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16 Tubo & Cia www.cipanet.com.br Atestando a qualidade de tubos condutores tubo & cia matéria de capa CERTIFICAÇÃO É COMPULSÓRIA PARA ESTRUTURAS DE AÇO E FERRO DESTINADAS À CONDUÇÃO DE FLUIDOS POR BRUNO SIMON | [email protected] FOTOS DIVULGAçãO E OSIRIS BERNARDINO

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Descrição de tubos e ensaios relacionados a ele.

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Atestando a qualidade de tubos condutores

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CERTIFICAÇÃO É COMPULSÓRIA PARA ESTRUTURAS DE AÇO E FERRO DESTINADAS À CONDUÇÃO DE FLUIDOS

Por BRUNO SIMON | [email protected]

Fotos DIvUlgaçãO e OSIRIS BeRNaRDINO

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A certificação é o único meio existente para atestar que um produto respeita padrões mínimos de qualida-de e segurança. Na indústria de tubos e acessórios brasileira, apenas tubos de aço e conexões de ferro maleável são obrigados a apresentar certifica-ção para serem comercializados. Nes-se caso, a certificação garante que os tubos e conexões são estanques e não permitem a passagem do líquido ou gás conduzido para o meio exterior e que apresentam características físico-químicas tais que não sofrerão com corrosão e nem acarretarão riscos de contaminação. De acordo com Fla-vio Paiva, CEO da IPC Brasil, mul-tinacional fabricante de conexões, e secretário-geral da Associação Bra-sileira de Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei), a certificação traz como benefício adicional a promoção da competitivi-dade entre as empresas na busca pela qualidade, elevando o nível dos pro-dutos em geral.

As certificações existentes para esses tubos de aço baseiam-se em normas brasileiras ou internacio-nais reconhecidas no Brasil. Entre as normas brasileiras estão a ABNT NBR 5580, destinada a tubos de aço

carbono, com ou sem solda longi-tudinal, com ou sem revestimento protetor de zinco, para condução de água, gás, vapor e outros fluidos não corrosivos; ABNT NBR 5590, para tubos de aço carbono sem solda longitudinal, para altas tem-peraturas; ABNT NBR 6943, para roscas de ferro maleável tipo NBR NM ISO 7/1 ou BSP; e ABNT NBR 6925, para conexões de ferro male-ável com rosca tipo NPT. Já entre as normas internacionais estão a DIN EN 10305, API 5L, API 5CT, ASTM A500, ASTM A53 etc.

Existem ainda certificações como a ABNT NBR 5597 e ABNT NBR 5598, para eletrodutos, e as normas de tubos estruturais (ABNT NBR 8261) e de tubos de precisão (ABNT NBR 6591), mas essas não são compulsórias.

Para obter a certificação de seus produtos, as empresas devem passar por auditoria dos órgãos competentes e enviar amostras da produção para a realização de testes e ensaios, que de-vem ser executados em laboratórios

acreditados pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia e Qualidade Industrial). Só após a análise de do-cumentações e aprovação nos testes os produtos estão liberados para co-mercialização, recebendo autorização para terem gravadas no próprio corpo a norma a que atendem.

De acordo com Flávio Paiva, a certificação dos tubos é essencial para a segurança das operações que os utilizam, mas os custos relativa-mente mais altos dos produtos cer-tificados podem estimular alguns consumidores a buscarem alterna-tivas aparentemente mais econômi-cas. “O mercado marginal encontra, não raro, produtos sem galvaniza-ção, recuperados ou com especifi-cação e rastreabilidade não garanti-das como a alternativa mais barata e perigosa para o consumidor.”

Segundo o secretário da Abimei, o problema maior é que nem sem-pre a fiscalização consegue evitar que esses produtos de qualidade duvidosa cheguem ao mercado: “A fiscalização do Inmetro fica sem

Flavio Paiva: certificação eleva o nível da indústria

Tubos certificados segundo a norma ABNT NBR 5590 e 5580

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chances de verificar, por exemplo, se um tubo preto, após sua galvani-zação, possui ou não selo de confor-midade do Inmetro ou alguma outra identificação que possa garantir sua rastreabilidade. Problemas que de-vem ser corrigidos com a revisão das normas e regulamentos e com registro de objeto”.

Segundo Fernando Milton Preis-ler Junior, gerente de desenvolvi-mento de produtos da Tuper, a in-dústria de tubos sofre bastante com a ação de empresas inidôneas: “as empresas sérias fazem tudo confor-me a lei, investem em equipamen-tos modernos, implantam controles de qualidade, absorvem altos custos para obter as certificações e passam a enfrentar a concorrência desleal de empresas que fornecem produtos sem certificação. Este, sem dúvida, é o maior obstáculo do setor.”

PROceSSO De ceRtIfIcaçãO

Flavio Paiva explica que o pro-cesso de certificação é regulado pelas portarias do Inmetro relativas a cada produto, por meio dos Regulamen-tos de Aprovação da Conformidade (RAC) e pelos Procedimentos Espe-cíficos (PE). “Recentemente, também estão sendo introduzidos pelo Inmetro, com mais frequência, os Regulamen-tos Técnicos da Qualidade (RTQ), que servem para estabelecer critérios e fixar as exigências normativas espe-cíficas, além de oferecer os preceitos normativos nos casos de inexistência de norma para o produto ou quando as normas estão obsoletas”, acrescenta.

No caso dos tubos de aço, a Portaria 015/2009, com seu RAC e o PE 054, é que regula o processo de certificação dos produtos. Já no caso das conexões, existe a Portaria

160/2005 com o RAC e os PEs 012 e 024. “Apesar da quantidade de si-glas, constata-se que os programas da melhoria da qualidade do Inme-tro têm cumprido sua função e, de quebra, harmonizam os interesses de cada setor industrial, por mais com-petitivo que esteja”, pondera Paiva.

Para solicitar a certificação de seus produtos, o fabricante ou im-portador deve, em primeiro lugar, selecionar um Organismo de Ava-liação de Conformidade (OAC) a partir de lista disponibilizada no site do Inmetro e enviar um conjunto de documentos referentes à linha de produtos e ao Sistema de Gestão da Qualidade para análise. No Brasil, a ABNT e a BVQI são os OACs dis-poníveis parar conduzir processos de certificação NBR 5580 e 5590.

Depois da seleção, o OAC esco-lhido designa um técnico para audi-

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tar as plantas do fabricante e coletar as amostras que serão enviadas para testes. Após essa etapa são feitos os ensaios que complementam a ava-liação inicial. Esses ensaios devem atender aos requisitos descritos no RAC específico do produto. “As in-formações obtidas nas etapas ante-riores devem ser encaminhadas para a Comissão de Certificação do orga-nismo, que realiza a última análise, dessa vez documental, a par dos da-dos da auditoria. A comissão, então, recomenda, ou não, a certificação”, explica Paiva.

Após a recomendação, o solici-tante recebe a certificação do OAC e autorização para uso do Selo de Identificação da Conformidade do Inmetro.

Paiva explica que para manter a certificação a empresa recebe acom-panhamento periódico do OAC. “As avaliações acontecem na planta da fábrica e no mercado. Inexistindo não-conformidades, ou depois da análise e verificação da eficiência do tratamento das não-conformidades detectadas na etapa de acompanha-mento, a certificação é revalidada.”

Os custos dos processos de certi-ficação são referidos pelos fabrican-tes como um dos grandes problemas do setor. Segundo Rafael Tobias, por exemplo, gerente de fabricação de tubos da Tubos Ipiranga, não é inco-mum que o processo de certificação seja mais dispendioso que a matéria-prima somada ao custo operacional de produção.

Flavio Paiva explica que o pro-cesso é dispendioso porque, além dos custos do processo e da contrata-ção do organismo certificador, a em-presa também necessita de uma es-truturação técnica e administrativa. “A criação de um setor específico

ceRtIfIcaçãO PaRa tUBOS De PRfv

também existe certificação para tubos de PrFV (plástico reforçado com fibra de vidro) para a condução de líquidos. Embora não seja compulsória, a certificação para esses tubos é indispensável em aplicações críticas, como as da companhia de saneamento básico do Estado e são Paulo, a sabesp.

No Brasil, tubos de PrFV podem ser cer- tificados em conformidade à norma NBr 15536, criada em 2007. Entretanto, de acordo com Fernado Luis Masiero, gerente comercial da o-tek, fornecedora de tubos de PrFV para a sabesp, a norma brasileira é bastante genérica e não apresenta requisitos tão estritos quanto os das normas estrangeiras. “Por isso, a o-tek segue as normas internacionais, principalmente a WWA e a AstM. Existem outras normas também, mas são apenas derivações ou variações simples dessas, que são as principais.”

Apesar de seguir normas internacionais, Masiero garante que os tubos de PrFV produzidos pela o-tek atendem a todas as especificações da NBr, já que a norma brasileira está contida nas estrangeiras.

Justamente em função da norma brasileira não ser tão exigente quanto as internacionais, Masiero explica que a Associação Latino-Americana de Materiais Compósitos (Almaco), fundada em 2011, tem como um de seus objetivos atuais elevar um pouco o nível das exigências da NBr 15536. “Criou-se um programa setorial, junto a um órgão do Governo, que é o Ministério das Cidades, para se elevar a padronização dos tubos, com o objetivo de facilitar a inscrição das empresas em processos licitatórios.”

Devido à dificuldade relativa às normas, Masiero explica que desenvolver um meio de se atestar o alto padrão de qualidade dos tubos é fundamental para que uma empresa se torne fornecedora de produtos para grandes projetos no Brasil. Assim, a mesma Almaco criou seu próprio selo de qualidade, que atesta que os tubos que o exibem estão em conformidade com as normas internacionais. “os testes são feitos em um laboratório acreditado e o selo é um bom atestado de qualidade os tubos. A o-tek tem o selo da Almaco desde dezembro do ano passado.”

A sabesp, por exemplo, assim como outras empresas do setor público, criou seus próprios padrões de qualidade. Para ser fornecedora, a empresa precisa do Atestado de Capacitação técnica (ACt), que também se baseia em normas internacionais.

segundo Masiero, a sabesp acompanha de perto o processo de obtenção da certificação dos fornecedores, principalmente a fase de testes: “o principal teste é o HDB, que mede o envelhecimento da estrutura ao longo do tempo. Ele é realizado através de uma simulação do desempenho de pressão ao longo de 50 anos. só nossos tubos passam nesse teste, hoje”.

Uma dificuldade para a obtenção da certificação estrangeira no Brasil é que não se encontram laboratórios acreditados no país para a realização de certos testes, como o próprio HDB. A alternativa, portanto, é buscar laboratórios internacionais.

o gerente da o-tek explica que, para obter a certificação segundo a WWA, são necessários ainda testes como os de ataque químico à resina do tubo e testes de deformação e alongamento, entre outros. são testes relativamente caros, mas que, segundo Masiero, diferenciam a empresa no mercado. “Hoje, a o-tek investe cerca de 2% do faturamento bruto nos processos de certificação.”

Tubo de PRFV da O-tek. Crédito: O-tek

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para tratar as reclamações de clien-tes é uma das medidas necessárias.”

Além dos custos mensais de ma-nutenção da certificação, o proces-so envolve também despesas anu-ais com o OAC e com o Inmetro já que as auditorias devem ser refeitas periodicamente. “Essas despesas englobam análises laboratoriais fre-quentes, honorários de auditores, custeio de viagens de auditores e de equipe de técnicos, além de trans-porte de amostras, muitas vezes in-tercontinentais”, esclarece Paiva.

teSteS e eNSaIOS

De acordo com Ederson Pereira Américo, supervisor do laboratório da Tuper, as normas para fabricação de tubos requerem que os produtos sejam avaliados por intermédio de ensaios destrutivos e não-destruti-vos, podendo esses últimos ser re-alizados por método eletromagné-tico ou por ultrassom. “Os métodos destrutivos variam de acordo com a norma do produto e podem incluir ensaios de alargamento, achatamen-to, tração, flexão, dureza, impacto, análise de composição química e avaliação da microestrutura dos aços utilizados e da região de soldagem para os tubos produzidos com solda. Tubos de condução de fluidos tam-

bém são submetidos a teste de pres-são hidrostática conforme os requi-sitos da norma de fabricação ou do projeto do cliente”, explica.

Ederson firma ainda que é im-portante as empresas manterem la-boratórios próprios, com o objetivo de realizar alguns testes e ensaios antecipadamente, verificar a con-formidade dos produtos à normas e agilizar o processo de certificação: “laboratório próprio faz toda a di-ferença, pois torna os processos de inspeção e liberação de produtos muito mais ágeis, facilitando a re-alização de ensaios específicos ao longo do processo de produção e também para a liberação de produ-tos acabados.”

Os testes e ensaios realizados em laboratório próprio servem ainda como forma de garantir a qualidade e homogeneidade tanto das matérias-primas como dos produtos. “Não há obrigatoriedade de manter laborató-rios dentro da própria fábrica, mas torna-se, muitas vezes, mais oneroso

não tê-lo”, afirma Flavio Paiva.Segundo João Groth, diretor da

Nacional Tubos, manter laboratório próprio evita surpresas desagradáveis: “Eu faço os ensaios aqui no meu la-boratório, mas obviamente não posso

certificar meus próprios produtos. Só faço isso para ficar tranquilo e saber que meu produto vai atender a norma.”

Para Groth, apesar de os testes para certificação serem de execução relativamente simples, os preços co-brados pelos laboratórios acredita-dos são bastante altos, o que é uma das grandes queixas do setor: “No caso das normas ABNT NBR 5580 e 5590, por exemplo, só existe um laboratório acreditado para a reali-zação de testes no Brasil. Isso é um problema porque se só há uma op-ção, não há concorrência, e o preço acaba ficando elevado demais.”

Groth explica que chega a investir R$ 50 mil anuais com os processos de certificação de produtos, que além de caros, são demorados. “A Nacional Tubos, por exemplo, foi auditada em setembro do ano passado e a certifica-ção ainda não saiu até hoje (fevereiro de 2014). E enquanto a certificação não sai, a empresa não pode vender produtos na norma. Para a empresa, é um prejuízo muito grande ficar todo esse tempo esperando.”

Rafael Tobias, da Tubos Ipiranga

João Groth, da Nacional Tubos: custos dos testes são elevados

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Teste de Eddy-Current

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Flavio Paiva confirma o problema detectado por Groth: “Hoje, no Bra-sil, há carência de laboratórios acre-ditados pelo Inmetro para os escopos de tubos de aço e de conexões ferro maleável, e a falta de competitividade faz crescer os custos de certificação”.

No Brasil, a Concremat é o único laboratório acreditado para realização de ensaios e testes vi-sando a certificação conforme as NBRs 5580 e 5590. Segundo Celina Yokoyama, gerente operacional e chefe do laboratório da Concremat, as amostras para testes chegam, normalmente, via ABNT, e os re-sultados ficam prontos em 15 dias

úteis. “Mas depende, porque o labo-ratório tem grande demanda. Se nos encaminham muitas amostras em uma mesma época, aí demora um pouquinho mais.”

Os testes realizados pelo labo-ratório vão desde análises visuais à verificação da espessura e uniformi-dade do revestimento: “A análise do revestimento é importante porque, muitas vezes, a massa do revesti-mento está conforme o estabeleci-do pela norma, mas a uniformidade pode estar defasada. Você pode ter acúmulo de revestimento em certas áreas e escassez em outras, e esse problema precisa ser sanado.”

E é justamente no revestimento que está o maior problema dos tubos testados pela Concremat. Mas, de acordo com Celina, são problemas pontuais que podem ser facilmente resolvidos. A gerente da Concremat diz que, em geral, a qualidade dos tubos ensaiados é boa. “Eu diria que 80% dos tubos que a gente testa pas-sam nos testes e ensaios e ganham a recomendação para certificação.”

RevISõeS e MelhORIaS

De acordo com Flávio Paiva, um dos pontos mais fracos do sistema de certi-ficação de tubos é a fiscalização: “Falta um conjunto regulatório que assegure em 100% a rastreabilidade, tanto para os tubos de aço, quanto para as conexões de ferro maleável.”

Entretanto, a boa notícia é que está em curso a revisão de algumas normas, como a NBR 6943 e a NBR 6925. As respectivas portarias também devem ser republicadas, já com um cuidado maior em relação à rastreabilidade e ao registro de objeto. “É um inovador sistema do Inmetro para facilitar o monitoramento da conformidade e consequente fiscali-zação”, explica o secretário da Abimei.

De acordo com Fernando Milton Priesler, outra medida que poderia ser to-mada para elevar a qualidade dos produ-tos em geral é a criação de novas certifi-cações compulsórias, aproveitando, por exemplo, o lançamento da nova “norma técnica para projetos e estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concre-to de edificações com perfis tubulares”. “Nessa norma são referenciadas algu-mas normas de produtos, como ABNT NBR 8261, que é utilizada para tubos de aço estrutural. Nesse caso, poderia haver uma mobilização para torná-la uma nor-ma compulsória, colocando dessa forma um produto com maior qualidade e se-gurança nas obras.”

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Celina Yokoyama, da Concremat

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Tubo da Nacional Tubos em processo de produção

Teste em tubo de aço conforme norma da ABNT.

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