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PÓS-GRADUAÇÃO PROJETO “A VEZ DO MESTREUm Estudo Sobre a Dominação Internacional e a sua Geo- Política Por Maria das Graças Mendonça Orientador Prof. Marco Antônio Chaves Rio de janeiro, RJ, agosto de 2001

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PÓS-GRADUAÇÃO

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

Um Estudo Sobre a Dominação Internacional e a sua Geo-Política

Por Maria das Graças Mendonça Orientador Prof. Marco Antônio Chaves

Rio de janeiro, RJ, agosto de 2001

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PÓS-GRADUAÇÃO

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

Um Estudo Sobre a Dominação Internacional e a sua Geo-Política

Por Maria das Graças Mendonça Trabalho Monográfico apresentado como requisito parcial para a obtenção do Grau de Especialista em Docência do Ensino Fundamental e do Grau Médio.

Rio de Janeiro, RJ, agosto de 2001

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DEDICATÓRIAS.

Quero dedicar este trabalho, à minha filha Gabrielle .

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AGRADECIMENTOS.

Quero agradecer á todos aqueles que tornaram possível a execução deste trabalho, especialmente aos meus

mestres que me orientaram na sua elaboração.

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“Admitidamente, todos nos esforçamos por evitar erros; e deveriamos ficar

tristes ao cometer um engano. Todavia, evitar erros é um ideal pobre; se não

ousarmos atacar problemas tão dificeis que o erro seja quase inevitável,

então não haverá crescimento do conhecimento. De fato, é com as nossas

teorias mais ousadas, inclusive as que são errôneas, que mais aprendemos.

Ninguem está isento de cometer enganos; a grande coisa é aprender com

eles.”

Citação de Karl Popper AQUINO,Julio Groppa. ( Erro e Fracasso na Escola) ,

Summus, SP, 1997

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SUMÁRIO

RESUMO...................…………………………………….…..6

INTRODUÇÃO-........................………………………………………………….7 CAPÍTULO I – O Sucesso do Império Romano ……………..…………………11 CAPÍTULO II- A Expansão Árabe e a Expansão para o Novo Mundo...............................................................……….13 CAPÍTULO III- As Raízes da Dominação ………………..….………………...14

CAPÍTULO IV- A Técnica e a Tecnologia ………………………………………19 CAPÍTULO V- A Dominação Espanhola no Sec. XVI………………………….24 CAPÍTULO VI- Do Feudalismo ao Capitalismo………………………………...26 CAPÍTULO VII- As Colônias Européias. O Mercantilismo……………………28 CAPÍTULO VIII- A Revolução Industrial e o Capitalismo…………………….31 CAPÍTULO IX- A América Latina……………………………………………….35 CAPÍTULO X- O Brasil…………………………………………………………...37 CONCLUSÕES- …………………………………………………………………..43 BIBLIOGRAFIA………………………………………………………………..…46

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VII

RESUMO

Este trabalho monográfico foi desenvolvido com o objetivo de se estudar o

processo de dominação internacional segundo a ótica de vários autores. Como ele se

desenvolve, como avança e se completa? Quais os vários meios, recursos e objetivos

que permiram que se concretize. Assim inicialmente é apresentado um estudo sobre o

desenvolvimento da dominação da civilização romana, sua ascenção e decadência. A

seguir um breve relato da influência árabe. É dada uma atenção maior aos fatores

que desencadearam e permitiram este processo. A influencia da dominação da técnica

e da tecnologia. O pápel da técnica da navegação portuguesa na descoberta e

dominação de um novo mundo. A ascenção e queda da dominação espanhola. Os

vários aspectos do feudalismo e do capitalismo. É apresentado um estudo sobre os

novos colonizadores europeus e suas formas de colonização. Examina-se o

mercantilismo e a revolução industrial. A ascenção das novas potências

colonizadoras. O papel da dominação econômica. O que representa a América Latina

como objeto deste processo e, finalmente, o papel do Brasil neste contexto. Este

estudo permite concuir que a dominação é inerente ao homem , que sempre houve e

sempre haverá uma forma, pelas armas, pela técnica ou pelo poder econômico que

possibilitará este processo, e ainda mais, possibilita concluir um aspecto complexo

nesta dominação, quando esta se faz presente com a anuência do dominado.

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INTRODUÇÃO

(O porque do tema e como foi desenvolvido)

Dentre os vários temas de contexto pedagógicos apresentados à discussão em

sala de aula, um é particularmente atraente. Aquele que aborda a dominação

internacional de um modo geral. Um tema controverso, que sempre acarretou

discussões apaixonadas e posições radicais, mas de um modo geral discutido com

uma abordagem simplista e sempre pouco fundamentada nos conceitos expostos,

embora nem sempre incorreta.

A partir daí, adota-lo como tema de monografia foi um passo, um passo mal

dado, diga-se de passagem, percebido logo que iniciado a pesquisa bibliográfica

sobre o assunto.

Vasta, pesada, com abordagens conceituais diversas, com variados

pensamentos filosóficos, esta bibliografia não é de maneira alguma amena por ser tão

ampla. Pelo contrário, são grandes as dificuldades com que se pode deparar para

assimilar e coordenar ao propósito do tema, tão variada e pesada gama de

conceituação filosófica.

Assim, para se poder atingir a um dos objetivos propostos, o qual seria

procurar entender os fatores correlacionados com a disputa, a partilha e/ou posse de

bens e riquezas de interesse mútuo entre agrupamentos humanos, pôde-se

compreender que, melhor seria pesquisar historicamente, na origem e na formação

dos Estados/Nações atuais, aqueles fatores que poderiam ser entendidos como os

primários e elementares, nestas milenares disputas entre grupos humanos, antes de

analisar estas questões no contexto dos dias atuais. Muito oportunamente

KENNEDY ( Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. 2 Ed. Rio. Campus,

1989), resolveu posicionar o período pesquisado para esta sua obra a partir de 1500,

porem, inicialmente, não se privou de dar um breve olhar sobre o século XV e até

um pouco mais anterior.

A revista Carta Capital Fevereiro/2000, apresenta nas palavras de Horácio

Lafer Piva ( Presidente da FIESP-2000), em um artigo denominado “Nacionalismo?

“, uma interessante definição de nacionalismo, e por extensão, de Nação.

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Segundo este entrevistado, “O nacionalismo é um sentimento profundo que

une cidadãos em uma mesma cultura e em um mesmo anseio de realização… é a

relação com os patrícios, com os que falam a mesma língua e que compartilham a

mesma situação”.

Assim se o conceito de Nação é aquele que une grupos humanos de mesma

língua, mesma cultura e mesmos anseios, nada mais natural que os estrangeiros, os

não naturais, sejam encarados como uma ameaça em potencial.

Por curioso que possa parecer, outro tema em sala de aula seria um acréscimo

importante para o aprofundamento do estudo do tema: uma reflexão sobre a tendência

natural de dominação do homem pelo homem.

Os mais variados autores apresentam como uma constante na história das

relações humanas, a existência, verificada através dos tempos, de uma natural e

contínua ação predatória do homem pelo próprio homem. A existência de uma

motivação qualquer, poderia ser bem entendida como o agente desencadeador de

uma ação de disputa. A identificação deste agente seria o primeiro passo para se

entender as razões causadoras deste processo de disputa, ou seja, em palavras mais

simples, seria o “ Porque? ” .

Na vasta bibliografia pesquisada fica evidente que não seria apenas um este

agente, mas vários, atuando juntos ou separadamente na pretensão de conquista e

dominação, como sejam: por mêdo, cobiça por riquezas, cobiça por terras, por

objetivos estratégicos, por motivos religiosos.

Complementando o exposto acima, e conhecendo-se o “ Porque? ” do

processo nos conflitos pesquisados, há que também se estudar os fatores que

possibilitam o sucesso nestas ações de disputa, ou seja o “ Como? ”, e assim da

mesma forma, compreender as causas que permitiram que um agrupamento humano

mantivesse um domínio por um espaço de tempo relevante, e as influências culturais

mútuas que iriam se verificar no futuro entre dominador e dominado.

E aí começa realmente a pesquisa proposta. Uma breve passagem pelo

processo de disputa nas antigas civilizações, poderia permitir um melhor

entendimento nas diferenças e similaridades com as questões atuais. Assim, o

Império Romano seria um ótimo ponto de partida, pois foi o agrupamento humano

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que mais fielmente espelhou o conceito de dominador (e conquistador), considerando

ainda que a civilização romana foi o berço de todo o contexto territorial do que hoje

se entende como a constituição do conceito geopolítico dos modernos Estados/Nações

europeus.

Segundo ALBA ( André. Roma , História Universal. São Paulo. Mestre Jou,

1964), e vários outros autores, o fim do Império Romano do Ocidente marca o início

da Idade Média, influenciando decisivamente a civilização ocidental até os dia atuais.

Que povo, portanto, poderia fornecer melhor ponto de partida para uma pesquisa

mais isenta? Pois que livre das influências de opinião, distanciado no tempo, e, com

uma experiência mais rica e diversificada, pela amplidão territorial e pela diversidade

das civilizações submetidas?

Não se pode deixar de pesquisar também a civilização árabe pelo que

representou de influência e dominação na Europa, África e principalmente pelo seu

papel como desencadeador do processo das grandes navegações, a qual revolucionou

as dimensões territoriais do mundo conhecido, e principalmente, introduziu o

conceito de Novo Mundo para a geopolítica dos Estados/Nações então constituídos e

para aqueles que se originaram a partir daí no próprio Novo Mundo.

Para possibilitar uma avaliação das questões, submetidas ao contexto dos dias

de hoje, atualizando as repostas do “ Porque? “ e do “Como? “, este estudo deveria se

estendido até os dias presente, ainda sob a luz da mesmas questões e atualizado no

conceito de mercado: O que representa o interesse econômico ou de mercado no

contexto dos Estados/Nações? O poder econômico seria aquele que pode substitui o

braço armado como fator principal para submeter nações mais indefesas? Um avanço

tecnológico complementa o poder econômico na substituição do braço armado para a

submissão de povos? Os grandes conglomerados econômicos multinacionais seriam o

substituto natural do poder do Estado para a submissão de povos aos interesses de

grupos não nacionais? Ou seriam muito mais que isto? Um Estado sem fronteira

dentro de Estados politicamente constituidos?

Quando se examina estas questões no contexto dos dias atuais, se percebe

que, no mundo moderno, a dominação pela força das armas se tornou muito

dispendiosa, eticamente condenável no contexto das nações, alem de sempre envolver

um risco de sublevação em um futuro imprevisível . Contudo, permanece nas nações

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mais poderosas, a necessidade de manter submissa a seus interesses, àquelas nações

com maior potencial de proveito a ser utilizado pelas primeiras, principalmente se

estas nações são mais frágeis e indefesas econômica e/ou militarmente. E,

principalmente, se percebe que surge um novo elemento no cenário, o grupo multi -

nacional, que subverte completamente os conceitos conhecidos de Estado/Nação por

ser um ente abstrato, sem fronteiras físicas, cujo único objetivo consiste em existir de

modo autônomo e independente de todos os conceitos anteriores.

Este novo conceito deu origem a uma outra forma de dominação, denominada

“interesses de mercado”, com o objetivo sutil de desqualificar esta mesma dominação

e torna-la mais aceitável. Neste contexto pode ser visto até muitos naturais submissos

( ou com interesses próprios) e fazendo a sua plena apologia como se fossem (ou

talvez até sendo) naturais da nação dominadora.

Com os resultados desta pesquisa, se espera ter uma melhor compreensão

destas questões, que continuam tão atuais quanto à séculos atrás, ter um melhor

entendimento das formas e processos utilizados nesta ação de dominação entre grupos

humanos. Dominação esta que continua tão presente e atuante quanto nos tempos do

Império Romano, porem, como visto, envolvendo outros cenários, com outros

métodos, geralmente de forma mais sutil, com outras justificativas e denominações,

mais disfarçada, para dar ao dominado menos atento ou culturalmente menos

formado, a impressão de que não há dominação ou que esta se faz para seu próprio

benefício.

Esta pesquisa foi desenvolvida segundo uma metodologia Descritiva,

Qualitativa, Bibliográfica, utilizando os pensamento e as informações de vários

autores como Francisco Falcon (Prof. Titular e Livre Docente em História Moderna

da UFF), Gerson Moura (Prof Assist. do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da

UFRJ), do Prof. Francisco de Assis Silva, de Milton Vargas (Prof. Pesquisador do

Centro Interunidade da História da Ciência e da Tecnologia da USP), de Florestan

Fernades (ex Prof. de Sociologia da USP), de Paul Kennedy ( grande pensador

americano), de Eduardo Bueno (jornalista e autor de vários livros sobre as grandes

navegações), de André Alba (professor e autor de obras sobre a história universal)

e vários outros.

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CAPÍTULO I – O Sucesso do Império Romano

(O sucesso do patriotismo, disciplina, tenacidade )

O Mediterrâneo representou na antigüidade um vasto berço de povos e

civilizações, algumas fugazes, outras mais duradouras, nenhuma porem com o brilho

e influência para a cultura ocidental daquela representada pela civilização romana.

O ideal da civilização grega, outra grande civilização mediterrânea, segundo

ALBA (André. Roma , História Universal. São Paulo. Mestre Jou, 1964), “seria uma

multidão de pequenas cidades independentes umas das outras, regida cada uma por

suas próprias leis. Só Alexandre havia tentado unificar o imenso império que

governava, mas morreu muito cedo. Os imperadores romanos realizaram o seu sonho

e em uma escala muito maior ” .

Mas a que se devia a capacidade de conquista verificada durante expansão

do

Império Romano? Segundo ALBA, provenientes da mesma família de povos que os

Gregos, os Gauleses, os Germanos, vindo todos estes povos das grandes planícies da

Europa oriental, teriam estes como aqueles, as mesmas condições de formar um

grande império mediterrâneo. Até porque ao tempo da fundação de Roma, ALBA

relata que a civilização grega já apresentava uma característica expansionista,

colonizando a Sicília e a Itália meridional, exercendo até uma marcante influência

cultural sobre os primitivos povos que formariam no futuro o império romano.

Outro povo, os Etruscos, também dominaram na mesma época, a região da cidade de Roma, chegando mesmo a possuírem reis que governariam igualmente esta cidade por um vasto período. Porem, só após a expulsão deste povo e a constituição da República foi que verdadeiramente se apresentaram as condições que permitiram o surgimento e a expansão do Império Romano. Segundo ALBA “A constituição romana não poderia funcionar bem se não

houvesse uma espécie de equilíbrio entre os poderes (o Comício, o Senado e os

magistrados). Isto supunha que os cidadãos tinham em vista não o seu interesse

pessoal, mas unicamente o interesse da pátria. A força da constituição romana

repousava sobre o patriotismo dos cidadãos” . Este mesmo autor nos conta que “A

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religião romana não ensinava uma doutrina e nem se preocupava em tornar os

homens melhores, dava somente a conhecer as cerimonias que se devia realizar para

se obter os favores dos deuses” .

Tem-se aí uma combinação muito poderosa, de um lado um patriotismo

exacerbado, de outro a inexistência de uma religião limitadora e finalmente, para

coroar, uma disciplina férrea. A estas condições, aliadas a um comando rígido, e seria

a receita para o que se viu depois. Relata ALBA “O exército romano não era

permanente, em tempo de paz não havia soldado, mas quando se declarava a guerra

todos os cidadãos podiam ser mobilizados. A mais rigorosa disciplina reinava no

exercito. O general chefe tinha direito de vida e de morte sem apelação. Roma teve

raramente guerreiros notáveis. Deveu os seus êxitos ao valor de sua organização

militar. Deveu-se sobretudo ao patriotismo e a tenacidade de seus cidadãos”. Aqui

o coroamento! Disciplina e Tenacidade. Nenhum desastre, e foram muitos, abateu o

ânimo bélico romano. Assim o Império Romano se permitiu conquistar toda a

península italiana, o norte da África e a Europa central, dominando todo o

Mediterrâneo.

Mas qual seria a motivação para estas guerras de conquistas? Conta ALBA

que de início foram guerras de defesa própria, e contava neste caso fortemente, o

patriotismo, a tenacidade e a obstinação na luta pela própria vida, de um povo

camponês extremamente áspero, duro e frugal nos costumes. Esta luta muitas vezes

se precipitava pelo receio de uma possível perspectiva de animosidade do oponente.

E finalmente mais tarde, depois de várias conquistas obtidas, a possibilidade de ganho

financeiro, despertou a cobiça por riquezas e, relata ALBA “As conquistas romanas

foram em parte uma vasta operação financeira”.

Aqui, finalmente, pode ser encontrada quase toda a gama das motivações

pesquisadas: guerra e dominação por receio de outro povo ameaçador ( Gália

cisalpina, Etruscos, Sabinos, Volscos, cidades gregas da Itália Meridional, Tarento,

etc); por cobiça territorial e de riquezas ( Egito, Macedônia, Pérsia, África do norte,

Espanha, Gália), e por objetivos estratégicos contra um poderoso rival (Cártago).

Em toda esta vasta relação só não é possível encontrar a motivação religiosa,

pois como visto anteriormente, não era este o forte da civilização romana.

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CAPÍTULO II – A Expansão Árabe e a Expansão para o Novo

Mundo

(O sucesso da fé )

Relata ALBA (André. Roma , História Universal. São Paulo. Mestre Jou,

1964) por volta do século V houve a completa decadência do Império Romano do

Ocidente, contudo, cerca de cem anos depois, já no século VI, surgia a figura de

Maomé, como o homem que, por sua pregação, produziu uma completa transformação

na vida religiosa muçulmana, e, por extensão, limitou o que restava ao Império

Romano do Oriente à Constantinopla, arrebatando-lhe a África do Norte, o Egito,

Palestina, Síria, Pérsia, estendendo-se a sudeste até a Índia, a nordeste até o

Turquestão Chinês, e para oeste chegando a dominar até a Espanha.

Todas estas conquistas feitas em nome da fé religiosa muçulmana, promovida

pela pregação de Maomé, causaram profundas repercussões na civilização ocidental,

ao desencadear o processo das grandes navegações que culminou na descoberta do

Novo Mundo.

A dominação árabe teve também outras conseqüências marcantes com

reflexos no mundo ocidental, na cultura, nas artes, e principalmente no comércio e

que estende até os dias atuais.

A Guerra Santa, pela dominação dos “ infiéis ”, teve seu início no mesmo ano

da morte de Maomé, que pregava na sua doutrina, que o combatente que morresse

pela fé certamente obteria o Paraíso. Isto evidentemente soava como música aos

belicosos ouvidos árabes, que por certo não precisavam de incentivo maior, o que tem

suas conseqüências até os dias atuais.

A Guerra Santa teve a contrapartida cristã, a qual consistiu nas Cruzadas, e

que não será estudada por não atender ao tema proposto.

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XV

CAPÍTULO III – As Raízes da Dominação

(O que causa o sucesso ou a decadência de um grupo humano?)

Qual seria o fator diferenciador que possibilita a um grupo humano obter sucesso ou causa a sua decadência no contexto dos povos? Foi visto que a obstinação, o patriotismo, a disciplina rígida, aliados a uma sólida organização política permitiram ao Império Romano se constituir e se expandir, mas não o impediram de decair, embora ALBA aponte a dissolução dos rígidos costumes da civilização romana, provocadas pela influência cultural dos costumes dos povos dominados, entre os séculos I a IV, como a causa maior desta decadência.

Da mesma forma como a fé religiosa (que não era o forte do Império Romano) permitiu a civilização árabe se expandir e dominar também um grande império, igualmente, segundo ALBA, também não impediu a fragmentação deste mesmo império em muitas nações menores, ainda que todas sob a égide de uma mesma fé.

Vários povos guerreiros ( hunos, normandos, vândalos, etc.) submeteram enormes territórios na Europa e Ásia, regularmente, mas nenhum deles deixou marca de dominação mais perene que o imediatismo de sua conquista, o que parece demonstrar que a simples vocação guerreira não é suficiente para garantir a perenidade de uma conquista pelas armas.

Por outro lado, grandes e organizadas civilizações (China, Maias, Incas, Astecas, Egípcios, etc) como até mesmo o Império Romano foram marcadas por sua decadência, apesar de sua organização, e dominados por outros povos, embora estes, sob alguns aspectos, serem até mais primitivos.

A posse de riqueza metalista, pode também não ser suficiente para garantir a ação dominante de uma nação, como aponta SILVA (F. de Assis. História Geral, Moderna e

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Contemporânea.2 ed. São Paulo.Moderna,1990), pois assim parece demonstrar o exemplo de Maias, Astecas e até mesmo a Espanha, nação que os dominou e espoliou à exaustão, mas contudo passou pelo dissabor do empobrecimento, após anos de riqueza com a exploração do ouro e da prata subtraídos àqueles povos dominados. Pelo contrário, para aqueles povos indígenas centro – americanos, muito mais organizados que outras nações européias contemporâneas e, sob alguns aspectos, até mais que seus dominadores espanhóis, a posse da riqueza metalista foi o motivador da cobiça alheia e a sua ruína. E quanto a posse de técnicas ou tecnologias mais avançadas? Aqui deve-se

abrir um capítulo especial, para explicitar a definição mais apropriada para se

entender o quer dizer técnica ou a tecnologia.

Procurando explicar as razões da supremacia de algumas nações

européia, ocorrida entre os séculos XV e XVIII, em acentuada fase de expansão

comercial e marítima, SILVA vem a afirmar que, esta supremacia havia decorrido

devido a posse de meios e bens de produção, da posse de recursos bélicos mais

avançados, e dos recursos econômicos extraídos das próprias colônias dominadas.

Porem segundo KENNEDY ( Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências.

2 Ed. Rio. Campus, 1989), “ …a força relativa das principais nações no cenário

mundial nunca permanece constante, principalmente em virtude da taxa de

crescimento desigual entre as diferentes sociedades, e das inovações tecnológicas e

organizacional que proporcionam a uma sociedade maior vantagem que a outra…”

e continua “ a vitória de qualquer grande potência neste período, ou o colapso de

outra, foi geralmente conseqüência de prolongadas luta de suas forças armadas, mas

também da utilização mais ou menos eficiente de seus recursos produtivos em tempo

de guerra e, com menos destaque, pela maneira com que sua economia vinha

crescendo ou decaindo ..”

Aponta ainda que, a possibilidade de uma nação arcar com o alto custo

de um poder armado permanente, assim como a sua localização física em uma posição

geográfica favorável, também foram fatores decisivos para determinar seu destino

frente a seus rivais.

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Na palavras de KENNEDY “ …a história sugere a existência de uma ligação

muito clara, a longo prazo entre a ascensão e a queda econômica de uma potência

militar.. pois que tanto a riqueza como o poder são relativos e como tal devem ser

vistos..” e aponta ainda o texto do autor alemão Von Hornigk de que “…se uma

nação é hoje poderosa e rica, isto não depende da abundância ou segurança de seu

poder e riqueza, mas principalmente de terem seus vizinhos mais ou menos desse

poder e riqueza..”

Este autor aponta ainda que por volta do século XV , tanto muçulmanos,

quanto chineses da dinastia Ming, quanto japoneses e russos do Reino de Moscóvia

possuíam as mesmas condições para um desenvolvimento e supremacia técnica e

militar tanto em terra quanto no mar, semelhante ao desencadeado pelas nações da

Europa ocidental a partir de então, só não o fazendo como uma opção política de suas

elites governantes.

Segundo KENNEDY ( Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. 2 Ed.

Rio. Campus, 1989), é um fato a fragmentação geo- política da Europa, evidente

mesmo durante a dominação do Império Romano, provocada ou proporcionada,

principalmente, devido a sua diversidade geográfica e climática.

As rivalidade latentes causadas por esta fragmentação geo - política, as lutas

constantes na busca por um predomínio, e, aliado a todos estes fatores, uma procura

freqüente de avanços técnicos nos artefatos bélicos, que permitissem a um Estado

sobrepujar o Estado rival, estimulariam uma série de eventos e guerras que iriam

desencadear um processo de incessante desenvolvimento econômico e de inovação

tecnológica que fariam surgir, em épocas distintas, diversas lideranças comerciais e

militares do mundo.

Cita ainda que, este desenvolvimento na Europa, desde fins da era medieval e

princípios da era moderna, faziam o pêndulo do poder oscilar entre as Nações, jamais

permitindo a supremacia absoluta de qualquer delas isoladamente, porem permitindo

o estabelecimento de variados centros de poder econômico e militar.

Como fator desequilibrador neste processo, aponta o posicionamento físico

geográfico, de uma nação, o que no seu entender “ …ajuda a explicar por que duas

nações marginais como Rússia e Grã – Bretanha tinham se tornado muito mais

importantes em 1815. “.

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Finalmente, aponta ainda a Revolução Industrial, nas últimas décadas do século XVIII ,que permitiria a

Inglaterra a capacidade de tanto colonizar alem mar, como de frustar a tentativa Napoleônica de dominar a Europa.

Aqui vale a pena registrar que, nem sempre a posse pura e simples de metais

preciosos, ou de outros elementos valiosos, poderá ser tomado como determinante

para qualificar um Estado como rico e poderoso. Pelo contrário, estes recursos muitas

vezes podem determinar a cobiça de outras nações que não os possuem ou de que os

necessitam em grande quantidade e, se a posse destas riquezas não for associada a um

braço armado forte e poderoso, certamente haverá de ser estabelecido um processo de

dominação em que a ética e/ou a razão dificilmente poderão estar presentes.

Do século XII ao século XX, o que tanto SILVA quanto FALCON e MOURA

e ainda KENNEDY apontam, consiste em uma alternância de Estados dominantes,

todos procurando manter ou estabelecer uma relação de dominação sobre os demais,

em que o fator determinante desta relação de dominação ou de supremacia é apoiado

sempre em um avanço econômico/bélico/ tecnológico qualquer sobre seus

concorrentes, domínio este que se procura manter a qualquer preço, eventualmente até

por força das armas.

Assim, por volta do século XIV/XV, o Estado português, foi primeiro a

completar o processo de unificação e centralização política na Europa. Devido a sua

posição privilegiada às portas do Mediterrâneo, foi alçado à condição de importante

entreposto comercial da Europa, e pode desenvolver uma grande capacidade na arte

de navegar. Esta capacidade, aliada a um período de ausência de conflitos regionais(

o que não acontecia com aos demais Estados europeus, os quais se atracavam em

guerras desgastantes), permitiu aos portugueses lançar-se em um processo de

expansão comercial e marítima. Isto lhes possibilitou descobrir as tão almejadas rotas

marítimas alternativas para as fontes produtoras das valiosas especiarias, antes que as

demais Nações/Estados européias.

Uma aliança rei / burguesia no século XV, financiou e possibilitou aos

portugueses dominar e estabelecer uma rota marítima de influência e exploração

muito extensa. Esta rota contornava a costa da África até a Ásia, em uma busca das

mercadorias valiosas, às quais agora, só eles possuíam a possibilidade de acesso por

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outra rota que não a Mediterrânea, dominada pelas cidades italianas de Gênova e

Veneza. A viajem era extremamente perigosa, porem em caso de sucesso, o lucro

obtido era astronomicamente alto, pois como aponta HUBERMAN (Leo. História da

Riqueza do Homem. Rio. Guanabara, 1986), somente na primeira viagem de Vasco

da Gama às Índias os lucros atingiram 6.000 %. Um único carregamento de um navio,

normalmente, significava transportar quase toda a quantidade anual de especiarias

anteriormente comercializada.

Contudo, rotas tão extensas de perigosa navegação, aliadas ao

enfraquecimento do monopólio português, com conseqüente queda nos preços destes

produtos, levou Portugal, já no inicio do século XVI, a perder esta posição de domínio

em relação às demais nações, as quais a cobiçavam devido aos ganhos que prometia

proporcionar.

Primeiro a Espanha, nos século XV e XVI ,quando se transformou na maior

potência do século, devido a conquista e a exploração dos tesouros em ouro e prata

das civilizações Inca e Asteca no Novo Mundo. Depois ingleses, franceses e

holandeses, logo ocuparam as posições de potências marítimas exploradoras e

colonizadoras, que não puderam ser sustentadas por Portugal e Espanha.

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CAPÍTULO IV – A Técnica e a Tecnologia

(Navegar é preciso, viver não é preciso) “Técnica ou tecnologia são ambas palavras empregadas por nos com

sentido confuso. Note-se que não é só entre nós que isto acontece” aponta VARGAS(

Milton. História da Técnica e da Tecnologia no Brasil São Paulo.Unesp,1994). “ Em

inglês, por exemplo, a palavra technology é empregada num sentido muito mais

amplo que o da língua portuguesa ”, continua este autor.

VARGAS define a técnica como “ a habilidade humana de fabricar, construir

e utilizar instrumentos. É tão antiga quanto a humanidade, descreve, admitindo-se a

idéia de certos antropólogos de que um fóssil só pode ser considerado humano se ao

lado dele forem encontrados instrumentos”

E a tecnologia? “As técnicas modernas, nas quais já são incorporados os

conhecimentos empíricos de origem científica, aparecem durante o Renascimento,

como por exemplo Leonardo da Vinci na solução de seus problemas. A tecnologia,

por fim só pode ter vigência depois do estabelecimento da ciência moderna,

principalmente pelo fato dessa cultura ser um saber que, apesar de teórico, deve ser

necessariamente verificado pela experiência científica” e é ainda mais inflexível

quando completa “somente na segunda metade do século XVIII desenvolve-se na

engenharia como aplicação de conhecimentos científicos nas construções de obras,

fabricação de utensílios e extração e preparação de materiais”.

Já ALBA( André. Roma , História Universal. São Paulo. Mestre Jou, 1964)

tem uma outra versão e define a técnica como “ a arte de inventar processos de

trabalho que dão melhor rendimento ”.

Porque a preocupação em definir bem o que poderia ser entendido como

técnica ou como tecnologia? Isto se deve ao fato de que BUENO ( Eduardo. A

Viagem do Descobrimento. Rio. Objetiva, 1999), parece indicar que já no século

XV, o Infante D. Henrique e o Colégio de Sagres, na vila de Lagos, seriam os

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precursores de um processo, aparentemente contraditório à VARGAS, e que sinaliza

quanto ao surgimento de um embrião, do que poderia ser facilmente entendido como

tecnologia..

BUENO sugere, sutilmente, que o suposto tesouro secreto dos Templários,

estes expulsos da França e acolhidos por Portugal, foram os financiadores (

assimilados como a Ordem dos Cavaleiros de Cristo), a Cruz de Copta dos

Templários como o símbolo ( ou Ícone, como se diz nos dias de hoje), assim como o

recrutamento dos sábios da época, cartógrafos, matemáticos e astrônomos ( a maior

parte, judeus, fugidos das perseguições de Castela), promovidos pelo Infante, tudo

isto como o desenvolvimento de um processo, “o qual no seu desenrolar se tornaria

não apenas uma aventura, mas quase uma pesquisa, metódica e científica de caráter

moderno “.

As inovações portuguesas na arte de construir embarcações, que BUENO

chama de “engenharia naval” , e na arte de navegar no mar- oceano, arrostando todo o

receio de enfrentar o “ Mar Tenebroso” como era conhecido o Atlântico, levaram à

necessidade de resolver problemas específicos e inéditos, para os europeus, que

jamais tinham se aventurado, regularmente, a navegar fora do Mar Mediterrâneo.

A caravela de velas latinas e a arte de navegar contra o vento (bolinar), que

BUENO chama de uma das maiores obras do engenho naval lusitano, o astrolábio, a

balestrilha, a agulha de marear, a compreensão e a busca de alternativas de guias de

navegação para o fenômeno do “afogamento da estrela polar” quando se avança para

o Sul, o entendimento e o aproveitamento da chamada “volta do mar”, que consistia

em navegar em direção ao leste, tirando o melhor partido dos ventos e das correntes

marítimas favoráveis do Atlântico, e principalmente, se afastando e escapando do

verdadeiro cemitério de navios que constituía a acidentada costa atlântica africana

sub-saariana, foram elementos decisivos e definitivos de alguma coisa que parece

apontar seguramente na direção do conceito de tecnologia.

A revista semanal Veja, não só concorda, como também aponta em um artigo

de novembro de 99 denominado “O gênio português”, as inovações revolucionarias

obtidas por eles para a arte de navegar e construir navios, dizendo literalmente “ Algo

como se naquele pequeno país, ainda com um pé na Idade Média, se desenvolvesse

uma versão renascentista do programa Apollo que levou o homem à Lua “, e cita

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como alguns dos avanços: a graduação da rosa do ventos, a tecnologia de aumento da

área útil das velas, canhões nos costados dos barcos, as citadas vela latinas para

navegar à bolina, o astrolábio, mudanças estruturais decisivas nos cascos dos barcos

para melhorar as manobras e resistir as longas viagens transoceânicas, a implantação

de uma unidade de medida para a velocidade marítima, ainda utilizado atualmente.

As fontes para tais afirmações são citadas como Celso Melo da Universidade

Federal de Pernambuco e Francisco Domingues da Universidade de Lisboa. Segundo

as palavras deste professor de Física pernambucano, especialista em ciências das

navegações e citado pela revista “ no ponto de vista tecnológico, o Renascimento

começa em Portugal”.

BUENO afirma que a “ indústria naval portuguesa, uma das primeiras

indústrias com tecnologia de ponta na Europa - em torno de 1600 - produzia 800

navios de 500 toneladas por ano e impulsionava a indústria de cabos de cânhamo e

de linho para as velas, verdadeiramente dizimando florestas de madeiras nobres

utilizadas na construção naval “

Os únicos rivais portugueses nestas navegações de longa distância se

resumiam aos barcos espanhóis ( muito mais tarde) e alguns aventureiros barco

franceses em busca do pau brasil. Neste ponto aparece a pergunta: Porque então, com

tecnologia tão superior, a dominação marítima portuguesa foi tão breve e limitada ?

BUENO aponta como poderoso agente limitador a esta dominação a escassa

população portuguesa, e cita a tomada de Ceuta (na entrada do Mediterrâneo ) em

1415 , em que foram utilizadas mais de 200 embarcações, 50.000 soldados e 30 .000

marinheiros, como exemplo, esclarecendo que estes números representavam algo

próximo a 20 % da população total de Portugal.

Este pensamento já era apontado também por FREYRE ( Gilberto. Casa

Grande & Senzala. 28 Ed. Rio. Record, 1992), onde diz textualmente “ um Portugal

quase sem gente, um pessoalzinho ralo, insignificante em número – sobejo de quanta

epidemia, fome e sobretudo guerra afligiu a Península na Idade Média ”.

KENNEDY( Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. 2 Ed. Rio.

Campus, 1989) também descreve “…em retrospecto, parece difícil, por vezes, de

compreender que um país, com a limitada população e recursos de Portugal pudesse

chegar tão longe e conquistar tanto.. “.

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Contudo, apesar de sua pouca população, mas devido a seu avanço técnico na

arte de navegar, Portugal conquista a costa ocidental da África, explora a costa

oriental, domina as Índias, vai ao Japão, chega até a China e coloniza o Brasil,

ameaçando constantemente a dominação espanhola no Novo Mundo.

LANDES, (David. Riqueza e Pobreza das Nações. Trad. CABRAL, Álvaro São

Paulo. Campus,1999), aponta essencialmente o conservadorismo dos povos como o

grande elemento impeditivo para que se possa compreender e tirar proveito de um

grande avanço tecnológico.

É um fato também apontado por BUENO, que as velas latinas já eram

conhecidas desde o Império Romano, porem os portugueses foram os primeiros a se

aventurarem a utiliza-las nas caravelas, as quais também por sua vez, eram conhecidas

de há muito.

As lentes utilizadas nas lunetas, o relógio, fundamental para determinação das

posições nas viagens marítimas, a bússola e mesmo o princípio de impressão com

tipos móveis, assim como muitos outros avanços técnicos e tecnológicos em várias

áreas, são apontados por LANDES como há muito conhecidos, porem só tardiamente

foram incorporados no cotidiano e aponta a civilização européia como a grande

beneficiada, pois que foi a primeira a perceber a potencialidade de tais avanços,

creditando a este fato como uma demonstração da superioridade desta cultura

ocidental européia.

KENNEDY, relata que, nas últimas décadas do século XI, havia uma indústria

de ferro no norte da China, produzindo cerca de 125.000 toneladas por ano,

principalmente para uso do governo e para suas forças armadas, ressaltando que esta

produção era muito maior que a da Inglaterra no início da revolução industrial

setecentos anos mais tarde. Não obstante, quando se deu o início da revolução

industrial esta metalurgia chinesa já não mais existia, fruto do temor dos governantes

chinesas quanto a possíveis reflexos a dificultar a manutenção do pensamento oficial.

O receio dos governantes chineses a novas idéias era tal, que, no dizer de

KENNEDY, entre 1405 e 1435, a marinha chinesa MING possuía tal força naval que

poderia ter chegado a África, dobrado o Cabo da Boa Esperança e “descoberto”

Portugal décadas antes de Vasco da Gama, contudo um édito imperial em 1433,

praticamente desmantelou esta armada ao proibir as viagens e construções navais,

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pelo que podia significar de ameaça ao poder e ao pensamento dos mandarins

chineses.

De uma forma diferente, a dominação portuguesa do Novo-Mundo logo se

distanciou do interesse do Estado, pois que os objetivos imediatos deste eram as

Índias, o que explica no dizer de FREYRE “ No Brasil, como nas colônias inglesas

de tabaco, de algodão e de arroz da América do Norte as grandes plantações foram

obra não do Estado colonizador, sempre sumítico em Portugal, mas de corajosa

iniciativa particular… A partir de 1532 a colonização portuguesa do Brasil, do

mesmo modo que a inglesa da América do Norte e ao contrário da espanhola e da

francesa nas duas Américas, caracteriza-se pelo domínio quase exclusivo da família

rural ou semi rural ”.

Mas para implementar este tipo de atividade haveria necessidade de braços

para a lavoura, e a conseqüente ausência dos braços portugueses, tão escassos, foi

certamente suprida pela presença do gentio nem sempre submetido facilmente, e

normalmente a custa de violentos confrontos. A tal ponto era a carência de braços

para o trabalho na lavoura que BUENO cita HOLANDA ( Sérgio Buarque. Visão do

Paraiso) “Um espanhol se encarregaria de debochar dos portugueses afirmando que

as melhores minas ( de ouro ou prata) do Brasil são capturar e matar tapuias”.

Nas Índias, o interesse primário, a dominação portuguesa se caracterizaria por

uma extrema crueldade, com o objetivo de procurar manter o domínio, e uma

corrupção extremada entre seus administradores, segundo o relato de BUENO (

Eduardo. Capitães do Brasil. Rio. Objetiva, 1999), a ponto de Francisco Xavier, um

jesuíta para lá designado, escrever para seus colega da Companhia de Jesus, “Não

permitais que nenhum de vossos amigos venha para as Índias com cargos e

nomeações do Rei, pois destas pessoas se pode em verdade dizer : Riscai-os dos

livros dos vivos e não os deixeis entrar nos livros do justos ”. Era uma constante,

apontada por BUENO, a expectativa de um rápido enriquecimento, de modo a

também rapidamente se retornar a corte, e para isto todos os métodos eram válidos.

CAPÍTULO V - A dominação espanhola no sec. XVI

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(…se trata de cousas nunca vistas nas Índias, e não creio que haja nada em poder de

nenhum príncipe.)

De acordo com SILVA, (F. de Assis .História Geral, Moderna e

Contemporânea. 2 ed. São Paulo.Moderna,1990 ), o segundo país europeu a partir

para as grandes navegações foi a Espanha, e mesmo assim com um atraso de quase

oitenta anos em relação a nação portuguesa. Isto devido a prolongada guerra com os

árabes, que desde o século VIII dominavam a Península Ibérica, e as dificuldades

para se organizar como um Estado- Nação antes da constituição do reinado de

Fernando e Isabel, “ os reis católicos”.

Durante este reinado foi organizada a viagem de Colombo, a descoberta do

Novo Mundo, a assinatura do Tratado de Tordesilhas, e ocorreram as primeiras

notícias da existência de um Eldorado miraculoso, “o feitiço do Peru e a

extraordinária Serra da Prata “, dominados por um “rei branco”, como se refere

BUENO ( Eduardo. Náufragos, Traficantes e Degradados. Rio. Objetiva, 1999),

senhor de riquezas imensuráveis em ouro e prata. A partir daí ocorreu uma corrida

desenfreada, entre espanhóis e portugueses, relatada por BUENO, para a primazia

sobre tão rico botim.

Nesta corrida, continua o relato de BUENO, Portugal chega inutilmente a

exaustão de seus recursos, mas a vitória é da Coroa Espanhola, primeiro com Fernão

Cortez invadindo o México e iniciando a destruição da civilização Asteca, com

requintes de violência e atrocidades, para se apossar de seus fabulosos tesouros, e em

seguida com Francisco Pizarro, que finalmente, havia descoberto e fora capaz de

conquistar o império do lendário “rei branco” e sua fantástica Serra da Prata, com

extrema violência e crueldade.

Estes fatos se tornaram, segundo BUENO, os determinadores da alteração dos

objetivos da Coroa Portuguesa e a progressiva decadência do seu domínio nos mares,

substituídos, aponta SILVA, primeiro por espanhóis, e finalmente com o vazio

provocado pela decadência econômica deste Estado, dando margem ao surgimento do

domínio da Armada Britânica.

Na ironia do destino contudo, estes dois autores apontam o sucesso tanto de

portugueses nas grandes navegações quanto de espanhóis no domínio do Peru e do

Império Inca como os causadores de suas respectivas decadências.

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Dos portugueses, quando o fluxo maior das especiarias provenientes das

Índias, provocou a redução do valor na cotação final do produto, com a redução dos

lucros das perigosas e onerosas viagens entre Portugal e as Índias.

Dos espanhóis, devido ao fato de que um tamanho aporte de ouro e

principalmente prata ( BUENO descreve que, em 1534, somente na alfândega de

Sevilha, o “quinto real” correspondia a 6000 kg de ouro e 11.700 kg de prata) ,

também desequilibrou o valor da cotação dos metais, em uma aparente contradição ao

texto de HUBERMAN ( Leo. História da Riqueza do Homem. Rio. Guanabara, 1986),

quando aponta “Ouro e prata. Quanto mais tivesse, tanto mais rico o país seria, o

que se aplicava as nações e também as pessoas”

Principalmente, é citado por SILVA que, a abundância e a relativa facilidade

de obtenção dos metais, promoveu uma completa despreocupação espanhola em

relação as demais atividades econômicas. Portanto ao esgotamento desta exploração é

também aliado o fato de que grande parte do ouro e da prata que chegava à Espanha,

era retirada de sua posse através de operações financeiras de banqueiros alemães e

italianos. De qualquer maneira, já no século XVII, ambas as nações estavam em

profunda crise econômica.

A dominação espanhola do Novo Mundo foi caracterizada inicialmente pelo

massacre das civilizações indígenas, pela exploração de suas riquezas através do

trabalho escravo nas minas e, só muito mais tarde com o esgotamento desta atividade

econômica, começou a haver uma tentativa séria de atividade agrícola como

alternativa econômica. A sua decadência já era previsível.

CAPÍTULO VI –Do Feudalismo ao Capitalismo

(Dizer hoje que o capitalismo pressupõe a existência de um proletariado já se

tornou lugar- comum…)

O feudalismo, sistema de produção predominante na Europa entre os séculos

IX e XI, se caracterizava por uma economia natural, de base agrária, pelas relações

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servis de trabalho e pela descentralização do poder político, não constituindo Estados

como hoje é conhecido. O mundo feudal era fechado, auto-suficiente como unidade

de produção, e normalmente se bastava como proteção, para sua comunidade de

servos e senhores.

Com o crescimento populacional à partir do sec. XI, começou a ocorrer

lentamente uma desagregação deste mundo feudal, relata SILVA (Francisco de

Assis. História Geral, Moderna e Contempôranea.2 Ed. São Paulo.Moderna,1992),

assim como o desenvolvimento de algumas melhores técnicas agrícolas, para um

melhor aproveitamento da terra cultivada.

Em algumas oportunidades, a existência de um excedente de produção

comercializáveis, aliado ao recrudescimento de uma circulação comercial entre

regiões na Europa, deu origem a uma mudança irreversível nos conceitos de

exploração da terra (e dos homens) até então observados.

Cita o autor que, a busca de um ganho adicional sistemático, pelos senhores

feudais, com a produção destes excedentes para comercialização, foi um fator

desencadeante de profundas alterações nas relações econômicas, políticas, sociais e

culturais, entre os grupos humanos, desde este período na Europa medieval e,

provocou o surgimento de um novo sistema de relacionamento de dominação entre os

agrupamentos humanos.

Desta forma, o autor posiciona quatro etapas neste processo de

relacionamento, marcadas pela existência deste tipo de atividade de comercialização,

com o fim único de proporcionar ao senhor desta atividade um maior ganho adicional

sistemático:

- pré- capitalismo (século XII ao XV)

- capitalismo comercial (século XV ao XVIII)

- capitalismo industrial (século XVIII ao XX)

- capitalismo financeiro ( dias atuais)

Esta divisão é contestada por FALCON e MOURA (Francisco. Gerson. A

Formação do Mundo Contemporâneo. 4 Ed.Rio.Campus,1989), contudo a

qualificação e o posicionamento temporal destas fases não tem para este estudo

importância maior, uma vez que não é este o objetivo deste trabalho.

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Estes poderosos senhores ( a burguesia), feudais proprietários de terras, os

ligados as indústrias artesanais e, principalmente, os ligados ao comércio, aliaram-se

aos reis na luta pela centralização do poder político, pois acreditavam que, quanto

mais forte o Estado, maior defesa e proteção teriam no comércio nacional. E aqui

abre-se um parágrafo especial para inserir o papel dos representantes do alto clero da

igreja que, com posses de terras e a coleta de seus impostos próprios, como a venda de

indulgências, se enquadravam como grandes proprietários, no mesmo contexto de

interesses.

Esta aliança reis - burguesia acelerou o processo de formação dos Estados

modernos, onde um e outro procuravam mutuamente proteger-se e preservar os

interesses comuns, escudados no interesse do Estado. Os governantes entendiam que

o controle das atividades econômicas dinamizariam a economia nacional e

enriqueceriam a nação, e neste conceito tinha todo apoio da burguesia, para quem um

Estado forte significava bons negócios e altos lucros e principalmente supremacia

sobre outros grupos nacionais.

CAPÍTULO VII – As colônias européias. O mercantilismo

( O princípio de toda soberania reside essencialmente na nação)

Ingleses, Franceses e Holandeses logo estabeleceram domínios ultramarinos

que lhes permitiram exercer uma efetiva política colonialista de exploração

econômica do continente americano, africano e de grande parte do asiático,

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provocando um grande fluxo de riquezas para a Europa. Este fluxo permitiu criar

condições para o desenvolvimento de uma supremacia deste países atlânticos.

Possibilitou o desenvolvimento de uma expansiva política mercantilista de

dominação. Provocou ainda, definitivamente, a transferência do eixo econômico do

Mediterrâneo para o Atlântico.

Todas estas potências colonialistas, segundo SILVA, submeteram as suas

colônias (exceto as inglesas da América do Norte, devido à características locais

impróprias ), a uma política de plena exploração econômica em benefício do governo

central e da burguesia mercantil metropolitana. Estabeleceram uma política de

monoculturas agrícolas, extração predatória de recursos naturais e pleno emprego de

tráfico e trabalho escravo.

O processo de exploração colonialista, independente de quem o

praticava,

possuía uma característica comum que eram os interesses da alta burguesia

comercial aliada ao Estado na sua implementação. Assim a administração das

colônias espanhola estava a cargo do espanhol Conselho das Índias.

A exploração açucareira durante a colonização portuguesa foi em princípio

financiada com capital holandês. A colonização inglesa foi impulsionada inicialmente

por grandes proprietários e por companhias de comércio como a Companhia de

Londres e a de Plymouth.

A colonização francesa foi também financiada por companhias particulares

com participação da Igreja Católica e, com a constituição da Companhia das Índias

Ocidentais Francesas. Finalmente, a colonização holandesa caracterizou-se pela

constituição, já no início do século XVII, de duas grandes companhias de comércio, a

Companhia das Índias Orientais e a Companhia das Índias Ocidentais. A Companhia

das Índias Orientais holandesa avançou rumo ao Extremo Oriente em busca de seus

produtos, e a Companhia das índias Ocidentais foi a responsável pelas invasões

holandesas no Brasil e pela colonização de regiões americanas.

Estas iniciativas de investimentos particulares nas colonizações poderia ser

interpretada como o embrião das multi - nacionais como entendidas hoje e são

caracterizadas pelo que chamam FALCON & MOURA ( Francisco. Gerson. A

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formação do Mundo Contemporâneo.4 Ed. Rio.Campus,1989) de antigo sistema

colonial mercantilista.

Os autores FALCON e MOURA posicionam também de uma maneira muito

clara a luta e o desenvolvimento da cultura capitalista, qualificada como de

acumulação, nos séculos XIV / XV / XVI .

Tal como SILVA (Francisco de Assis. História Geral, Moderna e

Contemporânea. 2 Ed. São Paulo.Moderna,1992 ), apontam as práticas e costumes do

fim do período feudalista e igualam a busca de acumulação de terras, de bens de

propriedade e, mais amplamente, aquela decorrente do produto de saques e piratarias,

como os espanhóis na América e o inglês na Índia que, quando se esgotam estas

fontes de acumulação, voltam-se para o comércio, de especiarias ou de escravos.

Sendo este Novo Mundo rico em terras e minas, configura-se uma conjugação

de três formas de exploração para um melhor aproveitamento destas novas terras: a

exploração das minas, a exploração agrícola e a exploração da mão de obra escrava aí

incluindo o tráfico.

Ambos autores apontam as lutas européias como uma característica para

estabelecer uma hegemonia em suas relações internacionais de dominação dos novos

mundos ao longo dos séculos XIV até XVIII devido ao alto grau de lucratividade da

exploração destas colônias.

O mercantilismo como política de expansão econômica de uma era de

acumulação primitiva, integra e coordena os esforços de uma burguesia, garantindo-

lhe privilégios, lucros, exclusividade, defendendo os seus níveis de renda através da

proteção estatal. Faz ainda valer seus interesses em relação à nobreza, como também

em relação aos camponeses e artesãos reduzindo estes últimos a condição de

dominados proletários rurais e urbanos.

Estes proletários rurais, deslocados de sua atividade, nesta fase de

acumulação capitalista primitiva, devido ao desvio da atividade do proprietário rural,

provocam um surgimento de um excesso populacional urbano, justamente nesta fase

de pré - industrialização capitalista, quando, se por um lado abrem-se novas

perspectivas de multiplicação do trabalho, por outro exacerbam todos os critérios de

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exploração do homem pela burguesia, na sua luta desesperada por mais ganho

adicional.

Esta transformação fica mais evidenciada na Inglaterra em meados do século

XVIII, que ao se industrializar, verificava um rápido crescimento dos mercados

interno e externo com uma exigência constante do aumento da produção

manufaturada.

CAPÍTULO VIII – A Revolução Industrial e o Capitalismo

(…o que importava agora era principalmente exportar…)

Aqui cabe relatar a idéia da propagação da Revolução Industrial, neste século,

apontada por FALCON e MOURA, quando se verifica que nem todos os países

conseguiram atingir idêntico grau de industrialização e na mesma velocidade, mesmo

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aplicando ou até copiando todo o processo inglês, devido possivelmente às condições

estruturais, econômicas ou sócio - culturais não idênticas.

Segundo estes autores, e também KENNEDY, a resposta a esta questão deve

ser procurada nas circunstâncias que cercam um país que, enquanto se industrializa,

acelera a sua ação econômica sobre seus vizinhos que estão em um estágio menos

avançado de industrialização, bem como cada país ou região que recebe influências

segundo suas próprias condições internas.

Em alguns casos tanto os investimentos externos como a luta de interesses são

transitórias, e assim as condições estruturais são satisfatórias o que permite, ao fim de

certo tempo, ultrapassar esta condição de dependência. Contudo isto nem sempre se

verifica por variados fatores e o país é convertido em verdadeira área de

empreendimentos coloniais de outros países desenvolvidos. Isto se verificou na

própria Europa, onde pode se constatar uma Europa desenvolvida e outra não,

colonizada pelos próprios europeus no século XIX.

A Inglaterra porem, no seu processo de industrialização, desfrutou de todas as

condições favoráveis que lhe pode proporcionar a condição de pioneira e se

industrializou em um pleno regime de livre concorrência e de franco liberalismo,

condição esta que nenhum país, posteriormente, pode desfrutar, porque já existia a

concorrência dos produtos ingleses.

Sendo assim, o protecionismo passou a ser essencial a todos aqueles que

desejassem desenvolver a própria indústria, se quisessem poupa-los da competição

inglesa. O processo de industrialização de alguns países, revelou-se portanto, não raro

voltado para a exploração de certas condições locais, com predomínio de capital

estrangeiro. Isto quando não apenas se apresenta altamente dependente deste capital

internacional, e este investimento assume feição nitidamente especulativa.

Até meados do século XIX, consistia essencialmente no intercâmbio

comercial a relação da Europa industrializada com os demais países não europeus,

porem já no início do século XX, a Europa completara a dominação de vastas

extensões territoriais do planeta, subordinando-lhes à economia da mesma forma

como procedera com as economias dos países não industrializados.

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XXXIII

Estados Unidos e Japão procederam identicamente logo a seguir. Este

expansionismo político/econômico que se reflete até os dias atuais e segundo

FALCON e MOURA é fruto das mudanças significativas nas organizações

econômicas, sociais, políticas e culturais que ocorreram. “Passaram-se os dias das

pequenas nações ; chegou o dia dos Impérios” citam estes autores, e ainda apontam

Barraclough “ ...poucos historiadores teriam negado que o “ novo imperialismo ” era

uma expressão lógica e uma conseqüência dos progressos econômicos e sociais dos

países industrializados...”

Dentre as mudanças significativas anotadas, ressalta-se o aparecimento das

grandes empresas, a tendência ao monopólio, uma política econômica protecionista e,

um novo impulso colonial que promoveu a partilha de quase todas as áreas de

influência do planeta e, com isto, um aguçamento das rivalidades internacionais. Tais

fatos se fizeram presentes em uma época de grandes crises do sistema com uma

intensificação da luta violenta na concorrência por mercados internos e externos.

Assim, o chamado jogo liberal tornou-se sem valor, pois todos os seus

paradigmas, como a livre concorrência, a oferta e procura foram completamente

subvertidos pela ação do grande capital e do Estado sobre o mercado, em benefício

próprio, apesar da pregação da ideologia liberal e seus pressupostos permanecerem

presentes. Os autores citados apontam tais acontecimentos como “ transformações

estruturais do capitalismo ”.

O processo de absorção ou eliminação de empresas pelas suas concorrentes

mais forte ou mais hábeis, com o emprego de métodos nem sempre éticos, tornou-se

uma constante em uma tendência marcantemente monopolista. Este processo ocorreu

tanto nas industrias como nos bancos e deu origem também a chamada integração de

produção, quando um grupo dominava verticalmente todas as fases do processo,

incluindo até a financeira.

O gigantismo das associações forçou o surgimento das sociedades anônimas

ou por ações, devido às limitações do capital frente ao vulto do propósito, elevando

gradativamente as políticas protecionistas, a utilização de recursos vários e pouco

éticos no contexto das nações, para valorizar um produto e seu preço, e levou ao

surgimento da tendência de exportação de capital na busca de melhores alternativas

de investimento.

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XXXIV

A reorganização geral da economia e da sociedade nas nações capitalistas

mais industrializadas geravam novas exigências econômicas e estas por sua vez,

novas políticas estatais e maior competição internacional. Agora, o importante era

colocar nas áreas visadas o capital disponível, enquanto na fase anterior a ênfase

estava na troca de produtos primários e alimentos por produtos industrializados.

Este capital chegava nas áreas de interesse sob a forma de empréstimo ou de

investimentos, como obras públicas, e atividades primárias. Assim o envolvimento era

total, direto ou indiretamente, e os lucros eram realizados tanto na produção como no

serviço. A esta competição se seguiu uma repartição das áreas disponíveis do

mundo de acordo com o poderio de cada Estado empenhado na corrida.

É apontada a formulação de Cecil Rhodes em que a expansão pretendida em

uma área mundial limitada levava ao disponível ou seja tomar quantos pedaços

possível . E esta expansão se fazia a todos os títulos, chegando a caracterizar-se até

por seu aspecto supranacional. Neste contexto surgem acordos até entre grandes

empresas que operam no mesmo setor em vários países, sendo clássico o caso das

petrolíferas, quando ou partilhavam mercados ou se empenhavam em lutas ferozes.

Outro caso clássico a demonstrar a pouquíssima ética envolvida nestas disputa

por mercado entre nações foi a chamada Guerra do Ópio na China no século XIX.

Ao se resguardar da influência ocidental, que presumia perniciosa, a China não

permitia aos comerciantes ocidentais desembarcar em solo chinês. Estes então

apelavam amplamente para o contrabando, introduzindo até mesmo o consumo do

ópio que traziam de Bengala, onde era cultivado pela inglesa Companhia das Índias.

O confisco e a destruição de um carregamento deste ópio por uma autoridade

chinesa foi o pretexto para a Inglaterra deflagrar uma guerra que forçou a abertura de

cinco portos chineses e submetendo Hong - Kong ao domínio inglês. Mais tarde

outras guerras a mesmo pretexto permitiram a ingleses e franceses obter mais onze

portos e submeter a China a um não desejado relacionamento diplomático. Os tratados

obtidos ficaram muito apropriadamente conhecidos como “Tratados Desiguais” pela

quantidade de concessões a que os orientais foram submetidos.

Um mesmo tipo de coação forçou o Japão a se submeter aos interesses

americanos em 1853 com cessão de dois portos ao comércio americano e submetia

este país também a um não desejado relacionamento diplomático. Neste contexto

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vemos a missão ao Japão do Almirante Perry para apresentar uma mensagem ao “

Xogum ” “… um grande número de nossos navios dirige-se ao Japão. Como prova

de nossas intenções amigáveis trouxe agora apenas quatro pequenos,… mas está

pronto a voltar com uma força bem maior…”

Inglaterra, Holanda e Rússia rapidamente seguiram o exemplo americano.

Em 1894, já com pleno desenvolvimento industrial e militar, o próprio Japão trilhou

idêntica expansão imperialista.

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XXXVI

CAPÍTULO IX – A América Latina

(O Terceiro Mundo, os deserdados, os malditos da Terra… )

A América Latina já estava incorporada ao mercado mundial no início da

Revolução Industrial em termos de intercâmbio comercial, porem acentua-se de

modo extraordinário sua inserção durante o século XIX .

Os investimentos britânicos alcançavam 2/3 do total aplicado pouco antes da

Primeira Guerra Mundial, contudo as possibilidades de um processo industrializador

auto sustentado se frustrava devido ao destino do capital, fortemente direcionado para

o setor exportador, aliado a um mercado interno muito limitado.

O interesse norte americano por esta região explicitado no ” destino manifesto

”, um sonho americano acalentado no século XIX, tornou-se um programa de política

externa. Ao pretender manter esta região como sua esfera de influência econômica,

visava principalmente aqueles países com possibilidade de neles situar bases navais

que circundassem o seu território nacional. Daí o seu interesse pela América Central,

Caribe, e todo o Oceano Pacífico.

FALCON e MOURA demonstram que as várias causas à dificultar e retardar a industrialização da região sob a ótica de vários autores, não conseguem conciliar as justificavas apresentadas. E aqui cabe apresentar o papel do Estados Unidos na pretensão de manter como reserva de interesses os Estados latino americanos, como nas palavras de Cabot Lodge em 1895:

“as grandes nações do mundo estão devorando rapidamente todos os lugares

desocupados da terra, com vistas a sua futura expansão e a sua defesa atual; como

uma das grandes nações do mundo, os Estados Unidos não devem ficar atras”.

No início do século XX ficou evidenciado todo o grau interesse e intervenção

americano nos vários episódios de formação da América Central, como a guerra

hispano americana, a intervenção na Venezuela, a independência do Panamá, a

independência de Cuba em face da Espanha, quando houve a interferência direta de

tropas americanas na defesa de seus interesses econômicos nas plantações de cana-de-

açucar, ( com a vitória, o congresso aprovou emenda que lhes garantia o direito de

intervenção direta em Cuba), a ocupação de Porto Rico.

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XXXVII

A intervenção européia (anglo/franco/italiana) na Venezuela, provocou,

segundo a ótica da nação americana do norte, o ideal do contra- intervencionismo

europeu, sob a alegação do seu próprio direito de intervenção, com a doutrina

Monroe. Outro caso exemplar ocorreu quando o Congresso da Colômbia recusou-se a

ratificar um tratado entre governos para o arrendamento de parte do território

colombiano para a construção de um canal entre o Pacífico e o Atlântico. Logo um

movimento separatista proclamou a independência da região, denominada Panamá,

prontamente reconhecido e apoiado com tropas, pelos norte americanos. Uma

seqüência de intervenção em vários outros países da área logo determinaram os rumos

da exclusiva área de influencia americana.

As justificativas para tais ações seriam a alegada superioridade de civilização

explicitadas na doutrina Roosevelt:

“ Incidentes crônicos, a incapacidade ( de certos governos)... podem na

América, como em outros lugares, requerer a intervenção de uma nação civilizada…

mesmo contra a vontade, a exercer poderes de policia internacional em casos de

claro incidentes ou incapacidade “.

A doutrina Monroe, se também pregava a mesma formulação, era contudo

mais enfática em seus objetivos:

“ Se é verdade que nossa política estrangeira não deve desviar-se ....do

caminho reto da justiça, isto não exclui de modo algum uma intervenção ativa para

assegurar a nossas mercadorias e a nossos capitalistas facilidades para

investimentos lucrativos, fontes de beneficio para as duas partes(?) em presença “.

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CAPÍTULO X – O Brasil

( Cada um dos filhotes do chupim é criado a custa de um ou dois de seus

hospedeiros…)

Nas primeiras três décadas após o descobrimento ( 1500 a 1532 ), não houve

por parte da coroa portuguesa um maior interesse na colônia recém descoberta. Como

bem descreve BUENO ( Eduardo. Náufragos, Traficantes e

Degradados.Rio.Objetiva, 1999 ), o objetivo único sempre foi as Índias e suas

ambicionadas e valiosas riquezas. Porem, as notícias do “ Rei Branco e das minas de

Potosi “ assim como das suas mitológicas riquezas em ouro e prata, provocaram uma

verdadeira corrida entre as coroas espanhola e portuguesa para a primazia de tão rico

botim do Novo Mundo.

A vitória espanhola com Cortez e Pizarro, desanimou a coroa portuguesa e

novamente deslocou o foco da ambição para as Índias. Apenas o interesse dos

franceses no comércio do pau brasil despertou um pouco mais a coroa da letargia

sobre a nova colônia, a ponto de Duarte Coelho, Donatário da Capitania de

Pernambuco, em uma de suas várias cartas a D. João III , estando ciente do maior

interesse do Rei nos metais preciosos que nos produtos da terra, lhe escreveria em

1542 “ …quanto as coisas do ouro, Senhor, nunca deixo de inquirir e procurar sobre

o negócio, e cada dia se esquentam mais as novas do sertão…”.

O desinteresse e o descaso da coroa com a colônia era tão flagrante que Luiz

de Gois, irmão de Pero de Gois, Donatário da Capitania de São Tomé, em São

Vicente, no ano de 1548 escreveria ao rei “ Senhor… peço a Vossa Alteza… queira

perdoar meu atrevimento … pois vos digo, mui alto e mui poderoso Senhor, que se,

com tempo e brevidade , Vossa Alteza não socorrer estas capitanias e costa do Brasil,

que ainda que nós percamos as vidas e as fazendas, Vossa Alteza perderá a terra …

e, ainda que nisso perca pouco, ….aventura-se a perder muito porque não está em

mais serem os franceses senhores dela, porque assim que se acabarem de perder

estas capitanias que sobram, terão eles (os franceses) um pé no Brasil e tenho medo

de onde quererão e poderão botar o outro….pois de dois anos para cá, vem a esta

parte de sete a oito naus (francesas) a cada ano, …. e já não há navio (português)

que ouse por aqui aparecer… Enquanto não passavam do Cabo de Santo Agostinho,

chegando no máximo até a Bahia, não eram tão perigosos, pois não se atreviam a

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dobrar o Cabo Frio. Queira Deus que não se atrevam agora a dobrar o Cabo da Boa

Esperança ”. Proféticas palavras, quando pouco mais de um século e meio mais tarde,

foram os portugueses substituídos por ingleses e holandeses no domínio das Índias.

BUENO aponta que onde se tentou alguma colonização durante as Capitanias

Hereditárias esta foi apoiado exclusivamente no capital privado, condição que estava

já expressa na própria intenção de partilha das Capitanias, uma vez que a coroa

portuguesa não dispunha, nem se propunha a dispor de recursos para promover esta

colonização, e ainda era sempre questionada internamente na corte pelo que

empregava na nova colônia, como dizia D. Antônio de Ataíde em carta a D. João III

em fins de 1542:

“ No Brasil tem Vossa Alteza gastado muito dinheiro e começou a gastar no

ano de 1530. Mistério grande foi fazer-se a primeira despesa a fim de coisa que não o

merecia”.

Curiosamente CALDEIRA ( Jorge. A Nação Mercantilista. Rio, 34, 1999)

aponta o desprezo pelo desenvolvimento nacional como uma das causas dos

problemas brasileiros até os dias atuais. Segundo este autor, apesar de todos os

problemas presentes durante o processo de colonização, esta se processava de um

modo muito promissor.

O engenho de açúcar, como estruturado no Brasil, tinha um funcionamento o

mais próximo das atuais fábricas que qualquer sistema de trabalho da época, e, se não

havia uma moeda para regular as trocas econômicas, logo o escravo africano supriu

este papel de uma maneira tão completa, que o meio ( o escravo) substitui o fim (

moeda de troca), dando surgimento a uma nova fase da economia.

No livro de VARGAS ( Milton. História da Técnica e da Tecnologia no

Brasil.São Paulo.Unesp,1994 ), o conferencista Ruy Gama aponta o papel pioneiro da

manufatura do açúcar, que por quase quatrocentos anos, desde o início da

colonização, representou como pilar de sustentação da economia brasileira. E enfatiza

o seu aspecto estritamente capitalista, industrial e coletivo, pois que era financiado

pelo capital internacional ( entendido na época como genoveses ou holandeses).

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É já uma atividade essencialmente voltada para a exportação, envolvendo

Portugal apenas como intermediário de um trajeto, o qual, invariavelmente, levava a

portos holandeses, alemães, franceses, ingleses e genoveses

Prossegue CALDEIRA apontando que o Brasil de 1770 possuía o dobro das

exportações do Estados Unidos, e que a economia colonial brasileira do fim do século

XVIII era maior e mais diversificada que a dos Estados Unidos, chegando, no seu

entender, a ser a maior do Novo Mundo.

E aí, aponta CALDEIRA, começa a decadência. A chegada de D. João VI ao

Brasil “ dispara e intensifica a formulação de uma política econômica

deliberadamente pensada para atender os interesses de uma minoria pouco

interessada no progresso, de modo a excluir os interesses da maioria ”. Segundo este

autor o projeto do Rei era manter tudo onde sempre esteve. Numa era de revoluções

industriais e capitalistas, agravadas por idéias de progresso e anseios libertários, todo

o esforço deveria ser voltado para impedir que esse perigoso conjunto viesse a abalar

a tranqüilidade da produção da colônia e das elites que dela usufruíam. Neste

contexto, continua o autor, o escravo que tinha sido utilizado como meio passa a ser

o fim e cobra o seu preço no desenvolvimento da colônia que antes se prenunciava

brilhante.

CONRAD (Robert. Os Últimos anos da Escravatura no Brasil. Rio. Civ.

Bras.1999) , descreve que o Império Britânico pressionava D João VI por volta de

1810, para abolir o tráfico de escravos. Depois da independência e ante as restrições

das elites brasileiras que não podiam se imaginar sem escravos, o Império Britânico

passou a utilizar para esta repressão a sua poderosa armada, chegando até a bloquear

o porto do Rio. Neste contexto o autor aponta que os nobres e humanitários

sentimentos ingleses estavam todos apoiados no surgimento da revolução industrial e

do capitalismo, onde evidentemente escravos competiam como força de trabalho

com as máquinas e estas eram produto de exportação, e homens livres e assalariados

eram também, livremente, consumidores potenciais de seus produtos manufaturados.

Fruto da produção de suas máquinas, que deveriam serem consumidos avidamente

como os espelhos e objetos de ferro, pelos índios, na época do descobrimento.

A situação pode ser um pouco melhor entendida quando o autor descreve que

Scott Blacklaw, agente que representava no Brasil os interesses britânicos do café do

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Ceilão (hoje Sri Lanka), na década de 1880, estimulava as fugas de escravos e

pregava a adoção de trabalho assalariado, não por razões humanitárias, mas sim

porque queria ver o produto brasileiro, concorrente ao seu, mais caro no mercado

mundial.

Dentre outro dos vários episódios característicos pode ser observada a luta

pelo petróleo descrita por LOBATO (Monteiro. O Escândalo do Petróleo. 4 ed. São

Paulo: Nacional, 1936). Ele aponta que a evolução da capacidade humana dos

músculos às máquinas, com a utilização da energia, torna possível uma

transformação, em que as nações mais poderosas neste caso são as

produtores/consumidoras de fontes primárias de energia e desta forma

industrializadas. As nações ricas em matéria prima produtora de energia primária

como o carvão inicialmente e o petróleo posteriormente passam a ter influencia

fundamental nos destinos mundiais.

Cita Lobato-“Elliot Alves, chefe da “British Oilfields”que o governo inglês

organizou para lutar contra a Standard Oil Company, disse: O país que dominar

pelo petróleo dominará também o comércio do mundo. Porque a base fundamental da

vida industrial moderna repousa no combustível”.

E o combustível é o fundamento do avanço tecnológico. Sem combustível

para acionar máquinas de transporte ou de processamento a civilização para e retorna

às cavernas.

Com esta linha de argumentação, Lobato pretendia demonstrar a existência de

jazidas de petróleo no Brasil de 1930, de maneira a obter a independência do Brasil

dos interesses das grandes companhias petrolíferas americanas e inglesas as quais, de

todas as formas, e, com o apoio de brasileiros de interesses pouco confessáveis,

teimavam em tentar manter sob controle externo.

Destaca-se na narrativa de Lobato o assassinato de muitos seguidores em

situações pouco esclarecidas, em um evidente esforço dos interesses contrariados em

calar bocas e pensamentos inconvenientes.

O cearense Delmiro Gouveia foi outro grande expoente desta luta para

desvincular os interesses do Brasil dos interesses das grandes empresas inglesas e

americanas. Estas procuravam manter, a qualquer custo, o Brasil como seu mercado

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de produtos industriais, impedindo qualquer desenvolvimento tecnológico que

pudesse comprometer esta dominação. Tal como nos relatos de Lobato, pagou com a

vida o sonho de subtrair aos dominadores o controle tecnológico.

Quando Delmiro Gouveia conheceu o distrito da Pedra, sua proximidade da

cachoeira de Paulo Afonso e as possibilidades de explorar racionalmente toda aquela

região, teve a idéia de realizar ali um grande projeto. Havia viajado diversas vezes à

Europa e aos Estados Unidos e vira a transformação que a utilização da energia

elétrica provocara na indústria. Na região onde ficava situado o distrito da Pedra,

confluência de quatro estados, servido por ferrovia e banhado pelo rio São Francisco,

era verdadeiro corredor de todo o comércio do sertão.

Em 1914, organizou a Cia. Agro-Fabril Mercantil e instalou, no salto de

Angiquinho, no lado alagoano do rio, uma usina hidrelétrica com turbinas e

geradores alemães e suíços e, próximo, um complexo têxtil industrial, com máquinas

inglesas, para produção de linhas, fios e cordões em novelos, com a marca Estrela. A

fábrica passou a abastecer em 1916, alem do Brasil, os mercados da Argentina, Chile,

Peru e outros países andinos.

O grupo britânico Machine Cotton ( Linhas Corrente) que monopolizava o

mercado brasileiro e latino americano não demorou a reagir e executou diversas ações

objetivando desativar ou adquirir a concorrente. A intensidade de seus interesses

contrariados pode ser avaliada com a alegação do truste ao jornal Daily Mail de 19

de fevereiro de 1920 que, no ano anterior, seus lucros haviam sido de 19% na

Inglaterra e de 80 % no Exterior.

Delmiro Gouveia, que batalhou ferozmente pelo seu sonho, foi assassinado em

10 de outubro de 1917, em circunstâncias nunca totalmente esclarecidas.

A ação da Machine Cotton para desativar a concorrência foi de tal maneira

escandalosa, a ponto de provocar uma reação do governo federal através do Decreto

17.383 de 19 de julho de 1926 em que o presidente da República Artur Bernardes

assinou, quintuplicando o valor da taxa de importação sobre linhas de coser. O texto

introdutório do Decreto aludia à "terrível concorrência" movida contra a única

fábrica brasileira de linhas e baseava-se em documentos apresentados pela Cia

Agro-Fabril para afirmar que estava evidenciado o "propósito dos fabricantes

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estrangeiros de extinguir a concorrência nacional, para, dominando o mercado,

estabelecerem preços exorbitantes".

Dois anos depois, no governo Washington Luis, a lei foi revogada.

Empenhado em estabilizar a moeda e contando para isso com os banqueiros ingleses,

o presidente teria sido advertido, pelo embaixador britânico Henry Lynch, de que os

banqueiros seus compatriotas considerariam a volta da barreira alfandegária

como um ato de hostilidade.

Em novembro de 1929, na sede da Machine Cotton, na Escócia, a fábrica

Estrela foi vendida, seguindo-se o desmantelamento das máquinas e desmonte do

complexo.

Todos estes relatos apontam claramente para uma terrivel força coercitiva, que

não hesita em usar os mais infames e escusos recursos para manter o estado de

dominação tecnológico/econômico no qual o interessado procura tirar o maior

proveito possível desta situação, opondo-se ferozmente a qualquer iniciativa que se

proponha altera-la.

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CONCLUSÕES

(Sim. Echelon existe !!!! ) Recentemente o dep. Walter Pinheiro ( PT-BA) pediu á Mesa da Câmara que

solicitasse ao Parlamento Europeu uma cópia do relatório que parece provar a

existência de um ente abstrato que lembra ficção: O Sistema Echelon.

Os partidos europeus, aparvalhados, parecem não querer acreditar neste ser

abstrato, que como um “Grande Irmão “ a todos espiona, e em um nível global como

nunca se pensou possível.

Qual o significado real de Echelon?

De uma maneira simplista poderia ser interpretado ou reconhecido como um

grande sistema espião a nível global, fruto da mais moderna engenharia de sistemas.

O verdadeiro BIG BROTHER da ficção literária. Porem, à luz do que foi possível

compreender com este trabalho, pode-se concluir que Echelon não apenas existe

como sempre existiu desde o Império Romano e até antes. Ele estava presente no

Senado Romano, nas cortes feudais, nos palácios muçulmanos, nas grandes

navegações, na conquista das Índias e na colonização do Novo Mundo, no

desenvolvimento do capitalismo, na revolução industrial, em suma, em todas as etapas

do desenvolvimento humano, a partir daquela constatação apontada no início deste

trabalho, de que “o homem é o próprio lobo do homem”.

Fica constatado de uma maneira bastante evidente, que a simples coexistência

de agrupamentos humanos distintos, leva junto consigo a necessidade de que um

agrupamento submeta o outro, segundo as suas próprias razões. Nesta ótica não existe

razão maior, mais nobre ou humanitária que a própria razão de sobrevivência.

O exemplo espanhol na América e muito esclarecedor. As próprias

civilizações Maias e Astecas que a dominação espanhola dizimou de maneira tão

selvagem já haviam dizimado, de maneira não menos selvagem, tribos menores.

A escravidão indígena e negra no Brasil colônia já havia sido precedida por

escravidões similares nos grupos de origem, apenas o dono e senhor dos escravos é

que havia mudado. As regras capitalistas não atenuam o reino de Echelon, apenas o

disfarçam com novas cores, que não são menos crueis.

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Quando KENNEDY ( Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. 2 Ed.

Rio. Campus, 1989) afirma que “um ambiente territorial pode ser menos ou mais

seguro, não em função do que um estado possui em poder e riqueza, mas sim em

função do que seus vizinhos possuem deste poder e riqueza “ , ele quer dizer

exatamente que vizinhos poderosos e ambiciosos são em última análise sempre um

perigo a sobrevivência nacional. É mais uma vez o homem lobo a perseguir o lobo

homem. É Echelon revivido.

No mundo moderno e globalizado o conceito de vizinho perde todo o seu

sentido de proximidade física e assume um sentido de interesses conflitantes. Já no

século XVI, sem globalização, este conceito era evidente, no interesse dos franceses

no pau brasil e na rota para as Índias, a ponto de provocar a carta de Luiz de Gois ao

Rei D. João III.

O Império Romano combatia os bárbaros na Gália Cisalpina sob o pretexto de

levar a eles a luz da civilização romana, e para isto empregava meios e recursos tão ou

mais selvagens e bárbaros quanto os que dizia combater. E isto sob a fé na civilização

romana.

Enquanto os árabes conquistavam e dominavam o mundo Mediterrâneo com o

respaldo da fé religiosa, as cortes portuguesas e espanholas repartiam o mundo entre

si, com o respaldo não menos religioso do poder do Papa, no Tratado de Tordesilhas.

Logo em seguida a revolução industrial, o Império Britânico tomava a si

metade do mundo sob o respaldo da fé no capitalismo e no mercado. E este conceito

de fé no mercado e no capital foi levado ao máximo sob o calcanhar do imperialismo

norte americano que com ele parece querer levar todo o planeta a submissão global,

em um enfoque inédito do conceito de globalização.

A esta conclusão parece ter até o nosso Presidente FHC alegremente chegado,

quando em uma entrevista a revista Veja aponta que os EUA “ não precisam mais da

força para invadir: os Estados Unidos invadem pela cabeça via meios de

comunicação, tecnologia ”.

Aqui a submissão explicita a um conceito novo apontado no início deste trabalho: a fé na tecnologia. Assim como os portugueses dominaram as grandes navegações com uma nova tecnologia em navegação de grande distâncias, as

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nações tecnicamente mais evoluidas pretendem, em um novo Tratado de Tordesilhas, redefinir uma nova divisão do mundo em áreas de influencias, ainda que sob a égide do poder maior americano. Como se as palavras de Cabot Lodge em 1895 fossem agora tão atuais como quando proferidas:

“as grandes nações do mundo estão devorando rapidamente todos os lugares

desocupados da terra, com vistas a sua futura expansão e a sua defesa atual; como

uma das grandes nações do mundo, os Estados Unidos não devem ficar atras”.

É o Echelon sempre presente. Sob várias formas. Com várias filosofias de fé.

E o pior, com muitos adeptos simpatizantes não naturais dos Estados dominantes. E a

esta filosofia de fé entreguista e não nacionalista se evoca todas as razões, as mesmas

dos povos simpatizantes ao Império Romano, todos eles submetidos

inexoravelmente. As mesmas razões das tribos indígenas do Novo Mundo quando

se aliaram a franceses ou portugueses numa luta entre aqueles, em que os perdedores

foram os próprios indígenas.

São tambem as mesmas razões dos povos da Europa Central, invariavelmente

submetidos ao entrechoque dos vizinhos poderosos e da mesma forma destroçados

com eles.

Em todos os casos relatados e examinados no decorrer deste trabalho

invariavelmente a máxima Paul Kennedy se faz sempre presente “ o vizinho

poderoso e forte é sempre uma fonte de temor e insegurança”, e não importa o quanto

haja uma submissão a seus interesses, pois que o interesse daquele sempre será

contrário ao deste, e aí entra a máxima do lobo e novamente teremos Echelon

redivivo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BUENO, Eduardo. A Viagem do Descobrimento. Rio. Objetiva, 1999

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FALCON,Francisco.MOURA,Gerson.A Formação do Mundo Contemporâneo.16

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Paulo.Moderna,1990

VARGAS, Milton.História da Técnica e da Tecnologia no Brasil.São

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ANEXOS