9,7 8,6 8,7 8,5 8,3 8,0

Homens 10,4 10,2 9,8 8,8 9,0 8,8 8,6 8,3

Mulheres 9,9 9,6 9,6 8,4 8,4 8,2 7,8 7,7

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007/2015.

Destacamos o fato de que embora, as exigências do Banco Mundial destacar as taxas de

matrículas para a concessão de empréstimos, a taxa de analfabetismo, no Brasil, embora

tenha declinado nos últimos anos continua muito elevada. Ou seja, 8% de pessoas com 15

anos ou mais, são analfabetas. Não entramos aqui, por questão de espaço, os chamados

analfabetos-funcionais. Ou seja, aprenderam a codificar os códigos da escrita, mas com

grande dificuldade para interpretar.

Recorrendo a Althusser a reprodução da força de trabalho

Tem pois como condição sine qua non, não só a reprodução a qualificação desta força de trabalho, mas também a reprodução de sua sujeição à ideologia dominante ou da “prática” desta ideologia, com tal precisão que não basta dizer: “não só mas também” pois conclui-se que é nas formas e sob as formas da sujeição ideológica que é assegurada a reprodução da qualificação da força de trabalho.(ALTHUSSER, 1980,p.22-23).

Na atual conjuntura, a batalha das ideias torna-se a principal arma contra o

obscurantismo que nos ameaça. A disputa política-ideológica na educação é cada vez mais

urgente. Perder essa batalha é voltar três séculos no tempo. A urgência do combate das

ideias conservadoras, neste momento, passa por um projeto de educação que seja plural,

emancipatório, critico. Que a “utopia” seja ainda, capaz de guiar contra um conservadorismo

da sociedade que nos cega, emburrece e, por isso, nos condena. O conhecimento é de

certa forma, libertador.

Referências

ALTHUSSER, Louis. Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado. Lisboa: Editorial

Presença,1980.

3 Os dados referem-se aos governos do PT.

Page 10: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

CHOMSKY, Noam e DIETRICH, Heinz. A sociedade Global: educação, mercado e

democracia. Blumenau: FURB, 1999.

COUTINHO, Joana A. ONGs e políticas neoliberais no Brasil. Florianópolis: UFSC, 2011.

GARRIDO, Luis Javier. Novas reflexões sobre a crítica do neoliberalismo realmente

existente. In: CHOMSKY, Noam e DIETERICH, Heinz. A sociedade global. Blumenau;

FURB, 1999.

COGGIOLA, Osvaldo. Universidade e ciência na crise global. São Paulo: Edições Pulsar,

2001.

LÖWY, Michael (org.) O marxismo na América Latina. São Paulo: Perseu Abramo, 1999.

MÈSZÁROS, István. Educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005.

NEVES, Maria Lúcia Wanderley (org). A nova pedagogia da hegemonia: estratégias do

capital para educar o consenso. São Paulo: Xamã, 2005.

WOLFF, Laurence. Avaliações educacionais na América Latina: estágio atual e desafios

futuros. PREAL, nº 11. (s/d).

PETRAS, James. Intelectuais: uma crítica marxista aos pós-marxistas. Lutas Sociais 6 São

Paulo: Xamã, 1996.

SCRUTON, Roger. O que é conservadorismo. São Paulo: É Realizações, 2015.

www.madres.org/univupmpm.

Page 11: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

ENTRE A CIVILIZAÇÃO E A BARBÁRIE: disputar o Estado na América Latina. A

teoría da política como hegemonía.

Lucio Oliver4

RESUMO

A presente contribuição tenta recuperar e refletir problemas teóricos postos pela experiência recente das democracias latinoamericanas, em particular aqueles problemas que evidenciam a necessidade de uma nova concepção da política como hegemonia. As problemâticas abraçam questões relacionadas com a dinámica da economia e da política mundial, com o Estado entendido como relação de forças e com o papel político dos intelectuais nos processos de mudança e de catarse dos movimentos sociais e das sociedades civis da América Latina.

Palavras Chaves: Crítica teórica, hegemonia, sociedade civil, movimentos sociais, intelectuais

ABSTRACT

The present contribution tries to recover and to reflect theoretical problems posed by the recent experience of the Latin American democracies, in particular those problems that evidence the necessity of a new conception of politics as hegemony. The problems embrace issues related to the dynamics of world economy and politics, the State, understood as a relation of forces, and with the political role of the intellectuals in the processes of change and catharsis of social movements and civil societies in Latin America.

Keywords: Theoretical Criticism, hegemony, civil society, social movements, intellectuals

INTRODUÇÃO

"No tem insulto mais grossero ou calumnia mais infame contra a clase operaria que

a afirmação de que as controversias teóricas são somente um assunto para

“académicos".

Prólogo a Reforma o revolução.

Rosa Luxemburg.

4 Professor na Universidad Nacional Autonoma de México (UNAM)

Page 12: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

1. Introdução: situações de crise e problemáticas teóricas.

O desgaste da globalização excludente e bárbara dos últimos 30 anos está se

manifestando hoje como uma profunda impossibilidade das grandes elites políticas dos

países centrais de manter uma gobernabilidade neoliberal mundial com legitimidade e

estabilidade. Seu mundo apresenta crise ideológica, econômica e política. Faz parte duma

civilização de culto acrítico ao crescimento e expansão do capitalismo junto à incapacidade

de socializar os benefícios da acumulação mundial de capital para alavancar capitalismos

nacionais; do enfraquecimento dos Estados de concorrência baseados na divisão do

trabalho capitalista internacional; dos conflitos entre as grandes potências mundiais, das

tentativas de impor Estados de exceção nos países latino-americanos para apagar o

pensamento crítico, eliminar as demandas sociais, reducir ao máximo os direitos coletivos e

manter pela a força os programas de ajuste e projetos de exclusão social e política da

diversidade; das tentativas de intervencionismo externo político militar das potências para

mudar o regime político dos países que ainda mantem uma orientação progressista; da

confusão ideológico politica dos movimentos populares de resistência;e a dausência de

alternativas imediatas para manter e revitalizar as propostas democráticas populares

(Arizmendi, 2018, Oliver, 2017, Arizmendi, 2016, Rojas Villagra, 2015) Todo isso está

apresentando uma série de problemáticas políticas e teóricas para o pensamento crítico, e

faz parte do debate dos movimentos sociais e políticos populares latino-americanos.

Paralelamente ao senhalado, nos últimos trinta anos, os pactos socio-políticos

internos dos Estados da América do Sul, reconstituidos apõs as ditaduras militares,

sofreram una complexa evolução e entraram hoje numa profunda queda institucional que

caracteriza a situação atual dos Estados regidos pelos novos governos de direita. Os países

do Sul e Centro de América vivem um impasse em termos de estabilidade. E América Latina

toda vivencia uma polarização de definições político ideológicas sem que os programas de

extrema direita tenham conseguido aceitação nacional plena. Embora estejam se

propagando governos autoritarios de extrema direita com algum apoio de massas e exista

uma movilização exitosa de grupos religiosos, militares y políticos aventureiros e retrógrados

.

Desde o horizonte das lutas populares e dos intelectuais a elas relacionadas, suas

organizações e debates evidenciam que a situação coloca o pensamiento crítico perante a

urgência de uma teorización profunda das experiências progressistas latino-americanas do

Page 13: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

século XXI e da atual situação, que eleve o nível ideológico político dos movimentos e forças

políticas.

Neste escrito interessa considerar, entre outras, as seguintes problemáticas

teóricas centrais:

1) A imperiosa necessidade de uma crítica persistente ao fenômeno do Cesarismo

Político progressista.

As políticas de mudança conducidas principamente por arranjos burocráticos

socialdemocráticos que despolitizam as sociedades estão em questão pela experiência.

Uma separação radical das políticas dos governos desligada do acompanhamento e

iniciativa das sociedades civis enfraquece e isola as forçãs políticas progressistas. Parece

preciso repensar com urgência o valor da organização autodeterminada da sociedades civis

e dos movimentos sociais vinculada a uma conceção totalizante da democracia e a luta pela

hegemonia civil;

2) A insuficiência das políticas de mudança pela via de reformas parciais e

limitadas que tém eixo exclusivo nas políticas de inclusão social, educativa, de saude e

serviços dos setores marginais. Muitos outros setores sociais progressistas precisam uma

inclusão ativa nos processos de mudança e nas reformas. Para isso a noção de política

emancipadora tem que se projetar a partir de reformas múltiplas e inter-relacionadas nos

distintos ámbitos do Estado e da sociedade civil, para conseguir projetar um movimento

ativo de verdadeira mudança política;

3) A crítica pertinente à concepção neutral da globalização atual. A globalização

das últimas décadas se evidenciou como o projeto excludente e bárbaro das oligarquías

econômicas e políticas que dominam o mundo e que operam para organizar

subordinadamente a economia mundial e os Estados nacionais centrais e periféricos.

Embora, essa globalização não fosse percebida pela maioria de governos progressistas

como tal projeto particular de direção mundial da mundialização.

4) A previsão das opções abertas para os Estados nacionais dependentes e

periféricos na economía e na política mundial existente. Resulta necessário estabelecer

teóricamente as possibilidades dos Estados latino-americanos na mundialização do capital,

em particular respeito às suas distintas formas e projectos para criar políticas

Page 14: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

compartilhadas regionalmente con as quais incidir num rumo de democracia global e duma

nova arquitectura mundial. Se precisam projetos que apontem para uma influencia

determinante dos trabalhadores globais e proponham mudanças respeito a dependencia da

América latina, em termos de colocar diques à transferência de valor, extractivismo e

sobreexploração dos trabalhadores;

5) A noção de Estado como aparelho de poder aberto a decisões burocráticas de

políticas progressistas tem que mudar. Se precisa compreender o Estado como

condensação de relações de forças. Só assim poderão se desenvolver projetos de

hegemonia alternativa que gerem poder própio das forças populares no ámbito econômico,

político e ideológico.

6) É necessario recuperar o sentido profundo dos conflitos, das contradições

económico políticas e das protestas sociais. Nos processos de governabilidade controlada

ou de autoafirmação política avançada dos Estados progressistas apagou-se o senso social

da disputa ideológico institucional, política e social entre diferente projetos das sociedades

políticas e faltou a convergência com e nos movimentos sociais.

7) Se precisa uma teorização necessária da construção coletiva, catártica e

horizontal de como conformar núcleos dirigentes amplos que se sustentem em projetos

nacionais de forças políticas emancipadoras. A verdadeira reforma transformadora

transcurre por processos amplos e democráticos que propiciem a elaboração colectiva e

horizontal de programas ideológico políticos populares abertos á inclusão de todas as forças

ativas e democráticas da sociedade civil.

Minha contribuição procura refletir sobre esses temas que se apresentam como

tendências sociológicas teóricas surgidas das lutas sociais recentes na América Latina.

Na profundeza das interrogantes mencionadas está a urgência dum debate sobre a

questão do Estado na América Latina no seu sentido integral de política de dominação e

hegemonía, no marco duma relação de forças e como luta pela correspondência avançada

de sociedade política e sociedade civil.

No pasado recente as políticas autodenominadas posneoliberais dos governos

progressistas não enarbolaram propostas suficentes e firmes para disputar o Estado e

Page 15: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

procurar sua transformação, entendido num sentido integral. Assim, a sociedades civis como

totalidades colectivas não se convirteram em sujeitos decisórios do público, com politización

e organização autodeterminada das grandes maiorias populares. Assim também, a política

durante o periódo dos governos progressitas não levou à conformação de uma economía

social e e a um projeto nacional alternativo, não aconteceu a construção dum bloque

histórico popular, nem se abriu passo a conformação dum bloque de poder unitário. Em fim,

não se construiu uma nova concepção da política como hegemonía que tevesse capacidade

de gerar e "condensar" uma nova relação de forças para enfrentar desde os Estados

situações de crise como as que estão caraterizando o mundo actual (Oliver, 2017). É

necessário por tanto para os movimentos políticos e sociales de pensamento crítico e

posição radical aprofundar a analise dos problemas que levaram ao relativo fracasso do

progressismo latino-americano e deixaram fora os problemas da construção de forças

histórico políticas com capacidade para superar a barbarie e retomar a civilização.

2. Aprofundando os problemas teóricos assinalados. Os Estados perante os nós

internacionais e nacionais.

¿Quál a margem de decisão política e de intervenção productiva dos Estados

nacionais nun mundo dominado pelo mercado mundial em que a acumulação fica sob o

dominio global do capital? ¿Como se estabelecem os limites, as especificidades, o próprio

interesse, quando as condições da produção e reprodução de cada país estão integradas e

subordinadas à expansão do domínio mundial do capital, que controla os circuitos

financeiros, a capacidade mundial de produção e circulação, o setor de producción de

maquinária, a orientação da ciência, a técnica e a comunicação, a rotação do capital que se

afianza nos núcleos centrais da economía? Um elemento a considerar teóricamente são as

condições para uma outra relação entre o nacional e o internacional. A globalização

contemporánea estabelece formas de dependência que subordinam os países à dinámica

do capitalismo mundial, estabelecendo condições e pressões para impor uma "dependencia

redoblada" (Paulani, 2012), por exemplo a especialização econômica na exportação de força

de trabalho sobreexplotada, do agronegócio de materias primas e alimentos, de energía,

petróleo e maquilas con pouco valor agregado, sem gerar economias baseadas na

capacidade científico técnica. No aspecto político cultural a capacidade de participar na

mundialização acarreta participar com um projeto próprio estratégico na dinâmica do

mercado mundial e das relações político ideológicas. Para isso se precisa definir uma

Page 16: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

política interna e uma concepção autónoma estratégica dos assuntos mundiais, de maneira

tal de trabalhar para reorganizar as condições internas de produção, circulação e

cooperação com as quais participar nos assuntos mundiais.

A problemática da condensação da relação de forças.

Os Estados nacionales, apunta Poulantzas , são a condensação duma determinada

relação de forças. O grande assunto é compreender e conhecer a partir de que elementos

se produz tal condensação, como e por que as relaçoes de força em continuo movimento e

luta interior se condensam e em que medida se transformam quando convertidas em algo

estático e ao se projetar em instituições e relações organizadas de poder. Tambén é

importante conhecer a forma em que as sociedades modernas se articulam nesa

condensação: os indivíduos com igualdade, liberdade e vontade junto às classes sociais que

tém uma própria constituição económica, política e cultural, assim como as instituições

políticas que são resultado da acumulação de séculos de economia, poder, valores e

ideologías.

Embora, a concepção é lúcida: concepções e as formas institucionais expressam

algo mais que o avanço ou retrocesso civilizatõrio duma sociedade. São uma relação em

movimento entre forças que se redefinem em cada situação de acordo a seus compoentes

internacionais e internos. O que está claro é que existem forças internacionais e forças

nacionais em determinada relação que se condensa. As forças internacionais

contemporáneas aseguram e expandem seu domínio e sua hegemonia a partir das

situações econômicas, políticas, culturales e éticas mundiais, impoem seu poder sobre

instituições internacionais, Estados, classes, individuos, e nações.

Nessa situação tém que mudar as relaçoes de poder e domínio, mais tambem de

projetar uma política de hegemonia na medida en que ademais da subordinação exterior se

precisa superar a subalternidade interior das forças sociais populares e nacionais. Dai que

um elemento central da análise das relações de força seja compreender em que se baseia e

como se impoe a hegemonia.

O empate político de origem e as dificuldades de sua transformação. Da política

como hegemonia.

Page 17: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

Toda situação social é uma relação de forças em movimento que tém distintas

fases constitutivas e niveis nos quais se afirma ou se perde a dominação e a hegemonia. A

insubordinação e a nova capacidade de autodeterminação das forças emergentes que

aponta a uma outra direção ideológica e política, com possibilidade de construir e projetar

novos blocos de poder e uma proposta para processar interesses particulares como

interesses generais. A hegemonia é precisamente essa capacidade construida de obter

políticamente o consenso da maioria da sociedade para uma alternativa, sobre tudo na

reconfiguração da sociedade como sujeito e na transformação do Estado como sumatoria de

sociedade política e sociedade civil a partir de essa nova universalização. A capacidade se

produz no interior de um movimento orgánico da economia e da sociedade; numa situação

específica de conjuntura em que predomina a alta política e a luta nacional e internacional

de forças influi na disposición ideológica das maiorias. Os governos alternativos e seus

intelectuais tem sempre o difícil problema da hegemonia. Assim, é preciso colocar no centro

de suas lutas o projeto político cultural nacional e o objetivo de ação na sociedade civil. De

fato muito logo evidencia-se que a correspondencia temporal entre projecto político

avançado e a disposição ideológico política das massas populares tem que constituir numa

condução intelectual e moral que remonte o empate político constitutivo.

A resistência popular e política está hoje na América Latina perante a ofensiva

transnacional de acentuar a dominação e procurar a hegemonia do capital transnacional. É

preciso considerar como conseguir acumulação de capacidades econômicas, ideológicas,

políticas, éticas nacionais e regionais para superar a situação de momento constitutivo de

origem e para profundizar-se e constituir-se em dinamizador original e transformador do

ciclo do Estado. O empate político na América Latina convirtiou-se no passado recente

numa referência estática e formal que sublinhou a capacidade de resistência e ao mesmo

tempo as dificuldades para traduzir essa resistência em debate e criação de uma adequada

condução político ideológica, militar e institucional autónoma e autodeterminada de uma

nova força orgánica capaz de proponer uma articulação de sociedade política e sociedade

civil.

A crise da globalização neoliberal excluinte está façendo avanzar na América Latina

uma tendência a um Estado de excepção que moviliza ao partido da ordem dos diversos

países da América Latina em torno a proteger e sustentar as políticas de acumulação,

seguridade, ideologia de mercado, de ataque às bases ideológicas e políticas dos

trabalhadores, e de culto exacerbado ao ordem da globalização capitalista neoliberal.

Page 18: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

São os projetos nacionais uma opção para enfrentar o avanço do autoritarismo de

extrema dereita com influência de massas? O problema teórico é o da construção de um

projeto de avanço histórico capaz de coesionar à maioría, de unir a setores populares do

campo com outros da cidade, com setores das classes meias e com políticos e intelectuais

progressistas. Esse projeto tem problema de se vincular a uma luta internacional por uma

nova direção mundial da globalização com influência decisoria dos trabalhadores globais e

uma democracia global?

O que seria um avanço histórico que fosse alem de uma modernização excluinte e

conservadora de conciliação de classes com uma limitada pacificação social? Como se

produciria uma articulação creativa entre tal projeto e a ordem mundial atual dominante sob

a condução das forças centrais transnacionais? Este problema está presente na situação

atual de lugares em que se apresenta como um problema prático, inmediato, como na

Bolivia e no México, mais no sentido histórico estratégico trata-se do problema de um

projecto alternativo na América Latina e de revisão histórica política das experiências

passadas dos governos progressistas da América do Sul.

Politización e hegemonia civil.

A politização é expresão de uma determinada relação entre sociedade civil e

Estado. A sociedade se politiza quando se organiza com autodeterminação e asume um

papel ativo, propositivo e crecientemente decisório. Acarreta uma revisão social da ideología

dominante e dos elementos de subalternidade histórica das massas, dos elementos

económico-corporativos que tem prevalecido no passado, dos localismos e das visões

parciais restritivas e discriminatorias de e entre os distintos setores populares. A politização

é pelo mesmo diferente ao consenso eleitoral em torno a um partido, um líder ou um projeto

que encabeça uma luta nacional em disputa pelo governo. É um processo de avanço do

pensamento crítico da maioria, da constituição da sociedade como sujeito, como

consciencia coletiva das contradições da sociedade, das relações e determinações que

dominam suas relações, e da potencialidade dos elementos de resistência e luta

espontânea que surgem no dia a dia. A politização em último sentido é a catarse (Oliver,

2017a), esto é, o processo no qual os movimentos sociais e políticos avançados se

encontram entre eles na sociedade, se ampliam ao todo social e constituiem o fenómeno de

criar um programa e uma política propia coletiva, autodeterminada, para definir o rumo do

Page 19: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

Estado, que pelo mesmo já não é éle um Estado dominante. Assim, com a catarse, de

maneira autodeterminada e coletiva, se superam num amplo leque político as opções

partidarias e políticas já existentes. Politização não é pelo tanto que a massa asuma

pasivamente as propostas das forzas progressistas ou avanzadas da sociedade; é que a

massa se transforme e se constituia em força política capaz de autonomia para vincular-se

consciente e críticamente as forças dirigentes dum bloco de poder coletivo, mas a partir de

seu proprio programa e sua própria luta pela emancipación. Ao final a noção da luta pela

hegemonia civil parte de transformar a sociedade de um ámbito de relações coisificadas e

de ideologias subalternas, num espaço de liberdade concreta capaz de propor uma

solidariedade crítica da maioría em torno de um leque de relações avanzadas no ideológico

e o político.

O papel dos intelectuais.

Até hoje, os intelectuais latino-americanos tem sido pouco conscientes de seu papel

na política como luta por uma hegemonia alternativa. A condução intelectual acarreta não

só a comprensão das opções políticas coincidentes com o sentir da maioria. Seu papel se

afirma na crítica profunda das contradições históricas da sociedad, dos processos que

levaram aos problemas estruturais, das distintas relações de poder, dominação e visão do

mundo, das tendências e projetos que aparecem na dinâmica mundial, na relação entre

Estados potência e Estados subordinados, e na profundidade dos processos de

conformação histórica, política, ideológica, cultural e ética da sociedade. De suas relações

internas determinadas pela história da dominação e a hegemonia existentes. Sempre existe

uma ideologia dominante, um sentido comum vinculados com o predominio de um sistema

de ideias e uma noção de ordem imperante. O papel político dos intelectuales críticos não é

sustentar a pequena política, senão controvertir a ordem hegemônica da sociedade para

promover o desenvolvimento da conciência das lutas e das necesidades que estâo

presentes e ativos de forma espontánea nas contradições , conflitos e na resistencia da

sociedade. É acompanhar o processo de elevação política e ideológica das massas para

consolidar uma crítica social da subalternidade que consiste na submisâo aos padrões

prevalecentes. É colocar em questão a cultura dominante e os valores éticos a partir dos

acontecimentos da vida cotidiana e as situações que demostram a dominação, sumisão e

subordinação local e popular. Este papel e esta atividade crítica dos intelectuais populares é

necessária e fundamental no processo em que as maiorias devem sujeto político e

intelectual coletivo de uma nova hegemonia nacional popular. Para isso se faz

Page 20: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

imprescindível mudar as perspetivas intelectuais e os preceitos estabelecidos na massa,

contribuir a uma reforma política e moral que mude a comprensão e o sentir de ésta nos

asuntos centrais e nos corriqueiros da sociedade, as concepções e valores que imperam,

para, a partir da sua própria experiência -o bom senso- e novos elementos constituintes da

vida ideológica popular, construir uma outra prática sustentada numa nova explanação

histórica da atuação dos grupos dominados, seu papel como força histórico política nas

conjunturas críticas da sociedade. Trata-se de deconstruir a visão dominante e reconstruir

uma concepção alternativa do mundo, crítica das relações existentes de poder, coisificação

e fetichização das relações de poder dominantes. Essa é a questão política dos intelectuais

na política como hegemonia

A disjuntiva atual.

Estamos numa época en que a disjuntiva entre civilização e barbárie está presente

na realidade social, econômica e política de América Latina. Sim duda os elementos de

sobreexploração, autoritarismo, discriminação, destrução, despossessão, exclusão de seres

humanos e recursos naturais por meios inclusive ativamente violentos estão presentes nas

políticas dos Estados de excepção e na vida real de todos os dias de numerosos países. A

reversão de esse processo está exigindo de uma política orientada a que a sociedade

desenhe novas concepções para criar um novo bloco histórico orgánico alternativo que

otorgue um espaço novo à liberdade, à solidariedade, à democracia, ao trabalho social, à

crítica como premisas do Estado e da política. Pero esta não é uma ideia romántica. Faz

ninho numa comprensão e numa redefinição das ideias preconcebidas, dos prejuicios

presentes na vida cotidiana dos povos que os dividem e separam a partir de acentuar suas

diferenças naturais, seus interesses imediatos, seus horizontes localistas, seus prejuicios,

sua ignorancia da dominação. É isso que os intelectuais como política tém que esclarecer

para contribuir a superar, para criar as condições do processo de catarse, isto é, de

elevação do inmediato econômico corporativo e local para um projeto coletivo em que a

masa possa se constituir em força política autodeterminada com estrategia e programa para

afirmar o propio e incidir no nacional e no mundial.

BIBLIOGRAFIA

Anderson, P. (2016) Crisis en Brasil. lalíneadefuego.info/mayo 10/2016. en Viento Sur.

Page 21: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

Arizmendi, L. y Jorge Beinstein (2018) Tiempos de peligro: estado de excepción y guerra

mundial. México, Ed. Plaza y Valdés.

Arizmendi, L. (2016) El capital ante la crisis epocal del capitalismo. México, IPN.

Chequer, R. e Colin Butterfield, Vem pra rua, São Paulo, Ed. Matrix.

Elias, A., G. Oyhantçabal y R. Alonso (coords) (2018) Uruguay y el continente en la cruz de

los caminos. Enfoques de economía política. Uruguay, COFE.

Martuscelli, D. (2015), Crises políticas e capitalismo neoliberal no Brasil, Curitiba, Brasil, Ed.

CRV.

Oliver, L (2018-4) La sociedad civil mexicana ante el nuevo régimen político. Revista

Memoria, 2018-4. México, Ed. CEMOS.

Oliver, L. (2018-2). Brasil: Estado de excepción. Revista Memoria, 2018-2.México, Ed.

CEMOS.

Oliver, L. (2017a) "Gramsci y la noción de catarsis histórica. Su actualidad para América

Latina", em Revista Las torres de Lucca. España, No. 11, Julio a diciembre.

Oliver, L. (Coord) (2017b) Transformaciones de los Estados en América Latina. Una

perspectiva a partir de la sociología política de Antonio Gramsci. México, Ed. FCPyS,UNAM

y Ed. La biblioteca.

Paulani, L. (2012). "A dependência redoblada", em Le Monde Diplomatique. Brasil, 3 de

agosto.

Poulantzas, N. (1979) Estado, poder y socialismo. México, Ed. Siglo XXI.

Rojas Villagra, L. (Coord.) (2015) Neoliberalismo en América Latina: crisis, tendencias y

alternativas. Asunción, Paraguay, Ed. CLACSO.

Tapia, L. (2018) El leviatán Criollo. La Paz, Bolivia, Autoderminación.

Zibechi, R. Brasil potencia. Entre la integración regional y un nuevo imperialismo. Editora

Bajo Tierra, 2012.

Page 22: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

ULTRANEOLIBERALISMO, MILITARISMO E REACIONARISMO NO BRASIL DO

PRESENTE: uma composição de risco, um desafio à luta política

Alba Carvalho 5

RESUMO: Nesta produção, o foco analítico é o Brasil do Presente, refletindo sobre o chamado “bolsonarismo”, a encarnar a culminância do Golpe de 2016. O desvendamento deste cenário-limite exige recuo histórico nos processos do ajuste do Brasil ao capitalismo financeirizado, conferindo destaque aos ciclos dos governos petistas, fincados na ideologia da conciliação de classes. A tese fundante é que o “bolsonarismo” resulta de uma combinação de alto risco para o País, reunindo matrizes e tendências, imbrincadas na conformação da extrema-direita: ultraneoliberalismo; militarismo autoritário; reacionarismo político-cultural. Nestes circuitos da contemporaneidade brasileira, oscilantes entre tragédia e comédia, a resistência impõe-se como exigência histórica.

Palavras-chave: Brasil do Presente. Bolsonarismo. Ultraneoliberalismo. Militarismo. Reacionarismo.

ABSTRACT: This production is focused on an analysis of Brazil today, reflecting on the so-called "bolsonarism", or a political force that embodies the culmination of the 2016 coup. The unraveling of this limit scenario calls for a historical review of processes related to Brazil's adjustment to the financially oriented economy at the time, highlighting the cycles of PT governments, based on the ideology of class conciliation. The founding thesis is that "bolsonarism" results from a combination of high risk for the country, bringing together matrices and tendencies found in the shaping of the extreme right: ultraneoliberalism, authoritarian militarism, political-cultural intolerance. It is within these developments in Brazil today, oscillating between tragedy and comedy, that resistance imposes itself as a historical requirement.

Keywords: Brazil Today, Bolsonarism, Ultraneoliberalism, Militarism, Intolerance.

1 INTRODUÇÃO

Nesta produção acadêmica, o foco analítico incide no Brasil do Presente, tempo histórico

circunscrito a partir de 2016, com o Golpe parlamentar – midiático – jurídico que depôs a

5 Professora na Universidade Federal do Ceará

Page 23: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

Presidenta Dilma Rousseff e instaurou um desmonte da democracia, nos marcos da

dominância de políticas ultraneoliberais e de um crescente conservadorismo. É um período

sociopolítico de marcha crescente do autoritarismo, nos marcos formais da democracia,

instaurando-se mesmo dimensões de um Estado de Exceção.

Neste cenário do Golpe 16 – que foi se fazendo ao longo dos últimos anos – a direita, mais

precisamente a extrema-direita, foi se organizando com estratégias definidas de difusão de

sua ideologia nos espaços sociais, ocupando, de forma dominante, os circuitos virtuais das

redes sociais. Assim, em meio a acirrado antipetismo, na verdade, um ódio às esquerdas, a

extrema-direita, em conluio com o Judiciário, consegue vencer as eleições presidenciais,

materializando o “Bolsonarismo”, como fenômeno político na cena brasileira. Inegavelmente,

a atuação sistemática do Judiciário a efetivar, no ritmo da corrida presidencial, mecanismos

e artifícios jurídicos para garantir a prisão do ex-presidente Lula, inviabilizando, desse modo,

sua candidatura à Presidente da República, é um dos marcos decisivos nesta vitória da

extrema-direita, a ocupar o Executivo, com forte presença na Câmara de Deputados e no

Senado, espraiando o seu poderio na grande maioria dos Estados da Federação,

especialmente, nas Regiões Norte, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. Neste contexto, o

Nordeste afirma-se como lócus de resistência!

A dominância do “bolsonarismo”, no interior do Estado Brasileiro, resulta de uma

composição peculiar, reunindo diferentes vertentes, a encarnar forças sociais, em uma

tessitura, permeada de conflitos na disputa da dominância do poder: ultraneoliberalismo,

materializado em “políticas de ajuste”, a impor interesses desmedidos do mercado, no afã

incontrolável do capital, reafirmando circuitos de dependência do Brasil na ordem do

capitalismo mundializado; militarismo, que se declara patriótico, nacionalista, a querer

recuperar parâmetros da moral cívica anticomunista da Ditadura Civil-Militar, tratando-se, na

verdade, de um militarismo autoritário, revestido de um nacionalismo que não hesita em

sacrificar a soberania do País aos interesses do capital mundializado, mercantilizando

riquezas nacionais e o que resta de empresas estatais; reacionarismo político-cultural, a

articular um pesado processo de regressão sociopolítica de desmonte de direitos e de

formas de regulação democrática, hibridizado com um fundamentalismo religioso de

imposição de padrões únicos, respaldados em valores retrógrados, criminalizando quaisquer

formas de diversidade, seja de caráter étnico, de gênero, como de orientação sexual e de

religião. É um afrontamento de lutas e configurações democráticas, revelando uma

regressão de 30 anos em quatro meses de governo (janeiro, fevereiro, março e abril de

2019). É um tempo de obscurantismo, a se expressar em formas impensáveis e absurdas

que vão desde a censura e proibição arbitrárias de uma publicidade do Banco do Brasil que

Page 24: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

festeja a diversidade étnica, de gênero e de orientação sexual até o descalabro de investir

contra as ciências sociais e filosofia, desqualificando-as como áreas de saber e de formação

profissional, com ameças de cortes no orçamento das universidades federais para estes

cursos, em um inconteste desconhecimento e ignorância, eivados de uma ideologia

extremamente reacionária.

Em sintonia e comunhão com análises no âmbito do pensar crítico sobre o Brasil, a tese que

estrutura a presente produção acadêmica é que esta combinação de matrizes, tendências e

forças constitutivas da extrema-direita, no interior do Estado Brasileiro no tempo presente, é

de alto risco para o País e para a maioria da população brasileira. É uma combinação

perigosa de grande potência letal que, como cientistas sociais, precisamos desvendar.

Trata-se de uma equação a ser decifrada, tendo presente o próprio cenário geopolítico

mundial. E, de forma inconteste, esta perigosa composição do Brasil do Presente

circunscreve um desafio à luta política, no sentido de avançar na construção de formas de

resistência na sociedade civil.

Para o desvendamento analítico deste cenário-limite do Brasil do Presente, marcado, hoje –

2019 – pela negação de quaisquer mediações com a própria democracia liberal, é

necessário fazer um recuo histórico no tempo, remontando à década de 1990, quando do

ajuste do Brasil ao capitalismo financeirizado, a prolongar-se por quase 30 anos (1990-

2019). É a experiência de ajuste brasileiro em seus diferentes ciclos, a implementar o

modelo rentista-neoextrativista (CARVALHO; MILANEZ; GUERRA, 2018). Neste recuo

histórico, merece especial destaque os ciclos de ajuste dos governos petistas (2003-2015),

para circunscrever dimensões fundantes da crise brasileira contemporânea, chão histórico

do Golpe 2016 (CARVALHO, 2018). Impõe-se a exigência de focar o Golpe 16, em sua

pesada arquitetura, considerando que a ascensão da extrema-direita ao poder oficial no

interior do Estado Brasileiro, parece constituir-se a culminância de um processo de

desmonte da democracia no Brasil e dos pactos afirmadores de direitos e conquistas da

população.

Com os elementos analíticos decorrentes do recuo histórico às três últimas décadas e,

particularmente, aos três últimos anos de vida brasileira, é possível lançar algumas luzes

neste cenário de sombras e obscurantismo em que o País está mergulhado, em 2019. E,

este olhar crítico do Brasil do Presente interpela às forças progressistas, e, particularmente,

às esquerdas a uma luta política permanente.

2 BRASIL NOS PERCURSOS DE AJUSTE AO CAPITALISMO FINANCEIRO: O MODELO

RENTISTA- NEOEXTRATIVISTA

Page 25: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

Ao longo de 29 amos (1990-2019), o Brasil está a vivenciar a chamada experiência de

ajuste à ordem do capitalismo mundializado, com dominância financeira. É o ajuste

estrutural brasileiro, em um processo de inserção subordinada de quase três décadas, com

diferentes inflexões, circunscrevendo o que Carvalho e Guerra, em suas produções de

meados da segunda década do século XXI, categorizam como ciclos de ajuste brasileiro . A

rigor, é o Brasil do Ajuste, a materializar-se em diferentes governos no interior do Estado

Brasileiro, mediante uma política macroeconômica de privilegiamento dos fluxos do capital

rentista. Esse tempo histórico, com diferentes governos de ajuste é marcado por

configurações peculiares da equação Estado/Sociedade Civil , com momentos de fortes

mobilizações de forças progressistas e de esquerda e outros de apassivamento das forças

de contestação, sobremodo nos governos petistas.

Os circuitos desse ajuste brasileiro são delineados, de forma tardia no contexto latino-

americano, a partir da última década do século XX, mais precisamente 1990, quando o

Brasil, no governo de Fernando Collor de Melo, assume uma inserção ativa e dependente

ao capitalismo financeirizado, com a efetiva participação do Estado, ao empreender a

financeirização dos processos de acumulação, em articulação com o agronegócio e a

mineração extrativista. Nesta perspectiva, o Estado brasileiro adota, na íntegra, o receituário

neoliberal, imposto pelo Consenso de Washington.

A “Era FHC” (1995-2002), em contexto peculiar de estabilização da economia via Plano

Real, representou a consolidação da ortodoxia neoliberal, em seus pilares: privatização,

liberalização, desregulamentação, abertura massiva ao capital estrangeiro. De fato, as

políticas intensivas de ajuste do governo FHC (1995-2002), definem as condições

fundamentais para o ingresso ativo e subordinado do País na era da financeirização

(PAULANI, 2015). E, assim, nos marcos de um Estado Ajustador que “ajusta e ajusta-se aos

ditames do capital” (CARVALHO, 2006), os tempos da ortodoxia neoliberal propiciam o

cenário necessário à movimentação sem limites do capital financeiro no Brasil, às custas do

pagamento de taxas de juros exorbitantes, identificadas como as mais elevadas na

civilização do capital .

Esta adoção à risca e, de forma subordinada, da agenda de ajuste de Washington implica

em um processo de desindustrialização do País e em reprimarização da pauta de

exportação brasileira, no âmbito de políticas macroeconômicas de cunho liberal,

transformando o Brasil em uma “plataforma internacional de valorização financeira” e, ao

mesmo tempo, fazendo o País retroceder a uma posição periférica de produtor de

commodities (PAULANI, 2012a). Desse modo, delineia-se e consolida-se, no País, o modelo

Page 26: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

de ajuste rentista-neoextrativista, vigente na América Latina, a assumir marcadas

especificidades no contexto brasileiro. Redefine-se, assim, a forma de inserção do Brasil no

processo de acumulação mundial, em tempos de capitalismo financeirizado,

consubstanciando uma posição de “dependência redobrada” do País, como bem sintetiza

Paulani (2012b) .

A pedra de toque nas configurações da experiência brasileira de ajuste é delinear

devidamente este modelo rentista-neoextrativista, consolidado na “Era FHC” e aprofundado

nos governos petistas, com distintas inflexões, permitindo circunscrever diferentes ciclos de

ajuste (CARVALHO; GUERRA, 2018). Tal modelo está estreitamente vinculado à

financeirização da economia brasileira, com base em uma abertura irrestrita ao capital

especulativo, nos circuitos voláteis da acumulação rentista, como forma dominante dos

processos de mundialização do sistema do capital. Desse modo, criou-se condições

objetivas para o desmonte do parque industrial brasileiro, voltando o Brasil a afirmar-se

como produtor de commodities agrícolas e minerais , em vinculação orgânica com a

financerização brasileira dependente.

O modelo rentista-neoextrativista é uma resultante da composição orgânica entre o

rentismo, isto é, o capital financeiro e suas formas exorbitantes de lucros via juros e o capital

vinculado ao neoextrativismo, a acumular riquezas pela via da expropriação, do agronegócio

e da mineração, com base na intensa mercantilização de commodities agricolas e minerais.

Trata-se da articulação, imbricação do financismo e do neoextrativismo, numa poderosa

combinação em que os donos das finanças e os ruralistas, os segmentos do agronegócio e

da mineração, ditam os rumos da vida brasileira .

Ao longo de treze anos, mais precisamente de 2003 a 2015, os governos petistas, com

distintas configurações, assumem este modelo rentista-neoextrativista pela via da chamada

“ideologia da conciliação de classes”, na perspectiva de viabilizar uma regulação dos

conflitos classistas, amenizando e desarticulando o confronto de forças. De fato, esses

governos, na condição de “governos de ajuste ao capitalismo financeirizado”, investem no

que pode ser denominado um “pacto de classes” com distintas estratégias: privilegiamento

dos interesses do capital rentista e do capital vinculado ao neoextrativismo; atendimento

pontual de demandas imediatas de setores extremamente empobrecidos da massa

trabalhadora e de segmentos assalariados; absorção, no aparelho de estado, de segmentos

da burocracia sindical e da direção dos movimentos sociais.

Nestes governos, liderados pelo PT, a viabilização do modelo rentista-neoextrativista

apresenta inflexões que nos permitem circunscrever ciclos diferenciados de ajuste

(CARVALHO; GUERRA, 2015, 2016, 2018), sempre respaldados na chamada ideologia da

Page 27: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

conciliação de classes. O primeiro governo Lula (2013-2016) e parte do segundo (2007-

2008) constituem um período marcado pela consolidação das políticas de ajuste herdadas

da “Era FHC”, em articulação com as denominadas “políticas de enfrentamento à pobreza”,

conseguindo em meio à manutenção da histórica desigualdade brasileira, uma mudança na

estrutura de classes, com a ascensão social dos muito pobres e miseráveis, afirmando-se, à

época, a emergência de uma “nova classe média”.

A partir dos últimos dois anos do segundo governo Lula (2009-2010) e no primeiro governo

Dilma Rousseff (2011-2014) deflagra-se um ciclo de ajuste marcado pela tentativa de

hibridização da política macroeconômica neoliberal com o chamado neodesenvolvimentismo

(CARVALHO; GUERRA, 2015, 2016, 2018). Nesta perspectiva, a ideologia da conciliação

de classes assume uma nova configuração, numa tentativa de ampliar o pacto com as elites,

convocando, também, os setores empresariais, em troca de consideráveis incentivos ao

capital. Mantém-se a adesão passiva das massas, consolidando as políticas de

enfrentamento à pobreza. Essa articulação híbrida do neoliberalismo e

neodesenvolvimentismo não consegue se afirmar na vida brasileira. De fato, tem-se uma

recusa do investimento em decolar, fragilizando o governo Dilma Rousseff. Em um contexto

internacional desfavorável à exportação de commodities, as tensões resultantes dessa

composição híbrida de políticas de ajuste ortodoxas e perspectivas heterodoxas

neodesenvolvimentistas vão tecendo, de forma processual, a chamada crise contemporânea

brasileira, contribuindo para o esgotamento da versão petista do modelo de ajuste.

3 O GOLPE 2016 NO CONTEXTO DA CRISE: DEBACLE DA CONCILIAÇÃO DE CLASSES

PETISTA E DOMINÂNCIA DA EXTREMA-DIREITA

A crise estrutural do capital de 2008/2009 começa a expandir-se e chega à América Latina

e, especificamente ao Brasil, no limiar da segunda década do século XXI, criando condições

objetivas para a desestabilização da versão petista do modelo de ajuste, fincado no pacto de

classes. Tal política de conciliação de classes é um elemento-chave na constituição dos

governos petistas, com sérias consequências sociopolíticas: restringe e/ou inviabiliza as

necessárias reformas estruturais, reafirmando privilégios dos setores dominantes do capital,

inclusive das oligarquias agrárias atualizadas à frente do agronegócio; desmobiliza as lutas

da sociedade civil, enfraquecendo o protagonismo do sindicalismo classista e dos

movimentos sociais, com o consequente apassivamento dos conflitos de classe.

Em meio às amarras da ideologia da conciliação de classes, é inconteste a

contraditoriedade na condução política destes governos petistas. Ao mesmo tempo em que,

Page 28: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

nas suas estratégias, não apostaram no poder popular, perdendo-se nas tramas da

“pequena política” do Congresso Nacional, estes governos avançaram em políticas

identitárias de gênero, de etnia, de orientação sexual e de todas as formas de diversidade,

criando estruturas, ainda que limitadas, de participação politica, como Secretárias,

Conselhos Paritários, Conferências no âmbito das Políticas Públicas. Igualmente, tais

governos assumiram uma política externa de apoio e reforço à integração autônoma dos

países do Sul, com destaque para as redes de articulação no continente latinoamericano,

investindo na formação dos BRICS, a ameaçar a hegemonia dos EUA.

Em verdade, a política de alianças do PT, sem reservas, com as elites do capital para

chegar e permanecer no governo, vai estar na base da crise contemporânea brasileira. De

fato, esta crise, marcante no “Brasil do Presente”, consubstancia o esgotamento da versão

petista do modelo de ajuste, com base na conciliação de classes. As elites burguesas, para

manterem suas taxas de lucro e de acumulação, em tempos de crise, articulam-se e

deflagram um Golpe de Estado, depondo a presidenta democraticamente eleita, sem os

devidos motivos jurídicos. Trata-se de um “Golpeachment” resultante de composições

espúrias entre o parlamento, a grande mídia e o Poder Judiciário, a investir pesadamente

contra os controles democráticos. As elites efetivam a ruptura do pacto, desconsiderando e,

mesmo, recusando quaisquer negociações com as forças da chamada esquerda, deveras

enfraquecidas.

Assim, em um contexto de conluios e negociatas, as elites do capital juntam-se às forças

políticas da direita e do conservadorismo, deflagrando, pela via judicial, um Golpe para

impor o neoliberalismo mais violento e brutal, a viabilizar a volta de um capitalismo

selvagem, sem quaisquer controles democráticos. Inegavelmente, esta crise contemporânea

brasileira, decorrente da ruptura do pacto pelas elites, constitui o chão histórico onde se

gesta, toma amplitude e se consolida o Golpe de 2016.

Merece destaque especial a pesada e perversa arquitetura do Golpe de 2016, a culminar

com a emergência do chamado “bolsonarismo” e a dominância da extrema-direita, a assumir

o Governo do Estado no Executivo, no Legislativo, com apoio irrestrito do Judiciário. A rigor,

ao longo de três anos - 2016, 2017, 2018 -, são “golpes dentro do Golpe” (CARVALHO,

2017) e, hoje, essa arquitetura de Golpes entrecruzados se reproduz nos tempos obscuros e

sombrios em que estamos mergulhados, nestes primeiros quatro meses de 2019.

O modelo rentista-neoextrativista é assumido no governo de Michel Temer, em uma nova

versão, fundada na intensificação de políticas neoliberais, com processos de desmonte de

direitos, de desmanche de políticas públicas, notadamente a Seguridade Social, atingindo,

fortemente, a classe trabalhadora. A rigor, o governo emergente do Golpe mantém o modelo

Page 29: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

de ajuste rentista-neoextrativista, com intensivo processo de superexploração da força de

trabalho e um pesado ônus sobre os pobres, com sérios rebatimentos na questão social

brasileira.

Em verdade, o Golpe 16 deflagra um novo ciclo de ajuste na vida brasileira: é um ciclo de

caráter ultra neoliberal, fundado em uma política de espoliação de direitos, das riquezas

nacionais, do fundo público, de intensificação da superexploração da força de trabalho, de

privatizações, de privilegiamento de interesses do capital estrangeiro (CARVALHO, 2018).

4 “BOLSONARISMO”: UMA PERIGOSA COMPOSIÇÃO DO ULTRANEOLIBERALISMO,

DO MILITARISMO E DO REACIONARISMO POLÍTICO-CULTURAL

No contexto do Brasil do Presente, na rota do Golpe de 2016, é fundamental atentar para a

emergência da chamada nova direita, como fenômeno do nosso tempo. De fato, ao longo da

segunda década dosanos 2000, nos circuitos de constituição da crise brasileira, uma direita,

com novos contornos, em sintonia com as tendências mundiais, vai se constituindo em

nosso País, com um ousado plano estratégico de construção e de difusão de uma ideologia.

Esta nova direita no Brasil começa a ganhar visibilidade pública nas Manifestações de 2013,

construindo uma sistemática articulação via redes sociais. Assim, hoje, a nova direita, a

surfar nas ondas do antipetismo e/ou ódio às esquerdas, conquista o governo brasileiro,

com adesão em vários segmentos da sociedade, atingindo as juventudes de diferentes

classes sociais, inclusive, com força nas periferias urbanas.

Esta nova direita é urdida, ideologicamente, com base em postulados do neoliberalismo em

versões doutrinárias, inclusive, no formato de verdadeiras cartilhas para a “militância”,

difundidas por diferentes meios, sobremodo nos circuitos virtuais. Olavo de Carvalho

destaca-se como seu “guru”, a divulgar ideias e valores reacionários, em meio a insultos e

desqualificação dos “comunistas”, a pairarem como fantasmas, a povoar o imaginário desta

legião de “batalhadores da nação”. No cenário do tempo presente, na vida brasileira, esta

nova direita, formatada na ideologia neoliberal, junta-se a uma direita forjada no

fundamentalismo religioso de igrejas neopentecostais, prisioneira das fortes amarras de um

moralismo, imbrincado a uma religiosidade conservadora, absolutamente intolerante,

gestada no ódio e nas muitas formas de violências. E mais: junta-se a esta composição

ideológica de direitas, o militarismo e o justicialismo, a pregar a violência armada, o

extermínio, como saída!

Em verdade, trata-se de uma “composição de direitas intercruzadas”, a ocupar a cena do

presente, constituindo esta “nova direita brasileira” que, em meio a um sentimento difuso e

Page 30: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

vazio de mudança, a alastrar-se no País, transforma um militar reformado e político

medíocre, sem nenhuma projeção, há quase três décadas na Câmara dos Deputados, nos

grotões do chamado “baixo clero”, em “mito”, a encarnar a mudança, em um País, em crise.

De fato, a emergência de Bolsonaro, nas conexões virtuais, se dá em um País em crise, a

emergir da ruptura pelas próprias elites dos chamados pactos de classes, deixando as

esquerdas, que apostaram nesse “canto de sereia”, sem chão… É um País abalado, com a

democracia em desmanche, nos rastros de um Golpe institucional. A rigor, este “paradoxo

Bolsonaro/mudança” só se torna possível na “terra arrasada” de um Brasil atingido por um

Golpe das elites, que deixa as forças progressistas e as esquerdas na defensiva, tragadas

pelo ódio, sistematicamente construído pelo conluio das elites com o Judiciário e

sedimentado pela mídia.

Indiscutivelmente, é nesta simbiose de direitas, de crise, de conservadorismo, de marcha

autoritária, de políticas ultraneoliberais e contrarreformas, de inseguranças e instabilidades,

que se constitui o “bolsonarismo” como um “ponto de chegada” do Golpe de 2016, a sua

culminância, com desdobramentos imprevisíveis. O “bolsonarismo” está muito além de Jair

Messias Bolsonaro que constitui apenas uma figura do momento, uma figura conjuntural.

Em verdade, trata-se de um fenômeno sociopolítico resultante desta convergência de forças

constitutivas da extrema-direita no Brasil, ao final da segunda década do século XXI. A rigor,

“bolsonarismo” é uma configuração sociopolítica de extrema-direita, que articula

ultraneoliberalismo dependente, militarismo patriótico e autoritário, mesclado

comjusticialismo da violência e reacionarismo político-cultural, eivado de um moralismo

religioso. De fato, estas matrizes, imbricadas nas tessituras deste padrão de dominância de

extrema-direita, tem eixos mobilizadores distintos, com projetos específicos e figuras

emblemáticas (GOMES, 2019) .

O ultraneoliberalismo dependente consubstancia um agravamento da agenda de ajuste do

Governo Temer, a efetivar as chamadas “políticas de ajuste fiscal” e de austeridade,

significando, na prática, privatizações, cortes de gastos públicos e contrarreformas para

“desonerar a economia”, num linguajar típico dos agentes do mercado. Tem como figura

emblemática Paulo Guedes e, como projetos estratégicos, as privatizações do que resta das

empresas estatais brasileiras e a Contrarreforma da Previdência, a constituir a “joia da

coroa” do insaciável mercado financeiro, no sentido da extinção do modelo público e

solidário de Previdência Social e a implementação do modelo de capitalização de

previdência privada (FATTORELLI, 2019). É a total submissão ao capital financeiro, numa

posição de extrema dependência, comprometendo a soberania nacional.

Page 31: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

O militarismo patriótico e autoritário, mobilizado na cruzada da anticorrupção, em busca da

garantia dos chamados interesses da Pátria, tendo como lideranças o Vice-Presidente

General Hamilton Mourão e um segmento crescente de militares, no interior do governo,

com a figura destacada do General Augusto Heleno. Tal militarismo articula-se com o

judicialismo pela via da violência, tendo como figura-chave o ex-juiz Sérgio Moro, a impor ao

País o “pacote anti-crime”, com o recrudescimento do Estado de Exceção, instaurado no

Golpe 16. Por fim, o reacionarismo político-cultural, que beira a um fascismo sociocultural.

Tem como liderança a pastora Damares Alves, a operar a metamorfose do Ministério do

qual é titular em uma extensão da sua Igreja fundamentalista, empreendendo uma guerra

cultural de retomada de valores tradicionais, religiosos e pré-democráticos, com a cega

convicção de que os grandes problemas do País são “problemas morais”.

5 BRASIL 2019 ENTRE A TRAGÉDIA E A COMÉDIA: RESISTÊNCIA COMO EXIGÊNCIA

HISTÓRICA DO TEMPO PRESENTE

O “bolsonarismo”, como a convergência de distintas matrizes e tendências, sustentadas por

“composição de direitas intercruzadas”, vem inserindo o Brasil em um novo colonialismo,

retomando a condição de subordinação aos interesses dos países centrais nesta ordem do

capitalismo financeirizado, sobretudo dos EUA (CACCIA BAVA, 2019). Ao mesmo tempo,

joga o País no obscurantismo, prisioneiro de amarras reacionárias e desmonta quaisquer

controles democráticos. E, retoma a marcha autoritária, querendo impor, de volta, a censura

em diferentes níveis e distintos espaços.

A cada dia, a indignação dos que buscam encarnar a democracia é surpreendida com fatos

absurdos de todas as ordens, a revelar um tempo-limite que nos faz mergulhar em um

circuito de medos, inseguranças, temendo, também, pelo que há de vir. É uma longa noite

de pesadelos impensáveis!

Para nomear reflexivamente esse momento histórico do Brasil do Presente/2019 é deveras

fecunda a configuração marxiana do “18 Brumário”, para explicar a dinâmica da própria

História: tragédia e comédia. De fato, a população brasileira, em meio ao desgoverno

encarnado pelo “bolsonarismo”, vive um espetáculo trágico-cômico… É uma comédia a

interpelar a crítica dos humoristas, se não fosse trágica, a pesar sobre nós, esmagando

direitos, conquistas, projetos e esperanças. Mas estamos convencidos que não é o fim da

História… O “bolsonarismo” é uma onda, um tempo a ser enfrentado, a exigir dos

democratas novas formas de fazer política e lucidez, coragem, determinação para assumir a

luta permanente. A questão política deste contexto do Brasil de 2019 é perceber e delinear

Page 32: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

as resistências em curso, nos diferentes espaços constitutivos da vida social brasileira. É

fundamental criar conexões entre as formas de resistências emergentes e em curso,

constituindo redes políticas capazes de confrontar com as proposições e estratégias da

extrema-direita e sua dominância perpassada de conflitos, desacertos, disputas internas e

contradições.

Mais do que nunca, se faz presente a lição gramsciana de avaliar as nossas forças,

medindo as forças adversárias, construindo processos de luta permanentes, na construção

de uma contra-hegemonia, a congregar as forças democráticas e as esquerdas deste País.

REFERÊNCIAS

CACCIA BAVA, S. Editorial “Adeus ao desenvolvimento”. Le Mond Diplomatique – Brasil.

Ano 12, n. 141. abr. 2019

CARVALHO, A. M. P.. Brasil finais de 2018/limiar 2019 - consumação do Golpe 2016,

autoritarismo e guerra de valores no contexto de uma democracia formal: (re)invenção da

resistência como exigência do nosso tempo. Análise de Conjuntura – ESPLAR. Fortaleza –

CE. 2018b.

__________________.A Seguridade Social na atual conjuntura brasileira: regressão e

desmonte de direitos. Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas-PPGPP.

Universidade Federal do Maranhão. 2017.

__________________. Transformações do Estado na América Latina em tempos de ajuste

e resistências: governos de esquerda em busca de alternativas. In: CARLEIAL, A. N. (org).

Projetos Nacionais e Conflitos na América Latina. Fortaleza: Edições UFC, Edições UECE,

UNAM, 2006. 210p

CARVALHO, A. M. P.; GUERRA, E. C.. O Brasil no século XXI nos circuitos da crise do

capital: o modelo brasileiro de ajuste no foco da crítica. Revista de Políticas Públicas, v. 19,

p. 41-60, 2015. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321143201003>.

Acesso em: 20 jul. 2017.

_______________________________.. Brasil no século XXI na geopolítica da crise: para

onde apontam as utopias? Revista de Políticas Públicas, Número Especial, p. 267-280,

novembro de 2016. Disponível em: <

http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/viewFile/5978/3609>.

Acesso em: 15 jan. 2018.

Page 33: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

CARVALHO, A. M. P.; MILANEZ, B; GUERRA, E. C.. Rentismo-neoextrativismo: a inserção

dependente do Brasil nos percursos do capitalismo mundializado (1990-2017). In:

RIGOTTO, R. M.; AGUIAR, A. C. P.; RIBEIRO, L. A. D. (orgs). Tramas para a justiça

ambiental: diálogos de saberes e práxis emancipatórias. Fortaleza: Edições UFC, 2018.

FATTORELLI, M. L. Reforma da Previdência de Bolsonaro é “interesse do insaciável

mercado financeiro”. Revista Fórum. Entrevista de TEODORO, P. mar. 2019. Disponível em:

<https://www.revistaforum.com.br/maria-lucia-fattorelli-reforma-da-previdencia-de-bolsonaro-

e-interesse-do-insaciavel-mercado-financeiro/>

GOMES, W. O bolsonarismo borbulhante. Revista Cult. jan. 2019. Disponível em:

<https://revistacult.uol.com.br/home/o-bolsonarismo-borbulhante/>

PAULANI, L. M. A inserção da economia brasileira no cenário mundial: uma reflexão sobre a

situação atual à luz da História. Boletim de Economia e Política Internacional, Brasília, DF, n.

10, abr./ jun. 2012a.

______________. A dependência redobrada. Le Monde Diplomatique Brasil, São Paulo,

2012b.

Page 34: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

90 ANOS DA I CONFERÊNCIA DE PARTIDOS COMUNISTAS DA AMÉRICA LATINA E O

INDO-SOCIALISMO EM 1929

John Kennedy Ferreira6

RESUMO

Este artigo trata da primeira reunião de partidos comunistas da América do Sul e das contribuições indu socialismo formuladas por José Carlos Mariategui sobre as questões indigenas, raciais, nacionais .

Palavras Chaves: Comunismo, indu-socialismo, questão nacional e racial

ABSTRACT

this article deals with the first meeting of communist parties in South America and the indu socialism contributions formulated by José Carlos Mariategui on indigenous, racial and national issues.

Keywords: Communism, indu-socialism, national and racial question

INTRODUÇÃO

Os anos que se seguem à Revolução Russa são marcados por uma onda

revolucionária que atingiu a vários países. Essa onda foi responsável pela construção de

nova organizações política, como a III Internacional Comunista (IC) e de seus afiados.

Partidos Comunistas que se apresentavam como sessões da vanguarda das lutas

proletárias e expressava como projeto a estratégia da a derrota do sistema capitalista

através da Revolução Socialista mundial. Os Partidos Comunistas passaram a serem

criados em várias partes do mundo, inclusive nas Américas. O PC argentino será o primeiro

a ser criado no continente em 1918 e liderará a construção de vários outros.

Em seu VI Congresso (1928), o cenário é de disputa entre as alas direita, comandada

por Nicolai Bukharin e a ala esquerda de Joseph Stálin. Na avaliação de Bukharin, então

presidente da IC, houve um primeiro período marcado pelo ascenso revolucionário das

massas, um segundo período que se inicia em 1922, o capitalismo alcançou um certo

equilíbrio e o terceiro período haveria uma nova onda de crescimento do capitalismo.

6 Professor Universidade Federal do Maranhão

Page 35: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

Stalin compreende que o terceiro período será marcado por uma imensa crise do

capitalismo, seguido de guerras e revoluções. O IV Congresso deu maioria a Stálin e sua

ala, a crise de 29 e a instabilidade que se seguiu no mundo parecia confirmar a suas

avaliações.

E será por conta disso que se processará fortalecimento dos partidos comunistas, sua

bolchevização e proletariazação. Essa passou a ser a meta a ser alcançada, pois partia-se

do pressuposto que as revoluções teriam que ter direções à altura das questões colocadas.

Dessa forma, durante a realização do VI Congresso da Internacional Comunista (IC),

foi aprovada a convocação da I Conferência dos Partidos Comunistas da América Latina. O

objetivo dessa reunião era impulsionar a criação de Partidos Comunistas no continente e

fortalecer o relacionamento entre o Comintern e seus afiliados, considerando a grave crise

que vesperava o Capitalismo e as lutas que dai decorreriam.

DESENVOLVIMENTO (O Encontro dos Partidos Comunistas da América do Sul)

O encontro contou com a presença de 35 delegados: 8 da Argentina e dirigentes da

Internacional Comunista, os trabalhos foram coordenados pelo destacado dirigente ítalo-

argentino, Victório Codovilla (Lowy,1999: p21). A pauta das discussões foi organizada em

oito pontos, e foram apresentadas no número 6 da revista do Secretariado Sul Americano

(SSA), La Correspondencia Sudamericana.

José Carlos Mariátegui foi encarregado de apresentar três pontos: “Antecedentes e

Desenvolvimento da Ação Classista”; “O Problema das Raças na América Latina” e “Ponto

de Vista anti-imperialista”. Mas por conta de sua enfermidade, Mariátegui não pode estar

presente. Esses pontos foram apresentados pela delegação peruana, composta pelo líder

sindical Júlio Portocarrero e o médico Hugo Pesce. Como observa Escorcim, tratava-se de

uma primeira reunião convocada para debater a situação política e a organização partidária,

durante este debate, se produziu acordos e desacordos entre os participantes

(Escorsin,2006: p260 e PCEr, 2007).

O Encontro envolvendo o ponto de vista do Secretariado e da Delegação Peruana é

motivo de ampla polêmica e tem gerado um volume imenso de opiniões, especulações e

discussões e muitas delas apontam para uma possível ruptura entre Mariátegui e a III

Internacional (Bellotto & Correa, 1982; Alimonda, 1983; Quijano,1981; Caballero, 1989,

Kohan, 1998; Löwy, 1999, Pericás 2011, Sylvana Ferreyra 2013).

Page 36: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

Pode–se notar que houve desacordo sobre a participação ou não dos comunistas

peruanos no plebiscito envolvendo os territórios de Tacna e Arica, perdidos na Guerra do

Pacífico, uma vez que o tratado de paz colocava a possibilidade de uma consulta junto à

população local para pronunciar-se sobre a qual país estes territórios pertenciam. Os

comunistas peruanos não viam o plebiscito como importante para o proletariado (Quijano,

1991, p. 198). Igualmente, Escorsim chama atenção para o fato de que o centro do debate

programático teve também como elemento de discussão a separação feita pelo Partido

Socialista do Peru (PSP) entre programa “mínimo e máximo”, e que foi proposta pela

Internacional a mudança de tal item. Houve ainda a proposta de mudança do nome de PSP

para Partido Comunista do Peru, sendo que esse debate transcorreu sem qualquer sanção

aos peruanos e foi acatada um pouco depois do Encontro de Buenos Aires, com a

participação de Mariátegui em 4 de março de 1930 (Escorsim, idem. p. 276).

O fato é que desde o VI Congresso fora aprovada a bolchevização dos partidos, o que

implicava que os partidos deviam ser proletários e comunistas (Pericás, 2011, pp. 12-18).

Não foi levado em conta as considerações da Bancada Peruana e da Colombiana, de que o

proletariado em seus respectivos países eram reduzidos e que o nome socialista daria maior

raio de ação, pois viam na organização e tradição indígena um fator fundamental para a

construção do socialismo e dos partidos comunista. O mesmo ocorrendo com os Delegados

bolivianos que salientaram a impossibilidade de formarem um partido proletário e comunista

e que seria melhor, naquele momento, continuar a sua atividade política dentro do partido

laborista (Pericás, idem, p. 181).

A ideia-força é de que as medidas bolchevizadoras visavam construir um estado-

maior para Revolução, e que só com a transição de partidos amplos para partidos de

quadros e celulares por local de trabalho seria possível alcançar tal intuito. As medidas

acabaram por excluir setores médios, profissionais liberais, setores das classes

trabalhadores, camponeses e estudantes da organização partidária, o que acabou por

reduzir ainda mais o peso dos diminutos PC's na vida de suas respectivas sociedades.

A preocupação com o partido proletário era parte da Resolução que predominava no

Terceiro Período: partia-se de pressuposto da incapacidade da burguesia nacional de

realizar suas tarefas de soberania e observava-se a pequena burguesia como incapaz de

realizar qualquer projeto político autônomo e concluía-se que esta era a base do fascismo.

Dentro dessa lógica, o governo mexicano de Lázaro Cárdenas, produto de uma revolução

nacionalista vitoriosa liderada pela pequena burguesia apoiada pelo campesinato, foi

conceituado como governo protofascista.

Page 37: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

Na intervenção do assessor da IC para América Latina, Jules Humbert Droz, foi

explicitado que qualquer aliança com a pequeno-burguesia era um atraso ao processo

revolucionário. Ele também fez muitas críticas a setores da juventude estudantil que serviam

como base política de partidos pequeno-burgueses, tais como a Ação Popular

Revolucionária Peruana (APRA). Igualmente o enfoque nas Teses de Droz sobre a Questão

Agrária mudou em relação ao VI Congresso. Em sua nova abordagem, a imensa maioria da

população latino-americana era composta por trabalhadores da terra, que deixou de ser

visto como camponeses para ser conceituado como proletários rurais. A explicação era de

que o trabalhador rural recebia algum ganho do latifúndio, tanto na questão monetária, como

a obtenção um pedaço de terra. Dessa maneira, eles não poderiam ser encarados como

camponeses e sim como proletários. Portanto, o centro da luta revolucionária dar-se ia entre

o proletariado agrário, o camponês e a liderança do Proletariado urbano.

Diferente desse ponto de vista, o dirigente colombiano Ricardo Paredes frisou que

entendia o processo de transformação latino-americana como a composição de um bloco

urbano, composto pela pequeno-burguesia e o proletariado.

E assim foi definida a política de alianças dos PC's. Eles não poderiam participar de

acordos com o Governo mexicano, com organizações nacionalistas como as existentes no

Brasil, Cuba ou Venezuela ou com Partidos pequeno burguesas como o APRA, PS

Uruguaio ou PS Argentino, e teriam como metas a constituição de Blocos Operários e

Camponeses. Onde não existisse outro partido que não fosse o comunista as alianças

seriam feitas com movimentos ligados aos próprios PC's, ou seja, uma Política de Aliança

consigo mesmo (Caballero, 1989, p. 157).

A Questão Camponesa surgia como tema na convocação para a Conferencia de

Buenos Aires, feita pela Revista La Correspondencia Sudamericana, mas não era

mencionado o problema das populações indígenas. Victório Codovilla pediu a Mariátegui

que preparasse um documento sobre a luta dos indígenas pela sua emancipação. Esta

solicitação foi feita por se saber que Mariátegui tinha um estudo sério, respeitável e um

conhecimento profundo sobre o tema indígena. Mariátegui era, naquele momento, um dos

poucos militantes comunistas capazes de apresentar um ponto de vista à Internacional

Comunista no tocante a questão indígena, que pudesse auxiliar na construção de sua

estratégia (PCEr, 2007).

No VI Congresso a IC alertou para o contingente expressivo de negros nos países da

América Latina, como Brasil, Cuba e outros; em maior porcentagem inclusive que nos

Estados Unidos.

Page 38: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

Em Buenos Aires, a discussão centrou-se inicialmente no trabalho do negro e dos

chineses nas plantações e nos problemas da imigração, conclui-se que os PC's deveriam

organizar uma plataforma de luta para os trabalhadores imigrados. Em Buenos Aires, o

debate foi mais amplo e profundo do que o realizado no Congresso em Moscou. Hugo

Pesce declarou a necessidade de um estudo objetivo do problema das etnias baseado no

marxismo; com uma compreensão clara da luta de classes. E uma linha revolucionária em

consonância com a Internacional Comunista. No debate se apresentaram duas linhas

divergentes: a primeira abordagem sobre “Questão Nacional e de Autodeterminação dos

Povos” e o documento de José Carlos Mariátegui, que apresentava como “Questão de

Classe” (Quijano, idem, p. 199).

Foi a Internacional Comunista que, pouco depois de sua fundação, lançou o debate

aos partidos comunistas sobre a necessidade de implementar uma política diferenciada para

as populações marginalizadas. No momento da realização da Conferência de Buenos Aires,

a posição da Internacional Comunista compreendia que as questões étnicas constituíam

nacionalidades.

A fórmula de “Autodeterminação dos Povos” era vista até então como válida para

solucionar o problema. Essa formulação tinha ajudado a compreender como a

particularidade étnica influenciava a experiência e a consciência de classe. Só a partir do

debate, em Buenos Aires, os comunistas puderam entender de maneira mais ampla a

situação social e política das grandes massas étnicas e incorporá-las ao debate sobre a

Revolução Socialista.

José Carlos Mariátegui mostrou que havia um mal-entendido: a Questão Étnica não

conformava necessariamente problemas de ordem nacional, podendo no caso latino

americano, ser de ordem social. O debate envolvendo a Questão Étnica na IC tinha como

referência os negros da África do Sul e sul dos Estados Unidos, onde os comunistas locais

brancos resistiam em organizar a população negra.

Os comunistas desses países adotavam atitudes racistas semelhantes aquelas das

classes dominantes. No V Congresso da Internacional Comunista, realizado em 1924, as

discussões sobre a Questão Negra começaram a distanciar-se da análise de classe para se

centrar na Questão Nacional. A Internacional Comunista propôs que suas agremiações

defendessem a igualdade social para as minorias étnicas, que formavam nações e, portanto,

também tinham direito à sua autodeterminação. Essa linha política possibilitou um amplo

crescimento do PC nos Estados Unidos e na África do Sul.

O PCA adotou a política do Congresso Nacional Africano, sendo que seu êxito

converteu-se em um modelo de aplicação geral para o trabalho, nos países coloniais e

Page 39: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

semicoloniais. No VI Congresso, no debate sobre o papel das etnias, na luta revolucionária,

ficou resolvido que um dos trabalhos mais importantes dos PC's seria a completa igualdade

para os negros, pelo fim de qualquer desigualdade social, econômica e política. O programa,

que foi aprovado, reconheceu o direito de todas as nações e raças à autodeterminação.

Ficou decidido ainda que os negros da África do Sul e dos Estados Unidos constituíam

nacionalidades oprimidas e foi proposto que os comunistas locais organizassem

movimentos de libertação nacional pelo seu Estado autônomo.

O VI Congresso concluiu que havia semelhanças entre a Questão Negra na África do

Sul e nos Estados Unidos e a Questão Negra e Indígena na América Latina. Portanto, houve

transposição do modelo de Autodeterminação dos Povos para a Questão Indígena,

propondo assim a criação de uma república das nações quéchua e aymara, na região

andina (PCEr, 2007).

No Encontro de Buenos Aires, os comunistas latino-americanos voltaram a discutir se

a opressão étnica era um assunto de classe, de etnia ou de nacionalidade. Mariátegui

contribuiu ao reabrir o debate com amplo estudo, seu texto “ O Problema das Raças na

América Latina”, sustentou que a Questão Indígena era um assunto centrado na luta de

classes; que só obteria solução com amplas modificações no regime de propriedade agrária,

pondo fim a distribuição desigual e superando o Feudalismo no campo peruano.

O estudo de Mariátegui registrava que a pobreza e a marginalização indígena deviam-

se, fundamentalmente, à ocupação de suas terras pela ação feudal. Para o escritor peruano,

a questão étnica nublava o problema central: a exploração de classe, que originava a

distribuição desigual da terra; concluindo que, o problema dos índios só seria solucionado

com a destruição do Feudalismo. Para Mariátegui, a interpretação da Questão Étnica em

termos de classe, atribuiria aos indígenas e negros um papel fundamental na emancipação

do proletariado, da opressão local e mundial. Em seu texto “O problema das raças ”,

Mariátegui manifesta sua confiança no potencial revolucionário do campesinato indígena:

“Uma consciência revolucionaria indígena tardará a se formar, mas quando o índio tiver feito

sua, a ideia socialista ele a servirá com disciplina, tenacidade e força que poucos proletários

de outros meios poderão supera-lo” (Mariátegui, 1982, p. 74)

Como bem percebeu Escorsim, essa ideia também é um reflexo e avanço de sua obra

Sete Ensaios, onde argumentou que “a esperança indígena es absolutamente

revolucionaria. El fator indígena se convertiría em um fator revolucionário y por eso enfatizó

que la lucha indígena tenía que poseer um caráter neto de lucha de classes” (Escorsim,

idem, p.276). O documento de Mariátegui sustentava que sem os índios o Peru não existiria,

pois constituíam figura fundamental à construção da identidade nacional, que só se podia

Page 40: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

lograr com sua incorporação à nova sociedade socialista: “Quando se fala da peruanidade,

deveria ser investigado se essa peruanidade compreende os índios. Sem o índio não existe

peruanidade possível”. Ou seja, o proletariado peruano era índio. ("Latino Americana sobre

la situacion Internacional y los peligros de Guerra”).

O texto começa salientando que a Revolução Latino-Americana possui caráter

democrático burguês; com a conquista da soberania nacional, reforma agrária, luta anti-

imperialista, entre outras tarefas. Mas deixa claro que a característica subordinada da

burguesia nacional a impossibilitava de ser condutora desse processo. Salienta também,

que a pequena burguesia era vacilante e, portanto, só o proletariado se aliando ao

campesinato teria capacidade de realizar tais tarefas. Nessa Resolução é reafirmado o

ponto de vista de Terceiro Período O Terceiro Período significava o momento de "agonia do

capitalismo", e que este se movimentaria de todas a formas para tentar sobreviver, isso

significaria uma ação austera do Imperialismo contra os trabalhadores e camponeses com

tendência a ampliação da exploração das colônias e semicolônias, o que inibiria seu

desenvolvimento ampliando e fortalecendo os setores feudais e semifeudais e as relações

trabalhistas semi-escravas. Tudo isso aconteceria com o controle da produção de riqueza

aos interesses dos mercados e das forças imperialistas (La Correspondencia Sudamericana,

1928. n15 p.9).

Após X Pleno do Comintern, Bukharin é formalmente afastado de qualquer

responsabilidade dentro de todos os órgãos políticos da IC e do PCURSS, e passa a

predominar uma linha esquerdista. Nas Resoluções explicitava que os comunistas tinham

que se aproximar dos movimentos das massas oprimidas, evitando o jogo das classes

dominantes. Dessa forma criticava-se os desvios burgueses e pequenos-burgueses

decorrentes das práticas eleitorais. O PCB foi criticado por ter transformado o Bloco

Operário Camponês de movimento independente de massas, num processo de

evolucionismo eleitoral e por desaparecer dentro do BOC. (Del Roio, idem, p. 128). No caso

mexicano, as Resoluções são mais taxativas em qualificar os governos nascidos da

Revolução como governos que representavam o “Bloco das Quatro Classes” e que a

tendência política da pequena burguesia, como da burguesia-nacional liberal, seria firmar

uma aliança com o imperialismo que acabaria por desarmar os camponeses e devolver as

terras aos latifundiários. Dessa maneira, a missão do PC mexicano seria a tomada da

direção das lutas populares das mãos da pequena burguesia e avançar na construção da

hegemonia operária. Na Argentina, o governo da União Cívica Radical de Hipolito Irigoyen,

de base pequeno-burguesa, com apoios na burguesia nacional e sólida base popular era

tratado como inimigo do povo e deveria ser combatido e derrotado. Tal postura inibiu os

Page 41: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

comunistas de participarem da resistência ao golpe militar do General José Félix Uriburu

(Henn, 2009, p.151).

As posições políticas da IC e do SSA tornam-se ainda mais isolacionistas com a

derrota do grupo de Nicolau Bukharin, acusado de desvio direitista. E assim, o Comintern

desenvolve uma luta por afastar todos os setores que teriam desvio direitista. Dessa forma

em 20 de setembro de 1929 é publicado no La Correspondência Sudamericana a “Carta

Aberta a los Partidos Comunistas de América Latina”. O texto tem uma característica mais

radical e esquerdista que as Resoluções anteriores: frisa a linha de Terceiro Período e a

decorrente tática de Classe contra Classe, lembrando o caráter agônico do Capitalismo, faz

a caracterização da Socialdemocracia como Social-Fascismo. E todos os movimentos e

governos que tinham base pequeno-burguesa, como o governo revolucionário mexicano,

são assim caracterizados.

Na leitura conjuntural feita pela IC, as contradições aguçadas das relações sociais

empurrariam as massas populares à insurreição e, portanto, o papel dos PC's era se

preparar para liderar as agitações, manifestações e greves que surgiriam no Terceiro

Período. Dessa forma, os PC's deveriam evitar qualquer influência burguesa ou pequeno-

burguesa e, assim sendo, deveriam ser afastados dos cargos de direção todos os membros

que não fossem de origem operária. Imprimia-se a bolchevização, que significava a

transformação dos partidos latino-americano à semelhança do partido russo. Igualmente

limitou-se qualquer produção teórica ou avaliação que fugisse à linha determinada pela

Comitê Executivo da IC (CEIC) e pelo Comintern. (La Correspondencia Sudaméricana,

1929. N.18. p 4/5)

“A partir dessa Resolução a palavra bolchevização passou a ser corrente nos textos

de autoria dos comunistas dos países latino-americanos, com o sentido de depuração de

todos os desvios a de direita” (Henn, idem 160). Já em 1930, a revista La Corespondência

Sudamericana é substituída pela Revista Comunista, que teria uma abordagem mais teórica

e seria um elemento importante na orientação e na bolchevização dos partidos. Nesse

mesmo período também é definido que o Secretariado Sul Americano teria sua

nomenclatura alterada para Burau Sul Americano, e designado para dirigir o novo órgão

August Guralsky, militante letão ligado ao grupo de Zinoviev, que havia ocupado cargos de

destaque no Comintern e que após a derrota de seu grupo fez autocrítica e foi designado

para essa atividade. Assumiria esta função juntamente com sua companheira Inês

Guralsky. Além da mudança de nomenclatura e da imprensa, o Bureau é obrigado a se

transferir de Buenos Aires para Montevidéu por conta do golpe militar e perseguição aberta

a opositores e aos movimentos de esquerda. Esse é o período marcado pela sectarização e

Page 42: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

isolamento político do Comintern, que recusa qualquer tipo de aliança ou entendimento

prático com outros setores sociais que não sejam proletários e camponeses. E, ao mesmo

tempo, exigem que os partidos se organizem enquanto partidos de massa, que tenham

como ação a criação de Sovietes.

O PC Brasileiro chega a declarar que todos os intelectuais e operários cultos não

poderiam pertencer à direção partidária (Henn, idem, p. 177). A conturbação do Terceiro

Período leva os PC's a promover expulsões de lideranças, exigências de autocríticas de

intelectuais e dirigentes e acaba por levar a diversos “rachas” que denunciam o

burocratismo, obreirismo e sectarismo. A maioria desses grupos acaba aderindo às

posições da Oposição de Esquerda de Leon Trostky ou seguindo outros rumos fundando

pequenas organizações partidárias.

BIBLIOGRAFIA

ARICÓ, José (org). Mariátegui y los origenes del marxismo latinoamericano. Lima: Ediciones

Pasado y Presente, Série Cuadernos de pasado y presente, 1981.

ALIMONDA, Héctor). José Carlos Mariátegui. Col. Encanto Radical. São Paulo:

Brasiliense,1983

AMAYO, E & SEGATTO, José A. J.C. Mariátegui e o marxismo na América Latina.

Araraquara: UNESP, 2002.

BELLOTTO, M & CORRÊA M ANNA (1982). “ Introdução- Mariátegui: Gênese de um

pensamento latino-americano”. In: José Carlos Mariátegui. Col. Grandes Cientistas Sociais,

São Paulo.

CABALLERO, Manuel. La Internacional Comunista y la revolución latinoamericana, 1919-

1943. 3ª ed. Caracas: Alfa, 2006.

CALIL, Gilberto. O marxismo de Mariátegui e a revolução latino- americana: democracia,

socialismo e sujeito revolucionário. Disponível

m:www.uel.br/grupopesquisa/gepal/segundogepal/GILBERTO%20CALIL.pdf. 2006. Visitado

em?

DEL ROIO, Marcos Tadeu. .(1997) A revolução socialista na Rússia e a origem do marxismo

no Brasil. In: Revista Crítica Marxista v. 1 tomo 5, São Paulo: Xamã.

Page 43: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

______. Os comunistas, a luta social e o marxismo (1920-1940). In: RIDENTI, Marcelo;

REIS, Daniel Aarão. (Org.). História do marxismo no Brasil: partidos e organizações dos

anos 1920 aos 1960. 1/1 ed. Campinas - SP: Editora da Unicamp, 2007.

El VI Congresso da la Internacional Comunista (primeira e segunda parte) México,

Cuadernos Pasado y Presente, 1978.

ESCORSIM, Leila Mariátegui – Vida e obra. São Paulo: Expressão Popular, 2006,

FERREIRA, John Kennedy. A I Conferência dos Partidos Comunistas da América Latina: a

questão indígena formulada por josé Carlos Mariátegui. Espaço Revista Acadêmica, 92.

disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/092/92ferreira.htm, 2009.

FERREYRA, Silvana G.). La libertad Del dogma: Un análisis del proyecto mariateguiano a

la luz de sus vínculos con la Internacional Comunista (1926-1930). Lima: Librería Editorial

Minerva, 2013,

GONZÁLEZ, Pablo Guadarrama.. “Mariátegui y la actual crisis de marxismo”. Havana:

Revista La Gazeta de Cuba,n.4, 1994.

HAJEK, Milos Introdução ao V Congresso in EL V Congresso da la Internacional Comunista

(segunda parte). México, Cuadernos Pasado y Presente, 1977.

HENN, Leonardo Guedes A Internacional Comunista e a Revolução na América Latina. São

Leopoldo (RS). Editora Blucher, 2010.

HINOJOSA, Gustavo Pérez (2011), La defensa del socialismo indo-americano en el VI

Congreso de la Inernacional comunista http://www.rebelion.org/noticia.php?id=140372.

Visitado em 16/04/2018.

LOWY, Michel Por um socialismo indo-americano: ensaios escolhidos, José Carlos

Mariátegui. Seleção e introdução de Michael Löwy, Rio de Editora. UFRJ, 1999.

______. O Marxismo na América Latina: uma antologia de 1909 aos dias atuais. São Paulo:

Fundação Perseu Abramo, 2005.

MARIÁTEGUI, José Carlos. Os setes ensaios de interpretação realidade peruana. São

Paulo: Ed. Alpha Omega, 1975.

______. El defesa del marxismo. Lima: Ed. Amauta 1989.

_______ in; QUIJANO, A. (cop). José Carlos Mariátegui: Textos Básicos.

Lima/México/Madrid:1991.

________Do sonho às coisas: retratos subversivos, Luiz Bernardo Pericás (org) São Paulo.

Ed.Boitempo 2005.

PCE(r).. JOSÉ CARLOS MARIÁTEGUI. Disponível em http://www. Antorcha.org. 2012.

Page 44: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

PROCESSOS POLITICOS CONTEMPORÃNEOS NO BRASIL: hegemonia e Estado em

disputa

Guillermo Johnson7

RESUMO: A presente análise ensaia o devir da participação política no presente século para o caso brasileiro. Para tal apontam-se aspectos importantes da conjuntura internacional visando compreender elementos heteronômicos para a realidade nacional. A dinâmica da participação política, e a sua interferência nos processos decisórios nacionais, foi considerada na ascensão e desenvolvimento nos governos progressistas e sua reversão com bases igualitárias que se vivencia na atualidade. Busca-se evidenciar o papel democrático perseguido pela participação política na primeira década e sua gradual obstrução na deriva autoritária em curso.

Palavras-chave: Hegemonia. Estado. Participação política. Brasil.

ABSTRACT: The present analysis tests the becoming of political participation in the present century for the Brazilian case. For this, important aspects of the international context are pointed out in order to understand heteronomous elements for the national reality. The dynamics of political participation, and its interference in national decision-making processes, was considered in the rise and development of progressive governments and their reversal with egalitarian foundations that we are experiencing today. It seeks to highlight the democratic role pursued by political participation in the first decade and its gradual obstruction in the ongoing authoritarian drift.

Keywords: Hegemony. State. Political Participation. Brazil

1 INTRODUÇÃO

No decurso do presente século foi possível observar intensa dinamicidade nas relações

entre a sociedade civil e o Estado na América Latina. A irrupção das organizações indígenas

no âmbito das transformações institucionais estatais destaca-se na Bolívia e no Equador,

uma diversidade de manifestações populares interfere nas cenas políticas na Argentina e,

posteriormente, movimentos sociais e sindicais fortalecem seus mecanismos de pressão

política com relação ao Estado. A dinâmica da participação politica tem se manifestado com

7 Professor Ciência Política na Universidade Federal do Maranhão

Page 45: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

bastante frequência contra as decisões estatais, ainda que também nestas últimas duas

décadas a participação política nos interstícios institucionais experimentou níveis sem

precedentes nos países latino-americanos.

Essa dinâmica ascendente de participação política parece atingir o cume para o fim da

década passada iniciando uma diminuição das suas atividades no que se refere à luta pela

igualdade. A partir do inicio do atual decênio a participação política vai dando lugar a uma

agenda pautada por uma versão compósita conservadora e neoliberal. Há uma mudança

significativa da participação política popular em menos de duas décadas.

Inicia-se o século com o aprofundamento das desigualdades sociais como corolário da

ofensiva neoliberal, que no embalo da reação popular vai conduzir ao poder um conjunto de

mandatários próximos das demandas sociais historicamente represadas e tornadas

urgentes pelo crescimento da pauperização. Iremos considerar como indicador dessa

relação a participação política, pois ela é uma interface entre a sociedade civil, na medida

em que a diversidade de manifestações da protesta social pode ser compreendida como

melhor expressão da sua atividade e as relações que o Estado estabelece com elas, que

compreendem elementos de repressão, cooptação e/ou assimilação com estas.

2 DESENVOLVIMENTO

Com o fim da Guerra Fria o horizonte utópico de transformação social fragilizou suas

referências coletivas. As lutas de classes não diminuíram, mas as organizações políticas

que as encabeçaram têm frequentemente canalizado as perspectivas de diminuição da

exploração social para amplos governos de coalizão, que nos seus melhores momentos

atingem conquistas parciais e/ou imediatas, sendo que amiúde demonstram-se paliativas. A

ofensiva neoliberal, que restabelece os princípios essenciais do capitalismo, visa

desmantelar os direitos sociais garantidos através do Estado decorrentes da conjuntura

internacional aberta com a Revolução Russa. Particularmente na América Latina, paulatina

e heterogeneamente a partir dos anos 1970, essa ofensiva busca fortalecer o papel das

corporações transnacionais no comando da vida social. Se por intervalos alguns dos países

reforça os seus direitos sociais, a dinâmica hegemônica do capital restabelece as diretrizes

pautadas pela extinção de direitos sociais e trabalhistas e a proteção do capital e da

propriedade privada, neste estágio de predominância financeira (HARVEY, 2018).

Page 46: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

É importante constar que a esquerda, no embalo do fim da Guerra Fria, considerara a

estratégia de disputa de seus modelos de sociedade alternativa no âmbito das democracias

liberais instaladas em Latino-América.

Nesse contexto sucintamente esboçado a compulsão pela recomposição da taxa de mais-

valia tem intensificado a exportação de capitais, o qual tem criado novos centros de

produção industrial. Assim, no inicio do século assistimos a ascensão da economia chinesa

como polo industrial e crescente compradora de produtos primários, destacadamente

agropecuários e minerais. Os preços das commodities aumentaram sensivelmente no inicio

da década passada, disponibilizando recursos aos países latino-americanos para realização

de investimentos estatais em políticas sociais, assim como financiar empresas privadas. Ao

mesmo tempo, os Estados Unidos investia boa parte do seu poderio militar e logístico nas

guerras levadas adiante no Oriente Médio, sob o mote do combate ao terrorismo.

Com a crise de valorização do capital em crise a partir do crash bancário nos EUA e o

crescente endividamento chinês, o preço das commodities diminui, assim como sua

demanda. A redução de disponibilidade de recursos para os países crescentemente

lastreados no extrativismo estremece os governos progressistas latino-americanos. A inercia

das crescentes demandas sociais e as dificuldades em manter o padrão de financiamento

das políticas estatais repercute em crescentes instabilidades sociais, potencializadas pela

ideologia consumista incutida e pela intervenção significativa de uma retomada de uma

perspectiva conservadora, autoritária e hierárquica da sociedade.

A repercussão da vitória de Donald Trump para a presidência dos EUA, com a promessa de

manter a sua hegemonia com uma política protecionista e belicosa contribui para a mudança

contemporânea da conjuntura latino-americana. Nesse sentido, continuando com a política

de interferência nas políticas dos países latino-americanos iniciada pelo governo Obama,

observa-se o início do desmantelamento da onda de governos progressistas. Somente para

assinalar os casos mais notórios, podemos citar a deposição do presidente eleito em

Guatemala, o impeachment express no Paraguai e posteriormente as mudanças de governo

na Argentina e no Brasil. As possíveis polêmicas à respeito dessas caracterizações somente

visam destacar a convergência do fato de que os governos que assumiram após esses

processos declararem-se abertamente “amigos” dos interesses estadunidenses.

2.1 Apontamentos dos processos políticos brasileiros

Page 47: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

No âmbito da conjuntura latino-americana do inicio do presente século a Ciência Política e a

Sociologia brasileira preocupavam-se com uma diversidade de experiências participativas,

principalmente com a sua incorporação ao que se considera uma nova institucionalidade. As

elaborações em torno dos orçamentos participativos e os conselhos gestores de políticas

públicas apontavam uma ampliação democrática do Estado. Essas modalidades crescentes

de espaços participativos apontavam uma democratização da decisão política. A ascensão

da Frente Brasil Popular, encabeçada pelo Partido dos Trabalhadores, indicava a

possibilidade de ampliação da democracia. Nos primeiros anos de governo essa perspectiva

foi se esvaindo na medida em que a ampliação do arco de aliança era privilegiado em nome

da governabilidade.

Se os diversos movimentos sociais e os movimentos sindicais tiveram suas reivindicações,

inicialmente, parcialmente atendidas, as tensões dessa busca pela governabilidade foi

tendencialmente fortalecendo setores da sociedade que historicamente detinham o poder

econômico. Isso pode ser constatado no crescente poder econômico que o setor vinculado

ao agronegocio foi ganhando no bloco do poder, assim como a persistência do setor

financeiro no bloco do poder. Essa situação vincula-se à crescente importância que as

commodities foram consolidando na pauta exportadora brasileira.

É indispensável assinalar que nesse período, dos governos Lula da Silva, houve um

importante investimento em políticas públicas, aumentos dos salários mínimos, a

disseminação de empréstimos para amplos setores da população e um estímulo significativo

do consumo. Situação essa que capturou a atividade política nas redes institucionais,

canalizando as demandas no âmbito do espaço estatal. O papel desempenhado pelas

maiores centrais sindicais e dos principais movimentos sociais na persistente negociação no

seio dos aparelhos estatais repercutiu na diminuição das manifestações reivindicativas.

Gradualmente, a ação governamental foi deixando de lado a interlocução com as

organizações sociais e tornando-se refém das demandas empresariais, do setor financeiro e

do agronegocio.

Durante os governos de Dilma Rousseff essa dinâmica institucional contribuiu para o

fortalecimento do bloco de poder gestado nos governos anteriores. Os setores financeiros e

do agronegocio fizeram-se presentes na configuração ministerial, na busca por reforçar a

hegemonia desses setores na economia nacional. Torna-se importante lembrar que os

setores das igrejas evangélicas também foram representados nesse governo, iniciando o

questionamento à concepção liberal de direitos humanos.

No percurso desses governos progressistas os conselhos gestores de políticas públicas,

assim como os espaços de negociação interclasses, foram comprometendo o seu caráter

Page 48: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

deliberativo (ANTUNES, 2018). O esvaziamento popular desses espaços de deliberação

vincula-se à perseverante hierarquização dos processos decisórios, impregnados pelas

políticas de escassez de recursos que paulatinamente interferiram no seu desenho.

Ampliação do inserção dos intelectuais nos espaços estatais contribuíram com essa

dinâmica.

Para o final do primeiro mandato da presidente intensas mobilizações de rua demandavam

inicialmente o congelamento do preço das passagens de ônibus em São Paulo. A seguir,

manifestações multitudinárias demandaram melhorias nas políticas de saúde e urbanas no

âmbito da proximidade da Copa Mundial de Futebol e das Olimpíadas a serem realizadas no

país. Na dinâmica dessas mobilizações movimentos de protestos das políticas de promoção

das igualdades sociais levadas adiante pelos governos progressistas foram ganhando

adesões. Os movimentos direitistas e conservadores tornaram-se cada vez mais evidentes

naquele contexto, incentivados por emergentes organizações “liberais” com pautas

conservadoras e com aberta promoção pelos principais meios de comunicação de massas.

Simultaneamente a esses episódios o ativismo judicial com um discurso de combate a

corrupção – a Lava Jato – inicia a demonização das principais figuras dos governos

imediatamente precedentes.

Nesse cenário de diuturna fustigação à pauta neodesenvolvimentista levada adiante pelos

governos progressistas constrói-se o descredito do governo Dilma Roussef, até a condução

da sua deposição. O esvaziamento do apoio popular, já combalido pela campanha

neoliberal e conservadora deflagrada pelos diversos meios de comunicação de massas,

conduziu para o golpe institucional deflagrado para empossar seu Vice-Presidente. As

escassas manifestações populares em oposição a esse golpe colocam em pauta o

afastamento progressivo que esses governos petistas construíram.

A virada que os setores oligárquicos, mancomunada com seus aliados transnacionais,

construíram ao longo da presente década foram paulatinamente cerceando os espaços

participativos populares. A partir de uma crescente propaganda – numa dobradinha infalível

entre membros do poder judiciário e os meios de comunicação de massas – foi se

construindo o ideário de que a esquerda é corrupta, rouba ao Estado, favorece somente os

seus aliados e cerceia o atendimento das demandas do conjunto da nação. Daí, para a

criminalização da protesta e dos movimentos sociais a equação foi ganhando adesão

popular. Nessa dinâmica os espaços públicos que poderiam ser utilizados para apresentar

uma versão diferente já tinham sido fechados.

A partir da reeleição da presidente Dilma Rousseff se observa uma continua convergência

dos meios de comunicação de massas, setores do judiciário e do legislativo em construir

Page 49: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

uma narrativa de intensificação da agenda neoliberal. Os setores provindos das igrejas

evangélicas e conservadores que estavam à espreita de uma oportunidade de desempoeirar

sua visão de mundo acabaram tornando-se interlocutores dos “bons costumes” e visando

fortalecer pautas misóginas, anti-homoafetivas e atacando a conformação alternativa das

famílias.

O surgimento de um porta-voz apropriado para esse processo político percorre uma

trajetória pouco convencional na corrida presidencial. A manutenção ante o desgaste

significativo que o governo Temer vivenciou desde a sua posse pode ser compreendida pela

blindagem que os mesmos setores que o conduziram a esse posto ergueram perante as

evidências que em outras circunstâncias a deposição seria seu caminho natural. Esse

processo permitiu a continuidade do projeto levado adiante por aqueles setores que

encabeçaram a atual situação.

Ainda que tenha se apresentado a Bolsonaro como candidato à margem das disputas

políticas sua retórica tem se demonstrado como a mais adequada para levar adiante o

projeto das elites econômicas nacionais. As eleições apresentaram-se atípicas, sendo que o

candidato com maior apoio popular, Lula da Silva, ter sido eliminado da corrida presidencial

com um processo judiciário crivado de vícios de origem e desenlace e o súbito

escamotearem das propostas do candidato vitorioso já é suficiente para desenhar o cenário.

A disseminação de um discurso de ódio para aqueles que defenderem pautas igualitárias e

sua tendencial criminalização torna-se o terreno propício para legitimar a crescente

violência. Do início o atual governo tem demonstrado interesse em eliminar os espaços de

transparência nas informações estatais, levar adiante a agenda privatizante neoliberal e

fechar os espaços remanescentes de participação política no âmbito do Estado.

No contexto sucintamente esboçado as perspectivas de participação politica voltam a tornar

o Estado e o governo como alvo preferencial. Os laços de interlocução com a sociedade

civil, particularmente dos movimentos sociais e das organizações provindas da esquerda –

inclusive os partidos e sindicatos –, construídos pelas administrações anteriores têm sido

anulados. A composição social deste governo abriga os herdeiros e recentemente chegados

à oligarquia latifundiária e o setor financeiro, de forma secundária os setores ligados à

indústria; assim como as igrejas evangélicas e seus porta-vozes. Essa aliança,

conjuntamente com vastos setores da institucionalidade estatal e os meios corporativos de

comunicação, tem capturado a sociedade política e instalado uma hegemonia ideológica e

cultural no país.

Os espaços de reação organizada a esse vendaval neoliberal e conservador ainda não

estão delineados. Mesmo porque as dificuldades de caracterização pelos setores

Page 50: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

oposicionistas apresentam-se como incipientes, o qual pode ser decorrente da

fragmentação experimentada pelos mesmos, assim como a tentativa da principal corrente

política oposicionista em persistir no seu modelo de intervenção social.

3 CONCLUSÃO

Analisar o devir da participação política, considerando o seu potencial no âmbito do

processo decisório, nesta quase duas décadas do presente século é um desafio que

transborda deste sucinto ensaio. Ao considerar esse período, tanto em nível da América

Latina, quanto para o caso brasileiro é possível apontar a diversidade e intensidade de

modalidades participativas que desabrocharam no seu início e a paulatina diminuição do seu

vigor.

A mudança de sinal, ainda que heterogêneo se considerarmos Latino América, a partir do

inicio da atual década quiçá surpreenda verificar que os retrocessos dessa ofensiva

neoliberal se apresentam em terras brasileiras com particular força. As medidas

crescentemente autoritárias que o atual governo vem tomando conduzem a vislumbrar a

tentativa de criminalizar o protesto social.

As aproximações para compreensão do fenômeno em curso devem considerar o contexto

internacional e o jogo de forças em âmbito regional e nacional. As tensões pela disputa

hegemônica no sistema mundial repercutem decisivamente para a dinâmica contemporânea

do exercício do poder.

Considerando o antes exposto torna-se premente avançar para a análise do fortalecimento

do conservadorismo e neoliberalismo, e estar atentos para a fase ditatorial na sua

implantação. Nessa tendencial diminuição dos espaços de consenso, democráticos, a

participação somente será tolerada enquanto não interferir nos planos do capital; senão, a

tendência, será o fortalecimento da coerção. A incitação à violência desde o inicio da

campanha do atual presidente visa legitimar o terror de Estado contra os pobres e todos

aqueles que eventualmente ofereçam resistência ao modelo em curso.

REFERÊNCIAS

Page 51: Título da Mesa: A CRISE CAPITALISTA, O AVANÇO …...latino americanos; estes ao saírem da escola ingressam no setor de empregos precários ou no exército de desempregados. A educação

ANTUNES, R. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São

Paulo: Boitempo, 2018.

HARVEY, D. A loucura da razão econômica: Marx e o capital no século XXI. São Paulo:

Boitempo, 2018.