UM BREVE ESBOÇO DA HISTÓRIA E DAS TEORIASDA HIPNOSE: DO MESMERISMO AOSHERDEIROS DE ERICKSON NO BRASIL

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    FBIO NOGUEIRA PEREIRA

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    HERDEIROS DE ERICKSON NO BRASIL

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    30 (OU 40) ANOS DEPOIS

    UM BREVE ESBOO DA HISTRIA E DAS TEORIAS DA HIPNOSE: DOMESMERISMO AOS HERDEIROS DE ERICKSON NO BRASIL

    FBIO NOGUEIRA PEREIRA*

    RESUMO

    O uso da hipnose e de estados de transe data do incio da humanidade. Esteartigo faz uma reviso histrica da hipnose e seu desenvolvimento terico-tcnico desde o magnetismo animal de Mesmer, elucidao dos aspectospsicolgicos dos estados de transe por Braid, bem como pelas Escolas deSalptrire e Nancy, na Frana, passando pelas guerras mundiais, as pesquisas

    de Milton H. Erickson e as escolas tericas herdeiras de suas contribuies atos dias atuais no Brasil. Para tanto, tambm se discorre sobre a disseminaoda hipnose, sobretudo ericksoniana, no Brasil atravs dos Institutos Milton H.Erickson e sua regulamentao como ferramenta complementar aos mdicos,odontlogos e psiclogos por seus respectivos Conselhos Federais.

    Palavras-Chave: Histria da psicologia; Mesmerismo; Hipnose naturalista;Hipnose ericksoniana; Psicoterapia.

    1 INTRODUO

    O uso da hipnose e de estados de transe data do incio da humanidade, e

    ainda bastante utilizado em rituais e cerimnias religiosas. Muitas da cu-ras citadas em documentos religiosos sobre imposio de mos e passespodem ser interpretadas como utilizao de transes hipnticos naturais paraa promoo de sade. No Egito e Grcia antigos, existiam templos do sono evrios rituais religiosos de cura envolviam estados de transe o que aindaest presente em certas culturas at os dias atuais (ZEIG, s/d; OLNESS eKOHEN, 1996; ERICKSON, HERSHMAN e SECTER, 1998).

    A histria da hipnose como prtica teraputica na cultura ocidental comea ase delinear mais concretamente a partir do sculo XVII, com Franz AntonMesmer (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). Mesmer acredi-tava que existia um fluido magntico que percorria o corpo e que podia curaratravs do equilbrio do magnetismo animal. Nesse primeiro momento pen-sava-se que o poder da cura estava no magnetizador.

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    * Fbio Nogueira Pereira psiclogo formado pela Pontifcia Universidade Catli-ca de Minas Gerais e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do EspritoSanto. Professor dos cursos de graduao de Administrao, Cincias Contbeise Direito do UNESC e do curso de formao em psicoterapia e hipnoterapiaericksoniana do Instituto Milton H. Erickson do Esprito Santo.

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    2 O MESMERISMO E O MAGNETISMO ANIMAL

    Mesmer aprendeu sobre o magnetismo com o sacerdote jesuta MaximilianHell, que curava histeria com ms. Em 1778, Mesmer mudou-se para Paris,onde desenvolveu um boxcom fios de ferro e ms para curar doenas eindisposies. Tambm reunia seus pacientes para curas coletivas em ambi-entes com luz fraca e msica, tocando-os com varas submergidas em guamagntica (ABIA e ROBLES, 1997).

    Em 1784, devido crescente celebridade de Mesmer, o rei Lus XVI aponta

    uma Comisso Cientfica para investig-lo, bem como seu discpulo CharlesdEslon (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). A Comisso emquesto era formada por trs ilustres cientistas contemporneos: BenjaminFranklin (ento embaixador dos EUA para a Frana), o qumico Lavoisier e omdico Guillotin (inventor da guilhotina). A Comisso declarou que os efei-tos atribudos ao magnetismo animal eram resultados da imaginao do pa-ciente e Mesmer foi denunciado por fraude.

    Em 1838, o interesse pelo mesmerismo renasce na Inglaterra com JohnElliotson, professor da Universidade de Londres e inventor do estetoscpio.Elliotson e seus colaboradores decidem editar o jornal Zoistpara publicarsuas descobertas em 1842. Entretanto, a despeito de toda a inteno cient-fica de Elliotson, ele acabou se apegando ao magnetismo animal edesconsiderou o real fator responsvel pelas curas: um intenso rapporte daimaginao do paciente (ERICKSON e cols., 1998).

    3 O NASCIMENTO DA HIPNOSE MODERNA

    James Braid, cirurgio ingls contemporneo de Elliotson, comeou a estu-dar o mesmerismo sem acreditar muito em sua efetividade como mtodoteraputico e at mesmo se opondo s teorias do magnetismo animal(ERICKSON e cols., 1998). Braid enfatizou que o magnetismo animal de Mesmerno estava presente em suas curas, sendo estas, conseqncias da suges-to, marcando definitivamente o fim do mesmerismo (KENNEDY, 2002). Braidrejeitou a idia de que a imaginao por si s pudesse produzir o transe ereconheceu a importncia da confiana do paciente no tratamento, assim

    como a possibilidade de auto-hipnose devido ao trabalho que realizou consi-go mesmo para controle de dor. Kennedy (2002) afirma que Braid conseguiuprovar, com suas pesquisas, que a hipnose ocorre naturalisticamente, dedentro para fora do indivduo, isto , de que toda hipnose uma auto-hipno-se e de que no depende de qualquer espetculo do hipnotista. James Braidfoi o primeiro cientista a detalhar a fenomenologia das mudanas fisiolgi-cas perceptveis durante o transe (KENNEDY, 2002).

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    Segundo Rossi (em comunicao pessoal citada por Kennedy, 2002), Braid overdadeiro pai da hipnose. Ele cunhou o termo hipnose derivado do gregohypnos (cujo significado sono); mais tarde, quis mudar o nome paramonoidesmo (concentrao em uma nica idia) por reconhecer o erro deassociar o estado de transe ao sono, mas o termo, mesmo tecnicamenteerrado, persistiu. Ele desenvolveu a tcnica de fixao de visual com o obje-tivo primrio de induzir estados de relaxamento. Braid foi muito importantepara elucidao dos aspectos psicolgicos da hipnose e suas teorias repercu-tiram nos trabalhos de Broca, Charcot, Libault, Bernheim, Heidenhain eKrafft-Ebing (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). Braid, tam-

    bm foi o primeiro a explicar os estados de transe com a associao dafisiologia e da psicologia (KENNEDY, 2002).

    3.1 JEAN MARTIN CHARCOT

    Charcot, famoso neurologista francs entre seus contemporneos, retomouas idias de Mesmer sobre magnetismo animal e considerava o estado detranse hipntico uma manifestao histrica. Na verdade, na Escola deSalptrire, quem fazia a maior parte das indues e realmente tinha conta-to cotidiano com os pacientes eram seus assistentes. Assim, Charcot poucopesquisou para aprofundar seus estudos sobre os fenmenos hipnticos(OLNESS e KOHEN, 1996). Mais tarde, a histria desmentiu a controvrsiaque havia se estabelecido entre as Escolas de Nancy e Salptrire. Infeliz-mente, alguns cientistas da poca, tal como Freud, acabaram por abandonara hipnose por influncia das teorias de Charcot.

    3.2 AUGUSTE AMBROSE LIBAULT E HIPPOLITE BERNHEIM

    Ambos os cientistas leram os trabalhos de Braid e ficaram intensamente in-teressados pela hipnose. Libault iniciou seus estudos baseado em trabalhosvoluntrios e de pesquisa para afastar os rumores de charlatanismo e fundoua Escola de Nancy. Logo foi procurado por Bernheim, famoso neurologista eprofessor da faculdade de medicina. Esses autores recolheram dados sobrecerca de 10 mil pacientes que contradiziam e se opunham a Charcot, desen-volvendo, juntos, teorias que acabaram por se provar mais acuradas (OLNESSe KOHEN, 1996).

    Bernheim supunha que a hipnose acontecia como resultado de vrios mtodosde induo que agiam sobre a imaginao do paciente. Em 1886, escreveu oprimeiro tratado cientfico sobre hipnose: Suggestive therapeutics. Libault eBernheim reconheciam as diferenas individuais dos pacientes na respostas sindues (OLNESS e KOHEN, 1996; ERICKSON e cols., 1998). Descobriram osdiversos nveis de aprofundamento do transe e pesquisaram sobre susceptibi-lidade hipntica com uma populao que abrangia ambos os sexos e indivduos

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    de uma faixa de idade comportando desde crianas a idosos.

    3.3 INCIO DO SCULO XX

    O psicoterapeuta ingls J. Milne Bramwell comeou a usar hipnose em 1889.Em 1903, publicou Hipnotism: Its History, Practice, and Theory, uma verda-deira reviso dos trabalhos publicados at ento. Esse livro foi a publicaomais ampla sobre a hipnose por muitos anos (OLNESS e KOHEN, 1996).

    Vrios autores importantes das cincias psicolgicas tambm utilizaram hip-

    nose no comeo de suas carreiras, mas a abandonaram para desenvolver suasprprias teorias de desenvolvimento psicolgico e interveno clnica: o gestalt-terapeuta Fritz Perls, o behaviorista Eric Berne e o pai da psicanlise, SigmundFreud (ZEIG, s/d). Freud, na verdade, nunca rechaou a hipnose, ao contrriodo abrangentemente divulgado na comunidadepsi. Infelizmente, o abandonopblico da hipnose por parte de Freud e os vrios mitos criados a partirdesse fato atrasaram o desenvolvimento cientfico da hipnose e sua divulga-o mais ampla por cerca de meio sculo (ERICKSON e cols., 1998). Milton H.Erickson retomou o uso teraputico da hipnose enfatizando os recursos inter-nos dos prprios pacientes ao invs da metodologia tradicional, na qual ohipnotista impunha sugestes ao sujeito hipntico.

    Durante a Primeira Guerra Mundial, muitos soldados voltavam do fronte comneuroses de guerra. Um psicanalista alemo, chamado Ernst Simmel, desen-volveu a hipnoanlise para tratar tais pacientes (ERICKSON e cols., 1998).Tal uso da hipnose chamou a ateno de Clark Hull, professor de psicologiade Yale, que realizou pesquisas de psicologia experimental com hipnose,cujo fruto de suas pesquisas foi o livro Hypnosis and suggestibility. Dcadasdepois, durante a Segunda Guerra Mundial, Hadfield e Horsley, independen-temente, e Grinker e Spiegel utilizaram barbitricos para induzir uma hipno-se medicamentosa (narcossntese) com o objetivo de trazer tona o mate-rial traumtico reprimido. Durante as duas Guerras Mundiais, a hipnose emassociao psicanlise, foi um dos mais importantes avanos mdicos parao tratamento de traumas em soldados (ERICKSON e cols., 1998).

    Na dcada de 1950, diversas escolas norte-americanas tinham cadeiras acadmi-cas sobre hipnose, dentre elas: Universidade da Califrnia, Universidade de Long

    Island, Universidade Roosevelt, Universidade Tufts, entre outras. Nessa dcada,Erickson e alguns colaboradores j viajavam por todos os EUA para divulgar eensinar hipnose em seminrios bastante disputados (ERICKSON e cols., 1998;HALEY, 2003). Tambm nesse perodo foram criadas asAmerican Society of ClinicalHypnosis, The American Journal of Clinical Hypnosis, British Journal of MedicalHypnotisme The Journal of Clinical and Experimental Hypnosis, mais dois jornaisna Espanha e alguns outros em vrios pases (ERICKSON e cols., 1998).

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    4 MILTON H. ERICKSON

    Milton Hyland Erickson nasceu em Aurun, Nevada, no dia 5 de dezembro de1901, e faleceu em Phoenix, Arizona, no dia 25 de maro de 1980. Psiquiatrae mestre em psicologia, tornou-se conhecido por um trabalho indito: asso-ciar com sucesso, atravs de uma abordagem naturalista, o uso da hipnoses psicoterapias. Erickson foi aluno de Clark Hull na Universidade deWisconsin, com quem pesquisou e iniciou seus estudos sobre fenmenoshipnticos. Trabalhou em vrios hospitais psiquitricos por todos os EstadosUnidos, contribuiu em pesquisas de Margaret Mead e Gregory Bateson que

    lhes foram apresentados por Abraham Maslow e como consultor para o go-verno norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo Zeig eMunion (1999), Erickson escreveu ou colaborou em mais de 140 livros e arti-gos cientficos; foi colaborador de Aldous Huxley, Andre Weitzenhoffer, JayHaley, John Weakland, Gregory Bateson e Paul Watzlawick. Segundo Secter(1982, citado por ZEIG, s/d), Erickson ficou conhecido nos Estados Unidoscomo Sr. Hipnose pelo trabalho clnico desenvolvido e pelas contribuiestericas nessa rea de conhecimento. Entretanto, segundo Haley (2003),Erickson no s trabalhou excepcionalmente com a hipnose naturalista, comosuas contribuies, para inovar a prtica psicoterpica, so uma abordagemnica. Erickson foi fundador e presidente daAmerican Society of ClinicalHypnosis (ASCH), alm de fundador e editor da revista da ASCH, aAmerican

    Journal of Clinical Hypnosis (ZEIG, 1995; HALEY, 2003).

    Erickson, juntamente com os autores acima citados, fazia parte de um grupode pensadores que queriam inovar o atendimento clnico com o objetivo deincrementar os resultados obtidos no processo teraputico. Lankton (2004)coloca que tanto quanto Freud avanou e contribuiu no entendimento do fun-cionamento psquico, Erickson acrescentou para a epistemologia que incideno atendimento psicolgico clnico. Para Erickson, terapia uma forma deajudar os pacientes a estender seus limites (HALEY, 2003).

    Criando uma nova abordagem de tratamento, que podemos chamar deHipnoterapia Naturalista, ele trabalhava baseando-se no sintoma do pacien-te, entrando na forma em que a pessoa causava o problema a si mesma,fazendo a interveno de dentro para fora. Ao longo de sua carreira, obte-ve excelentes resultados no tratamento de casos diversos, como depres-

    ses, fobias, problemas sexuais, doenas psicossomticas e outros.

    Nas aulas experimentais que dava, costumava colocar seus alunos em transee modificava padres antigos que causava problemas a eles. Tinha uma for-ma muito peculiar de ensinar, atravs de seminrios didticos, nos quaisseus alunos mais experimentavam sua metodologia do que se prendiam aela. Erickson era um exmio comunicador e, alm do transe formalmente

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    induzido, utilizava-se tambm de conversa hipntica, comunicando-se emvrios nveis verbal e no-verbalmente (ZEIG, s/d; ZEIG, 1995; ERICKSONe cols., 1998; ROBLES, 2001).

    4.1 OS HERDEIROS DE ERICKSON

    Nos ltimos 25 anos, The Milton H. Erickson Foundationteve dentre suasintenes no estabelecer a psicoterapia ericksoniana com uma abordagempsicoterpica em especial e sim divulgar as contribuies de Erickson paraas diversas escolas de psicoterapia j existentes, sejam elas de terapia

    individual, grupal, de casais ou de famlia.

    Assistimos, nos ltimos 20 anos, ao desenvolvimento de escolas de terapiasob influncia ericksoniana que podemos classificar em nove principais gru-pos (ZEIG, 2004):

    1) Terapia Estratgica

    Seus principais autores so Jay Haley e Clo Madanes. Essa abordagem tirao foco no uso da hipnose e enfatiza a utilizao de tarefas teraputicas e dasintervenes no-convencionais de Erickson.

    2) Abordagem Interacional

    Desenvolvida no Mental Research Institute (MRI)de Palo Alto, Califrnia,baseada no trabalho de Watzlawick, Weakland e Fisch, essa segunda aborda-gem tambm tira o foco da hipnose e enfatiza a utilizao de intervenesparadoxais e de reenquadramento. Essa abordagem, predominantementesistmica, se fundamenta nos padres de interao que se estabelecem emfamlias e casais.

    3) Programao Neuro-Lingstica

    Erickson deixou um legado que perdura at os dias atuais, tendo influencia-do escolas de terapia familiar, terapia estratgica e um dos trs pilaresfundamentais juntamente com Virginia Satir e Fritz Perls das pesquisasde Bandler e Grinder para o desenvolvimento da PNL.

    4) Psicobiologia da Cura Mente-Corpo

    A abordagem Mente-Corpo de Ernest Rossi deriva de seu contato com Erickson.Rossi foi um dos maiores colaboradores de Erickson e editor de diversos deseus artigo nos quatro volumes de Collected Papers, bem como o autor quemais escreveu Erickson. Rossi desenvolveu sua abordagem com embasamento

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    na Psicobiologia e aproveitou as contribuies de Erickson para orientaesna perspectiva Mente-Corpo.

    5) Terapia Centrada na Soluo

    So vrios os autores que podem ser agrupados sob esta linha. Zeig destacaDeShazer como o de maior contribuio. Essa abordagem pertence, na ver-dade, a uma segunda gerao de terapias ericksonianas, j que foi desen-volvida a partir da abordagem Interacional do MRI.

    6) Self Relations

    Abordagem desenvolvida por Stephen Gilligan que tem forte influncia deseu contato com Erickson no final da dcada de 1960, de sua prtica de artesmarciais e de seu contato com o Budismo.

    7) Neo-Ericksonianos

    Aqui Zeig inclui a si mesmo alm de Stephen Lankton, Teresa Robles e outrosautores. Os neo-ericksonianos utilizam hipnose e procuram desenvolver maisestratgias focando no princpio de utilizaoericksoniano.

    8) Outcome Informed

    Esse grupo inclui todos aqueles que no tiveram contato direto com Erickson,mas desenvolveram seu trabalho a partir de estudos sobre Erickson. Assim,tambm fazem parte da segunda gerao de terapias ericksonianas. Dentreos autores aqui includos, Zeig (2004) destaca Scott Miller e Michael Yapko.

    9) Outros autores

    Podemos incluir entre discpulos da segunda gerao aqueles que utilizam con-tribuies ericksonianas dentro de suas prprias abordagens psicoteraputicas,tais como Terapia Cognitiva e Terapia de Famlia, dentre outras.

    5 HIPNOSE ERICKSONIANA NO BRASIL CONTEMPORNEO

    Segundo Baker (2005), podemos dividir a evoluo da hipnose no Brasil emtrs fases: tradicional, clssica e contempornea. A fase tradicional, tam-bm pode ser chamada de autctone, e tem suas razes nas prticas religio-sas e de cura dos indgenas nativos. Um pouco mais adiante em nossa hist-ria, esse substrato indgena somou-se s influncias da espiritualidade emedicina trazida pelos escravos africanos. Logo, como resultado do contato

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    dessas duas culturas com a dos europeus, amalgamou-se o caldeiro sincrticoque disseminou entre a populao diversas formas de prticas para curasmente-corpo e solues de problemas (BAKER, 2005). O mesmerismo e okardecismo emergiram nas ltimas dcadas de 1700 e no incio do sculo XIXdevido ao grande interesse da aristocracia brasileira. Dom Pedro II chegouat a fundar a Sociedade Brasileira de Estudos do Magnetismo Animal sobinfluncia do mesmerismo.

    A fase clssica sofreu impacto dos primeiros estudos de Freud e das Escolasde Nancy e Salptrire, bem como dos experimentos de Pavlov, Clark Hull e

    das primeiras contribuies psiquitricas de Erickson. Baker (2005) colocaque em resposta fundao da American Society of Clinical Hypnosis, aSociedade Brasileira de Hipnose emergiu em 1957, assim como algumas so-ciedades regionais. Dentre os que se destacaram na fase clssica, Baker(2004; 2005) destaca o mdico Victorio Velleso, diretor-fundador do InstitutoMilton H. Erickson Brasil-Sul; David Akstein, mdico que se utilizou de prti-cas clssicas, ericksonianas e tradicionais; o mdico Antonio Carlos MoraesPassos, professor da Escola Paulista de Medicina e que manteve correspon-dncia ativa com Erickson; e Malomar Edelweiss Lund, psicanalista que estu-dou com Igor Caruso em Viena e praticou hipnoanlise nos ltimos 50 anos.Tambm se deve destacar o trabalho realizado por Vladmir Bernick, NegroPrado, Myron Saling e Lindemberg Valadares.

    Na verdade, as ltimas sete dcadas foram de intensa fertilizao cruzada,tendo todas as trs correntes se influenciado continuamente (Baker, 2005). Afase contempornea inicia-se em 1992, quando Jos Carlos Victor Gomesconvida Jeffrey K. Zeig para seu primeiro workshop em terras brasileiras.Essa atitude, segundo aponta Baker, abriu as portas para o crescimento dahipnose e terapias ericksonianas no Brasil. Aps a vinda de Zeig, algunsoutros autores de renome o seguiram, tais como: Ernest Rossi, Steven Gilligan,Steven Lankton, Jay Haley, Steve De Shazer, Clo Madanes, HumbertoMaturana, Paul Watzlawick, Betty Alice Erickson, Lynn Hoffman, Teresa Robles,Peggy Papp, entre outros. Jos Carlos tambm fundou a Editorial Psy, que, nadcada de 1990, publicou mais de 20 livros de abordagem ericksoniana.

    Outra pessoa que deve ser destacada Maria Margarida Carvalho. Filsofade formao, M. Margarida foi uma das fundadoras do Departamento de

    Psicologia da USP, o primeiro departamento independente do pas, e pessoade papel fundamental para a histria da Psicologia no Brasil. Aps trabalharcom Rodolfo Bohoslavsky na dcada de 1970, com Orientao Profissional,M. Margarida comeou a estudar tcnicas ericksonianas para controle de dore suas aplicaes na oncologia e em doenas psicossomticas. Carvalho es-tudou com os discpulos mais destacados de Erickson, tanto na Europa comonos EUA, e foi diretora-fundadora do Instituto Milton H. Erickson de So

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    Paulo, em 1995 juntamente com Marlia Baker e Jos Carlos Vitor Gomes , o primeiro Brasil (BAKER, 2004; 2005). Aps anos de prtica clnica, M.Margarida tem se destacado na ltima dcada por seu trabalho compsiconcologia, realizando pesquisas e as apresentando em congressos.

    Pode-se destacar, ainda, o trabalho realizado por Sofia Bauer, mdica e psi-canalista. Sofia foi aluna de Malomar Lund por muitos anos e comeou suaformao na Milton H. Erickson Foundation em 1991. Lanou em 1998Hipnoterapia Ericksoniana, Passo a Passo, e em 2001, Sndrome do Pnico:um sinal que desperta. Sofia Bauer, tambm, foi diretora-fundadora do Ins-

    tituto Milton H. Erickson de Belo Horizonte e hoje diretora do InstitutoMilton H. Erickson de Florianpolis.

    Em agosto de 1999, foi fundado o Instituto Milton H. Erickson de Belo Hori-zonte, tendo como diretores Jos Augusto Mendona, ngela Cota Guima-res Mendona e Sofia Bauer. Muitos psiclogos, mdicos e dentistas foramalunos do primeiro Instituto mineiro e acabaram se tornando diretores deInstitutos ericksonianos no Brasil. Cinco Institutos foram fundados por ex-alunos do Instituto de Belo Horizonte: Braslia, Macei, Recife, Juiz de Fora eVale do Ao. Nos ltimos anos, o Instituto de Belo Horizonte firmou convniocom a Universidade Federal de Minas Gerais e com o Centro Ericksoniano doMxico para intercmbio cientfico e divulgao da abordagem de Erickson.Em 2002 (em Florianpolis) e em 2004 (em Belo Horizonte), respectivamen-te, foram sediados o III Encontro Latino-Americano de Terapeutas Ericksonianose o V Encontro Latino-Americano de Psicoterapia e Hipnose Ericksoniana,eventos que congregaram ericksonianos de diversos pases latino-america-nos, europeus e diversos estados brasileiros.

    Em dezembro de 2000, o Conselho Federal de Psicologia aprovou a Resoluo13/00, na qual autoriza e regulamenta o uso da hipnose como recurso auxi-liar de trabalho do psiclogo, devido aos avanos e s contribuies da Esco-la Ericksoniana (CFP, 2000). Segundo Arajo (2004), a hipnose tambm regulamentada como tcnica auxiliar pelos Conselhos Federais de Medicina Cdigo de tica Mdica, captulo VI, artigos 62 e 64; Processo-Consulta 44/99 e de Odontologia Lei n. 5081 de 24/08/66, artigo 6, pargrafos I a VI.

    Desde meados da dcada de 1990, a abordagem ericksoniana comeou a

    ser difundida com maior intensidade no Brasil. Hoje, existem 135 Socieda-des, Institutos e Centros Ericksonianos filiados a The Milton H. EricksonFoundationem todo o mundo (MILTON H. ERICKSON FOUNDATION, 2009).No Brasil, 15 Institutos esto divulgando a abordagem ericksoniana atravsda formao em psicoterapia e hipnose ericksoniana, pesquisas, palestras,workshops, congressos e intercmbios cientficos com instituies nacio-nais e internacionais.

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    Concorda-se com Baker (2005), no sentido de que se o sculo XX foi o deFreud, da psicanlise e de seus seguidores, o sculo XXI , sem sombra dedvida, o de Milton H. Erickson e de seus herdeiros, pesquisadores edivulgadores de suas contribuies hipnose e prtica psicoterpica.

    REFERNCIAS

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    ARAJO, J.S.A. Hipnose ericksoniana. Vitria: Instituto Milton H.Erickson do Esprito Santo, 2004.

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