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YHÊDA FONSECA MIRANDA A IMPORTÂNCIA DA PROFISSIONALIZAÇÃO PARA ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO FECHADO EM PALMAS-TO

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YHÊDA FONSECA MIRANDA

A IMPORTÂNCIA DA PROFISSIONALIZAÇÃO PARA ADOLESCENTES EM

CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO FECHADO EM

PALMAS-TO

Palmas -TO

2019

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YHÊDA FONSECA MIRANDA

A IMPORTÂNCIA DA PROFISSIONALIZAÇÃO PARA ADOLESCENTES EM

CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO FECHADO EM

PALMAS-TO

Trabalho de Curso em Direito apresentado

como requisito parcial da disciplina de

Trabalho de Curso em Direito II (TCD II) do

Curso de Direito do Centro Universitário

Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA.

Orientador(a): Prof. Esp. Carlos Victor

Almeida Cardoso Júnior.

Palmas-TO

2019

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YHÊDA FONSECA MIRANDA

A IMPORTÂNCIA DA PROFISSIONALIZAÇÃO PARA ADOLESCENTES EM

CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO FECHADO EM

PALMAS-TO

Trabalho de Curso em Direito apresentado

como requisito parcial da disciplina de

Trabalho de Curso em Direito II (TCD II) do

Curso de Direito do Centro Universitário

Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA.

Orientador(a): Prof. Esp. Carlos Victor

Almeida Cardoso Júnior

Aprovado (a) em: 10 de junho de 2019.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Prof. Esp. Carlos Victor Almeida Cardoso Júnior

Centro Universitário Luterano de Palmas

__________________________________________________

Prof. Me. Sinvaldo Conceição Neves

Centro Universitário Luterano de Palmas

__________________________________________________

Prof(a). Dr. Vinícius Pinheiro Marques

Centro Universitário Luterano de Palmas

Palmas-TO

2019

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus pelo Dom da vida e aos meus pais por todos esforços,

amor e dedicação para que eu pudesse realizar mais um sonho, o da formação. A minhas

irmãs Lara e Camila, agradeço o apoio e compreensão dos dias em que me ausentei e por todo

o incentivo durante os anos de faculdade. Ao meu namorado Iury, agradeço pela força, apoio

e esforços em tentar me ajudar de alguma forma na construção deste trabalho.

Agradeço aos amigos que fiz ao longo da graduação, e em especial as minhas grandes

amigas Ádylla, Karina e Laiana, que permitiram que essa caminhada fosse mais alegre e pelos

inúmeros conselhos e frases de motivação, obrigada pela amizade de vocês e que ela seja

eterna.  Sou grata por ter estagiado em um local que me proporcionou conhecimento e, além

disso, a enxergar o mundo com outros olhos, o meu muito obrigada a Defensoria Pública do

Estado do Tocantins, em especial a Doutora Larissa Pultrini, defensora pública, e a Luana

Pantoja, assessora jurídica, na qual foram fundamentais para o meu crescimento profissional.

Sou grata a todos os professores que contribuíram com a minha trajetória acadêmica,

especialmente ao professor Carlos Victor Almeida Cardoso Júnior, pelo empenho dedicado ao

meu projeto de pesquisa e responsável pela orientação do meu projeto.

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RESUMO

O presente trabalho discute sobre a importância da profissionalização para adolescentes privados de liberdade no Município de Palmas - TO. O estudo foi iniciado por meio de pesquisa bibliográfica, analisando toda trajetória da legislação que assegura o direito das crianças e dos adolescentes. Ainda, foi exposta a forma da apuração infracional até a aplicabilidade da medida socioeducativa necessária ao adolescente infrator. Outrossim, os dados foram colhidos pelos processos judiciais dos adolescentes que residem na Comarca de Palmas, nos seus respectivos Plano Individual de Atendimento e relatórios comportamentais, que informam os cursos profissionalizantes realizados por estes no tempo que ficaram internados.

Palavras-chaves: Adolescentes infratores. Medida socioeducativa. Profissionalização.

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LISTA DE SIGLAS

CASE Centro de Atendimento Socioeducativo

CEIP Centro de Internação Provisório

CONANDA Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CF Constituição Federal do Brasil

DPE-TO Defensoria Pública do Estado do Tocantins

ECA Estatuto da Criança e Adolescente

FUNABEM Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor

FEBEM Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor

UNICEF Fundo das Nações Unidas para infância

LA Liberdade Assistida

NUDECA Núcleo Especializado de Defesa da Criança e do Adolescente

PIA Plano de Atendimento Individual

PSC Prestação de Serviços à Comunidade

SAM Serviço de Assistência aos Menores

SEDH Secretaria Especial de Direitos Humanos

SECIJU Secretaria Estadual da Cidadania e Justiça

SEDES Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAT Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

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LISTA DE EXPRESSÕES LATINAS E/OU ESTRANGEIRAS

Apud citado porCaput enunciado de artigo de lei ou regulamentoParquet sinônimo de Ministério Público ou dos funcionários que ali trabalhamDue process of law devido processo legal

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................08

1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA LEI QUE AMPARA A CRIANÇA E O

ADOLESCENTE E A CRIAÇÃO DE NOVO PARADIGMA...........................................11

1.1 HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO À PROTEÇÃO INTEGRAL DA CRIANÇA E

ADOLESCENTE .....................................................................................................................11

2 APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

APLICADAS ..........................................................................................................................23

2.1 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS ...................................................................................28

2.1.1 Advertência .................................................................................................................29

2.1.2 Da obrigação de reparar danos ................................................................................30

2.1.3 Prestação de serviço à comunidade ..........................................................................32

2.1.4 Liberdade assistida ....................................................................................................34

2.1.5 Semiliberdade .............................................................................................................35

2.1.6 Internação ...................................................................................................................37

3 A PROFISSIONALIZAÇÃO APLICADA NA MEDIDAS SOCIOEDUCATIVA DE

INTERNAÇÃO ......................................................................................................................40

3.1 A IMPORTÂNCIA DA PROFISSIONALIZAÇÃO PARA ADOLESCENTES EM

CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO FECHADO EM

PALMAS-

TO ............................................................................................................................................45

CONCLUSÃO ........................................................................................................................53

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 55

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INTRODUÇÃO

A criança e o adolescente tem seus direitos assegurados pela Lei nº 8.069 de 13 de

julho de 1990, que para o Estado a criança é a pessoa até doze anos de idade incompletos e

adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade, e só excepcionalmente, o Estatuto da

Criança e Adolescente - ECA, poderá ser aplicado às pessoas entre 18 (dezoito) a 21 (vinte e

um) anos e idade.

A situação da infância e juventude encontra-se bastante fragilizada no que tange à

saúde, à alimentação, à educação, à habitação, à formação profissional, entre outros direitos

assegurados no art. 227 da Constituição Federal de 1988. Sabe-se que o aumento da violência,

uso de drogas, abandono, negligências, vulnerabilidade econômica, desestrutura

familiar, exploração, envolvendo crianças e adolescentes tem aumentado cada vez mais,

tornando os índices de marginalização entre esses adolescentes mais comum.

Neste processo de caráter pedagógico que o Estado aplica no adolescente, que é a

imposição da medida socioeducativa, este continua sendo pessoa sujeito de direito, tem dever

e obrigações, assim como deve cumprir regras no ambiente em que estiver inserido.

Neste ambiente, no qual o adolescente irá cumprir a medida em meio fechado, deve

ser observado a atuação do Estado na inserção desse adolescente na sociedade, bem como a

capacitação do socioeducando no mercado de trabalho.

O trabalho irá tratar a importância da capacitação profissional do adolescente que

cumpre medida socioeducativa de internação para que ao ser desinternado tenha oportunidade

de ser inserido no mercado de trabalho e melhorar de vida. Além disso, quais cursos são

disponibilizados pelo Estado para que haja essa profissionalização dentro da unidade inserido.

Neste contexto, entende-se que a presente pesquisa se torna importante dado o

número cada vez maior da reincidência de adolescentes, tornado o Estado falho na aplicação

das medidas socioeducativas.

Outro fator de suma relevância, que motivou a pesquisa foram as experiências

adquiridas pela autora ao longo de um ano e oitos meses como estagiária na 27ª Defensoria

Pública da infância e Juventude em Palmas-TO. Estas experiências permitiram, de maneira

empírica, a compreensão sobre a necessidade de práticas educativas cotidianas, de forma que

haja um rompimento com a lógica de um determinismo biológico existente no modo de os

agentes de desenvolvimento social conceber a adolescência, sobretudo o adolescente infrator.

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A propósito, este trabalho também se justifica em razão da suma importância do tema

para a construção de uma sociedade com responsabilidades sociais, em especial na formação

da criança e adolescente, pois, a busca da efetividade do direito é algo inerente a qualquer

sujeito de direito e, em se tratando de direito da criança e do adolescente, torna-se relevante,

já que são o futuro da sociedade.

Seguindo essa linha de pensamento, o presente trabalho tem como objetivo geral

demonstrar a importância da profissionalização na execução de medida socioeducativa de

internação de adolescentes do sexo masculino, do período de janeiro a dezembro de 2018,

com análise a reincidência dos adolescentes que já cumpriram medida de internação e que

residiam em Palmas-TO.

Inicialmente foi utilizada revisão bibliográfica com base no estudo do direito da

Criança e do Adolescente, bem como doutrinas que traziam e evolução desse direito até ser

reconhecido e criado a Lei específica. Também foram usadas legislações infraconstitucionais,

como o Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº 8.069/1990, Lei nº 12.594/2012, que

regulamenta a execução de medidas socioeducativas destinadas a adolescentes que pratiquem

ato infracional, além de artigos científicos extraídos da internet, que discorriam sobre o direito

em geral, sobre a história da conquista dos direitos da infância e juventude, sobre as medidas

socioeducativas e políticas públicas voltada para adolescentes infratores.

Foi utilizado o método qualitativo e quantitativo referente aos adolescentes que

cumpriram medida socioeducativa de internação e residiam em Palmas–TO, no ano de 2018,

colhidos por meio de processos eletrônicos que tramitam no juizado da infância e juventude

de Palmas-TO.

Dessa forma, no primeiro capítulo “Trajetória histórica da lei que ampara a criança e

o adolescente e a criação de novo paradigma”, será tratado da evolução dos direitos voltado a

infância e juventude ao longo do tempo, explicando como essas crianças e jovens eram

tratados até adquirirem e serem sujeitos de direito.

No segundo capítulo “Apuração do ato infracional e as medidas socioeducativas

aplicadas” serão expostas as fases de apuração do ato infracional até a aplicação das medidas

socioeducativas, assim como sobre cada medida socioeducativa prevista no Estatuto da

Criança e do Adolescentes - ECA.

No terceiro capítulo é discorrido sobre “A profissionalização aplicada na medida

socioeducativa de internação”, trazendo uma abordagem sobre importância da

profissionalização, que pode ser capaz de aumentar a probabilidade de obtenção de emprego e

de geração de renda dos socioeducandos, bem como elevar a probabilidade de permanência

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no mercado de trabalho, construção de projeto de vida desvinculado da prática do ato

infracional.

Portanto, será tratado sobre a apuração do ato infracional e a execução da medida

socioeducativa, bem como a qualificação dos adolescentes privados de liberdade em Palmas,

baseado no direito da criança e do adolescente, no direito constitucional e na Lei que

regulamente as medidas socioeducativas, o SINASE, mostrando os reflexos dessa atuação do

Estado na execução das medidas.

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1 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA LEI QUE AMPARA A CRIANÇA E O

ADOLESCENTE E A CRIAÇÃO DE NOVO PARADIGMA

A forma de tratamento das crianças e adolescentes, em especial dos adolescentes em

conflito com a lei, nem sempre foi caracterizada pela garantia de direitos. Sendo assim, é

importante entender toda evolução, aspectos históricos e contraditórios sobre o assunto. A

maneira que crianças e adolescentes eram tratados antes da criação do Estatuto da Criança e

Adolescente foi marcada por intervenções conservadoras e repressivas. Não eram

considerados sujeitos de direito, mas vistos como objeto de ação do Estado.

A formação pessoal de um indivíduo em uma sociedade sem infringir paradigmas

sociais deve ter uma base familiar estruturada, ter acesso à educação, saúde digna, segurança,

dentre outros preceitos que a todo cidadão deve ser assegurado, para que as crianças e

adolescentes cresçam como pessoas de bem, com seus princípios e valores sociais invictos.

Essa construção da formação desse indivíduo começa em casa, possuindo vínculos

fortalecidos com pais e familiares, em um ambiente de amor e carinho, onde não possa existir

qualquer tipo de vulnerabilidade para esse menor.

A criação de uma lei que ampara as crianças e adolescentes no Brasil foi demorada,

tendo estes enfrentaram bastante dificuldades. Todavia, durante essa trajetória foram criados

Códigos e Estatutos para que fosse garantido o direito, na proteção e na reeducação dessas

crianças e adolescentes.

1.1 HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO À PROTEÇÃO INTEGRAL DA CRIANÇA E

ADOLESCENTE

No Brasil a criança e adolescente por muito tempo não tinha uma proteção integral

aos seus direitos e eram vistos de forma preconceituosa, principalmente adolescentes em

conflito com a lei, que nos dias atuais ainda sofrem preconceitos. De modo histórico, essas

crianças e adolescentes eram qualificados (menores, pivetes, trombadinhas, marginais,

delinquentes, moleque, etc.) conforme o contexto social e histórico vivido.

Segundo Mendes (2002) ao observar a evolução histórica dos direitos das crianças e

adolescentes internacionalmente, analisando a responsabilidade penal dos menores de idade,

foi possível distinguir três fases que fizeram parte dessa trajetória.

A primeira fase, considerada de caráter penal indiferenciado, foi do início no século

XIX até a primeira década do século XX. Nesta fase as crianças e adolescente eram

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considerados propriedades de seus pais, eram tratados praticamente da mesma maneira que os

adultos no âmbito penal, “liberdade por um pouco menos tempo que os adultos e a mais

absoluta promiscuidade”, eram recolhidos no mesmo recinto.

O segundo momento, chamado de caráter tutelar, tem origem nos Estados Unidos no

início do século XX. Que teve seu marco no aspecto da promiscuidade, onde os menores

foram separados dos adultos, uma bandeira vitoriosa para os reformadores norte-americanos.

Já a terceira fase, chamada de caráter juvenil, foi a que mais marcou a história.

Quando da Convenção das Nações Unidas de Direitos da Criança, dando fim ao modelo de

caráter diferenciado e ao modelo tutelar, sendo inaugurado o Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA) – Lei nº 8.069 de 13 de julho 1990.

As primeiras legislações nacionais que eram relevantes para o estudo do Direito das

crianças e adolescentes eram as Ordenações Filipinas, quando D. João VI chegou ao Brasil

com sua corte. Elas vigeram em Portugal a partir de 1603 e no Brasil até 1830, até a

instituição do Código Penal do Império.

Neste tempo havia uma igreja oficial que possuía jurisdição sob o Estado com o

Direito Canônico, que era a Igreja Católica. Acreditavam que a responsabilidade vinha aos

sete anos de idade, chamando de idade da razão, em meados do início do século XIX.

De acordo com José Henrique Pierangelli (1980) a aplicação das Ordenações era a

favor apenas dos menores de dezessete anos de idade, onde era inaplicado a pena de morte.

Como a imputabilidade penal tinha início aos sete anos, o menor poderia ter redução da pena

ou ser eximido da pena de morte, demonstrado por Tavares (2004, apud Ordenações Filipinas,

1603):

E quando o delinquente for menor de dezessete anos cumpridos, posto que o delito mereça morte natural, em nenhum caso lhe será dada, mas ficará em arbítrio do julgador dar-lhe outra menor pena. E não sendo o delito tal, em que caiba pena de morte natural, se guardará a disposição do Direito comum.

Se praticado o delito de dezessete anos até vinte anos de idade, era considerado

“jovem adulto” e poderia até mesmo ser condenado a pena de morte e dependendo da

condição poderia ter a pena diminuída, ficaria ao arbítrio dos julgadores a aplicação da pena

que melhor lhe cabia. Os maiores de vinte e um anos possuíam a imputabilidade penal plena,

que poderiam receber a pena de morte para certos delitos praticados, como esclarece Tavares

(2004, apud Ordenações Filipinas, 1603):

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E se for de idade de dezessete anos até vinte, ficará ao arbítrio dos julgadores dar-lhe a pena total, ou diminuir-lha.E, neste caso, olhará o julgador o modo com que o delito foi cometido, e ascircunstâncias dele, e a pessoa do menor; e se achar em tanta malícia, que lhe pareça que merece pena total, dar-lhe-á, porto que seja de morte natural.E parecendo-lhe que não a merece, poder-lhe-á diminuir, segundo a qualidade, ou simpleza, com que achar, que o delito foi cometido (TAVARES, 2004, p. 3).

Deste modo, observa-se que a legislação brasileira vigente na época tinha a

responsabilidade penal bem rígida, onde não estabelecia distinção entre crianças e

adolescentes, podendo ser fixado penas mais brandas para menores de dezessete anos.

Em 1830 foi criado o Código Criminal do Império, que fixou a imputabilidade penal

plena aos quatorze anos de idade. Possuía um sistema biopsicológico, baseado no

discernimento para punição de crianças entre sete e quatorze anos. Entre essa faixa etária, os

infantes que agiam com discernimento poderiam ser considerados imputáveis e ser recolhidos

às casas de correção, pelo tempo que o juiz achasse necessário, não podendo ultrapassar de

dezessete anos, como destaca Rolf Koerner Júnior, citando o professor Manoel Pedro

Pimentel, da USP:

Declaração do Tribunal de Relação da Corte, proferida em 23 de março de 1864, assentou que os menores de sete anos não tinham responsabilidade alguma, não estando, portanto, sujeitos a processo. Entre os sete e quatorze anos, os menores que obrassem com discernimento poderiam ser considerados relativamente imputáveis e, nos termos do artigo 13 do mesmo Código, serem recolhidos às casas de correção pelo prazo que ao juiz parecer, contanto que o recolhimento não exceda à idade de dezesseis anos.

Ainda no século XIX, o mundo estava em processo de transformação devido ao

sistema de industrialização, onde todos os membros da família passaram a integralizar como

funcionários das fábricas. Com essa mudança social, com as grandes jornadas de trabalho na

época e, de modo consequente, os números de crianças abandonadas cresceram, bem como o

aumento de moradores de rua, que passaram a ser um problema social.

No final do século XIX e início do século XX, o Estado Brasileiro passou a conhecer

as primeiras políticas públicas sociais de abrigo para crianças. Porém, a Igreja Católica

possuía domínio de quase todo atendimento sobre o acolhimento de crianças abandonadas,

como cita Antônio Carlos Gomes da Costa:

Da chegada dos colonizadores até o início do século XX não se registra, no corpo do Estado brasileiro, a presença de ações que possam ser caracterizadas como política social. O atendimento às necessidades da população neste campo foi, durante os primeiros quatrocentos anos de nossa história, uma função entregue totalmente à Igreja Católica. (COSTA, 1993, p. 96).

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As chamadas “Rodas dos Expostos” foi trazida ao Brasil no século XVIII e seu

objetivo era salvar recém nascidos abandonados. Era encontrada dentro das Santas Casas de

Misericórdia, local onde crianças eram deixadas e feito o acolhimento destas pela Igreja

Católica, visando a transformação da população mais carente na classe trabalhadora para que

ficassem distantes da prostituição e a vadiagem.

Também um grande marco na época foi a lei do Ventre Livre, promulgada em 28 de

setembro de 1871 pela princesa Isabel, na qual determinada que todo filho de escravo nascido

a partir da data da Lei eram livres.

No entanto, os filhos nascidos a partir daquela data ficariam em poder e

responsabilidade dos senhores de sua mãe até os oito anos de idade e, após essa idade a

autoridade dos senhores poderia ser indenizada pelo Estado, e o Estado lhe daria o destino em

conformidade com a lei ou poderia utilizar os serviços de menor até vinte e um anos de idade.

Em 1889 houve a Proclamação da República, sendo o Código Penal do Império

substituído pelo Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, por meio do Decreto nº 847 em

1890. Naquele Código houve nova alteração, sendo que a irresponsabilidade penal que

passaria para menores até nove anos de idade, já a imputabilidade plena foi fixada nos

quatorze anos de idade, como estabelece o artigo 27 do Código Penal Republicano (1890):

“art. 27. Não são criminosos: § 1º Os menores de 9 anos completos; § 2º Os maiores de 9 e

menores de 14, que obrarem sem discernimento.”

Segundo Rizzini (2008), após a alteração da idade penal de quatorze para nove anos de

idade foi considerado um retrocesso ao ser comparado ao Código Criminal de 1830, pois na

época se discutia a importância de tentar evitar punições a crianças e adolescentes.

Deste modo, os maiores de nove anos e menores de quatorze eram submetidos ao

critério biopsicológico com análise do discernimentos, era realizado pelo magistrado que “a

sua aptidão para distinguir o bem do mal, o reconhecimento de possuir ela relativa lucidez

para orientar-se em face das alternativas do justo e do injusto, da moralidade e da imoralidade,

do ilícito e do licito” citando Rolft Koerner Júnior (1998) sobre este tema.

Para esses menores delinquentes entre nove e menores de quatorze anos quando

possuíam entendimento do ato cometido e suas consequências eram penalizados, com caráter

disciplinar, e recolhidos em estabelecimentos industriais, onde trabalhavam e ficavam retidos

até o tempo que o juiz entender necessário, no máximo até os dezessete anos de idade,

conforme o art. 30 do Código Republicano:

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Art. 30. Os maiores de 9 anos e menores de 14, que tiverem obrado com discernimento, serão recolhidos a estabelecimentos disciplinares industriais, pelo tempo que ao juiz parecer, contanto que o recolhimento não exceda a idade de 17 anos.

Ao final do século XIX houve uma grande manifestação feminina em busca de seus

direitos e em razão da dura jornada de trabalho, que foi um grande avanço na efetivação do

direito, e no Direito da Criança também teve seu marco envolvendo a Sociedade Protetora dos

Animais em Nova York, já que não existia nenhuma entidade que lutava sobre o direito da

criança e adolescente.

O caso que levou essa evolução do Direito da Criança envolvia uma menina que era

maltratada pelos pais que teve muita repercussão na época, quando o público da cidade teve

conhecimento dos fatos e o caso chegou aos tribunais.

Até onde era sabido, não havia diferença entre uma criança e um cachorro, os pais

eram seus donos e os educavam da forma que achavam necessário, eram como objetos. Após

a repercussão do caso, chamado de Caso Marie Anne, os menores passaram a ser objeto de

proteção do Estado e o Direito de Menores começou a surgir, da maneira que este foi o

primeiro processo judicial registrado como maus-tratos à uma criança, sendo criado o

primeiro Tribunal de Menores nos Estados Unidos quando outros países também aderiram

esse novo conceito de Direito, conforme relata João Saraiva (2016). Esse movimento

internacional em busca ao direito integral a criança foi o início de uma reivindicação para que

o reconhecimento de sua condição fosse distinto do adulto.

No ano de 1911 foi realizado o Congresso Internacional de Menores em Paris e a

Declaração de Gênova dos Direitos da Criança, dois marcos a nível mundial de

reconhecimentos do Direito do Menor e adotado pela Liga das Nações, gerando os primeiros

instrumentos internacionais que reconheceram o Direito da Criança.

No Brasil, criado o Decreto nº 16.273 de 1923 que instituiu a criação da figura do Juiz

de Menores na Administração da Justiça, sendo o primeiro juiz da infância e da Juventude da

América Latina, o jurista José Cândido de Albuquerque Mello Mattos.

Após essas mudanças do novo direito pelo mundo e no Brasil, em 1927 foi

promulgado o Decreto nº 17.943-A, versava sobre o Direito dos Menores, criado pelo

primeiro Juiz de Menores no Brasil, Mello Mattos.

O Código de Mello criado para dar assistência a Crianças e Adolescentes que viviam

em situação de pobreza, abandonadas ou em situação delituosa. Rizzini (2008) afirma que

“ser menor era carecer de assistência, era sinônimo de pobreza, baixa moralidade e

periculosidade”.

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Sob o olhar dessa nova Lei havia distinção entre a situação vividas dessas crianças que

viviam de forma irregular, identificadas como infância socialmente desvalida e a infância

delinquente, eram considerados o menores abandonados e o menores criminosos, dando

origem ao termo menor, segundo a leitura de João Batista Costa Saraiva e escrita:

A declaração de situação irregular tanto poderia derivar de sua conduta pessoal (caso de infrações por ele praticadas ou de “desvio de conduta”), como da família (maus tratos) ou da própria sociedade (abandono). Haveria uma situação irregular, uma “moléstia social”, sem distinguir, com clareza, situações decorrentes da conduta do jovem ou daqueles que o cercam. (SARAIVA, 2016, p. 54)

O Código disporia da imputabilidade penal objetiva aos quatorze anos e a

subordinação dos menores entre quatorze a dezoito anos ao Código de Mello Mattos. Muitas

Leis foram criadas e alteradas entre o ano de 1921 a 1927, entre elas o Decreto de 22.213 de

1932, a Consolidação das Leis Penais, que entrou em divergência com o Código de Mello

Mattos, quando em 1940 sobreveio o advento do Código penal.

Fixado pelo Decreto Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, o Código Penal obtinha

mudanças significativas, entre elas a mudança sobre a inimputabilidade criminal.

Desta maneira o Código adotou exclusivamente o critério da idade do menor, sendo

este menor de dezoito anos seria inimputável penalmente, não sendo mais penalizado pelo

Código Penal, mas sim por lei especifica, estabelecido no art. 23 do referido Código.

Foi criado um Decreto-Lei nº 6.026 de 1943 que configurava as medidas aplicadas a

adolescentes que praticavam atos infracionais, gerando mudanças a legislação infanto-juvenil

brasileira.

Nesta mesma época o Governo Getúlio Vargas criou um Sistema de atendimento a

menores, chamado de Serviço de Assistência aos Menores – SAM, que segundo Antônio

Carlos Gomes da Costa, era um órgão do Ministério da Justiça que era como um Sistema

Penitenciário para menores.

O SAM era mais direcionado ao âmbito social, tinha como competência:

[...] orientar e fiscalizar educandários particulares; investigar menores para fins de internação e ajustamento social; proceder ao exame médico e psicopedagógico; abrigar e distribuir os menores pelos estabelecimentos, promover a colocação deles; incentivar a iniciativa particular de assistência a crianças, e estudar as causas do abandono [...] (FALEIROS, 2005, p. 68)

Esse sistema era formado por internatos para adolescente que praticavam infrações

penais e de patronatos agrícolas e escola de aprendizagem de ofício urbanos, para aqueles

menores abandonados.

Page 19: ulbra-to.br · Web viewAinda em 1964 foi criado a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – FUNABEM, órgão sucessor da SAM, que era o órgão nacional gestor desse sistema,

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Logo mais, iniciou-se reivindicações no mundo em prol aos Direitos Humanos, com a

Declaração Universal dos Direitos da Criança, adotada no Brasil em 1959, foi quando um

novo marco na história se deu. Uma nova concepção jurídica de infância que anos depois foi a

contrapartida para criação da Lei de Proteção Integral as crianças.

Ainda em 1964 foi criado a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor –

FUNABEM, órgão sucessor da SAM, que era o órgão nacional gestor desse sistema, que

ramificou ao órgão executores estaduais chamados de Fundações Estaduais do Bem-Estar do

Menor –FEBEMs.

A Política Nacional de Bem-Estar do menor era guiado pela doutrina da Situação

Irregular, que atendia os menores que viviam em situação irregular, inclusive aquele que os

pais se mostravam incapaz de mantê-los, ficando vulneráveis a intervenção desse sistema da

justiça.

O Código de Menores foi criado com base na Doutrina da Situação Irregular que é

definida como aquela que os menores que encontra-se em discordância com os preceitos

sociais e se tornam objetos da norma que regulamentam. Era assegurado neste código os

adolescentes menores de dezoito anos que estavam em situação irregular e aqueles entre

dezoito e vinte e um anos, em casos que a lei determinasse.

Houve algumas mudanças na lei que vigia antes do Código de Menores, entre estas: a

distinção dos indivíduos que eram considerados em situação irregular; mais poderes os

julgadores dos menores e até quando havia lacunas na lei criar normas; aplicação de medidas

punitivas e proteção para adolescente em conflito com a Lei; aplicação de medidas

repreensivas aos pais que não davam suporte ao filho menor de idade, caso necessário.

Para que os menores fossem considerados em situação irregular dependia da sua

conduta pessoal (em casos de praticarem infrações), conduta da família (maus-tratos), e pela

conduta da sociedade (casos de abandono). Essa declaração de irregularidade não era distinta

com clareza as situações de condutas dos jovens ou daqueles que os rodeiam.

Observa-se que na vigência do Código de Menores não havia diferença de criança e

adolescente, mas eram denominados como “menores”, não havia cumprimento aos direitos

fundamentais, como era admitido por exemplo, a apreensão fora da possibilidade de flagrante

ou de busca e apreensão.

Contudo, não houve grandes mudanças no ordenamento jurídico no âmbito da infância

e juventude até a criação da Constituição Federal do Brasil em 1988 que adicionou ao texto

constitucional princípios instauradores da doutrina da proteção integral, que assegura ser

dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, à criança e ao adolescente, com absoluta

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prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,

à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de

colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,

crueldade e opressão.

A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, representa a evolução ao sistema

infantojuvenil que assegura direito integral a essas crianças e adolescente que vivem em

situação de vulnerabilidade social, maus-tratos, busca por direitos sociais, menores autores de

atos infracionais e entre outras formas que afrontam sua dignidade.

Com o estabelecimento dessa nova Lei, que teve como base a Constituição Federal do

Brasil – CF, de 1988, o texto do art. 227 da CF/1988, foi de grande importância para a criação

da legislação infraconstitucional que veio para regulamentar os direitos elencados na matéria,

sendo está o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº 8.069/1990, que seu texto

legal foi moldado de acordo com a Convenção das Nações Unidas de Direito da Criança.

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, passou a assegurar direitos integrais

passando a se tornarem sujeitos de direito, o que não era reconhecidos antes. Mas, não

possuem apenas direitos como também deveres, como menciona Saraiva:

Na Doutrina da Proteção Integral dos Direitos, as crianças passam a ser definidas de maneira afirmativa, como sujeitos plenos de diretos. Já não se trata de “menores”, incapazes, meias-pessoas ou incompletas, senão de pessoas cuja única particularidade é a de estar em desenvolvimento. Por isso lhes reconhecem todos os diretos que têm os adultos mais diretos específicos por reconhecer-se essa circunstância evolutiva. (SARAIVA, 2012, p. 24)

De acordo com Saraiva (2010), o Estatuto da Criança e do Adolescente é estruturado

em três grandes sistemas de garantia, que são: Sistema Primário, que visa as políticas públicas

de atendimento a criança e adolescentes de caráter universal; Sistema Secundário, que trata da

política de assistência social dirigida a criança e adolescente que estão em situação de risco

pessoal ou social; Sistema Terciário, que zela das medidas socioeducativas, aplicáveis a

adolescentes infratores.

O adolescente que pratica condutas contrárias ao que é estabelecido em lei não realiza

crime e sim ato infracional, na qual é equiparado ao crime ou contravenções penais, como

consta no art. 103 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Adolescentes em conflito com a

lei irá receber como repreensão do Estado, em caráter pedagógico, medidas socioeducativas

em meio aberto ou fechado, isso dependendo da gravidade do ato infracional praticado.

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No direito da infância e juventude deve-se seguir duas regras essenciais na

interpretação de casos envolvendo crianças e adolescentes, a doutrina de proteção integral e o

princípio de melhor interesse, são prioridade absoluta no que tange os direitos da criança e

adolescente e assegura seus direitos fundamentais.

Para evitar a mesma rotulação que as crianças e adolescentes sofriam desde os outros

Códigos, o Estatuto da Criança e do Adolescente alterou o termo técnico “menor”, então

usado para aquele que vivia em situação irregular, que vinculava a definição de infrator,

bandido, marginal, para “criança e adolescente”. Essa distinção era usada para

descriminalização do menor, denominado infrator baixa renda e a criança e adolescente

designado para aqueles de classe média e alta. O ECA resolveu quebrar esse paradigma usado

há anos para os menores de dezoito anos e aderiu esse novo termo nessa legislação que

assegura seus direitos integrais, os denominando de criança e adolescente.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), em seu art. 2 distingue a ‘criança’ (menor de 12 anos) do ‘adolescente’ (entre 12 e 18 anos). Somente para esse último é que prevê ‘garantias processuais’ (art. 110, do ECA). Para a criança, só se fala em ‘medidas de proteção’ (arts. 99 a 102 e 105).” (STJ – 6ª T. – RHC 3.547 – Rel. Adhemar Maciel – j. 9-5-1994).

O ECA estabelece normas para a proteção e reeducação dos adolescentes, que são

dividias em medidas protetivas e medidas socioeducativas, dependendo da situação que a

criança ou adolescente se encontra.

Para as crianças de até doze anos de idade são destinadas medidas protetivas, como

elenca o art. 101, do ECA:

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da criança e do adolescente;           V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;VII - abrigo em entidade;VII - acolhimento institucional;         VIII - colocação em família substituta.VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar        IX - colocação em família substituta.

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Em 2004 foi apresentado um projeto de Lei que regulamenta desde a apuração do ato

infracional até a execução de medidas socioeducativas destinadas a adolescentes em conflito

com a lei. Esse projeto foi apresentado pela Secretaria Especial de Direitos Humanos –

SEDH, o Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA, e apoio

do Fundo das Nações Unidas para infância – UNICEF. A Lei nº 12.594/2012, mais conhecida

de SINASE, tem o objetivo de intervir no atendimento do adolescente infrator, em busca da

sua formação com base no processo pedagógico com efetividade, e não de forma punitiva

vista nos Códigos anteriores, para que esse adolescente autor de ato infracional seja inserido e

educado a viver socialmente.

O SINASE é dividido em nove capítulos que busca desenvolver uma ação

socioeducativa baseando nos princípios dos direitos humanos. Não visa apenas a intervenção

do Estado como agente aplicador de medidas socioeducativas, mas procura a articulação entre

a família, o Estado e a sociedade para que esse adolescente venha ter o melhor atendimento e

apoio nesse período de ressocialização.

Desse modo, a Lei nº 12.594/2012 é um mecanismo formado por um “[...] conjunto

ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro

e administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução

de medida socioeducativa” (CONANDA, 2006, p. 22). É considerado como uma política

social de inclusão do adolescente infrator.

Esta lei elenca sobre a execução de medidas socioeducativas, dispõe dos planos de

atendimentos, da avaliação e do acompanhamento da gestão do atendimento socioeducativo,

da responsabilização dos gestores, operadores e entidades de atendimento, da atenção integral

à saúde de adolescente em cumprimento de medida socioeducativa, da capacitação para o

trabalho, entre outros dispositivos, que foi implantada em 18 de janeiro de 2012, Lei nº

12.594, do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE.

Adolescentes menores que possuem faixa etária entre 12 (doze) anos completos e 18

(dezoito) anos incompletos estão sujeitas a qualquer uma das medidas socioeducativas

previstas na lei, caso pratiquem algum ato infracional, responderão a processo no juizado da

infância e juventude de acordo com a idade que contava na data da prática infracional, mesmo

que a apuração venha ocorrer depois que atingiu a maioridade penal, podendo cumprir medida

socioeducativa até 21 (vinte e um) anos de idade, nos termos do art. 2º, Parágrafo único, do

ECA e Súmula 605 do STJ.

Segundo no art. 104 do Estatuto da Criança e adolescente que:

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Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de 18 (dezoito) anos, sujeitos às medidas previstas nesta lei.Parágrafo único - Para os efeitos desta lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato.

As medidas socioeducativas previstas no ECA podem ser cumpridas em meio aberto e

em meio fechado, onde nesta última há privação de liberdade.

Como menciona De Morais e Ramos (2010, p. 828) a medida socioeducativa em meio

aberto o adolescente não é privativa de liberdade e podem ser divididas em quatro:

advertência, reparação de dano quando são aplicadas são de forma isolada e serão executadas

nos mesmo processo de apuração do ato infracional; medida socioeducativa de Liberdade

assistida, que o adolescente deve ter acompanhamento com uma equipe do Centro de

Referência Especializado de Assistência Social– CREAS; medida de prestação de serviço à

comunidade, que é o cumprimento obrigatório de tarefas de caráter coletivo, visando

interesses e bens comuns.

Outrossim, a medida em meio fechado são divididas em apenas duas que é a de

internação, onde o adolescente ficará em um estabelecimento recebendo visitas de familiares

apenas em finais de semana e a medida socioeducativa de semiliberdade, que o adolescente

estuda em uma unidade escolar fora da unidade, realiza cursos profissionalizantes fora da

unidade também, poderá trabalhar, mas retorna para dormir. São acompanhados por

socioeducadores que deixam em seus respectivos lugares das atividades e buscam. Nos finais

de semana, se não infringirem nenhuma regra da unidade, poderão passar o final de semana na

casa de sua família retornando no domingo à noite para a referida unidade.

A exposição de Liberati (2006, p. 102) a respeito das medidas socioeducativas é

esclarecedora:A medida socioeducativa é a manifestação do Estado, em resposta ao ato infracional, praticado por menores de 18 anos, de natureza jurídica impositiva, sancionatória e retributiva, cuja aplicação objetiva inibir a reincidência, desenvolvida com finalidade pedagógica-educativa. Tem caráter impositivo, porque a medida é aplicada independentemente da vontade do infrator – com exceção daquelas aplicadas em sede de remissão, que tem finalidade transacional.

A medida socioeducativa de internação é a medida mais severa imposta a um

adolescente que claramente tem caráter punitivo quando outras menos rigorosa não se adequa

nas hipóteses previstas no art. 122, do ECA:Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

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Durante o cumprimento da medida, o adolescente será acompanhado pela equipe

técnica dentro da unidade inserido que fará um relatório comportamental trimestralmente ou

bimestralmente, para avaliação e possível substituição de medida socioeducativa.

O índice de menores infratores tem aumentado a cada ano significando que mais

adolescentes cumprirão medidas socioeducativas e se em meio fechado precisará de ambiente

adequado para sua internação. Dentro da instituição onde cumpre a medida em meio fechado

o socioeducando realiza atividades, tem acompanhamento com profissionais capacitados,

como psicólogos, assistentes sociais, educador físico e pedagogos. Dentre as atividades que

deverá realizar dentro da unidade o adolescente poderá realizar cursos profissionalizantes,

onde a unidade onde se encontra institucionalizado deverá ofertá-los.

Entretanto, durante o cumprimento o adolescente deverá cumprir regras e claramente

terá seus direitos assegurados.

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2 APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

APLICADAS

Para que o adolescente infrator cumpra alguma medida socioeducativa, O ECA

estabelece em seus artigos 171 a 190 o rito processual a ser realizado para a apuração do ato

infracional que é constituído por três fases. A primeira acontece pela autoridade policial, a

segunda pela oitiva no Ministério Público e a terceira pelo judiciário.

A fase policial é iniciada a partir da apreensão em flagrante do autor da prática

infracional (art. 172, ECA), que deverá ser encaminhado para a sede policial, quando houver

deverá ser na delegacia especializada, e ser realizado a lavratura do auto de apreensão. Não

havendo hipótese de flagrante, a fase policial será iniciada após o registro de boletim de

ocorrência.

De acordo com o art. 173 do ECA, caso o adolescente apreendido em flagrante tenha

praticado no ato infracional violência ou grave ameaça à pessoa, a Autoridade Policial deverá

lavrar o auto de apreensão, bem como ouvir testemunhas e o adolescente, apreender o produto

ou instrumento da infração, e para comprovação da materialidade e autoria requisitar laudos

periciais ou exames. Na hipótese de natureza diversa de flagrante, a Autoridade Policial

deverá lavrar um boletim de ocorrência circunstanciado.

A Autoridade Policial deverá comunicar imediatamente à Autoridade Judiciária e a

família do adolescente ou pessoa indicada por ele, após o registro do procedimento de

investigação será examinado a possibilidade do adolescente ser liberado, mediante

compromisso e responsabilidade de comparecer e se apresentar perante o Ministério Público

para sua oitiva, nos termos do art. 174 c/c art. 107, do ECA. Comunicado a Autoridade

Judiciária, está verá se todos os requisitos necessários da apreensão homologará e logo

remeterá ao Ministério Público para que possa manifestar, nos termos do art. 180 do Estatuto

da Criança e do adolescente.

Insta observar que mesmo se tratando de ato infracional praticado com violência ou

grave ameaça à pessoa, a regra é que o adolescente tenha seu direito natural à liberdade. Em

casos de repercussão social, clamor público e da violência empregada pelo adolescente ao

praticar o ato infracional contra a vítima, que geralmente acontece em homicídios, latrocínios,

roubo, estupro, a Autoridade Policial e o Ministério Público pode representar pela decretação

da internação provisória do adolescente, que tem prazo de 45 (quarenta e cinco dias) dias.

Na ocasião da não liberação do adolescente e na impossibilidade de ser apresentado ao

Ministério Público no mesmo dia, o adolescente será encaminhado para a entidade

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especializada, unidade de internação provisória, que apresentará o adolescente no prazo de

vinte de quatro horas no referido órgão. Ainda, o art. 175, §2º do ECA, menciona que não

havendo a instituição de atendimento para internação provisória na localidade o adolescente

poderá ser mantido em sede policial e por este deverá ser apresentado no Ministério Público,

mas deverá ser mantido em dependência diversa destinada a maiores de idade. Importante

ressaltar que para que haja a decretação da internação provisória pelo juízo, o Ministério

Público tem que ter realizado a representação e requerido a internação provisória.

Cumpre ressaltar que a defesa do adolescente infrator, advogado ou Defensoria

Pública, devem ser intimados acerca da decretação da internação do adolescente onde poderão

fazer o pedido de liberdade.

A internação provisória está prevista no art. 108 do ECA, que elenca que poderá ser

decretada antes da sentença e pelo prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, baseado nos indícios

de autoria e materialidade e demonstrada a sua necessidade, nesse tempo todo o processo de

apuração deverá ser concluído e o adolescente sentenciado. Caso esgotado o prazo sem a

conclusão do procedimento de apuração infracional o magistrado deverá determinar a

liberação do adolescente imediatamente.

Observar-se que nessa fase de apuração do ato infracional o adolescente tem o direito

do devido processo legal, como elenca nos arts. 110 e 111 do ECA, a garantia constitucional

do due process of law, previsto no art. 5º, LIV, da Constituição Federal do Brasil. Essa

garantia constitucional visa a segurança jurídica do processo de forma justa, observando o

procedimento previsto em lei e que possa garantir as partes o contraditório e a ampla defesa.

Por seguinte, com o fim das diligências da autoridade policial e com a conclusão da

fase policial o adolescente infrator, independente se está apreendido provisoriamente ou em

liberdade, deverá se apresentar em até 24 (vinte e quatro) horas perante o Promotor de Justiça

da Infância e Juventude, para que seja ouvido informalmente, ocasião em que o cartório

judicial deverá apresentar os antecedentes infracionais do adolescente.

Iniciada esse nova fase ministerial, o Promotor de Justiça fará a oitiva informal do

adolescente, bem como poderá ouvir seus responsáveis, testemunhas e vítima, onde será

questionado e perguntado acerca dos fatos, se já cumpriu outras medidas socioeducativas,

histórico familiar e social, grau de escolaridade, endereço residencial e contatos, se

participava de alguma atividade profissional, dentre outras perguntas que o Promotor de

Justiça achar necessária para avaliar e analisar o caso, conforme elencado no art. 179 do ECA.

Segundo Luciano Rossato (2011), a oitiva informal é a oportunidade para que o

adolescente apresente a sua versão dos fatos, no entanto se os argumentos não estiverem de

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acordo a existência dos autos o Promotor de Justiça poderá oferecer a representação,

independentemente de prova pré-constituída de autoria e materialidade, poderá arquivar o

processo, se entender que o adolescente não foi o autor da infração, ou conceder remissão, nos

termos do art. 182 do ECA.

O arquivamento do processo ocorre pelo requerimento do representante do Ministério

Público, que certificado que não há ato infracional, ou não foi possível a comprovação do

envolvimento do adolescente na prática do ato infracional, ou o fato é inexistente, essa

autoridade promoverá o arquivamento dos autos, com sua manifestação devidamente

fundamentada, de acordo com o arts. 180, I, c/c art. 189 e 205, todos dos Estatuto da Criança

e do Adolescente.

Ocorrendo a remissão, que também deverá ser devidamente fundamentada, de acordo

com o art. 180, II, c/c 126 caput e art. 127 do Estatuto, com base nos antecedentes

infracionais do adolescente, o perfil do mesmo, o contexto social e familiar que vive,

contando também que o ato infracional é de menor repercussão.

A remissão pode ocorrer como forma de exclusão do processo ou a suspensão do feito,

conforme a autoridade judiciária determinar, ou de acordo com o caso, bem como a remissão

ser cumulado com alguma medida socioeducativa em meio aberto, como tipifica o art. 181, §

1º, do ECA.

Concedido o arquivamento do processo ou a remissão pelo Ministério Público, a

Autoridade Judicial apreciará a possibilidade da homologação do arquivamento e assim

proferirá sua decisão.

Caso a autoridade judiciária não entenda pelo arquivamento ou remissão deverá

remeter os autos do processo para o Procurador-Geral da Justiça, por meio de despacho

fundamentado que fará a representação, se assim entender, onde nomeará outro Promotor de

Justiça para apresentá-la, ou caso entenda pelo arquivamento ou remissão fará sua ratificação

e assim a autoridade judiciária fica obrigada de homologar, como menciona no art. 182, § 2º,

do ECA

Na possibilidade do representante do Ministério Público entender que deverá

representar o adolescente acerca do ato infracional praticado, este apresentará a Ação

Socioeducativa que tem natureza pública incondicionada, ação exclusiva do Ministério

Público, independente do ato infracional.

De acordo com Bianca Moraes e Helane Ramos (2010) diferente da seara criminal, o

sistema processual do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe da possibilidade do

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Parquet avaliar se é necessário a propositura da Ação Socioeducativa, e só poderá ser

proposta após sanada a fase de análise entre a possibilidade de arquivamento ou remissão.

Na esfera criminal, se tratando de ação de iniciativa pública incondicionada, o

Promotor de Justiça é obrigado a propor a ação, resguardando o interesse social, diferente da

esfera infracional, o Promotor de Justiça tem a possibilidade de avaliar, visando o interesse

social e levando em consideração a efetiva ressocialização do adolescente infrator.

Nesse sentido, Paulo Afonso Garrido de Paula discorre sobre esse assunto:

Se do sistema processual penal deflui o princípio da obrigatoriedade de propositura da ação penal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, ao instituir a remissão como forma de exclusão do processo, expressamente adotou o princípio da oportunidade, conferindo ao titular da ação a decisão de invocar ou não a tutela jurisdicional. A decisão nasceu do confronto dos interesses sociais e individuais tutelados unitariamente pelas normas insertas no Estatuto (interessa à sociedade defender-se de atos infracionais, ainda que praticados por adolescentes, mas também lhe interessa proteger integralmente o adolescente, ainda que infrator) (PAULA, 2002, p. 539).

Desta maneira, observa-se que as regras processuais referente as ações penais não são

usadas nas representações socioeducativas. Consta no art. 152 do ECA a delimitação do seu

alcance de forma subsidiária, da maneira que o próprio Estatuto possui regra específica para

sua aplicação.

Com a representação instituída pelo Ministério Público, inicia-se a fase judicial onde

será analisado os requisitos de admissibilidade da representação, os autos serão conclusos

para o magistrados que receberá ou não a representação.

Recebida a representação o juiz: designará audiência de apresentação; cientificará o

adolescente e seus responsáveis legais para comparecerem na audiência, sendo proibida a

citação por edital, por hora certa e eletrônica; determinará realização de relatório

comportamental no caso do adolescente internado provisoriamente.

Na circunstância do não comparecimento do representante legal na audiência de

apresentação será nomeado um curador especial, que geralmente é o Defensor Público, de

acordo com o art. 184, §§ 1º e 2º, c/c art. 142, parágrafo único, do Estatuto da Criança e do

Adolescente.

Em casos em que o adolescente está em liberdade e não seja encontrado para

comparecer na audiência, o magistrado determinará expedição do mandado de busca e

apreensão do adolescente à Autoridade Policial para ser conduzido a sua apresentação no

juizado da infância e juventude dando seguimento ao feito, conforme consta no art. 184, § 3º,

do ECA.

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Marcada a audiência de apresentação é imprescindível a presença do Ministério

Público e do Advogado constituído ou Defensor Público, conforme é elencando em seus arts.

201, II, 204 e 207 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Dado seguimento para a apuração infracional, é indispensável a presença de um

Defensor Público ou advogado na garantia da ampla defesa e do contraditório durante toda

fase processual, bem como na execução da medida socioeducativa imposta, para que esse

adolescente tenha acompanhamento adequado nessa fase judicial.

Ao iniciar a audiência de apresentação o juiz fará a oitiva do adolescente, efetuará a

leitura da representação ao adolescente momento em que colherá informações dos fatos

ocorridos, logo mais é dado a palavra ao Promotor de Justiça para que faça suas perguntas e

ao final ao Defensor Público que o acompanha. Terminado a oitiva do adolescente é ouvido

os responsáveis legais, sendo designado a audiência de continuação (art. 186, caput, do ECA).

Na ocasião, como já mencionado, Autoridade Judiciária poderá conceder a remissão

como forma de exclusão do processo ou a suspensão do feito, dando vista ao Ministério

Público para se manifestar acerca dessa possibilidade.

Findada a audiência de apresentação abre vistas para a defesa, no prazo de 3 (três)

dias, apresentar a defesa prévia com seu rol de testemunhas para comparecerem na audiência

de continuação e ser colhido seu depoimento (art. 186, § 3º, do ECA).

Na audiência de continuação o magistrado tem a oportunidade de ouvir a vítima,

testemunhas, policiais que fizeram as diligencias, colherá suas provas orais. Esse fase é

essencial para o convencimento do magistrado sobre os fatos.

Da mesma forma que acontece na audiência de apresentação, o juiz fará suas

perguntas, dando-se a palavra para o Promotor de Justiça e ao Defensor, que fará suas

especulações que achar necessárias (art. 186, § 4º, do ECA). Ademais, na mesma audiência

poderá o Ministério Público e a Defesa apresentar alegações orais, caso não queiram as partes

tem prazo de 5 (cinco) dias para apresentar os memoriais escritos.

Após colhida todas as provas, o magistrado proferirá sua sentença de acordo com

todas as informações adquirida no trâmite processual. Sua decisão poderá ser procedente, caso

comprovado autoria e materialidade, sendo imposta a melhor medida socioeducativa

pertinente para aquele adolescente cumprir e poderá ser improcedente, entender que não foi

provada a existência do fato, ou por não ter provas suficientes que comprovam a prática

infracional pelo adolescente.

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Exarada a sentença com a procedência da representação sendo imposta alguma medida

socioeducativa, a defesa é intimada acerca da sentença para que possa, se achar necessário,

apresentar Recurso de Apelação, com seu inconformismo da decisão.

2.1 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Ressalta-se que as medidas socioeducativas é de caráter pedagógico, e sua

aplicabilidade aos adolescentes infratores tem o objetivo de reeduca-los e inseri-los ao

convívio social para que não voltem a cometer novos atos infracionais e se tornem adultos

responsáveis e de bem.

Ao receber a medida socioeducativa imposta pela Autoridade Judiciária, em resposta

ao ato infracional praticado, o art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente elenca seis

possíveis medidas a serem aplicadas divididas em duas categorias: medida em meio aberto e

medida em meio fechado. As medidas em meio aberto são: medida de advertência, obrigação

de reparar danos, prestação de serviço à comunidade e liberdade assistida. Já as do meio

fechado são: inserção em regime de semiliberdade ou internação em estabelecimento

educacional, que segundo Donizeti (2007) possuem natureza jurídica impositiva,

sancionatória e retributiva.

É impositiva por ser imposta ao adolescente independente da sua vontade,

sancionatório diante da ação do ato infracional ter violado regras de convivência em

sociedade direcionada para todo cidadão e retributiva por aplicar uma medida como resposta

do Estado pela prática infracional.

As medidas socioeducativas são um meio de intervenção do Estado com natureza

preventiva e repressiva, onde busca educar esse adolescente, mesmo que de forma

inconscientemente e pedagógica, para que exista boa convivência em sociedade, como afirma

Paulo Afonso Garrido de Paula (2002).

É fundamental o julgador observar o § 1º, do art. 112 do ECA, que explicita os

critérios necessários para a aplicação das medidas socioeducativas ao adolescente em sua

proporcionalidade, apreciando a capacidade, as circunstâncias, a gravidade do ato infracional,

aplicação da medida que garante o fortalecimento familiar e comunitários.

Analisando a proporcionalidade por parâmetros objetivos e subjetivos, pode-se

destacar os critérios objetivos pela gravidade e circunstâncias que o ato infracional foi

praticado, podendo as partes e o magistrado avaliar os elementos, durante o processo de

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apuração. Já o critério subjetivo é a análise da capacidade desse adolescente no cumprimento

da medida socioeducativa, baseando o magistrado no relatório comportamental feito por

equipe técnica, psicólogo, assistente social e pedagogo, referente a atual situação em que o

adolescente vive, o ambiente que é inserido, seu convívio familiar e vínculos familiares

fortalecidos e se é constante a prática de delitos por esse adolescente. Com base nesses

critérios e requisitos elencados no ECA, o magistrado aplicará a medida mais adequada para

esse adolescente.

Desta maneira, um adolescente que praticou um delito de natureza não grave, onde é

acompanhado por sua família que se mostra presente nessa fase, estava matriculado e

frequentando regularmente a escola, possui vínculos afetivos com sua família e boa

convivência em sociedade, já participou de cursos profissionalizantes, bem como é um

adolescente primário, sendo um fato isolado em sua vida, não deverá receber a medida

socioeducativa mais severa e sim a mais branda. Ocorre que, um adolescente que também

vem praticar ato infracional leve, mas não está estudando, é usuário de entorpecentes, seus

vínculos afetivos familiares estão fragilizados, possui justificativa para intervenção sem tardar

do Poder Judiciário para garantir um desenvolvimento adequado e causar sua reflexão,

certamente será concedido uma medida socioeducativa diversa de outro adolescente que vive

em circunstância diferente da sua.

É importante ressaltar a possibilidade do cumprimento da medida socioeducativa em

meio aberto ser cumulada por outra medida que seja em meio aberto também, bem como

poderá fazer substituição da medida em qualquer tempo, seja em meio fechado ou não, de

acordo menciona no art. 113 c/c o art. 99, do ECA.

De acordo com A Silva (2008, p. 23) a aplicação da medida socioeducativa tem o

objetivo de atuar de forma pedagógica para a reeducação desse adolescente e sua

ressocialização, que tem a finalidade da repreensão para que esse menor infrator não venha

praticar atos ilícitos novamente. A Lei especial menciona que essa repreensão ao infrator é de

caráter pedagógico, mas o que muitas doutrinas observam que existe um caráter punitivo

devido algumas medidas serem parecidas que penas previstas no Código Penal, a única

diferença é que com o adolescente infrator o cumprimento da medida não se pode passar de

três anos, independente do ato infracional praticado.

Após essa breve exposição sobre as medidas socioeducativas e seus principais

objetivos, adiante será discorrido sobre cada medida socioeducativa na sua aplicação e o

cumprimento. Ainda, todas as medidas socioeducativas estão sujeitas ao princípio da

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brevidade, excepcionalidade, celeridade e respeito à condição peculiar de pessoa em

desenvolvimento.

2.1.1 Advertência

A medida socioeducativa de advertência está prevista como a primeira medida no rol

taxativo do art. 112, I, do ECA e sua execução no art. 115 do Estatuto. É uma das medidas

mais brandas, ocorre pela admoestação verbal do adolescente executado pelo magistrado da

Infância e da Juventude, quando houver indícios de autoria e materialidade. Nesse momento o

adolescente infrator receber conselhos e será alertado pelo juiz sob as consequências da

pratica do ato infracional e os riscos de envolvimento com práticas ilícitas. Logo, a

advertência acontece em audiência, nos mesmo auto do processo de apuração (art. 38, da Lei

nº 12.594/2012) e ao final o adolescente assinará um termo de responsabilidade.

Como afirma Shecaira (2008, p. 196), essa medida é aplicada em atos infracionais

considerados mais leves, como injúria, lesão corporal leve, furto de objetos com pequeno

valor, entre outros. Desse modo, a advertência busca a repreensão do adolescente de forma

intimidatória, deixando claro as possíveis consequências caso o adolescente volte a delinqui.

Assim, a medida possui seu caráter pedagógico com o objetivo do adolescente não reincidir,

ficando este ciente dos seus atos e consequências. Diante das circunstâncias, essa medida

socioeducativa é aplicada para adolescentes primários, que não possuem histórico de ato

infracionais, sendo a prática infracional não ter sido mediante violência ou grave ameaça,

como já mencionado de natureza leve.

Sobre esse tema discorre Afonso Armando Konzen que afirma:A medida de advertência, muitas vezes banalizada por sua aparente simplicidade e singeleza, certamente porque confundida com as práticas disciplinares no âmbito familiar ou escolar, produz efeitos jurídicos na vida do infrator, porque passará a constar do registro dos antecedentes e poderá significar fator decisivo para a eleição da medida na hipótese da prática de nova infração. Não está, no entanto, nos efeitos objetivos a compreensão da natureza dessa medida, mas no seu real sentido valorativo para o destinatário, sujeito passivo da palavra de determinada autoridade pública. A sensação do sujeito certamente não será outra do que a de se recolher à meditação, e, constrangido, aceitar a palavra da autoridade como promessa de não reiterar na conduta. Será provavelmente um instante de intensa aflição. (KONZEN, 2005, p. 46)

Admoestada pelo juiz da Infância e da Juventude, a medida finda ali mesmo, não

sendo tomada nenhuma outra medida socioeducativa, apenas se o adolescente praticar outro

ato infracional e assim ser apurado. Por fim, é importante o magistrado informar ao infrator

que a medida de advertência gera efeitos jurídicos como qualquer outra, na qual constará nos

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registros da Infância e da Juventude podendo ser levado em conta na aplicação de outra

medida socioeducativa, caso este venha praticar atos ilícitos.

Assim sendo, observa-se que a medida socioeducativa de advertência é aplicada em

casos tido como mais leves, executada pelo juiz da Infância e da Juventude repreendendo o

adolescente a não praticar novos atos ilícitos, de caráter pedagógico, para que o mesmo

entenda as consequências que o fato pode gerar e não vir a reincidir novamente.

2.1.2 Da obrigação de reparar danos

A medida socioeducativa de obrigação de reparar danos consiste na sanção ao ato

infracional que trouxe reflexos patrimoniais à vítima (art. 116 ECA).

De acordo com Wilson Donizeti Liberati (2007) a medida tem o objetivo de

ressarcimento do dano, restituição da coisa ou a compensação do prejuízo à vítima, buscando

de forma pedagógica causar no adolescente compreensão e responsabilidade daquilo que não

é seu.

Válter Kenji Ishida (2017) menciona bem sobre o tema, que:

A obrigação de reparar o dano, como medida socioeducativa, deve ser suficiente para despertar no adolescente o senso de responsabilidade social e econômica em face de bem alheio. A medida deve buscar a reparação do dano causado a vítima tendo sempre em vista a orientação educativa a que se presta. (ISHIDA, 2017, p. 152).

Diante dessa medida, o juiz levará em conta a situação econômica do adolescente de

sua família, lembrando que a medida não é de forma punitiva, mas sim educativa para que

esse não volte a delinquir.

Não podendo o adolescente reparar o dano a vítima, a medida socioeducativa deverá

ser modificada para outra, não sendo para medida privativa de liberdade e sim a mais

adequada para o adolescente. Cabe destacar que essa medida é resguardada pela princípio da

pessoalidade, não sendo possível ser realizada pelos seus responsáveis legais, pois não

permite sua transmissão.

Conforme o assunto, o mestre, procurador do Estado e professor Guilherme Freire de

Melo Barros menciona a seguinte observação:

A partir da redação do dispositivo, tem-se claro que compete ao adolescente ressarcir o prejuízo da vítima. Na prática, é possível notar que a aplicação dessa medida socioeducativa é pequena, pois poucos adolescentes trabalham e possuem renda própria para ressarcir a vítima. (BARROS, 2017, p. 70)

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A medida analisada é imposta pelo Juiz da Vara da Infância e Juventude, após toda

apuração infracional, no ato de sua sentença, comprovados a materialidade e autoria da

infração, o juiz determinar como será a reparação do dano, bem como seu prazo de

cumprimento.

Ainda, segundo mencionado pelo art. 126 do ECA, o adolescente pode receber a

medida de obrigação de reparar o dano cumulada com a remissão, que permite a exclusão do

processo, ocorrendo na fase investigatória ou após instaurado o processo de apuração

infracional.

Deste modo, salienta-se que a aplicação da referida medida socioeducativa alcança os

dois extremos da relação processual. De um lado encontra-se o adolescente infrator, que ao

restituir o dano provocado reacende seu censo de responsabilidade. Do outro lado tem-se a

vítima, que será ressarcida do dano sofrido pelo infrator.

2.1.3 Prestação de serviço à comunidade

A medida socioeducativa de prestação de serviço à comunidade é uma medida em

meio aberto alternativa a uma das medidas privativas de liberdade. Essa medida consiste no

trabalho voluntário do adolescente infrator, não apenas para preencher o tempo ocioso, mas

para que esse adolescente possa adquirir novas experiências, cultivar o espírito solidário e

criar mais responsabilidades, em busca do valor social. Está prevista no art. 117 do Estatuto

da criança e do adolescente que estabelece:

Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistências, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais.

Para que a medida seja cumprida nota-se a necessidade de convênios do Poder

Judiciário com órgãos públicos ou assistenciais, e assim encaminhar esses adolescentes para o

cumprimento da medida de forma pedagógica e que possa oferecer capacitação aos

profissionais que executam as propostas estabelecidas.

O Estatuto da Criança e do adolescente especifica as entidades que poderão receber

esse adolescente para cumprir sua medida que será: entidades assistenciais, hospitais, escolas

e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou

governamentais (art. 117, caput). O Centro de Referência de Assistência Social – CRAS, e

Centro de Referências Especializado de Assistência Social – CREAS, são exemplos de

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instituições que recebem esses adolescentes e são deles que a equipe técnica de

acompanhamento é formado.

Compreende-se que para que a medida socioeducativa seja aplicada ao final da

apuração infracional, deve ser comprovado a autoria e materialidade e após sentenciado o

adolescente será informado sobre o cumprimento da medida, sua responsabilização,

compromisso em cumpri-la, bem como a possível regressão de medida caso não venha

cumprir esta.

Para que o cumprimento da medida seja bem sucedida, o socioeducando deverá ser

encaminhado para um local em que a atividade prestadas deverá condizer com suas aptidões e

características pessoais, conforme mencionado no parágrafo único art. 117 do ECA. Com isso

o adolescente se identificará mais com o serviço prestado e a probabilidade de cumpri-la será

eficaz.

O atendimento para esse adolescente que cumpre medida de prestação de serviço à

comunidade buscar participação efetiva da família durante esse período, a convivência

familiar e comunitária, a escolarização, e encaminha para realizar cursos profissionalizantes e

sua inserção no mercado de trabalho.

Ao iniciar a medida socioeducativa o socioeducando é encaminhado para o programa

de atendimento, que já terá um processo de execução de medida destinada para seu

cumprimento, e a equipe técnica terá o prazo de 15 (quinze) dias para da data que o

adolescente foi inserido no programa para elabora o Plano de Atendimento Individual – PIA,

juntamente com o adolescente e sua família, onde traçarão objetivos, estratégias e suas

finalidades, como previsto no art. 56, parágrafo único do SINASE.

A equipe técnica que o acompanha fará relatório de evolução do adolescente no

cumprimento do plano individual para informar sobre os avanços ou retrocessos do

socioeducando, de acordo com o prazo de avaliação imposto pelo juiz em sua sentença

(art.58, do SINASE). Ressalta-se que essa medida pode ser cumprida cumulada com a medida

socioeducativa de Liberdade Assistida.

Cabe lembrar que as partes, Ministério Público e a Defesa, são intimadas para se

manifestarem acerca do relatório e assim requererem a extinção ou continuidade da medida,

caso o desempenho seja positivo. Em casos que o adolescente descumpre a medida o juiz

marcará uma audiência de justificação e uma possível substituição de medida.

É importante ressaltar sobre o prazo de cumprimento desta medida, que como consta

no art. 117 do ECA, não poderá exceder a seis meses, sendo sua carga horária máxima de oito

horas semanais, podendo ser cumpridas nos dias da semana, bem como sábados, domingos e

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feriados, para não prejudicar o adolescente no horário escolar ou expediente de trabalho,

como disposto no referido artigo: Art. 117. [...] Parágrafo único. [...] devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho.

Ainda, a Constituição Federal de 1988 instituiu o Princípio da Proteção Integral da

Criança e do Adolescente que dispõe que apenas maiores de 14 anos de idade poderá realizar

atividade laboral. Desta forma, essa medida socioeducativa de prestação de serviço à

comunidade só pode ser aplicada para adolescentes que estão nessa faixa etária, conforme

mencionado no art. 227, § 3º da CF/1988:

“O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII”. (BRASIL, 1988).

De acordo Saraiva (2010) a equipe técnica que acompanha o adolescente no

cumprimento da medida fornecerá nos autos de execução sobre seu comparecimento no órgão

que presta o serviço, como a carga horaria de cumprimento e seu desempenho nas atividades.

Realizado todos os objetivos e finalidade do PIA cumprindo integralmente a medida

socioeducativa o juiz pode extinguir a mesma com base no art. 46, II, da Lei nº12.594/2012.

2.1.4 Liberdade assistida

A medida socioeducativa de Liberdade Assistida – L.A, prevista no art.118 do Eca, é

aplicada ao adolescente infrator que irá receber orientação, assistência social e

acompanhamento por equipe técnica.

Para que essa medida seja cumprida o § 1º do art. 118 do ECA discorre que o

adolescente terá um orientador que irá acompanhá-lo no cumprimento da medida

socioeducativa, que será designado pelo juiz, conforme o texto da lei do ECA: “Art. 118, § 1º.

A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser

recomendada por entidade ou programa de atendimento”.

Deste modo, o orientador acompanhará de fato o adolescente para que todos os

objetivos da medida sejam alcançados e o socioeducando reeducado, conforme descreve

Saraiva:

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[...] um orientador judiciário que não se limite a receber o jovem de vez em quando em um gabinete, mas que de fato participe de sua vida, com visitas domiciliares, verificação de sua condição de escolaridade e de trabalho, funcionando como uma espécie de “sombra”, de referência positiva, capaz de lhe impor limites, noção de autoridade e afeto, oferecendo-lhe alternativas frente aos obstáculos próprios de sua realidade social, familiar e econômica. (SARAIVA, 2010, p.165-166).

A liberdade Assistida visa a interação e participação da família durante os

atendimentos realizados com o adolescente, que será em uma instituição do CRAS/CREAS,

que realiza visitas domiciliares em buscar de analisar o contexto familiar e a necessidade de

inserir a família em programas do Governo Federal.

Como já mencionado, todo adolescente que cumprirá medida socioeducativa terá um

processo de execução de medidas para que o Ministério Público, a Defesa e o Poder Judiciário

façam o acompanhamento desse adolescente no cumprimento de sua medida. Ao iniciar o

acompanhamento a equipe elaborará o Plano de Atendimento Individual – PIA, no prazo legal

de 15 (quinze) dias. (art. 56, da Lei nº 12.594/2012).

Para Digiácomo (2010), a Liberdade assistida tem seu papel fundamental no sistema

socioeducativo, como menciona:

A liberdade assistida é a medida que melhor traduz o espírito e o sentido do sistema socioeducativo estabelecido pela Lei n° 8.069/1990 e, desde que corretamente executada, é sem dúvida a que apresenta melhores condições de surtir os resultados positivos almejados, não apenas em benefício do adolescente, mas também de sua família e, acima de tudo, da sociedade. Não se trata de uma mera “liberdade vigiada”, na qual o adolescente estaria em uma espécie de “período de prova”, mas sim importa em uma intervenção efetiva e positiva na vida do adolescente e, se necessário, em sua dinâmica familiar, por intermédio de uma pessoa capacitada para acompanhar a execução da medida, chamada de “orientador”, que tem a incumbência de desenvolver uma série de tarefas, expressamente previstas no art. 119, do ECA. (DIGIÁCOMO, 2010, p. 166)

Nessa fase de execução, a equipe técnica fará a supervisão do adolescente em relação a

sua frequência escola, podendo solicitar a escola relatório da situação do adolescente no

âmbito escolar, encaminhará para cursos profissionalizantes e a sua inserção no mercado de

trabalho. (art. 118 e 119 do ECA).

Conforme consta no art. 118, §2º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, o prazo

mínimo para cumprir a medida de Liberdade Assistida é de seis meses, podendo ser

prorrogada a qualquer hora, com período avaliativo trimestralmente ou semestralmente do

relatório de evolução comportamental, abrindo vistas para o Ministério Público e a Defesa,

podendo prorrogar, revogar ou substituir a medida.

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2.1.5 Semiliberdade

Outra medida socioeducativa que a lei prevê é a semiliberdade, considerada restritiva

de liberdade estando o adolescente em instituição apropriada onde deverá frequentar a escola

e cursos profissionalizantes, sendo estas atividades externas, ficam durante certo período na

unidade, dorme, e nos finais de semana vão para a casa de sua família e retornam no início da

semana, nos termos do art. 120, do ECA.

Em suma, a semiliberdade pode ser aplicada de forma inicial ou na transição de outra

medida socioeducativa. Aplicada de forma inicial, após toda apuração infracional, o juiz

concede a medida sob a razão da que mais se adequa ao adolescente naquele momento, ou na

forma de substituição de outra medida, sendo progressão, após o socioeducando ter cumprido

a medida de internação, de acordo mencionado no art. 120, do ECA.

Essa medida não possui prazo determinado para seu cumprimento, apenas possui seu

prazo máximo de três anos (art. 121, § 3º, ECA), podendo atingir jovens maiores de idade que

podem cumprir a medida até vinte e um anos, isso vale para casos que quando praticado o ato

infracional o adolescente era menor de idade, conforme menciona Válter Kenji Ishida (2017).

A semiliberdade permite ao adolescente o direito de ir e vir, com isso existe a

estimulação do cumprimento das normas de relacionamento social pelo adolescente infrator, e

possibilita esse jovem o trabalho em órgãos governamentais ou não, sendo possível a sua

ressocialização na comunidade, como discorre Sposato (2004):

[...] responsabilidade e diligência ao adolescente, a fim de que este exercite seu direito de ir e vir; respeito às normas de convivência, com o cumprimento de horários e limites das atividades externas; e promover a articulação de entidades governamentais e não governamentais por meio de políticas públicas, para que a inserção social se concretize. (SPOSATO, 2004, p. 160)

O seu prazo de avaliação é no máximo a cada seis meses, conforme as demais

medidas, a equipe que o acompanha na unidade de semiliberdade fará o PIA, que nas medidas

de Semiliberdade e Internação o prazo de elaboração são 45 (quarenta e cinco) dias a partir da

data de ingresso na unidade, conforme consta no art. 55, parágrafo único, do SINASE. A lei

complementa ainda que a reavaliação, manutenção ou substituição da medida socioeducativa

pode ser solicitada a qualquer tempo, pela direção de atendimento que o acompanha na

unidade, pelo Ministério Público, Defensor, pelo seus responsáveis e o adolescente (art.42, do

SINASE).

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Conforme defendido por Cury (2013, p. 600), as medidas socioeducativas de

semiliberdade e internação são as únicas que provoca a institucionalização do adolescente,

dessa maneira as mesmas hipóteses para a imposição da medida de internação com os incs. I,

II e III do caput do art. 122 em relação à gravidade das infrações, bem como os demais

artigos, 123, 124 e 125 do Estatuto, é usado na semiliberdade.

O infrator que cumpre medida restritiva de liberdade possui garantias individuais

asseguradas na lei, que prevê ao adolescente receber visitas, possuir um alojamento com

higiene e salubridade, ter acesso a comunicação social, ter acesso aos objetos necessários à

higiene e asseio pessoal, dentre outros previsto nos incisos do art. 124 do ECA.

Com análise ao art. 120 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o caput do referido

artigo discorre sobre a possibilidade de realizar atividades externas sem necessidade de

autorização judicial, sendo uma ação da equipe técnica, que deve apresentar ao adolescente

atividades para a sua integração social. Munir Cury (2013) faz menções sobre esse artigo,

relatando que no § 1º, existe a obrigação-direito de estudar e de se profissionalizar, o

adolescente é matriculado em instituição escolar, mantendo contato com a comunidade, bem

como nos cursos profissionalizantes.

Para Cury essa inserção na comunidade é muito importante, como mencionado:

A integração na comunidade e na sociedade é o fulcro da nova disciplina do adolescente infrator, que deve permitir reverter, finalmente, a injusta praxe da criminalização da pobreza e da falta de meios. Levando em conta o espírito do Estatuto, e mesmo em situação de extrema carência estrutural, que não permite a realização nem dos mesmos pressupostos logísticos para a implementação dos arts. 123 e 185, a institucionalização, quer na forma da internação, quer naquela de semiliberdade, deve ser considerada uma resposta em tudo excepcional, mesmo no caso de graves infrações do adolescente, e normal deve ser considerada, em todos os casos, a aplicação de outras medidas socioeducativas, e, principalmente, de proteção, aptas a favorecer a integração social do adolescente infrator e a compensação de gravíssimos déficits econômicos e de atenção familiar e social, dos quais ele é normalmente vítima, como ocorre ainda hoje, vigorando o Estatuto para 25 milhões de crianças e adolescentes no Brasil. (CURY, 2013, p. 603).

Dessa maneira, para o cumprimento da medida socioeducativa de semiliberdade, é

necessário atenção especial da equipe técnica para acompanhar o socioeducando, bem como

realizar visitas em seu ambiente familiar informando a família sobre a importância da sua

participação nessa fase de ressocialização, dando apoio ao adolescente.

Portanto, a execução da medida socioeducativa de semiliberdade terá sua eficácia se

houver uma boa infraestrutura e gerencialmente da instituição onde o adolescente cumpre a

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medida, para que o socioeducando tenha um direcionamento pessoal e seja feita sua inclusão

social por meio de cursos profissionalizantes, os estudos e atividades diárias realizadas.

2.1.6 Internação

Prevista no art. 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a internação é a medida

socioeducativa mais grave em relação as outras medidas, constitui da privação total de

liberdade, que prevê prazo indeterminado, previstas nas seguintes situações na execução:

quando se trata de internação decretada por sentença pelo magistrado no processo de apuração

infracional, em casos de ato infracional praticado mediante grave ameaça ou violência a

pessoa, por possuir várias passagens no juizado da infância e da juventude (art. 122, I e II, do

ECA) ou internação com prazo determinado de três meses, determinado no processo de

execução de medida socioeducativa quando descumprida a medida socioeducativa que estava

cumprindo, sendo chamada de internação sanção (art. 122, III, do ECA).

A medida possui prazo indeterminado para seu cumprimento não podendo exceder os

três anos. Nessa medida socioeducativa é obrigado conter atividades pedagógicas (art. 123,

parágrafo único, do ECA), já as atividades externas será decidido pelo magistrado avaliando

cada caso.

Para a garantia dos direitos dos adolescentes o ECA adotou três princípios que devem

estar presentes em todo processo, que são: os princípios da brevidade, que busca o

cumprimento da medida no menor tempo possível, da excepcionalidade onde a medida de

internação só é aplicada em casos excepcionais, podendo ser imposta outra medida, e o

respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento visa as condições para o

desenvolvimento do adolescente (art.121, caput, do ECA).

Como já mencionado, nesse medida será elaborado o Plano Individual de

Atendimento – PIA, no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, art.55, parágrafo único, do

SINASE, com a equipe técnica da instituição onde o adolescente está internado, o

socioeducando e sua família.

O prazo de avaliação é de no máximo seis meses, demonstrando em seu relatório

evolucional suas evoluções no decorrer da medida, analisando cada comportamento, nos

termos do art. 121, § 2º do ECA.

No cumprimento dessa medida, o art. 124 do ECA apresenta um rol taxativo sobre os

direitos dos adolescentes privados de liberdade, que são:

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I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;III - avistar-se reservadamente com seu defensor;IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;V - ser tratado com respeito e dignidade;VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;XI - receber escolarização e profissionalização;XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje;XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade;XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.

Diante de todos esses direitos expostos, pode-se observar que o Poder Público tem seu

papel fundamental para que esses direitos sejam garantidos e efetuados por meio das políticas

públicas implantadas pelo Estado, para assim haver a ressocialização desses adolescentes e

atinja a finalidade da medida socioeducativa evitando a reincidência dos adolescentes,

conforme advertido por Éverton André Luçardo Borges (2013).

Assim, o socioeducando cumprirá sua medida socioeducativa em estabelecimento

específico com todos profissionais necessários e os meios adequados para que se cumpra a

finalidade da medida aplicada e haja a reeducação social, podendo retornar o convívio em

sociedade. (MORAES, 2009, p.803)

Posto isto, de acordo com a legislação brasileira, a medida de internação parece ser

uma medida bem estruturada, se a lei fosse cumprida talvez teria tanta eficácia, o que não é a

realidade de muitas unidades brasileiras, que carecem de investimentos do Estado tanto em

relação da infraestrutura das unidades, bem como atividades que tiram o tempo ocioso dos

adolescente dentro dos alojamentos, investindo em cursos profissionalizantes e capacitando

profissionais que acompanham esses infratores, ao que sabe que nem sempre existe

quantitativo necessário de profissionais para a quantidade de adolescentes internados.

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3 A PROFISSIONALIZAÇÃO APLICADA NA MEDIDAS SOCIOEDUCATIVA DE

INTERNAÇÃO

Ao se referir a prática do ato infracional é possível visualizar que está relacionada com

a desigualdade social do meio em que o adolescente vive, como: pobreza, abandono ou

omissão familiar, desemprego, dependência de entorpecentes, entre outros, que cada vez mais

se expande na classe social mais carente da sociedade.

Quando o adolescente pratica um ato infracional sua conduta está relacionada com

suas relações sociais. Por este lado, ao analisar o que ocorre no meio social em que o

socioeducando está inserido, é possível relacionar as circunstâncias que o leva a adotar a

conduta infracional. Na ocasião, ao observar o adolescente unicamente pela prática do ato

infracional é impossível entender o ato ilícito praticado, mas por outro ângulo, conhecendo

sua história pessoal e o contexto social é possível identificar o significado da conduta.

(TEIXEIRA, 2006, p. 428).

A respeito da desigualdade social e suas consequências, a autora Iamamoto (2010)

discorre que:

A questão social é indissociável da forma de organização da sociedade capitalista, e diz respeito ao conjunto das expressões das desigualdades sociais nela engendradas, impensáveis sem a intermediação do Estado. [...] A questão social, expressa, portanto, desigualdades econômicas políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por disparidades nas relações de gênero, características etnicoraciais e formação regional, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização. (IAMAMOTO, 2010, p. 272, grifos da autora).

Diante desse contexto, a conduta de praticar o ato infracional se inicia no cenário

econômico, educacional e nas políticas públicas aplicadas pelo Estado, quando incluem ou

excluem os próprios indivíduos que compõe a sociedade, em especial a criança e o

adolescente.

Desta forma, o adolescente que está em conflito com a lei não deve ser visto como um

ser que não pode ser mais transformado, pois está no processo de formação das características

que vão defini-lo como pessoa. Muitas vezes as condições de vida que são expostos, como a

familiar desestruturada, educação precária, sem perspectiva profissional, o levam a praticar

atos infracionais sem possuírem uma concepção de vida melhor e uma construção de plano de

vida adequado.

As circunstâncias de vida desses sujeitos sociais configuram-se como a expressão das múltiplas manifestações de exclusão/inclusão. Exclusão principalmente dos

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espaços de cidadania, onde deveriam prevalecer os direitos sociais, como educação, cultura e lazer, e inclusão num sistema de privação de direitos, de criminalização, de violência, de privação de liberdade, por vezes sem as garantias educativas e sem o devido acompanhamento para a inserção social. (SARTÓRIO; ROSA, 2010, p. 559)

Assim, deve ser trabalhada a precaução da criminalidade, bem como a ressocialização

dos socioeducandos autores de ato infracional por meio da intervenção do Estado com

políticas sociais, políticas de assistência sociais e de proteção especial, vindo a cumprir de

forma integral seu papel, o Estado, atinge de forma objetiva sua função institucional.

No entanto, se o Estado não atua de forma íntegra diante da sua atuação nas políticas

públicas para a ressocialização de infratores e prevenção do adolescente diante da prática de

ato infracional, haverá um ciclo vicioso e de reincidência para esses adolescentes que passam

a infringir a lei.

Segundo Teixeira (2006) são vários aspectos que fazem a constituição da identidade

do adolescente infrator e inúmeras determinações que o leva a delinquir, como menciona a

autora:

Há uma complexidade que torna inócua a tendência à explicação reducionista, simplista que é atribuir a um único fator – pobreza, família, “consumismo” ou drogas – a motivação para a conduta do adolescente. Pode-se resvalar a compreensão, mas fica “a meio caminho”. A compreensão – a “teoria” que se constrói para compreender algo – tem efeitos na prática, orienta as ações; no caso dos operadores do direito, determina acontecimentos significativos na vida do adolescente autor de ato infracional; por exemplo, se a ele será atribuída uma medida de meio aberto ou de privação de liberdade. (TEIXEIRA, 2006, p. 432).

De acordo com a autora, deve ser levando em consideração as demasiadas mudanças

nos aspectos físicos, social, comportamental, biológico, dos adolescentes, bem como seu

ambiente familiar, o meio social inserido, falta de limites, a construção de padrões de vida

social imposta pela própria sociedade, faz com que esses adolescentes desejam uma vida que,

de acordo com sua perspectiva de vida, não podem ter.

O ordenamento jurídico possui legislação pertinente para assegurar os direitos

fundamentais da criança e do adolescente, mas que muitas vezes esses direitos não são

cumpridos e devem-se ser repensadas novas estratégias para que esses direitos sejam

alcançados e efetivados.

O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe de medidas socioeducativas, com

aplicabilidade de forma pedagógica e ressocializadora, de maneira que esse adolescente seja

conscientizado sobre a gravidade de praticar ato infracional e que entenda que deve ser

responsáveis pelos seus atos.

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Faz-se necessário a promoção de projetos que conscientizam o socioeducando no

aspecto de aptidão e capacidade, para que venha a entender que deve seguir regras que

constitui as relações sociais.

Nesse sentido, na execução da medida socioeducativa de privação de liberdade, onde o

socioeducando fica internado em uma instituição que executa a referida medida, deve ser

implantado mecanismo no processo de ressocialização, proporcionando ao socioeducando a

oportunidade de ter acesso ao um curso técnico profissionalizante.

A finalidade de toda medida socioeducativa é permitir que o adolescente infrator crie

seu senso de responsabilização, para que isso ocorra é necessário que o próprio jovem tenha

conscientização de sua capacidade e potencial para consiga reorganizar sua vida.

Desse modo, a execução da medida socioeducativa possui uma proposta de vida para

esse adolescente, bem como traça outros objetivos a serem alcançados no decorrer do

cumprimento da medida, como inserção em curso profissionalizantes, terapia ocupacional,

atividades pedagógicas, entre outras, mas para isso ocorrer o programa socioeducativo

necessita de apoio do Estado, através de instituições responsáveis pela política de atendimento

que possa fazer essa ponte entre a execução de medida socioeducativa privativa de liberdade e

a capacitação profissional e educacional desse jovem em conflito com a lei.

Outrossim, os autores Sérgio Salomão Shecaira e Alceu Corrêa Júnior (2008),

entendem que a ressocialização do adolescente infrator em privação de liberdade não deverá

ser apenas compreendida como uma reeducação do mesmo para se comportar diante das

normas em sociedade, mas também na criação de mecanismos e condições para ser inserido

socialmente de forma que tenha oportunidade de mudanças de vida.

Sobre esse assunto Antônio Carlos Gomes da Costa preconiza:

A natureza essencial da ação socioeducativa é a preparação do jovem para o convívio social. A escolarização formal, a educação profissional, as atividades artístico-culturais, a abordagem social e psicológica de cada caso, as práticas esportivas, a assistência religiosa e todas as demais atividades dirigidas ao socioeducando devem estar subordinadas a um propósito superior e comum: desenvolver seu potencial para ser e conviver, isto é, prepará-lo para relacionar-se consigo mesmo e com os outros, sem quebrar as normas de convívio social tipificadas na Lei Penal como crime ou contravenção.(COSTA, 2006, p. 449).

Para isso, a ressocialização e inserção do adolescente na sociedade e no mercado de

trabalho, trazendo novas expectativas de vida, deve ser tratada como primordial na execução

da medida socioeducativa e ser um dos seus principais foco.

Desde o código de menores de 1979, a educação e a profissionalização já tinham seu

lugar importante na lei. No art. 9º, § 2º, do referido código, declarava que as entidades de

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assistência social e de proteção do menor eram obrigados a promover a escolarização e a

profissionalização para esses adolescentes.

Diante do contexto de transformação que ocorreram no decorrer das décadas, o século

XX foi marcado por intensas mudanças no mundo laboral em decorrência da crise de

produção e manutenção do sistema capitalismo. Com a chegada da crise muitos trabalhadores

perderam seus empregos ou foram submetidos a trabalhar em situações precárias, diante disso

houve uma grande instabilidade social, havendo aumento da vulnerabilidade social, que

atingiu todos os indivíduos da sociedade, até mesmo os adolescentes. (FERREIRA;

LAMONICAL, 2010, p. 1704).

É sabido que após todas as transformações que aconteceram referentes ao mundo do

trabalho, o mercado ficou muito mais exigente, e de certa forma, o acesso ao mercado

trabalhista não é fácil, pois é necessário qualificação profissional. Para os adolescentes que

cumprem medida socioeducativa em meio fechado a exigência profissional é necessário para

ser inserido no mercado de trabalho e além disso é uma oportunidade ao adolescente de estar

desenvolvendo suas habilidades e aderindo novos conhecimentos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu art. 4º dispõe sobre iniciativas

desenvolvidas pelo governo ou não governamentais para que políticas públicas voltado para a

infância e a adolescência, mencionando a profissionalização, como um direito que deve ser

garantido pelo Estado, pela família e a comunidade.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990).

Ainda, o ECA discorre sobre a garantia do direito a profissionalização e à proteção do

trabalho aos adolescentes que deve ser analisado a condição da pessoa em desenvolvimento

com objetivo de haver a capacitação profissional deste para ser inserido no mercado de

trabalho, como discorre no art. 69 do ECA.

Deste modo, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente –

CONANDA, é responsável pelo controle de políticas públicas voltada para a infância e a

adolescência, e, além disso, é o órgão que atua na efetivação dos direitos, princípios e

diretrizes presentes no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Na elaboração do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE, lei

que regulamenta a execução de medida socioeducativa, uma resolução do CONANDA

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destinou um tópico sobre o eixo profissionalização, que deve ser exercida por todas as

entidades/programas que executam as medidas socioeducativas e até mesmo a internação

provisória, nesse tópico dispõe: 

[...]2) possibilitar aos adolescentes o desenvolvimento de competências e habilidades básicas, específicas e de gestão e a compreensão sobre a forma de estruturação e funcionamento do mundo do trabalho. Juntamente com o desenvolvimento das competências pessoal (aprender a ser), relacional (aprender a conviver) e a cognitiva (aprender a conhecer), os adolescentes devem desenvolver a competência produtiva (aprender a fazer), o que além de sua inserção no mercado de trabalho contribuirá, também, para viver e conviver numa sociedade moderna; 3) oferecer ao adolescente formação profissional no âmbito da educação profissional, cursos e programas de formação inicial e continuada e, também, de educação profissional técnica de nível médio com certificação reconhecida que favoreçam sua inserção no mercado de trabalho mediante desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes. A escolha do curso deverá respeitar os interesses e anseios dos adolescentes e ser pertinente às demandas do mercado de trabalho; 4) encaminhar os adolescentes ao mercado de trabalho desenvolvendo ações concretas e planejadas no sentido de inseri-los no mercado formal, em estágios remunerados, a partir de convênios com empresas privadas ou públicas, considerando, contudo, o aspecto formativo; 5) priorizar vagas ou postos de trabalho nos programas governamentais para adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas; 6) equiparar as oportunidades referentes à profissionalização/trabalho aos adolescentes com deficiência em observância ao Decreto nº 3.298 de 20/12/99; 7) desenvolver atividades de geração de renda durante o atendimento socioeducativo que venham a ampliar competências, habilidades básicas, específicas e de gestão, gerando renda para os adolescentes; 8) promover ações de orientação, conscientização e capacitação dos adolescentes sobre seus direitos e deveres em relação à previdência social e sua importância e proteção ao garantir ao trabalhador e sua família uma renda substitutiva do salário e a cobertura dos chamados riscos sociais (tais como: idade avançada, acidente, doença, maternidade, reclusão e invalidez, entre outros), geradores de limitação ou incapacidade para o trabalho. (CONANDA, 2012, p. 64).

Assim, o CONANDA destinou um capítulo da resolução do SINASE para tratar sobre

a profissionalização de adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, posto isto a

referida lei nº 12.594/2012 em seus art. 76 ao art. 80, discorre sobre a possibilidade dos

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Nacional de Aprendizagem

Comercial (SENAC), Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT) e Serviço

Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) por meio de  instrumentos de cooperação,

poderão ofertar vagas aos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas.

Como visto, o Estatuto da Criança e do Adolescente juntamente com o SINASE

deixam claro sobre a importância da profissionalização, principalmente para aquele

adolescente que está em conflito com a lei, para que tenha oportunidade de obtenção de um

trabalho quando forem desinternados. O curso profissionalizante não é apenas um meio para

que o adolescente seja inserido no mercado de trabalho, mas também proporciona perspectiva

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de vida melhor para o adolescente e sua família, se desvinculando dos atos infracionais e

valores sociais de forma positiva.

Dessa forma, o direito a profissionalização é assegurado até mesmo na Carta Magna,

disposto em seu art. 227, que menciona ser dever do Estado, da Família e da sociedade, entre

outros direitos, a educação e da profissionalização, direito este muito importante para a

formação infanto-juvenil.

O acesso aos cursos técnicos e profissional só possuem pontos positivos, o

socioeducando adquirirá conhecimento, possuirá uma certificação, poderá se identificar com

uma profissão e se especializar mais, pode ser inserido no mercado de trabalho pela rede de

menor aprendiz do município e construir um caminho para sua independência financeira.

Diferente do direito penal que o acusado é punido pelo que fez, no Estatuto da Criança

e do Adolescente ao praticar um ato infracional, após todo o trâmite processual de apuração, é

aplicado ao adolescente uma medida socioeducativa, pelo que o próprio nome já diz, sua

finalidade é a educação, a reeducação de pedagógica e o que espera de sua execução é que

isso ocorra como dispõe na lei.

É possível a reeducação dos adolescentes mesmo apresentando comportamento oposto

à legislação. Ao início execução da medida socioeducativa de internação, foco do presente

trabalho, se espera de fato que o adolescente seja reeducado para viver em sociedade, não

deve ser rotulado como um criminoso e que seu destino é a vida no crime, mas buscar

trabalhar, juntamente com a família do adolescente, a conscientização da gravidade do ato

infracional praticado e a importância da escolarização e da profissionalização.

3.1 A IMPORTÂNCIA DA PROFISSIONALIZAÇÃO PARA ADOLESCENTES EM

CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO FECHADO EM

PALMAS-TO

Em análise do Estado do Tocantins em relação a execução de medidas

socioeducativas, foi possível observar que as medidas são divididas em duas esferas: o

atendimento às medidas socioeducativas em meio aberto, Liberdade Assistida (LA) e

Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) é desenvolvido pelo município por meio da

Secretaria de Desenvolvimento Social, especificamente pela diretoria de proteção especial; já

as medidas socioeducativas do meio fechado, Internação e Semiliberdade, são executadas no

âmbito estadual pela Secretaria de Cidadania e Justiça.

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Como mencionado no decorrer no trabalho, o contexto econômico, educacional e a

aplicabilidade de políticas públicas fazem toda diferente para sociedade, principalmente para

aquelas pessoas que estão em desenvolvimento e formação, as crianças e adolescentes. A

vulnerabilidade social, falta de oportunidade, desestrutura familiar, dentre outras coisas, faz

com que adolescentes entre 12 e 18 anos enxerguem o ato infracional como “vida fácil” e

passam a infringir a lei.

Neste contexto, o estudo do presente trabalho é voltado para adolescentes, do sexo

masculino, em cumprimento de medidas socioeducativas de internação no Centro de

Atendimento Socioeducativo - CASE, no Estado do Tocantins. Essa unidade está localizada

no Município de Palmas, tem capacidade máxima para alojar 42 (quarenta e dois)

adolescentes, o único do Estado que possui infraestrutura de acordo com os requisitos exposto

nos arts. 15 ao 17 do SINASE.

Como mencionado, o Centro de Atendimento Socioeducativo institucionaliza

adolescentes infratores privados de liberdade de todo Estado, sendo o objeto do estudo os

socioeducandos do Município de Palmas – TO.

A análise de dados são referentes aos meses de janeiro a dezembro de 2018, realizada

por meio dos processos judiciais dos adolescentes, autorizado pela Defensora Pública titular

da infância e juventude que acompanha todas as execuções dos infratores, Drª Larissa Pultrini.

Inicialmente, foi analisado quantos adolescente residentes em Palmas – TO cumpriram

medida de internação no CASE no período de janeiro a dezembro de 2018, sendo alguns deles

já estavam internados desde o ano de 2017 e continuavam cumprindo medida, na qual foi

constatado que 22 (vinte e dois) socioeducandos passaram pelo sistema socioeducativo de

internação. Observa-se ainda que o mês que comportou mais adolescentes foi o de dezembro,

totalizando 39 (trinta e nove) socioeducandos, sendo apenas 7 (sete) de Palmas – TO.

Foi possível verificar, com base nos dados coletados, que 80 (oitenta) adolescentes

passaram pelo Centro de Atendimento Socioeducativo cumprindo medida de internação e que

durante o ano de 2018 o CASE recebeu adolescentes de 19 (dezenove) cidades do Tocantins,

incluindo Palmas. Vale salientar que o munícipio de Gurupi possui um Centro de Internação

Provisório, CEIP Sul, que, apesar de não ter estrutura adequada e de ser um centro de

internação provisório, também acomoda adolescentes já sentenciados para cumprir medida

socioeducativa de internação, bem como o Centro de Internação Provisório de Santa Fé do

Araguaia, da região norte do Estado, chamado de CEIP norte, que possui adolescentes

sentenciados para cumprimento de medida de internação, onde não possui estrutura adequada

para que sejam realizadas as atividades necessárias de ressocialização dos indivíduos.

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Posto isto, a análise iniciou-se a partir dos Planos de Atendimento Individual – PIA de

cada adolescente a fim de verificar as propostas e objetivos traçados no cumprimento da

medida socioeducativa.

O PIA é um instrumento na qual a equipe técnica composta por psicólogo, assistente

social, pedagogo, terapeuta ocupacional, profissional de educação física, elaboram juntamente

com a família do socioeducando uma previsão de atividades a serem desenvolvidas com o

adolescente.

No Plano Individual de Atendimento deverá conter informações pertinentes sobre: 1.

Identificação do adolescente; 2. Sobre o ato infracional; 3. Documentação; 4. Relações

familiares, afetivas, sociais; 5. Situação habitacional; 6. Visitas; 7. Profissionalização; 8.

Situação escolar; 9. Lazer, cultura, esportes e interesse; 10. Espiritualidade; 11. Rotina e

projetos de vida; 12. Aspectos de saúde; 13. Objetivos declarados; 14. Avaliação

interdisciplinar; 15. Plano de ação.

Foi possível notar que em todos os Planos Individuais de Atendimento os

socioeducandos externaram o desejo de realizarem um curso profissionalizante, porém no

item 15, referente ao plano de ação das propostas, em diversos PIAS não foram apontados

ações direcionadas a profissionalização.

Após a homologação do PIA o adolescente recebe o acompanhamento da equipe

técnica da unidade onde será trabalhado todas as propostas de atividades e planos de ações ao

adolescente, sua família e comunidade.

São trabalhados o aspecto familiar, onde busca o fortalecimento dos vínculos

familiares e sensibiliza a família sobre a importância da participação durante esse período de

cumprimento de medida, no desenvolvimento social da pessoa. Também é trabalhado o

aspecto psicossocial, que busca desenvolver a percepção do certo e errado, faz levantamento

das habilidades individuais de cada adolescente, constrói uma rotina na unidade e um

planejamento de vida ao adolescente. Outro item trabalhado é a escolarização, que acompanha

a evolução do adolescente no âmbito escolar, detectando as dificuldades pedagógicas do

socioeducando e sanando as mesmas, mantendo contato entre os pais e escola, dentre outras

ações. Ainda, é importante ressaltar que os adolescentes estudam dentro da unidade

socioeducativa, na Escola Mundo Sócio do Saber.

A profissionalização também é uma das ações que está presente no PIA a ser

executada. A equipe técnica busca inserir o adolescente em cursos disponibilizados na

unidade, o capacitando para que quando desinternado seja inserido no mercado de trabalho,

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que é um elemento que define uma trajetória de vida do socioeducando, podendo trazer uma

perspectiva de vida melhor.

Desta maneira, é possível constatar se os objetivos do PIA foram alcançados a partir

do relatório comportamental, pela avaliação trimestral ou semestral definida pelo magistrado

na sentença do adolescente.

Foi observado que ao elaborar o PIA todos eles desejaram participar de cursos

profissionalizantes, desta forma colocaram sugestões dos cursos que gostariam de realizar

como: mecânica, informática, balconista, e o de serigrafia que é o que a unidade oferta.

Diante dessa informação, averiguado os relatórios dos 22 (vinte e dois)

socioeducandos residentes nesta capital, internados no Centro de Atendimento Socioeducativo

de Palmas – TO do período anual de 2018, observou-se que dos vinte e dois adolescentes

apenas seis fizeram curso profissionalizante de serigrafia, único disponibilizado na unidade.

Foi visto que alguns adolescentes que fizeram o curso de serigrafia também estavam

participando do projeto da horta, onde plantam, cultivam e vendem as hortaliças. Em outros

sete relatórios não havia informação sobre qualquer atividade profissionalizante realizada

enquanto cumpre a medida socioeducativa de internação. E quanto aos demais adolescentes,

nove, era variável a participação de adolescente apenas no projeto da horta, em outros casos

participavam da horta e na confecção de artesanato, mas não foram inseridos em nenhum

curso profissionalizante.

No SINASE, lei que regulamenta a execução da medida socioeducativa, em seu art.

54, III, também faz a menção sobre a previsão da capacitação profissional aos adolescentes

que deve conter no PIA, para assim ser executado no decorrer da medida.

Ainda, em alguns processos a Defensoria Pública questionou em relação a inserção

dos adolescentes ociosos no curso de serigrafia, já que a unidade não oferece outros, apesar de

sua extrema importância para a preparação do socioeducando ao mercado de trabalho, em

nenhum momento é mencionado cursos voltados a profissionalização do adolescente nem

mesmo há justificativas para a sua não realização. Diante disso a equipe, em resposta,

informou que a quantidade de vagas é limitada no máximo de 5 (cinco) adolescentes e com

duração de um mês, visto que a unidade possui adolescentes do estado todo.

De acordo com essas informações é perceptível a deficiência no sistema

socioeducativo de internação em Palmas a respeito da inclusão de adolescentes em cursos

profissionalizantes, mesmo sendo umas de suas propostas ao cumprir a medida. O setor

público é responsável pelo estabelecimento e execução de políticas públicas, que segundo

dispõe no ECA, deve impor na sua execução meios governamentais para que as medidas

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socioeducativas atinja sua finalidade e reeduque o adolescente infrator para que não venha a

reincidir a pratica delitiva.

Por meio da educação, profissionalização e atividades esportivas disponibilizados aos

socioeducandos na unidade é uma possibilidade para sua reinserção no meio social, garante

aos adolescentes seu desenvolvimento e sua qualificação profissional para ser inseridos no

mercado de trabalho, e com sua qualificação poderá ter oportunidade de conseguir um

trabalho socialmente valorizado, por meio do saber profissional adquirido na

profissionalização durante a execução da medida socioeducativa.

Diante da falta de profissionalização, a Defensoria Pública do Estado do Tocantins

(DPE-TO), por meio do Núcleo Especializado de Defesa da Criança e do Adolescente

(Nudeca), a Secretaria Estadual da Cidadania e Justiça (Seciju), a Secretaria Municipal de

Desenvolvimento Social (Sedes) e a Fundação Municipal da Infância e da Juventude

firmaram um termo de cooperação no mês de novembro de 2018, para disponibilizar cursos

profissionalizantes no CASE, definindo que os três primeiros cursos profissionalizantes a

serem ofertados aos socioeducandos seriam de garçom, informática e rotinas administrativas.

Os cursos seriam executados pela Fundação Municipal da Infância e da Juventude por meio

da “Estação Juventude”. O primeiro curso a ter início foi o de garçom para cerca de 20 (vinte)

socioeducandos, no período matutino e vespertino com carga 20 horas/aula, com início em 28

de novembro de 2018. No entanto, no início de 2019 o curso foi suspenso e não teve retorno.

Em vista disso, existe uma tentativa de política pública em relação a capacitação

profissional de adolescentes infratores no CASE em Palmas, no entanto é ineficaz, o setor

público deve elaborar, planejar e também executar tais políticas, afim de trazer a esses

socioeducandos uma qualificação, aquisição de um ofício profissional e permitir sua

reinserção ao convívio social.

De acordo com Damico (2011, p. 140), a educação, as atividades esportivas,

pedagógicas e a profissionalização são práticas que pretendem não apenas tirar o tempo

ocioso dos adolescentes durante o cumprimento da medida de internação, mas sim evitar que

esses adolescentes voltem a delinquir.

As políticas públicas de ressocialização do infrator destaca a educação e a

profissionalização como processos importantes na composição desse indivíduo, e para isso

deve trazer condições de reconstrução psíquica, familiar e reinserção social, através dos

atendimentos individualizados realizado pela equipe técnica que busca orientar o adolescente

a compreensão da medida socioeducativa, a gravidade do cometimento do ato infracional, a

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importância da escolarização e da capacitação profissional, a fim de resgatar a essência de

humanidade desse indivíduo.

Como é disposto no art. 227 da Constituição Federal do Brasil de 1988, é dever da

família, do Estado e da comunidade assegurar as crianças, adolescentes e jovens, vários

direitos e um deles é a profissionalização. Direito este assegurado pela Constituição Federal,

mas que por muitas vezes não é garantido para os adolescentes que estão sob tutela do Estado

cumprindo medida socioeducativa de privação de liberdade.

Em análise aos dados apresentados foi possível verificar que após a desinternação de

alguns adolescentes muitos voltaram a praticar crime ou ato infracional, e outros até mesmo

veio a óbito em decorrência da prática contraria a lei. Alguns adolescente com pouco menos

de dois meses de cumprir a medida socioeducativa de internação veio praticar novo ato

infracional e se encontra atualmente internado novamente. A análise foi realizada com base

nos 22 (vinte e dois) adolescentes que residem em Palmas – TO, que cumpriram medida de

internação durante o ano de 2018. Conforme verifica-se no gráfico a seguir:

Ação Penal 17%

Ato infracional25%

Veio a óbito8%

Não reincidiram50%

Chart Title

Fonte: Estatísticas do Atendimento da 27ªDefensoria da Infância e Juventude do Estado do Tocantins, em

Palmas – TO, 2018.

Desta forma, é notável que um dos principais objetivos das medidas socioeducativas,

que é a reeducação do socioeducando para não reincidência, é falha, que provoca a perda da

dimensão da proposta socioeducativa, que tem a finalidade pedagógica da ressocialização do

adolescente e inserção do meio social e no mercado de trabalho, entretanto muitos

adolescentes não são encaminhados para realizarem cursos profissionalizantes pela

deficiência da gestão do programa de atendimento. Paula (2006) afirma que:

Desaparecido o liame com a cessação da medida somem também os programas, ficando a criança ou adolescente entregue às mesmas condições que determinaram a

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infração vencida. Volta, em razão do novo ato infracional, o sistema a funcionar dentro das suas estreitas perspectivas, numa progressão de providências, da mais leve a mais grave, evidenciando o insucesso absoluto da sua intervenção. (PAULA, 2006, p. 29-30)

Assim, após o cumprimento da medida socioeducativa de internação e caso não seja

substituída por outra em meio aberto esse adolescente não será mais acompanhado por

nenhum programa, ficando exposto a qualquer condição de vida. Adolescentes e jovens

envolvidos com questões de natureza jurídica necessitam ser assistidos através de métodos e

técnicas de ação social e educativa específicos para poderem desenvolver seu potencial

(ADAYANE, 2012, p. 82).

Diante dos dados apresentados de reincidência, que é apenas de adolescentes que

cumprem medida socioeducativa de internação residentes no município de Palmas, é

perceptível que existe a necessidade de maior intervenção do Estado no sentido de prevenção

e na ressocialização dos adolescentes, buscando políticas públicas eficazes, garantindo os

direitos assegurados ao longo dos tempos.

Conforme discorre Nicodemos (2006), verifica-se que:

[...] O Estado brasileiro não apontou e não se dirige para um norte que possa reverter um quadro de profundas desigualdades sociais, em que crianças e adolescentes são as principais vítimas. Assim, como vítimas excluídas do sistema econômico da política estatal, passam então a integrar o exército de milhares de brasileiros que serão negativamente etiquetados como potenciais criminosos. (Nicodemos,2006, p. 553).

É importante ressaltar que o trabalho é um fator considerado essencial na vida da

pessoa e possui seus valores sociais, onde existe a classificação do trabalhador de cidadão e

do que não trabalha de marginal (EVANGELISTA, 2008). Para o adolescente em conflito

com lei a qualificação profissional é fundamental, principalmente para aqueles que vivem em

situação de vulnerabilidade econômica, o trabalho é um acesso a socialização, conhecimento e

de formação da identidade. Deste modo, o trabalho implica como um princípio educativo

básico para adolescentes infratores.

De acordo com isso, a qualificação profissional para adolescentes que cumprem

medida de internação é de extrema importância, nela o socioeducando tem a oportunidade de

aprender sobre uma profissão que viabilize a inserção no mercado de trabalho, por via formal,

observando art. 7º, inciso XXXIII, da Constituição Federal do Brasil que estabelece que:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

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XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).

Observando a condição de sujeito de direitos, garantido todas as leis trabalhistas que

abrange não só o adulto, mas também o jovem aprendiz, na qual a lei trabalhista sofreu

alterações para a vigência das Leis n° 10.097, de 19 de dezembro de 2000, e n° 11.788, de 25

de setembro de 2008. Dessarte, a qualificação profissional juntamente com a inclusão no

mercado de trabalho podem trazer qualidade de vida digna, longe do desprezo da sociedade e

não cometimento de atos infracionais.

Pode-se concluir, portanto, que a inclusão dos adolescentes em cumprimento de

medida socioeducativa de internação para se qualificarem profissionalmente por meio de

instituições em parceria com a unidade socioeducativa é bastante difícil, depende de uma

relatividade de ações coordenadas entre governo estadual e municipal, podendo ser realizado

também por organizações voluntárias, sem fins lucrativos e organizações não-governamentais,

que envolve questões burocráticas e também política.

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CONCLUSÃO

No decorrer do trabalho foi discutido sobre o direito da criança e do adolescente, em

suma do adolescente em conflito com a lei. O direito da criança e do adolescente teve uma

grande trajetória até se tornar efetivamente um direito integral e com garantias fundamentais

prevista na Constituição Federal do Brasil.

Ainda, é muito comum se deparar com situações que os direitos das crianças e dos

adolescentes sejam violados, e sobretudo aqueles que cumprem medida socioeducativa. Estes

sujeitos de direitos são amparados pela Carta Magna de 1988, no Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA) e aqueles que infringiram a lei e cumprem medida socioeducativa são

regidos pela Lei nº 12.594/2012, do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

(SINASE), leis estas que devem ser cumpridas como são viabilizadas.

Diante do que foi exposto no trabalho observou-se que existe a divisão entre o

adolescente e o adolescente infrator na qual a sociedade tem uma concepção de que o infrator

não detém dos mesmos direitos que os demais adolescentes. Para que haja essa ruptura de

pensamento é necessário uma construção social, de modo que a visão “menor infrator”, como

se os direitos também fossem diminuídos devido sua condição de autor infracional, sejam

rompidas e avançar na efetivação das leis de proteção integral da criança e do adolescente

para sua melhoria de vida.

Para a viabilização de todos os direitos que são assegurados aos adolescentes

infratores depende de um fatores de coisas, principalmente ações de implementação de

políticas públicas voltadas tanto para a exclusão da desigualdade social e da vulnerabilidade

econômica. Ocorre que o Estado e a sociedade são capazes de garantir as exigências feitas na

lei para que as condições de cidadania sejam efetivadas, de modo que as medidas

socioeducativas tenham mais ações pedagógicas, que venham garantir ao socioeducando uma

melhoria significativa de vida por meio da qualificação profissional no decorrer do

cumprimento da medida e logo sua inserção no mercado de trabalho.

O objeto da pesquisa foram os adolescentes que cumprem medida de internação no

Centro de Atendimento Socioeducativo – CASE, do Estado do Tocantins, voltado para

adolescente institucionalizados residentes no munícipio de Palmas. A instituição acolhe

adolescentes de todo Estado e visa a reeducação dos mesmo por meio de ações pedagógicas

afim de conscientização da gravidade do ato infracional, fortalecer os laços afetivos com a

família, promover reflexões sobre malefícios de drogas, inserir em cursos profissionalizantes

disponíveis na unidade. No entanto, o CASE apresenta dificuldades no cumprimento de

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alguns objetivos traçados aos adolescentes que cumprem a medida, em especial no

encaminhamento dos adolescentes para realizarem cursos profissionalizantes.

Apesar do Estatuto da Criança e do Adolescente e a lei que regulamenta a execução da

medida socioeducativa – SINASE, disporem de vários deveres que o Estado tem para com

esses adolescentes infratores ao cumprirem a medida socioeducativa, que é a garantia da

ressocialização por meio das atividades pedagógicas, existe a carência de cursos

profissionalizantes na unidade, fazendo com o que fiquem internados por tempo

indeterminado, sendo que o tempo que não estão na escola ficam no alojamento ociosos, e não

têm a oportunidade de fazerem uma qualificação profissional em busca de melhoria de vida e

terem uma profissão quando desinternados, onde as ações do atendimento socioeducativo não

atendem nem a expectativa do adolescente, visto que na elaboração no Plano Individual de

Atendimento – PIA, eles externam a vontade de terem uma qualificação.

Desta maneira, o estágio na Defensoria Pública do Estado do Tocantins, na infância e

juventude, foi fundamental para que pudesse entender a importância que a profissionalização

tem para adolescentes que cumprem medida socioeducativa e principalmente para os privados

de liberdade. Os cursos profissionalizantes são uma expectativa que eles tem para poderem

mudar de vida, para se desvincularem da prática infracional e logo conseguirem um emprego

com grandes planos de mudanças.

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