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32 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”
Títulos de Crédito e o Crédito Civil
J. A. PENALVA SANTOSDesembargador aposentado do TJ/RJ. Professor da EMERJ.
O novo Código Civil editado pela Leinº 10.406 de 10 de janeiro de 2002 re-presenta verdadeiro Código de DireitoPrivado por abranger o Direito Civil e oDireito Comercial, na linha do pensa-mento de Teixeira de Freitas no seuCódigo Civil-Esboço.
O objetivo do projeto de Freitas vi-sou a unificação do Direito Privado, umdos dois fundamentos da futura lei: aclassificação dos dispositivos e a unifi-cação do Direito Privado.
Na exposição elaborada por LeviCarneiro em edição da Imprensa Nacio-nal de setembro de 1952, na introduçãoao texto do �Esboço� de Teixeira deFreitas, o autor analisou o caráterunificador do Direito Privado.
No mesmo sentido o estudo de JoãoMangabeira publicado na Revista Fo-rense de 1939, p. 29 sobre o assunto.
A primeira manifestação a respei-to da unificação dos Códigos Civil e Co-mercial foi de Cimbali sob o título �NovaFase no Direito Civil, Unificação do Di-reito Privado". Em 1903 em Conferênciapronunciada em Milão, Cesare Vivanteadvogou a elaboração de um código uni-ficado abrangendo o Direito Civil e oDireito Comercial.
Posteriormente arrependido, no seuTratato di Diritto Commerciale, 5° edi-ção p. 1, mostrou a inviabilidade do sis-tema unificado, ao defender a elabora-ção de códigos separados.
Na Itália duas Comissões apresen-taram Projetos de Código de Comércio:a Comisão presidida por Cesare Vivanteem 1919 e a segunda, por Mariano D!Amélio de 1923. Nesse meio tempo a Su-íça editou o Código de Obrigações e o Códi-go Civil.
A favor da unificação manifesta-ram-se Vivante (que depois se retra-
tou), Percerou, Thaller, Wahl, Endemanne outros. Na Itália, no regime fascistade 1942, editou-se o Códice Civile noqual foram abrangidos o Direito Civil e oDireito Comercial, com exceção das ma-térias de Direito Marítimo, Falimentar,Títulos de Crédito e outras, destacadasdo diploma civil.
No Brasil publicaram-se os Projetosde Código Civil, de Felício dos Santos, Co-elho Rodrigues, Carlos de Carvalho e, re-centemente, Orlando Gomes.
Vieram à luz os projetos de Códigode Obrigações de 1941 elaborados porOrosimbo Nonato, Hanemann Guima-rães e Philadelpho de Azevedo e, em1964, por uma comissão presidida porCaio Mario da Silva Pereira.
Inglês de Souza apresentou o Projetode Código Comercial, engavetado no Con-gresso Nacional. Florêncio de Abreu elabo-rou o Projeto de Código Comercial de 1949,que também não se converteu em lei.
O novo Código Civil de 2002 seguiu aidéia de Teixeira de Freitas e adotou aorientação do Código Civil Italiano, de uni-ficação do Direito Privado, com exceçãodo Direito Comercial, das falências, dassociedades por ações e outros institutos.
Conseqüências da edição do novo Có-digo Civil no que concerne ao DireitoComercial
A revogação da Primeira Parte doCódigo de Comércio, composta de regrassobre sociedades, contratos e títulos decrédito. A Segunda Parte, referente aoDireito Marítimo, não foi revogada, porisso, quanto ao conhecimento de trans-porte ou carga a legislação pertinentecontinua em vigor.
Títulos de CréditoQuanto aos títulos de crédito, o
Código Civil editou as normas referi-Palestra proferida no Seminário realizado em 12/07/2002.
Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 33
das nos arts. 887 a 926 abrangentes dasdisposições gerais dos títulos ao porta-dor, títulos à ordem e títulos nominativos.Cuida-se de normas que irão regular amatéria a eles afeta.
Art. 887O art. 887 adotou a definição de
Cesare Vivante para os títulos de crédi-to, com o acréscimo da parte final: �quan-do preencha os requisitos da lei�.
Essa definição já foi superada noque concerne aos títulos escriturais,como veremos posteriormente.
Art. 888No art. 888 destacou-se o título de
crédito da sua causa debendi, ou seja,do negócio jurídico que lhe deu causa,chamado por Ascarelli de relação fun-damental.
Art. 889Esse artigo indica os três princi-
pais requisitos dos títulos de crédito: adata da emissão, a indicação precisa dosdireitos que confere e a assinatura doemitente, relação incompleta na falta deoutros requisitos arrolados no art. 1º daConvenção de Genebra.
Parágrafo primeiro do art. 889Esse parágrafo primeiro trata dos
títulos à vista, os quais não contêm in-dicação da data do vencimento e sãoaqueles que se vencem com a apresen-tação ao devedor (art. 2º, alínea 2ª daLei Uniforme de Genebra).
Esses títulos também chamados tí-tulos à apresentação encontram-se noart. 17 da Lei Cambiária de 1908.
Carvalho de Mendonça, no seu Tra-tado de Direito Comercial, vol. 5°, parte2°, nº 789, ed., Freitas Bastos, admite umasegunda apresentação do título ao deve-dor, a fim de lhe dar uma oportunidadepara efetuar o seu pagamento.
Acresce o ilustre comercialista quea remessa de aviso ao devedor para pa-gamento não tem o mesmo efeito que asua apresentação.
Parágrafo segundo do art. 889O parágrafo segundo do art. 889
considera o lugar da emissão e do paga-mento quando não indicado no título odomicílio do emitente. Por força do dis-posto no art. 2º, alínea 3ª da Lei Unifor-me de Genebra na falta de indicaçãoespecial, consigna o lugar designado aolado do nome do sacado sendo o lugardo lançamento e ao mesmo tempo o lu-gar do domicílio.
Na alínea 4ª, o lugar onde foi pas-sada considera-se como tendo sido nolugar designado ao lado do nome dosacador.
TÍTULO ESCRITURAL
Parágrafo terceiro do art. 889Título escritural é aquele emitido
a partir dos caracteres criados em com-putador ou por meio técnico equivalentee que conste da escrituração do emiten-te, observados os requisitos do art. 889.O referido parágrafo cuida do títuloescritural.
O que são, na verdade, os títulosescriturais?
São títulos que não têm cártula;nascem e atuam por via de computa-dor, por e-mail, por internet.
Esses títulos não contêm assina-tura usual, mas, segundo Dr. GustavoTavares Borba, Revista de Direito Re-novar nº 14, maio/agosto 1999, p. 85 ess, na assinatura digital há uma trans-formação criptográfica da comunicaçãocriada e, com isso surge a cártula ele-trônica, o conjunto de dados do títuloconsubstanciado na memória do siste-ma eletrônico. As figuras virtuaisaparecidas na tela do computador, sãopreservadas na memória do sistema ele-trônico.
Por outro lado, é possível a trans-posição para o papel de um texto prove-niente do computador, v.g., o extrato deconta retirado do sistema eletrônico deuma instituição financeira administra-dora de ações escriturais de uma socie-dade anônima, na custódia de ações(arts. 34 e 41 da Lei nº 6.404/76).
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Quanto aos contratos eletrônicos,as mensagens eletrônicas por meio deproposta e aceitação, pela troca de da-dos eletrônicos se realizam através docomputador, porém a tradição de bens,por exemplo, na compra e venda, comobrigação de dar verifica-se mediante aentrega física da coisa.
De fato, na tradição de um veículocomprado através da internet, o compra-dor é obrigado a buscá-lo na agência.
Já as obrigações de fazer podem re-alizar-se por forma virtual, a exemplo dacompra de um programa pay per view.
ASSINATURA AUTOGRÁFICA
A assinatura manuscrita, como seviu, corresponde a um sinal da autoriade uma pessoa aposto em um documen-to, cujas funções são a) autenticidadedaquele que a apôs revelando a sua iden-tidade, a validade e a veracidade do do-cumento no qual a assinatura foiinserida, com efeito de autenticação,concordância com o seu teor e a segu-rança da forma que envolve esse docu-mento, nos termos do disposto nos arts.131 e 135 do Código Civil de 1916.Carnelutti atribui três funções à assi-natura: indicativa, declaratória eprobatória.
ASSINATURA ELETRÔNICA
Na obra Direito e Internet, RT,coordenada por Marco Aurélio Grecco eIves Gandra da Silva Martins, 2001, p.28, a assinatura eletrônica �consiste nouso de um procedimento confiável deidentificação da parte e de suavinculação ao ato praticado�.
A assinatura eletrônica asseguraa identidade do signatário e a integri-dade e conservação do ato por ele prati-cado, na segurança e confiabilidade dastransações eletrônicas realizadas, pro-teção do segredo das comunicações re-alizadas com fundamento nessa assina-tura e, finalmente no cumprimento doscontratos realizados por essa pessoa.
Se a assinatura digital constituiuma forma de assinatura manuscrita éproblema que, em nossos dias, constitui
objeto de polêmica, sendo que para unsnenhuma semelhança com ela apresen-ta, enquanto para outros, representauma forma de assinatura autográfica.
O certo é que o vocábulo �assinatu-ra� no âmbito digital, tem uma acepçãodiferente da assinatura autográfica.
Ao definirmos a assinatura digital,mostraremos as suas características, noque, em muito se diferencia da assina-tura manuscrita.
A assinatura digital é uma seqüên-cia de dígitos, computada com base emdados a proteger, o algoritmo da assi-natura a ser usado, que é a chave pri-vada utilizada na produção da assina-tura digital.
A chave pública é usada para veri-ficar se a assinatura foi efetivamenteproduzida por utilização de uma chaveprivada correspondente.
O importante é que o receptor tenhasegurança quanto à origem da mensagem.
A segurança do sistema de assi-natura digital decorre do seu método eda verificação de que a assinatura foiproduzida pela pessoa representada.
Para maior segurança é utilizadoum protocolo de autenticação baseadoem sistemas de cifragem com chavespúblicas, sendo os sistemas de navega-ção: o Navigator, o Netscape, o InternetExplorer.
A aplicação do algoritmo decifragem permite a confidencialidade. Aautenticação de identidade é essencialpara a segurança das transações ele-trônicas na medida em que uma auten-ticação confiável é necessária para quese possam manter controles de acesso,determinar quem está autorizado a acei-tar ou modificar informações, imputarresponsabilidade e assegurar o �nãorepúdio�.
Métodos de autenticação peloalgoritmo da cifragem permitem aconfidencialidade e o segredo das co-municações eletrônicas, e segundo osautores referidos (loc. cit) um algoritmode cifragem transforma um texto claroem um texto cifrado ilegível (cifragem) evice-versa (decifragem).
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Logo, a assinatura digital represen-ta, para alguns, um método de autenti-cação de identidade eletrônico e, paraoutros, designa especificamente a assi-natura gerada mediante o uso decriptografia de chave assimétrica.
A assinatura digital tem três fun-ções, segundo os citados autores: a au-tenticação da identidade da pessoa queassinou a informação; a proteção da in-tegridade da informação, para evitar amodificação da mensagem e, finalmen-te o não repúdio, a fim de evitar que oque enviou a mensagem ou que a rece-beu neguem tal fato.
Em interessante estudo denomina-do �Assinaturas Eletrônicas eCertificação� da autoria da ilustre ju-rista Ana Carolina Horta Barretto, no li-vro O Direito e a Internet, coordenadopor Valdir de Oliveira Rocha Filho, ed.Forense Universitária, ano 2002, a au-tora elabora um estudo sobre a assina-tura eletrônica, não ser ela imediata-mente legível, pois o veículo e o objetoassinado não são fisicamente relaciona-dos da mesma forma física e durável quea assinatura tradicional.
Tanto pelo aspecto visual, quantopelo formato eletrônico e vinculação àassinatura, tornam-no diferente da as-sinatura física tradicional.
Quanto aos métodos de assinar do-cumento eletronicamente, as assinatu-ras variam, desde métodos simples,como inserir uma imagem escaneada deuma assinatura manuscrita em um ar-quivo do texto a métodos mais avança-dos: como a criptografia simétrica à maisevoluída criptografia assimátrica daschaves pública e privada mais segura,ao conferir maior segurança dos dados,adotada na maioria dos Países.
Uma das primeiras leis sobre a as-sinatura digital foi a Lei do Estado deUtah, nos Estados Unidos, seguida poroutros Estados da União, na qual a assi-natura digital é uma transformação deuma mensagem utilizando um sistemade criptografia assimétrica que permi-ta a uma pessoa que detiver a mensa-gem inicial e a chave pública do signa-
tário determinar com precisão: a) se atransformação foi criada utilizando achave privada que corresponde à chavepública do signatário; b) se a mensa-gem foi alterada desde que a transfor-mação efetuou-se.
A citada lei estabeleceu a presun-ção de veracidade das assinaturas digi-tais, salvo em caso de suspeita de frau-de e, finalmente, cuidou das assinatu-ras com suspeita de fraude.
As Leis Uncitral da ONU e da UniãoEuropéia nº 36 de 13.12.1999 (Diretivanº 1999/93/ EC do Parlamento Europeue Conselho da União Européia, art. 2°)seguiram a esteira da Lei de Utah, comode resto a legislação brasileira.
Observe-se por oportuno que o ór-gão fiscalizador é representado pelas au-toridades certificadoras que emitem cer-tificados.
A Lei federal americana de01.10.2000 trouxe numerosos subsídiossobre o E-Sign Eletronic Signatures inGlobal and National Commerce Act.
Por outro lado, não se pode esquecerde que, entre os processos mais simplesna elaboração da assinatura eletrônicapodemos encontrar, além das senhas, astécnicas biométricas como oescaneamento das impressões digitais, daretina, da palma da mão, o reconhecimentoda escrita ou da voz; e a assinatura ma-nuscrita, vinculada a um veículo, uma fo-lha de papel que fornece os contornos e aestrutura à informação de um formatoimediatamente legível. Esse veículoindissociável para a informação, proporci-onado pelo veículo e pela assinatura re-presentando os padrões únicos da escritado emitente, permite ao leitor crer que oobjeto provém do indivíduo tido como seuautor, e o atributo da identidade é intrín-seco, e não dado ao signatário.
ASSINATURA ELETRÔNICA X TRADICIONAL
A assinatura eletrônica não éimediatamente legível e a assinatura,o veículo e o objeto assinado não sãofisicamente relacionados da mesmaforma física e durável que a assinatu-ra tradicional.
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A manipulação dos dados não deixarastros como a manipulação do ambientetradicional e partes de um objeto de in-formação assinado podem ser armaze-nadas em diferentes locais como, porexemplo, um disco rígido ou disquete.
O aspecto visual de uma assinatu-ra tradicional é substituído pela verifi-cação técnica de um objeto de informa-ção assinado, armazenado em um for-mato legível eletronicamente e vincula-do logicamente à assinatura.
Como o caráter que torna a assi-natura eletrônica única para o indiví-duo é outorgado, e não uma caracterís-tica inerente ao signatário, o processode assinatura pode ser realizado porqualquer pessoa que tenha acesso aosegredo e aos procedimentos.
A assinatura manuscrita forneceà informação um sinal fisicamente úni-co de autenticidade � é um exemplaroriginal. Os objetos assinados podemestar em poder de uma pessoa e conse-qüentemente constituírem um instru-mento de autenticidade (como seria ocaso de uma procuração) ou determina-do direito (letras de câmbio e outrosinstrumentos negociáveis).
O aspecto único de um instrumentoassinado eletronicamente precisa estarassociado a um patrão de dados, que podeser copiado, tendo a réplica exatamenteas mesmas qualidades que o �paradigma�.
Assim sendo, uma vez que a exis-tência única de material eletrônico éconstruída mediante a transmissão e oarmazenamento de conteúdos originais,certas aplicações eletrônicas (como oenvio de documentos, por exemplo) exi-gem alguma espécie de registro (loc.cit).
CONCEITO DE ASSINATURA DIGITAL
Existem diversos métodos para as-sinar documentos eletronicamente. Es-sas assinaturas eletrônicas variam demétodos muito simples, como inseriruma imagem escaneada de uma assi-natura manuscrita em um arquivo detexto, a métodos muito avançados, comoo uso da criptografia assimétrica ou dechave pública é importante instrumen-
to para o comércio eletrônico seguro.Aplicações da criptografia em um
ambiente eletrônico, das quais ressaltaduas: encriptação e assinatura digital.
Encriptação e a assinatura digitalsão seguras, a primeira a confidenciali-dade, de segurança sem que tenhamosconfiado a tal pessoa a chave que per-mite decodificar a mensagem, enquan-to a assinatura digital proporciona au-tenticação, ou seja a possibilidade de secomprovar que determinada pessoa en-viou a mensagem. A criptografia podetambém assegurar a integridade de da-dos, isto é, a certeza de que a informa-ção não sofreu alteração não autorizadaem sua forma original e conteúdo, per-mitindo que o destinatário de um amensagem enviada por meio de redeaberta assegure-se de que a mensagemnão foi alterada em trânsito.
Entre alguns exemplos de títulosescriturais podemos citar, além dasações escriturais, a duplicata virtual, naqual o vendedor saca a duplicata e aenvia ao banco por meio magnético, rea-liza a operação de desconto, ao creditaro valor correspondente ao sacado, expe-dindo em seguida guia de compensaçãobancária que, pelo correio, é enviada aodevedor da duplicata virtual para que osacado, de posse do boleto, proceda aopagamento em qualquer agência bancá-ria (cf. ROSA JR., Luiz Emygdio F. daTítulos de Crédito. Rio de Janeiro: Re-novar, 2000. p. 725-728).
No mesmo sentido, leia-se em Fá-bio Ulhoa Coelho (Curso de Direito Co-mercial, I, p. 458).
A duplicata virtual pode ser protes-tada de forma virtual, no vencimento.Ao receber, por meio magnético, os da-dos pertinentes à duplicata virtual, oCartório efetuará o respectivo protesto.O protesto é regulado pela Lei nº 9.492de 1997, art. 8°, parágrafo único. Nadaimpede promova o credor a execução portítulo extrajudicial da duplicata virtual.
Lei nº 9.800 de 1999Através da Lei nº 9.800/99, em pro-
cesso judicial, podem a parte, o repre-
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sentante do Ministério Público, o assis-tente, o litisconsorte apresentar ao juizsuas petições e documentos pela via defac-símile (fax).
Entendemos ser viável a extensãoao e-mail, ao correio eletrônico ou àinternet, na aplicação da Lei nº 9.800/99, desde que o juiz possua os meiosnecessários à transmissão, devidamen-te autorizada.
Qualquer documento pode sertransmitido, exceto os atos judiciais re-lativos à oralidade, pela necessidade dapresença do juiz.
Art. 890O dispositivo repetiu a capitulação
do art. 44 do Decreto nº 2.044/08. A ex-clusão da cláusula proibitiva da apresen-tação da letra ao aceite do sacado cons-tante do item III do art. 44 da LeiCambiária, foi alterada pelo art. 22, item2° da Convenção de Genebra para Letrasde Câmbio e Notas Promissórias, ao ad-mitir a Lei Uniforme a letra sem aceite,salvo se se tratar de uma letra pagávelem localidade diferente da do domicíliodo sacado, ou de uma letra sacada a ter-mo certo da vista, além da cláusula �semdespesas e sem protesto�.
O art. 44 menciona a expressão�para os efeitos cambiais, retirada dotexto do art. 890 do novo Código Civil,sem motivo�.
Art.891Título incompleto-seu preenchimento
O título incompleto pode ser pre-enchido pelo portador, para tanto presu-me-se a existência de mandato a esteconcedido.
A Lei Cambiária no seu art. 4° es-tipula que se presume mandato ao por-tador para inserir a data e o lugar dosaque na letra que os não contiver.
Quanto ao valor lançado por alga-rismos e o que se achar por extenso,capitula o art. 5° da Lei Cambial preva-lecerá o segundo e a diferença não pre-judicará a letra, porem diversificando asindicações da soma de dinheiro no con-texto o título não será letra de câmbio.
Essa redação difere da contida naalínea 1 do art. 6° da Lei Uniforme deGenebra, na qual, a alínea 2 do mesmoartigo estatui que: �Se na letra a indi-cação a satisfazer se achar feita maisde uma vez, quer por extenso, quer poralgarismos, e houver divergências en-tre as diversas indicações, prevaleceráa que se achar feita pela quantia infe-rior�. Na letra sem data do pagamentoentende-se pagável à vista. (art. 2° al. 2da Lei Uniforme).
O art. 10 da Lei Uniforme de Ge-nebra estatui que a letra incompleta nãopode ser completada se for contrária aosacordos realizados pelo, que não pode serconsiderado motivo de oposição ao por-tador, salvo se este tiver adquirido a le-tra de má-fé, ou, adquirindo-a tenha co-metido falta grave.
Nas Comptes Rendus, p.131 cons-ta que, se a letra, depois de ter sido com-pletada, foi adquirida sem má-fé ou cul-pa grave, as exceções baseadas na in-serção da cláusula, não conforme aosacordos, não são oponíveis ao portadorde boa fé do título. É uma conseqüênciada idéia mais geral com respeito devidoà crença do portador com base na boa-fé. Se o adquirente do título preenches-se a parte em branco, mesmo abusiva-mente, e, em seguida fosse transmiti-da a letra de câmbio a terceiro de boafé, as exceções provenientes da inser-ção das clausulas abusivas não poderi-am ser opostas a este último.
O certo é que, por força do art.3°das Reservas (Anexo II) a redação cor-reta será a do art. 4° do Decreto nº 2.044de 1908, ainda em vigor.
Parágrafo Único do art. 891O dispositivo em exame consta do
art.10 da Lei Uniforme, com a exclusãoda parte final �ou adquirindo-a tenhacometido uma falta grave�.
Orientação idêntica adotou aSúmula nº 387 do Egrégio Supremo Tri-bunal Federal com a seguinte redação:�A cambial emitida ou aceita com omis-sões em branco, pode ser completadapelo credor de boa fé antes da cobrançaou do protesto�.
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Pelo que se vê, portanto, a redaçãodo novo texto do Código Civil contém aexpressão �...os ajustes previstos nesteartigo pelos que deles participaram� nãose encontra, nem no art. 4° da LeiCambiária, e, muito menos, na Súmulanº 387 do S.T.F.
ABUSO NO PREENCHIMENTO DE TÍTULO EM BRANCO
As principais regras sobre abuso nopreenchimento de títulos em branco sãoas seguintes:
1°) só o legítimo portador pode pre-encher a letra de câmbio;
2°) na pressuposição de que fê-lodentro do estipulado nos limites das obri-gações cambiárias, sendo o ônus da pro-va do obrigado cambiário, na ação cam-bial de preenchimento indevido;
3°) pelo convencionado em pactoabjeto com defesa a cargo do obrigado,em ação específica da causa ou excepci-onalmente na ação cambiária.
4°) aos endossatários e portadorescom o título já preenchido não podem seropostas as exceções de abuso no preen-chimento do título, exceto, aos de má-fé.
INTENÇÃO DO SUBSCRITOR
Segundo José Maria Whitaker (op.cit. p. 102/103), indagar da intenção dosubscritor é introduzir um elemento sub-jetivo numa questão de forma a permitirno processo cambiário uma discussãoque não interesse ao terceiro de boa fé.
Na opinião de Pedro Barbosa Perei-ra (loc.cit ), a letra em branco é um valorpatrimonial, expressão incompleta davontade, a se transformar em título po-tencial de uma obrigação, que para setornar perfeita depende apenas de umacooperação material do portador, semnecessidade de oposição do respectivosubscritor.
Para o direito cambial a letra decâmbio é um valor para efeito de circu-lação, posto que não seja um valor deexecução. A letra em branco pode sertransferida e alienada; é endossável.
Os endossatários que recebem otítulo na sua fase incompleta não gozamdas mesmas vantagens que os que re-
ceberam com a sua forma definitiva, peloque não têm, como estes, uma posiçãoautônoma, por exercerem, um direitoderivado, sujeito a todas as execuções edefesas oponíveis a qualquer de seuspredecessores.
Art. 892A capitulação deste artigo respon-
sabiliza o mandatário pelos atos por elepraticados sem poderes outorgados pelomandante ou com excesso desses pode-res, tornando-se o mandatário verdadei-ro obrigado cambiário, pelo princípio daforma nos títulos de crédito. (Súmula doSTJ nº 60)
Essa norma tem a mesma redaçãoque a do art. 8° da Lei Uniforme de Ge-nebra.
Art. 893Reza o art. 11, al. 1ª da Convenção
de Genebra que, mesmo que não envol-va expressamente a cláusula à ordem,a cambial se transmite por via de en-dosso.
Por essa forma de transferência dotítulo infere-se que se transmitem os di-reitos correspondentes às obrigaçõescambiárias, ou seja, apenas, ao valor dotítulo, exceto no caso do aceitante ou doavalista, cuja obrigação pode sofrer li-mitação.
O dispositivo inspirou-se no art.1995 do Código Italiano, e também doart. 14 da Lei Uniforme de Genebra.
Art. 894Os títulos representativos de mer-
cadoria são aqueles que envolvem atransferência da posse e a propriedadede mercadoria.
Vejamos um exemplo: a posse do co-nhecimento de depósito é aquela que per-mite ao seu titular considerar-se proprie-tário de mercadoria depositada em arma-zém geral; logo a sua transferência impli-ca a transferência dessa mercadoria.
A exceção pode ser encontrada nocaso da emissão do warrant, em que atransferência da propriedade da merca-doria referida no conhecimento de de-
Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 39
pósito está subordinada, no vencimen-to, ao pagamento do valor do warrant,logo, em havendo emissão deste título,para que o titular do conhecimento dedepósito possa receber a mercadoria énecessário o pagamento prévio do valorreferido no warrant.
Logo, quem transfere o conheci-mento de depósito transfere ipso fac-to o domínio da mercadoria. O mesmofenômeno ocorre com a cédula de pro-duto rural.
Por outro lado, é preciso que seentenda que a entrega da mercadoriaestá condicionada à quitação dowarrant, caso seja este emitido.
Art. 895O título de crédito em circulação
pode ser dado em garantia, ou seja, podeser apenhado (caucionado), ou ser obje-to de medida constritiva judicial, mas odireito ou a mercadoria que representa otítulo não podem sofrer tais restrições ouônus, independentemente do título. (art.1458 e ss do novo Código Civil)
O dispositivo deve ser aplicado aostítulos de garantia real.
No caso do conhecimento de depó-sito não se pode constituir ônus ou im-por medida constritiva judicial sobre amercadoria depositada em armazém ge-ral, se sobre ela emitiu-se o conheci-mento de depósito. O mesmo acontececom o conhecimento de transporte.
Art. 896Da mesma forma, o título de crédi-
to não pode ser objeto de reivindicaçãopor terceiro, contra o seu legítimo porta-dor, desde que o título tenha sido adqui-rido de boa fé, também respeitadas asnormas que disciplinam a sua circulação(art. 1.994 do Código Civil Italiano e art.16, 2ª alínea da Convenção de Genebra).
Art. 897A disposição que admite a garantia
do aval refere-se aos títulos de créditode pagamento de soma em dinheiro, fatoque exclui os títulos representativos demercadoria.
Parágrafo ÚnicoA disposição proíbe o aval parcial
nesses títulos. Ora, o art. 30 da Lei Uni-forme de Genebra permite o aval parci-al, o aval dado por terceiro, na letra ouem folha anexa (alonge). Por essa ra-zão, na linha de princípio estatuído peloart. 903 do Código Civil, deve aplicar-seà hipótese a Convenção de Genebra enão o parágrafo único do art. 897 nosentido de se admitir o aval parcial, emque o avalista pode reduzir o valor dasua obrigação.
Art. 898O aval pode ser aposto no verso do
título, posicionado o avalista na mesmaposição do endossador, a ele equiparadopara efeito de responsabilidade cambiária.
Parágrafo PrimeiroNo aval aposto no anverso do título,
o avalista coloca-se na mesma posiçãodo devedor principal: o aceitante, osacador da letra de câmbio, o sacadordesta na letra não aceitável ou do emi-tente da nota promissória, dispensadaqualquer menção ao avalizado.
Parágrafo 2°Considera-se não escrito o aval can-
celado.A Súmula nº 26 do STJ dispõe que
o avalista de título de crédito vinculadoa contrato de mútuo também respondepelas obrigações pactuadas, quando nocontrato figurar como devedor solidário.
Art. 899A redação do referido artigo é seme-
lhante à do art. 32 da Convenção de Ge-nebra e, na falta de indicação do nome doavalizado presume-se tenha sido aposto peloemitente ou pelo devedor final, no caso, oúltimo endossatário, quando há endosso.
Convém lembrar que, na parte fi-nal do caput do art. 32 deve substituir-se o vocábulo �afiançado por avalizado�.
Parágrafo 1°O referido parágrafo dá ao avalista
que pagou o título o direito de regresso
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contra o avalizado e demais coobrigadosanteriores (os endossadores e endossa-tários anteriores e seus avalistas). Oavalista de coobrigado (endossador ouendossatário) que paga o título tambémtem direito de regresso contra o obriga-do principal.
Parágrafo 2ºNo caso de nulidade da obrigação
avalizada, subsiste a responsabilidade doavalista, salvo no caso de nulidade quedecorra de vício de forma.
Vício de forma é aquele que atingeo próprio título e gera a sua nulidadeque, por sua vez, alcança as obrigaçõescambiárias.
Essa disposição encontra-se no art. 32,2°alínea da Convenção de Genebra.
Art. 900O aval posterior ao vencimento do
título não o invalida, sendo consideradosos mesmos efeitos do anteriormentedado. A disposição em exame assemelha-se à do art. 20 da Convenção genebrinacom respeito ao endosso.
Quanto ao endosso, a capitulaçãodo art. 20 da Convenção, na primeiraparte, tem a mesma redação, porém oendosso, a nosso ver, aposto depois doprotesto, tem o efeito de cessão ordiná-ria de crédito, consoante disposição doart. 1.065 do Código Civil de 1916.
Art. 901O devedor que paga ao legítimo por-
tador do título, no vencimento, conside-ra-se quitado, ou seja, desonerado, sal-vo se agiu de má-fé.
Parágrafo únicoPago o título, assiste ao devedor o
direito de exigir do credor, além da en-trega do título, a quitação regular.
Art. 902Este artigo informa que o credor
não tem obrigação de receber a dívidaantes de seu vencimento, sendo o deve-dor responsável pela validade da obriga-ção, no caso de pagamento.
Parágrafo 1°No vencimento não pode o credor
recusar o pagamento.Observe-se que, ao devedor, assis-
te o direito de oferecer pagamento departe da dívida, cabendo ao credor fazermenção a esse fato, no título ou em do-cumento em separado.
Tal pagamento não invalida o títu-lo, não se operando a sua tradição, maso valor da dívida é reduzido ao saldo res-tante.
Por essa razão, no caso de paga-mento parcial, o credor conserva o títu-lo em sua posse, sendo, porém, obrigadoa dar quitação na cártula, pelo valorpago, consignando a parcela devida.
Também deverá o credor, em docu-mento em separado, a ser entregue aodevedor, consignar a mesma declaração.
Tratamento diferente dá o art. 314do Código Civil, pelo qual não está o cre-dor obrigado a receber parte da dívida.
Art. 903A capitulação em análise tem a
maior importância no que concerne aostítulos de crédito, pois o Código Civil deuprecedência à legislação regulada em leiespecial sobre o texto do novo Código Ci-vil. Então, no conflito entre uma lei ex-travagante e o Código, prevalece a pri-meira.
Assim, no conflito entre o art. 897parágrafo único do Código Civil e o art.30 da Lei Uniforme de Genebra aplica-se o segundo dispositivo de preferênciaao primeiro.
A dúvida é se saber da razão do le-gislador do Código em inserir dispositivoinútil, a menos que se possam admitirtítulos nos quais o endosso seja sempretotal.
Outro problema envolve o aval múl-tiplo omitido (co-aval) no Código e na LeiUniforme, cuja solução é no sentido dese considerar solidários os co-avalistas(solidariedade regida pela lei civil).
A Súmula nº 189 do S.T.F dispõeque os avais em branco superpostos con-sideram-se simultâneos e não sucessi-vos. A regra geral é que está em vigor
Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 41
toda a legislação extravagante no quetoca aos títulos de crédito, sobrepondo-se esta às normas do Código Civil.
TÍTULOS AO PORTADOR
Art. 904Os títulos ao portador são aqueles
que se transmitem por tradição, desco-nhecendo-se-lhes o portador, até o mo-mento da transmissão.
Art. 905O requisito essencial é a apresen-
tação do título.
Parágrafo ÚnicoEste dispositivo decorre da aplica-
ção da teoria da declaração, pela qual,no momento em que o emitente apõe asua assinatura no título, este já existe.
Caso o título seja furtado, se,porventura, o ladrão colocá-lo em circu-lação, endossando-o, inclusive, caso oendossatário esteja de boa-fé, poderácobrá-lo do endossador ou endossadoresanteriores daquele que o transferiu,estará imune às investidas do subscritorou emissor do título, salvo diante dasdefesas com base em nulidade internaou externa do título, ou em direito pes-soal do emissor.
Pela teoria da criação não importaque o seu criador tenha sido injustamen-te desapossado, passando a circular o tí-tulo contra a sua vontade; logo, a partirdo momento em que a pessoa apôs a suaassinatura no título formalmente perfei-to, mesmo que dele tenha sidodesapossado contra a sua vontade, essetítulo pode circular regularmente, a me-nos que o endossatário esteja de má-fé.
Esta disposição já se encontrava noart. 1.506 do Código Civil de 1916, cujafonte foi o § 794 do BGB (Código Civilalemão), com base na teoria de Kuntze,Siegel e Bonelli.
O referido § do Código Civil alemãotem a seguinte redação:
�O emissor de um título ao portador seacha obrigado ainda que se lhe foi rou-bado, se lhe foi extraviado, ou, de quequalquer modo foi posto em circulaçãocontra a sua vontade�.
O criador fica ligado ao título coma sua assinatura e obrigado para com ocredor eventual e indeterminado, emconsiderando tratar-se de declaraçãounilateral de vontade ao se obrigar o cri-ador do título. A obrigação nasce com oaparecimento desse futuro detentor.
Para Kuntze, com a concepção do es-crito, nasce o título e com a entrada emcirculação do título nasce a obrigação.
Segundo Pontes de Miranda (Tra-tado de Direito Cambiário, v. 1°), loc.cit., por essa teoria adotada pelo CódigoCivil alemão, em mãos do subscritor otítulo já é um valor patrimonial, prestesa se tornar fonte de direito de crédito.
A vontade do devedor já não impor-ta para o efeito obrigacional, completaPontes, pois o título é o que o produz eque cria a dívida. A única condição quese impõe é a posse pelo primeiro porta-dor, qualquer que seja ele.
Essa teoria foi aceita pelo art.1.506 do Código Civil de 1916 e pelo novoCódigo, no art. 905, parágrafo único.
Art. 906As exceções suscetíveis de ser opos-
tas pelo devedor ao portador são as fun-dadas em direito pessoal ou em nulida-de do título.
Art. 907Diz o texto do art. 907 que, ao me-
nos que tenha sido autorizado por leiespecial, é nulo o título de crédito aoportador. A redação encontra a sua ma-triz no art. 1.511 do Código Civil de 1916.Convém chamar a atenção para o dispo-sitivo do art. 1° da Lei nº 8.021 de 12 deabril de 1990, pelo qual é �vedado o pa-gamento ou resgate de qualquer títuloou aplicação, bem como dos seus rendi-mentos ou ganhos, a beneficiário nãoidentificado�.
Ora, a referida lei proibiu por com-pleto a emissão de qualquer título aoportador, daí a necessidade de se sabera respeito da revogação da referida lei,atento ao fato de se tratar de norma li-gada à política do Governo, visando aimpedir a expansão do crédito.
42 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”
No início da República, já havia leiproibitiva de emissões de títulos dessanatureza e, há alguns anos editaram-seleis com exigência de registro de letrasde câmbio e notas promissórias, poste-riormente revogadas.
A conclusão, na interpretação doart. 907 é que:
a) só poderão ser criados títulos decrédito mediante lei especial;
b) a vedação de criação de títulosao portador por força do disposto no art.1° da Lei nº 8.021/ 90, a nosso ver, con-tinua em vigor, em razão de política go-vernamental.
Art. 908A disposição é polêmica, por se tra-
tar de questão dependente de prova, tantoassim que o título dilacerado pode, pormuitos, ser considerado inutilizado, tan-to assim que os bancos normalmente nãoaceitam cheques com rasuras ou peque-nas irregularidades no seu texto, comoerros de data e outras quebras do aspec-to formal do cheque. Muito pior será aexistência de dilaceração de um título.
De qualquer forma o dispositivomerece melhor exame na sua aplicação.No artigo seguinte será examinado o casodo art. 912 do Código de Processo Civil,em menção de destruição parcial de do-cumento.
Art. 907 � Código de Processo CivilO art. 907 trata de assunto ligado
à ação de anulação, de recuperação detítulo ao portador, quando o proprietárioperder ou extraviar título, ou for injus-tamente desapossado dele.
A origem da ação referida encon-tra-se no art. 36 do Decreto nº 2.044/1908, de redação mais ampla e adequa-da à hipótese, que a adotada no CódigoCivil de 2002.
Porém a lei em vigor é o Código deProcesso Civil nos seus artigos 907 a 913,sobre os quais nos pronunciaremos deforma sucinta.
O art. 907 da lei processual cuidade casos de perda ou de injustodesapossamento do título.
Os pedidos são:a) a reivindicação (petitória, ação
real do título contra quem o detiver);b) a anulação e a substituição por
outro título.Se se tratar de destruição total
pode o autor da ação de rito comum, or-dinário ou sumário, fazer citar o deve-dor para reconfeccionar novo título. Casoo título esteja em mãos de terceiro oautor pedirá o seu desapossamento econseqüente devolução ao autor da ação.
Segundo lição de Nelson Nery Ju-nior e Rosa Maria de Andrade Junior,Código de Processo Civil Comentado,5° ed. R.T. p. 1282, entende-se por in-justo desapossamento aquele �que de-corre de abuso de confiança ou de apro-priação indébita. O injusto desapossa-mento não precisa ser comprovado se aalegação do autor é de extravio ou perdado título. As cédulas de papel moedaequiparam-se a títulos da dívida pública(RF 253/325).
Na hipótese de reivindicação denota promissória, aduzem os ilustresautores (loc.cit.), exigem prova segura,pelo devedor, de ter sido entregue emconfiança, e não se tratasse de entregaem quitação, como seria de se presumir(JTA Civ. SP 49/52 e RJCPC, I, 75). Osmesmos autores ainda lembram que oautor não pode se servir da ação paradesconstituir relação jurídica de direitomaterial, pelo CPC, 907, II, em que o réué o detentor do título.
No caso do art. 907, II do C.P.C.,segundo o disposto no art. 908 do mes-mo diploma legal, apresentada a petiçãoinicial com os requisitos do seu caput ecitados o detentor e por edital os ter-ceiros interessados para contestarem opedido, os obrigados cambiais devemtambém ser cientificados do pedido. Opedido inicial deve requerer a intimaçãodo devedor para depositar em juízo o ca-pital, juros ou dividendos vencidos ouvincendos; intimada, outrossim, a Bolsade Valores para conhecimento de seusmembros - as sociedades corretoras - afim de não negociarem os valores mobi-liários.
Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 43
Pede-se, também, na inicial que seintime o devedor a não pagar ao detentoraté que se resolva a ação de reivindica-ção ou de anulação, em trâmite.
Depois da intimação, completam osautores referidos (local citado), reputa-se de má-fé o pagamento feito e inválidaa quitação (art. 935 C.C.1916), ainda queo título tenha sido entregue ao devedor(art. 945).
Ainda segundo os referidos auto-res (p. 1283), cabe ao autor, a fim deevitar insegurança no mercado de valo-res mobiliários ou no mercado financei-ro, comprovar, de início, pré-constituira prova de perda, extravio oudesapossamento do título. Não justifica-dos a perda, o extravio ou o furto do títu-lo, o juiz julgará o autor carecedor deação (TR 649/83).
Conseqüência do julgamento final:o juiz declarará caduco o título recla-mado e ordenará ao devedor que lavreoutro em substituição dentro do prazoque a sentença lhe assinar (art. 911C.P.C.).
Esse artigo 911 é incompleto, poisnão abrange a ação de reivindicação pre-vista no art. 907, I, quando determinarque a propriedade do título sejatransferida de volta ao autor retirando-a do réu.
É possível que o réu se negue a con-feccionar novo título, e, nesse caso, ad-mitimos a possibilidade de o juiz profe-rir sentença com força executiva,substitutiva do título, valendo a decisãocomo se fora o próprio título, à seme-lhança do procedimento dos art. 639/641 do Código de Processo Civil.
CASO DE DESTRUIÇÃO PARCIAL
O art. 912 do Código de ProcessoCivil determina que o portador, exibindoo que restar do título, pedirá a citaçãodo devedor para em dez dias, substituí-lo ou contestar a ação.
O parágrafo único estatui que, emnão havendo contestação, o juiz proferi-rá desde logo a sentença ou mandaráseguir o rito ordinário. Observam os au-tores citados que �se estes vestígios não
existirem, o credor não tem como aten-der a exigência da lei, de exigir os res-tos reconhecíveis do título, na linha dopensamento do ilustre Professor Adro-aldo Fabrício, Coment. nº 239, p. 274 ede Mercato, Proced. Esp. nº 93.
No art. 909, aplica-se aqui a teoriada emissão do título prevista no art.1.509 do Código Civil de 1916 que tratade injusto desapossamento do título, desua perda ou extravio.
Art. 909 - Parágrafo ÚnicoEste artigo admite a possibilidade
de o pagamento efetuado pelo devedor aopossuidor do título antes da ciência daação por aquele exonerá-lo, exceto se eleteve ciência do fato, naquela ocasião.
TÍTULO À ORDEM
O título à ordem é aquele que setransfere mediante endosso, previsto noart. 11 da Lei Uniforme de Genebra.
Art. 910O endosso deve ser lançado no ver-
so do título, em branco ou em preto. Noprimeiro caso, o título transfere-se portradição; no segundo, consta o nome doendossatário, o verdadeiro beneficiáriodo título à ordem.
ENDOSSO A MAIS DE UMA PESSOA
No entendimento de Whitaker,quanto ao endosso a duas pessoas con-junta ou alternadamente, aquele quelegitimamente possuir a letra de câm-bio é o credor da obrigação, autorizado acobrar o título. Segundo anota WaldírioBulgarelli (Títulos de Crédito, 18ª ed.Atlas 2001), o mestre Carvalho de Men-donça negava a possibilidade de o en-dosso ser aposto no anverso do título,tese superada segundo o magistério dePontes de Miranda e João EunápioBorges op. cit. nº 80, p.75 desde quefigure expressamente tratar-se de en-dosso, na face do título; nesse caso, ad-mite a maioria dos autores a existênciade endosso aposto na face da cambial.
A nosso ver, na dúvida, prevalece atese de que o endosso deve ser aposto
44 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”
no verso. A dúvida reside em se saberqual a posição do endosso em branco in-serido no anverso, por se ignorar a datade sua aposição e da possibilidade deser confundido com o aval pelo devedorprincipal.
Quanto ao endosso aposto fora dotítulo, em nosso entender, pode sê-lo noalongamento ou anexo, representado poruma folha colada no título, porém temosdúvida sobre a validade do endosso dadoem escritura pública, como aceita o no-bre Professor Bulgarelli (op. cit. p. 173,nº 3.4.2).
O Código Civil, no art. 910, admitiuo endosso lançado no anverso, mas nãoexplicou em que condições pode ser in-serido.
Em nossa interpretação, poderá sê-lo nas condições acima referidas.
Parágrafo Primeiro do art. 910Esse parágrafo cuida do endosso em
preto, tanto no verso quanto no anversodo título transmitido à ordem.
O endosso em branco, quando nãose menciona o nome do endossatário,como se viu, o título é transmitido aoportador.
Há certa confusão na menção àparte final desse parágrafo, quando olegislador refere-se a �e para a validadedo endosso dado no verso do título é su-ficiente a simples assinatura doendossante�, podendo parecer que so-mente o endosso em branco aposto noverso do título tem validade.
Essa confusão advém da permissãodo endosso na face do título.
Parágrafo Segundo do art. 910A transmissão do título faz-se me-
diante dois atos: o endosso, representa-do pelo aspecto obrigacional sucedidopela transferência da sua posse � as-pecto real, representado pela transmis-são física da cártula; logo, o endosso dotítulo sem a transferência da posse dacambial não produz eficácia real em re-lação a terceiros, simplesmente porqueesse título é insuscetível de ser objetode cobrança ou de execução sem a res-
pectiva cártula, exceto nos títulosescriturais, nos quais não existe um do-cumento no sentido usado no direitocambiário tradicional, na forma da Con-venção de Genebra, em que a transmis-são verifica-se por meio de registro,como no caso das ações nominativas dasociedade anônima.
Anota José Maria Whitaker que oendossatário sucede ao endossante napropriedade do título, mas não na relaçãojurídica pela qual o endossatário o adqui-riu; adquire um valor e não somente umdireito a um valor. Em conseqüência, a in-capacidade do endossante não terá o efei-to de interromper a cadeia de endossos.
Parágrafo TerceiroO endosso cancelado considera-se
não escrito, norma inscrita no art. 16da Lei Uniforme de Genebra; a redaçãodo texto deste parágrafo na parte em quediz que se considera não escrito o en-dosso cancelado �total ou parcialmente�pode suscitar dúvidas, uma vez que setorna difícil aproveitar-se um endossoparcialmente riscado.
PACTO DE NON PETENDO
Segundo o magistério de Whitaker(op. cit. p. 273), o credor que concedeuprazo a um dos coobrigados, ou mesmose lhe prometeu nunca o acionar (pactumde non petendo), não terá prejudicado,com isso, o direito contra os coobrigadosposteriores, nem o destes contra o deve-dor, quando exerçam o direito de regres-so. Qualquer uma destas convenções temcaráter pessoal e não real atingindo comisso, apenas, aqueles que diretamenteas estabeleçam. Se o credor recusar opagamento que lhe for oferecido por umdos coobrigados não poderá mais exigi-lode um dos coobrigados posteriores, por-que tê-lo-ia privado injustificadamente deuma oportunidade de se liberar definiti-vamente da própria obrigação (cf. Bonelli,op. cit. nº 288).
Art. 911A série ininterrupta de endossos do
título assegura ao último endossatário
Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 45
o direito de considerá-lo o seu legítimocredor.
Pelo magistério de Bulgarelli (p.175, nota 51), do endosso não resultasomente a transferência da proprieda-de do título, mas, também, a garantiada realização pontual da prestaçãocambiária e, por força da garantia oendossador assume em face dosendossatários ulteriores a responsabili-dade solidária pelo aceite (na letra decâmbio) e pelo pagamento da cambial.
Quanto à solidariedade, não se tra-ta da inserida no Código Civil, pois, nes-ta, a prestação pode ser exigida por quo-tas, os credores não têm entre si rela-ções de débito e crédito, a nulidade de-cretada em favor de um dos devedoresaproveita aos outros, ainda que não ativessem alegado.
No endosso da cambial, ao contrá-rio, a prestação é indivisível, os credoressão devedores uns dos outros, na ordemda sucessão dos endossos, e a anulaçãode qualquer das declarações cambiais,de nenhum modo afeta a validade ou efi-cácia de qualquer das outras. Mostra oilustre autor que, na cambial há tantasobrigações de garantia quantos com oúnico traço comum de se referirem to-das ao mesmo objeto. Daí a obrigação deo endossador garantir �a realidade-veritas- do título como a realização do valor.Bonitas - que ele representa. (Whitaker,nº 75, p. 121-122). Se o último endossofor em branco, a regra aplicável é a mes-ma, com a diferença de se tratar de umtítulo transferível por tradição, cujobeneficiário é desconhecido.
Parágrafo único do art. 911A regra tem o significado de exigir
que o beneficiário do título, ou seja, oúltimo endossatário, deva verificar aregularidade da série de endossos, nosentido de se identificar sobretudo onome dos endossatários em preto, masnão a autenticidade das assinaturas.
Admitamos que Francisco endosseo título a Carlos, e que, em seguida apa-reça a assinatura de Mario, nesse casoquebrou-se a série ininterrupta de en-
dossos, pois o endossatário deveria serCarlos e não Mario.
No caso dos endossos em branco,a sua circulação se fará por tradição,ignorando-se por quais pessoas circulouesse título.
Após o endosso em branco, pode otítulo voltar a circular por meio de en-dosso em preto, mediante identificaçãodo endossatário (art. 913).
Não cabe ao endossatário saber sealguma das assinaturas do endossadorese endossatários e seus avalistas é falsa.
Art. 912O endosso não está sujeito à con-
dição, conforme dispõe a segunda partedo art. 12 da Convenção de Genebra, porser o endosso a transferênciaincondicionada da cambial.
Parágrafo único do art. 912O endosso parcial é nulo, consoan-
te consta do item segundo do art. 12 daLei Uniforme de Genebra. No que dizrespeito ao art. 10 do Decreto Lei nº 413de 1969 sobre a Cédula de Crédito In-dustrial, admite o endosso parcial (art.10 paragrafo 2° c/c art.13) quando hou-ver amortização da dívida.
O Professor Bulgarelli, em nota 50da p. 174 da obra referida, assinala que,apesar de nulo o endosso parcial, em re-lação às partes imediatas, prevalece arestrição, �em relação aos endossadoresposteriores � não prejudicada a regulari-dade da série de endossos - aquela res-trição, vedada pela lei, mas, não o ne-cessariamente anulatória do endosso,será considerada não escrita, podendo opossuidor exigir a soma cambial de todosos coobrigados, inclusive do signatáriodaquele endosso parcial".
A norma a aplicar será a do art.44, IV, que considera não escrita paraos efeitos cambiais, a cláusulaexcludente ou restritiva da responsabi-lidade e qualquer outra, beneficiando odevedor ou o credor, além dos limitesfixados por esta lei. Assim, não serianulo o endosso parcial, apenas ineficaz� considerada cambialmente não escri-
46 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”
ta � a limitação ou parcelamento da somaconstante do referido endosso. JoãoEunápio Borges, op. cit. nº. 87, p. 77-78.(cf. Vivante, Trat. Dir Com., III, p.281).
Art. 913O endosso em preto - aquele em
que o endossador insere o nome doendossatário - pode converter-se emendosso em branco, no qual o endossadorapenas apõe o seu nome sem mencio-nar o nome do endossatário, em que acirculação do título se dá por tradição,no caso em que o nome dos seus pos-suidores são desconhecidos.
Se o portador do título endossadoem branco, fizer inserir o nome doendossatário, o título passa a ser en-dossado em preto, e assim por diante.
Art. 914Capitula o art. 15 da Convenção de
Genebra que o endossatário, sem cláu-sula em contrário, é garante, tanto daaceitação da letra, quanto de seu paga-mento. Mesma redação tem o art. 21 daLei nº 7.357 de 1985.
Ao contrário, o art. 914 do novo CódigoCivil dispõe que �ressalvada cláusula ex-pressa em contrário constante do endossonão responde o endossante pelo cumprimen-to da prestação constante do título�. Deve,a nosso ver, prevalecer a redação da Con-venção de Genebra dos arts. 14 e 15, naforma dos comentários anteriores.
Parágrafo PrimeiroA capitulação deste parágrafo impõe
a necessidade da assunção peloendossatário da responsabilidade pelo pa-gamento, tornando-se devedor solidário.
A solidariedade decorre da simplesaposição da assinatura do endossatáriono título.
Parágrafo Segundo do art. 914O dispositivo enunciado permite ao
endossatário que pagou o título o exercí-cio do direito de regresso contra osendossadores e endossatários anterio-res e seus avalistas e, em ação direta contra
o devedor principal.
O dispositivo referido no Código Ci-vil omitiu a ação direta contra o devedorprincipal, ou seja, o aceitante da letra,o sacador da letra não aceitável seja oemitente da nota promissória, e seuavalista, a ele equiparado.
Art. 915O dispositivo trata das exceções pes-
soais, no sentido de que o devedor, alémdas exceções fundadas nas relações pes-soais contra o portador, só poderá opor aeste as exceções relativas à forma do tí-tulo e ao seu conteúdo literal, a falsida-de da própria assinatura, a defeito decapacidade ou de representação no mo-mento da subscrição e à falta de requi-sito necessário ao exercício da ação.
Vejamos cada uma dessas exceções.As relações pessoais diretas entre
autor e réu são aquelas que dizem res-peito aos efeitos das obrigações como opagamento, a subrogação, a imputaçãodo pagamento, a dação em pagamento,a novação, a compensação, a transação,o compromisso, a confusão e a remissãode dívida (arts. 930 e seguintes do Códi-go Civil de 1916, arts. 334 e ss do novodiploma civil decorrente do princípio dainoponibilidade das exceções pessoais.
Incluem-se nessas defesas erro,dolo, fraude, violência, causa ilícita nostítulos causais e simulação.
A forma do título e o seu conteúdoliteral referem-se à literalidade da cam-bial, princípio essencial aos títulos decrédito. (cf. José Maria Whitaker, Letrade Câmbio, nº 199, p. 242).
Com respeito à falsidade da própriaassinatura compreende a falsidade do-cumental ou ideológica.
O Professor Bulgarelli analisa commuito discernimento o problema da com-patibilidade das exceções cambiárias eextracambiárias (op. cit. p. 242), em queo réu pode, desde logo opor "em exceçãoaquilo que iria fundamentar aquela ação.Isto é, ao solve et repete o réu retrucavitoriosamente com o dolo petis quodmox restiturus es, isto é, pedes com doloaquilo que logo terás de restituir"(Eunápio Borges op, cit. nº 165, p. 129).
Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil” - 47
No que concerne à falta de requisi-to necessário ao direito de ação ressal-ta Bulgarelli (loc.cit.) referir-se àlegitimação do autor como credor, à fal-ta de posse da cambial, à falta ou nuli-dade, à prescrição e a outros. Além des-ses há, ainda, as defesas específicas doprocesso (coisa julgada, litispendência,falta de capacidade processual e outrasdessa natureza.
Art. 916As exceções são pessoais entre o
credor e o obrigado cambiário contraquem é proposta a ação; aquelas pro-postas contra outros endossadores ouendossatários ou avalistas precedentessomente poderão ser opostas ao porta-dor do título, quando este tenha agidode má-fé.
A má-fé, na redação do art.17 daConvenção de Genebra, significa a ci-ência da ação em detrimento do deve-dor (�agi sciemment au dètriment du
rebiteur�), considerado o momento daaquisição do título (art. 17).
Túlio Ascarelli (Teoria Geral dosTítulos de Crédito. 2ª ed. 1969, p. 293/294) alinha várias defesas do réu.
Comptes Rendus, 1.133. A conclu-são final da Convenção foi no sentido deque o portador deve, não só ter conheci-mento das exceções como ter agido coin-cidentemente em detrimento do devedor,suscetível de incidir na aplicação da re-gra �exceptio doli generalis a ser apre-ciada por cada Tribunal.
Art. 917O endosso-mandato ou procuração
é aquele em que o endossador outorgapoderes ao mandatário para praticar atosrelativos ao direito cambiário, inerentesao título.
Por força do parágrafo 1° do mesmoartigo, ao mandatário só é permitido osubstabelecimento ou o reendosso do títulodentro dos limites previstos no mandato.
Parágrafo 2° do art. 917Pelo parágrafo 2° a morte ou a in-
capacidade superveniente do mandante
não invalida o mandato, nem lhe retiraa eficácia.
Parágrafo 3° do art. 917As exceções opostas pelo devedor
ao mandatário ficam restritas às que ti-ver contra o endossador, dentro, natu-ralmente, dos poderes outorgados pelomandante.
Art. 918 e parágrafo 1ºNo caso do endosso-penhor ou en-
dosso pignoratício, o credor somentepode endossar o título na qualidade deprocurador, pelo simples fato de não setratar de endosso pleno, mas de consti-tuição de uma garantia real, como ocor-re com o penhor. (art.19 da Lei Unifor-me de Genebra).
Parágrafo 2° do art. 918Como o endosso pignoratício, o títu-
lo é dado em caução, dele não há trans-ferência da propriedade, sendo vedadoao devedor opor ao credor, exceções quetinha contra o endossador, dele devedor,exceto se tiver este agido de má-fé .
Na capitulação do art. 798 do Códi-go Civil de 1916, inseriu-se o vocábulo�caução� explicado por Clóvis Beviláquapor ser o mais adequado do que o pe-nhor, por expressar melhor a idéia deque não há transferência de posse, vis-to tratar-se de crédito de bem incorpóreo.
Aduz Maria Helena Diniz (CódigoCivil Anotado, 4. ed. aum., Saraiva,1998, p. 610):
�O objeto da caução de título de crédi-
to é o próprio título em que se docu-menta o direito.O direito de crédito materializa-se ao
incorporar-se no documento, sendo,portanto, seu objeto o documento re-
presentativo do crédito (coisa corpórea)e não os respectivos direitos (coisaincorpórea).�
No novo Código Civil, a redação doart. 1.458 prevê o penhor de título decrédito, mediante instrumento públicoou particular ou endosso pignoratício,com a tradição do título ao credor.
No que tange à letra de câmbio e à
48 - Anais do “EMERJ Debate o Novo Código Civil”
nota promissória, o meio próprio é o en-dosso penhor, previsto no art. 918 do novodiploma legal.
No cheque as coisas se passam demaneira diferente, por não preverem oDecreto nº 2.591 de 1912, a Convençãode Genebra para cheques e a própria Leinº 7.357 de 1985 o endosso pignoratíciodo cheque.
Na doutrina, Lorenzo Mossa, cita-do em nossa obra Obrigações e Contra-tos na Falência (Renovar, 1997, p. 92),já excluía o endosso penhor no cheque.
No Código de Comércio de 1850, noart. 277, admite-se o penhor de títulosde crédito.
A Lei Uniforme de Genebra paraCheques não previu o endosso penhor,situação explicada nas Comptes Rendus(p. 98), transcrita no mesmo trecho denossa obra.
Por essa razão, tanto o texto da LeiUniforme quanto a Lei nº 7.357 de 1985não admitem essa forma de endosso.
Quanto ao instituto do penhor decambial, a nosso ver, é perfeitamenteadmissível no texto do novo Código Civil,no art. 1.458, além do endosso penhorinserido no art. 918.
Assim entendido, na linha do nos-so pensamento a respeito dessa garan-tia, admitimos a possibilidade de a letrade câmbio e a nota promissória seremendossadas por meio de endosso penhor.
Ao mesmo tempo, de acordo com ocapitulado no art. 1.458 do novo CódigoCivil, não temos dúvida em aceitar o pe-nhor de cambial, de forma diversa doendosso penhor, mediante instrumentoextracartular válido, na forma previstano nosso parecer acima referido, ao passoque, no cheque, é inadmissível o endos-so penhor, como se viu acima.
Art. 919A disposição do art. 919 não aten-
tou para os arts. 11, al. 2ª e 15, al. 2°da Convenção de Genebra, nos quais seestabeleceu, respectivamente, aclausula �não à ordem� e a cláusula"proibitiva de endosso". Na primeira,aposta pelo sacador da letra de câmbio
ou pelo emitente da nota promissória,tem a eficácia de cessão ordinária decréditos e a segunda, aposta no cursoda cambial, pelo endossador, proibitivade novo endosso, também com efeito decessão de crédito, cuja conseqüência éo fato de não garantir o pagamento àspessoas a quem a letra for posteriormen-te endossada. Em outras palavras,ambas as cláusulas dão ao endosso aconotação de cessão de crédito regidapelo art. 1.065 e seguintes do CódigoCivil de 1916 e pelo art. 286 a 298 donovo diploma civil.
No caso de nota promissória prosolvendo, ou seja, impropriamente cha-mada de vinculada a um contrato ou sir-va de garantia a uma obrigação, duasconseqüências podem resultar:
1°) na cobrança da nota promissó-ria tem o devedor a faculdade de invo-car as exceções da causa contra o cre-dor, tomando-se como exemplo, na com-pra de um imóvel, a emissão de certonúmero de promissórias vinculadas aonegócio jurídico.
Entre essas exceções na cobrançadas cambiais pelo credor, existe a apos-ta pelo devedor - comprador-emitentedas cambiais: a exceptio non adimpleticontractus, ligada ao descumprimentodas obrigações na construção do prédio.
Essa exceção tem cabimento e podeimpedir a execução dos títulos pelo cons-trutor, ao cobrar os títulos pro solvendoao devedor, caso fique provado que o cons-trutor deixou a obra inacabada. Nessecaso, se o credor-construtor da obra ti-ver endossado a promissória pro solven-do a terceiro, v.g., a um banco, e estepromover a execução do título contra odevedor do título, este não poderá exer-citar a exceção da causa que dispunhacontra o construtor, por serem elas denatureza pessoal, pelo princípio dainoponibilidade das exceções pessoais.
Em duas hipóteses é possível aapresentação dessa exceção que o de-vedor tinha contra a construtora:
1°) quando a promissória pro sol-vendo contenha a cláusula não à ordemdo art. 11, alínea 2ª da Convenção de
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Genebra, aposta pelo emitente da pro-missória, pela qual o título já nasce nãoendossável e a sua transferência tem aeficácia de cessão de crédito;
2°) quando a nota promissória prosolvendo contenha cláusula proibitiva deendosso, aposta no curso da promissória,pelo endossador, proibitiva de endosso,também com efeito de cessão de crédito,cuja conseqüência é o fato de não garan-tir o pagamento às pessoas a quem a pro-missória for posteriormente endossada.
Em outras palavras, ambas asclausulas dão ao endosso a conotação decessão de crédito, regida pelo art. 1.065e seguintes do Código Civil de 1916 earts. 286 a 298 do novo diploma civil.
O resultado final é que, por ser apromissória pro solvendo vinculada aum contrato, no caso, o contrato de cons-trução do prédio de apartamentos, o com-prador-devedor do título pode alegar asexceções da causa contra o banco-endossatário exeqüente do título comefeito de cessão de crédito, por se comu-nicarem a este as exceções que o deve-dor tinha contra o construtor-credor, porforça das cláusulas referidas nos arts.11, al. 2ª e 15, al. 2° da Lei Uniforme,pelas quais se comunicam as exceçõeslevantadas contra o construtor e contrao banco endossatário, em decorrência dacessão de crédito, em que o direito étransmitido a título derivado, e não emcaráter autônomo.
FORMAS DE TÍTULOS TRANSMISSÍVEIS COM EFICÁ-CIA DE CESSÃO DE CRÉDITO
Sobre as formas de títulostransmissíveis com eficácia de cessão decrédito, admitidas por Carvalho de Men-donça (Trat. Dir. Com. v. V. parte II, nº291), podemos arrolar as seguintes:
1°) a dação em pagamento - datioin solutum (art. 997 do Código Civil de1916) em que a transferência importaráem cessão de crédito, devendo ser noti-ficada ao cedido, responsabilizando-seo solvens, pela existência do créditotransmitido ao tempo da cessão (MariaHelena Diniz, Código Civil Anotado, ed.Saraiva, 1998. p. 735).
Dá-se um título em lugar da pres-tação devida, coisa diversa da avençada(Diniz, op, cit. p. 734); no caso a daçãoem pagamento tem fim confirmatório enão novatório.
Não há novação na dação em solutopor não haver substituição de dívida,pois o que se substitui é a prestação("aliud pro alio-nomen iuris pro pecunia").
Casos de datio in solutum:a) nota promissória pro solvendo (im-
propriamente chamada vinculada a con-trato);
b) substituição de duplicata por pro-missória dada em pagamento;
c) reforma e amortização de título.Conseqüências: o transmitente res-
ponde pelo valor do título e pelasolvabilidade do antecessor (ouantecessores) no título, no endosso.
Caso da datio in solutum de nota pro-missória em substituição de duplicata
Em conhecido Acórdão relatado peloMinistro Nelson Hungria no Recurso Ex-traordinário nº 14.065-RJ do STF, julga-do em 09/07/1951, publicado em 13/09/1951, o douto Relator esclareceu que ocaso envolve, segundo Bonelli, dação decambial em substituição de duplicata,com função de pagamento condicionadoque, no entender de Staub, a antiga re-lação jurídica não se extingue e a açãocorrespondente permanece em suspenso,para voltar a ser proponível, se a cambialnão é resgatada, passando a ação a seralternativa da relação causal.
Para Cunha Gonçalves �está hojecabalmente demonstrada a possibilida-de da coexistência de duas causaedebendi, quando o segundo contrato, ouseja, no presente caso de pacto de cam-biando.
Há a entrega da coisa �paraadimplir�.
CESSÃO A TÍTULO ONEROSO
Ainda segundo a posição de Pontesde Miranda (loc. cit), o cedente garante aexistência e a titularidade do crédito nomomento em que efetiva a transferên-
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cia, isto é, o cedente é obrigado a resti-tuir o que recebeu se o crédito não lhepertence quando o cedeu (veritas nominis)(cf. Orlando Gomes, loc. cit).
Essa garantia pode, de comumacordo, ser dispensada. Ainda nessa hi-pótese há de responder, segundo Pon-tes, pelo fato próprio, enquanto nas ces-sões a título gratuito, diz a lei, só é res-ponsável se tiver agido de má-fé (art.1.073, in fine, do Código Civil de 1916).
A segunda garantia é a solvênciado devedor, pois, para assumir essa res-ponsabilidade é necessário que se te-nha obrigado expressamente para ga-rantir a bonitas nominis.
Em princípio, não responde ocedente pela solvência do devedor (art.1.074 do Código Civil de 1916); ocessionário assume esse risco.
Modalidades de cessão de créditoDuas são as modalidades de ces-
são de crédito:A primeira é a cessio pro soluto
em que o cedente garante apenas averitas nominis isto é a existência docrédito sem responder, entretanto, pelasolvência do devedor (bonitas nominis).
Há cessão de direito, aplicando-seo disposto no art. 997 do Código Civil de1916.
Conseqüências:a) o crédito extingue-se imediata-
mente, pois o credor concordou em re-ceber o crédito em lugar do pagamento;
b) o cedente não responde pelasolvabilidade do que lhe transmitiu otítulo (bonitas nominis) , isto é, ocedente responde perante o credorcessionário pela existência do créditoainda que expressamente não o hajadeclarado (art. 1.073, 1ª parte do diplo-ma de 1916), mas não pela insolvênciaou falência do devedor cedido, salvo es-tipulação em contrário;
c) podem ser opostas ao cessionárioas exceções pessoais contra o cedente.
Casos:1) endosso tardio;2) venda de título de crédito;
3) quando em pacto adjeto assimse estipula;
4) quando o endosatário de títuloendossado por endosso-penhor for à fa-lência, o endossador pode pagar o título àmassa, mediante a sua devolução.
Não o fazendo, o síndico o aciona-rá, podendo vender o título em leilão.
Nota: a massa falida não respondepela solvência dos coobrigados no título.Os devedores devem ter ciência davenda(art. 279 do Código Comercial.
5) letra não a ordem (art. 11, al. 2°e proibição de novo endosso (art. 15, al.2° da Lei Uniforme de Genebra.
A segunda é a cessio pro solvendoem que o cedente garante a bonitasnominis, ou seja, obriga-se a pagar, seo debitor cessis for insolvente; tambémé possível uma cessão em que o cedentese responsabilize pelo pagamento, casoo devedor não o efetue.
Segundo essa figura o cedente nãoresponde por mais do que recebeu docessionário, com os juros respectivos.
Deve responder, outrossim, ao re-embolso ao cessionário pelas despesascom a cessão e à cobrança da dívida.
Essa garantia contra o risco de in-solvência do devedor cessa se a realiza-ção do crédito não se der, em conseqü-ência da negligência do devedor em ini-ciar ou prosseguir na execução e a res-ponsabilidade do cedente não pode seragravada ainda que se dê a sua aquies-cência, pois do contrário perderia sen-tido de garantia (cf. Orlando Gomes op.cit ps. 242/243). Na transferência docrédito por força de lei o credor originá-rio não responde pela realidade da dívi-da, nem pela solvência do devedor ( Art.1.076 do diploma civil de 1916).
Diz Pontes que a mesma regra doart. 1.073 aplica-se à dação de chequecom endosso ou pela tradição, se ao por-tador.
Observe-se que, no que concerneao cheque de valor acima de R$ 100,00é vedada a emissão ao portador.
No caso, extingue-se o título se ocredor aceitou recebê-lo em lugar dopagamento, ficando bem claro que a
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dação de cheque tem o caráter de daçãoem soluto e não cessão em soluto, emuito menos a cessio solvendi causa.
Esta ocorre no caso de cláusulaexpressa de assunção de dívida solvendicausa.
Se houve cessão, o devedor cedenteé responsável ao credor pela existênciado crédito ao tempo da cessão, ainda quenão haja responsabilidade por isso (art.1.073, 1ª parte), porém não pela solvên-cia do devedor cedido, salvo estipulaçãoem contrário (1.074).
Quando o cheque é dado com firmaalheia, é caso de dação em soluto.
Cessio solvendi causaÉ a transferência do título de co-
brança (para cobrar); quando alguémcede o crédito ao credor para que cobree fique, a título de pagamento, com oque foi cobrado. (Trat. Dir. Cambiário,IV, 1955, p. 205)
A extinção da dívida só se dá quan-do se recebe a quantia e na medida emque foi recebido, assumido pelo credor odever de diligência no cobrar. A entregade cambial pelo devedor é assunção dedívida (art. 299 do novo Código Civil), emlugar do pagamento e não da dação empagamento, salvo cláusula expressa.
É uma forma de cessão de direitoscom a peculiaridade de a dívida somen-te se extinguir quando se recebe o seuvalor na medida em que for recebido.
Cede-se o crédito para que seja co-brado e fique a título de pagamento como que for cobrado. Conseqüências: a) hámandato ínsito na transferência do tí-tulo; b) ocorre quando a cessão envolvepagamento de parte do título.
Art. 920O endosso posterior ao vencimento
produz os mesmos efeitos do anterior.Para o Decreto nº 2.044, art. 8° pa-
rágrafo 2°, o endosso posterior ao venci-mento tem os mesmos efeitos da cessãode crédito, redação idêntica à da Lei Uni-forme de Genebra, na primeira parte.
Nos termos do disposto no mesmo art.20 da Lei Uniforme de Genebra, o endos-
so posterior ao protesto por falta de paga-mento, ou tirado após o prazo para seefetuar o protesto, produz os mesmos efei-tos da cessão de crédito.
LETRA REFORMADA OU AMORTIZADA
Letra reformada é aquela quesubstitui outra de igual montante ou devalor inferior, com idênticas assinatu-ras, sem que tenha sido pagamento to-tal do numerário.
Tudo se passa como se efetivamen-te o devedor pagasse a primeira letra,obrigando-se em seguida ao pagamentode prestação cambiária idêntica. Não hánovação.
São os seguintes os casos de letrareformada:
a) reconstituição de título perdidoou destruído;
b) para diferir pagamento da obri-gação constante da letra renovada coma letra nova amortizou-se a antiga.
c) A relação subjacente é a mes-ma, a qual não se extinguiu.
d) Se ainda circula a letra antiga,quando renovada, se o portador da letraantiga perdeu o direito de regresso queesta lhe conferia, não pode invocar asubsistência da obrigação cambiária daletra nova, se estranho à operação dareforma. Há continuação da dívidaantiga.(Pontes de Miranda, op. cit. ed.Bookselleer, ed. 2000, p.157).
TÍTULOS DE FAVOR
As letras de câmbio têm como cau-sa econômica o crédito, logo, a causa serásempre o crédito aberto ou concedido.
Para Carvalho de Mendonça, as le-tras de favor não têm classificação jurí-dica, pois o favor consiste no negóciocambial. Na verdade, o favor consiste nainexistência da causa debendi.
Ora, todos os títulos de crédito de-vem ter causa, com a diferença de que,nos títulos abstratos, a causa não é le-vada em consideração, ao passo que nostítulos causais elas podem e devem serconsideradas.
Os títulos de favor, muitas vezes,envolvem casos de fraude, quando um
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comerciante, interessado em conseguircrédito, pede que outro lhe dê uma ga-rantia, ao emitir nota promissória ouavalizando títulos de crédito. No direitofalimentar, o abuso de responsabilidadede mero favor constitui crime falimentar(art. 186, IV do Decreto Lei nº 7.661/45);a nosso ver, o delito pode ocorrer na emis-são de um título fraudulento, tanto nocaso do saque de duplicata fria, quantona emissão reiterada desses títulos.
TÍTULO NOMINATIVO
Art.921O título nominativo é o emitido em
nome de determinada pessoa e, que, apar disso, a transferência se opera pormeio do registro no livro próprio da en-tidade emissora e só se completa apósesse registro.
A circulação do título nominativonão se faz pelo endosso como nos títulosà ordem, nem pela tradição, nos títulosao portador.
Segundo a mais moderna doutrina,consideram-se nominativos os títulosescriturais, cuja transferência verifica-semediante registro na entidade emissora.
No que concerne às açõesnominativas, elas são valores mobiliári-os, segundo dispõe o art. 2° da Lei 6.385de 1976, e a sua transferência ocorreno registro do livro de ações nominativasda sociedade anônima.
As ações escriturais criadas peloart. 34 da Lei nº 6.404/76, também con-sideradas valores mobiliários, despidasde certificado (cártula), têm a sua pro-priedade comprovada através do lança-mento efetuado pela instituição deposi-tária em seus livros, a débito da contade ações do alienante e a crédito da con-ta de ações do adquirente, à vista daordem escrita do alienante, ou de auto-rização ou de ordem judicial, em docu-mento hábil que ficará em poder da ins-tituição ou pela exibição do extrato deconta do depósito das ações escriturais(parágrafo 2° do mesmo artigo).
Os títulos nominativos são verda-deiros títulos de crédito, em virtude daorientação imprimida por Vivante (Riv.
di Diritto Commerciale, v. XI, 1913, p.437) e aceita com argumentos definiti-vos por Tulio Ascarelli.
Art. 922O art.922, exige que, no registro
do emitente do título nominativo, sejaeste assinado pelo proprietário e peloadquirente do título.
Art. 923O dispositivo introduziu o título no-
minativo endossável, inovação contida noelenco dos títulos de crédito, com altera-ção da sistemática reinante na legisla-ção sobre esses títulos, designadamentena Lei Uniforme de Genebra.
Restringiu o artigo à hipótese deendosso em preto, no qual figura o nomedo endossatário.
Parágrafo PrimeiroNos termos do capitulado no art. 13
da Lei Uniforme de Genebra, no título àordem, a validade do endosso em bran-co exige apenas a assinatura doendossador, ao passo que no endosso empreto é necessária a menção do nomedo endossatário.
No título nominativo, o endosso sóproduz eficácia perante o emitente depoisde feita a averbação no registro próprio.
Admite, ainda, o § 1° do art. 923, apossibilidade de o emitente exigir doendossatário a comprovação da autenti-cidade da assinatura do endossante.
Parágrafo SegundoO § 2° do mesmo artigo impõe uma
série de exigências que dificultam sobre-modo a circulação do título, em que oendossatário, para lograr a averbação noregistro do emitente deve obter: a) a provada autenticidade das assinaturas de to-dos os endossantes; b) que o endossatárioesteja legitimado por uma série regular eininterrupta de endossos.
Parágrafo TerceiroO § 3° do mesmo artigo permite ao
adquirente do título cujo original conte-nha o nome do primitivo proprietário, o
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direito de obter novo título em seu nome,com a exigência de que conste novo re-gistro do emitente nome do primitivo pro-prietário.
O problema ligado aos títulosnominativos endossáveis apresenta si-milaridade com as ações nominativasendossáveis, cuja história, segundo omagistério do Professor ModestoCarvalhosa, nos Comentários à Lei dasSociedades Anônimas, ed. 1997, Sarai-va, p. 168, adveio em nossa legislaçãodo Decreto nº 434 de 1891.
O Decreto Lei nº 2.627 de 1940aboliu esse tipo de ações, porque, se-gundo Trajano Miranda Valverde �elasnunca tiveram aceitação entre nós� (So-ciedade por Ações, v.1, p.173)
A Lei nº 6.404 de 1976 manteve asações endossáveis, depois abolidas pelaLei nº 8.021 de 1990, a qual alterou oart. 20 da primeira.
Por esta Lei a titularidade dasações endossáveis exigia: a) o endosso ea posse da ação; b) a averbação do nomedo acionista no Livro de Registro deAções Endossáveis e no próprio título.
Daí ter Carvalhosa, na p. 169 assi-nalado que a simples posse da ação en-dossada não bastava para legitimá-la emnome do endossatário, pela necessida-de atribuir legitimidade ao titular docertificado, a fim de exercer os respec-tivos direitos perante a sociedade, ouseja: "esta só reconhece como titular dosdireitos legais e estatutários do sócioaquele cujo nome estivesse inscrito nolivro próprio�.
Ocorre, dessa forma, uma inversãode ordem: não era somente a posse dotítulo mediante endosso regular que con-feria legitimação ao possuidor.
A legitimidade dependia também dainscrição nos livros da sociedade, so-mente daí decorrendo a qualidade doacionista.
A inscrição vale como declaraçãoconstitutiva dos direitos de sócio. O en-dosso somente produzia efeito entre aspartes (alienante e adquirente) e não,perante a companhia.
Os direitos reais ou quaisquer ou-
tros ônus que gravassem as ações, de-veriam ser averbados, não só nos livrospróprios da companhia, mas também noscertificados (art. 39 e 40).
Daí se conclui, pela lição do ilus-tre comercialista que a introdução dasações endossáveis não encontrou res-sonância nos meios jurídicos, em facedo entrave causado pela exigência doregistro no livro próprio.
O mesmo entrave aconteceu na leiitaliana, cujo art. 2.023 do Código Civilexigiu para a transferência da ação, nãosó o endosso, como o citado registro. Talfaculdade, aduz Carvalhosa, �no entan-to, não logra tornar a ação nominativaum título à ordem: continua sendonominativo, porque a eficácia da cessãoperante a companhia e terceiros não sóse produz com a tradição do título en-dossado, mas com o registro no livro pró-prio �(Brunetti, ci. v. 2, p. 137 eMessineo, I Titolo di Credito, cit. nº 395)(p. 170 da obra de Carvalhosa).
Com os títulos nominativosendossáveis previstos no novo Código Ci-vil, mutatis mutandis passa-se o mes-mo, ou seja, em virtude das dificulda-des criadas com a sua circulação, difí-cil será a aceitação deles nos meiosempresariais.
Finalmente, consoante lição contidana obra Novo Código Civil Comentado,coordenação de Ricardo Fiúza, ed. Sarai-va, 2002, p. 815, a emissão e a negociaçãodos títulos nominativos estarão restritasaos empresários e às sociedades empre-sariais no regime do novo Código Civil.
No que se refere ao § 3º deste arti-go, não vê o Dr. Antonio Mercado Juniormotivo para a emissão de novo título emnome do adquirente, pois o título origi-nal terá sempre o nome do proprietário(Of. Cit. p.132).
Art. 924Os títulos nominativos e endossáveis
não são aceitos na legislação sobre títu-los de crédito em geral e, muito menos asua transformação em títulos à ordem eao portador, com as características pre-vistas no novo diploma legal.
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Art. 925De uma leitura do dispositivo po-
der-se-ia chegar à conclusão de que oendosso dos títulos nominativosendossáveis não tornaria o endossador(em preto) solidariamente responsávelpela dívida constante do título, por forçade sua desoneração, consoante sedepreende da leitura do art. 925.
O problema envolve o fato de se sa-ber se o endosso em tais títulos vinculaou não o endossante, ao contrário do queconsta da regra contida no art.15, alí-nea primeira da Convenção de Genebra.
Art. 926Este dispositivo está de acordo com
os artigos 921 e 922, pela exigência deregistro da transferência do títulonominativo no registro próprio, comoacontece com as ações nominativas, emque a validade e eficácia da transferên-cia de uma ação depende do registro nolivro de ações nominativas (art. 31 daLei nº 6.404/76).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O capítulo referente aos títulos decrédito no texto do novo Código Civil con-tém várias imperfeições, já analisadaspelos Drs. Professores Rubens Requião eFábio Konder Comparato, infelizmentenão acolhidas pela Comissão do Congres-so Nacional que examinou a matéria.
Em nosso entender, achamos me-lhor que o Congresso Nacional aguardas-
se, pelo menos, um ano para melhor ree-xaminar a redação do novo diploma civil,a fim de suprir as notórias deficiênciasnele encontradas, designadamente naparte referente ao Direito Comercial.
De qualquer forma, cumpre-nos fi-xar algumas regras na interpretação dotexto em exame:
1o) No conflito entre uma normacontida em lei extravagante e o novo Có-digo Civil, nos termos do disposto no art.903 deste deve prevalecer a primeira;
2o) Continuam em vigor os disposi-tivos referentes aos títulos de crédito,tratados neste capítulo. Assim, a LeiUniforme de Genebra, a Lei Cambiáriade 1908, a legislação sobre títuloscambiariformes, sobre as cédulas de cré-dito, de conhecimento de depósito ewarrant, sobre letra de câmbio imobili-ária e cédula de crédito imobiliário e,em resumo, toda a legislação referenteaos títulos de crédito.
3o) Nos casos de conflito de leis notempo e no espaço, tendo em vista o fatode a nova legislação não dispor de Lei deIntrodução, teremos de enfrentar sériosproblemas em Direito Comercial; contu-do, no que concerne aos títulos de crédi-to, cabe aplicar-se a Lei Uniforme deGenebra, referente ao Direito Internaci-onal Privado, nas Convenções sobre Le-tra de Câmbio e Nota Promissória e so-bre os cheques, convenção, a nosso ver,não foi revogada, por força do disposto no
art. 63 da Lei nº 7.357 de 1985..