Um Confuso Bate-boca (Ferreira Gullar)

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/29/2019 Um Confuso Bate-boca (Ferreira Gullar)

    1/3

    ESCOLA ESTADUAL PAULO JOS DERENUSSONVencendo desafios, conquistandovitrias.

    PROF. MARCELO MACIEL DE ALMEIDA

    ______________________________________________________________________________________

    Um confuso bate-bocaO fato mesmo o seguinte: no h produo e venda de mercadoria alguma se no houverconsumidor.

    Um novo projeto de lei, que deve ser votado pelo Congresso em fevereiro, trouxe de novo discusso o problemadas drogas: reprimir ou descriminalizar?Esse projeto pretende tornar mais severa a represso ao trfico e ao uso de drogas, alegando ser esse o desejo dasociedade. Quem a ele se ope argumenta com o fato de que a represso, tanto ao trfico quanto ao uso dedrogas, no impediu que ambos aumentassem.Quem se ope represso considera, com razo, no ter cabimento meter na priso pessoas que, na verdade, sodoentes, dependentes, consumidores patolgicos. Devem ser tratados, e no encarcerados. No entanto, quemdefende o tratamento em vez da priso se ope internao compulsria do usurio porque, a seu ver, isso atentacontra a liberdade do indivduo.Esse um debate que no chega a nada nem pode chegar. Se voc for esperar que uma pessoa surtada aceite serinternada para tratamento, perder seu tempo.Pergunto: um pai, que interna compulsoriamente um filho em estado delirante, atenta contra sua liberdadeindividual? Deve, ento, deixar que se jogue pela janela ou agrida algum? Est evidente que, ao intern-lo, faz

    aquilo que ele, surtado, no tem capacidade de fazer.Mas a discusso no acaba a. Todas as pessoas que consomem bebidas alcolicas so alcolatras? Claro queno. A vasta maioria, que consome os milhes de litros dessas bebidas, bebe socialmente. Pois bem, com asdrogas a mesma coisa: a maioria que as consome no doente, consome-as socialmente, e muitos dessesconsumidores so gente fina, executivos de empresas, universitrios etc.S que a polcia quase nunca chega a eles, pois estes no vo s bocas de fumo comprar drogas. Sem correremquaisquer riscos, as recebem e as usam. Ningum vai me convencer de que os milhes de reais que circulam nocomrcio das drogas so apenas dinheiro de p-rapado que a polcia prende nas favelas ou debaixo dos viadutos.Outro argumento falacioso dos que defendem a descriminalizao das drogas o de que a represso ao trfico eao consumo no deu qualquer resultado positivo. Pelo contrrio - argumentam eles - o trfico e o consumo saumentaram. verdade, mas, se por isso devemos acabar com o combate ao comrcio de drogas, deve-se tambm parar decombater o crime em geral, j que, embora o sistema judicial e o prisional existam h sculos, a criminalidade s

    tem aumentado em todo o planeta. Seria, evidentemente, um disparate. No obstante, esse o argumento utilizadopara justificar a descriminalizao das drogas.A maneira certa de encarar tal questo compreender que nem todos os problemas tm soluo definitiva e, porisso mesmo, exigem combate permanente e incessante.A verdade que, no caso do trfico, como no da criminalidade em geral, se certo que a represso no osextingue, limita-lhes a expanso. Pior seria se agissem solta.Quantas toneladas de cocana, crack e maconha so apreendidas mensalmente s no Brasil? Apesar disso, averdade que cresce o nmero de usurios de drogas e, consequentemente, a produo delas. Os traficantes tmplena conscincia disso, tanto que, para garantir a manuteno e o crescimento de seu mercado, implantam gentesua nas escolas a fim de aliciar meninos de oito, dez anos de idade.Por tudo isso, deve-se reconhecer que o combate ao trfico particularmente difcil, j que, nesse caso, a vtima -isto , o consumidor- alia-se ao criminoso contra a polcia. Ou seja, ela inventa meios e modos para conseguir que adroga chegue s suas mos, anulando, assim, a ao policial.

    O certo que este bate-boca no leva a nada. O fato mesmo o seguinte: no h produo e venda de mercadoriaalguma se no houver consumidor.S se fabricam automvel e geladeira porque h quem os compre. O mesmo ocorre com as drogas: s h produoe trfico de drogas porque h quem as consuma. Logo, a maneira eficaz de combater o trfico de drogas reduzindo-lhe o consumo.E a maneira de conseguir isso por meio de uma campanha de mbito nacional e internacional, macia, mostrandos novas geraes - principalmente aos adolescentes - que a droga destri sua vida.

    GULLAR, Ferreira (2013). Um confuso bate-boca. Folha de So Paulo, Ilustrada, 13 de Janeiro de 2013.

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/88326-um-confuso-bate-boca.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/88326-um-confuso-bate-boca.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/88326-um-confuso-bate-boca.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/88326-um-confuso-bate-boca.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/88326-um-confuso-bate-boca.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/88326-um-confuso-bate-boca.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/88326-um-confuso-bate-boca.shtml
  • 7/29/2019 Um Confuso Bate-boca (Ferreira Gullar)

    2/3

    QUESTES PROPOSTAS

    1- Leia com ateno o texto Um confuso bate-boca, de Ferreira Gullar.

    2- Procure em um dicionrio o significado dos seguintes vocbulos:a) descriminar (descriminalizar) x discriminar:b) trfico x trfego:c) represso:d) opor-se:

    e) patolgico:f) compulsrio:g) vasto:h) falcia, falacioso:i) extinguir:j) macio:

    3- Responda s questes a seguir:

    a) Considere o perodo no h produo e venda de mercadoria alguma se no houverconsumidor. Quantasoraes h nele?

    b) Passe o perodo da questo anterior para o plural. Aps fazer isso, substitua o verbo haver por existir. O que

    voc observou em relao ao verbo existir?

    c) Em (...) nem todos os problemas tm soluo definitiva, justifique por que o verbo ter acentuado.

    d) Considere o perodo No entanto, quem defende o tratamento em vez da priso se ope internaocompulsria do usurio porque, a seu ver, isso atenta contra a liberdade do indivduo . A expresso em destaque dideia de oposio. Substitua-a por outras conjunes que deem o mesmo sentido ao perodo.

    e) Considere o perodo a maioria que as consome no doente, consome-as socialmente, e muitos dessesconsumidores so gente fina, executivos de empresas, universitrios etc. A que se refere o pronome oblquo as?Por que ele foi usado?

    f) Considere o perodo (...) estes no vo s bocas de fumo comprar drogas . A que se refere o pronome

    demonstrativo estes? Faa a anlise gramatical e sinttica do perodo em questo, seguindo o exemplo:

    Anlise gramatical:Estes: pronome demonstrativono: advrbio de negaovo: verbo (ir)s: contrao da preposio a com o artigo definido asde:fumo:comprar:drogas:

    Anlise sinttica:

    Estes: sujeito simplesNo: adjunto adverbial de negaovo:s bocas de fumo:comprar:drogas:

    g) Voc a favor ou contra a descriminalizao das drogas? Justifique sua resposta.

    h) Voc a favor da internao compulsria do usurio? Justifique sua resposta.

    i) Segundo o texto, qual o alvo da polcia em relao aos usurios de drogas? O que voc acha disso?

    j) O texto mistura a norma culta com a linguagem coloquial. Localize pelo menos cinco exemplos de linguagem nopadro.

    http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/88326-um-confuso-bate-boca.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/88326-um-confuso-bate-boca.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/88326-um-confuso-bate-boca.shtml
  • 7/29/2019 Um Confuso Bate-boca (Ferreira Gullar)

    3/3

    LEITURA COMPLEMENTAR

    Drauzio Varella vai ao ponto: Contestao nos jornais da internao compulsria de viciados ridcula,ideologizada,vazia e cheia de jarges28/01/2013s 6:49

    Escrevi j alguns textos sobre a internao compulsria de viciados em crack. Apontei a estupidez dos que criticam

    a medida e acusam de ferir a dignidade humana. Demonstrei que certas figuras carimbadas do pensamentopoliticamentecorreto e estupidamente incorreto , como o tal padre Jlio Lancelotti, esto fazendo guerrinhaideolgica. Mas eu, como sabem, sou apenas um jornalista. Leiam, ento, trecho da entrevista concedida pelomdico Druzio Varella a Cludia Collucci, naFolha:Revoltado. assim que o mdico e colunista da Folha Drauzio Varella, 69, diz se sentir com a polmica envolvendoa internao compulsria de dependentes de crack, adotada h uma semana pelo governo Alckmin. Cancerologistade formao e com profundo conhecimento em dependncia qumica, Varella considera a discusso ridcula.Quedignidade tem uma pessoa jogada na sarjeta? Pode ser que internao compulsria no seja a soluo ideal, mas um caminho que temos que percorrer. Se houver exagero, questo de corrigir. Ele defende que as grvidas dacracolndia tambm sejam internadas mesmo contra a vontade. Eu, se tivesse uma filha grvida, jogada na sarjeta,nem que fosse com camisa de fora tiraria ela de l.()Folha Muito se discute sobre a ineficcia das internaes compulsrias. Na opinio do sr., elas se

    justificam?Drauzio Varella - No conhecemos bem a eficcia ou a ineficcia porque as experincias com internaescompulsrias so pequenas no mundo. Mesmo as de outros pases no servem para ns. O Brasil tem umarealidade diferente. Neste momento, temos uma quantidade inaceitvel de usurios. E muitos chegando aosestgios finais. Esto nas ruas, nas sarjetas. O risco de morte muito alto, e ns estamos permitindo isso.Qual o tratamento ideal?Depende da fase. Voc tem usurios que usam dois ou trs dias e param. Tem gente que usa um, dois dias, repetee nunca mais fica livre. E voc tem os que chegam fase final. A gente convive com essa realidade, e quando oEstado resolve criar um mecanismo para tirar essas pessoas da rua de qualquer maneira comea uma discussopoltica absurda. Comeam a falar que essa medida no respeita a dignidade humana. Que dignidade tem umapessoa na sarjeta daquela maneira? Est na hora de parar com essa discusso ridcula. Pode ser que internaocompulsria no seja a soluo ideal, mas um caminho que temos que percorrer. Se houver exagero, umaquesto de corrigir. Vai haver erros, vai haver acertos. Temos que aprender nesse caminho porque ningum tem a

    receita.O debate est ideologizado?Totalmente. uma questo ideolgica e no hora para isso. Estamos numa epidemia, quanto mais tempo passa,mais gente morre. Sempre fao uma pergunta nessas conversas: Se fosse sua filha naquela situao, voc deixarial para no interferir no livre arbtrio dela? Eu, se tivesse uma filha grvida, jogada na sarjeta, nem que fosse comcamisa de fora tiraria ela de l. Quando vemos essa discusso nos jornais, parece que estamos discutindo o direitodo filho dos outros de continuar usando droga at morrer. uma argumentao frgil, jarges vazios, de 50 anosatrs. Eu fico revoltado com essa discusso intil.()Por Reinaldo Azevedo

    FONTE:http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-

    compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/

    http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/90985-internacao-compulsoria-e-caminho-a-ser-percorrido.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/90985-internacao-compulsoria-e-caminho-a-ser-percorrido.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/90985-internacao-compulsoria-e-caminho-a-ser-percorrido.shtmlhttp://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/90985-internacao-compulsoria-e-caminho-a-ser-percorrido.shtmlhttp://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/drauzio-varella-vai-ao-ponto-contestacao-nos-jornais-da-internacao-compulsoria-de-viciados-e-ridicula-ideologizada-vazia-e-cheia-de-ja/