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i Sonia Chacon Um Estudo Tipológico das Transformações das Edificações Multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: O Caso do Bairro de Botafogo. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Arquitetura na área de concentração Teoria e Projeto. Orientadora: Profª. Drª. Vera Regina Tângari Rio de Janeiro Abril / 2004 Sonia Chacon

Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

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Análise das transformações sofridas nos projetos residenciais multifamiliares ao longo do séc. XX, na cidade do Rio de Janeiro.

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Sonia Chacon

Um Estudo Tipológico das Transformações das Edificações

Multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000:

O Caso do Bairro de Botafogo.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação

em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Mestre em Arquitetura na área de concentração

Teoria e Projeto.

Orientadora: Profª. Drª. Vera Regina Tângari

Rio de Janeiro Abril / 2004

Sonia Chacon

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Um Estudo Tipológico das Transformações das Edificações

Multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: O Caso do Bairro de Botafogo.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em

Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Mestre em Arquitetura na área

de concentração Teoria e Projeto.

___________________________________________

Professora Orientadora: Drª. Vera Regina Tângari

___________________________________________

Professora Convidada: Drª. Lílian Fessler Vaz

___________________________________________

Professor Convidado: Dr. Paulo Afonso Rheingantz

Rio de Janeiro Abril / 2004

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Chacon, Sonia

Um Estudo Tipológico das Transformações das Edificações

Multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: O Caso do Bairro

de Botafogo / Sonia Chacon – Rio de Janeiro, 2004.

xxiii, 235 f.

Orientadora: Vera Regina Tângari

Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em

Arquitetura, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

1. Habitação Multifamiliar. 2. Tipos Arquitetônicos. 3.

Legislação Urbanística e Edilícia. 4. Bairro de Botafogo. 5.

Universidade Federal do Rio de Janeiro – Bibliotecas. I. Título.

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Dedicatória

Aos meus queridos filhos Camila, arquiteta

e Érico, futuro arquiteto,

e a todas as pessoas que possam usufruir desta dissertação

para melhorar a moradia no Brasil.

Agradecimentos

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À minha família, principalmente ao meu esposo Wilton Alexandre, pela paciência quase infinita,

Aos meus filhos Camila e Érico, pela grande ajuda e incentivo e

Aos caçulas Clara e Luiz Alexandre pela renúncia dos momentos de convivência que esta

pesquisa consumiu.

À Vera, minha orientadora, por ter se mostrado incansável em transferir generosamente seus conhecimentos e experiência.

Às amigas de turma: Alessandra, Ana Cláudia, Ana Eugênia, Annie, Eloísa, Ethel, Glauci,

Keiko, Márcia e Monique, que demonstraram muito carinho e amizade, incentivando-me sempre.

Aos professores Lílian Fessler Vaz e Paulo Afonso Rheingantz pela atenção em participar

de minha banca e pelos conselhos valiosos fornecidos por ocasião do Exame de Qualificação.

À professora Cristiane Rose Duarte, por ter acreditado na minha idéia inicial.

Aos professores Luiz Manoel, Mario Ceniquel e Milton Feferman, por toda contribuição

que prestaram indiretamente a este trabalho.

Aos funcionários deste Programa de Mestrado.

Aos funcionários da ADEMI – Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário – pela gentileza em abrir seus arquivos para consultas.

Aos funcionários do Arquivo Geral do Município do Rio de Janeiro, pela paciência e

ajuda.

Aos funcionários do Museu Casa de Rui Barbosa, pelas informações prestadas.

Aos amigos da Cleian Publicidade, pela ajuda sempre gentil.

Às construtoras Agenco, Brunet, João Fortes, Concal, Belletti, MTD, Lar Incorporadora, Simetria, Ribenboim, pela ajuda inestimável.

Aos Srs. Carlos Eugênio Hime, Sérgio Boiteux e Franklin Penna, pelas entrevistas

concedidas.

Aos amigos Cybele Barros e Eduardo Dias, pela ajuda precisa no momento certo.

E a todos os que, de alguma forma, contribuíram para a conclusão desta pesquisa.

Sumário:

Lista de Figuras...........................................................................viii

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Lista de Quadros..........................................................................xxi Resumo...................................................................................... xxii Abstract.....................................................................................xxiii

Introdução.....................................................................................................1

- Colocando questões..............................................................1 - Métodos de Pesquisa............................................................8 - Apresentação da Dissertação.............................................11

1 – Fundamentação Teórica e Histórica.................................................13

1.1 – Definição do campo teórico........................................13 1.1.1 – Glossário........................................................20 1.2 - Evolução do programa de habitação multifamiliar......23

1.2.1 - Da moradia coletiva à edificação multifamiliar. .......................................................................23

1.2.2 – Transformações das plantas baixas...............31

1.3 – O Papel da Legislação.................................................59 1.3.1 - Evolução Histórica.........................................59 1.3.2 - Quadro síntese da legislação..........................73

2 – Recorte espacial - o Bairro de Botafogo...........................................90 2.1 - Evolução Histórica........................................................93 2.2 - Evolução da área edificada e expansão residencial no século XX...............................................................106 2.3 - Desenvolvimento da Legislação pertinente ao Bairro de Botafogo..................................................................116

3 – Considerações acerca dos Tipos Arquitetônicos de Edificações

Residenciais Multifamiliares no Rio de Janeiro ..........120

3.1 - Identificação dos tipos arquitetônicos de edificação multifamiliar no século XX..................................................123 3.2 – Descrição dos tipos arquitetônicos identificados........128

4 – Análise dos exemplos selecionados..................................................139

4.1 – Justificativa................................................................139 4.2 - Quadro Síntese............................................................141 4.3 - Análise dos Exemplos Selecionados...........................143 4.3.1 – Tipo 2 – a) Ed. Barão de Lucena.................143 b) Ed. Carajás................................154 4.3.2 – Tipo 4 - a) Ed. Julio de Barros Barreto.......162 4.3.3 – Tipo 6 - a) Ed. Mal Deodoro da Fonseca....175

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4.3.4 – Tipo 7 - a) Ed. Mansão Rodrigo de Freitas.186 4.3.5 – Tipo 10 a) Ed. Plaza Etoile..........................193 b) Ed. Golden Garden……………201

Conclusão..................................................................................................208 Referências Bibliográficas………………..………………………..…..231

Lista de Figuras

1. Apartamento 5 da Rua General Rabelo, 3 (Desenho da autora) e apartamento da coluna 01 e 02 do empreendimento Américas Park.(Folheto publicitário Gomes e Almeida Fernandes) - (p.1)

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2. Quadro “Programa-Normas-Mercado”. (Desenho da autora) – (p.2)

3. Planta baixa do apartamento, perspectiva e área de lazer do Edifício Nijinsky na Barra da Tijuca. (Folder publicitário Paskin Engenharia) – (p.3)

4. Planta de situação original do Edifício Solar do Werneck. (Desenho da autora) – (p. 4)

5. Planta de situação modificada do Edifício Solar do Werneck. (Desenho da autora) – (p. 4)

6. Área de lazer do Edifício Palazzo di Lucena em Botafogo. (Folder publicitário CHL

Incorporação e Construção) – (p.7)

7. Fotografias do bairro de Botafogo com cem anos de intervalo. (Fonte: COHEN & FRIDMAN, 1998, p. 63) – (p.7)

8. Fotografia do Palacete Lafont, em 1910, na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua Santa

Luzia. (Fonte: VAZ, 2002, p. 63) – (p.14)

9. Fotografia da Cinelândia, ao final da década de 1920. (Fonte: VAZ, 2002, p.64) – (p.23)

10. Plantas baixas do apartamento do Edifício Barra Quality na Barra da Tijuca. (Folder publicitário Calper Construtora) - (p.24)

11.Planta baixa de um edifício da Rua do Catete. (Fonte: VAZ, 2002, p.109) – (p.27)

12. Planta baixa de um edifício da Rua Bento Lisboa. (Fonte: VAZ, 2002, p.110) – (p.27)

13. Foto do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca em Botafogo. (Fonte: PCRJ: Guia da

Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro, p.69) – (p.29)

14. Planta baixa do Edifício Hicatú no Flamengo. (Fonte: PCRJ: Guia da Arquitetura Art Deco no Rio de Janeiro, p.60) – (p.33)

15. Planta baixa do Edifício Royal Lãs Palmas na Barra da Tijuca. (Desenho da autora) – (p.34)

16. Planta baixa de um conjugado típico. (Desenho da autora) – (p.34)

17. Planta baixa original do Edifício Capiberibe no Flamengo. (Desenho da autora) – (p.35)

18. Planta baixa modificada do Edifício Capiberibe no Flamengo. (Desenho da autora) – (p.35)

19. Planta baixa do Edifício Giovanna Gabrieli na Gávea. (Folder publicitário) – (p.36)

20. Planta baixa do Edifício Freguesia Special em Jacarepaguá. (Folder publicitário) – (p.37)

21. Planta baixa do Edifício Mirtle Beach na Barra da Tijuca. (Desenho da autora) – (p.37)

22. Pesquisa do Grupo Nomads da EESC. (Fonte: jornal O Globo, 02/02/2003) – (p.38)

23. Sala de estar da Casa de Rui Barbosa, localizada na Rua São Clemente, 134. (Fonte: Museu da

Casa de Rui Barbosa: Guia do visitante) – (p.39)

24. Biblioteca da Casa de Rui Barbosa, localizada na Rua São Clemente, 134. (Fonte: Museu da Casa de Rui Barbosa: Guia do visitante) – (p.40)

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25. Foto de um home Office atual. (Fonte: Publicação Casa Cor 2001, p.87) – (p.40)

26. Planta do Edifício Biarritz no Flamengo. (Fonte: PCRJ: Guia da Arquitetura Art Deco no Rio de Janeiro, p.56) – (p.41)

27. Planta baixa do Edifício Paissandu no Flamengo. (Fonte: PCRJ: Guia da Arquitetura Art Deco

no Rio de Janeiro, p.57) – (p.42)

28. Planta baixa do Edifício localizado na Rua Rodolfo de Amoedo na Barra da Tijuca. (Desenho da autora) – (p.43)

29. Ilustração da Serralheria Moreira Leão. (Fonte: VERÍSSIMO & BITTAR, 1999, p.112) – (p.44)

30. Planta baixa do Edifício Parque das Rosas na Barra da Tijuca. (Desenho da autora) – (p.46)

31. Planta baixa do Edifício localizado na Rua Honório, 812 no Engenho de Dentro. (Folder

publicitário Simetria Engenharia) – (p.47)

32. Planta baixa do Edifício Solar Monet na Tijuca. (Desenho da autora) – (p.47)

33. Foto de um quarto atual com microcomputador. (Fonte: VERÍSSIMO & BITTAR, 1999, p.96) – (p.49)

34. Foto do banheiro da Residência Castro Maya no Alto da Tijuca. (Fonte: VERÍSSIMO &

BITTAR, 1999, p.103) – (p.50)

35. Foto do banheiro da Casa de Rui Barbosa em Botafogo. (Fonte: Museu da Casa de Rui Barbosa: Guia do visitante) – (p.50)

36. Foto do banheiro do Edifício Royal Lãs Palmas. (Foto da autora) – (p.51)

37. Foto do banheiro do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.51)

38. Planta baixa do Edifício Carajás. (Desenho da autora) – (p.52)

39. Planta baixa do Edifício Villaggio Acquafina, apartamento 07 na Estrada do Pontal. (Folder

publicitário Compax Engenharia) – (p.52)

40. Planta baixa do Edifício Ouro Preto em Copacabana. (Fonte: PCRJ, Guia da Arquitetura Art Deco no Rio de Janeiro, p. 77) – (p.53)

41. Planta baixa do Edifício Itaóca em Copacabana. (Fonte: PCRJ, Guia da Arquitetura Art Deco

no Rio de Janeiro, p. 81) – (p.53)

42. Perspectiva do Edifício Itaóca em Copacabana. (Fonte: PCRJ, Guia da Arquitetura Art Deco no Rio de Janeiro, p. 81) – (p.53)

43. Planta baixa do pavimento de uso comum do empreendimento da Rua Paraíba, 20 na Praça da

Bandeira. (Folder publicitário Construtora Bulhões Carvalho da Fonseca) – (p.55)

44. Planta baixa do pavimento de uso comum do empreendimento da Rua Almirante Saddock de Sá, 216 em Ipanema. (Folder publicitário Via Engenharia) – (p.56)

45. Empreendimento situado na Rua da Passagem, 75 em Botafogo. (Folder publicitário CHL

Incorporação e Construção) – (p.57)

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46.Foto do empreendimento Rio 2 na Barra da Tijuca. (Folder publicitário Cope Engenharia) –

(p.58)

47. Foto de um cortiço no Morro do Castelo. (Fonte: VAZ, 2002, p.34) – (p.61)

48. Foto da Avenida Central de 1920. (Fonte: Imagens da Aviação Naval (1916 a 1923), 2001, p.34) – (p.62)

49. Cartão postal da Avenida Beira-Mar no Flamengo. (Fonte: COHEN & FRIDMAN, 1998, p.68)

– (p.63)

50. Foto do centro do bairro de Botafogo em 1920. (Fonte: Imagens da Aviação Naval (1916 a 1923), 2001, p.83) – (p.65)

51. Projeto de Alinhamento da Rua Pompeu Loureiro – PA 6879 (parte). (Fonte: PCRJ, Secretaria

de Urbanismo) – (p.66)

52. Foto da fábrica da Companhia de Fiação de Tecidos Corcovado no Jardim Botânico, nos fins do século XIX. (Fonte: ABREU, 1997, p.59) – (p.67)

53. Foto do bairro de Copacabana em 1941. (Fonte: ABREU, 1997, p.113) – (p.68)

54. Foto do bairro de Catumbi na década de 1960. (Fonte: ABREU, 1997, p. 31) – (p.70)

55. Foto do Quilômetro 01 da Avenida das Américas na Barra da Tijuca. (Fonte: MACEDO, 1999,

p. 114) – (p.71)

56. Foto da obra da Rua Voluntários da Pátria, 48. (Foto da autora) – (p.91)

57. Foto da obra da Rua Paulo Barreto, 21. (Foto da autora) – (p.91)

58. Foto da obra da Rua Paulino Fernandes, 17. (Foto da autora) – (p.91)

59. Mapa da Baía de Guanabara em 1586. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.20) – (p.93)

60. Mapa do bairro de Botafogo dividido entre os dois latifúndios no século XVII. (Desenho da

autora baseado no trabalho do Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ) – (p.94)

61. Complexo Hidrográfico de Botafogo. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo

Urbano da UFRJ, 1982, p.26) – (p.95)

62. Gravura de Rugendas de 1820. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.11) – (p.96)

63. Óleo sobre tela de S. Faux de 1835. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo

Urbano da UFRJ, 1982, p.72) – (p.96) 64. Foto do Edifício Paraopeba em Botafogo. (Foto da autora) – (p.97)

65. Gravura do Barão de Planitz de 1848. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo

Urbano da UFRJ, 1982, p.46) – (p.97)

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66. Óleo sobre tela de Facchinetti de 1868. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.43) – (p.98)

67. Planta do loteamento das terras de Baptista de Leão no Humaitá. (Fonte: Grupo de Pesquisa em

Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.49) – (p.99)

68. Largo dos Leões no século XIX. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.47) – (p.99)

69. Foto do túnel Velho que une Botafogo ao bairro de Copacabana. (Fonte: Grupo de Pesquisa em

Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.60) – (p.100)

70. Mapa do bairro de Botafogo com a localização das fábricas e das vilas operárias. (Desenho da autora baseado no trabalho de Sérgio Lordello: “Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do

Rio de Janeiro – o caso de Botafogo.”) – (p.101)

71. Planta de loteamento da firma Domingos Farani e Irmão no bairro de Botafogo. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.57) – (p.102)

72. Garagem de bondes no Humaitá. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo

Urbano da UFRJ, 1982, p.62) – (p.103)

73. Foto da esquina da Praia de Botafogo com a Rua São Clemente, em 1928. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.63) – (p.103)

74. Foto dos sobrados na Rua Voluntários da Pátria, em 1933. (Fonte: Grupo de Pesquisa em

Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.64) – (p.104)

75. Foto do jardim de infância Marechal Hermes na Rua Martins Ferreira, em 1910. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ, 1982, p.67) – (p.104)

76. Foto da Rua São Clemente na altura do Colégio Santo Inácio, no início do século XX. (Fonte:

GARCIA, 1963, p. 130) – (p.105)

77. Foto do Colégio Santo Inácio, no fim do século XX. (Fonte: COHEN & FRIDMAN, 1998, p.79) – (p.105)

78.Aquarela de F. Ranzini de 1940. (Fonte: Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo

Urbano da UFRJ, 1982, p.65) – (p.107)

79. Foto do Edifício-sede da CAEMI em Botafogo. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.220) – (p.107)

80. Foto da favela do Humaitá em 1958. (Fonte: ABREU, 1997, p.106) – (p.109)

81. Foto do Palacete dos Paula Machado situado na Rua São Clemente, 213. (Foto da autora) –

(p.110)

82. Foto do Edifício Almirante Guillobel na Rua São Clemente, 137. (Foto da autora) – (p.110) 83. Foto da Fundação Getúlio Vargas na Praia de Botafogo. (Fonte: PCRJ: Guia da Arquitetura

Moderna no Rio de Janeiro, 2000, p.64) – (p.112)

84. Foto do Centro Empresarial Rio na Praia de Botafogo. (Fonte: PCRJ: Guia da Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro, 2000, p.63) – (p.112)

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85.Publicação do Baixo Botafogo com mapa dos restaurantes. (Fonte: LORDELLO, 1981, anexo 3)

– (p.112)

86. Foto do Edifício Casa Alta na Rua da Passagem. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.117) – (p.113)

87. Foto do Shopping Rio Sul na Avenida Lauro Sodré. (Foto da autora) – (p.113)

88. Fotos dos Edifícios Dom Bosco e Apollo em Botafogo. (Fotos da autora) – (p.117)

89. Foto do Hotel Copacabana Palace na década de 1930. (Fonte: COHEN & FRIDMAN, 1998,

p.106) – (p.123)

90. Foto de Edifício na Rua Conde de Bonfim na Tijuca. (Fonte: TÂNGARI, 1999, p.36) – (p.128)

91. Foto de Edifício junto à Avenida Maracanã. (Fonte: TÂNGARI, 1999, p.114) – (p.128)

92. Foto de conjunto composto por pequenas edificações no Encantado. (Fonte: TÂNGARI, 1999, p.115) – (p.129)

93. Foto do Edifício da Rua General Rabelo, 3 na Gávea. (Foto da autora) – (p.129)

94. Foto do Edifício da Praça Jóia Valansi, 38. (Foto da autora) – (p.129)

95. Foto do Edifício da Praça Jóia Valansi, 32. (Foto da autora) – (p.129)

96. Foto do Edifício da Rua Paulino Fernandes, 52 esquina da Rua Professor Álvaro Rodrigues.

(Foto da autora) – (p.129)

97. Foto do Edifício Capiberibe no Flamengo. (Foto da autora) – (p.130)

98. Foto do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p.130)

99. Foto do Edifício Almirante Guillobel. (Foto da autora) – (p.130)

100. Foto de Edifício na Avenida Vieira Souto. (Fonte: TÂNGARI, 1999, p. 116) – (p.131)

101. Foto de Edifício na Rua Paissandu. (Fonte: TÂNGARI, 1999, p. 116) – (p.131)

102. Foto de Edifícios na Praça Radial Sul. (Foto da autora) – (p.131)

103. Foto do Edifício Jaraú em Copacabana. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.35) – (p.132)

104. Foto do Edifício Copacabana de autoria de M.M.M. Roberto. (Fonte: XAVIER, BRITTO e

NOBRE, 1991, p.54) – (p.132)

105. Foto do Edifício João M. Magalhães em Botafogo. (Foto da autora) – (p.133)

106. Foto de Edifícios na Praia de Botafogo. (Foto da autora) – (p.133)

107. Foto do Edifício Casa do Mirante no Flamengo. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.167) – (p.133)

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108. Foto do Edifício Caparaó localizado na Praia de Botafogo, 130. (Foto da autora) – (p.134)

109. Foto do Edifício Estrela da Lagoa de autoria de Paulo Case. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.151) – (p.134)

110. Foto do Edifício Apolo na pRaia de Botafogo, 96. (Foto da autora) – (p.135)

111. Foto do Edifício Casa Alta na Praia de Botafogo, 528. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE,

1991, p.117) – (p.135)

112. Foto dos Edifícios Sonata e Rapsody na Lagoa. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.224) – (p.135)

113. Foto do Edifício da Rua São Clemente, 200. (Foto da autora) – (p.136)

114. Foto do Edifício da Rua Ministro Raul Fernandes, 43. (Foto da autora) – (p.136)

115.Foto do Edifício da Rua General Polidoro, 58. (Foto da autora) – (p.136)

116. Foto do Condomínio Nova Ipanema. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.176) –

(p.136)

117. Foto do Condomínio Novo Leblon. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.177) – (p.136)

118. Foto do Condomínio Morada do Sol. (Foto da autora) – (p.137)

119. Foto do Edifício Atlântica em Ipanema. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.199) –

(p.137)

120. Foto do Edifício da Rua Alberto de Campos, 250 em Ipanema. (Fonte: XAVIER, BRITTO e NOBRE, 1991, p.204) – (p.137)

121. Foto do Edifício Solar do Barão em Botafogo. (Foto da autora) – (p.138)

122.Foto do Edifício Casablanca na Rua Guilhermina Guinle, 70. (Foto da autora) – (p.138)

123. Foto do Edifício Guinle Place na Rua Eduardo Guinle, 28. (Foto da autora) – (p.138)

124. Foto do Edifício da Rua São Manuel, 20. (Foto da autora) – (p.138)

125. Aerofotogramétrico de Botafogo com o Edifício Barão de Lucena. (Fonte: PCRJ – Secretaria

de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 143)

126. Carimbo da planta original do Edifício Barão de Lucena. (Fonte: PCRJ – Arquivo Geral) – (p.144)

127. Aerofotogramétrico de 1955 e 2000 com a localização do Edifício Barão de Lucena. (Fonte:

PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 144)

128. Foto da fachada frontal do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 145) 129. Foto da portaria do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 145)

130. Foto da parte coberta da área de lazer do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 145)

Page 14: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

xiv

131. Foto do terraço aberto do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 145)

132. Foto do Flamboyant da recreação do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 146)

133. Foto da vista externa da área de lazer do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 146)

134. Foto do porte-coche da entrada do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 146)

135. Foto do jardim frontal do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 146)

136. Foto do hall social do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 147)

137. Foto da porta de ferro do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 147)

138. Foto do relógio do hall social do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 147)

139. Foto da escada interna comum do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 147)

140. Foto do prisma lateral do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 147)

141. Croquis da implantação do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora) – (p. 148)

142. Planta baixa do apartamento tipo do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora) – (p. 148)

143. Planta baixa de parte do pavimento térreo do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora) – (p. 149)

144. Croquis do detalhe do shaft da cozinha do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora) –

(p. 149)

145. Foto da área de lazer do Edifício Barão de Lucena. (Foto da autora) – (p. 150)

146. Croquis das ventilações internas do apartamento do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora) – (p. 151)

147. Planta baixa setorizada do apartamento tipo do Edifício Barão de Lucena. (Desenho da autora)

– (p. 152)

148. Croquis das modificações desejadas no apartamento do Edifício Barão de Lucena. Pelos moradores. (Desenho da autora) – (p. 153)

149. Aerofotogramétrico de Botafogo com o Edifício Carajás. (Fonte: PCRJ – Secretaria de

Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 154)

150. Aerofotogramétrico de 1955 com o Edifício Carajás. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 154)

151. Foto da fachada frontal do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.155)

152. Foto da entrada social do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.155)

153. Croquis da implantação do Edifício Carajás. (Desenho da autora) – (p.155)

154. Foto da garagem do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.156)

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155. Foto do jardim frontal do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.156)

156. Foto do espelho do hall do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.156)

157. Foto do lustre do hall do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.156)

158. Planta baixa do apartamento tipo do Edifício Carajás. (Desenho da autora) – (p.157)

159. Foto do hall de entrada do apartamento do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.157)

160. Foto da fachada dos fundos do Edifício Carajás. (Foto da autora) – (p.158)

161. Croquis do apartamento com distribuição de fluxos do Edifício Carajás. (Desenho da autora) – (p. 159)

162. Planta baixa da Casa da Fazenda São José. (Fonte: CALVENTE, 2001, p. 122) – (p.160)

163. Planta baixa setorizada do apartamento tipo do Edifício Carajás. (Desenho da autora) –

(p.161)

164. Aerofotogramétrico de Botafogo com o Edifício Julio de Barros Barreto. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 162)

165. Planta de situação sobre aerofotogramétrico. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com

intervenção da autora) – (p. 163)

166. Mapa de alcance visual.(Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 163)

167. Aerofotogramétrico de 1955 com jardins frontais do Edifício Julio de Barros Barreto. (Fonte:

PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 164)

168. Aerofotogramétrico de 1999. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p. 164)

169. Foto da fachada dos blocos do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.165)

170. Foto da rampa de acesso de automóveis do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) –

(p.165)

171. Foto do anexo da garagem do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.165)

172. Cortes transversais dos blocos I e II do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.166)

173. Foto das circulações social e de serviço do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) –

(p.166)

174. Foto do detalhe das janelas da fachada dos fundos do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.166)

175. Foto do porte-coche do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.167)

176. Foto da marquise do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.167)

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xvi

177. Foto do anexo da garagem com quadra coberta do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.167)

178. Foto da entrada do salão de festas do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) –

(p.167)

179. Croquis do esquema do pavimento tipo do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.168)

180. Foto da vista das varandas do Edifício Julio de Barros Barreto. (Fonte: MINDLIN, 1999,

p.111) – (p.168)

181. Planta baixa do 1º pavimento do apartamento tipo do bloco II do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.169)

182. Planta baixa do 2º pavimento do apartamento tipo do bloco II do Edifício Julio de Barros

Barreto. (Desenho da autora) – (p.169)

183. Croquis do apartamento com circulações e acessos do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.170)

184. Foto do Edifício Julio de Barros Barreto. (Fonte: jornal O Globo do dia 05/11/2002) – (p.170)

185. Croquis do apartamento com ventilações do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da

autora) – (p.171)

186. Foto da circulação de serviço do bloco II do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) – (p.172)

187. Foto da janela dos quartos dos fundos do Edifício Julio de Barros Barreto. (Foto da autora) –

(p.172)

188. Planta baixa setorizada do apartamento do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.173)

189. Aerofotogramétrico de Botafogo com a localização de Edifício Marechal Deodoro da Fonseca.

(Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.175)

190. Aerofotogramétrico de 1955, com a mansão existente na Rua Dona Mariana, 53. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo) – (p.176)

191. Aerofotogramétrico de 1975 com a localização de Edifício Marechal Deodoro da Fonseca.

(Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.176)

192. Foto do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca ao longe. (Foto da autora) – (p.177)

193. Croquis do pavimento tipo do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Desenho da autora) – (p.177)

194. Foto da fachada do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Fonte: XAVIER, BRITTO e

NOBRE, 1991, p.145) – (p.178) 195. Foto da entrada da garagem do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) –

(p.178)

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xvii

196. Foto da garagem para visitantes do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.178)

197. Foto do parquinho infantil do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) –

(p.179)

198. Foto do parquinho infantil do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.179)

199. Foto da quadra do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.179)

200. Corte longitudinal do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Fonte: XAVIER, BRITTO e

NOBRE, 1991, p.145) – (p.179)

201. Foto da fachada lateral do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.179)

202. Planta baixa do apartamento tipo do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Desenho da autora) – (p.180)

203. Foto do hall social do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.181)

204. Foto do hall social do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.181)

205. Croquis da parte comum do pavimento tipo do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca.

(Desenho da autora) – (p.181)

206. Planta baixa do apartamento com shafts do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Desenho da autora) – (p.182)

207. Foto da fachada frontal do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.182)

208. Planta baixa setorizada do apartamento do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Desenho

da autora) – (p.183)

209. Foto da vista do lado sudeste do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) – (p.184)

210. Foto da vista do lado noroeste do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Foto da autora) –

(p.184)

211. Croquis ilustrativo da criação da suíte do apartamento 2202 do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca. (Desenho da autora) – (p.184)

212. Croquis ilustrativo da reforma pretendida pelo apartamento 2202 do Edifício Marechal

Deodoro da Fonseca. (Desenho da autora) – (p.185)

213. Aerofotogramétrico de Botafogo com a localização de Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.186)

214. Aerofotogramétrico de 2000 com o Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Fonte: PCRJ –

Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.187)

215. Foto da fachada frontal do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Foto da autora) – (p.187)

216. Foto da fachada frontal do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Foto da autora) – (p.187)

Page 18: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

xviii

217. Foto do porte-coche do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Foto da autora) – (p.188)

218. Foto das entradas das garagens do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Foto da autora) –

(p.188)

219. Croquis do pavimento tipo do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Desenho da autora) – (p.189)

220. Planta baixa do apartamento tipo do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Desenho da autora)

– (p.189)

221. Foto da fachada dos fundos do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Foto da autora) – (p.190)

222. Croquis do apartamento com fluxo de circulação do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Desenho da autora) – (p.191)

223. Planta baixa setorizada do apartamento tipo do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas. (Desenho

da autora) – (p.192)

224. Aerofotogramétrico de Botafogo com a localização do Edifício Plaza Etoile. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.193)

225. Aerofotogramétrico de 1955 com o terreno integral do Edifício Plaza Etoile. (Fonte: PCRJ –

Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.194)

226. Aerofotogramétrico de 2000 do Edifício Plaza Etoile. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo) – (p.194)

227. Foto da vista frontal do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.195)

228. Foto da vista da servidão ao lado do Centro de Arquitetura e Urbanismo do Edifício Plaza

Etoile. (Foto da autora) – (p.195)

229. Planta de situação esquemática dos blocos I e II do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da autora) – (p.195)

230. Foto da entrada lateral para automóveis do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.195)

231. Foto da ciclovia do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.196)

232. Foto da área da piscina do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.196)

233. Foto da área da piscina do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.196)

234. Foto da recreação infantil do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.196)

235. Foto da recreação infantil do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.196)

236. Foto da fachada lateral do bloco I do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.197)

237. Foto da fachada dos fundos do bloco II do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.197)

Page 19: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

xix

238. Planta baixa do apartamento tipo do bloco II do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da autora) – (p.197)

239. Foto da vista aérea do Edifício Plaza Etoile. (Foto da autora) – (p.198)

240. Croquis da ventilação interna do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da autora) – (p.199)

241. Croquis do esquema de fluxos do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da autora) – (p.199)

242. Planta baixa setorizada do apartamento do bloco II do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da

autora) – (p.200)

243. Aerofotogramétrico de Botafogo com a localização do Edifício Golden Garden. (Fonte: PCRJ – Secretaria de Urbanismo com intervenção da autora) – (p.201)

244. Aerofotogramétrico de 2000 com o Edifício Golden Garden. (Fonte: PCRJ – Secretaria de

Urbanismo) – (p.202)

245. Foto da vista aérea do Edifício Golden Garden. (Foto da autora) – (p.202)

246. Planta de situação do Edifício Golden Garden. (Desenho da autora) – (p.203)

247. Perspectiva do Edifício Golden Garden. (Fonte: folder Agenco SA) – (p.203)

248. Planta baixa do pavimento tipo do Edifício Golden Garden. (Desenho da autora) – (p.204)

249. Planta humanizada do Edifício Golden Garden. (Fonte: folder Agenco SA) – (p.204)

250. Planta de situação com esquema dos ventos do Edifício Golden Garden. (Desenho da autora) – (p.205)

251. Croquis do apartamento com fluxo de circulação do Edifício Golden Garden. (desenho da

autora) – (p.206)

252. Planta baixa setorizada do Edifício Golden Garden. (Desenho da autora) – (p.207)

253. Croquis perspectivado do Modelo A. (Desenho da autora) – (p.211)

254. Foto do jardim frontal da Casa de Rui Barbosa. (Foto da autora) – (p.211)

255. Foto do jardim do Edifício Almirante Guillobel. (Foto da autora) – (p.212)

256.Croquis do corte esquemático do Modelo A. (Desenho da autora)- (p.212)

257. Croquis perspectivado do Modelo B. (Desenho da autora) – (p.212)

258. Foto do Edifício Apolo na Praia de Botafogo. (Foto da autora) – (p.213)

259.Croquis do corte esquemático do Modelo B. (Desenho da autora)- (p.213)

260. Croquis perspectivado do Modelo C. (Desenho da autora) – (p.214)

261.Croquis do corte esquemático do Modelo C. (Desenho da autora)- (p.214) 262. Croquis perspectivado do Modelo D. (Desenho da autora) – (p.215)

Page 20: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

xx

263.Croquis do corte esquemático do Modelo D. (Desenho da autora)- (p.215)

264. Croquis perspectivado do Modelo E. (Desenho da autora) – (p.216)

265.Croquis do corte esquemático do Modelo E. (Desenho da autora)- (p.216)

266. Croquis ventilação cruzada do Edifício Carajás. (Desenho da autora) – (p.217)

267.Croquis ventilação cruzada do Edifício Barão de Lucena.(Desenho da autora)- (p.218)

268. Croquis ventilação do Edifício Plaza Etoile. (Desenho da autora) – (p.218)

269.Croquis ventilação do Edifício Golden Garden.(Desenho da autora)- (p.218)

270. Croquis ventilação cruzada do Edifício Julio de Barros Barreto. (Desenho da autora) – (p.219)

271. Esquema implantação básica para edificações alinhadas às divisas laterais em Botafogo, em terrenos de menor dimensão. (Desenho da autora) – (p.220)

Lista de Quadros

1. Quadro de Leis e Decretos legais. (p.88/89)

Page 21: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

xxi

2. Quadro dos Lançamentos no bairro de Botafogo desde a década de 1980. (p.113/114)

3. Quadro Síntese dos Tipos Arquitetônicos. (p.126/127)

4. Quadro Síntese dos Exemplos Selecionados. (p.141/142)

5. Quadro Comparativo dos Exemplos Selecionados. (p.210)

6. Quadro Comparativo dos setores social, íntimo e serviço. (p.223)

7. Quadro de Áreas úteis dos Exemplos Selecionados. (p.225)

8. Quadro Comparativo entre as Áreas úteis dos quartos de empregados e os quartos

sociais dos apartamentos analisados. (p.226)

Resumo

Page 22: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

xxii

Quais as transformações sofridas na arte de projetar residências multifamiliares ao longo

do século XX, na cidade do Rio de Janeiro?

Quais necessidades deixaram de ser atendidas pela falta de uso e quais outras surgiram na

esteira das profundas modificações experimentadas pela célula familiar?

A análise do bairro de Botafogo, localizado na zona sul, com a representatividade dos tipos

arquitetônicos que dispõe procura responder a estas perguntas.

Em primeiro lugar, ocupamo-nos em definir este campo teórico, a partir da evolução do

programa de habitação multifamiliar, observando historicamente como a moradia coletiva

desenvolveu-se a partir do início do século XX e analisando as transformações das plantas

baixas. Em seguida, por acreditarmos que esta evolução sofreu e sofre interferências, além

das exigidas pelo programa projetual, estudamos o papel da Legislação em todo este

quadro. A partir daí, fechamos o recorte em torno do bairro de Botafogo, analisando-o

historicamente desde a sua formação, por acreditarmos que, assim, muitas respostas

surgem naturalmente. Complementando este recorte, analisamos a expansão residencial

deste bairro e a legislação pertinente. Em seguida, identificamos os tipos arquitetônicos da

edificação multifamiliar e selecionamos sete exemplos representativos de cinco tipos

arquitetônicos. Nesta análise levamos em conta a implantação dos edifícios no terreno, a

volumetria projetada e as plantas baixas das unidades privativas no que concerne a

circulações, ventilações, compartimentos setorizados e dimensões.

Abstract

Page 23: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

xxiii

What were the transformations that happened in the art of multi-families buildings design

in the past 20th century at the Rio de Janeiro city?

What needs that were left behind because they were useless and what were the others that

appeared at the family deep modifications?

A analyze of Botafogo, located in south town, with a representative architecture design that

answers these questions. At the first place, we defined these theoretical matter, from the

evolution of multi-families habitations program, watching historically how it developed in

the beginning of 20th century and analyzing the transformations in the apartment design.

Therefore we believed that this evolution did and still do suffer interference beyond the

project program, we studied the legislation part on these matter. From these point, we

made a Botafogo historical analyze since your formation, because we believe find answers

this way. Was made an analyze from the residential expanding and you legislation. On

next, was identified the architectural types from multi-families buildings and selected

seven examples representing five architectural types. To these analyze we used the

buildings ground implantation, your volume and the units designs. At the last, analyzing

circulations, ventilations, dimensions and the design sector.

Page 24: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

1

Colocando questões:

Nos fins do século XIX e início do XX, no mundo inteiro, o advento da Revolução

Industrial impulsionou o crescimento das cidades. No Brasil, o Rio de Janeiro, como

capital da República, atraía, nesta época, um grande contingente de migrantes de todo o

país que aqui aportavam atrás de uma oportunidade de emprego, quer na atividade

industrial nascente, quer nas inúmeras oportunidades apresentadas pelo setor público, nas

repartições e autarquias.

Como conseqüência, surgiram inúmeros problemas subseqüentes como a evolução

irregular da malha urbana, a carência de habitação e a desigualdade social. Amparada pelo

desenvolvimento tecnológico, a habitação multifamiliar tornou-se aos poucos um

importante modelo de moradia da cidade contemporânea, principalmente nas grandes

cidades.

O objetivo fundamental desta pesquisa foi analisar as modificações ocorridas nos

diversos tipos de espaço de moradia multifamiliar dos estratos de renda média e média alta

da população, focalizando os edifícios de apartamentos na cidade do Rio de Janeiro, no

período entre 1930 até 2000.

fig. 1 - Dois momentos de plantas baixas de residências multifamiliares, referente à década de 1930, na Gávea, e

referente à década de 2000, na Barra da Tijuca.

Page 25: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

2

A pesquisa procurou ater-se aos espaços privados das edificações multifamiliares,

observando como as mudanças ocorridas nas soluções arquitetônicas dos ambientes

residenciais surgiram em consequência das mudanças ocorridas na célula familiar, seus

novos hábitos, costumes e atitudes, e também das determinações da legislação urbanística e

edilícia.

Estas observações nasceram a partir de minha própria experiência profissional

dentro do mercado de elaboração de projetos arquitetônicos multifamiliares desde o ano de

1977 no Município do Rio de Janeiro. E a experiência levou-me a observar como algumas

tendências construtivas são norteadas pela legislação específica urbana ou edilícia,

constituindo-se, algumas vezes, em entraves e em impedimentos à criação de novos

espaços e condições de vida mais satisfatórias.

Observei também que o processo de construção de unidades residenciais, desde a

escolha do terreno até o momento de entrega das chaves, baseia-se na relação entre os

principais agentes vinculados à produção de moradias: o profissional projetista e o projeto,

a legislação urbanística e edilícia e o mercado imobiliário.

fig. 2 - Relação entre os setores que regem a concretização

do processo de empreender uma edificação residencial.

O profissional de projeto responde por todo o processo que vai desde a elaboração

do programa projetual do edifício, sua implantação no terreno até a escolha dos

equipamentos que comporão o empreendimento, direcionando-os para o público alvo a que

se destina. Procura-se atender às necessidades do usuário tanto no que se refere à sua

unidade particular nos espaços de moradia privada, quanto às áreas comuns de lazer e

circulação.

Page 26: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

3

A legislação compreende toda a gama de normas que regulam as construções em

geral, desde as normas urbanísticas que estabelecem o zoneamento do terreno em questão,

limitando sua atividade e volumetria, como também a legislação edilícia que define

parâmetros para a unidade.

O mercado encarrega-se da aceitação do empreendimento pelo público alvo. Na

visão do mercado imobiliário não é o bastante o empreendimento estar localizado em um

bom bairro ou possuir um bom projeto que atenda às necessidades de moradia do usuário e

atenda completamente às diretrizes da legislação. É necessário também e, talvez,

sobretudo, atender às condições financeiras do público alvo.

Sem o atendimento a uma dessas três questões o empreendimento não se confirma e

o processo não se conclui. Como estão intrinsecamente relacionados, a viabilidade do

empreendimento imobiliário depende do equilíbrio entre os três agentes.

Como exemplos de situações em que esse equilíbrio não ocorreu, podemos citar

dois casos. O Edifício Nijinsky e o Edifício Solar do Werneck .

O Edifício Nijinsky se localizaria no quilômetro um da Avenida das Américas, na

Barra da Tijuca, e foi lançado na década de 1980, acompanhado de uma vasta e custosa

campanha publicitária, incluindo folders, propaganda na televisão com artistas famosos,

anúncios em jornais, out-dors, panfletos etc. Mas, apesar de todo aparato, a resposta do

mercado foi a venda de uma única unidade em cento e trinta e duas lançadas, resultando no

cancelamento do empreendimento. A legislação foi atendida, mas o projeto, audacioso

demais, alavancou o preço das unidades a um patamar proibitivo ao público comprador.

fig. 3 - Planta baixa, perspectiva e área de lazer projetado para o Edifício Nijinsky na Barra da Tijuca.

Page 27: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

4

O segundo exemplo é o Edifício Solar do Werneck localizado no bairro de

Jacarepaguá. O projeto inicial era composto por dois blocos residenciais e foi aprovado

pela Prefeitura Municipal. O mercado estava aceitando o empreendimento, uma vez que,

pelo cadastro de clientes, muitos apartamentos já estavam reservados aguardando o

lançamento para a compra efetiva, o que significa compatibilidade entre preço e produto

oferecido. O fator impeditivo se apresentou na presença de um Ficus italiano secular de

grande porte que se localizava no espaço que seria ocupado pelo segundo bloco de

apartamentos. A Fundação Parques e Jardins vetou sua retirada, o que fez com que todo o

processo paralisasse, aguardando a resolução do impasse, que se deu meses depois a partir

da modificação do projeto de arquitetura para apenas um bloco, com dimensões maiores. A

partir deste caso, a retirada do alvará de construção da obra só foi possível após a

aprovação da retirada das árvores existentes no terreno.

fig. 4 - Planta de situação com a localização da árvore que retardou o processo de construção e conseqüente

lançamento.

fig. 5 - Planta de situação com o Edifício modificado.

Page 28: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

5

Como foco dessa dissertação, os assuntos tratados aqui referem-se à análise da

evolução das plantas baixas das moradias multifamiliares e não são exclusivos. Outras

visões são necessárias e desejáveis para que complementem as abordagens e aprofundem

as questões, tanto ambientais quanto culturais, não totalmente discutidas neste trabalho.

Observando-se o uso do solo urbano, cerca de cinqüenta por cento do espaço da

cidade é de uso residencial o que consolida o papel da habitação como referencial mais

importante do ambiente construído urbano. Segundo Lílian Vaz, são formas arquitetônicas

vulgares e vernaculares que interferem na prática social, guardam significados para a

população e participam das formações das identidades e da memória individual e coletiva.1

A residência familiar quer esteja em edificação isolada ou em edificação coletiva,

interfere diretamente no comportamento social, no pensamento comunitário, no humor e

nas reações dos usuários. Estudos sobre as relações entre ambiente construído e

comportamento demonstram como o espaço de moradia afeta o comportamento humano.

Dentre esses estudos, podemos citar o trabalho realizado por Francisco Veríssimo e

William Bittar, que elaboraram extensiva análise sobre a evolução histórica da casa

brasileira.2

Comparados com os estudos existentes nas áreas de saúde pública, medicina,

antropologia e psicologia, as análises desenvolvidas por arquitetos sobre a qualidade de

vida em ambientes residenciais ainda são poucas. Nesse sentido, a pesquisa que embasou

esta dissertação busca contribuir para o campo de estudo sobre habitação, de classe média

e média alta, sob o viés arquitetônico e urbanístico.

As alterações observadas nos tipos arquitetônicos de habitações residenciais

multifamiliares, ao longo do século XX, fazem parte de um fenômeno urbano que, de certa

maneira, repetiu-se pelas capitais dos outros estados brasileiros. Coube à cidade do Rio de

Janeiro, como capital da Federação e centro cultural do país, ditar tendências que foram

naturalmente reproduzidas em outras capitais do Brasil, como São Paulo, Belo Horizonte,

Recife, Salvador e Porto Alegre.

1 VAZ, Lílian F. “Moradia e Modernidade – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro” Rio de Janeiro: 7 letras, 2002:17. 2 VERÍSSIMO, Francisco & BITTAR, William. “500 anos da Casa no Brasil” Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.

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6

Para entendermos a evolução do conceito de moradia multifamiliar, elaboramos um

estudo arquitetônico dos tipos de habitação no Rio de Janeiro, característicos das faixas de

renda média e média alta da população, procurando identificar como a legislação

urbanística e o mercado imobiliário influenciaram as soluções em planta e volumetria

adotadas pelos arquitetos.

O foco da pesquisa será o estudo das transformações ocorridas nos programas

projetuais das unidades residenciais das edificações multifamiliares, através da análise das

soluções das plantas baixas e volumetria, identificando os momentos de modificação das

mesmas.

Ao estudar a evolução das normas de edificações, situaremos os momentos de

rupturas provocados pela legislação, observando o seu reflexo nos programas e projetos

arquitetônicos.

Para efeito de análise prática, foi escolhido como recorte espacial o bairro de

Botafogo, situado na zona sul da cidade e, neste selecionamos sete exemplos dos tipos

analisados, detalhados através de levantamentos locais.

A escolha de Botafogo justifica-se devido ao perfil social, pois concentra camadas

de renda média e média alta da população. Foi escolhido também pela sua evolução

histórica, que acompanhou o nascimento e o crescimento da cidade, apresentando, em seu

território, exemplos significativos dos diversos tipos de residências multifamiliares

identificados, reproduzindo a nível local, as transformações no perfil residencial ocorridos

na cidade.

Por se tratar de um bairro residencial tradicional e antigo dentro da história do Rio

de Janeiro, o encontramos, em pleno século XX, em suas ruas, prédios residenciais

multifamiliares, antigos palacetes e vilas de casas geminadas. Encontramos tipos de

edifícios de apartamentos de vários períodos do século XX: com aproveitamento do

pavimento térreo para lojas, para unidades habitacionais e para pilotis; alinhados às divisas

laterais ou em centro de terreno, traduzindo aspirações do movimento moderno; com

poucos pavimentos em construções mais horizontais ou em lâminas com taxas de ocupação

no solo diminutas; com jardins frontais ou em edificações sobre o alinhamento.

Page 30: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

7

Atualmente, observa-se em Botafogo, uma grande quantidade de lançamentos

imobiliários, ilustrando a escolha do mercado imobiliário por essa localização,

promovendo soluções consagradas em outros bairros, mas adaptadas às condições locais.

É o caso dos lançamentos onde se destacam à moda da Barra da Tijuca, as áreas de

lazer e ajardinamento com alto nível de sofisticação.

fig. 6 - Folder do lançamento do Edifício Palazzo di Lucena situado na Rua Barão de Lucena, 107(2003)

Planta do Pavimento de Uso Comum com salão de festas, piscina, sauna e área de recreação infantil.

fig. 7 - Observa-se nos dois momentos com 100 anos de intervalo,

o adensamento do bairro com construções de grande porte.

Page 31: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

8

Métodos de Pesquisa

Usando como referência o extensivo trabalho elaborado por Linda Groat e David

Wang, podemos situar o campo de pesquisa em arquitetura dentro das denominadas teorias

normativas das ciências sociais, que diferem das ciências físicas e naturais por se referirem

a conceitos extraídos das práticas consensuais, relacionadas para o assunto em questão, à

construção do espaço residencial.3

Com base na trajetória profissional calcada na prática com projetos de edificação

multifamiliar, e pelo interesse nos resultados da pesquisa, foi utilizada, como método, uma

estratégia qualitativa, que combina a visão histórica à experimentação, baseando-se na

análise da evolução do programa arquitetônico da edificação multifamiliar; na

identificação teórica de tipos referenciais arquitetônicos recorrentes de edificação

multifamiliares; na exemplificação dos mesmos em recorte espacial específico.

Em primeiro lugar, para fundamentação teórica da pesquisa, estudou-se a evolução

histórica dos tipos de habitação multifamiliar, que se originaram a partir dos modelos de

habitação coletiva, surgidos no século XIX. Foram observadas as alterações do modo de

vida da família, em função da introdução de novos hábitos domésticos e da modificação do

papel da mulher na sociedade brasileira, retratando-se em modificações do espaço

residencial.4

Na identificação dos tipos, a pesquisa se ateve, principalmente, aos aspectos

arquitetônicos e urbanísticos dos projetos das edificações residenciais multifamiliares,

observando as diversas soluções desenvolvidas ao longo do período selecionado.

Na verdade, todas essas questões se entrelaçam, sendo, ao mesmo tempo, causa e

conseqüência dos aspectos estudados. Talvez o exemplo mais forte destas relações causais

seja a mudança do papel da mulher nos espaços das moradias brasileiras ao longo do

século XX, evoluindo de uma subalternidade aparente, presente apenas na parte íntima da

casa, para ocupar todos os cômodos, inclusive, e, sobretudo, os sociais. A partir da segunda

metade desse século, quando a mulher passa a buscar o mercado de trabalho externo, sem

3 GROAT, Linda & WANG, David. “Architectural Research Methods” Nova Yorque: John Wiley & Sons Inc, 2002. 4 “A chegada do Brasil da televisão, em 1950, foi responsável por fundamentais alterações na vida íntima das famílias, com óbvios reflexos na organização espacial, situação que o rádio foi incapaz de efetuar, pois podia ser ouvido em qualquer lugar. A televisão, ao contrário, pedia acomodações apropriadas para assisti-la, pois fixa o espectador num determinado lugar e por muito tempo, sendo responsável também por enormes mudanças no mobiliário.” LEMOS, Carlos. “A Casa Brasileira”. SP: Contexto, 1996:72.

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abdicar de todas as atribuições dentro de casa, novas modificações foram introduzidas no

espaço residencial.

Em função de todo o processo social, os ambientes domésticos alteraram-se no

programa, no posicionamento, nas dimensões e importância, conformando os novos

espaços projetados.

Em paralelo às transformações sociais, os tipos arquitetônicos foram resultantes

também das modificações na legislação edilícia e na influência do mercado imobiliário.

Estes três agentes (programa-legislação-mercado) agem, reagem e interagem em

torno do foco central que é a necessidade básica de morar, buscando atender aos anseios da

família quanto à sua instalação satisfatória, às posturas legais quanto à implantação urbana,

e às exigências financeiras quanto à possibilidade de retorno do capital empregado.

Carlos Lemos afirma que “a evolução de nosso apartamento tem como base a

manipulação dos seus variados programas de necessidades pelos seus promotores, ou

incorporadores, que se regem mais pelas leis do mercado imobiliário do que pelos usos,

costumes e anseios próprios de um determinado quadro cultural”. 5 Veremos, porém, que

essas mesmas leis que regem o mercado imobiliário são ditadas pelo mercado comprador,

ao rejeitar ou aprovar o produto que lhe é oferecido, determinando o sucesso ou não do

empreendimento.

Na pesquisa, definimos o campo de análise teórica, resultante dos processos

históricos acima, em dez tipos referenciais:

1) o pequeno edifício ou “casa de apartamentos”,

2) o edifício-chácara ou edifício-parque,

3) o edifício moderno sobre pilotis,

4) o edifício alinhado às divisas laterais ou “edifícios-corredor”,

5) o “edifício-torre”, recuado,sobre pilotis,

6) o “edifício-torre” isolado, sobre pilotis,

7) a torre laminar sobre embasamento,

8) a torre laminar em lotes condominiais ou super-quadras,

9) o edifício alinhado às dividas laterais, sobre embasamento,

10) o edifício afastado das divisas com áreas de lazer. 5 LEMOS, Carlos. “A Casa Brasileira”. São Paulo: Contexto, 1996:77.

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Esses tipos retratam as principais modificações quanto a programa e projeto,

legislação e comercialização, registrados no século XX, tendo consolidado as condições

de equilíbrio entre os três principais agentes – o programa, a legislação e o mercado

imobiliário – incorporando transformações importantes à época de sua construção.

A parte experimental da pesquisa baseou-se em estudar os tipos referenciais, no

bairro de Botafogo, buscando no campo exemplos significativos.

Como parte final da pesquisa, identificamos sete exemplares, ilustrando a evolução

dos tipos arquitetônicos residenciais e sua relação com as respectivas legislações que os

regeram nas determinadas épocas de construção:

ed. Barão de Lucena, situado na Rua São Clemente, 158,

ed. Carajás, situado à Rua Voluntários da Pátria, 139,

ed. Julio de Barros Barreto, situado à Rua Fernando Ferrari, 61,

ed. Marechal Deodoro da Fonseca, situado à Rua Dona Mariana, 53,

ed. Mansão Rodrigo de Freitas, situado à Rua Desembargador Burle, 73,

ed. Plaza Etoile, situado à Rua São Clemente, 117,

ed. Golden Garden, situado à Rua Eduardo Guinle, 55.

Como técnica de pesquisa, decorrente das estratégias selecionadas, utilizamos para

a construção histórica dos tipos referenciais, levantamentos indiretos através da obtenção

de dados e documentos técnicos relativos à história da habitação, às edificações

selecionadas (plantas baixas, cortes, fachadas), à legislação incidente no período e ao

material de divulgação realizado pelo mercado imobiliário. Foram pesquisados arquivos,

tais como: Departamento de Edificações, Arquivo Geral do Município, jornais, arquivos de

Construtoras, empresas públicas, escritórios de publicidade, folders e demais materiais

publicitários.

Para a parte experimental, foram realizadas pesquisas diretas, através de visita aos

espaços selecionados, para levantamentos e fotos; entrevista com moradores e autores dos

projetos, e com os empreendedores imobiliários, além de consulta aos órgãos públicos.

Page 34: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

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Apresentação da Dissertação

A dissertação compõe-se de cinco partes compreendendo quatro capítulos de

desenvolvimento e conclusão.

No capítulo 1, desenvolvemos a Fundamentação Teórica e Histórica, a partir da

definição de conceitos, termos referenciais e categorias de análise. A partir do estudo do

programa projetual, foram observadas as alterações dos espaços da habitação decorrentes

das mudanças sociais levando em conta novas formas de viver, o desenvolvimento

tecnológico das técnicas construtivas e a simplificação das tarefas domésticas derivadas do

desenvolvimento da maquinaria eletro-eletrônica. A análise do programa projetual buscou

esclarecer a disposição desses espaços, observando suas modificações ao longo do tempo.

Ainda nesse capítulo, desenvolvemos o estudo da legislação urbanística, sua

relação com a história da cidade, destacando os principais momentos de transformação.

Foi enfocada a ação do governo sobre as deliberações construtivas particulares,

através do desenvolvimento das posturas municipais no Rio de Janeiro, desde os diversos

planos urbanísticos, como o Plano Agache, o Plano Doxiadis e o Plano Urbanístico Básico

(PUB-RIO), até os atuais Planos de Estruturação Urbana (PEUs).

O capítulo 2 é dedicado à análise do Bairro de Botafogo, recorte espacial para

exemplificação do estudo tipológico realizado no capítulo 3. Foram feitos os estudos da

evolução histórica e da expansão residencial no século XX e o desenvolvimento da

legislação pertinente ao bairro.

O capítulo 3 é dedicado à análise dos tipos arquitetônicos, levantando aspectos

conceituais acerca do assunto. Foram definidos os tipos arquitetônicos das edificações

multifamiliares encontrados na cidade do Rio de Janeiro, exemplificando-os e

apresentando um quadro-síntese, tendo em vista seus precedentes históricos, legais e

projetuais.

O capítulo 4 é dedicado ao estudo de sete exemplos selecionados em Botafogo,

como forma de ilustrar a definição dos conceitos, o desdobramento histórico e

principalmente a evolução dos tipos arquitetônicos e da moradia multifamiliar ao longo do

século XX.

Page 35: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

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Na Conclusão, realizamos a síntese das análises, comparando os exemplos

estudados e indicando as primeiras conclusões sobre as transformações da habitação

multifamiliar de renda média e média alta durante o século XX.

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1.1 – Definição do campo teórico

Ao longo do tempo, as habitações se modificaram, principalmente, porque as

necessidades dos moradores também se alteraram. Além do local primitivo para repouso, a

moradia passou a ser local onde também se fazem as refeições e a higiene pessoal, onde se

convive em ambiente doméstico e onde se recebem amigos, criando nova espacialidade e

especificação de usos.

Da edificação isolada, construída para abrigar um único núcleo familiar, as

moradias foram agrupadas em comunidades e aldeias, passando a obedecer parâmetros

específicos de loteamentos, arruamentos e ordenações.

Com o crescimento da população e da vida em sociedade organizada, as residências

sofreram transformações impostas pelas necessidades acarretadas por este modo de viver,

que, se, por um lado, resolviam muitas situações de sobrevivência, por outro limitavam os

espaços e tiravam a privacidade das famílias.

A limitada disponibilidade de moradias e a crescente valorização do lote urbano

ocasionaram a produção das habitações coletivas, no caso do Rio de Janeiro, a partir do

século XIX, em oposição à moradia isolada em lote urbano, pertencente a um só

proprietário.

Com a virada do século XX e a reforma urbana que se implantou na cidade, a

indústria da construção civil emergente recebeu um impulso notável. A necessidade

premente de moradia, as novas técnicas e materiais de construção e a crescente valorização

dos lotes urbanos, principalmente aqueles próximos ao centro da cidade, impulsionavam ao

maior aproveitamento do lote, fazendo com que o setor imobiliário buscasse maior

valorização da terra urbana, levando à solução de multiplicar a ocupação do lote, através de

pavimentos superpostos – a “casa de apartamentos”. Representava um modelo a ser

desenvolvido e reproduzido por toda a cidade. Modelo que os incorporadores buscavam

cada vez mais valorizar, desvinculando-o de sua condição de habitação coletiva e

aproximando-o das vantagens das casas isoladas, com o atrativo de aliar gabarito elevado à

ascendência social do proprietário.6

6 VAZ. Lílian F. “Moradia e Modernidade – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro” Rio de Janeiro: 7 letras, 2002:68.

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Apesar dos primeiros discursos sobre a “casa de apartamentos” ter surgido na

esteira de uma promessa de solução para a crise de habitação, com possibilidade de

moradia para muitos, tal promessa não se concretizou, pelo menos, no princípio.

O apartamento se tornou a habitação preferida da elite social e comprova isto o fato

de a construção da primeira “casa de apartamentos” da cidade ter sido o Edifício Lafont,

construção luxuosa situada na Avenida Rio Branco, na esquina com a Rua Santa Luzia, na

década de 1910.

fig. 8 – Palacete Lafont (década de 1910)

Até a definição deste modelo, que se difundiu por toda a cidade do Rio de Janeiro,

um longo caminho foi percorrido, no qual diversas denominações corresponderam a

diferentes formas arquitetônicas e conteúdos ideológicos distintos – estalagens, casas de

cômodos, avenidas e até mesmo, cortiços.

De certa forma, tantos nomes e tantos tipos geraram uma indefinição no modelo

que hoje é assimilado perfeitamente. Mas nem sempre foi assim, principalmente durante o

período 1925/1933, em que “o objeto material estava progressivamente se definindo e

paralelamente estabelecendo sua denominação definitiva”7. Variava, sobretudo, entre

“casa de apartamentos”, “prédio de apartamentos” e “arranha-céu”. Até a década de

1930, o termo edifício era restrito exclusivamente aos prédios de escritório.

7 VAZ. Lílian F. “Moradia e Modernidade – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro” Rio de Janeiro: 7 letras, 2002:68.

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O termo contemporâneo - edificação multifamiliar - é utilizado principalmente

como referência aos edifícios de apartamentos, e é assim referido na Legislação Municipal

(glossário da Lei nº 1.574/67).

No fim da década de 1930, a tipologia canônica da edificação residencial

multifamiliar foi enfim definida, integrada à estrutura da quadra colonial portuguesa8.

Podemos definir a edificação multifamiliar como um conjunto de unidades residenciais

privadas, dotadas de compartimentos habitáveis (sala e/ou quarto), um compartimento

destinado ao cozimento dos alimentos (cozinha) e um compartimento destinado à higiene

pessoal (banheiro), interligadas por uma circulação comum horizontal, que caracteriza um

pavimento. Os pavimentos se interligam por, obrigatoriamente, uma circulação vertical

(escadas, certamente, e elevadores, possivelmente), podendo apresentar serviços coletivos

nos pavimentos e nos acessos.

Este é o modelo habitacional da edificação residencial multifamiliar a que vamos

nos deter ao longo de toda a dissertação e de onde se derivam os tipos enfocados.

Modelo que, conforme já descrito, foi aceito e multiplicado em todas as cidades do

mundo, e que compõe, em determinadas áreas do Rio de Janeiro, a maior parcela do

ambiente edificado, incorporando, como descreve Lemos, avanços técnicos, prescrições

higienistas, ideologias reformadoras sociais e demandas sóciopolíticas.

O próprio apartamento moderno está em progressivo desenvolvimento,

adequando-se às exigências das últimas gerações. Lemos nos alerta que o apartamento

atual não é a casa isolada que necessita da criadagem para funcionar, mas que ainda não

chega a ser a unidade habitacional feita e agenciada, onde a família pode viver sem

depender de ajuda doméstica remunerada. Os jardins privativos e os quintais que

requeriam cuidados demorados desapareceram com o advento dos apartamentos, sendo

substituídos pelas “áreas de lazer” condominiais.

Os cômodos internos tiveram simplificado os seus materiais de acabamentos e se

tornaram menores, diminuindo o esforço para a limpeza. O que perdura fortemente é a

necessidade da resolução do problema alimentar dentro do lar, que requer ainda a presença

da auxiliar doméstica que, por sua vez, acarreta em si a necessidade de se prever, no

programa projetual das unidades residenciais, as dependências próprias para a sua 8 Quadra colonial portuguesa típica é aquela definida por agrupamentos de lotes possuidores de pequena testada e grande profundidade.

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instalação. A extinção definitiva das dependências de empregados dentro dos apartamentos

depende basicamente da lenta mudança de hábitos e costumes, aliada a fabricação e

divulgação dos equipamentos modernos facilitadores da vida cotidiana, no ramo da

alimentação.9

Como programa podemos incluir a definição de todos os atos e expectativas do

destinatário em relação à residência a ser construída, enumerando as dependências físicas e

as atividades domésticas que nelas poderão ocorrer, que são inúmeras. Sua quantidade

sempre foi variável no tempo e no espaço, mas, hoje em dia, muitas ações deixaram de ser

exercidas no lar devido ao modo de produção industrial. Nesse campo de definição

programática, também são fundamentais as modificações sociais, que, no caso da moradia

brasileira, relacionaram-se com a modificação do papel da mulher na sociedade, na casa e

no trabalho. O avanço tecnológico e a participação feminina no mercado de trabalho foram

eliminando dependências e modificando os componentes dos programas de necessidades,

e, em nome da funcionalidade e privacidade dos cômodos, criando outros componentes

como as circulações e os vestíbulos.

O programa dá origem ao projeto arquitetônico, que traduz as necessidades do

morador, definindo espaços e funções. A definição das funções de uma unidade residencial

é complexa e individual para cada família, podendo ser estabelecida no projeto de uma

residência unifamiliar, porém, para o atendimento em uma edificação multifamiliar a

definição se resume em espaços projetados dentro de padrões usuais e funções genéricas.

Parte-se, então, para definições por setorização das funções que são comuns em

qualquer unidade residencial, independente da condição social. São os setores social

(ambientes destinados ao contato com o exterior), íntimo (ambientes destinados ao uso da

família) e de serviço (ambientes destinados às atividades domésticas), que geralmente são

interligados por circulações ou halls de distribuição. Estes setores são encontrados em

qualquer unidade residencial, mesmo que superpostamente.10

Em paralelo ao programa, para a confecção do projeto arquitetônico de uma

edificação multifamiliar na cidade do Rio de Janeiro, é imprescindível a consulta à

legislação municipal que rege as condições das edificações. Através de leis e decretos, a

9 LEMOS, Carlos. “Cozinhas, etc. Estudo sobre as zonas de serviço.” São Paulo: Ed. Perspectiva, 1978. 10 A superposição desses setores serão estudados no sub-capítulo 1.2.2 - “Transformações das plantas baixas” - desta Dissertação.

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legislação enquadra as residências multifamiliares nos padrões aceitáveis pela sociedade. A

legislação urbanística define usos, atividades e a volumetria das edificações.

A regulamentação das normas urbanísticas que regem a volumetria das edificações

(gabarito e taxa de ocupação), no caso da cidade do Rio de Janeiro, relaciona-se de uma

forma característica com a estrutura urbana existente, sendo produto da originária malha

urbana portuguesa, que determinava lotes com pequena testada e grande profundidade.

Este fato deu origem a que as edificações multifamiliares repetissem os esquemas de

implantação das residências, alinhando-as às divisas laterais e definindo o logradouro pelo

alinhamento dos edifícios.

Com as influências advindas do Movimento Moderno na arquitetura carioca, as

novas áreas urbanizadas na cidade, principalmente na Baixada da Barra da Tijuca e

Jacarepaguá, passaram a obedecer a novas posturas de loteamentos. A possibilidade de se

construir em terrenos livres, fora da quadra compactada pela rua-corredor, permitiu a

execução de experiências inovadoras, tanto em termos de articulação volumétrica de

blocos quanto na caracterização formal do conjunto. “Os padrões da Arquitetura urbana

tem variado, portanto, no Brasil, em função de seu relacionamento com a estrutura

urbana.”11

É imprescindível, também, consulta à legislação edilícia que rege as condições

internas da unidade residencial, como vãos de iluminação e ventilação, áreas mínimas dos

compartimentos, pés-direitos, etc, promovendo mudanças nos interiores das edificações,

acompanhando os novos modos de viver e morar. Como exemplo, vamos ver como o poder

público direcionou a altura dos “pés-direitos”das habitações, estabelecendo medidas

mínimas, que, em 1838 eram de 4,40m, aumentando, em 1878, a 4,70m e para 5,00m em

1892; para, em 1903 descer a 4,00m e, em 1917, continuar descendo para 3,00m e, hoje,

encontramos pés-direitos dos compartimentos habitáveis estabelecidos em 2,50m.12

Compreendemos que as alturas praticadas no século XIX eram necessárias para melhorar

as condições de ventilação dos compartimentos iluminados à luz de velas, que emitiam

gases e fumaça que subiam e saíam pelo telhado, através das frestas bordadas localizadas

no rodateto, e que, com o advento da luz elétrica, deixou de existir. Por outro lado,

consideramos que as alturas praticadas atualmente (pé-direito de 2,20m para cozinhas e 11 REIS FILHO, Nestor G. “Quadro da Arquitetura no Brasil.” São Paulo: Ed. Perspectiva, 1973:106 12 SANTOS, Paulo F. “Quatro Séculos de Arquitetura na Cidade do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Ed. IAB, 1981:78.

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banheiros) não contribuem para a ventilação ideal dos compartimentos, dada à temperatura

normalmente elevada da cidade do Rio de Janeiro.

Completando o quadro que envolve a produção de edificação residencial

multifamiliar, é preciso verificar a visão do mercado imobiliário como o setor

empreendedor que lança e direciona o produto que será absorvido pelos usuários finais – os

moradores.

A atuação do empreendedor data do início do século, quando surgiu para atender à

demanda das habitações ditas higiênicas para o operariado contratado pelas fábricas. Mais

tarde, o empreendedor se direcionou para a promoção de habitações coletivas para fins de

aluguel, prática que, com a Lei do Inquilinato em 1942, foi inibida, dando lugar ao

crescimento do mercado imobiliário. A força produtiva deste segmento econômico

pressiona as autoridades municipais para abertura de ruas, viadutos, túneis e pontes

valorizando novas áreas a urbanizar e a edificar.

Mostrando sua força, este setor conseguiu segregar, ao longo dessas décadas, com a

ajuda do poder público, as classes de renda mais baixa para além dos limites da zona sul e

central cariocas, procurando manter padrões construtivos mais valorizados na faixa

litorânea, alcançando lucros nos empreendimentos.

Enfocando o objeto de estudo, temos então uma trama de relações, resultante de

várias determinações, como: a econômica, a física, a técnica, a cultural, a legal, que, ao se

entrecruzarem, tornam-se realidade física e urbanística, consolidada nas edificações:

- Determinante urbanística – relação com o bairro em que se localiza o

empreendimento.

- Determinante econômica – relação com o capital que o incorporador dispõe para

viabilidade do negócio, realização através de empréstimos, financiamentos ou recursos

próprios.

- Determinante cultural – relação com o programa projetual apresentado em

consonância com o tipo de apartamento almejado pelos compradores.

- Determinante física – relação com as condições do lote, sua topografia, suas

dimensões e configuração.

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- Determinante legal – relação com as legislações urbanas e edilícias vigentes no

período e que afetam a localidade (bairro) em estudo.

- Determinante técnica – relação com método de construção empregado devido à

acessibilidade do terreno, configurações geológicas, infra-estrutura existente.

Essas determinações são variáveis no tempo, de acordo com o próprio negócio, com

a localização do imóvel e outros fatores sociais, que, juntos, definem o aproveitamento

eficiente do imóvel, adequado ao local, aos compradores em potencial e às posturas legais.

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1.1.1 – Glossário

- Apartamento –

Partição de um edifício ou conjunto de cômodos que constituem uma residência

particular.

- “Avenida” –

Pode ser considerada como estalagens higienizadas, normatizadas por posturas

municipais. Casas enfileiradas, lado a lado, dentro do terreno, compostas de sala, quarto,

cozinha e, no fundo, de sanitários. (Gobbo:59)

- Casa de Apartamentos –

Edificação coletiva destinada ao uso individual de várias famílias, porém composta

de unidades habitacionais de tamanho e número de compartimentos diversos. (Vaz:154)

- Casa de Cômodos –

Edificação destinada a acomodar um núcleo familiar em cada um de seus cômodos.

- Cortiços –

Habitação coletiva composta de casas minúsculas enfileiradas de um ou dos dois

lados dos quintais, formando um pátio ou corredor de acesso, dotadas de instalações

sanitárias coletivas. (Vaz:28)

- Edificação Isolada no lote –

Edificação única afastada das divisas do lote.

- Edificação Multifamiliar –

Edificação destinada ou adequada ao uso residencial por várias famílias.

- Edificação Unifamiliar –

Edificação destinada ou adequada ao uso residencial por apenas uma família.

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- Estalagens –

O mesmo que Cortiço.

- Gabarito –

Dimensão regulamentar permitida ou fixada para uma edificação, referente à sua

altura máxima, dimensionada a partir do solo.

- Habitações Coletivas –

Padrão residencial destinado ao uso de várias famílias em subdivisões individuais.

- Legislação –

Conjunto de leis e decretos que regem as condições de construção das edificações.

- Legislação Edilícia –

Define parâmetros para as condições de habitabilidade das edificações.

- Legislação Urbanística –

Define usos, atividades e a volumetria das edificações.

- Modelo –

Referência para reprodução de tipos arquitetônicos.

- Pé-Direito –

Altura entre o piso (assoalho) e o teto (mesmo rebaixado) de um compartimento.

- Programa Projetual –

Listagem das necessidades básicas a que o projeto arquitetônico se propõe a

atender.

- Residência Unifamiliar –

Edificação residencial construída para abrigar um único núcleo familiar.

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- Setor Íntimo –

Conjunto de ambientes, dentro da unidade residencial, destinados ao uso da família.

- Setor de Serviço –

Conjunto de ambientes, dentro da unidade residencial, destinados às atividades

domésticas.

- Setor Social –

Conjunto de ambientes, dentro da unidade residencial, destinados ao contato com

elementos externos.

- Taxa de Ocupação –

Dimensão regulamentar permitida ou fixada para uma edificação, referente ao

percentual máximo de terreno a ser ocupado pela projeção desta.

- Volumetria –

Dimensão da edificação determinada pela altura e pela implantação no solo.

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1.2 - Evolução do programa de habitação multifamiliar

1.2.1 - Da moradia coletiva à edificação multifamiliar

O recorte temporal para a análise das transformações dos espaços de moradia e dos

projetos arquitetônicos das edificações multifamiliares é o século XX. A pesquisa engloba

o estudo de exemplares de tipos arquitetônicos referenciais no Rio de Janeiro, nesse

período. Porém, para desvendar as razões das diversas soluções de projetos verificadas, é

necessário nos afastarmos no tempo e analisarmos as soluções encontradas para moradia

coletiva, no seu enfoque histórico.

Veríssimo e Bittar, no livro “500 anos da Casa no Brasil”, afirmam que “o espaço

geométrico cria vida com a integração entre o homem e a casa”, nos passando

perfeitamente a idéia de que este espaço de morar e de viver não é um espaço estanque e

estático. Evoluiu e se modificou pelo passar do tempo exatamente porque o homem

evoluiu e se modificou. “A casa é o espelho da família.” Sendo assim, estudar a evolução

do espaço de moradia é estudar e acompanhar a evolução do viver, as transformações pelas

quais a família brasileira passou e continua a passar.13

Esta lenta e gradual mudança de hábitos e costumes, aliada a outros fatores, como o

aumento da população urbana, fez com que o homem buscasse novas formas de moradia e

de viver. A valorização do lote urbano, junto com o aumento da necessidade de locais de

moradia fizeram com que o Rio de Janeiro sofresse, a partir da década de 1920, um intenso

processo de verticalização das residências, inicialmente para as classes de alta renda,

difundindo-se mais tarde pela classe média.

fig. 9 - “Ao final da década de 1920, os arranha-céus do bairro Serrador (atual Cinelândia) já estavam construídos.”

13 VERÍSSIMO, Francisco & BITTAR, William. “500 anos da Casa no Brasil.” Rio de Janeiro: Ediouro, 1999:21.

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A verticalidade do edifício diluía melhor o custo da terra no preço total da moradia,

introduzindo novos modos e formas de morar, além de novo estilo de vida. E o Rio de

Janeiro inegavelmente exerceu influência ideológica sobre as outras capitais brasileiras,

principalmente as litorâneas. Villaça salienta que a verticalização residencial é mais

acentuada nas metrópoles e cidades oceânicas do que nas interiores.14

A partir desta verticalização, quando os limites da habitação residencial privada

foram definidos de forma drástica, as alterações no modo de viver, traduzidas no modo de

morar, se deram a partir da evolução comportamental da família. Externamente, o edifício

pouco traduziu as efervescentes modificações sofridas pela família ao longo do século XX.

As alterações se deram no espaço interno dos apartamentos, nas divisões dos ambientes,

nos usos dos compartimentos, que passaram a refletir as necessidades mutantes de seus

usuários, e nas inovações tecnológicas trazidas pela industrialização.

fig. 10 - Três opções de utilização do espaço, em uma mesma planta, verificadas em empreendimento imobiliário atual:

Quarto de empregada; quarto de vestir; quarto reversível.

14 VILLAÇA, Flávio. “ Espaço Intra-urbano no Brasil.” São Paulo: Studio Nobel, 1998:185.

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A conquista do gabarito elevado e o alcance visual da paisagem foram fatores que

logo se vincularam ao sucesso social e financeiro dos ocupantes das unidades residenciais

localizadas nos pavimentos superiores das edificações. Desde então os apartamentos mais

valorizados foram destinados aos andares mais altos, sendo, inclusive, comum no início da

aparição deste modelo arquitetônico, a edificação possuir plantas baixas diferenciadas por

pavimento, situando as unidades menores nos andares inferiores. Este processo foi inverso

ao sucedido em Paris, conforme descreve Marcelo Tramontano, quanto aos princípios de

ocupação nos diversos pavimentos das edificações residenciais: “quanto mais pobre se é,

mais alto se mora”, sendo reservado o térreo para o proprietário do edifício, com acesso a

quintais e pátios internos, sendo notórias as mansardas infectas da capital francesa.15

Para a consolidação deste modelo arquitetônico no Brasil, porém, foi necessária

uma verdadeira doutrinação do futuro usuário por parte dos agentes imobiliários, pois a

proposta de morar em uma edificação de diversos pavimentos com algumas unidades

privativas por andar foi rejeitada a princípio. Esta nova proposta ameaçava costumes

altamente arraigados que remontavam aos tempos coloniais. Por isso, seus projetos iniciais

tinham que conter em si a idéia de conforto, espaço e, sobretudo, de ausência de

promiscuidades que pudessem sugerir alguma ligação com as habitações coletivas

insalubres.

Quase todos os prédios de apartamentos construídos nas primeiras décadas do

século XX, eram destinados ao aluguel de suas unidades e traziam em si o desejo de

agradar indistintamente à clientela com soluções de aceitação geral. Compartimentos

amplos e cômodos e circulações definidas como a social e a de serviço faziam parte desta

política de agrado coletivo. Segundo Carlos Lemos, estas circulações separadas entre

patrões e empregados fizeram com que o Brasil se tornasse o primeiro e único país a

possuir esta medida segregadora em seu programa projetual.16

A resistência de aceitação pode também ser explicada, de acordo com Tramontano,

pelo fato dessas unidades apresentarem num cômodo único, as salas de estar, de visitas e

de jantar, e de refletirem a proximidade da cozinha e da área de serviço, consideradas

“áreas de completa desvalorização social”.17

15 TRAMONTANO, M. “Novos Modos de Vida, Novos Espaços de Morar.” São Paulo: FAU/USP, 1998:65. 16 LEMOS, Carlos. “A Casa Brasileira.” São Paulo: Contexto, 1996:79. 17 TRAMONTANO, M. op. cit. : 267.

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O crescimento demográfico, que se verificou na cidade do Rio de Janeiro, no início

do século XX, foi provocado pelo grande número de trabalhadores livres atraídos para a

cidade em busca de novas oportunidades de trabalho, e pelo progressivo aumento da classe

média, devido ao crescimento econômico da cidade e à criação de novos cargos públicos,

próprios da Capital Federal. Esse processo deu origem a uma questão que se tornou

imperativa: a questão habitacional. 18

O número de pessoas atraídas pela boa remuneração não acompanhou o número de

casas para morar. Pequenos funcionários públicos, comerciantes, profissionais liberais

procuravam moradia nos bairros próximos ao Centro, com uma infra-estrutura de serviços

e comércio adequada. Esses bairros, justamente pela proximidade aos pólos geradores de

empregos e pela alta procura para moradia, tiveram um impulso na valorização de seu solo,

elevando o custo das unidades residenciais e forçando a aceitação das moradias em

edifícios de apartamentos.

Os bairros da zona sul mais afastados do Centro do Rio tiveram uma procura

constante para moradia por parte das classes mais abastadas, atraídas pelas belezas naturais

destes bairros e pela ascendência social que advinham desses endereços. A distância do

local de trabalho foi diminuída pela melhoria, ampliação e construção de novas vias e

meios de transporte como o bonde.

Para conhecermos e entendermos a realidade urbana traduzida pelas habitações

residenciais será necessário conhecer o seu processo de formação e de transformação no

tempo.

O aparecimento do edifício de apartamentos sofreu rejeição inicial, pois ameaçava

costumes que remontavam aos tempos coloniais. Internamente, procurava-se repetir as

soluções de planta das residências isoladas com seus corredores, salas e saletas, tentando

reproduzir seus ambientes de origem. Como já foi citado, o primeiro edifício de

apartamentos da cidade do Rio de Janeiro foi o Edifício Lafont, datado da década de 1910,

já demolido, situado na esquina da Avenida Central com a Rua Santa Luzia, que era

18 Em 1920, o censo demográfico indicava que aproximadamente 60% da população do Rio de Janeiro, estava alocada nas atividades de serviço. ALBERNAZ, Maria Paula. “As Vilas: Uma Contribuição à História da Arquitetura Popular no Rio de Janeiro através do estudo do Espaço Urbano.” Rio de Janeiro: UFRJ/IPUR, 1985:114.

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bastante luxuoso. Logo, vários outros surgiram nas imediações, originariamente

residenciais, na área conhecida como Cinelândia, conforme citado por Lílian Vaz.19

Nos primeiros apartamentos a organização espacial apresentava características

específicas, destacando-se a presença de quartos independentes, e unidades habitacionais

de tamanho e número de compartimentos diversos, de unidades habitacionais incompletas.

Não havia, em geral, uma planta-tipo, mas plantas diferentes para cada andar.

fig. 11- Prédio de apartamento localizado na Rua do Catete, de 1939.

A unidade habitacional está completa, porém ainda com um banheiro externo no hall da escada.

fig. 12 - Prédio de apartamento localizado na Rua Bento Lisboa.

Observa-se a preocupação higienista com a ventilação dos quartos em detrimento da sala, buscando erradicar as alcovas coloniais.

Nestes primórdios, a ação dos construtores imobiliários foi de grande importância

para a expansão deste novo modelo de moradia, pois investiram amplamente em unidades

para aluguel.

A implantação seguia praticamente a mesma forma dos séculos anteriores:

construção na testada do lote, ocupação de toda a largura do lote, com paredes laterais

cegas, vãos e aberturas na frente e nos fundos. E era muito comum misturarem funções

residenciais e comerciais na mesma edificação. Segundo Lílian Vaz, “procurando seguir

modelos e ideais a cada contexto e momento histórico diferente, a habitação coletiva

incorporou elementos ditados pela tradição, pela economia, pela busca da higiene, do 19 VAZ, Lílian F. “Moradia e Modernidade – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002:63.

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conforto, da privacidade e da distinção. Finalmente, o edifício de apartamentos se tornou

completo, definiram-se seus espaços, sua organização interna, sua destinação, surgindo

então o padrão que se multiplicaria durante décadas e por toda a cidade”.20

O fato é que o surgimento deste novo modelo de moradia provocou uma série de

transformações na morfologia e na estrutura urbanas. O crescimento urbano vertical nas

áreas centrais foi imposto pela escassez e pelo alto custo dos terrenos, em função da

necessidade de centralização e concentração das atividades.

Este modelo de habitação representava um estilo de vida moderno e atraía as

famílias mais abastadas, que se dirigiram em direção à Zona Sul, com atuação direta dos

investidores da construção civil e dos transportes.

Alguns fatores explicam esta preferência como a valorização da natureza, a difusão

do automóvel, encurtando distâncias, e a ascensão social. E onde havia demanda, os

investidores corresponderam, oferecendo as mercadorias necessárias – no caso, até hoje, os

cobiçados apartamentos da Zona Sul.

Neste quadro, a força de grandes interesses e a falta de uma regulamentação oficial

ocasionaram a redução do tamanho dos apartamentos compostos de sala-e-quarto, banheiro

e quitinete, dano origem aos chamados conjugados, com trinta metros quadrados em

média.

Em 1942, com a Lei do Inquilinato, que congelava os valores dos aluguéis, as

imobiliárias passaram a vender as unidades residenciais, ao invés de alugá-las. Surgiram as

grandes construtoras que lançavam seus apartamentos perscrutando as necessidades do

mercado para supri-las.

No Rio de Janeiro, desde 1930, já estava definida a ocupação da Zona Sul pela

parcela mais favorecida da população. Intensificava-se a construção de edificações

residenciais ao longo da orla marítima. Segundo Villaça, as elites urbanas buscam novos

bairros, expandindo a ocupação de áreas residenciais, deixando outros para trás. Foi o que

ocorreu com os apartamentos de alto luxo localizados na Praia do Flamengo e Morro da

Viúva, no Flamengo, e em Copacabana. Nas décadas seguintes, o mesmo fenômeno

ocorreu nos bairros de Ipanema e Leblon, com a expansão no sentido da Barra da Tijuca.

20 VAZ, Lílian F. “Moradia e Modernidade – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002:116.

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“Os atrativos do sítio natural juntamente com a condição de deslocamento são os

principais fatores que determinam a localização e a direção de crescimento das camadas de

mais alta renda.”21

Obedecendo as diretrizes ditadas pela legislação urbana, a altura das edificações se

sobrepõs a cada década originando a volumetria das torres e transformando a morfologia

dos bairros tradicionais da Zona Sul. Modificou-se a escala preexistente das construções,

como, por exemplo, no caso do edifício Marechal Deodoro da Fonseca, localizado em

Botafogo na Rua Dona Mariana, nº 53, datado de 1966, com vinte e seis pavimentos de

apartamentos, que contrasta com o entorno.

fig. 13 - Foto do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca.

Com as regiões central e sul ocupadas e com o aumento crescente da população, o

setor da construção civil impulsionou novas áreas de expansão, com a aprovação do Plano

Diretor da Baixada de Jacarepaguá e Barra da Tijuca, originalmente concebido por Lucio

Costa. A cidade expandiu-se horizontalmente nesta direção, descortinando um cenário de

grandes empreendimentos imobiliários residenciais e comerciais, sendo conhecida a

incidência de inúmeros condomínios fechados dotados de complexa infra-estrutura de

serviços. 21 VILLAÇA, Flávio. “Espaço Intra-urbano no Brasil.” São Paulo: Studio Nobel, 1998:188.

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Segundo Fabiana Gobbo, são empreendimentos para a classe média e alta, atraídas

pela mesma estratégia comercial usada em Copacabana para um novo tipo de moradia e

mobilidade social.22

22 GOBBO, Fabiana G. R. “Tipologia Arquitetônica do Edifício de Apartamentos: Análise da Evolução, Tendências e Perspectivas na Cidade do Rio de Janeiro, no período de 1990 a 2001.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2001:93.

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1.2.2 - Transformações das plantas baixas

A função “abrigo” pode ser destacada como a função básica da casa,

proporcionando várias possibilidades de proteção. É também o espaço permanente das

atividades condicionadas à cultura de seus moradores, ligadas aos hábitos e práticas sociais

que, ao longo de todo século XX, geraram modificações no modo de morar, com a

introdução, consolidação e disseminação das edificações multifamiliares. As mudanças

observadas foram basicamente em decorrência das alterações das necessidades e dos usos

dos compartimentos privativos projetados, que acompanharam as profundas

transformações na composição do grupo familiar e nas relações entre seus membros.

Veremos as mutações nos partidos, nos programas e nos critérios de superposição de zonas

e funções.

Como exemplo, temos as salas de jantar. Antes, nas casas eram perfeitamente

demarcadas com alvenarias e portas que definiam seu espaço e suas funções. Ao serem

transportadas para o apartamento sofreram cortes em suas dimensões, perderam a

imponência com a agitação da vida moderna e integraram-se ao espaço da sala de estar.

A modernização dos equipamentos de um modo geral simplificou as atividades

culinárias, acarretando não apenas a diminuição do ambiente de cozinha como também a

supressão da antiga copa, outro exemplo de mutação dentro do programa projetual das

unidades residenciais. Nos primeiros apartamentos era comum, por exemplo, a presença de

uma bancada seca com tampo de mármore para a feitura do pão caseiro, atividade

totalmente ultrapassada nos dias de hoje.

As dependências de empregados localizadas na parte de serviço dentro da unidade

residencial também sofreram deslocamento com a permissão de sua abertura para a parte

social ou íntima, possibilitando diversificar sua utilização, uma vez que o uso que a

denomina está cada vez mais obsoleto. Sua área, mesmo exígua, é cobiçada em algumas

famílias que agregam, sob o mesmo teto, enteadas e enteados, noras e genros, pais e

sogros, numa composição familiar complicada, mas comum nos dias atuais. Como resume

Elza Berquó, “a queda acentuada da fecundidade, o aumento da longevidade, a crescente

inserção da mulher no mercado de trabalho, a liberação sexual, a fragilidade cada vez

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maior das uniões, o individualismo acentuado, etc. são tendências que vêm atuando no

sentido de alterar o tamanho, a estrutura e a função da família.”23

A partir das necessidades do grupo familiar, o arquiteto relaciona os espaços

definindo o programa da edificação, que reflete os atos e expectativas dos usuários, sem

concluir, de modo definitivo, as funções destes espaços. O estudo destas funções é

complexo e particular para cada grupo ou família, variando com costumes, nível social,

faixa etária etc.

Mas existem unidades funcionais que o programa projetual define e que usualmente

são os mesmos em qualquer situação social. São os espaços sociais, íntimos e de serviço

que constituem a moradia padrão da sociedade brasileira.

O setor social abrange os ambientes destinados ao contato com agentes externos,

fora do domínio familiar. São as salas de visitas, de jantar, varandas; alpendres e capelas

nas edificações residenciais antigas; vestíbulos e escritórios residenciais, nas edificações

atuais. O setor social alterou-se, com o passar dos anos, principalmente por um aspecto

determinante: a emancipação da mulher, iniciada, timidamente, na segunda metade do

século XIX, enfatizada nos primórdios do século seguinte, para comandar o ambiente

doméstico por todo século XX, sem previsão ou possibilidade de retrocesso destas

conquistas. As salas se abriram e os ambientes não são mais compartimentados, reunindo

num só espaço, área para estar e para refeições.

O setor íntimo inclui os ambientes destinados ao uso da vida familiar,

compreendendo quartos, circulações e banheiros. Este setor sofreu profundas

modificações, ao longo do tempo, nas suas dimensões e número de peças (por exemplo: os

banheiros), em função, principalmente, do desenvolvimento das instalações hidráulicas e

sanitárias, que retirou as tinas de banho do interior do quarto de dormir e, ao deslocá-la

para o banheiro, substituiu-a, aos poucos, pela banheira e pelo box do chuveiro.

O setor de serviço engloba os espaços destinados às atividades domésticas, como

cozinhas, copas, despensas e acomodações dos empregados. Este setor sofreu grandes

transformações com a diminuição da força de trabalho doméstico, em decorrência da

23 Berquó, E. A família no século XXI: um enfoque demográfico. In Revista Brasileira de Estudos da População. Vol. 6, nº 2, julho/dezembro 1989.

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diminuição dos espaços internos para limpeza, do desenvolvimento dos equipamentos

elétricos, facilitadores da vida das donas-de-casa, e do custo efetivo desses trabalhadores.

Teoricamente, estes três setores constituiriam as células de qualquer edificação

residencial, porém o que se registra, na prática, é a superposição de funções num mesmo

espaço projetado. Numa casa de classe social baixa tolera-se, por exemplo, a superposição

social-serviço, onde, num mesmo espaço (a cozinha), a família pode usufruir momentos de

lazer, recebendo amigos, ou mesmo a superposição social-íntimo representada pela

presença do sofá-cama na sala de estar (esta superposição é tolerada e bastante difundida

pela classe média).

A marca da boa situação social é a casa com menor superposição possível de

funções, em que há uma dependência para cada atividade. Daí a relação extensa de

cômodos nos programas projetuais de residências (casas ou apartamentos) para a classe

social de alta renda. São muitas vezes pequenos espaços, que caracterizam funções, que

separam atividades e que diferenciam os moradores, tais como: rouparia, louçaria,

despensa, depósito, closets, quarto de passar roupa, quarto para motorista, quartos para

empregadas e área privativa ou Box localizado na área de garagem, em alguns casos.

fig. 14 - Planta baixa do Ed. Hicatú (Flamengo) Década de 1930.

Com setorização bem definida, observar a escada de serviço dentro da unidade.

(Setorização: parte social – cor rosada; parte íntima – cor azul e parte de serviço – cor amarelo)

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fig. 15 - Planta baixa do apartamento do Golden Green (Royal Lãs Palmas) setorizado (2002)

Na casa operária há a superposição de quase todas as funções habitacionais. Se

lembrarmos do apartamento chamado conjugado, que é composto de um compartimento

habitável, um banheiro e uma quitinete, percebemos que os setores social e íntimo estão

totalmente superpostos num mesmo ambiente e que o setor de serviço sofre uma atrofia

quase que total.

fig.16 - Planta baixa de um conjugado típico setorizado (superposto).

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Nos primeiros edifícios de apartamentos construídos para a classe social mais alta,

as unidades privativas, procurando repetir padrões da residência unifamiliar isolada no

terreno, continham em seu programa, espaços perfeitamente demarcados para cada setor,

não sendo previstas superposições.

fig. 17 - Planta baixa original do Edifício Capiberibe – 1937 (Flamengo)

O mesmo apartamento reformado décadas mais tarde, não criou superposição ao se

adequar às necessidades da família. Houve diminuição do setor de serviço para atender à

condição de ventilação direta de um dos quartos e remanejamento entre as áreas dos

banheiros para ser criada uma suíte para o casal.

fig. 18 - Planta baixa reformada do Edifício Capiberibe.

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Ao nos deter nesta análise setorial, percebemos como a casa urbana brasileira segue

uma evolução marcante da casa tipo colonial, mantendo uma tradição intrínseca, um

sentido de permanência na setorização, endossando valores segregacionistas, apesar das

aparentes diferenças exteriores resultantes de transformações sociais ou ditames da moda.

Percebemos, ainda, a mesma tradição no pensar e construir nossa moradia, mesmo quando

a desenvolvemos em tipos atuais de edifícios de apartamentos.

Nos apartamentos do final do século XX, com a diminuição das áreas úteis dos

cômodos e com as mudanças ocorridas no núcleo familiar, que ditaram novas

necessidades, o fenômeno da superposição de setores surge com muita freqüência.

fig. 19 - Edifício Giovanni Gabrieli, localizado na Gávea - 2003.

Observa-se, no exemplo do Edifício Giovanna Gabrieli, que o banheiro localizado

perto da cozinha possui tripla função: pode situar-se no setor de serviço se o quarto

adjacente for utilizado como de empregada; pode estar no setor íntimo se servir ao quarto

adjacente utilizado por algum morador e pode ser parte integrante do setor social se for

utilizado como lavabo. Vale a pena observar também que a única peça integralmente

pertencente ao setor de serviço é a cozinha (com área de serviço integrada), e representa

aproximadamente 9% da área total do apartamento.

Mesmo em unidades residenciais de classe social alta, a superposição das funções

pode ser encontrada, como é o caso do Edifício Freguesia Special, abaixo ilustrado.

Mesmo possuindo áreas generosas e 4 quartos servidos por 3 banheiros (2 suites), existe a

possibilidade de reversão do quarto de empregada para a circulação íntima, e a dupla

função do banheiro social em lavabo.

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fig. 20 - Ed. Freguesia Special em Jacarepaguá (lançado em 2003).

fig. 21 - Ed. Mirtle Beach na Barra da Tijuca (Golden Green) (1996)

Neste apartamento bastante amplo, há um compartimento de múltiplo uso entre o setor íntimo e o social. Pode

ser utilizado como sala de televisão, sala de som, biblioteca, sala de estudos, estúdio ou sala íntima de leitura, podendo ter

seu acesso franqueado às visitas também.

A diminuição gradativa das áreas úteis dos cômodos é um fato marcante ao longo

das décadas do século XX, e que dá mostras de prosseguir no século XXI. Em dados do

Sindicato da Construção Civil do Estado do Rio de Janeiro (Sinduscon/RJ), o número de

unidades residenciais lançadas no Rio de Janeiro, entre 2001 e 2002, cresceu 6,5%, porém

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a metragem quadrada construída diminuiu em 10%, significando que os espaços dos

apartamentos continuam em processo de redução.

Em pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Estudos sobre Habitação e Modos de

Vida (Nomads), da Universidade de São Paulo (USP), foi demonstrado que a área de sala

das unidades residenciais sofreu uma perda de 37,8% de sua área total, ao longo dos

últimos cinqüenta anos, enquanto a área dos quartos foi reduzida em 50,26% e na da

cozinha a perda foi de 13,46%.24

fig. 22 - Imagens escaneadas do jornal O Globo de 02/02/2003, sobre a diminuição das áreas das salas, quartos e cozinhas nos apartamentos nos últimos 50 anos.

24 Reportagem publicada no jornal O Globo de 02/02/2003, caderno Morar Bem.

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Se, por um lado, os espaços internos dos apartamentos diminuem, as necessidades

dos moradores crescem com as exigências do novo modo de viver e morar. Em primeiro

lugar, a nova posição da mulher dentro da família e do lar.

A posição dependente da mulher na virada do século XX, dentro de um contexto

patriarcal tradicional, não permitia acesso à instrução e experiências fora de suas funções

familiares. Eram criadas para serem silenciosas e discretas em público, conscientes das

formalidades que implicavam respeito e subordinação no casamento e na sociedade.

fig. 23 - Sala de Estar da Casa de Rui Barbosa

Rua São Clemente, 134 – Botafogo

As alterações ocorridas no posicionamento em planta dos espaços de salas de

visitas (não mais enclausurada), da sala de refeições e da própria parte de serviço como um

todo, dentro do universo das transformações ocorridas nos apartamentos, refletem a

importância crescente do papel da mulher e as modificações na estrutura da família nos

espaços das moradias brasileiras no século XX. Podemos, inclusive, dizer que é devido à

atuação da mulher a reinvenção do espaço de trabalho dentro do espaço privado de morar,

na tentativa de ampliar a renda doméstica familiar. Outro fator importante é a posição da

mulher, em muitos casos, como chefe de família assalariado, enquanto o marido atua como

profissional autônomo, ocupando o espaço de trabalho da casa.

Em segundo lugar, as exigências internas decorrentes das transformações no

segmento das relações profissionais-trabalhistas que, a partir da década de 1970, têm-se

intensificado, no sentido do trabalho profissional desenvolver-se dentro do ambiente

doméstico.

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Trabalhar em casa é um hábito antigo. Desde tempos medievais, quando as noções

de espaço público e privado ainda estavam por serem cunhadas, trabalho e vida doméstica

confundiam-se em um mesmo espaço.

Na atualidade, as atividades de trabalho desenvolvidas dentro do espaço doméstico

assumem feições bastante diferentes entre si. Desde o trabalho manual mais simples até o

trabalho intelectual que demanda muita concentração, sua inserção na habitação admite um

grande leque de opções.

Estes espaços estiveram presentes na moradia da classe social alta, na virada do

século XX, vide gabinetes de escritório ou biblioteca, mas foram desaparecendo em

sucessivas reduções de área das unidades residenciais, para surgirem de novo adaptadas aos

novos programas, sendo utilizado um quarto fechado para esta finalidade ou um canto de

sala, um mezanino ou uma mesa com estante no quarto.

fig.24 - Biblioteca da Casa de Rui Barbosa. Rua São Clemente, 134 – Botafogo

fig.25 - Foto de um home Office atual.

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Esta opção de trabalho à distância se estabeleceu graças aos avanços tecnológicos

introduzidos pelo microcomputador e seus periféricos, aparelhos de fax, Internet e a

ampliação das linhas telefônicas no país.

Pode-se afirmar que a demanda por espaços de trabalho definidos e situados fora do

espaço físico do empregador deverá continuar a crescer por um bom tempo, quem sabe

dando origem, no futuro, a um novo setor – o profissional.

Aprofundando a pesquisa sobre a evolução do programa projetual das unidades

residenciais na edificação multifamiliar setorizamos o estudo dos espaços para uma melhor

ordenação.

a) Setor Social

As salas representam o espaço principal do setor social. Primeiramente, as salas de

visitas, antes postadas próximas à entrada principal para facilitar o acesso aos visitantes,

foram anexadas às salas de estar, perdendo, ao longo das décadas do século XX, a sua

destinação. Sempre presentes nos programas das residências unifamiliares de classe alta,

nem sempre foram projetadas nos apartamentos, mesmo os mais nobres.

fig. 26 Planta baixa do Edifício Biarritz (Flamengo), datado de 1940.

Uma coluna traz em seu projeto a sala de visitas, a outra coluna, por questão de dimensões do terreno, não apresenta este espaço.

A sala de jantar foi bastante preservada ao longo das décadas, antes de ser, nos

apartamentos de classe média, incorporada à sala de estar. Talvez pela sua tradição e

importância, sempre esteve presente e foi bastante cultuada nos projetos arquitetônicos das

residências de classe social mais elevada dos séculos XVIII e XIX – sede de fazendas e

palacetes. Nos apartamentos de classe alta do início do século XX, sua presença, em

espaço definido para tal uso, era quase obrigatória.

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fig. 27 - Planta baixa do Ed. Paissandu (Flamengo), datado de 1929.

Observar um dado curioso neste projeto, datado de 1929. Possivelmente, pode ter sido o primeiro exemplar que trazia a

condição de reversibilidade de um quarto social para ser utilizado como de serviço, indicação dada pela porta

seccionando a circulação íntima e pela saída de serviço do apartamento.

Observar também que a varanda balanceada quase sempre, quando presente, privilegiava a sala de jantar e não a de estar.

As varandas, nas edificações multifamiliares, são um dos compartimentos que

mais foram influenciados pelas normas de edificações. A princípio, havia a tolerância de

balanceamento de 1,20m sobre a linha de fachada. Por falta de definição no Código de

Obras, este balanço foi, às vezes, utilizado para uso interno do apartamento. (ver figs. 12 e

24)

Seguiu-se a fase de observância da linha de fachada sem balanceamento, quando as

varandas eram enclausuradas. Após, em 1967, retornou-se ao balanço primitivo de 1,20m.

Em seqüência, em 1976, foi ampliado para 2,00m sobre o afastamento frontal da

edificação, para, em 1981, através do Decreto 3046, que rege os bairros da Barra da Tijuca

e parte de Jacarepaguá, ser novamente ampliado, desta vez, para 5,00m.

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fig. 28 - Planta baixa do edifício situado à Rua Rodolfo de Amoedo, lote 19, Barra da Tijuca – 1994

A área do apartamento é quase a mesma da varanda

b) Setor de Serviços

Um setor que sempre esteve presente nos planejamentos de residências foi o setor

de serviços – a cozinha, ponto central deste setor, mesmo quando localizada fora do corpo

da casa ou em edículas, não poderia faltar nos programas. Ao longo da história da

edificação residencial no país, foi o setor que mais sofreu modificações. Podemos

encontrá-lo em dimensões dilatadas com o fogão à lenha instalado no seu interior, nas

casas coloniais, acompanhado de gamelas, tachos, moringas, panelas de ferro e outros

utensílios, como também em parcos metros quadrados nas casas populares do século XIX.

No final deste século, as famílias urbanas começaram a receber os benefícios da água

potável distribuída por redes públicas e do gás como combustível para as luminárias e

fogões, provocando alterações na distribuição do espaço destinado ao fabrico dos

alimentos. Segundo Veríssimo & Bittar, as idéias higienistas que se difundiram por esta

época no Rio de Janeiro, para se antepor às epidemias que se alastravam, encontraram nos

fogões de ferro norte-americanos de várias bocas e nos ladrilhos hidráulicos laváveis fortes

aliados dentro dos lares das famílias mais abastadas.25

25 VERÍSSIMO, Francisco & BITTAR, William. “500 Anos da Casa no Brasil.”Rio de Janeiro: Ediouro, 1999:111.

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fig. 29 - Esta imagem demonstra a afirmativa de Bittar

“Com a diminuição gradativa da mão de obra escrava e sua posterior abolição, diminui a cozinha, incorporando novos

equipamentos, ainda importados.”

A verdade é que somente a partir da segunda metade da década de 1930, nossas

casas de classe média e alta passaram a conhecer os primeiros facilitadores da vida das

donas de casa. Primeiro, o ferro elétrico de passar roupas, seguidos pelos refrigeradores

elétricos, aspiradores de pó, enceradeiras e batedeiras. As máquinas de lavar roupas

surgiram já nos anos 50.

Os demais equipamentos como liquidificadores, fornos, secadoras, exaustores,

surgiram e se popularizaram, tornando-se acessíveis e definindo o espaço de cozimento dos

alimentos numa área retangular e menor, com racionalização máxima, revestida com

cerâmicas até o teto, com ampla iluminação (artificial, que seja) e com materiais e

apetrechos para facilitar a limpeza e a higiene, nos fins do século XX. Como sintetiza

Tramontano, “o ato de preparar uma refeição, que já chegou a ocupar, na história da

culinária dias inteiros, utilizando-se de diversos cômodos, tende a realizar-se em uns

poucos minutos, em apertados e otimizados metros quadrados.”26

Nos apartamentos modernos, habitualmente, as cozinhas antecedem às áreas de

serviço, normalmente destinadas à lavagem e secagem das roupas, formando quase o

mesmo ambiente, e também, como na cozinha, repleta de máquinas e acessórios que

26 TRAMONTANO, M. “Novos Modos de Vida, Novos Espaços de Morar.” São Paulo: FAU/USP, 1998:324.

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simplificam os trabalhos, e que em nada nos lembram as lavanderias das casas coloniais,

com seu espaço reservado para quarar roupas ao sol.

Um compartimento que acompanhava os programas projetuais nas casas coloniais

era a despensa ou depósito, que armazenava, em sacos grandes, o feijão, a farinha para o

pão, o sal, etc. Com a redução das áreas nos espaços de moradia e com a substituição das

quitandas, armazéns e mercearias pela eficiência dos supermercados que, em alguns casos,

ficam abertos e disponíveis a noite inteira, este compartimento desapareceu das residências

da classe média, permanecendo nas de classe social mais alta, para estocagem de alimentos

não perecíveis. Nos dias de hoje, a guarda de víveres em natura para a fabricação dos

alimentos se tornou mais reduzida, em contraponto com a estocagem, chamada por

Tramontano, de “fria” (em freezers e geladeiras) que armazenam alimentos pré-fabricados

que precisam ser preservados em temperaturas baixas. Com os horários familiares

apertados, que inviabilizam a prolongada permanência na cozinha, com o desenvolvimento

das indústrias de equipamentos e de culinária, que lançam novidades gastronômicas a cada

dia no mercado, podemos prever que será necessário reservar espaços cada vez maiores

para freezers ou mesmo para câmaras refrigeradas.

Contígua às áreas de serviços dos apartamentos atuais, encontramos as

dependências de empregados, constituídas de um quarto e um banheiro. “Embora

alterada, economicamente, a relação patrão-empregado, as relações sociais antigas

persistem, e a divisão de moradia (casa-grande) e alojamento de empregados (senzala) vai

persistir por todo o século XX.” 27

Este segmento da moradia, quando o edifício de apartamentos começou a se firmar,

pela década de 1930, era localizado, em algumas unidades, acima do último pavimento-

tipo, em alojamento coletivo. Tal iniciativa não se sustém, por várias razões, entre elas,

pelos sucessivos escândalos advindos do projeto permissivo e da localização afastada.

O usuário de apartamento valoriza e requer as dependências de empregado, quando

compatível com o valor do imóvel pedido, e até em unidades residenciais de apenas um

quarto social elas são encontradas.

27 VERÍSSIMO, Francisco & BITTAR, William. “500 Anos da Casa no Brasil.” Rio de Janeiro: Ediouro, 1999:127.

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fig. 30 - Planta baixa do Edifício Parque das Rosas – Barra da Tijuca

(um quarto social e um de empregada, porcentagem da área do quarto no apto – 12,27%)

Os altos custos das unidades residenciais fizeram com que os metros quadrados dos

apartamentos se valorizassem cada vez mais, levando a que os compradores repensassem

na real necessidade de se manter estas dependências em seus apartamentos, em detrimento

de áreas mais importantes para seu viver, localizadas em outros setores, ainda mais quando

o usuário desses compartimentos, o empregado doméstico, torna-se cada vez mais raro na

sociedade, sendo substituído, com vantagens, pela diarista, mais eficaz e discreta.28

A mão-de-obra doméstica contratada para que, diariamente, administrasse o

cotidiano dos três setores residenciais da habitação (social, íntimo e serviço) diminuiu

dentro do contexto familiar. Todos os membros da família de classe média cada vez mais

executam as tarefas do lar.29

A obrigatoriedade de ventilação direta e de área mínima de seis metros quadrados

para o quarto de empregados, a partir do ano de 1984, foi estabelecida através da Lei

número 550/84, o que, em algumas unidades residenciais, representa em torno de dez por

cento da área útil total. Este compartimento passou a constituir uma opção de dormitório,

“dando origem a uma tipologia hesitante, a qual possuía duas portas: uma para o corredor

28 Diarista é um trabalhador autônomo que exerce, por conta própria, atividade profissional remunerada, sem relação de emprego, eventualmente, para um ou mais empresas/pessoas. 29 SALEIRO FILHO, Mario. “A Dependência da Dependência de Empregado: de Espaço Segregado a Espaço Revertido?” Rio de Janeiro: PROARQ / UFRJ, 2001:35.

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dos quartos, outra para a área de serviço. Podia-se bloquear uma ou outra porta e, com isso,

supostamente, alterar a função e o status do cômodo”.30

Através desse processo, esse compartimento, que historicamente permanecia

segregado ao setor de serviço da habitação unifamiliar, passa a deslocar-se dentro da planta

do apartamento.31

fig. 31 - Rua Honório, 812 – Engenho de Dentro – coluna 06

E passou a constituir fator importante de venda da unidade residencial, o fato de a

dependência de empregada apresentar possibilidade de reversão para o setor íntimo do

apartamento. Com a diminuição gradativa das áreas úteis dos compartimentos durante as

últimas décadas, os espaços internos da unidade passaram a ser muito cobiçados e

racionalizados.

fig. 32 - Planta baixa do Edifício Solar Monet – R. Prof. Gabizo, 108 - Tijuca

A área do quarto de empregada representa 10% da área interna do apartamento.

30 TRAMONTANO, M. “Novos Modos de Vida, Novos Espaços de Morar.” São Paulo: FAU/USP, 1998:279. 31 Interessante observar que este é um fenômeno tipicamente carioca, devido às dimensões do quarto de empregada serem consideradas generosas no Rio de Janeiro. Na vizinha cidade de Niterói, a tendência de reversibilidade da dependência de empregada não ocorre e acreditamos, sobretudo, pelo fato da área mínima do quarto ser de apenas 3,00m². (2.00mx1.50m).

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Em entrevista com os moradores do Edifício Solar Monet, verificou-se que todos os

proprietários dos apartamentos do prédio optaram por acessar o quarto dito de empregada

pela circulação íntima. A utilização dada ao novo espaço é diversa, atendendo as

necessidades específicas de cada família. Encontramos as opções: quarto do segundo filho,

closet para o quarto do casal, quarto de brinquedos do filho único, aberto (sem portas) com

computador instalado (miniescritório), ou apenas um espaço disponível para qualquer

eventualidade.

E as funções para este espaço conquistado encontram mais variantes, dependendo

de cada caso: mais um dormitório para um agregado, um escritório para trabalho

profissional, ateliê de costura, pintura ou artesanato, dependendo da atividade lúdica ou

remunerada de algum componente familiar.

Em pesquisa realizada por Saleiro, em sua Dissertação, nos classificados dos

jornais entre outubro de 1999 a março de 2001, verificou-se que de todas as plantas baixas

residenciais, apresentando quarto de empregado no setor de serviço, nos lançamentos

destinados à classe média na cidade do Rio de Janeiro, 75% inserem o quarto reversível, e

o restante permanece como quarto de empregada tradicional (no setor de serviço).32

c) Setor Íntimo

Com acesso através da circulação íntima, os dormitórios atuais são distintos das

alcovas coloniais, que não possuíam quaisquer vãos de ventilação ou iluminação, por

serem mais arejados, porém com dimensões que lembram as velhas alcovas abafadas e

escuras.33

Já no século XIX, com o uso das calhas, condutores e águas furtadas de folha de

Flandres que permitiram a adoção de corredores laterais descobertos e de pátios internos,

os quartos passaram a ter ventilações diretas para o exterior. Também desta época é a

introdução do vidro plano transparente para as janelas, o que clareou os cômodos durante o

dia e dos modernos lampiões de mecha circular que os clareou à noite, modificando os

hábitos noturnos.

32 SALEIRO FILHO, M. “A Dependência da Dependência de Empregado: de Espaço Segregado a Espaço Revertido?” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2001:40. 33 Alcova colonial: “Raramente apresenta grandes dimensões, restringindo-se às necessárias ao repouso e às oração, com escasso e tosco mobiliário, normalmente compreendido, nos primeiros tempos, por cama, aparador e uma cadeira, dispostos pelos cantos.” (VERÍSSMO e BITTAR, 1998:90).

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Mas, em qualquer tempo, é o cômodo que requer o maior grau de isolamento, e esta

privacidade é diretamente proporcional à classe social em que se situa. “Quanto mais pobre

se é, de menos espaço individual se dispõe e menor o grau de privacidade.”34

De acordo com a pesquisa do Prof. Marcelo Tramontano da FAU/USP, já citada

anteriormente, os quartos foram os compartimentos que tiveram as suas áreas mais

sacrificadas nos últimos 50 anos, pois sofreram uma redução de 50,26%.

Segundo a avaliação do presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/RJ),

Carlos Fernando de Andrade, a redução no tamanho dos cômodos também está relacionada

à diminuição no tamanho das famílias. “Os quartos eram amplos por serem projetados para

abrigar muitos filhos. Na estrutura atual das famílias, cada um tem o seu quarto. Entraram

no espaço computador e TV, mas saíram beliches e penteadeiras.”35

Para minimizar os efeitos das áreas reduzidas dos quartos, o mobiliário moderno se

adequou permitindo, inclusive, a superposição de funções para este ambiente antes tão

definido. Hoje é comum encontrarmos nos quartos, principalmente dos jovens, atividades

de estudo, lazer e descanso, dividindo seu espaço com a televisão, o telefone, os livros,

aparelhos de som, de ginástica, etc. Novos hábitos emanados de uma nova tecnologia.

fig. 33 - “O quarto recebe um novo hóspede: o microcomputador.”

Atualmente, é quase imperativo que ao menos um quarto do apartamento possua

um banheiro privativo (a suite) para servir ao casal proprietário, preservando sua

intimidade e conforto, mesmo que, para este mister, as áreas dos quartos sofram

encolhimento maior. 34 TRAMONTANO, M. “Novos modos de Vida, Novos Espaço de Morar.” São Paulo: FAU / USP, 1998:339. 35 Reportagem publicada no jornal “O Globo”, dia 02/02/2003, caderno Morar Bem.

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Os banheiros, dentro do programa projetual das unidades residenciais, foram os

que mais sofreram modificações ao longo da história da casa brasileira, pois que, no

período colonial, eles inexistiam como cômodo distinto. Os moradores desta época

resolviam suas necessidades fisiológicas através de urinóis ou outros recipientes, que eram

esvaziados e lançados, pelos escravos, nos rios, praias ou alagados. O banho era resolvido

pelas tinas de madeira colocadas no interior do dormitório, o que requeria escravos

transportando água aquecida para enchê-las. Diante de tanta dificuldade, era normal que tal

procedimento não se desse diariamente, ou mesmo semanalmente. E contribuía para esta

escassez de asseio, a própria formação do colonizador europeu. Os hábitos de higiene se

diferenciaram ao longo do tempo entre o colonizador europeu e o colonizado americano.36

Os hábitos se alteraram a partir da chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808.

Não em função da higiene européia, como já dissemos, mas como conseqüência da

abertura dos portos brasileiros que possibilitou a entrada de materiais novos no mercado

nacional, como tubulações e peças de banho de ferro esmaltado; e da valorização da vida

social, que requeria maior preocupação com o corpo.

O processo de expansão desses hábitos e da inclusão dos quartos de banhos, ou

mesmo de “casinhas” localizadas fora do corpo da casa, deu-se, mais uma vez, a partir das

classes mais ricas às mais pobres. Foi a classe social alta que importou, da Europa, as

ferragens rebuscadas que constituíam verdadeiras obras de arte, as louças finíssimas, os

espelhos de cristal e as grandes bancadas em pedras nobres, na virada do século XX,

contribuindo para a consolidação deste compartimento na unidade residencial. “O Rio de

Janeiro foi o centro irradiador dessas alterações higienizantes da arquitetura domiciliar

pelo Brasil afora.”37

fig. 34 e 35 - Banheiro da Residência de Castro Maya – Alto da Tijuca e da Casa de Rui Barbosa – Botafogo.

36 O artigo publicado no jornal O Globo (14/05/1989) “Banho: um estigma passado a limpo” de Any Bourrier (segundo caderno, pág. 12), indica que, na França, cada cidadão consome cinco sabonetes por ano, três frascos de xampu de 230ml e 2,5 tubos de dentifrício, segundo pesquisa executada no mesmo ano por um dos semanários mais influentes da França, a revista L’Evenement du Jeudi. 37 LEMOS, Carlos. “A Casa Brasileira.” São Paulo: Contexto, 1996:46.

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Nos cortiços, as instalações sanitárias eram localizadas fora das unidades

residenciais e em número reduzido, para uso coletivo. Com a promiscuidade e a falta de

higiene que este modelo habitacional acarretava, ele foi considerado insalubre e sua

construção proibida no início do século XX.38

Nas residências médias, o banheiro é parte integrante do programa, e os edifícios de

apartamentos da década de 1930 apresentam um banheiro privativo para cada unidade

habitacional. Desta época até hoje, as modificações sofridas na área dos banheiros não

foram substanciais. Uma delas foi a rejeição ao bidet, talvez pelo tamanho exíguo em que

este compartimento se transformou, sendo substituído, atualmente, pela ducha manual

localizada próxima ao vaso sanitário.

fig. 36 - Foto do banheiro do Edifício Royal Las Palmas (2003). fig.37 - Foto do banheiro do Edifício Carajás (1940).

Outra modificação foi em relação ao número de banheiros existentes dentro da

unidade residencial, surgindo a incidência das suítes na década de 1970. Tramontano

revela que o brasileiro costuma ser mais generoso que franceses ou japoneses,

multiplicando pela casa o número de vasos sanitários. Além dos reservados para a família

(às vezes, um para cada quarto), um para a empregada doméstica e um eventual para as

visitas – o lavabo.

38 Cortiço: habitação coletiva composta de casas minúsculas enfileiradas de um ou dos dois lados dos quintais, formando um pátio ou corredor de acesso, dotadas de instalações sanitárias coletivas, difundidas no Rio de Janeiro, no século XIX, também chamado de estalagens. (VAZ, 2002:28).

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fig. 38 - Planta baixa do Ed. Carajás (1940)

Um apartamento com 230,00m² de área útil e apenas um banheiro destinado aos moradores, porém com área generosa (9.90m²)

fig. 39 - A cozinha é reduzida, os quartos são dois, mas os banheiros são três. Villaggio Acquafina, coluna 07 – Estrada do Pontal

d) Acessos e Circulações

A setorização das funções dentro do espaço da unidade residencial, que sempre

existiu na casa brasileira de classe alta, requeria que, entre os setores, fossem projetados

espaços que servissem de ligação, que permitisse uma separação ou privacidade aos

moradores.

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Na casa colonial brasileira era comum todos os quartos da casa abrirem para uma

sala ampla, onde se faziam as refeições e reuniões familiares. Talvez, em função desta

origem, alguns dos primeiros apartamentos projetados traziam em suas plantas graves

problemas de circulação.

fig. 40 - Planta baixa do Ed. Ouro Preto situado em Copacabana,

Datado de 1931 (Av. Copa, 174) Setorizado – pág. 77

Observa-se nesta planta como os setores funcionais estão misturados, e como a ausência de uma circulação íntima interferiu na funcionalidade do projeto. Três dos quatro quartos do apartamento têm acesso direto pela sala,

comprometendo a privacidade.

fig. 41 - Planta baixa do Ed. Itaóca, situado em Copacabana, fig. 42 - Perspectiva do Ed. Itaóca.

datado de 1928 (R. Duvivier, 43)

Neste apartamento, todos os cômodos se voltam para um hall de distribuição,

diretamente ligado com o exterior, ficando difícil definir em que setor estaria ele incluído

(íntimo ou social). Esta solução de planta era comum na época (ver foto 35) e prejudicava

a privacidade do setor íntimo.39

Nos projetos arquitetônicos das unidades residenciais em edificações

multifamiliares da classe social alta, os halls de distribuição estão presentes em forma de 39 Observar, na perspectiva do Edifício Itaóca (fig. 39), as dependências de empregados localizadas no oitavo pavimento da edificação, voltadas para a rua e descortinando uma paisagem inigualável em todo o prédio.

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vestíbulos ou galerias, e são muito importantes no funcionamento interno do apartamento,

mas não prescindem da presença também da circulação íntima entre os quartos e banheiros.

É importante proporcionar total independência entre os setores funcionais do apartamento,

distribuindo as áreas de estar, de repouso e de serviço de tal maneira que se possa ir de

uma delas à outra sem que seja necessário passar pela terceira. (ver fig. 19)

Em todos os exemplos de plantas baixas apresentadas, da década de 1930, observa-

se que as unidades residenciais possuem entrada social e de serviços diferenciada,

acessando halls que não se interligam entre si. Somente décadas mais tarde, por questão de

segurança, surgiu a obrigatoriedade da comunicação entre os halls social e de serviço

externos da unidade.

Mas a permanência das entradas diferenciadas no apartamento ainda está presente

nos projetos atuais, principalmente nas classes média e média alta, onde não é bem aceita a

unidade residencial que possua acesso à cozinha através da sala ou vestíbulo.40

Lemos nos diz, no livro “História da Casa Brasileira”, que o Brasil tornou-se o

primeiro e único país a possuir edifícios com essa solução separadora de circulações.

Solução que se estende também à própria entrada diferenciada no edifício, no pavimento

térreo. Enquanto o proprietário da unidade residencial entra no edifício através de entradas

nobres, finamente decoradas, os empregados domésticos ou prestadores de serviços,

humildes, caminham por corredores para alcançarem o elevador de serviço projetado para

eles, deixando entrever um tradicionalismo segregacionista apresentado nos projetos

residenciais multifamiliares.

Vale a pena observar que a Legislação edilícia, reguladora da construção de

edificações residenciais multifamiliares, não faz distinção entre os elevadores projetados

(social ou de serviço), desde que sejam em número compatível com a quantidade de

apartamentos. A necessidade, porém, em atender aos anseios dos moradores, para

aceitação deste novo modelo de moradia, fez com que os empreendedores imobiliários

alimentasse esta prática segregacionista através das circulações em separado.

Independente da classe social para a qual se está projetando, é comum encontrar-se

entradas diferenciadas como social e de serviço no pavimento térreo da edificação, mesmo

40 No fim do século XX, com o aumento do número de apartamentos projetados sem dependências de empregados, passou-se a tolerar, para esses apartamentos, uma só entrada, a social.

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que somente contenha, em seu programa, unidades residenciais sem dependências de

empregados.

Como essas diferenciações demandam um gasto maior em áreas comuns e elevam

conseqüentemente o custo da unidade residencial, avaliamos o peso histórico que tal

prática representa para o usuário comum, que a admite e requer.

e) Áreas de Lazer

Um fenômeno que começou a surgir, inicialmente nos edifícios de alto luxo, a

partir da década de 1970, foram os equipamentos de uso coletivo como áreas de lazer, com

play-grounds e piscinas para crianças, quadras de esporte e salas de ginástica.

Em trabalhos anteriores41, abordamos as questões do desenvolvimento dos jardins

residenciais desde as chácaras, sobrados e vilas até as edificações multifamiliares com os

pavimentos de uso comum, e também estudamos a evolução dos espaços de lazer nas

unidades residenciais, passando pelos jardins contemplativos, varandas e áreas comuns de

lazer das edificações multifamiliares.

fig. 43 - Pavimento de Uso Comum – Rua Paraíba, 20 – Praça da Bandeira. 41 As monografias “A Evolução dos Jardins Residenciais dos Palacetes aos Pavimentos de Uso Comum” (a) e “Evolução no Conceito de Espaços de Lazer nas Unidades Residenciais no Rio de Janeiro” (b), desenvolvidas para as disciplinas do PROARQ Arquitetura da Paisagem e Metodologias de Projeto, respectivamente.

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56

Observamos como o programa projetual do pavimento de uso comum se altera com

a localização do empreendimento em relação à cidade. Quando o edifício se situa na Zona

Norte do Rio de Janeiro, os itens como piscina, quadra de esportes polivalentes,

churrasqueiras, salões de festas, sauna e ducha são muito valorizados, enquanto, se

localizado na Zona Sul, os itens importantes são as raias de natação para exercícios

específicos, as salas de ginástica, o home theatre, o coffee shop e jardins, muitos jardins.

“Sem dúvida alguma, nos fins do século XX, esta área de lazer constitui-se em um grande

apelo para atrair possíveis moradores. Quando as plantas dos apartamentos pouco diferem

entre um empreendimento e outro, o diferencial se deposita em dois setores: a área de lazer

oferecida (o espaço, os equipamentos e os compartimentos) e o sistema de segurança

proposto (guaritas, equipamentos eletrônicos de vigia e comunicação.”42

fig. 44 - Pavimento de Uso Comum – Rua Almirante Saddock de Sá, 216 – Ipanema.

Segundo Ivan Wrobel, vice-presidente da Associação dos Empresários do Mercado

Imobiliário (Ademi), o aparecimento dos salões de festas e de estar localizados nas áreas

comuns do edifício ocorreu para suprir a falta de espaço no interior dos imóveis, onde já

não é mais possível organizar festinhas de aniversário, por exemplo. “A contrapartida da

redução da metragem foi o crescimento da área comum, com espaços de lazer, fitness e

área social. Hoje, itens decisivos para a compra.”43

Outra questão levantada foi a de que a implantação dos prédios no bairro da Barra da

Tijuca, em conseqüência do Plano Piloto da Baixada de Jacarepaguá, idealizado, seguindo

padrões modernistas de urbanização, viabilizou a expansão das áreas de lazer ampliando

seu programa. Diferentemente de unidades construídas em outros bairros da cidade em

que foram lançados os pavimentos de uso comum na projeção do pavimento-tipo,

impossibilitando a aeração e a ventilação perfeitas, acanhando os programas de utilização. 42 CHACON, Sonia. Monografia “A Evolução dos Jardins Residenciais dos Palacetes aos Pavimentos de Uso Comum.” Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, 2002. 43 Reportagem publicada no jornal O Globo, de 02/02/2003, caderno Morar Bem.

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“Mas a engenhosidade de empreendedores e arquitetos, cientes da necessidade criada em

torno da quase obrigatoriedade de se projetar áreas de lazer confortáveis e generosas como

ponto preponderante da viabilidade econômica de todo o empreendimento, encontraram

soluções de remembramento de lotes contíguos, criando muitas vezes quadras inteiras para

implantação dos seus edifícios em centro de terreno e com amplas áreas de jardins e lazer,

buscando seguir moldes de comportamento e de projeto ditados pelos condomínios da

Barra da Tijuca.”44

fig. 45 - Empreendimento situado à Rua da Passagem, 75 – Botafogo.

Como vimos, os profissionais do setor de vendas do mercado imobiliário defendem

que as áreas de lazer das edificações residenciais multifamiliares surgiram e fazem tanto

sucesso porque compensam as perdas de áreas do interior das unidades residenciais. Mas é

fato que esta solução fez com que fossem valorizados esses condomínios que oferecem,

junto com os apartamentos, verdadeiros clubes semi privados. Quando a dúvida confronta

o comprador de apartamentos com acomodações e dimensões semelhantes, dada à

uniformidade das plantas, este é um fator preponderante, nos fazendo concluir que lazer e

repouso serão elementos importantes da casa futura.

44 CHACON, Sonia. Monografia “Evolução no Conceito de Espaços de Lazer nas Unidades Residenciais no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, 2002.

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fig. 46 - Jardins do empreendimento situado à Avenida Abelardo Bueno, nº 2000 – Barra da Tijuca.

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1.3 - O Papel da Legislação

1.3.1 - Evolução Histórica

Até o século XVIII, as construções vernaculares obedeciam ao alinhamento das

ruas, chegando até os limites laterais dos lotes seguindo modelos existentes. A

uniformidade dos terrenos correspondia à uniformidade dos partidos arquitetônicos: as

casas eram construídas de modo uniforme. Paulo Santos nos fala que, em 1795, baixaram-

se as primeiras posturas estatuindo que todos os que construíssem casas novas ou

reformassem as existentes deveriam fazer um sobrado à frente, sob pena de seis mil réis e

demolição da obra.45

Datam também do século XVIII as primeiras Cartas Régias que fixavam as

dimensões e número de aberturas de janelas, altura dos pavimentos e alinhamento com as

edificações vizinhas.46

Estas primeiras manifestações de regulamentação buscavam elevar a categoria do

povoado do Rio de Janeiro de aldeia a vila. Os ordenamentos urbanísticos e posturas

municipais visavam a mudanças na postura social, para se assemelhar aos padrões

europeus. A chegada da Corte em 1808 abriu oportunidade de mudanças em várias frentes

de atividades. O intendente geral da Polícia, nomeado por D. João, uma espécie de Prefeito

da Cidade, criou uma regulamentação modernizadora para as casas de moradia e comércio,

incentivando a construção de sobrados e a multiplicação de chafarizes.

Além da Intendência da Polícia, outro órgão regulador era a Casa das Obras, nos

moldes de uma instituição similar em Lisboa na época, que possuía a função de vistoriar as

casas existentes observando as condições físicas, inclusive mandando demolir as que

ameaçassem ruir.47

As inventivas populares, porém, inovavam sempre, em busca de soluções de

conforto e adaptabilidade. Uma das primeiras modificações verificadas nas soluções de

implantação das moradias era o afastamento em relação aos limites dos lotes, recuando-se

dos limites laterais. Esta alteração foi tão importante, em face das tradições em vigor, que

45 SANTOS, Paulo F. “Quatro Séculos de Arquitetura na Cidade do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Ed. IAB, 1981:39. 46 REIS FILHO, Nestor Goulart. “ Quadro da Arquitetura no Brasil.” São Paulo: Ed. Perspectiva, 1973:24. 47 SANTOS, Paulo F. op. cit. :47.

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forçou a modificação das posturas municipais para permiti-las, uma vez que a orientação

era de construção até as divisas laterais dos lotes.48

Neste pequeno exemplo apresentado, datado de dois séculos, observa-se quão

estreita é a relação entre as normas que regem as edificações e os usuários destas que, em

busca de conforto e de melhores condições de vida, adaptam e modificam suas habitações.

Provando-se, pelo tempo e pelos resultados lícitos, que as modificações introduzidas são

procedentes, elas são absorvidas pelos regulamentos públicos oficiais, que neste momento

entendem seu papel de agente ordenador e não de cerceador da vontade do usuário.

Por outro lado, estreitando e interligando as relações usuário-legislador, há a

necessidade da presença de normas reguladoras a serem seguidas para a melhoria das

condições gerais de habitabilidade. Passa a ser, então, obrigação do poder público, detentor

obrigatório de uma visão mais ampla e de maior abrangência, a normatização e o

direcionamento de novas posturas construtivas.

O exemplo físico dessas colocações fica bastante claro por volta de 1850. Com a

difícil condição higiênica da cidade e com o alastramento de doenças contagiosas, surgem

os primeiros regulamentos de higiene social. Segundo Albernaz, as discussões sobre a

higiene da cidade estavam centradas na paisagem urbana. “A legislação municipal para as

construções reflete este pensamento.” Preocupam-se em melhorar seu exterior, limitando

alturas e vãos, porém as causas da insalubridade na cidade estavam estreitamente

vinculadas às condições de moradia da população, e era necessária uma intervenção no

espaço privado da habitação.49

Segundo Fonseca, em 1850, criou-se a Junta de Higiene Pública, destinada ao

controle da vida cotidiana. A partir daí, surgiu o conceito das habitações higiênicas, para

mudar o quadro existente até então, pois viriam substituir as habitações populares

consideradas inadequadas (cortiços e casebres), por edificações construídas com base em

legislação, que controlava materiais, técnicas construtivas e impunha normas de higiene,

destinadas a conter epidemias.50

48 REIS FILHO, Nestor Goulart. op. cit. :45. 49 ALBERNAZ, Maria Paula. “ As Vilas: Uma Contribuição à História da Arquitetura Popular no Rio de Janeiro através do estudo do espaço urbano.” Rio de Janeiro: UFRJ/IPUR, 1985:17. 50 FONSECA, Wagner Barros. “ Vilas Residenciais no Município do Rio de Janeiro: Propostas para o Desenvolvimento de Projetos.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2002:23.

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Os cortiços passaram a receber uma série de medidas voltadas à inibição de sua

construção e ao impedimento de reparações nos já existentes, para serem definitivamente

proibidos por força de lei em 1903.

FIG. 47

“Cortiço no Morro do Castelo. A aglomeração de moradores era um motivo recorrente de críticas.” (35)

Em contrapartida, o Estado voltou a intervir, promulgando um decreto que isentava

de impostos as indústrias que construíssem “casas higiênicas” para seus operários,

subsidiando, assim, a reprodução da força de trabalho. Em decorrência disto, houve a

isenção de pagamento da décima urbana por dez anos ao construtor Américo de Castro,

como apoio à construção das habitações higiênicas, que deveriam ter latrinas, encanamento

de água potável e ventilação em todos os cômodos.51

Muitas fábricas, prevalecendo-se destas e de outras medidas que concediam

diversos favores, construíram várias vilas de operários, desejosas em manter uma força de

trabalho cativa e disciplinada.

Representava a forma que o poder público encontrou para contornar a grande crise

habitacional advinda do primeiro surto de industrialização e fixar padrões mais higiênicos

para o tipo de habitação que deveria substituir os cortiços.52

Segundo Lemos, essas diretrizes de construção como representavam acréscimo no

custo da obra, precisavam ser impostas, com força de lei reguladora, para serem aceitas,

direcionando as construções no sentido da salubridade e de bem morar. A inclusão na

cidade do tipo de moradia unifamiliar sobre porão alto, deu-se em função de norma

obrigatória, na virada do século XX, que exigia que os assoalhos ficassem afastados do

chão evitando a umidade proveniente do terreno.53

No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro sofreu uma grande

transformação urbana: a Reforma do Prefeito Pereira Passos, cujas metas eram o

embelezamento da cidade, as obras de saneamento, a melhoria das condições sanitárias e,

conseqüentemente, da saúde pública. De início, reorganizou a Comissão da Carta

51 FONSECA, Wagner Barros. Op. cit.: 24. 52 XAVIER, Hélia Nacif. “Transformações Recentes de um Bairro Residencial – Laranjeiras: O Papel da Legislação Urbanística.” Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 1981:87. 53 LEMOS, Carlos. “A Casa Brasileira.” São Paulo: Contexto, 1996:55.

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Cadastral, que deveria fornecer apoio às obras que pretendia realizar e instituiu o recuo

progressivo das edificações com a criação e numeração dos planos de alinhamento das ruas

da cidade.54

FIG. 48

Abertura da Avenida Central – Foto de 1920. (36)

A reforma urbana empreendida por Pereira Passos representou o primeiro exemplo,

na cidade do Rio de Janeiro, de intervenção em grande escala sobre o espaço urbano.

Abriram-se ruas de dezessete metros de largura (Rua Mem de Sá); foi demolido o Morro

do Senado; foi determinado o uso de calçamento asfáltico em ruas de vários bairros; foi

construída a Avenida Beira-Mar com 5.200 metros de extensão, e foi destruído grande

número de cortiços para abertura da Avenida Central, de acordo com Maurício Abreu.

Representou para o Rio de Janeiro a superação efetiva da forma e das contradições

coloniais-escravistas e sua transformação em espaço adequado à produção capitalista. E o

papel do Estado foi fundamental nas modificações urbanas e no incentivo à reprodução de

diversas unidades do capital.55

FIG. 49

Avenida Beira-Mar no Flamengo – Postal de 1925 (37)

Conforme descrito por Tângari, “a legislação urbanística e edilícia é um dos

principais instrumentos para modificações no desenho da paisagem, a médio e longo prazo,

interferindo com a utilização pública e privada do espaço, com as densidades construtivas,

com os volumes edificados, com a incidência de espaços livres e com a valorização de

elementos naturais, dentre esses, a vegetação urbana.”56

O poder público regulador das normas interventoras detém, em suas deliberações, o

sentido vetorial da direção física no espaço a modificar, a velocidade das obras e a

profundidade das intervenções urbanas que, por sua vez, direcionam o capital representado

pelo investimento privado e a criação de novos espaços de morar. Estes espaços abrigarão

famílias que, em consequência, desenvolverão hábitos e costumes de acordo com toda a

cadeia de intervenções e mudanças descritas.

54 ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997:60. 55ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997: 67. 56 TÂNGARI, Vera. “Um outro lado do Rio.” São Paulo: FAU/USP, 1999:346.

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Por outro lado, as alterações familiares ocorridas ao longo do tempo, em particular

no século XX, ditaram necessidades espaciais novas, rapidamente interpretadas pelo

dinamismo do setor empreendedor imobiliário privado, através de empreendimentos para

atender, tanto em soluções arquitetônicas quanto em localização espacial dentro da cidade,

aos anseios de cada segmento da sociedade.

Segundo Abreu, “a intervenção direta do Estado sobre o urbano levou à

transferência acelerada da forma da cidade, tanto em termos da aparência (morfologia

urbana) como de conteúdo (separação de usos e de classes sociais no espaço)”. De fato, o

Estado veio acelerar o processo de estratificação espacial, que já era característico da

cidade desde o século XIX, privilegiando os bairros burgueses com dotação de seus

recursos.57

Como conseqüência desta intervenção no espaço urbano, foram realizados diversos

planos urbanísticos para a cidade. Foi convidado, em 1928, pelo Governo do Distrito

Federal, através do Prefeito Prado Júnior, o francês Alfred Agache58 para elaborar um

plano para a capital, com finalidade de melhorar e controlar o plano de regulamentação das

atividades da construção civil. Foi concluído em 1930, e pode ser considerado o primeiro

plano diretor da cidade.59

Agache, de fato, foi o “primeiro urbanista a introduzir no Brasil as discussões

relativas à cidade industrial moderna, ao elaborar um plano abrangente para o Rio de

Janeiro, abordando problemas emergentes como o transporte de massa (metrô) e a

navegação aérea, o processo de favelamento e a habitação operária, o saneamento e o

abastecimento d’água, áreas verdes, zoneamento de usos, cidades satélites e outros

aspectos.” Trabalhou a partir de bases técnicas (aerofotogrametria) considerando o

problema do crescimento demográfico e da expansão urbana, e preocupou-se com os

desdobramentos de seu Plano através da legislação urbanístico-edilícia codificada.60

57 ABREU, Maurício de A. op. cit. :73. 58 Alfred Hubert Donat Agache nasceu em Valois, França, em 1875. Foi catedrático da História da Arte no College Libre des Sciences Sociales e professor da École des Beaux-Arts de Paris. Especializou-se nos problemas de habitação e urbanismo e publicou diversos livros entre 1903 e 1923, associados ao movimento das cites-jardins e à reconstrução da Europa após a Primeira Guerra. (CONDE, L. Paulo & ALMADA, Mauro. “In Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Guia da Arquitetura ART Deco no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000:17. 59 Plano diretor é aquele que pressupõe o conhecimento completo do objeto em estudo e uma implementação por parte dos órgãos executantes. Supõe que o objeto seja reduzido a leis e teorias para que alcancem seus objetivos e precisa constar de zoneamento (divisão do espaço em zonas de usos específicos). “Ignorar o social e o econômico, atendo-se ao físico e deixando-lhe a tarefa de resolver os conflitos é uma constante dos planos diretores.” (REZENDE, Vera Lucia. “Quatro Planos para a Cidade do Rio de Janeiro, a Questão Ideológica.” Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 1980:29. 60 CONDE, L. Paulo & ALMADA, Mauro. “In Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Guia da Arquitetura do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000:18.

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O Plano de Agache pretendia transformar o Rio de Janeiro (ou pelo menos o centro

e a zona sul) numa cidade monumental, exigindo intervenções de vulto, que excediam as

possibilidades financeiras do Município. Mapeou a cidade segundo critérios funcionais e

de estratificação social do espaço, destinando os bairros oceânicos da zona sul para as

residências das classes abastadas (ainda esparsamente ocupados), e os bairros mais antigos

da zona sul (Catete, Laranjeiras, Flamengo e Botafogo) junto com Andaraí, Vila Isabel,

Aldeia Campista e Rio Comprido para as residências da classe média, reservando São

Cristóvão e os subúrbios para a população operária.

FIG. 50

Bairro de Botafogo em 1920 (ao alto Cemitério São João Batista) (38)

Pregava a erradicação sumária das favelas existentes nas chamadas áreas nobres da

cidade, propondo incentivo para habitações baratas nos subúrbios com um mínimo de

infra-estrutura básica.

A Revolução de 1930 arquivou o Plano Agache, sobretudo por se tratar de uma

iniciativa da velha ordem deposta, mas as contradições urbanas por ele levantadas do

conjunto acabaram absorvidas pelas Administrações posteriores e, em parte, foram

concretizadas. Algumas quadras do centro recordam os sonhos de Agache, que tentou fazer

do Rio de Janeiro a capital ”haussmaniana” do continente.

A intervenção agachiana para a cidade permaneceu presente na concepção

urbanístico-edilícia carioca até 1967, influenciando as alterações no Código de Obras

Municipal. Até 1925 a legislação era feita para uma cidade de, basicamente, dois

pavimentos, com decretos de regência desarticulada. Em 1925, a legislação estabeleceu

várias medidas urbanísticas para a transição do período da “Belle Époque” para o período

Moderno (conceito de Zona Central e a extinção das “avenidas”, por exemplo.). Entre 1935

e 1937 foram lançados decretos que vigoraram até 1967 e estabeleceram o controle de

gabaritos de altura para as edificações a partir do desenho do conjunto edificado. Nesse

período, popularizam-se os PAs (projetos aprovados, de loteamento, alinhamento e/ou

urbanização) que definem as características edilícias de quadras e ruas isoladamente.61

61 CONDE, L. Paulo & ALMADA, Mauro. Op. cit. :18/19.

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FIG. 51

Projeto de Alinhamento da Rua Pompeu Loureiro – PA 6879 (parte) (39)

Este período inaugurou o conjunto de regulamentações urbanísticas, beneficiando o

uso residencial. Várias obras viárias foram executadas por parte do poder público, como

túneis, viadutos e vias expressas de circulação, com o objetivo de facilitar a locomoção de

automóveis, possibilitando a expansão horizontal da mancha urbana. Reforçou a

compartimentação do uso do espaço da cidade pelas diferentes classes sociais.

Constava também, na legislação de 1937, a impossibilidade de expansão das

fábricas situadas em zonas residenciais, definindo-se pela primeira vez uma zona industrial

na cidade. Ocupando terrenos agora extremamente valorizados, as fábricas optaram por

transferir-se para outros locais, loteando seus terrenos e dando origem a novos bairros,

como “Jardim Laranjeiras”, por exemplo, na área da atual Rua General Glicério, o “Jardim

Corcovado” nas atuais ruas Benjamim Batista, Nina Rodrigues, Abade Ramos, Conde de

Afonso Celso, dentre outras e o Condomínio Parque Jardim Botânico na Rua Pacheco

Leão.62

FIG. 52

“A fábrica da Companhia de Fiação de Tecidos Corcovado no Jardim Botânico,

nos fins do século XIX, que viria a encerrar suas atividades por volta de 1940,

transformando sua propriedade em grande loteamento residencial.” (40)

A partir deste regulamento as atenções se voltaram para o novo tipo de habitação: o

edifício de apartamentos. E a legislação deixava claro nas suas disposições a intenção de

favorecer o adensamento das áreas residenciais. “A série de exceções abertas ao gabarito

máximo fixado, através de arranjos entre largura das ruas, os afastamentos das divisas dos

terrenos e o escalonamento dos últimos pisos, permitia que as edificações subissem muito

além dos seis pavimentos permitidos.” A legislação urbana correspondeu a um dos

instrumentos que auxiliou o intenso processo de verticalização da zona sul, principalmente

ao longo do litoral – Glória, Flamengo, Botafogo e Copacabana. “Sua elaboração já estava

62 ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997:99.

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condicionada à expectativa de grupos econômicos interessados na implementação da

ocupação daquela parte da cidade.”63

FIG. 53

“O processo de verticalização de Copacabana já era intenso em 1941, como demonstra esta foto da área das Avenidas

Princesa Isabel e Prado Júnior.” (41)

Na década de 1940, a indústria da construção civil se desenvolveu em demasia,

propiciada pelo “moderno estilo de vida” que se constituiu em residir junto à praia. Os

condicionantes físicos da zona sul, limitada entre os morros e a faixa litorânea,

funcionavam como limitadores da oferta de terrenos, que se esgotavam rapidamente,

valorizando sobremaneira o solo desta área. Era imperativo o máximo aproveitamento da

região para a obtenção do lucro esperado pelas empresas investidoras, que tiveram um

papel de destaque na condução do crescimento urbano da cidade. Em função disto, o

direcionamento da aplicação financeira por parte do Estado, em obras de infra-estrutura,

foi sendo canalizado para aquela zona. Como descreve Hélia Nacif, “a associação destes

fatores reforçou a compartimentação do uso do espaço da cidade pelas diferentes classes

sociais, intensificando-se os deslocamentos da população, que procurava local de moradia

em áreas distantes: os ricos fixavam residência na orla litorânea, que foi se estendendo até

chegar na Barra da Tijuca, e os pobres eram expulsos das áreas da zona sul ou impedidos

de residirem nela, dirigindo-se para os subúrbios e municípios periféricos da região

metropolitana do Rio de Janeiro.”64

O aumento do número de automóveis particulares era refletido nas regulamentações

urbanísticas e através das exigências de previsão de áreas para a guarda dos veículos nos

edifícios. Com a introdução do pavimento em pilotis resolviam-se, em parte, os problemas

de estacionamento e de recreação infantil, porém nos fins da década de 1950, com o

aumento dos carros particulares, foi decretada a obrigatoriedade de previsão de garagem no

subsolo e em parte do pilotis.

Em 1953, iniciaram-se os estudos para implementação do Metrô de modo a facilitar

os deslocamentos dentro da cidade. Os sérios problemas urbanos produzidos pelo

crescimento da população e pelo agravamento das contradições sócioeconômicas levaram

63 XAVIER, Hélia Nacif. “ Transformações Recentes de um Bairro Residencial – Laranjeiras: O Papel da Legislação Urbanística.” Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 1981:91/92. 64 XAVIER, Hélia Nacif. Op. cit. :105.

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as autoridades a convidar o urbanista grego Constantinos Doxiadis, em 1963, para realizar

um plano diretor para o período 1965-2000, um projeto urbano que integrasse e

desenvolvesse a zona norte.

Era a época da transferência do Distrito Federal para Brasília, da criação do Estado

da Guanabara e do governo de Carlos Lacerda, que politicamente precisava executar um

governo confiável e de eficiência técnica para atrair o apoio das classes empresariais.

Segundo Rezende, o “Plano Doxiadis é um plano altamente técnico. Trata-se de

preparar a cidade do Rio de Janeiro até o ano 2000, segundo padrões estrangeiros. A

racionalidade está presente no plano, diagnosticando crises, insuficiência e propondo

soluções”. Foram colhidos grande número de dados e informações que, em consequência,

transformaram-se no mais completo volume de dados sob a forma de diagnóstico e

projeções sobre a cidade.65

Dentro das decisões práticas, o Plano Doxiadis sugeria a ampliação do sistema

viário, a criação de serviços sociais em bairros pobres e a intervenção nas favelas,

condenando bairros próximos ao Centro, como Lapa e Catumbi, habitados por população

pobre, e separando ainda mais classes sociais no espaço urbano. Dentro do quadro político

autoritário (após o golpe militar de 1964), estas ações foram intensificadas com a remoção

drástica de favelas das áreas mais valorizadas, apoiando um processo intensivo de

especulação imobiliária na zona sul.

O Plano intensificou o problema da estratificação social, privilegiando as áreas

centrais e deliberando sobre a remoção de favelas, no que foi atendido pelo Estado. Dentre

as obras destacam-se: o alargamento da Praia de Copacabana; a construção do elevado

Paulo de Frontin e da ponte Rio Niterói; a continuação do viaduto da Perimetral; a

implantação da via expressa entre o túnel Santa Bárbara até a Avenida Rodrigues Alves

pelo bairro do Catumbi; a implementação do interceptor oceânico da zona sul e do Metrô.

Pode-se observar que foi priorizada a ampliação das vias de circulação em detrimento do

setor de habitação. Segundo cita Gobbo, “o Plano Doxiadis, ou Plano da Cidade Nova, deu

65 REZENDE, Vera Lucia. “Quatro Planos para a Cidade do Rio de Janeiro, a Questão Ideológica.” Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 1980:66.

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início à expansão da cidade em direção à Barra da Tijuca e à Jacarepaguá, propondo

também a criação de uma zona industrial em Santa Cruz.” 66

FIG. 54

“Antigo bairro residencial da cidade, o Catumbi foi praticamente reduzido

a um grande viaduto durante o regime militar.” (42)

Em 1967, a legislação definia as áreas e os usos incentivados para cada uma delas,

com várias medidas para incentivar as construções afastadas das divisas do terreno,

inspiradas nos preceitos modernistas.

A partir desta data, a presença do Estado se tornou constante e vinculada de forma

marcante à atividade urbanística e de construções civis.

Na década de 1970, a área de expansão da orla carioca, a Barra da Tijuca, ganhou

acesso com a construção de um sofisticado sistema de pistas de circulação, a auto-estrada

Lagoa-Barra, unindo-a à zona sul. Foi alvo também de um estudo urbanístico elaborado

por Lucio Costa, que manteve perceptível a intenção de evitar a ocupação segundo o

modelo Copacabana. Este estudo manteve baixos índices de ocupação do solo e limitou o

número máximo de unidades a ser construído por lote. A área das torres, com gabarito das

edificações fixado em vinte e dois pavimentos, ganhou um Projeto de Alinhamento (PA

39697) que burlou as posturas do estudo inicial, aumentando as taxas e o número de

edificações na área abrangente, quilômetro 01 da Avenida das Américas. Conforme

descrevem Veríssimo e Bittar,“infelizmente, a especulação imobiliária logrou êxito no

aumento das taxas de ocupação da região visando à obtenção de lucros cada vez maiores,

restando os traçados das ruas e avenidas, os prédios afastados das divisas dos terrenos, que

ainda permitem a penetração da brisa do mar por todo o bairro.”67

FIG. 55

Quilômetro 01 da Avenida das Américas (43)

Em 1976, o zoneamento urbano de todo o Município do Rio de Janeiro foi

regulamentado pelo Decreto 322, legislação que modificou com bastante profundidade os 66 GOBBO, Fabiana. “Tipologia Arquitetônica do Edifício de Apartamentos: Análise da Evolução, Tendências e Perspectivas na Cidade do Rio de Janeiro no período de 1990 a 2001.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2001:13. 67 VERÍSSIMO, Francisco, BITTAR, William & ALVAREZ, José. “Vida Urbana – A Evolução do Cotidiano da Cidade Brasileira.” Rio de Janeiro: Ediouro, 2001:42.

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69

decretos anteriores. Foram criadas novas áreas de desenvolvimento e estabelecidas zonas

comerciais, industriais e residenciais identificando entre si as separações de cada área.

Regulamentou-se a construção civil com a criação do parâmetro da Área Total Edificada

(ATE) e de dispositivos para contenção dos gabaritos de altura. Determinou-se a

construção de áreas de lazer e apartamento próprio para zelador em edificações com mais

de oito unidades residenciais.

Como a legislação regulava de maneira uniforme todo o Município do Rio de

Janeiro, tornou-se necessária a criação de Planos de Estruturação Urbana que se

propunham a revisar as normas gerais de parcelamento da terra, uso e ocupação do solo,

levando em conta as peculiaridades de cada bairro.

O surgimento dos PEUs representou um avanço, pois, ao legislar observando cada

bairro com sua particularidade, aumentaram-se as chances de correção de desvios,

adensamentos ou inibições, com relação aos usos, ocupações e volumes de cada área em

particular. Ao invés de analisar a cidade de forma homogênea, os Planos de Estruturação

Urbana observam a vocação latente de cada bairro e as divisões sociais implantadas ao

longo do tempo. Infelizmente, nem todos os bairros da cidade foram agraciados com esses

Planos.

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70

1.3.2) Quadro Síntese da Legislação

Como nos descreve Hélia Nacif, apesar das primeiras posturas municipais datarem

de 1832, período que antecedeu à introdução do concreto armado na construção civil, elas

incluíam apenas alguns dispositivos sobre as construções em geral, denotando um papel

secundário que desempenhavam na condução do processo de ocupação urbana.68

As primeiras intervenções do poder público datam do século XIX, ano de 1875, e

não eram direcionadas à ordenação urbana, e sim à ordenação edilícia, sem regras ainda,

mas com induções a partir da isenção de impostos.

No ano de 1882, as edificações foram regulamentadas através do Decreto nº 3151

de 09/12/1882, que determinou que as casas deveriam ter latrinas, fossas, encanamentos de

água, ventilação em todos os cômodos e serem elevadas do solo. Várias vilas foram

construídas na cidade se prevalecendo deste decreto, que perdurou até 1911. Em 1889, o

engenheiro Arthur Sauer criou a Companhia de Saneamento do Rio de Janeiro, construindo

várias vilas a partir das vantagens concedidas pelo Decreto nº 9859 datado de 08/12/1888.

Este decreto, segundo Abreu, além de isentar o pagamento de impostos sobre importação

de materiais de construção, também fornecia concessão de terrenos às firmas que se

propusessem a edificar casas populares.69

O aumento da população evidenciou a necessidade de reformas urgentes de

urbanização e arruamento. Foi elaborado pelo urbanista Benevuto Verna, em 1889, o

documento que propunha arruamentos, aberturas de novas avenidas no centro da cidade e,

de forma sucinta, o controle dos gabaritos das edificações.70

Conforme cita Gobbo, também tiveram, em seus textos, incentivos financeiros para

as fábricas que construíssem casas para seus operários, os decretos nº 32 de 19/03/1893 e

nº 273 de 1896, sem legislar em relação às disposições internas das residências e a sua

implantação no lote.71 O decreto 244 de 20/04/1896 regulou a construção de casa para

proletários nos seguintes bairros: Gávea, São Cristóvão, Engenho Velho e Engenho Novo,

68 XAVIER,Hélia Nacif. “Transformações recentes de um Bairro Residencial – Laranjeiras: O Papel da Legislação Urbanística.” Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 1981:87. 69 ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997:57. 70 GOBBO, Fabiana G. R. “Tipologia Arquitetônica do Edifício de Apartamentos: Análise da Evolução, Tendências e Perspectivas na Cidade do Rio de Janeiro no período de 1990 a 2001.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2001:8. 71 ALBERNAZ, Maria Paula. “ As Vilas: Uma Contribuição à História da Arquitetura Popular no Rio de Janeiro através do Estudo de Espaço Urbano.” Rio de Janeiro: UFRJ/IPUR, 1985:58.

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passando o poder público a regulamentar a construção desta tipologia e sendo esta a

primeira vez que as moradias das classes trabalhadoras receberam uma legislação

específica, segundo Fonseca.72

Com o decreto nº 762 de 01/06/1900, surgiu pela primeira vez o termo “avenida”,

que passou a representar uma alternativa de investimento seguro e de boa rentabilidade, em

função da ocupação integral dos terrenos, contribuindo para o impulso dado à indústria da

construção civil e ao setor imobiliário.73

Em 10/02/1903, através do decreto nº 391, ficou expressamente proibida a

construção de novos cortiços na cidade, além do impedimento de consertos ou reparações

dos já existentes.74

Entre 1903 e 1906, a cidade do Rio de Janeiro presenciou a reforma urbanística

comandada pelo Prefeito Pereira Passos, e foi necessária uma série de medidas, de normas

e decretos que direcionaram o processo de demolições imprescindíveis aos arruamentos.75

Em 1918, constituiu-se o decreto nº 1185, que definia um zoneamento geral para a

cidade e cuja preocupação maior era a tributação municipal e não propriamente o

ordenamento das funções no espaço.76

A primeira legislação que regulamentava de maneira mais incisiva a construção

civil foi instituída em 19/01/1925, através do Decreto nº 2087. Este decreto legislava sobre

o edifício de apartamentos. Introduziu o conceito de zona central e fixou uma correlação

entre a largura da rua e a altura das edificações. Em logradouros com calçamento ou com

linhas de bonde foi estabelecido que a edificação devia possuir duas vezes a largura da rua,

enquanto nos logradouros situados na parte comercial da cidade esta relação podia chegar a

seis vezes.77 A permissividade na verticalização das edificações, encontrada no decreto

2087, já refletia as pressões sofridas dos investidores interessados no uso mais intenso das

áreas urbanas.78

72 FONSECA, Wagner Barros. “ Vilas Residenciais no Município do Rio de Janeiro: Propostas para o Desenvolvimento de Projetos.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2002:28. 73 FONSECA, Wagner Barros. Op. cit. :29. 74 ALBERNAZ, Maria Paula. Op. cit.:51. 75 GOBBO, Fabiana G. R. op. cit. :8. 76 XAVIER,Hélia Nacif. “Transformações recentes de um Bairro Residencial – Laranjeiras: O Papel da Legislação Urbanística.” Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 1981:87. 77 GOBBO, Fabiana G. R. “Tipologia Arquitetônica do Edifício de Apartamentos: Análise da Evolução, Tendências e Perspectivas na Cidade do Rio de Janeiro no período de 1990 a 2001.” Rio de Janeiro: PROARQ/UFRJ, 2001:9/10. 78 XAVIER,Hélia Nacif. Op. cit. :90.

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Este movimento para definição de zoneamento urbano acabou por ocasionar o

processo que desembocou na vinda de Alfred Agache ao Brasil, em 1928, para elaboração

do plano urbanístico, já descrito e regulamentado pela mensagem nº 617 de 30/08/1927.79

Em 1935, pelo Decreto 5595 de 10/07/1935, o zoneamento da cidade passou a

compreender três zonas comerciais, uma zona industrial, uma zona portuária, três zonas

residenciais e zona agrícola e rural. Instituiu galerias de passeio cobertas e pátios internos

para aeração coletiva, sugeridos no Plano Agache. Não foi suficiente para acompanhar a

sucessão de modificações pelas quais vinha passando a cidade, principalmente no que se

refere às áreas residenciais.80

Deu origem, então, ao Decreto 6000 de 01/07/1937, que permaneceu em vigor até

1967. Segundo Xavier, este decreto “encerrava uma série de mecanismos mais complexos

que os seus anteriores em termos de abrangência das questões tratadas e das possibilidades

alternativas que criava à regra geral fixada”. Este decreto favorecia o adensamento das

zonas residenciais e proibia a construção de vilas em praticamente toda a cidade. Foi um

instrumento propulsor da ocupação na direção sul da cidade do Rio de Janeiro.81

Em função do grande número de decretos, de modificações do texto primitivo do

decreto 6000, que surgiram para adequação ao tempo em vigor, uma vez que as

necessidades se alteraram, foi sancionada a Lei de Desenvolvimento Urbano – Lei nº 1574

de 11/12/1967. Apesar de bastante sucinta, esta lei estabeleceu preceitos básicos relativos à

matéria urbanística. Trazia em seu texto um aspecto mais proibitivo às práticas

construtivas existentes do que regulamentava situações novas. Basicamente respeitava as

divisões sazonais estabelecidas no decreto 6000/37, mas ao introduzir o Quadro Geral de

Uso da Terra, separando em “tolerado”, “inadequado” e “adequado” os usos permitidos, e

deixando várias funções sem fixação de parâmetros, abriu condições para novos decretos

de modificações. Em todos os capítulos, a Lei 1574 deu ao Governo do Estado o poder

para intervenções em todos os setores: licenciamento de obras, abertura de novas ruas,

arborização, parcelamento de terras, demolições de edificações e movimentação de terras.

Para a construção de edificações residenciais, unifamiliar ou multifamiliar,

passaram a ser necessários dois tipos de consulta: adequação ao local, implantação e

79 ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997:86. 80 XAVIER,Hélia Nacif. Op. cit. : 90. 81 XAVIER,Hélia Nacif. Op. cit. : 91.

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volume, regida pelos Regulamentos de Zoneamento; adequação às posturas de divisões

internas quanto a aeração dos compartimentos, metragens e larguras mínimas exigidas,

equipamentos mecânicos e escape, parâmetros regidos pelos Regulamentos de

Construções.

Em função da complexidade das Normas de Edificações, após a Lei 1574/67, com a

multiplicação de decretos e leis regendo todas as questões abrangentes à implantação das

construções na cidade, passamos, neste estudo, a enfocar separadamente as normas pelos

seus aspectos urbanísticos e edilícios.

Normas Urbanísticas

Com a Lei nº 1574/67, o poder público captou para si todas as iniciativas

concernentes ao direcionamento urbanístico da cidade, desde licenciamentos de

construções até abertura de ruas, parcelamento de terra e modificações urbanas

consideráveis.

Na rasteira dos estudos executados pelo escritório Doxiadis e Associados, o

governo do Estado lançou, em 20/04/1970, o Decreto “E” nº 3800, que aprovou os

regulamentos complementares à Lei do Desenvolvimento Urbano. Este decreto é bastante

completo, traz em seu escopo o Regulamento de Zoneamento, o Regulamento de

Parcelamento da Terra, o Regulamento de Construções e Edificações, o Regulamento de

Assentamento de Máquinas, Motores e Equipamentos e o Regulamento de Licenciamento

e Fiscalizações.

Apesar deste decreto ter tido a inserção de vários outros aspectos que o

modificaram em parte, a espinha dorsal foi mantida e é consultado até hoje, com exceção

ao Regulamento de Zoneamento que foi inteiramente substituído pelo Decreto 322 de

03/03/1976. Com relação ao Regulamento de Construções e Edificações, que trata das

disposições edilícias, falaremos adiante no subcapítulo respectivo.

O Decreto nº 322, de 03/03/1976, regulamentou todo o zoneamento da cidade do

Rio de Janeiro, subdividindo-a em área central, industrial, portuária, indústria e comércio,

turística, residencial e zonas especiais. Legislou sobre lotes, usos e atividades e condições

das edificações com gabarito de altura, ocupação no solo, afastamentos, pavimentos de uso

comum e de cobertura. Regulamentou grupamentos de edificações, estacionamento e

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guarda de veículos e áreas coletivas. No aspecto geral, os gabaritos fixados foram de cinco

pavimentos para as edificações coladas às divisas, e para as afastadas das divisas

estabelecia apenas os afastamentos pertinentes para cada pavimento, limitando em dezoito

pavimentos. As taxas de ocupação no solo variavam de 50% a 70% nas edificações

residenciais.82

Sob o aspecto urbanístico, o decreto 322/76 previu e englobou praticamente todos

os exemplos de assentamento das edificações no lote, tornando-se consulta obrigatória para

arquitetos e engenheiros construtores.

A cidade do Rio de Janeiro, porém, apresenta forte individualização de seus bairros.

Para atender a essa diferenciação, os Planos de Estruturação Urbana (PEUs) foram

criados obedecendo às divisões das áreas de planejamento (AP-1 a AP-5) instituídas pelo

Plano Urbanístico Básico do Rio de Janeiro (PUB-Rio), através do Decreto 1269 de

27/10/1977.

O primeiro PEU (o de nº 001) foi o que regulamentou o bairro da Urca, sob o nº

1446 de 02/03/1978. Por ser um bairro tradicionalmente residencial e quase peninsular,

possuindo uma via de acesso para entrada e outra para a saída, as posturas adotadas foram

de restrição à construção, designando os lotes menores de 360,00m² para uso unifamiliar e

limitando o número de unidades em residências multifamiliares em função da área do lote

(uma unidade para cada cem ou cinqüenta metros quadrados de terreno).83

O Decreto nº 2108 de 14/03/1979 estabelece as condições das edificações situadas

na Ilha do Governador. Também basicamente residencial e com entradas restritas, a Ilha

recebeu um regulamento que limita as edificações em três pavimentos e o número de

unidades em uma para cada cem metros quadrados de terreno, lembrando as deliberações

para o bairro da Urca, sendo mais restritiva em função da topografia acidentada.84

O Decreto nº 2418 de 05/12/1979 estabeleceu as posturas municipais para o bairro

de Jacarepaguá, deliberando, para as construções coladas às divisas, o gabarito de altura

82 PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 5ª ed.:249. 83 PREFEITURA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO. Op. cit. :501. 84 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. vol. I:529.

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em três pavimentos, para as construções em centro de terreno, até oito pavimentos, em

ambos os casos com taxa de ocupação no solo de 50% do lote.85

Observa-se nestes decretos uma ação mais restritiva às novas construções em

relação ao apresentado pelo Decreto 322/76.

Parte do bairro de Laranjeiras foi regulamentado pelo Decreto nº 2638 de

28/05/1980, que liberou a altura das edificações apenas no eixo principal da Rua das

Laranjeiras, para até dezoito pavimentos nas edificações em centro de terreno.86

O Decreto 2735 de 20/08/1980 legislou sobre o bairro da Gávea, limitando o

gabarito de altura em até sete pavimentos afastados das divisas. Para a Rua Manuel

Ferreira fixa o gabarito em onze pavimentos em centro de terreno. Esta rua, de pequenas

dimensões, encontra-se totalmente edificada já dentro destes parâmetros.87

A Barra da Tijuca, no ano de 1981, já era regida por dezenove decretos diferentes, o

que ocasionou a criação do decreto 3046 em 27/04/1981, dividindo a zona especial nº 5

(ZE-5) em quarenta e seis subzonas com suas características e vocações respeitadas. Tendo

zonas residenciais de dois pavimentos e áreas de torres de vinte e dois pavimentos, este

decreto se baseou no Plano Piloto criado por Lúcio Costa, dentro da concepção modernista

de edificações em centro de terreno, em meio a jardins e áreas de lazer, com pavimentos de

garagens previstos no subsolo.88

Em 1983, o Prefeito Jamil Haddad sancionou a Lei 434 de 27/07/1983

regulamentando o bairro de Botafogo, limitando o gabarito de altura em cinco pavimentos

para as edificações coladas às divisas e onze pavimentos para aquelas em centro de terreno,

na maioria de suas ruas. Esta lei estabeleceu importantes limites em relação ao uso do solo,

pois fixou gabarito de três pavimentos para as edificações não-residenciais, proíbiu as

atividades médicas e veterinárias com internação e as atividades de ensino particular, nas

ruas principais do bairro. Esta medida visou a reestabelecer o caráter primordialmente

residencial de Botafogo e a uma tentativa de melhoria no fluxo viário nos eixos de

circulação do bairro. Ao fixar os limites para o número de unidades residenciais (uma para

cada trinta metros quadrados de área do lote) e manter os cálculos para área total edificada,

85 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :547. 86 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO . op. cit. :567. 87 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO . op. cit. :572. 88 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO . op. cit. :586.

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houve um natural aumento das áreas internas dos apartamentos projetados a partir desta

data, induzindo a construção de unidades maiores e mais confortáveis e consequentemente

mais caras, voltando o bairro a se elitizar.89

Os bairros de São Cristóvão, Mangueira e Benfica foram regulamentados através do

Decreto nº 5840 de 21/05/1986, que permitiu, de novo, a construção de vilas residenciais,

desde que obedecendo aos novos padrões de implantação e ocupação no solo (50%).

Estabeleceu também gabaritos de altura para todo o bairro, sendo cinco pavimentos o

deliberado para a maioria das ruas e dez pavimentos para os terrenos voltados para a

Avenida Brasil e Avenida Francisco Bicalho, desde que as edificações estejam localizadas

em centro de terreno.90

O bairro do Leblon teve sua regulamentação através do Decreto nº 6115 de

11/09/1986, que endossa sua vocação residencial. Ao estabelecer gabarito de altura não

como números de pavimentos, mas como altura edificada, induziu os construtores a

buscarem pés-direitos mais baixos na tentativa de se conseguir um maior número de

pavimentos e, conseqüentemente, diluir o custo elevado do valor do terreno nesta área

muito procurada pela classe social de renda alta. Fixou a altura das edificações, nas ruas

transversais aos eixos viários, em vinte e cinco metros, permitindo atualmente sete

pavimentos residenciais sobre o pavimento térreo, deslocando para o subsolo o

estacionamento de veículos e a casa de máquinas dos elevadores, anteriormente localizada

no pavimento de cobertura. Nos eixos viários as alturas regulam entre trinta e quatro e

quarenta metros.91

Em 05/02/1987, o decreto 6462 foi sancionado para regulamentar as construções

no bairro da Tijuca. Trouxe em seu escopo a delimitação de altura para cada rua

individualmente, e a novidade de delimitar o número de pavimentos e também a altura

máxima a atingir, tentando evitar a situação observada no bairro do Leblon. Os gabaritos

de altura, porém, são bastante generosos se comparados com os demais PEUs, e estão entre

vinte e cinco e quarenta metros de altura na maioria das ruas, endossando sua característica

residencial.92

89 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. vol. II: 28. 90 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. voI.II: 84. 91 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :102. 92 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :150.

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O bairro do Grajaú teve sua regulamentação através do Decreto nº 6996 de

30/09/1987, que introduziu novas siglas para as divisões urbanas: ZRU (zona residencial

unifamiliar), ZRM (zona residencial multifamiliar) e ZC (zona comercial) e cálculo

diferenciado para a área total edificada. O gabarito de alturas, demarcado rua a rua, foi

bastante restritivo para este bairro eminentemente residencial, fixando em três pavimentos,

para edificações coladas às divisas, e oito pavimentos, para edificações em centro de

terreno. Tendo, em sua maioria, lotes de dimensões pequenas, a possibilidade de

construção em centro de terreno diminui consideravelmente e como, pela primeira vez na

cidade do Rio de Janeiro, a área de recreação foi incluída na área edificada, o

aproveitamento dos lotes sofreu um decréscimo maior. Instituiu, também, a possibilidade

de construção de vilas residenciais no bairro.93

Seguindo a mesma linha de conduta do decreto 6996, foi sancionado o Decreto

6997 em 30/09/1987, para regulamentar os bairros de Andaraí, Maracanã e Vila Isabel,

com a mesma filosofia restritiva e possibilidade de construção de vilas residenciais.94

Para os bairros de Saúde, Gamboa e Santo Cristo foi sancionado o Decreto nº 7351

datado de 14/01/1988. Se por um lado fixou a altura das edificações entre 4,50m e

17,00m, restringindo bastante o aproveitamento dos lotes, por outro lado estabeleceu área

útil mínima das unidades em trinta metros quadrados, respeitando a vocação de abrigar a

população de classe social baixa, inclusive com o tipo de moradia em vilas residenciais.95

O Decreto nº 7654 de 20/05/1988 atendeu aos bairros da Penha, Penha Circular e

Brás de Pina situados na zona suburbana da cidade, modificado no mesmo ano pelo

Decreto nº 8320 de 29/12/1988. Este decreto estabeleceu gabarito de altura entre três e sete

pavimentos, escalonando-os de acordo com a altura da cota de soleira em relação ao nível

do mar.96

O Decreto que regulou os bairros de Bangu, Padre Miguel e Senador Câmara

(decreto nº 7914 de 03/08/1988) foi bastante completo abrangendo os tipos de

parcelamento de terra, usos e atividades e grupamentos de edificações. Permitiu vilas

residenciais com até trinta unidades unifamiliares e o gabarito de altura para os bairros

93 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :136. 94 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :140. 95 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. ::201. 96PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. voI.II: 225.

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entre três e cinco pavimentos para as edificações coladas e afastadas das divisas,

respectivamente.97

O Decreto nº 8046, datado de 25/08/1988, regulamentou o bairro de São Conrado

e também foi bastante completo. A fixação dos gabaritos levou em consideração a

topografia e localização do terreno. A área do bairro foi dividida em ZRU (zona residencial

unifamiliar), ZT (zona turística multifamiliar) e ZC (zona comercial), a zona turística, que

margeia a praia de São Conrado e do Pepino que reserva o gabarito de altura mais generoso

– 55,00m – porém com uma ocupação no solo de apenas 25% do terreno.98

Após este período, nenhum bairro foi contemplado com Plano de Estruturação

Urbana. Alguma modificações foram necessárias para ajustes em alguns PEUs, outros

foram sancionados de forma genérica, como o Decreto 8321 de 29/12/1988 que

estabeleceu as condições de edificações em terrenos em encosta e a Lei 1421 de

18/07/1989 que estabeleceu a regularização de favelas (PROFAVELA).

A Lei Orgânica do Município, sancionada no ano de 1992, estabeleceu que as

edificações residenciais, que forem projetadas coladas às divisas, terão altura igual a doze

metros, o que significa três pavimentos residenciais sobre o pavimento térreo. Esta postura,

porém, não cabe aos bairros com Planos de Estruturação, somente aos que ainda não foram

regulamentados individualmente.

Na década de 1990, um outro corpo de Legislação urbanística ganhou espaço,

demonstrando a preocupação atual com a preservação do ambiente: as APACs – Áreas de

Proteção do Ambiente Cultural. No primeiro momento, as Áreas de Proteção visavam

principalmente a preservação ambiental como as APAs (Áreas de Proteção Ambiental) do

Arpoador (1994), do Morro da Viúva (1997), Morro da Babilônia e São João (1999), para,

em seguida, deter-se na preservação de exemplares arquitetônicos com representatividade

cultural, limitando gabaritos e usos. Como exemplos, temos a APAC de Laranjeiras

(2001), Jardim Botânico (2001), Botafogo (2002), Lagoa (2002) e a pioneira APAC da

Praça da Cruz Vermelha em 1992.

A decretação das Áreas de Proteção do Ambiente Cultural nos bairros bastante

valorizados, situados na zona sul da cidade, interferiu no mercado imobiliário e na própria

97 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :.237. 98 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :275.

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valorização dos imóveis situados nestes bairros, em função da limitação dos gabaritos e

taxas de ocupação, diminuindo o número de unidades residenciais por lote e tornando mais

difícil a execução do empreendimento imobiliário. Importante salientar que as APACs

trazem, em seu escopo, listas de imóveis preservados que não podem ser demolidos ou

modificados.

Normas Edilícias

As intervenções legais nos espaços de moradia só ocorreram na cidade do Rio de

Janeiro a partir de meados de 1850, com a necessidade de se direcionar posturas de

construção para criar condições de salubridade nas moradias urbanas.

Antes desse período as intervenções traziam apenas limitações do número de

janelas e a obrigatoriedade de se encostar as edificações nas divisas laterais, o que

acarretava cômodos internos sem ventilação.

Mas com a necessidade de se diminuir a incidência de doenças contagiosas na

cidade, surgiram os primeiros regulamentos de higiene social.

Segundo Albernaz, para fazer jus a isenção de impostos, concedida aos

concessionários construtores (Decreto nº 9859 de 08/02/1888), era necessário atender, nas

construções das vilas operárias higiênicas, a alguns requisitos:

- “Utilizar materiais isentos de qualquer causa de umidade e não-provenientes de

outras construções;

- Ter prédios elevados de cinqüenta centímetros, acima do solo, com ventilação

adequada no porão;

- Cimentar ou azulejar cozinha, lavadouros, latrinas e banheiros;

- Ter pés-direitos de 4,40m no mínimo no primeiro pavimento e 4,00m no segundo;

- Ter todos os cômodos com ventilação natural;

- Ter entrada independente, latrina com W.C. e encanamento com água potável com

a correspondente pia, torneira e esgoto;

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- Iluminar gratuitamente a gás ou à luz elétrica todos os corredores, escadas,

passagens, pátios e mais cômodos de uso comum;

- Criar e manter, para cada grupo de habitação em que houver mais de duas mil

pessoas, uma escola mista de instrução primária do 1º grau;

- Estabelecer para uso dos inquilinos de cada grupo de habitação, em que residirem

pelo menos oitenta famílias, uma lavanderia desinfetante a vapor;

- Estabelecer, para cada grupo de doze famílias, um tanque de lavagem e uma sala

de banhos frios;

- ter um ou mais médicos encarregados de tratamento gratuito de seus inquilinos,

que ficarão incumbidos da fiscalização higiênica das habitações, assim como da

organização de relatórios a serem apresentados semestralmente à Inspetoria Geral de

“Hygiene”;

- Manter um empregado incumbido de zelar pela conservação de asseio e boa

ordem nos logradouros e cômodos de uso comum.” 99

Ao serem tomadas estas medidas, algumas situações do programa projetual

precisavam ser adequadas, como, por exemplo, a introdução de um minúsculo cômodo

para a latrina e o afastamento lateral das edificações para possibilitar a ventilação natural

direta das alcovas. O atendimento à exigência da elevação da edificação no solo fez surgir

as residências sobre porão alto ventilado, criando nova tipologia de moradia, na virada do

século XX.

A obrigatoriedade de ventilação natural dos cômodos vigorou nas normativas

públicas até o surgimento do novo modelo de moradia – o edifício de apartamentos.

Segundo Lemos, “eram terminantemente proibidas pelos Códigos de Obras, dependências,

quaisquer que fossem elas, desprovidas de janelas abertas para o exterior”. 100

Sem uma normativa reguladora, repetiam-se as plantas das casas isoladas, agora,

superpostas. Era necessário apresentar ao público consumidor atrativos maiores para a

consolidação do novo modelo arquitetônico, criando diferenças objetivas e socialmente

99 ALBERNAZ, Maria Paula. “ As Vilas: Uma Contribuição à História da Arquitetura Popular no Rio de Janeiro através do Estudo de Espaço Urbano.” Rio de Janeiro: UFRJ/IPUR, 1985:70/71. 100 LEMOS, Carlos A.C. “A Casa Brasileira.” São Paulo: Contexto, 1996:80.

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significantes. Como descreve Lílian Vaz, “os pontos mais criticados e considerados mais

negativos nas antigas habitações coletivas se tornaram os mais positivos e os mais

admirados: entradas e pátios repletos X entradas e portarias sóbrias e elegantes; corredores

estreitos e escuros X circulações amplas e iluminadas; latrinas comuns e insuficientes X

water closets privativos e banheiros completos; pátios de trabalhos expostos X áreas de

serviço internas; interiores escuros e sem ventilação X ambientes claros e arejados; espaços

limitados e acanhados X ambientes bem dimensionados; espaços de uso múltiplo e

indiferenciados X espaços funcionalmente determinados”.101

De acordo com Lemos, dado o caráter de novidade, o prédio de apartamentos foi

inicialmente planejado e construído sem critério normalizador. “Somente aos poucos é que

foram se definindo as normas e as constantes orientações estabelecidas pela prática.”102

Embora, como foi citado, existisse o Decreto 9859/1888, que determinava o que

uma casa ou apartamento deveria ter, esse mesmo Decreto não previa áreas mínimas ou

dimensões. A falta de limites fez surgir a construção de edifícios com o maior número

possível de apartamentos para aumento da margem de lucro, na década de 1940. Como

conseqüência, os apartamentos tiveram suas áreas internas decrescidas gradativamente até

o aparecimento dos apartamentos de quarto-e-sala e os chamados conjugados,

especialmente no bairro de Copacabana, quase numa reprodução de um quarto de hotel,

segundo descreve Abreu.103

Os regulamentos que estabeleceram as dimensões mínimas para divisões internas e

vãos de iluminação e ventilação dos compartimentos só surgiram de maneira ordenada, na

década de 1970, através do Decreto E nº 3800 de 20/04/1970 no Regulamento de

Construções e Edificações.104

Antes, por falta de ação reguladora por parte do Estado, as construções

condicionavam-se de acordo com os interesses dos construtores e incorporadores.

Para início de regulamentação o R.C.E. (Regulamento de Construções e

Edificações) define o que seja edificação residencial permanente (edifícios de

apartamentos) e edificação residencial transitória (hotéis e congêneres), fixa que toda

101 VAZ, Lílian F. “Modernidade e Moradia – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002:138. 102 LEMOS, Carlos A.C. “Cozinhas, etc. Estudo sobre as Zonas de Serviço.” São Paulo: Ed. Perspectiva, 1978:155. 103 ABREU, Maurício de A. “A Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997:129. 104 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. voI.I:137.

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unidade residencial permanente deve ser constituída, no mínimo, de dois compartimentos

habitáveis, um banheiro e uma cozinha (art. 8º), evitando a construção de novos

apartamentos conjugados.

Determina que a edificação multifamiliar deverá ter uma portaria, local para coleta

de lixo, local de medidores de gás canalizado, área de recreação em alguns casos e caixas

receptoras de correspondência (art. 10º); dispõe sobre locais para estacionamento de

veículos, declinando sobre as possíveis isenções de vagas de garagem (art. 47º). Delibera

sobre a obrigatoriedade de reservatório de água próprio, superior e inferior, determinando

seu volume em função do número de compartimentos habitáveis existentes na edificação

(art. 81º). Estabelece larguras mínimas para as circulações comuns, obrigatoriedade,

dimensões e número de elevadores necessários (art. 84º).

Com relação às partes privativas das unidades, classifica os ambientes em

habitáveis (salas e quartos) e não-habitáveis (banheiros e cozinhas), estabelecendo limites

mínimos quanto à área de piso, largura dos compartimentos, vãos de iluminação e

ventilação e vãos de acesso (art. 122º e subseqüentes).

Em decorrência dos incêndios ocorridos, de maneira trágica, no início da década de

1970 em São Paulo, e também alguns de menores conseqüências no Rio de Janeiro, foi

sancionado o Decreto nº 897 de 21/09/1976, que dispõe sobre segurança contra incêndio e

pânico. Este decreto estabelece várias providências que devem ser tomadas em relação a

hidrantes localizados nos pavimentos, canalização preventiva, sprinklers (nas edificações

acima de trinta metros) e mangueiras (com comprimento máximo de trinta metros). No que

se refere à escape, delibera a construção de escada enclausurada em paredes de concreto à

prova de fumaça, munidas de antecâmara e duto de ventilação exclusivo, para aumento das

possibilidades de fuga dos moradores em caso de pânico, sendo obrigatórias em

edificações em que sejam necessários elevadores (cinco pisos de qualquer natureza).105

O R.C.E. estipulava a área mínima dos quartos das unidades residenciais em nove

metros quadrados e largura mínima de dois metros, e da dependência de empregado em

quatro metros quadrados com largura mínima de um metro e meio. Através da Lei 550 de

19/06/1984, a área mínima dos quartos de empregados passou a ser de seis metros

quadrados com largura mínima de dois metros. Esta medida fez com que, aos poucos, fosse

105 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. voI.I:425.

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repensada esta área extremamente cara e que, em alguns casos, representava 10% da área

interna do apartamento, fazendo com que fosse incorporada ao setor íntimo ou social para

uso dos proprietários do imóvel.106

De teor semelhante, é sancionada a Lei 1218 de 11/04/1988, que dispõe sobre a

obrigatoriedade de se projetar apartamento de zelador nos edifícios de apartamentos, com

área útil total mínima de trinta e cinco metros quadrados, dispondo de quarto (10,00m²),

sala (15,00m²), cozinha (6,00m²) e banheiro (4,0m²). Com esta lei surgiram situações

pitorescas como, por exemplo, o apartamento do zelador se constituir na unidade

habitacional de dimensões mais generosas do edifício, se este for composto de apartamento

de trinta metros quadrados de área útil. E também os banheiros dos apartamentos

possuírem área útil mínima de um metro e meio quadrados e o do porteiro, quatro metros

quadrados.107

Em 05/01/1988, foi aprovado o Decreto nº 7336 que regulamenta explicitamente a

construção de edificação residencial multifamiliar, anulando e substituindo as posturas

anteriores.108

Uma das modificações implementadas por este decreto foi o novo cálculo dos

afastamentos laterais e de fundos, e dos prismas de ventilação internos das edificações.

Foram fixados em função das alturas das edificações e não mais de acordo com uma tabela

fixa. Esta medida induz à utilização de pés direitos mínimos para que os prismas sejam

menores.

Com relação à parte interna das unidades privativas, as modificações foram

concernentes à largura mínima das salas e quartos, fixada em dois metros e meio,

impedindo a situação de ventilação dos compartimentos através de vãos estreitos, os

chamados compartimentos cachimbados. Foi revista a profundidade dos cômodos que,

caso excedam a duas vezes e meia a altura do pé-direito, precisarão maior área de

ventilação. Foram estabelecidas as dimensões das varandas balanceadas, que não poderão

exceder a 20% da área útil da unidade.

106 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. “Código de Obras do Município.” Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª ed. voI.II:40. 107 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :222. 108 PREFEITURA MUN. DO RIO DE JANEIRO. op. cit. :158.

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Na parte comum das edificações residenciais multifamiliares, as modificações

compreendem: a obrigatoriedade da rampa para portadores de deficiência temporária ou

permanente até o hall social com inclinação de 10%, através da Lei 1174 de 30/12/1987; a

inclusão de um banheiro de serviço para empregados do condomínio e a inclusão de

vestiário e refeitório para empregados nas edificações com mais de cinqüenta

apartamentos.

No que tange à área de estacionamento de veículos, foi introduzida a possibilidade

de demonstração das vagas, através da marcação dos carros no piso, podendo inclusive

prever a situação de vaga presa dentro dos parâmetros estabelecidos.

Este Decreto introduz normativa relativa à proteção do meio ambiente e ao conforto

ambiental referentes à insolação, isolamento térmico e acústico e aproveitamento enérgico.

As últimas regulamentações edilícias recaem sobre o problema da acessibilidade,

estatuindo a utilização de, pelo menos, um elevador com cabine dimensionada para acesso

de cadeiras de rodas, e sobre o recolhimento de lixo nos pavimentos tipos em caçambas

próprias, sem a obrigatoriedade do tubo de queda.

A seguir, foram relacionados, para efeito de consulta, cronologicamente os diversos

decretos e leis reguladores da construção de edificações multifamiliares, nos aspectos

urbanísticos e edilícios.

Quadro de Leis e Decretos Legais

Decreto / Lei nº Data Regulamenta ...

3151 09/12/1882 As casas com latrinas, encanamento e ventilações.

9859 08/12/1888 A isenção de impostos diversos p/ construção das

casas higiênicas.

244 20/04/1896 As casas proletárias em diversos bairros.

762 01/06/1900 A construção de “avenidas”.

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391 10/02/1903 A proibição de construção de cortiços.

2087 19/01/1925 A construção de edifícios fixando relação entre a

largura da rua e a altura da edificação.

617 30/08/1927 A vinda de Alfred Agache.

5595 10/07/1935 As modificações sugeridas por Agache.

6000 01/07/1937 A proibição de vilas residenciais e o adensamento

das zonas residenciais.

1574 11/12/1967 O poder do estado para intervenções em todos os

setores da construção.

3800 20/04/1970 A Lei de Desenvolvimento Urbano.

322 03/03/1976 Todo o zoneamento do Rio de Janeiro.

1269 27/10/1977 O Plano Urbanístico Básico.

1446 02/03/1978 O PEU da Urca.

2108 14/03/1979 O bairro da Ilha do Governador.

2418 05/12/1979 O bairro de Jacarepaguá.

2638 28/05/1980 O bairro de Laranjeiras.

2735 20/08/1980 O bairro da Gávea.

3046 27/04/1981 O Plano Piloto da Barra da Tijuca.

434 27/07/1983 O PEU de Botafogo.

5840 21/05/1986 Os bairros de São Cristóvão, Mangueira e Benfica.

6115 11/09/1986 O bairro do Leblon.

6462 05/02/1987 O bairro da Tijuca.

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6996 30/09/1987 O bairro do Grajaú.

6997 30/09/1987 Os bairros do Andaraí, Maracanã e V.Isabel.

7351 14/01/1988 Os bairros da Saúde, Gamboa e Sto Cristo.

7654 20/05/1988 Os bairros da Penha, Penha Circular e Brás de

Pina.

7914 03/08/1988 Os bairros de Bangu, Padre Miguel e senador

Camará.

8046 25/08/1988 O bairro de São Conrado.

Mais recentemente, foram criadas as APACs – Áreas de Proteção Ambiental e Cultural.

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Devido à sua história e localização na zona sul, o bairro de Botafogo desempenhou e

desempenha papel de relevante importância na história da cidade do Rio de Janeiro. Sua

ocupação territorial data do primeiro século da fundação da cidade, e suas terras abrigaram

desde moradores ilustres, dos mais altos escalões da história do país, até a população mais

miserável que subiu as encostas dos morros que limitam suas terras. Acompanhou a

evolução da cidade, apresentando em seu território praticamente todos os modelos

arquitetônicos residenciais desenvolvidos no Rio de Janeiro.

Sua população aumentou quando os movimentos migratórios internos, movidos pela

oferta de emprego no setor secundário, modificaram a estrutura econômica do Rio de

Janeiro, vivendo também período de estagnação populacional quando os bairros de

Copacabana, Jardim Botânico, Lagoa, Ipanema e Leblon atraíram o mercado imobiliário e

sedimentaram-se como bairros residenciais de classe média e média alta.

O bairro de Botafogo apresentou uma ocupação horizontal que permaneceu

aproximadamente por três séculos, tendo observado transformações mais intensas no

século XIX e consolidado sua verticalização no século XX, intensificado com a

implantação do Metrô. Ao contrário, o bairro de Copacabana teve sua ocupação definida

de forma mais homogênea, de alta densidade e intensa verticalização, em praticamente

duas décadas (1940 a 1960).

O bairro de Botafogo acompanhou diversas mudanças de normas de legislação ao

longo do tempo, retratados nos tipos arquitetônicos que abriga.

A diversidade dos tipos arquitetônicos determinada principalmente pelos diferentes

gabaritos e pelos perfis de implantação da edificação no solo é retratada em tratamentos

diversificados de volumetria e fachadas, demonstrando diversos perfis de ocupação.

É, portanto, um bairro dinâmico e atraente para o mercado de oferta e demanda por

moradias.

Atraente para os moradores que conseguem encontrar nas suas ruas praticamente tudo

o que almejam: diversos tipos de moradias em ruas calmas ou avenidas agitadas, comércio

de rua farto ou comércio sofisticado nos shoppings locais, serviços secundários que

abrangem colégios, clínicas, prédios comerciais, restaurantes de elite e fast-foods, espaços

de lazer, praia e farto transporte público.

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Atraente para os incorporadores imobiliários que, a partir do conhecimento de uma

clientela fiel e presente, podem oferecer edificações residenciais multifamiliares de

diversos tipos de acordo com legislação municipal definida.

Nestes dois vetores está a causa do crescimento imobiliário verificado no bairro desde

a década de 1990, quando o número de moradias oferecidas ao mercado tem aumentado de

maneira significativa. Concentra um número expressivo de novas construções,

transformando determinadas ruas em verdadeiros canteiros de obras, como as Ruas

Voluntários da Pátria, Paulo Barreto e Paulino Fernandes.

fig. 56 - Obra existente na Rua Voluntários da Pátria, 48. fig. 57 – Obra existente na Rua Paulo Barreto, 21.

fig. 58 - Rua Paulino Fernandes, 17.

Outra causa para este crescimento de ofertas de moradias é a existência de lotes em

condições de ocupações. São terrenos edificados com casas térreas e sobrados, sem

interesse histórico ou arquitetônico que estão sendo substituídos por edifícios residenciais

de três a onze pavimentos.

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Com estudo da evolução histórica, da área edificada e da expansão residencial no

bairro de Botafogo ao longo do século XX, pretendemos aprofundar a reflexão acerca da

sua vocação residencial, justificando nosso recorte de pesquisa.

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2.1 - Evolução Histórica

Quando a cidade do Rio de Janeiro se transferiu em 1567, do Morro Cara de Cão

para o Morro do Castelo, por motivos de segurança, nem todos os moradores da região

original se transferiram. Como nos diz Vivaldo Coaracy: “Muitos deles permaneceram na

localização original, em torno da Igreja que Estácio construíra e onde fora sepultado. Por

vários anos ainda continuou o lugar a ser chamado Vila Velha ou Cidade Velha... A

persistência desses moradores é devido ao precoce desenvolvimento de chácaras e lavouras

na região que depois se chamou Botafogo.”109

O crescimento natural desta área ganhou impulso com a construção da ponte sobre

o Rio Carioca, ainda no século XVI, que desembocava na Baía de Guanabara na altura do

atual Largo do Machado. Os caminhos e estradas iam sendo abertos, margeando a praia e

beirando a base dos morros: Praia de Botafogo, Rua São Clemente, General Polidoro e Rua

da Passagem.

fig.59 -- Mapa da Baía de Guanabara, de 1586, onde se observa a saída do Rio Carioca, à direita.

109 COARACY, Vivaldo. “Memórias da Cidade do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1955: 287.

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Até o início do século XVIII, o atual bairro de Botafogo, estava dividido entre dois

latifundiários.

A área compreendida entre a Praia e a atual Rua Marquês de Olinda pertencia, até

1641, à Francisco Velho, que emprestava seu nome à Enseada. Após esta data, essas terras

passaram às mãos de João Pereira de Souza Botafogo, que as obteve de sesmaria, pelos

serviços prestados, dando origem ao nome do bairro que perdura até hoje.

As terras localizadas entre as atuais Rua Marquês de Olinda e Rua General

Polidoro, com fundos indo até o Largo dos Leões e Humaitá, pertenciam a D. Clemente

José de Matos, chamando-se na ocasião de Quinta de São Clemente.

fig. 60 - Mapa do bairro de Botafogo com a divisão entre os dois latifúndios de João de Souza Botafogo

e de D. Clemente Matos, no século XVII.

Somente em 1702, quando D. Clemente morreu, as terras sofreram seu primeiro

processo de repartição em processo muito lento.110

A expansão da cidade no decorrer do século XVIII se processou, sobretudo, graças

à conquista das lagoas e brejos que dificultavam o crescimento da cidade. Confinada entre

as encostas do Corcovado e o cordão orográfico de Copacabana, tendo a leste o mar e a

oeste a Lagoa Rodrigo de Freitas, Botafogo teria sido possivelmente um vasto alagadiço. 110 Somente três novas chácaras no período de um século. – Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do solo Urbano da UFRJ. “História dos Bairros – Botafogo” Rio de Janeiro: Index Editora Ltda, 1982: 37.

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fig. 61 - Complexo Hidrográfico de Botafogo, mostrando suas terras bastante irrigadas.

A primeira metade do século XVIII foi caracterizada pelo crescimento da produção

de ouro, criando prosperidade. O Rio de Janeiro com seu porto beneficiou-se dessas novas

atividades econômicas, sendo elevado à Capital da Colônia em 1763, multiplicando suas

funções urbanas, aumentando sua população e conquistando novas áreas, aterrando brejos

e lagoas.

Conta-nos Cohen e Fridman, no livro “Rio e Janeiro, Ontem e Hoje” que “até fins

do século XVIII a única via de acesso entre a Praia de Botafogo e a Lagoa Rodrigo de

Freitas era o Caminho da Lagoa, depois chamada de Rua Berquó, atualmente Rua General

Polidoro. A Rua São Clemente foi aberta por imposição do penúltimo Vice-Rei aos

herdeiros da Quinta de São Clemente. Esse terreno ficava entre as duas serras que formam

o vale que liga o litoral de Botafogo à Lagoa Rodrigo de Freitas, para que transformassem

em rua pública um caminho interno particular.”111

Entretanto, as grandes mudanças na condição rural da região que viria a se tornar

Botafogo só teriam um aumento expressivo em sua intensidade após a chegada da Família

Real à colônia, provocando a expansão das funções administrativas da capital, e a abertura

dos portos, trazendo como conseqüência o incremento das atividades comerciais.

111 COHEN, Alberto & FRIDMAN, Sérgio A. “Rio de Janeiro, Ontem e Hoje.” Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1998: 78.

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Operando modificações profundas na vida de toda a cidade, foram introduzidos

nesse período novos hábitos e novas formas de concepção, tanto do espaço urbano como

do arquitetônico.

Houve um crescimento populacional extremamente rápido na cidade, forçando as

camadas abastadas da população a se mudarem para as áreas adjacentes às freguesias

centrais devido à ocupação forçada de seus imóveis por membros da Corte. Em um

primeiro momento, os vetores principais de crescimento desta expansão se deram no

sentido de São Cristóvão e da Glória, atingindo a região de Botafogo logo depois. O

impulso definitivo para o crescimento da área foi a instalação de Dona Carlota Joaquina na

Praia de Botafogo, no princípio do século XIX, onde mandou construir uma casa. Como

ela, algumas famílias de nobres e ricos comerciantes decidiram instalar seus domicílios em

Botafogo, por causa de seu clima agradável. Já nos primórdios desse século era marcante a

presença de ricos comerciantes ingleses em Botafogo, devido ao crescimento das relações

comerciais com a Inglaterra, além de representantes diplomáticos junto à Corte de D. João

VI.112

fig. 62 - Gravura de Rugendas, 1820 – Praia de Botafogo com a residência da Rainha Carlota Joaquina à direita.

Fig. 63 - Óleo sobre tela de S.Faux – 1835 – Residência da Rainha Carlota Joaquina na Praia, esquina com a atual Rua

Marquês de Abrantes.

112 GRUPO DE PESQUISA EM HABITAÇÃO E USO DO SOLO URBANO DA UFRJ. “História dos Bairros – Botafogo” Rio de Janeiro: Index Editora Ltda, 1982: 41.

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Gerson Brasil, no seu livro “História dos Subúrbios”, nos conta que “é possível que

a sua casa (de Dona Carlota Joaquina) não tenha sido a primeira dessas casas

botafoguenses de recreio ou para banhos de mar. O certo, entretanto, é que, estimulada pela

presença dela, outras começaram a aparecer na praia ou na estrada que conduzia à

Gávea...”113

Fig. 64 - Foto do edifício Paraopeba construído no terreno da antiga residência da Rainha Carlota Joaquina.

O crescimento da cidade neste período, como um todo, foi surpreendente. Maurício

Abreu nos conta que “as áreas mais próximas das freguesias urbanas pouco a pouco viam

suas fazendas retalhadas em chácaras que, de início reservadas às atividades de fim de

semana das classes dirigentes, foram aos poucos transformando em local de residência

permanente, justificando inclusive a criação de novas freguesias... Botafogo, arrabalde da

freguesia da Lagoa, também passa nessa época por um surto de criação de chácaras,

situadas principalmente na praia de Botafogo, na Rua de São Clemente e na de São

Joaquim da Lagoa (atual Rua Voluntários da Pátria).”114

fig. 65 - Gravura do Barão de Planitz – Vista de Botafogo, por volta de 1850.

113 BRASIL, Gerson. “História dos Subúrbios – Botafogo.” Rio de Janeiro: Livraria Editora Brasiliana, 1965: 9. 114 ABREU, Maurício de A. “Evolução Urbana do Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997: 37.

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O bairro de Botafogo se preparou para receber uma população cada vez mais

numerosa que viria a completar o processo de formação do bairro e levaria à sua

consolidação como tal.

A inauguração da carreira de barcos a vapor ligando o bairro ao Saco do Alferes

(atual bairro de Santo Cristo), em 1843, já dava marcas da monta da ocupação permanente

no bairro, apesar de, desde 1839, já dispor de ônibus de tração animal, refletindo a

expressividade de seu crescimento.115

O embelezamento do bairro, cuidadosamente elaborado pelos ilustres moradores,

atraía cada vez mais moradores, transformando-se num bairro requintado.

Os meios de transportes intensificavam a movimentação em todo o bairro, não só

com os vapores que partiam do píer da enseada de Botafogo, como também as linhas de

bondes puxados a burro que regularizaram os transportes em toda a área da zona sul.

fig.66 - Óleo sobre tela de Facchinetti – 1868.

Observa-se o ancoradouro, iluminação pública e o Morro da Viúva ao fundo.

Um fato relevante acentuava o desenvolvimento do bairro por volta de 1850: o

abastecimento de água a partir de 1854 e a iluminação à gás a partir de 1860.

Toda esta movimentação começou então a operar algumas modificações que foram

definitivas a médio prazo na alteração da paisagem do bairro.

Segundo Fania Fridman revela, “a Lei de Terras de 1850 marcou o início da

mercantilização do chão no Brasil o que significou a transformação das terras urbanas e

115 ABREU, Maurício de A. “Evolução Urbana do Rio de Janeiro” Rio de Janeiro: IPLAN, 1997: 41.

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rurais em mercadorias, com uma produção, um preço e, portanto, um mercado. Esta lei

tornou-se um marco para a constituição de novos agentes produtores do espaço urbano

carioca, dos quais podemos citar os loteadores e os construtores de habitações populares.”

Ainda na primeira metade do século XIX começaram a surgir as primeiras ruas,

abertas pelos proprietários de chácaras, em seus terrenos. Começou a ocorrer também o

parcelamento das grandes chácaras em outras de menores dimensões. Até o fim do século

esse fenômeno ocorreu, diminuindo gradativamente as dimensões dos lotes provenientes

do parcelamento das pequenas chácaras.

fig. 67 - Planta do loteamento das terras de Baptista de Leão no Largo dos Leões. Em destaque, a casa da família.

fig. 68 - Largo dos Leões no século XIX – À esquerda em primeiro plano a chácara e a casa da família Leão, limitada

pela Rua Marques.

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O dinamismo do bairro de Botafogo logo atraiu também populações não

aristocráticas, principalmente imigrantes portugueses, que passaram a se dedicar ao

comércio e a se instalar nos terrenos menos valorizados, situados principalmente nas

proximidades do Cemitério de São João Batista (que havia sido inaugurado em 1852), e

cujas atividades contribuíram para o incremento da navegação entre o bairro e o centro da

cidade, como nos descreve Maurício Abreu.116

Os meios de transportes fartos no bairro contribuíram e muito para o dinamismo

observado. A Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico estendeu suas linhas de bondes

de burro, que iam do Centro ao Largo do Machado, até o Jardim Botânico, em 1871,

beneficiando muito o bairro. A mesma Companhia perfurou o atual Túnel Velho em 1892,

criando a primeira linha regular para Copacabana. (mais tarde, abriu outro túnel em direção

à Copacabana – o túnel Novo, aberto em 1902).

fig. 69 - Túnel Velho com o cemitério João Batista ao fundo. O viaduto está bastante modificado atualmente.

Maurício Abreu ressalta que “os bondes não só vieram atender a uma demanda já

existente como, atendendo a essa demanda, passaram a ter influência direta, não apenas

sobre o padrão de ocupação de grande parte da cidade, como também sobre o padrão de

acumulação de capital que aí circulava, tanto nacional como estrangeiro.”117

Entre os anos de 1870 e 1880, o loteamento de terrenos multiplicou-se no bairro, e

o crescimento de sua população aumentou consideravelmente com a abertura de diversas

116 ABREU, Maurício de A. “Evolução Urbana do Rio de Janeiro”. Rio de Janeiro: IPLAN, 1997: 41. 117 ABREU, op. cit.: 43.

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ruas novas, tudo estimulado pelos bondes. Muitas dessas ruas foram obra dos irmãos

Domingos e César Farani, responsáveis pela difícil construção da rua que leva até hoje seu

nome.118

Por esta época também acentuou-se a diversidade de ocupação do bairro,

estimulada a partir da implantação dos transportes coletivos, principalmente do bonde. Já

existindo colégios (Colégio da Imaculada Conceição, 1854) e clínicas (Casa de Saúde Dr.

Eiras, 1860), o comércio, que antes se localizava próximo à estação das barcas (em frente à

Rua São Clemente), aos poucos foi se espalhando ao longo das linhas do bonde, reforçando

o processo de urbanização e transformando aquele espaço, já mais urbano que rural, num

verdadeiro bairro.119

A implantação de algumas fábricas têxteis no bairro atraiu um contingente

expressivo que buscava moradia próxima ao local de trabalho. Surgiram, então, as vilas

operárias para atendimento a esta demanda, construídas, principalmente, pela Companhia

de Saneamento do Rio de Janeiro.

fig. 70 - Mapa de Botafogo com a localização das principais fábricas e das vilas operárias do fim do século XIX.

118 COHEN, Alberto & FRIDMAN, Sérgio de A. “Rio de Janeiro, Ontem e Hoje”. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1998:74. 119 GRUPO DE PESQUISA EM HABITAÇÃO E USO DO SOLO URBANO DA UFRJ. “História dos Bairros – Botafogo” Rio de Janeiro: Index Editora Ltda, 1982: 51.

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No fim do século XIX, diversos fatores contribuíram para uma grande expansão na

malha urbana do Rio de Janeiro: a crise cafeeira fluminense, a abolição da escravatura, a

chegada de imigrantes e o início da industrialização.

O crescimento populacional gerou uma crise habitacional, principalmente no centro

da Cidade, e então o investimento em terrenos para parcelamento e em moradias para

alugar surgiu como uma excelente alternativa.

Iniciaram-se em Botafogo as primeiras de aberturas de ruas e loteamentos feitos por

empresas, ao lado daqueles feitos pelos proprietários de chácaras.

O desmembramento das grandes chácaras dera origem a uma série de quadras

muito extensas e profundas, voltadas para as poucas ruas então existentes. A ocupação do

interior dessas quadras foi feita através das vilas residenciais, em terrenos de dimensões

reduzidas, com acesso para o logradouro público através de ruelas sem saída. Este tipo de

ocupação ainda hoje marca a paisagem do bairro.

fig. 71 - Em 1877, a firma Domingos Farani e Irmão abre as ruas Visconde de Abaeté (atual Conde de Irajá), Pinheiro

Guimarães, Visconde Silva e Visconde de Caravelas, demarcando lotes.

Exemplo do processo de repartição de terras e produção de moradias

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Transformações profundas começaram a alterar a fisionomia de Botafogo. O bairro

começou a se povoar de habitações coletivas que abrigaram funcionários públicos,

militares, pequenos comerciantes e bancários, morando em centenas de casinhas de vilas

ou em casas geminadas voltadas para a rua. A necessidade de moradia era grande o que

propiciou também o aparecimento de cortiços, ainda no século XIX.

No início do século XX, as partes planas do bairro já estavam ocupadas, ocorrendo

então, aberturas de novas ruas próximas aos morros, principalmente no Humaitá.

fig. 72 - Garagem de bondes no Humaitá, onde hoje se situa o Hortomercado Cobal.

fig. 73 - Praia de Botafogo esquina com Rua São Clemente – 1928

Fora o chalé da esquina, este trecho se mantém pouco alterado.

Com a necessidade crescente de moradia justificou-se a ocupação por habitações

coletivas, fato que começou a surgir em princípios de 1900, quando o bairro já se

encontrava praticamente loteado.

A partir de 1903, a legislação proibiu a construção de cortiços, pelo seu

componente de insalubridade. Os sobrados eram um padrão arquitetônico com bastante

aceitação e utilidade desde o século anterior, e que se tornou em Botafogo uma das suas

marcas registradas. O pavimento térreo, onde se situavam a cocheira e os escravos, passou

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a ser utilizado como armazém ou lojas, principalmente nas ruas onde se concentravam as

atividades não-residenciais do bairro, que eram os eixos por onde os bondes transitavam:

Rua Voluntários da Pátria, Rua da Passagem e Rua General Polidoro.

fig. 74 - Sobrados na Rua Voluntários da Pátria – 1933. Aspecto geral do comércio.

Também datando da virada do século XX encontravam-se edifícios institucionais

de importância no bairro, como o Colégio Santo Inácio na Rua São Clemente (1903),

Colégio Andrews na Praia de Botafogo (1918) e os Hospitais São João Batista e dos

Estrangeiros que datam de 1910.

fig. 75 - Jardim de infância Marechal Hermes situado na Rua Martins Ferreira – 1910/1915.

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fig. 76 - Rua São Clemente na altura do Colégio Santo Inácio, no início do século XX.

fig. 77 - Foto do Colégio Santo Inácio hoje. Observar que o muro existente é o original.

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2.2 - Evolução da área edificada e expansão residencial no século XX

Segundo Sérgio Lordello, nas três primeiras décadas do século XX, a

predominância das construções foi horizontal, com 98,7% das edificações com até 2

pavimentos (dados de 1906) no Distrito Municipal da Lagoa (Botafogo). O restante, 1,3%,

compunha-se de edificações de 3 pavimentos no máximo, concentradas na Rua Voluntários

da Pátria, rua mais central e de maior importância comercial. As ruas mais intensamente

edificadas foram as Ruas São Clemente, Real Grandeza e Voluntários da Pátria (os eixos

das linhas de bonde).120

O comércio se instalou nestas ruas, pioneiras no bairro em apresentar prédios de

três pavimentos, contrastando com a grande maioria das construções térreas.

Neste período, nas ruas transversais, as que apresentavam maior número de prédios

de 2 pavimentos foram a Rua Sorocaba e a Dona Mariana, indicando nível social mais

elevado de seus moradores, segundo Lordello. A habitação da população de baixa renda se

limitava a pensões e casas de cômodos localizadas principalmente na Rua São Clemente,

da Passagem e na Rua Assunção. 121

De acordo com dados de 1933, eram bastante numerosas as habitações em forma de

vilas ou casas em avenidas, principalmente nas Ruas Assis Bueno, Assunção e S. João

Batista, representando em todo o bairro 30% do total das edificações, significando, a

solução, maximização do aproveitamento horizontal do lote, que atendiam não só a camada

de nível social mais baixa como também a de nível médio quando se destacavam pelos

padrões construtivos de melhor qualidade e pelas dimensões das habitações.122

No ano de 1933 já se contavam em 15 o número de edificações acima de 3

pavimentos, principalmente localizadas na Praia de Botafogo e São Clemente, porém

destas apenas uma com 6 pavimentos, localizada na Rua Voluntários da Pátria. Em 1935,

foi construído um prédio de 10 pavimentos localizado na Praia de Botafogo, esquina com a

Rua Marquês de Olinda, substituído em 1982, pelo Edifício-sede da Caemi.123

120 LORDELLO, Sérgio. “Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – o caso de Boatfogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 142. 121 LORDELLO, op. cit. :142. 122 Dados do Departamento Nacional de Estatística. “Estatística Predial do Distrito Federal – 1933” 123 Gabarito só legalizado em 1937 pelo Decreto 6000.

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fig. 78 - Aquarela de F. Ranzini – 1940. Praia de Botafogo fig. 79 - Foto do Edifício-sede da Caemi,

com o primeiro prédio de dez pavimentos. construído em 1982, projeto dos irmãos Musa.

Desta fase registra-se um início de ocupação dos morros do Pasmado, Saudade e

São João, com casebres de madeira, representando o embrião das futuras favelas

percebidas mais nitidamente a partir de 1940.

Sérgio Lordello afirma que “sem modificações fundamentais em sua estrutura

interna básica, quer viária, quer de localização de atividades, quer de composição social ou

mesmo quanto à sua área edificada, Botafogo experimenta nesses primeiros trinta anos do

século XX o início embrionário de um processo de concentração de serviços –

marcadamente educacionais e de saúde – o que a partir de então viria a lhe assegurar o

papel de subcentro, o qual iria desempenhar, posteriormente, em relação à zona sul do Rio

de Janeiro.”124

O período, das décadas de 1940 a 1960, marcou a expansão do vetor sul da cidade

do Rio de Janeiro, adensando a orla atlântica, alavancando a atividade imobiliária,

traduzida na máxima utilização do solo buscando sua verticalização. Foi o período do

adensamento, principalmente do bairro de Copacabana, o que trará conseqüências na

estrutura interna de Botafogo, intensificando o tráfego de passagem entre o centro da

Cidade e o bairro praiano. Foi o período do surgimento do aumento do número de unidades

em um mesmo pavimento, principalmente na Praia de Botafogo, contornando o limite de

gabarito previsto na legislação urbanística, como o Edifício Rajah (1956).

124 LORDELLO, Sérgio. “Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – O caso de Botafogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 152.

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Com os túneis Velho e Novo, a ampliação da Avenida Beira Mar, as melhorias nos

serviços de transportes e a conseqüente transferência de grupos da população para as novas

áreas, estimulou-se uma característica residencial que o bairro apresentava latente,

decorrente de sua localização, da ligação entre os bairros da zona sul e centro, e da oferta

de transportes públicos, primeiro o bonde, depois o ônibus, e finalmente o metrô.

A proibição de construção de vilas residenciais, em 1937, propiciou a construção de

edifícios de apartamentos no bairro, principalmente nas ruas cortadas pelos trilhos dos

bondes. A necessidade de moradia aliada à tecnologia construtiva do uso do concreto

fizeram com que surgissem, já nesta década, edifícios mais altos (6 a 10 pavimentos). E à

medida que se intensificou o trânsito com a modernização dos veículos automotores,

criaram-se duas identidades dentro do próprio bairro: ruas de tráfego intenso e agitado,

com edificações mais altas e comércio e ruas internas residenciais, mais horizontais e

tranqüilas.125

Com o crescimento significativo ocorrido, nas décadas de 1940 a 1970, nos bairros

vizinhos, principalmente em Copacabana, Botafogo teve, neste período, a população

praticamente estável. Surgiram nesta época novas atividades de serviço e o comércio se

voltou para o atendimento destes bairros mais populosos, abrigando atividades

incompatíveis com a valorização destes, como por exemplo, as oficinas mecânicas, as

clínicas, os grandes colégios e os grandes cinemas da Praia de Botafogo.

Ocorreu, portanto, em Botafogo, um processo gradual de descaracterização da

função predominantemente residencial, com a reciclagem de uso das edificações

residenciais para instalações de empresas e com a construção de grandes edifícios para

serviços, aproveitando-se da proximidade do centro, da clientela aumentada da zona sul e

do baixo custo de instalação, se comparado ao do centro da Cidade.

O processo de valorização do solo resultou, também, no agravamento da

localização residencial das camadas pobres da população, que buscaram as encostas dos

morros para estarem próximas ao local de trabalho, tais como as favelas de Macedo

Sobrinho, Santa Marta (ou Dona Marta) e Pasmado.

125 Mais tarde, pelo Decreto 322/76, intensificou-se esta tendência com a criação das CBs (centros de bairro) – ruas destinadas a implantação comercial.

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Maurício Abreu explica o fenômeno da seguinte forma: “Transformada em

importante mercado de trabalho especializado no setor terciário, a zona sul passou a atrair

grande quantidade de mão-de-obra barata, que veio a ocupar os terrenos íngremes até então

desvalorizados pela empresa imobiliária, dando origens a novas favelas. Com efeito, se em

1942 a zona sul possuía pouco mais de 10 favelas, em 1950 esse número já era de 25,

abrigando mais de 40.000 pessoas.”126

fig. 80 - Favela do Humaitá em 1958, um pouco antes de sua erradicação na década de 1960.

No entender de Sérgio Lordello, “a localização das elites em Botafogo, então, ficou

basicamente concentrada em determinados segmentos, à medida que os setores médios iam

gradualmente se espalhando pelo bairro. As mansões da área inicial da Praia de Botafogo e

da Rua São Clemente, no trecho entre a atual Barão de Lucena e o Largo dos Leões,

situadas próximas às encostas do Corcovado, são as mais características e mantiveram-se,

apesar de recicladas.”127 Ainda se encontram palacetes nas Ruas São Clemente, Dona

Mariana, Dezenove de Fevereiro e Professor Alfredo Gomes, atestando a permanência de

um segmento de renda mais alta dentro do bairro, intercalados com outras habitações

típicas das camadas menos abastadas, confirmando, em termos sociais e arquitetônicos, a

característica mista do bairro.

126 ABREU, Maurício de A. “Evolução Urbana no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: IPLAN: 1997:112. 127 LORDELLO, Sérgio. “ Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – O caso de Botafogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 164.

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fig. 81 - Foto do Palacete dos Paula Machado, situado na Rua São Clemente, nº 213.

Mesmo apresentando muitos problemas, como tráfego intenso e infra-estrutura

subdimensionada, o bairro de Botafogo continuou atraindo moradores, porque oferece um

comércio diversificado incluindo shoppings e lojas tradicionais, muitos colégios,

transportes e um acesso fácil a várias partes da cidade em função das aberturas dos túneis

Catumbi-Laranjeiras e Rebouças, além dos túneis Velho e Novo que unem o bairro às

praias oceânicas.

Como consequência, surgiram nesta mesma época, os empreendimentos

imobiliários residenciais que elevaram o gabarito do bairro, alterando sua paisagem

horizontal.

Entre as décadas de 1940 e 1960, foram construídos edifícios residenciais entre oito

e doze pavimentos sobre jardins, muitas vezes ocultos aos passantes, com áreas internas

generosas, localizados principalmente nos eixos viários mais importantes.

fig. 82 - Rua São Clemente, 137 - Edifício Almirante Guillobel. (década de 1940)

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Nas décadas seguintes (1960/1970), mesmo ocupando o segundo lugar no quadro

de população dos bairros da zona sul, perdendo somente para Copacabana, Botafogo

experimentou um estacionamento no número de seus habitantes, devido, principalmente, à

saturação do espaço disponível para edificação.

De acordo com a tabela da Secretaria Municipal da Fazenda, a porcentagem do

número de domicílios com até 100,00m² de área construída no bairro de Botafogo, no ano

de 1976, chegou a 79,5%, o que demonstra uma predominância de unidades residenciais

típicas de classe social de renda média e baixa, porém habitadas em forma de aluguel e não

em unidades próprias.128

Com a valorização dos aluguéis na década de 1970 (98% no período de 1972 a

1975), percebe-se a valorização do solo do bairro e um fator de expulsão potencial de seus

habitantes.129

Os lançamentos imobiliários de imóveis residenciais ocorridos em Botafogo

comprovam a valorização do bairro, nos fins da década de 1970. Em trinta edificações

lançadas no mercado, onze eram de unidades residenciais com mais de 100,00m² de área

(37%).130

Se o período 1930-1960 caracterizou-se pela diversificação social, com a chegada

de segmentos inferiores das classes médias, os últimos anos do período de que tratamos se

caracterizou pela chegada de novos segmentos sociais de renda mais alta, num processo

clássico de “recuperação” de áreas urbanas “deterioradas”, o que resulta invariavelmente

na reciclagem da áreas para residência das classes sociais de maior poder aquisitivo e que

podem então pagar por aquele solo valorizado, como nos salienta Lordello.131

Neste período, também se verificou uma nova dinâmica no setor de serviços no

bairro, com a instalação de escritórios de grandes empresas como Furnas, Docenave,

Hidroservice, Sondotécnica e outras. A instalação do prédio da Fundação Getúlio Vargas

na Praia de Botafogo (1956) consagrou um novo tipo de aproveitamento da orla, seguido

128 Secretaria Municipal da Fazenda. Imposto Predial e Territorial / 1976, Apud Plano Urbanístico Básico da Cidade do Rio de Janeiro. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, junho/1977. 129 Instituto Gallup de Opinião Pública, 1975; Apud Plano Urbanístico Básico da Cidade do Rio de Janeiro, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, junho/1977. 130 Dados da Revista ADEMI, segundo pesquisa realizada pelo IDEG – Instituto de Desenvolvimento Econômico e Gerencial – Rio de Janeiro, 1978/1980. 131 LORDELLO, Sérgio. “ Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – O caso de Botafogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 176.

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por outras empresas (Telerj, Shell, Banco Chase) e pelo Centro Empresarial Rio (1978)

localizado no terreno da antiga Embaixada da Argentina. Mais recentemente, podemos

destacar a reutilização do antigo prédio da Sears Roebuck como Praia Botafogo Shopping,

pontuando uma nova fase de valorização da orla.

fig. 83 - Fundação Getúlio Vargas fig.84 - Centro Empresarial Rio

Vale a pena citar duas áreas que se destacaram como centro de atividades não-

residenciais: o trecho do entorno da Rua da Passagem (Arnaldo Quintela, General Polidoro

e General Severiano) tratando-se de um fenômeno de substituição do uso residencial, e a

área compreendida pelas Ruas Visconde de Caravelas, General Dionísio, Capitão Salomão,

Conde de Irajá e Visconde Silva, um fenômeno de renovação, com construção de

edificações de uso misto ou de salas comerciais para consultórios médicos. Somando-se os

novos restaurantes desta área temos uma mudança na característica eminentemente

residencial, anterior, no que passou a ser chamado “Baixo Botafogo”.

fig. 85 - Publicação sobre o Baixo Botafogo com mapa da localização dos restaurantes.

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Também neste período (décadas de 1960/1970) surgiram exemplos de

verticalização mais acentuada, como o Edifício Marechal Deodoro da Fonseca (1966), na

Rua Dona Mariana, com 26 pavimentos; o Edifício Casa Alta (1959-1967) na Praia de

Botafogo com 18 pavimentos; e o Conjunto Morada do Sol, situado na Rua General Góis

Monteiro, com 25 pavimentos. Próximo a este, localiza-se o shopping Rio Sul, com sua

torre de 40 pavimentos de uso comercial datado de 1975, na Avenida Lauro Muller.

fig. 86 - Edifício Casa Alta fig. 87 - Shopping Rio Sul

A tendência verificada na década de 1970 de valorização sistemática do uso do

solo, em todo o bairro de Botafogo, ganhou impulso na década de 1980.

Abaixo estão relacionados os dados numéricos a respeito dos lançamentos

imobiliários em Botafogo nos últimos vinte anos.

Quadro dos Lançamentos no Bairro de Botafogo desde a década de 1980

Ano Número de Lançamentos

Número de Aptos

S / 1 Q (%)

S / 2Q (%)

S / 3Q (%)

S / 4Q (%)

1980 07 550 53 34 13 - 1981 04 410 42 42 16 - 1982 14 1230 10 60 30 - 1983 04 388 04 93 03 - 1984 01 44 50 50 - -

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1985 05 210 60 06 20 14 1986 16 549 33 38 25 04 1987 17 757 27 51 21 01 1988 08 314 - 85 15 - 1989 09 347 28 60 12 - 1990 06 153 - 75 25 - 1991 03 80 - 92 08 - 1992 - - - - - - 1993 05 172 - 80 20 - 1994 06 200 - 65 35 - 1995 - - - - - - 1996 04 212 - 39 42 19 1997 03 188 - 88 12 - 1998 01 58 - - 100 - 1999 02 93 - 90 - 10

Fonte: Compilação feita a partir de pesquisa realizada pela IDEG – Instituto de Desenvolvimento Econômico e

Gerencial para ADEMI – Associação dos Dirigentes.

O número expressivo de lançamentos de unidades residenciais no bairro no ano de

1982, como mostra o quadro de lançamentos em Botafogo nas décadas de 1980 e 1990,

deveu-se à iminência da regulamentação da Lei 434, em meados de 1983. A perspectiva da

regulamentação de uma legislação mais restritiva causou a liberação dessas unidades no

mercado, na tentativa de salvar o empreendimento de uma redução no número de

apartamentos.132

De uma certa maneira, os empreendimentos se mantiveram normalizados na década

de 1980, com exceção dos anos de 1986 e 1987 quando há um acréscimo no número de

lançamentos, provenientes de um novo modelo econômico decretado pelo Governo

Federal, o Plano Cruzado, que causou alguma euforia no mercado imobiliário. Foram 33

lançamentos com 1306 unidades, demonstrando que a Lei 434 originou empreendimentos

de menor porte. Foram em média 40 apartamentos por prédio, quando em 1982 eram em

média 88 apartamentos.

132 No ano de 1982, foram lançados, no mercado, 14 empreendimentos no bairro de Botafogo, com 1230 apartamentos.

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No início da década de 1990, houve uma redução no número de lançamentos

devido a novo momento econômico vivido pelo país que inibiu o setor imobiliário, o Plano

Collor; o bairro não teve registro de lançamento, nos anos de 1992 e 1995.

Observou-se, porém, um novo fenômeno nesta década: não houve um único

lançamento residencial dotado de oferta de apartamentos de sala-e-quarto. Quando, na

década de 1980, eles representavam 31% dos lançamentos, na de 1990 eles caíram a zero,

numa demonstração clara de como a legislação em vigor inibiu a oferta deste produto. A

demanda recaiu sobre os apartamentos de sala-e-dois-quartos (66%) e sala-e-três-quartos

(31%), aumentando as dimensões interiores dos imóveis residenciais lançados no mercado

até o ano 2000.

Enquanto ocorreram 115 empreendimentos residenciais durante as décadas de 1980

e 1990, lançando 5.955 apartamentos no mercado, sendo 17% de sala-e-quarto, 58% de

sala-e-dois-quartos, 22% de sala-e-três-quartos e 3% de sala-e-quatro-quartos, os

lançamentos de empreendimentos comerciais foram apenas três, perfazendo 670 salas

comerciais (incluindo neste número a torre do Shopping Rio Sul), o que representa a

tentativa de recondução do bairro à vocação residencial de classe média e média alta.

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116

2.3 - Desenvolvimento da Legislação pertinente ao Bairro de Botafogo

A legislação relativa ao bairro de Botafogo era praticamente comum a toda cidade

do Rio de Janeiro, até a década de 1980, quando Botafogo foi contemplado com uma

legislação urbanística exclusiva para o bairro, através da Lei 434/1981.

Habitado desde o século XVI, acompanhou todos os processos de desenvolvimento

urbanístico e edilício da cidade, desde a ordem do Vice-rei para a abertura de ruas públicas

dentro das terras de D. Clemente, latifundiário proprietário de meio-bairro atual (ver fig.

56), caracterizando, assim, a primeira intervenção do poder público.

Desenvolveu-se, abrigando chácaras, palacetes, solares e também vilas e cortiços

abundantes no bairro em meados do século XVIII. Justamente pela abundância e

insalubridade dos cortiços, foram criadas as primeiras leis que tentavam ordenar e

higienizar as construções (decreto 3151/1882), até mesmo com isenção de impostos, para

que fossem construídas seguindo uma série de exigências higiênicas (decreto 9859/1888).

Apesar da proibição à construção de cortiços, esta só foi regulamentada em 1903,

pelo decreto 391.

O primeiro decreto, regulamentador das edificações com mais de dois pavimentos,

foi lançado em 1925, pelo decreto 2087. Anteriormente os decretos possuíam regência

desarticulada. Deste período, são os prédios de três pavimentos alinhados às divisas com o

pavimento térreo ocupado por unidades residenciais ou comerciais.

No fim da década de 1920, a vinda de Agache, levantando discussões sobre

transportes, zoneamentos e implantações das edificações, influenciou o bairro de maneira

determinante para o futuro. A proibição da expansão das fábricas localizadas em zonas

residenciais, decorrente da criação das zonas industriais através do decreto 6000/1937,

resultou no aproveitamento de terrenos ora ocupados por indústrias para novos loteamentos

residenciais.

Outra mudança importante foi a proibição da construção de novas vilas, o que

impulsionou a utilização do solo para a construção de edifícios de apartamentos.

O decreto 6000 estabeleceu gabarito de 2 e 3 pavimentos para o bairro como um

todo, 2 e 6 pavimentos nos eixos de penetração (Rua Voluntários da Pátria e Rua São

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117

Clemente) e 5 e 10 pavimentos para a Praia de Botafogo. O PA 4012/1944 ampliou este

último para 12 pavimentos, o decreto 7876/1944 determinou 10 pavimentos para o

Humaitá e o decreto 8274/1945 estendeu esta possibilidade ao Largo dos Leões. “Estavam

asseguradas as bases para o adensamento ao longo desses eixos que iriam modificar

especialmente a Praia de Botafogo.”133

Este decreto originou vários dispositivos adicionais que permitiram a ultrapassagem

destes limites estabelecidos, como, por exemplo, a proporção da altura com a largura do

logradouro, a permissão para escalonar os últimos pavimentos, o aumento da altura da

edificação em função do afastamento das divisas laterais e frontais (a cada metro afastado

em relação à testada frontal mais um pavimento acrescido à altura total).

Encontramos exemplares resultantes deste decreto e seus dispositivos por todo

bairro. São edifícios-chácara com alturas entre 8 e 10 pavimentos, alguns com unidades no

pavimento térreo e outros sob pilotis, com jardins frontais e internos.

Os edifícios resultantes da utilização dos dispositivos complementares também

podem ser vistos na Praia de Botafogo e nas ruas internas também.

fig. 88 - Fotos dos Edifícios Dom Bosco e Apollo, com gabaritos muito superiores e afastados das ruas.

133 LORDELLO, Sérgio. “Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – o caso de Botafogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 165.

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118

Outro aspecto da mudança de legislação que influenciou o bairro foi a exigência da

implantação de vagas de garagem no interior do terreno da edificação, em fins da década

de 1950.

No início da década de 1960, o plano executado por Doxiadis, para a cidade, teve

grande impacto no bairro, principalmente devido à política de remoção de favelas134 e ao

estudo para implantação do Metrô na cidade.

A Lei 1574, regulamentada em 1967, trazia aspectos mais proibitivos do que

regulamentadores, tentando coibir os abusos decorrentes dos dispositivos de decreto 6000.

A partir desta data todas as ações vinculadas à construção, demolição, terraplanagem e

loteamentos deveriam passar pela aprovação por parte do Poder Público, que se tornou o

gestor de todas as intervenções no espaço geral, não só do bairro, como da cidade do Rio

de Janeiro.

Em 1976, com regulamentação do decreto 322 que criou os Centros de Bairros

(CBs), consagraram-se os eixos de passagens dos bairros, referendando tendências de

diversificação funcional e pressão por adensamento, já delineadas desde que

correspondessem aos eixos das linhas de bonde.

A partir deste decreto, novas tipologias de edificações multifamiliares foram

criadas, com a introdução dos pavimentos de uso comum (PUCs) localizados sobre

pavimentos destinados às garagens de automóveis. Medidas restritivas às construções

novas foram tomadas a partir da introdução do cálculo da área total edificada (ATE) e do

cálculo do número de pavimentos relacionado com o nível do terreno em relação ao nível

médio do mar.

Como este decreto era abrangente porque legislava sobre todo o Município do Rio

de Janeiro, surgiram os Planos de Estruturação Urbanos (PEUs) referentes a cada bairro em

particular. O plano para o bairro de Botafogo foi regulamentado através da Lei 434, datada

de 1981, que trouxe, em seu corpo, proposições que iriam acarretar impactos na

estruturação do bairro.

Em primeiro lugar, a Lei 434 limitou em três pavimentos apenas as construções não

residenciais no bairro, desviando, assim, a tendência de várias décadas, da implantação de

134 O bairro de Botafogo teve duas de suas principais favelas removidas nesta década, a do Morro do Pasmado e a do Humaitá.

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119

sedes de empresa no local, como também proibiu atividades de ensino de qualquer grau e a

implantação de novas edificações para assistências médicas com internação. Com estas

medidas, a Lei inibiu de maneira bastante significativa as atividades de serviços no bairro.

Em segundo lugar, vinculou o número de unidades residenciais ao tamanho do lote

existente, proporcionando uma unidade residencial para cada 30,00m² de área de terreno.

Esta medida restringiu o número de unidades no lote, o que acarretou serem projetadas

com dimensões internas maiores em função do cálculo da área edificada não ter sido

alterada, verificando-se assim uma tendência no aumento do número de representantes das

camadas de renda mais alta.

Em terceiro lugar, estabeleceu a fixação do gabarito de altura em cinco pavimentos

para as edificações alinhadas às divisas e em onze pavimentos para as edificações afastadas

das divisas. Este gabarito, comparado com os praticados por influência do decreto

6000/1937, são mais restritivos, porém com o surgimento das tendências refletidas nos

PEUs nos diversos bairros e principalmente com a publicação do Plano Diretor do

Município, em 1992, que restringiu a altura das edificações em 12,00 metros (três

pavimentos sobre um pilotis), os parâmetros fixados para Botafogo se tornaram bastante

atraentes para o setor imobiliário.

Sérgio Lordello nos traz que “seja sob que argumento for, as regulamentações

acabam por respaldar tendências de transformação impressas pelo interesse despertado

pelas Companhias Imobiliárias, tendências essas que de forma alguma se poderiam

considerar “espontâneas’ mas dentro de uma lógica dos interesses privados”.135

O que se apresenta, então, decorrentes da Lei 434, são edificações sobre um

pavimento de garagem, com unidades residenciais com aproximadamente 100,00m² cada, e

um padrão de acabamento mais esmerado, refletindo o interesse da elitização do bairro,

fortalecendo o uso residencial.

Esta tendência, corroborada pelo Poder Público, transformou-se num elemento

reestruturador de Botafogo, imprimindo uma nova escala para o uso residencial e

modificando sua composição social.

135 LORDELLO, Sérgio. “Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – o caso de Botafogo.” Rio de Janeiro: PUR/COPPE/UFRJ, 1981: 201.

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120

3 - Considerações acerca dos Tipos Arquitetônicos de Edificações

Residenciais Multifamiliares no Rio de Janeiro

De acordo com Rossella Rossetto, “definir e classificar segundo conceitos é uma

das formas de estruturar o conhecimento e aprofundar-se no estudo dos elementos de uma

disciplina determinada. Os estudos de arquitetura tendem a basear suas classificações nos

elementos formais e espaciais do objeto, introduzindo-se assim, em geral, os conceitos de

tipo e tipologia”.136

Segundo Aldo Rossi, “o tipo é a própria idéia de arquitetura e a tipologia é o seu

modelo analítico. Toda arquitetura pode ser enquadrada em uma análise tipológica, assim

como a cidade, quando nesta se identificam determinados elementos constitutivos definidos

por ele como fatos urbanos”.137

Sendo assim, as formações tipológicas são o resultado das transformações ocorridas

na história, tanto dos fatos sócioeconômicos, como, principalmente, da sociedade e da

cultura. Deste modo, verifica-se que a tipologia arquitetônica é o resultado da evolução das

circunstâncias e dos paradigmas de uma época.

Luiz Mauro Passos explica este fenômeno da seguinte forma: “as formações

tipológicas são características de determinados períodos, bem como são encontrados

freqüentemente em certas áreas urbanas. Essas formações tipológicas são em geral

reproduzidas em um grande número de edifícios, mas também transformadas ao longo do

tempo, seja por variações de aspectos particulares, seja por mudanças radicais dos

paradigmas projetuais.”138

O estudo das diversas fases da arquitetura da casa ao edifício de apartamentos e sua

relação com as circunstâncias sócio-históricas e com as posturas municipais através da

legislação urbanística constituem uma reflexão pertinente à análise da relação desta

arquitetura cotidiana com a cultura e a evolução da cidade.

136 ROSSETTO,Rossella. “Arquitetura Moderna e tipologias de mercado: Uma primeira classificação.” In SAMPAIO, Mª Ruth Amaral. “A Promoção Privada de Habitação Econômica e a Arquitetura Moderna, 1930 – 1964.” São Paulo: Rima Editora, 2002:30. 137 ROSSI, Aldo. “A Arquitetura da Cidade.” São Paulo: Martins Fontes, 1995:27. 138 PASSOS, Luiz Mauro do C. “Edifícios de Apartamentos em Belo Horizonte, 1939-1976.” Belo Horizonte: AP Cultural, 1998:15.

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121

No entender de Vera Tângari, “a construção dirigida da paisagem é instrumentada

através de ações diretas, produto de projetos e obras, nas suas diversas escalas e tempos de

execução, ou de ações indiretas, realizadas por meio de normas e procedimentos vinculados

à legislação urbanística e edilícia.”139

E na descrição das características observadas na evolução da edificação

multifamiliar, nas épocas distintas, pode-se verificar as variações dos diversos aspectos das

formações tipológicas, levando à classificação de exemplos concretos das mesmas. Um

mesmo modelo de quadra e de lote indica a reprodução de características específicas de

tipos de edificações, relacionadas à determinada época e sua estética predominante.140

Sendo assim, o estudo tipológico arquitetônico expressa a evolução de constituição

da paisagem construída, ajudando a caracterizar seu papel estético.

Segundo o pensamento de Colquhoun “o tipo revela a norma e os valores estéticos

acumulados, resultantes de fatores culturais que condicionaram a formação da norma

estética e que, também, regem a sua permanente transformação”.141

O conceito de tipo, então, revela a necessidade de uma postura de aproximação com

a história, sem deixar de revê-la criticamente.

Segundo Argan, para se “estabelecer o tipo, devemos estabelecer antes os níveis de

tipologia, de acordo com a maneira de viver e conceber o espaço – neste caso, o tipo é um

esquema de distribuição espacial – e com a função do espaço.” O tipo, então, é determinado

pela comparação de uma série de edifícios, e resulta de um processo de seleção em que são

separadas as características que se repetem. O mesmo autor afirma que a definição mais

interessante ainda é do teórico francês Quatrémère de Quincy (1755-1849), que diferenciou

Tipo e Modelo. “Enquanto o tipo é a idéia geral, que permite variações, o modelo se copia e

se imita”.142

139 TÂNGARI, Vera. “Um Outro Lado do Rio.” São Paulo: FAU / USP, 1999:29. 140 TÂNGARI,op.cit. : 35. 141 COLQUHOUN, Alan. “Tipologias y método de diseño.” Buenos Aires: Ed. Summa, 1974 142 ARGAN, Giulio Carlo. “ El Concepto de Espacio Arquitectónico.” Buenos Aires: Ediciones Niueva Visión, 1961: cap. 2.

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122

Diante da diversidade das acepções potenciais da palavra tipo – e por extensão de

seu estudo analítico através da tipologia -, é possível entender por que tanta literatura foi

dedicada, especialmente nas décadas de 1960 a 1980, a explorar as potencialidades de sua

aplicabilidade, seja no campo estritamente teórico-crítico da Arquitetura, seja no âmbito da

Teoria do Projeto, com um caráter mais propositivo, no entender de Maria Alice

Medeiros.143

Por estarmos nos atendo ao estudo das edificações multifamiliares localizadas

basicamente na zona sul carioca, mais especificadamente no bairro de Botafogo, o foco

direcionado segue instantaneamente ao âmbito da iniciativa privada.

O projeto da edificação e a viabilidade da incorporação são fruto de uma série de

cálculos e produto, basicamente, da influência sofrida pelas limitações impostas pelas

normas de construção. Estas limitações e direcionamentos ditados pela legislação definem a

volumetria e as tendências tipológicas das edificações multifamiliares dentro dos diversos

bairros da cidade.

Foi possível reconhecer, na pesquisa realizada, alguns tipos empregados com

regularidade constituindo expressões de um mercado imobiliário que visou a rentabilizar

investimentos pelo acesso diferenciado que a localização dos terrenos propiciou e pela

possibilidade de gerar o maior número de unidades residenciais.

143 MEDEIROS, Mª Alice Lopes. “O Uso de Tipos na Metodologia Projetual.” Rio Grande do Norte: PPGAU / UFRN, 2003.

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123

3.1 – Identifição dos tipos arquitetônicos de edificação multifamiliar

no século XX.

A partir da substituição das moradias insalubres, decorrente de posturas municipais

dos novos padrões da classe emergente, surgiram as casas de apartamentos, no início do

século XX. Como Lílian Vaz esclarece, “a última ligação do modelo de habitação com a

categoria social que a ocupava permitiu associar a mais coletiva das habitações à vida

invejável das ascendentes classes médias cariocas e dissociá-las totalmente de seus

antecedentes condenados”. 144

No Rio de Janeiro, edificações multifamiliares começaram a surgir como resultado

da demolição do antigo Convento da Ajuda, em frente à Praça Floriano, na atual Cinelândia,

formando um alargamento no extremo sul da Avenida Central. Podemos citar como

exemplos desta época: o edifício de utilização mista do Cinema Capitólio, com dez

pavimentos, construído em 1925; o edifício residencial Lafont, construído em 1910, na

esquina da Avenida Central com a Rua Santa Luzia (ver Fig. 8); e o Hotel Palace de

Copacabana, com 7 pavimentos, construído em 1922, para os festejos do Centenário da

Independência do Brasil (atual Copacabana Palace).

fig. 89 - Postal do Copacabana Palace

Observar a pedreira Inhangá localizada ao lado.

144 VAZ, Lílian F. “Uma História da Habitação Coletiva na Cidade do Rio e Janeiro – Estudo da Modernidade através da Moradia.” São Paulo: FAU / USP, 1994: 35.

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124

A “casa de apartamentos” representou uma transição para o edifício de

apartamentos, porque continha características específicas com unidades habitacionais de

tamanho e número de compartimentos diversos e com unidades habitacionais incompletas,

até sem cozinha.145

Na cidade do Rio de Janeiro, podemos identificar diversos tipos arquitetônicos de

edificações multifamiliares, que caracterizaram as conformações dos diversos bairros,

relacionando-se à sua evolução histórica.

Para efeito dessa pesquisa e como intuito de aplicação posterior da análise ao bairro

de Botafogo, identificamos dez tipos de edificação multifamiliar no Rio de Janeiro, segundo

as seguintes categorias de análise:

a) Programa e faixa de renda:

Foram estudadas moradias para famílias de classe média e média alta, com

programa mínimo de sala e/ou sala de jantar, 2, 3 e/ou 4 quartos, 1 a 4 banheiros sociais

e/ou suítes, cozinha e/ou copa, área de serviço, quarto e banheiro de empregada; edifício

com ou sem área de lazer, com ou sem ajardinamento, com ou sem garagem.

b) Condicionantes legais:

Foram relacionados os tipos que, direta ou indiretamente, foram condicionados por

leis e decretos, ilustrativos da inovação, transformação e sedimentação dos programas e

projetos de edificação multifamiliar, conforme item “a”.

c) Implantação urbana:

Foram analisados os aspectos quanto ao zoneamento, aos afastamentos frontais e

laterais, inserção do edifício no lote e relação volumétrica com o entorno.

d) Volumetria e modelagem arquitetônica:

Foram analisados os tipos de acordo com o número de pavimento e/ou gabarito de

altura; utilização no pavimento térreo, com ou sem pilotis; com e sem subsolo, existência ou

145 VAZ, Lílian F. “Uma História da Habitação Coletiva na Cidade do Rio e Janeiro – Estudo da Modernidade através da Moradia.” São Paulo: FAU / USP, 1994: 154.

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não de jardins no pavimento térreo; existência ou não de áreas de lazer e/ou pavimentos de

uso comum; existência ou não de embasamento no limite do lote.

A aplicação destas categorias de análise levou à definição de dez tipos básicos, ao

longo do século XX, listados abaixo segundo a ordem cronológica da legislação que

condicionou sua construção:

1) Edificações de três pavimentos com utilização no pavimento térreo para

unidades residenciais ou comerciais, alinhadas às divisas laterais e frontais.

2) Edificações de oito a dez pavimentos alinhados às divisas laterais e com

afastamento frontal, com pavimento térreo ocupado por unidades residenciais, e jardins

frontais.

3) Edificações de quatro pavimentos residenciais sobre pilotis, alinhadas às divisas

laterais, com ou sem afastamento frontal.

4) Edificações de sete a quinze pavimentos, com ou sem pilotis, com

aproveitamento para unidades residenciais e garagens no pavimento térreo, alinhadas ou

afastadas das divisas laterais.

5) Edificações de quinze a vinte e cinco pavimentos, alinhadas às divisas laterais

com afastamentos frontais proporcionais ao número de pavimentos, sobre pilotis.

6) Edificações com mais de vinte e cinco pavimentos afastados das divisas laterais

e frontal sobre pilotis.

7) Edificações entre onze e dezoito pavimentos, afastadas das divisas laterais e

frontal, sobre pavimentos de embasamento para garagem e lazer.

8) Edificações afastadas das divisas laterais e frontal, implantadas em lotes

condominiais, com vinte a trinta pavimentos, sobre pilotis, com pavimentos em subsolo para

garagem e área de lazer e ajardinamento para uso coletivo no pavimento térreo.

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126

9) Edificações de cinco pavimentos sobre pavimento de embasamento para

garagem e/ou lazer, alinhado às divisas laterais.

10) Edificações entre cinco e onze pavimentos afastadas das divisas laterais e

frontal, sobre apenas um pavimento garagem.

Os tipos 1 e 2 são encontrados mais normalmente nas décadas de 1920 a 1940, os

tipos 3, 4, 5 e 6 são oriundos das décadas de 1940 a 1970 e os tipos 7, 8, 9 e 10 são

característicos das décadas de 1970 a 2000.

O quadro abaixo relaciona os tipos identificados e a legislação a eles vinculada:

Quadro Síntese dos Tipos Arquitetônicos

Tipo Descrição Leis e/ou Decretos

1 Edificações de três pavimentos com utilização

no pavimento térreo para unidades residenciais

ou comerciais, alinhadas às divisas laterais,

podendo ter afastamento frontal ou não.

Decreto 2087/1925

2 Edificações de oito a dez pavimentos alinhados

ou não às divisas laterais, com afastamento

frontal, com pavimento térreo ocupado por

unidades residenciais, e jardins frontais.

Decreto 6000/1937

3 Edificações de quatro pavimentos residenciais

sobre pilotis, alinhadas às divisas laterais, com

ou sem afastamento frontal.

Dispositivos do Decreto

6000/1937

4 Edificações de sete a quinze pavimentos, sobre

pilotis, com aproveitamento para unidades

residenciais e garagens no pavimento térreo,

alinhadas ou afastadas das divisas laterais.

Dispositivos do Decreto

6000/1937

5 Edificações de quinze a vinte e cinco Dispositivos do Decreto

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127

pavimentos, alinhadas às divisas laterais com

afastamentos frontais proporcionais ao número

de pavimentos, sobre pilotis.

6000/1937

6 Edificações com mais de vinte e cinco

pavimentos afastados das divisas laterais e

frontal sobre pilotis.

Lei 1574/1967

7 Edificações entre onze e dezoito pavimentos,

afastadas das divisas laterais e frontal, sobre

pavimentos de embasamento para garagem e

lazer.

Decreto 322/1976

8 Edificações afastadas das divisas laterais e

frontal, implantadas em lotes condominiais,

entre vinte e trinta pavimentos, sobre pilotis,

com pavimentos em subsolo para garagem e

área de lazer e ajardinamento para uso coletivo

no pavimento térreo.

Decreto 3046/1981

para a Baixada da Barra da

Tijuca e Jacarepaguá

9 Edificações de cinco pavimentos sobre

pavimento de embasamento para garagem e/ou

lazer, alinhado às divisas laterais.

Decreto 322/1976

e Lei 434/1983 para o bairro

de Botafogo

10 Edificações entre cinco e onze pavimentos

afastadas das divisas laterais e frontal, sobre

apenas um pavimento garagem e um de uso

comum.

Lei 434/1983

(PEU de Botafogo)

Dentre esses 10 tipos arquitetônicos, sete exemplos serão selecionados para serem

analisados com profundidade, aplicados ao bairro de Botafogo, conforme detalhado no

Capítulo 4

Page 148: Um estudo tipológico das transformações das edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, entre 1930 e 2000: o caso do bairro de Botafogo

128

3.2 – Descrição dos tipos arquitetônicos identificados

3.2.1 – Tipo 1: As “casas de apartamentos”

Correspondem a edificações de três pavimentos com utilização no pavimento

térreo para unidades residenciais ou comerciais, alinhadas às divisas laterais e frontal.

Dentro dos tipos vernaculares desenvolvidos para uso residencial, podemos

destacar os sobrados, marcando o início da transformação de residência unifamiliar para

multifamiliar, a partir do Decreto 2087 de 1925. Agregando-se mais um pavimento superior

e utilizando-se o pavimento térreo com unidades residenciais, os edifícios de três

pavimentos marcaram transição para a habitação coletiva verticalizada.

fig. 90 - Vila de edificações multifamiliares de três pavimentos, localizada na Rua Conde de Bonfim na Tijuca.

Este tipo de edificação multifamiliar, de pequena volumetria, comum nas décadas

de 1930 e 1940, surgiram em todas as partes da cidade, “reproduzindo tipos de vãos,

telhados, acabamentos externos e detalhes de fachada das casas e sobrados”, como descrito

por Vera Tângari.146

fig. 91 - Edifício junto à Avenida Maracanã na Tijuca.

146 TÂNGARI, Vera. “Um Outro Lado do Rio.” São Paulo: FAU / USP, 1999:114.

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129

fig. 92 - Conjunto composto por pequenas edificações no Encantado. fig. 93 - Edifício da Rua Gal. Rabelo, 3, na Gávea.

No bairro de Botafogo, este tipo de edificação multifamiliar é ainda bastante

encontrado, como nos exemplos abaixo:

fig. 94 - Edifício da Praça Jóia Valansi, 38 fig. 95 - Edifício da Praça Jóia Valansi, 32

fig. 96 - Rua Paulino Fernandes, 52 esquina com R. Prof. Álvaro Rodrigues.

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130

3.2.2 – Tipo 2: Os “edifícios-chácara”

Edificações de oito a dez pavimentos alinhados às divisas laterais e com

afastamento frontal, com pavimento térreo ocupado por unidades residenciais e jardins

frontais.

Os edifícios de apartamentos diferiam quanto à forma arquitetônica pelas diferentes

volumetrias apresentadas, significando nas décadas de 1930 a 1950, exemplo de

modernidade. Após o Decreto 6000 de 1937, alinhados às divisas laterais apresentavam

apartamentos no pavimento térreo e também largos jardins nos acessos de característica

romântica. Foram incorporadas as técnicas de concreto armado e dos avanços construtivos

tecnológicos, como o elevador.

fig. 97 - Edifício Capiberibe na Rua Senador Vergueiro, 92 no Flamengo.

No bairro de Botafogo existem ainda muitos exemplos deste período.

fig. 98 – Ed. Barão de Lucena na Rua São Clemente, 158. fig. 99 - Edifício Alm. Guillobel na Rua São Clemente, 137.

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131

3.2.3 – Tipo 3: Os “edifícios-modernos” sobre pilotis

Edificações de quatro pavimentos residenciais sobre pilotis, alinhadas às divisas

laterais com e sem afastamento frontal.

Vera Tângari descreve, em sua tese de doutorado, a influência do pensamento

“moderno” na modificação das tipologias arquitetônicas residenciais: “na zona sul, as

edificações originais, do tipo “chácaras-urbanas”, “palacetes” e “assobradados”, passaram a

ser substituídas por edifícios “modernos”, desenhados segundo a estética art-déco –

inaugurada em Copacabana e no Flamengo a partir da década de 1940 – e que já

incorporavam as inovações da arquitetura do movimento moderno, como o pilotis e vãos em

panos de vidro.”147 Este tipo é bastante comum ainda hoje, em lotes de menores dimensões.

fig. 100 - Edifício com 4 pavimentos na Avenida Vieira Souto. fig. 101 - Edifício com 4 pavimentos na Rua Paissandu.

E em Botafogo, encontramos poucos exemplos como na Praça Radial Sul.

fig. 102 - Edifícios de 4 pavimentos na Praça Radial Sul.

147 TÂNGARI, Vera. “Um Outro Lado do Rio.” São Paulo: FAU / USP, 1999:116.

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132

3.2.4 – Tipo 4: Os “edifícios-corredor”

Edificações de sete a quinze pavimentos, com ou sem pilotis, com aproveitamento

para unidades residenciais e garagens no pavimento térreo, alinhadas ou afastadas das

divisas laterais.

Devido à crescente necessidade de moradia e consequente valorização dos lotes

urbanos e com a múltipla interpretação do decreto 6000 de 1937, que permitia várias

aplicações dos seus dispositivos, foram construídos edifícios com gabarito elevado,

encostados às divisas, formando corredor de prédios alinhados lateralmente uns aos outros.

Com a popularização do modelo residencial de edificação multifamiliar, as

construções se sucediam obedecendo à demanda crescente. Os edifícios de apartamentos

alinhados às divisas se beneficiaram de dispositivos do Decreto 6000/1937 que permitiram

um acréscimo no número de pavimentos, de acordo com o escalonamento em fachada, por

exemplo.

Foram construídos em grande quantidade em toda a cidade, notadamente em

Copacabana.

fig. 103 - Edifício Jarau em Copacabana. fig. 104 - Edifício Copacabana.

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133

Os exemplos selecionados em Botafogo ficam na Praia de Botafogo e na Rua

Voluntários da Pátria:

fig. 105 – Ed. João M. Magalhães na Rua Voluntários da Pátria, 127 fig. 106 - Exemplos localizados na Pr. de Botafogo.

3.2.5 – Tipo 5: Os “edifícios-torre” recuados, sobre pilotis

Edificações de quinze a vinte e cinco pavimentos, alinhadas às divisas laterais com

afastamentos frontais proporcionais ao número de pavimentos, sobre pilotis.

Com a valorização crescente do solo urbano, principalmente nos bairros de maior

demanda, os empreendimentos imobiliários procuravam os meios para alcançar um maior

aproveitamento do terreno. Os lotes com maiores dimensões se beneficiavam da legislação

que, na década de 1960, permitia um acréscimo de pavimentos em função do maior

afastamento frontal.

fig. 107 - Edifício Casa do Mirante, no Flamengo.

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134

Encontramos no bairro de Botafogo o seguinte exemplo:

fig. 108 - Edifício Caparaó na Praia de Botafogo, 130.

3.2.6 – Tipo 6: Os “edifícios-torre” isolados sobre pilotis

Edificações com mais de vinte e cinco pavimentos afastados das divisas laterais e frontal sobre pilotis.

A partir da Lei 1574 de 1967, em terrenos de maiores dimensões, as edificações

foram implantadas afastadas das divisas, sobre pilotis, com grandes afastamentos laterais e

frontal e elevados gabaritos de altura. Prenunciaram o posterior desenvolvimento do modelo

que seria aplicado em larga escala na Barra da Tijuca, nas décadas seguintes.

fig. 109 - Edifício Estrela da Lagoa.

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135

Em Botafogo, este tipo é encontrado nos exemplos:

fig. 110 - Edifício Apolo na Praia de Botafogo, 96. fig. 111 - Edifício Casa Alta na Praia de Botafogo, 528.

3.2.7 – Tipo 7: As “lâminas” sobre embasamento

Edificações entre onze e dezoito pavimentos, afastadas das divisas laterais e

frontal, sobre pavimentos de embasamento para garagem e lazer.

Com o advento do Decreto 322 em 1976, as posturas legais se alteraram bastante

com a inclusão do cálculo de limite da área total edificada, que restringiu o aproveitamento

dos terrenos. Foi introduzido também o pavimento de embasamento para assentamento das

garagens e as áreas de uso comum.

O Decreto 322/1976 incluiu também a possibilidade de se projetar vagas de

garagem em pavimentos com cem por cento de ocupação do terreno, criando novo tipo de

lâmina sobre pavimentos de embasamento, onde passou-se a projetar o pavimento de uso

comum para fins específicos de lazer, item obrigatório para a aprovação do projeto

arquitetônico junto aos órgãos legais.

fig. 112 - Edifícios Sonata e Rapsody na Lagoa.

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136

Os exemplos do bairro de Botafogo são os seguintes:

fig. 113 – Rua São Clemente, 200. fig. 114 – Rua Ministro Raul Fernandes, 135. fig. 115 – Rua General Polidoro, 58.

3.2.8 – Tipo 8: As torres em lotes condominiais ou “super-quadras”

As edificações afastadas das divisas laterais e frontal, implantadas em lotes

condominiais, com vinte a trinta pavimentos, sobre pilotis, com subsolo para garagem e área

de lazer com ajardinamento para uso coletivo no pavimento térreo.

Foram regulamentadas com o decreto 3046/1981, que reuniu as diretrizes de

construção estudadas pelo Grupo de Trabalho da Baixada da Barra da Tijuca e de

Jacarepaguá, inserindo no panorama da cidade do Rio de Janeiro novos conceitos de

moradia multifamiliar: torres laminares implantadas entre jardins e áreas de lazer generosas

para uso coletivo e com as áreas relativas às garagens em pavimentos de subsolo.

Com exceções estritas a área da zona sul como a Morada do Sol, em Botafogo, a

maioria dos exemplos concentra-se na Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes.

fig. 116 - Condomínio Nova Ipanema. fig. 117 - Condomínio Novo Leblon.

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137

fig. 118 - Condomínio Morada do Sol

3.2.9 – Tipo 9: Os “pequenos” edifícios

Edificações de cinco pavimentos sobre pavimento de embasamento para garagem

e/ou lazer, alinhado às divisas laterais.

fig. 119 - Edifício Atlântica em Ipanema. fig. 120 - Edifício situado na R. Alberto de Campos

no Leblon.

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138

Em Botafogo, encontramos os seguintes exemplos:

fig. 121 - Edifício Solar do Barão fig. 122 - Edifício Casablanca na Rua Barão de Lucena, 43. na Rua Guilhermina Guinle, 170.

3.2.10 – Tipo 10: As lâminas com área de lazer

Edificações entre cinco e onze pavimentos afastadas das divisas laterais e frontal,

sobre apenas um pavimento de garagem.

Os bairros residenciais, em geral, continuaram a sofrer restrições no aproveitamento

de suas áreas com o surgimento dos Planos de Estruturação Urbana, que limitaram os

gabaritos nos respectivos bairros.

No bairro de Botafogo, o Plano de Estruturação Urbana, regulamentado pela Lei

434/1983, fixou o gabarito em cinco pavimentos para as edificações alinhadas às divisas

laterais e em onze para as edificações afastadas das divisas. Tal postura fez surgir

empreendimentos de menor vulto, porém dotados de amplos jardins frontais e nas fachadas,

seguindo tendências de valorização das áreas verdes e de lazer.

fig. 123 – Ed. Guinle Place na Rua Eduardo Guinle, 28. fig. 124 - Edifício da Rua São Manuel, 20.

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139

4 – ANÁLISE DOS EXEMPLOS SELECIONADOS

4.1) Justificativa

Foram selecionados cinco exemplos de tipos arquitetônicos multifamiliares para

execução de estudo mais aprofundado das soluções de implantação da edificação no lote,

das plantas baixas e das áreas comuns dos empreendimentos.

Os exemplos selecionados dos tipos 2, 4, 6, 7 e 10, de acordo com o apresentado no

capítulo 2, são representativos de suas épocas respectivas.

Os exemplos de cada tipo foram retirados do recorte espacial escolhido – o bairro

de Botafogo – ilustrando assim as diversas etapas de evolução deste bairro da zona sul

carioca.

Para o tipo 2 - edificações de oito a dez pavimentos alinhados às divisas laterais,

com pavimento térreo ocupado por unidades residenciais e jardins frontais – foram

selecionados os Edifícios Barão de Lucena e Carajás, localizados na Rua São Clemente,

158 e na Rua Voluntários da Pátria, 139, respectivamente. Foram construídos nas décadas

de 1930 e 1940.

Para o tipo 4 - edificações de sete a quinze pavimentos, com e sem pilotis, com

aproveitamento para unidades residenciais e garagens no pavimento térreo, alinhadas ou

afastadas das divisas laterais – foi selecionado o Edifício Julio de Barros Barreto,

localizado na Rua Fernando Ferrari, 61, construído no ano de 1947.

Para o tipo 6 - edificações com mais de vinte e cinco pavimentos afastados das

divisas laterais sobre pilotis – foi selecionado o Edifício Marechal Deodoro da Fonseca,

localizado na Rua Dona Mariana, 53, construído no ano de 1966.

Para o tipo 7 - edificações entre onze e dezoito pavimentos, afastadas das divisas

laterais e frontal, sobre pavimentos de embasamento para garagem e lazer – foi selecionado

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o Edifício Mansão Rodrigo de Freitas, localizado na Rua Desembargador Burle, 73,

construído no ano de 1981.

Para o tipo 10 - edificações entre cinco e onze pavimentos afastadas das divisas

laterais, sobre apenas um pavimento garagem – foram selecionados os Edifícios Plaza

Etoile e Golden Garden, localizados na Rua São Clemente, 117 e Rua Eduardo Guinle, 55,

respectivamente. Foram construídos nos anos de 1998 e 2000.

Apesar de o bairro de Botafogo apresentar vários exemplos de quase a totalidade

dos tipos arquitetônicos estudados (a exceção é do tipo número 9, relativo ao decreto

3046/1981, referente à Barra da Tijuca e à Baixada de Jacarepaguá), foram selecionados os

exemplos apresentados acima, em função de sua representatividade dentro do painel

mostrado, de sua época de construção, de sua importância histórica, da amostra de material

mais amplamente colhido e pela facilidade de acesso às suas dependências para obtenção

de material fotográfico. São representativos, também, por apresentarem rupturas na arte

projetual, trazendo em seus projetos mudanças importantes e conceitos novos amplamente

copiados mais tarde.

É importante ressaltar que alguns exemplos paradigmáticos foram descartados da

apresentação de seus projetos pelas dificuldades encontradas para recolhimento de fotos e

informações. São eles:

- Edifício João M. de Magalhães, localizado à Rua Voluntários da Pátria, 127;

- Edifício Massília, localizado à Praia de Botafogo, 132;

- Edifício Caparaó, localizado à Praia de Botafogo, 130.

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4.2) Quadro Síntese

Tipo Descrição Decreto / Lei Edifício / Endereço

Imagens

2

Edificações de oito a dez pavimentos

alinhados às divisas laterais, com

pavimento térreo ocupado por

unidades residenciais, com jardins frontais.

Decreto 6000/1937

a) Ed. Barão de Lucena,

R. São Clemente,

158

b)Edifício Carajás,

Rua Voluntários

da Pátria, 139

4

Edificações de sete a quinze

pavimentos, com e sem pilotis, com aproveitamento para unidades e

garagens no pavimento térreo,

alinhadas ou afastadas das

divisas laterais.

Dispositivos do

Decreto 6000/1937

Edifício Julio de Barros Barreto,

Rua Fernando Ferrari, 61

6

Edificações com mais de vinte e

cinco pavimentos afastados das

divisas laterais sobre pilotis.

Lei 1574/1967

Edifício Marechal

Deodoro da Fonseca,

Rua Dona Mariana, 53

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7

Edificações entre onze e dezoito pavimentos, afastadas das

divisas laterais, sobre pavimentos de embasamento para garagem e

lazer.

Decreto 322/1976

Edifício Mansão

Rodrigo de Freitas,

Rua Desembarga-dor Burle, 73

10

Edificações entre cinco e onze pavimentos

afastadas das divisas laterais, sobre apenas um

pavimento garagem

Lei 434/1983

a) Edifício Plaza Etoile,

Rua São Clemente,

117

b) Edifício Golden Garden,

Rua Eduardo Guinle, 55

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4.3) Análise dos Exemplos Selecionados148

4.3.1 – Tipo 2

Relativos ao tipo 2 foram selecionados os exemplos: Edifício Barão de

Lucena e Edifício Carajás, que atendem a dois níveis sociais diferentes (classe média e

alta), sendo boa exemplificação para o estudo, devido às dimensões distintas de dois

exemplares do mesmo período. Foram selecionados também pelas condições favoráveis de

visita e disponibilidade.

a) EDIFÍCIO BARÃO DE LUCENA – Rua São Clemente, 158

fig. 125 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Barão de Lucena

Implantação

Situado no bairro de Botafogo, à Rua São Clemente, 158, este edifício foi

construído no ano de 1937, com projeto desenvolvido pelo arquiteto Paulo Santos para o

proprietário e construtor José Buarque de Macedo, que pretendia, ao construir este

edifício, alugar suas unidades para empresas, a fim de instalar seus funcionários moradores

fora da cidade.

148 As fotos utilizadas nesse sub-capítulo foram feitas pela autora.

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144

fig. 126 - Carimbo da planta de 1937.

O terreno possui duas frentes: uma para Rua São Clemente e outra para Rua Barão

de Lucena, o que torna a edificação bastante visível aos transeuntes.

O edifício está afastado das divisas laterais em um lote plano com as seguintes

dimensões: 27,00m de testada, 32,00m na divisa dos fundos, 72,00m na divisa direita e

67,00m na divisa esquerda, perfazendo 2.050,25m² de área. O afastamento frontal é

variável entre 12,00m e 18,00m, o dos fundos 26,00m e os laterais 2,00m. A área de

projeção do edifício é de 503,00m² com taxa de ocupação de 24,53%.

fig. 127 - Aerofotogramétricos de 1955 e 2000 com a localização do edifício.

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145

Descrição do Empreendimento

O projeto é constituído por bloco único de dez pavimentos com pavimento térreo

ocupado por unidades residenciais.

fig. 128 - Foto da fachada frontal fig. 129 - Foto da portaria, vista externa

Não há, no terreno, local reservado para guarda de veículos, uma vez que, na época,

não havia esta obrigatoriedade por parte das posturas legais. Transparece assim a ausência

de preocupação com o estacionamento de veículos nas residenciais multifamiliares desta

década.

Na área aberta localizada nos fundos da edificação, há uma área de lazer composta

de jardins contemplativos, uma varanda aberta e um terraço circular, área de churrasqueira

coberta e sanitários.

fig. 130 - Foto da parte coberta fig. 131 - Foto do terraço aberto com a presença do Sr.

C. Eugênio Hime, morador.

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146

Esta área é destinada às festas infantis e às crianças, tem aproximadamente

670,00m², não sendo permitida a entrada de animais. É bastante sombreada, devido às

árvores de grande porte existentes no terreno e na calçada junto à Rua Barão de Lucena.

fig. 132 - Foto do flamboyant existente fig. 133 - Foto da vista externa da área de lazer. no terreno que fornece grande área de sombra.

Na área do afastamento frontal, de 400,00m², há uma entrada de automóveis para

descida de passageiros, tipo porte-coche, abrigados por uma marquise. Esta entrada é

ladeada por jardins generosos, que protegem o edifício da movimentação e do barulho da

Rua São Clemente.

fig. 134 - Foto do porte- coche fig. 135 - Foto do jardim frontal

Na descrição do empreendimento, registrado no Guia da Arquitetura Art Deco do

Rio de Janeiro, a sua fachada é formada por “duas torres compactas, entremeadas por plano

envidraçado ligeiramente recuado, possuindo linhas sóbrias e geométricas.”149

149 CONDE, L.Paulo; ALMADA, Mauro. In Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Guia da Arquitetura Art Deco no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000:67.

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A fachada dos fundos é idêntica à principal, e pode ser vista da Rua Barão de

Lucena pelos pedestres.

O hall social, denominado “foyer” na planta original, é bastante amplo, com pé

direito generoso e materiais de acabamento clássicos como os mármores no piso e paredes.

Um grande relógio localizado na parede frontal sobressai-se no fundo de granito negro,

aonde as luminárias do teto, em faixas, descem até o piso, ladeando-o.

Uma grande porta de correr em ferro trabalhado, embutida na parede, compõe o

visual art deco da edificação.

fig. 136 - Foto do hall social fig. 137 - Foto da porta de ferro. fig. 138 - Foto do relógio.

A escada de acesso aos pavimentos superiores é aberta à circulação comum e,

devido ao vitral existente em toda a altura da edificação, há bastante luminosidade no

ambiente de hall social dos pavimentos tipos.

fig. 139 - Foto da escada interna do edifício. fig. 140 - Foto do prisma lateral onde se pode ver o vitral em toda a

altura da edificação.

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148

fig. 141 - Croquis da implantação do edifício, com o porte coche, entradas social e serviço e orientação solar.

Descrição das Unidades Privativas

O pavimento tipo é composto de quatro apartamentos rebatidos, de distribuição

quase igual, apenas com pequena diferença na área de serviço. Esses apartamentos são

compostos de hall de entrada, sala, varanda, três quartos, circulação, um banheiro social,

cozinha, área de serviço, depósito e banheiro de serviço, com 99,16m² de área útil.

Observar a porta unindo dois quartos característica comum nos primeiros

apartamentos construídos na cidade. A circulação íntima é seccionada por uma porta

separando o acesso da cozinha da parte dos quartos.

fig. 142 - Planta baixa do apartamento tipo.

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149

No pavimento térreo, a planta dos apartamentos tipo segue sem alteração na

prumada dos apartamentos de fundos. Os apartamentos da frente, em função da área

utilizada para a implantação da entrada social, sofrem uma redução importante. Ao invés

de três quartos, possuem apenas dois, e a sala é bastante reduzida (12,15m²), não possuindo

varanda. Estes apartamentos têm acesso direto pelo hall social no pavimento térreo. Nos

demais pavimentos todas as unidades são de três quartos, sendo analisada abaixo.

fig. 143 - Planta baixa de parte do pavimento térreo com os apartamentos reduzidos.

A planta baixa do apartamento tipo apresenta circulações definidas e diretas.

Um dos aspectos a observar é o fato de todas as trinta e oito varandas existentes no

prédio terem sido fechadas com esquadrias e sua área anexada às salas.

Também interessante é o shaft central localizado na cozinha de cada apartamento,

por onde correm todas as tubulações do banheiro vizinho e da própria cozinha. Este shaft é

acessado facilmente por painel removível pela cozinha.

fig. 144 - Croquis do detalhe do shaft da cozinha

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150

Avaliação crítica

O Edifício Barão de Lucena não está em ótimo estado de conservação, devido aos

materiais de acabamento já estarem desgastados pelo tempo. São de alta qualidade, porém

os mármores sofreram ação corrosiva e necessitariam de um polimento mecânico

especializado para voltarem ao antigo estado. Esta impressão também é mantida devido

aos tons mais escuros de algumas partes dos mármores e das madeiras.

Nos pavimentos tipo não há separação em halls social e de serviço. Essa separação

é feita no hall social do pavimento térreo, onde os empregados acessam as escadas por uma

entrada lateral, podendo subir aos pavimentos por um dos elevadores, dotados de duas

portas, não precisando cruzar o amplo hall.

A área de lazer, apesar de bem cuidada, apresenta um aspecto de desuso, devido ao

pequeno número de crianças moradoras no condomínio.

Há, inclusive, no condomínio um pensamento de se destinar esta área para abrigo

de automóveis, mas as opiniões se dividem. Enquanto uns condôminos pensam em

construir dois a três pavimentos de garagem neste espaço, outros não querem a retirada do

Flamboyant do pátio , o que inviabiliza a idéia do parqueamento.

fig. 145 - Foto da área do parque infantil.

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151

A orientação solar segue ao eixo noroeste-sudeste, dada pela própria localização do

terreno, e não houve a preocupação no projeto arquitetônico com relação a esta orientação,

que beneficia os apartamentos da frente. A incidência solar sobre os apartamentos de

fundos é amenizada pela presença das árvores da área de lazer que protegem esta fachada,

porém nos apartamentos mais altos, fora da proteção das copas das árvores e da influência

dos prédios vizinhos, a temperatura fica mais elevada.

A solução de planta baixa do apartamento aproxima-se das soluções dos

apartamentos do fim do século XX, com circulações mínimas, talvez por se destinarem

originalmente a unidades de aluguel, porém mantendo em seu programa o hall de entrada,

usual na década de 1930, e que permite maior privacidade à sala.

De uma maneira geral, as condições de ventilação do apartamento são deficitárias,

devido às pequenas dimensões dos vãos. Em dois quartos foram projetadas duas janelas em

paredes contíguas que imprimiram boas condições de iluminação e ventilação, no entanto

prejudicam o aproveitamento interno dos cômodos.

fig. 146 - Croquis das ventilações e circulações internas no apartamento.

Outra observação importante quanto ao conforto interno do apartamento é a

existência de um único banheiro para atendimento aos três quartos sociais, o que era

bastante comum na época da construção, década de 1930, em função dos costumes e dos

altos custos decorrentes das instalações sanitárias. Como não possui banheiro exclusivo

para visitas, esta função é desempenhada pelo banheiro social, localizado no setor íntimo

do apartamento.

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O apartamento não possui compartimento com denominação oficial de quarto de

empregada e sim de depósito, talvez em função da destinação primeira da construção ter

sido a de abrigar funcionários de grandes empresas em trânsito pela cidade. Em entrevista

junto aos moradores, somente em um dos quarenta apartamentos há empregada doméstica

residente no imóvel, ocupante deste espaço. Nos demais é utilizado como depósito ou

despensa.

Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço, demarcadas abaixo,

observamos as porcentagens determinadas para cada setor.

fig. 147 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.

(Setor social – cor rosada; setor íntimo – cor azul e setor de serviço – cor amarelo)

Setor social: 32 %

Setor íntimo: 46 %

Setor de serviço: 22 %

Avaliação dos moradores

Foi realizada entrevista no dia 4 de fevereiro de 2004, com os moradores do

apartamento 503 – Sr. e Sra. Carlos Eugênio Hime. A família proprietária e moradora

desse apartamento é constituída por um casal e duas filhas adultas. Selecionamos algumas

informações importantes para análise:

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a) O fechamento das varandas foi justificado de várias maneiras: isolamento da

moradia do grande barulho da rua, facilidade na limpeza daquela área e ganho do espaço

para a sala. Neste apartamento, a área antes destinada à varanda é utilizada como sala de

jantar, separada do outro ambiente por um degrau.

b) A utilização da área de lazer, localizada nos fundos do terreno, para garagem é

frontalmente contrário aos pensamentos da família, mesmo sofrendo pela falta de garagem

no edifício, transparecendo a importância dada ao ambiente preservado.

- “Se quiserem retirar o flamboyant, eu me amarro nele. Vou sair em todos os

jornais.” - declarou a Sra. Hime.

c) Com relação à utilização do depósito de 5,20m², os moradores o utilizam como

escritório sem alterar qualquer alvenaria.

d) O incômodo causado pela presença de apenas um banheiro social no

apartamento, foi amenizado pelos moradores por uma obra de ampliação no banheiro de

serviço, em detrimento da área de serviço, criando condições de utilização pelos

proprietários.

e) Indagados sobre as modificações que gostariam de executar no apartamento para

melhorar as condições de atendimento à família, os entrevistados indicaram:

- Abrir um vão alto na parede que separa a sala do “depósito” para melhorar a

ventilação da sala, considerada quente.

- Permitir que a atual entrada de serviço, sirva de acesso somente ao escritório

localizado no antigo depósito, para atendimento aos clientes da moradora, que é

advogada.

fig. 148 - Croquis do apartamento com as modificações desejadas pelos moradores.

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b) EDIFÍCIO CARAJÁS – Rua Voluntários da Pátria, 139

fig. 149 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Carajás.

Implantação

Situado no bairro de Botafogo, à Rua Voluntários da Pátria, 139, este edifício foi

construído na década de 1940.

Está alinhado às divisas laterais em um lote plano com as seguintes dimensões:

30,00m de testada, 24,00m na divisa dos fundos, 98,00m na divisa direita e 114,00m na

divisa esquerda, perfazendo 2.700,00m² de área. A implantação do bloco no terreno

obedece a um afastamento frontal médio de 20,00m e o afastamento da divisa dos fundos é

de 35,00m. A área de projeção é de 850,00m2 com taxa de ocupação de 31,48%.

fig. 150 - Aerofotogramétrico datado de 1955 com a localização do edifício.

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155

Descrição do Empreendimento

O projeto é constituído de bloco único de 10 pavimentos residenciais sobre

pavimento térreo ocupado por unidades residenciais.

fig. 151 - Foto da fachada frontal . fig. 152 - Foto da entrada social.

A guarda de veículos é feita nos fundos do lote em uma garagem construída em

dois níveis, com aproximadamente 670,00m². Observa-se o acesso à garagem sob o prédio,

impondo modificação no térreo da solução de planta do pavimento tipo.

fig. 153 - Croquis da implantação do edifício com orientação solar.

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156

fig. 154 - Foto da garagem nos fundos do terreno. fig. 155 - Foto do jardim frontal.

A área de lazer prevista no empreendimento se resume ao jardim frontal com

bancos e espelho d’água, localizado no afastamento de 20,00m da rua principal, e no

jardim contemplativo localizado entre a fachada dos fundos e a edificação da garagem.

O edifício, projetado para a classe alta, mostra linhas arquitetônicas de transição

entre o neoclássico e o art-déco, e nos detalhes de decoração encontrados no hall social de

dimensões monumentais, incomuns nos dias de hoje.

fig. 156 - Foto do espelho de corpo inteiro da entrada social. fig. 157 - Foto do lustre tradicional encontrado

no hall social.

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157

Descrição das Unidades Privativas

O pavimento tipo é composto de quatro apartamentos separados em dois acessos

verticais e são rebatidos dois a dois. Os apartamentos são compostos de hall de entrada,

sala de estar, varanda, sala de jantar, galeria, três quartos, um banheiro social, um banheiro

de visitas, cozinha, área de serviço, dois quartos de empregada e um banheiro de serviço,

com 195,28m² de área útil.

fig. 158 - Planta baixa do apartamento tipo.

Observa-se que o hall de entrada do apartamento é seccionado por uma porta de

duas folhas, separando o hall de entrada do apartamento da parte mais íntima da unidade –

uma galeria que dá acesso aos quartos e banheiro e por onde se faz o acesso entre a cozinha

e a sala de jantar.

fig. 159 - Foto do hall de entrada com a ampla porta decorativa.

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158

No hall social está localizada uma pequena abertura, tipo guichê ou passa-prato,

que acessa um outro hall intermediário que liga à cozinha e ao lavabo, afastando o máximo

possível o setor de serviço da área social.

Um único banheiro de 9,90m² serve aos três quartos do apartamento.

A ampla varanda de 30,00m² foi anexada às salas, pela retirada das portas

primitivas e pelo fechamento por esquadrias do vão da varanda sobre o peitoril.

fig. 160 - Foto da fachada dos fundos (semelhante à frontal) mostrando o fechamento unânime da área da varanda.

Avaliação crítica

O Edifício Carajás está em ótimo estado de conservação e limpeza, devido o à alta

renda dos seus moradores. A separação visual e espacial dos halls social e de serviço nos

andares revela esta preocupação, que no pavimento térreo parece deixar de existir uma vez

que todos esses compartimentos chegam em um único e amplo hall, revestido por

mármores e decorado finamente com sancas e lustres.

Neste hall, no pavimento térreo, o que ressalta efetivamente são as dimensões, pois

o mesmo abrange desde a fachada frontal até a dos fundos (numa distância de 53,00m),

sem um móvel sequer, com exceção da mesa do porteiro localizada à frente. Para este hall

também dá acesso os dois apartamentos localizados no pavimento térreo, de dimensões

menores dos localizados nos andares tipo, em função das entradas laterais para automóveis

e do próprio hall social.

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159

O ambiente é agradável mas deixa implícito o ar aristocrático, que era bastante

valorizado à época da construção, em cada detalhe de projeto e de decoração.

Não existe a preocupação atual de se abastecer o edifício com área de lazer para

crianças como, por exemplo, um parque infantil ou área aberta para alguma atividade

lúdica, apesar de não faltar espaço no empreendimento que poderia atender a esta

finalidade, quer seja no afastamento frontal, na área dos fundos (+ 500,00m²), ou mesmo

sobre a laje de cobertura da garagem (+ 350,00m²). Deixa claro, assim, a ausência de

preocupação da época com a recreação infantil, e com o lazer de um modo geral, visto não

possuir piscinas e/ou salão de festas.

A orientação solar obedece ao eixo noroeste-sudeste, dada pela própria localização

do terreno, e não houve a preocupação no projeto arquitetônico com relação a esta

orientação.

A unidade privativa oferece boa condição de ventilação, em função dos vãos

projetados, das dimensões dos compartimentos e do pé direito do apartamento, mais altos

que os dos apartamentos atuais.

Com relação ao conforto interno do apartamento, uma observação importante fica

por conta da existência de um único banheiro para atendimento aos três quartos sociais, o

que era bastante comum na época da construção (década de 1940) em função dos costumes

e dos altos custos decorrentes das instalações sanitárias.

fig. 161 - Croquis do apartamento com a distribuição do fluxo entre os setores.

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160

Na entrada do apartamento, a separação em dois ambientes de um mesmo espaço,

hall e galeria, possibilita a introdução das visitas diretamente à sala de estar sem acesso

visual à parte íntima.

Outro aspecto a ser notado é a função distribuidora da galeria localizada no espaço

central do apartamento. É a espinha dorsal da unidade, por onde se faz a ligação entre todas

as peças do setor íntimo e a distribuição do fluxo setor social-serviço para abastecimento

da sala de jantar.

Esta galeria, que filtra a circulação distribuindo os diversos fluxos de comunicação

entre os setores dentro da unidade, é remanescente da antiga casa senhorial, quando, muitas

vezes, este ambiente ganhava mais largura e abrigava a própria sala de refeições, então,

centro de todas as atividades da casa na época.

fig. 162 - Planta baixa da casa colonial da Fazenda de São José localizada em Quissamã, norte fluminense, datada de

1880, onde se observa a presença do mesmo compartimento distribuidor de fluxos, abrigando ao mesmo tempo a função

de local para refeições.

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161

Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço demarcadas, observamos as

porcentagens determinadas para cada setor.

fig. 163 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.

Setor social: 41 %

Setor íntimo: 42 %

Setor de serviço: 17 %

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162

4.3.2 – Tipo 4

Relativo ao tipo 4 foi selecionado o exemplo: Edifício Julio de Barros Barreto, que

representa um ícone na história das edificações residenciais multifamiliares no Rio de

Janeiro. As soluções de circulações e ventilações encontradas em seu projeto arquitetônico

ampliam sua representatividade. Foi selecionado também pelas condições favoráveis de

visita e disponibilidade de dados.

a) EDIFÍCIO JULIO DE BARROS BARRETO – Rua Fernando Ferrari, 61

fig. 164 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Julio de Barros Barreto

Implantação

Situado no bairro de Botafogo, à Rua Fernando Ferrari, 61, este exemplar da fase

áurea da arquitetura moderna foi construído para um fundo de pensão da Previdência

Social em 1947, com projeto desenvolvido pelos irmãos Marcelo, Milton e Maurício

Roberto.

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163

Está localizado isolado no lote, afastado das divisas, e com uma implantação que

privilegia a vista panorâmica que descortina da Enseada de Botafogo.

fig. 165 - Planta de situação esc. 1:1000 (sobre aerofotogramétrico).

fig. 166 - Mapa de alcance visual (esc. 1:5000).

O terreno em questão é em aclive. Os blocos originalmente ficavam afastados do

logradouro (Rua Farani), cerca de 70,00m com jardins e espelho d’água.

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fig. 167 - Aerofotogramétrico datado de 1955 apresentando os jardins originais e o espelho d’água.

Com a construção do viaduto Santiago Dantas, ocorrida na década de 1960, ligando

a Praia de Botafogo à Rua Pinheiro Machado, foi suprimida grande parte do afastamento

frontal e com isso, foi retirado o espelho d’água decorativo que ornavam a entrada do

edifício, diminuindo a área do porte-coche.

fig. 168 - Aerofotogramétrico datado de 1999, agora o afastamento frontal da torre de circulação vertical é de 25,00m.

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Descrição do Empreendimento

O projeto é constituído por dois blocos de apartamentos duplex, unidos pela torre

de circulação vertical, com cinco pavimentos duplos em cada bloco.

fig. 169 - Fachada dos blocos duplex, vistos da Rua Muniz Barreto.

A guarda de veículos é feita sob pilotis com acesso através de uma rua rampeada

externa para vencer o desnível do terreno.

fig. 170 - Foto da rampa de acesso dos automóveis. fig. 171 - Foto do anexo da garagem.

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166

Uma característica interessante deste projeto é a distinção quase total das

circulações social e de serviço em todo o prédio. Sendo o apartamento desenvolvido em

dois pavimentos, foi possível identificar a circulação dos andares ímpares em social com

acesso à sala, e a circulação dos andares pares como sendo a de serviço com acesso à

cozinha através de uma escada auxiliar.

fig. 172 – Corte dos bloco 02.

Pelo corte transversal pode-se ver como as circulações horizontais nos diversos pavimentos, se alternam em social e serviço permitindo acesso independente a esses dois usos.

fig. 173 - Fotos das circulações social e de serviço do bloco 02.

fig. 174 - Detalhe das janelas da fachada dos fundos.

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167

As áreas destinadas ao lazer do empreendimento são divididas em três setores:

a) A área do afastamento frontal composto de jardins, árvores e bancos sob a

marquise modernista.

fig. 175 - Porte-coche e entrada de pedestres, fig. 176 - Marquise com bancos e viveiros de junto à área de jardim no afastamento frontal pássaros.

b) Uma quadra cimentada coberta construída sobre o anexo da garagem,

construído na década de 1970.

c) Sala de festas originada a partir do fechamento de parte do pilotis.

fig. 177 - Foto do anexo da garagem com a quadra coberta. fig. 178 - Foto da entrada do salão de festas no pilotis.

Observa-se que as áreas destinadas ao lazer do empreendimento não são originais

do projeto arquitetônico e sim oriundas de modificações posteriores. São desarticuladas

entre si e, de certa maneira, improvisadas, não atendendo aos padrões de insolação e de

conforto.

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168

Descrição das Unidades Privativas

fig. 179 - Croquis do esquema do pavimento tipo

Os apartamentos duplex estão dispostos em dois blocos, com cinco pavimentos

duplos:

Bloco 01 – seis apartamentos por pavimento, perfazendo um total de trinta unidades

com varanda, sala, cozinha e dependência de empregada no primeiro piso e três quartos e

um banheiro no segundo piso. Possui um pavimento intermediário com pequena

lavanderia.

Bloco 02 – dez apartamentos por pavimento perfazendo um total de cinqüenta

unidades com varanda, sala, cozinha e dependência de empregada no primeiro piso e três

quartos, um banheiro e uma rouparia no segundo piso. Também possui um pavimento

intermediário com uma pequena lavanderia e uma escada de serviço.

fig. 180 - Vista das varandas

As varandas, com pé direito duplo, dão vista para a Enseada de Botafogo, caracterizando plasticamente a opção duplex adotada no projeto.

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fig. 181 - Planta baixa do apartamento do bloco 02, nível inferior.

fig. 182 - Planta baixa do apartamento do bloco 02, nível superior.

A planta permite que dois quartos, a sala e a varanda tenham vista do mar e um

quarto e o setor de serviço se abram para os fundos, com vista para a montanha, através da

circulação de serviço.

A varanda possui pé direito duplo, formando um quadro modular que deixa o

apartamento recuado e protegido da insolação, sem prejuízo da vista.

O sistema de circulação utiliza corredores distintos, com pés direitos mais altos e a

meio nível entre os andares, fornecendo acessos separados ao setor social e de serviço.

O corredor social está a quatro degraus abaixo do piso do estar.

O corredor de serviço acessa os dos pavimentos do apartamento: descendo-se onze

degraus chega-se ao estar, subindo seis atinge-se o piso dos quartos.

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fig. 183 - Croquis do apartamento com indicações das circulações e acessos

Avaliação crítica

O conjunto arquitetônico Julio de Barros Barreto é uma das construções

modernistas mais importante não só do bairro de Botafogo como também da cidade do Rio

de Janeiro. Representa um verdadeiro ícone da fase áurea da Arquitetura Moderna

Brasileira, e confirmando toda essa importância a Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro,

através do Decreto 22221 de 04/11/02, criando a Área de Proteção do Ambiente Cultural

do Bairro de Botafogo, o incluiu como edificação tombada no artigo 9o, não podendo ser

demolida, nem modificada. Em caso de sinistro ou de obras que a descaracterizem, será

estabelecida a obrigatoriedade de reconstrução.

fig. 184 - Foto do edifício publicada no jornal O Globo do dia 05/11/2002.

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Um dos pontos positivos inquestionáveis nesta construção no setor de conforto

ambiental é a condição de ventilação cruzada que oferece em todo o apartamento,

diminuindo a sensação térmica pela ação da brisa constante vinda da Enseada de

Botafogo, uma das preocupações projetuais dos irmãos Roberto.

fig. 185 - Croquis do apartamento com indicações das ventilações cruzadas.

Outro aspecto positivo do projeto arquitetônico do ponto de vista do morador é a

varanda projetada. A sensação de enclausuramento que poderia propor é anulada pelo pé

direito duplo, integrando inclusive, as janelas dos quartos do segundo piso. A sensação é

de privacidade em relação aos vizinhos, e de liberdade e amplidão em relação à paisagem.

A orientação em relação ao posicionamento solar é a mais recomendada possível,

pois lança toda a fachada principal (das salas e quartos) para a orientação sul, que

representa no Rio de Janeiro, a insolação mais amena e conseqüentemente mais agradável.

A parte dos fundos do edifício ficou voltada para a orientação menos favorável

(norte e nordeste), mas é amenizada pelas circulações horizontais social e de serviço, que

filtram o calor e não chegam a afetar a unidade residencial.

Porém, se por um lado representa um verdadeiro ícone da fase áurea do

Modernismo no país, do outro observou-se que para utilização diária pelo morador, alguns

pontos importantes foram relegados para o segundo. Um desses pontos são as escadas

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projetadas dentro do apartamento para viabilizar as circulações externas de serviço,

criando um nível diferente para o hall de entrada e dificultando o acesso à cozinha dos

volumes de compras, por exemplo. Observando que a locomoção por parte de deficientes

físicos ou idosos fica bastante prejudicada.

Outro ponto observado é a falta de um banheiro social no primeiro piso, o que

dificulta o deslocamento dentro do apartamento.

A circulação externa comum também é apresentada como um ponto menos

favorável, apesar de possuir janelas para o exterior, por ser bastante extensa.

A presença da janela que ventila e ilumina o quarto voltado para os fundos na

circulação comum de serviço é um dos aspectos menos favoráveis deste projeto

arquitetônico, pois, apesar de possuir altura do peitoril aproximadamente de 1,80 m, o

quarto se apresenta completamente devassado por quem transita por esta circulação.

Apresenta condição de ventilação e iluminação insuficientes e o ambiente fica bastante

prejudicado no que se refere a conforto visual, acústico, lumínico e térmico.

fig. 186 - Foto da circulação de serviço do bloco 02 fig. 187 - Foto da janela dos quartos dos fundos vista

da circulação de serviço.

Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço demarcadas, observamos as

porcentagens determinadas para cada setor.

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fig. 188 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.

Setor social: 39 %

Setor íntimo: 43 %

Setor de serviço: 18 %

Avaliação dos moradores

Em entrevista realizada no dia 28 de janeiro de 2003, ao ex-morador do

apartamento 514 do bloco 2 – Sr. Franklin Penna. A família moradora desse apartamento é

composta de um casal e uma filha, adolescente à época da ocupação no imóvel.

Selecionamos algumas informações para análise:

a) Declarou que o fato do apartamento possuir dois pavimentos não causava

incômodo e que tal fato conferia maior privacidade à parte íntima.

b) Na sua opinião a varanda era o melhor compartimento do apartamento, trazendo

sensação de amplidão pelo pé direito duplo, liberdade e convite à contemplação dada à

vista privilegiada.

c) Não se sentia incomodado pelo comprimento da circulação comum nos

pavimentos, apesar de considerá-la demasiado longa.

Podemos notar algumas divergências com relação à circulação dentro do

apartamento, na entrevista com sua filha – Ana Cláudia Penna, realizada no mesmo dia:

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a) Declarou gostar do fato do apartamento possuir dois pavimentos, por passar a

sensação de casa. Por outro lado, achava incômodo ter que subir e descer escadas para ir ao

banheiro, uma vez que no pavimento térreo só existir o banheiro de serviço.

b) A questão de acessibilidade à cozinha incomodava. “Chegar com compras era

complicado pois, de qualquer forma, precisava-se subir ou descer degraus.”

c) Considerou também a varanda como o melhor compartimento, uma extensão da

sala, indevassável.

d) Quanto à circulação comum a considerava monótona, feia e comprida demais.

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175

4.3.3 – Tipo 6

Relativo ao tipo 6 foi selecionado o exemplo: Edifício Marechal Deodoro da

Fonseca, que representa um marco na implantação no solo das edificações residenciais

multifamiliares, no bairro de Botafogo. A solução de planta baixa encontrada em seu

projeto arquitetônico e a garagem para autos no subsolo ampliam sua representatividade.

Foi selecionado também pelas condições favoráveis de visita e disponibilidade de dados.

a) EDIF. MARECHAL DEODORO DA FONSECA – Rua Dona Mariana, 53

fig. 189 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca

Implantação

Situado no bairro de Botafogo, à Rua Dona Mariana, 53, este edifício foi construído

entre os anos de 1966 a 1969, com projeto desenvolvido pelo arquiteto Arthur Lício

Pontual.

Construído sobre pilotis, está localizado isolado no lote, afastado das divisas e foi

um dos primeiros a se beneficiar da legislação que, na época, permitia acréscimo de

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pavimentos em função do maior afastamento das divisas. No caso, o afastamento frontal é

de 14,00m e os das divisas laterais é de 16,00m. O terreno plano tem quase 3.000,00m² de

área (48,00 x 62,00m). A área de projeção é de 525,00m² com taxa de ocupação no solo de

17,64%.

fig. 190 - Aerofotogramétrico datado de 1955 com a mansão existente no lote, construída por Stanley Hime, no ínício do

século XX.

fig. 191 - Aerofotogramétrico datado de 1975 com a localização do edifício.

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Este prédio representa um marco no bairro de Botafogo, podendo ser visto de quase

todo o bairro.

fig. 192 - Foto do edifício visto à distância.

Descrição do Empreendimento

O projeto é constituído de bloco único de 26 pavimentos residenciais sobre

pavimento térreo em pilotis com pé direito duplo.

fig. 193 - Croquis do pavimento tipo com os dois apartamentos e a orientação solar.

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fig. 194 - Foto da fachada frontal do edifício.

A guarda de veículos é feita no pavimento de subsolo que ocupa todo o terreno,

tendo dois acessos (uma entrada e uma saída), localizados no meio dos afastamentos

laterais em forma trapezoidal. Há também vagas de garagem no pavimento térreo,

destinadas a visitantes.

fig. 195 - Foto da entrada da garagem em subsolo .fig. 196 - Foto da garagem para visitantes no térreo.

A área destinada a lazer compreende:

a) a área descoberta do pavimento térreo, aonde há uma parte separada para

utilização infantil com alguns brinquedos de ferro locados sem atenção adequada,

b) uma quadra polivalente localizada nos fundos do terreno, protegida por uma

grade de ferro,

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c) dois salões de festas, projetados no 27º andar, de onde se descortina uma vista de

360° de todo o bairro.

fig. 197 - Foto do parquinho infantil. fig. 198 - Foto do parquinho infantil (outro ângulo.) fig. 199 - Foto da quadra.

Segundo Alberto Xavier, Alfredo Britto e Ana Luiza Nobre, a característica

principal desta construção é a solução estrutural adotada para vencer os noventa metros de

altura da edificação. “Sua estrutura adotou lajes em blocos de caixão perdido com 35 cm

de altura, que permitiram flexibilidade na distribuição de alvenarias em blocos de concreto

celular.”150 De acordo com o Guia da Arquitetura Moderna, lançado pela Prefeitura

Municipal da Cidade do Rio de Janeiro, “possui paredes-pilares distribuídos em pontos-

chave do empreendimento, viabilizando os grandes vãos que o programa requeria.” As

fachadas em concreto aparente resultam desse partido adotado, tendo os vazios

preenchidos pelas esquadrias compostas de vidros e painéis coloridos que foram moldados

“in loco”.151

fig. 200 - Corte longitudinal do edifício. fig. 201 - Foto da fachada lateral do edifício.

150 XAVIER, A; BRITTO, A; NOBRE, A.L. “Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro.” São Paulo: PINI/Fundação Vilanova Artigas. Rio de Janeiro: Rioarte, 1991:145. 151 PREFEITURA MUNICIPAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. “Guia da Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro.” Rio de Janeiro: Casa da Palvra, 2000:69.

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Descrição das Unidades Privativas

O pavimento tipo é composto de dois apartamentos rebatidos, com acesso social

independente para cada apartamento, compartilhando o elevador de serviço.

Os apartamentos são compostos de galeria, sala de estar e jantar em um só ambiente

de 65,00m², quatro quartos, dois banheiros sociais, um lavabo, uma copa-cozinha, uma

área de serviço, dois quartos de empregada e um banheiro de serviço, com 190,56m² de

área útil.

fig. 202 - Planta baixa do apartamento tipo.

Projetado para a classe social alta, este apartamento possui dimensões generosas

tendo quartos com local previsto para armários em todos eles.

A ampla galeria serve de hall de distribuição entre os setores social, íntimo e de

serviço, facilitando o fluxo e preservando a individualidade de cada setor.

Os halls externos social e de serviço não tem comunicação entre si.

Avaliação crítica

O edifício, apesar de destinado à classe social alta, apresenta um estado de

conservação precária em alguns setores. O local onde a falta de manutenção se torna mais

flagrante é a área de lazer. A quadra, sem a manutenção necessária, está praticamente

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abandonada, e o parquinho infantil, constituído de alguns brinquedos de ferro, foi

concebido sem a preocupação devida, se tornando pouco convidativo às crianças.

É importante ressaltar que área de lazer não era prevista no projeto original, onde o

prédio se localizava em centro de terreno sem construções à volta, com exceção dos

trapézios protegendo as entradas de automóveis para o subsolo.

Os salões de festas, no 27º andar, localizados nas extremidades do prédio, sobre as

áreas de quartos do pavimento tipo, também se encontram semi-abandonados.

O hall social, apesar de estar decorado, não apresenta requinte nem esmero, sendo

seu acabamento bastante simples.

fig. 203 - Foto do hall social. fig. 204 - Foto do hall social (outro ângulo).

As circulações social e serviço são separadas desde o pavimento térreo,

prosseguindo nos pavimentos tipo, sem qualquer passagem entre si. Esta separação dos

halls social e de serviço nos pavimentos, hoje em dia, não é mais permitida devido a

questões de segurança.

fig. 205 - Croquis da parte comum do pavimento tipo.

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A orientação solar obedece ao eixo sudoeste-nordeste, em que a área social dos

apartamentos fica voltada para o noroeste – orientação desfavorável para os ambientes de

salas na Cidade do Rio de Janeiro. Ficou definida a orientação lateral da parte social do

apartamento, em função da melhor solução de planta baixa, no que concerne ao fluxo

interno.

Com relação aos quartos, porém, os mais bem localizados são os dos apartamentos

localizados nos fundos do prédio, que recebem os raios solares do quadrante leste.

Com relação à funcionalidade do apartamento, é bem prática e funcional,

apresentando conforto e claridade. Porém, apesar de possuir dois banheiros sociais, não foi

previsto nenhum quarto tipo suíte. Um aspecto importante a se observar é a criação de quatro shafts dotados de porta

em cada apartamento (na cozinha, no banheiro de serviço e nos dois banheiros sociais), que

possibilitam a visita às instalações hidráulicas e de esgotamento, sem que sejam

necessários maiores transtornos. As esquadrias utilizadas são originais e quase exclusivas

da edificação.

fig. 206 - Planta baixa do apartamento com a localização dos shafts.

fig. 207 - Foto da fachada frontal, com detalhe das esquadrias dos quartos.

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Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço demarcadas, observamos as

porcentagens determinadas para cada setor.

fig.. 208 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.

Setor social: 41 %

Setor íntimo: 41 %

Setor de serviço: 18 %

Avaliação dos moradores

Em entrevista realizada no dia 28 de janeiro de 2004, ao morador do apartamento

2202 – Sr. Sérgio Boiteux. A família moradora desse apartamento é composta de um casal

e três filhos adultos. Selecionamos algumas informações para análise:

a) As áreas dos salões de festas, localizados no 27º andar eram destinadas aos

apartamentos do 26º pavimento em utilização duplex, porém devido a falha na

comercialização das unidades, estes dois compartimentos passaram a ser de uso comum. A

idéia de utilizar como salões de festas não foi feliz em função dos transtornos causados aos

moradores do pavimento inferior, justamente sobre a área dos quartos.

b) Em informação da época da construção do prédio, houve discussão sobre qual

seria a melhor orientação da parte social da unidade: voltá-la para a orientação sudeste, que

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traria condição de insolação bastante satisfatória para o Rio de Janeiro, descortinando a

vista do Cemitério São João Batista, ou, direcioná-la para a orientação noroeste evitando

da vista do Cemitério, mas com maior nível de insolação.

Em 1966, a escolha foi a orientação noroeste para a área social, mas que, em

poucos anos, apresentou-se duplamente desagradável pelo crescimento da favela Dona

Marta, situada no morro de mesmo nome, que é voltada diretamente para o prédio, já

havendo, inclusive, histórico de bala perdida em um dos apartamentos do condomínio.

fig. 209 - Foto da vista do lado sudeste do edifício com fig. 210 - Foto da vista do lado noroeste do edifício com

a vista do Cemitério São João Batista. (paisagem a vista da favela Dona Marta. (paisagem descortinada

descortinada pela parte de serviço do apartamento) pela parte social do apartamento)

c) Indagado sobre as modificações que gostaria de executar no apartamento

para adequar às necessidades da família e aos tempos atuais, fomos informados que a falta

de uma suíte incomodava o casal. Este problema foi solucionado com o fechamento da

circulação defronte a um dos banheiros sociais. O fechamento foi feito através de uma

porta de correr de 1,20m de largura, que, uma vez estando aberta, faz retornar a condição

anterior do apartamento.

fig. 211 - Croquis ilustrativo da criação da suíte.

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d) Outra necessidade da família seria a criação de um espaço para utilização como

pequeno escritório. A idéia desenvolvida pela família seria a abertura de uma porta num

dos quartos de empregada para a área da galeria, uma vez que apenas um dos quartos de

empregados é utilizado para este fim, estando o outro ocioso. Porém a família ainda não se

dispôs a implementar tal modificação interna.

fig. 212 - Croquis ilustrativo da reforma pretendida.

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4.3.4 – Tipo 7

Relativo ao tipo 7 foi selecionado o exemplo: Edifício Mansão Rodrigo de

Freitas, que representa as modificações implementadas a partir da regulamentação do

Decreto 322/1976. O surgimento dos pavimentos de embasamento para guarda de veículos

e do pavimento de uso comum destinado a lazer justificam sua representatividade.

a) EDIF. MANSÃO RODRIGO DE FREITAS – Rua Desembargador Burle, 73

fig. 213 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Mansão Rodrigo de Freitas.

Implantação

Situado no bairro de Botafogo, à Rua Desembargador Burle, 73, esta edificação

foi lançada em 1981, com projeto desenvolvido pela Construtora Brunet.

Está localizada isolada no lote, afastadas das divisas. O lote plano possui as

seguintes dimensões: 32,00m de testada e na divisa dos fundos e 45,00m de ambos os

lados, perfazendo um total de 1.440,00m². A implantação do bloco no lote obedece a um

afastamento frontal de 12,00m, afastamentos laterais de 6,60m e da divisa dos fundos

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9,90m. A área de projeção é de 384,00m² por bloco, com taxa de ocupação decorrente de

26,66%.

fig. 214 - Aerofotogramétrico datado de 1997.

Descrição do Empreendimento

O projeto é constituído por um bloco de catorze pavimentos residenciais, sobre

um pavimento de uso comum, um pavimento de garagem elevada e um pavimento térreo

com garagem.

fig. 215 - Foto da fachada frontal (parte do embasamento) fig. 216 - Foto da fachada principal.

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A guarda de veículos é feita no pavimento térreo, na garagem elevada e no

pavimento de subsolo semi-enterrado.

fig. 217 - Foto do porte-coche. fig. 218 - Foto das entradas das garagens.

A área de lazer concentra-se no pavimento de uso comum com duas piscinas

(uma infantil e uma de adultos), um pequeno salão de festas e área reservada à recreação

infantil com brinquedos de madeira, uma mini-quadra e uma ciclovia para triciclos.

As áreas de lazer projetadas num mesmo pavimento, exclusivo para esta

atividade, criando um centro de atividades lúdicas e descanso são decorrentes do Decreto

322/1976, com a introdução obrigatória do pavimento de uso comum.

No edifício Mansão Rodrigo de Freitas, este pavimento ocupa todo o terreno,

excetuando a área do afastamento frontal, cobrindo a garagem localizada no pavimento

inferior.

O pavimento tipo é abastecido por três elevadores: dois sociais e um de serviço.

Cada elevador atende a dois apartamentos em separado.

Descrição das Unidades Privativas

O pavimento tipo é composto de quatro apartamentos, rebatidos dois a dois,

com acesso social a cada duas unidades, compartilhando o elevador de serviço.

Os apartamentos são compostos de sala de estar e de jantar em um só ambiente,

duas varandas, três quartos sociais sendo um suíte, dois banheiros sociais, uma cozinha,

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uma área de serviço, um quarto de empregada e um banheiro de serviço, com 106,88m² de

área útil.

fig. 219 - Croquis do pavimento tipo com a orientação solar.

fig. 220 - Planta baixa do apartamento tipo

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Mesmo buscando, no empreendimento, um fator de requinte e diferenciação, os

compartimentos internos da unidade privativa possuem dimensões reduzidas.

Os halls externos social e de serviço têm comunicação entre si, obedecendo às

posturas do Corpo de Bombeiros com relação à pânico e escape, datadas de 1976.

Avaliação crítica

O empreendimento encontra-se em bom estado de conservação, levando em

conta os vinte e três anos de construção.

A orientação solar obedece ao eixo norte-sul, beneficiando os apartamentos de

frente que estão voltados para a orientação sul, a mais indicada para o setor social na

cidade do Rio de Janeiro. Os apartamentos de fundos estão voltados para as fachadas

laterais, um para orientação leste, adequada, e outro para orientação oeste, muito aquecida,

tendo ambos somente o cômodo da suíte voltada para a orientação norte. A fachada destas

suítes dos fundos é protegida por uma sacada, amenizando a incidência dos raios solares.

fig. 221 – Fachada dos fundos vista da Rua Voluntários da Pátria.

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O projeto do apartamento apresenta uma funcionalidade simples, com

circulação íntima em dimensões mínimas. Apesar dos setores social, íntimo e serviço

estarem bem definidos, com nível de superposição de função bem baixo, o fluxo interno da

unidade fica comprometido pela obrigatoriedade de se cruzar o setor social para acessar o

setor de serviço. E a ausência de um hall ou vestíbulo deixa a sala devassável para

qualquer visitante, tirando a privacidade dos moradores.

fig. 222 - Croquis do apartamento com o fluxo de circulação entre os setores e ausência de privacidade a partir da

entrada.

O banheiro social foi projetado sem iluminação e ventilação diretas, sendo a

ventilação executada através de rebaixo sobre a cozinha com saída para a área de serviço e

a iluminação sendo totalmente artificial. O banheiro privativo da suíte possui ventilação e

iluminação diretas, o que melhora o nível de conforto do ambiente.

Como não possui banheiro exclusivo para as visitas (lavabo), esta função é

desempenhada pelo banheiro social, localizado bem próximo à sala.

As varandas projetadas são duas: uma sacada atendendo à suíte e uma varanda

de boa dimensão ocupando toda a fachada frontal.

Apesar de possuir 18,13m², nenhuma varanda do edifício foi incorporada à sala,

deslocando-se a esquadria. Este fato deveu-se à proibição expressa dada pelo Decreto

322/1976 em seu artigo 114, parágrafo 9º, que obriga a convenção do condomínio

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“estipular a condição de não se poder fechar ou envidraçar as varandas, mesmo em parte e

sob qualquer pretexto”.

As áreas internas do apartamento foram projetadas atendendo as condições

mínimas exigidas pelo Código de Obras e pelo mercado imobiliário, e medem cerca de

85,81m² de área útil interna acrescida de 21,07m² de área de varandas.

O quarto de empregada não apresenta condições de reversibilidade, devido às

imposições do projeto.

Este empreendimento já apresenta as disposições introduzidas pelo Decreto

322/1976 no que tange a escada de incêndio enclausurada à prova de fumaça, aumentando

a segurança do edifício.

Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço, demarcadas, observamos

as porcentagens determinadas para cada setor.

fig. 223 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.

Setor social: 44 %

Setor íntimo: 38 %

Setor de serviço: 18 %

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4.3.5 – Tipo 10

Relativos ao tipo 10 foram selecionados, como exemplos, os edifícios Plaza

Etoile e Golden Garden, representantes, do final do século XX, da implantação típica do

bairro de Botafogo, em atendimento à Lei 434/1983. As áreas de lazer mais completas e

sofisticadas, o andar de garagem no embasamento limitado em apenas um pavimento e o

remembramento de dois ou mais terrenos para obtenção destes resultados reforçaram sua

escolha.

a) EDIFÍCIO PLAZA ETOILE – Rua São Clemente, 117

fig. 224 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Plaza Etoile.

Implantação

Situado no bairro de Botafogo, à Rua São Clemente, 117, esta edificação foi

construída no ano de 1998, com projeto do arquiteto Carlos Bittar para a Construtora

Agenco, em terreno do antigo Colégio Jacobina. O terreno original foi desmembrado em

dois: um à frente, voltado para a Rua São Clemente com aproximadamente 660,00m², e

outro aos fundos com cerca de 3.658,00m², tendo acesso lateral através de uma servidão de

seis metros de largura.

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fig. 225 - Aerofotogramétrico datado de 1955 com o terreno integral.

No primeiro lote, permaneceu isolada uma parte do antigo colégio como área

preservada em Bem Tombado da Municipalidade, onde hoje funciona o Centro de

Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU), pertencente à Prefeitura Municipal.

No segundo lote, estão implantados dois blocos residenciais afastados das

divisas. Este segundo lote plano possui as seguintes dimensões: 6,00m de testada, 24,00m

na linha dos fundos, 25,00m + 117,00m no lado direito e 144,00m no lado esquerdo.

A área de projeção do bloco I é 738,00m² e a do bloco II, 570,00m², com taxa

de ocupação de 35,75%.

fig. 226 - Aerofotogramétrico datado de 2000.

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fig. 227 - Foto da vista frontal do empreendimento. fig. 228 - Foto da vista da servidão em direção a CAU.

Descrição do Empreendimento

O projeto é constituído por dois blocos residenciais tendo o bloco I dez

pavimentos e o bloco II, onze pavimentos. Foram projetados sobre um pavimento de uso

comum e um pavimento garagem ocupando o térreo, de acordo com a Lei 434/1983.

fig. 229 - Planta de situação esquemática com blocos I e II.

fig. 230 - Foto da entrada lateral de autos.

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A área de lazer localiza-se no pavimento de uso comum e possui piscina, sauna

com sala de repouso, salão de festas com copa, área reservada à recreação infantil, um

coffee shop, sala de ginástica, ciclovia infantil e toda uma estrutura de serviços para

atendimento aos apartamentos.

fig. 231 - Foto da ciclovia. .fig. 232 - Foto da área da piscina. fig. 233 - Foto da área da piscina.

fig. 234 - Foto da área da recreação infantil. fig. 235 - Foto da área da recreação infantil.

As áreas de lazer foram projetadas num mesmo pavimento, criando um centro

de passeio e atividades lúdicas, decorrentes do Decreto 322/1976 com a introdução

obrigatória do pavimento de uso comum, e confirmada na Lei 434/1983.

Descrição das Unidades Privativas

Os apartamentos estão dispostos em dois blocos:

Bloco I – dez pavimentos residenciais contendo oito apartamentos por

pavimento. Cada apartamento é composto por sala de visita e jantar num só ambiente,

varanda, dois quartos sendo um suíte, dois banheiros sociais, uma cozinha e uma área de

serviço.

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Bloco II – onze pavimentos residenciais contendo quatro apartamentos por

pavimento. Cada apartamento é composto por sala de visita e jantar num só ambiente,

varanda, três quartos sendo um suíte, dois banheiros sociais, uma cozinha e uma área de

serviço, com 82,74m² de área útil.

fig. 236 - Foto da fachada lateral do bloco I. fig. 237 - Foto da fachada dos fundos do bloco II.

Como nosso interesse é abranger estudos de apartamentos das classes média e

média alta, vamos nos ater ao estudo de análise da planta baixa do bloco II.

fig. 238 - Planta baixa do apartamento tipo do bloco II

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Este apartamento possui dimensões reduzidas, atendendo às posturas do Código

de Obras e obedecendo também ao partido adotado para o empreendimento de tentativa de

otimização dos espaços, principalmente os de serviço, que seriam oferecidos pelo

condomínio. Neste sentido, foram suprimidas as dependências de empregados domésticos

do bloco I, preservando as do bloco II. Não há acesso independente através de halls social

e de serviço nos pavimentos tipo.

Os halls externos social e de serviço têm comunicação entre si, obedecendo às

posturas do Corpo de Bombeiros com relação a pânico e escape, datadas de 1976.

Avaliação crítica

O conjunto arquitetônico apresenta em excelente estado de conservação, pela

pouca idade e pelo esmero do condomínio.

A orientação solar segue ao eixo noroeste-sudeste, devido à própria localização

do terreno, e não houve a preocupação no projeto arquitetônico com relação a esta

orientação, que beneficia os apartamentos do bloco dos fundos.

fig. 239 - Foto da vista aérea do empreendimento tirada da cobertura do Edifício Mal. Deodoro da Fonseca.

No tocante a idéia de oferecimento de serviços aos moradores, projetaram-se,

no pavimento de uso comum, vários espaços destinados a coffee-shop, sala de ginástica,

salão de beleza e lavanderia. Este setor não apresenta um movimento grande de moradores,

com exceção do salão de beleza, onde os serviços de manicure são muito solicitados.

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O projeto do apartamento apresenta uma funcionalidade simples, sem requintes,

pois para se acessar o setor de serviço é necessário cruzar o setor social, e ao ingressar no

apartamento, a sala se torna devassável perdendo a privacidade.

O banheiro social foi projetado sem iluminação e ventilação diretas, sendo a

ventilação executada através de exaustão mecânica. O banheiro privativo da suíte possui

ventilação e iluminação diretas, o que melhora o nível de conforto do ambiente.

Como não possui banheiro exclusivo para as visitas (lavabo), esta função é

desempenhada pelo banheiro social, localizado bem próximo à sala.

fig. 240 - Croquis da ventilação externa.

A tendência são os ventos soprarem paralelamente à fachada neste tipo de implantação das edificações.

A varanda projetada na sala tem bom balanço (largura igual a 1,50m), mesmo

sendo voltada para a divisa lateral, o que traz inconvenientes, principalmente no bloco I,

devido à proximidade dos prédios vizinhos, que devassam os apartamentos e dificultam a

ventilação.

fig. 241 - Croquis do esquema de fluxo entre os setores, da privacidade à entrada do apartamento.

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200

As áreas do apartamento, de um modo geral, obedecem às áreas mínimas

permitidas para os compartimentos, quer seja pelo Código de Obras, quer seja pelo

mercado imobiliário. A área do apartamento de sala e três quartos gira em torno de

77,49m² acrescida de 5,25m² de área de varanda.

Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço demarcadas, observamos

as porcentagens determinadas para cada setor.

fig. 242 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.

Setor social: 33 %

Setor íntimo: 44 %

Setor de serviço: 23 %

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b) EDIFÍCIO GOLDEN GARDEN – Rua Eduardo Guinle, 55

fig. 243 - Mapa do bairro de Botafogo com a localização do Edifício Golden Garden.

Implantação

Situado no bairro de Botafogo, à Rua Eduardo Guinle, 55, esta edificação foi

construída no ano de 2000, com projeto arquitetônico desenvolvido pelo arquiteto Carlos

Bittar para a Construtora Agenco.

Está localizada isolada no lote, afastadas das divisas. O lote plano possui as

seguintes dimensões: 45,00m de testada, 72,78m de fundos, 42,00m + 15,30m de lado

esquerdo e 40,80m + 17,00m de lado direito, não sendo, portanto, regular e perfazendo um

total de 3.037,00m².

A implantação no lote dos blocos obedece a um afastamento frontal de 9,00m,

afastamentos laterais de 5,83m, entre os blocos de 11,66m e da divisa dos fundos 6,20m.

A área de projeção é de 454,20m² por bloco, e a taxa de ocupação decorrente é

de 30%.

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fig. 244 - Aerofotogramétrico datado de 1999, onde ainda não figura o empreendimento lançado no ano de 2000.

fig. 245 - Foto da vista aérea do empreendimento tirada da cobertura do Edifício Mal. Deodoro da Fonseca.

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203

Descrição do Empreendimento

O projeto é constituído por dois blocos iguais de onze pavimentos residenciais,

sobre um pavimento de uso comum e um pavimento garagem, de acordo com a Lei

434/1983.

fig. 246 - Planta de situação com os dois blocos. fig. 247 - Perspectiva dos blocos.

A guarda de veículos é feita no pavimento térreo e no pavimento de subsolo.

A área de lazer situa-se no pavimento de uso comum com duas piscinas (uma

infantil e uma de adultos), sauna seca e a vapor com sala de repouso, salão de festas com

copa, área reservada à recreação infantil e fonte central com lagos e bancos. São áreas

projetadas atendendo padrões de insolação e de conforto.

Descrição das Unidades Privativas

Os apartamentos estão dispostos em dois blocos de onze pavimentos cada. Cada

pavimento contém 04 apartamentos rebatidos, com acesso social a cada duas unidades,

compartilhando o elevador de serviço.

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Os apartamentos são compostos de sala de estar e jantar em um só ambiente de

20,80m², duas varandas, três quartos sendo um suíte, dois banheiros sociais, uma copa-

cozinha, uma área de serviço, um quarto de empregada e um banheiro de serviço, com

101,61m² de área útil.

fig. 248 - Planta baixa do apartamento da coluna 04.

Mesmo projetado para classe média alta, este apartamento possui dimensões

pequenas, com dois quartos de 9,00m² e a suíte com 13,40m². Os halls externos social e de

serviço têm comunicação entre si.

fig. 249 - Planta humanizada do apartamento da coluna 02.

Avaliação crítica

O conjunto arquitetônico apresenta em excelente estado de conservação, pela

pouca idade e pelo esmero de seus moradores.

A orientação solar da edificação obedece ao eixo nordeste-sudoeste, porém os

apartamentos têm seus compartimentos todos voltados para a orientação sudeste ou

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noroeste. Os apartamentos voltados para o sudeste são os mais beneficiados por esta

orientação, na cidade do Rio de Janeiro.

Um fato prejudicial à ventilação dos apartamentos é estar todos os

compartimentos voltados para uma mesma face do edifício, dificultando a ventilação

cruzada dentro do apartamento, ficando apenas a porta da suíte abrindo para a fachada

perpendicular. Este fato é decorrente das dimensões do bloco – 10,84m x 41,90m – muito

estreito e comprido, por sua vez decorrente do partido adotado de dois blocos voltados para

o logradouro, como fator valorizante do empreendimento.

fig. 250 - Planta de situação com marcação da ação dos ventos.

O projeto do apartamento apresenta uma funcionalidade simples, sem requintes.

Para acessar-se o setor de serviço é necessário cruzar o setor social, e ao ingressar no

apartamento, a sala se torna devassável perdendo sua privacidade.

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Os banheiros foram projetados sem iluminação e ventilação diretas, ficando a

ventilação a cargo da exaustão mecânica e a iluminação somente a cargo da artificial. Um

aspecto positivo e prático é o desenho do banheiro social com dupla utilização, como

lavabo também.

fig. 251 - Croquis do apartamento com o fluxo entre os setores e da falta de privacidade à entrada.

Foram projetadas duas varandas, com pequenas dimensões. A sala comporta

sacada com 80 cm de balanço, tendo sido criada uma reentrância de 70cm para compor a

varanda de 11,52m².

As áreas do apartamento, de um modo geral, obedecem às áreas mínimas

permitidas para os compartimentos, quer seja pelo Código de Obras, quer seja pelo

mercado imobiliário. A área do apartamento de sala e três quartos gira em torno de

89,00m².

A área comum do pavimento-tipo apresenta as disposições introduzidas pelo

Decreto 322/1976: a escada de incêndio enclausurada à prova de fumaça e a comunicação

entre os halls de serviço e os sociais, representando ampliação dos sistemas de segurança

da edificação.

Na planta baixa com as áreas social, íntima e serviço, demarcadas, observamos

as porcentagens determinadas para cada setor.

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fig. 252 - Planta baixa do apartamento com os setores social, íntimo e serviço demarcados.

Setor social: 36 %

Setor íntimo: 43 %

Setor de serviço: 21 %

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Conclusão

Como forma de conclusão da pesquisa, procedemos ao estudo comparativo dos

exemplos selecionados compilando os principais aspectos levantados na pesquisa. Com

esse estudo, pudemos elaborar as sínteses que ilustram, para efeito deste trabalho, as

principais transformações nas edificações multifamiliares no Rio de Janeiro, de acordo

com as categorias de análise selecionadas.

É importante ressaltar, de antemão, que a definição dos tipos arquitetônicos

dependem intrinsecamente dos critérios de pesquisa enfocados. Com certeza outros

critérios de pesquisa gerariam outros tipos e novas conclusões. Nesta pesquisa buscaram-se

categorias relacionadas principalmente aos aspectos da legislação urbanística da cidade do

Rio de Janeiro e seus condicionantes.

Ora incidiram questões relativas à pressão por novas alternativas de moradia,

ora questões moldadas por aspectos culturais e ainda outras, de certa maneira,

influenciadas pelo mercado imobiliário.

As sínteses complementares e conclusivas apresentadas a seguir referem-se às

categorias de análise: volumetria das edificações, implantação no solo e soluções de

plantas baixas. Foram extraídas da análise dos tipos arquitetônicos pesquisados e dos

exemplos selecionados.

Por volumetria das edificações entende-se a concepção volumétrica

arquitetônica, que, ao longo do século XX, seguiu determinados modelos.

Por implantação no solo entende-se a projeção do pavimento tipo no terreno,

traduzindo tendências de taxas de ocupação no lote, de condições das circulações

horizontal e vertical e de aeração dos apartamentos.

Por soluções de plantas baixas entende-se o estudo do desenvolvimento em

termos de setores e suas funções, dimensões, localização dos ambientes e circulações,

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209

traduzindo mudanças nos hábitos sociais e nos programas residenciais, incorporados aos

projetos analisados.

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Quadro comparativo: (em A3 ou A4)

Exemplo Tipo Volumetria Pl.de situação Planta baixa

Ed. Barão de

Lucena

2

Ed. Carajás 2

Ed. Julio de

Barros Barreto

4

Ed. Mal

Deodoro da

Fonseca

6

Ed. Mansão

Rodrigo de

Freitas

7

Ed. Plaza Etoile 10

Ed. Golden

Garden

10

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211

a) Volumetria das Edificações

Após as pesquisas executadas e dados compilados e comparados, ilustrados no

quadro acima, verificou-se que os tipos arquitetônicos de edificações multifamiliares

analisados seguem cinco modelos básicos, que, ao suceder-se no tempo, demonstraram a

relação simbiótica de características que ora contrapuseram-se ora somaram-se,

constituindo um processo contínuo de transformações.

Os cinco modelos básicos que originaram os tipos estudados estão abaixo

esquematizados:

- Modelo A

Edificações com utilização do pavimento térreo para unidades residenciais,

alinhados ou não às divisas laterais.

fig. 253 - Croquis perspectivado do modelo A

Neste modelo observa-se basicamente a predominância da característica visual

de apenas duas fachadas (frontal e fundos). Esta implantação origina dois setores de área

livre no terreno: a parte da frente e a dos fundos da edificação. À área livre frontal, com

afastamentos de dimensões variadas, derivaram-se dos jardins das residências

unifamiliares.

Em muitos casos, com afastamentos frontais mais generosos, observaram-se

jardins cuidadosamente criados que muito se assemelhavam aos das antigas chácaras. A

área livre dos fundos da edificação remetia aos antigos quintais.

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212

fig. 254 - Foto do jardim frontal da Casa de Rui. fig. 255 – Foto do jardim do Edifício Almirante Guilhobel.

Neste modelo observa-se também a relação direta entre o espaço público da rua

e o espaço privado da edificação. Do espaço da rua passa-se para o espaço privado da

edificação ao cruzar-se apenas uma porta. A relação habitação-logradouro faz-se sem filtro

e, muitas vezes, o interior das unidades localizadas no pavimento térreo podem ser

descortinadas pelos transeuntes.

fig. 256 - Croquis do corte esquemático da edificação.

- Modelo B

Edificações construídas sobre pilotis, alinhadas ou não às divisas laterais.

fig. 257 - Croquis perspectivado do modelo B.

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213

Neste modelo observou-se a diversificação de espaços de transição entre o

domínio público e o domínio privado. Do espaço público da rua acessa-se o espaço semi-

privado do edifício, caracterizado pelo pilotis, com utilização variável para garagem,

recreação infantil, jardins, halls, portaria etc.

Neste caso, as edificações apresentam espaços coletivos no pavimento térreo.

Como conseqüência, a relação logradouro-habitação passou a fazer-se indiretamente, com

maior distanciamento entre os transeuntes e as unidades residenciais, mais protegidas e

isoladas da rua.

Quando existentes, os afastamentos laterais permitem uma nova leitura da

volumetria das edificações, pois as fachadas podem ser vistas pelos transeuntes, inclusive

de ruas distantes, devido ao maior alcance visual. Permitem também uma maior ventilação

no interior da quadra e dentro da própria unidade habitacional.

fig. 258 - Foto do Edifício Apolo na Praia de Botafogo. fig. 259 - Croquis do corte esquemático da edificação.

- Modelo C –

Edificações construídas sobre embasamento, afastadas das divisas laterais.

Mesmo sendo decorrente do modelo B, apresenta como variante característica

marcante dos embasamentos no térreo ocupando todo o terreno, com exceção do

afastamento frontal. Estes pavimentos de embasamento destinam-se à guarda de veículos,

sempre necessária, em número ascendente. Sobre o embasamento, localiza-se o pavimento

de uso comum onde se projeta a recreação infantil e demais componentes de espaços para

lazer e administração.

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214

fig. 260 - Croquis perspectivado do modelo C.

Também são edificações isoladas das divisas do lote com fachadas laterais

visíveis da rua, conferindo uma aeração melhor ao entorno, porém uma maior

impermeabilidade do solo. O isolamento das unidades residenciais do plano da rua é maior

devido ao embasamento constituir-se de um ou mais pavimentos. O pedestre é afastado da

volumetria do edifício, tendo pouco alcance visual deste a partir do logradouro público.

fig. 261 - Croquis do corte esquemático da edificação.

Neste modelo fica claro o surgimento dos altos níveis de impermeabilidade dos

terrenos urbanos, situação que começa a preocupar os legisladores e urbanistas.

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215

- Modelo D –

Edificações afastadas das divisas em lotes condominiais sobre pilotis.

fig. 262 - Croquis perspectivado do modelo D.

Neste modelo, encontrado com maior freqüência na Baixada da Barra da Tijuca

e Jacarepaguá, os pavimentos para implantação das vagas de garagem encontram-se

situados no subsolo da edificação, permanecendo o pavimento térreo aberto destinado a

lazer e jardins. Este modelo, que, por definição, se aplica a lotes de maiores dimensões,

permite uma maior penetração dos ventos pela esplanada.

Com o desaparecimento visual do embasamento, o edifício volta a ter relação

com o nível do logradouro, porém o pedestre perde contato com as edificações, devido aos

grandes afastamentos e ao fechamento desses espaços.

O terreno mantém sua condição de impermeabilidade verificado no modelo

anterior.

fig. 263 - Croquis do corte esquemático da edificação.

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216

- Modelo E –

Edificações alinhadas às divisas laterais sobre pavimento de embasamento.

fig. 264 - Croquis perspectivado do modelo E.

Este modelo é encontrado, na maioria dos casos, em edificações com cinco

pavimentos residenciais, apresentando uma tendência de restrição à altura das edificações

verificada nos Planos de Estruturação Urbana.

O térreo com garagem ocupa todo o terreno, excetuando-se o afastamento

frontal, mantendo-se elevada condição de impermeabilidade do solo. Entre este pavimento

de garagem e os pavimentos de apartamentos está localizado o pavimento de uso comum

destinado às atividades de lazer e administração.

fig. 265 - Croquis do corte esquemático da edificação.

Este modelo é bastante comum sendo decorrente da estrutura fundiária,

tipicamente portuguesa, com lotes estreitos e compridos.

Este modelo originou-se devido à inviabilidade de remembramento de lotes

contíguos causada, na maioria das vezes, por aplicação da legislação urbanística e por

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217

entraves nas transações comerciais que impedem a realização de empreendimentos de

maior porte.

b) Implantação no solo

- Fachadas e ventilações –

Nos exemplos selecionados do tipo 2, pode-se observar o peso da importância das

fachadas frente e fundos na solução de implantação da edificação, resolvendo-se a

ventilação dos compartimentos situados no interior do edifício através de prismas internos

ou abertos.

Não se pode conferir esta solução à estreiteza dos terrenos, pois no exemplo do

Edifício Plaza Etoile, a metragem da divisa dos fundos é de também 24,00m, exatamente

como a medida da divisa dos fundos do Edifício Carajás. Observando-se as duas

implantações, nota-se que as soluções são bem diferentes, obedecendo-se a padrões

distintos, talvez justificados pelos quase sessenta anos que separam uma da outra.

No perfil de implantação adotado no exemplo do Edifício Plaza Etoile, valorizam-

se comercialmente os apartamentos localizados no meio e nos fundos da lâmina. Porém,

em conseqüência compromete-se a ventilação interna dos apartamentos, que, muitas vezes,

são voltados para uma só fachada, impossibilitando a ventilação cruzada, que diminui a

sensação térmica no interior da unidade.

fig. 266 - Croquis da ventilação cruzada existente no Ed. Carajás.

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218

fig. 267 – Croquis da ventilação cruzada do Ed. Barão de Lucena.

fig. 268 – Croquis da ventilação para apenas uma fachada do Ed. Plaza Etoile..

Esta situação agrava-se no exemplo do Edifício Golden Garden, onde os

apartamentos direcionados para o interior do terreno há impossibilidade de ventilação

frontal.

fig. 269 - Croquis da ventilação do Ed. Golden Garden.

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219

O exemplo do Edifício Julio de Barros Barreto apresenta a solução de ventilação

ideal, pois os apartamentos estão orientados para o quadrante sudeste e têm vãos de

ventilação nos fundos das unidades, permitindo a percolação dos ventos no seu interior.

fig. 270 - Croquis da ventilação cruzada do Ed. Julio de Barros Barreto.

- Circulações verticais –

Os exemplos das décadas de 1930 e 1940 apresentam áreas de circulação nos

pavimentos relativamente menores que os exemplos representativos do fim do século XX.

Isto deveu-se à exigências de segurança do Corpo de Bombeiros para escape e contra

pânico, com a adoção da escada enclausurada à prova de fumaça no ano de 1976. Observa-

se também as dimensões diminutas da área comum no exemplo do Edifício Marechal

Deodoro da Fonseca, datado de 1966.

Esta área comum atinge seu ponto mínimo no exemplo do Edifício Carajás,

construído em época que não se exigia a comunicação entre halls social e serviço nos

pavimentos.

- Taxa de ocupação e área livre –

Nos exemplos selecionados a taxa de ocupação das edificações no terreno

aproximam-se entre si, variando entre 25 e 35% da área total do lote. Observou-se também

que a utilização das áreas livres para lazer, nos exemplos das décadas de 1930 e 1940, não

se concretizou por falta de espaço e sim por inexistência de demanda por esse programa,

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220

pois locais para esta destinação existiam. A prática de se projetar áreas de lazer nas

edificações multifamiliares, foi se desenvolvendo ao longo do século XX. No exemplo do

Ed. Julio de Barros Barreto, as áreas de lazer foram adaptadas pelos moradores, assim

como no Ed. Marechal Deodoro da Fonseca, tornando-se insuficientes para as exigências

dos padrões do fim do século.

Ao exigir-se a construção de um pavimento de uso comum nas edificações

multifamiliares a partir de 1976, estes passaram a ser projetados como um grande ambiente

livre, sem os componentes e equipamentos que surgiriam somente a partir do fim da

década de 1980.

Nos exemplos dos Edifícios Plaza Etoile e Golden Garden, observou-se a

otimização máxima deste pavimento, apresentando uma diversidade de áreas de lazer, de

passeio, de contemplação e de serviços perfeitamente demarcadas e bem projetadas. Este

fenômeno deu-se por influência do aparecimento dos grandes condomínios da Barra da

Tijuca, que passaram a oferecer verdadeiros clubes anexos à residência, para utilização

exclusiva dos moradores.

Podemos observar que, no caso do bairro de Botafogo, pela Lei 434/1981, há

atualmente a possibilidade básica de duas formas de implantação da edificação no lote:

- edificação alinhada às divisas laterais, única no lote (tipo 9);

- edificação afastada das divisas laterais, um ou mais edifícios no lote (tipo 10).

A primeira forma de implantação é oriunda de lotes de menores dimensões, com

disposição que privilegia as fachadas frente e fundos e tem os compartimentos localizados

no interior do edifício ventilados para prisma interno. Nestes casos, a taxa de ocupação da

edificação no terreno gira entre 50 e 70%.

fig. 271 - Esquema de implantação básica para edificações alinhadas às divisas laterais em Botafogo em terrenos de

menor dimensão.

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221

A segunda forma de implantação é normalmente localizada em lotes de maiores

dimensões, como no exemplo do Edifício Plaza Etoile, ou provenientes de

remembramentos de lotes menores, como no exemplo do Edifício Golden Garden.

A prática de remembramento de lotes menores em terrenos de maiores dimensões

tornou-se cada vez mais comum no bairro, em função do grande número de lotes com

características da urbanização portuguesa, com pequenas testadas e grandes profundidades,

e em função do maior aproveitamento proveniente de terrenos que possibilitem a

implantação de dois ou mais blocos afastados das divisas. Esta forma de implantação

resultou numa maior aceitação pelo público comprador por três motivos principais:

- o equilíbrio da valorização dos apartamentos nos pavimentos, decorrente do fato

de que praticamente todas as unidades possuem varandas balanceadas e têm vista para o

logradouro, neutralizando o estigma do “apartamento de fundos”;

- a possibilidade de se obter, em função de um espaço físico maior no térreo, áreas

de lazer dotadas de componentes e equipamentos mais completos, aproximando-se do

padrão de lazer projetados nos lotes condominiais da Barra da Tijuca;

- o fator econômico, uma vez que, teoricamente, o custo total do empreendimento

se dilui em um número maior de unidades, alcançando-se um valor de mercado mais

acessível se comparado aos pequenos prédios de dez unidades residenciais, por exemplo.

Ressalta-se a valorização do solo urbano no bairro enfatizando a pressão

imobiliária.

c) Soluções de plantas baixas

Através das plantas baixas das edificações multifamiliares para famílias de classe

média e classe média alta, pesquisadas no bairro de Botafogo, obtiveram-se significativas

informações a respeito do desenvolvimento do programa projetual das unidades privativas

no que se refere a funções, metragens, circulações e fluxos.

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222

As informações colhidas e apresentadas nesta conclusão da dissertação referem-se

basicamente aos estudos de casos apresentados no Capítulo 4 (Análise dos exemplos

selecionados), que vieram ilustrar e ratificar posições já anteriormente discutidas no sub-

capítulo 1.2.2 (Transformações das plantas baixas).

Nesta conclusão estão indicadas tendências no desenvolvimento das plantas baixas

das edificações multifamiliares.

Para tanto optamos por separar em itens os assuntos estudados:

- Setorização;

- Superposição de funções e circulações internas;

- Áreas internas e ventilações.

- Setorização

O estudo do Professor Marcelo Tramontano da Escola Engenharia de São Carlos,

indicou que, de um modo geral, no Brasil, houve variação nas porcentagens relativas aos

setores social, íntimo e de serviço, com pesquisas que apontaram uma diminuição

progressiva das áreas internas dos apartamentos.152

Nesta pesquisa, ao analisarem-se as plantas baixas estudadas para a classe média,

conforme descrito no Capítulo 4, concluiu-se que estas não sofreram grandes variações

percentuais entre si.

Observamos que o setor social variou entre 32 e 44% da área do apartamento, e esta

variação muito se vinculou às áreas das varandas projetadas. Os apartamentos com

menores porcentagens de área social têm pequenas varandas (Edifícios Barão de Lucena,

Plaza Etoile e Golden Garden), ao passo que os com maiores porcentagens possuem os

chamados “varandões” (Edifícios Mansão Rodrigo de Freitas, Carajás e Julio de Barros

Barreto). A exceção é do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca, que não possui varanda

em seu projeto e o setor social detém 41% da área total do apartamento, mostrando a

intenção do arquiteto de valorizar este setor ao projetar as unidades.

152 Pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Estudos sobre Habitação e Modos de Vida (Nomads), publicada no jornal O Globo de 02/02/2003, caderno Morar Bem.

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223

O setor íntimo demonstrou uma variação entre 38 e 47%, detendo em todas as

décadas uma porcentagem maior que a obtida pelo setor social. A razão disto está no fato

de a classe social a ser atendida é a média alta, com projeto de pelo menos três quartos

sociais.

O setor de serviço demonstrou a menor variação, entre 17 e 23%, ao longo do

século XX. Por se tratar de um estrato de renda mais alta, os compartimentos são mais

definidos e estanques, não sofrendo grandes modificações internas.

Interessante observar o caso do Edifício Carajás que detém a menor porcentagem

de setor de serviço dos exemplos analisados, mesmo possuindo dois quartos de

empregados e um hall distribuidor de serviço. Tal fato se dá pela valorização do projeto

aos demais setores, com áreas bastante significativas. O mesmo fato ocorre também no

Edifício Marechal Deodoro da Fonseca.

Abaixo o quadro comparativo dos setores social, íntimo e serviço nos sete estudos

de caso.

Exemplos selecionados: Setor social Setor íntimo Setor serviço

Ed. Barão de Lucena 32% 47% 21%

Ed. Carajás 41% 42% 17%

Ed. Julio de Barros Barreto 39% 43% 18%

Ed. Marechal Deodoro da Fonseca 41% 41% 18%

Ed. Mansão Rodrigo de Freitas 44% 38% 18%

Ed. Plaza Etoile 33% 44% 23%

Ed. Golden Garden 36% 43% 21%

- Superposição de funções e Circulações internas

Com relação à superposição de funções observa-se uma constante no que se refere

ao uso, pelo setor social, do banheiro projetado no setor íntimo, que passa a ser utilizado

pelas visitas na ausência de um lavabo. Nos exemplos do fim do século XX (Ed. Plaza

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224

Etoile e Golden Garden), observa-se a solução encontrada para permitir duplo uso a este

banheiro, separando o lavatório das demais peças.

No Ed. Carajás foi projetado um banheiro completo para visitas, porém para ser

acessado é necessário cruzar a galeria do apartamento, devassando a parte íntima.

No caso do Ed. Julio de Barros Barreto a solução é mais difícil, pois não existe

banheiro de visitas no primeiro pavimento, e o único banheiro íntimo está localizado no

segundo pavimento, obrigando ao visitante a um grande deslocamento dentro do

apartamento.

O caso do Ed. Marechal Deodoro da Fonseca demonstrou-se exemplar no tocante a

não superposição de funções, sendo todas bem definidas e marcadas. No que se refere,

porém, à circulação interna observa-se a necessidade de se cruzar a parte social para se

chegar ao setor de serviço, situação que, mesmo não sendo a ideal, não chega a

comprometer completamente a circulação uma vez que este acesso se dá através da galeria,

e não pela sala, como é o caso dos Edifícios Plaza Etoile, Golden Garden e Mansão

Rodrigo de Freitas. Nos representantes dos tipos arquitetônicos mais antigos (Ed. Barão de

Lucena e Carajás) existiu a preocupação de projetar o acesso direto entre o setor social e o

setor serviço.

O mesmo fenômeno pode ser estudado quanto à prevenção da privacidade do

ambiente social com relação à entrada do apartamento. Nos exemplos de edifícios até a

década de 1960, observa-se a preocupação em se proteger o interior do apartamento de

visitantes, através de halls, vestíbulos e galerias que encobriam a sala. Nos exemplos a

partir da década de 1970, concluiu-se que as salas tornaram-se perfeitamente devassadas a

partir da porta de entrada, tirando a privacidade do ambiente. Talvez este fenômeno se

justifique pelos inúmeros sistemas de segurança, aperfeiçoados no fim do século XX, que

acabaram por permitir a entrada somente de pessoas identificadas e aguardadas pelos

moradores.

No caso do Ed. Julio de Barros Barreto, ocorre a maior superposição de setores no

ambiente da escada, principalmente no primeiro lance, que acessa aos quartos, à lavanderia

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225

no pavimento intermediário e atende ao eventual visitante que necessite utilizar o banheiro

social do segundo pavimento.

- Áreas internas e ventilações

De uma maneira geral, pode-se concluir que houve diminuição das áreas dos

apartamentos em situações padrão em toda a cidade do Rio de Janeiro, como já foi citado

no sub-capítulo 1.2.2 (Transformações das plantas baixas). No bairro de Botafogo esta

situação não foi diferente, apesar de, no estrato de renda analisado, os exemplos

selecionados apresentarem, de uma maneira geral, áreas semelhantes ao longo do século

XX. Abaixo, quadro com as áreas úteis dos apartamentos analisados:

Exemplos selecionados: Área útil

Ed. Barão de Lucena 99,16m²

Ed. Carajás 195,28m²

Ed. Julio de Barros Barreto 114,50m²

Ed. Marechal Deodoro da Fonseca 190,56m²

Ed. Mansão Rodrigo de Freitas 106,88m²

Ed. Plaza Etoile 82,74m²

Ed. Golden Garden 101,61m²

Os casos pontuais dos Edifícios Carajás e Marechal Deodoro da Fonseca com áreas

úteis beirando os duzentos metros quadrados, são atípicos nesta faixa de renda, em função

disto deixarão de serem analisados com relação à metragem absoluta dos seus

compartimentos, por constituírem-se, neste caso, como exceção. Nos exemplos restantes,

as áreas úteis dos apartamentos medem, aproximadamente, cem metros quadrados.

Comparando-se os exemplos dos Edifícios Barão de Lucena e Plaza Etoile,

percebe-se que as áreas dos compartimentos são semelhantes entre si, e que para se

projetar mais um banheiro social no Ed. Plaza Etoile, foi necessário diminuir

progressivamente os quartos. O mesmo acontece em relação aos exemplos dos Edifícios

Mansão Rodrigo de Freitas e Golden Garden, que ratificam esta migração de área interna

do apartamento para o surgimento de mais um banheiro na unidade.

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226

Interessante observar que a distância entre as áreas dos quartos de empregados e

quartos sociais encurtaram de maneira significativa ao longo do período analisado.

Observamos que no início do século, a área do quarto de empregada situava-se

entre 19% e 47% da área dos quartos principais, enquanto que, na década de 1990, esta

relação já se situava na casa dos 60%. Duas vertentes se apresentaram para que ocorresse

tal fenômeno:

- a área dos quartos de empregada aumentou em consequência da Lei 1218/1983,

que fixou em seis metros quadrados a área mínima deste compartimento;

- a diminuição progressiva da área dos quartos principais, ratificando a conclusão

do trabalho do Prof. Tramontano.

Abaixo quadro comparativo entre as áreas úteis dos quartos de empregados e os

quartos sociais dos apartamentos analisados :

Exemplos selecionados: Quarto de

empregados

Menor quarto

social

Maior quarto

social

Ed. Barão de Lucena 5,20m² 10,95m² (47%) 15,00m² (35%)

Ed. Carajás 4,50m² 13,50m² (33%) 23,77m² (19%)

Ed. Julio de Barros Barreto 6,00m² 10,80m² (55%) 13,68m² (44%)

Ed. Marechal Deodoro da Fonseca 4,12m² 12,15m² (34%) 14,67m² (28%)

Ed. Mansão Rodrigo de Freitas 6,00m² 9,84m² (61%) 12,15m² (49%)

Ed. Plaza Etoile 6,00m² 9,00m² (66%) 10,53m² (57%)

Ed. Golden Garden 6,02m² 9,18m² (65%) 13,40m² (45%)

De uma maneira geral, observou-se também a diminuição das áreas de circulações

internas, numa tentativa de otimizar ao máximo os espaços.

Na faixa de renda pesquisada, observou-se que, enquanto a área da cozinha

apresentou pequenas variações, o espaço destinado à área de serviço diminuiu

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227

consideravelmente, passando a ser, a partir da década de 1980, em muitos casos, como

continuação da cozinha, ocupando o mesmo ambiente.

Como já havia sido destacado no Capítulo 2 (Recorte espacial – o Bairro de

Botafogo), os compartimentos que mais sofreram modificações foram os banheiros. Ao

longo do século XX, suas áreas internas foram sendo diminuídas, com abolição gradativa

da banheira e do bidet. Em compensação, multiplicaram-se dentro do apartamento, sendo

difícil, dentro desta faixa de renda, encontrar-se uma unidade privativa com menos de três

banheiros.

As ventilações nos ambientes sociais mantiveram-se preservadas, através de amplas

janelas ou pelas portas de acesso à varanda. Neste ponto, podemos afirmar que as

condições de ventilação das salas melhoraram, uma vez que não é mais permitido o

fechamento com esquadrias da área da varanda, balanceada ou não, integrando-a com a

sala. Como já foi citado anteriormente, esta proibição foi regulamentada pelo Decreto

322/1976, obrigando a convenção do condomínio a estipular tal condição.

Com relação aos quartos, observou-se que, nos fins do século XX, a prática de se

projetar mais de uma janela no cômodo, como foi observado no exemplo do Edifício Barão

de Lucena, foi praticamente abolida, sendo mais comum uma única janela. Perderam,

também, ao longo do tempo, a condição de escurecimento do cômodo. Era comum as

janelas dos quartos apresentarem vidro e veneziana, permitindo a ventilação sem

iluminação. Esta prática se devia a condições expressas no Regulamento de Construções e

Edificações do Decreto “E” 3.800/1970, nos seus artigos 147 e 148, que obrigava os

construtores a oferecerem a condição de escurecimento aos quartos. Esta postura não se

repetiu nos decretos posteriores provocando seu desuso.

Ainda no setor íntimo, observou-se a redução de qualidade de ventilação nos

banheiros. Posturas municipais do início do século XX, em função das condições de

insalubridade da época, exigiam que todos os compartimentos possuíssem ventilações

diretas. O decreto 3.800/1970 introduziu a condição de se ventilar banheiros

(compartimento não-habitável) através de dutos de ventilação de duas maneiras: dutos

horizontais sobre o rebaixo do compartimento contíguo até alcançar a fachada, num

percurso máximo de seis metros lineares e por exaustão mecânica, ligados à uma casa de

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máquinas localizada no telhado através de um duto vertical. Em ambos os casos, houve

diminuição na qualidade de conforto oferecida aos moradores.

A ventilação da cozinha, nos fins do século XX, é obtida, na maioria dos casos,

através da área de serviço, não possuindo janelas próprias, como no início deste século.

Em termos qualitativos, a ventilação dos quartos de empregados de um salto

significativo, com a obrigatoriedade de se projetar ventilação direta através de janela com

área superior a um sexto do piso. Anteriormente à Lei 1218/1983, não havia

regulamentação de ventilação deste quarto, podendo ser aceita tal condição através de

portas de venezianas.

Devemos observar que, via de regra, os vãos de acessos aos compartimentos

interiores do apartamento não permitem fácil locomoção dos deficientes físicos. Enquanto

algumas cidades brasileiras contém, nos seus códigos, posturas que permitam melhor

deslocamentos dos deficientes dentro da unidade, o Código de Obras da cidade do Rio de

Janeiro se omite em relação a esta mobilidade interna.153 As únicas exigências neste

sentido, são a obrigatoriedade de rampa com dez por cento de declividade ligando à rua ao

hall social e a inclusão de um banheiro para deficientes físicos, ambos no pavimento térreo.

d) A visão dos moradores

Em entrevistas com moradores dos exemplos selecionados e em conversa informal

com moradores de outros edifícios, dentro da mesma faixa de renda, constatamos que, de

um modo geral, o sentimento detectado em relação ao imóvel em que habitam é o da

satisfação em morar num apartamento próprio. Este sentimento sobrepujou todos os outros

enfoques e tornou-se muito forte, até explicando a certa apatia percebida no que se refere

às modificações que gostariam que fosse implementada no interior das unidades.

A satisfação verificada, não importando a localização, as dimensões do apartamento

e os materiais de acabamento, talvez possa ser explicada pelas dificuldades encontradas

153 Na cidade de Brasília, há a obrigatoriedade de em, pelo menos, um banheiro do apartamento, conter a condição de giro de uma cadeira de rodas (diâmetro de 1,20m livre), enquanto que na cidade de Niterói, os vãos de acessos (portas) aos compartimentos possuem largura mínima de setenta centímetros para o banheiro e oitenta centímetros para os quartos e cozinha, facilitando o circular dos deficientes por dentro da unidade.

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pela maioria da população, para a aquisição da casa própria, mesmo no estrato de renda

estudado. O fato de ter-se conseguido vencer tais obstáculos supera as eventuais pequenas

alterações que talvez fossem necessárias no interior do apartamento para adequar-se à

família.

O sentimento de superação das dificuldades para defender o espaço conquistado

também ficou latente em várias respostas, como:

- não importar-se com o fato do edifício não ter local para guarda de veículos, como

no caso do Edifício Barão de Lucena, com a procura diária de vagas nas ruas, expondo seu

patrimônio a danos e furtos, e não abrirem mão da árvore magnífica plantada no pátio dos

fundos;

- rir, divertindo-se, como no caso do Edifício Marechal Deodoro da Fonseca, com

a bala perdida que “escorreu” pela cortina da sala caindo no chão, provando com isto que o

edifício está fora do raio de ação da favela, uma vez que a bala chega sem velocidade;

- não se importar com a circulação externa comum ser extensa e sombria, como no

caso do Edifício Julio de Barros Barreto;

- achar normal o apartamento não possuir lavabo no pavimento inferior, como no

caso do Edifício Julio de Barros Barreto, obrigando o visitante, nem sempre íntimo, a subir

até o pavimento dos quartos para utilizar o banheiro.

Com todas essas informações pudemos verificar que o equilíbrio do sistema que

rege o desenvolvimento da atividade empreendedora da construção de residências

multifamiliares no Rio de Janeiro, já aludido na Introdução desta pesquisa, isto é, programa

projetual, legislação urbanística e edilícia e o mercado imobiliário, confirmou-se de

maneira inconteste.

A legislação atendida no projeto arquitetônico dá origem a um produto

ambicionado e perseguido, de maneira geral, pela população, que necessita morar. A

resposta do mercado torna-se vacilante à medida que os valores apresentados excedem às

expectativas e às posses do mercado comprador. Observemos que aqui não se trata do

mercado investidor e sim do comprador – aquele que adquire o imóvel para uso próprio e

de sua família.

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230

Para este público vencer esta etapa, considerada a mais difícil, faz com que fatos

importantes da edificação e da unidade privativa sejam relevados e até esquecidos.

Este fato porém não impediu que os arquitetos estudassem, ao longo do tempo,

novas soluções quanto à distribuição dos ambientes, conforto, ventilação, insolação e

circulações para atender em primeiro lugar ao morador final, renovando-se a técnica e os

métodos projetuais empregados.

Esta pesquisa levantou alguns pontos, em relação a soluções importantes

verificadas no projeto das unidades, tais como: ventilações diretas nos banheiros, áreas

internas mais confortáveis e formas de implantação que permitem condições ideais de

ventilação. Esses itens nem sempre são visíveis no momento da comercialização do

apartamento, e não representam aumento direto do preço final da unidade. Neste sentido

que se dirigem algumas questões, a título de conclusão.

Se é possível atender a tais requisitos melhorando condições de habitabilidade e

qualidade de vida, e que para tal não se onera o valor dos imóveis, porque não perseguir

tais condições?

O fato dos moradores terem seus anseios atendidos ao adquirir um imóvel e relevar

os pontos considerados mais fracos, não isenta aos arquitetos de, reconhecendo estes

pontos e sabendo de sua importância, tentar dirimi-los, alcançando graus de satisfações

ainda maiores.

Em monografia realizada para este curso de Mestrado, escrevemos que “atendidas

as necessidades humanas, o projeto arquitetônico alcançou o seu fim”.154 Ainda

concordamos com a afirmativa, porém o campo ampliou-se com a informação de que os

moradores nem sempre se dão conta das suas próprias necessidades, e que cabe ao

profissional, cercar este projeto de condições para que ele realmente alcance seu fim:

condições reais de habitabilidade, conforto e higiene, majorados pelo sentimento de

realização que a compra do imóvel, às vezes tanto tempo esperado, imprime.

154 CHACON, Sonia. Monografia “Movimento Modernista no Rio de Janeiro: Um olhar sobre o edifício Julio de Barros Barreto em Botafogo.” Rio de Janeiro: FAU/UFRJ, 2002.

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Referências Bibliográficas: Livros, Dissertações e Teses: 1 - ABREU, Maurício de A. A Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPLAN, 1997. 2 – ALBERNAZ, Maria Paula. As Vilas: Uma Contribuição à História da Arquitetura Popular no Rio de Janeiro através do estudo de espaço urbano. Rio de Janeiro: UFRJ / IPUR, 1985. 3 - ARGAN, Giulio Carlo. El Concepto del Espacio Arquitectónico desde el Barroco a Nuestros Dias. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 1984.

4 - BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2000. 5 - BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2001. 6 - BOEMINGHAUS, Dieter. Pavimentos e Limites Urbanos. Barcelona: Gustavo Gili, 1984. 7 - CALVENTE, Eurico A. Arquitetura e Tradição Familiar: um Estudo das Transformações de Plantas de Fazendas Construídas no Século XIX em Quissamã, Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: PROARQ / UFRJ, 2001. 8 - CARDOSO, Adauto Lúcio. Construindo a Utopia: Urbanismo e Modernidade no Brasil. Rio de Janeiro: IPPUR, 1998. 9 – CARVALHO, Cláudia; NÓBREGA, Cláudia; SÁ, Marcos. In Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Guia da Arquitetura Colonial, Neoclássica e Romântica no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000. 10 - CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era Moderno: Guia de Arquitetura 1928 – 1960. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001. 11 - COARACY, Vivaldo. Memórias da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1955. 12 - COELHO NETO, J. Teixeira. A Construção no Sentido da Arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1999. 13 - COHEN, Alberto A.; FRIDMAN, Sérgio A. Rio de Janeiro, Ontem e Hoje. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1998. 14 – CONDE, L. Paulo; ALMADA, Mauro. In Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Guia da Arquitetura Art Deco no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000. 15 – COUTINHO, Evaldo. O Espaço da Arquitetura. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977. 16 - DEL RIO, Vicente (Org.). Arquitetura: Pesquisa & Projeto. Rio de Janeiro: Pró-editores/PROARQ, 1998. 17 - DEL RIO, Vicente. Introdução do Desenvolvimento Urbano no Processo de Planejamento. Rio de Janeiro: Ed. Pini, 1990. 18 - DEL RIO, Vicente; SANTOS, Ana Carolina G. A Outra Urbanidade: A Construção da Cidade Pós-Moderna e o Caso da Barra da Tijuca. Rio de Janeiro: FAU / UFRJ, 1998.

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19 – DIAS, Edson dos Santos. Revista Geo Notas, artigo: Resgatando o Movimento Modernista Urbano: A Expressão de uma Conjuntura Histórica que marcou as Cidades do Século XX. Paraná: Universidade Estadual de Maringá, 2000. 20 - DIETRICH, Lucas. Grandes Edeas para Pequeños Edifícios. Barcelona: Gustavo Gili, 2001. 21 - FONSECA, Wagner Barros. Vilas Residenciais no Município do Rio de Janeiro: Propostas para o Desenvolvimento de Projetos. Rio de Janeiro: PROARQ / UFRJ, 2002. 22 - FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 1984. 23 - FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes Editora, 1997. 24 - FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1978. 25 - GARCIA, Sérgio. Rio de Janeiro Passado e Presente. Rio de Janeiro: Conexão Cultural, 1963. 26 - GLANCEY, Jonathan. A História da Arquitetura. São Paulo: Edições Loyola, 2001. 27 - GOBBO, Fabiana G. R. Tipologia Arquitetônica do Edifício de Apartamentos: Análise da Evolução, Tendências e Perspectivas na Cidade do Rio de Janeiro no período de 1990 a 2001. Rio de Janeiro: PROARQ / UFRJ, 2001. 28 - GROAT, Linda; WANG, David. Architectural Research Methods. Nova Iorque: John Wiley & Sons Inc., 2002. 29 - HOLLANDA, H.B. Quando o Brasil era Moderno: Guia Poético do Rio de Janeiro – O Olhar Modernista. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2001. 30 - LAMAS, José M.R.G. Morfologia Urbana e o Desenho da Cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian, 1992. 31 - JOÃO FORTES ENG. SA – Grupo de Pesquisa em Habitação e Uso do Solo Urbano da UFRJ. História dos Bairros – Botafogo. Rio de Janeiro: Index Editora Ltda, 1982.

32 - LEMOS, Carlos A. C. A Casa Brasileira. São Paulo: Contexto, 1996. 33 - LEMOS, Carlos A. C. Cozinhas, etc. Estudo sobre as zonas de serviço. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1978. 34 – LORDELLO, Sérgio. Expansão Urbana e Estruturação dos Bairros do Rio de Janeiro – o caso de Botafogo. Rio de Janeiro: UFRJ / COPPE / PUR, 1981. 35 - LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997. 36 - MACEDO, Silvio S. Quadro do Paisagismo no Brasil. São Paulo: Coleção Quapá, 1999. 37 - MAHFUZ, Edson da C. Ensaio sobre a Razão Compositiva. Belo Horizonte: AP. Cultural, 1995. 38 – MEREDITH, Publishing Company. Better Homes and Gardens Decorating Book. Estados Unidos da América, 1956.

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39 - MINDLIN, Henrique E. Arquitetura Moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 1999. 40 – NEEDELL, Jeffrey. Belle Époque Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 41 - NEUFERT, Ernst. A Arte de Projetar em Arquitetura. São Paulo: Gustavo Gili, 2ª ed. 42 - NIEMEYER, Oscar. Minha Arquitetura. Rio de Janeiro: Revan, 2000. 43 - PASSOS, Luiz Mauro do C. Edifícios de Apartamentos em Belo Horizonte, 1939-1976. Belo Horizonte: AP Cultural, 1998. 44 – PEIXOTO, Gustavo Rocha. In Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Guia de Arquitetura Colonial, Neoclássica e Romântica no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000. 45 – PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, Código de Obras do Município. Rio de Janeiro: Ed. Auriverde, 10ª edição. 46 - RAPOPORT, Amos. Vivienda y Cultura. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1968. 47 - REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1973. 48 – REZENDE, Vera Lucia F. M. Quatro Planos para a Cidade do Rio de Janeiro, a Questão Ideológica. Rio de Janeiro: COPPE / UFRJ, 1980. 49 - RODRIGUES, José Wasth. Documentário Arquitetônico Relativo à Construção Civil no Brasil. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1979. 50 - SALEIRO FILHO, Mario O. A Dependência da Dependência de Empregado: de Espaço Segregado a Espaço Revertido? Rio de Janeiro: PROARQ / UFRJ, 2001. 51 - SANTOS, Francisco Agenor Noronha. Meios de Transportes no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typographia do Jornal do Commercio, 1934. 52 - SANTOS, Paulo F. Formação de Cidades no Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2001. 53 - SANTOS, Paulo F. Quatro Séculos de Arquitetura na Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Ed. IAB, 1981. 54 - SEGAWA, Hugo. Ao Amor do Público: Jardins no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 1956. 55 – SEGRE, Roberto. In Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Guia de Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000. 56 - SEVCENKO, Nicolau. História da Vida Privada no Brasil – 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 57 - SEVCENKO, Nicolau. História da Vida Privada no Brasil – 4. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 58 – SIQUEIRA, Luciane Nunes. Casas Ecléticas no Rio “Belle Époque”: Botafogo de 1910 a 1920. Rio de Janeiro: PROARQ / UFRJ, 1998.

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59 - SOMMER, Robert. Espaço Pessoal. São Paulo: EPU / USP, 1973. 60 - SOMMERSON, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura. Ed. Martins Fontes, 1999. 61 - TÂNGARI, Vera R. Um Outro Lado do Rio. São Paulo: FAU / USP, 1999. 62 - TERRA, Carlos G. O Jardim no Brasil no Século XIX. Glaziou Revisitado. Rio de Janeiro: EBA / UFRJ, 2000. 63 - TRAMONTANO, M. Novos Modos de Vida, Novos Espaços de Morar. São Paulo: FAU / USP, 1998. 64 - TUAN, Yi-Fu. Espaço e Lugar. A Perspectiva da Experiência. São Paulo: Difel, 1983. 65 – VALLADARES, Lícia do Prado (org.) Habitação em questão. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. 66 - VAZ, Lílian Fessler. Modernidade e Moradia – Habitação Coletiva no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2002. 67 – VELHO, Gilberto. A Utopia Urbana. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972. 68 - VENTURI, R. Complexidade e Contradição na Arquitetura. São Paulo: Ed. Martins Fontes Ltda, 1995. 69 - VERÍSSIMO, Francisco & BITTAR, William. 500 Anos da Casa no Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999. 70 - VERÍSSIMO, Francisco; BITTAR, William; ALVAREZ, José. Vida Urbana - A Evolução do Cotidiano da Cidade Brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. 71 – VILLAÇA, Flávio. Espaço Intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 1998. 72 - VIRILIO, Paul. O Espaço Crítico. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. 73 - XAVIER, A.; BRITTO, A.; NOBRE, A.L. Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro. São Paulo: Pini / Fundação Vilanova Artigas. Rio de Janeiro: Rioarte, 1991. 74 – XAVIER, Hélia Nacif. Transformações Recentes de um Bairro Residencial – Laranjeiras: O Papel da Legislação Urbanística. Rio de Janeiro: UFRJ / COPPE, 1981. 75 - WAISMAN, Marina. La Estructura Histórica del Entorno. Buenos Aires: Nueva Visión, 1985.

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Guias e Periódicos: 1 - Imagens da Aviação Naval (1916 a 1923). Rio de Janeiro: Ed. Argumento, 2001. 2 - Memória da Destruição. Prefeitura do Rio de Janeiro, 2002. 3 - Museu da Casa de Rui Barbosa: Guia de Visitante. Ministério da Cultura, 2000. 4 - Revista AB Arquitetura Brasileira – lazer. Volume 13. Gagliardi, 1981.

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Exemplo Tipo Volumetria Planta de situação Planta baixa

Ed. Barão de Lucena 2

Ed. Carajás 2

Ed. Julio de Barros

Barreto 4

Ed. Mal Deodoro da

Fonseca 6

Ed. Mansão Rodrigo de

Freitas 7

Ed. Plaza Etoile 10

Ed. Golden Garden 10