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UM ESTUDO ECOLÓGICO SOBRE A INCIDENCIA DEDENGUE NUMA
COMUNIDADE DO DISTRITO FEDERAL
Alyne Do Carmo Figueiredo1
Juliana Ferraz2
¹ Aluna da Pós-Graduação em Vigilância Sanitária, pela Universidade Católica de Goiás/IFAR.
²Orientadora:. Professora de especialização em Vigilância Sanitária IFAR/PUC-GO
RESUMO O artigo se refere a um estudo ecológico, no espaço temporal, com dados oriundos do Sistema de
Informação (SINAN) nos períodos de 2010 a 2012. Utilizou-se ainda dados da Campanha de
Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN) para retratar as características da comunidade.A referida
pesquisa se propôs a analisar a incidência da dengue numa comunidade do Distrito Federal (Cidade
Estrutural), exposta a condições de vulnerabilidade social e degradação ambiental. Verificou-se altos
índices de casos autóctones na cidade estudada; uma incidência acentuada no ano de 2010, em relação
a2011. É possível inferir que as pessoas têm procurado a unidade de saúde devido ao numero elevado de
notificação nos respectivos anos citados e que essas pessoas também estão sendo bem assistidas, visto que
não houve óbitos na comunidade. A partir do estudo foi possível observar a dinâmica da localidade e
situações emergentes.Paraque a incidência de dengue seja reduzida é necessário que as pessoas aprendam
a reconhecê-la e problematizá-la reflexivamente para então criarem formas efetivas de combate ao vetor.
PALAVRA CHAVE: Dengue, Aedes Aegypti, Incidência de Dengue.
ABSTRAT
This article refers back to a time space ecological study and uses data provided by SINAN, an
information system, from 2010 to 2012. It was also used data from the Distrito Federal Planning
Campaign (CODEPLAN). This work has as an aim to analyze the incidence of dengue fever in a
community which is exposed to social vulnerability and environment degradation. It was verified high
rates of autochthonal cases in DF, a rising in the incidence of dengue fever in 2010 compared to 2011. It
is possible to deduce that people have been looking for Health Center due to the highest number of
notifications registered in those years and that they are also being well assisted once there haven‟t been
deaths in the community. As from this study it was possible to observe the local dynamics and the
emerging situations. In order to reduce the incidence of dengue fever it is necessary that people learn how
to recognize it and lead to reflections so that effective ways to fight dengue fever are created.
Key words: Dengue, Aedes aegypti, Dengue Incidence
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde estima que: três bilhões de pessoas encontram-se sob-
risco de contrair o vírus da dengue no mundo; 80 milhões de pessoas sejam infectadas
anualmente; cerca de 550 mil hospitalizadas e 21 mil mortas. Segundo Figueiredo
(2005) os primeiros registros de dengue1 no mundo foram realizados no final do século
XVIII, no sudeste Asiático (Java), nos Estados Unidos e Filadélfia. Contudo a
Organização Mundial de Saúde (OMS) só a reconheceu como doença no século XX. O
Aedes Aegypti2tem origem africana e foi visto pela primeira vez no Egito; advindo deste
fato dar-se-á sua nomenclatura. Hoje a dengue é caracterizada por ser uma doença viral
sistêmica que ocorre de forma epidêmica em áreas tropicais e subtropicais das
Américas, Ásia, e África. Nestes continentes fatores como as condições territoriais,
climáticas e a capacidade adaptativa do mosquito transmissor favorecem a instalação e
reprodução do seu principal vetor, o Aedes Aegypti.
O Aedes Aegypti é introduzido na America do Sul através de navios negreiros (Weaver
SC, Vasilakis, 2009) durante o período colonial. O ambiente era propicio a reprodução,
pois nos barcos havia vários depósitos de água parada - os navios traziam utensílios
para armazenar água doce, pois as viagens eram demasiadamente longas -.
No Brasil os primeiros casos ocorridos no século XX são datados de 1916, ocorrido na
cidade de São Paulo e 1923 em Niterói-RJ (ambos sem comprovação laboratorial). A
primeira epidemia de Dengue documentada laboratorialmente foi registrada em
Roraima, no ano de 1981, onde foram isolados os sorotipos3 DEN-1 e DEN4 em uma
1. A palavra dengue tem origem espanhola e quer dizer "melindre", "manha". O nome faz referência ao
estado de moleza e prostração em que fica a pessoa contaminada pelo arbovírus (abreviatura do inglês
de arthropod-bornvirus, vírus oriundo dos artrópodes).
2. Aedes (Stegomyia) Aegypti (aēdēs do grego "odioso" e ægypti do latim "do Egipto") é a
nomenclatura taxonômica para o mosquito que é popularmente conhecido como mosquito da dengue.
3. Existem quatro tipos distintos de vírus dengue, DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4, sendo que,
uma vez infectado o individuo, o mesmo recebe proteção permanente contra aquele sorotipo.
epidemia de dengue ocorrida em Boa Vista. Após um período sem incidência
epidemiológica, o sorotipo DEN-1 invadiu o Sudeste (Rio de Janeiro) e Nordeste
(Alagoas, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais) em 1986-1987, espalhando pelo
país desde então, com as entradas dos sorotipos DEN-2 em 1990-1991, e o DEN-3 em
2001-2002 (CÂMARA. 2007). Hoje o controle do mosquito da dengue - vetor
transmissor do vírus - é objeto de uma das maiores campanhas de saúde publica no país.
O vetor circula por todos os estados da federação – migrando de áreas contaminadas
para outras anteriormente ilesas pelo sorotipo - sendo extremamente difícil seu controle
devido a sua alta capacidade de adaptação ao meio e por depender de ações coletivas e
intersetoriais. Tendo em vista, a gravidade da situação o pacto pela saúde em um dos
seus dispositivos vem reafirmar a necessidade de combater as doenças endêmicas e
emergentes com ênfase na Dengue, tendo por objetivo reduzir a menos de 1% a
infestação por Aedes Aegypti em municípios prioritários até o ano de 2006.
A referida pesquisa se propôs a analisar a incidência da dengue numa comunidade do
Distrito Federal (Cidade Estrutural), exposta a condições de vulnerabilidade social e
degradação ambiental. Tendo em vista a detecção precoce dos casos propõe-se ao
sistema de saúde local uma nova abordagem em relação à dengue.
MATERIAL E MÉTODO
A pesquisa foi desenvolvida por meio de um estudo ecológico retrospectivo de cunho
descritivo. O termo „estudo ecológico‟ originou-se na utilização de áreas geográficas
como unidade de analise. Na atualidade o tipo de observação abrange situações que têm
como objeto de estudo grupos de indivíduos. Entre as principais vantagens desse tipo de
estudo cita-se a facilidade de execução, baixo custo e rapidez, por serem utilizadas
estatísticas já prontas, contudo as conclusões são sempre generalistas (PEREIRA G.
MAURICIO 2002).
Este estudo foi realizado no período de Agosto de 2012 a Outubro de 2012. A amostra
foi formada por dados secundários do SINAN-NET no período de 2010 a 2012
referentes à incidência de Dengue. Foram empregados também como referenciais
números da CODEPLAN (Campanha de Planejamento do Distrito Federal- PDAD
2011) referentes ao saneamento básico da cidade estudada, expostos por meio de
tabelas.
Foi utilizado no embasamento teórico: livros de epidemiologia, saúde pública, manual
do Ministério da Saúde e ainda artigos da biblioteca virtual de saúde.
Dentre os critérios de inclusão dos artigos: utilizou-se o tema “incidência de dengue”,
o ano 2011, e o idioma português; foram selecionados 19 artigos.
Os critérios de exclusão: referem-se a temas diferentes do supracitado, anos inferiores
e superiores a 2011 e outros idiomas.
Para análise dos dados empregou-se o método estatístico com uso de gráficos
elaborados por meio do Excel.
ANALISE E DISCUSSÃO
Figura 1:em 2010, notificou-se 840 casos suspeitos e destes 602 foram confirmados e
apenas 25 eram importados, ou seja, a cidade possui cerca de 30, 388 mil habitantes
segundo a taxa de incidência.Constatou-se: que de 30.388 mil habitantes 198 pessoas
tiveram o diagnósticos confirmado para Dengue. Esses dados chamam a atenção para o
fato de altos índices autóctones.
840
602
198
0
200
400
600
800
1000
Notificados confirmados Incidência
2010
Figura 2: Em 2011, foram notificados 144 casos suspeitos, nos quais 39 foram
confirmados como positivo, ou seja, de 30 mil habitantes 13 foram acometidos pela
doença (taxa de incidência calculada de acordo com a população de 2010).
Figura 3: Semana epidemiológica numero 31 de 2012. Já em 2012, até o mês de
agostonotificou-se 56 casos, 10 foram positivos, de forma que de cada 30 mil pessoas 3
(três) pessoas foram acometidas. Uma observação a ser considerada é que mesmo no
período de seca a transmissão da dengue ocorre de forma ascendente. Entende-se este
fato como alerta, para que medidas de prevenção não deixem de ser adotada,
principalmente na comunidade, tendo em vista o retorno dos períodos chuvosos a
probabilidade de um surto da doença.
De acordo com Flauzino Fernandes et.al. (2011) estudar a localidade é de grande
relevância, pois cada localidade possui uma dinâmica especifica advinda de processos
sociais e políticos. A vila Estrutural é a maior invasão de terras publicas do Distrito
federal. Surgiu na década de 60 nas proximidades de um aterro sanitário (“lixão da
estrutural”); no inicio eram apenas alguns barracos e hoje possui mais de 30 mil
144
3913
0
50
100
150
200
Notificados confirmados Incidência
2011
56
10
30
10
20
30
40
50
60
Notificados confirmados Incidência
2012
habitantes. Alguns fatores contribuem para proliferação do vetor da dengue. Dentre eles
problemas estruturais como, ruas estreitas, falta de água encanada, falta de
pavimentação e tratamento de esgoto. Há também a dificuldades relacionadas à saúde
(obter atendimento médico rápido e adequado – o local conta com apenas um posto de
saúde) e educação (apenas uma escola publica e pais analfabetos e/ou com baixo nível
de escolaridade). Sendo uma das regiões mais pobres do Distrito Federal, tem como
caracteristica o crescimento desordenado e habitações precarias (barracos 55,1%). A
população cresce vertiginosamente devido a novas invasões. O aterro sanitário – local
propício à proliferação do mosquito - é lugar em que parte da população trabalha sem
vinculo empregatício e sem equipamentos de proteção individual (DF. GOV, 2012).
Entre os vários fatores relevantes para avaliar a condição de habitabilidade estão: o
atendimento de serviços públicos de abastecimento de água, esgoto sanitário e coleta de
lixo. De acordo com dados daCODEPLAN (2010-2011)mais de 98% das casas possuem
coleta seletiva de lixo o que deveria constituir um fator de proteção para os moradores
em relação à proliferação do vetor, mas a coleta de lixo não parece ser muito
significante, tendo em vista que o aterro sanitário é muito próximo as residências.
Tabela 1.1 - Domicílios ocupados segundo a existência de coleta de lixo - SCIA -
Estrutural – Distrito Federal - 2011
TIPO DE COLETA Nº %
Serviço de limpeza urbana 6.139 98,2
SLU com coleta seletiva - -
Queimado ou enterrado - -
Jogado em local impróprio 115 1,8
Outro destino - -
Total 6.254 100,0
Fonte: Codeplan – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - SCIA - Estrutural -
PDAD 2011
Parte da população ainda armazena água de forma inadequada, sendo necessárias
medidas de conscientização populacional quanto aos riscos da proliferação do mosquito
em caixas d‟água, calhas e utensílios (depósitos para armazenamento temporário de
água). Um sistema de abastecimento hídrico adequado - água encanada - constitui
fatorde proteção para comunidade, uma vez que o mosquito necessita de água limpa e
parada para reproduzir-se.
Tabela 1.2 - Domicílios ocupados segundo o abastecimento de água - SCIA -
Estrutural - Distrito Federal – 2011
TIPO DE ABASTECIMENTO Nº %
Rede geral 6.190 99,0
Poço/cisterna 13 0,2
Poço artesiano - -
Caminhão pipa 26 0,4
Chafariz - -
Outros 26 0,4
Total 6.254 100,0
Fonte: Codeplan – Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios - SCIA - Estrutural -
PDAD 2011
A renda média da população esta em torno de um salário mínimo mensal, tendo em
vista que um catador de lixo ganha cerca de 50 reais por semana. De acordo com Pereira
Gomes (2002), não é possível desvincular a renda do individuo com seus níveis de
saúde, pois essa relação é diretamente proporcional; quanto menor a renda, mais
suscetível estará o sujeito à degradação social e a doenças transmissíveis. Outro fator
que se relaciona diretamente com o processo saúde doença é o nível de escolaridade;
uma das razoes que embasam essa afirmação, seria que o grau de escolaridade se
relaciona com o nível econômico. Sendo assim, pode-se constatar que: pessoas com
baixa escolaridade, baixa renda e vivendo em ambientes degradantes (perfil do morador
da vila estrutural) estarão mais suscetíveis a contato com o vetor da dengue.
Como citado acima o ambiente é propicio ao vetor devido às condições sociais, a
infraestrutura local e proximidade com o lixão. Sendo assim tornar-se-á necessária
alem da intervenção estatal, medidas individuais e coletivas para sanar e/ou minimizar o
problema. Tendo em vista que a ação ou omissão individual pode resultar em um agravo
coletivo é necessária à formação de uma rede intersetorial de atividades dirigidas no
sentido de transformar comportamentos. A intersetorialidade é definida por Lima (2011)
como articulação entre saberes e experiências para solucionar problemas.
Citando a Constituição Federal de 1988, que expressa no artigo 196:
Art. 196. Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações serviços
para sua Promoção, proteção e recuperação.
Dentre as intervenções estatais, é possível citar o Programa Saúde da Família (PSF)
que tem como finalidade contribuir para reorientação do modelo assistencial criando
uma nova dinâmica entre unidades de saúde e população. O PSF visa desenvolver tanto
ações nas unidades de saúde, como no domicilio do usuário, de forma a promover uma
ação integral (com todos os membros da família) e intervir em possíveis situações de
risco, buscando assim soluções estratégicas para cada momento (FIGUEIREDO
ALMEIDA AT ALL, 2005).
Outra ação importante foi criação pelo ministério da saúde do Programa Nacional de
Controle da Dengue (2002). Dentre as ações contempladas pelo programa está à
unificação da base geográfica de trabalho entre as vigilâncias epidemiológicas. Em
2006, por meio da lei nº 11350 fica estabelecido que os agentes comunitários de saúde
além das atribuições já inerentes a categoria também vão atuar no combate a dengue por
meio de orientações especificas, vistoria do domicílio e Peri domicílio (Cazola Oliveira,
2011).
A ideia em relação ao PSF é grandiosa analisando apenas o aspecto teórico do programa
em relação às ações sobre o vetor da dengue. Mas na pratica tem apresentado vícios que
precisam ser efetivamente sanados. Silva Barbosa et. Al. (2011) constatou algumas
considerações sobre a prática da comunicação, durante um estudo com profissionais da
saúde em uma equipe de PSF, tendo como foco identificar o nível de conhecimento da
equipe e o repasse de informações inerentes a Dengue: I. Os grupos lançam perguntas
que não são exploradas; II. As informações são apenas transmitidas; III. Os materiais
utilizados pelo grupo são cartilhas e panfletos divulgados pelo ministério da saúde; IV.
O modelo adotado por diferentes profissionais baseia-se na comunicação campanhista;
V. Os profissionais priorizam situações epidêmicas.
Analisando o caso concreto, percebemos que a alta incidência de casos de dengue na
cidade estrutural, não acontece devido ao simples acaso. Fatores intrínsecos
(degradação ambiental e aspectos sociais) e fatores extrínsecos (governo) são os
maiores responsáveis pela propagação do vetor no local. O que existe na realidade é a
omissão do poder publico em relação à: permanência do lixão na cidade estrutural; a
carência e limitação dos cidadãos ao acesso a saúde e educação; políticas públicas
efetivas de controle ao vetor e na conscientização dos indivíduos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se no ano de 2010, na cidade Estrutural, uma maior incidência de casos de
dengue em relação aos dois anos seguintes. Verifica-se também elevado índice de
autoctonia, provavelmente devido à existência do lixão próximo as residências.
Embora se perceba um considerável numero de notificação em todos os anos, em
relação aos casos confirmados de dengue, não podemos desprezar a parcialidade desses
dados, tendo em vista que sempre pode existir a subnotificação, que acontece devido: a
falta da busca ativa, a falta de conhecimento por parte da comunidade em relação à
gravidade da patologia e a inexperiência em relação ao tema por parte dos profissionais
da saúde. Atualmente em algumas cidades satélites, assim como na cidade Estrutural a
notificação dos casos suspeitos de Dengue é realizada por profissionais de nível médio,
no acolhimento ou sala de triagem, o que causa certa preocupação, no que se refere: a
não notificação dos casos suspeitos por considerá-lo de menor importância; por não
saber distinguir casos suspeitos de quadros comuns a outras viroses, não notificação
devido à sobrecarga de trabalho decorrente da crescente demanda de usuários,
principalmente no serviço público.
Como contribuição este artigo sugere para um melhor trabalho frente a esta realidade: I
- a realização de pesquisas - estudo de caso - que visem analisar a localidade de forma a
propor novas alternativas e subsidiar a tomada de decisão a nível governamental. II -
colocar em pauta a integração entre escola e profissionais de saúde, visto que quando as
pessoas são orientadas desde a infância é mais fácil que essas se tornem reprodutoras
das ações ensinadas. III - A realização de palestras de corredor (enquanto os pacientes
aguardam à consulta). IV - encaminhamento dos casos suspeitos a uma sala especifica -
assim como já acontece com outros programas a exemplo à sala da tosse - de forma a
garantir um atendimento mais humano e efetivo.
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