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Análise das transformações sofridas nos projetos residenciais multifamiliares ao longo do séc. XX, na cidade do Rio de Janeiro.
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i
Sonia Chacon
Um Estudo Tipológico das Transformações das Edificações
Multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000:
O Caso do Bairro de Botafogo.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação
em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Arquitetura na área de concentração
Teoria e Projeto.
Orientadora: Profª. Drª. Vera Regina Tângari
Rio de Janeiro Abril / 2004
Sonia Chacon
ii
Um Estudo Tipológico das Transformações das Edificações
Multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: O Caso do Bairro de Botafogo.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em
Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em Arquitetura na área
de concentração Teoria e Projeto.
___________________________________________
Professora Orientadora: Drª. Vera Regina Tângari
___________________________________________
Professora Convidada: Drª. Lílian Fessler Vaz
___________________________________________
Professor Convidado: Dr. Paulo Afonso Rheingantz
Rio de Janeiro Abril / 2004
iii
Chacon, Sonia
Um Estudo Tipológico das Transformações das Edificações
Multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: O Caso do Bairro
de Botafogo / Sonia Chacon – Rio de Janeiro, 2004.
xxiii, 235 f.
Orientadora: Vera Regina Tângari
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em
Arquitetura, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
1. Habitação Multifamiliar. 2. Tipos Arquitetônicos. 3.
Legislação Urbanística e Edilícia. 4. Bairro de Botafogo. 5.
Universidade Federal do Rio de Janeiro – Bibliotecas. I. Título.
iv
Dedicatória
Aos meus queridos filhos Camila, arquiteta
e Érico, futuro arquiteto,
e a todas as pessoas que possam usufruir desta dissertação
para melhorar a moradia no Brasil.
Agradecimentos
v
À minha família, principalmente ao meu esposo Wilton Alexandre, pela paciência quase infinita,
Aos meus filhos Camila e Érico, pela grande ajuda e incentivo e
Aos caçulas Clara e Luiz Alexandre pela renúncia dos momentos de convivência que esta
pesquisa consumiu.
À Vera, minha orientadora, por ter se mostrado incansável em transferir generosamente seus conhecimentos e experiência.
Às amigas de turma: Alessandra, Ana Cláudia, Ana Eugênia, Annie, Eloísa, Ethel, Glauci,
Keiko, Márcia e Monique, que demonstraram muito carinho e amizade, incentivando-me sempre.
Aos professores Lílian Fessler Vaz e Paulo Afonso Rheingantz pela atenção em participar
de minha banca e pelos conselhos valiosos fornecidos por ocasião do Exame de Qualificação.
À professora Cristiane Rose Duarte, por ter acreditado na minha idéia inicial.
Aos professores Luiz Manoel, Mario Ceniquel e Milton Feferman, por toda contribuição
que prestaram indiretamente a este trabalho.
Aos funcionários deste Programa de Mestrado.
Aos funcionários da ADEMI – Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário – pela gentileza em abrir seus arquivos para consultas.
Aos funcionários do Arquivo Geral do Município do Rio de Janeiro, pela paciência e
ajuda.
Aos funcionários do Museu Casa de Rui Barbosa, pelas informações prestadas.
Aos amigos da Cleian Publicidade, pela ajuda sempre gentil.
Às construtoras Agenco, Brunet, João Fortes, Concal, Belletti, MTD, Lar Incorporadora, Simetria, Ribenboim, pela ajuda inestimável.
Aos Srs. Carlos Eugênio Hime, Sérgio Boiteux e Franklin Penna, pelas entrevistas
concedidas.
Aos amigos Cybele Barros e Eduardo Dias, pela ajuda precisa no momento certo.
E a todos os que, de alguma forma, contribuíram para a conclusão desta pesquisa.
Sumário:
Lista de Figuras...........................................................................viii
vi
Lista de Quadros..........................................................................xxi Resumo...................................................................................... xxii Abstract.....................................................................................xxiii
Introdução.....................................................................................................1
- Colocando questões..............................................................1 - Métodos de Pesquisa............................................................8 - Apresentação da Dissertação.............................................11
1 – Fundamentação Teórica e Histórica.................................................13
1.1 – Definição do campo teórico........................................13 1.1.1 – Glossário........................................................20 1.2 - Evolução do programa de habitação multifamiliar......23
1.2.1 - Da moradia coletiva à edificação multifamiliar. .......................................................................23
1.2.2 – Transformações das plantas baixas...............31
1.3 – O Papel da Legislação.................................................59 1.3.1 - Evolução Histórica.........................................59 1.3.2 - Quadro síntese da legislação..........................73
2 – Recorte espacial - o Bairro de Botafogo...........................................90 2.1 - Evolução Histórica........................................................93 2.2 - Evolução da área edificada e expansão residencial no século XX...............................................................106 2.3 - Desenvolvimento da Legislação pertinente ao Bairro de Botafogo..................................................................116
3 – Considerações acerca dos Tipos Arquitetônicos de Edificações
Residenciais Multifamiliares no Rio de Janeiro ..........120
3.1 - Identificação dos tipos arquitetônicos de edificação multifamiliar no século XX..................................................123 3.2 – Descrição dos tipos arquitetônicos identificados........128
4 – Análise dos exemplos selecionados..................................................139
4.1 – Justificativa................................................................139 4.2 - Quadro Síntese............................................................141 4.3 - Análise dos Exemplos Selecionados...........................143 4.3.1 – Tipo 2 – a) Ed. Barão de Lucena.................143 b) Ed. Carajás................................154 4.3.2 – Tipo 4 - a) Ed. Julio de Barros Barreto.......162 4.3.3 – Tipo 6 - a) Ed. Mal Deodoro da Fonseca....175
vii
4.3.4 – Tipo 7 - a) Ed. Mansão Rodrigo de Freitas.186 4.3.5 – Tipo 10 a) Ed. Plaza Etoile..........................193 b) Ed. Golden Garden……………201
Conclusão..................................................................................................208 Referências Bibliográficas………………..………………………..…..231
Lista de Figuras
1. Apartamento 5 da Rua General Rabelo, 3 (Desenho da autora) e apartamento da coluna 01 e 02 do empreendimento Américas Park.(Folheto publicitário Gomes e Almeida Fernandes) - (p.1)
viii
2. Quadro “Programa-Normas-Mercado”. (Desenho da autora) – (p.2)
3. Planta baixa do apartamento, perspectiva e área de lazer do Edifício Nijinsky na Barra da Tijuca. (Folder publicitário Paskin Engenharia) – (p.3)
4. Planta de situação original do Edifício Solar do Werneck. (Desenho da autora) – (p. 4)
5. Planta de situação modificada do Edifício Solar do Werneck. (Desenho da autora) – (p. 4)
6. Área de lazer do Edifício Palazzo di Lucena em Botafogo. (Folder publicitário CHL
Incorporação e Construção) – (p.7)
7. Fotografias do bairro de Botafogo com cem anos de intervalo. (Fonte: COHEN & FRIDMAN, 1998, p. 63) – (p.7)
8. Fotografia do Palacete Lafont, em 1910, na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Santa
Luzia. (Fonte: VAZ, 2002, p. 63) – (p.14)
9. Fotografia da Cinelândia, ao final da década de 1920. (Fonte: VAZ, 2002, p.64) – (p.23)
10. Plantas baixas do apartamento do Edifício Barra Quality na Barra da Tijuca. (Folder publicitário Calper Construtora) - (p.24)
11.Planta baixa de um edifício da Rua do Catete. (Fonte: VAZ, 2002, p.109) – (p.27)
12. Planta baixa de um edifício da Rua Bento Lisboa. (Fonte: VAZ, 2002, p.110) – (p.27)
13. Foto do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca em Botafogo. (Fonte: PCRJ: Guia da
Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro, p.69) – (p.29)
14. Planta baixa do Edifício Hicatú no Flamengo. (Fonte: PCRJ: Guia da Arquitetura Art Deco no Rio de Janeiro, p.60) – (p.33)
15. Planta baixa do Edifício Royal Lãs Palmas na Barra da Tijuca. (Desenho da autora) – (p.34)
16. Planta baixa de um conjugado típico. (Desenho da autora) – (p.34)
17. Planta baixa original do Edifício Capiberibe no Flamengo. (Desenho da autora) – (p.35)
18. Planta baixa modificada do Edifício Capiberibe no Flamengo. (Desenho da autora) – (p.35)
19. Planta baixa do Edifício Giovanna Gabrieli na Gávea. (Folder publicitário) – (p.36)
20. Planta baixa do Edifício Freguesia Special em Jacarepaguá. (Folder publicitário) – (p.37)
21. Planta baixa do Edifício Mirtle Beach na Barra da Tijuca. (Desenho da autora) – (p.37)
22. Pesquisa do Grupo Nomads da EESC. (Fonte: jornal O Globo, 02/02/2003) – (p.38)
23. Sala de estar da Casa de Rui Barbosa, localizada na Rua São Clemente, 134. (Fonte: Museu da
Casa de Rui Barbosa: Guia do visitante) – (p.39)
24. Biblioteca da Casa de Rui Barbosa, localizada na Rua São Clemente, 134. (Fonte: Museu da Casa de Rui Barbosa: Guia do visitante) – (p.40)
ix
25. Foto de um home Office atual. (Fonte: Publicação Casa Cor 2001, p.87) – (p.40)
26. Planta do Edifício Biarritz no Flamengo. (Fonte: PCRJ: Guia da Arquitetura Art Deco no Rio de Janeiro, p.56) – (p.41)
27. Planta baixa do Edifício Paissandu no Flamengo. (Fonte: PCRJ: Guia da Arquitetura Art Deco
no Rio de Janeiro, p.57) – (p.42)
28. Planta baixa do Edifício localizado na Rua Rodolfo de Amoedo na Barra da Tijuca. (Desenho da autora) – (p.43)
29. Ilustração da Serralheria Moreira Leão. (Fonte: VERÍSSIMO & BITTAR, 1999, p.112) – (p.44)
30. Planta baixa do Edifício Parque das Rosas na Barra da Tijuca. (Desenho da autora) – (p.46)
31. Planta baixa do Edifício localizado na Rua Honório, 812 no Engenho de Dentro. (Folder
publicitário Simetria Engenharia) – (p.47)
32. Planta baixa do Edifício Solar Monet na Tijuca. (Desenho da autora) – (p.47)
33. Foto de um quarto atual com microcomputador. (Fonte: VERÍSSIMO & BITTAR, 1999, p.96) – (p.49)
34. Foto do banheiro da Residência Castro Maya no Alto da Tijuca. (Fonte: VERÍSSIMO &
BITTAR, 1999, p.103) – (p.50)
35. Foto do banheiro da Casa de Rui Barbosa em Botafogo. (Fonte: Museu da Casa de Rui Barbosa: Guia do visitante) – (p.50)
36. Foto do banheiro do Edifício Royal Lãs Palmas. (Foto da autora) – (p.51)
37. Foto do banheiro do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.51)
38. Planta baixa do Edifício Carajás. (Desenho da autora) – (p.52)
39. Planta baixa do Edifício Villaggio Acquafina, apartamento 07 na Estrada do Pontal. (Folder
publicitário Compax Engenharia) – (p.52)
40. Planta baixa do Edifício Ouro Preto em Copacabana. (Fonte: PCRJ, Guia da Arquitetura Art Deco no Rio de Janeiro, p. 77) – (p.53)
41. Planta baixa do Edifício Itaóca em Copacabana. (Fonte: PCRJ, Guia da Arquitetura Art Deco
no Rio de Janeiro, p. 81) – (p.53)
42. Perspectiva do Edifício Itaóca em Copacabana. (Fonte: PCRJ, Guia da Arquitetura Art Deco no Rio de Janeiro, p. 81) – (p.53)
43. Planta baixa do pavimento de uso comum do empreendimento da Rua Paraíba, 20 na Praça da
Bandeira. (Folder publicitário Construtora Bulhões Carvalho da Fonseca) – (p.55)
44. Planta baixa do pavimento de uso comum do empreendimento da Rua Almirante Saddock de Sá, 216 em Ipanema. (Folder publicitário Via Engenharia) – (p.56)
45. Empreendimento situado na Rua da Passagem, 75 em Botafogo. (Folder publicitário CHL
Incorporação e Construção) – (p.57)
x
46.Foto do empreendimento Rio 2 na Barra da Tijuca. (Folder publicitário Cope Engenharia) –
(p.58)
47. Foto de um cortiço no Morro do Castelo. (Fonte: VAZ, 2002, p.34) – (p.61)
48. Foto da Avenida Central de 1920. (Fonte: Imagens da Aviação Naval (1916 a 1923), 2001, p.34) – (p.62)
49. Cartão postal da Avenida Beira-Mar no Flamengo. (Fonte: COHEN & FRIDMAN, 1998, p.68)
– (p.63)
50. Foto do centro do bairro de Botafogo em 1920. (Fonte: Imagens da Aviação Naval (1916 a 1923), 2001, p.83) – (p.65)
51. Projeto de Alinhamento da Rua Pompeu Loureiro – PA 6879 (parte). (Fonte: PCRJ, Secretaria
de Urbanismo) – (p.66)
52. Foto da fábrica da Companhia de Fiação de Tecidos Corcovado no Jardim Botânico, nos fins do século XIX. (Fonte: ABREU, 1997, p.59) – (p.67)
53. Foto do bairro de Copacabana em 1941. (Fonte: ABREU, 1997, p.113) – (p.68)
54. Foto do bairro de Catumbi na década de 1960. (Fonte: ABREU, 1997, p. 31) – (p.70)
55. Foto do Quilômetro 01 da Avenida das Américas na Barra da Tijuca. (Fonte: MACEDO, 1999,
p. 114) – (p.71)
56. Foto da obra da Rua Voluntários da Pátria, 48. (Foto da autora) – (p.91)
57. Foto da obra da Rua Paulo Barreto, 21. (Foto da autora) – (p.91)
58. Foto da obra da Rua Paulino Fernandes, 17. (Foto da autora) – (p.91)
59. Mapa da Baía de Guanabara em 1586. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.20) – (p.93)
60. Mapa do bairro de Botafogo dividido entre os dois latifúndios no século XVII. (Desenho da
autora baseado no trabalho do Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ) – (p.94)
61. Complexo Hidrográfico de Botafogo. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo
Urbano da UFRJ, 1982, p.26) – (p.95)
62. Gravura de Rugendas de 1820. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.11) – (p.96)
63. Óleo sobre tela de S. Faux de 1835. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo
Urbano da UFRJ, 1982, p.72) – (p.96) 64. Foto do Edifício Paraopeba em Botafogo. (Foto da autora) – (p.97)
65. Gravura do Barão de Planitz de 1848. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo
Urbano da UFRJ, 1982, p.46) – (p.97)
xi
66. Óleo sobre tela de Facchinetti de 1868. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.43) – (p.98)
67. Planta do loteamento das terras de Baptista de Leão no Humaitá. (Fonte: Grupo de Pesquisa em
Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.49) – (p.99)
68. Largo dos Leões no século XIX. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.47) – (p.99)
69. Foto do túnel Velho que une Botafogo ao bairro de Copacabana. (Fonte: Grupo de Pesquisa em
Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.60) – (p.100)
70. Mapa do bairro de Botafogo com a localização das fábricas e das vilas operárias. (Desenho da autora baseado no trabalho de Sérgio Lordello: “Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do
Rio de Janeiro – o caso de Botafogo.”) – (p.101)
71. Planta de loteamento da firma Domingos Farani e Irmão no bairro de Botafogo. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.57) – (p.102)
72. Garagem de bondes no Humaitá. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo
Urbano da UFRJ, 1982, p.62) – (p.103)
73. Foto da esquina da Praia de Botafogo com a Rua São Clemente, em 1928. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.63) – (p.103)
74. Foto dos sobrados na Rua Voluntários da Pátria, em 1933. (Fonte: Grupo de Pesquisa em
Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.64) – (p.104)
75. Foto do jardim de infância Marechal Hermes na Rua Martins Ferreira, em 1910. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.67) – (p.104)
76. Foto da Rua São Clemente na altura do Colégio Santo Inácio, no início do século XX. (Fonte:
GARCIA, 1963, p. 130) – (p.105)
77. Foto do Colégio Santo Inácio, no fim do século XX. (Fonte: COHEN & FRIDMAN, 1998, p.79) – (p.105)
78.Aquarela de F. Ranzini de 1940. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo
Urbano da UFRJ, 1982, p.65) – (p.107)
79. Foto do Edifício-sede da CAEMI em Botafogo. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.220) – (p.107)
80. Foto da favela do Humaitá em 1958. (Fonte: ABREU, 1997, p.106) – (p.109)
81. Foto do Palacete dos Paula Machado situado na Rua São Clemente, 213. (Foto da autora) –
(p.110)
82. Foto do Edifício Almirante Guillobel na Rua São Clemente, 137. (Foto da autora) – (p.110) 83. Foto da Fundação Getúlio Vargas na Praia de Botafogo. (Fonte: PCRJ: Guia da Arquitetura
Moderna no Rio de Janeiro, 2000, p.64) – (p.112)
84. Foto do Centro Empresarial Rio na Praia de Botafogo. (Fonte: PCRJ: Guia da Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro, 2000, p.63) – (p.112)
xii
85.Publicação do Baixo Botafogo com mapa dos restaurantes. (Fonte: LORDELLO, 1981, anexo 3)
– (p.112)
86. Foto do Edifício Casa Alta na Rua da Passagem. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.117) – (p.113)
87. Foto do Shopping Rio Sul na Avenida Lauro Sodré. (Foto da autora) – (p.113)
88. Fotos dos Edifícios Dom Bosco e Apollo em Botafogo. (Fotos da autora) – (p.117)
89. Foto do Hotel Copacabana Palace na década de 1930. (Fonte: COHEN & FRIDMAN, 1998,
p.106) – (p.123)
90. Foto de Edifício na Rua Conde de Bonfim na Tijuca. (Fonte: TÂNGARI, 1999, p.36) – (p.128)
91. Foto de Edifício junto à Avenida Maracanã. (Fonte: TÂNGARI, 1999, p.114) – (p.128)
92. Foto de conjunto composto por pequenas edificações no Encantado. (Fonte: TÂNGARI, 1999, p.115) – (p.129)
93. Foto do Edifício da Rua General Rabelo, 3 na Gávea. (Foto da autora) – (p.129)
94. Foto do Edifício da Praça Jóia Valansi, 38. (Foto da autora) – (p.129)
95. Foto do Edifício da Praça Jóia Valansi, 32. (Foto da autora) – (p.129)
96. Foto do Edifício da Rua Paulino Fernandes, 52 esquina da Rua Professor Álvaro Rodrigues.
(Foto da autora) – (p.129)
97. Foto do Edifício Capiberibe no Flamengo. (Foto da autora) – (p.130)
98. Foto do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p.130)
99. Foto do Edifício Almirante Guillobel. (Foto da autora) – (p.130)
100. Foto de Edifício na Avenida Vieira Souto. (Fonte: TÂNGARI, 1999, p. 116) – (p.131)
101. Foto de Edifício na Rua Paissandu. (Fonte: TÂNGARI, 1999, p. 116) – (p.131)
102. Foto de Edifícios na Praça Radial Sul. (Foto da autora) – (p.131)
103. Foto do Edifício Jaraú em Copacabana. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.35) – (p.132)
104. Foto do Edifício Copacabana de autoria de M.M.M. Roberto. (Fonte: XAVIER, BRITTO e
NOBRE, 1991, p.54) – (p.132)
105. Foto do Edifício João M. Magalhães em Botafogo. (Foto da autora) – (p.133)
106. Foto de Edifícios na Praia de Botafogo. (Foto da autora) – (p.133)
107. Foto do Edifício Casa do Mirante no Flamengo. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.167) – (p.133)
xiii
108. Foto do Edifício Caparaó localizado na Praia de Botafogo, 130. (Foto da autora) – (p.134)
109. Foto do Edifício Estrela da Lagoa de autoria de Paulo Case. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.151) – (p.134)
110. Foto do Edifício Apolo na pRaia de Botafogo, 96. (Foto da autora) – (p.135)
111. Foto do Edifício Casa Alta na Praia de Botafogo, 528. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE,
1991, p.117) – (p.135)
112. Foto dos Edifícios Sonata e Rapsody na Lagoa. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.224) – (p.135)
113. Foto do Edifício da Rua São Clemente, 200. (Foto da autora) – (p.136)
114. Foto do Edifício da Rua Ministro Raul Fernandes, 43. (Foto da autora) – (p.136)
115.Foto do Edifício da Rua General Polidoro, 58. (Foto da autora) – (p.136)
116. Foto do Condomínio Nova Ipanema. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.176) –
(p.136)
117. Foto do Condomínio Novo Leblon. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.177) – (p.136)
118. Foto do Condomínio Morada do Sol. (Foto da autora) – (p.137)
119. Foto do Edifício Atlântica em Ipanema. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.199) –
(p.137)
120. Foto do Edifício da Rua Alberto de Campos, 250 em Ipanema. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.204) – (p.137)
121. Foto do Edifício Solar do Barão em Botafogo. (Foto da autora) – (p.138)
122.Foto do Edifício Casablanca na Rua Guilhermina Guinle, 70. (Foto da autora) – (p.138)
123. Foto do Edifício Guinle Place na Rua Eduardo Guinle, 28. (Foto da autora) – (p.138)
124. Foto do Edifício da Rua São Manuel, 20. (Foto da autora) – (p.138)
125. Aerofotogramétrico de Botafogo com o Edifício Barão de Lucena. (Fonte: PCRJ – Secretaria
de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 143)
126. Carimbo da planta original do Edifício Barão de Lucena. (Fonte: PCRJ – Arquivo Geral) – (p.144)
127. Aerofotogramétrico de 1955 e 2000 com a localização do Edifício Barão de Lucena. (Fonte:
PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 144)
128. Foto da fachada frontal do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 145) 129. Foto da portaria do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 145)
130. Foto da parte coberta da área de lazer do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 145)
xiv
131. Foto do terraço aberto do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 145)
132. Foto do Flamboyant da recreação do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 146)
133. Foto da vista externa da área de lazer do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 146)
134. Foto do porte-coche da entrada do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 146)
135. Foto do jardim frontal do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 146)
136. Foto do hall social do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 147)
137. Foto da porta de ferro do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 147)
138. Foto do relógio do hall social do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 147)
139. Foto da escada interna comum do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 147)
140. Foto do prisma lateral do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 147)
141. Croquis da implantação do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora) – (p. 148)
142. Planta baixa do apartamento tipo do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora) – (p. 148)
143. Planta baixa de parte do pavimento térreo do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora) – (p. 149)
144. Croquis do detalhe do shaft da cozinha do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora) –
(p. 149)
145. Foto da área de lazer do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 150)
146. Croquis das ventilações internas do apartamento do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora) – (p. 151)
147. Planta baixa setorizada do apartamento tipo do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora)
– (p. 152)
148. Croquis das modificações desejadas no apartamento do Edifício Barão de Lucena. Pelos moradores. (Desenho da autora) – (p. 153)
149. Aerofotogramétrico de Botafogo com o Edifício Carajás. (Fonte: PCRJ – Secretaria de
Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 154)
150. Aerofotogramétrico de 1955 com o Edifício Carajás. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 154)
151. Foto da fachada frontal do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.155)
152. Foto da entrada social do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.155)
153. Croquis da implantação do Edifício Carajás. (Desenho da autora) – (p.155)
154. Foto da garagem do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.156)
xv
155. Foto do jardim frontal do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.156)
156. Foto do espelho do hall do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.156)
157. Foto do lustre do hall do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.156)
158. Planta baixa do apartamento tipo do Edifício Carajás. (Desenho da autora) – (p.157)
159. Foto do hall de entrada do apartamento do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.157)
160. Foto da fachada dos fundos do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.158)
161. Croquis do apartamento com distribuição de fluxos do Edifício Carajás. (Desenho da autora) – (p. 159)
162. Planta baixa da Casa da Fazenda São José. (Fonte: CALVENTE, 2001, p. 122) – (p.160)
163. Planta baixa setorizada do apartamento tipo do Edifício Carajás. (Desenho da autora) –
(p.161)
164. Aerofotogramétrico de Botafogo com o Edifício Julio de Barros Barreto. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 162)
165. Planta de situação sobre aerofotogramétrico. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com
intervenção da autora) – (p. 163)
166. Mapa de alcance visual.(Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 163)
167. Aerofotogramétrico de 1955 com jardins frontais do Edifício Julio de Barros Barreto. (Fonte:
PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 164)
168. Aerofotogramétrico de 1999. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 164)
169. Foto da fachada dos blocos do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.165)
170. Foto da rampa de acesso de automóveis do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) –
(p.165)
171. Foto do anexo da garagem do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.165)
172. Cortes transversais dos blocos I e II do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.166)
173. Foto das circulações social e de serviço do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) –
(p.166)
174. Foto do detalhe das janelas da fachada dos fundos do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.166)
175. Foto do porte-coche do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.167)
176. Foto da marquise do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.167)
xvi
177. Foto do anexo da garagem com quadra coberta do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.167)
178. Foto da entrada do salão de festas do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) –
(p.167)
179. Croquis do esquema do pavimento tipo do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.168)
180. Foto da vista das varandas do Edifício Julio de Barros Barreto. (Fonte: MINDLIN, 1999,
p.111) – (p.168)
181. Planta baixa do 1º pavimento do apartamento tipo do bloco II do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.169)
182. Planta baixa do 2º pavimento do apartamento tipo do bloco II do Edifício Julio de Barros
Barreto. (Desenho da autora) – (p.169)
183. Croquis do apartamento com circulações e acessos do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.170)
184. Foto do Edifício Julio de Barros Barreto. (Fonte: jornal O Globo do dia 05/11/2002) – (p.170)
185. Croquis do apartamento com ventilações do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da
autora) – (p.171)
186. Foto da circulação de serviço do bloco II do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.172)
187. Foto da janela dos quartos dos fundos do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) –
(p.172)
188. Planta baixa setorizada do apartamento do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.173)
189. Aerofotogramétrico de Botafogo com a localização de Edifício Marechal Deodoro da Fonseca.
(Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.175)
190. Aerofotogramétrico de 1955, com a mansão existente na Rua Dona Mariana, 53. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo) – (p.176)
191. Aerofotogramétrico de 1975 com a localização de Edifício Marechal Deodoro da Fonseca.
(Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.176)
192. Foto do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca ao longe. (Foto da autora) – (p.177)
193. Croquis do pavimento tipo do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Desenho da autora) – (p.177)
194. Foto da fachada do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Fonte: XAVIER, BRITTO e
NOBRE, 1991, p.145) – (p.178) 195. Foto da entrada da garagem do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) –
(p.178)
xvii
196. Foto da garagem para visitantes do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.178)
197. Foto do parquinho infantil do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) –
(p.179)
198. Foto do parquinho infantil do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.179)
199. Foto da quadra do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.179)
200. Corte longitudinal do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Fonte: XAVIER, BRITTO e
NOBRE, 1991, p.145) – (p.179)
201. Foto da fachada lateral do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.179)
202. Planta baixa do apartamento tipo do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Desenho da autora) – (p.180)
203. Foto do hall social do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.181)
204. Foto do hall social do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.181)
205. Croquis da parte comum do pavimento tipo do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca.
(Desenho da autora) – (p.181)
206. Planta baixa do apartamento com shafts do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Desenho da autora) – (p.182)
207. Foto da fachada frontal do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.182)
208. Planta baixa setorizada do apartamento do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Desenho
da autora) – (p.183)
209. Foto da vista do lado sudeste do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.184)
210. Foto da vista do lado noroeste do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) –
(p.184)
211. Croquis ilustrativo da criação da suíte do apartamento 2202 do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Desenho da autora) – (p.184)
212. Croquis ilustrativo da reforma pretendida pelo apartamento 2202 do Edifício Marechal
Deodoro da Fonseca. (Desenho da autora) – (p.185)
213. Aerofotogramétrico de Botafogo com a localização de Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.186)
214. Aerofotogramétrico de 2000 com o Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Fonte: PCRJ –
Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.187)
215. Foto da fachada frontal do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Foto da autora) – (p.187)
216. Foto da fachada frontal do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Foto da autora) – (p.187)
xviii
217. Foto do porte-coche do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Foto da autora) – (p.188)
218. Foto das entradas das garagens do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Foto da autora) –
(p.188)
219. Croquis do pavimento tipo do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Desenho da autora) – (p.189)
220. Planta baixa do apartamento tipo do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Desenho da autora)
– (p.189)
221. Foto da fachada dos fundos do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Foto da autora) – (p.190)
222. Croquis do apartamento com fluxo de circulação do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Desenho da autora) – (p.191)
223. Planta baixa setorizada do apartamento tipo do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Desenho
da autora) – (p.192)
224. Aerofotogramétrico de Botafogo com a localização do Edifício Plaza Etoile. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.193)
225. Aerofotogramétrico de 1955 com o terreno integral do Edifício Plaza Etoile. (Fonte: PCRJ –
Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.194)
226. Aerofotogramétrico de 2000 do Edifício Plaza Etoile. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo) – (p.194)
227. Foto da vista frontal do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.195)
228. Foto da vista da servidão ao lado do Centro de Arquitetura e Urbanismo do Edifício Plaza
Etoile. (Foto da autora) – (p.195)
229. Planta de situação esquemática dos blocos I e II do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da autora) – (p.195)
230. Foto da entrada lateral para automóveis do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.195)
231. Foto da ciclovia do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.196)
232. Foto da área da piscina do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.196)
233. Foto da área da piscina do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.196)
234. Foto da recreação infantil do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.196)
235. Foto da recreação infantil do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.196)
236. Foto da fachada lateral do bloco I do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.197)
237. Foto da fachada dos fundos do bloco II do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.197)
xix
238. Planta baixa do apartamento tipo do bloco II do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da autora) – (p.197)
239. Foto da vista aérea do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.198)
240. Croquis da ventilação interna do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da autora) – (p.199)
241. Croquis do esquema de fluxos do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da autora) – (p.199)
242. Planta baixa setorizada do apartamento do bloco II do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da
autora) – (p.200)
243. Aerofotogramétrico de Botafogo com a localização do Edifício Golden Garden. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.201)
244. Aerofotogramétrico de 2000 com o Edifício Golden Garden. (Fonte: PCRJ – Secretaria de
Urbanismo) – (p.202)
245. Foto da vista aérea do Edifício Golden Garden. (Foto da autora) – (p.202)
246. Planta de situação do Edifício Golden Garden. (Desenho da autora) – (p.203)
247. Perspectiva do Edifício Golden Garden. (Fonte: folder Agenco SA) – (p.203)
248. Planta baixa do pavimento tipo do Edifício Golden Garden. (Desenho da autora) – (p.204)
249. Planta humanizada do Edifício Golden Garden. (Fonte: folder Agenco SA) – (p.204)
250. Planta de situação com esquema dos ventos do Edifício Golden Garden. (Desenho da autora) – (p.205)
251. Croquis do apartamento com fluxo de circulação do Edifício Golden Garden. (desenho da
autora) – (p.206)
252. Planta baixa setorizada do Edifício Golden Garden. (Desenho da autora) – (p.207)
253. Croquis perspectivado do Modelo A. (Desenho da autora) – (p.211)
254. Foto do jardim frontal da Casa de Rui Barbosa. (Foto da autora) – (p.211)
255. Foto do jardim do Edifício Almirante Guillobel. (Foto da autora) – (p.212)
256.Croquis do corte esquemático do Modelo A. (Desenho da autora)- (p.212)
257. Croquis perspectivado do Modelo B. (Desenho da autora) – (p.212)
258. Foto do Edifício Apolo na Praia de Botafogo. (Foto da autora) – (p.213)
259.Croquis do corte esquemático do Modelo B. (Desenho da autora)- (p.213)
260. Croquis perspectivado do Modelo C. (Desenho da autora) – (p.214)
261.Croquis do corte esquemático do Modelo C. (Desenho da autora)- (p.214) 262. Croquis perspectivado do Modelo D. (Desenho da autora) – (p.215)
xx
263.Croquis do corte esquemático do Modelo D. (Desenho da autora)- (p.215)
264. Croquis perspectivado do Modelo E. (Desenho da autora) – (p.216)
265.Croquis do corte esquemático do Modelo E. (Desenho da autora)- (p.216)
266. Croquis ventilação cruzada do Edifício Carajás. (Desenho da autora) – (p.217)
267.Croquis ventilação cruzada do Edifício Barão de Lucena.(Desenho da autora)- (p.218)
268. Croquis ventilação do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da autora) – (p.218)
269.Croquis ventilação do Edifício Golden Garden.(Desenho da autora)- (p.218)
270. Croquis ventilação cruzada do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.219)
271. Esquema implantação básica para edificações alinhadas às divisas laterais em Botafogo, em terrenos de menor dimensão. (Desenho da autora) – (p.220)
Lista de Quadros
1. Quadro de Leis e Decretos legais. (p.88/89)
xxi
2. Quadro dos Lançamentos no bairro de Botafogo desde a década de 1980. (p.113/114)
3. Quadro Síntese dos Tipos Arquitetônicos. (p.126/127)
4. Quadro Síntese dos Exemplos Selecionados. (p.141/142)
5. Quadro Comparativo dos Exemplos Selecionados. (p.210)
6. Quadro Comparativo dos setores social, íntimo e serviço. (p.223)
7. Quadro de Áreas úteis dos Exemplos Selecionados. (p.225)
8. Quadro Comparativo entre as Áreas úteis dos quartos de empregados e os quartos
sociais dos apartamentos analisados. (p.226)
Resumo
xxii
Quais as transformações sofridas na arte de projetar residências multifamiliares ao longo
do século XX, na cidade do Rio de Janeiro?
Quais necessidades deixaram de ser atendidas pela falta de uso e quais outras surgiram na
esteira das profundas modificações experimentadas pela célula familiar?
A análise do bairro de Botafogo, localizado na zona sul, com a representatividade dos tipos
arquitetônicos que dispõe procura responder a estas perguntas.
Em primeiro lugar, ocupamo-nos em definir este campo teórico, a partir da evolução do
programa de habitação multifamiliar, observando historicamente como a moradia coletiva
desenvolveu-se a partir do início do século XX e analisando as transformações das plantas
baixas. Em seguida, por acreditarmos que esta evolução sofreu e sofre interferências, além
das exigidas pelo programa projetual, estudamos o papel da Legislação em todo este
quadro. A partir daí, fechamos o recorte em torno do bairro de Botafogo, analisando-o
historicamente desde a sua formação, por acreditarmos que, assim, muitas respostas
surgem naturalmente. Complementando este recorte, analisamos a expansão residencial
deste bairro e a legislação pertinente. Em seguida, identificamos os tipos arquitetônicos da
edificação multifamiliar e selecionamos sete exemplos representativos de cinco tipos
arquitetônicos. Nesta análise levamos em conta a implantação dos edifícios no terreno, a
volumetria projetada e as plantas baixas das unidades privativas no que concerne a
circulações, ventilações, compartimentos setorizados e dimensões.
Abstract
xxiii
What were the transformations that happened in the art of multi-families buildings design
in the past 20th century at the Rio de Janeiro city?
What needs that were left behind because they were useless and what were the others that
appeared at the family deep modifications?
A analyze of Botafogo, located in south town, with a representative architecture design that
answers these questions. At the first place, we defined these theoretical matter, from the
evolution of multi-families habitations program, watching historically how it developed in
the beginning of 20th century and analyzing the transformations in the apartment design.
Therefore we believed that this evolution did and still do suffer interference beyond the
project program, we studied the legislation part on these matter. From these point, we
made a Botafogo historical analyze since your formation, because we believe find answers
this way. Was made an analyze from the residential expanding and you legislation. On
next, was identified the architectural types from multi-families buildings and selected
seven examples representing five architectural types. To these analyze we used the
buildings ground implantation, your volume and the units designs. At the last, analyzing
circulations, ventilations, dimensions and the design sector.
1
Colocando questões:
Nos fins do século XIX e início do XX, no mundo inteiro, o advento da Revolução
Industrial impulsionou o crescimento das cidades. No Brasil, o Rio de Janeiro, como
capital da República, atraía, nesta época, um grande contingente de migrantes de todo o
país que aqui aportavam atrás de uma oportunidade de emprego, quer na atividade
industrial nascente, quer nas inúmeras oportunidades apresentadas pelo setor público, nas
repartições e autarquias.
Como conseqüência, surgiram inúmeros problemas subseqüentes como a evolução
irregular da malha urbana, a carência de habitação e a desigualdade social. Amparada pelo
desenvolvimento tecnológico, a habitação multifamiliar tornou-se aos poucos um
importante modelo de moradia da cidade contemporânea, principalmente nas grandes
cidades.
O objetivo fundamental desta pesquisa foi analisar as modificações ocorridas nos
diversos tipos de espaço de moradia multifamiliar dos estratos de renda média e média alta
da população, focalizando os edifícios de apartamentos na cidade do Rio de Janeiro, no
período entre 1930 até 2000.
fig. 1 - Dois momentos de plantas baixas de residências multifamiliares, referente à década de 1930, na Gávea, e
referente à década de 2000, na Barra da Tijuca.
2
A pesquisa procurou ater-se aos espaços privados das edificações multifamiliares,
observando como as mudanças ocorridas nas soluções arquitetônicas dos ambientes
residenciais surgiram em consequência das mudanças ocorridas na célula familiar, seus
novos hábitos, costumes e atitudes, e também das determinações da legislação urbanística e
edilícia.
Estas observações nasceram a partir de minha própria experiência profissional
dentro do mercado de elaboração de projetos arquitetônicos multifamiliares desde o ano de
1977 no Município do Rio de Janeiro. E a experiência levou-me a observar como algumas
tendências construtivas são norteadas pela legislação específica urbana ou edilícia,
constituindo-se, algumas vezes, em entraves e em impedimentos à criação de novos
espaços e condições de vida mais satisfatórias.
Observei também que o processo de construção de unidades residenciais, desde a
escolha do terreno até o momento de entrega das chaves, baseia-se na relação entre os
principais agentes vinculados à produção de moradias: o profissional projetista e o projeto,
a legislação urbanística e edilícia e o mercado imobiliário.
fig. 2 - Relação entre os setores que regem a concretização
do processo de empreender uma edificação residencial.
O profissional de projeto responde por todo o processo que vai desde a elaboração
do programa projetual do edifício, sua implantação no terreno até a escolha dos
equipamentos que comporão o empreendimento, direcionando-os para o público alvo a que
se destina. Procura-se atender às necessidades do usuário tanto no que se refere à sua
unidade particular nos espaços de moradia privada, quanto às áreas comuns de lazer e
circulação.
3
A legislação compreende toda a gama de normas que regulam as construções em
geral, desde as normas urbanísticas que estabelecem o zoneamento do terreno em questão,
limitando sua atividade e volumetria, como também a legislação edilícia que define
parâmetros para a unidade.
O mercado encarrega-se da aceitação do empreendimento pelo público alvo. Na
visão do mercado imobiliário não é o bastante o empreendimento estar localizado em um
bom bairro ou possuir um bom projeto que atenda às necessidades de moradia do usuário e
atenda completamente às diretrizes da legislação. É necessário também e, talvez,
sobretudo, atender às condições financeiras do público alvo.
Sem o atendimento a uma dessas três questões o empreendimento não se confirma e
o processo não se conclui. Como estão intrinsecamente relacionados, a viabilidade do
empreendimento imobiliário depende do equilíbrio entre os três agentes.
Como exemplos de situações em que esse equilíbrio não ocorreu, podemos citar
dois casos. O Edifício Nijinsky e o Edifício Solar do Werneck .
O Edifício Nijinsky se localizaria no quilômetro um da Avenida das Américas, na
Barra da Tijuca, e foi lançado na década de 1980, acompanhado de uma vasta e custosa
campanha publicitária, incluindo folders, propaganda na televisão com artistas famosos,
anúncios em jornais, out-dors, panfletos etc. Mas, apesar de todo aparato, a resposta do
mercado foi a venda de uma única unidade em cento e trinta e duas lançadas, resultando no
cancelamento do empreendimento. A legislação foi atendida, mas o projeto, audacioso
demais, alavancou o preço das unidades a um patamar proibitivo ao público comprador.
fig. 3 - Planta baixa, perspectiva e área de lazer projetado para o Edifício Nijinsky na Barra da Tijuca.
4
O segundo exemplo é o Edifício Solar do Werneck localizado no bairro de
Jacarepaguá. O projeto inicial era composto por dois blocos residenciais e foi aprovado
pela Prefeitura Municipal. O mercado estava aceitando o empreendimento, uma vez que,
pelo cadastro de clientes, muitos apartamentos já estavam reservados aguardando o
lançamento para a compra efetiva, o que significa compatibilidade entre preço e produto
oferecido. O fator impeditivo se apresentou na presença de um Ficus italiano secular de
grande porte que se localizava no espaço que seria ocupado pelo segundo bloco de
apartamentos. A Fundação Parques e Jardins vetou sua retirada, o que fez com que todo o
processo paralisasse, aguardando a resolução do impasse, que se deu meses depois a partir
da modificação do projeto de arquitetura para apenas um bloco, com dimensões maiores. A
partir deste caso, a retirada do alvará de construção da obra só foi possível após a
aprovação da retirada das árvores existentes no terreno.
fig. 4 - Planta de situação com a localização da árvore que retardou o processo de construção e conseqüente
lançamento.
fig. 5 - Planta de situação com o Edifício modificado.
5
Como foco dessa dissertação, os assuntos tratados aqui referem-se à análise da
evolução das plantas baixas das moradias multifamiliares e não são exclusivos. Outras
visões são necessárias e desejáveis para que complementem as abordagens e aprofundem
as questões, tanto ambientais quanto culturais, não totalmente discutidas neste trabalho.
Observando-se o uso do solo urbano, cerca de cinqüenta por cento do espaço da
cidade é de uso residencial o que consolida o papel da habitação como referencial mais
importante do ambiente construído urbano. Segundo Lílian Vaz, são formas arquitetônicas
vulgares e vernaculares que interferem na prática social, guardam significados para a
população e participam das formações das identidades e da memória individual e coletiva.1
A residência familiar quer esteja em edificação isolada ou em edificação coletiva,
interfere diretamente no comportamento social, no pensamento comunitário, no humor e
nas reações dos usuários. Estudos sobre as relações entre ambiente construído e
comportamento demonstram como o espaço de moradia afeta o comportamento humano.
Dentre esses estudos, podemos citar o trabalho realizado por Francisco Veríssimo e
William Bittar, que elaboraram extensiva análise sobre a evolução histórica da casa
brasileira.2
Comparados com os estudos existentes nas áreas de saúde pública, medicina,
antropologia e psicologia, as análises desenvolvidas por arquitetos sobre a qualidade de
vida em ambientes residenciais ainda são poucas. Nesse sentido, a pesquisa que embasou
esta dissertação busca contribuir para o campo de estudo sobre habitação, de classe média
e média alta, sob o viés arquitetônico e urbanístico.
As alterações observadas nos tipos arquitetônicos de habitações residenciais
multifamiliares, ao longo do século XX, fazem parte de um fenômeno urbano que, de certa
maneira, repetiu-se pelas capitais dos outros estados brasileiros. Coube à cidade do Rio de
Janeiro, como capital da Federação e centro cultural do país, ditar tendências que foram
naturalmente reproduzidas em outras capitais do Brasil, como São Paulo, Belo Horizonte,
Recife, Salvador e Porto Alegre.
1 VAZ, Lílian F. “Moradia e Modernidade – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro” Rio de Janeiro: 7 letras, 2002:17. 2 VERÍSSIMO, Francisco & BITTAR, William. “500 anos da Casa no Brasil” Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.
6
Para entendermos a evolução do conceito de moradia multifamiliar, elaboramos um
estudo arquitetônico dos tipos de habitação no Rio de Janeiro, característicos das faixas de
renda média e média alta da população, procurando identificar como a legislação
urbanística e o mercado imobiliário influenciaram as soluções em planta e volumetria
adotadas pelos arquitetos.
O foco da pesquisa será o estudo das transformações ocorridas nos programas
projetuais das unidades residenciais das edificações multifamiliares, através da análise das
soluções das plantas baixas e volumetria, identificando os momentos de modificação das
mesmas.
Ao estudar a evolução das normas de edificações, situaremos os momentos de
rupturas provocados pela legislação, observando o seu reflexo nos programas e projetos
arquitetônicos.
Para efeito de análise prática, foi escolhido como recorte espacial o bairro de
Botafogo, situado na zona sul da cidade e, neste selecionamos sete exemplos dos tipos
analisados, detalhados através de levantamentos locais.
A escolha de Botafogo justifica-se devido ao perfil social, pois concentra camadas
de renda média e média alta da população. Foi escolhido também pela sua evolução
histórica, que acompanhou o nascimento e o crescimento da cidade, apresentando, em seu
território, exemplos significativos dos diversos tipos de residências multifamiliares
identificados, reproduzindo a nível local, as transformações no perfil residencial ocorridos
na cidade.
Por se tratar de um bairro residencial tradicional e antigo dentro da história do Rio
de Janeiro, o encontramos, em pleno século XX, em suas ruas, prédios residenciais
multifamiliares, antigos palacetes e vilas de casas geminadas. Encontramos tipos de
edifícios de apartamentos de vários períodos do século XX: com aproveitamento do
pavimento térreo para lojas, para unidades habitacionais e para pilotis; alinhados às divisas
laterais ou em centro de terreno, traduzindo aspirações do movimento moderno; com
poucos pavimentos em construções mais horizontais ou em lâminas com taxas de ocupação
no solo diminutas; com jardins frontais ou em edificações sobre o alinhamento.
7
Atualmente, observa-se em Botafogo, uma grande quantidade de lançamentos
imobiliários, ilustrando a escolha do mercado imobiliário por essa localização,
promovendo soluções consagradas em outros bairros, mas adaptadas às condições locais.
É o caso dos lançamentos onde se destacam à moda da Barra da Tijuca, as áreas de
lazer e ajardinamento com alto nível de sofisticação.
fig. 6 - Folder do lançamento do Edifício Palazzo di Lucena situado na Rua Barão de Lucena, 107(2003)
Planta do Pavimento de Uso Comum com salão de festas, piscina, sauna e área de recreação infantil.
fig. 7 - Observa-se nos dois momentos com 100 anos de intervalo,
o adensamento do bairro com construções de grande porte.
8
Métodos de Pesquisa
Usando como referência o extensivo trabalho elaborado por Linda Groat e David
Wang, podemos situar o campo de pesquisa em arquitetura dentro das denominadas teorias
normativas das ciências sociais, que diferem das ciências físicas e naturais por se referirem
a conceitos extraídos das práticas consensuais, relacionadas para o assunto em questão, à
construção do espaço residencial.3
Com base na trajetória profissional calcada na prática com projetos de edificação
multifamiliar, e pelo interesse nos resultados da pesquisa, foi utilizada, como método, uma
estratégia qualitativa, que combina a visão histórica à experimentação, baseando-se na
análise da evolução do programa arquitetônico da edificação multifamiliar; na
identificação teórica de tipos referenciais arquitetônicos recorrentes de edificação
multifamiliares; na exemplificação dos mesmos em recorte espacial específico.
Em primeiro lugar, para fundamentação teórica da pesquisa, estudou-se a evolução
histórica dos tipos de habitação multifamiliar, que se originaram a partir dos modelos de
habitação coletiva, surgidos no século XIX. Foram observadas as alterações do modo de
vida da família, em função da introdução de novos hábitos domésticos e da modificação do
papel da mulher na sociedade brasileira, retratando-se em modificações do espaço
residencial.4
Na identificação dos tipos, a pesquisa se ateve, principalmente, aos aspectos
arquitetônicos e urbanísticos dos projetos das edificações residenciais multifamiliares,
observando as diversas soluções desenvolvidas ao longo do período selecionado.
Na verdade, todas essas questões se entrelaçam, sendo, ao mesmo tempo, causa e
conseqüência dos aspectos estudados. Talvez o exemplo mais forte destas relações causais
seja a mudança do papel da mulher nos espaços das moradias brasileiras ao longo do
século XX, evoluindo de uma subalternidade aparente, presente apenas na parte íntima da
casa, para ocupar todos os cômodos, inclusive, e, sobretudo, os sociais. A partir da segunda
metade desse século, quando a mulher passa a buscar o mercado de trabalho externo, sem
3 GROAT, Linda & WANG, David. “Architectural Research Methods” Nova Yorque: John Wiley & Sons Inc, 2002. 4 “A chegada do Brasil da televisão, em 1950, foi responsável por fundamentais alterações na vida íntima das famílias, com óbvios reflexos na organização espacial, situação que o rádio foi incapaz de efetuar, pois podia ser ouvido em qualquer lugar. A televisão, ao contrário, pedia acomodações apropriadas para assisti-la, pois fixa o espectador num determinado lugar e por muito tempo, sendo responsável também por enormes mudanças no mobiliário.” LEMOS, Carlos. “A Casa Brasileira”. SP: Contexto, 1996:72.
9
abdicar de todas as atribuições dentro de casa, novas modificações foram introduzidas no
espaço residencial.
Em função de todo o processo social, os ambientes domésticos alteraram-se no
programa, no posicionamento, nas dimensões e importância, conformando os novos
espaços projetados.
Em paralelo às transformações sociais, os tipos arquitetônicos foram resultantes
também das modificações na legislação edilícia e na influência do mercado imobiliário.
Estes três agentes (programa-legislação-mercado) agem, reagem e interagem em
torno do foco central que é a necessidade básica de morar, buscando atender aos anseios da
família quanto à sua instalação satisfatória, às posturas legais quanto à implantação urbana,
e às exigências financeiras quanto à possibilidade de retorno do capital empregado.
Carlos Lemos afirma que “a evolução de nosso apartamento tem como base a
manipulação dos seus variados programas de necessidades pelos seus promotores, ou
incorporadores, que se regem mais pelas leis do mercado imobiliário do que pelos usos,
costumes e anseios próprios de um determinado quadro cultural”. 5 Veremos, porém, que
essas mesmas leis que regem o mercado imobiliário são ditadas pelo mercado comprador,
ao rejeitar ou aprovar o produto que lhe é oferecido, determinando o sucesso ou não do
empreendimento.
Na pesquisa, definimos o campo de análise teórica, resultante dos processos
históricos acima, em dez tipos referenciais:
1) o pequeno edifício ou “casa de apartamentos”,
2) o edifício-chácara ou edifício-parque,
3) o edifício moderno sobre pilotis,
4) o edifício alinhado às divisas laterais ou “edifícios-corredor”,
5) o “edifício-torre”, recuado,sobre pilotis,
6) o “edifício-torre” isolado, sobre pilotis,
7) a torre laminar sobre embasamento,
8) a torre laminar em lotes condominiais ou super-quadras,
9) o edifício alinhado às dividas laterais, sobre embasamento,
10) o edifício afastado das divisas com áreas de lazer. 5 LEMOS, Carlos. “A Casa Brasileira”. São Paulo: Contexto, 1996:77.
10
Esses tipos retratam as principais modificações quanto a programa e projeto,
legislação e comercialização, registrados no século XX, tendo consolidado as condições
de equilíbrio entre os três principais agentes – o programa, a legislação e o mercado
imobiliário – incorporando transformações importantes à época de sua construção.
A parte experimental da pesquisa baseou-se em estudar os tipos referenciais, no
bairro de Botafogo, buscando no campo exemplos significativos.
Como parte final da pesquisa, identificamos sete exemplares, ilustrando a evolução
dos tipos arquitetônicos residenciais e sua relação com as respectivas legislações que os
regeram nas determinadas épocas de construção:
ed. Barão de Lucena, situado na Rua São Clemente, 158,
ed. Carajás, situado à Rua Voluntários da Pátria, 139,
ed. Julio de Barros Barreto, situado à Rua Fernando Ferrari, 61,
ed. Marechal Deodoro da Fonseca, situado à Rua Dona Mariana, 53,
ed. Mansão Rodrigo de Freitas, situado à Rua Desembargador Burle, 73,
ed. Plaza Etoile, situado à Rua São Clemente, 117,
ed. Golden Garden, situado à Rua Eduardo Guinle, 55.
Como técnica de pesquisa, decorrente das estratégias selecionadas, utilizamos para
a construção histórica dos tipos referenciais, levantamentos indiretos através da obtenção
de dados e documentos técnicos relativos à história da habitação, às edificações
selecionadas (plantas baixas, cortes, fachadas), à legislação incidente no período e ao
material de divulgação realizado pelo mercado imobiliário. Foram pesquisados arquivos,
tais como: Departamento de Edificações, Arquivo Geral do Município, jornais, arquivos de
Construtoras, empresas públicas, escritórios de publicidade, folders e demais materiais
publicitários.
Para a parte experimental, foram realizadas pesquisas diretas, através de visita aos
espaços selecionados, para levantamentos e fotos; entrevista com moradores e autores dos
projetos, e com os empreendedores imobiliários, além de consulta aos órgãos públicos.
11
Apresentação da Dissertação
A dissertação compõe-se de cinco partes compreendendo quatro capítulos de
desenvolvimento e conclusão.
No capítulo 1, desenvolvemos a Fundamentação Teórica e Histórica, a partir da
definição de conceitos, termos referenciais e categorias de análise. A partir do estudo do
programa projetual, foram observadas as alterações dos espaços da habitação decorrentes
das mudanças sociais levando em conta novas formas de viver, o desenvolvimento
tecnológico das técnicas construtivas e a simplificação das tarefas domésticas derivadas do
desenvolvimento da maquinaria eletro-eletrônica. A análise do programa projetual buscou
esclarecer a disposição desses espaços, observando suas modificações ao longo do tempo.
Ainda nesse capítulo, desenvolvemos o estudo da legislação urbanística, sua
relação com a história da cidade, destacando os principais momentos de transformação.
Foi enfocada a ação do governo sobre as deliberações construtivas particulares,
através do desenvolvimento das posturas municipais no Rio de Janeiro, desde os diversos
planos urbanísticos, como o Plano Agache, o Plano Doxiadis e o Plano Urbanístico Básico
(PUB-RIO), até os atuais Planos de Estruturação Urbana (PEUs).
O capítulo 2 é dedicado à análise do Bairro de Botafogo, recorte espacial para
exemplificação do estudo tipológico realizado no capítulo 3. Foram feitos os estudos da
evolução histórica e da expansão residencial no século XX e o desenvolvimento da
legislação pertinente ao bairro.
O capítulo 3 é dedicado à análise dos tipos arquitetônicos, levantando aspectos
conceituais acerca do assunto. Foram definidos os tipos arquitetônicos das edificações
multifamiliares encontrados na cidade do Rio de Janeiro, exemplificando-os e
apresentando um quadro-síntese, tendo em vista seus precedentes históricos, legais e
projetuais.
O capítulo 4 é dedicado ao estudo de sete exemplos selecionados em Botafogo,
como forma de ilustrar a definição dos conceitos, o desdobramento histórico e
principalmente a evolução dos tipos arquitetônicos e da moradia multifamiliar ao longo do
século XX.
12
Na Conclusão, realizamos a síntese das análises, comparando os exemplos
estudados e indicando as primeiras conclusões sobre as transformações da habitação
multifamiliar de renda média e média alta durante o século XX.
13
1.1 – Definição do campo teórico
Ao longo do tempo, as habitações se modificaram, principalmente, porque as
necessidades dos moradores também se alteraram. Além do local primitivo para repouso, a
moradia passou a ser local onde também se fazem as refeições e a higiene pessoal, onde se
convive em ambiente doméstico e onde se recebem amigos, criando nova espacialidade e
especificação de usos.
Da edificação isolada, construída para abrigar um único núcleo familiar, as
moradias foram agrupadas em comunidades e aldeias, passando a obedecer parâmetros
específicos de loteamentos, arruamentos e ordenações.
Com o crescimento da população e da vida em sociedade organizada, as residências
sofreram transformações impostas pelas necessidades acarretadas por este modo de viver,
que, se, por um lado, resolviam muitas situações de sobrevivência, por outro limitavam os
espaços e tiravam a privacidade das famílias.
A limitada disponibilidade de moradias e a crescente valorização do lote urbano
ocasionaram a produção das habitações coletivas, no caso do Rio de Janeiro, a partir do
século XIX, em oposição à moradia isolada em lote urbano, pertencente a um só
proprietário.
Com a virada do século XX e a reforma urbana que se implantou na cidade, a
indústria da construção civil emergente recebeu um impulso notável. A necessidade
premente de moradia, as novas técnicas e materiais de construção e a crescente valorização
dos lotes urbanos, principalmente aqueles próximos ao centro da cidade, impulsionavam ao
maior aproveitamento do lote, fazendo com que o setor imobiliário buscasse maior
valorização da terra urbana, levando à solução de multiplicar a ocupação do lote, através de
pavimentos superpostos – a “casa de apartamentos”. Representava um modelo a ser
desenvolvido e reproduzido por toda a cidade. Modelo que os incorporadores buscavam
cada vez mais valorizar, desvinculando-o de sua condição de habitação coletiva e
aproximando-o das vantagens das casas isoladas, com o atrativo de aliar gabarito elevado à
ascendência social do proprietário.6
6 VAZ. Lílian F. “Moradia e Modernidade – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro” Rio de Janeiro: 7 letras, 2002:68.
14
Apesar dos primeiros discursos sobre a “casa de apartamentos” ter surgido na
esteira de uma promessa de solução para a crise de habitação, com possibilidade de
moradia para muitos, tal promessa não se concretizou, pelo menos, no princípio.
O apartamento se tornou a habitação preferida da elite social e comprova isto o fato
de a construção da primeira “casa de apartamentos” da cidade ter sido o Edifício Lafont,
construção luxuosa situada na Avenida Rio Branco, na esquina com a Rua Santa Luzia, na
década de 1910.
fig. 8 – Palacete Lafont (década de 1910)
Até a definição deste modelo, que se difundiu por toda a cidade do Rio de Janeiro,
um longo caminho foi percorrido, no qual diversas denominações corresponderam a
diferentes formas arquitetônicas e conteúdos ideológicos distintos – estalagens, casas de
cômodos, avenidas e até mesmo, cortiços.
De certa forma, tantos nomes e tantos tipos geraram uma indefinição no modelo
que hoje é assimilado perfeitamente. Mas nem sempre foi assim, principalmente durante o
período 1925/1933, em que “o objeto material estava progressivamente se definindo e
paralelamente estabelecendo sua denominação definitiva”7. Variava, sobretudo, entre
“casa de apartamentos”, “prédio de apartamentos” e “arranha-céu”. Até a década de
1930, o termo edifício era restrito exclusivamente aos prédios de escritório.
7 VAZ. Lílian F. “Moradia e Modernidade – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro” Rio de Janeiro: 7 letras, 2002:68.
15
O termo contemporâneo - edificação multifamiliar - é utilizado principalmente
como referência aos edifícios de apartamentos, e é assim referido na Legislação Municipal
(glossário da Lei nº 1.574/67).
No fim da década de 1930, a tipologia canônica da edificação residencial
multifamiliar foi enfim definida, integrada à estrutura da quadra colonial portuguesa8.
Podemos definir a edificação multifamiliar como um conjunto de unidades residenciais
privadas, dotadas de compartimentos habitáveis (sala e/ou quarto), um compartimento
destinado ao cozimento dos alimentos (cozinha) e um compartimento destinado à higiene
pessoal (banheiro), interligadas por uma circulação comum horizontal, que caracteriza um
pavimento. Os pavimentos se interligam por, obrigatoriamente, uma circulação vertical
(escadas, certamente, e elevadores, possivelmente), podendo apresentar serviços coletivos
nos pavimentos e nos acessos.
Este é o modelo habitacional da edificação residencial multifamiliar a que vamos
nos deter ao longo de toda a dissertação e de onde se derivam os tipos enfocados.
Modelo que, conforme já descrito, foi aceito e multiplicado em todas as cidades do
mundo, e que compõe, em determinadas áreas do Rio de Janeiro, a maior parcela do
ambiente edificado, incorporando, como descreve Lemos, avanços técnicos, prescrições
higienistas, ideologias reformadoras sociais e demandas sóciopolíticas.
O próprio apartamento moderno está em progressivo desenvolvimento,
adequando-se às exigências das últimas gerações. Lemos nos alerta que o apartamento
atual não é a casa isolada que necessita da criadagem para funcionar, mas que ainda não
chega a ser a unidade habitacional feita e agenciada, onde a família pode viver sem
depender de ajuda doméstica remunerada. Os jardins privativos e os quintais que
requeriam cuidados demorados desapareceram com o advento dos apartamentos, sendo
substituídos pelas “áreas de lazer” condominiais.
Os cômodos internos tiveram simplificado os seus materiais de acabamentos e se
tornaram menores, diminuindo o esforço para a limpeza. O que perdura fortemente é a
necessidade da resolução do problema alimentar dentro do lar, que requer ainda a presença
da auxiliar doméstica que, por sua vez, acarreta em si a necessidade de se prever, no
programa projetual das unidades residenciais, as dependências próprias para a sua 8 Quadra colonial portuguesa típica é aquela definida por agrupamentos de lotes possuidores de pequena testada e grande profundidade.
16
instalação. A extinção definitiva das dependências de empregados dentro dos apartamentos
depende basicamente da lenta mudança de hábitos e costumes, aliada a fabricação e
divulgação dos equipamentos modernos facilitadores da vida cotidiana, no ramo da
alimentação.9
Como programa podemos incluir a definição de todos os atos e expectativas do
destinatário em relação à residência a ser construída, enumerando as dependências físicas e
as atividades domésticas que nelas poderão ocorrer, que são inúmeras. Sua quantidade
sempre foi variável no tempo e no espaço, mas, hoje em dia, muitas ações deixaram de ser
exercidas no lar devido ao modo de produção industrial. Nesse campo de definição
programática, também são fundamentais as modificações sociais, que, no caso da moradia
brasileira, relacionaram-se com a modificação do papel da mulher na sociedade, na casa e
no trabalho. O avanço tecnológico e a participação feminina no mercado de trabalho foram
eliminando dependências e modificando os componentes dos programas de necessidades,
e, em nome da funcionalidade e privacidade dos cômodos, criando outros componentes
como as circulações e os vestíbulos.
O programa dá origem ao projeto arquitetônico, que traduz as necessidades do
morador, definindo espaços e funções. A definição das funções de uma unidade residencial
é complexa e individual para cada família, podendo ser estabelecida no projeto de uma
residência unifamiliar, porém, para o atendimento em uma edificação multifamiliar a
definição se resume em espaços projetados dentro de padrões usuais e funções genéricas.
Parte-se, então, para definições por setorização das funções que são comuns em
qualquer unidade residencial, independente da condição social. São os setores social
(ambientes destinados ao contato com o exterior), íntimo (ambientes destinados ao uso da
família) e de serviço (ambientes destinados às atividades domésticas), que geralmente são
interligados por circulações ou halls de distribuição. Estes setores são encontrados em
qualquer unidade residencial, mesmo que superpostamente.10
Em paralelo ao programa, para a confecção do projeto arquitetônico de uma
edificação multifamiliar na cidade do Rio de Janeiro, é imprescindível a consulta à
legislação municipal que rege as condições das edificações. Através de leis e decretos, a
9 LEMOS, Carlos. “Cozinhas, etc. Estudo sobre as zonas de serviço.” São Paulo: Ed. Perspectiva, 1978. 10 A superposição desses setores serão estudados no sub-capítulo 1.2.2 - “Transformações das plantas baixas” - desta Dissertação.
17
legislação enquadra as residências multifamiliares nos padrões aceitáveis pela sociedade. A
legislação urbanística define usos, atividades e a volumetria das edificações.
A regulamentação das normas urbanísticas que regem a volumetria das edificações
(gabarito e taxa de ocupação), no caso da cidade do Rio de Janeiro, relaciona-se de uma
forma característica com a estrutura urbana existente, sendo produto da originária malha
urbana portuguesa, que determinava lotes com pequena testada e grande profundidade.
Este fato deu origem a que as edificações multifamiliares repetissem os esquemas de
implantação das residências, alinhando-as às divisas laterais e definindo o logradouro pelo
alinhamento dos edifícios.
Com as influências advindas do Movimento Moderno na arquitetura carioca, as
novas áreas urbanizadas na cidade, principalmente na Baixada da Barra da Tijuca e
Jacarepaguá, passaram a obedecer a novas posturas de loteamentos. A possibilidade de se
construir em terrenos livres, fora da quadra compactada pela rua-corredor, permitiu a
execução de experiências inovadoras, tanto em termos de articulação volumétrica de
blocos quanto na caracterização formal do conjunto. “Os padrões da Arquitetura urbana
tem variado, portanto, no Brasil, em função de seu relacionamento com a estrutura
urbana.”11
É imprescindível, também, consulta à legislação edilícia que rege as condições
internas da unidade residencial, como vãos de iluminação e ventilação, áreas mínimas dos
compartimentos, pés-direitos, etc, promovendo mudanças nos interiores das edificações,
acompanhando os novos modos de viver e morar. Como exemplo, vamos ver como o poder
público direcionou a altura dos “pés-direitos”das habitações, estabelecendo medidas
mínimas, que, em 1838 eram de 4,40m, aumentando, em 1878, a 4,70m e para 5,00m em
1892; para, em 1903 descer a 4,00m e, em 1917, continuar descendo para 3,00m e, hoje,
encontramos pés-direitos dos compartimentos habitáveis estabelecidos em 2,50m.12
Compreendemos que as alturas praticadas no século XIX eram necessárias para melhorar
as condições de ventilação dos compartimentos iluminados à luz de velas, que emitiam
gases e fumaça que subiam e saíam pelo telhado, através das frestas bordadas localizadas
no rodateto, e que, com o advento da luz elétrica, deixou de existir. Por outro lado,
consideramos que as alturas praticadas atualmente (pé-direito de 2,20m para cozinhas e 11 REIS FILHO, Nestor G. “Quadro da Arquitetura no Brasil.” São Paulo: Ed. Perspectiva, 1973:106 12 SANTOS, Paulo F. “Quatro Séculos de Arquitetura na Cidade do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Ed. IAB, 1981:78.
18
banheiros) não contribuem para a ventilação ideal dos compartimentos, dada à temperatura
normalmente elevada da cidade do Rio de Janeiro.
Completando o quadro que envolve a produção de edificação residencial
multifamiliar, é preciso verificar a visão do mercado imobiliário como o setor
empreendedor que lança e direciona o produto que será absorvido pelos usuários finais – os
moradores.
A atuação do empreendedor data do início do século, quando surgiu para atender à
demanda das habitações ditas higiênicas para o operariado contratado pelas fábricas. Mais
tarde, o empreendedor se direcionou para a promoção de habitações coletivas para fins de
aluguel, prática que, com a Lei do Inquilinato em 1942, foi inibida, dando lugar ao
crescimento do mercado imobiliário. A força produtiva deste segmento econômico
pressiona as autoridades municipais para abertura de ruas, viadutos, túneis e pontes
valorizando novas áreas a urbanizar e a edificar.
Mostrando sua força, este setor conseguiu segregar, ao longo dessas décadas, com a
ajuda do poder público, as classes de renda mais baixa para além dos limites da zona sul e
central cariocas, procurando manter padrões construtivos mais valorizados na faixa
litorânea, alcançando lucros nos empreendimentos.
Enfocando o objeto de estudo, temos então uma trama de relações, resultante de
várias determinações, como: a econômica, a física, a técnica, a cultural, a legal, que, ao se
entrecruzarem, tornam-se realidade física e urbanística, consolidada nas edificações:
- Determinante urbanística – relação com o bairro em que se localiza o
empreendimento.
- Determinante econômica – relação com o capital que o incorporador dispõe para
viabilidade do negócio, realização através de empréstimos, financiamentos ou recursos
próprios.
- Determinante cultural – relação com o programa projetual apresentado em
consonância com o tipo de apartamento almejado pelos compradores.
- Determinante física – relação com as condições do lote, sua topografia, suas
dimensões e configuração.
19
- Determinante legal – relação com as legislações urbanas e edilícias vigentes no
período e que afetam a localidade (bairro) em estudo.
- Determinante técnica – relação com método de construção empregado devido à
acessibilidade do terreno, configurações geológicas, infra-estrutura existente.
Essas determinações são variáveis no tempo, de acordo com o próprio negócio, com
a localização do imóvel e outros fatores sociais, que, juntos, definem o aproveitamento
eficiente do imóvel, adequado ao local, aos compradores em potencial e às posturas legais.
20
1.1.1 – Glossário
- Apartamento –
Partição de um edifício ou conjunto de cômodos que constituem uma residência
particular.
- “Avenida” –
Pode ser considerada como estalagens higienizadas, normatizadas por posturas
municipais. Casas enfileiradas, lado a lado, dentro do terreno, compostas de sala, quarto,
cozinha e, no fundo, de sanitários. (Gobbo:59)
- Casa de Apartamentos –
Edificação coletiva destinada ao uso individual de várias famílias, porém composta
de unidades habitacionais de tamanho e número de compartimentos diversos. (Vaz:154)
- Casa de Cômodos –
Edificação destinada a acomodar um núcleo familiar em cada um de seus cômodos.
- Cortiços –
Habitação coletiva composta de casas minúsculas enfileiradas de um ou dos dois
lados dos quintais, formando um pátio ou corredor de acesso, dotadas de instalações
sanitárias coletivas. (Vaz:28)
- Edificação Isolada no lote –
Edificação única afastada das divisas do lote.
- Edificação Multifamiliar –
Edificação destinada ou adequada ao uso residencial por várias famílias.
- Edificação Unifamiliar –
Edificação destinada ou adequada ao uso residencial por apenas uma família.
21
- Estalagens –
O mesmo que Cortiço.
- Gabarito –
Dimensão regulamentar permitida ou fixada para uma edificação, referente à sua
altura máxima, dimensionada a partir do solo.
- Habitações Coletivas –
Padrão residencial destinado ao uso de várias famílias em subdivisões individuais.
- Legislação –
Conjunto de leis e decretos que regem as condições de construção das edificações.
- Legislação Edilícia –
Define parâmetros para as condições de habitabilidade das edificações.
- Legislação Urbanística –
Define usos, atividades e a volumetria das edificações.
- Modelo –
Referência para reprodução de tipos arquitetônicos.
- Pé-Direito –
Altura entre o piso (assoalho) e o teto (mesmo rebaixado) de um compartimento.
- Programa Projetual –
Listagem das necessidades básicas a que o projeto arquitetônico se propõe a
atender.
- Residência Unifamiliar –
Edificação residencial construída para abrigar um único núcleo familiar.
22
- Setor Íntimo –
Conjunto de ambientes, dentro da unidade residencial, destinados ao uso da família.
- Setor de Serviço –
Conjunto de ambientes, dentro da unidade residencial, destinados às atividades
domésticas.
- Setor Social –
Conjunto de ambientes, dentro da unidade residencial, destinados ao contato com
elementos externos.
- Taxa de Ocupação –
Dimensão regulamentar permitida ou fixada para uma edificação, referente ao
percentual máximo de terreno a ser ocupado pela projeção desta.
- Volumetria –
Dimensão da edificação determinada pela altura e pela implantação no solo.
23
1.2 - Evolução do programa de habitação multifamiliar
1.2.1 - Da moradia coletiva à edificação multifamiliar
O recorte temporal para a análise das transformações dos espaços de moradia e dos
projetos arquitetônicos das edificações multifamiliares é o século XX. A pesquisa engloba
o estudo de exemplares de tipos arquitetônicos referenciais no Rio de Janeiro, nesse
período. Porém, para desvendar as razões das diversas soluções de projetos verificadas, é
necessário nos afastarmos no tempo e analisarmos as soluções encontradas para moradia
coletiva, no seu enfoque histórico.
Veríssimo e Bittar, no livro “500 anos da Casa no Brasil”, afirmam que “o espaço
geométrico cria vida com a integração entre o homem e a casa”, nos passando
perfeitamente a idéia de que este espaço de morar e de viver não é um espaço estanque e
estático. Evoluiu e se modificou pelo passar do tempo exatamente porque o homem
evoluiu e se modificou. “A casa é o espelho da família.” Sendo assim, estudar a evolução
do espaço de moradia é estudar e acompanhar a evolução do viver, as transformações pelas
quais a família brasileira passou e continua a passar.13
Esta lenta e gradual mudança de hábitos e costumes, aliada a outros fatores, como o
aumento da população urbana, fez com que o homem buscasse novas formas de moradia e
de viver. A valorização do lote urbano, junto com o aumento da necessidade de locais de
moradia fizeram com que o Rio de Janeiro sofresse, a partir da década de 1920, um intenso
processo de verticalização das residências, inicialmente para as classes de alta renda,
difundindo-se mais tarde pela classe média.
fig. 9 - “Ao final da década de 1920, os arranha-céus do bairro Serrador (atual Cinelândia) já estavam construídos.”
13 VERÍSSIMO, Francisco & BITTAR, William. “500 anos da Casa no Brasil.” Rio de Janeiro: Ediouro, 1999:21.
24
A verticalidade do edifício diluía melhor o custo da terra no preço total da moradia,
introduzindo novos modos e formas de morar, além de novo estilo de vida. E o Rio de
Janeiro inegavelmente exerceu influência ideológica sobre as outras capitais brasileiras,
principalmente as litorâneas. Villaça salienta que a verticalização residencial é mais
acentuada nas metrópoles e cidades oceânicas do que nas interiores.14
A partir desta verticalização, quando os limites da habitação residencial privada
foram definidos de forma drástica, as alterações no modo de viver, traduzidas no modo de
morar, se deram a partir da evolução comportamental da família. Externamente, o edifício
pouco traduziu as efervescentes modificações sofridas pela família ao longo do século XX.
As alterações se deram no espaço interno dos apartamentos, nas divisões dos ambientes,
nos usos dos compartimentos, que passaram a refletir as necessidades mutantes de seus
usuários, e nas inovações tecnológicas trazidas pela industrialização.
fig. 10 - Três opções de utilização do espaço, em uma mesma planta, verificadas em empreendimento imobiliário atual:
Quarto de empregada; quarto de vestir; quarto reversível.
14 VILLAÇA, Flávio. “ Espaço Intra-urbano no Brasil.” São Paulo: Studio Nobel, 1998:185.
25
A conquista do gabarito elevado e o alcance visual da paisagem foram fatores que
logo se vincularam ao sucesso social e financeiro dos ocupantes das unidades residenciais
localizadas nos pavimentos superiores das edificações. Desde então os apartamentos mais
valorizados foram destinados aos andares mais altos, sendo, inclusive, comum no início da
aparição deste modelo arquitetônico, a edificação possuir plantas baixas diferenciadas por
pavimento, situando as unidades menores nos andares inferiores. Este processo foi inverso
ao sucedido em Paris, conforme descreve Marcelo Tramontano, quanto aos princípios de
ocupação nos diversos pavimentos das edificações residenciais: “quanto mais pobre se é,
mais alto se mora”, sendo reservado o térreo para o proprietário do edifício, com acesso a
quintais e pátios internos, sendo notórias as mansardas infectas da capital francesa.15
Para a consolidação deste modelo arquitetônico no Brasil, porém, foi necessária
uma verdadeira doutrinação do futuro usuário por parte dos agentes imobiliários, pois a
proposta de morar em uma edificação de diversos pavimentos com algumas unidades
privativas por andar foi rejeitada a princípio. Esta nova proposta ameaçava costumes
altamente arraigados que remontavam aos tempos coloniais. Por isso, seus projetos iniciais
tinham que conter em si a idéia de conforto, espaço e, sobretudo, de ausência de
promiscuidades que pudessem sugerir alguma ligação com as habitações coletivas
insalubres.
Quase todos os prédios de apartamentos construídos nas primeiras décadas do
século XX, eram destinados ao aluguel de suas unidades e traziam em si o desejo de
agradar indistintamente à clientela com soluções de aceitação geral. Compartimentos
amplos e cômodos e circulações definidas como a social e a de serviço faziam parte desta
política de agrado coletivo. Segundo Carlos Lemos, estas circulações separadas entre
patrões e empregados fizeram com que o Brasil se tornasse o primeiro e único país a
possuir esta medida segregadora em seu programa projetual.16
A resistência de aceitação pode também ser explicada, de acordo com Tramontano,
pelo fato dessas unidades apresentarem num cômodo único, as salas de estar, de visitas e
de jantar, e de refletirem a proximidade da cozinha e da área de serviço, consideradas
“áreas de completa desvalorização social”.17
15 TRAMONTANO, M. “Novos Modos de Vida, Novos Espaços de Morar.” São Paulo: FAU/USP, 1998:65. 16 LEMOS, Carlos. “A Casa Brasileira.” São Paulo: Contexto, 1996:79. 17 TRAMONTANO, M. op. cit. : 267.
26
O crescimento demográfico, que se verificou na cidade do Rio de Janeiro, no início
do século XX, foi provocado pelo grande número de trabalhadores livres atraídos para a
cidade em busca de novas oportunidades de trabalho, e pelo progressivo aumento da classe
média, devido ao crescimento econômico da cidade e à criação de novos cargos públicos,
próprios da Capital Federal. Esse processo deu origem a uma questão que se tornou
imperativa: a questão habitacional. 18
O número de pessoas atraídas pela boa remuneração não acompanhou o número de
casas para morar. Pequenos funcionários públicos, comerciantes, profissionais liberais
procuravam moradia nos bairros próximos ao Centro, com uma infra-estrutura de serviços
e comércio adequada. Esses bairros, justamente pela proximidade aos pólos geradores de
empregos e pela alta procura para moradia, tiveram um impulso na valorização de seu solo,
elevando o custo das unidades residenciais e forçando a aceitação das moradias em
edifícios de apartamentos.
Os bairros da zona sul mais afastados do Centro do Rio tiveram uma procura
constante para moradia por parte das classes mais abastadas, atraídas pelas belezas naturais
destes bairros e pela ascendência social que advinham desses endereços. A distância do
local de trabalho foi diminuída pela melhoria, ampliação e construção de novas vias e
meios de transporte como o bonde.
Para conhecermos e entendermos a realidade urbana traduzida pelas habitações
residenciais será necessário conhecer o seu processo de formação e de transformação no
tempo.
O aparecimento do edifício de apartamentos sofreu rejeição inicial, pois ameaçava
costumes que remontavam aos tempos coloniais. Internamente, procurava-se repetir as
soluções de planta das residências isoladas com seus corredores, salas e saletas, tentando
reproduzir seus ambientes de origem. Como já foi citado, o primeiro edifício de
apartamentos da cidade do Rio de Janeiro foi o Edifício Lafont, datado da década de 1910,
já demolido, situado na esquina da Avenida Central com a Rua Santa Luzia, que era
18 Em 1920, o censo demográfico indicava que aproximadamente 60% da população do Rio de Janeiro, estava alocada nas atividades de serviço. ALBERNAZ, Maria Paula. “As Vilas: Uma Contribuição à História da Arquitetura Popular no Rio de Janeiro através do estudo do Espaço Urbano.” Rio de Janeiro: UFRJ/IPUR, 1985:114.
27
bastante luxuoso. Logo, vários outros surgiram nas imediações, originariamente
residenciais, na área conhecida como Cinelândia, conforme citado por Lílian Vaz.19
Nos primeiros apartamentos a organização espacial apresentava características
específicas, destacando-se a presença de quartos independentes, e unidades habitacionais
de tamanho e número de compartimentos diversos, de unidades habitacionais incompletas.
Não havia, em geral, uma planta-tipo, mas plantas diferentes para cada andar.
fig. 11- Prédio de apartamento localizado na Rua do Catete, de 1939.
A unidade habitacional está completa, porém ainda com um banheiro externo no hall da escada.
fig. 12 - Prédio de apartamento localizado na Rua Bento Lisboa.
Observa-se a preocupação higienista com a ventilação dos quartos em detrimento da sala, buscando erradicar as alcovas coloniais.
Nestes primórdios, a ação dos construtores imobiliários foi de grande importância
para a expansão deste novo modelo de moradia, pois investiram amplamente em unidades
para aluguel.
A implantação seguia praticamente a mesma forma dos séculos anteriores:
construção na testada do lote, ocupação de toda a largura do lote, com paredes laterais
cegas, vãos e aberturas na frente e nos fundos. E era muito comum misturarem funções
residenciais e comerciais na mesma edificação. Segundo Lílian Vaz, “procurando seguir
modelos e ideais a cada contexto e momento histórico diferente, a habitação coletiva
incorporou elementos ditados pela tradição, pela economia, pela busca da higiene, do 19 VAZ, Lílian F. “Moradia e Modernidade – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002:63.
28
conforto, da privacidade e da distinção. Finalmente, o edifício de apartamentos se tornou
completo, definiram-se seus espaços, sua organização interna, sua destinação, surgindo
então o padrão que se multiplicaria durante décadas e por toda a cidade”.20
O fato é que o surgimento deste novo modelo de moradia provocou uma série de
transformações na morfologia e na estrutura urbanas. O crescimento urbano vertical nas
áreas centrais foi imposto pela escassez e pelo alto custo dos terrenos, em função da
necessidade de centralização e concentração das atividades.
Este modelo de habitação representava um estilo de vida moderno e atraía as
famílias mais abastadas, que se dirigiram em direção à Zona Sul, com atuação direta dos
investidores da construção civil e dos transportes.
Alguns fatores explicam esta preferência como a valorização da natureza, a difusão
do automóvel, encurtando distâncias, e a ascensão social. E onde havia demanda, os
investidores corresponderam, oferecendo as mercadorias necessárias – no caso, até hoje, os
cobiçados apartamentos da Zona Sul.
Neste quadro, a força de grandes interesses e a falta de uma regulamentação oficial
ocasionaram a redução do tamanho dos apartamentos compostos de sala-e-quarto, banheiro
e quitinete, dano origem aos chamados conjugados, com trinta metros quadrados em
média.
Em 1942, com a Lei do Inquilinato, que congelava os valores dos aluguéis, as
imobiliárias passaram a vender as unidades residenciais, ao invés de alugá-las. Surgiram as
grandes construtoras que lançavam seus apartamentos perscrutando as necessidades do
mercado para supri-las.
No Rio de Janeiro, desde 1930, já estava definida a ocupação da Zona Sul pela
parcela mais favorecida da população. Intensificava-se a construção de edificações
residenciais ao longo da orla marítima. Segundo Villaça, as elites urbanas buscam novos
bairros, expandindo a ocupação de áreas residenciais, deixando outros para trás. Foi o que
ocorreu com os apartamentos de alto luxo localizados na Praia do Flamengo e Morro da
Viúva, no Flamengo, e em Copacabana. Nas décadas seguintes, o mesmo fenômeno
ocorreu nos bairros de Ipanema e Leblon, com a expansão no sentido da Barra da Tijuca.
20 VAZ, Lílian F. “Moradia e Modernidade – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002:116.
29
“Os atrativos do sítio natural juntamente com a condição de deslocamento são os
principais fatores que determinam a localização e a direção de crescimento das camadas de
mais alta renda.”21
Obedecendo as diretrizes ditadas pela legislação urbana, a altura das edificações se
sobrepõs a cada década originando a volumetria das torres e transformando a morfologia
dos bairros tradicionais da Zona Sul. Modificou-se a escala preexistente das construções,
como, por exemplo, no caso do edifício Marechal Deodoro da Fonseca, localizado em
Botafogo na Rua Dona Mariana, nº 53, datado de 1966, com vinte e seis pavimentos de
apartamentos, que contrasta com o entorno.
fig. 13 - Foto do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca.
Com as regiões central e sul ocupadas e com o aumento crescente da população, o
setor da construção civil impulsionou novas áreas de expansão, com a aprovação do Plano
Diretor da Baixada de Jacarepaguá e Barra da Tijuca, originalmente concebido por Lucio
Costa. A cidade expandiu-se horizontalmente nesta direção, descortinando um cenário de
grandes empreendimentos imobiliários residenciais e comerciais, sendo conhecida a
incidência de inúmeros condomínios fechados dotados de complexa infra-estrutura de
serviços. 21 VILLAÇA, Flávio. “Espaço Intra-urbano no Brasil.” São Paulo: Studio Nobel, 1998:188.
30
Segundo Fabiana Gobbo, são empreendimentos para a classe média e alta, atraídas
pela mesma estratégia comercial usada em Copacabana para um novo tipo de moradia e
mobilidade social.22
22 GOBBO, Fabiana G. R. “Tipologia Arquitetônica do Edifício de Apartamentos: Análise da Evolução, Tendências e Perspectivas na Cidade do Rio de Janeiro, no período de 1990 a 2001.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2001:93.
31
1.2.2 - Transformações das plantas baixas
A função “abrigo” pode ser destacada como a função básica da casa,
proporcionando várias possibilidades de proteção. É também o espaço permanente das
atividades condicionadas à cultura de seus moradores, ligadas aos hábitos e práticas sociais
que, ao longo de todo século XX, geraram modificações no modo de morar, com a
introdução, consolidação e disseminação das edificações multifamiliares. As mudanças
observadas foram basicamente em decorrência das alterações das necessidades e dos usos
dos compartimentos privativos projetados, que acompanharam as profundas
transformações na composição do grupo familiar e nas relações entre seus membros.
Veremos as mutações nos partidos, nos programas e nos critérios de superposição de zonas
e funções.
Como exemplo, temos as salas de jantar. Antes, nas casas eram perfeitamente
demarcadas com alvenarias e portas que definiam seu espaço e suas funções. Ao serem
transportadas para o apartamento sofreram cortes em suas dimensões, perderam a
imponência com a agitação da vida moderna e integraram-se ao espaço da sala de estar.
A modernização dos equipamentos de um modo geral simplificou as atividades
culinárias, acarretando não apenas a diminuição do ambiente de cozinha como também a
supressão da antiga copa, outro exemplo de mutação dentro do programa projetual das
unidades residenciais. Nos primeiros apartamentos era comum, por exemplo, a presença de
uma bancada seca com tampo de mármore para a feitura do pão caseiro, atividade
totalmente ultrapassada nos dias de hoje.
As dependências de empregados localizadas na parte de serviço dentro da unidade
residencial também sofreram deslocamento com a permissão de sua abertura para a parte
social ou íntima, possibilitando diversificar sua utilização, uma vez que o uso que a
denomina está cada vez mais obsoleto. Sua área, mesmo exígua, é cobiçada em algumas
famílias que agregam, sob o mesmo teto, enteadas e enteados, noras e genros, pais e
sogros, numa composição familiar complicada, mas comum nos dias atuais. Como resume
Elza Berquó, “a queda acentuada da fecundidade, o aumento da longevidade, a crescente
inserção da mulher no mercado de trabalho, a liberação sexual, a fragilidade cada vez
32
maior das uniões, o individualismo acentuado, etc. são tendências que vêm atuando no
sentido de alterar o tamanho, a estrutura e a função da família.”23
A partir das necessidades do grupo familiar, o arquiteto relaciona os espaços
definindo o programa da edificação, que reflete os atos e expectativas dos usuários, sem
concluir, de modo definitivo, as funções destes espaços. O estudo destas funções é
complexo e particular para cada grupo ou família, variando com costumes, nível social,
faixa etária etc.
Mas existem unidades funcionais que o programa projetual define e que usualmente
são os mesmos em qualquer situação social. São os espaços sociais, íntimos e de serviço
que constituem a moradia padrão da sociedade brasileira.
O setor social abrange os ambientes destinados ao contato com agentes externos,
fora do domínio familiar. São as salas de visitas, de jantar, varandas; alpendres e capelas
nas edificações residenciais antigas; vestíbulos e escritórios residenciais, nas edificações
atuais. O setor social alterou-se, com o passar dos anos, principalmente por um aspecto
determinante: a emancipação da mulher, iniciada, timidamente, na segunda metade do
século XIX, enfatizada nos primórdios do século seguinte, para comandar o ambiente
doméstico por todo século XX, sem previsão ou possibilidade de retrocesso destas
conquistas. As salas se abriram e os ambientes não são mais compartimentados, reunindo
num só espaço, área para estar e para refeições.
O setor íntimo inclui os ambientes destinados ao uso da vida familiar,
compreendendo quartos, circulações e banheiros. Este setor sofreu profundas
modificações, ao longo do tempo, nas suas dimensões e número de peças (por exemplo: os
banheiros), em função, principalmente, do desenvolvimento das instalações hidráulicas e
sanitárias, que retirou as tinas de banho do interior do quarto de dormir e, ao deslocá-la
para o banheiro, substituiu-a, aos poucos, pela banheira e pelo box do chuveiro.
O setor de serviço engloba os espaços destinados às atividades domésticas, como
cozinhas, copas, despensas e acomodações dos empregados. Este setor sofreu grandes
transformações com a diminuição da força de trabalho doméstico, em decorrência da
23 Berquó, E. A família no século XXI: um enfoque demográfico. In Revista Brasileira de Estudos da População. Vol. 6, nº 2, julho/dezembro 1989.
33
diminuição dos espaços internos para limpeza, do desenvolvimento dos equipamentos
elétricos, facilitadores da vida das donas-de-casa, e do custo efetivo desses trabalhadores.
Teoricamente, estes três setores constituiriam as células de qualquer edificação
residencial, porém o que se registra, na prática, é a superposição de funções num mesmo
espaço projetado. Numa casa de classe social baixa tolera-se, por exemplo, a superposição
social-serviço, onde, num mesmo espaço (a cozinha), a família pode usufruir momentos de
lazer, recebendo amigos, ou mesmo a superposição social-íntimo representada pela
presença do sofá-cama na sala de estar (esta superposição é tolerada e bastante difundida
pela classe média).
A marca da boa situação social é a casa com menor superposição possível de
funções, em que há uma dependência para cada atividade. Daí a relação extensa de
cômodos nos programas projetuais de residências (casas ou apartamentos) para a classe
social de alta renda. São muitas vezes pequenos espaços, que caracterizam funções, que
separam atividades e que diferenciam os moradores, tais como: rouparia, louçaria,
despensa, depósito, closets, quarto de passar roupa, quarto para motorista, quartos para
empregadas e área privativa ou Box localizado na área de garagem, em alguns casos.
fig. 14 - Planta baixa do Ed. Hicatú (Flamengo) Década de 1930.
Com setorização bem definida, observar a escada de serviço dentro da unidade.
(Setorização: parte social – cor rosada; parte íntima – cor azul e parte de serviço – cor amarelo)
34
fig. 15 - Planta baixa do apartamento do Golden Green (Royal Lãs Palmas) setorizado (2002)
Na casa operária há a superposição de quase todas as funções habitacionais. Se
lembrarmos do apartamento chamado conjugado, que é composto de um compartimento
habitável, um banheiro e uma quitinete, percebemos que os setores social e íntimo estão
totalmente superpostos num mesmo ambiente e que o setor de serviço sofre uma atrofia
quase que total.
fig.16 - Planta baixa de um conjugado típico setorizado (superposto).
35
Nos primeiros edifícios de apartamentos construídos para a classe social mais alta,
as unidades privativas, procurando repetir padrões da residência unifamiliar isolada no
terreno, continham em seu programa, espaços perfeitamente demarcados para cada setor,
não sendo previstas superposições.
fig. 17 - Planta baixa original do Edifício Capiberibe – 1937 (Flamengo)
O mesmo apartamento reformado décadas mais tarde, não criou superposição ao se
adequar às necessidades da família. Houve diminuição do setor de serviço para atender à
condição de ventilação direta de um dos quartos e remanejamento entre as áreas dos
banheiros para ser criada uma suíte para o casal.
fig. 18 - Planta baixa reformada do Edifício Capiberibe.
36
Ao nos deter nesta análise setorial, percebemos como a casa urbana brasileira segue
uma evolução marcante da casa tipo colonial, mantendo uma tradição intrínseca, um
sentido de permanência na setorização, endossando valores segregacionistas, apesar das
aparentes diferenças exteriores resultantes de transformações sociais ou ditames da moda.
Percebemos, ainda, a mesma tradição no pensar e construir nossa moradia, mesmo quando
a desenvolvemos em tipos atuais de edifícios de apartamentos.
Nos apartamentos do final do século XX, com a diminuição das áreas úteis dos
cômodos e com as mudanças ocorridas no núcleo familiar, que ditaram novas
necessidades, o fenômeno da superposição de setores surge com muita freqüência.
fig. 19 - Edifício Giovanni Gabrieli, localizado na Gávea - 2003.
Observa-se, no exemplo do Edifício Giovanna Gabrieli, que o banheiro localizado
perto da cozinha possui tripla função: pode situar-se no setor de serviço se o quarto
adjacente for utilizado como de empregada; pode estar no setor íntimo se servir ao quarto
adjacente utilizado por algum morador e pode ser parte integrante do setor social se for
utilizado como lavabo. Vale a pena observar também que a única peça integralmente
pertencente ao setor de serviço é a cozinha (com área de serviço integrada), e representa
aproximadamente 9% da área total do apartamento.
Mesmo em unidades residenciais de classe social alta, a superposição das funções
pode ser encontrada, como é o caso do Edifício Freguesia Special, abaixo ilustrado.
Mesmo possuindo áreas generosas e 4 quartos servidos por 3 banheiros (2 suites), existe a
possibilidade de reversão do quarto de empregada para a circulação íntima, e a dupla
função do banheiro social em lavabo.
37
fig. 20 - Ed. Freguesia Special em Jacarepaguá (lançado em 2003).
fig. 21 - Ed. Mirtle Beach na Barra da Tijuca (Golden Green) (1996)
Neste apartamento bastante amplo, há um compartimento de múltiplo uso entre o setor íntimo e o social. Pode
ser utilizado como sala de televisão, sala de som, biblioteca, sala de estudos, estúdio ou sala íntima de leitura, podendo ter
seu acesso franqueado às visitas também.
A diminuição gradativa das áreas úteis dos cômodos é um fato marcante ao longo
das décadas do século XX, e que dá mostras de prosseguir no século XXI. Em dados do
Sindicato da Construção Civil do Estado do Rio de Janeiro (Sinduscon/RJ), o número de
unidades residenciais lançadas no Rio de Janeiro, entre 2001 e 2002, cresceu 6,5%, porém
38
a metragem quadrada construída diminuiu em 10%, significando que os espaços dos
apartamentos continuam em processo de redução.
Em pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Estudos sobre Habitação e Modos de
Vida (Nomads), da Universidade de São Paulo (USP), foi demonstrado que a área de sala
das unidades residenciais sofreu uma perda de 37,8% de sua área total, ao longo dos
últimos cinqüenta anos, enquanto a área dos quartos foi reduzida em 50,26% e na da
cozinha a perda foi de 13,46%.24
fig. 22 - Imagens escaneadas do jornal O Globo de 02/02/2003, sobre a diminuição das áreas das salas, quartos e cozinhas nos apartamentos nos últimos 50 anos.
24 Reportagem publicada no jornal O Globo de 02/02/2003, caderno Morar Bem.
39
Se, por um lado, os espaços internos dos apartamentos diminuem, as necessidades
dos moradores crescem com as exigências do novo modo de viver e morar. Em primeiro
lugar, a nova posição da mulher dentro da família e do lar.
A posição dependente da mulher na virada do século XX, dentro de um contexto
patriarcal tradicional, não permitia acesso à instrução e experiências fora de suas funções
familiares. Eram criadas para serem silenciosas e discretas em público, conscientes das
formalidades que implicavam respeito e subordinação no casamento e na sociedade.
fig. 23 - Sala de Estar da Casa de Rui Barbosa
Rua São Clemente, 134 – Botafogo
As alterações ocorridas no posicionamento em planta dos espaços de salas de
visitas (não mais enclausurada), da sala de refeições e da própria parte de serviço como um
todo, dentro do universo das transformações ocorridas nos apartamentos, refletem a
importância crescente do papel da mulher e as modificações na estrutura da família nos
espaços das moradias brasileiras no século XX. Podemos, inclusive, dizer que é devido à
atuação da mulher a reinvenção do espaço de trabalho dentro do espaço privado de morar,
na tentativa de ampliar a renda doméstica familiar. Outro fator importante é a posição da
mulher, em muitos casos, como chefe de família assalariado, enquanto o marido atua como
profissional autônomo, ocupando o espaço de trabalho da casa.
Em segundo lugar, as exigências internas decorrentes das transformações no
segmento das relações profissionais-trabalhistas que, a partir da década de 1970, têm-se
intensificado, no sentido do trabalho profissional desenvolver-se dentro do ambiente
doméstico.
40
Trabalhar em casa é um hábito antigo. Desde tempos medievais, quando as noções
de espaço público e privado ainda estavam por serem cunhadas, trabalho e vida doméstica
confundiam-se em um mesmo espaço.
Na atualidade, as atividades de trabalho desenvolvidas dentro do espaço doméstico
assumem feições bastante diferentes entre si. Desde o trabalho manual mais simples até o
trabalho intelectual que demanda muita concentração, sua inserção na habitação admite um
grande leque de opções.
Estes espaços estiveram presentes na moradia da classe social alta, na virada do
século XX, vide gabinetes de escritório ou biblioteca, mas foram desaparecendo em
sucessivas reduções de área das unidades residenciais, para surgirem de novo adaptadas aos
novos programas, sendo utilizado um quarto fechado para esta finalidade ou um canto de
sala, um mezanino ou uma mesa com estante no quarto.
fig.24 - Biblioteca da Casa de Rui Barbosa. Rua São Clemente, 134 – Botafogo
fig.25 - Foto de um home Office atual.
41
Esta opção de trabalho à distância se estabeleceu graças aos avanços tecnológicos
introduzidos pelo microcomputador e seus periféricos, aparelhos de fax, Internet e a
ampliação das linhas telefônicas no país.
Pode-se afirmar que a demanda por espaços de trabalho definidos e situados fora do
espaço físico do empregador deverá continuar a crescer por um bom tempo, quem sabe
dando origem, no futuro, a um novo setor – o profissional.
Aprofundando a pesquisa sobre a evolução do programa projetual das unidades
residenciais na edificação multifamiliar setorizamos o estudo dos espaços para uma melhor
ordenação.
a) Setor Social
As salas representam o espaço principal do setor social. Primeiramente, as salas de
visitas, antes postadas próximas à entrada principal para facilitar o acesso aos visitantes,
foram anexadas às salas de estar, perdendo, ao longo das décadas do século XX, a sua
destinação. Sempre presentes nos programas das residências unifamiliares de classe alta,
nem sempre foram projetadas nos apartamentos, mesmo os mais nobres.
fig. 26 Planta baixa do Edifício Biarritz (Flamengo), datado de 1940.
Uma coluna traz em seu projeto a sala de visitas, a outra coluna, por questão de dimensões do terreno, não apresenta este espaço.
A sala de jantar foi bastante preservada ao longo das décadas, antes de ser, nos
apartamentos de classe média, incorporada à sala de estar. Talvez pela sua tradição e
importância, sempre esteve presente e foi bastante cultuada nos projetos arquitetônicos das
residências de classe social mais elevada dos séculos XVIII e XIX – sede de fazendas e
palacetes. Nos apartamentos de classe alta do início do século XX, sua presença, em
espaço definido para tal uso, era quase obrigatória.
42
fig. 27 - Planta baixa do Ed. Paissandu (Flamengo), datado de 1929.
Observar um dado curioso neste projeto, datado de 1929. Possivelmente, pode ter sido o primeiro exemplar que trazia a
condição de reversibilidade de um quarto social para ser utilizado como de serviço, indicação dada pela porta
seccionando a circulação íntima e pela saída de serviço do apartamento.
Observar também que a varanda balanceada quase sempre, quando presente, privilegiava a sala de jantar e não a de estar.
As varandas, nas edificações multifamiliares, são um dos compartimentos que
mais foram influenciados pelas normas de edificações. A princípio, havia a tolerância de
balanceamento de 1,20m sobre a linha de fachada. Por falta de definição no Código de
Obras, este balanço foi, às vezes, utilizado para uso interno do apartamento. (ver figs. 12 e
24)
Seguiu-se a fase de observância da linha de fachada sem balanceamento, quando as
varandas eram enclausuradas. Após, em 1967, retornou-se ao balanço primitivo de 1,20m.
Em seqüência, em 1976, foi ampliado para 2,00m sobre o afastamento frontal da
edificação, para, em 1981, através do Decreto 3046, que rege os bairros da Barra da Tijuca
e parte de Jacarepaguá, ser novamente ampliado, desta vez, para 5,00m.
43
fig. 28 - Planta baixa do edifício situado à Rua Rodolfo de Amoedo, lote 19, Barra da Tijuca – 1994
A área do apartamento é quase a mesma da varanda
b) Setor de Serviços
Um setor que sempre esteve presente nos planejamentos de residências foi o setor
de serviços – a cozinha, ponto central deste setor, mesmo quando localizada fora do corpo
da casa ou em edículas, não poderia faltar nos programas. Ao longo da história da
edificação residencial no país, foi o setor que mais sofreu modificações. Podemos
encontrá-lo em dimensões dilatadas com o fogão à lenha instalado no seu interior, nas
casas coloniais, acompanhado de gamelas, tachos, moringas, panelas de ferro e outros
utensílios, como também em parcos metros quadrados nas casas populares do século XIX.
No final deste século, as famílias urbanas começaram a receber os benefícios da água
potável distribuída por redes públicas e do gás como combustível para as luminárias e
fogões, provocando alterações na distribuição do espaço destinado ao fabrico dos
alimentos. Segundo Veríssimo & Bittar, as idéias higienistas que se difundiram por esta
época no Rio de Janeiro, para se antepor às epidemias que se alastravam, encontraram nos
fogões de ferro norte-americanos de várias bocas e nos ladrilhos hidráulicos laváveis fortes
aliados dentro dos lares das famílias mais abastadas.25
25 VERÍSSIMO, Francisco & BITTAR, William. “500 Anos da Casa no Brasil.”Rio de Janeiro: Ediouro, 1999:111.
44
fig. 29 - Esta imagem demonstra a afirmativa de Bittar
“Com a diminuição gradativa da mão de obra escrava e sua posterior abolição, diminui a cozinha, incorporando novos
equipamentos, ainda importados.”
A verdade é que somente a partir da segunda metade da década de 1930, nossas
casas de classe média e alta passaram a conhecer os primeiros facilitadores da vida das
donas de casa. Primeiro, o ferro elétrico de passar roupas, seguidos pelos refrigeradores
elétricos, aspiradores de pó, enceradeiras e batedeiras. As máquinas de lavar roupas
surgiram já nos anos 50.
Os demais equipamentos como liquidificadores, fornos, secadoras, exaustores,
surgiram e se popularizaram, tornando-se acessíveis e definindo o espaço de cozimento dos
alimentos numa área retangular e menor, com racionalização máxima, revestida com
cerâmicas até o teto, com ampla iluminação (artificial, que seja) e com materiais e
apetrechos para facilitar a limpeza e a higiene, nos fins do século XX. Como sintetiza
Tramontano, “o ato de preparar uma refeição, que já chegou a ocupar, na história da
culinária dias inteiros, utilizando-se de diversos cômodos, tende a realizar-se em uns
poucos minutos, em apertados e otimizados metros quadrados.”26
Nos apartamentos modernos, habitualmente, as cozinhas antecedem às áreas de
serviço, normalmente destinadas à lavagem e secagem das roupas, formando quase o
mesmo ambiente, e também, como na cozinha, repleta de máquinas e acessórios que
26 TRAMONTANO, M. “Novos Modos de Vida, Novos Espaços de Morar.” São Paulo: FAU/USP, 1998:324.
45
simplificam os trabalhos, e que em nada nos lembram as lavanderias das casas coloniais,
com seu espaço reservado para quarar roupas ao sol.
Um compartimento que acompanhava os programas projetuais nas casas coloniais
era a despensa ou depósito, que armazenava, em sacos grandes, o feijão, a farinha para o
pão, o sal, etc. Com a redução das áreas nos espaços de moradia e com a substituição das
quitandas, armazéns e mercearias pela eficiência dos supermercados que, em alguns casos,
ficam abertos e disponíveis a noite inteira, este compartimento desapareceu das residências
da classe média, permanecendo nas de classe social mais alta, para estocagem de alimentos
não perecíveis. Nos dias de hoje, a guarda de víveres em natura para a fabricação dos
alimentos se tornou mais reduzida, em contraponto com a estocagem, chamada por
Tramontano, de “fria” (em freezers e geladeiras) que armazenam alimentos pré-fabricados
que precisam ser preservados em temperaturas baixas. Com os horários familiares
apertados, que inviabilizam a prolongada permanência na cozinha, com o desenvolvimento
das indústrias de equipamentos e de culinária, que lançam novidades gastronômicas a cada
dia no mercado, podemos prever que será necessário reservar espaços cada vez maiores
para freezers ou mesmo para câmaras refrigeradas.
Contígua às áreas de serviços dos apartamentos atuais, encontramos as
dependências de empregados, constituídas de um quarto e um banheiro. “Embora
alterada, economicamente, a relação patrão-empregado, as relações sociais antigas
persistem, e a divisão de moradia (casa-grande) e alojamento de empregados (senzala) vai
persistir por todo o século XX.” 27
Este segmento da moradia, quando o edifício de apartamentos começou a se firmar,
pela década de 1930, era localizado, em algumas unidades, acima do último pavimento-
tipo, em alojamento coletivo. Tal iniciativa não se sustém, por várias razões, entre elas,
pelos sucessivos escândalos advindos do projeto permissivo e da localização afastada.
O usuário de apartamento valoriza e requer as dependências de empregado, quando
compatível com o valor do imóvel pedido, e até em unidades residenciais de apenas um
quarto social elas são encontradas.
27 VERÍSSIMO, Francisco & BITTAR, William. “500 Anos da Casa no Brasil.” Rio de Janeiro: Ediouro, 1999:127.
46
fig. 30 - Planta baixa do Edifício Parque das Rosas – Barra da Tijuca
(um quarto social e um de empregada, porcentagem da área do quarto no apto – 12,27%)
Os altos custos das unidades residenciais fizeram com que os metros quadrados dos
apartamentos se valorizassem cada vez mais, levando a que os compradores repensassem
na real necessidade de se manter estas dependências em seus apartamentos, em detrimento
de áreas mais importantes para seu viver, localizadas em outros setores, ainda mais quando
o usuário desses compartimentos, o empregado doméstico, torna-se cada vez mais raro na
sociedade, sendo substituído, com vantagens, pela diarista, mais eficaz e discreta.28
A mão-de-obra doméstica contratada para que, diariamente, administrasse o
cotidiano dos três setores residenciais da habitação (social, íntimo e serviço) diminuiu
dentro do contexto familiar. Todos os membros da família de classe média cada vez mais
executam as tarefas do lar.29
A obrigatoriedade de ventilação direta e de área mínima de seis metros quadrados
para o quarto de empregados, a partir do ano de 1984, foi estabelecida através da Lei
número 550/84, o que, em algumas unidades residenciais, representa em torno de dez por
cento da área útil total. Este compartimento passou a constituir uma opção de dormitório,
“dando origem a uma tipologia hesitante, a qual possuía duas portas: uma para o corredor
28 Diarista é um trabalhador autônomo que exerce, por conta própria, atividade profissional remunerada, sem relação de emprego, eventualmente, para um ou mais empresas/pessoas. 29 SALEIRO FILHO, Mario. “A Dependência da Dependência de Empregado: de Espaço Segregado a Espaço Revertido?” Rio de Janeiro: PROARQ / UFRJ, 2001:35.
47
dos quartos, outra para a área de serviço. Podia-se bloquear uma ou outra porta e, com isso,
supostamente, alterar a função e o status do cômodo”.30
Através desse processo, esse compartimento, que historicamente permanecia
segregado ao setor de serviço da habitação unifamiliar, passa a deslocar-se dentro da planta
do apartamento.31
fig. 31 - Rua Honório, 812 – Engenho de Dentro – coluna 06
E passou a constituir fator importante de venda da unidade residencial, o fato de a
dependência de empregada apresentar possibilidade de reversão para o setor íntimo do
apartamento. Com a diminuição gradativa das áreas úteis dos compartimentos durante as
últimas décadas, os espaços internos da unidade passaram a ser muito cobiçados e
racionalizados.
fig. 32 - Planta baixa do Edifício Solar Monet – R. Prof. Gabizo, 108 - Tijuca
A área do quarto de empregada representa 10% da área interna do apartamento.
30 TRAMONTANO, M. “Novos Modos de Vida, Novos Espaços de Morar.” São Paulo: FAU/USP, 1998:279. 31 Interessante observar que este é um fenômeno tipicamente carioca, devido às dimensões do quarto de empregada serem consideradas generosas no Rio de Janeiro. Na vizinha cidade de Niterói, a tendência de reversibilidade da dependência de empregada não ocorre e acreditamos, sobretudo, pelo fato da área mínima do quarto ser de apenas 3,00m². (2.00mx1.50m).
48
Em entrevista com os moradores do Edifício Solar Monet, verificou-se que todos os
proprietários dos apartamentos do prédio optaram por acessar o quarto dito de empregada
pela circulação íntima. A utilização dada ao novo espaço é diversa, atendendo as
necessidades específicas de cada família. Encontramos as opções: quarto do segundo filho,
closet para o quarto do casal, quarto de brinquedos do filho único, aberto (sem portas) com
computador instalado (miniescritório), ou apenas um espaço disponível para qualquer
eventualidade.
E as funções para este espaço conquistado encontram mais variantes, dependendo
de cada caso: mais um dormitório para um agregado, um escritório para trabalho
profissional, ateliê de costura, pintura ou artesanato, dependendo da atividade lúdica ou
remunerada de algum componente familiar.
Em pesquisa realizada por Saleiro, em sua Dissertação, nos classificados dos
jornais entre outubro de 1999 a março de 2001, verificou-se que de todas as plantas baixas
residenciais, apresentando quarto de empregado no setor de serviço, nos lançamentos
destinados à classe média na cidade do Rio de Janeiro, 75% inserem o quarto reversível, e
o restante permanece como quarto de empregada tradicional (no setor de serviço).32
c) Setor Íntimo
Com acesso através da circulação íntima, os dormitórios atuais são distintos das
alcovas coloniais, que não possuíam quaisquer vãos de ventilação ou iluminação, por
serem mais arejados, porém com dimensões que lembram as velhas alcovas abafadas e
escuras.33
Já no século XIX, com o uso das calhas, condutores e águas furtadas de folha de
Flandres que permitiram a adoção de corredores laterais descobertos e de pátios internos,
os quartos passaram a ter ventilações diretas para o exterior. Também desta época é a
introdução do vidro plano transparente para as janelas, o que clareou os cômodos durante o
dia e dos modernos lampiões de mecha circular que os clareou à noite, modificando os
hábitos noturnos.
32 SALEIRO FILHO, M. “A Dependência da Dependência de Empregado: de Espaço Segregado a Espaço Revertido?” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2001:40. 33 Alcova colonial: “Raramente apresenta grandes dimensões, restringindo-se às necessárias ao repouso e às oração, com escasso e tosco mobiliário, normalmente compreendido, nos primeiros tempos, por cama, aparador e uma cadeira, dispostos pelos cantos.” (VERÍSSMO e BITTAR, 1998:90).
49
Mas, em qualquer tempo, é o cômodo que requer o maior grau de isolamento, e esta
privacidade é diretamente proporcional à classe social em que se situa. “Quanto mais pobre
se é, de menos espaço individual se dispõe e menor o grau de privacidade.”34
De acordo com a pesquisa do Prof. Marcelo Tramontano da FAU/USP, já citada
anteriormente, os quartos foram os compartimentos que tiveram as suas áreas mais
sacrificadas nos últimos 50 anos, pois sofreram uma redução de 50,26%.
Segundo a avaliação do presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/RJ),
Carlos Fernando de Andrade, a redução no tamanho dos cômodos também está relacionada
à diminuição no tamanho das famílias. “Os quartos eram amplos por serem projetados para
abrigar muitos filhos. Na estrutura atual das famílias, cada um tem o seu quarto. Entraram
no espaço computador e TV, mas saíram beliches e penteadeiras.”35
Para minimizar os efeitos das áreas reduzidas dos quartos, o mobiliário moderno se
adequou permitindo, inclusive, a superposição de funções para este ambiente antes tão
definido. Hoje é comum encontrarmos nos quartos, principalmente dos jovens, atividades
de estudo, lazer e descanso, dividindo seu espaço com a televisão, o telefone, os livros,
aparelhos de som, de ginástica, etc. Novos hábitos emanados de uma nova tecnologia.
fig. 33 - “O quarto recebe um novo hóspede: o microcomputador.”
Atualmente, é quase imperativo que ao menos um quarto do apartamento possua
um banheiro privativo (a suite) para servir ao casal proprietário, preservando sua
intimidade e conforto, mesmo que, para este mister, as áreas dos quartos sofram
encolhimento maior. 34 TRAMONTANO, M. “Novos modos de Vida, Novos Espaço de Morar.” São Paulo: FAU / USP, 1998:339. 35 Reportagem publicada no jornal “O Globo”, dia 02/02/2003, caderno Morar Bem.
50
Os banheiros, dentro do programa projetual das unidades residenciais, foram os
que mais sofreram modificações ao longo da história da casa brasileira, pois que, no
período colonial, eles inexistiam como cômodo distinto. Os moradores desta época
resolviam suas necessidades fisiológicas através de urinóis ou outros recipientes, que eram
esvaziados e lançados, pelos escravos, nos rios, praias ou alagados. O banho era resolvido
pelas tinas de madeira colocadas no interior do dormitório, o que requeria escravos
transportando água aquecida para enchê-las. Diante de tanta dificuldade, era normal que tal
procedimento não se desse diariamente, ou mesmo semanalmente. E contribuía para esta
escassez de asseio, a própria formação do colonizador europeu. Os hábitos de higiene se
diferenciaram ao longo do tempo entre o colonizador europeu e o colonizado americano.36
Os hábitos se alteraram a partir da chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808.
Não em função da higiene européia, como já dissemos, mas como conseqüência da
abertura dos portos brasileiros que possibilitou a entrada de materiais novos no mercado
nacional, como tubulações e peças de banho de ferro esmaltado; e da valorização da vida
social, que requeria maior preocupação com o corpo.
O processo de expansão desses hábitos e da inclusão dos quartos de banhos, ou
mesmo de “casinhas” localizadas fora do corpo da casa, deu-se, mais uma vez, a partir das
classes mais ricas às mais pobres. Foi a classe social alta que importou, da Europa, as
ferragens rebuscadas que constituíam verdadeiras obras de arte, as louças finíssimas, os
espelhos de cristal e as grandes bancadas em pedras nobres, na virada do século XX,
contribuindo para a consolidação deste compartimento na unidade residencial. “O Rio de
Janeiro foi o centro irradiador dessas alterações higienizantes da arquitetura domiciliar
pelo Brasil afora.”37
fig. 34 e 35 - Banheiro da Residência de Castro Maya – Alto da Tijuca e da Casa de Rui Barbosa – Botafogo.
36 O artigo publicado no jornal O Globo (14/05/1989) “Banho: um estigma passado a limpo” de Any Bourrier (segundo caderno, pág. 12), indica que, na França, cada cidadão consome cinco sabonetes por ano, três frascos de xampu de 230ml e 2,5 tubos de dentifrício, segundo pesquisa executada no mesmo ano por um dos semanários mais influentes da França, a revista L’Evenement du Jeudi. 37 LEMOS, Carlos. “A Casa Brasileira.” São Paulo: Contexto, 1996:46.
51
Nos cortiços, as instalações sanitárias eram localizadas fora das unidades
residenciais e em número reduzido, para uso coletivo. Com a promiscuidade e a falta de
higiene que este modelo habitacional acarretava, ele foi considerado insalubre e sua
construção proibida no início do século XX.38
Nas residências médias, o banheiro é parte integrante do programa, e os edifícios de
apartamentos da década de 1930 apresentam um banheiro privativo para cada unidade
habitacional. Desta época até hoje, as modificações sofridas na área dos banheiros não
foram substanciais. Uma delas foi a rejeição ao bidet, talvez pelo tamanho exíguo em que
este compartimento se transformou, sendo substituído, atualmente, pela ducha manual
localizada próxima ao vaso sanitário.
fig. 36 - Foto do banheiro do Edifício Royal Las Palmas (2003). fig.37 - Foto do banheiro do Edifício Carajás (1940).
Outra modificação foi em relação ao número de banheiros existentes dentro da
unidade residencial, surgindo a incidência das suítes na década de 1970. Tramontano
revela que o brasileiro costuma ser mais generoso que franceses ou japoneses,
multiplicando pela casa o número de vasos sanitários. Além dos reservados para a família
(às vezes, um para cada quarto), um para a empregada doméstica e um eventual para as
visitas – o lavabo.
38 Cortiço: habitação coletiva composta de casas minúsculas enfileiradas de um ou dos dois lados dos quintais, formando um pátio ou corredor de acesso, dotadas de instalações sanitárias coletivas, difundidas no Rio de Janeiro, no século XIX, também chamado de estalagens. (VAZ, 2002:28).
52
fig. 38 - Planta baixa do Ed. Carajás (1940)
Um apartamento com 230,00m² de área útil e apenas um banheiro destinado aos moradores, porém com área generosa (9.90m²)
fig. 39 - A cozinha é reduzida, os quartos são dois, mas os banheiros são três. Villaggio Acquafina, coluna 07 – Estrada do Pontal
d) Acessos e Circulações
A setorização das funções dentro do espaço da unidade residencial, que sempre
existiu na casa brasileira de classe alta, requeria que, entre os setores, fossem projetados
espaços que servissem de ligação, que permitisse uma separação ou privacidade aos
moradores.
53
Na casa colonial brasileira era comum todos os quartos da casa abrirem para uma
sala ampla, onde se faziam as refeições e reuniões familiares. Talvez, em função desta
origem, alguns dos primeiros apartamentos projetados traziam em suas plantas graves
problemas de circulação.
fig. 40 - Planta baixa do Ed. Ouro Preto situado em Copacabana,
Datado de 1931 (Av. Copa, 174) Setorizado – pág. 77
Observa-se nesta planta como os setores funcionais estão misturados, e como a ausência de uma circulação íntima interferiu na funcionalidade do projeto. Três dos quatro quartos do apartamento têm acesso direto pela sala,
comprometendo a privacidade.
fig. 41 - Planta baixa do Ed. Itaóca, situado em Copacabana, fig. 42 - Perspectiva do Ed. Itaóca.
datado de 1928 (R. Duvivier, 43)
Neste apartamento, todos os cômodos se voltam para um hall de distribuição,
diretamente ligado com o exterior, ficando difícil definir em que setor estaria ele incluído
(íntimo ou social). Esta solução de planta era comum na época (ver foto 35) e prejudicava
a privacidade do setor íntimo.39
Nos projetos arquitetônicos das unidades residenciais em edificações
multifamiliares da classe social alta, os halls de distribuição estão presentes em forma de 39 Observar, na perspectiva do Edifício Itaóca (fig. 39), as dependências de empregados localizadas no oitavo pavimento da edificação, voltadas para a rua e descortinando uma paisagem inigualável em todo o prédio.
54
vestíbulos ou galerias, e são muito importantes no funcionamento interno do apartamento,
mas não prescindem da presença também da circulação íntima entre os quartos e banheiros.
É importante proporcionar total independência entre os setores funcionais do apartamento,
distribuindo as áreas de estar, de repouso e de serviço de tal maneira que se possa ir de
uma delas à outra sem que seja necessário passar pela terceira. (ver fig. 19)
Em todos os exemplos de plantas baixas apresentadas, da década de 1930, observa-
se que as unidades residenciais possuem entrada social e de serviços diferenciada,
acessando halls que não se interligam entre si. Somente décadas mais tarde, por questão de
segurança, surgiu a obrigatoriedade da comunicação entre os halls social e de serviço
externos da unidade.
Mas a permanência das entradas diferenciadas no apartamento ainda está presente
nos projetos atuais, principalmente nas classes média e média alta, onde não é bem aceita a
unidade residencial que possua acesso à cozinha através da sala ou vestíbulo.40
Lemos nos diz, no livro “História da Casa Brasileira”, que o Brasil tornou-se o
primeiro e único país a possuir edifícios com essa solução separadora de circulações.
Solução que se estende também à própria entrada diferenciada no edifício, no pavimento
térreo. Enquanto o proprietário da unidade residencial entra no edifício através de entradas
nobres, finamente decoradas, os empregados domésticos ou prestadores de serviços,
humildes, caminham por corredores para alcançarem o elevador de serviço projetado para
eles, deixando entrever um tradicionalismo segregacionista apresentado nos projetos
residenciais multifamiliares.
Vale a pena observar que a Legislação edilícia, reguladora da construção de
edificações residenciais multifamiliares, não faz distinção entre os elevadores projetados
(social ou de serviço), desde que sejam em número compatível com a quantidade de
apartamentos. A necessidade, porém, em atender aos anseios dos moradores, para
aceitação deste novo modelo de moradia, fez com que os empreendedores imobiliários
alimentasse esta prática segregacionista através das circulações em separado.
Independente da classe social para a qual se está projetando, é comum encontrar-se
entradas diferenciadas como social e de serviço no pavimento térreo da edificação, mesmo
40 No fim do século XX, com o aumento do número de apartamentos projetados sem dependências de empregados, passou-se a tolerar, para esses apartamentos, uma só entrada, a social.
55
que somente contenha, em seu programa, unidades residenciais sem dependências de
empregados.
Como essas diferenciações demandam um gasto maior em áreas comuns e elevam
conseqüentemente o custo da unidade residencial, avaliamos o peso histórico que tal
prática representa para o usuário comum, que a admite e requer.
e) Áreas de Lazer
Um fenômeno que começou a surgir, inicialmente nos edifícios de alto luxo, a
partir da década de 1970, foram os equipamentos de uso coletivo como áreas de lazer, com
play-grounds e piscinas para crianças, quadras de esporte e salas de ginástica.
Em trabalhos anteriores41, abordamos as questões do desenvolvimento dos jardins
residenciais desde as chácaras, sobrados e vilas até as edificações multifamiliares com os
pavimentos de uso comum, e também estudamos a evolução dos espaços de lazer nas
unidades residenciais, passando pelos jardins contemplativos, varandas e áreas comuns de
lazer das edificações multifamiliares.
fig. 43 - Pavimento de Uso Comum – Rua Paraíba, 20 – Praça da Bandeira. 41 As monografias “A Evolução dos Jardins Residenciais dos Palacetes aos Pavimentos de Uso Comum” (a) e “Evolução no Conceito de Espaços de Lazer nas Unidades Residenciais no Rio de Janeiro” (b), desenvolvidas para as disciplinas do PROARQ Arquitetura da Paisagem e Metodologias de Projeto, respectivamente.
56
Observamos como o programa projetual do pavimento de uso comum se altera com
a localização do empreendimento em relação à cidade. Quando o edifício se situa na Zona
Norte do Rio de Janeiro, os itens como piscina, quadra de esportes polivalentes,
churrasqueiras, salões de festas, sauna e ducha são muito valorizados, enquanto, se
localizado na Zona Sul, os itens importantes são as raias de natação para exercícios
específicos, as salas de ginástica, o home theatre, o coffee shop e jardins, muitos jardins.
“Sem dúvida alguma, nos fins do século XX, esta área de lazer constitui-se em um grande
apelo para atrair possíveis moradores. Quando as plantas dos apartamentos pouco diferem
entre um empreendimento e outro, o diferencial se deposita em dois setores: a área de lazer
oferecida (o espaço, os equipamentos e os compartimentos) e o sistema de segurança
proposto (guaritas, equipamentos eletrônicos de vigia e comunicação.”42
fig. 44 - Pavimento de Uso Comum – Rua Almirante Saddock de Sá, 216 – Ipanema.
Segundo Ivan Wrobel, vice-presidente da Associação dos Empresários do Mercado
Imobiliário (Ademi), o aparecimento dos salões de festas e de estar localizados nas áreas
comuns do edifício ocorreu para suprir a falta de espaço no interior dos imóveis, onde já
não é mais possível organizar festinhas de aniversário, por exemplo. “A contrapartida da
redução da metragem foi o crescimento da área comum, com espaços de lazer, fitness e
área social. Hoje, itens decisivos para a compra.”43
Outra questão levantada foi a de que a implantação dos prédios no bairro da Barra da
Tijuca, em conseqüência do Plano Piloto da Baixada de Jacarepaguá, idealizado, seguindo
padrões modernistas de urbanização, viabilizou a expansão das áreas de lazer ampliando
seu programa. Diferentemente de unidades construídas em outros bairros da cidade em
que foram lançados os pavimentos de uso comum na projeção do pavimento-tipo,
impossibilitando a aeração e a ventilação perfeitas, acanhando os programas de utilização. 42 CHACON, Sonia. Monografia “A Evolução dos Jardins Residenciais dos Palacetes aos Pavimentos de Uso Comum.” Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, 2002. 43 Reportagem publicada no jornal O Globo, de 02/02/2003, caderno Morar Bem.
57
“Mas a engenhosidade de empreendedores e arquitetos, cientes da necessidade criada em
torno da quase obrigatoriedade de se projetar áreas de lazer confortáveis e generosas como
ponto preponderante da viabilidade econômica de todo o empreendimento, encontraram
soluções de remembramento de lotes contíguos, criando muitas vezes quadras inteiras para
implantação dos seus edifícios em centro de terreno e com amplas áreas de jardins e lazer,
buscando seguir moldes de comportamento e de projeto ditados pelos condomínios da
Barra da Tijuca.”44
fig. 45 - Empreendimento situado à Rua da Passagem, 75 – Botafogo.
Como vimos, os profissionais do setor de vendas do mercado imobiliário defendem
que as áreas de lazer das edificações residenciais multifamiliares surgiram e fazem tanto
sucesso porque compensam as perdas de áreas do interior das unidades residenciais. Mas é
fato que esta solução fez com que fossem valorizados esses condomínios que oferecem,
junto com os apartamentos, verdadeiros clubes semi privados. Quando a dúvida confronta
o comprador de apartamentos com acomodações e dimensões semelhantes, dada à
uniformidade das plantas, este é um fator preponderante, nos fazendo concluir que lazer e
repouso serão elementos importantes da casa futura.
44 CHACON, Sonia. Monografia “Evolução no Conceito de Espaços de Lazer nas Unidades Residenciais no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, 2002.
58
fig. 46 - Jardins do empreendimento situado à Avenida Abelardo Bueno, nº 2000 – Barra da Tijuca.
59
1.3 - O Papel da Legislação
1.3.1 - Evolução Histórica
Até o século XVIII, as construções vernaculares obedeciam ao alinhamento das
ruas, chegando até os limites laterais dos lotes seguindo modelos existentes. A
uniformidade dos terrenos correspondia à uniformidade dos partidos arquitetônicos: as
casas eram construídas de modo uniforme. Paulo Santos nos fala que, em 1795, baixaram-
se as primeiras posturas estatuindo que todos os que construíssem casas novas ou
reformassem as existentes deveriam fazer um sobrado à frente, sob pena de seis mil réis e
demolição da obra.45
Datam também do século XVIII as primeiras Cartas Régias que fixavam as
dimensões e número de aberturas de janelas, altura dos pavimentos e alinhamento com as
edificações vizinhas.46
Estas primeiras manifestações de regulamentação buscavam elevar a categoria do
povoado do Rio de Janeiro de aldeia a vila. Os ordenamentos urbanísticos e posturas
municipais visavam a mudanças na postura social, para se assemelhar aos padrões
europeus. A chegada da Corte em 1808 abriu oportunidade de mudanças em várias frentes
de atividades. O intendente geral da Polícia, nomeado por D. João, uma espécie de Prefeito
da Cidade, criou uma regulamentação modernizadora para as casas de moradia e comércio,
incentivando a construção de sobrados e a multiplicação de chafarizes.
Além da Intendência da Polícia, outro órgão regulador era a Casa das Obras, nos
moldes de uma instituição similar em Lisboa na época, que possuía a função de vistoriar as
casas existentes observando as condições físicas, inclusive mandando demolir as que
ameaçassem ruir.47
As inventivas populares, porém, inovavam sempre, em busca de soluções de
conforto e adaptabilidade. Uma das primeiras modificações verificadas nas soluções de
implantação das moradias era o afastamento em relação aos limites dos lotes, recuando-se
dos limites laterais. Esta alteração foi tão importante, em face das tradições em vigor, que
45 SANTOS, Paulo F. “Quatro Séculos de Arquitetura na Cidade do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Ed. IAB, 1981:39. 46 REIS FILHO, Nestor Goulart. “ Quadro da Arquitetura no Brasil.” São Paulo: Ed. Perspectiva, 1973:24. 47 SANTOS, Paulo F. op. cit. :47.
60
forçou a modificação das posturas municipais para permiti-las, uma vez que a orientação
era de construção até as divisas laterais dos lotes.48
Neste pequeno exemplo apresentado, datado de dois séculos, observa-se quão
estreita é a relação entre as normas que regem as edificações e os usuários destas que, em
busca de conforto e de melhores condições de vida, adaptam e modificam suas habitações.
Provando-se, pelo tempo e pelos resultados lícitos, que as modificações introduzidas são
procedentes, elas são absorvidas pelos regulamentos públicos oficiais, que neste momento
entendem seu papel de agente ordenador e não de cerceador da vontade do usuário.
Por outro lado, estreitando e interligando as relações usuário-legislador, há a
necessidade da presença de normas reguladoras a serem seguidas para a melhoria das
condições gerais de habitabilidade. Passa a ser, então, obrigação do poder público, detentor
obrigatório de uma visão mais ampla e de maior abrangência, a normatização e o
direcionamento de novas posturas construtivas.
O exemplo físico dessas colocações fica bastante claro por volta de 1850. Com a
difícil condição higiênica da cidade e com o alastramento de doenças contagiosas, surgem
os primeiros regulamentos de higiene social. Segundo Albernaz, as discussões sobre a
higiene da cidade estavam centradas na paisagem urbana. “A legislação municipal para as
construções reflete este pensamento.” Preocupam-se em melhorar seu exterior, limitando
alturas e vãos, porém as causas da insalubridade na cidade estavam estreitamente
vinculadas às condições de moradia da população, e era necessária uma intervenção no
espaço privado da habitação.49
Segundo Fonseca, em 1850, criou-se a Junta de Higiene Pública, destinada ao
controle da vida cotidiana. A partir daí, surgiu o conceito das habitações higiênicas, para
mudar o quadro existente até então, pois viriam substituir as habitações populares
consideradas inadequadas (cortiços e casebres), por edificações construídas com base em
legislação, que controlava materiais, técnicas construtivas e impunha normas de higiene,
destinadas a conter epidemias.50
48 REIS FILHO, Nestor Goulart. op. cit. :45. 49 ALBERNAZ, Maria Paula. “ As Vilas: Uma Contribuição à História da Arquitetura Popular no Rio de Janeiro através do estudo do espaço urbano.” Rio de Janeiro: UFRJ/IPUR, 1985:17. 50 FONSECA, Wagner Barros. “ Vilas Residenciais no Município do Rio de Janeiro: Propostas para o Desenvolvimento de Projetos.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2002:23.
61
Os cortiços passaram a receber uma série de medidas voltadas à inibição de sua
construção e ao impedimento de reparações nos já existentes, para serem definitivamente
proibidos por força de lei em 1903.
FIG. 47
“Cortiço no Morro do Castelo. A aglomeração de moradores era um motivo recorrente de críticas.” (35)
Em contrapartida, o Estado voltou a intervir, promulgando um decreto que isentava
de impostos as indústrias que construíssem “casas higiênicas” para seus operários,
subsidiando, assim, a reprodução da força de trabalho. Em decorrência disto, houve a
isenção de pagamento da décima urbana por dez anos ao construtor Américo de Castro,
como apoio à construção das habitações higiênicas, que deveriam ter latrinas, encanamento
de água potável e ventilação em todos os cômodos.51
Muitas fábricas, prevalecendo-se destas e de outras medidas que concediam
diversos favores, construíram várias vilas de operários, desejosas em manter uma força de
trabalho cativa e disciplinada.
Representava a forma que o poder público encontrou para contornar a grande crise
habitacional advinda do primeiro surto de industrialização e fixar padrões mais higiênicos
para o tipo de habitação que deveria substituir os cortiços.52
Segundo Lemos, essas diretrizes de construção como representavam acréscimo no
custo da obra, precisavam ser impostas, com força de lei reguladora, para serem aceitas,
direcionando as construções no sentido da salubridade e de bem morar. A inclusão na
cidade do tipo de moradia unifamiliar sobre porão alto, deu-se em função de norma
obrigatória, na virada do século XX, que exigia que os assoalhos ficassem afastados do
chão evitando a umidade proveniente do terreno.53
No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro sofreu uma grande
transformação urbana: a Reforma do Prefeito Pereira Passos, cujas metas eram o
embelezamento da cidade, as obras de saneamento, a melhoria das condições sanitárias e,
conseqüentemente, da saúde pública. De início, reorganizou a Comissão da Carta
51 FONSECA, Wagner Barros. Op. cit.: 24. 52 XAVIER, Hélia Nacif. “Transformações Recentes de um Bairro Residencial – Laranjeiras: O Papel da Legislação Urbanística.” Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 1981:87. 53 LEMOS, Carlos. “A Casa Brasileira.” São Paulo: Contexto, 1996:55.
62
Cadastral, que deveria fornecer apoio às obras que pretendia realizar e instituiu o recuo
progressivo das edificações com a criação e numeração dos planos de alinhamento das ruas
da cidade.54
FIG. 48
Abertura da Avenida Central – Foto de 1920. (36)
A reforma urbana empreendida por Pereira Passos representou o primeiro exemplo,
na cidade do Rio de Janeiro, de intervenção em grande escala sobre o espaço urbano.
Abriram-se ruas de dezessete metros de largura (Rua Mem de Sá); foi demolido o Morro
do Senado; foi determinado o uso de calçamento asfáltico em ruas de vários bairros; foi
construída a Avenida Beira-Mar com 5.200 metros de extensão, e foi destruído grande
número de cortiços para abertura da Avenida Central, de acordo com Maurício Abreu.
Representou para o Rio de Janeiro a superação efetiva da forma e das contradições
coloniais-escravistas e sua transformação em espaço adequado à produção capitalista. E o
papel do Estado foi fundamental nas modificações urbanas e no incentivo à reprodução de
diversas unidades do capital.55
FIG. 49
Avenida Beira-Mar no Flamengo – Postal de 1925 (37)
Conforme descrito por Tângari, “a legislação urbanística e edilícia é um dos
principais instrumentos para modificações no desenho da paisagem, a médio e longo prazo,
interferindo com a utilização pública e privada do espaço, com as densidades construtivas,
com os volumes edificados, com a incidência de espaços livres e com a valorização de
elementos naturais, dentre esses, a vegetação urbana.”56
O poder público regulador das normas interventoras detém, em suas deliberações, o
sentido vetorial da direção física no espaço a modificar, a velocidade das obras e a
profundidade das intervenções urbanas que, por sua vez, direcionam o capital representado
pelo investimento privado e a criação de novos espaços de morar. Estes espaços abrigarão
famílias que, em consequência, desenvolverão hábitos e costumes de acordo com toda a
cadeia de intervenções e mudanças descritas.
54 ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997:60. 55ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997: 67. 56 TÂNGARI, Vera. “Um outro lado do Rio.” São Paulo: FAU/USP, 1999:346.
63
Por outro lado, as alterações familiares ocorridas ao longo do tempo, em particular
no século XX, ditaram necessidades espaciais novas, rapidamente interpretadas pelo
dinamismo do setor empreendedor imobiliário privado, através de empreendimentos para
atender, tanto em soluções arquitetônicas quanto em localização espacial dentro da cidade,
aos anseios de cada segmento da sociedade.
Segundo Abreu, “a intervenção direta do Estado sobre o urbano levou à
transferência acelerada da forma da cidade, tanto em termos da aparência (morfologia
urbana) como de conteúdo (separação de usos e de classes sociais no espaço)”. De fato, o
Estado veio acelerar o processo de estratificação espacial, que já era característico da
cidade desde o século XIX, privilegiando os bairros burgueses com dotação de seus
recursos.57
Como conseqüência desta intervenção no espaço urbano, foram realizados diversos
planos urbanísticos para a cidade. Foi convidado, em 1928, pelo Governo do Distrito
Federal, através do Prefeito Prado Júnior, o francês Alfred Agache58 para elaborar um
plano para a capital, com finalidade de melhorar e controlar o plano de regulamentação das
atividades da construção civil. Foi concluído em 1930, e pode ser considerado o primeiro
plano diretor da cidade.59
Agache, de fato, foi o “primeiro urbanista a introduzir no Brasil as discussões
relativas à cidade industrial moderna, ao elaborar um plano abrangente para o Rio de
Janeiro, abordando problemas emergentes como o transporte de massa (metrô) e a
navegação aérea, o processo de favelamento e a habitação operária, o saneamento e o
abastecimento d’água, áreas verdes, zoneamento de usos, cidades satélites e outros
aspectos.” Trabalhou a partir de bases técnicas (aerofotogrametria) considerando o
problema do crescimento demográfico e da expansão urbana, e preocupou-se com os
desdobramentos de seu Plano através da legislação urbanístico-edilícia codificada.60
57 ABREU, Maurício de A. op. cit. :73. 58 Alfred Hubert Donat Agache nasceu em Valois, França, em 1875. Foi catedrático da História da Arte no College Libre des Sciences Sociales e professor da École des Beaux-Arts de Paris. Especializou-se nos problemas de habitação e urbanismo e publicou diversos livros entre 1903 e 1923, associados ao movimento das cites-jardins e à reconstrução da Europa após a Primeira Guerra. (CONDE, L. Paulo & ALMADA, Mauro. “In Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Guia da Arquitetura ART Deco no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000:17. 59 Plano diretor é aquele que pressupõe o conhecimento completo do objeto em estudo e uma implementação por parte dos órgãos executantes. Supõe que o objeto seja reduzido a leis e teorias para que alcancem seus objetivos e precisa constar de zoneamento (divisão do espaço em zonas de usos específicos). “Ignorar o social e o econômico, atendo-se ao físico e deixando-lhe a tarefa de resolver os conflitos é uma constante dos planos diretores.” (REZENDE, Vera Lucia. “Quatro Planos para a Cidade do Rio de Janeiro, a Questão Ideológica.” Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 1980:29. 60 CONDE, L. Paulo & ALMADA, Mauro. “In Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Guia da Arquitetura do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000:18.
64
O Plano de Agache pretendia transformar o Rio de Janeiro (ou pelo menos o centro
e a zona sul) numa cidade monumental, exigindo intervenções de vulto, que excediam as
possibilidades financeiras do Município. Mapeou a cidade segundo critérios funcionais e
de estratificação social do espaço, destinando os bairros oceânicos da zona sul para as
residências das classes abastadas (ainda esparsamente ocupados), e os bairros mais antigos
da zona sul (Catete, Laranjeiras, Flamengo e Botafogo) junto com Andaraí, Vila Isabel,
Aldeia Campista e Rio Comprido para as residências da classe média, reservando São
Cristóvão e os subúrbios para a população operária.
FIG. 50
Bairro de Botafogo em 1920 (ao alto Cemitério São João Batista) (38)
Pregava a erradicação sumária das favelas existentes nas chamadas áreas nobres da
cidade, propondo incentivo para habitações baratas nos subúrbios com um mínimo de
infra-estrutura básica.
A Revolução de 1930 arquivou o Plano Agache, sobretudo por se tratar de uma
iniciativa da velha ordem deposta, mas as contradições urbanas por ele levantadas do
conjunto acabaram absorvidas pelas Administrações posteriores e, em parte, foram
concretizadas. Algumas quadras do centro recordam os sonhos de Agache, que tentou fazer
do Rio de Janeiro a capital ”haussmaniana” do continente.
A intervenção agachiana para a cidade permaneceu presente na concepção
urbanístico-edilícia carioca até 1967, influenciando as alterações no Código de Obras
Municipal. Até 1925 a legislação era feita para uma cidade de, basicamente, dois
pavimentos, com decretos de regência desarticulada. Em 1925, a legislação estabeleceu
várias medidas urbanísticas para a transição do período da “Belle Époque” para o período
Moderno (conceito de Zona Central e a extinção das “avenidas”, por exemplo.). Entre 1935
e 1937 foram lançados decretos que vigoraram até 1967 e estabeleceram o controle de
gabaritos de altura para as edificações a partir do desenho do conjunto edificado. Nesse
período, popularizam-se os PAs (projetos aprovados, de loteamento, alinhamento e/ou
urbanização) que definem as características edilícias de quadras e ruas isoladamente.61
61 CONDE, L. Paulo & ALMADA, Mauro. Op. cit. :18/19.
65
FIG. 51
Projeto de Alinhamento da Rua Pompeu Loureiro – PA 6879 (parte) (39)
Este período inaugurou o conjunto de regulamentações urbanísticas, beneficiando o
uso residencial. Várias obras viárias foram executadas por parte do poder público, como
túneis, viadutos e vias expressas de circulação, com o objetivo de facilitar a locomoção de
automóveis, possibilitando a expansão horizontal da mancha urbana. Reforçou a
compartimentação do uso do espaço da cidade pelas diferentes classes sociais.
Constava também, na legislação de 1937, a impossibilidade de expansão das
fábricas situadas em zonas residenciais, definindo-se pela primeira vez uma zona industrial
na cidade. Ocupando terrenos agora extremamente valorizados, as fábricas optaram por
transferir-se para outros locais, loteando seus terrenos e dando origem a novos bairros,
como “Jardim Laranjeiras”, por exemplo, na área da atual Rua General Glicério, o “Jardim
Corcovado” nas atuais ruas Benjamim Batista, Nina Rodrigues, Abade Ramos, Conde de
Afonso Celso, dentre outras e o Condomínio Parque Jardim Botânico na Rua Pacheco
Leão.62
FIG. 52
“A fábrica da Companhia de Fiação de Tecidos Corcovado no Jardim Botânico,
nos fins do século XIX, que viria a encerrar suas atividades por volta de 1940,
transformando sua propriedade em grande loteamento residencial.” (40)
A partir deste regulamento as atenções se voltaram para o novo tipo de habitação: o
edifício de apartamentos. E a legislação deixava claro nas suas disposições a intenção de
favorecer o adensamento das áreas residenciais. “A série de exceções abertas ao gabarito
máximo fixado, através de arranjos entre largura das ruas, os afastamentos das divisas dos
terrenos e o escalonamento dos últimos pisos, permitia que as edificações subissem muito
além dos seis pavimentos permitidos.” A legislação urbana correspondeu a um dos
instrumentos que auxiliou o intenso processo de verticalização da zona sul, principalmente
ao longo do litoral – Glória, Flamengo, Botafogo e Copacabana. “Sua elaboração já estava
62 ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997:99.
66
condicionada à expectativa de grupos econômicos interessados na implementação da
ocupação daquela parte da cidade.”63
FIG. 53
“O processo de verticalização de Copacabana já era intenso em 1941, como demonstra esta foto da área das Avenidas
Princesa Isabel e Prado Júnior.” (41)
Na década de 1940, a indústria da construção civil se desenvolveu em demasia,
propiciada pelo “moderno estilo de vida” que se constituiu em residir junto à praia. Os
condicionantes físicos da zona sul, limitada entre os morros e a faixa litorânea,
funcionavam como limitadores da oferta de terrenos, que se esgotavam rapidamente,
valorizando sobremaneira o solo desta área. Era imperativo o máximo aproveitamento da
região para a obtenção do lucro esperado pelas empresas investidoras, que tiveram um
papel de destaque na condução do crescimento urbano da cidade. Em função disto, o
direcionamento da aplicação financeira por parte do Estado, em obras de infra-estrutura,
foi sendo canalizado para aquela zona. Como descreve Hélia Nacif, “a associação destes
fatores reforçou a compartimentação do uso do espaço da cidade pelas diferentes classes
sociais, intensificando-se os deslocamentos da população, que procurava local de moradia
em áreas distantes: os ricos fixavam residência na orla litorânea, que foi se estendendo até
chegar na Barra da Tijuca, e os pobres eram expulsos das áreas da zona sul ou impedidos
de residirem nela, dirigindo-se para os subúrbios e municípios periféricos da região
metropolitana do Rio de Janeiro.”64
O aumento do número de automóveis particulares era refletido nas regulamentações
urbanísticas e através das exigências de previsão de áreas para a guarda dos veículos nos
edifícios. Com a introdução do pavimento em pilotis resolviam-se, em parte, os problemas
de estacionamento e de recreação infantil, porém nos fins da década de 1950, com o
aumento dos carros particulares, foi decretada a obrigatoriedade de previsão de garagem no
subsolo e em parte do pilotis.
Em 1953, iniciaram-se os estudos para implementação do Metrô de modo a facilitar
os deslocamentos dentro da cidade. Os sérios problemas urbanos produzidos pelo
crescimento da população e pelo agravamento das contradições sócioeconômicas levaram
63 XAVIER, Hélia Nacif. “ Transformações Recentes de um Bairro Residencial – Laranjeiras: O Papel da Legislação Urbanística.” Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 1981:91/92. 64 XAVIER, Hélia Nacif. Op. cit. :105.
67
as autoridades a convidar o urbanista grego Constantinos Doxiadis, em 1963, para realizar
um plano diretor para o período 1965-2000, um projeto urbano que integrasse e
desenvolvesse a zona norte.
Era a época da transferência do Distrito Federal para Brasília, da criação do Estado
da Guanabara e do governo de Carlos Lacerda, que politicamente precisava executar um
governo confiável e de eficiência técnica para atrair o apoio das classes empresariais.
Segundo Rezende, o “Plano Doxiadis é um plano altamente técnico. Trata-se de
preparar a cidade do Rio de Janeiro até o ano 2000, segundo padrões estrangeiros. A
racionalidade está presente no plano, diagnosticando crises, insuficiência e propondo
soluções”. Foram colhidos grande número de dados e informações que, em consequência,
transformaram-se no mais completo volume de dados sob a forma de diagnóstico e
projeções sobre a cidade.65
Dentro das decisões práticas, o Plano Doxiadis sugeria a ampliação do sistema
viário, a criação de serviços sociais em bairros pobres e a intervenção nas favelas,
condenando bairros próximos ao Centro, como Lapa e Catumbi, habitados por população
pobre, e separando ainda mais classes sociais no espaço urbano. Dentro do quadro político
autoritário (após o golpe militar de 1964), estas ações foram intensificadas com a remoção
drástica de favelas das áreas mais valorizadas, apoiando um processo intensivo de
especulação imobiliária na zona sul.
O Plano intensificou o problema da estratificação social, privilegiando as áreas
centrais e deliberando sobre a remoção de favelas, no que foi atendido pelo Estado. Dentre
as obras destacam-se: o alargamento da Praia de Copacabana; a construção do elevado
Paulo de Frontin e da ponte Rio Niterói; a continuação do viaduto da Perimetral; a
implantação da via expressa entre o túnel Santa Bárbara até a Avenida Rodrigues Alves
pelo bairro do Catumbi; a implementação do interceptor oceânico da zona sul e do Metrô.
Pode-se observar que foi priorizada a ampliação das vias de circulação em detrimento do
setor de habitação. Segundo cita Gobbo, “o Plano Doxiadis, ou Plano da Cidade Nova, deu
65 REZENDE, Vera Lucia. “Quatro Planos para a Cidade do Rio de Janeiro, a Questão Ideológica.” Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 1980:66.
68
início à expansão da cidade em direção à Barra da Tijuca e à Jacarepaguá, propondo
também a criação de uma zona industrial em Santa Cruz.” 66
FIG. 54
“Antigo bairro residencial da cidade, o Catumbi foi praticamente reduzido
a um grande viaduto durante o regime militar.” (42)
Em 1967, a legislação definia as áreas e os usos incentivados para cada uma delas,
com várias medidas para incentivar as construções afastadas das divisas do terreno,
inspiradas nos preceitos modernistas.
A partir desta data, a presença do Estado se tornou constante e vinculada de forma
marcante à atividade urbanística e de construções civis.
Na década de 1970, a área de expansão da orla carioca, a Barra da Tijuca, ganhou
acesso com a construção de um sofisticado sistema de pistas de circulação, a auto-estrada
Lagoa-Barra, unindo-a à zona sul. Foi alvo também de um estudo urbanístico elaborado
por Lucio Costa, que manteve perceptível a intenção de evitar a ocupação segundo o
modelo Copacabana. Este estudo manteve baixos índices de ocupação do solo e limitou o
número máximo de unidades a ser construído por lote. A área das torres, com gabarito das
edificações fixado em vinte e dois pavimentos, ganhou um Projeto de Alinhamento (PA
39697) que burlou as posturas do estudo inicial, aumentando as taxas e o número de
edificações na área abrangente, quilômetro 01 da Avenida das Américas. Conforme
descrevem Veríssimo e Bittar,“infelizmente, a especulação imobiliária logrou êxito no
aumento das taxas de ocupação da região visando à obtenção de lucros cada vez maiores,
restando os traçados das ruas e avenidas, os prédios afastados das divisas dos terrenos, que
ainda permitem a penetração da brisa do mar por todo o bairro.”67
FIG. 55
Quilômetro 01 da Avenida das Américas (43)
Em 1976, o zoneamento urbano de todo o Município do Rio de Janeiro foi
regulamentado pelo Decreto 322, legislação que modificou com bastante profundidade os 66 GOBBO, Fabiana. “Tipologia Arquitetônica do Edifício de Apartamentos: Análise da Evolução, Tendências e Perspectivas na Cidade do Rio de Janeiro no período de 1990 a 2001.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2001:13. 67 VERÍSSIMO, Francisco, BITTAR, William & ALVAREZ, José. “Vida Urbana – A Evolução do Cotidiano da Cidade Brasileira.” Rio de Janeiro: Ediouro, 2001:42.
69
decretos anteriores. Foram criadas novas áreas de desenvolvimento e estabelecidas zonas
comerciais, industriais e residenciais identificando entre si as separações de cada área.
Regulamentou-se a construção civil com a criação do parâmetro da Área Total Edificada
(ATE) e de dispositivos para contenção dos gabaritos de altura. Determinou-se a
construção de áreas de lazer e apartamento próprio para zelador em edificações com mais
de oito unidades residenciais.
Como a legislação regulava de maneira uniforme todo o Município do Rio de
Janeiro, tornou-se necessária a criação de Planos de Estruturação Urbana que se
propunham a revisar as normas gerais de parcelamento da terra, uso e ocupação do solo,
levando em conta as peculiaridades de cada bairro.
O surgimento dos PEUs representou um avanço, pois, ao legislar observando cada
bairro com sua particularidade, aumentaram-se as chances de correção de desvios,
adensamentos ou inibições, com relação aos usos, ocupações e volumes de cada área em
particular. Ao invés de analisar a cidade de forma homogênea, os Planos de Estruturação
Urbana observam a vocação latente de cada bairro e as divisões sociais implantadas ao
longo do tempo. Infelizmente, nem todos os bairros da cidade foram agraciados com esses
Planos.
70
1.3.2) Quadro Síntese da Legislação
Como nos descreve Hélia Nacif, apesar das primeiras posturas municipais datarem
de 1832, período que antecedeu à introdução do concreto armado na construção civil, elas
incluíam apenas alguns dispositivos sobre as construções em geral, denotando um papel
secundário que desempenhavam na condução do processo de ocupação urbana.68
As primeiras intervenções do poder público datam do século XIX, ano de 1875, e
não eram direcionadas à ordenação urbana, e sim à ordenação edilícia, sem regras ainda,
mas com induções a partir da isenção de impostos.
No ano de 1882, as edificações foram regulamentadas através do Decreto nº 3151
de 09/12/1882, que determinou que as casas deveriam ter latrinas, fossas, encanamentos de
água, ventilação em todos os cômodos e serem elevadas do solo. Várias vilas foram
construídas na cidade se prevalecendo deste decreto, que perdurou até 1911. Em 1889, o
engenheiro Arthur Sauer criou a Companhia de Saneamento do Rio de Janeiro, construindo
várias vilas a partir das vantagens concedidas pelo Decreto nº 9859 datado de 08/12/1888.
Este decreto, segundo Abreu, além de isentar o pagamento de impostos sobre importação
de materiais de construção, também fornecia concessão de terrenos às firmas que se
propusessem a edificar casas populares.69
O aumento da população evidenciou a necessidade de reformas urgentes de
urbanização e arruamento. Foi elaborado pelo urbanista Benevuto Verna, em 1889, o
documento que propunha arruamentos, aberturas de novas avenidas no centro da cidade e,
de forma sucinta, o controle dos gabaritos das edificações.70
Conforme cita Gobbo, também tiveram, em seus textos, incentivos financeiros para
as fábricas que construíssem casas para seus operários, os decretos nº 32 de 19/03/1893 e
nº 273 de 1896, sem legislar em relação às disposições internas das residências e a sua
implantação no lote.71 O decreto 244 de 20/04/1896 regulou a construção de casa para
proletários nos seguintes bairros: Gávea, São Cristóvão, Engenho Velho e Engenho Novo,
68 XAVIER,Hélia Nacif. “Transformações recentes de um Bairro Residencial – Laranjeiras: O Papel da Legislação Urbanística.” Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 1981:87. 69 ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997:57. 70 GOBBO, Fabiana G. R. “Tipologia Arquitetônica do Edifício de Apartamentos: Análise da Evolução, Tendências e Perspectivas na Cidade do Rio de Janeiro no período de 1990 a 2001.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2001:8. 71 ALBERNAZ, Maria Paula. “ As Vilas: Uma Contribuição à História da Arquitetura Popular no Rio de Janeiro através do Estudo de Espaço Urbano.” Rio de Janeiro: UFRJ/IPUR, 1985:58.
71
passando o poder público a regulamentar a construção desta tipologia e sendo esta a
primeira vez que as moradias das classes trabalhadoras receberam uma legislação
específica, segundo Fonseca.72
Com o decreto nº 762 de 01/06/1900, surgiu pela primeira vez o termo “avenida”,
que passou a representar uma alternativa de investimento seguro e de boa rentabilidade, em
função da ocupação integral dos terrenos, contribuindo para o impulso dado à indústria da
construção civil e ao setor imobiliário.73
Em 10/02/1903, através do decreto nº 391, ficou expressamente proibida a
construção de novos cortiços na cidade, além do impedimento de consertos ou reparações
dos já existentes.74
Entre 1903 e 1906, a cidade do Rio de Janeiro presenciou a reforma urbanística
comandada pelo Prefeito Pereira Passos, e foi necessária uma série de medidas, de normas
e decretos que direcionaram o processo de demolições imprescindíveis aos arruamentos.75
Em 1918, constituiu-se o decreto nº 1185, que definia um zoneamento geral para a
cidade e cuja preocupação maior era a tributação municipal e não propriamente o
ordenamento das funções no espaço.76
A primeira legislação que regulamentava de maneira mais incisiva a construção
civil foi instituída em 19/01/1925, através do Decreto nº 2087. Este decreto legislava sobre
o edifício de apartamentos. Introduziu o conceito de zona central e fixou uma correlação
entre a largura da rua e a altura das edificações. Em logradouros com calçamento ou com
linhas de bonde foi estabelecido que a edificação devia possuir duas vezes a largura da rua,
enquanto nos logradouros situados na parte comercial da cidade esta relação podia chegar a
seis vezes.77 A permissividade na verticalização das edificações, encontrada no decreto
2087, já refletia as pressões sofridas dos investidores interessados no uso mais intenso das
áreas urbanas.78
72 FONSECA, Wagner Barros. “ Vilas Residenciais no Município do Rio de Janeiro: Propostas para o Desenvolvimento de Projetos.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2002:28. 73 FONSECA, Wagner Barros. Op. cit. :29. 74 ALBERNAZ, Maria Paula. Op. cit.:51. 75 GOBBO, Fabiana G. R. op. cit. :8. 76 XAVIER,Hélia Nacif. “Transformações recentes de um Bairro Residencial – Laranjeiras: O Papel da Legislação Urbanística.” Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 1981:87. 77 GOBBO, Fabiana G. R. “Tipologia Arquitetônica do Edifício de Apartamentos: Análise da Evolução, Tendências e Perspectivas na Cidade do Rio de Janeiro no período de 1990 a 2001.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2001:9/10. 78 XAVIER,Hélia Nacif. Op. cit. :90.
72
Este movimento para definição de zoneamento urbano acabou por ocasionar o
processo que desembocou na vinda de Alfred Agache ao Brasil, em 1928, para elaboração
do plano urbanístico, já descrito e regulamentado pela mensagem nº 617 de 30/08/1927.79
Em 1935, pelo Decreto 5595 de 10/07/1935, o zoneamento da cidade passou a
compreender três zonas comerciais, uma zona industrial, uma zona portuária, três zonas
residenciais e zona agrícola e rural. Instituiu galerias de passeio cobertas e pátios internos
para aeração coletiva, sugeridos no Plano Agache. Não foi suficiente para acompanhar a
sucessão de modificações pelas quais vinha passando a cidade, principalmente no que se
refere às áreas residenciais.80
Deu origem, então, ao Decreto 6000 de 01/07/1937, que permaneceu em vigor até
1967. Segundo Xavier, este decreto “encerrava uma série de mecanismos mais complexos
que os seus anteriores em termos de abrangência das questões tratadas e das possibilidades
alternativas que criava à regra geral fixada”. Este decreto favorecia o adensamento das
zonas residenciais e proibia a construção de vilas em praticamente toda a cidade. Foi um
instrumento propulsor da ocupação na direção sul da cidade do Rio de Janeiro.81
Em função do grande número de decretos, de modificações do texto primitivo do
decreto 6000, que surgiram para adequação ao tempo em vigor, uma vez que as
necessidades se alteraram, foi sancionada a Lei de Desenvolvimento Urbano – Lei nº 1574
de 11/12/1967. Apesar de bastante sucinta, esta lei estabeleceu preceitos básicos relativos à
matéria urbanística. Trazia em seu texto um aspecto mais proibitivo às práticas
construtivas existentes do que regulamentava situações novas. Basicamente respeitava as
divisões sazonais estabelecidas no decreto 6000/37, mas ao introduzir o Quadro Geral de
Uso da Terra, separando em “tolerado”, “inadequado” e “adequado” os usos permitidos, e
deixando várias funções sem fixação de parâmetros, abriu condições para novos decretos
de modificações. Em todos os capítulos, a Lei 1574 deu ao Governo do Estado o poder
para intervenções em todos os setores: licenciamento de obras, abertura de novas ruas,
arborização, parcelamento de terras, demolições de edificações e movimentação de terras.
Para a construção de edificações residenciais, unifamiliar ou multifamiliar,
passaram a ser necessários dois tipos de consulta: adequação ao local, implantação e
79 ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997:86. 80 XAVIER,Hélia Nacif. Op. cit. : 90. 81 XAVIER,Hélia Nacif. Op. cit. : 91.
73
volume, regida pelos Regulamentos de Zoneamento; adequação às posturas de divisões
internas quanto a aeração dos compartimentos, metragens e larguras mínimas exigidas,
equipamentos mecânicos e escape, parâmetros regidos pelos Regulamentos de
Construções.
Em função da complexidade das Normas de Edificações, após a Lei 1574/67, com a
multiplicação de decretos e leis regendo todas as questões abrangentes à implantação das
construções na cidade, passamos, neste estudo, a enfocar separadamente as normas pelos
seus aspectos urbanísticos e edilícios.
Normas Urbanísticas
Com a Lei nº 1574/67, o poder público captou para si todas as iniciativas
concernentes ao direcionamento urbanístico da cidade, desde licenciamentos de
construções até abertura de ruas, parcelamento de terra e modificações urbanas
consideráveis.
Na rasteira dos estudos executados pelo escritório Doxiadis e Associados, o
governo do Estado lançou, em 20/04/1970, o Decreto “E” nº 3800, que aprovou os
regulamentos complementares à Lei do Desenvolvimento Urbano. Este decreto é bastante
completo, traz em seu escopo o Regulamento de Zoneamento, o Regulamento de
Parcelamento da Terra, o Regulamento de Construções e Edificações, o Regulamento de
Assentamento de Máquinas, Motores e Equipamentos e o Regulamento de Licenciamento
e Fiscalizações.
Apesar deste decreto ter tido a inserção de vários outros aspectos que o
modificaram em parte, a espinha dorsal foi mantida e é consultado até hoje, com exceção
ao Regulamento de Zoneamento que foi inteiramente substituído pelo Decreto 322 de
03/03/1976. Com relação ao Regulamento de Construções e Edificações, que trata das
disposições edilícias, falaremos adiante no subcapítulo respectivo.
O Decreto nº 322, de 03/03/1976, regulamentou todo o zoneamento da cidade do
Rio de Janeiro, subdividindo-a em área central, industrial, portuária, indústria e comércio,
turística, residencial e zonas especiais. Legislou sobre lotes, usos e atividades e condições
das edificações com gabarito de altura, ocupação no solo, afastamentos, pavimentos de uso
comum e de cobertura. Regulamentou grupamentos de edificações, estacionamento e
74
guarda de veículos e áreas coletivas. No aspecto geral, os gabaritos fixados foram de cinco
pavimentos para as edificações coladas às divisas, e para as afastadas das divisas
estabelecia apenas os afastamentos pertinentes para cada pavimento, limitando em dezoito
pavimentos. As taxas de ocupação no solo variavam de 50% a 70% nas edificações
residenciais.82
Sob o aspecto urbanístico, o decreto 322/76 previu e englobou praticamente todos
os exemplos de assentamento das edificações no lote, tornando-se consulta obrigatória para
arquitetos e engenheiros construtores.
A cidade do Rio de Janeiro, porém, apresenta forte individualização de seus bairros.
Para atender a essa diferenciação, os Planos de Estruturação Urbana (PEUs) foram
criados obedecendo às divisões das áreas de planejamento (AP-1 a AP-5) instituídas pelo
Plano Urbanístico Básico do Rio de Janeiro (PUB-Rio), através do Decreto 1269 de
27/10/1977.
O primeiro PEU (o de nº 001) foi o que regulamentou o bairro da Urca, sob o nº
1446 de 02/03/1978. Por ser um bairro tradicionalmente residencial e quase peninsular,
possuindo uma via de acesso para entrada e outra para a saída, as posturas adotadas foram
de restrição à construção, designando os lotes menores de 360,00m² para uso unifamiliar e
limitando o número de unidades em residências multifamiliares em função da área do lote
(uma unidade para cada cem ou cinqüenta metros quadrados de terreno).83
O Decreto nº 2108 de 14/03/1979 estabelece as condições das edificações situadas
na Ilha do Governador. Também basicamente residencial e com entradas restritas, a Ilha
recebeu um regulamento que limita as edificações em três pavimentos e o número de
unidades em uma para cada cem metros quadrados de terreno, lembrando as deliberações
para o bairro da Urca, sendo mais restritiva em função da topografia acidentada.84
O Decreto nº 2418 de 05/12/1979 estabeleceu as posturas municipais para o bairro
de Jacarepaguá, deliberando, para as construções coladas às divisas, o gabarito de altura
82 PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 5ª ed.:249. 83 PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. Op. cit. :501. 84 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. vol. I:529.
75
em três pavimentos, para as construções em centro de terreno, até oito pavimentos, em
ambos os casos com taxa de ocupação no solo de 50% do lote.85
Observa-se nestes decretos uma ação mais restritiva às novas construções em
relação ao apresentado pelo Decreto 322/76.
Parte do bairro de Laranjeiras foi regulamentado pelo Decreto nº 2638 de
28/05/1980, que liberou a altura das edificações apenas no eixo principal da Rua das
Laranjeiras, para até dezoito pavimentos nas edificações em centro de terreno.86
O Decreto 2735 de 20/08/1980 legislou sobre o bairro da Gávea, limitando o
gabarito de altura em até sete pavimentos afastados das divisas. Para a Rua Manuel
Ferreira fixa o gabarito em onze pavimentos em centro de terreno. Esta rua, de pequenas
dimensões, encontra-se totalmente edificada já dentro destes parâmetros.87
A Barra da Tijuca, no ano de 1981, já era regida por dezenove decretos diferentes, o
que ocasionou a criação do decreto 3046 em 27/04/1981, dividindo a zona especial nº 5
(ZE-5) em quarenta e seis subzonas com suas características e vocações respeitadas. Tendo
zonas residenciais de dois pavimentos e áreas de torres de vinte e dois pavimentos, este
decreto se baseou no Plano Piloto criado por Lúcio Costa, dentro da concepção modernista
de edificações em centro de terreno, em meio a jardins e áreas de lazer, com pavimentos de
garagens previstos no subsolo.88
Em 1983, o Prefeito Jamil Haddad sancionou a Lei 434 de 27/07/1983
regulamentando o bairro de Botafogo, limitando o gabarito de altura em cinco pavimentos
para as edificações coladas às divisas e onze pavimentos para aquelas em centro de terreno,
na maioria de suas ruas. Esta lei estabeleceu importantes limites em relação ao uso do solo,
pois fixou gabarito de três pavimentos para as edificações não-residenciais, proíbiu as
atividades médicas e veterinárias com internação e as atividades de ensino particular, nas
ruas principais do bairro. Esta medida visou a reestabelecer o caráter primordialmente
residencial de Botafogo e a uma tentativa de melhoria no fluxo viário nos eixos de
circulação do bairro. Ao fixar os limites para o número de unidades residenciais (uma para
cada trinta metros quadrados de área do lote) e manter os cálculos para área total edificada,
85 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :547. 86 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO . op. cit. :567. 87 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO . op. cit. :572. 88 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO . op. cit. :586.
76
houve um natural aumento das áreas internas dos apartamentos projetados a partir desta
data, induzindo a construção de unidades maiores e mais confortáveis e consequentemente
mais caras, voltando o bairro a se elitizar.89
Os bairros de São Cristóvão, Mangueira e Benfica foram regulamentados através do
Decreto nº 5840 de 21/05/1986, que permitiu, de novo, a construção de vilas residenciais,
desde que obedecendo aos novos padrões de implantação e ocupação no solo (50%).
Estabeleceu também gabaritos de altura para todo o bairro, sendo cinco pavimentos o
deliberado para a maioria das ruas e dez pavimentos para os terrenos voltados para a
Avenida Brasil e Avenida Francisco Bicalho, desde que as edificações estejam localizadas
em centro de terreno.90
O bairro do Leblon teve sua regulamentação através do Decreto nº 6115 de
11/09/1986, que endossa sua vocação residencial. Ao estabelecer gabarito de altura não
como números de pavimentos, mas como altura edificada, induziu os construtores a
buscarem pés-direitos mais baixos na tentativa de se conseguir um maior número de
pavimentos e, conseqüentemente, diluir o custo elevado do valor do terreno nesta área
muito procurada pela classe social de renda alta. Fixou a altura das edificações, nas ruas
transversais aos eixos viários, em vinte e cinco metros, permitindo atualmente sete
pavimentos residenciais sobre o pavimento térreo, deslocando para o subsolo o
estacionamento de veículos e a casa de máquinas dos elevadores, anteriormente localizada
no pavimento de cobertura. Nos eixos viários as alturas regulam entre trinta e quatro e
quarenta metros.91
Em 05/02/1987, o decreto 6462 foi sancionado para regulamentar as construções
no bairro da Tijuca. Trouxe em seu escopo a delimitação de altura para cada rua
individualmente, e a novidade de delimitar o número de pavimentos e também a altura
máxima a atingir, tentando evitar a situação observada no bairro do Leblon. Os gabaritos
de altura, porém, são bastante generosos se comparados com os demais PEUs, e estão entre
vinte e cinco e quarenta metros de altura na maioria das ruas, endossando sua característica
residencial.92
89 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. vol. II: 28. 90 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. voI.II: 84. 91 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :102. 92 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :150.
77
O bairro do Grajaú teve sua regulamentação através do Decreto nº 6996 de
30/09/1987, que introduziu novas siglas para as divisões urbanas: ZRU (zona residencial
unifamiliar), ZRM (zona residencial multifamiliar) e ZC (zona comercial) e cálculo
diferenciado para a área total edificada. O gabarito de alturas, demarcado rua a rua, foi
bastante restritivo para este bairro eminentemente residencial, fixando em três pavimentos,
para edificações coladas às divisas, e oito pavimentos, para edificações em centro de
terreno. Tendo, em sua maioria, lotes de dimensões pequenas, a possibilidade de
construção em centro de terreno diminui consideravelmente e como, pela primeira vez na
cidade do Rio de Janeiro, a área de recreação foi incluída na área edificada, o
aproveitamento dos lotes sofreu um decréscimo maior. Instituiu, também, a possibilidade
de construção de vilas residenciais no bairro.93
Seguindo a mesma linha de conduta do decreto 6996, foi sancionado o Decreto
6997 em 30/09/1987, para regulamentar os bairros de Andaraí, Maracanã e Vila Isabel,
com a mesma filosofia restritiva e possibilidade de construção de vilas residenciais.94
Para os bairros de Saúde, Gamboa e Santo Cristo foi sancionado o Decreto nº 7351
datado de 14/01/1988. Se por um lado fixou a altura das edificações entre 4,50m e
17,00m, restringindo bastante o aproveitamento dos lotes, por outro lado estabeleceu área
útil mínima das unidades em trinta metros quadrados, respeitando a vocação de abrigar a
população de classe social baixa, inclusive com o tipo de moradia em vilas residenciais.95
O Decreto nº 7654 de 20/05/1988 atendeu aos bairros da Penha, Penha Circular e
Brás de Pina situados na zona suburbana da cidade, modificado no mesmo ano pelo
Decreto nº 8320 de 29/12/1988. Este decreto estabeleceu gabarito de altura entre três e sete
pavimentos, escalonando-os de acordo com a altura da cota de soleira em relação ao nível
do mar.96
O Decreto que regulou os bairros de Bangu, Padre Miguel e Senador Câmara
(decreto nº 7914 de 03/08/1988) foi bastante completo abrangendo os tipos de
parcelamento de terra, usos e atividades e grupamentos de edificações. Permitiu vilas
residenciais com até trinta unidades unifamiliares e o gabarito de altura para os bairros
93 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :136. 94 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :140. 95 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. ::201. 96PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. voI.II: 225.
78
entre três e cinco pavimentos para as edificações coladas e afastadas das divisas,
respectivamente.97
O Decreto nº 8046, datado de 25/08/1988, regulamentou o bairro de São Conrado
e também foi bastante completo. A fixação dos gabaritos levou em consideração a
topografia e localização do terreno. A área do bairro foi dividida em ZRU (zona residencial
unifamiliar), ZT (zona turística multifamiliar) e ZC (zona comercial), a zona turística, que
margeia a praia de São Conrado e do Pepino que reserva o gabarito de altura mais generoso
– 55,00m – porém com uma ocupação no solo de apenas 25% do terreno.98
Após este período, nenhum bairro foi contemplado com Plano de Estruturação
Urbana. Alguma modificações foram necessárias para ajustes em alguns PEUs, outros
foram sancionados de forma genérica, como o Decreto 8321 de 29/12/1988 que
estabeleceu as condições de edificações em terrenos em encosta e a Lei 1421 de
18/07/1989 que estabeleceu a regularização de favelas (PROFAVELA).
A Lei Orgânica do Município, sancionada no ano de 1992, estabeleceu que as
edificações residenciais, que forem projetadas coladas às divisas, terão altura igual a doze
metros, o que significa três pavimentos residenciais sobre o pavimento térreo. Esta postura,
porém, não cabe aos bairros com Planos de Estruturação, somente aos que ainda não foram
regulamentados individualmente.
Na década de 1990, um outro corpo de Legislação urbanística ganhou espaço,
demonstrando a preocupação atual com a preservação do ambiente: as APACs – Áreas de
Proteção do Ambiente Cultural. No primeiro momento, as Áreas de Proteção visavam
principalmente a preservação ambiental como as APAs (Áreas de Proteção Ambiental) do
Arpoador (1994), do Morro da Viúva (1997), Morro da Babilônia e São João (1999), para,
em seguida, deter-se na preservação de exemplares arquitetônicos com representatividade
cultural, limitando gabaritos e usos. Como exemplos, temos a APAC de Laranjeiras
(2001), Jardim Botânico (2001), Botafogo (2002), Lagoa (2002) e a pioneira APAC da
Praça da Cruz Vermelha em 1992.
A decretação das Áreas de Proteção do Ambiente Cultural nos bairros bastante
valorizados, situados na zona sul da cidade, interferiu no mercado imobiliário e na própria
97 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :.237. 98 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :275.
79
valorização dos imóveis situados nestes bairros, em função da limitação dos gabaritos e
taxas de ocupação, diminuindo o número de unidades residenciais por lote e tornando mais
difícil a execução do empreendimento imobiliário. Importante salientar que as APACs
trazem, em seu escopo, listas de imóveis preservados que não podem ser demolidos ou
modificados.
Normas Edilícias
As intervenções legais nos espaços de moradia só ocorreram na cidade do Rio de
Janeiro a partir de meados de 1850, com a necessidade de se direcionar posturas de
construção para criar condições de salubridade nas moradias urbanas.
Antes desse período as intervenções traziam apenas limitações do número de
janelas e a obrigatoriedade de se encostar as edificações nas divisas laterais, o que
acarretava cômodos internos sem ventilação.
Mas com a necessidade de se diminuir a incidência de doenças contagiosas na
cidade, surgiram os primeiros regulamentos de higiene social.
Segundo Albernaz, para fazer jus a isenção de impostos, concedida aos
concessionários construtores (Decreto nº 9859 de 08/02/1888), era necessário atender, nas
construções das vilas operárias higiênicas, a alguns requisitos:
- “Utilizar materiais isentos de qualquer causa de umidade e não-provenientes de
outras construções;
- Ter prédios elevados de cinqüenta centímetros, acima do solo, com ventilação
adequada no porão;
- Cimentar ou azulejar cozinha, lavadouros, latrinas e banheiros;
- Ter pés-direitos de 4,40m no mínimo no primeiro pavimento e 4,00m no segundo;
- Ter todos os cômodos com ventilação natural;
- Ter entrada independente, latrina com W.C. e encanamento com água potável com
a correspondente pia, torneira e esgoto;
80
- Iluminar gratuitamente a gás ou à luz elétrica todos os corredores, escadas,
passagens, pátios e mais cômodos de uso comum;
- Criar e manter, para cada grupo de habitação em que houver mais de duas mil
pessoas, uma escola mista de instrução primária do 1º grau;
- Estabelecer para uso dos inquilinos de cada grupo de habitação, em que residirem
pelo menos oitenta famílias, uma lavanderia desinfetante a vapor;
- Estabelecer, para cada grupo de doze famílias, um tanque de lavagem e uma sala
de banhos frios;
- ter um ou mais médicos encarregados de tratamento gratuito de seus inquilinos,
que ficarão incumbidos da fiscalização higiênica das habitações, assim como da
organização de relatórios a serem apresentados semestralmente à Inspetoria Geral de
“Hygiene”;
- Manter um empregado incumbido de zelar pela conservação de asseio e boa
ordem nos logradouros e cômodos de uso comum.” 99
Ao serem tomadas estas medidas, algumas situações do programa projetual
precisavam ser adequadas, como, por exemplo, a introdução de um minúsculo cômodo
para a latrina e o afastamento lateral das edificações para possibilitar a ventilação natural
direta das alcovas. O atendimento à exigência da elevação da edificação no solo fez surgir
as residências sobre porão alto ventilado, criando nova tipologia de moradia, na virada do
século XX.
A obrigatoriedade de ventilação natural dos cômodos vigorou nas normativas
públicas até o surgimento do novo modelo de moradia – o edifício de apartamentos.
Segundo Lemos, “eram terminantemente proibidas pelos Códigos de Obras, dependências,
quaisquer que fossem elas, desprovidas de janelas abertas para o exterior”. 100
Sem uma normativa reguladora, repetiam-se as plantas das casas isoladas, agora,
superpostas. Era necessário apresentar ao público consumidor atrativos maiores para a
consolidação do novo modelo arquitetônico, criando diferenças objetivas e socialmente
99 ALBERNAZ, Maria Paula. “ As Vilas: Uma Contribuição à História da Arquitetura Popular no Rio de Janeiro através do Estudo de Espaço Urbano.” Rio de Janeiro: UFRJ/IPUR, 1985:70/71. 100 LEMOS, Carlos A.C. “A Casa Brasileira.” São Paulo: Contexto, 1996:80.
81
significantes. Como descreve Lílian Vaz, “os pontos mais criticados e considerados mais
negativos nas antigas habitações coletivas se tornaram os mais positivos e os mais
admirados: entradas e pátios repletos X entradas e portarias sóbrias e elegantes; corredores
estreitos e escuros X circulações amplas e iluminadas; latrinas comuns e insuficientes X
water closets privativos e banheiros completos; pátios de trabalhos expostos X áreas de
serviço internas; interiores escuros e sem ventilação X ambientes claros e arejados; espaços
limitados e acanhados X ambientes bem dimensionados; espaços de uso múltiplo e
indiferenciados X espaços funcionalmente determinados”.101
De acordo com Lemos, dado o caráter de novidade, o prédio de apartamentos foi
inicialmente planejado e construído sem critério normalizador. “Somente aos poucos é que
foram se definindo as normas e as constantes orientações estabelecidas pela prática.”102
Embora, como foi citado, existisse o Decreto 9859/1888, que determinava o que
uma casa ou apartamento deveria ter, esse mesmo Decreto não previa áreas mínimas ou
dimensões. A falta de limites fez surgir a construção de edifícios com o maior número
possível de apartamentos para aumento da margem de lucro, na década de 1940. Como
conseqüência, os apartamentos tiveram suas áreas internas decrescidas gradativamente até
o aparecimento dos apartamentos de quarto-e-sala e os chamados conjugados,
especialmente no bairro de Copacabana, quase numa reprodução de um quarto de hotel,
segundo descreve Abreu.103
Os regulamentos que estabeleceram as dimensões mínimas para divisões internas e
vãos de iluminação e ventilação dos compartimentos só surgiram de maneira ordenada, na
década de 1970, através do Decreto E nº 3800 de 20/04/1970 no Regulamento de
Construções e Edificações.104
Antes, por falta de ação reguladora por parte do Estado, as construções
condicionavam-se de acordo com os interesses dos construtores e incorporadores.
Para início de regulamentação o R.C.E. (Regulamento de Construções e
Edificações) define o que seja edificação residencial permanente (edifícios de
apartamentos) e edificação residencial transitória (hotéis e congêneres), fixa que toda
101 VAZ, Lílian F. “Modernidade e Moradia – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002:138. 102 LEMOS, Carlos A.C. “Cozinhas, etc. Estudo sobre as Zonas de Serviço.” São Paulo: Ed. Perspectiva, 1978:155. 103 ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997:129. 104 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. voI.I:137.
82
unidade residencial permanente deve ser constituída, no mínimo, de dois compartimentos
habitáveis, um banheiro e uma cozinha (art. 8º), evitando a construção de novos
apartamentos conjugados.
Determina que a edificação multifamiliar deverá ter uma portaria, local para coleta
de lixo, local de medidores de gás canalizado, área de recreação em alguns casos e caixas
receptoras de correspondência (art. 10º); dispõe sobre locais para estacionamento de
veículos, declinando sobre as possíveis isenções de vagas de garagem (art. 47º). Delibera
sobre a obrigatoriedade de reservatório de água próprio, superior e inferior, determinando
seu volume em função do número de compartimentos habitáveis existentes na edificação
(art. 81º). Estabelece larguras mínimas para as circulações comuns, obrigatoriedade,
dimensões e número de elevadores necessários (art. 84º).
Com relação às partes privativas das unidades, classifica os ambientes em
habitáveis (salas e quartos) e não-habitáveis (banheiros e cozinhas), estabelecendo limites
mínimos quanto à área de piso, largura dos compartimentos, vãos de iluminação e
ventilação e vãos de acesso (art. 122º e subseqüentes).
Em decorrência dos incêndios ocorridos, de maneira trágica, no início da década de
1970 em São Paulo, e também alguns de menores conseqüências no Rio de Janeiro, foi
sancionado o Decreto nº 897 de 21/09/1976, que dispõe sobre segurança contra incêndio e
pânico. Este decreto estabelece várias providências que devem ser tomadas em relação a
hidrantes localizados nos pavimentos, canalização preventiva, sprinklers (nas edificações
acima de trinta metros) e mangueiras (com comprimento máximo de trinta metros). No que
se refere à escape, delibera a construção de escada enclausurada em paredes de concreto à
prova de fumaça, munidas de antecâmara e duto de ventilação exclusivo, para aumento das
possibilidades de fuga dos moradores em caso de pânico, sendo obrigatórias em
edificações em que sejam necessários elevadores (cinco pisos de qualquer natureza).105
O R.C.E. estipulava a área mínima dos quartos das unidades residenciais em nove
metros quadrados e largura mínima de dois metros, e da dependência de empregado em
quatro metros quadrados com largura mínima de um metro e meio. Através da Lei 550 de
19/06/1984, a área mínima dos quartos de empregados passou a ser de seis metros
quadrados com largura mínima de dois metros. Esta medida fez com que, aos poucos, fosse
105 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. voI.I:425.
83
repensada esta área extremamente cara e que, em alguns casos, representava 10% da área
interna do apartamento, fazendo com que fosse incorporada ao setor íntimo ou social para
uso dos proprietários do imóvel.106
De teor semelhante, é sancionada a Lei 1218 de 11/04/1988, que dispõe sobre a
obrigatoriedade de se projetar apartamento de zelador nos edifícios de apartamentos, com
área útil total mínima de trinta e cinco metros quadrados, dispondo de quarto (10,00m²),
sala (15,00m²), cozinha (6,00m²) e banheiro (4,0m²). Com esta lei surgiram situações
pitorescas como, por exemplo, o apartamento do zelador se constituir na unidade
habitacional de dimensões mais generosas do edifício, se este for composto de apartamento
de trinta metros quadrados de área útil. E também os banheiros dos apartamentos
possuírem área útil mínima de um metro e meio quadrados e o do porteiro, quatro metros
quadrados.107
Em 05/01/1988, foi aprovado o Decreto nº 7336 que regulamenta explicitamente a
construção de edificação residencial multifamiliar, anulando e substituindo as posturas
anteriores.108
Uma das modificações implementadas por este decreto foi o novo cálculo dos
afastamentos laterais e de fundos, e dos prismas de ventilação internos das edificações.
Foram fixados em função das alturas das edificações e não mais de acordo com uma tabela
fixa. Esta medida induz à utilização de pés direitos mínimos para que os prismas sejam
menores.
Com relação à parte interna das unidades privativas, as modificações foram
concernentes à largura mínima das salas e quartos, fixada em dois metros e meio,
impedindo a situação de ventilação dos compartimentos através de vãos estreitos, os
chamados compartimentos cachimbados. Foi revista a profundidade dos cômodos que,
caso excedam a duas vezes e meia a altura do pé-direito, precisarão maior área de
ventilação. Foram estabelecidas as dimensões das varandas balanceadas, que não poderão
exceder a 20% da área útil da unidade.
106 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. voI.II:40. 107 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :222. 108 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :158.
84
Na parte comum das edificações residenciais multifamiliares, as modificações
compreendem: a obrigatoriedade da rampa para portadores de deficiência temporária ou
permanente até o hall social com inclinação de 10%, através da Lei 1174 de 30/12/1987; a
inclusão de um banheiro de serviço para empregados do condomínio e a inclusão de
vestiário e refeitório para empregados nas edificações com mais de cinqüenta
apartamentos.
No que tange à área de estacionamento de veículos, foi introduzida a possibilidade
de demonstração das vagas, através da marcação dos carros no piso, podendo inclusive
prever a situação de vaga presa dentro dos parâmetros estabelecidos.
Este Decreto introduz normativa relativa à proteção do meio ambiente e ao conforto
ambiental referentes à insolação, isolamento térmico e acústico e aproveitamento enérgico.
As últimas regulamentações edilícias recaem sobre o problema da acessibilidade,
estatuindo a utilização de, pelo menos, um elevador com cabine dimensionada para acesso
de cadeiras de rodas, e sobre o recolhimento de lixo nos pavimentos tipos em caçambas
próprias, sem a obrigatoriedade do tubo de queda.
A seguir, foram relacionados, para efeito de consulta, cronologicamente os diversos
decretos e leis reguladores da construção de edificações multifamiliares, nos aspectos
urbanísticos e edilícios.
Quadro de Leis e Decretos Legais
Decreto / Lei nº Data Regulamenta ...
3151 09/12/1882 As casas com latrinas, encanamento e ventilações.
9859 08/12/1888 A isenção de impostos diversos p/ construção das
casas higiênicas.
244 20/04/1896 As casas proletárias em diversos bairros.
762 01/06/1900 A construção de “avenidas”.
85
391 10/02/1903 A proibição de construção de cortiços.
2087 19/01/1925 A construção de edifícios fixando relação entre a
largura da rua e a altura da edificação.
617 30/08/1927 A vinda de Alfred Agache.
5595 10/07/1935 As modificações sugeridas por Agache.
6000 01/07/1937 A proibição de vilas residenciais e o adensamento
das zonas residenciais.
1574 11/12/1967 O poder do estado para intervenções em todos os
setores da construção.
3800 20/04/1970 A Lei de Desenvolvimento Urbano.
322 03/03/1976 Todo o zoneamento do Rio de Janeiro.
1269 27/10/1977 O Plano Urbanístico Básico.
1446 02/03/1978 O PEU da Urca.
2108 14/03/1979 O bairro da Ilha do Governador.
2418 05/12/1979 O bairro de Jacarepaguá.
2638 28/05/1980 O bairro de Laranjeiras.
2735 20/08/1980 O bairro da Gávea.
3046 27/04/1981 O Plano Piloto da Barra da Tijuca.
434 27/07/1983 O PEU de Botafogo.
5840 21/05/1986 Os bairros de São Cristóvão, Mangueira e Benfica.
6115 11/09/1986 O bairro do Leblon.
6462 05/02/1987 O bairro da Tijuca.
86
6996 30/09/1987 O bairro do Grajaú.
6997 30/09/1987 Os bairros do Andaraí, Maracanã e V.Isabel.
7351 14/01/1988 Os bairros da Saúde, Gamboa e Sto Cristo.
7654 20/05/1988 Os bairros da Penha, Penha Circular e Brás de
Pina.
7914 03/08/1988 Os bairros de Bangu, Padre Miguel e senador
Camará.
8046 25/08/1988 O bairro de São Conrado.
Mais recentemente, foram criadas as APACs – Áreas de Proteção Ambiental e Cultural.
90
Devido à sua história e localização na zona sul, o bairro de Botafogo desempenhou e
desempenha papel de relevante importância na história da cidade do Rio de Janeiro. Sua
ocupação territorial data do primeiro século da fundação da cidade, e suas terras abrigaram
desde moradores ilustres, dos mais altos escalões da história do país, até a população mais
miserável que subiu as encostas dos morros que limitam suas terras. Acompanhou a
evolução da cidade, apresentando em seu território praticamente todos os modelos
arquitetônicos residenciais desenvolvidos no Rio de Janeiro.
Sua população aumentou quando os movimentos migratórios internos, movidos pela
oferta de emprego no setor secundário, modificaram a estrutura econômica do Rio de
Janeiro, vivendo também período de estagnação populacional quando os bairros de
Copacabana, Jardim Botânico, Lagoa, Ipanema e Leblon atraíram o mercado imobiliário e
sedimentaram-se como bairros residenciais de classe média e média alta.
O bairro de Botafogo apresentou uma ocupação horizontal que permaneceu
aproximadamente por três séculos, tendo observado transformações mais intensas no
século XIX e consolidado sua verticalização no século XX, intensificado com a
implantação do Metrô. Ao contrário, o bairro de Copacabana teve sua ocupação definida
de forma mais homogênea, de alta densidade e intensa verticalização, em praticamente
duas décadas (1940 a 1960).
O bairro de Botafogo acompanhou diversas mudanças de normas de legislação ao
longo do tempo, retratados nos tipos arquitetônicos que abriga.
A diversidade dos tipos arquitetônicos determinada principalmente pelos diferentes
gabaritos e pelos perfis de implantação da edificação no solo é retratada em tratamentos
diversificados de volumetria e fachadas, demonstrando diversos perfis de ocupação.
É, portanto, um bairro dinâmico e atraente para o mercado de oferta e demanda por
moradias.
Atraente para os moradores que conseguem encontrar nas suas ruas praticamente tudo
o que almejam: diversos tipos de moradias em ruas calmas ou avenidas agitadas, comércio
de rua farto ou comércio sofisticado nos shoppings locais, serviços secundários que
abrangem colégios, clínicas, prédios comerciais, restaurantes de elite e fast-foods, espaços
de lazer, praia e farto transporte público.
91
Atraente para os incorporadores imobiliários que, a partir do conhecimento de uma
clientela fiel e presente, podem oferecer edificações residenciais multifamiliares de
diversos tipos de acordo com legislação municipal definida.
Nestes dois vetores está a causa do crescimento imobiliário verificado no bairro desde
a década de 1990, quando o número de moradias oferecidas ao mercado tem aumentado de
maneira significativa. Concentra um número expressivo de novas construções,
transformando determinadas ruas em verdadeiros canteiros de obras, como as Ruas
Voluntários da Pátria, Paulo Barreto e Paulino Fernandes.
fig. 56 - Obra existente na Rua Voluntários da Pátria, 48. fig. 57 – Obra existente na Rua Paulo Barreto, 21.
fig. 58 - Rua Paulino Fernandes, 17.
Outra causa para este crescimento de ofertas de moradias é a existência de lotes em
condições de ocupações. São terrenos edificados com casas térreas e sobrados, sem
interesse histórico ou arquitetônico que estão sendo substituídos por edifícios residenciais
de três a onze pavimentos.
92
Com estudo da evolução histórica, da área edificada e da expansão residencial no
bairro de Botafogo ao longo do século XX, pretendemos aprofundar a reflexão acerca da
sua vocação residencial, justificando nosso recorte de pesquisa.
93
2.1 - Evolução Histórica
Quando a cidade do Rio de Janeiro se transferiu em 1567, do Morro Cara de Cão
para o Morro do Castelo, por motivos de segurança, nem todos os moradores da região
original se transferiram. Como nos diz Vivaldo Coaracy: “Muitos deles permaneceram na
localização original, em torno da Igreja que Estácio construíra e onde fora sepultado. Por
vários anos ainda continuou o lugar a ser chamado Vila Velha ou Cidade Velha... A
persistência desses moradores é devido ao precoce desenvolvimento de chácaras e lavouras
na região que depois se chamou Botafogo.”109
O crescimento natural desta área ganhou impulso com a construção da ponte sobre
o Rio Carioca, ainda no século XVI, que desembocava na Baía de Guanabara na altura do
atual Largo do Machado. Os caminhos e estradas iam sendo abertos, margeando a praia e
beirando a base dos morros: Praia de Botafogo, Rua São Clemente, General Polidoro e Rua
da Passagem.
fig.59 -- Mapa da Baía de Guanabara, de 1586, onde se observa a saída do Rio Carioca, à direita.
109 COARACY, Vivaldo. “Memórias da Cidade do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1955: 287.
94
Até o início do século XVIII, o atual bairro de Botafogo, estava dividido entre dois
latifundiários.
A área compreendida entre a Praia e a atual Rua Marquês de Olinda pertencia, até
1641, à Francisco Velho, que emprestava seu nome à Enseada. Após esta data, essas terras
passaram às mãos de João Pereira de Souza Botafogo, que as obteve de sesmaria, pelos
serviços prestados, dando origem ao nome do bairro que perdura até hoje.
As terras localizadas entre as atuais Rua Marquês de Olinda e Rua General
Polidoro, com fundos indo até o Largo dos Leões e Humaitá, pertenciam a D. Clemente
José de Matos, chamando-se na ocasião de Quinta de São Clemente.
fig. 60 - Mapa do bairro de Botafogo com a divisão entre os dois latifúndios de João de Souza Botafogo
e de D. Clemente Matos, no século XVII.
Somente em 1702, quando D. Clemente morreu, as terras sofreram seu primeiro
processo de repartição em processo muito lento.110
A expansão da cidade no decorrer do século XVIII se processou, sobretudo, graças
à conquista das lagoas e brejos que dificultavam o crescimento da cidade. Confinada entre
as encostas do Corcovado e o cordão orográfico de Copacabana, tendo a leste o mar e a
oeste a Lagoa Rodrigo de Freitas, Botafogo teria sido possivelmente um vasto alagadiço. 110 Somente três novas chácaras no período de um século. – Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do solo Urbano da UFRJ. “História dos Bairros – Botafogo” Rio de Janeiro: Index Editora Ltda, 1982: 37.
95
fig. 61 - Complexo Hidrográfico de Botafogo, mostrando suas terras bastante irrigadas.
A primeira metade do século XVIII foi caracterizada pelo crescimento da produção
de ouro, criando prosperidade. O Rio de Janeiro com seu porto beneficiou-se dessas novas
atividades econômicas, sendo elevado à Capital da Colônia em 1763, multiplicando suas
funções urbanas, aumentando sua população e conquistando novas áreas, aterrando brejos
e lagoas.
Conta-nos Cohen e Fridman, no livro “Rio e Janeiro, Ontem e Hoje” que “até fins
do século XVIII a única via de acesso entre a Praia de Botafogo e a Lagoa Rodrigo de
Freitas era o Caminho da Lagoa, depois chamada de Rua Berquó, atualmente Rua General
Polidoro. A Rua São Clemente foi aberta por imposição do penúltimo Vice-Rei aos
herdeiros da Quinta de São Clemente. Esse terreno ficava entre as duas serras que formam
o vale que liga o litoral de Botafogo à Lagoa Rodrigo de Freitas, para que transformassem
em rua pública um caminho interno particular.”111
Entretanto, as grandes mudanças na condição rural da região que viria a se tornar
Botafogo só teriam um aumento expressivo em sua intensidade após a chegada da Família
Real à colônia, provocando a expansão das funções administrativas da capital, e a abertura
dos portos, trazendo como conseqüência o incremento das atividades comerciais.
111 COHEN, Alberto & FRIDMAN, Sérgio A. “Rio de Janeiro, Ontem e Hoje.” Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1998: 78.
96
Operando modificações profundas na vida de toda a cidade, foram introduzidos
nesse período novos hábitos e novas formas de concepção, tanto do espaço urbano como
do arquitetônico.
Houve um crescimento populacional extremamente rápido na cidade, forçando as
camadas abastadas da população a se mudarem para as áreas adjacentes às freguesias
centrais devido à ocupação forçada de seus imóveis por membros da Corte. Em um
primeiro momento, os vetores principais de crescimento desta expansão se deram no
sentido de São Cristóvão e da Glória, atingindo a região de Botafogo logo depois. O
impulso definitivo para o crescimento da área foi a instalação de Dona Carlota Joaquina na
Praia de Botafogo, no princípio do século XIX, onde mandou construir uma casa. Como
ela, algumas famílias de nobres e ricos comerciantes decidiram instalar seus domicílios em
Botafogo, por causa de seu clima agradável. Já nos primórdios desse século era marcante a
presença de ricos comerciantes ingleses em Botafogo, devido ao crescimento das relações
comerciais com a Inglaterra, além de representantes diplomáticos junto à Corte de D. João
VI.112
fig. 62 - Gravura de Rugendas, 1820 – Praia de Botafogo com a residência da Rainha Carlota Joaquina à direita.
Fig. 63 - Óleo sobre tela de S.Faux – 1835 – Residência da Rainha Carlota Joaquina na Praia, esquina com a atual Rua
Marquês de Abrantes.
112 GRUPO DE PESQUISA EM HABITAÇÃO E USO DO SOLO URBANO DA UFRJ. “História dos Bairros – Botafogo” Rio de Janeiro: Index Editora Ltda, 1982: 41.
97
Gerson Brasil, no seu livro “História dos Subúrbios”, nos conta que “é possível que
a sua casa (de Dona Carlota Joaquina) não tenha sido a primeira dessas casas
botafoguenses de recreio ou para banhos de mar. O certo, entretanto, é que, estimulada pela
presença dela, outras começaram a aparecer na praia ou na estrada que conduzia à
Gávea...”113
Fig. 64 - Foto do edifício Paraopeba construído no terreno da antiga residência da Rainha Carlota Joaquina.
O crescimento da cidade neste período, como um todo, foi surpreendente. Maurício
Abreu nos conta que “as áreas mais próximas das freguesias urbanas pouco a pouco viam
suas fazendas retalhadas em chácaras que, de início reservadas às atividades de fim de
semana das classes dirigentes, foram aos poucos transformando em local de residência
permanente, justificando inclusive a criação de novas freguesias... Botafogo, arrabalde da
freguesia da Lagoa, também passa nessa época por um surto de criação de chácaras,
situadas principalmente na praia de Botafogo, na Rua de São Clemente e na de São
Joaquim da Lagoa (atual Rua Voluntários da Pátria).”114
fig. 65 - Gravura do Barão de Planitz – Vista de Botafogo, por volta de 1850.
113 BRASIL, Gerson. “História dos Subúrbios – Botafogo.” Rio de Janeiro: Livraria Editora Brasiliana, 1965: 9. 114 ABREU, Maurício de A. “Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997: 37.
98
O bairro de Botafogo se preparou para receber uma população cada vez mais
numerosa que viria a completar o processo de formação do bairro e levaria à sua
consolidação como tal.
A inauguração da carreira de barcos a vapor ligando o bairro ao Saco do Alferes
(atual bairro de Santo Cristo), em 1843, já dava marcas da monta da ocupação permanente
no bairro, apesar de, desde 1839, já dispor de ônibus de tração animal, refletindo a
expressividade de seu crescimento.115
O embelezamento do bairro, cuidadosamente elaborado pelos ilustres moradores,
atraía cada vez mais moradores, transformando-se num bairro requintado.
Os meios de transportes intensificavam a movimentação em todo o bairro, não só
com os vapores que partiam do píer da enseada de Botafogo, como também as linhas de
bondes puxados a burro que regularizaram os transportes em toda a área da zona sul.
fig.66 - Óleo sobre tela de Facchinetti – 1868.
Observa-se o ancoradouro, iluminação pública e o Morro da Viúva ao fundo.
Um fato relevante acentuava o desenvolvimento do bairro por volta de 1850: o
abastecimento de água a partir de 1854 e a iluminação à gás a partir de 1860.
Toda esta movimentação começou então a operar algumas modificações que foram
definitivas a médio prazo na alteração da paisagem do bairro.
Segundo Fania Fridman revela, “a Lei de Terras de 1850 marcou o início da
mercantilização do chão no Brasil o que significou a transformação das terras urbanas e
115 ABREU, Maurício de A. “Evolução Urbana do Rio de Janeiro” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997: 41.
99
rurais em mercadorias, com uma produção, um preço e, portanto, um mercado. Esta lei
tornou-se um marco para a constituição de novos agentes produtores do espaço urbano
carioca, dos quais podemos citar os loteadores e os construtores de habitações populares.”
Ainda na primeira metade do século XIX começaram a surgir as primeiras ruas,
abertas pelos proprietários de chácaras, em seus terrenos. Começou a ocorrer também o
parcelamento das grandes chácaras em outras de menores dimensões. Até o fim do século
esse fenômeno ocorreu, diminuindo gradativamente as dimensões dos lotes provenientes
do parcelamento das pequenas chácaras.
fig. 67 - Planta do loteamento das terras de Baptista de Leão no Largo dos Leões. Em destaque, a casa da família.
fig. 68 - Largo dos Leões no século XIX – À esquerda em primeiro plano a chácara e a casa da família Leão, limitada
pela Rua Marques.
100
O dinamismo do bairro de Botafogo logo atraiu também populações não
aristocráticas, principalmente imigrantes portugueses, que passaram a se dedicar ao
comércio e a se instalar nos terrenos menos valorizados, situados principalmente nas
proximidades do Cemitério de São João Batista (que havia sido inaugurado em 1852), e
cujas atividades contribuíram para o incremento da navegação entre o bairro e o centro da
cidade, como nos descreve Maurício Abreu.116
Os meios de transportes fartos no bairro contribuíram e muito para o dinamismo
observado. A Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico estendeu suas linhas de bondes
de burro, que iam do Centro ao Largo do Machado, até o Jardim Botânico, em 1871,
beneficiando muito o bairro. A mesma Companhia perfurou o atual Túnel Velho em 1892,
criando a primeira linha regular para Copacabana. (mais tarde, abriu outro túnel em direção
à Copacabana – o túnel Novo, aberto em 1902).
fig. 69 - Túnel Velho com o cemitério João Batista ao fundo. O viaduto está bastante modificado atualmente.
Maurício Abreu ressalta que “os bondes não só vieram atender a uma demanda já
existente como, atendendo a essa demanda, passaram a ter influência direta, não apenas
sobre o padrão de ocupação de grande parte da cidade, como também sobre o padrão de
acumulação de capital que aí circulava, tanto nacional como estrangeiro.”117
Entre os anos de 1870 e 1880, o loteamento de terrenos multiplicou-se no bairro, e
o crescimento de sua população aumentou consideravelmente com a abertura de diversas
116 ABREU, Maurício de A. “Evolução Urbana do Rio de Janeiro”. Rio de Janeiro: IPLAN, 1997: 41. 117 ABREU, op. cit.: 43.
101
ruas novas, tudo estimulado pelos bondes. Muitas dessas ruas foram obra dos irmãos
Domingos e César Farani, responsáveis pela difícil construção da rua que leva até hoje seu
nome.118
Por esta época também acentuou-se a diversidade de ocupação do bairro,
estimulada a partir da implantação dos transportes coletivos, principalmente do bonde. Já
existindo colégios (Colégio da Imaculada Conceição, 1854) e clínicas (Casa de Saúde Dr.
Eiras, 1860), o comércio, que antes se localizava próximo à estação das barcas (em frente à
Rua São Clemente), aos poucos foi se espalhando ao longo das linhas do bonde, reforçando
o processo de urbanização e transformando aquele espaço, já mais urbano que rural, num
verdadeiro bairro.119
A implantação de algumas fábricas têxteis no bairro atraiu um contingente
expressivo que buscava moradia próxima ao local de trabalho. Surgiram, então, as vilas
operárias para atendimento a esta demanda, construídas, principalmente, pela Companhia
de Saneamento do Rio de Janeiro.
fig. 70 - Mapa de Botafogo com a localização das principais fábricas e das vilas operárias do fim do século XIX.
118 COHEN, Alberto & FRIDMAN, Sérgio de A. “Rio de Janeiro, Ontem e Hoje”. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1998:74. 119 GRUPO DE PESQUISA EM HABITAÇÃO E USO DO SOLO URBANO DA UFRJ. “História dos Bairros – Botafogo” Rio de Janeiro: Index Editora Ltda, 1982: 51.
102
No fim do século XIX, diversos fatores contribuíram para uma grande expansão na
malha urbana do Rio de Janeiro: a crise cafeeira fluminense, a abolição da escravatura, a
chegada de imigrantes e o início da industrialização.
O crescimento populacional gerou uma crise habitacional, principalmente no centro
da Cidade, e então o investimento em terrenos para parcelamento e em moradias para
alugar surgiu como uma excelente alternativa.
Iniciaram-se em Botafogo as primeiras de aberturas de ruas e loteamentos feitos por
empresas, ao lado daqueles feitos pelos proprietários de chácaras.
O desmembramento das grandes chácaras dera origem a uma série de quadras
muito extensas e profundas, voltadas para as poucas ruas então existentes. A ocupação do
interior dessas quadras foi feita através das vilas residenciais, em terrenos de dimensões
reduzidas, com acesso para o logradouro público através de ruelas sem saída. Este tipo de
ocupação ainda hoje marca a paisagem do bairro.
fig. 71 - Em 1877, a firma Domingos Farani e Irmão abre as ruas Visconde de Abaeté (atual Conde de Irajá), Pinheiro
Guimarães, Visconde Silva e Visconde de Caravelas, demarcando lotes.
Exemplo do processo de repartição de terras e produção de moradias
103
Transformações profundas começaram a alterar a fisionomia de Botafogo. O bairro
começou a se povoar de habitações coletivas que abrigaram funcionários públicos,
militares, pequenos comerciantes e bancários, morando em centenas de casinhas de vilas
ou em casas geminadas voltadas para a rua. A necessidade de moradia era grande o que
propiciou também o aparecimento de cortiços, ainda no século XIX.
No início do século XX, as partes planas do bairro já estavam ocupadas, ocorrendo
então, aberturas de novas ruas próximas aos morros, principalmente no Humaitá.
fig. 72 - Garagem de bondes no Humaitá, onde hoje se situa o Hortomercado Cobal.
fig. 73 - Praia de Botafogo esquina com Rua São Clemente – 1928
Fora o chalé da esquina, este trecho se mantém pouco alterado.
Com a necessidade crescente de moradia justificou-se a ocupação por habitações
coletivas, fato que começou a surgir em princípios de 1900, quando o bairro já se
encontrava praticamente loteado.
A partir de 1903, a legislação proibiu a construção de cortiços, pelo seu
componente de insalubridade. Os sobrados eram um padrão arquitetônico com bastante
aceitação e utilidade desde o século anterior, e que se tornou em Botafogo uma das suas
marcas registradas. O pavimento térreo, onde se situavam a cocheira e os escravos, passou
104
a ser utilizado como armazém ou lojas, principalmente nas ruas onde se concentravam as
atividades não-residenciais do bairro, que eram os eixos por onde os bondes transitavam:
Rua Voluntários da Pátria, Rua da Passagem e Rua General Polidoro.
fig. 74 - Sobrados na Rua Voluntários da Pátria – 1933. Aspecto geral do comércio.
Também datando da virada do século XX encontravam-se edifícios institucionais
de importância no bairro, como o Colégio Santo Inácio na Rua São Clemente (1903),
Colégio Andrews na Praia de Botafogo (1918) e os Hospitais São João Batista e dos
Estrangeiros que datam de 1910.
fig. 75 - Jardim de infância Marechal Hermes situado na Rua Martins Ferreira – 1910/1915.
105
fig. 76 - Rua São Clemente na altura do Colégio Santo Inácio, no início do século XX.
fig. 77 - Foto do Colégio Santo Inácio hoje. Observar que o muro existente é o original.
106
2.2 - Evolução da área edificada e expansão residencial no século XX
Segundo Sérgio Lordello, nas três primeiras décadas do século XX, a
predominância das construções foi horizontal, com 98,7% das edificações com até 2
pavimentos (dados de 1906) no Distrito Municipal da Lagoa (Botafogo). O restante, 1,3%,
compunha-se de edificações de 3 pavimentos no máximo, concentradas na Rua Voluntários
da Pátria, rua mais central e de maior importância comercial. As ruas mais intensamente
edificadas foram as Ruas São Clemente, Real Grandeza e Voluntários da Pátria (os eixos
das linhas de bonde).120
O comércio se instalou nestas ruas, pioneiras no bairro em apresentar prédios de
três pavimentos, contrastando com a grande maioria das construções térreas.
Neste período, nas ruas transversais, as que apresentavam maior número de prédios
de 2 pavimentos foram a Rua Sorocaba e a Dona Mariana, indicando nível social mais
elevado de seus moradores, segundo Lordello. A habitação da população de baixa renda se
limitava a pensões e casas de cômodos localizadas principalmente na Rua São Clemente,
da Passagem e na Rua Assunção. 121
De acordo com dados de 1933, eram bastante numerosas as habitações em forma de
vilas ou casas em avenidas, principalmente nas Ruas Assis Bueno, Assunção e S. João
Batista, representando em todo o bairro 30% do total das edificações, significando, a
solução, maximização do aproveitamento horizontal do lote, que atendiam não só a camada
de nível social mais baixa como também a de nível médio quando se destacavam pelos
padrões construtivos de melhor qualidade e pelas dimensões das habitações.122
No ano de 1933 já se contavam em 15 o número de edificações acima de 3
pavimentos, principalmente localizadas na Praia de Botafogo e São Clemente, porém
destas apenas uma com 6 pavimentos, localizada na Rua Voluntários da Pátria. Em 1935,
foi construído um prédio de 10 pavimentos localizado na Praia de Botafogo, esquina com a
Rua Marquês de Olinda, substituído em 1982, pelo Edifício-sede da Caemi.123
120 LORDELLO, Sérgio. “Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – o caso de Boatfogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 142. 121 LORDELLO, op. cit. :142. 122 Dados do Departamento Nacional de Estatística. “Estatística Predial do Distrito Federal – 1933” 123 Gabarito só legalizado em 1937 pelo Decreto 6000.
107
fig. 78 - Aquarela de F. Ranzini – 1940. Praia de Botafogo fig. 79 - Foto do Edifício-sede da Caemi,
com o primeiro prédio de dez pavimentos. construído em 1982, projeto dos irmãos Musa.
Desta fase registra-se um início de ocupação dos morros do Pasmado, Saudade e
São João, com casebres de madeira, representando o embrião das futuras favelas
percebidas mais nitidamente a partir de 1940.
Sérgio Lordello afirma que “sem modificações fundamentais em sua estrutura
interna básica, quer viária, quer de localização de atividades, quer de composição social ou
mesmo quanto à sua área edificada, Botafogo experimenta nesses primeiros trinta anos do
século XX o início embrionário de um processo de concentração de serviços –
marcadamente educacionais e de saúde – o que a partir de então viria a lhe assegurar o
papel de subcentro, o qual iria desempenhar, posteriormente, em relação à zona sul do Rio
de Janeiro.”124
O período, das décadas de 1940 a 1960, marcou a expansão do vetor sul da cidade
do Rio de Janeiro, adensando a orla atlântica, alavancando a atividade imobiliária,
traduzida na máxima utilização do solo buscando sua verticalização. Foi o período do
adensamento, principalmente do bairro de Copacabana, o que trará conseqüências na
estrutura interna de Botafogo, intensificando o tráfego de passagem entre o centro da
Cidade e o bairro praiano. Foi o período do surgimento do aumento do número de unidades
em um mesmo pavimento, principalmente na Praia de Botafogo, contornando o limite de
gabarito previsto na legislação urbanística, como o Edifício Rajah (1956).
124 LORDELLO, Sérgio. “Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – O caso de Botafogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 152.
108
Com os túneis Velho e Novo, a ampliação da Avenida Beira Mar, as melhorias nos
serviços de transportes e a conseqüente transferência de grupos da população para as novas
áreas, estimulou-se uma característica residencial que o bairro apresentava latente,
decorrente de sua localização, da ligação entre os bairros da zona sul e centro, e da oferta
de transportes públicos, primeiro o bonde, depois o ônibus, e finalmente o metrô.
A proibição de construção de vilas residenciais, em 1937, propiciou a construção de
edifícios de apartamentos no bairro, principalmente nas ruas cortadas pelos trilhos dos
bondes. A necessidade de moradia aliada à tecnologia construtiva do uso do concreto
fizeram com que surgissem, já nesta década, edifícios mais altos (6 a 10 pavimentos). E à
medida que se intensificou o trânsito com a modernização dos veículos automotores,
criaram-se duas identidades dentro do próprio bairro: ruas de tráfego intenso e agitado,
com edificações mais altas e comércio e ruas internas residenciais, mais horizontais e
tranqüilas.125
Com o crescimento significativo ocorrido, nas décadas de 1940 a 1970, nos bairros
vizinhos, principalmente em Copacabana, Botafogo teve, neste período, a população
praticamente estável. Surgiram nesta época novas atividades de serviço e o comércio se
voltou para o atendimento destes bairros mais populosos, abrigando atividades
incompatíveis com a valorização destes, como por exemplo, as oficinas mecânicas, as
clínicas, os grandes colégios e os grandes cinemas da Praia de Botafogo.
Ocorreu, portanto, em Botafogo, um processo gradual de descaracterização da
função predominantemente residencial, com a reciclagem de uso das edificações
residenciais para instalações de empresas e com a construção de grandes edifícios para
serviços, aproveitando-se da proximidade do centro, da clientela aumentada da zona sul e
do baixo custo de instalação, se comparado ao do centro da Cidade.
O processo de valorização do solo resultou, também, no agravamento da
localização residencial das camadas pobres da população, que buscaram as encostas dos
morros para estarem próximas ao local de trabalho, tais como as favelas de Macedo
Sobrinho, Santa Marta (ou Dona Marta) e Pasmado.
125 Mais tarde, pelo Decreto 322/76, intensificou-se esta tendência com a criação das CBs (centros de bairro) – ruas destinadas a implantação comercial.
109
Maurício Abreu explica o fenômeno da seguinte forma: “Transformada em
importante mercado de trabalho especializado no setor terciário, a zona sul passou a atrair
grande quantidade de mão-de-obra barata, que veio a ocupar os terrenos íngremes até então
desvalorizados pela empresa imobiliária, dando origens a novas favelas. Com efeito, se em
1942 a zona sul possuía pouco mais de 10 favelas, em 1950 esse número já era de 25,
abrigando mais de 40.000 pessoas.”126
fig. 80 - Favela do Humaitá em 1958, um pouco antes de sua erradicação na década de 1960.
No entender de Sérgio Lordello, “a localização das elites em Botafogo, então, ficou
basicamente concentrada em determinados segmentos, à medida que os setores médios iam
gradualmente se espalhando pelo bairro. As mansões da área inicial da Praia de Botafogo e
da Rua São Clemente, no trecho entre a atual Barão de Lucena e o Largo dos Leões,
situadas próximas às encostas do Corcovado, são as mais características e mantiveram-se,
apesar de recicladas.”127 Ainda se encontram palacetes nas Ruas São Clemente, Dona
Mariana, Dezenove de Fevereiro e Professor Alfredo Gomes, atestando a permanência de
um segmento de renda mais alta dentro do bairro, intercalados com outras habitações
típicas das camadas menos abastadas, confirmando, em termos sociais e arquitetônicos, a
característica mista do bairro.
126 ABREU, Maurício de A. “Evolução Urbana no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN: 1997:112. 127 LORDELLO, Sérgio. “ Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – O caso de Botafogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 164.
110
fig. 81 - Foto do Palacete dos Paula Machado, situado na Rua São Clemente, nº 213.
Mesmo apresentando muitos problemas, como tráfego intenso e infra-estrutura
subdimensionada, o bairro de Botafogo continuou atraindo moradores, porque oferece um
comércio diversificado incluindo shoppings e lojas tradicionais, muitos colégios,
transportes e um acesso fácil a várias partes da cidade em função das aberturas dos túneis
Catumbi-Laranjeiras e Rebouças, além dos túneis Velho e Novo que unem o bairro às
praias oceânicas.
Como consequência, surgiram nesta mesma época, os empreendimentos
imobiliários residenciais que elevaram o gabarito do bairro, alterando sua paisagem
horizontal.
Entre as décadas de 1940 e 1960, foram construídos edifícios residenciais entre oito
e doze pavimentos sobre jardins, muitas vezes ocultos aos passantes, com áreas internas
generosas, localizados principalmente nos eixos viários mais importantes.
fig. 82 - Rua São Clemente, 137 - Edifício Almirante Guillobel. (década de 1940)
111
Nas décadas seguintes (1960/1970), mesmo ocupando o segundo lugar no quadro
de população dos bairros da zona sul, perdendo somente para Copacabana, Botafogo
experimentou um estacionamento no número de seus habitantes, devido, principalmente, à
saturação do espaço disponível para edificação.
De acordo com a tabela da Secretaria Municipal da Fazenda, a porcentagem do
número de domicílios com até 100,00m² de área construída no bairro de Botafogo, no ano
de 1976, chegou a 79,5%, o que demonstra uma predominância de unidades residenciais
típicas de classe social de renda média e baixa, porém habitadas em forma de aluguel e não
em unidades próprias.128
Com a valorização dos aluguéis na década de 1970 (98% no período de 1972 a
1975), percebe-se a valorização do solo do bairro e um fator de expulsão potencial de seus
habitantes.129
Os lançamentos imobiliários de imóveis residenciais ocorridos em Botafogo
comprovam a valorização do bairro, nos fins da década de 1970. Em trinta edificações
lançadas no mercado, onze eram de unidades residenciais com mais de 100,00m² de área
(37%).130
Se o período 1930-1960 caracterizou-se pela diversificação social, com a chegada
de segmentos inferiores das classes médias, os últimos anos do período de que tratamos se
caracterizou pela chegada de novos segmentos sociais de renda mais alta, num processo
clássico de “recuperação” de áreas urbanas “deterioradas”, o que resulta invariavelmente
na reciclagem da áreas para residência das classes sociais de maior poder aquisitivo e que
podem então pagar por aquele solo valorizado, como nos salienta Lordello.131
Neste período, também se verificou uma nova dinâmica no setor de serviços no
bairro, com a instalação de escritórios de grandes empresas como Furnas, Docenave,
Hidroservice, Sondotécnica e outras. A instalação do prédio da Fundação Getúlio Vargas
na Praia de Botafogo (1956) consagrou um novo tipo de aproveitamento da orla, seguido
128 Secretaria Municipal da Fazenda. Imposto Predial e Territorial / 1976, Apud Plano Urbanístico Básico da Cidade do Rio de Janeiro. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, junho/1977. 129 Instituto Gallup de Opinião Pública, 1975; Apud Plano Urbanístico Básico da Cidade do Rio de Janeiro, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, junho/1977. 130 Dados da Revista ADEMI, segundo pesquisa realizada pelo IDEG – Instituto de Desenvolvimento Econômico e Gerencial – Rio de Janeiro, 1978/1980. 131 LORDELLO, Sérgio. “ Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – O caso de Botafogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 176.
112
por outras empresas (Telerj, Shell, Banco Chase) e pelo Centro Empresarial Rio (1978)
localizado no terreno da antiga Embaixada da Argentina. Mais recentemente, podemos
destacar a reutilização do antigo prédio da Sears Roebuck como Praia Botafogo Shopping,
pontuando uma nova fase de valorização da orla.
fig. 83 - Fundação Getúlio Vargas fig.84 - Centro Empresarial Rio
Vale a pena citar duas áreas que se destacaram como centro de atividades não-
residenciais: o trecho do entorno da Rua da Passagem (Arnaldo Quintela, General Polidoro
e General Severiano) tratando-se de um fenômeno de substituição do uso residencial, e a
área compreendida pelas Ruas Visconde de Caravelas, General Dionísio, Capitão Salomão,
Conde de Irajá e Visconde Silva, um fenômeno de renovação, com construção de
edificações de uso misto ou de salas comerciais para consultórios médicos. Somando-se os
novos restaurantes desta área temos uma mudança na característica eminentemente
residencial, anterior, no que passou a ser chamado “Baixo Botafogo”.
fig. 85 - Publicação sobre o Baixo Botafogo com mapa da localização dos restaurantes.
113
Também neste período (décadas de 1960/1970) surgiram exemplos de
verticalização mais acentuada, como o Edifício Marechal Deodoro da Fonseca (1966), na
Rua Dona Mariana, com 26 pavimentos; o Edifício Casa Alta (1959-1967) na Praia de
Botafogo com 18 pavimentos; e o Conjunto Morada do Sol, situado na Rua General Góis
Monteiro, com 25 pavimentos. Próximo a este, localiza-se o shopping Rio Sul, com sua
torre de 40 pavimentos de uso comercial datado de 1975, na Avenida Lauro Muller.
fig. 86 - Edifício Casa Alta fig. 87 - Shopping Rio Sul
A tendência verificada na década de 1970 de valorização sistemática do uso do
solo, em todo o bairro de Botafogo, ganhou impulso na década de 1980.
Abaixo estão relacionados os dados numéricos a respeito dos lançamentos
imobiliários em Botafogo nos últimos vinte anos.
Quadro dos Lançamentos no Bairro de Botafogo desde a década de 1980
Ano Número de Lançamentos
Número de Aptos
S / 1 Q (%)
S / 2Q (%)
S / 3Q (%)
S / 4Q (%)
1980 07 550 53 34 13 - 1981 04 410 42 42 16 - 1982 14 1230 10 60 30 - 1983 04 388 04 93 03 - 1984 01 44 50 50 - -
114
1985 05 210 60 06 20 14 1986 16 549 33 38 25 04 1987 17 757 27 51 21 01 1988 08 314 - 85 15 - 1989 09 347 28 60 12 - 1990 06 153 - 75 25 - 1991 03 80 - 92 08 - 1992 - - - - - - 1993 05 172 - 80 20 - 1994 06 200 - 65 35 - 1995 - - - - - - 1996 04 212 - 39 42 19 1997 03 188 - 88 12 - 1998 01 58 - - 100 - 1999 02 93 - 90 - 10
Fonte: Compilação feita a partir de pesquisa realizada pela IDEG – Instituto de Desenvolvimento Econômico e
Gerencial para ADEMI – Associação dos Dirigentes.
O número expressivo de lançamentos de unidades residenciais no bairro no ano de
1982, como mostra o quadro de lançamentos em Botafogo nas décadas de 1980 e 1990,
deveu-se à iminência da regulamentação da Lei 434, em meados de 1983. A perspectiva da
regulamentação de uma legislação mais restritiva causou a liberação dessas unidades no
mercado, na tentativa de salvar o empreendimento de uma redução no número de
apartamentos.132
De uma certa maneira, os empreendimentos se mantiveram normalizados na década
de 1980, com exceção dos anos de 1986 e 1987 quando há um acréscimo no número de
lançamentos, provenientes de um novo modelo econômico decretado pelo Governo
Federal, o Plano Cruzado, que causou alguma euforia no mercado imobiliário. Foram 33
lançamentos com 1306 unidades, demonstrando que a Lei 434 originou empreendimentos
de menor porte. Foram em média 40 apartamentos por prédio, quando em 1982 eram em
média 88 apartamentos.
132 No ano de 1982, foram lançados, no mercado, 14 empreendimentos no bairro de Botafogo, com 1230 apartamentos.
115
No início da década de 1990, houve uma redução no número de lançamentos
devido a novo momento econômico vivido pelo país que inibiu o setor imobiliário, o Plano
Collor; o bairro não teve registro de lançamento, nos anos de 1992 e 1995.
Observou-se, porém, um novo fenômeno nesta década: não houve um único
lançamento residencial dotado de oferta de apartamentos de sala-e-quarto. Quando, na
década de 1980, eles representavam 31% dos lançamentos, na de 1990 eles caíram a zero,
numa demonstração clara de como a legislação em vigor inibiu a oferta deste produto. A
demanda recaiu sobre os apartamentos de sala-e-dois-quartos (66%) e sala-e-três-quartos
(31%), aumentando as dimensões interiores dos imóveis residenciais lançados no mercado
até o ano 2000.
Enquanto ocorreram 115 empreendimentos residenciais durante as décadas de 1980
e 1990, lançando 5.955 apartamentos no mercado, sendo 17% de sala-e-quarto, 58% de
sala-e-dois-quartos, 22% de sala-e-três-quartos e 3% de sala-e-quatro-quartos, os
lançamentos de empreendimentos comerciais foram apenas três, perfazendo 670 salas
comerciais (incluindo neste número a torre do Shopping Rio Sul), o que representa a
tentativa de recondução do bairro à vocação residencial de classe média e média alta.
116
2.3 - Desenvolvimento da Legislação pertinente ao Bairro de Botafogo
A legislação relativa ao bairro de Botafogo era praticamente comum a toda cidade
do Rio de Janeiro, até a década de 1980, quando Botafogo foi contemplado com uma
legislação urbanística exclusiva para o bairro, através da Lei 434/1981.
Habitado desde o século XVI, acompanhou todos os processos de desenvolvimento
urbanístico e edilício da cidade, desde a ordem do Vice-rei para a abertura de ruas públicas
dentro das terras de D. Clemente, latifundiário proprietário de meio-bairro atual (ver fig.
56), caracterizando, assim, a primeira intervenção do poder público.
Desenvolveu-se, abrigando chácaras, palacetes, solares e também vilas e cortiços
abundantes no bairro em meados do século XVIII. Justamente pela abundância e
insalubridade dos cortiços, foram criadas as primeiras leis que tentavam ordenar e
higienizar as construções (decreto 3151/1882), até mesmo com isenção de impostos, para
que fossem construídas seguindo uma série de exigências higiênicas (decreto 9859/1888).
Apesar da proibição à construção de cortiços, esta só foi regulamentada em 1903,
pelo decreto 391.
O primeiro decreto, regulamentador das edificações com mais de dois pavimentos,
foi lançado em 1925, pelo decreto 2087. Anteriormente os decretos possuíam regência
desarticulada. Deste período, são os prédios de três pavimentos alinhados às divisas com o
pavimento térreo ocupado por unidades residenciais ou comerciais.
No fim da década de 1920, a vinda de Agache, levantando discussões sobre
transportes, zoneamentos e implantações das edificações, influenciou o bairro de maneira
determinante para o futuro. A proibição da expansão das fábricas localizadas em zonas
residenciais, decorrente da criação das zonas industriais através do decreto 6000/1937,
resultou no aproveitamento de terrenos ora ocupados por indústrias para novos loteamentos
residenciais.
Outra mudança importante foi a proibição da construção de novas vilas, o que
impulsionou a utilização do solo para a construção de edifícios de apartamentos.
O decreto 6000 estabeleceu gabarito de 2 e 3 pavimentos para o bairro como um
todo, 2 e 6 pavimentos nos eixos de penetração (Rua Voluntários da Pátria e Rua São
117
Clemente) e 5 e 10 pavimentos para a Praia de Botafogo. O PA 4012/1944 ampliou este
último para 12 pavimentos, o decreto 7876/1944 determinou 10 pavimentos para o
Humaitá e o decreto 8274/1945 estendeu esta possibilidade ao Largo dos Leões. “Estavam
asseguradas as bases para o adensamento ao longo desses eixos que iriam modificar
especialmente a Praia de Botafogo.”133
Este decreto originou vários dispositivos adicionais que permitiram a ultrapassagem
destes limites estabelecidos, como, por exemplo, a proporção da altura com a largura do
logradouro, a permissão para escalonar os últimos pavimentos, o aumento da altura da
edificação em função do afastamento das divisas laterais e frontais (a cada metro afastado
em relação à testada frontal mais um pavimento acrescido à altura total).
Encontramos exemplares resultantes deste decreto e seus dispositivos por todo
bairro. São edifícios-chácara com alturas entre 8 e 10 pavimentos, alguns com unidades no
pavimento térreo e outros sob pilotis, com jardins frontais e internos.
Os edifícios resultantes da utilização dos dispositivos complementares também
podem ser vistos na Praia de Botafogo e nas ruas internas também.
fig. 88 - Fotos dos Edifícios Dom Bosco e Apollo, com gabaritos muito superiores e afastados das ruas.
133 LORDELLO, Sérgio. “Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – o caso de Botafogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 165.
118
Outro aspecto da mudança de legislação que influenciou o bairro foi a exigência da
implantação de vagas de garagem no interior do terreno da edificação, em fins da década
de 1950.
No início da década de 1960, o plano executado por Doxiadis, para a cidade, teve
grande impacto no bairro, principalmente devido à política de remoção de favelas134 e ao
estudo para implantação do Metrô na cidade.
A Lei 1574, regulamentada em 1967, trazia aspectos mais proibitivos do que
regulamentadores, tentando coibir os abusos decorrentes dos dispositivos de decreto 6000.
A partir desta data todas as ações vinculadas à construção, demolição, terraplanagem e
loteamentos deveriam passar pela aprovação por parte do Poder Público, que se tornou o
gestor de todas as intervenções no espaço geral, não só do bairro, como da cidade do Rio
de Janeiro.
Em 1976, com regulamentação do decreto 322 que criou os Centros de Bairros
(CBs), consagraram-se os eixos de passagens dos bairros, referendando tendências de
diversificação funcional e pressão por adensamento, já delineadas desde que
correspondessem aos eixos das linhas de bonde.
A partir deste decreto, novas tipologias de edificações multifamiliares foram
criadas, com a introdução dos pavimentos de uso comum (PUCs) localizados sobre
pavimentos destinados às garagens de automóveis. Medidas restritivas às construções
novas foram tomadas a partir da introdução do cálculo da área total edificada (ATE) e do
cálculo do número de pavimentos relacionado com o nível do terreno em relação ao nível
médio do mar.
Como este decreto era abrangente porque legislava sobre todo o Município do Rio
de Janeiro, surgiram os Planos de Estruturação Urbanos (PEUs) referentes a cada bairro em
particular. O plano para o bairro de Botafogo foi regulamentado através da Lei 434, datada
de 1981, que trouxe, em seu corpo, proposições que iriam acarretar impactos na
estruturação do bairro.
Em primeiro lugar, a Lei 434 limitou em três pavimentos apenas as construções não
residenciais no bairro, desviando, assim, a tendência de várias décadas, da implantação de
134 O bairro de Botafogo teve duas de suas principais favelas removidas nesta década, a do Morro do Pasmado e a do Humaitá.
119
sedes de empresa no local, como também proibiu atividades de ensino de qualquer grau e a
implantação de novas edificações para assistências médicas com internação. Com estas
medidas, a Lei inibiu de maneira bastante significativa as atividades de serviços no bairro.
Em segundo lugar, vinculou o número de unidades residenciais ao tamanho do lote
existente, proporcionando uma unidade residencial para cada 30,00m² de área de terreno.
Esta medida restringiu o número de unidades no lote, o que acarretou serem projetadas
com dimensões internas maiores em função do cálculo da área edificada não ter sido
alterada, verificando-se assim uma tendência no aumento do número de representantes das
camadas de renda mais alta.
Em terceiro lugar, estabeleceu a fixação do gabarito de altura em cinco pavimentos
para as edificações alinhadas às divisas e em onze pavimentos para as edificações afastadas
das divisas. Este gabarito, comparado com os praticados por influência do decreto
6000/1937, são mais restritivos, porém com o surgimento das tendências refletidas nos
PEUs nos diversos bairros e principalmente com a publicação do Plano Diretor do
Município, em 1992, que restringiu a altura das edificações em 12,00 metros (três
pavimentos sobre um pilotis), os parâmetros fixados para Botafogo se tornaram bastante
atraentes para o setor imobiliário.
Sérgio Lordello nos traz que “seja sob que argumento for, as regulamentações
acabam por respaldar tendências de transformação impressas pelo interesse despertado
pelas Companhias Imobiliárias, tendências essas que de forma alguma se poderiam
considerar “espontâneas’ mas dentro de uma lógica dos interesses privados”.135
O que se apresenta, então, decorrentes da Lei 434, são edificações sobre um
pavimento de garagem, com unidades residenciais com aproximadamente 100,00m² cada, e
um padrão de acabamento mais esmerado, refletindo o interesse da elitização do bairro,
fortalecendo o uso residencial.
Esta tendência, corroborada pelo Poder Público, transformou-se num elemento
reestruturador de Botafogo, imprimindo uma nova escala para o uso residencial e
modificando sua composição social.
135 LORDELLO, Sérgio. “Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – o caso de Botafogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 201.
120
3 - Considerações acerca dos Tipos Arquitetônicos de Edificações
Residenciais Multifamiliares no Rio de Janeiro
De acordo com Rossella Rossetto, “definir e classificar segundo conceitos é uma
das formas de estruturar o conhecimento e aprofundar-se no estudo dos elementos de uma
disciplina determinada. Os estudos de arquitetura tendem a basear suas classificações nos
elementos formais e espaciais do objeto, introduzindo-se assim, em geral, os conceitos de
tipo e tipologia”.136
Segundo Aldo Rossi, “o tipo é a própria idéia de arquitetura e a tipologia é o seu
modelo analítico. Toda arquitetura pode ser enquadrada em uma análise tipológica, assim
como a cidade, quando nesta se identificam determinados elementos constitutivos definidos
por ele como fatos urbanos”.137
Sendo assim, as formações tipológicas são o resultado das transformações ocorridas
na história, tanto dos fatos sócioeconômicos, como, principalmente, da sociedade e da
cultura. Deste modo, verifica-se que a tipologia arquitetônica é o resultado da evolução das
circunstâncias e dos paradigmas de uma época.
Luiz Mauro Passos explica este fenômeno da seguinte forma: “as formações
tipológicas são características de determinados períodos, bem como são encontrados
freqüentemente em certas áreas urbanas. Essas formações tipológicas são em geral
reproduzidas em um grande número de edifícios, mas também transformadas ao longo do
tempo, seja por variações de aspectos particulares, seja por mudanças radicais dos
paradigmas projetuais.”138
O estudo das diversas fases da arquitetura da casa ao edifício de apartamentos e sua
relação com as circunstâncias sócio-históricas e com as posturas municipais através da
legislação urbanística constituem uma reflexão pertinente à análise da relação desta
arquitetura cotidiana com a cultura e a evolução da cidade.
136 ROSSETTO,Rossella. “Arquitetura Moderna e tipologias de mercado: Uma primeira classificação.” In SAMPAIO, Mª Ruth Amaral. “A Promoção Privada de Habitação Econômica e a Arquitetura Moderna, 1930 – 1964.” São Paulo: Rima Editora, 2002:30. 137 ROSSI, Aldo. “A Arquitetura da Cidade.” São Paulo: Martins Fontes, 1995:27. 138 PASSOS, Luiz Mauro do C. “Edifícios de Apartamentos em Belo Horizonte, 1939-1976.” Belo Horizonte: AP Cultural, 1998:15.
121
No entender de Vera Tângari, “a construção dirigida da paisagem é instrumentada
através de ações diretas, produto de projetos e obras, nas suas diversas escalas e tempos de
execução, ou de ações indiretas, realizadas por meio de normas e procedimentos vinculados
à legislação urbanística e edilícia.”139
E na descrição das características observadas na evolução da edificação
multifamiliar, nas épocas distintas, pode-se verificar as variações dos diversos aspectos das
formações tipológicas, levando à classificação de exemplos concretos das mesmas. Um
mesmo modelo de quadra e de lote indica a reprodução de características específicas de
tipos de edificações, relacionadas à determinada época e sua estética predominante.140
Sendo assim, o estudo tipológico arquitetônico expressa a evolução de constituição
da paisagem construída, ajudando a caracterizar seu papel estético.
Segundo o pensamento de Colquhoun “o tipo revela a norma e os valores estéticos
acumulados, resultantes de fatores culturais que condicionaram a formação da norma
estética e que, também, regem a sua permanente transformação”.141
O conceito de tipo, então, revela a necessidade de uma postura de aproximação com
a história, sem deixar de revê-la criticamente.
Segundo Argan, para se “estabelecer o tipo, devemos estabelecer antes os níveis de
tipologia, de acordo com a maneira de viver e conceber o espaço – neste caso, o tipo é um
esquema de distribuição espacial – e com a função do espaço.” O tipo, então, é determinado
pela comparação de uma série de edifícios, e resulta de um processo de seleção em que são
separadas as características que se repetem. O mesmo autor afirma que a definição mais
interessante ainda é do teórico francês Quatrémère de Quincy (1755-1849), que diferenciou
Tipo e Modelo. “Enquanto o tipo é a idéia geral, que permite variações, o modelo se copia e
se imita”.142
139 TÂNGARI, Vera. “Um Outro Lado do Rio.” São Paulo: FAU / USP, 1999:29. 140 TÂNGARI,op.cit. : 35. 141 COLQUHOUN, Alan. “Tipologias y método de diseño.” Buenos Aires: Ed. Summa, 1974 142 ARGAN, Giulio Carlo. “ El Concepto de Espacio Arquitectónico.” Buenos Aires: Ediciones Niueva Visión, 1961: cap. 2.
122
Diante da diversidade das acepções potenciais da palavra tipo – e por extensão de
seu estudo analítico através da tipologia -, é possível entender por que tanta literatura foi
dedicada, especialmente nas décadas de 1960 a 1980, a explorar as potencialidades de sua
aplicabilidade, seja no campo estritamente teórico-crítico da Arquitetura, seja no âmbito da
Teoria do Projeto, com um caráter mais propositivo, no entender de Maria Alice
Medeiros.143
Por estarmos nos atendo ao estudo das edificações multifamiliares localizadas
basicamente na zona sul carioca, mais especificadamente no bairro de Botafogo, o foco
direcionado segue instantaneamente ao âmbito da iniciativa privada.
O projeto da edificação e a viabilidade da incorporação são fruto de uma série de
cálculos e produto, basicamente, da influência sofrida pelas limitações impostas pelas
normas de construção. Estas limitações e direcionamentos ditados pela legislação definem a
volumetria e as tendências tipológicas das edificações multifamiliares dentro dos diversos
bairros da cidade.
Foi possível reconhecer, na pesquisa realizada, alguns tipos empregados com
regularidade constituindo expressões de um mercado imobiliário que visou a rentabilizar
investimentos pelo acesso diferenciado que a localização dos terrenos propiciou e pela
possibilidade de gerar o maior número de unidades residenciais.
143 MEDEIROS, Mª Alice Lopes. “O Uso de Tipos na Metodologia Projetual.” Rio Grande do Norte: PPGAU / UFRN, 2003.
123
3.1 – Identifição dos tipos arquitetônicos de edificação multifamiliar
no século XX.
A partir da substituição das moradias insalubres, decorrente de posturas municipais
dos novos padrões da classe emergente, surgiram as casas de apartamentos, no início do
século XX. Como Lílian Vaz esclarece, “a última ligação do modelo de habitação com a
categoria social que a ocupava permitiu associar a mais coletiva das habitações à vida
invejável das ascendentes classes médias cariocas e dissociá-las totalmente de seus
antecedentes condenados”. 144
No Rio de Janeiro, edificações multifamiliares começaram a surgir como resultado
da demolição do antigo Convento da Ajuda, em frente à Praça Floriano, na atual Cinelândia,
formando um alargamento no extremo sul da Avenida Central. Podemos citar como
exemplos desta época: o edifício de utilização mista do Cinema Capitólio, com dez
pavimentos, construído em 1925; o edifício residencial Lafont, construído em 1910, na
esquina da Avenida Central com a Rua Santa Luzia (ver Fig. 8); e o Hotel Palace de
Copacabana, com 7 pavimentos, construído em 1922, para os festejos do Centenário da
Independência do Brasil (atual Copacabana Palace).
fig. 89 - Postal do Copacabana Palace
Observar a pedreira Inhangá localizada ao lado.
144 VAZ, Lílian F. “Uma História da Habitação Coletiva na Cidade do Rio e Janeiro – Estudo da Modernidade através da Moradia.” São Paulo: FAU / USP, 1994: 35.
124
A “casa de apartamentos” representou uma transição para o edifício de
apartamentos, porque continha características específicas com unidades habitacionais de
tamanho e número de compartimentos diversos e com unidades habitacionais incompletas,
até sem cozinha.145
Na cidade do Rio de Janeiro, podemos identificar diversos tipos arquitetônicos de
edificações multifamiliares, que caracterizaram as conformações dos diversos bairros,
relacionando-se à sua evolução histórica.
Para efeito dessa pesquisa e como intuito de aplicação posterior da análise ao bairro
de Botafogo, identificamos dez tipos de edificação multifamiliar no Rio de Janeiro, segundo
as seguintes categorias de análise:
a) Programa e faixa de renda:
Foram estudadas moradias para famílias de classe média e média alta, com
programa mínimo de sala e/ou sala de jantar, 2, 3 e/ou 4 quartos, 1 a 4 banheiros sociais
e/ou suítes, cozinha e/ou copa, área de serviço, quarto e banheiro de empregada; edifício
com ou sem área de lazer, com ou sem ajardinamento, com ou sem garagem.
b) Condicionantes legais:
Foram relacionados os tipos que, direta ou indiretamente, foram condicionados por
leis e decretos, ilustrativos da inovação, transformação e sedimentação dos programas e
projetos de edificação multifamiliar, conforme item “a”.
c) Implantação urbana:
Foram analisados os aspectos quanto ao zoneamento, aos afastamentos frontais e
laterais, inserção do edifício no lote e relação volumétrica com o entorno.
d) Volumetria e modelagem arquitetônica:
Foram analisados os tipos de acordo com o número de pavimento e/ou gabarito de
altura; utilização no pavimento térreo, com ou sem pilotis; com e sem subsolo, existência ou
145 VAZ, Lílian F. “Uma História da Habitação Coletiva na Cidade do Rio e Janeiro – Estudo da Modernidade através da Moradia.” São Paulo: FAU / USP, 1994: 154.
125
não de jardins no pavimento térreo; existência ou não de áreas de lazer e/ou pavimentos de
uso comum; existência ou não de embasamento no limite do lote.
A aplicação destas categorias de análise levou à definição de dez tipos básicos, ao
longo do século XX, listados abaixo segundo a ordem cronológica da legislação que
condicionou sua construção:
1) Edificações de três pavimentos com utilização no pavimento térreo para
unidades residenciais ou comerciais, alinhadas às divisas laterais e frontais.
2) Edificações de oito a dez pavimentos alinhados às divisas laterais e com
afastamento frontal, com pavimento térreo ocupado por unidades residenciais, e jardins
frontais.
3) Edificações de quatro pavimentos residenciais sobre pilotis, alinhadas às divisas
laterais, com ou sem afastamento frontal.
4) Edificações de sete a quinze pavimentos, com ou sem pilotis, com
aproveitamento para unidades residenciais e garagens no pavimento térreo, alinhadas ou
afastadas das divisas laterais.
5) Edificações de quinze a vinte e cinco pavimentos, alinhadas às divisas laterais
com afastamentos frontais proporcionais ao número de pavimentos, sobre pilotis.
6) Edificações com mais de vinte e cinco pavimentos afastados das divisas laterais
e frontal sobre pilotis.
7) Edificações entre onze e dezoito pavimentos, afastadas das divisas laterais e
frontal, sobre pavimentos de embasamento para garagem e lazer.
8) Edificações afastadas das divisas laterais e frontal, implantadas em lotes
condominiais, com vinte a trinta pavimentos, sobre pilotis, com pavimentos em subsolo para
garagem e área de lazer e ajardinamento para uso coletivo no pavimento térreo.
126
9) Edificações de cinco pavimentos sobre pavimento de embasamento para
garagem e/ou lazer, alinhado às divisas laterais.
10) Edificações entre cinco e onze pavimentos afastadas das divisas laterais e
frontal, sobre apenas um pavimento garagem.
Os tipos 1 e 2 são encontrados mais normalmente nas décadas de 1920 a 1940, os
tipos 3, 4, 5 e 6 são oriundos das décadas de 1940 a 1970 e os tipos 7, 8, 9 e 10 são
característicos das décadas de 1970 a 2000.
O quadro abaixo relaciona os tipos identificados e a legislação a eles vinculada:
Quadro Síntese dos Tipos Arquitetônicos
Tipo Descrição Leis e/ou Decretos
1 Edificações de três pavimentos com utilização
no pavimento térreo para unidades residenciais
ou comerciais, alinhadas às divisas laterais,
podendo ter afastamento frontal ou não.
Decreto 2087/1925
2 Edificações de oito a dez pavimentos alinhados
ou não às divisas laterais, com afastamento
frontal, com pavimento térreo ocupado por
unidades residenciais, e jardins frontais.
Decreto 6000/1937
3 Edificações de quatro pavimentos residenciais
sobre pilotis, alinhadas às divisas laterais, com
ou sem afastamento frontal.
Dispositivos do Decreto
6000/1937
4 Edificações de sete a quinze pavimentos, sobre
pilotis, com aproveitamento para unidades
residenciais e garagens no pavimento térreo,
alinhadas ou afastadas das divisas laterais.
Dispositivos do Decreto
6000/1937
5 Edificações de quinze a vinte e cinco Dispositivos do Decreto
127
pavimentos, alinhadas às divisas laterais com
afastamentos frontais proporcionais ao número
de pavimentos, sobre pilotis.
6000/1937
6 Edificações com mais de vinte e cinco
pavimentos afastados das divisas laterais e
frontal sobre pilotis.
Lei 1574/1967
7 Edificações entre onze e dezoito pavimentos,
afastadas das divisas laterais e frontal, sobre
pavimentos de embasamento para garagem e
lazer.
Decreto 322/1976
8 Edificações afastadas das divisas laterais e
frontal, implantadas em lotes condominiais,
entre vinte e trinta pavimentos, sobre pilotis,
com pavimentos em subsolo para garagem e
área de lazer e ajardinamento para uso coletivo
no pavimento térreo.
Decreto 3046/1981
para a Baixada da Barra da
Tijuca e Jacarepaguá
9 Edificações de cinco pavimentos sobre
pavimento de embasamento para garagem e/ou
lazer, alinhado às divisas laterais.
Decreto 322/1976
e Lei 434/1983 para o bairro
de Botafogo
10 Edificações entre cinco e onze pavimentos
afastadas das divisas laterais e frontal, sobre
apenas um pavimento garagem e um de uso
comum.
Lei 434/1983
(PEU de Botafogo)
Dentre esses 10 tipos arquitetônicos, sete exemplos serão selecionados para serem
analisados com profundidade, aplicados ao bairro de Botafogo, conforme detalhado no
Capítulo 4
128
3.2 – Descrição dos tipos arquitetônicos identificados
3.2.1 – Tipo 1: As “casas de apartamentos”
Correspondem a edificações de três pavimentos com utilização no pavimento
térreo para unidades residenciais ou comerciais, alinhadas às divisas laterais e frontal.
Dentro dos tipos vernaculares desenvolvidos para uso residencial, podemos
destacar os sobrados, marcando o início da transformação de residência unifamiliar para
multifamiliar, a partir do Decreto 2087 de 1925. Agregando-se mais um pavimento superior
e utilizando-se o pavimento térreo com unidades residenciais, os edifícios de três
pavimentos marcaram transição para a habitação coletiva verticalizada.
fig. 90 - Vila de edificações multifamiliares de três pavimentos, localizada na Rua Conde de Bonfim na Tijuca.
Este tipo de edificação multifamiliar, de pequena volumetria, comum nas décadas
de 1930 e 1940, surgiram em todas as partes da cidade, “reproduzindo tipos de vãos,
telhados, acabamentos externos e detalhes de fachada das casas e sobrados”, como descrito
por Vera Tângari.146
fig. 91 - Edifício junto à Avenida Maracanã na Tijuca.
146 TÂNGARI, Vera. “Um Outro Lado do Rio.” São Paulo: FAU / USP, 1999:114.
129
fig. 92 - Conjunto composto por pequenas edificações no Encantado. fig. 93 - Edifício da Rua Gal. Rabelo, 3, na Gávea.
No bairro de Botafogo, este tipo de edificação multifamiliar é ainda bastante
encontrado, como nos exemplos abaixo:
fig. 94 - Edifício da Praça Jóia Valansi, 38 fig. 95 - Edifício da Praça Jóia Valansi, 32
fig. 96 - Rua Paulino Fernandes, 52 esquina com R. Prof. Álvaro Rodrigues.
130
3.2.2 – Tipo 2: Os “edifícios-chácara”
Edificações de oito a dez pavimentos alinhados às divisas laterais e com
afastamento frontal, com pavimento térreo ocupado por unidades residenciais e jardins
frontais.
Os edifícios de apartamentos diferiam quanto à forma arquitetônica pelas diferentes
volumetrias apresentadas, significando nas décadas de 1930 a 1950, exemplo de
modernidade. Após o Decreto 6000 de 1937, alinhados às divisas laterais apresentavam
apartamentos no pavimento térreo e também largos jardins nos acessos de característica
romântica. Foram incorporadas as técnicas de concreto armado e dos avanços construtivos
tecnológicos, como o elevador.
fig. 97 - Edifício Capiberibe na Rua Senador Vergueiro, 92 no Flamengo.
No bairro de Botafogo existem ainda muitos exemplos deste período.
fig. 98 – Ed. Barão de Lucena na Rua São Clemente, 158. fig. 99 - Edifício Alm. Guillobel na Rua São Clemente, 137.
131
3.2.3 – Tipo 3: Os “edifícios-modernos” sobre pilotis
Edificações de quatro pavimentos residenciais sobre pilotis, alinhadas às divisas
laterais com e sem afastamento frontal.
Vera Tângari descreve, em sua tese de doutorado, a influência do pensamento
“moderno” na modificação das tipologias arquitetônicas residenciais: “na zona sul, as
edificações originais, do tipo “chácaras-urbanas”, “palacetes” e “assobradados”, passaram a
ser substituídas por edifícios “modernos”, desenhados segundo a estética art-déco –
inaugurada em Copacabana e no Flamengo a partir da década de 1940 – e que já
incorporavam as inovações da arquitetura do movimento moderno, como o pilotis e vãos em
panos de vidro.”147 Este tipo é bastante comum ainda hoje, em lotes de menores dimensões.
fig. 100 - Edifício com 4 pavimentos na Avenida Vieira Souto. fig. 101 - Edifício com 4 pavimentos na Rua Paissandu.
E em Botafogo, encontramos poucos exemplos como na Praça Radial Sul.
fig. 102 - Edifícios de 4 pavimentos na Praça Radial Sul.
147 TÂNGARI, Vera. “Um Outro Lado do Rio.” São Paulo: FAU / USP, 1999:116.
132
3.2.4 – Tipo 4: Os “edifícios-corredor”
Edificações de sete a quinze pavimentos, com ou sem pilotis, com aproveitamento
para unidades residenciais e garagens no pavimento térreo, alinhadas ou afastadas das
divisas laterais.
Devido à crescente necessidade de moradia e consequente valorização dos lotes
urbanos e com a múltipla interpretação do decreto 6000 de 1937, que permitia várias
aplicações dos seus dispositivos, foram construídos edifícios com gabarito elevado,
encostados às divisas, formando corredor de prédios alinhados lateralmente uns aos outros.
Com a popularização do modelo residencial de edificação multifamiliar, as
construções se sucediam obedecendo à demanda crescente. Os edifícios de apartamentos
alinhados às divisas se beneficiaram de dispositivos do Decreto 6000/1937 que permitiram
um acréscimo no número de pavimentos, de acordo com o escalonamento em fachada, por
exemplo.
Foram construídos em grande quantidade em toda a cidade, notadamente em
Copacabana.
fig. 103 - Edifício Jarau em Copacabana. fig. 104 - Edifício Copacabana.
133
Os exemplos selecionados em Botafogo ficam na Praia de Botafogo e na Rua
Voluntários da Pátria:
fig. 105 – Ed. João M. Magalhães na Rua Voluntários da Pátria, 127 fig. 106 - Exemplos localizados na Pr. de Botafogo.
3.2.5 – Tipo 5: Os “edifícios-torre” recuados, sobre pilotis
Edificações de quinze a vinte e cinco pavimentos, alinhadas às divisas laterais com
afastamentos frontais proporcionais ao número de pavimentos, sobre pilotis.
Com a valorização crescente do solo urbano, principalmente nos bairros de maior
demanda, os empreendimentos imobiliários procuravam os meios para alcançar um maior
aproveitamento do terreno. Os lotes com maiores dimensões se beneficiavam da legislação
que, na década de 1960, permitia um acréscimo de pavimentos em função do maior
afastamento frontal.
fig. 107 - Edifício Casa do Mirante, no Flamengo.
134
Encontramos no bairro de Botafogo o seguinte exemplo:
fig. 108 - Edifício Caparaó na Praia de Botafogo, 130.
3.2.6 – Tipo 6: Os “edifícios-torre” isolados sobre pilotis
Edificações com mais de vinte e cinco pavimentos afastados das divisas laterais e frontal sobre pilotis.
A partir da Lei 1574 de 1967, em terrenos de maiores dimensões, as edificações
foram implantadas afastadas das divisas, sobre pilotis, com grandes afastamentos laterais e
frontal e elevados gabaritos de altura. Prenunciaram o posterior desenvolvimento do modelo
que seria aplicado em larga escala na Barra da Tijuca, nas décadas seguintes.
fig. 109 - Edifício Estrela da Lagoa.
135
Em Botafogo, este tipo é encontrado nos exemplos:
fig. 110 - Edifício Apolo na Praia de Botafogo, 96. fig. 111 - Edifício Casa Alta na Praia de Botafogo, 528.
3.2.7 – Tipo 7: As “lâminas” sobre embasamento
Edificações entre onze e dezoito pavimentos, afastadas das divisas laterais e
frontal, sobre pavimentos de embasamento para garagem e lazer.
Com o advento do Decreto 322 em 1976, as posturas legais se alteraram bastante
com a inclusão do cálculo de limite da área total edificada, que restringiu o aproveitamento
dos terrenos. Foi introduzido também o pavimento de embasamento para assentamento das
garagens e as áreas de uso comum.
O Decreto 322/1976 incluiu também a possibilidade de se projetar vagas de
garagem em pavimentos com cem por cento de ocupação do terreno, criando novo tipo de
lâmina sobre pavimentos de embasamento, onde passou-se a projetar o pavimento de uso
comum para fins específicos de lazer, item obrigatório para a aprovação do projeto
arquitetônico junto aos órgãos legais.
fig. 112 - Edifícios Sonata e Rapsody na Lagoa.
136
Os exemplos do bairro de Botafogo são os seguintes:
fig. 113 – Rua São Clemente, 200. fig. 114 – Rua Ministro Raul Fernandes, 135. fig. 115 – Rua General Polidoro, 58.
3.2.8 – Tipo 8: As torres em lotes condominiais ou “super-quadras”
As edificações afastadas das divisas laterais e frontal, implantadas em lotes
condominiais, com vinte a trinta pavimentos, sobre pilotis, com subsolo para garagem e área
de lazer com ajardinamento para uso coletivo no pavimento térreo.
Foram regulamentadas com o decreto 3046/1981, que reuniu as diretrizes de
construção estudadas pelo Grupo de Trabalho da Baixada da Barra da Tijuca e de
Jacarepaguá, inserindo no panorama da cidade do Rio de Janeiro novos conceitos de
moradia multifamiliar: torres laminares implantadas entre jardins e áreas de lazer generosas
para uso coletivo e com as áreas relativas às garagens em pavimentos de subsolo.
Com exceções estritas a área da zona sul como a Morada do Sol, em Botafogo, a
maioria dos exemplos concentra-se na Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes.
fig. 116 - Condomínio Nova Ipanema. fig. 117 - Condomínio Novo Leblon.
137
fig. 118 - Condomínio Morada do Sol
3.2.9 – Tipo 9: Os “pequenos” edifícios
Edificações de cinco pavimentos sobre pavimento de embasamento para garagem
e/ou lazer, alinhado às divisas laterais.
fig. 119 - Edifício Atlântica em Ipanema. fig. 120 - Edifício situado na R. Alberto de Campos
no Leblon.
138
Em Botafogo, encontramos os seguintes exemplos:
fig. 121 - Edifício Solar do Barão fig. 122 - Edifício Casablanca na Rua Barão de Lucena, 43. na Rua Guilhermina Guinle, 170.
3.2.10 – Tipo 10: As lâminas com área de lazer
Edificações entre cinco e onze pavimentos afastadas das divisas laterais e frontal,
sobre apenas um pavimento de garagem.
Os bairros residenciais, em geral, continuaram a sofrer restrições no aproveitamento
de suas áreas com o surgimento dos Planos de Estruturação Urbana, que limitaram os
gabaritos nos respectivos bairros.
No bairro de Botafogo, o Plano de Estruturação Urbana, regulamentado pela Lei
434/1983, fixou o gabarito em cinco pavimentos para as edificações alinhadas às divisas
laterais e em onze para as edificações afastadas das divisas. Tal postura fez surgir
empreendimentos de menor vulto, porém dotados de amplos jardins frontais e nas fachadas,
seguindo tendências de valorização das áreas verdes e de lazer.
fig. 123 – Ed. Guinle Place na Rua Eduardo Guinle, 28. fig. 124 - Edifício da Rua São Manuel, 20.
139
4 – ANÁLISE DOS EXEMPLOS SELECIONADOS
4.1) Justificativa
Foram selecionados cinco exemplos de tipos arquitetônicos multifamiliares para
execução de estudo mais aprofundado das soluções de implantação da edificação no lote,
das plantas baixas e das áreas comuns dos empreendimentos.
Os exemplos selecionados dos tipos 2, 4, 6, 7 e 10, de acordo com o apresentado no
capítulo 2, são representativos de suas épocas respectivas.
Os exemplos de cada tipo foram retirados do recorte espacial escolhido – o bairro
de Botafogo – ilustrando assim as diversas etapas de evolução deste bairro da zona sul
carioca.
Para o tipo 2 - edificações de oito a dez pavimentos alinhados às divisas laterais,
com pavimento térreo ocupado por unidades residenciais e jardins frontais – foram
selecionados os Edifícios Barão de Lucena e Carajás, localizados na Rua São Clemente,
158 e na Rua Voluntários da Pátria, 139, respectivamente. Foram construídos nas décadas
de 1930 e 1940.
Para o tipo 4 - edificações de sete a quinze pavimentos, com e sem pilotis, com
aproveitamento para unidades residenciais e garagens no pavimento térreo, alinhadas ou
afastadas das divisas laterais – foi selecionado o Edifício Julio de Barros Barreto,
localizado na Rua Fernando Ferrari, 61, construído no ano de 1947.
Para o tipo 6 - edificações com mais de vinte e cinco pavimentos afastados das
divisas laterais sobre pilotis – foi selecionado o Edifício Marechal Deodoro da Fonseca,
localizado na Rua Dona Mariana, 53, construído no ano de 1966.
Para o tipo 7 - edificações entre onze e dezoito pavimentos, afastadas das divisas
laterais e frontal, sobre pavimentos de embasamento para garagem e lazer – foi selecionado
140
o Edifício Mansão Rodrigo de Freitas, localizado na Rua Desembargador Burle, 73,
construído no ano de 1981.
Para o tipo 10 - edificações entre cinco e onze pavimentos afastadas das divisas
laterais, sobre apenas um pavimento garagem – foram selecionados os Edifícios Plaza
Etoile e Golden Garden, localizados na Rua São Clemente, 117 e Rua Eduardo Guinle, 55,
respectivamente. Foram construídos nos anos de 1998 e 2000.
Apesar de o bairro de Botafogo apresentar vários exemplos de quase a totalidade
dos tipos arquitetônicos estudados (a exceção é do tipo número 9, relativo ao decreto
3046/1981, referente à Barra da Tijuca e à Baixada de Jacarepaguá), foram selecionados os
exemplos apresentados acima, em função de sua representatividade dentro do painel
mostrado, de sua época de construção, de sua importância histórica, da amostra de material
mais amplamente colhido e pela facilidade de acesso às suas dependências para obtenção
de material fotográfico. São representativos, também, por apresentarem rupturas na arte
projetual, trazendo em seus projetos mudanças importantes e conceitos novos amplamente
copiados mais tarde.
É importante ressaltar que alguns exemplos paradigmáticos foram descartados da
apresentação de seus projetos pelas dificuldades encontradas para recolhimento de fotos e
informações. São eles:
- Edifício João M. de Magalhães, localizado à Rua Voluntários da Pátria, 127;
- Edifício Massília, localizado à Praia de Botafogo, 132;
- Edifício Caparaó, localizado à Praia de Botafogo, 130.
141
4.2) Quadro Síntese
Tipo Descrição Decreto / Lei Edifício / Endereço
Imagens
2
Edificações de oito a dez pavimentos
alinhados às divisas laterais, com
pavimento térreo ocupado por
unidades residenciais, com jardins frontais.
Decreto 6000/1937
a) Ed. Barão de Lucena,
R. São Clemente,
158
b)Edifício Carajás,
Rua Voluntários
da Pátria, 139
4
Edificações de sete a quinze
pavimentos, com e sem pilotis, com aproveitamento para unidades e
garagens no pavimento térreo,
alinhadas ou afastadas das
divisas laterais.
Dispositivos do
Decreto 6000/1937
Edifício Julio de Barros Barreto,
Rua Fernando Ferrari, 61
6
Edificações com mais de vinte e
cinco pavimentos afastados das
divisas laterais sobre pilotis.
Lei 1574/1967
Edifício Marechal
Deodoro da Fonseca,
Rua Dona Mariana, 53
142
7
Edificações entre onze e dezoito pavimentos, afastadas das
divisas laterais, sobre pavimentos de embasamento para garagem e
lazer.
Decreto 322/1976
Edifício Mansão
Rodrigo de Freitas,
Rua Desembarga-dor Burle, 73
10
Edificações entre cinco e onze pavimentos
afastadas das divisas laterais, sobre apenas um
pavimento garagem
Lei 434/1983
a) Edifício Plaza Etoile,
Rua São Clemente,
117
b) Edifício Golden Garden,
Rua Eduardo Guinle, 55
143
4.3) Análise dos Exemplos Selecionados148
4.3.1 – Tipo 2
Relativos ao tipo 2 foram selecionados os exemplos: Edifício Barão de
Lucena e Edifício Carajás, que atendem a dois níveis sociais diferentes (classe média e
alta), sendo boa exemplificação para o estudo, devido às dimensões distintas de dois
exemplares do mesmo período. Foram selecionados também pelas condições favoráveis de
visita e disponibilidade.
a) EDIFÍCIO BARÃO DE LUCENA – Rua São Clemente, 158
fig. 125 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Barão de Lucena
Implantação
Situado no bairro de Botafogo, à Rua São Clemente, 158, este edifício foi
construído no ano de 1937, com projeto desenvolvido pelo arquiteto Paulo Santos para o
proprietário e construtor José Buarque de Macedo, que pretendia, ao construir este
edifício, alugar suas unidades para empresas, a fim de instalar seus funcionários moradores
fora da cidade.
148 As fotos utilizadas nesse sub-capítulo foram feitas pela autora.
144
fig. 126 - Carimbo da planta de 1937.
O terreno possui duas frentes: uma para Rua São Clemente e outra para Rua Barão
de Lucena, o que torna a edificação bastante visível aos transeuntes.
O edifício está afastado das divisas laterais em um lote plano com as seguintes
dimensões: 27,00m de testada, 32,00m na divisa dos fundos, 72,00m na divisa direita e
67,00m na divisa esquerda, perfazendo 2.050,25m² de área. O afastamento frontal é
variável entre 12,00m e 18,00m, o dos fundos 26,00m e os laterais 2,00m. A área de
projeção do edifício é de 503,00m² com taxa de ocupação de 24,53%.
fig. 127 - Aerofotogramétricos de 1955 e 2000 com a localização do edifício.
145
Descrição do Empreendimento
O projeto é constituído por bloco único de dez pavimentos com pavimento térreo
ocupado por unidades residenciais.
fig. 128 - Foto da fachada frontal fig. 129 - Foto da portaria, vista externa
Não há, no terreno, local reservado para guarda de veículos, uma vez que, na época,
não havia esta obrigatoriedade por parte das posturas legais. Transparece assim a ausência
de preocupação com o estacionamento de veículos nas residenciais multifamiliares desta
década.
Na área aberta localizada nos fundos da edificação, há uma área de lazer composta
de jardins contemplativos, uma varanda aberta e um terraço circular, área de churrasqueira
coberta e sanitários.
fig. 130 - Foto da parte coberta fig. 131 - Foto do terraço aberto com a presença do Sr.
C. Eugênio Hime, morador.
146
Esta área é destinada às festas infantis e às crianças, tem aproximadamente
670,00m², não sendo permitida a entrada de animais. É bastante sombreada, devido às
árvores de grande porte existentes no terreno e na calçada junto à Rua Barão de Lucena.
fig. 132 - Foto do flamboyant existente fig. 133 - Foto da vista externa da área de lazer. no terreno que fornece grande área de sombra.
Na área do afastamento frontal, de 400,00m², há uma entrada de automóveis para
descida de passageiros, tipo porte-coche, abrigados por uma marquise. Esta entrada é
ladeada por jardins generosos, que protegem o edifício da movimentação e do barulho da
Rua São Clemente.
fig. 134 - Foto do porte- coche fig. 135 - Foto do jardim frontal
Na descrição do empreendimento, registrado no Guia da Arquitetura Art Deco do
Rio de Janeiro, a sua fachada é formada por “duas torres compactas, entremeadas por plano
envidraçado ligeiramente recuado, possuindo linhas sóbrias e geométricas.”149
149 CONDE, L.Paulo; ALMADA, Mauro. In Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Guia da Arquitetura Art Deco no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000:67.
147
A fachada dos fundos é idêntica à principal, e pode ser vista da Rua Barão de
Lucena pelos pedestres.
O hall social, denominado “foyer” na planta original, é bastante amplo, com pé
direito generoso e materiais de acabamento clássicos como os mármores no piso e paredes.
Um grande relógio localizado na parede frontal sobressai-se no fundo de granito negro,
aonde as luminárias do teto, em faixas, descem até o piso, ladeando-o.
Uma grande porta de correr em ferro trabalhado, embutida na parede, compõe o
visual art deco da edificação.
fig. 136 - Foto do hall social fig. 137 - Foto da porta de ferro. fig. 138 - Foto do relógio.
A escada de acesso aos pavimentos superiores é aberta à circulação comum e,
devido ao vitral existente em toda a altura da edificação, há bastante luminosidade no
ambiente de hall social dos pavimentos tipos.
fig. 139 - Foto da escada interna do edifício. fig. 140 - Foto do prisma lateral onde se pode ver o vitral em toda a
altura da edificação.
148
fig. 141 - Croquis da implantação do edifício, com o porte coche, entradas social e serviço e orientação solar.
Descrição das Unidades Privativas
O pavimento tipo é composto de quatro apartamentos rebatidos, de distribuição
quase igual, apenas com pequena diferença na área de serviço. Esses apartamentos são
compostos de hall de entrada, sala, varanda, três quartos, circulação, um banheiro social,
cozinha, área de serviço, depósito e banheiro de serviço, com 99,16m² de área útil.
Observar a porta unindo dois quartos característica comum nos primeiros
apartamentos construídos na cidade. A circulação íntima é seccionada por uma porta
separando o acesso da cozinha da parte dos quartos.
fig. 142 - Planta baixa do apartamento tipo.
149
No pavimento térreo, a planta dos apartamentos tipo segue sem alteração na
prumada dos apartamentos de fundos. Os apartamentos da frente, em função da área
utilizada para a implantação da entrada social, sofrem uma redução importante. Ao invés
de três quartos, possuem apenas dois, e a sala é bastante reduzida (12,15m²), não possuindo
varanda. Estes apartamentos têm acesso direto pelo hall social no pavimento térreo. Nos
demais pavimentos todas as unidades são de três quartos, sendo analisada abaixo.
fig. 143 - Planta baixa de parte do pavimento térreo com os apartamentos reduzidos.
A planta baixa do apartamento tipo apresenta circulações definidas e diretas.
Um dos aspectos a observar é o fato de todas as trinta e oito varandas existentes no
prédio terem sido fechadas com esquadrias e sua área anexada às salas.
Também interessante é o shaft central localizado na cozinha de cada apartamento,
por onde correm todas as tubulações do banheiro vizinho e da própria cozinha. Este shaft é
acessado facilmente por painel removível pela cozinha.
fig. 144 - Croquis do detalhe do shaft da cozinha
150
Avaliação crítica
O Edifício Barão de Lucena não está em ótimo estado de conservação, devido aos
materiais de acabamento já estarem desgastados pelo tempo. São de alta qualidade, porém
os mármores sofreram ação corrosiva e necessitariam de um polimento mecânico
especializado para voltarem ao antigo estado. Esta impressão também é mantida devido
aos tons mais escuros de algumas partes dos mármores e das madeiras.
Nos pavimentos tipo não há separação em halls social e de serviço. Essa separação
é feita no hall social do pavimento térreo, onde os empregados acessam as escadas por uma
entrada lateral, podendo subir aos pavimentos por um dos elevadores, dotados de duas
portas, não precisando cruzar o amplo hall.
A área de lazer, apesar de bem cuidada, apresenta um aspecto de desuso, devido ao
pequeno número de crianças moradoras no condomínio.
Há, inclusive, no condomínio um pensamento de se destinar esta área para abrigo
de automóveis, mas as opiniões se dividem. Enquanto uns condôminos pensam em
construir dois a três pavimentos de garagem neste espaço, outros não querem a retirada do
Flamboyant do pátio , o que inviabiliza a idéia do parqueamento.
fig. 145 - Foto da área do parque infantil.
151
A orientação solar segue ao eixo noroeste-sudeste, dada pela própria localização do
terreno, e não houve a preocupação no projeto arquitetônico com relação a esta orientação,
que beneficia os apartamentos da frente. A incidência solar sobre os apartamentos de
fundos é amenizada pela presença das árvores da área de lazer que protegem esta fachada,
porém nos apartamentos mais altos, fora da proteção das copas das árvores e da influência
dos prédios vizinhos, a temperatura fica mais elevada.
A solução de planta baixa do apartamento aproxima-se das soluções dos
apartamentos do fim do século XX, com circulações mínimas, talvez por se destinarem
originalmente a unidades de aluguel, porém mantendo em seu programa o hall de entrada,
usual na década de 1930, e que permite maior privacidade à sala.
De uma maneira geral, as condições de ventilação do apartamento são deficitárias,
devido às pequenas dimensões dos vãos. Em dois quartos foram projetadas duas janelas em
paredes contíguas que imprimiram boas condições de iluminação e ventilação, no entanto
prejudicam o aproveitamento interno dos cômodos.
fig. 146 - Croquis das ventilações e circulações internas no apartamento.
Outra observação importante quanto ao conforto interno do apartamento é a
existência de um único banheiro para atendimento aos três quartos sociais, o que era
bastante comum na época da construção, década de 1930, em função dos costumes e dos
altos custos decorrentes das instalações sanitárias. Como não possui banheiro exclusivo
para visitas, esta função é desempenhada pelo banheiro social, localizado no setor íntimo
do apartamento.
152
O apartamento não possui compartimento com denominação oficial de quarto de
empregada e sim de depósito, talvez em função da destinação primeira da construção ter
sido a de abrigar funcionários de grandes empresas em trânsito pela cidade. Em entrevista
junto aos moradores, somente em um dos quarenta apartamentos há empregada doméstica
residente no imóvel, ocupante deste espaço. Nos demais é utilizado como depósito ou
despensa.
Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço, demarcadas abaixo,
observamos as porcentagens determinadas para cada setor.
fig. 147 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.
(Setor social – cor rosada; setor íntimo – cor azul e setor de serviço – cor amarelo)
Setor social: 32 %
Setor íntimo: 46 %
Setor de serviço: 22 %
Avaliação dos moradores
Foi realizada entrevista no dia 4 de fevereiro de 2004, com os moradores do
apartamento 503 – Sr. e Sra. Carlos Eugênio Hime. A família proprietária e moradora
desse apartamento é constituída por um casal e duas filhas adultas. Selecionamos algumas
informações importantes para análise:
153
a) O fechamento das varandas foi justificado de várias maneiras: isolamento da
moradia do grande barulho da rua, facilidade na limpeza daquela área e ganho do espaço
para a sala. Neste apartamento, a área antes destinada à varanda é utilizada como sala de
jantar, separada do outro ambiente por um degrau.
b) A utilização da área de lazer, localizada nos fundos do terreno, para garagem é
frontalmente contrário aos pensamentos da família, mesmo sofrendo pela falta de garagem
no edifício, transparecendo a importância dada ao ambiente preservado.
- “Se quiserem retirar o flamboyant, eu me amarro nele. Vou sair em todos os
jornais.” - declarou a Sra. Hime.
c) Com relação à utilização do depósito de 5,20m², os moradores o utilizam como
escritório sem alterar qualquer alvenaria.
d) O incômodo causado pela presença de apenas um banheiro social no
apartamento, foi amenizado pelos moradores por uma obra de ampliação no banheiro de
serviço, em detrimento da área de serviço, criando condições de utilização pelos
proprietários.
e) Indagados sobre as modificações que gostariam de executar no apartamento para
melhorar as condições de atendimento à família, os entrevistados indicaram:
- Abrir um vão alto na parede que separa a sala do “depósito” para melhorar a
ventilação da sala, considerada quente.
- Permitir que a atual entrada de serviço, sirva de acesso somente ao escritório
localizado no antigo depósito, para atendimento aos clientes da moradora, que é
advogada.
fig. 148 - Croquis do apartamento com as modificações desejadas pelos moradores.
154
b) EDIFÍCIO CARAJÁS – Rua Voluntários da Pátria, 139
fig. 149 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Carajás.
Implantação
Situado no bairro de Botafogo, à Rua Voluntários da Pátria, 139, este edifício foi
construído na década de 1940.
Está alinhado às divisas laterais em um lote plano com as seguintes dimensões:
30,00m de testada, 24,00m na divisa dos fundos, 98,00m na divisa direita e 114,00m na
divisa esquerda, perfazendo 2.700,00m² de área. A implantação do bloco no terreno
obedece a um afastamento frontal médio de 20,00m e o afastamento da divisa dos fundos é
de 35,00m. A área de projeção é de 850,00m2 com taxa de ocupação de 31,48%.
fig. 150 - Aerofotogramétrico datado de 1955 com a localização do edifício.
155
Descrição do Empreendimento
O projeto é constituído de bloco único de 10 pavimentos residenciais sobre
pavimento térreo ocupado por unidades residenciais.
fig. 151 - Foto da fachada frontal . fig. 152 - Foto da entrada social.
A guarda de veículos é feita nos fundos do lote em uma garagem construída em
dois níveis, com aproximadamente 670,00m². Observa-se o acesso à garagem sob o prédio,
impondo modificação no térreo da solução de planta do pavimento tipo.
fig. 153 - Croquis da implantação do edifício com orientação solar.
156
fig. 154 - Foto da garagem nos fundos do terreno. fig. 155 - Foto do jardim frontal.
A área de lazer prevista no empreendimento se resume ao jardim frontal com
bancos e espelho d’água, localizado no afastamento de 20,00m da rua principal, e no
jardim contemplativo localizado entre a fachada dos fundos e a edificação da garagem.
O edifício, projetado para a classe alta, mostra linhas arquitetônicas de transição
entre o neoclássico e o art-déco, e nos detalhes de decoração encontrados no hall social de
dimensões monumentais, incomuns nos dias de hoje.
fig. 156 - Foto do espelho de corpo inteiro da entrada social. fig. 157 - Foto do lustre tradicional encontrado
no hall social.
157
Descrição das Unidades Privativas
O pavimento tipo é composto de quatro apartamentos separados em dois acessos
verticais e são rebatidos dois a dois. Os apartamentos são compostos de hall de entrada,
sala de estar, varanda, sala de jantar, galeria, três quartos, um banheiro social, um banheiro
de visitas, cozinha, área de serviço, dois quartos de empregada e um banheiro de serviço,
com 195,28m² de área útil.
fig. 158 - Planta baixa do apartamento tipo.
Observa-se que o hall de entrada do apartamento é seccionado por uma porta de
duas folhas, separando o hall de entrada do apartamento da parte mais íntima da unidade –
uma galeria que dá acesso aos quartos e banheiro e por onde se faz o acesso entre a cozinha
e a sala de jantar.
fig. 159 - Foto do hall de entrada com a ampla porta decorativa.
158
No hall social está localizada uma pequena abertura, tipo guichê ou passa-prato,
que acessa um outro hall intermediário que liga à cozinha e ao lavabo, afastando o máximo
possível o setor de serviço da área social.
Um único banheiro de 9,90m² serve aos três quartos do apartamento.
A ampla varanda de 30,00m² foi anexada às salas, pela retirada das portas
primitivas e pelo fechamento por esquadrias do vão da varanda sobre o peitoril.
fig. 160 - Foto da fachada dos fundos (semelhante à frontal) mostrando o fechamento unânime da área da varanda.
Avaliação crítica
O Edifício Carajás está em ótimo estado de conservação e limpeza, devido o à alta
renda dos seus moradores. A separação visual e espacial dos halls social e de serviço nos
andares revela esta preocupação, que no pavimento térreo parece deixar de existir uma vez
que todos esses compartimentos chegam em um único e amplo hall, revestido por
mármores e decorado finamente com sancas e lustres.
Neste hall, no pavimento térreo, o que ressalta efetivamente são as dimensões, pois
o mesmo abrange desde a fachada frontal até a dos fundos (numa distância de 53,00m),
sem um móvel sequer, com exceção da mesa do porteiro localizada à frente. Para este hall
também dá acesso os dois apartamentos localizados no pavimento térreo, de dimensões
menores dos localizados nos andares tipo, em função das entradas laterais para automóveis
e do próprio hall social.
159
O ambiente é agradável mas deixa implícito o ar aristocrático, que era bastante
valorizado à época da construção, em cada detalhe de projeto e de decoração.
Não existe a preocupação atual de se abastecer o edifício com área de lazer para
crianças como, por exemplo, um parque infantil ou área aberta para alguma atividade
lúdica, apesar de não faltar espaço no empreendimento que poderia atender a esta
finalidade, quer seja no afastamento frontal, na área dos fundos (+ 500,00m²), ou mesmo
sobre a laje de cobertura da garagem (+ 350,00m²). Deixa claro, assim, a ausência de
preocupação da época com a recreação infantil, e com o lazer de um modo geral, visto não
possuir piscinas e/ou salão de festas.
A orientação solar obedece ao eixo noroeste-sudeste, dada pela própria localização
do terreno, e não houve a preocupação no projeto arquitetônico com relação a esta
orientação.
A unidade privativa oferece boa condição de ventilação, em função dos vãos
projetados, das dimensões dos compartimentos e do pé direito do apartamento, mais altos
que os dos apartamentos atuais.
Com relação ao conforto interno do apartamento, uma observação importante fica
por conta da existência de um único banheiro para atendimento aos três quartos sociais, o
que era bastante comum na época da construção (década de 1940) em função dos costumes
e dos altos custos decorrentes das instalações sanitárias.
fig. 161 - Croquis do apartamento com a distribuição do fluxo entre os setores.
160
Na entrada do apartamento, a separação em dois ambientes de um mesmo espaço,
hall e galeria, possibilita a introdução das visitas diretamente à sala de estar sem acesso
visual à parte íntima.
Outro aspecto a ser notado é a função distribuidora da galeria localizada no espaço
central do apartamento. É a espinha dorsal da unidade, por onde se faz a ligação entre todas
as peças do setor íntimo e a distribuição do fluxo setor social-serviço para abastecimento
da sala de jantar.
Esta galeria, que filtra a circulação distribuindo os diversos fluxos de comunicação
entre os setores dentro da unidade, é remanescente da antiga casa senhorial, quando, muitas
vezes, este ambiente ganhava mais largura e abrigava a própria sala de refeições, então,
centro de todas as atividades da casa na época.
fig. 162 - Planta baixa da casa colonial da Fazenda de São José localizada em Quissamã, norte fluminense, datada de
1880, onde se observa a presença do mesmo compartimento distribuidor de fluxos, abrigando ao mesmo tempo a função
de local para refeições.
161
Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço demarcadas, observamos as
porcentagens determinadas para cada setor.
fig. 163 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.
Setor social: 41 %
Setor íntimo: 42 %
Setor de serviço: 17 %
162
4.3.2 – Tipo 4
Relativo ao tipo 4 foi selecionado o exemplo: Edifício Julio de Barros Barreto, que
representa um ícone na história das edificações residenciais multifamiliares no Rio de
Janeiro. As soluções de circulações e ventilações encontradas em seu projeto arquitetônico
ampliam sua representatividade. Foi selecionado também pelas condições favoráveis de
visita e disponibilidade de dados.
a) EDIFÍCIO JULIO DE BARROS BARRETO – Rua Fernando Ferrari, 61
fig. 164 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Julio de Barros Barreto
Implantação
Situado no bairro de Botafogo, à Rua Fernando Ferrari, 61, este exemplar da fase
áurea da arquitetura moderna foi construído para um fundo de pensão da Previdência
Social em 1947, com projeto desenvolvido pelos irmãos Marcelo, Milton e Maurício
Roberto.
163
Está localizado isolado no lote, afastado das divisas, e com uma implantação que
privilegia a vista panorâmica que descortina da Enseada de Botafogo.
fig. 165 - Planta de situação esc. 1:1000 (sobre aerofotogramétrico).
fig. 166 - Mapa de alcance visual (esc. 1:5000).
O terreno em questão é em aclive. Os blocos originalmente ficavam afastados do
logradouro (Rua Farani), cerca de 70,00m com jardins e espelho d’água.
164
fig. 167 - Aerofotogramétrico datado de 1955 apresentando os jardins originais e o espelho d’água.
Com a construção do viaduto Santiago Dantas, ocorrida na década de 1960, ligando
a Praia de Botafogo à Rua Pinheiro Machado, foi suprimida grande parte do afastamento
frontal e com isso, foi retirado o espelho d’água decorativo que ornavam a entrada do
edifício, diminuindo a área do porte-coche.
fig. 168 - Aerofotogramétrico datado de 1999, agora o afastamento frontal da torre de circulação vertical é de 25,00m.
165
Descrição do Empreendimento
O projeto é constituído por dois blocos de apartamentos duplex, unidos pela torre
de circulação vertical, com cinco pavimentos duplos em cada bloco.
fig. 169 - Fachada dos blocos duplex, vistos da Rua Muniz Barreto.
A guarda de veículos é feita sob pilotis com acesso através de uma rua rampeada
externa para vencer o desnível do terreno.
fig. 170 - Foto da rampa de acesso dos automóveis. fig. 171 - Foto do anexo da garagem.
166
Uma característica interessante deste projeto é a distinção quase total das
circulações social e de serviço em todo o prédio. Sendo o apartamento desenvolvido em
dois pavimentos, foi possível identificar a circulação dos andares ímpares em social com
acesso à sala, e a circulação dos andares pares como sendo a de serviço com acesso à
cozinha através de uma escada auxiliar.
fig. 172 – Corte dos bloco 02.
Pelo corte transversal pode-se ver como as circulações horizontais nos diversos pavimentos, se alternam em social e serviço permitindo acesso independente a esses dois usos.
fig. 173 - Fotos das circulações social e de serviço do bloco 02.
fig. 174 - Detalhe das janelas da fachada dos fundos.
167
As áreas destinadas ao lazer do empreendimento são divididas em três setores:
a) A área do afastamento frontal composto de jardins, árvores e bancos sob a
marquise modernista.
fig. 175 - Porte-coche e entrada de pedestres, fig. 176 - Marquise com bancos e viveiros de junto à área de jardim no afastamento frontal pássaros.
b) Uma quadra cimentada coberta construída sobre o anexo da garagem,
construído na década de 1970.
c) Sala de festas originada a partir do fechamento de parte do pilotis.
fig. 177 - Foto do anexo da garagem com a quadra coberta. fig. 178 - Foto da entrada do salão de festas no pilotis.
Observa-se que as áreas destinadas ao lazer do empreendimento não são originais
do projeto arquitetônico e sim oriundas de modificações posteriores. São desarticuladas
entre si e, de certa maneira, improvisadas, não atendendo aos padrões de insolação e de
conforto.
168
Descrição das Unidades Privativas
fig. 179 - Croquis do esquema do pavimento tipo
Os apartamentos duplex estão dispostos em dois blocos, com cinco pavimentos
duplos:
Bloco 01 – seis apartamentos por pavimento, perfazendo um total de trinta unidades
com varanda, sala, cozinha e dependência de empregada no primeiro piso e três quartos e
um banheiro no segundo piso. Possui um pavimento intermediário com pequena
lavanderia.
Bloco 02 – dez apartamentos por pavimento perfazendo um total de cinqüenta
unidades com varanda, sala, cozinha e dependência de empregada no primeiro piso e três
quartos, um banheiro e uma rouparia no segundo piso. Também possui um pavimento
intermediário com uma pequena lavanderia e uma escada de serviço.
fig. 180 - Vista das varandas
As varandas, com pé direito duplo, dão vista para a Enseada de Botafogo, caracterizando plasticamente a opção duplex adotada no projeto.
169
fig. 181 - Planta baixa do apartamento do bloco 02, nível inferior.
fig. 182 - Planta baixa do apartamento do bloco 02, nível superior.
A planta permite que dois quartos, a sala e a varanda tenham vista do mar e um
quarto e o setor de serviço se abram para os fundos, com vista para a montanha, através da
circulação de serviço.
A varanda possui pé direito duplo, formando um quadro modular que deixa o
apartamento recuado e protegido da insolação, sem prejuízo da vista.
O sistema de circulação utiliza corredores distintos, com pés direitos mais altos e a
meio nível entre os andares, fornecendo acessos separados ao setor social e de serviço.
O corredor social está a quatro degraus abaixo do piso do estar.
O corredor de serviço acessa os dos pavimentos do apartamento: descendo-se onze
degraus chega-se ao estar, subindo seis atinge-se o piso dos quartos.
170
fig. 183 - Croquis do apartamento com indicações das circulações e acessos
Avaliação crítica
O conjunto arquitetônico Julio de Barros Barreto é uma das construções
modernistas mais importante não só do bairro de Botafogo como também da cidade do Rio
de Janeiro. Representa um verdadeiro ícone da fase áurea da Arquitetura Moderna
Brasileira, e confirmando toda essa importância a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro,
através do Decreto 22221 de 04/11/02, criando a Área de Proteção do Ambiente Cultural
do Bairro de Botafogo, o incluiu como edificação tombada no artigo 9o, não podendo ser
demolida, nem modificada. Em caso de sinistro ou de obras que a descaracterizem, será
estabelecida a obrigatoriedade de reconstrução.
fig. 184 - Foto do edifício publicada no jornal O Globo do dia 05/11/2002.
171
Um dos pontos positivos inquestionáveis nesta construção no setor de conforto
ambiental é a condição de ventilação cruzada que oferece em todo o apartamento,
diminuindo a sensação térmica pela ação da brisa constante vinda da Enseada de
Botafogo, uma das preocupações projetuais dos irmãos Roberto.
fig. 185 - Croquis do apartamento com indicações das ventilações cruzadas.
Outro aspecto positivo do projeto arquitetônico do ponto de vista do morador é a
varanda projetada. A sensação de enclausuramento que poderia propor é anulada pelo pé
direito duplo, integrando inclusive, as janelas dos quartos do segundo piso. A sensação é
de privacidade em relação aos vizinhos, e de liberdade e amplidão em relação à paisagem.
A orientação em relação ao posicionamento solar é a mais recomendada possível,
pois lança toda a fachada principal (das salas e quartos) para a orientação sul, que
representa no Rio de Janeiro, a insolação mais amena e conseqüentemente mais agradável.
A parte dos fundos do edifício ficou voltada para a orientação menos favorável
(norte e nordeste), mas é amenizada pelas circulações horizontais social e de serviço, que
filtram o calor e não chegam a afetar a unidade residencial.
Porém, se por um lado representa um verdadeiro ícone da fase áurea do
Modernismo no país, do outro observou-se que para utilização diária pelo morador, alguns
pontos importantes foram relegados para o segundo. Um desses pontos são as escadas
172
projetadas dentro do apartamento para viabilizar as circulações externas de serviço,
criando um nível diferente para o hall de entrada e dificultando o acesso à cozinha dos
volumes de compras, por exemplo. Observando que a locomoção por parte de deficientes
físicos ou idosos fica bastante prejudicada.
Outro ponto observado é a falta de um banheiro social no primeiro piso, o que
dificulta o deslocamento dentro do apartamento.
A circulação externa comum também é apresentada como um ponto menos
favorável, apesar de possuir janelas para o exterior, por ser bastante extensa.
A presença da janela que ventila e ilumina o quarto voltado para os fundos na
circulação comum de serviço é um dos aspectos menos favoráveis deste projeto
arquitetônico, pois, apesar de possuir altura do peitoril aproximadamente de 1,80 m, o
quarto se apresenta completamente devassado por quem transita por esta circulação.
Apresenta condição de ventilação e iluminação insuficientes e o ambiente fica bastante
prejudicado no que se refere a conforto visual, acústico, lumínico e térmico.
fig. 186 - Foto da circulação de serviço do bloco 02 fig. 187 - Foto da janela dos quartos dos fundos vista
da circulação de serviço.
Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço demarcadas, observamos as
porcentagens determinadas para cada setor.
173
fig. 188 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.
Setor social: 39 %
Setor íntimo: 43 %
Setor de serviço: 18 %
Avaliação dos moradores
Em entrevista realizada no dia 28 de janeiro de 2003, ao ex-morador do
apartamento 514 do bloco 2 – Sr. Franklin Penna. A família moradora desse apartamento é
composta de um casal e uma filha, adolescente à época da ocupação no imóvel.
Selecionamos algumas informações para análise:
a) Declarou que o fato do apartamento possuir dois pavimentos não causava
incômodo e que tal fato conferia maior privacidade à parte íntima.
b) Na sua opinião a varanda era o melhor compartimento do apartamento, trazendo
sensação de amplidão pelo pé direito duplo, liberdade e convite à contemplação dada à
vista privilegiada.
c) Não se sentia incomodado pelo comprimento da circulação comum nos
pavimentos, apesar de considerá-la demasiado longa.
Podemos notar algumas divergências com relação à circulação dentro do
apartamento, na entrevista com sua filha – Ana Cláudia Penna, realizada no mesmo dia:
174
a) Declarou gostar do fato do apartamento possuir dois pavimentos, por passar a
sensação de casa. Por outro lado, achava incômodo ter que subir e descer escadas para ir ao
banheiro, uma vez que no pavimento térreo só existir o banheiro de serviço.
b) A questão de acessibilidade à cozinha incomodava. “Chegar com compras era
complicado pois, de qualquer forma, precisava-se subir ou descer degraus.”
c) Considerou também a varanda como o melhor compartimento, uma extensão da
sala, indevassável.
d) Quanto à circulação comum a considerava monótona, feia e comprida demais.
175
4.3.3 – Tipo 6
Relativo ao tipo 6 foi selecionado o exemplo: Edifício Marechal Deodoro da
Fonseca, que representa um marco na implantação no solo das edificações residenciais
multifamiliares, no bairro de Botafogo. A solução de planta baixa encontrada em seu
projeto arquitetônico e a garagem para autos no subsolo ampliam sua representatividade.
Foi selecionado também pelas condições favoráveis de visita e disponibilidade de dados.
a) EDIF. MARECHAL DEODORO DA FONSECA – Rua Dona Mariana, 53
fig. 189 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca
Implantação
Situado no bairro de Botafogo, à Rua Dona Mariana, 53, este edifício foi construído
entre os anos de 1966 a 1969, com projeto desenvolvido pelo arquiteto Arthur Lício
Pontual.
Construído sobre pilotis, está localizado isolado no lote, afastado das divisas e foi
um dos primeiros a se beneficiar da legislação que, na época, permitia acréscimo de
176
pavimentos em função do maior afastamento das divisas. No caso, o afastamento frontal é
de 14,00m e os das divisas laterais é de 16,00m. O terreno plano tem quase 3.000,00m² de
área (48,00 x 62,00m). A área de projeção é de 525,00m² com taxa de ocupação no solo de
17,64%.
fig. 190 - Aerofotogramétrico datado de 1955 com a mansão existente no lote, construída por Stanley Hime, no ínício do
século XX.
fig. 191 - Aerofotogramétrico datado de 1975 com a localização do edifício.
177
Este prédio representa um marco no bairro de Botafogo, podendo ser visto de quase
todo o bairro.
fig. 192 - Foto do edifício visto à distância.
Descrição do Empreendimento
O projeto é constituído de bloco único de 26 pavimentos residenciais sobre
pavimento térreo em pilotis com pé direito duplo.
fig. 193 - Croquis do pavimento tipo com os dois apartamentos e a orientação solar.
178
fig. 194 - Foto da fachada frontal do edifício.
A guarda de veículos é feita no pavimento de subsolo que ocupa todo o terreno,
tendo dois acessos (uma entrada e uma saída), localizados no meio dos afastamentos
laterais em forma trapezoidal. Há também vagas de garagem no pavimento térreo,
destinadas a visitantes.
fig. 195 - Foto da entrada da garagem em subsolo .fig. 196 - Foto da garagem para visitantes no térreo.
A área destinada a lazer compreende:
a) a área descoberta do pavimento térreo, aonde há uma parte separada para
utilização infantil com alguns brinquedos de ferro locados sem atenção adequada,
b) uma quadra polivalente localizada nos fundos do terreno, protegida por uma
grade de ferro,
179
c) dois salões de festas, projetados no 27º andar, de onde se descortina uma vista de
360° de todo o bairro.
fig. 197 - Foto do parquinho infantil. fig. 198 - Foto do parquinho infantil (outro ângulo.) fig. 199 - Foto da quadra.
Segundo Alberto Xavier, Alfredo Britto e Ana Luiza Nobre, a característica
principal desta construção é a solução estrutural adotada para vencer os noventa metros de
altura da edificação. “Sua estrutura adotou lajes em blocos de caixão perdido com 35 cm
de altura, que permitiram flexibilidade na distribuição de alvenarias em blocos de concreto
celular.”150 De acordo com o Guia da Arquitetura Moderna, lançado pela Prefeitura
Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, “possui paredes-pilares distribuídos em pontos-
chave do empreendimento, viabilizando os grandes vãos que o programa requeria.” As
fachadas em concreto aparente resultam desse partido adotado, tendo os vazios
preenchidos pelas esquadrias compostas de vidros e painéis coloridos que foram moldados
“in loco”.151
fig. 200 - Corte longitudinal do edifício. fig. 201 - Foto da fachada lateral do edifício.
150 XAVIER, A; BRITTO, A; NOBRE, A.L. “Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro.” São Paulo: PINI/Fundação Vilanova Artigas. Rio de Janeiro: Rioarte, 1991:145. 151 PREFEITURA MUNICIPAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. “Guia da Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Casa da Palvra, 2000:69.
180
Descrição das Unidades Privativas
O pavimento tipo é composto de dois apartamentos rebatidos, com acesso social
independente para cada apartamento, compartilhando o elevador de serviço.
Os apartamentos são compostos de galeria, sala de estar e jantar em um só ambiente
de 65,00m², quatro quartos, dois banheiros sociais, um lavabo, uma copa-cozinha, uma
área de serviço, dois quartos de empregada e um banheiro de serviço, com 190,56m² de
área útil.
fig. 202 - Planta baixa do apartamento tipo.
Projetado para a classe social alta, este apartamento possui dimensões generosas
tendo quartos com local previsto para armários em todos eles.
A ampla galeria serve de hall de distribuição entre os setores social, íntimo e de
serviço, facilitando o fluxo e preservando a individualidade de cada setor.
Os halls externos social e de serviço não tem comunicação entre si.
Avaliação crítica
O edifício, apesar de destinado à classe social alta, apresenta um estado de
conservação precária em alguns setores. O local onde a falta de manutenção se torna mais
flagrante é a área de lazer. A quadra, sem a manutenção necessária, está praticamente
181
abandonada, e o parquinho infantil, constituído de alguns brinquedos de ferro, foi
concebido sem a preocupação devida, se tornando pouco convidativo às crianças.
É importante ressaltar que área de lazer não era prevista no projeto original, onde o
prédio se localizava em centro de terreno sem construções à volta, com exceção dos
trapézios protegendo as entradas de automóveis para o subsolo.
Os salões de festas, no 27º andar, localizados nas extremidades do prédio, sobre as
áreas de quartos do pavimento tipo, também se encontram semi-abandonados.
O hall social, apesar de estar decorado, não apresenta requinte nem esmero, sendo
seu acabamento bastante simples.
fig. 203 - Foto do hall social. fig. 204 - Foto do hall social (outro ângulo).
As circulações social e serviço são separadas desde o pavimento térreo,
prosseguindo nos pavimentos tipo, sem qualquer passagem entre si. Esta separação dos
halls social e de serviço nos pavimentos, hoje em dia, não é mais permitida devido a
questões de segurança.
fig. 205 - Croquis da parte comum do pavimento tipo.
182
A orientação solar obedece ao eixo sudoeste-nordeste, em que a área social dos
apartamentos fica voltada para o noroeste – orientação desfavorável para os ambientes de
salas na Cidade do Rio de Janeiro. Ficou definida a orientação lateral da parte social do
apartamento, em função da melhor solução de planta baixa, no que concerne ao fluxo
interno.
Com relação aos quartos, porém, os mais bem localizados são os dos apartamentos
localizados nos fundos do prédio, que recebem os raios solares do quadrante leste.
Com relação à funcionalidade do apartamento, é bem prática e funcional,
apresentando conforto e claridade. Porém, apesar de possuir dois banheiros sociais, não foi
previsto nenhum quarto tipo suíte. Um aspecto importante a se observar é a criação de quatro shafts dotados de porta
em cada apartamento (na cozinha, no banheiro de serviço e nos dois banheiros sociais), que
possibilitam a visita às instalações hidráulicas e de esgotamento, sem que sejam
necessários maiores transtornos. As esquadrias utilizadas são originais e quase exclusivas
da edificação.
fig. 206 - Planta baixa do apartamento com a localização dos shafts.
fig. 207 - Foto da fachada frontal, com detalhe das esquadrias dos quartos.
183
Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço demarcadas, observamos as
porcentagens determinadas para cada setor.
fig.. 208 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.
Setor social: 41 %
Setor íntimo: 41 %
Setor de serviço: 18 %
Avaliação dos moradores
Em entrevista realizada no dia 28 de janeiro de 2004, ao morador do apartamento
2202 – Sr. Sérgio Boiteux. A família moradora desse apartamento é composta de um casal
e três filhos adultos. Selecionamos algumas informações para análise:
a) As áreas dos salões de festas, localizados no 27º andar eram destinadas aos
apartamentos do 26º pavimento em utilização duplex, porém devido a falha na
comercialização das unidades, estes dois compartimentos passaram a ser de uso comum. A
idéia de utilizar como salões de festas não foi feliz em função dos transtornos causados aos
moradores do pavimento inferior, justamente sobre a área dos quartos.
b) Em informação da época da construção do prédio, houve discussão sobre qual
seria a melhor orientação da parte social da unidade: voltá-la para a orientação sudeste, que
184
traria condição de insolação bastante satisfatória para o Rio de Janeiro, descortinando a
vista do Cemitério São João Batista, ou, direcioná-la para a orientação noroeste evitando
da vista do Cemitério, mas com maior nível de insolação.
Em 1966, a escolha foi a orientação noroeste para a área social, mas que, em
poucos anos, apresentou-se duplamente desagradável pelo crescimento da favela Dona
Marta, situada no morro de mesmo nome, que é voltada diretamente para o prédio, já
havendo, inclusive, histórico de bala perdida em um dos apartamentos do condomínio.
fig. 209 - Foto da vista do lado sudeste do edifício com fig. 210 - Foto da vista do lado noroeste do edifício com
a vista do Cemitério São João Batista. (paisagem a vista da favela Dona Marta. (paisagem descortinada
descortinada pela parte de serviço do apartamento) pela parte social do apartamento)
c) Indagado sobre as modificações que gostaria de executar no apartamento
para adequar às necessidades da família e aos tempos atuais, fomos informados que a falta
de uma suíte incomodava o casal. Este problema foi solucionado com o fechamento da
circulação defronte a um dos banheiros sociais. O fechamento foi feito através de uma
porta de correr de 1,20m de largura, que, uma vez estando aberta, faz retornar a condição
anterior do apartamento.
fig. 211 - Croquis ilustrativo da criação da suíte.
185
d) Outra necessidade da família seria a criação de um espaço para utilização como
pequeno escritório. A idéia desenvolvida pela família seria a abertura de uma porta num
dos quartos de empregada para a área da galeria, uma vez que apenas um dos quartos de
empregados é utilizado para este fim, estando o outro ocioso. Porém a família ainda não se
dispôs a implementar tal modificação interna.
fig. 212 - Croquis ilustrativo da reforma pretendida.
186
4.3.4 – Tipo 7
Relativo ao tipo 7 foi selecionado o exemplo: Edifício Mansão Rodrigo de
Freitas, que representa as modificações implementadas a partir da regulamentação do
Decreto 322/1976. O surgimento dos pavimentos de embasamento para guarda de veículos
e do pavimento de uso comum destinado a lazer justificam sua representatividade.
a) EDIF. MANSÃO RODRIGO DE FREITAS – Rua Desembargador Burle, 73
fig. 213 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas.
Implantação
Situado no bairro de Botafogo, à Rua Desembargador Burle, 73, esta edificação
foi lançada em 1981, com projeto desenvolvido pela Construtora Brunet.
Está localizada isolada no lote, afastadas das divisas. O lote plano possui as
seguintes dimensões: 32,00m de testada e na divisa dos fundos e 45,00m de ambos os
lados, perfazendo um total de 1.440,00m². A implantação do bloco no lote obedece a um
afastamento frontal de 12,00m, afastamentos laterais de 6,60m e da divisa dos fundos
187
9,90m. A área de projeção é de 384,00m² por bloco, com taxa de ocupação decorrente de
26,66%.
fig. 214 - Aerofotogramétrico datado de 1997.
Descrição do Empreendimento
O projeto é constituído por um bloco de catorze pavimentos residenciais, sobre
um pavimento de uso comum, um pavimento de garagem elevada e um pavimento térreo
com garagem.
fig. 215 - Foto da fachada frontal (parte do embasamento) fig. 216 - Foto da fachada principal.
188
A guarda de veículos é feita no pavimento térreo, na garagem elevada e no
pavimento de subsolo semi-enterrado.
fig. 217 - Foto do porte-coche. fig. 218 - Foto das entradas das garagens.
A área de lazer concentra-se no pavimento de uso comum com duas piscinas
(uma infantil e uma de adultos), um pequeno salão de festas e área reservada à recreação
infantil com brinquedos de madeira, uma mini-quadra e uma ciclovia para triciclos.
As áreas de lazer projetadas num mesmo pavimento, exclusivo para esta
atividade, criando um centro de atividades lúdicas e descanso são decorrentes do Decreto
322/1976, com a introdução obrigatória do pavimento de uso comum.
No edifício Mansão Rodrigo de Freitas, este pavimento ocupa todo o terreno,
excetuando a área do afastamento frontal, cobrindo a garagem localizada no pavimento
inferior.
O pavimento tipo é abastecido por três elevadores: dois sociais e um de serviço.
Cada elevador atende a dois apartamentos em separado.
Descrição das Unidades Privativas
O pavimento tipo é composto de quatro apartamentos, rebatidos dois a dois,
com acesso social a cada duas unidades, compartilhando o elevador de serviço.
Os apartamentos são compostos de sala de estar e de jantar em um só ambiente,
duas varandas, três quartos sociais sendo um suíte, dois banheiros sociais, uma cozinha,
189
uma área de serviço, um quarto de empregada e um banheiro de serviço, com 106,88m² de
área útil.
fig. 219 - Croquis do pavimento tipo com a orientação solar.
fig. 220 - Planta baixa do apartamento tipo
190
Mesmo buscando, no empreendimento, um fator de requinte e diferenciação, os
compartimentos internos da unidade privativa possuem dimensões reduzidas.
Os halls externos social e de serviço têm comunicação entre si, obedecendo às
posturas do Corpo de Bombeiros com relação à pânico e escape, datadas de 1976.
Avaliação crítica
O empreendimento encontra-se em bom estado de conservação, levando em
conta os vinte e três anos de construção.
A orientação solar obedece ao eixo norte-sul, beneficiando os apartamentos de
frente que estão voltados para a orientação sul, a mais indicada para o setor social na
cidade do Rio de Janeiro. Os apartamentos de fundos estão voltados para as fachadas
laterais, um para orientação leste, adequada, e outro para orientação oeste, muito aquecida,
tendo ambos somente o cômodo da suíte voltada para a orientação norte. A fachada destas
suítes dos fundos é protegida por uma sacada, amenizando a incidência dos raios solares.
fig. 221 – Fachada dos fundos vista da Rua Voluntários da Pátria.
191
O projeto do apartamento apresenta uma funcionalidade simples, com
circulação íntima em dimensões mínimas. Apesar dos setores social, íntimo e serviço
estarem bem definidos, com nível de superposição de função bem baixo, o fluxo interno da
unidade fica comprometido pela obrigatoriedade de se cruzar o setor social para acessar o
setor de serviço. E a ausência de um hall ou vestíbulo deixa a sala devassável para
qualquer visitante, tirando a privacidade dos moradores.
fig. 222 - Croquis do apartamento com o fluxo de circulação entre os setores e ausência de privacidade a partir da
entrada.
O banheiro social foi projetado sem iluminação e ventilação diretas, sendo a
ventilação executada através de rebaixo sobre a cozinha com saída para a área de serviço e
a iluminação sendo totalmente artificial. O banheiro privativo da suíte possui ventilação e
iluminação diretas, o que melhora o nível de conforto do ambiente.
Como não possui banheiro exclusivo para as visitas (lavabo), esta função é
desempenhada pelo banheiro social, localizado bem próximo à sala.
As varandas projetadas são duas: uma sacada atendendo à suíte e uma varanda
de boa dimensão ocupando toda a fachada frontal.
Apesar de possuir 18,13m², nenhuma varanda do edifício foi incorporada à sala,
deslocando-se a esquadria. Este fato deveu-se à proibição expressa dada pelo Decreto
322/1976 em seu artigo 114, parágrafo 9º, que obriga a convenção do condomínio
192
“estipular a condição de não se poder fechar ou envidraçar as varandas, mesmo em parte e
sob qualquer pretexto”.
As áreas internas do apartamento foram projetadas atendendo as condições
mínimas exigidas pelo Código de Obras e pelo mercado imobiliário, e medem cerca de
85,81m² de área útil interna acrescida de 21,07m² de área de varandas.
O quarto de empregada não apresenta condições de reversibilidade, devido às
imposições do projeto.
Este empreendimento já apresenta as disposições introduzidas pelo Decreto
322/1976 no que tange a escada de incêndio enclausurada à prova de fumaça, aumentando
a segurança do edifício.
Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço, demarcadas, observamos
as porcentagens determinadas para cada setor.
fig. 223 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.
Setor social: 44 %
Setor íntimo: 38 %
Setor de serviço: 18 %
193
4.3.5 – Tipo 10
Relativos ao tipo 10 foram selecionados, como exemplos, os edifícios Plaza
Etoile e Golden Garden, representantes, do final do século XX, da implantação típica do
bairro de Botafogo, em atendimento à Lei 434/1983. As áreas de lazer mais completas e
sofisticadas, o andar de garagem no embasamento limitado em apenas um pavimento e o
remembramento de dois ou mais terrenos para obtenção destes resultados reforçaram sua
escolha.
a) EDIFÍCIO PLAZA ETOILE – Rua São Clemente, 117
fig. 224 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Plaza Etoile.
Implantação
Situado no bairro de Botafogo, à Rua São Clemente, 117, esta edificação foi
construída no ano de 1998, com projeto do arquiteto Carlos Bittar para a Construtora
Agenco, em terreno do antigo Colégio Jacobina. O terreno original foi desmembrado em
dois: um à frente, voltado para a Rua São Clemente com aproximadamente 660,00m², e
outro aos fundos com cerca de 3.658,00m², tendo acesso lateral através de uma servidão de
seis metros de largura.
194
fig. 225 - Aerofotogramétrico datado de 1955 com o terreno integral.
No primeiro lote, permaneceu isolada uma parte do antigo colégio como área
preservada em Bem Tombado da Municipalidade, onde hoje funciona o Centro de
Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU), pertencente à Prefeitura Municipal.
No segundo lote, estão implantados dois blocos residenciais afastados das
divisas. Este segundo lote plano possui as seguintes dimensões: 6,00m de testada, 24,00m
na linha dos fundos, 25,00m + 117,00m no lado direito e 144,00m no lado esquerdo.
A área de projeção do bloco I é 738,00m² e a do bloco II, 570,00m², com taxa
de ocupação de 35,75%.
fig. 226 - Aerofotogramétrico datado de 2000.
195
fig. 227 - Foto da vista frontal do empreendimento. fig. 228 - Foto da vista da servidão em direção a CAU.
Descrição do Empreendimento
O projeto é constituído por dois blocos residenciais tendo o bloco I dez
pavimentos e o bloco II, onze pavimentos. Foram projetados sobre um pavimento de uso
comum e um pavimento garagem ocupando o térreo, de acordo com a Lei 434/1983.
fig. 229 - Planta de situação esquemática com blocos I e II.
fig. 230 - Foto da entrada lateral de autos.
196
A área de lazer localiza-se no pavimento de uso comum e possui piscina, sauna
com sala de repouso, salão de festas com copa, área reservada à recreação infantil, um
coffee shop, sala de ginástica, ciclovia infantil e toda uma estrutura de serviços para
atendimento aos apartamentos.
fig. 231 - Foto da ciclovia. .fig. 232 - Foto da área da piscina. fig. 233 - Foto da área da piscina.
fig. 234 - Foto da área da recreação infantil. fig. 235 - Foto da área da recreação infantil.
As áreas de lazer foram projetadas num mesmo pavimento, criando um centro
de passeio e atividades lúdicas, decorrentes do Decreto 322/1976 com a introdução
obrigatória do pavimento de uso comum, e confirmada na Lei 434/1983.
Descrição das Unidades Privativas
Os apartamentos estão dispostos em dois blocos:
Bloco I – dez pavimentos residenciais contendo oito apartamentos por
pavimento. Cada apartamento é composto por sala de visita e jantar num só ambiente,
varanda, dois quartos sendo um suíte, dois banheiros sociais, uma cozinha e uma área de
serviço.
197
Bloco II – onze pavimentos residenciais contendo quatro apartamentos por
pavimento. Cada apartamento é composto por sala de visita e jantar num só ambiente,
varanda, três quartos sendo um suíte, dois banheiros sociais, uma cozinha e uma área de
serviço, com 82,74m² de área útil.
fig. 236 - Foto da fachada lateral do bloco I. fig. 237 - Foto da fachada dos fundos do bloco II.
Como nosso interesse é abranger estudos de apartamentos das classes média e
média alta, vamos nos ater ao estudo de análise da planta baixa do bloco II.
fig. 238 - Planta baixa do apartamento tipo do bloco II
198
Este apartamento possui dimensões reduzidas, atendendo às posturas do Código
de Obras e obedecendo também ao partido adotado para o empreendimento de tentativa de
otimização dos espaços, principalmente os de serviço, que seriam oferecidos pelo
condomínio. Neste sentido, foram suprimidas as dependências de empregados domésticos
do bloco I, preservando as do bloco II. Não há acesso independente através de halls social
e de serviço nos pavimentos tipo.
Os halls externos social e de serviço têm comunicação entre si, obedecendo às
posturas do Corpo de Bombeiros com relação a pânico e escape, datadas de 1976.
Avaliação crítica
O conjunto arquitetônico apresenta em excelente estado de conservação, pela
pouca idade e pelo esmero do condomínio.
A orientação solar segue ao eixo noroeste-sudeste, devido à própria localização
do terreno, e não houve a preocupação no projeto arquitetônico com relação a esta
orientação, que beneficia os apartamentos do bloco dos fundos.
fig. 239 - Foto da vista aérea do empreendimento tirada da cobertura do Edifício Mal. Deodoro da Fonseca.
No tocante a idéia de oferecimento de serviços aos moradores, projetaram-se,
no pavimento de uso comum, vários espaços destinados a coffee-shop, sala de ginástica,
salão de beleza e lavanderia. Este setor não apresenta um movimento grande de moradores,
com exceção do salão de beleza, onde os serviços de manicure são muito solicitados.
199
O projeto do apartamento apresenta uma funcionalidade simples, sem requintes,
pois para se acessar o setor de serviço é necessário cruzar o setor social, e ao ingressar no
apartamento, a sala se torna devassável perdendo a privacidade.
O banheiro social foi projetado sem iluminação e ventilação diretas, sendo a
ventilação executada através de exaustão mecânica. O banheiro privativo da suíte possui
ventilação e iluminação diretas, o que melhora o nível de conforto do ambiente.
Como não possui banheiro exclusivo para as visitas (lavabo), esta função é
desempenhada pelo banheiro social, localizado bem próximo à sala.
fig. 240 - Croquis da ventilação externa.
A tendência são os ventos soprarem paralelamente à fachada neste tipo de implantação das edificações.
A varanda projetada na sala tem bom balanço (largura igual a 1,50m), mesmo
sendo voltada para a divisa lateral, o que traz inconvenientes, principalmente no bloco I,
devido à proximidade dos prédios vizinhos, que devassam os apartamentos e dificultam a
ventilação.
fig. 241 - Croquis do esquema de fluxo entre os setores, da privacidade à entrada do apartamento.
200
As áreas do apartamento, de um modo geral, obedecem às áreas mínimas
permitidas para os compartimentos, quer seja pelo Código de Obras, quer seja pelo
mercado imobiliário. A área do apartamento de sala e três quartos gira em torno de
77,49m² acrescida de 5,25m² de área de varanda.
Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço demarcadas, observamos
as porcentagens determinadas para cada setor.
fig. 242 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.
Setor social: 33 %
Setor íntimo: 44 %
Setor de serviço: 23 %
201
b) EDIFÍCIO GOLDEN GARDEN – Rua Eduardo Guinle, 55
fig. 243 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Golden Garden.
Implantação
Situado no bairro de Botafogo, à Rua Eduardo Guinle, 55, esta edificação foi
construída no ano de 2000, com projeto arquitetônico desenvolvido pelo arquiteto Carlos
Bittar para a Construtora Agenco.
Está localizada isolada no lote, afastadas das divisas. O lote plano possui as
seguintes dimensões: 45,00m de testada, 72,78m de fundos, 42,00m + 15,30m de lado
esquerdo e 40,80m + 17,00m de lado direito, não sendo, portanto, regular e perfazendo um
total de 3.037,00m².
A implantação no lote dos blocos obedece a um afastamento frontal de 9,00m,
afastamentos laterais de 5,83m, entre os blocos de 11,66m e da divisa dos fundos 6,20m.
A área de projeção é de 454,20m² por bloco, e a taxa de ocupação decorrente é
de 30%.
202
fig. 244 - Aerofotogramétrico datado de 1999, onde ainda não figura o empreendimento lançado no ano de 2000.
fig. 245 - Foto da vista aérea do empreendimento tirada da cobertura do Edifício Mal. Deodoro da Fonseca.
203
Descrição do Empreendimento
O projeto é constituído por dois blocos iguais de onze pavimentos residenciais,
sobre um pavimento de uso comum e um pavimento garagem, de acordo com a Lei
434/1983.
fig. 246 - Planta de situação com os dois blocos. fig. 247 - Perspectiva dos blocos.
A guarda de veículos é feita no pavimento térreo e no pavimento de subsolo.
A área de lazer situa-se no pavimento de uso comum com duas piscinas (uma
infantil e uma de adultos), sauna seca e a vapor com sala de repouso, salão de festas com
copa, área reservada à recreação infantil e fonte central com lagos e bancos. São áreas
projetadas atendendo padrões de insolação e de conforto.
Descrição das Unidades Privativas
Os apartamentos estão dispostos em dois blocos de onze pavimentos cada. Cada
pavimento contém 04 apartamentos rebatidos, com acesso social a cada duas unidades,
compartilhando o elevador de serviço.
204
Os apartamentos são compostos de sala de estar e jantar em um só ambiente de
20,80m², duas varandas, três quartos sendo um suíte, dois banheiros sociais, uma copa-
cozinha, uma área de serviço, um quarto de empregada e um banheiro de serviço, com
101,61m² de área útil.
fig. 248 - Planta baixa do apartamento da coluna 04.
Mesmo projetado para classe média alta, este apartamento possui dimensões
pequenas, com dois quartos de 9,00m² e a suíte com 13,40m². Os halls externos social e de
serviço têm comunicação entre si.
fig. 249 - Planta humanizada do apartamento da coluna 02.
Avaliação crítica
O conjunto arquitetônico apresenta em excelente estado de conservação, pela
pouca idade e pelo esmero de seus moradores.
A orientação solar da edificação obedece ao eixo nordeste-sudoeste, porém os
apartamentos têm seus compartimentos todos voltados para a orientação sudeste ou
205
noroeste. Os apartamentos voltados para o sudeste são os mais beneficiados por esta
orientação, na cidade do Rio de Janeiro.
Um fato prejudicial à ventilação dos apartamentos é estar todos os
compartimentos voltados para uma mesma face do edifício, dificultando a ventilação
cruzada dentro do apartamento, ficando apenas a porta da suíte abrindo para a fachada
perpendicular. Este fato é decorrente das dimensões do bloco – 10,84m x 41,90m – muito
estreito e comprido, por sua vez decorrente do partido adotado de dois blocos voltados para
o logradouro, como fator valorizante do empreendimento.
fig. 250 - Planta de situação com marcação da ação dos ventos.
O projeto do apartamento apresenta uma funcionalidade simples, sem requintes.
Para acessar-se o setor de serviço é necessário cruzar o setor social, e ao ingressar no
apartamento, a sala se torna devassável perdendo sua privacidade.
206
Os banheiros foram projetados sem iluminação e ventilação diretas, ficando a
ventilação a cargo da exaustão mecânica e a iluminação somente a cargo da artificial. Um
aspecto positivo e prático é o desenho do banheiro social com dupla utilização, como
lavabo também.
fig. 251 - Croquis do apartamento com o fluxo entre os setores e da falta de privacidade à entrada.
Foram projetadas duas varandas, com pequenas dimensões. A sala comporta
sacada com 80 cm de balanço, tendo sido criada uma reentrância de 70cm para compor a
varanda de 11,52m².
As áreas do apartamento, de um modo geral, obedecem às áreas mínimas
permitidas para os compartimentos, quer seja pelo Código de Obras, quer seja pelo
mercado imobiliário. A área do apartamento de sala e três quartos gira em torno de
89,00m².
A área comum do pavimento-tipo apresenta as disposições introduzidas pelo
Decreto 322/1976: a escada de incêndio enclausurada à prova de fumaça e a comunicação
entre os halls de serviço e os sociais, representando ampliação dos sistemas de segurança
da edificação.
Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço, demarcadas, observamos
as porcentagens determinadas para cada setor.
207
fig. 252 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.
Setor social: 36 %
Setor íntimo: 43 %
Setor de serviço: 21 %
208
Conclusão
Como forma de conclusão da pesquisa, procedemos ao estudo comparativo dos
exemplos selecionados compilando os principais aspectos levantados na pesquisa. Com
esse estudo, pudemos elaborar as sínteses que ilustram, para efeito deste trabalho, as
principais transformações nas edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, de acordo
com as categorias de análise selecionadas.
É importante ressaltar, de antemão, que a definição dos tipos arquitetônicos
dependem intrinsecamente dos critérios de pesquisa enfocados. Com certeza outros
critérios de pesquisa gerariam outros tipos e novas conclusões. Nesta pesquisa buscaram-se
categorias relacionadas principalmente aos aspectos da legislação urbanística da cidade do
Rio de Janeiro e seus condicionantes.
Ora incidiram questões relativas à pressão por novas alternativas de moradia,
ora questões moldadas por aspectos culturais e ainda outras, de certa maneira,
influenciadas pelo mercado imobiliário.
As sínteses complementares e conclusivas apresentadas a seguir referem-se às
categorias de análise: volumetria das edificações, implantação no solo e soluções de
plantas baixas. Foram extraídas da análise dos tipos arquitetônicos pesquisados e dos
exemplos selecionados.
Por volumetria das edificações entende-se a concepção volumétrica
arquitetônica, que, ao longo do século XX, seguiu determinados modelos.
Por implantação no solo entende-se a projeção do pavimento tipo no terreno,
traduzindo tendências de taxas de ocupação no lote, de condições das circulações
horizontal e vertical e de aeração dos apartamentos.
Por soluções de plantas baixas entende-se o estudo do desenvolvimento em
termos de setores e suas funções, dimensões, localização dos ambientes e circulações,
209
traduzindo mudanças nos hábitos sociais e nos programas residenciais, incorporados aos
projetos analisados.
210
Quadro comparativo: (em A3 ou A4)
Exemplo Tipo Volumetria Pl.de situação Planta baixa
Ed. Barão de
Lucena
2
Ed. Carajás 2
Ed. Julio de
Barros Barreto
4
Ed. Mal
Deodoro da
Fonseca
6
Ed. Mansão
Rodrigo de
Freitas
7
Ed. Plaza Etoile 10
Ed. Golden
Garden
10
211
a) Volumetria das Edificações
Após as pesquisas executadas e dados compilados e comparados, ilustrados no
quadro acima, verificou-se que os tipos arquitetônicos de edificações multifamiliares
analisados seguem cinco modelos básicos, que, ao suceder-se no tempo, demonstraram a
relação simbiótica de características que ora contrapuseram-se ora somaram-se,
constituindo um processo contínuo de transformações.
Os cinco modelos básicos que originaram os tipos estudados estão abaixo
esquematizados:
- Modelo A
Edificações com utilização do pavimento térreo para unidades residenciais,
alinhados ou não às divisas laterais.
fig. 253 - Croquis perspectivado do modelo A
Neste modelo observa-se basicamente a predominância da característica visual
de apenas duas fachadas (frontal e fundos). Esta implantação origina dois setores de área
livre no terreno: a parte da frente e a dos fundos da edificação. À área livre frontal, com
afastamentos de dimensões variadas, derivaram-se dos jardins das residências
unifamiliares.
Em muitos casos, com afastamentos frontais mais generosos, observaram-se
jardins cuidadosamente criados que muito se assemelhavam aos das antigas chácaras. A
área livre dos fundos da edificação remetia aos antigos quintais.
212
fig. 254 - Foto do jardim frontal da Casa de Rui. fig. 255 – Foto do jardim do Edifício Almirante Guilhobel.
Neste modelo observa-se também a relação direta entre o espaço público da rua
e o espaço privado da edificação. Do espaço da rua passa-se para o espaço privado da
edificação ao cruzar-se apenas uma porta. A relação habitação-logradouro faz-se sem filtro
e, muitas vezes, o interior das unidades localizadas no pavimento térreo podem ser
descortinadas pelos transeuntes.
fig. 256 - Croquis do corte esquemático da edificação.
- Modelo B
Edificações construídas sobre pilotis, alinhadas ou não às divisas laterais.
fig. 257 - Croquis perspectivado do modelo B.
213
Neste modelo observou-se a diversificação de espaços de transição entre o
domínio público e o domínio privado. Do espaço público da rua acessa-se o espaço semi-
privado do edifício, caracterizado pelo pilotis, com utilização variável para garagem,
recreação infantil, jardins, halls, portaria etc.
Neste caso, as edificações apresentam espaços coletivos no pavimento térreo.
Como conseqüência, a relação logradouro-habitação passou a fazer-se indiretamente, com
maior distanciamento entre os transeuntes e as unidades residenciais, mais protegidas e
isoladas da rua.
Quando existentes, os afastamentos laterais permitem uma nova leitura da
volumetria das edificações, pois as fachadas podem ser vistas pelos transeuntes, inclusive
de ruas distantes, devido ao maior alcance visual. Permitem também uma maior ventilação
no interior da quadra e dentro da própria unidade habitacional.
fig. 258 - Foto do Edifício Apolo na Praia de Botafogo. fig. 259 - Croquis do corte esquemático da edificação.
- Modelo C –
Edificações construídas sobre embasamento, afastadas das divisas laterais.
Mesmo sendo decorrente do modelo B, apresenta como variante característica
marcante dos embasamentos no térreo ocupando todo o terreno, com exceção do
afastamento frontal. Estes pavimentos de embasamento destinam-se à guarda de veículos,
sempre necessária, em número ascendente. Sobre o embasamento, localiza-se o pavimento
de uso comum onde se projeta a recreação infantil e demais componentes de espaços para
lazer e administração.
214
fig. 260 - Croquis perspectivado do modelo C.
Também são edificações isoladas das divisas do lote com fachadas laterais
visíveis da rua, conferindo uma aeração melhor ao entorno, porém uma maior
impermeabilidade do solo. O isolamento das unidades residenciais do plano da rua é maior
devido ao embasamento constituir-se de um ou mais pavimentos. O pedestre é afastado da
volumetria do edifício, tendo pouco alcance visual deste a partir do logradouro público.
fig. 261 - Croquis do corte esquemático da edificação.
Neste modelo fica claro o surgimento dos altos níveis de impermeabilidade dos
terrenos urbanos, situação que começa a preocupar os legisladores e urbanistas.
215
- Modelo D –
Edificações afastadas das divisas em lotes condominiais sobre pilotis.
fig. 262 - Croquis perspectivado do modelo D.
Neste modelo, encontrado com maior freqüência na Baixada da Barra da Tijuca
e Jacarepaguá, os pavimentos para implantação das vagas de garagem encontram-se
situados no subsolo da edificação, permanecendo o pavimento térreo aberto destinado a
lazer e jardins. Este modelo, que, por definição, se aplica a lotes de maiores dimensões,
permite uma maior penetração dos ventos pela esplanada.
Com o desaparecimento visual do embasamento, o edifício volta a ter relação
com o nível do logradouro, porém o pedestre perde contato com as edificações, devido aos
grandes afastamentos e ao fechamento desses espaços.
O terreno mantém sua condição de impermeabilidade verificado no modelo
anterior.
fig. 263 - Croquis do corte esquemático da edificação.
216
- Modelo E –
Edificações alinhadas às divisas laterais sobre pavimento de embasamento.
fig. 264 - Croquis perspectivado do modelo E.
Este modelo é encontrado, na maioria dos casos, em edificações com cinco
pavimentos residenciais, apresentando uma tendência de restrição à altura das edificações
verificada nos Planos de Estruturação Urbana.
O térreo com garagem ocupa todo o terreno, excetuando-se o afastamento
frontal, mantendo-se elevada condição de impermeabilidade do solo. Entre este pavimento
de garagem e os pavimentos de apartamentos está localizado o pavimento de uso comum
destinado às atividades de lazer e administração.
fig. 265 - Croquis do corte esquemático da edificação.
Este modelo é bastante comum sendo decorrente da estrutura fundiária,
tipicamente portuguesa, com lotes estreitos e compridos.
Este modelo originou-se devido à inviabilidade de remembramento de lotes
contíguos causada, na maioria das vezes, por aplicação da legislação urbanística e por
217
entraves nas transações comerciais que impedem a realização de empreendimentos de
maior porte.
b) Implantação no solo
- Fachadas e ventilações –
Nos exemplos selecionados do tipo 2, pode-se observar o peso da importância das
fachadas frente e fundos na solução de implantação da edificação, resolvendo-se a
ventilação dos compartimentos situados no interior do edifício através de prismas internos
ou abertos.
Não se pode conferir esta solução à estreiteza dos terrenos, pois no exemplo do
Edifício Plaza Etoile, a metragem da divisa dos fundos é de também 24,00m, exatamente
como a medida da divisa dos fundos do Edifício Carajás. Observando-se as duas
implantações, nota-se que as soluções são bem diferentes, obedecendo-se a padrões
distintos, talvez justificados pelos quase sessenta anos que separam uma da outra.
No perfil de implantação adotado no exemplo do Edifício Plaza Etoile, valorizam-
se comercialmente os apartamentos localizados no meio e nos fundos da lâmina. Porém,
em conseqüência compromete-se a ventilação interna dos apartamentos, que, muitas vezes,
são voltados para uma só fachada, impossibilitando a ventilação cruzada, que diminui a
sensação térmica no interior da unidade.
fig. 266 - Croquis da ventilação cruzada existente no Ed. Carajás.
218
fig. 267 – Croquis da ventilação cruzada do Ed. Barão de Lucena.
fig. 268 – Croquis da ventilação para apenas uma fachada do Ed. Plaza Etoile..
Esta situação agrava-se no exemplo do Edifício Golden Garden, onde os
apartamentos direcionados para o interior do terreno há impossibilidade de ventilação
frontal.
fig. 269 - Croquis da ventilação do Ed. Golden Garden.
219
O exemplo do Edifício Julio de Barros Barreto apresenta a solução de ventilação
ideal, pois os apartamentos estão orientados para o quadrante sudeste e têm vãos de
ventilação nos fundos das unidades, permitindo a percolação dos ventos no seu interior.
fig. 270 - Croquis da ventilação cruzada do Ed. Julio de Barros Barreto.
- Circulações verticais –
Os exemplos das décadas de 1930 e 1940 apresentam áreas de circulação nos
pavimentos relativamente menores que os exemplos representativos do fim do século XX.
Isto deveu-se à exigências de segurança do Corpo de Bombeiros para escape e contra
pânico, com a adoção da escada enclausurada à prova de fumaça no ano de 1976. Observa-
se também as dimensões diminutas da área comum no exemplo do Edifício Marechal
Deodoro da Fonseca, datado de 1966.
Esta área comum atinge seu ponto mínimo no exemplo do Edifício Carajás,
construído em época que não se exigia a comunicação entre halls social e serviço nos
pavimentos.
- Taxa de ocupação e área livre –
Nos exemplos selecionados a taxa de ocupação das edificações no terreno
aproximam-se entre si, variando entre 25 e 35% da área total do lote. Observou-se também
que a utilização das áreas livres para lazer, nos exemplos das décadas de 1930 e 1940, não
se concretizou por falta de espaço e sim por inexistência de demanda por esse programa,
220
pois locais para esta destinação existiam. A prática de se projetar áreas de lazer nas
edificações multifamiliares, foi se desenvolvendo ao longo do século XX. No exemplo do
Ed. Julio de Barros Barreto, as áreas de lazer foram adaptadas pelos moradores, assim
como no Ed. Marechal Deodoro da Fonseca, tornando-se insuficientes para as exigências
dos padrões do fim do século.
Ao exigir-se a construção de um pavimento de uso comum nas edificações
multifamiliares a partir de 1976, estes passaram a ser projetados como um grande ambiente
livre, sem os componentes e equipamentos que surgiriam somente a partir do fim da
década de 1980.
Nos exemplos dos Edifícios Plaza Etoile e Golden Garden, observou-se a
otimização máxima deste pavimento, apresentando uma diversidade de áreas de lazer, de
passeio, de contemplação e de serviços perfeitamente demarcadas e bem projetadas. Este
fenômeno deu-se por influência do aparecimento dos grandes condomínios da Barra da
Tijuca, que passaram a oferecer verdadeiros clubes anexos à residência, para utilização
exclusiva dos moradores.
Podemos observar que, no caso do bairro de Botafogo, pela Lei 434/1981, há
atualmente a possibilidade básica de duas formas de implantação da edificação no lote:
- edificação alinhada às divisas laterais, única no lote (tipo 9);
- edificação afastada das divisas laterais, um ou mais edifícios no lote (tipo 10).
A primeira forma de implantação é oriunda de lotes de menores dimensões, com
disposição que privilegia as fachadas frente e fundos e tem os compartimentos localizados
no interior do edifício ventilados para prisma interno. Nestes casos, a taxa de ocupação da
edificação no terreno gira entre 50 e 70%.
fig. 271 - Esquema de implantação básica para edificações alinhadas às divisas laterais em Botafogo em terrenos de
menor dimensão.
221
A segunda forma de implantação é normalmente localizada em lotes de maiores
dimensões, como no exemplo do Edifício Plaza Etoile, ou provenientes de
remembramentos de lotes menores, como no exemplo do Edifício Golden Garden.
A prática de remembramento de lotes menores em terrenos de maiores dimensões
tornou-se cada vez mais comum no bairro, em função do grande número de lotes com
características da urbanização portuguesa, com pequenas testadas e grandes profundidades,
e em função do maior aproveitamento proveniente de terrenos que possibilitem a
implantação de dois ou mais blocos afastados das divisas. Esta forma de implantação
resultou numa maior aceitação pelo público comprador por três motivos principais:
- o equilíbrio da valorização dos apartamentos nos pavimentos, decorrente do fato
de que praticamente todas as unidades possuem varandas balanceadas e têm vista para o
logradouro, neutralizando o estigma do “apartamento de fundos”;
- a possibilidade de se obter, em função de um espaço físico maior no térreo, áreas
de lazer dotadas de componentes e equipamentos mais completos, aproximando-se do
padrão de lazer projetados nos lotes condominiais da Barra da Tijuca;
- o fator econômico, uma vez que, teoricamente, o custo total do empreendimento
se dilui em um número maior de unidades, alcançando-se um valor de mercado mais
acessível se comparado aos pequenos prédios de dez unidades residenciais, por exemplo.
Ressalta-se a valorização do solo urbano no bairro enfatizando a pressão
imobiliária.
c) Soluções de plantas baixas
Através das plantas baixas das edificações multifamiliares para famílias de classe
média e classe média alta, pesquisadas no bairro de Botafogo, obtiveram-se significativas
informações a respeito do desenvolvimento do programa projetual das unidades privativas
no que se refere a funções, metragens, circulações e fluxos.
222
As informações colhidas e apresentadas nesta conclusão da dissertação referem-se
basicamente aos estudos de casos apresentados no Capítulo 4 (Análise dos exemplos
selecionados), que vieram ilustrar e ratificar posições já anteriormente discutidas no sub-
capítulo 1.2.2 (Transformações das plantas baixas).
Nesta conclusão estão indicadas tendências no desenvolvimento das plantas baixas
das edificações multifamiliares.
Para tanto optamos por separar em itens os assuntos estudados:
- Setorização;
- Superposição de funções e circulações internas;
- Áreas internas e ventilações.
- Setorização
O estudo do Professor Marcelo Tramontano da Escola Engenharia de São Carlos,
indicou que, de um modo geral, no Brasil, houve variação nas porcentagens relativas aos
setores social, íntimo e de serviço, com pesquisas que apontaram uma diminuição
progressiva das áreas internas dos apartamentos.152
Nesta pesquisa, ao analisarem-se as plantas baixas estudadas para a classe média,
conforme descrito no Capítulo 4, concluiu-se que estas não sofreram grandes variações
percentuais entre si.
Observamos que o setor social variou entre 32 e 44% da área do apartamento, e esta
variação muito se vinculou às áreas das varandas projetadas. Os apartamentos com
menores porcentagens de área social têm pequenas varandas (Edifícios Barão de Lucena,
Plaza Etoile e Golden Garden), ao passo que os com maiores porcentagens possuem os
chamados “varandões” (Edifícios Mansão Rodrigo de Freitas, Carajás e Julio de Barros
Barreto). A exceção é do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca, que não possui varanda
em seu projeto e o setor social detém 41% da área total do apartamento, mostrando a
intenção do arquiteto de valorizar este setor ao projetar as unidades.
152 Pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Estudos sobre Habitação e Modos de Vida (Nomads), publicada no jornal O Globo de 02/02/2003, caderno Morar Bem.
223
O setor íntimo demonstrou uma variação entre 38 e 47%, detendo em todas as
décadas uma porcentagem maior que a obtida pelo setor social. A razão disto está no fato
de a classe social a ser atendida é a média alta, com projeto de pelo menos três quartos
sociais.
O setor de serviço demonstrou a menor variação, entre 17 e 23%, ao longo do
século XX. Por se tratar de um estrato de renda mais alta, os compartimentos são mais
definidos e estanques, não sofrendo grandes modificações internas.
Interessante observar o caso do Edifício Carajás que detém a menor porcentagem
de setor de serviço dos exemplos analisados, mesmo possuindo dois quartos de
empregados e um hall distribuidor de serviço. Tal fato se dá pela valorização do projeto
aos demais setores, com áreas bastante significativas. O mesmo fato ocorre também no
Edifício Marechal Deodoro da Fonseca.
Abaixo o quadro comparativo dos setores social, íntimo e serviço nos sete estudos
de caso.
Exemplos selecionados: Setor social Setor íntimo Setor serviço
Ed. Barão de Lucena 32% 47% 21%
Ed. Carajás 41% 42% 17%
Ed. Julio de Barros Barreto 39% 43% 18%
Ed. Marechal Deodoro da Fonseca 41% 41% 18%
Ed. Mansão Rodrigo de Freitas 44% 38% 18%
Ed. Plaza Etoile 33% 44% 23%
Ed. Golden Garden 36% 43% 21%
- Superposição de funções e Circulações internas
Com relação à superposição de funções observa-se uma constante no que se refere
ao uso, pelo setor social, do banheiro projetado no setor íntimo, que passa a ser utilizado
pelas visitas na ausência de um lavabo. Nos exemplos do fim do século XX (Ed. Plaza
224
Etoile e Golden Garden), observa-se a solução encontrada para permitir duplo uso a este
banheiro, separando o lavatório das demais peças.
No Ed. Carajás foi projetado um banheiro completo para visitas, porém para ser
acessado é necessário cruzar a galeria do apartamento, devassando a parte íntima.
No caso do Ed. Julio de Barros Barreto a solução é mais difícil, pois não existe
banheiro de visitas no primeiro pavimento, e o único banheiro íntimo está localizado no
segundo pavimento, obrigando ao visitante a um grande deslocamento dentro do
apartamento.
O caso do Ed. Marechal Deodoro da Fonseca demonstrou-se exemplar no tocante a
não superposição de funções, sendo todas bem definidas e marcadas. No que se refere,
porém, à circulação interna observa-se a necessidade de se cruzar a parte social para se
chegar ao setor de serviço, situação que, mesmo não sendo a ideal, não chega a
comprometer completamente a circulação uma vez que este acesso se dá através da galeria,
e não pela sala, como é o caso dos Edifícios Plaza Etoile, Golden Garden e Mansão
Rodrigo de Freitas. Nos representantes dos tipos arquitetônicos mais antigos (Ed. Barão de
Lucena e Carajás) existiu a preocupação de projetar o acesso direto entre o setor social e o
setor serviço.
O mesmo fenômeno pode ser estudado quanto à prevenção da privacidade do
ambiente social com relação à entrada do apartamento. Nos exemplos de edifícios até a
década de 1960, observa-se a preocupação em se proteger o interior do apartamento de
visitantes, através de halls, vestíbulos e galerias que encobriam a sala. Nos exemplos a
partir da década de 1970, concluiu-se que as salas tornaram-se perfeitamente devassadas a
partir da porta de entrada, tirando a privacidade do ambiente. Talvez este fenômeno se
justifique pelos inúmeros sistemas de segurança, aperfeiçoados no fim do século XX, que
acabaram por permitir a entrada somente de pessoas identificadas e aguardadas pelos
moradores.
No caso do Ed. Julio de Barros Barreto, ocorre a maior superposição de setores no
ambiente da escada, principalmente no primeiro lance, que acessa aos quartos, à lavanderia
225
no pavimento intermediário e atende ao eventual visitante que necessite utilizar o banheiro
social do segundo pavimento.
- Áreas internas e ventilações
De uma maneira geral, pode-se concluir que houve diminuição das áreas dos
apartamentos em situações padrão em toda a cidade do Rio de Janeiro, como já foi citado
no sub-capítulo 1.2.2 (Transformações das plantas baixas). No bairro de Botafogo esta
situação não foi diferente, apesar de, no estrato de renda analisado, os exemplos
selecionados apresentarem, de uma maneira geral, áreas semelhantes ao longo do século
XX. Abaixo, quadro com as áreas úteis dos apartamentos analisados:
Exemplos selecionados: Área útil
Ed. Barão de Lucena 99,16m²
Ed. Carajás 195,28m²
Ed. Julio de Barros Barreto 114,50m²
Ed. Marechal Deodoro da Fonseca 190,56m²
Ed. Mansão Rodrigo de Freitas 106,88m²
Ed. Plaza Etoile 82,74m²
Ed. Golden Garden 101,61m²
Os casos pontuais dos Edifícios Carajás e Marechal Deodoro da Fonseca com áreas
úteis beirando os duzentos metros quadrados, são atípicos nesta faixa de renda, em função
disto deixarão de serem analisados com relação à metragem absoluta dos seus
compartimentos, por constituírem-se, neste caso, como exceção. Nos exemplos restantes,
as áreas úteis dos apartamentos medem, aproximadamente, cem metros quadrados.
Comparando-se os exemplos dos Edifícios Barão de Lucena e Plaza Etoile,
percebe-se que as áreas dos compartimentos são semelhantes entre si, e que para se
projetar mais um banheiro social no Ed. Plaza Etoile, foi necessário diminuir
progressivamente os quartos. O mesmo acontece em relação aos exemplos dos Edifícios
Mansão Rodrigo de Freitas e Golden Garden, que ratificam esta migração de área interna
do apartamento para o surgimento de mais um banheiro na unidade.
226
Interessante observar que a distância entre as áreas dos quartos de empregados e
quartos sociais encurtaram de maneira significativa ao longo do período analisado.
Observamos que no início do século, a área do quarto de empregada situava-se
entre 19% e 47% da área dos quartos principais, enquanto que, na década de 1990, esta
relação já se situava na casa dos 60%. Duas vertentes se apresentaram para que ocorresse
tal fenômeno:
- a área dos quartos de empregada aumentou em consequência da Lei 1218/1983,
que fixou em seis metros quadrados a área mínima deste compartimento;
- a diminuição progressiva da área dos quartos principais, ratificando a conclusão
do trabalho do Prof. Tramontano.
Abaixo quadro comparativo entre as áreas úteis dos quartos de empregados e os
quartos sociais dos apartamentos analisados :
Exemplos selecionados: Quarto de
empregados
Menor quarto
social
Maior quarto
social
Ed. Barão de Lucena 5,20m² 10,95m² (47%) 15,00m² (35%)
Ed. Carajás 4,50m² 13,50m² (33%) 23,77m² (19%)
Ed. Julio de Barros Barreto 6,00m² 10,80m² (55%) 13,68m² (44%)
Ed. Marechal Deodoro da Fonseca 4,12m² 12,15m² (34%) 14,67m² (28%)
Ed. Mansão Rodrigo de Freitas 6,00m² 9,84m² (61%) 12,15m² (49%)
Ed. Plaza Etoile 6,00m² 9,00m² (66%) 10,53m² (57%)
Ed. Golden Garden 6,02m² 9,18m² (65%) 13,40m² (45%)
De uma maneira geral, observou-se também a diminuição das áreas de circulações
internas, numa tentativa de otimizar ao máximo os espaços.
Na faixa de renda pesquisada, observou-se que, enquanto a área da cozinha
apresentou pequenas variações, o espaço destinado à área de serviço diminuiu
227
consideravelmente, passando a ser, a partir da década de 1980, em muitos casos, como
continuação da cozinha, ocupando o mesmo ambiente.
Como já havia sido destacado no Capítulo 2 (Recorte espacial – o Bairro de
Botafogo), os compartimentos que mais sofreram modificações foram os banheiros. Ao
longo do século XX, suas áreas internas foram sendo diminuídas, com abolição gradativa
da banheira e do bidet. Em compensação, multiplicaram-se dentro do apartamento, sendo
difícil, dentro desta faixa de renda, encontrar-se uma unidade privativa com menos de três
banheiros.
As ventilações nos ambientes sociais mantiveram-se preservadas, através de amplas
janelas ou pelas portas de acesso à varanda. Neste ponto, podemos afirmar que as
condições de ventilação das salas melhoraram, uma vez que não é mais permitido o
fechamento com esquadrias da área da varanda, balanceada ou não, integrando-a com a
sala. Como já foi citado anteriormente, esta proibição foi regulamentada pelo Decreto
322/1976, obrigando a convenção do condomínio a estipular tal condição.
Com relação aos quartos, observou-se que, nos fins do século XX, a prática de se
projetar mais de uma janela no cômodo, como foi observado no exemplo do Edifício Barão
de Lucena, foi praticamente abolida, sendo mais comum uma única janela. Perderam,
também, ao longo do tempo, a condição de escurecimento do cômodo. Era comum as
janelas dos quartos apresentarem vidro e veneziana, permitindo a ventilação sem
iluminação. Esta prática se devia a condições expressas no Regulamento de Construções e
Edificações do Decreto “E” 3.800/1970, nos seus artigos 147 e 148, que obrigava os
construtores a oferecerem a condição de escurecimento aos quartos. Esta postura não se
repetiu nos decretos posteriores provocando seu desuso.
Ainda no setor íntimo, observou-se a redução de qualidade de ventilação nos
banheiros. Posturas municipais do início do século XX, em função das condições de
insalubridade da época, exigiam que todos os compartimentos possuíssem ventilações
diretas. O decreto 3.800/1970 introduziu a condição de se ventilar banheiros
(compartimento não-habitável) através de dutos de ventilação de duas maneiras: dutos
horizontais sobre o rebaixo do compartimento contíguo até alcançar a fachada, num
percurso máximo de seis metros lineares e por exaustão mecânica, ligados à uma casa de
228
máquinas localizada no telhado através de um duto vertical. Em ambos os casos, houve
diminuição na qualidade de conforto oferecida aos moradores.
A ventilação da cozinha, nos fins do século XX, é obtida, na maioria dos casos,
através da área de serviço, não possuindo janelas próprias, como no início deste século.
Em termos qualitativos, a ventilação dos quartos de empregados de um salto
significativo, com a obrigatoriedade de se projetar ventilação direta através de janela com
área superior a um sexto do piso. Anteriormente à Lei 1218/1983, não havia
regulamentação de ventilação deste quarto, podendo ser aceita tal condição através de
portas de venezianas.
Devemos observar que, via de regra, os vãos de acessos aos compartimentos
interiores do apartamento não permitem fácil locomoção dos deficientes físicos. Enquanto
algumas cidades brasileiras contém, nos seus códigos, posturas que permitam melhor
deslocamentos dos deficientes dentro da unidade, o Código de Obras da cidade do Rio de
Janeiro se omite em relação a esta mobilidade interna.153 As únicas exigências neste
sentido, são a obrigatoriedade de rampa com dez por cento de declividade ligando à rua ao
hall social e a inclusão de um banheiro para deficientes físicos, ambos no pavimento térreo.
d) A visão dos moradores
Em entrevistas com moradores dos exemplos selecionados e em conversa informal
com moradores de outros edifícios, dentro da mesma faixa de renda, constatamos que, de
um modo geral, o sentimento detectado em relação ao imóvel em que habitam é o da
satisfação em morar num apartamento próprio. Este sentimento sobrepujou todos os outros
enfoques e tornou-se muito forte, até explicando a certa apatia percebida no que se refere
às modificações que gostariam que fosse implementada no interior das unidades.
A satisfação verificada, não importando a localização, as dimensões do apartamento
e os materiais de acabamento, talvez possa ser explicada pelas dificuldades encontradas
153 Na cidade de Brasília, há a obrigatoriedade de em, pelo menos, um banheiro do apartamento, conter a condição de giro de uma cadeira de rodas (diâmetro de 1,20m livre), enquanto que na cidade de Niterói, os vãos de acessos (portas) aos compartimentos possuem largura mínima de setenta centímetros para o banheiro e oitenta centímetros para os quartos e cozinha, facilitando o circular dos deficientes por dentro da unidade.
229
pela maioria da população, para a aquisição da casa própria, mesmo no estrato de renda
estudado. O fato de ter-se conseguido vencer tais obstáculos supera as eventuais pequenas
alterações que talvez fossem necessárias no interior do apartamento para adequar-se à
família.
O sentimento de superação das dificuldades para defender o espaço conquistado
também ficou latente em várias respostas, como:
- não importar-se com o fato do edifício não ter local para guarda de veículos, como
no caso do Edifício Barão de Lucena, com a procura diária de vagas nas ruas, expondo seu
patrimônio a danos e furtos, e não abrirem mão da árvore magnífica plantada no pátio dos
fundos;
- rir, divertindo-se, como no caso do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca, com
a bala perdida que “escorreu” pela cortina da sala caindo no chão, provando com isto que o
edifício está fora do raio de ação da favela, uma vez que a bala chega sem velocidade;
- não se importar com a circulação externa comum ser extensa e sombria, como no
caso do Edifício Julio de Barros Barreto;
- achar normal o apartamento não possuir lavabo no pavimento inferior, como no
caso do Edifício Julio de Barros Barreto, obrigando o visitante, nem sempre íntimo, a subir
até o pavimento dos quartos para utilizar o banheiro.
Com todas essas informações pudemos verificar que o equilíbrio do sistema que
rege o desenvolvimento da atividade empreendedora da construção de residências
multifamiliares no Rio de Janeiro, já aludido na Introdução desta pesquisa, isto é, programa
projetual, legislação urbanística e edilícia e o mercado imobiliário, confirmou-se de
maneira inconteste.
A legislação atendida no projeto arquitetônico dá origem a um produto
ambicionado e perseguido, de maneira geral, pela população, que necessita morar. A
resposta do mercado torna-se vacilante à medida que os valores apresentados excedem às
expectativas e às posses do mercado comprador. Observemos que aqui não se trata do
mercado investidor e sim do comprador – aquele que adquire o imóvel para uso próprio e
de sua família.
230
Para este público vencer esta etapa, considerada a mais difícil, faz com que fatos
importantes da edificação e da unidade privativa sejam relevados e até esquecidos.
Este fato porém não impediu que os arquitetos estudassem, ao longo do tempo,
novas soluções quanto à distribuição dos ambientes, conforto, ventilação, insolação e
circulações para atender em primeiro lugar ao morador final, renovando-se a técnica e os
métodos projetuais empregados.
Esta pesquisa levantou alguns pontos, em relação a soluções importantes
verificadas no projeto das unidades, tais como: ventilações diretas nos banheiros, áreas
internas mais confortáveis e formas de implantação que permitem condições ideais de
ventilação. Esses itens nem sempre são visíveis no momento da comercialização do
apartamento, e não representam aumento direto do preço final da unidade. Neste sentido
que se dirigem algumas questões, a título de conclusão.
Se é possível atender a tais requisitos melhorando condições de habitabilidade e
qualidade de vida, e que para tal não se onera o valor dos imóveis, porque não perseguir
tais condições?
O fato dos moradores terem seus anseios atendidos ao adquirir um imóvel e relevar
os pontos considerados mais fracos, não isenta aos arquitetos de, reconhecendo estes
pontos e sabendo de sua importância, tentar dirimi-los, alcançando graus de satisfações
ainda maiores.
Em monografia realizada para este curso de Mestrado, escrevemos que “atendidas
as necessidades humanas, o projeto arquitetônico alcançou o seu fim”.154 Ainda
concordamos com a afirmativa, porém o campo ampliou-se com a informação de que os
moradores nem sempre se dão conta das suas próprias necessidades, e que cabe ao
profissional, cercar este projeto de condições para que ele realmente alcance seu fim:
condições reais de habitabilidade, conforto e higiene, majorados pelo sentimento de
realização que a compra do imóvel, às vezes tanto tempo esperado, imprime.
154 CHACON, Sonia. Monografia “Movimento Modernista no Rio de Janeiro: Um olhar sobre o edifício Julio de Barros Barreto em Botafogo.” Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, 2002.
231
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210
Exemplo Tipo Volumetria Planta de situação Planta baixa
Ed. Barão de Lucena 2
Ed. Carajás 2
Ed. Julio de Barros
Barreto 4
Ed. Mal Deodoro da
Fonseca 6
Ed. Mansão Rodrigo de
Freitas 7
Ed. Plaza Etoile 10
Ed. Golden Garden 10