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Cruz e Sousa

Últimos Sonetos

Publicado originalmente em 1905.

João da Cruz e Sousa(1861 — 1898)

 “Projeto Livro Livre”

Livro 243 

Poeteiro Editor Digital

São Paulo - 2014www.poeteiro.com 

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Projeto Livro Livre

O “Projeto Livro Livre” é uma iniciativa quepropõe o compartilhamento, de forma livre e

gratuita, de obras literárias já em domnio p!blicoou que tenham a sua divulga"#o devidamenteautori$ada, especialmente o livro em seu formato%igital&

'o (rasil, segundo a Lei n) *&+-, no seu artigo ., os direitos patrimoniais doautor perduram por setenta anos contados de / de janeiro do ano subsequenteao de seu falecimento& O mesmo se observa em Portugal& 0egundo o 12digo dos%ireitos de 3utor e dos %ireitos 1one4os, em seu captulo 56 e artigo 7), o

direito de autor caduca, na falta de disposi"#o especial, 8- anos ap2s a mortedo criador intelectual, mesmo que a obra s2 tenha sido publicada ou divulgadapostumamente&

O nosso Projeto, que tem por !nico e e4clusivo objetivo colaborar em prol dadivulga"#o do bom conhecimento na 5nternet, busca assim n#o violar nenhumdireito autoral& 9odavia, caso seja encontrado algum livro que, por algumara$#o, esteja ferindo os direitos do autor, pedimos a gentile$a que nos informe,a fim de que seja devidamente suprimido de nosso acervo&

:speramos um dia, quem sabe, que as leis que regem os direitos do autor sejamrepensadas e reformuladas, tornando a prote"#o da propriedade intelectualuma ferramenta para promover o conhecimento, em ve$ de um temvel inibidorao livre acesso aos bens culturais& 3ssim esperamos;

3té lá, daremos nossa pequena contribui"#o para o desenvolvimento daeduca"#o e da cultura, mediante o compartilhamento livre e gratuito de obrassob domnio p!blico, como esta, do escritor brasileiro 1ru$ e 0ousa< “Últimos

Sonetos”& 

= isso; 

5ba >[email protected]

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BIOGRAFIA

João da Cruz e Sousa nasceu em Nossa Senhora do Desterro (atualFlorianópolis), no dia 24 de novemro de !"#!$ Faleceu em !% de mar&o de

!"%"$

Filho dos ne'ros alorriados uilherme da Cruz, mestre*pedreiro, e Carolina +vada Concei&ão, João da Cruz desde peueno receeu a tutela e uma educa&ãoreinada de seu e-*senhor, o .arechal uilherme /avier de Sousa * de uemadotou o nome de am0lia, Sousa$ 1 esposa de uilherme /avier de Sousa, DonaClarinda Fa'undes /avier de Sousa, não tinha ilhos, e passou a prote'er ecuidar da educa&ão de João$ 1prendeu rancs, latim e 're'o, al3m de ter sidodisc0pulo do alemão Fritz .ller, com uem aprendeu .atem5tica e Cincias

Naturais$

+m !""!, diri'iu o 6ornal Tribuna Popular , no ual comateu a escravidão e opreconceito racial$ +m !""7, oi recusado como promotor de 8a'una por serne'ro$ +m !""9 lan&ou o primeiro livro, Tropos e Fantasias  em parceria com:ir'0lio :5rzea$ Cinco anos depois oi para o ;io de Janeiro, onde traalhoucomo aruivista na +strada de Ferro Central do <rasil, colaorando tam3mcom o 6ornal Folha Popular $ +m evereiro de !"%7, pulica Missal  (prosa po3ticaaudelairiana) e em a'osto, Broquéis  (poesia), dando in0cio ao Simolismo no<rasil ue se estende at3 !%22$ +m novemro desse mesmo ano casou*se comavita on&alves, tam3m ne'ra, com uem teve uatro ilhos, todos mortosprematuramente por tuerculose, levando*a = loucura$

Faleceu a !% de mar&o de !"%" no munic0pio mineiro de 1nt>nio Carlos, numpovoado chamado +sta&ão do S0tio, para onde ora transportado =s pressasvencido pela tuerculose$ ?eve o seu corpo transportado para o ;io de Janeiroem um va'ão destinado ao transporte de cavalos$ 1o che'ar, oi sepultado noCemit3rio de São Francisco /avier por seus ami'os, dentre eles Jos3 do@atroc0nio, onde permaneceu at3 2AAB, uando seus restos mortais oram

então acolhidos no .useu istórico de Santa Catarina * @al5cio Cruz e Sousa, nocentro de Florianópolis$

Seus poemas são marcados pela musicalidade (uso constante de alitera&es),pelo individualismo, pelo sensualismo, =s vezes pelo desespero, =s vezes peloapazi'uamento, al3m de uma osessão pela cor ranca$ E certo ue encontram*se inmeras reerncias = cor ranca, assim como = transparncia, =translucidez, = neulosidade e aos rilhos, e a muitas outras cores, todassempre presentes em seus versos$

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No aspecto de inluncias do simolismo, nota*se uma am5l'ama ue conlui5'uas do satanismo de <audelaire ao espiritualismo (e dentro desse, ideiasudistas e esp0ritas) li'ados tanto a tendncias est3ticas vi'entes como as asesna vida do autor$

Wikipédia

Março, 2014

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ÍNDICE

PIEDADE..........................................................................................................

CAMINHO DA GLÓRIA....................................................................................PRESA DO ÓDIO..............................................................................................ALUCINAÇÃO..................................................................................................VIDA OBSCURA...............................................................................................CONCILIAÇÃO.................................................................................................GLÓRIA...........................................................................................................A PERFEIÇÃO..................................................................................................MADONA DA TRISTEZA...................................................................................DE ALMA EM ALMA........................................................................................IRONIA DE LÁGRIMAS....................................................................................

O GRANDE MOMENTO...................................................................................PRODÍGIO! .....................................................................................................COGITAÇÃO....................................................................................................GRANDEZA OCULTA.......................................................................................VOZ FUGITIVA................................................................................................QUANDO SERÁ?! ...........................................................................................IMORTAL ATITUDE.........................................................................................CÁRCERE DAS ALMAS....................................................................................SUPREMO VERBO..........................................................................................

VÃO ARREBATAMENTO..................................................................................BENDITAS CADEIAS! ......................................................................................ÚNICO REMDIO............................................................................................FLORESCE! .....................................................................................................DEUS DO MAL................................................................................................A HARPA........................................................................................................ALMAS INDECISAS... .....................................................................................ABRIGO CELESTE............................................................................................MUDEZ PERVERSA..........................................................................................

CORAÇÃO CONFIANTE....................................................................................ESPÍRITO IMORTAL.........................................................................................CR! ...............................................................................................................ALMA FATIGADA............................................................................................FLOR NIRVANIZADAS......................................................................................FELIZ! .............................................................................................................CRUZADA NOVA............................................................................................O SONETO......................................................................................................FOGOS"FÁTUOS.............................................................................................MUNDO INACCESSÍVEL...................................................................................

CONSOLO AMARGO.......................................................................................VINHO NEGRO................................................................................................

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ETERNOS ATALAIAS........................................................................................O ASSINALADO...............................................................................................ACIMA DE TUDO.............................................................................................IMORTAL FALERNO.........................................................................................

LUZ DA NATUREZA.........................................................................................ASAS ABERTAS...............................................................................................VELHO............................................................................................................ETERNIDADE RETROSPECTIVA........................................................................ALMA MATER.................................................................................................O CORAÇÃO....................................................................................................INVULNERÁVEL...............................................................................................LÍRIO LUTUOSO...............................................................................................A GRANDE SEDE..............................................................................................DOMUS AUREA...............................................................................................

UM SER...........................................................................................................O GRANDE SONHO.........................................................................................CONDENAÇÃO FATAL.....................................................................................ALMA FERIDA.................................................................................................ALMA SOLITÁRIA............................................................................................VISIONÁRIOS..................................................................................................DEM-NIOS.....................................................................................................ÓDIO SAGRADO..............................................................................................EORTAÇÃO....................................................................................................

BONDADE.......................................................................................................NA LUZ............................................................................................................CAVADOR DO INFINITO..................................................................................SANTOS ÓLEOS...............................................................................................SORRISO INTERIOR.........................................................................................MEALHEIRO DE ALMAS...................................................................................ESPASMOS... ..................................................................................................EVOCAÇÃO.....................................................................................................NO SEIO DA TERRA.........................................................................................ANIMA MEA....................................................................................................SEMPRE O SONHO.........................................................................................ASPIRAÇÃO SUPREMA....................................................................................INEFÁVEL! ......................................................................................................SER DOS SERES...............................................................................................SETA"FEIRA SANTA.......................................................................................SENTIMENTO ESQUISITO................................................................................CLAMOR SUPREMO.......................................................................................ANSIEDADE.....................................................................................................GRANDE AMOR..............................................................................................

SILNCIOS.......................................................................................................A MORTE........................................................................................................

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SÓ! .................................................................................................................FRUTO ENVELHECIDO.....................................................................................TASE BÚDICO..............................................................................................TRIUNFO SUPREMO........................................................................................

ASSIM SE/A! ...................................................................................................RENASCIMENTO..............................................................................................PACTO DAS ALMAS.........................................................................................

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PIEDADE

O coração de todo o ser humanoFoi concebido para ter piedade,

Para olhar e sentir com caridadeFicar mais doce o eterno desengano.

Para da vida em cada rude oceanoArrojar, através da imensidade,Tábuas de salvação, de suavidade,e consolo e de a!eto soberano.

"im# $ue não ter um coração pro!undo% os olhos !echar & dor do mundo,

!icar in'til nos amargos trilhos.

% como se o meu ser compadecido(ão tivesse um soluço comovidoPara sentir e para amar meus !ilhos#

CAMINHO DA GLÓRIA

)ste caminho é cor de rosa e é de ouro,)stranhos roseirais nele !lorescem,Folhas augustas, nobres reverdeceme acanto, mirto e sempiterno louro.

(este caminho encontra*se o tesouroPelo +ual tantas almas estremecem% por a+ui +ue tantas almas descemAo divino e !remente sorvedouro.

% por a+ui +ue passam meditando,$ue cru-am, descem, trmulos, sonhando,(este celeste, l/mpido caminho.

Os seres virginais +ue vm da Terra,)nsang0entados da tremenda guerra,)mbebedados do sinistro vinho.

PRESA DO ÓDIO

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2

a tu1alma na !unda galeriaescendo &s ve-es, eu &s ve-es sinto$ue como o mais !ero- lobo !amintoTeu 2dio bai3o de alcatéia espia.

o esespero a noite cava e !ria,e bomias vis o pér!ido absintoP4s no teu ser um negro labirinto,esencadeou sinistra ventania.

esencadeou a ventania rouca,surda, tremenda, desvairada, louca,$ue a tu1alma abalou de lado a lado.

$ue te in!lamou de c2leras supremase dei3ou*te nas trágicas algemaso teu 2dio sangrento acorrentado#

ALUCINAÇÃO 

5 solidão do 6ar, 2 amargor das vagas,Ondas em convuls7es, ondas em rebeldia,

esespero do 6ar, !uriosa ventania,8oca em !el dos trit7es engasgada de pragas.

9elhas chagas do sol, ensang0entadas chagase ocasos purpurais de atro- melancolia,:uas tristes, !atais, da atra mude- sombriaa trágica ru/na em vastid7es pressagas.

Para onde tudo vai, para onde tudo voa,"umido, con!undido, esboroado, &*toa,(o caos tremendo e nu dos tempo a rolar;

$ue (irvana genial há de engolir tudo isto ** 6undos de <n!erno e =éu, de >udas e de cristo,:uas, chagas do sol e turbilh7es do 6ar;#

VIDA OBSCURA

(inguém sentiu o teu espasmo obscuro,5 ser humilde entre os humildes seres.

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3

)mbriagado, tonto dos pra-eres,O mundo para ti !oi negro e duro.

Atravessaste num silncio escuro

A vida presa a trágicos deveres) chegaste ao saber de altos saberesTornando*te mais simples e mais puro.

(inguém Te viu o sentimento in+uieto,6agoado, oculto e aterrador, secreto,$ue o coração te apunhalou no mundo.

6as eu +ue sempre te segui os passos"ei +ue cru- in!ernal prendeu*te os braços

) o teu suspiro como !oi pro!undo#

CONCILIAÇÃO

"e essa ang'stia de amar te cruci!ica,(ão és da dor um simples !ugitivo?)la marcou*te com o sinete vivoa sua estranha majestade rica.

%s sempre o Assinalado ideal +ue !ica"orrindo e contemplando o céu altivoos =ompassivos és o compassivo,(a Trans!iguração +ue glori!ica.

(unca mais de tremer terás direito...a (ature-a todo o Amor per!eitoAdorarás, venerarás contrito.

Ah# 8asta encher, eternamente basta)ncher, encher toda esta )s!era vastaa convulsão do teu soluço a!lito#

GLÓRIA

Florescimentos e !lorescimentos#@l2ria &s estrelas, gl2ria &s aves, gl2ria

nature-a# $ue a minh1alma !l2rea)m mais !lores !lori de sentimentos.

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@l2ria ao eus invis/vel dos nevoentos)spaços# gl2ria & lua merenc2ria,@l2ria & es!era dos sonhos, & ilus2ria

)s!era dos pro!undos pensamentos.

@l2ria ao céu, gl2ria & terra, gl2ria ao mundo#Todo o meu ser é roseiral !ecundoe grandes rosas de divino brilho.

Almas +ue !loresceis no Amor eterno#9inde go-ar comigo este !alerno,)sta emoção de ver nascer um !ilho#

A PERFEIÇÃO

A Per!eição é a celeste cinciaa cristali-ação de almos encantos,e abandonar os m2rbidos +uebrantos) viver de uma oculta !lorescncia.

(oss1alma !ica da clarividncia

os astros e dos anjos e dos santos,Fica lavada na lustral dos prantos,% dos prantos divina e pura essncia.

(oss1alma !ica como o ser +ue &s lutasAs mãos conserva limpas, impolutas,"em as manchas do sangue mau da guerra.

A Per!eição é a alma estar sonhando)m soluços, soluços, soluçandoAs agonias +ue encontrou na Terra#

MADONA DA TRISTEZA

$uando te escuto e te olho reverente) sinto a tua graça triste e belae ave medrosa, t/mida, singela,Fico a cismar enternecidamente.

Tua vo-, teu olhar, teu ar dolente

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Toda a delicade-a ideal revela) de sonhos e lágrimas estrelaO meu ser comovido e penitente.

=om +ue mágoa te adoro e te contemplo,5 da Piedade soberano e3emplo,Flor divina e secreta da 8ele-a.

Os meus soluços enchem os espaços$uando te aperto nos estreitos braços,solitária madona da Triste-a#

DE ALMA EM ALMA

Tu andas de alma em alma errando, errando,como de santuário em santuário.%s o secreto e m/stico templárioAs almas, em silncio, contemplando.

(ão sei +ue de harpas há em ti vibrando,+ue sons de peregrino estradivário$ue lembras reverncias de sacrário

) de vo-es celestes murmurando.

6as sei +ue de alma em alma andas perdidoAtrás de um belo mundo inde!inidoe silncio, de Amor, de 6aravilha.

9ai# "onhador das nobres reverncias#A alma da Fé tem dessas !lorescncias,6esmo da 6orte ressuscita e brilha#

IRONIA DE LÁGRIMAS

>unto da 6orte é +ue !loresce a 9ida#Andamos rindo junto & sepultura.A boca aberta, escancarada, escuraa cova é como !lor apodrecida.

A 6orte lembra a estranha 6argarida

o nosso corpo, Fausto sem ventura...)la anda em torno a toda a criatura

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6

(uma dança macabra inde!inida.

9em revestida em suas negras sedas) a marteladas l'gubrees e tredas

as ilus7es o eterno es+ui!e prega.

) adeus caminhos vãos, mundos risonhos,:á vem a loba +ue devora os sonhos,Faminta, absconsa, imponderada, cega#

O GRANDE MOMENTO

<nicia*te, en!im, Alma imprevista,

)ntra no seio dos <niciados.)speram*te de lu- maravilhadosOs ons +ue vão te consagrar Artista.

Toda uma )s!era te deslumbra a vista,Os ativos sentidos re+uintados.=éus e mais céus e céus trans!iguradosAbrem*te as portas da imortal =on+uista.

)is o grande 6omento prodigiosoPara entrares sereno e majestoso(um mundo estranho d1esplendor sidéreo.

8orboleta de sol, surge da lesma...Oh# vai, entra na posse de ti mesma,$uebra os selos augustos do 6istério#

PRODÍGIO!

=omo o Bei :ear não sentes a tormenta$ue te desaba na !atal cabeça#C$ue o céu d1estrelas todo resplandeça.DA tua alma, na or, mais nobre aumenta.

A esventura mais sanguinolenta"obre os teus ombros impiedosa desça,"eja a treva mais !unda e mais espessa,

Todo o teu ser em m'sicas rebenta.

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)m m'sicas e em !lores in!initase aromas e de !ormas es+uisitas) de um mistério singular, nevoento...

Ah# s2 da or o alto !arol supremo=onsegue iluminar, de e3tremo a e3tremo,o estranho mar genial do "entimento#

COGITAÇÃO

Ah# mas então tudo será baldado;#Tudo des!eito e tudo consumido;#(o )rgástulo d1ergástulos perdido

Tanto desejo e sonho soluçado;#

Tudo se abismará desesperado,o desespero do 9iver batido,(a convulsão de um 'nico @emido(as entranhas da Terra concentrado;#

nas espirais tremendas dos suspirosA alma congelará nos grandes giros,

Batejará e rugirá rolando;#

Ou entre estranhas sensaç7es sombrias,6elancolias e melancolias,(o ei3o da alma de Eamlet irá girando;#

GRANDEZA OCULTA

)stes vão para as guerras inclementes,Os absurdos her2is sanguinolentos,Alvoroçados, tontos e sedentoso clamor e dos ecos estridentes.

A+ueles para os !r/volos e ardentesPra-eres de acres inebriamentos?9inhos, mulheres, arrebatamentose lu3'rias carnais, impenitentes.

6as Tu, +ue na alma a imensidade !echas,$ue abriste com teu @nio !undas brechas

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8

no mundo vil onde a maldade e3ulta,

5 delicado esp/rito de :endas#Fica nas tuas @raças estupendas,

(o sentimento da grande-a oculta#

VOZ FUGITIVA

s ve-es na tu1alma +ue adormeceTanto e tão !undo, alguma vo- escutoe timbre emocional, claro, impoluto$ue uma vo- bem amiga me parece.

) !ico mudo a ouvi*la como a precee um meigo coração +ue está de luto) livre, já, de todo o mal corrupto,6esmo as a!rontas mais cruéis es+uece.

6as outras ve-es, sempre em vão, procuroessa vo- singular o timbre puro,As essncias do céu maravilhosas.

Procuro ansioso, in+uieto, alvoroçado,6as tudo na tu1alma está calado,(o silncio !atal das nebulosas.

QUANDO SERÁ?!

$uando será +ue tantas almas duras)m tudo, já libertas, já lavadasnas águas imortais, iluminadaso sol do Amor, hão de !icar bem puras;

$uando será +ue as l/mpidas !rescurasos claros rios de ondas estreladasos céus do 8em, hão de dei3ar clareadasAlmas vis, almas vãs, almas escuras;

$uando será +ue toda a vasta )s!era,Toda esta constelada e a-ul $uimera,

Todo este !irmamento estranho e mudo,

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Tudo +ue nos abraça e nos esmaga,+uando será +ue uma resposta vaga,6as tremenda, hão de dar de tudo, tudo;#

IMORTAL ATITUDE

Abre os olhos & 9ida e !ica mudo#Oh# 8asta crer inde!inidamentePara !icar iluminado tudoe uma lu- imortal e transcendente.

=rer é sentir, como secreto escudo,A alma risonha, l'cida, vidente...

) abandonar o sujo deus cornudo,O sátiro da =arne impenitente.

Abandonar os lnguidos rugidos,O in!inito gemido dos gemidos$ue vai no lodo a carne cha!urdando.

)rguer os olhos, levantar os braçosPara o eterno "ilncio dos )spaços

) no "ilncio emudecer olhando...

LIVRE!

:ivre# "er livre da matéria escrava,Arrancar os grilh7es +ue nos !lagelam) livre, penetrar nos ons +ue selamA alma e lhe emprestam toda a etérea lava.

:ivre da humana, da terrestre bravaos coraç7es daninhos +ue regelam$uando os nossos sentidos se rebelam=ontra a <n!mia bi!ronte +ue deprava.

:ivre# bem livre para andar mais puro,6ais junto & (ature-a e mais seguroo seu amor, de todas as justiças.

:ivre# para sentir a (ature-a,Para go-ar, na universal @rande-a,

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Fecundas e arcangélicas preguiças.

CÁRCERE DAS ALMAS

Ah# Toda a alma num cárcere anda presa,"oluçando nas trevas, entre as gradeso calabouço olhando imensidades,6ares, estrelas, tardes, nature-a.

Tudo se veste de uma igual grande-a$uando a alma entre grilh7es as liberdades"onha e, sonhando, as imortalidadesBasga no etéreo o )spaço da Pure-a.

5 almas presas, mudas e !echadas(as pris7es colossais e abandonadas,a or no calabouço, atro-, !unéreo#

(esses silncios solitários, graves,+ue chaveiro do =éu possui as chavespara abrir*vos as portas do 6istério;#

SUPREMO VERBO

* 9ai, Peregrino do caminho santo,Fa- da tu1alma lmpada do cego,<luminando, pego sobre pego,As invis/veis amplid7es do Pranto.

)i*lo, do Amor o =áli3 sacrossanto#8ebe*o, !eli-, nas tuas mãos o entrego...%s o !ilho leal, +ue eu não renego,$ue de!endo nas dobras do meu manto.

Assim ao Poeta a (ature-a !ala#)n+uanto ele estremece ao escutá*la,Trans!igurado de emoção, sorrindo...

"orrindo a céus +ue vão se desvendando,A mundos +ue vão se multiplicando,

A portas de ouro +ue vão se abrindo#

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VÃO ARREBATAMENTO

Partes um dia das =uriosidades

o teu ser singular, partes em buscae almas irmãs, cujo esplendor o!uscaAs celestes, divinas claridades.

Basgas terras e céus, imensidades,os perigos da 9ida a vaga brusca,$ueima*te o sol +ue na Amplidão corusca) consola*te a lua das saudades.

Andas por toda a parte, em toda a parte

A sedução das almas a !alar*te,=omo da Terra luminosos marcos.

) a sorrir e a gemer e soluçandoAh# "empre em busca de almas vais andando6as em ve- delas encontrando charcos#

BENDITAS CADEIAS!

$uando vou pela :u- arrebatado,)scravo dos mais puros sentimentos:evo secretos estremecimentos=omo +uem entra em mágico (oivado.

=erca*me o mundo mais trans!igurado(esses sutis e cndidos momentos...6eus olhos, minha boca vão sedentose lu-, todo o meu ser iluminado.

Fico !eli- por me sentir escravoe um )ncanto maior entre os )ncantos,:ivre, na culpa, do mais leve travo.

e ver minh1alma com tais sonhos, tantos,) +ue por !im me puri!ico e lavo(a água do mais consolador dos prantos

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ÚNICO REMÉDIO

=omo a chama +ue sobe e +ue se apaga"obem as vidas a espiral de <n!erno.

O desespero é como o !ogo eterno$ue o campo +uieto em convuls7es alaga...

Tudo é veneno, tudo cardo e praga#) almas +ue tm sede de !alerno8ebem apenas o licor modernoo tédio pessimista +ue as esmaga.

6as a =aveira vem se apro3imando,9em e32tica e nua, vem dançando,

(o estrambotismo l'gubre vem vindo.

) tudo acaba então no horror insano ** esespero do <n!erno e tédio humano *$uando, d1esguelha, a 6orte surge, rindo...

FLORESCE!

Floresce, vive para a (ature-a,Para o Amor imortal, largo e pro!undo.O 8em supremo de es+uecer o mundoBeside nessa l/mpida grande-a.

Floresce para a Fé, para a 8ele-aa :u- +ue é como um vasto mar sem !undo,Amplo, in!lamado, mágico, !ecundo,e ondas de resplendor e de pure-a.

Andas em vão na Terra, apodrecendo toa pelas trevas, es+uecendoA (ature-a e os seus aspectos calmos.

iante da lu- +ue a (ature-a encerraAndas a apodrecer por sobre a Terra,Antes de apodrecer nos sete palmos#

DEUS DO MAL

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)sp/rito do 6al, 2 deus perverso$ue tantas almas d'bias acalentas,9eneno tentador na lu- disperso$ue a pr2pria lu- e a pr2pria sombra tentas.

"/mbolo atro- das culpas do Gniverso,)spelho !iel das convuls7es violentaso gasto coração no lodo imersoas tormentas vulcnicas, sangrentas.

Toda a tua sinistra trajet2riaTem um brilho de lágrima ilus2ria,As melodias m2rbidas do <n!erno...

%s 6al, mas sendo 6al és soluçante,"em a graça divina e consolante,Béprobo estranho do Perdão eterno#

A HARPA

Prende, arrebata, enleva, atrai, consolaA harpa tangida por convulsos dedos,

9ivem nela mistérios e segredos,% berceuse, é balada, é barcarola.

Earmonia nervosa +ue desola,9ento noturno dentre os arvoredosA erguer !antasmas e secretos medos,(as suas cordas um soluço rola...

Tu1alma é como esta harpa peregrina$ue tem sabor de m'sica divina) s2 pelos eleitos é tangida.

Earpa dos céus +ue pelos céus murmura) +ue enche os céus da m'sica mais pura,como de uma saudade inde!inida.

ALMAS INDECISAS

Almas ansiosas, trmulas, in+uietas,Fugitivas abelhas delicadas

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as colméias de lu- das alvoradas,Almas de melanc2licos poetas.

$ue dor !atal e +ue emoç7es secretas

vos tornam sempre assim desconsoladas,(a pungncia de todas as espadas,(a dolncia de todos os ascetas;#

(essa es!era em +ue andais, sempre indecisa,$ue tormento cruel vos nirvani-a,$ue agonias titnicas são estas;#

Por +ue não vindes, Almas imprevistas,Para a missão das l/mpidas =on+uistas

) das augustas, imortais Promessas;#

ABRIGO CELESTE

)strela triste a re!letir na lama,Baio de lu- a cintilar na poeira,Tens a graça sutil e !eiticeira,A doçura das curvas e da chama.

o teu olhar um !luido se derramae tão suave, cndida maneira$ue és a sagrada pomba alvissareira$ue para o Amor toda aminh1alma chama.

6eu ser anseia por teu doce apoio,(os outros seres s2 encontra joio6as s2 no teu todo o divino trigo.

"ou como um cego sem bordão de arrimo$ue do teu ser, tateando, me apro3imo=omo de um céu de carinhoso abrigo.

MUDEZ PERVERSA

$ue mude- in!ernal teus lábios cerra$ue !icas vago, para mim olhando,

(a atitude de pedra, concentrando(o entanto, n1alma, convuls7es de guerra#

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A mim tal !el essa mude- encerra,Tais dem4nios revéis a estão !orjando$ue antes te visse morto, desabando

"obre o teu corpo grossas pás de terra.

(ão te +uisera nesse atro- e sumo6utismo horr/vel +ue não gera nada,$ue não di- nada, não tem !undo e rumo.

6utismo de tal dor desesperada,$ue +uando o vou medir com o estranho prumoa alma !ico com a alma alucinada#

CORAÇÃO CONFIANTE

O coração +ue sente vai so-inho,Arrebatado, sem pavor, sem medo...:eva dentro de si raro segredo$ue lhe serve de guia no =aminho.

9ai no alvoroço, no celeste vinho

a lu- os bos+ues acordando cedo,$uando de cada trmulo arvoredoParte o sonoro e matinal carinho.

) o =oração vai nobre e vai con!iante,Festivo como a !lmula radianteAgitada bi-arra pelos ventos...

9ai palpitando, ardente, emocionadoO velho =oração arrebatado,Preso por loucos arrebatamentos#

ESPÍRITO IMORTAL

)sp/rito imortal +ue me !ecundas=om a chama dos viris entusiasmos,$ue trans!ormas em gládios os sarcasmosPara punir as multid7es pro!undas#

5 alma +ue transbordas, +ue me inundas

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e brilhos, de ecos, de emoç7es, de pasmos) !a-es acordar de atros marasmos6inh1alma, em tédios por charnecas !undas.

Força genial e sacrossanta e augusta,ivino Alerta para o )s+uecimento,9o- companheira, carinhosa e justa.

Tens minha 6ão, num doce movimento,"obre essa 6ão angélica e robusta,)sp/rito imortal do "entimento#

CR!

9 como a or te transcendentali-a#6as no !undo da or cr nobremente.Trans!igura o teu ser na !orça crente$ue tudo torna belo e divini-a.

$ue seja a =rença uma celeste brisa<n!lando as velas dos batéis do Orienteo teu "onho supremo, onipotente,

$ue nos astros do céu se cristali-a.

Tua alma e coração !i+uem mais graves,<luminados por carinhos suaves,(a doçura imortal sorrindo e crendo...

Oh# =r# Toda a alma humana necessitae uma )s!era de cnticos, bendita,Para andar crendo e para andar gemendo#

ALMA FATIGADA

(em dormir nem morrer na !ria )ternidade#6as repousar um pouco e repousar um tanto,Os olhos en3ugar das convuls7es do pranto,)n3ugar e sentir a ideal serenidade.

A graça do consolo e da tran+0ilidade

e um céu de carinhoso e per!umado encanto,6as sem nenhum carnal e m2rbido +uebranto,

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"em o tédio senil da vã perpetuidade.

Gm sonho lirial d1estrelas desoladasOnde as almas !ebris, e3austas, !atigadas

Possam se recordar e repousar tran+0ilas#

Gm descanso de Amor, de celestes miragens,Onde eu go-e outra lu- de m/sticas paisagens) nunca mais pressinta o reme3er de argilas#

FLOR NIRVANIZADAS

5 cegos coraç7es, surdos ouvidos,

8ocas in'teis, sem clamor, !echadas,Almas para os mistérios apagadas,"em segredos, sem eco e sem gemidos.

=onscincias hirsutas de bandidos,9esgas, ne!andas e desmanteladas,Portas de !erro, com !uror trancadas,os 2cios maus histéricos 9encidos.

esenterrai*vos das sangrentas !urnas"inistras, cabal/sticas, noturnasOnde ruge o Pecado caudaloso...

Fa-ei da or, do triste @o-o humano,A Flor do "entimento soberano,A Flor nirvani-ada de outro @o-o#

FELIZ!

"er de bele-a, de melancolia,)sp/rito de graça e de +uebranto,eus te bendiga o doloroso pranto,)n3ugue as tuas lágrimas um dia.

"e a tu1alma é d1estrela e d1harmonia,"e o +ue vem dela tem divino encanto,eus a proteja no sagrado manto,

(o céu, +ue é o vale a-ul da (ostalgia.

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eus a proteja na !elicidadeo sonho, do mistério, da saudade,e cnticos, de aroma e lu- ardente.

) s !eli- e s !eli- subindo,"ubindo, a Per!eição na alma sentindoFlorir e alvorecer libertamente#

CRUZADA NOVA

9amos saber das almas os segredos,Os c/rculos patéticos da 9ida,ar*lhes a lu- do Amor compadecida

) de!end*las dos secretos medos.

9amos !a-er dos áridos rochedos6anar a água lustral e apetecida,Pelos ansiosos coraç7es bebida(o silncio e na sombra d1arvoredos.

)ssas irmãs !urtivas das estrelas,"e não !ormos depressa de!end*las,

6orrerão sem encanto e sem carinho.

Paladinos da l/mpida =ru-ada#=on+uistemos, sem lança e sem espada,As almas +ue encontrarmos no =aminho.

O SONETO

(as !ormas voluptuosas o sonetoTem !ascinante, cálida !ragrncia) as leves, langues curvas de elegnciae e3travagante e m2rbido es+ueleto.

A graça nobre e grave do +uartetoBecebe a original intolerncia,Toda a sutil, secreta e3travagncia$ue transborda terceto por terceto.

) como um singular polichineloOndula, ondeia, curioso e belo,

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O "oneto , nas !ormas caprichosas.

As rimas dão*lhe a p'rpura vetusta) nas mais rara procissão augusta

"urge o "onho das almas dolorosas...

FOGOS"FÁTUOS

Eá certas almas vãs, galvani-adase emoção, de pure-a, de bondade,$ue como toda a a-ul imensidade=hegam a ser de s'bito estreladas.

) !icam como +ue trans!iguradasPor momentos, na vaga suavidadee +uem se eleva com serenidades risonhas, celestes madrugadas.

6as nada &s ve-es nelas correspondeAo sonho e ninguém sabe mais por ondeAnda essa !alsa e !ugitiva chama...

% +ue no !undo, na secreta essncia,)ssas almas de triste decadncia"ão lama sempre e sempre serão lama.

MUNDO INACCESSÍVEL

Tu1alma lembra um mundo inaccess/velOnde s2 astros e águias vão pairando,Onde s2 se escuta, trágica, cantando,A sin!onia da Amplidão terr/vel#

Alma nenhuma, +ue não !or sens/vel,$ue asas não tenha para as ir vibrando,)ssa região secreta desvendando,Falece, morre, num pavor incr/vel#

% preciso ter asas e ter garrasPara atingir aos ru/dos de !an!arras

o mundo da tu1alma augusta e !orte.

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% preciso subir /gneas montanhas) emudecer, entre vis7es estranhas,(um sentimento mais sutil +ue a 6orte#

CONSOLO AMARGO

6ortos e mortos, tudo vai passando,Tudo pelos abismos se sumindo...)n+uanto sobre a Terra !icam rindoGns, e já outros, pálidos, chorando...

Todos vão trmulos !inali-ando,Para os gelados t'mulos partindo,

escendo ao tremedal eterno, in!indo,6ortos e mortos, num sinistro bando.

Tudo passa espectral e doloroso,Pulverulentamente nebuloso=omo num sonho, num !atal letargo...

6as, de +uem chora os mortos, entretanto,O )s+uecimento vem e en3uga o pranto,

) é esse apenas o consolo amargo#

VINHO NEGRO

O vinho negro do imortal pecado)nvenenou nossas humanas veias=omo !ascinaç7es de atrás sereias) um in!erno sinistro e per!umado.

O sangue canta, o sol maravilhadoo nosso corpo, em ondas !artas, cheias.como +ue +uer rasgar essas cadeias)m +ue a carne o retém acorrentado.

) o sangue chama o vinho negro e +uenteo pecado letal, impenitente,O vinho negro do pecado in+uieto.

) tudo nesse vinho mais se apura,@anha outra graça, !orma e !ormosura,

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@rave bele-a d1esplendor secreto.

ETERNOS ATALAIAS

Os sentimentos servem de atalaiasPara guiar as multid7es errantes$ue caminham tremendo, vacilantesPelas desertas, in!initas praias...

Abrangendo da Terra as !undas raias,Atingindo as es!eras mais distantes,"ão como incensos, mirras odorantes,6iraculosas, !'lgidas al!aias.

Tudo em +ue logo trans!iguram,)ncantam tudo,tudo em torno apuram,Penetram, sem cessar, por toda parte.

Alma por alma em toda a parte in!lamam.) grandes, largos, imortais, derramamAs melanc2licas estrelas d1Arte#

PERANTE A MORTE

Perante a 6orte empalidece e treme,Treme perante a 6orte, empalidece.=oroa*te de lágrimas, es+ueceO 6al cruel +ue nos abismos geme.

Ah# longe o <n!erno +ue !lameja e !reme,:onge a Pai-ão +ue s2 no horror !loresce...A alma precisa de silncio e prece,Pois na prece e silncio nada teme.

"ilncio e prece no !atal segredo,Perante o pasmo do sombrio medoa morte e os seus aspectos reverentes...

"ilncio para o desespero insano,O !uror gigantesco e sobre*humano,

A dor sinistra de ranger os dentes#

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O ASSINALADO

Tu és o louco da imortal loucura,

O louco da loucura mais suprema.A Terra é sempre a tua negra algema,Prende*te nela a e3trema esventura.

6as essa mesma algema de amargura,6as essa mesma esventura e3tremaFa- +ue tu1alma suplicando gema) rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado

$ue povoas o mundo despovoado,e bele-as eternas, pouco a pouco...

(a (ature-a prodigiosa e ricaToda a audácia dos nervos justi!icaOs teus espasmos imortais de louco#

ACIMA DE TUDO

a gota d1água de um carinho agreste@eram*se os oceanos da 8ondade.O coração +ue é livre e bom revesteTudo d1encanto e simples majestade.

Ascender para a :u- é ser celeste,(ovos astros sentir na imensidadea alma e !icar nessa incons'til vestea divina e serena claridade.

O +ue é consolador e o +ue é supremo=ada alma encontra no caminho e3tremo,$uando atinge &s estrelas da pure-a.

% apenas tra-er o "er libertoe tudo e trans!ormar cada deserto(um sonho virginal da (ature-a#

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IMORTAL FALERNO

$uando as )s!eras da <lusão transponho

9ejo sempre tu1alma * essa galeraFeita das rosas brancas da $uimera,"empre a vagar no estranho mar do "onho.

(em aspecto nublado nem tristonho#"empre uma doce e constelada )s!era,"empre uma vo- clamando? * espera, espera,:á do !undo de um céu sempre risonho.

"empre uma vo- dos )rmos, das istncias#

"empre as long/n+uas, mágicas !ragrnciase uma vo- imortal, divina,pura...

) tua boca, "onhador eterno,"empre se+uiosa desse a-ul !alernoa )sperança do céu +ue te procura#

LUZ DA NATUREZA

:u- +ue eu adoro, grande :u- +ue eu amo,6ovimento vital da (ature-a,)nsina*me os segredos da 8ele-a) de todas as vo-es por +uem chamo.

6ostra*me a Baça, o peregrino Bamoos Fortes e dos >ustos da @rande-a,<lumina e suavi-a esta rude-aa vida humana, onde combato e clamo.

esta minh1alma a solidão de prantos=erca com os teus le7es de brava crença,e!ende com so teus gládios sacrossantos.

á*me enlevos, deslumbra*me, da imensaPorta es!eral, dos constelados mantosOnde a Fé do meu "onho se condensa#

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ASAS ABERTAS

As asas da minh1alma estão abertas#Podes te agasalhar no meu =arinho,

Abrigar*te de !rios no meu (inho=om as tuas asas trmulas, incertas.

Tu1alma lembra vastid7es desertasOnde tudo é gelado e é s2 espinho.6as na minh1alma encontrarás o 9inhoe as graças todas do =on!orto certas.

9em# Eá em mim o eterno Amor imenso$ue vai tudo !lorindo e !ecundando

) sobe aos céus como sagrado incenso.

)is a minh1alma, as asas palpitando=om a saudade de agitado lençoo segredo dos longes procurando...

VELHO

)stás morto, estás velho, estás cansado#=omo um sulco de lágrimas pungidas,)i*las, as rugas, as inde!inidas(oites do ser vencido e !atigado.

)nvolve*te o crep'sculo geladoOnde vai soturno amortalhando as vidasAnte o responso em m'sicas gemidas(o !undo coração dilacerado.

A cabeça pendida de !adiga,"entes a morte taciturna e amiga$ue os teus nervos c/rculos governa.

)stás velho, estás morto# 5 dor, del/rio,Alma despedaçada de mart/rio,5 desespero da esgraça eterna#

ETERNIDADE RETROSPECTIVA

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)u me recordo de já ter vivido,6udo e s2, por ol/mpicas )s!eras,onde era tudo velhas primaveras) tudo um vago aroma inde!inido.

Fundas regi7es do Pranto e do @emidoOnde as almas mais graves, mais austeras)rravam como trmulas +uimeras(um sentimento estranho e comovido.

As estrelas, long/n+uas e veladas,Becordavam violáceas madrugadas,Gm clarão muito leve de saudade.

)u me recordo d1imaginativos:uares liriais, contemplativosPor onde eu já vivi na )ternidade#

ALMA MATER

Alma da or, do Amor e da 8ondade,Alma puri!icada no <n!inito,

Perdão santo de tudo o +ue é maldito,Earpa consoladora da "audade#

as estrelas serena virgindade,Alma sem um soluço e sem um grito,a alta Besignação, da alta Piedade#Tu, +ue as pro!undas lágrimas estancas

) sabes levantar <magens brancas(o silencio e na sombra mais velada...

errama os l/rios, os teus l/rios castos,)m >ord7es imortais, vastos e vastos,(o !undo da minh1alma lacerada#

O CORAÇÃO

O coração é a sagrada pira

Onde o mistério do sentir !lameja.A vida da emoção ele a deseja

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como a harmonia as cordas de uma lira.

Gm anjo meigo e cndido suspira(o coração e o puri!ica e beija...

) o +ue ele, o coração, aspira, almeja% o sonho +ue de lágrimas delira.

% sempre sonho e também é piedade,oçura, compai3ão e suavidade) graça e bem, miseric2rdia pura.

Gma harmonia +ue dos anjos desce,$ue como estrela e !lor e som !loresce6aravilhando toda criatura#

INVULNERÁVEL

$uando dos carnavais da raça humanaForem caindo as máscaras grotescas) as atitudes mais !unambulescas"e des!i-erem no !ero- (irvana

$uando tudo ruir na !ebre insana,(as vertigens bi-arras, pitorescase um mundo de emoç7es carnavalescas$ue ri da Fé pro!unda e soberana,

9endo passar a l'gubre, !unérea@aleria sinistra da 6iséria,=om as máscaras do rosto descoladas,

Tu +ue és o deus, o deus invulnerável,Besiste a tudo e !ica !ormidável,(o "ilncio das noites estreladas#

LÍRIO LUTUOSO

)ssncia das essncias delicadas,6eu per!umoso e tenebroso l/rio,Oh# dá*me a gl2ria de celeste )mp/reo

a tu1alma nas sombras encantadas.

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"ubindo lento escadas por escadas,(as espirais nervosas do 6art/rio,as Hnsias, da 9ertigem, do el/rio,9ou em busca de mágicas estradas.

Acompanha*me sempre o teu per!ume,:/rio da or +ue o 6al e o 8em resumem,)strela negra, tenebroso !ruto.

Oh# dá*me a gl2ria do teu ser nevoentopara +ue eu possa haurir o sentimentoas lágrimas acerbas do teu luto#.

A GRANDE SEDE

"e tens sede de Pa- e d1)sperança,"e estás cego de or e de Pecado,9alha*te o Amor, 2 grande abandonado,"acia a sede com amor, descansa.

Ah# volta*te a esta -ona !resca e mansao Amor e !icarás desa!ogado,

Eás de ver tudo claro, iluminadoa lu- +ue uma alma +ue tem !é alcança.

O coração +ue é puro e +ue é contrito,"e sabe ter doçura e ter dolnciaBevive nas estrelas do <n!inito.

Bevive, sim, !ica imortal, na essnciaos Anjos paira, não desprende um grito) !ica, como os Anjos, na )3istncia.

DOMUS AUREA

e bom amor e de bom !ogo claroGma casa !eli- se acaricia...8asta*lhe lu- e basta*lhe harmoniaPara ela não !icar ao desamparo.

O "entimento, +uando é nobre e raro,9este tudo de cndida poesia...

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:onge de um mundo +ue s2 tem peçonha.

as ru/nas de tudo ergue*te pura) eternamente, na suprema Altura,

"uspira, so!re, cisma, sente, sonha#

ALMA SOLITÁRIA

5 alma doce e triste e palpitante#$ue c/taras soluçam solitáriasPelas Begi7es long/n+uas, visionáriaso teu "onho secreto e !ascinante#

$uantas -onas de lu- puri!icante,$uantos silncios, +uantas sombras váriase es!eras imortais imagináriasFalam contigo, 2 Alma cativante#

$ue chama acende os teus !ar2is noturnos) veste os teus misteriosa taciturnosos esplendores do arco de aliança;

Por +ue és assim, melancolicamente,=omo um arcanjo in!ante, adolescente,)s+uecido nos vales da )sperança;#

VISIONÁRIOS

Armam batalhas pelo mundo adianteOs +ue vagam no mundos visionários,Abrindo as áureas portas de sacrárioso 6istério soturno e palpitante.

O coração !lameja a cada instante=om brilho estranho, com !ervores vários,"ente a !ebre dos bons missionáriosa ardente cate+uese !ecundante.

Os visionários vão buscar !rescurae água celeste na cisterna pura

a )sperança, por horas nebulosas...

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8uscam !rescura, um outro novo encanto...) livres, belos através do pranto,Falam bai3o com as almas misteriosas#

DEM#NIOS

A l/ngua vil, ign/voma, purp'reaos pecados mortais bava e braveja,=om os seres impolu/dos mercadeja,6ordendo*os !undo inj'ria por inj'ria.

% um grito in!ernal de atro- lu3'ria,or de danados, dor do =aos +ue almeja

A toda alma serena +ue viceja,"2 !'ria, !'ria, !'ria, !'ria, !'ria#

"ão pecados mortais !eitos hirsutosem4nios maus +ue os venenosos !rutos6orderam com vol'pia de +uem ama...

9ermes da <nveja, a lesma verde e oleosa,An7es da or torcida e cancerosa,

Abortos de almas a sangrar na lama#

ÓDIO SAGRADO

5 meu 2dio, meu 2dio majestoso,6eu 2dio santo e puro e ben!a-ejo,Gnge*me a !ronte com teu grande beijo,Torna*me humilde e torna*me orgulhoso.

Eumilde, com os humildes generoso,Orgulhoso com os seres sem esejo,"em 8ondade, sem Fé e sem lampejoe sol !ecundador e carinhoso.

5 meu 2dio, meu lábaro bendito,a minh1alma agitado no in!inito,Através de outros lábaros sagrados.

5dio são, 2dio bom# s meu escudo=ontra os vil7es do Amor, +ue in!amam tudo,

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as sete torres dos mortais Pecados#

E$ORTAÇÃO

=orpo crivado de sangrentas chagas,$ue atravessas o mundo soluçando,$ue as carnes vais !erindo e vais rasgandoo !undo d1<lus7es velhas e vagas.

@rande isolado das terrestres plagas,$ue vives as )s!eras contemplando,8raços erguidos, olhos no ar, olhandoA etérea chama das =on+uistas magas.

"e é de silncio e sombra passageira,e cin-a, desengano e de poeira)ste mundo !ero- +ue te condena,

)mbora ansiosamente, amargamenteBevela tudo o +ue tu1alma sentePara ela então poder !icar serena#

BONDADE

% a bondade +ue te !a- !ormosa,$ue a alma te divini-a e trans!igura% a bondade, a rosa da ternura,$ue te per!uma com per!ume & rosa.

Teu ser angelical de lu- bondosa9erte em meu ser a mais sutil doçura,Gma celeste, l/mpida !rescura,Gm encanto, uma pa- maravilhosa.

)u a!ronto contigo os vampirismos,Os corruptos e m2rbidos abismos$ue em vão bus+uem tentar*me no =aminho.

(a suave, na doce claridade,(o consolo, de amor dessa bondade

8ebo a tu1alma como etéreo vinho.

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NA LUZ

e soluço em soluço a alma gravita,

e soluço em soluço a alma estremece,Anseia, sonha, se recorda, es+uece) no centro da :u- dorme contrita.

orme na pa- sacramental, bendita,Onde tudo mais puro resplandece,Onde a <mortalidade re!loresce)m tudo, e tudo em cnticos palpita.

"ereia celestial entre as sereias,

)la s2 +uer despedaçar cadeias,e soluço em soluço, a alma nervosa.

)la s2 +uer despedaçar algemas) respirar nas amplid7es supremas,Bespirar, respirar na :u- radiosa.

CAVADOR DO INFINITO

=om a lmpada do "onho desce a!lito) sobe aos mundos mais imponderáveis,9ai aba!ando as +uei3as implacáveis,a alma o pro!undo e soluçado grito.

Hnsias, esejos, tudo a !ogo, escrito"ente, em redor, nos astros ine!áveis.=ava nas !undas eras insondáveisO cavador do trágico <n!inito.

) +uanto mais pelo <n!inito cavamais o <n!inito se trans!orma em lava) o cavador se perde nas distncias...

Alto levanta a lmpada do "onho.) como seu vulto pálido e tristonho=ava os abismos das eternas nsias#

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SANTOS ÓLEOS

=om os santos 2leos de +ue vens ungidoPodes andar no mundo sem receio.

$uem veio para a :u-, por certo veioPara ser valoroso e ser temido.

$ue tudo é embalde, tudo em vão, perdido$uando se tra- esse divino anseio,)sse doce transporte ou doce enleio$ue dei3a tudo e tudo con!undido.

A Alma +ue como a vela chega ao porto"ente o melhor, consolador con!orto

) a asa nas asas dos Arcanjos toca...

Os santos 2leos são a lu- guiadora$ue vigia por ti na pecadoraTerra e o teu mundo celestial evoca

SORRISO INTERIOR

O ser +ue é ser e +ue jamais vacila(as guerras imortais entra sem susto,:eva consigo esse brasão augustoo grande amor, da nobre !é tran+0ila.

Os abismos carnais da triste argila)le os vence sem nsias e sem custo...Fica sereno, num sorriso justo,)n+uanto tudo em derredor oscila.

Ondas interiores de grande-aão*lhe essa gl2ria em !rente & (ature-a,)sse esplendor, todo esse largo e!l'vio.

O ser +ue é ser trans!orma tudo em !lores...) para ironi-ar as pr2prias dores=anta por entre as águas do il'vio#

MEALHEIRO DE ALMAS

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:ua em !undo revolto de !loresta) de sonho de vaga embaladora.

:angue visão mortal e sedutora,

os 9ergéis siderais pálida giesta,ivindade sutil da morna sestaa lasciva pai3ão !ascinadora.

Flor !ria, !lor algente, !lor geladao desconsolo e dos es+uecimentos) do anseio, da !ebre atormentada.

Tu +ue soluças pelos céus nevoentos:ongo soluço mágico de !ada,

á*me os teus doces acalentamentos#

NO SEIO DA TERRA

o pélago dos pélagos sombrios,=á do seio da Terra, olhando as vidas,)scuto o murmurar de almas perdidas,=omo o secreto murmurar dos rios.

Tra-em*me os ventos negros cala!rios) os loluços das almas doloridas$ue tm sede das terras prometidas) morrem como abutres erradios.

As nsias sobem, as tremendas nsias#9elhices, mocidades e as in!nciasEumansa entre a or se despedaçam...

6as, sobre tantos convulsivos gritos,Passam horas, espaços, in!initos,)s!eras, geraç7es, sonhando, passam#

ANIMA MEA

5 minh1alma, 2 minh1alma, 2 meu Abrigo,6eu sol e minha sombra peregrina,

:u- imortal +ue os mundos iluminao velho "onho, meu !iel Amigo#

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)strada ideal de "ão Tiago, antigoTemplo da minha !é casta e divina,e onde é +ue vem toda esta mágoa !ina

$ue é, no entanto, consolo e +ue eu bendigo;

e onde é +ue vem tanta esperança vaga,e onde vem tanto anseio +ue me alaga,Tanta dilu/da e sempiterna mágoa;

Ah# de onde vem toda essa estranha essnciae tanta misteriosa Transcendncia$ue estes olhos me dei3am rasos de água;#

SEMPRE O SONHO

Para encantar os c/rculos da 9idaK ser tran+0ilo, sonhador, con!iante,"empre tra-er o coração radiante=omo um rio e rosais junto de ermida.

8eber na vinha celestial, garrida

as estrelas o vinho !lamejante) caminhar vitorioso e ovante=omo um deus, com a cabeça en!lorescida.

"orrir, amar para alargar os mundoso "entimento e para ter pro!undos6omentos de momentos soberanos.

Para sentir em torno & terra ondeandoGm sonho, sempre um sonho além rolando9agas e vagas de imortais oceanos.

ASPIRAÇÃO SUPREMA

=omo os cegos e os nus pede um abrigoA alma +ue vive a tiritar de !rio.:embra um arbusto !rágil e sombrio$ue necessita do bom sol amigo.

Tem ais de dor de trmulo mendigo

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Oscilante, sonmbulo, erradio.% como um tnue, cristalino !io1estrelas, como etéreo e louro trigo.

) a alma aspira o celestial orvalho,Aspira o céu, o l/mpido agasalho,sonha, deseja e anseia a lu- do Oriente...

Tudo ela in!lama de um estranho beijo.) este Anseio, este "onho, este esejo)nche as )s!eras soluçantemente.

INEFÁVEL!

(ada há +ue me domine e +ue me vença$uando a minh1alma mudamente acorda...)la rebenta em !lor, ela transborda(os alvoroços da emoção imensa.

"ou como um Béu de celestial "entença,=ondenado do Amor, +ue se recordao Amor e sempre no "ilncio borda

1estrelas todo o céu em +ue erra e pensa.

=laros, meus olhos tornam*se mais claros) tudo vejo dos encantos raros) de outra mais serenas madrugadas#

todas as vo-es +ue procuro e chamoOuço*as dentro de mim, por+ue eu as amo(a minh1alma volteando arrebatadas#

SER DOS SERES

(o teu ser de silncio e d1esperançaA doce lu- das Amplid7es !lameja.)le sente, ele aspira, ele desejaA grande -ona da imortal 8onança.

Pelos largos espaços se balança

=omo a estrela in!inita +ue dardeja,"empre isento da Treva +ue troveja

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O clamor in!lamado da 9ingança.

Por entre enlevos e deslumbramentos)ntra na Força astral dos "entimentos

) do Poder nos mágicos poderes.

) tra-, embora os /ntimos cansaços,Hnsias secretas para abrir os braços(a generosa comunhão dos "eres#

SE$TA"FEIRA SANTA

:ua abs/ntica, verde, !eiticeira,

Pasmada como um v/cio monstruoso...Gm cão estranho !uça na ester+ueira,Givando para o espaço !abuloso.

% esta a negra e santa "e3ta*Feira#=risto está morto, como um vil leproso,=hagado e !rio, na !ero- cegueiraa morte, o sangue ro3o e tenebroso.

A serpente do mal e do pecadoGm sinistro veneno esverdeado9erte do 6orto na mude- serena.

6as da sagrada Bedenção do =risto,)m ve- do grande Amor, puro, imprevisto,8rotam !os!orescncias de gangrena#

SENTIMENTO ESQUISITO

5 céu estéril dos desesperados,Forma impass/vel de cristas sidéreo,os cemitérios velho cemitérioOnde dormem os astros delicados.

Pátria d1estrelas dos abandonados,=asulo a-ul do anseio vago, aéreo,Formidável muralha de mistério

$ue dei3a os coraç7es desconsolados.

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=éu im2vel milnios e milnios,Tu +ue iluminas a visão dos @nios) ergues das almas o sagrado acorde.

=éu estéril, absurdo, céu imoto,Fa- dormir no teu seio o "onho ignoto,)sta serpente +ue alucina e morde...

CLAMOR SUPREMO

9em comigo por estas cordilheiras#P7e teu manto e bordão e vem comigo,Atravessa as montanhas sobranceiras

) nada temas do mortal Perigo#

"igamos para as guerras condoreiras#9em, resoluto, +ue eu irei contigoentre as Lguias e as chamas !eiticeiras,"2 ttendo a (ature-a por abrigo.

Basga !lorestas, bebe o sangue todoa Terra e trans!igura em astros lodo,

O pr2prio lodo torna mais !ecundo.

8asta tra-er um coração per!eito,Alma de eleito, "entimento eleitoPara abalar de lado a lado o mundo#

ANSIEDADE

)sta ansiedade +ue nos enche o peito)nche o céu, enche o mar, !ecunda a terra.)la os germens pur/ssimos encerrao "entimento l/mpido, per!eito.

)m jorros cristalinos o direito,A pa- vencendo as convuls7es da guerra,A liberdade +ue abre as asas e erraPelos caminhos do <n!inito eleito.

Tudo na mesma ansiedade gira,Bola no )spaço, dentre a lu- suspira

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) chora, chora, amargamente chora...

Tudo nos turbilh7es da <mensidade"e con!unde na trágica ansiedade

$ue almas, estrelas, amplid7es devora.

GRANDE AMOR

@rande amor, grande amor, grande mistério$ue as nossas almas trmulas enlaça...=éu +ue nos beija, céu +ue nos abraça(um abismo de lu- pro!undo e sério.

)terno espasmo de um desejo etéreo) bálsamo dos bálsamos da graça,=hama secreta +ue nas almas passa) dei3a nelas um clarão sidéreo.

=ntico de anjos e de arcanjos vagos>unto &s águas sonmbulas de lagos,"ob as claras estrelas desprendido...

"elo perpétuo, puro e peregrino$ue prende as almas num igual destino,(um beijo !ecundado num gemido.

SILNCIOS

:argos "ilncios interpretativos,Adoçados por !unda nostalgia,8alada de consolo e simpatia$ue os sentimentos meus torna cativos.

Earmonia de doces lenitivos,"ombra, segredo, lágrima, harmoniaa alma serena, da alma !ugidia(os seus vagos espasmos sugestivos.

5 "ilncios# 2 cndidos desmaios,9ácuos !ecundos de celestes raios

e sonhos, no mais l/mpido cortejo...

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)u vos sinto os mistérios insondáveis,=omo de estranhos anjos ine!áveisO glorioso esplendor de um grande beijo#

A MORTE

Oh# +ue doce triste-a e +ue ternura(o olhar ansioso, a!lito dos +ue morrem...e +ue ncoras pro!undas se socorremOs +ue penetram nessa noite escura#

a vida aos !rios véus da sepultura9agos momentos trmulos decorrem...

) dos olhos as lágrimas escorrem=omo !ar2is da humana esventura.

escem então aos gol!os congeladosOs +ue na terra vagam suspirando,=om os velhos coraç7es tantali-ados.

Tudo negro e sinistro vai rolando8áratro abai3o, aos ecos soluçados

o vendaval da 6orte ondeando, uivando...

SÓ!

6uito embora as estrelas do <n!inito:á de cima me acenem carinhosas) desça das es!eras luminosasA doce graça de um clarão bendito

)mbora o mar, como um revel proscrito,=hame por mim nas vagas ondulosas) o vento venha em c2leras medrosasO meu destino proclamar num grito,

(este mundo tão trágico, tamanho,=omo eu me sinto !undamente estranho) o amor e tudo para mim avaro...

Ah# como eu sinto compungidamente,Por entre tanto horror indi!erente,

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Gm !rio sepulcral de desamparo#

FRUTO ENVELHECIDO

o coração no envelhecido !ruto% s2 desolação e é s2 tortura.O !rio soluçante da amargura)nvolve o coração num !undo luto.

O !antasma da or pér!ido e astuto=aminha junto a toda a criatura.A alma por mais !eli- e por mais puraTem de so!rer o esmagamento bruto.

% preciso humildade, é necessárioFa-er do coração branco sacrário) a h2stia elevar do "entimento eterno.

)m tudo derramar o amor pro!undo,erramar o perdão no caos do mundo,"orrir ao céu e bendi-er o <n!erno#

$TASE BÚDICO

Abre*me os braços, "olidão pro!unda,Beverncia do céu, solenidadeos astros, tenebrosa majestade,5 planetária comunhão !ecunda#

5leo da noite, sacrossanto, inundaTodo o meu ser, dá*me essa castidade,As a-uis !lorescncias da saudade,@raça das graças imortais oriunda#

As estrelas cativas no teu seioão*me um tocante e !ugitivo enleio,)mbalam*me na lu- consoladora#

Abre*me os braços, "olidão radiante,Funda, !enomenal e soluçante,

:arga e b'dica (oite Bedentora#

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TRIUNFO SUPREMO

$uem anda pelas lágrimas perdido,

"onmbulo dos trágicos !lagelos,% +uem dei3ou para sempre es+uecidoO mundo e os !'teis ouropéis mais belos#

% +uem !icou no mundo redimido,)3purgado dos v/cios mais singelos) disse a tudo o adeus inde!inido) desprendeu*se dos carnais anelos#

% +uem entrou por todas as batalhas

As mãos e os pés e o !lanco ensang0entado,Amortalhado em todas as mortalhas.

$uem !lorestas e mares !oi rasgando) entre raios, pedradas e metralhas,Ficou gemendo mas !icou sonhando#

ASSIM SE%A!

Fecha os olhos e morre calmamente#6orre sereno do "ever cumprido#(em o mais leve, nem um s2 gemidoTraia, se+uer, o teu "entir latente.

6orre com alma leal, clarividente,a crença errando no 9ergel !lorido) o Pensamento pelos céus, brandido=omo um gládio soberbo e re!ulgente.

9ai abrindo sacrário por sacrárioo teu sonho no Templo imaginário,(a hora glacial da negra 6orte imensa...

6orre com o teu ever# (a alta con!iançae +uem triun!ou e sabe +ue descansaesdenhando de toda a Becompensa#

RENASCIMENTO

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A Alma não !ica inteiramente morta#9agas Bessurreiç7es do "entimentoAbrem já, devagar, porta por porta,

Os palácios reais do )ncantamento#

6orrer# Findar# es!alecer# +ue importaPara o secreto e !undo movimento$ue a alma transporta, sublimi-a e e3orta,Ao grande 8em do grande Pensamento#

=hamas novas e belas vão raiando,9ão se acendendo os l/mpidos altares) as almas vão sorrindo e vão orando...

) pela curva dos long/n+uos ares)i*las +ue vm, como o imprevisto bandoos albatro-es dos estranhos mares...

PACTO DAS ALMASCA (estor 9/tor, por devotamento e admiraçãoD

I " P&'& S()*'(!

Ah# para sempre# para sempre# Agora(ão nos separaremos nem um dia...(unca mais, nunca mais, nesta harmoniaas nossas almas de divina aurora.

A vo- do céu pode vibrar sonoraOu do <n!erno a sinistra sin!onia,$ue num !undo de astral melancolia6inh1alma com a tu1alma go-a e chora.

Para sempre está !eito o augusto pacto#=egos serenos do celeste tacto,o "onho envoltas na estrelada rede.

) perdidas, perdidas no <n!initoAs nossas almas, no =larão bendito,Eão de en!im saciar toda esta sede...

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II " L+,-( .( /0.+

% livre, livre desta vã matéria,

:onge, nos claros astros peregrinos$ue havereemos de encontrar os dons divinos) a grande pa-, a grande pa- sidérea.

=á nesta humana e trágica miséria,(estes surdos abismos assassinosTermos de colher de atros destinosA !lor apodrecida e deletéria.

O bai3o mundo +ue troveja e brama

"2 nos mostra a caveira e s2 a lama,Ah# s2 a lama e movimentos lassos...

6as as almas irmãs, almas per!eitas,Eão de trocar, nas Begi7es eleitas,:argos, pro!undos, imortais abraços#

III " A1)& .& A1)&2

Alma da almas, minha irmã gloriosa,ivina irradiação do "entimento,$uando estarás no a-ul eslumbramento,Perto de mim, na grande Pa- radiosa;#

Tu +ue és a lua da 6ansão de rosaa @raça e do supremo )ncantamento,O c/rio astral do augusto Pensamento9elando eternamente a Fé chorosa,

Alma das almas, meu consolo amigo,"eio celeste, sacrossanto abrigo,"erena e constelada imensidade,

)ntre os teus beijos de eteral car/cia,"orrindo e soluçando de del/cia,