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UFRRJ INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E SOCIEDADE MONOGRAFIA Associação de Produtores de Maquiné - RS SILVINO WICKERT 2002

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UFR RJ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

DESENVOLVIMENTO, AGRICULTURA E

SOCIEDADE

MONOGRAFIA

Associação de Produtores de Maquiné - RS

SILVINO WICKERT

2002

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO,

AGRICULTURA E SOCIEDADE

ASSOCIAÇÃO DE PRODUTORES DE MAQUINÉ - RS

SILVINO WICKERT

Sob a Orientação do Professor

Nelson Giordano Delgado

Monografia submetida como requisito

parcial para obtenção do diploma de

Pós-Graduação Lato Sensu em Desenvolvimento,

Agricultura e Sociedade

Cpda, RJ

Novembro de 2002

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO,

AGRICULTURA E SOCIEDADE

SILVINO WICKERT

Monografia submetida ao Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e

Sociedade como requisito parcial para obtenção do diploma de Pós-Graduação Lato

Sensu em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade

MONOGRAFIA APROVADA EM 29 / 11 / 2002

Nelson Giordano Delgado (Ph.D.) CPDA/UFRRJ

(Orientador)

Nelson Giordano Delgado (Ph.D.) CPDA/UFRRJ

Silvana de Paula (Ph.D.) CPDA/UFRRJ

Nora Beatriz Presno Amodeo (Ph.D.) REDCAPA

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIAÇÕES ......................................................................................... V

LISTA DE QUADROS ................................................................................................. VI

RESUMO ..................................................................................................................... VII

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

1 IMPLANTAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO ..................................................................... 3

1.1 Caracterização da Região ....................................................................................... 3

1.2 Caracterização do Município ................................................................................. 3

1.3 Papel do Estado e suas Políticas na Implantação ................................................. 9

1.4 Lideranças Locais no Processo ............................................................................. 15

1.5 Estrutura de Organização, Gestão e Participação dos Associados na Gestão e

nos Resultados ....................................................................................................... 18

1.6 Conflitos Surgidos e seus Efeitos sobre a Capacidade da Associação ser Gerida

e Influenciar a Situação Local ............................................................................. 21

2 RESULTADOS ......................................................................................................... 23

2.1 Impacto da Associação sobre a Agricultura e os Agricultores Locais .............. 23

2.2 A Associação foi "Bem Sucedida" ou Não? O que Caracteriza o "Sucesso"?

Quais as Razões do "Sucesso"? ........................................................................... 28

2.3 Que se Pode Aprender com a Experiência Associativa de Maquiné? Em que

Aspectos ela Pode Servir de Referência para Outras Experiências Associativas

no RS? .................................................................................................................... 30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 32

ANEXOS ....................................................................................................................... 34

Anexo A - Número de Produtores, Área Ocupada (ha), Produção Anual e

Produtividade por ha das Principais Culturas Hortigranjeiras do

Município em 1997...................................................................................... 34

Anexo B - Quadro Social e Participação em Assembléias Gerais: 1977-2002. ....... 35

Anexo C - Reuniões de Diretoria: 1977-2002 ............................................................. 36

Anexo D - Horas Trabalhadas e Número de Tratores: 1977 - 2002. ....................... 37

Anexo E - Índice Social Municipal Ampliado - ISMA dos Municípios de Maquiné e

Osório ........................................................................................................... 38

Anexo F - Relação Patrimonial da Apsat Maquiné em 30.06.2002. ......................... 39

Anexo G - Número de Apsats no RS. .......................................................................... 40

L IST A DE A BRE VI A ÇÕES

APSAT: Associação de Prestação de Serviços e Assistência Técnica

SAA: Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento

EMATER/RS: Associação Rio-grandense de Assistência Técnica e Extensão Rural

ASCAR: Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural

ADERE: Associação para o Desenvolvimento Rural de Estrela

PRONAF: Programa Nacional de Apoio ao Desenvolvimento da Agricultura Familiar

RS RURAL: Programa de Desenvolvimento da Agricultura Familiar do RS

RS: Rio Grande do Sul

SC: Santa Catarina

ISMA: Índice Social Municipal Ampliado

FEE: Fundação de Economia e Estatística do RS

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

COREDE: Conselho Regional de Desenvolvimento

L IST A DE Q UA DR OS

Quadro 1 - Dados da População de Maquiné. ............................................................. 4

Quadro 2 - Estabelecimentos Rurais por Condição do Produtor. ............................. 5

Quadro 3 - Estrutura Fundiária de Maquiné. ............................................................. 5

Quadro 4 - Utilização das Terras. ................................................................................. 6

Quadro 5 - Principais Culturas por Número de Produtores e por Área Plantada. . 6

Quadro 6 - Uso de Tecnologia por Estabelecimento Rural. ....................................... 7

Quadro 7 - Uso de Equipamentos. ................................................................................ 7

Quadro 8 - Maquiné: Composição Percentual do PIB Municipal, Regional e

Estadual. ...................................................................................................... 8

Quadro 9 - Índice Social Municipal Ampliado - ISMA de Maquiné, do COREDE e

do Estado - 1998. ......................................................................................... 8

R ES U MO

WICKERT, Silvino. Associação de Produtores de Maquiné - RS. CPDA: UFRRJ,

2002. 128p. (Monografia, Pós-Graduação lato sensu em Desenvolvimento, Agricultura

e Sociedade).

Este trabalho estuda o processo de formação e desenvolvimento da Associação de

Produtores de Maquiné - RS, através do Programa de Apoio à Formação de Associações

de Prestação de Serviços e Assistência Técnica (APSAT) de responsabilidade da

Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) do Rio Grande do Sul e da entidade

de extensão rural EMATER/RS, com o objetivo de analisar o processo de assimilação

de uma política pública pela comunidade beneficiada. Os resultados mostram que a

política pública deve estar fundamentada nas necessidades do público ao qual se destina

e dele requer participação ativa para garantir a sustentabilidade.

Palavras chave: política pública, associação de mecanização, sustentabilidade,

participação

I NT RO D U ÇÃ O

A organização de associações tem se constituído em uma das estratégias mais

tradicionais implementadas pelas famílias rurais para atingir objetivos comuns, sejam

eles de caráter social, econômico, religioso ou cultural; em muitas comunidades, até

representa um traço cultural. A iniciativa parte tanto de grupos de pessoas que buscam,

nas formas associativas, meios eficazes de proteção ou soluções para seus problemas,

quanto de instituições mais amplas, a exemplo de igrejas ou do estado que estimulam,

através de agentes mediadores, a viabilização de seus projetos e programas,

particularmente junto às populações de menor renda.

No tocante à agricultura familiar no sul do Brasil, as associações de fins

econômicos tendem a apresentar maior dificuldade de adesão pelos(as) agricultores(as)

do que as demais, possivelmente, por requerem negociação de interesses divergentes e

gestão de recursos comuns, o que pode gerar desconfianças, desentendimentos e

situações conflitantes entre os membros.

O tema "associativismo" é amplamente tratado nas literaturas nacional e

internacional, que acentuam sua importância como instrumento de promoção humana e

de desenvolvimento sócio-econômico, sugerindo que seja incluído entre as políticas

públicas. A constituição federal brasileira incluiu, a partir de 1988, a obrigação da

União de promover e apoiar as formas associativas e atribuiu às associações status de

órgãos de consulta para implementação de políticas públicas.

A associação de Maquiné resulta da implantação, em 1973, de uma política

pública do governo estadual a favor da agricultura familiar, denominada Programa de

Associações de Prestação de Serviços de Assistência Técnica - APSAT, inspirado na

Associação de Desenvolvimento Rural de Estrela - ADERE, uma experiência pioneira

de mecanização associativa, constituída, em 1971, entre os agricultores do município

gaúcho de Estrela.

Um dos municípios selecionados pelo programa foi Osório, que indicou o

distrito de Maquiné para implantar a associação. Esta localidade é banhada pelo rio do

mesmo nome, em cujas margens se estendem pequenas várzeas subdivididas em

pequenas propriedades familiares dedicadas ao cultivo de grãos e iniciando a produção

de hortícolas.

Através do Programa APSAT, o governo do estado se comprometia a

disponibilizar um técnico para cada grupo de agricultores que aceitassem constituir

associação nos moldes preconizados e a obter prioridade no atendimento creditício para

a compra conjunta de máquinas e equipamentos

A experiência associativa do grupo de agricultores de Maquiné vem passando

por transformações internas no processo decisório e será analisada em duas etapas: da

constituição, em 1977, até o início da década de 90 quando era marcante a influência do

agente externo no processo decisório; e, a partir dos anos 90, quando a associação vem

buscando sua autonomia decisória plena frente a agentes externos.

2

Sem ônus financeiro, a nova entidade contou com forte apoio do estado, através

da cedência de um extensionista que exercia a função gerencial da associação e prestava

assistência técnica aos associados. Ao longo do tempo funcionou como agente indutor

de mudanças ocorridas na comunidade, verificadas no sistema produtivo, no uso de

tecnologias, na organização da comercialização, na formação de lideranças e na

qualidade de vida dos moradores.

O interesse pelo tema está no fato de que o assunto se relaciona diretamente com

áreas de atuação da extensão rural vinculadas com o desenvolvimento de diferentes

políticas públicas cuja implementação pressupõe a organização dos beneficiários em

grupos ou associações e com as relações de poder que se estabelecem entre técnicos e

agricultores e entre dirigentes e associados. À medida em que a EMATER/RS definiu

voltar seus esforços para públicos específicos, o associativismo tornou-se estratégia

obrigatória no trabalho de cada extensionista.

O estudo aqui desenvolvido enfoca a análise das principais dificuldades de

gestão que ocorrem dentro da associação de agricultores familiares de Maquiné,

caracterizando as ações para sua superação.

Na década de 80, o Programa APSAT emprestou sua figura jurídica para novas

associações com objetivos diferentes da mecanização, tais como: armazenagem, criação

de suínos, de gado de leite e outras. No início dos anos 90, o Programa foi substituído

pelo Programa de Condomínios Rurais que, por sua vez, teve duração de 4 anos. A

partir de então, o programa perdeu prioridade e foi desativado em nível da SAA e

EMATER/RS, remanescendo apenas ações isoladas e tópicas. Os últimos dados

disponíveis sobre o conjunto das associações tipo APSAT e Condomínios Rurais datam

de 1997.

A Associação de Maquiné subsistiu ao programa de condomínios rurais e às

mudanças posteriores, por muito tempo com a presença do extensionista, depois, por

conta própria. Enquanto a grande maioria das associações congêneres desapareceram,

esta cresceu em número de associados e continua a atender interesses comuns de seus

membros.

O estudo foi desenvolvido através da revisão bibliográfica, do exame das atas

das diretorias e das assembléias da associação de Maquiné e da realização de quatro

entrevistas, sendo uma com o técnico responsável pela implantação e três com

dirigentes, sendo uma com o primeiro presidente e outra com o presidente atual da

associação.

Este trabalho foi elaborado para atender as exigências de conclusão do Curso de

Pós Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade do CPDA/UFRRJ,

realizado em parceria com a EMATER/RS.

1 I MPLA NT A ÇÃO DA A SSO CI A ÇÃ O

"A idéia que não procura tornar-se palavra é uma idéia inútil,

a palavra que não procura tornar-se ação é uma palavra inútil".

Chesterton

1.1 Caracterização da Região

O estado do Rio Grande do Sul, para efeitos de planejamento e participação

regional no orçamento estadual, está dividido em 22 Conselhos Regionais de

Desenvolvimento - COREDEs. Recentemente, houve desmembramentos, dando a

origem ao 23º Conselho. Maquiné integra o Conselho Regional Litoral, situado na parte

norte da orla marítima, constituído de 22 municípios, dos quais um foi instalado em

2001. Os dados do Censo do IBGE 2000, analisados pela Fundação de Economia e

Estatística - FEE/RS, apontam, para esta região, uma população total de 280.001, o que

representa 2,75% da população do estado apresentando um índice de crescimento

demográfico, no período de 1996-2000 de 3,20%, bem superior à média do estado

(1,39%). Oito municípios são balneários, destacando-se Tramandaí, Capão da Canoa e

Torres e outros dois destacam-se pela grande importância econômica: Osório e Santo

Antônio da Patrulha. Estes 5 municípios somam 59,02% da população regional, que

vive, predominantemente, nas cidades, apresentando um índice de 76,48% de

urbanização.

A participação da região na economia do estado, conforme a FEE/RS, é de

2,27%, atingindo o montante de R$ 1,6 bilhão. Sua composição setorial tem a seguinte

participação: agropecuário: 11,00%, indústria: 8,80% e serviços: 80,20%. O Produto

Interno Bruto por habitante atingiu, em 1998, o valor de R$6.192,00, inferior à média

do estado, que foi de R$7.186,00, no mesmo ano.

O Índice Social Municipal Ampliado - ISMA, calculado pela mesma Fundação,

mede a qualidade de vida da população. Resulta da média ponderada dos indicadores

renda, saúde, educação e condição de domicílio/saneamento, variando de 0 a 1,

distribuindo, neste intervalo, os municípios e a regiões pelas condições de vida,

variando das piores até as melhores. Em 1998, o ISMA do Litoral era de 0,53, abaixo do

estadual, que era de 0,55, ocupando o 9º lugar entre as 22 regiões congêneres.

1.2 Caracterização do Município

O município de Maquiné, situado no litoral norte do estado, emancipou-se de

Osório em 20 de março de 1992. Sua extensão é de 622 km2, situados

predominantemente nos contrafortes da Serra Geral, onde ela se debruça sobre a

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planície costeira. Caracteriza-se por montanhas, cujo ponto mais alto no município

atinge 900 metros, separadas pelo fértil vale do rio Maquiné que deságua nas lagoas que

se estendem na estreita planície da faixa litorânea. O clima é subtropical úmido e a

temperatura média anual é de 19,8º C. A latitude é S29º 54’ 48’’ e a longitude, W50º

19’ 06’’. A altitude da sede é de 32 metros no vale do rio, distante 3 km da Br 101, 30

km de Osório, centro polarizador e 20 da cidade balneária de Capão da Canoa.

A formação da Serra Geral data de, aproximadamente, 126 milhões de anos,

sendo de origem vulcânica. Suas camadas, com o tempo, se sedimentaram, dando

origem, entre outras matérias primas, areia, argila, cascalho e turfa.

A cobertura vegetal é a Mata Atlântica, originalmente rica em figueiras, angicos,

cedros, açoita-cavalos, canelas, timbaúvas, branquilhos, camboins, pinheiros, louros,

samambaias, ipês, etc., mas hoje está devastada, apresentando um lento processo de

recuperação natural e pequena substituição por espécies exóticas. Existe uma intensa

rede hidrográfica com vertentes, arroios e rios que nascem na Serra Geral e vão

desaguar no sistema de lagoas da faixa litorânea e, destas, para o mar, através do rio

Tramandaí. Nas encostas, predomina a cultura da bananeira e no vale, a horticultura.

A região do litoral norte do estado era habitada, originalmente, pelos índios tupi-

guaranis. No século XVIII, fixaram-se ali algumas famílias de origem portuguesa. O

estabelecimento de Antônio Leandro Alves é considerado como início da colonização

de Maquiné, que ali veio morar, em 1816, com sua família e escravos, procedente de

Laguna, SC. Em 1826, estabeleceram-se os primeiros colonizadores alemães e, em

1890, os primeiros colonizadores italianos. A localidade foi elevada a distrito (de

Osório) em 1913.

A seguir são apresentados diferentes dados que conformam melhor as

características da região e particularmente do município que é sede da associação objeto

do estudo.

O Quadro 1 indica os principais dados sobre a população do município de

Maquiné, registrados pelo Censo Demográfico do IBGE em 2000.

Quadro 1 - Dados da População de Maquiné.

Discriminação Habitantes %

Rural 5.379 73,65

Urbana 1.925 26,35

Total 7.304 100,00

Menos de 10 anos 1.292 17,60

Taxa de alfabetização - 89,10

Densidade demográfica 11,74 -

Fonte: IBGE - Censo 2000.

5

O Quadro 2, sobre a condição do produtor, mostra que 78% dos imóveis rurais

são explorados e administrados pelos proprietários e suas famílias, mas é expressivo o

número de estabelecimentos explorados por ocupantes e por arrendatários.

Quadro 2 - Estabelecimentos Rurais por Condição do Produtor.

Condição Estabelecimentos Área

Número % Hectares %

Proprietário 494 78,05 15.405 89,10

Arrendatário 57 9,00 462 2,67

Parceiro 19 3,00 160 0,92

Ocupante 63 9,95 1.264 7,31

TOTAL 633 100 17.291 100

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1995.

A estrutura fundiária do município, ilustrada com dados do INCRA, 1998,

apresenta forte concentração da pequena propriedade. O Quadro 3 mostra que mais de

30% dos imóveis estão na faixa de 0 a menos de 10 hectares. Na faixa de 0 a menos de

50 hectares, encontram-se 93% dos imóveis. Segundo o INCRA, as áreas exploráveis

representam 58,69% da área total dos imóveis cadastrados do município. Na

comparação dos quadros 2 e 3, chama atenção a diferença para menos do número total

de imóveis cadastrados pelo INCRA em 1998 e os levantados pelo IBGE em 1995/96 e

a diferença para mais das áreas exploradas com atividades agropecuárias nos dados do

INCRA em relação aos do IBGE.

Quadro 3 - Estrutura Fundiária de Maquiné.

Grupo de Área

em hectares

Estabelecimentos Área

Número % Hectares %

Menos de 10 186 31,10 948,3 4,18

10 a menos de 25 254 42,47 3.982,7 17,97

25 a menos de 50 121 20,23 4.206,6 18,98

50 a menos de 100 28 4,68 1.889,4 8,52

100 a menos de 200 5 0,84 620,0 2,80

200 a menos de 500 2 0,34 885,1 3,98

500 e mais 2 0,34 9.635,7 43,47

Sem declaração 0 0 0 0

Total 598 100 22.167,8 100

Fonte: INCRA - Estatísticas Cadastrais, Situação em 1998. Site: www.incra.gov.br.

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Com relação ao uso das terras, o Censo Agropecuário de 1995/96 do IBGE

constatou que, dos 62.200 hectares do município, apenas 17.291 eram explorados com

atividades agropecuárias, dos quais 2.530, com lavouras anuais e permanentes e

consideradas mecanizáveis, incluídas na várzea do rio Maquiné (ver Quadro 4).

Quadro 4 - Utilização das Terras.

Atividades Hectares

Número %

Lavouras 2.530 14,63

Pastagens 5.408 31,28

Matas 6.727 38,91

Lavouras sem uso 1.069 6,18

Terras Inaproveitáveis 1.557 9,00

Total 17. 291 100

Fonte: IBGE Censo Agropecuário de 1995.

O município é o principal produtor de hortigranjeiros do litoral norte do estado,

com uma área cultivada de, aproximadamente, 1.300 hectares. O Anexo 1 mostra o

número de produtores envolvidos, a área plantada, a produção e a produtividade das

olerícolas do município. O Quadro 5 destaca as 6 culturas mais expressivas, tanto pelo

número de produtores ocupados, quanto pela área plantada.

Quadro 5 - Principais Culturas por Número de Produtores e por Área Plantada.

Cultura Nº de Produtores Área Plantada (ha)

Alface 65 500

Beterraba 80 150

Cenoura 65 50

Couve-flor 135 180

Milho verde 110 330

Repolho 135 100

Fonte: Emater - Estudo de Situação de Maquiné.

Os dados dos quadros 6 e 7 indicam que o uso de tecnologias pelos agricultores

de Maquiné é acentuada e generalizada. No entanto, uma das práticas essenciais, que é a

conservação do solo, está merecendo menos atenção, o que talvez, explique a grande

necessidade de uso de adubos e corretivos e de controles de pragas e doenças observada

no município.

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Quadro 6 - Uso de Tecnologia por Estabelecimento Rural.

Tecnologia Estabelecimentos com uso de tecnologias

Número %

Assistência técnica 165 26,05

Adubos e corretivos 483 76,30

Controles de pragas e doenças 550 86,88

Conservação do solo 92 14,53

Irrigação 143 22,59

Energia elétrica 510 80,56

Total de Estabelecimentos 633 -

Fonte: IBGE Censo Agropecuário de 1995.

Quadro 7 - Uso de Equipamentos.

Itens Equipamentos

Existentes (Nº)

Média de Estabelecimentos

por Equipamento Existente

Tratores 222 2,85

Plantadeiras 8 79,12

Colheitadeiras 5 126,6

Caminhões 77 8,22

Utilitários 38 16,65

Total de Estabelecimentos 633 -

Fonte: IBGE Censo Agropecuário de 1995.

Relacionando-se a área de lavouras com o número de tratores, observa-se a

existência de uma surpreendente intensidade deste equipamento. Considerando somente

a área de lavouras ativas, tem-se a média de um trator para cada 11,40 hectares, e

somando-se aquela área com a de pastagens, a média é de 35,76 hectares por trator.

Estima-se que a metade dos 222 tratores seja constituída de micro tratores, mais

apropriados à prática da horticultura, concentrada numa área de 1.300 hectares.

No seu conjunto, os dados dos dois últimos quadros acima confirmam, em nível

local, o conceito que se tornou hegemônico com a modernização da agricultura, nas

décadas de 1960 e 1970, de que a origem das distorções no setor agrícola não era a

estrutura fundiária, mas sim, as técnicas e os processos tradicionais de uso da terra. Era

necessário, pois, intensificar o uso de tecnologias modernas (Amstalden, 1991).

O Quadro 8 mostra a posição do município na região e no estado, em termos de

PIB. Segundo dados da FEE, a participação do PIB do município no PIB do COREDE,

em 2000, era de 1,60% e deste, no estadual, era de 2,2%. Já o PIB municipal por

habitante, no mesmo ano, era R$3.479,00, o do COREDE Litoral, R$ 6.588,66 e o

estadual, R$7.646,33. O PIB por habitante de Maquiné mostra o nível de pobreza em

que se encontra o município, pois não atinge 50% do PIB por habitante do estado.

8

Quadro 8 - Maquiné: Composição Percentual do PIB Municipal, Regional e

Estadual.

PIB Maquiné Litoral RS

% % %

Agropecuária 19,04 11,00 13,46

Industria 6,47 8,80 36,66

Serviços 74,49 80,20 49,88

Total 100,00 100,00 100,00

Fonte: GOF- Gabinete de Orçamento e Finanças do Governo do RS e FEE/RS.

O Quadro 9 mostra o Índice Social Municipal Ampliado - ISMA e por

Indicador, justaposto ao da região e do estado. Observa-se que o ISMA de Maquiné é

menor do que o da sua região, que também é inferior ao do estado. Este último é 25%

maior do que o do município. De um conjunto de 467 municípios existentes em 1998,

Maquiné situava-se no 362º lugar. Entre os indicadores, a pior situação está com o das

condições de domicílio e saneamento que coloca o município em posição quase idêntica

à do ISMA no ranking estadual. Este indicador atinge 50% do mesmo indicador

regional e somente 41% do estadual. Por motivo inverso, chama atenção o indicador

"renda", que situa Maquiné no 47º lugar do ranking estadual, sendo 17% superior ao da

região e 22% maior do que o do estado. Este indicador, no entanto, está em flagrante

contradição com o PIB por habitante visto acima.

Quadro 9 - Índice Social Municipal Ampliado - ISMA de Maquiné, do COREDE e

do Estado - 1998.

Indicador Maquiné Ranking Litoral Estado

Condições de Domicílio e Saneamento 0,27 360 0,54 0,66

Educação 0,50 405 0,60 0,63

Renda 0,55 47 0,47 0,45

Saúde 0,45 195 0,52 0,47

Total (ISMA) 0,44 362 0,53 0,55

Fonte: FEE/RS.

A coluna do ranking do quadro acima mostra a posição de Maquiné em relação

aos demais municípios do Estado, em número de 467.

A elaboração da monografia baseou-se nas seguintes referências básicas: a) o

livro do engenheiro agrônomo alemão Peter Klingensteiner, intitulado "Utilização

supra-empresarial de máquinas e equipamentos agrícolas no sul do Brasil", que relata o

trabalho por ele iniciado em Estrela, em 1970, ampliado pela SAA/RS a partir de 1973 e

os resultados alcançados até 1986. É um manual de orientações práticas para a

constituição e funcionamento de associações de mecanização; b) diferentes documentos

e relatórios sobre o programa, arquivados na EMATER/RS; c) as atas das assembléias

gerais da Associação de Maquiné, ao longo de seus 25 anos de existência; d) entrevistas

9

realizadas pelo autor, em julho de 2002, com o técnico que trabalhou na associação

desde a primeira reunião com os agricultores sobre o tema até o ano 2000, quando se

elegeu prefeito do município e com o dirigente atual e com dois ex-dirigentes da

associação. As referências dos dois primeiros itens embasam os aspectos relacionados

com as características do programa, enquanto os dois últimos fundamentam as

caraterísticas e a prática da própria associação.

1.3 Papel do Estado e suas Políticas na Implantação

Nas regiões de colonização européia não lusitana no sul do Brasil, o

associativismo, caracterizado pela organização das famílias em torno da capela e da

escola, era um traço marcante dos imigrantes e seus descendentes. As famílias

encontravam-se nas capelas ou escolas erguidas nas picadas ou linhas para suas

manifestações religiosas, sociais e culturais. Ali faziam suas assembléias, prestavam

contas, discutiam e tomavam decisões, seja por consenso, seja por maioria dos votos.

Uma pessoa, um voto, era a máxima inquestionável. Ali se construía uma noção clara e

forte a respeito do bem comum, ao qual deveria submeter-se o interesse particular.

Roche (1969), caracterizando a vida destes colonos imigrantes e de seus

descendentes que colonizaram novas regiões no estado, afirma que, "no Rio Grande do

Sul, a vida dos agricultores imigrantes não era de nenhum modo favorável ao

desenvolvimento das individualidades, e impunha, pelo contrário, sua fusão nas

comunidades locais, como a família e os grupos de famílias da mesma picada ou da

mesma vila, as sociedades recreativas, culturais ou cultuais da mesma colônia, quadro

de um gênero de vida diferente dos outros rio-grandenses" (p.633). "Das associações,

algumas tinham fins espirituais ou educativos, outras visavam à beneficência e outras,

ainda, ao divertimento" (p.643). "Os imigrantes tiveram imediatamente o cuidado de

assegurar o ensino e a educação de seus filhos e de lhes transmitir seu próprio

patrimônio" (p.664). Protestantes e católicos organizavam suas capelas que inicialmente

também serviam de escola e integravam estas instituições em paróquias e dioceses.

Wilkinson (1996) também aponta para esta realidade ao afirmar que "a

imigração tomou a forma de ocupação via colonização que estabeleceu condições

relativamente igualitárias de acesso à terra em moldes que permitiu o florescimento de

uma tradição de policultura e uma propensão para o associativismo" (p. 107).

Este associativismo, florescente no campo comunitário, porém, não evoluiu

facilmente para o campo econômico. Todavia, nos casos onde isto se observou, a

experiência de lidar com o interesse comum foi valiosa para o êxito do empreendimento

associativo, o que se pode observar na entrevista do primeiro dirigente da associação em

estudo que declarou que a única experiência administrativa levada para a associação foi

a de ter sido presidente da comunidade da igreja.

Rambo (1988), descrevendo a organização das comunidades religiosas e

escolares dos agricultores da região colonial do sul do Brasil, reconhece que "as

comunidades locais eram autônomas, auto-suficientes, auto-administradas e

autogerenciadas no que diz respeito a quase tudo o que se relacionava com o dia-a-dia

10

do agricultor”. Afirma que o dia-a-dia dessa gente gravitava em torno de balizas

essenciais: a religião, a escola, a agricultura, a arte e as diversões. Em qualquer

comunidade, tanto na sede da paróquia como na sede das capelas, organizavam-se a

diretoria da igreja e a diretoria da escola, com a tarefa de zelar pela existência e

manutenção da infra-estrutura física e material necessária para o funcionamento local

destas instituições (p.15-17).

As últimas 4 décadas vêm demonstrando que a agricultura familiar nas área de

colonização está perdendo terreno no processo competitivo, em virtude da insuficiente

dimensão das propriedades, decorrente da pressão demográfica e do sistema de herança.

Esta perda da competitividade é mais acentuada nos contingentes de agricultores

individuais do que nos agricultores integrados em sistemas agroindustriais capitalistas

ou cooperativados. Wilkinson (1998), ao estudar as relações das agroindústrias

integradoras com a produção familiar, constatou que as agroindústrias processadores de

aves, suinos e leite são poderosas forças excluidoras de agricultores familiares, sendo

com maior intensidade as particulares do que as cooperativadas. Ao mesmo tempo,

porém, exercem forte atrativo sobre os produtores, principalmente, pela garantia de

mercado, com definição de margem de lucro.

As políticas agrícolas, baseadas nas diretrizes da revolução verde ou na

desregulamentação dos mercados, inviabilizam o acesso ao mercado primeiramente para

os contingentes de agricultores familiares individuais. No caso específico dos

produtores de leite, de acordo com Wilkinson e Mior (2000), sua "sobrevivência como

fornecedor de leite fluido exige iniciativas de adaptação que passam pela associação

entre produtores para a compra de tanques de expansão e equipamentos de ordenha, o

uso de pasto e a contratação de serviços de assistência técnica e de transporte" (p.40).

A pequena dimensão de área da propriedade familiar também causa dificuldades

de acesso ao crédito rural, cuja solução vem sendo buscada através de alguns programas

governamentais, como o PRONAF e o RS RURAL. Embora estes programas ainda não

consigam superar problemas como o da garantia do retorno e o de tornar produtivo o

crédito liberado, diante da falta de organização associativa dos tomadores, são, contudo,

considerados um avanço importante nas lutas da agricultura familiar.

O tamanho da propriedade na agricultura familiar, explorada isoladamente,

também dificulta o acesso às tecnologias recomendadas ou necessárias para o aumento

da produção e da produtividade como moto-mecanização, irrigação, práticas ecológicas

e tantas outras como a comercialização e a assistência técnica, que, aliadas aos aspectos

citados acima, tornam, por conseqüência, impossível a elevação da renda e a melhoria

das condições de vida das pessoas (Klingensteiner, 1986) .

O Rio Grande do Sul, por sua formação social e econômica, é uma região muito

rica em práticas associativas, desde o início da colonização européia não lusitana. No

associativismo econômico, foi marcante o papel do padre Theodor Amstad que, durante

a última década do século XIX, pregava, na região de colonização alemã do vale do Rio

Caí, a união dos pequenos produtores e o aumento da produção para atingirem sua

autonomia. Em 1900, seu trabalho pioneiro resultou na criação da Associação Rio-

Grandense de Agricultores, como entidade representativa e organizadora dos interesses

comuns dos agricultores como também na implantação de projetos de colonização e de

criação de cooperativas de crédito, de produção e de comercialização.

11

O padre Theodor Amstad iniciou, em 1902, a criação de mais de 20 cooperativas

de economia e crédito rural, de laticínios e banha. As cooperativas de crédito rural

recebiam as poupanças dos seus associados e as reaplicavam, na forma de empréstimos,

para outros associados necessitados, financiando a compra de terra, a construção e a

melhoria da habitação, a compra de ferramentas e utensílios para o trabalho e animais

de tração. Assim, agricultores familiares, associados daquelas cooperativas, puderam

trabalhar com crédito rural, 35 anos antes da criação da carteira de crédito industrial e

agrícola no Banco do Brasil, destinada a atender grandes produtores. Rambo (1988)

escreve que "uma das maiores dificuldades que acompanharam a colonização de Cerro

Largo (RS) e municípios adjacentes parece ter sido a falta de recursos para adquirir os

lotes à venda. Os pretendentes, na sua maioria eram jovens principiantes que, sem os

recursos necessários para adquirirem uma colônia de terra, recorriam a empréstimos da

cooperativa de crédito" (p.197). A experiência do crédito rural cooperativado foi

esmagada pela legislação bancária editada em 1964.

A criação de cooperativas agropecuárias, fomentada pelo governo estadual nos

anos de 1911 a 1913, não vingou. Entretanto são os estímulos do governo federal e a

edição de legislação específica, que fazem renascer e se difundir o cooperativismo de

comercialização dos diferentes segmentos produtivos do país. Em 1929, ressurgem, no

estado, as cooperativas vitivinícolas, e, nas décadas seguintes, organizam-se as de

carnes, lã, leite, tritícolas e outras. Todas têm em comum, por um lado, a forte

dependência do Estado, e, por outro, o atendimento, quase que exclusivo, das atividades

da porteira para fora da propriedade, como o transporte, o armazenamento, a

industrialização e a comercialização da produção, cumprindo o papel de mediador entre

a produção e o mercado. O pressuposto era de que as atividades da porteira para dentro,

dada a sacralidade da propriedade privada, eram de responsabilidade exclusiva do

agricultor associado (Klingensteiner, 1986).

Com o advento da revolução verde, as cooperativas agropecuárias também

cumpriram o papel de difusor da modernização, mediando os pacotes tecnológicos do

mercado para o produtor. Este processo, porém, favoreceu somente as cooperativas e os

produtores que se voltaram para a exportação. Os produtores que não acompanharam

este processo, viram-se alijados do mercado e, muitas vezes, das próprias cooperativas.

Em 1955, foi organizado, no estado, o Serviço de Assistência Técnica e

Extensão Rural, com a criação da Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural -

ASCAR, que incluiu em sua proposta de trabalho a denominada "organização rural",

como uma estratégia de abrangência de público.

PALMEIRA e LEITE (1998) consideram que, a partir de 1964, o estado

brasileiro utilizou-se, basicamente, de três instrumentos para promover a modernização

da agricultura no país: o crédito subsidiado, os incentivos fiscais e a transferência de

terras públicas. Dada a correlação de forças existente na ditadura militar, o processo de

modernização caracterizou-se pelo conservadorismo, sendo que, na prática, o primeiro

dos instrumentos beneficiou um pequeno número de tomadores, e os outros dois se

transformaram em grandes negócios especulativos de pequeno número de grandes

fazendeiros e grupos econômicos nacionais e estrangeiros.

Um dos aspectos do conservadorismo ficou evidenciado com a política de

tecnificação do latifúndio como única forma capaz de produzir quantidades que

12

pudessem atender a nova política de exportações e pela noção dominante de que o

minifúndio é inviável e que nunca seria capaz de produzir para a exportação. Assim, a

política de crédito subsidiado foi direcionada para a grande propriedade voltada para a

exportação que, além de substituir a mão de obra existente pela máquina, ainda teve,

através desta política, impulso para sua expansão (Amstalden, 1991).

A agricultura familiar no sul do Brasil e, particularmente, no RS ficou fora dos

incentivos fiscais e da transferência de terras públicas e, de certa forma, entrou

tardiamente no crédito rural oficial. Este era repassado para as cooperativas ligadas a

produtos de exportação que faziam a intermediação com os agricultores. As

cooperativas eram organizações de confiança dos produtores e contribuíram para vencer

o medo de perder a terra em eventual frustração de safra, ao mesmo tempo que

multiplicavam o alcance do trabalho das instituições financeiras.

Tanto os produtores que conseguiram produzir para o mercado exportador

quanto os que ficaram ligados ao mercado interno e, até mesmo, os que permaneceram

na subsistência sentiram a necessidade de diminuir custos e racionalizar o uso dos

fatores de produção para poderem continuar na atividade. Observa-se nisto tudo uma

atitude de aceitação das regras do jogo, talvez pela inexistência ou indisponibilidade de

soluções alternativas. Para estes últimos setores, o Estado procurou formular e

reformular planos e programas especiais, de caráter setorial, regional ou ambos

O INCRA, em seu projeto PIC Passo Real, ao assentar, em 1970, cerca de 500

famílias atingidas pelas águas da represa do Passo Real, no rio Jacuí, condicionou o

financiamento para a mecanização à formação de grupos de 8 a 10 famílias para a

compra de um trator e de 3 grupos para a aquisição de uma automotriz.

A mecanização intensiva compactou o solo e gerou erosão generalizada,

causando grandes prejuízos econômicos e enormes danos ambientais. Por outro lado,

possibilitou incorporar áreas novas ou ociosas e racionalizar o uso do tempo, trazendo

com isso, aumento da produção e da produtividade e abrindo espaços para novas

atividades dentro e fora da propriedade.

Grupos e parcerias informais, com todas as vantagens e desvantagens que lhes

são inerentes, começaram a surgir, principalmente, em torno da mecanização.

Certamente, para muitos produtores, foi este o único caminho para acompanhar o

processo de modernização e, dessa forma, continuarem na atividade e, para outros,

talvez, a maneira de poderem livrar a coluna do pesado e demorado trabalho físico com

tração animal.

Em 1971, foi criada a até hoje existente Associação para o Desenvolvimento

Rural de Estrela - ADERE, com estatuto registrado. Embora sua estrutura

organizacional interna fosse semelhante a de uma cooperativa, não adotou a forma

jurídica de cooperativa, começando a atuar da porteira para dentro da propriedade,

através da prestação de vários tipos de serviços de mecanização. A ADERE adquiriu

diversas máquinas e equipamentos em seu próprio nome para prestar serviços nas

propriedades dos associados, mediante pagamento da hora máquina trabalhada.

Mais especificamente, em 1969, a prefeitura municipal de Estrela firmou um

convênio com o Governo alemão pelo qual este país disponibilizou, em 1970, um

13

engenheiro agrônomo do Serviço de Voluntários Alemães, com conhecimento em

mecanização associativa, para trabalhar com pecuária leiteira no município e os recursos

iniciais para aquisição de um trator agrícola e de uma colheitadeira. Ao estudar o

sistema de produção e planejar a assistência técnica, verificou-se que não se poderia

obter qualquer melhoria da produção de leite sem que os produtores conseguissem

instrumentos de trabalho mais adequados para a produção intensiva de pastagens,

realizada até então com tração animal (Klingensteiner, 1986).

Visto que a aquisição de tecnologia mecanizada estava fora do alcance

individual da pequena propriedade descapitalizada, foi iniciado um trabalho de

conscientização dos agricultores sobre "a importância de uma cooperação mais direta e

da necessidade de uma união formalizada” que lhes proporcionasse condições de

substituir o pesado e lento serviço de tração animal pela moto mecanização. Além das

reuniões nas comunidades do interior do município, a Prefeitura, o Sindicato dos

Trabalhadores Rurais, a Escola Agrícola local e a EMATER disponibilizaram, como

demonstração para os agricultores, durante a primavera de 1970, uma colheitadeira para

o trigo e um trator com implementos para preparo do solo, que foram usados na forma

de prestação de serviços (Klingensteiner, 1986, p. 23).

Assim, em 29.05.1971, com a adesão de 18 agricultores foi fundada a

Associação para o Desenvolvimento Rural de Estrela – ADERE, com o objetivo de

prestação de serviços de mecanização e de assistência técnica. A pequena patrulha

mecanizada passou para a administração da associação, que encaminhou solicitação de

financiamento para aquisição de mais um trator. Em 1972, obteve recursos externos

para a compra de novos equipamentos para diversificar os serviços agrícolas. Isto atraiu

o interesse dos agricultores e permitiu aumentar o número de adesões para 61

associados, no terceiro ano de existência.

A partir da experiência da ADERE, considerada exitosa, a Secretaria Estadual da

Agricultura, instituiu, em 1973, o Programa de Apoio à Formação de Associações de

Prestação de Serviços e Assistência Técnica - Programa APSAT - para aplicar o

‘modelo’ da ADERE em outros municípios. Para tanto, o governo criou a

Coordenadoria do Programa na Secretaria da Agricultura e Abastecimento - SAA e

designou para a mesma dois engenheiros agrônomos. Para apoiar a criação e o

funcionamento de novas associações, o governo ainda firmou convênio com a

Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul – FETAG, através

do qual foi contratado e colocado à disposição de cada associação um técnico agrícola

com função de orientador, gerente e responsável pela assistência técnica aos associados.

Era preciso melhorar a assistência técnica ao produtor, pois de "nada adiantaria oferecer

mecanização sem aumentar a produtividade para poder pagar o custo da mesma"

(Klingensteiner, 1986). Também foi aberta, no Banrisul, linha especial de financiamento

para a aquisição de tratores e equipamentos agrícolas pelas associações. Os tratoristas e

operadores contratados pelas associações passaram a ser capacitados no Centro Estadual

de Mecanização da SAA, em Capela de Santana.

Em 1974, foram criadas duas novas associações, em Chapada e em Arroio do

Tigre e, em 1975, foi aberta uma filial da ADERE no município de Venâncio Aires,

próximo de Estrela, visando à utilização mais racional das máquinas disponíveis.

14

De acordo com o relatório de avaliação do programa, elaborado pela

coordenadoria, em 1978, a iniciativa da Secretaria da Agricultura, teve um retrocesso

meados de 1975, quando expirou o convênio com o Serviço de Voluntários Alemães.

As ações de coordenação e assistência técnica sofreram solução de continuidade, sendo

as associações abandonadas à sua sorte. "Desta falta de apoio e de coordenação,

surgiram vários problemas como a difícil situação financeira, desentendimentos na

administração, falta de operadores capacitados e, resultando disto, desinteresse e

desconfiança por parte dos agricultores" (Relatório SAA, 1978).

Um ano depois, através de outro convênio com o governo alemão, agora através

da GTZ (Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit), foi viabilizado o

retorno do mesmo técnico, para assessorar a reestruturação do programa e a capacitação

do quadro de pessoal da SAA (coordenação e técnicos do programa), criando, assim,

condições locais necessárias para a retomada e extensão do programa para outros

municípios. Inicialmente, buscou-se o resgate dos trabalhos anteriores e, em 1977,

foram criadas duas novas associações, uma em Maquiné, no litoral norte e a outra em

Tupanci, então município de São José do Ouro, no extremo norte do estado

(Klingensteiner, 1986).

Até o início da década de 1980, todas as associações ficaram restritas ao objetivo

da mecanização, mas, a partir de então, as novas associações foram se ajustando às

necessidades e demandas locais mais prementes dos agricultores. Nas décadas de 80 e

90 formaram-se APSATs de secagem e armazenamento, de criação de suínos, bovinos

de leite, de eletrificação rural, de fornecimento de água, de comercialização e outras,

mantendo sempre a mesma forma jurídica e o mesmo estatuto que sofria adaptações

quanto aos objetivos.

O fomento dado pelo poder público encontrou receptividade entre os

agricultores familiares. Em 1980, existiam 10 associações com 623 associados. Em

1985, 32 com 1339 associados e em 1990 havia 115 associações com 3.471 associados.

Os últimos dados gerais, disponíveis na EMATER/RS, indicam, no final de 1997, o

funcionamento de 185 APSATs com 4.085 associados, constituindo 12 tipos diferentes

pelo critério de objetivos, lideradas pela mecanização, com 61 entidades e 1961

associados (ver Anexo 7).

Segundo Wickert (1998), o governo estadual, em 1991, com base na experiência

das APSATs, lançou o Programa de Condomínios Rurais, adotando, inicialmente, a

mesma forma jurídica e organizacional, passando a desenvolver os mesmos objetivos do

Programa APSAT. De acordo com os mesmos dados da EMATER/RS, a extensão rural,

em 1997, além das 185 APSATs, trabalhava com 495 condomínios rurais, agregando

8.244 agricultores familiares, desenvolvendo 18 atividades diferentes. O FEAPER, a

partir de sua instituição, em 1989, tornou-se a principal fonte financiadora dos projetos

das APSATs e dos Condomínios Rurais.

15

1.4 Lideranças Locais no Processo

Por certo, a participação da FETAG na operacionalização do programa APSAT,

consubstanciada em convênio com a SAA, contribuiu para que as lideranças locais

buscassem a implantação de associações de mecanização previstas no programa. Tal

fato mostra o comprometimento da federação com a causa da modernização do

minifúndio através da mecanização.

No caso de Maquiné, foi o STR de Osório que solicitou à SAA estudar a

viabilidade da criação de uma associação desta natureza. Os técnicos da coordenação

estadual do programa analisaram o pedido e participaram das reuniões iniciais para

apresentar o programa e esclarecer as dúvidas levantadas.

Segundo informações colhidas nas entrevistas com o técnico e alguns

fundadores da APSAT Maquiné, compareceram cerca de 80 agricultores na primeira

reunião realizada com os representantes da SAA, no início de 1977. A expectativa do

STR e dos agricultores era de que o Programa disponibilizasse tratores e equipamentos

para quem aderisse à associação. Diante da informação de que a associação deveria

comprar as máquinas através de financiamento bancário, que o montante do

financiamento deveria ser reduzido com aporte de recursos próprios e que os

agricultores e esposas deveriam assinar como avalistas, a desistência foi generalizada. O

temor de investir dinheiro em empreendimento associativo e de que o aval bancário

pudesse resultar em penhora da propriedade foram grandes fatores de resistência dos

agricultores à adesão ao programa e ao crédito rural.

Também pesou nesta atitude, conforme opinião de um ex-dirigente e do técnico

entrevistados, a existência de uma imagem muito negativa entre os agricultores com

relação à organização, porque pouco tempo antes, havia sido fechada na localidade, uma

pequena cooperativa. Na opinião do técnico, o fechamento dessa cooperativa "interferiu

negativamente na criação da associação". Segundo ele, algumas pessoas presentes à

reunião diziam: "querem criar mais uma associação, mais uma cooperativa que vai dar

em nada, que também não vai dar certo", o que mostra o grau de desconfiança dos

agricultores sobre a proposta levada à reunião pelos técnicos. Ao mesmo tempo, sinaliza

que os erros presentes naquela entidade não deveriam repetir-se na nova. Neste sentido,

a manifestação não representaria uma restrição à estratégia associativa adotada para

solucionar um problema comum, mas sim, à forma de sua implementação.

Isto ficou aparentemente demonstrado por uma dezena de pessoas presentes que

concordaram com a proposta e constituiram uma comissão de trabalho para organizar a

associação. Outro encaminhamento da reunião foi a decisão de que a SAA deveria fazer

um levantamento sócio econômico das famílias rurais para que se pudesse verificar a

viabilidade técnica e econômica de uma associação de mecanização.

Este levantamento foi realizado junto à maioria das famílias que eram associados

potenciais, sendo que os dados confirmaram a existência de condições para viabilizar o

funcionamento de uma associação.

Em conseqüência, ainda no primeiro semestre de 1977, a SAA enviou um

técnico agrícola para ajudar a comissão organizadora e o STR no trabalho de

16

organização da associação. Foram promovidas reuniões com os agricultores e lideranças

de todas as comunidades dos distritos de Maquiné e Barra do Ouro, envolvendo a

Emater e a Estação Experimental.

Embora em descordo com o programa da SAA, que recomendava um número

inicial mínimo de 25 associados, cujas propriedades estivessem localizadas num raio de

até 10 km, para não elevar custos de locomoção e de tempo, assim mesmo, em 1º de

setembro de 1977, 18 agricultores dos distritos de Maquiné e Barra do Ouro, sob a

liderança do técnico da SAA e do STR e com a participação da Emater, criaram a

APSAT de Maquiné, com sede no STR, na perspectiva de alcançar mais adesões a partir

do início do funcionamento. O mesmo técnico ainda assessorou o processo de

legalização da entidade e a elaboração, a tomada de assinaturas dos associados e

cônjuges e o encaminhamento do projeto ao banco para financiamento da compra de um

trator, uma grade e um arado.

Concluídos os encaminhamentos, o técnico foi chamado pela coordenação do

programa para tarefa semelhante em outro município, sendo substituído por outro

técnico que permaneceu por pouco tempo. Neste período, a associação contratou um

associado para tratorista e o encaminhou para um curso de capacitação em mecanização,

mantido pela SAA na Estação de Capela de Santana.

Em dezembro do mesmo ano, a associação recebeu o trator e os implementos e

iniciou as atividades de prestação de serviços aos associados. Logo após, ficou dois

meses sem técnico. Neste período, o tratorista atendia as demandas, fazia o roteiro de

atendimento e anotava os serviços realizados, o STR respondia pela cobrança dos

serviços prestados e pelo pagamento do salário do tratorista, tarefas estas que

competiam ao técnico.

Não se dispõe de avaliação sobre este curto período de autonomia administrativa

local, mas o programa tinha grande preocupação com tais situações. Em 1975, quando

as associações ficaram por conta própria, ocorreram vários problemas administrativos e

de desagregação, o que tornou difícil sua recuperação, levando, inclusive, ao

fechamento da associação de Venâncio Aires, que de filial da ADERE, havia se

transformado em entidade autônoma.

Em março de 1978, a SAA designou, para a função de extensionista da

associação de Maquiné, o mesmo técnico que, em três momentos anteriores, estivera na

localidade e já se tornara conhecido dos agricultores. Durante 22 anos, ocupou-se

diuturnamente dos assuntos da associação até a véspera de assumir o cargo de prefeito

para o qual fora eleito em 2000.

Cumpre destacar que o técnico teve papel relevante no processo de emancipação

do município, sendo eleito vice-prefeito na primeira gestão. Nesta condição, exerceu o

cargo de Secretário Municipal de Agricultura.

Pela concepção do programa, cabia ao extensionista cumprir dupla função:

gerencial e técnica. A função gerencial incluía o planejamento, a organização e a

supervisão dos serviços da associação, a manutenção das máquinas, o cálculo dos custos

dos serviços, a elaboração dos relatórios técnicos e a previsão orçamentária anual. A

17

função técnica consistia na assistência técnica e extensão rural nas propriedades dos

associados.

A permanência, sem prazo definido, de extensionistas em associações não era

bem visto pela entidade de extensão que, diante da escassez de seus quadros, entendia

que a alocação de um equivalente técnico para um grupo reduzido de agricultores,

caracterizava um privilégio, ao mesmo tempo que este técnico ficava indisponível para

compromissos mais urgentes da entidade.

Por outro lado, esta situação, via de regra, geraria uma dupla acomodação, por

parte do técnico e por parte dos associados e, na medida em que o técnico executasse as

tarefas administrativas, criaria uma dependência da associação em relação ao técnico,

contradizendo, na prática, o objetivo de autonomia e de sustentabilidade da entidade

associativa.

Em 1983, a EMATER solicitou à associação o retorno do técnico ao escritório

municipal da extensão rural para atender as demandas de assistência técnica para

produtores não associados que procuravam a entidade. A associação reagiu, convocando

uma assembléia geral para discutir o assunto. Os associados aprovaram moção contrária

e encaminharam solicitação à direção da EMATER para a permanência do técnico na

associação. Em resposta, a EMATER concordou com o pleito e manteve a situação,

alegadamente porque havia casos semelhantes em associações de grandes produtores.

Em 1990, a EMATER novamente solicitou o retorno do técnico, concordando,

porém, que ele continuasse assessorando administrativamente a associação e prestasse

assistência técnica para associados e não associados, mas a partir do escritório

municipal. Isto fez com que a associação contratasse, em 1991, sua primeira funcionária

administrativa para atendimento dos serviços de escritório e a anotação das demandas

para os serviços de máquinas.

Esta nova situação do deslocamento do técnico da associação para o escritório

municipal da EMATER, aliada à função política exercida pelo técnico, representa uma

nova realidade para a associação, o início de um período de transição para sua

autonomia administrativa.

Em 2000, com o afastamento do técnico, a funcionária passou a desempenhar a

função gerencial da associação e a assistência técnica aos associados passou a ser

integralmente atribuição da equipe municipal da EMATER, que eliminou a distinção no

atendimento entre associados e não associados. A intenção da entidade de extensão rural

era ´forçar´ a associação a assumir seu ônus e, assim, exercer sua total autonomia.

Ainda por 8 anos, o técnico continuou assessorando a associação até seu total

desligamento.

18

1.5 Estrutura de Organização, Gestão e Participação dos Associados na Gestão e

nos Resultados

A APSAT, na concepção do Programa para Formação de Associações de

Prestação de Serviços e Assistência Técnica da SAA, é uma associação constituída de

pequenos agricultores (com propriedade de, no máximo, 50 hectares) que se organizam

em nível de município, comunidade ou vizinhança para adquirirem, em conjunto,

equipamentos agrícolas e assim poderem mecanizar parte de suas atividades de plantio e

colheita. Caracteriza-se como entidade civil, sem fins lucrativos, sem capital social,

indivisibilidade do patrimônio, administração eleita não remunerada, adesão livre e sem

responsabilidade civil dos associados pelos negócios da entidade, exceto avais. Possui

um estatuto com estrutura cooperativista, baseada em total autonomia administrativa. O

associado paga os serviços efetivamente prestados pela associação, sendo o valor hora-

máquina aprovado em assembléia geral (SAA, 1977, p.2 e 3).

Fundamenta-se na constatação de que o baixo nível de produção do pequeno

agricultor é o principal fator que impede a melhoria do seu padrão de vida. Para tanto,

dispõe-se a reunir medidas capazes de diminuir alguns dos fatores da baixa produção

(Klingensteiner, 1986).

De acordo com a Secretaria da Agricultura, "o programa APSAT deve ser

entendido como uma ajuda ao produtor de baixa renda para que ele auxilie a si mesmo"

e "o agricultor deve sentir que está sendo ajudado, mas terá de compreender que isto

exige também esforços dele próprio. Unindo estas duas forças teremos possibilidade de

resolver grande parte dos problemas existentes no minifúndio" (SAA, 1976, p.13).

Pode ser associado todo o produtor rural com área total inferior a 50 hectares,

desde que não pratique outra atividade que colida com os interesses e objetivos da

APSAT. O número inicial de associados não poderá ser inferior a 15, tendo em vista sua

viabilidade econômica, com autonomia. Numa APSAT de máquinas, é recomendável

que haja adesão de no mínimo 25 agricultores num raio de 10 km (Klingensteiner,

1986).

O programa distribuiu um estatuto modelo, com um conjunto de objetivos gerais

e específicos que pudesse atender diferentes necessidades do mesmo grupo. Via de

regra, este modelo de estatuto era apresentado ao grupo pelos técnicos, sendo depois

discutido e aprovado pelos agricultores, que definiam seu objetivo principal e

mantinham inalterados os objetivos gerais. Em vista disto, cada associação tem seus

objetivos específicos.

Entre os objetivos inscritos no estatuto da APSAT de Maquiné, citam-se os

seguintes:

a) participar na busca de soluções para os problemas comuns dos pequenos

agricultores;

19

b) prestar ou mediar serviços em mecanização agrícola;

c) prestar ou mediar serviços para coleta e transporte de insumos e produtos e

beneficiamento da produção agropecuária;

d) promover condições para ganhos de escala e maior acesso dos associados ao crédito

rural e aos serviços de apoio governamentais;

e) aprimorar a consciência associativista e a capacidade técnico profissional dos

associados;

f) manter meios de comunicação com os associados a fim de informá-los sobre

assuntos de interesse comum;

g) promover análise e troca de experiências entre os associados sobre os problemas de

gestão técnica, administrativa, financeira e econômica de seus estabelecimentos e

implantação de métodos simplificados de contabilidade.

A estrutura administrativa e de poder de uma associação é semelhante à de uma

cooperativa. O poder maior está com os associados reunidos em assembléia que elege e

destitui os membros da diretoria e do conselho fiscal e indica as entidades que poderão

fazer parte do conselho consultivo, delibera sobre prestação de contas, mudanças no

estatuto e normas operacionais, a aquisição e alienação de bens patrimoniais e fixa o

valor da hora-máquina de prestação de serviços.

Pelo exame do livro de atas, a associação de Maquiné realizou, nos 25 anos de

funcionamento, 25 assembléias gerais anuais ordinárias e 7 assembléias gerais

extraordinárias. Os livros de presenças das 32 assembléias gerais indicam que o número

médio de associados presentes foi de 29,40 por assembléia, o que representa 35,74% da

média histórica do número de associados. O anexo 2 apresenta o número de associados

e o número de presenças em cada uma das 32 assembléias.

Klingensteiner (1986) considera que o nível de participação inferior a 40% dos

associados nas assembléias gerais denota um baixo grau de confiança em suas próprias

forças. Sob este ponto de vista, os associados de Maquiné demonstraram um bom nível

de confiança em suas próprias forças apenas em 14 das 32 assembléias gerais, ou seja,

em 43,75% das assembléias gerais realizadas.

A diretoria é o órgão responsável pela implantação das decisões da assembléia e

pelo funcionamento da associação. É constituída por sete membros, com mandato de

dois anos e eleitos individualmente, por voto secreto. De acordo com as atas das

assembléias gerais em que ocorreram eleições, foram abertos espaços de tempo para

indicações e inscrições de nomes em número maior do que o de vagas, para

constituírem uma lista básica, cujos nomes são submetidos à votação secreta, sendo que

os 7 nomes mais votados compõem a diretoria, que escolhe, entre seus membros, os

ocupantes dos cargos de presidente, vice presidente, 1º e 2º secretários e repassa para o

gerente as diretrizes para operacionalizar a prestação dos serviços.

Os membros da diretoria e do conselho fiscal não são remunerados pelo

exercício de suas funções. É uma doação de parte de seu tempo e de seus esforços em

favor do grupo. Talvez por isso, estas funções, principalmente a de presidente, não

exerçam atração sobre os associados, embora sejam consideradas como um obrigação

de todos, além de um direito.

20

Não há pré-requisitos de ordem educacional, social ou econômica para a

ocupação de cargos eletivos. A única condição exigida é a de estar em dia com a

associação, isto é, não estar devendo mensalidade e nem serviço prestado. Como não

são cobradas mensalidades há muito tempo, esta exigência passou a ser desconsiderada.

A única imposição estatutária é o desligamento do membro da diretoria que vier a

ocupar um cargo político.

Até o presente, somente quatro associados ocuparam a função de presidente, o

que dá uma média de 6 anos, ou seja, 3 mandatos. Mas a renovação ocorre entre os

demais membros da diretoria. Em nenhuma das 13 eleições realizadas houve reeleição

dos 7 conselheiros.

A diretoria da associação deveria realizar reuniões mensalmente conforme

estabelece o estatuto, mas, na prática, as reuniões são realizadas em função da existência

de situações que requerem decisão e quando há disponibilidade de tempo dos

agricultores integrantes da diretoria. Nestas reuniões participa o técnico, porém sem

direito a voto. De acordo com os entrevistados, o técnico faz sugestões, mas quem

decide é a diretoria. O anexo 3 mostra o número de reuniões realizadas pela diretoria,

atingindo a média de 4,77 reuniões por ano, o que dá uma freqüência de uma reunião a

cada dois meses e meio.

Cabe à diretoria contratar o pessoal necessário para o atendimento das demandas

dos associados e dos compromissos legais da associação. Dependendo do volume das

operações, a diretoria contrata um administrador, operadores, técnico e contador. As

funções de gerente e de técnico eram desempenhadas pela mesma pessoa, isto é pelo

extensionista colocado à disposição pelo programa APSAT, como principal incentivo.

Nas características em que foi concebida, isto é, com autonomia econômica e financeira,

iniciar uma associação de mecanização não seria viável se tivesse que incluir em seu

custeio a contratação de um técnico. Um ex-dirigente entrevistado considera que foi

mais importante para a associação ter recebido a cedência de um técnico do Estado do

que o crédito subsidiado, porque o técnico ajudou muito na organização dos serviços. A

contratação de técnico, contudo, estava entre os objetivos de médio e longo prazos,

ainda não alcançados.

O técnico cedido à Associação de Maquiné exerceu um conjunto de funções

concentradas em duas grandes áreas: o gerenciamento da associação e a prestação de

assistência técnica aos associados. Pelo programa competia-lhe:

a) o planejamento e acompanhamento de uso comunitário das máquinas com a

inseparável assistência técnica em nível de propriedade individual;

b) a execução de todas as medidas administrativa e técnicas;

c) a apresentação da previsão orçamentária anual, nas assembléias para o

desenvolvimento sócio econômico;

d) a preparação e apresentação dos relatórios e participação nas reuniões da diretoria;

e) os trabalhos de divulgação;

f) o treinamento dos operadores.

Tais funções eram todas desempenhadas pelo técnico cedido até 1991, quando a

associação contratou uma funcionária para os serviços burocráticos. Desde então, o

técnico foi lotado no escritório municipal de extensão rural, de onde passou a atender a

21

associação e seus associados. A partir de 2000, a associação está sem técnico, sendo a

função gerencial exercida pela funcionária e a de assistência técnica, pelo escritório

municipal de extensão rural.

A saída do técnico foi, pois, absorvida com naturalidade e sem sobressaltos para

a associação e facilitada pelo fato de se realizar de forma lenta e gradual e com boa

integração de atividades com a extensão rural local.

O conselho fiscal, constituído de três associados eleitos, com mandato de 2 anos,

tem como principal função a constante fiscalização dos atos da diretoria, verificando o

atendimento das deliberações da assembléia geral, o exame dos balancetes e do balanço

anual e o desenvolvimento dos serviços.

Os principais serviços de mecanização estruturados pela associação são: preparo

do solo, distribuição de calcário, silagem, roçagem e colheita de feijão e milho. O anexo

6 apresenta a relação dos equipamentos agrícolas que constituem o patrimônio para

operacionalizar as demandas.

1.6 Conflitos Surgidos e seus Efeitos sobre a Capacidade da Associação ser Gerida

e Influenciar a Situação Local

A história documentada da associação não registra a ocorrência de conflitos nem

entre os membros da diretoria e nem entre estes e os associados. Segundo um ex-

dirigente entrevistado, a associação sempre contornou satisfatoriamente as divergências

internas da diretoria e do conselho e os desentendimentos com os associados.

A diretoria, conforme consta no item anterior (1.5), é constituída de sete

membros, com mandato de dois anos, havendo possibilidade de reeleição. Nas

assembléias de eleição, os associados indicam e inscrevem seus nomes para uma lista de

candidatos para votação. Não há formação de chapas Este é o momento de negociação

entre os interessados para integrarem a diretoria. Na opinião do técnico entrevistado,

"procura-se sempre escolher as pessoas melhores e aqueles que se dão mais". Este

procedimento denota uma preocupação com a necessidade de harmonia e entendimento

entre os membros da diretoria na administração da entidade.

Dadas as condições estatutárias que impedem que os membros da diretoria

exerçam qualquer cargo político eletivo e recebam remuneração para o exercício de suas

funções e que a associação de abra sua portas para manifestações partidárias e de

discriminação religiosa e racial, em nenhuma das 13 eleições ocorreu a formação ou

apresentação de chapa concorrente. De acordo com o atual presidente, reeleito pela 4ª

vez, em 2002, não se apresentam associados para substituí-lo, o que é comprovado pelas

atas das duas últimas assembléias gerais, quando foi solicitada a indicação de novos

nomes que quisessem assumir a presidência e ninguém se candidatou. Seria esta postura

um sintoma de acomodação para não precisar carregar o pesado fardo do piano, isto é,

cuidar das atividades da propriedade e responder pela associação, ou um sinal de

aprovação e apoio ao mesmo presidente?

22

Uma das questões operacionais mais complexas na vida da associação é

conseguir equilibrar a demanda por serviços com a oferta de máquinas. O aumento

momentâneo da demanda gera a lista de espera para atendimento, situação que pode

prejudicar o interesse do associado. Por outro lado, o pronto atendimento das demandas

requer a disponibilização de um número de máquinas e operadores que ficariam ociosos

na maior parte do tempo, elevando os custos da associação, que se refletem sobre o

preço da hora máquina.

Se estas questões não forem suficientemente discutidas e esclarecidas nas

reuniões com os associados, e se não forem definidos em grupo os critérios e as

prioridades para administrar o atendimento das demandas, isto pode se tornar um ponto

gerador de atritos.

O associado quer rapidez no atendimento. No início da APSAT o associado

reclamava da demora no atendimento porque fazia o pedido no dia em que queria o

serviço, achando que o trator atendia somente a sua demanda. Também reclamava do

valor cobrado pela hora máquina, pois estava acostumado a não pagar com tração

animal. Nas entrevistas, constatou-se que estas situações eram levadas para a diretoria e

o presidente conversava com estes associados, explicando-lhes o funcionamento da

escala de atendimento: os pedidos eram anotados pela data da solicitação e, depois,

organizados por localidade para racionalizar o tempo e os custos de locomoção. Para

alguns associados, este critério, embora aprovado em assembléia geral, constituía-se em

grande dificuldade.

As entrevistas também revelaram que os associados que não participavam de

reuniões e nem de assembléias gerais, levavam reclamações ao STR, pensando que o

serviço era prestado pela entidade sindical. Assim, confundiam a entidade sindical com

a associação pelo fato desta estar funcionando numa sala cedida pelo sindicato.

Outra questão que gera polêmica na administração da associação é o

estabelecimento dos preços cobrados pelos serviços. Embora a fixação do preço dos

serviços seja decisão de assembléia geral, os custos hora-máquina são calculados

criteriosamente, levando em consideração o conjunto dos custos fixos e custos

variáveis, incluindo valor do financiamento, depreciação, juros, combustíveis, salários e

encargos, consertos, seguros, etc. Não raras vezes, o preço hora-máquina da associação

foi superior ao dos prestadores individuais que não faziam este tipo de cálculo.

Este assunto gerava muita discussão durante as assembléias nos períodos de

inflação. Ao associado interessava pagar o valor mais baixo possível, enquanto que o

gerente e a diretoria, pressionados pelo aumento dos custos e pela supervisão do

programa, defendiam o cálculo técnico, para garantir a continuidade dos serviços.

Contudo, nos últimos anos, durante o período de estabilidade dos preços dos custos e

dos serviços, a associação não conseguiu reverter um processo crescente de débitos dos

produtores por serviços prestados. Uma das razões deste processo pode estar

relacionada com a conjuntura desfavorável gerada pelo Plano Real, com a importação

de alimentos, o que diminuiu os preços dos produtos agrícolas sem provocar uma

correspondente queda nos preços dos insumos. Um dos entrevistados, porém, relacionou

esta situação também a fatores políticos relacionados com candidaturas a cargos

municipais.

23

Uma terceira questão, relacionada com a anterior e de difícil administração, é a

do pagamento da mensalidade e dos serviços prestados. A questão é antiga e está

presente em quase todas as assembléias gerais. As regras para o atendimento das

demandas, o custo dos serviços, os prazos de pagamento e as penalidades pela

inadimplência foram aprovados na primeira assembléia geral da associação, realizada

em dezembro de 1977, quando iniciou a prestação dos serviços.

O prazo para pagamento dos serviços, sem acréscimo, sempre continuou fixado

em até 30 dias a contar da prestação do serviço. O contrato entre as partes é

absolutamente informal baseado na confiança recíproca. De um lado, a solicitação do

serviço é verbal e ao fazê-la, o produtor confia que será atendido dentro dos critérios

estabelecidos com os quais nem sempre concorda. De outro, a associação presta os

serviços demandados, deixa com o produtor uma cópia do controle anotado, indicando

tipo, duração e valor dos serviços, confiando que serão pagos no prazo estabelecido.

O descumprimento destas obrigações tácitas pode quebrar, e segundo os relatos

dos entrevistados, está quebrando a confiança entre as partes e gerar descontentamentos

do produtor e falta de caixa para pagamento dos compromissos da associação. Pelo que

se observa, a confiança é um aspecto essencial no funcionamento da associação, mas

não é sinônimo de informalidade. A organização dos meios pela associação para atender

as demandas dos associados implica em custos reais que são assumidos pelos

integrantes dos grupos na proporção do uso dos serviços.

O atraso e o não pagamento dos serviços prestados por diversos associados,

tornou-se a mais forte situação conflitiva entre a associação e os inadimplentes. Esta

realidade tem sido objeto de muitas discussões e decisões de assembléias nos últimos

anos. As atas dessas assembléias relatam diversas providências que começaram com

avisos de cobrança amigável, suspensão de atendimento de demandas por serviços,

divulgação dos nomes dos inadimplentes durante as assembléias, até cobrança judicial.

Outra providência em discussão é a adoção de exigências formais antes da prestação do

serviço.

2 RE SUL TA DO S

2.1 Impacto da Associação sobre a Agricultura e os Agricultores Locais

Até o advento da associação, a principal cultura comercial local era o fumo.

Além desta, também destacavam-se a produção de milho, feijão e trigo que, juntamente

com o fumo, ocupavam áreas planas e de encostas. Já a cultura de bananas era e

continua sendo desenvolvida exclusivamente em áreas de morros. Por outro lado, alguns

produtores estavam iniciando mudança de sistemas de produção, ocupando áreas

exclusivamente planas para cultivos de hortícolas, sobressaindo a alface, a cenoura e o

repolho. Todas as operações, do plantio à colheita, eram realizadas com tração animal.

24

Segundo o técnico da associação, a cenoura era semeada manualmente, sem canteiro e

sem irrigação, apresentando baixo índice de germinação.

Os produtos tradicionais eram vendidos, via de regra, para intermediários. Num

determinado período de curta duração, antes da criação da associação, funcionou, no

local, uma cooperativa agrícola, que atuou na comercialização, mas cujo insucesso

criara restrições a esse tipo de organização entre os agricultores como foi observado

anteriormente, no item 1.4. "Esta fechou as portas porque fornecia insumos fiado e não

conseguia cobrar os devedores", conforme lembra um dos entrevistados.

Quando iniciou a produção de hortaliças, abriu-se a possibilidade de buscar

novos caminhos de comercialização. Assim, enquanto parte destas também passou a ser

entregue a intermediários, alguns agricultores, como é o caso do mais antigo produtor

de alface e repolho estabeleceram, desde o início, clientela própria nas cidades próximas

de Osório e Capão da Canoa. Já a produção de cenoura era adquirida por uma indústria

de desidratação, instalada em outra região do estado e que fazia o fomento em Maquiné,

sem tecnologia apropriada, em função das condições agroclimáticas favoráveis ali

encontradas.

Atualmente, as culturas mais importantes em termos de áreas plantadas nas

terras planas são: alface, beterraba, couve-flor, repolho e milho verde que se situam

cada uma entre 500 e 100 hectares anuais, seguidos por: brócolis, cenoura, moranga e

pepino, situadas cada uma entre 50 e 35 hectares. Com menos de 20 hectares anuais

estão: alho, amendoim, batata doce, cebola, nabo, pimentão, rabanete, salsa e tomate

(ver anexo 1).

O crescimento da produção de hortaliças em Maquiné é atribuído, além do

mercado favorável, a dois fatores locais principais: a criação da associação que, através

da mecanização dos minifúndios, favoreceu a mudança do sistema de produção e

possibilitou a ampliação e a qualificação das áreas plantadas e a eletrificação rural que

viabilizou a irrigação das culturas.

O primeiro trator agrícola privado da localidade foi o da APSAT. Alguns

agricultores já possuíam micro tratores de duas rodas, utilizados para transportar o fumo

e capinar as lavouras de milho. Estes micro tratores passaram a desempenhar tarefas

complementares, após o preparo do solo realizado pelo trator da associação, operação

que consistia em lavrar e gradear a lavoura.

Por ocasião do encontro estadual de APSATs, em comemoração ao décimo

aniversário da ADERE, em 1981, uma delegação de agricultores da associação,

juntamente com o técnico, visitou Estrela, onde conheceram o trabalho e o maquinário

da associação pioneira e trocaram experiências com agricultores daquele município e de

outras regiões do estado. Chamou a atenção, a realidade diferente da agricultura familiar

de Estrela e puderam estabelecer uma comparação entre os sistemas de produção do

vale do Maquiné e do vale do Rio Taquari, sendo este último caracterizado pela

produção de milho, soja, pastagens, gado de leite e suínos.

Nesta mesma viagem, o grupo de Maquiné decidiu propor à diretoria a compra

de um novo equipamento pela associação: a enxada rotativa, implemento de grande

25

utilidade no preparo do solo, dispensando o uso da grade e que, até então, era

desconhecida por eles.

Durante as décadas de 1980 e 1990, à semelhança do congresso da ADERE,

diversos dirigentes e associados de Maquiné participaram de outros encontros estaduais

de APSATs nos quais eram apresentados e discutidos diferentes problemas de

funcionamento das associações e dificuldades enfrentadas pelos agricultores no

desenvolvimento de suas atividades.

Fato semelhante ao da enxada rotativa ocorreu com a compra da primeira

encanteiradeira. Um grupo de associados foi convidado pelo técnico para assistir um dia

de campo, promovido por uma indústria na localidade de Três Cachoeiras, distante 40

km de Maquiné. Este implemento é de grande utilidade na produção hortícola, pois

economiza tempo e trabalho no preparo dos canteiros, mas era desconhecido dos

horticultores de Maquiné. Após alguns dias, a diretoria decidiu comprar o equipamento.

Outra inovação pioneira levada pela associação à Maquiné foi a construção de

estufas de plástico para produção de mudas em bandejas. Para isto, o técnico e um

grupo de associados visitaram produtores de Gravataí, na região metropolitana, onde

puderam observar e constatar diretamente as instalações e a vantagem da técnica para

suas propriedades. Em seguida, a associação promoveu um dia de campo sobre esta

técnica em Maquiné, e a inovação passou a ser usada por muitos horticultores.

As inovações tecnológicas promovidas pela associação tiveram impacto

imediato sobre a produtividade do trabalho. Considerando que a lavração de um hectare

de terra requer, em média, o trabalho de 3 dias/homem, se realizada com tração animal,

a mesma tarefa é feita, em média, em 3 horas/homem/trator. Esta dado pode ser um

simples indicador do poder de liberação do trabalho exercido pela mecanização.

No entendimento dos entrevistados, a liberação do trabalho produzida pelos

serviços da associação com lavração, encanteiramento e pulverização não provocou

êxodo rural, mas incorporação de novas áreas com conseqüente aumento da produção e

diversificação de culturas.

Por outro lado, a atuação da associação também influiu sobre a produtividade

física das culturas. Ajudou os produtores a preparar o solo, a plantar e a colher nas

épocas mais adequadas, a fazer os espaçamentos e os tratos culturais com orientação

técnica e a diversificar as culturas.

Embora não se disponha de estatísticas para comprovar, os entrevistados foram

unânimes em afirmar que o aumento da produtividade do trabalho e das culturas teve

reflexos na geração de renda, dentro e fora da propriedade.

Dentro da propriedade, foi mantido e ampliado o trabalho, garantindo a

permanência da família na atividade. O volume da produção e a renda familiar

aumentaram, permitindo novos investimentos no processo produtivo e na melhoria da

qualidade de vida, como eletrificação rural, construção e reforma de moradias, sistemas

de irrigação, compra de tratores e implementos, caminhões, utilitários, automóveis,

móveis e eletrodomésticos.

26

Além disso, na opinião do técnico entrevistado, a associação propiciou a entrada

de mais de 100 tratores agrícolas e mais de 80 caminhões em Maquiné.

Um outro reflexo relevante observado dentro e fora da propriedade diz respeito

ao crescimento social dos associados que começaram a buscar novos espaços

econômicos para a comercialização de seus produtos. Uma parte continuou entregando a

produção para os intermediários, uma vez que a associação não entrou nesta atividade.

A ausência da associação na comercialização foi aproveitada por um número crescente

de produtores, hoje mais de 50, que comercializam diretamente sua produção em feiras

da região, na CEASA em Porto Alegre e em outros nichos de mercado e em mercados

institucionais.

Ainda de acordo com o técnico entrevistado, "um outro resultado importante

atribuído à associação, embora o trabalho não fosse tão expressivo em termos de

participação, foi a mudança de comportamento dos produtores que começaram a se

reunir para discutir os problemas, tanto os da associação, quanto os da propriedade. A

associação proporcionou aos agricultores conhecimentos de administração de sua

propriedade, de seus equipamentos e oportunidade de participar da associação, saber

dos problemas e decidir as soluções. Isto foi um ganho importante".

Recentemente, a associação foi convidada a integrar o Comitê Gestor da bacia

do rio Tramandaí, que é o escoadouro, para o oceano, das águas de diversas lagoas que

têm como afluentes vários rios, entre os quais o Maquiné. Este fato é considerado, pelo

atual presidente, um reconhecimento público do trabalho realizado pela associação que

está discutindo com os agricultores a preservação ambiental do vale. Desde o início das

atividades de mecanização pela APSAT, os agricultores, cujas propriedades têm

planícies e encostas, estão diminuindo as atividades nas encostas dos morros que

iniciaram processo de recuperação natural da Mata Atlântica. Este fato também indica o

crescimento do capital social da localidade, capaz de se mobilizar para a solução de seus

problemas.

É importante ainda destacar o resultado em termos de horas/máquina produzido

pela associação ao longo de sua existência: de dezembro de 1977 até 30 de junho de

2002, foram trabalhadas nas lavouras dos agricultores de Maquiné 73.450 horas de

serviços com trator e diversos implementos, dos quais 66,20%, para associados e

33,80%, para terceiros. Isto representa uma média mensal de 250 horas ao longo dos

294 meses considerados. Excluindo-se o mês de dezembro de 1977 e os 6 meses de

2002, ter-se-á uma média anual de 3.010 horas máquina ao longo de 24 anos de

operação (ver anexo 4).

Nos últimos dois anos está diminuindo o número de horas de serviços prestados.

Na avaliação dos dirigentes entrevistados isto se deve ao estoque de tratores existentes

no município. Isto significaria que já se completou o ciclo da mecanização dos

produtores locais e a associação, por ter atingido seus objetivos, poderia encerrar suas

atividades? Esta questão tem posições divergentes entre os entrevistados. Quem

comunga desta idéia, argumenta que três a quatro safras boas e com preços razoáveis

seriam suficientes para levar mais um grupo de produtores a comprar tratores próprios,

tornando totalmente ociosa a associação. Já para outros entrevistados, a associação

poderá diminuir seu patrimônio e reduzir seus custos, mas deverá continuar prestando

27

serviços, principalmente para aqueles produtores que não dispõem de mecanização

própria, para os quais ela é essencial.

Uma possibilidade real para a continuidade dos serviços da associação apontada

pelos entrevistados seria a celebração de um convênio com a Prefeitura para administrar

a utilização das máquinas agrícolas públicas.

O crescimento do estoque de tratores particulares diz respeito não somente ao

aumento da renda dos produtores, mas também atende ao interesse de se dispor da

máquina quando dela se necessitar, ficando assim, livre dos critérios de atendimento da

associação. Na atividade hortícola, o trator tem uso intensivo durante vários meses do

ano. Contudo, um estoque superdimensionado de máquinas e implementos acarreta

ociosidade e tende a criar dificuldades para a atualização tecnológica, uma vez que a

sub-utilização dos equipamentos aumenta-lhes o tempo de vida útil, atrasando sua

substituição.

Uma das questões importantes na vida de uma associação é sua capacidade de

perceber, de discutir e de se adequar, permanentemente, às mudanças de objetivos e

interesses dos associados, a partir das necessidades sentidas em suas propriedades e

comunidades.

Segundo os entrevistados, a associação, ao longo de sua existência, foi exigida

freqüentemente pelos seus associados para diversificar a oferta dos serviços. Entre estas

exigências aparece a aquisição de retroescavadeira, utilizada nos serviços de drenagem e

implantação da irrigação. Este assunto entrou em discussão em várias assembléia gerais,

sendo, inclusive, aprovado e deixado por conta da diretoria a aquisição da máquina, o

que não ocorreu, alegadamente por se tratar de máquina de valor considerado muito alto

para as condições do grupo de associados.

Outra destas exigências refere-se à organização da comercialização da produção

e do fornecimento de insumos. Embora não conste em atas de assembléias, esta questão

foi colocada pelos entrevistados como uma das possibilidades que a associação poderia

ter atendido. Para isto deveria ter comprado um caminhão, alugado um galpão e

contratado um gerente comercial para cuidar da questão, mas esta idéia não evoluiu.

Hoje seria difícil de ser executada. A comercialização da produção ficou nas mãos dos

intermediários e daqueles produtores que conseguiram comprar caminhão e abrir canais

próprios em feiras, CEASA, supermercados e outros pontos de venda. Dessa forma, boa

parte dos ganhos com aumento da produção e da produtividade foi obtida fora da

propriedade.

Demanda semelhante é a instalação de um secador de grãos (milho e feijão) para

atender as necessidades dos agricultores. O existente na comunidade pertence à Estação

Experimental e, além de ser considerado muito pequeno e lento, não está sempre

disponível.

É possível considerar que a diversificação de atividades pode trazer mais

segurança para uma associação como também pode aumentar seus riscos. A associação

é dirigida pela diretoria que não cumpre funções executivas, portanto, não está presente

no dia a dia da administração para implementar a diversificação. Outro aspecto que

dificulta a implantação de novos serviços é a inexistência de linhas de financiamento

28

com subsídios para associações, obrigando-as a retirar do seu negócio principal os

recursos necessários, o que nem sempre é possível. No entender dos entrevistados,

programas como o PRONAF e o RS RURAL deveriam estender, para as associações de

pequenos produtores que estão em dia com suas obrigações legais, as mesmas linhas de

crédito subsidiado hoje destinadas com exclusividade para os agricultores familiares.

2.2 A Associação foi "Bem Sucedida" ou Não? O que Caracteriza o "Sucesso"?

Quais as Razões do "Sucesso"?

A considerar pelos impactos produzidos sobre os agricultores associados e a

produção agrícola de Maquiné, infere-se que a associação teve êxito no seu

empreendimento.

Em nível dos associados, a realização de reuniões nas comunidades e de

assembléias anuais de prestação de contas, de planejamento das atividades, de eleição

dos conselhos e de tomadas de decisão sobre os demais assuntos de interesse comum do

grupo e a constante interação entre os associados e a associação através da prestação e

do pagamento dos serviços, criaram condições para eles se sentirem participantes e com

apoio para o desenvolvimento de suas atividades. Participando de visitas técnicas, dias

de campo, encontros de APSATs, muitos deles, certamente, puderam refletir sobre seu

próprio empreendimento, sua inserção na comunidade e no mercado e as alternativas

para seu desenvolvimento. A busca por uma maior apropriação dos resultados do

trabalho levou mais de 50 produtores a abrirem caminhos próprios de comercialização

da produção.

O aumento da produção foi lembrado pelos entrevistados como o principal

resultado alcançado pela associação.

A prestação de mais de 270.000 horas-máquina de serviços ao longo de 25 anos

é outra evidência do sucesso da associação, sabendo-se que a grande maioria das

iniciativas empresariais, no campo ou na cidade, não sobrevive aos primeiros cinco anos

de existência.

Neste tempo todo, a associação manteve e mantém rigorosamente em dia seus

pagamentos e sua obrigações com associados e com terceiros. Em troca, recebeu e

recebe apoio dos associados. Em todas as compras de trator, os associados aportaram

recursos especiais para diminuir o montante do financiamento, visto que não existem, há

muitos anos, linhas de crédito subsidiado para associações de produtores familiares.

Criar uma associação seria o processo de colocar em sintonia os interesses e

objetivos de um conjunto de pessoas, buscar e organizar os meios e as condições

necessárias para alcançar os objetivos.

A sintonia dos interesses e objetivos seria alcançada através de um esforço de

mobilização para as pessoas se reunirem, discutirem e manifestarem suas necessidades e

objetivos e, assim, confrontarem e priorizarem os aspectos comuns entre eles. A busca e

a organização dos meios e das condições necessárias para alcançar seus interesses e

objetivos seria através da preparação e colocação em marcha de um conjunto de ações e

29

de recursos capazes de atender às necessidades comuns, com um mínimo de satisfação

dos integrantes do grupo.

Este processo pode requerer maior ou menor grau de interação entre as partes,

dependendo dos objetivos definidos e da forma como o grupo pretende alcançá-los.

Numa associação ou cooperativa de produção, os integrantes colocam em comum, além

da gestão, um ou mais fatores de produção, como o trabalho, o capital ou a terra. Já

numa associação ou cooperativa de produtores, só é comum a gestão, permanecendo

individual o trabalho, o capital e a terra.

A associação de Maquiné é constituída por produtores familiares que

desenvolvem suas atividades de forma individual e autônoma. Os associados têm em

comum a gestão dos serviços e do patrimônio por eles construído e mantido, mas que

não lhes pertence, isto é, os associados não têm direitos sobre o patrimônio da

associação, que é indivisível. É uma associação de usuários de serviços, gerida por eles

próprios e que suporta o custo do patrimônio.

A gestão de um empreendimento associativo requer, pelo menos o domínio de

conhecimentos rudimentares ou de práticas sobre o que é e como funciona uma

associação e quais os aspectos básicos da legislação que as rege. Tais conhecimentos

não integram o currículo das escolas do meio rural e, as práticas, via de regra, não são

usuais no cotidiano dos produtores rurais. Isto reforça a importância da orientação e da

capacitação dos dirigentes e associados sobre a gestão da associação A experiência que

algumas pessoas têm por terem participado em diretorias de associações comunitárias,

de escolas ou igrejas, representa, às vezes, o único preparo com que podem contar

quando assumem a administração de sua associações..

Segundo os entrevistados, nem o programa e nem a associação promoveram

cursos de capacitação para dirigentes e associados sobre administração da entidade ou

sobre as atribuições estatutárias. Já o técnico era convidado freqüentemente pelo

programa para eventos de capacitação junto com técnicos de outras associações. "Os

técnicos eram bem preparados dentro dos objetivos do programa e cobrados pela

coordenação", ponderou o técnico entrevistado. Entre os pontos fundamentais da

capacitação dos técnicos estava o entendimento sobre o por que e o como fazer o

cálculo do custo hora dos serviços de máquinas e o conhecimento de associativismo que

deveriam repassar aos dirigentes.

A orientação constante do técnico sobre administração e práticas associativas aos

dirigentes, como a realização de reuniões periódicas da diretoria e de assembléias anuais

de todos os associados, aliada às trocas de experiências oportunizadas nos encontros de

APSATs, são consideradas razões importantes que ajudam a explicar o sucesso da

associação, na medida em que fomentam o processo participativo dos interessados na

tomada de decisões.

A ausência de eventos de capacitação específica em gerenciamento e

associativismo para dirigentes da associação mostra a discrepância que se observa entre

o que algumas políticas como o PRONAF e outras que induzem seus beneficiários a se

organizarem em formas associativas ou mesmo a assinarem créditos solidários; seria

imprescindível que sua liberação viesse acompanhada de exigências de capacitação em

gestão associativa, à semelhança da exigência do cadastro ou do projeto. Tal medida

30

contribuiria, certamente, para qualificar os agricultores num dos campos mais relegados

pelo setor público e, dessa forma daria apoio valioso para o êxito dos associados, de

suas associações e das políticas públicas.

Resumindo, pode-se considerar que o sucesso da associação está caracterizado:

a) pela transformação do sistema de produção do vale do Maquiné que abandonou as

culturas tradicionais anuais, de baixa produtividade, de baixo retorno financeiro e de

difícil manejo com tração animal, substituindo-as pela horticultura intensiva, de alta

produtividade e alto retorno financeiro e com manejo mecanizado; b) pela inserção dos

agricultores no mercado, ocupando espaços econômicos, seja diretamente, descobrindo

caminhos e nichos onde comercializam seus produtos, seja indiretamente, entregando a

produção para terceiros; c) pela melhoria da qualidade de vida alcançada com a

melhoria de renda proporcionada com a mudança do sistema de produção.

Entende-se que a associação tem muito a ver com estas mudanças, na medida em

que: a) introduziu novas tecnologias, novas técnicas e novos conhecimentos; b)

proporcionou novas experiências no campo associativo e intercâmbio com produtores

de outras regiões do estado

2.3 Que se Pode Aprender com a Experiência Associativa de Maquiné? Em que

Aspectos ela Pode Servir de Referência para Outras Experiências Associativas

no RS?

Tendo em vista que o presente trabalho é um estudo de caso, é preciso ressalvar

que se trata de uma experiência peculiar dos agricultores de Maquiné. Contudo esta

associação esteve inserida num programa maior que incentivou a criação de inúmeras

outras associações, ao longo de mais de vinte anos, em diferentes regiões do estado. Os

encontros estaduais de APSATs realizados durante a década de 1980 possibilitaram o

intercâmbio e a consolidação de experiências positivas em diversas associações.

O programa demonstrou em nível de estado, e a associação de Maquiné

confirma, que a incorporação de propostas governamentais pela comunidade pode

demandar muito tempo, especialmente quando a consecução do objetivo importar em

desembolso de recursos pelos agricultores.

O acesso à mecanização individual pela pequena propriedade, a preços de

mercado, é sabidamente anti-econômica, exceto para algumas atividades de exploração

intensiva. Dessa forma, a agricultura familiar individual ou se volta para atividades de

densidade econômica que comportem o custo da mecanização, ou busca subsídios para

cobrir parte dos custos, ou permanece à margem da mecanização.

A associação de Maquiné mostrou a viabilidade da aquisição associativa de

mecanização por agricultores familiares nas situações de inexistência de subsídios e

inexistência de outros prestadores de serviços. Mostrou, também, que, a médio e longo

prazos, os custos com mão de obra e encargos sociais de uma associação aumentam e,

ao serem repassados ao usuário, podem neutralizar a vantagem do custo hora máquina

se comparado com o do prestador proprietário que não leva em conta sua mão-de-obra.

31

Para enfrentar esta questão, é importante que ela diversifique e distribua a

prestação de serviços ao longo dos doze meses do ano, contribuindo para gerar um fluxo

mensal constante de receitas e diminuição do custo hora/máquina. Esta situação é

comprovada pela APSAT Maquiné, cujos associados desenvolvem predominantemente

a horticultura. A sustentabilidade da associação está relacionada com sua capacidade de

se adaptar permanentemente às necessidades e interesses dos associados.

É passível de questionamento a necessidade da cedência de um técnico para uma

associação por um período tão longo como foi em Maquiné. Este tempo, cerca de 23

anos, não seria necessário para os produtores conseguirem incorporar o conhecimento e

a prática do gerenciamento de sua associação, uma vez que o programa propunha-se a

ser uma ajuda para a auto-ajuda. Sem dúvida, a presença do técnico pode ser creditada

como uma forma de subsídio para o grupo de agricultores familiares organizados. Na

prática, a presença diuturna do técnico, substituía uma função remunerada, cujo custo os

usuários não precisaram pagar. O acréscimo deste custo na hora máquina poderia ter

inviabilizado a constituição da associação e a prestação de serviços, por não aceitação

deste encargo pelos agricultores. Este fato denota a importância da política publica que

deve servir de berçário ou propiciar condições favoráveis para que seu público

específico se desenvolva com autonomia e sustentabilidade. Nas condições atuais, sem

dúvida, seria impossível, repetir um programa de formação de associações com

cedência de técnico por prazo indeterminado.

Tendo em vista que uma associação de pequenos agricultores não é voltada para

a geração de lucros, mas para criar uma infra estrutura técnica e econômica que

viabilize o acesso desta categoria à tecnologia e à assistência técnica, seria plenamente

justificável a extensão das linhas do PRONAF para estas entidades. Da mesma forma,

este programa deveria incluir recursos para capacitação administrativa e gerencial dos

dirigentes e associados de entidades associativas.

O programa APSAT, em seu conjunto, e a experiência de Maquiné em

particular, mostram, pois, entre outros, alguns aspectos importantes que podem ser

aprendidos e contribuir na implementação de experiências similares em outros lugares:

a) na elaboração de programas específicos pelo setor público, deveria estar presente o

cuidado de se buscar uma estreita relação com experiências pré-existentes e incluir

interesses das populações que pretendem atender. A ADERE serviu de experiência e a

mecanização foi a necessidade manifestada pelos agricultores familiares; b) os

programas não deveriam limitar-se à simples concessão de linhas de crédito aos

beneficiários. Deveriam incluir assessorias capazes de fazer os beneficiários a se

ajudarem a si próprios e a se ajudarem mutuamente. Uma ajuda para a auto-ajuda e para

a ajuda mútua. Em Maquiné, quando aumentou o volume de produção, faltou a

assessoria para que a comunidade organizasse sua comercialização e se apropriasse de

parte maior dos resultados de seu trabalho; c) a avaliação e revisão periódica dos

objetivos da associação e sua constante adaptação aos novos interesses dos associados

pode contribuir para a continuidade da prestação de serviços. Os objetivos iniciais de

uma associação, quando muito pontuais, podem ser alcançados no decorrer do tempo ou

perderem o interesse do grupo. Em ambos os casos, na ausência de novos objetivos, o

projeto associativo tende a se extinguir.

R E FER ÊN C IAS BIBL IO GR Á FI CAS

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A N EX OS

Anexo A - Número de Produtores, Área Ocupada (ha), Produção Anual e

Produtividade por ha das Principais Culturas Hortigranjeiras do

Município em 1997.

Cultura Nº

Produtos

Área

Ocupada Unidade

Produção

Anual Produtividade

Alface 65 500 dz 2.700.000 5.400

Alho 5 2 kg 4.000 2.000

Amendoim 5 5 kg 6.000 1.200

Batata doce 15 10 kg 50.000 5.000

Beterraba 80 150 dz 120.000 800

Brócolis 10 50 dz 100.000 2.000

Cebola 20 8 kg 64.000 8.000

Cenoura 65 50 dz 40.000 800

Couve-flor 135 180 dz 216.000 1.200

Milho verde 110 330 espiga 5.940.000 18.000

Moranga 25 40 kg. 610.000 15.250

Nabo 30 15 dz 18.000 1.200

Pimentão 30 18 kg 80.000 4.444

Pepino 40 35 kg 700.000 20.000

Rabanete 20 4 dz 60.000 15.000

Repolho 135 100 cabeça 1.800.000 18.000

Salsa 25 2 dz 100.000 50.000

Tomate 20 15 kg 480.000 32.000

Fonte: Emater Estudo de Situação do Município de 1997.

Obs.: Total:1.511 ha com repetição, o que representa 48,62% da área ocupada com

culturas temporárias.

35

Anexo B - Quadro Social e Participação em Assembléias Gerais: 1977-2002.

Ano Nº

Associados

Assembléias

Gerais

Nº de

Associados

Presentes

% de

Associados

Presentes

01.09.1977 - fundação 18 1 15 83,33

1977 21 1 12 57,14

1978 21 2 19, 12 90,47 57,14

1979 21 1 13 61,90

1980 56 1 18 32,14

1981 82 1 41 50,00

1982 82 1 44 53,65

1983 93 1 49 52,68

1984 104 2 30, 19 28,84 18,26

1985 108 1 30 27,77

1986 112 1 23 20,53

1987 114 1 31 27,19

1988 114 1 37 32,45

1989 114 1 37 32,45

1990 84* 1 28 33,33

1991 84 2 36, 27 42,85 32,14

1992 90 1 30 33,33

1993 93 1 26 27,95

1994 96 1 22 22,91

1995 96 2 26, 11 27,08 11,45

1996 97 1 27 27,83

1997 97 1 18 18,55

1998 93 1 22 23,65

1999 93 1 60 62,50

2000 76 1 50 65,78

2001 77 2 47, 38 61,03 49,35

2002 (30.06.2002) 83 1 46 55,42

Médias 82,25 1,18 29,40 35,74

Fonte: Apsat Maquiné: Livro de Admissões e Livro de Presenças de Assembléias.

* = Desligamento de 30 associados que haviam constituído uma APSAT nova em Barra

do Ouro, localidade vizinha, distante 15 km da sede de Maquiné.

36

Anexo C - Reuniões de Diretoria: 1977-2002

Ano Nº Ge Reuniões

1977 4

1978 8

1979 7

1980 10

1981 6

1982 6

1983 2

1984 4

1985 4

1986 2

1987 2

1988 2

1989 6

1990 2

1991 4

1992 7

1993 6

1994 5

1995 3

1996 3

1997 4

1998 6

1999 3

2000 3

2001 9

2002 (30.06.2002) 5

Média reuniões por ano 4,77

Fonte: Apsat Maquiné: Livro de Presenças da

Reuniões da Diretoria

37

Anexo D - Horas Trabalhadas e Número de Tratores: 1977 - 2002.

Ano Associados Terceiros Total Nº Tratores

1977 81;25 11:45 93:10 1

1978 828:15 332:15 1.160:30 1

1979 501:10 564:25 1.065:35 1

1980 1.223:35 472:55 1.696:30 2

1981 1.774:05 383:30 2.157:35 2

1982 1.641:40 479:05 2.120:45 2

1983 2.055:35 344:30 2.400:05 2

1984 1.808:50 415:15 2.234:05 2

1985 2.150:30 858:05 3.008:35 3

1986 2.507:45 897:55 3.405:40 3

1987 2.368:05 787:30 3.155:55 3

1988 2.358:55 1.224:55 3.583:50 4

1989 2.352:20 1.528:15 3.880:35 4

1990 2.452:10 1.306:30 3.758:40 4

1991 2.435:55 1.390:40 3.826:35 4

1992 3.048:20 1.059:20 4.107:40 4

1993 2.646:10 1.165:55 3.812:05 4

1994 2.366:00 1.184:05 3.550:05 4

1995 2.467:55 1.421:00 3.888:55 4

1996 2.470:25 1.146:45 3.617:10 4

1997 2.336:50 1.389:45 3.726:35 4

1998 1.864:20 1.582:40 3.447:00 4

1999 1.559:55 1.541:10 3.141:05 3

2000 1.551:40 1.341:45 2.893:25 3

2001 994:30 1.627:20 2.621:10 3

2002 (30.06.02) 551:05 545:40 1.096:45 2

TOTAL 48.646:10 24.803:50 73.450:00

% 66,20 33,80 100

Fonte: Apsat Maquiné: Relatórios anuais da Diretoria

294 meses = média mensal de 249:56.

Desconsiderando o primeiro mês (ano 1977) e os últimos 6 meses (ano 2002) e

considerando somente os 24 anos cheios, teremos uma média anual de 3.010:49´.

38

Anexo E - Índice Social Municipal Ampliado - ISMA dos Municípios de Maquiné e

Osório

Maquiné:

Indicador Índice

1991* 1992* 1993 1994 1995 1996 1997 1998 Ordem

Condições de

Domicílio e

Saneamento

0,52 0,52 0,26 0,26 0,26 0,27 0,27 0,27 360

Educação 0,56 0,56 0,45 0,46 0,47 0,48 0,49 0,50 405

Renda 0,59 0,56 0,27 0,33 0,38 0,44 0,49 0,55 47

Saúde 0,39 0,40 0,30 0,33 0,36 0,39 0,42 0,45 195

ISMA 0,51 0,51 0,32 0,34 0,37 0,39 0,42 0,44 362

Fonte: Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul - FEE

* = Os índices referem-se ao município de Osório do qual Maquiné era então distrito.

Ordem = refere-se ao ranking estadual constituído por 467 municípios.

Osório:

Indicador Índice

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 Ordem

Condições de

Domicílio e

Saneamento

0,52 0,52 0,53 0,53 0,54 0,54 0,55 0,55 181

Educação 0,56 0,56 0,57 0,58 0,59 0,60 0,61 0,62 257

Renda 0,59 0,56 0,54 0,51 0,49 0,46 0,44 0,41 270

Saúde 0,39 0,40 0,42 0,43 0,44 0,46 0,47 0,49 130

ISMA 0,51 0,51 0,51 0,51 0,52 0,52 0,52 0,52 163

Fonte: Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul - FEE

39

Anexo F - Relação Patrimonial da Apsat Maquiné em 30.06.2002.

Equipamento Nº de Unidades Característica

Arados 3 MF

Bomba de graxa 1

Carroções 2

Distribuidor de calcário 1

Ensiladeira 1 CFM 140 II

Ensiladeira 1 Pecus 9000

Esmeril 2 Boch

Grade 1 GH 28

Pneus traseiros de trator 3

Roçadeira 1

Rotativa 3

Subsolador 3

Sulcadeira 1

Tanque combustível 1 3.000 l

Terreno para futura sede

própria

1

Trator 1 MF 275 ano 1991

Trator 1 MF 275 ano 1996

Trilhadeira 1 Para feijão e milho

Fonte: Apsat Maquiné.

40

Anexo G - Número de Apsats no RS.

Ano Nº Apsats Existentes Nº Associados

1971 ADERE (Estrela) - 1 18

1972 1 48

1973 1 61

1974 3 108

1975 3 127

1976 3 123

1977 5 195

1978 6 321

1979 6 353

1980 10 637

1981 11 685

1982 n.d. n.d.

1983 n.d. n.d.

1984 30 1.161

1985 32 1.339

1986 39 1.563

1987 44 1.696

1988 56 2.042

1989 n.d. n.d.

1990 115 3.471

1991 n.d. n.d.

1992 n.d. n.d.

1993 n.d. n.d.

1994 n.d. n.d.

1995 n.d. n.d.

1996 n.d. n.d.

1997 185 4.085

1998 n.d. n.d.

1999 n.d. n.d.

2000 n.d. n.d.

2001 n.d. n.d.

2002 n.d. n.d.

Fonte: EMATER/RS.